80 Anos de autoritarismo: uma leitura política do ... - EGACAL
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382 LUÍS CORREIA DE MENDONÇA<br />
Tinham <strong>de</strong>corri<strong>do</strong> pouco menos <strong>de</strong> quatro anos sobre os acontecimentos<br />
<strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 22, que levaram Mussolini ao po<strong>de</strong>r, e Espanha vivia,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1923, sob a ditadura <strong>de</strong> Miguel Primo <strong>de</strong> Rivera. Antece<strong>de</strong>n<strong>do</strong>,<br />
porém, <strong>de</strong> cinco anos, o regime imposto à Itália pelo fascismo, já Portugal<br />
passara pelo consula<strong>do</strong> <strong>de</strong> Sidónio Pais (1917-1918) percursor <strong>do</strong>s governos<br />
<strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> que, anos <strong>de</strong>pois, proliferaram pela Europa inteira.<br />
O facto <strong>de</strong> não ter havi<strong>do</strong> em Portugal um parti<strong>do</strong> fascista, mas <strong>uma</strong><br />
associação <strong>de</strong> cidadãos sem parti<strong>do</strong> chamada União Nacional, organizada<br />
segun<strong>do</strong> o mo<strong>de</strong>lo da primo<strong>de</strong>riverista Unión Patriotica, o isolamento <strong>do</strong><br />
regime em relação às massas populares, o «conúbio monstruoso» opera<strong>do</strong><br />
com a Igreja católica (Eduar<strong>do</strong> Lourenço), o carácter arcaizante, conserva<strong>do</strong>r<br />
e agrário das suas estruturas, têm si<strong>do</strong> geralmente aponta<strong>do</strong>s como<br />
elementos que diferenciam o «Esta<strong>do</strong> Novo» <strong>do</strong> fascismo clássico.<br />
Para este trabalho não é <strong>de</strong>cisivo saber se o salazarismo se <strong>de</strong>ve<br />
assimilar a um verda<strong>de</strong>iro fascismo, a um «regime clerical-corporativo»<br />
(Charles Delzell), a <strong>uma</strong> versão nacional da teoria <strong>do</strong> «gran<strong>de</strong> homem»<br />
(Livermoore), a <strong>uma</strong> ditadura <strong>de</strong> notáveis (F. e A. Demichel), a <strong>uma</strong><br />
ditadura militar (S. E. Finer e Nicos Poulantzas), a um regime sob tutela<br />
militar ou intermédio entre a ditadura <strong>de</strong> parti<strong>do</strong> e a ditadura militar (M.<br />
Duverger), a <strong>uma</strong> «inversão fascizante da <strong>de</strong>mocracia cristã» (M. Braga<br />
da Cruz), etc.<br />
Seja qual for a natureza <strong>do</strong> «Esta<strong>do</strong> Novo» e a sua correcta<br />
caracterização o certo é que «o seu carácter «catedrático» é, sem dúvida,<br />
um <strong>do</strong>s aspectos mais típicos», como com notável perspicácia foi posto<br />
em <strong>de</strong>staque por Unamuno1 .<br />
Ten<strong>do</strong> integra<strong>do</strong> <strong>uma</strong> <strong>de</strong>legação <strong>de</strong> intelectuais <strong>de</strong> nomeada que visitou<br />
Portugal, em 1935, a convite <strong>do</strong> Secretaria<strong>do</strong> <strong>de</strong> Propaganda Nacional,<br />
Don Miguel publicou, em Julho <strong>de</strong>sse ano, <strong>do</strong>is artigos no jornal Ahora<br />
<strong>de</strong> Madrid, on<strong>de</strong> relata as suas impressões sobre essa sua <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira visita<br />
ao nosso País.<br />
1 Luís Reis Torgal, A Universida<strong>de</strong> e o Esta<strong>do</strong> Novo, Minerva, Coimbra, 1999:51;<br />
João Medina, Ortega y Gasset no exílio português (1942-1955), Centro <strong>de</strong> História<br />
da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa, Lisboa, 2004: 82 ss.