TCC MERCEDES - correção ortografica - Furb
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UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU<br />
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA COMUNICAÇÃO<br />
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL<br />
ECONOMIA SOLIDÁRIA: UM CAMINHO PARA A SATISFAÇÃO DAS<br />
NECESSIDADES HUMANAS?<br />
BLUMENAU<br />
2008<br />
MARIA <strong>MERCEDES</strong> FARIAS LÜTTKE
MARIA <strong>MERCEDES</strong> FARIAS LÜTTKE<br />
ECONOMIA SOLIDÁRIA: UM CAMINHO PARA A SATISFAÇÃO DAS<br />
NECESSIDADES HUMANAS?<br />
Trabalho de Conclusão de Curso<br />
apresentado ao Colegiado do Curso de<br />
Serviço Social, departamento de Ciências<br />
Humanas e da Comunicação da<br />
Universidade Regional de Blumenau –<br />
FURB, como exigência parcial para a<br />
obtenção do título de Bacharel em Serviço<br />
Social.<br />
Prof. Drª Vilma Margarete Simão – Orientadora<br />
BLUMENAU<br />
2008
ECONOMIA SOLIDÁRIA: UM CAMINHO PARA A SATISFAÇÃO DAS<br />
NECESSIDADES HUMANAS?<br />
Por<br />
MARIA <strong>MERCEDES</strong> FARIAS LÜTTKE<br />
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado<br />
do grau de Bacharel em Serviço Social,<br />
sendo-lhe atribuída à nota “___,___” (xx vg.<br />
xx), pela banca examinadora formada por:<br />
_________________________________________________<br />
Presidente: Prof. Drª Vilma Margarete Simão - Orientadora, FURB<br />
_________________________________________________<br />
Membro: Prof. Drª Edinara Terezinha de Andrade, FURB<br />
_________________________________________________<br />
Membro: Prof. Msc. Vera Lúcia Hoffmann Pieritz, CESBLU<br />
Blumenau, agosto de 2008
Dedico este a minha mãe, que acredita em<br />
mim como ninguém. E de forma especial ao<br />
Júnior, infante que me faz crescer a cada<br />
dia, ensaio essencial para esta conquista.
AGRADECIMENTOS<br />
Agradeço a Deus pela vida. E também a minha família e amigos por apoiar e<br />
incentivar esta caminhada.<br />
À minha orientadora Vilma Margarete Simão, pela demonstração de confiança<br />
do meu desempenho e pela força que transmitiu a cada encontro.<br />
A todas as professoras do Departamento de Serviço Social da FURB, e de<br />
forma especial às professoras Edinara Terezinha de Andrade e Jacqueline<br />
Samangaia, por participarem de inúmeros momentos do meu crescimento<br />
acadêmico e profissional, sempre compreensivas e acolhedoras.<br />
À Vera Lúcia Hoffmann Pieritz, presente desde o estágio curricular, apoiando<br />
e esclarecendo dúvidas intermináveis, sempre com carinho e atenção.<br />
Aos sócios da APRI, por concederem as entrevistas e serem prestativos.<br />
As amigas de turma, Birgthi, Juliana, Emelly e Francielle, guerreiras desta<br />
etapa junto a mim, pela força, conversas e abraços de incentivo. E também aos<br />
amigos (as) Lucas, Glaucia e Fernanda, acolhedores de minhas inúmeras<br />
dificuldades para a conclusão deste.<br />
Ao amigo Adão, que durante estes intermináveis meses sempre concedeu<br />
tempo para escutar e incentivar o drible da insegurança.<br />
Aos demais, não citados aqui, mas não menos importantes, por colaborarem<br />
de distintas formas na conquista desta etapa.
A maior recompensa do nosso trabalho não<br />
é o que nos pagam por ele, mas aquilo em<br />
que ele nos transforma.<br />
(John Ruskin)
RESUMO<br />
Os temas norteadores deste trabalho são as transformações ocorridas no mundo do<br />
trabalho nas últimas décadas no Brasil, e conseqüentemente como isto tem afetado<br />
a satisfação das necessidades humanas básicas de inúmeros trabalhadores. A<br />
Economia Solidária aparece como uma resposta, dentre outras, aos dilemas<br />
enfrentados hoje por inúmeras pessoas, a necessidade ao trabalho, como forma de<br />
garantir suprimento de tais necessidades humanas. O intuito da pesquisa é analisar<br />
a trajetória ocupacional dos atuais sócios da Associação Participativa Recicle<br />
Indaial- APRI e as mudanças decorridas nas condições de satisfações das<br />
necessidades humanas. Este estudo tem como metodologia a pesquisa longitudinal<br />
retrospectiva qualitativo e quantitativo, com ênfase na coleta de dados da trajetória<br />
ocupacional dos sócios da APRI. No final deste, apresentamos apontamentos<br />
relevantes que a experiência deste grupo de trabalho proporciona frente à satisfação<br />
das necessidades humanas.<br />
Palavras-chave: Mundo do Trabalho, Necessidades Humanas Básicas,<br />
Economia Solidária.
ABSTRACT<br />
The guideline themes of this work are the transformations that happened in the<br />
working world in Brazil in the last decades, and consequently how these have<br />
affected the satisfaction of basic human needs of several workers. Solidarity<br />
Economy appears as an answer, among others, to the dilemmas faced by several<br />
people nowadays, the need for work, as a way to guarantee the fulfillment of such<br />
human needs. The aim of the research is to analyze the occupational trajectory of the<br />
current associates of Associação Participativa Recicle Indaial – APRI and the<br />
changes that occurred in the conditions for the satisfaction of human needs. The<br />
methodology of this study is a qualitative and quantitative retrospective longitudinal<br />
research, which emphasizes the data collection of the occupational trajectory of APRI<br />
associates. At the end of this work, we present relevant notes that this working group<br />
experience promotes for the satisfaction of human needs.<br />
Key words: Working World, Basic Human Needs, Solidarity Economy.
