Revista Santa Cruz Ano 74 - 2010 - outubro/dezembro
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horas, até que um frade viesse me<br />
apanhar. Falar português, nada!<br />
Após alguns dias, me colocaram<br />
num ônibus para Belo Horizonte.<br />
No caminho, só comi bananas.<br />
Não sabia pedir comida. De Belo<br />
Horizonte, fui transferido para Ubá,<br />
para aprender a língua. Todo o dia,<br />
aula! Que difi culdade! A boca da<br />
gente não fora feita para emitir<br />
certos sons.<br />
RSC: E sua experiência em Teófi lo<br />
Otoni?<br />
Frei Antônio: Fui transferido para<br />
Teófi lo Otoni. O convento era<br />
grande, com muitos quartos. Antes<br />
de eu chegar, ali fora um centro de<br />
‘irradiação’ evangélica. Os freis iam<br />
visitar os povoados e pequenas<br />
cidades. Eu fi cava na cidade, mais<br />
especifi camente acompanhando<br />
a comunidade no bairro Veneta. O<br />
povo era simples e pobre.<br />
RSC: Na Paróquia São Francisco<br />
(Carlos Prates), durante a ditadura<br />
militar, aconteceu uma série de fatos<br />
decorrentes de sua postura frente ao<br />
regime militar. Fale-nos algo dessa<br />
experiência.<br />
Frei Antônio: Em fevereiro de 1967<br />
cheguei a Carlos Prates contrariado,<br />
porque foi combinado com o bispo<br />
140 - <strong>Revista</strong> <strong>Santa</strong> <strong>Cruz</strong><br />
de Caravelas que eu iria trabalhar<br />
no sul da Bahia, na formação do<br />
povo cristão. Mas acabei gostando<br />
da experiência de Belo Horizonte.<br />
Eram anos de Concílio Ecumênico<br />
Vaticano II e também da ditadura.<br />
Houve muita experiência litúrgica.<br />
Havia uma equipe que escrevia o<br />
texto para cada domingo. Gente<br />
jovem, poeta, bem formada, todos<br />
com curso superior. Era pela liturgia<br />
que se tentava dar uma consciência<br />
política, baseada em São Francisco.<br />
Colocava também o povo para<br />
estudar certos documentos da<br />
CNBB. Comenta-se que gente, a<br />
mando do exército, acompanhava<br />
e relatava tudo o que era dito e<br />
feito nas várias celebrações. Dentro<br />
deste contexto havia também a<br />
prática de acolher grupos não bem<br />
vistos pela ditadura. Um desses<br />
grupos era o movimento pela<br />
anistia. Três vezes houve explosão<br />
de bombas nas dependências da<br />
Ação Social, ou seja, na cripta da<br />
igreja. Sempre à noite. Na terceira<br />
vez foi algo desastroso. Houve<br />
muito estrago. Eles deixaram um<br />
cartaz com a sigla: “CCC” (Comando<br />
de Caça aos Comunistas). Eram anos<br />
de muita riqueza de experiência.<br />
Muita gente participando. Este<br />
ambiente de vida de comunidade<br />
e de igreja era tido como um dos<br />
poucos espaços em que as pessoas<br />
podiam se expressar, além de se<br />
encontrar gente mais crítica. Por<br />
exemplo, o movimento de jovens