LISTA DE SIGLAS<br />
APRI: Associação Participativa Recicle Indaial<br />
ES: Economia Solidária<br />
EES: Empreendimentos de Economia Solidária<br />
FURB: Fundação Universidade Regional de Blumenau<br />
ITCP: Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares<br />
LOAS: Lei Orgânica de Assistência Social<br />
MTE: Ministério do Trabalho e Emprego<br />
ONGs: Organizações Não- Governamental<br />
RESVI : Rede de Economia Solidária do Vale do Itajaí<br />
SENAES: Secretaria Nacional de Economia Solidária<br />
SIES: Sistema de Informação em Economia Solidária<br />
<strong>TCC</strong>: Trabalho de Conclusão de Curso
LISTA DE ILUSTRAÇÕES<br />
TABELA 1: FORMAS DE ORGANIZAÇÃO...............................................................36<br />
TABELA 2: SITUAÇÃO DA SEDE.............................................................................37<br />
TABELA 3: RETIRADAS/REMUNERAÇÃO..............................................................38<br />
TABELA 4: BENEFÍCIOS, GARANTIAS E DIREITOS DOS INTEGRANTES DO<br />
EMPREENDIMENTO ................................................................................................38
SUMÁRIO<br />
1 INTRODUÇÃO.............................................................................................13<br />
1.1 PROBLEMAS DA PESQUISA................................................................................... 14<br />
1.2 JUSTIFICATIVA PARA ESTUDO DO TEMA.......................................................... 16<br />
1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA ..................................................................................... 17<br />
1.3.1 Objetivos Específicos.............................................................................................17<br />
2 MÉTODO DE PESQUISA............................................................................18<br />
2.1 POPULAÇÃO E AMOSTRA....................................................................................... 18<br />
2.2 PROCEDIMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DE DADOS ................................. 19<br />
2.3 LIMITAÇÕES DA PESQUISA.................................................................................... 20<br />
2.4 ESTRUTURA DO TRABALHO.................................................................................. 21<br />
3 REVISÃO DE LITERATURA.......................................................................23<br />
3.1 MUNDO DO TRABALHO ........................................................................................... 23<br />
3.2 NECESSIDADES HUMANAS.................................................................................... 26<br />
3.3 ECONOMIA SOLIDÁRIA............................................................................................ 33<br />
3.3.1 Os Dilemas da Economia Solidária .....................................................................39<br />
4 RESULTADO DA PESQUISA.....................................................................41<br />
4.1 ASSOCIAÇÃO PARTICIPATIVA RECICLE INDAIAL- APRI................................ 41<br />
4.1.1 Situação e Dificuldades da APRI .........................................................................43<br />
4.2 DIAGNÓSTICO DO TRABALHO E RENDA DOS INTEGRANTES DA APRI.. 44<br />
4.3 AS CONDIÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS DOS INTEGRANTES DA APRI ...... 49<br />
4.3.1 Motivação para se Associar a APRI ....................................................................49<br />
4.3.2 Autonomia em construção.....................................................................................53<br />
4.3.3 Perspectivas dos Sócios frente a Associação ...................................................55
5 CONCLUSÃO..............................................................................................59<br />
REFERÊNCIAS.........................................................................................................61<br />
OUTRAS REFERÊNCIAS.........................................................................................63<br />
APÊNDICE A– ENTREVISTA DA PESQUISA .........................................................64<br />
APÊNDICE B– QUESTIONÁRIO DE PESQUISA ....................................................65
1 INTRODUÇÃO<br />
Desde 1980, no Brasil, as transformações do mundo do trabalho se<br />
intensificaram, acarretando principalmente a extinção de inúmeros postos de trabalho.<br />
Com as novas formas de produzir e as novas tecnologias, o aumento do desemprego, o<br />
subemprego, a redução da proteção social correlacionada ao trabalho ou simplesmente<br />
como muitos teóricos descrevem: a precarização do trabalho, passa a ser a realidade<br />
de muitos trabalhadores.<br />
Hoje as tendências do mundo capitalista são flexibilizar ao máximo, não somente<br />
as relações de mercado, mas também as formas de produção e conseqüentemente o<br />
trabalho, o tornando terceirizado, temporário, precário! As pessoas tornam-se “peças,<br />
utensílios descartáveis”, através da considerável expansão do setor terciário, do<br />
desemprego demasiado e da precarização do trabalho. Os avanços tecnológicos e as<br />
novas formas de produção são úteis ao capital, pois intensificam o acumulo de mais-<br />
valia e beneficiam os mais interessados: os capitalistas. O capital ganha forma flexível<br />
de acumulação e assim flexibiliza os modos de produção, viés pelo qual acontece o<br />
maior acúmulo do capital, aumentando as desigualdades e a exclusão social.<br />
Um dos mais graves resultados das seqüenciais alterações no mundo do<br />
trabalho se denomina de desemprego estrutural 1 , ou seja, ele não decorre de situações<br />
conjunturais passageiras (embora possa ser por elas agravado), mas da própria<br />
organização do trabalho, uma vez que se consegue manter e, principalmente, aumentar<br />
a produtividade, com maior qualidade e com um número cada vez menor de<br />
trabalhadores.<br />
Em decorrência desse processo, se visualiza igualmente o retrocesso do poder<br />
sindical, significativas perdas de benefícios sociais conquistados nas décadas passadas<br />
1 O desemprego estrutural é aquele em que a vaga do trabalhador foi substituída por máquinas ou<br />
processos produtivos mais modernos e por isso mesmo não é um evento novo, todavia ele aumenta com<br />
o avanço da tecnologia. Aquele trabalho executado por dezenas de trabalhadores agora só necessita de<br />
um operador, ou melhor, dezenas de empregos transformaram-se em apenas um. É comum associar o<br />
desemprego estrutural ao setor industrial. Este setor deixa mais evidente a perda de postos de trabalho<br />
para máquinas ou novos processos de produção, porém isto ocorre também na agricultura e no setor de<br />
prestação de serviços (SIMÃO, 2008, p. 81).<br />
13
pela classe trabalhadora e considerável aumento do número de pessoas ocupando<br />
atividades informais.<br />
As transformações ocorridas no mundo do trabalho fizeram com que nos últimos<br />
anos outro tema fosse bastante discutido: a satisfação das necessidades humanas<br />
básicas. Decorrentes de todas essas modificações no mundo do trabalho, hoje, nossa<br />
sociedade têm um número elevado de pessoas em situações vulneráveis,<br />
desempregadas e desprotegidas pelo Estado. A sociedade, estudiosos, o governo e<br />
principalmente os trabalhadores buscam com maior intencionalidade, desde a década<br />
de 90, formas inovadoras de trabalho para as pessoas que se encontram a margem do<br />
sistema capitalista.<br />
Assim, os grupos de trabalho cooperado e associativo têm sido meio de renda e<br />
trabalho para inúmeros trabalhadores desqualificados, desempregados e excluídos do<br />
mercado formal de emprego. Por isso, este estudo tem parâmetro nas mudanças<br />
recentes do mundo do trabalho, nas necessidades humanas básicas e na Economia<br />
Solidária, como reação, ou recriação das formas de trabalho e do provimento humano.<br />
1.1 PROBLEMAS DA PESQUISA<br />
Este projeto nasce do assessoramento prestado a Rede de Economia do Vale do<br />
Itajaí - RESVI, pela Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares – ITCP, a qual<br />
é campo de estágio para diversos ramos do saber, dentre eles o Serviço Social.<br />
Os participantes da RESVI, em suma, são pessoas que compõem os<br />
Empreendimentos de Economia Solidária - EES 2 da região, órgãos públicos, sociedade<br />
2 Os Empreendimentos Econômicos Solidários orientam-se por valores não mercantis, como a<br />
solidariedade, a autonomia, a igualdade e a democracia com vistas ao desenvolvimento humano e<br />
comprometidos com a sociedade. Contrapondo-nos a esta nomenclatura, entendemos que o termo<br />
empreendimento é passível de confusão com os propósitos do empreendedorismo capitalista que busca<br />
estimular o trabalhador a investir em alternativas individuais de trabalho, aliadas à lógica do empresário<br />
capitalista e empreendedor. A flexibilização da economia e a terceirização, juntamente com a prestação<br />
de serviços, anunciam fazer do trabalhador assalariado um trabalhador autônomo, independente e livre<br />
da relação de empregado e patrão. Mas, as transformações na estrutura do mercado de trabalho têm, em<br />
paralelo, as mudanças na organização industrial que, ao invés de empregar uma pessoa, passa a<br />
subcontratar seus serviços. Essa subcontratação aparece como uma nova oportunidade para a formação<br />
de pequenos negócios e, através deles, alguns trabalhadores passarão a ser autônomos. No entanto,<br />
esta autonomia é relativa já que, na maioria das vezes, é dependente do grande capital e dominada por<br />
14
civil e pessoas simpatizantes a Economia Solidária - ES. Dentre as pessoas sócias ou<br />
cooperadas, destes grupos de trabalho, evidenciamos a exclusão destas do mercado<br />
formal de trabalho. Sendo que, a busca de novas formas de trabalho tem como principal<br />
viés o sustento de suas famílias.<br />
Muitas dessas pessoas são de classes menos favorecidas da sociedade<br />
brasileira, sem escolaridade e profissionalização. Os grupos de trabalho cooperado e<br />
solidário passam a ser a forma que muitos encontram e adotam, para prover o seu<br />
sustento e de suas famílias, e de ter acesso ao direito de trabalho. Porém, percebemos<br />
as fragilidades dessas pessoas na busca e conquista de seus direitos, mesmo que<br />
crescente, a ES é algo recente no cenário político, econômico e social do Brasil e busca<br />
ainda se constituir como política pública de direito.<br />
Pela convivência próxima às pessoas das associações e cooperativas e dos<br />
grupos informais, em vários momentos percebemos por seus relados que a condição<br />
para manterem seu ‘ negócio’, - digamos sua sobrevivência - é bastante difícil, pois em<br />
muitos casos os grupos possuem um número elevado de desistências dos<br />
participantes, falta de investimento, qualificação, entre outros fatores.<br />
Isso fica evidente pela dificuldade que muitos apresentam na hora de participar<br />
das reuniões da RESVI, da ITCP/ FURB e de feiras e cursos, colocando a equipe de<br />
assessoria as dificuldades em arcar com despesas de alimentação, hospedagem e<br />
transporte. Nos momentos das assessorias pontuais também é visível a vulnerabilidade<br />
sofrida por estes sujeitos, muitos relatam as dificuldades de manter as despesas com<br />
moradia, alimentação e saúde. E ainda nos relatam os custos que possuem para alguns<br />
processos do grupo de trabalho.<br />
As questões de pesquisa que norteiam este estudo são as seguintes:<br />
ele, além de estar subordinada ao movimento do mercado consumidor que leva ou não à contratação de<br />
serviços por outras indústrias. Nesse movimento de mudanças no processo de trabalho, de novas formas<br />
de contratação de mão-de-obra, de divulgação do fim da relação empregatícia, o empreendedorismo<br />
mostrava-se como a grande saída para o enfrentamento do desemprego. Em decorrência destes aditivos<br />
às propostas empreendedoras, consideramos difusa a denominação de alternativas de trabalho<br />
autônomo e solidário, de empreendimentos solidários. Embora se entenda que o propósito empreendedor<br />
dos segmentos da economia solidária não contemple a manutenção de relações de trabalho sustentadas<br />
na exploração, mas, por entender que toda organização produtiva busca empreender, cultivar atitudes<br />
arrojadas no desenvolvimento da organização. Mas, se entendemos que a necessidade de empreender é<br />
proveniente da inexistência de uma produção voltada para o consumo social, ou de uma produção com<br />
valor-de-uso, e da existência da produção regida pela relação mercadológica (valor-de-troca), torna-se<br />
complexo aceitar o empreendedorismo como uma proposta de economia solidária (SIMÃO, 2008, p. 156).<br />
15
a) Quais eram as ocupações dos sócios, antes da integração a Associação<br />
Participativa Recicle Indaial- APRI?<br />
b) Qual era a condição de vida dessas pessoas antes do trabalho cooperado?<br />
c) Quais os motivos que levam estas pessoas optar pelo trabalho cooperado?<br />
d) A condição de vida dessas pessoas melhorou depois da integração a<br />
associação?<br />
e) Para os sócios da associação, o trabalho cooperado contribui no suprimento<br />
das necessidades humanas básicas? De que forma?<br />
A aproximação dos sujeitos que optam em participar de um EES nos aguça a<br />
pensar em várias questões acerca da vivência dessas pessoas. Uma delas colocada<br />
aqui nesse trabalho é a satisfação das necessidades humanas frente à re- inovadora<br />
forma de prover trabalho e renda.<br />
Sabemos que muitos dos EES são associações, cooperativas, grupos de<br />
trabalho, em maioria, informais e que enfrentam inúmeros problemas quanto sua<br />
estabilidade perante o mercado capitalista. A dificuldade, não somente de se tornar um<br />
grupo formal, mas ter estrutura física e financeira, bons números de produção/<br />
comercialização e um retorno suficiente para se manter perante as grandes empresas<br />
capitalistas são alguns dos fatores que fazem oscilar a consolidação destes grupos.<br />
Mas, pressupomos, que de alguma maneira, as experiências destes grupos<br />
trazem resultados para as pessoas envolvidas neste inusitado modo de produzir,<br />
comercializar e prestar serviços. Há, com certa relevância o ponto positivo destes<br />
grupos, pois, mesmo sendo muitas vezes uma renda insuficiente e não fixa, os ganhos<br />
obtidos, garantem a uma parcela destes sujeitos a manutenção de suas vidas.<br />
1.2 JUSTIFICATIVA PARA ESTUDO DO TEMA<br />
Desta forma, este estudo contribuirá para que tanto a acadêmica, quanto a ITCP/<br />
FURB, produzam conhecimento acerca destas discussões. Com maiores subsídios<br />
16
teóricos, o corpo docente e os novos estagiários da incubadora terão maior achega às<br />
ações práticas junto aos EES e a RESVI.<br />
Também se faz importante este estudo para suscitar no meio intelectual,<br />
discussões acerca das problemáticas vivenciadas pelos EES, bem como, para os<br />
próprios participantes destes grupos repensarem suas práticas e suas concepções.<br />
1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA<br />
O objetivo geral do nosso estudo é analisar a trajetória ocupacional 3 dos atuais<br />
sócios da Associação Participativa Recicle Indaial- APRI e as mudanças decorridas nas<br />
condições de satisfações das necessidades humanas.<br />
1.3.1 Objetivos Específicos<br />
a) Averiguar qual a condição de trabalho e renda anterior ao trabalho<br />
cooperado desempenhado;<br />
b) Investigar se a condição sócio-econômica desses integrantes melhorou<br />
depois de sua integração a APRI;<br />
c) Verificar se o trabalho cooperado contribui para a satisfação das<br />
necessidades humanas básicas;<br />
d) Apurar os novos conhecimentos adquiridos depois da inserção na<br />
associação.<br />
3 As mudanças na trajetória ocupacional dos trabalhadores é “o resultado das mudanças ocorridas no<br />
mundo do trabalho e das possibilidades do trabalhador de acompanhar tais mudanças, sendo ele<br />
incluído, excluído ou as duas condições ocorrendo, para uma mesma pessoa, de tempos em tempos”<br />
(SIMÃO, 2008, p. 74). Com o estudo das trajetórias ocupacionais é possível localizar eventos como o<br />
desemprego, a instabilidade econômica, as precárias situações que inúmeras pessoas vivenciam ao<br />
longo das ocupações no mundo do trabalho.<br />
17
2 MÉTODO DE PESQUISA<br />
A presente pesquisa mostra primeiramente traços da trajetória ocupacional dos<br />
sócios da Associação Participativa Recicle Indaial. A partir destes dados analisamos<br />
quais são os motivos impulsionantes para a formação de um grupo de trabalho<br />
augestionário e solidário e como, e neste caso, a APRI, se configura uma opção de<br />
trabalho e renda para trabalhadores sem escolaridade, profissionalização e a margem<br />
do mundo do trabalho capitalista.<br />
Neste estudo utilizamos o método de pesquisa longitudinal retrospectiva 4<br />
qualitativo e quantitativo para a coleta de dados. Demos ênfase no estudo da trajetória<br />
ocupacional dos trabalhadores sócios da APRI. Pois, o estudo de trajetórias nas<br />
ciências sociais é algo recente e inovador, permite aos pesquisadores demarcar<br />
eventos “da vida pessoal ou ocupacional” (SIMÃO, 2008, p. 18) dos sujeitos, alvo da<br />
pesquisa. Assim, em um único momento foi possível instigar os pesquisados a<br />
lembrarem de fatos e momentos vivenciados por eles na vida ocupacional/ profissional<br />
e nos fornecer dados relevantes de mudanças na trajetória destes indivíduos.<br />
2.1 POPULAÇÃO E AMOSTRA<br />
O universo desta pesquisa é a Associação Participativa Recicle Indaial- APRI. A<br />
amostra foi intencional. Sendo que, os atuais onze sócios responderam ao questionário<br />
e três destes, concederam ainda, respostas às entrevistas semi – estruturadas.<br />
4 Entre os tipos existentes, destacamos a pesquisa longitudinal retrospectiva a qual é representada por<br />
retas de duração de eventos e os sujeitos da pesquisa são incitados a rememorar processos passados<br />
de uma única vez. Nos levantamentos longitudinais, o componente central da informação coletada é sua<br />
variação qualitativa no tempo, buscando a compreensão dos eventos que interferiram na transição de<br />
uma condição a outra. Sendo assim, o “dado” a ser coletado, tanto qualitativo quanto quantitativo, é a<br />
dinâmica de eventos no tempo, isto é, a permanência ou alteração de uma condição a outra num<br />
determinado período. Podendo, então, ser possível a compreensão de processos importantes, tais como<br />
as maneiras como as pessoas se ajustam às mudanças que ocorrem em suas vidas, às vezes mudanças<br />
na trajetória (SIMÃO, 2008, p. 18).<br />
18
Os critérios para a escolha deste grupo foi através do mapeamento feito pelo<br />
Sistema de Informação em Economia Solidária - SIES 5 , e pela representatividade<br />
regional. Além disso, a escolha do grupo se deu pela proximidade que a incubagem<br />
pela ITCP/ FURB permitiu à estagiária.<br />
2.2 PROCEDIMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DE DADOS<br />
Os instrumentos de coleta dos dados utilizados na pesquisa foram: questionário<br />
longitudinal e entrevista semi-estruturada. Assim, optamos em aplicar um questionário<br />
pré- elaborado com questionamentos a ser respondidos pelos pesquisados com o<br />
intuito de alcançarmos os objetivos deste estudo. Mas, também abrimos espaço através<br />
da entrevista, para os sujeitos verbalizarem seus sentimentos e anseios quanto às<br />
indagações.<br />
As entrevistas foram agendadas por telefonemas e realizadas no mês de maio<br />
de 2008. Estas foram também gravadas e transcritas posteriormente para maior<br />
fidelidade aos depoimentos concedidos.<br />
Para a análise dos dados coletados, sistematizamos as falas e as informações<br />
adquiridas conforme os objetivos propostos nesta pesquisa, com face ao referencial<br />
teórico.<br />
Além da realização das entrevistas e da aplicação do questionário, é importante<br />
destacar a realização do estudo documental, tais como estatuto, atas de reunião,<br />
histórico da associação, subsídio este, para levantar peculiaridades do grupo. Também,<br />
destacamos que se realizou durante a elaboração das entrevistas, um estudo<br />
bibliográfico, proporcionando maior aprofundamento e reflexão sobre o tema estudado.<br />
5 A Secretaria Nacional de Economia Solidária com o objetivo de proporcionar a visibilidade, a articulação<br />
da economia solidária e oferecer subsídios nos processos de formulação de políticas públicas, está<br />
realizando o mapeamento da economia solidária no Brasil. Para isso, foi desenvolvido o Sistema<br />
Nacional de Informações em Economia Solidária (SIES), composto por informações de Empreendimentos<br />
Econômicos Solidários (EES) e de Entidades de Apoio, Assessoria e Fomento (EAF) (Disponível em:<br />
http://www.mte.gov.br/ecosolidaria/sies.asp. Acesso em: 08/07/2008).<br />
19
Por questões éticas, este trabalho priva a identificação pessoal dos<br />
entrevistados, portanto, para referir-se a eles, foi utilizado no decorrer da análise da<br />
pesquisa nomes fictícios.<br />
2.3 LIMITAÇÕES DA PESQUISA<br />
As dificuldades para a execução desta pesquisa podem ser apresentadas por<br />
dois fatores. Primeiro, a dificuldade enfrentada pela pesquisadora quanto a<br />
inexperiência no desenvolvimento das entrevistas e o manejo necessário para superar<br />
alguns obstáculos apresentados no decorrer dos questionamentos. Outro fator que<br />
limitou a pesquisa foi o grupo ser alvo de muitos estudos do poder público e de outros<br />
ramos do saber da academia, em muitos momentos a inibição do grupo tomou conta,<br />
restringindo as respostas e os comentários necessários para uma boa pesquisa. A<br />
inibição dos sócios se deve ao fato da não compreensão do porque de tanta<br />
investigação ao redor do trabalho desenvolvido por eles. Mesmo com toda simpatia e<br />
disposição, os sócios na hora de falarem a cerca de suas experiências profissionais e<br />
da vivência na associação foram bastante sucintos, falaram pouco e responderam<br />
somente o que era perguntado. Assim, a análise qualitativa desde estudo apresenta<br />
déficit na apresentação dos relatos devido aos limites encontrados.<br />
Cabe colocarmos a questão de tempo, tanto dos sócios trabalhadores como da<br />
pesquisadora para a execução desta pesquisa. As entrevistas foram concedidas<br />
durante o expediente deles na associação, como acordado com todos. No decorrer das<br />
conversas a chegada de materiais na sede da associação dificultou o processo da<br />
pesquisa pois, tirava a atenção dos entrevistados e a retomada dos questionamentos.<br />
Também a pressa em terminar a entrevista para a volta ao trabalho no galpão foi<br />
expresso por alguns; um sócio saindo por instantes da mesa de seleção acarreta<br />
acumulo de materiais a serem selecionados pelos demais.<br />
20
2.4 ESTRUTURA DO TRABALHO<br />
A estrutura do trabalho se apresenta da seguinte forma:<br />
Inicialmente este trabalho apresenta a discussão acerca das seguintes<br />
categorias teóricas: mundo do trabalho, necessidades humanas básicas e economia<br />
solidária. E em seguida, mostramos os resultados da pesquisa feita que teve como<br />
objetivo principal analisar a trajetória ocupacional dos atuais sócios da Associação<br />
Participativa Recicle Indaial- APRI e as mudanças decorridas nas condições de<br />
satisfação das necessidades humanas.<br />
O primeiro capítulo apresenta a revisão de literaturas efetuada para subsidiar as<br />
análises no decorrer da pesquisa, tais como as transformações ocorridas nos últimos<br />
anos no mundo do trabalho, a satisfação das necessidades humanas e a economia<br />
solidária como resposta aos inúmeros dilemas enfrentados por trabalhadores excluídos<br />
das relações de produção capitalista.<br />
No segundo capítulo os resultados da pesquisa são discorridos com o intuito de<br />
analisarmos frente às categorias teóricas quais as possibilidades que o trabalho<br />
cooperado e solidário apresenta aos sócios da APRI. E assim visualizar como tal<br />
experiência aproxima os associados da satisfação de suas necessidades humanas<br />
através da prática do trabalho coletivo autogestionário.<br />
Neste capítulo trazemos com base no Estatuto interno da APRI e nos registros<br />
de atas feitas pela equipe da ITCP/ FURB um sucinto histórico do desenvolvimento do<br />
grupo desde a formação e a situação e dificuldades econômicas e políticas atuais da<br />
associação. Ainda, traçamos através da trajetória ocupacional dos sócios da APRI o<br />
diagnóstico do trabalho e da renda dos integrantes da APRI ao longo dos anos.<br />
Apresentamos também as condições sócio-econômicas dos sujeitos, as<br />
motivações e perspectivas individuais bem como o conhecimento adquirido e as<br />
relações construídas por eles desde a formação do grupo.<br />
No último capítulo apresentamos as considerações finais deste estudo, voltando<br />
às reflexões iniciais, apontamento as necessidades humanas versus o trabalho<br />
21
cooperado, como possibilidade de reprodução e da melhoria de vida dos sujeitos/<br />
atores deste processo, como também apontamos a possibilidade da continuidade deste<br />
estudo.<br />
22
3 REVISÃO DE LITERATURA<br />
Neste capítulo fazemos um apanhado geral das principais mudanças ocorridas<br />
no Brasil; no mundo do trabalho nas últimas décadas, e como tais mudanças<br />
transformaram a forma das pessoas buscar o suprimento das necessidades humanas<br />
básicas.<br />
A seguir discutimos como a Economia Solidária- ES contribui para o<br />
enfrentamento da exclusão do mercado de trabalho capitalista e tem sido para uma<br />
parcela da população a forma de acessar o direito ao trabalho e renda, e<br />
conseqüentemente uma possibilidade de enfrentamento das questões inerentes ao<br />
sustento de suas famílias.<br />
3.1 MUNDO DO TRABALHO<br />
Inicialmente se faz necessário pontuarmos as principais mudanças ocorridas no<br />
mundo do trabalho nas últimas décadas, no Brasil. Sabemos que desde a construção<br />
social dos seres humanos, o trabalho, de várias formas, se faz presente como meio de<br />
prover a reprodução humana. Nas palavras de Arruda (2003, p.262),<br />
no seu sentido mais amplo trabalho humano é definido como ação das<br />
mulheres e homens buscando responder as suas necessidades. (...) trabalho<br />
humano é toda ação que resulta em transformação da natureza em beneficio do<br />
Homo. É todo o movimento de objetivação da natureza. Portanto, desde que<br />
Homo é Homo ele trabalha (ARRUDA, 2003, p.262).<br />
A história nos mostra registros de que o trabalho usualmente vem sendo aos<br />
sujeitos, imposição para a continuidade da vida. Assim, a humanidade utiliza desde<br />
então, a consciência, inteligência e intencionalidade nos atos desenvolvidos para sua<br />
sobrevivência cotidiana. Ainda segundo Arruda (2003), toda esta construção é<br />
necessária para o desenvolvimento humano individual e coletivo das pessoas, o que<br />
permite ações sociais, políticas e culturais através das expressões e linguagem cada<br />
vez mais aguçadas no mundo.<br />
23
E uma das principais expressões do ser social é o trabalho, que a partir do<br />
século XX no Brasil, como Antunes (2006, p.16) aponta, “viveu um processo prolongado<br />
de acumulação industrial voltado para a negociação do café, tardando em seu<br />
desenvolvimento industrial”. Mais adiante na década de 60, o momento da produção<br />
social foi vivenciado no Brasil pela colocação no mercado internacional nos mais<br />
diversos ramos da produção, principalmente com base na produção de bens de<br />
consumo duráveis, passando a exportar produtos primários como também, os<br />
industrializados. Porém, cabe ressaltar que nesta época, o país dependia fortemente da<br />
tecnologia advinda dos países ditos desenvolvidos e que mesmo com este entrave,<br />
conquistou grande avanço produtivo, como podemos perceber abaixo,<br />
esse padrão de acumulação, desde JK e especialmente durante a ditadura<br />
militar, vivenciou amplos movimentos de expansão, com altas taxas de<br />
acumulação, entre os quais a fase do “milagre econômico” (1968- 1973). O país<br />
vivia, então, sob os binômios ditadura e acumulação, arrocho e expansão<br />
(ANTUNES, 2006, p. 17).<br />
Como Antunes (2006) aponta, o país viveu uma fase de expansão,<br />
diferentemente de outros países, onde já se podiam ver as transformações da<br />
reestruturação produtiva e da política neoliberal, sentida em alguns aspectos<br />
nacionalmente, porém, não com tanta intensidade como em outros países. E seguindo<br />
a regra do padrão de acumulação industrial vigente no Brasil, a exploração da força de<br />
trabalho, baixos salários, jornadas de trabalho exaustivas, intensidade no ritmo de<br />
produção, já se faziam presentes no cotidiano dos trabalhadores dessas décadas.<br />
As primeiras transformações na perspectiva da reestruturação produtiva no país,<br />
levando as indústrias à adoção de novos meios de organização e tecnologia e,<br />
conseqüentemente, mudanças no trabalho, ocorreram em meados dos anos 80,<br />
(ANTUNES, 2006). Aqui, era o início da abertura para o modelo de acumulação flexível<br />
de produção ou toyotista. Modelo japonês de produção que têm o uso da tecnologia em<br />
larga escala, a produção horizontalizada, ou terceirizada e a contratação de pequenas<br />
empresas, com condições de trabalho e salários inferiores em relação às grandes<br />
empresas.<br />
A produção flexível se estabelece a partir da demanda, com melhor<br />
aproveitamento dos tempos de produção e de recursos, controle de qualidade e<br />
24
estoque mínimo. Pela automatização, se reduzem os postos de trabalho, e dos<br />
trabalhadores se exige um novo perfil, a polivalência e a multifuncionalidade.<br />
Porém, segundo Antunes (2006) foi nos anos 90 que se intensificou a<br />
reestruturação produtiva no Brasil flexibilizando ainda mais a produção e acentuando o<br />
número de subcontratações, como também muitas empresas passaram a se deslocar<br />
geograficamente devido a incentivos fiscais e a procura de mão-de-obra mais barata<br />
para os processos de produção.<br />
Junto às acentuadas mudanças na década de 90 no mundo do trabalho,<br />
acontece também, a então Revolução Tecnológica da Produção, com o objetivo de<br />
proporcionar o aumento da produtividade sem o aumento de custos com a força de<br />
trabalho. As tecnologias intensas descartam grande parte da mão-de-obra, causando<br />
impactos desastrosos para os trabalhadores, ampliando o desemprego, rebaixando<br />
salários, diminuindo a capacidade de reivindicação, enfraquecendo a organização<br />
sindical e criando várias fraturas entre os trabalhadores - mesmo para aqueles com alto<br />
índice de especialização, qualificados e bem remunerados -, os fazendo passar por<br />
maior rotatividade no mercado. Ainda, de acordo com Antunes (2006), indústrias do<br />
ramo têxtil, automobilístico e do setor bancário sofreram grandes mudanças em suas<br />
estruturas organizacionais, nos quais ocorre maior precarização do trabalho e a<br />
redução dos direitos sociais para os empregados em geral.<br />
Hoje, com todas essas mudanças, fica evidente que todos os trabalhadores<br />
vivem, ou viverão de distintas formas a precarização do trabalho, seja pelo desemprego<br />
estrutural, pela subcontratação, por condições de trabalho ruins ou pela baixa<br />
remuneração.<br />
Com todas essas mudanças, o aumento do desemprego, a má distribuição de<br />
renda e o trabalho informal são cada vez mais vivenciados por grande parte dos<br />
brasileiros, os quais passam por situações vulneráveis, instáveis e muitas vezes de<br />
calamidades sociais.<br />
As mudanças pontuadas acima, os dilemas enfrentados pela sociedade<br />
permitem uma comparação, segundo Canterle (2003, p. 80), “[...] entre o trauma dos<br />
homens do primeiro milênio – medo do além – e o trauma dos homens do segundo<br />
milênio – medo de exclusão do emprego e da cidadania”. Se antes o homem temia a<br />
25
uma crença, um ser superior, hoje provavelmente, muitos temem pela instabilidade<br />
econômica e pela vulnerabilidade decorrente das inúmeras mudanças apontadas<br />
acima.<br />
A desregulamentação do trabalho e suas conseqüências drásticas para o<br />
trabalhador contemporâneo é uma discussão imprescindível para analisarmos como<br />
hoje, a satisfação das necessidades humanas básicas é suprida pelas camadas<br />
populares menos favorecidas. Ainda mais, que a ideologia neoliberal tem como grande<br />
problema hoje não mais, como produzir, mas como estes sujeitos excluídos da<br />
produção da riqueza, continuarão a consumir, o como criar as necessidades fictícias a<br />
estes para manter a margem de lucro do capital.<br />
3.2 NECESSIDADES HUMANAS<br />
O trabalho, na concepção marxiana, possibilita a produção de bens necessários<br />
a manutenção e melhorias da qualidade da vida humana, sendo o principal meio de<br />
suprimento das necessidades humanas básicas, mas, dependerá do modo social de<br />
organização da produção a autonomia no acesso aos bens necessários à vida humana.<br />
Na sociedade capitalista toda pessoa em troca de suas capacidades laborativas recebe<br />
recompensas monetárias que devem em suma, suprir as necessidades vitais, tais como<br />
a subsistência, a proteção, as condições físicas e psicológicas e as relações sociais<br />
para a reprodução da vida. Toda pessoa que troca sua capacidade de trabalho por<br />
renda atende suas necessidades no mercado, frente à valorização estabelecida pelo<br />
“dono” dos meios de produção. Assim, a discussão do que vem a ser necessidades<br />
humanas se faz essencial neste trabalho.<br />
Mas, apesar do trabalho ser a fonte provedora das necessidades humanas, na<br />
sociedade capitalista ele não garante a plenitude da satisfação, fazendo o homem viver<br />
num difícil dilema: entre as necessidades da condição humana, escolher quais vão<br />
satisfazer, e muito provavelmente optar pelas de subsistência. Sobre estas escolhas<br />
Mandel (1995) discorre a respeito e fala de ações de hierarquização das necessidades<br />
humanas. O autor remete sucintamente a questão do consumo e das necessidades<br />
humanas com relação direta ao mercado e ao poder de aquisição. Se uma pessoa por<br />
26
ventura venha a ter corte nos ganhos financeiros, ou sofra pela ausência deste, é<br />
evidente que os gastos serão condensados, e conseqüentemente as pessoas optarão<br />
em suprir necessidades humanas relacionadas ao provimento de suas vidas e de seus<br />
entes, ou ainda nem consigam isto.<br />
A hierarquia das necessidades humanas possui tanto uma base fisiológica<br />
como uma base histórica- social, e não é nem arbitraria nem subjetiva. Ela pode<br />
ser encontrada em todos os continentes, sob as mais diversas circunstancias,<br />
embora de maneira não- sincrônica, devido ao desenvolvimento desigual do<br />
crescimento econômico e do progresso social (MANDEL, 1995, p.34).<br />
Assim, na primeira categoria das necessidades humanas fundamentais, para a<br />
manutenção da vida, de forma resumida entram: alimentação, vestuário, habitação, e<br />
as infra-estruturas ligadas a esta (energia, água, saneamento básico, mobiliário),<br />
educação, saúde, transporte para locomoção ao trabalho, acesso ao lazer e cultura;<br />
imprescindíveis para a manutenção da vida e da reprodução do trabalho.<br />
Em uma segunda categoria temos os bens e serviços chamados de sofisticados,<br />
criados ao longo da história e influenciados por fatores culturais, tais como bebidas,<br />
alimentos, bens não duráveis, como roupas e sapatos, como também aparelhos de<br />
eletro-domésticos mais simples; cultura e lazer; e os meios de condução particulares. E,<br />
a terceira categoria com todos os serviços e bens de luxo, consumidos pela minoria da<br />
população.<br />
A carência de ordem física é a existência de fome, sede, frio, proteção e diante<br />
delas temos necessidade de alimentos, água, roupas, abrigo. No entanto, nem toda<br />
necessidade vem de uma carência, ou de algo não atendido. O suprimento de tais<br />
satisfações é cotidiano e devem ser mantidas pela importância que desempenham na<br />
subsistência do ser humano. Todo ser humano come pela importância que alimentação<br />
tem ao organismo, toma água para seu físico se manter saudável e não somente<br />
porque sente fome ou sede.<br />
As necessidades humanas não são restritas as de sobrevivência, mas se<br />
apresentam por meios distintos a atender carências física, emocional, cultural e social.<br />
Porém, não podem ser confundidas com o consumismo desenfreado. Segundo Heller<br />
(apud PEREIRA 2002, p. 64), “a necessidade é desejo consciente, aspiração, intenção<br />
dirigida em todo o momento para certo objeto e que motiva a ação como tal”. Portanto,<br />
as relações sociais de uma dada sociedade produzem as necessidades, e por sua vez<br />
27
não podem ser definidas como naturais. Somente os homens têm o domínio do pensar,<br />
desejar, aspirar e construir algo. Porém, as pessoas manifestam também necessidades<br />
biológicas, emocionais, sociais 6 resultantes de elementos cultural, temporal e espacial e<br />
de um contexto social. Pela condição de ser político e social, o ser humano têm<br />
necessidades, muito além das ditas naturais ou biológicos.<br />
Na tentativa de obter um conceito de necessidades humanas básicas, Pereira<br />
(2002) utiliza as postulações dos autores Doyal e Gough 7 (1991). Estes sustentam que<br />
todos os seres humanos, em todos os tempos, em todos os lugares e em todas as<br />
culturas, têm necessidades básicas comuns, e estas não são variáveis e sim o modo<br />
como as satisfazemos que são. Nas palavras de Doyal e Gough: “Embora a satisfação<br />
das necessidades humanas básicas possa variar, essas necessidades não são<br />
passíveis de variação”. E para os autores o “desenvolvimento de uma vida humana<br />
digna só ocorrerá se certas necessidades fundamentais (comuns a todos) forem<br />
atendidas” (apud PEREIRA, 2002, p. 66).<br />
Diferentemente, “[...] as necessidades básicas são objetivas, porque a sua<br />
especificação teórica e empírica independe de preferências individuais. E são<br />
universais, porque a concepção de sérios prejuízos, decorrentes da sua não-satisfação<br />
adequada, é a mesma para todo indivíduo, em qualquer cultura” (PEREIRA, 2002, p.<br />
68). A partir dos elementos apresentados, os autores Doyal e Gough (1991) apud<br />
Pereira (2002), definem dois conjuntos de necessidades básicas objetivas e universais:<br />
saúde física e autonomia. “[...] Estas necessidades não são um fim em si mesmo, mas<br />
precondições para se alcançarem objetivos universais de participação social”<br />
(PEREIRA, 2002, p. 68). Toda pessoa deve manifestar sua participação e sua crítica<br />
6 As necessidades biológicas e emocionais são afetadas caso inexista a possibilidade de acesso aos<br />
meios de satisfação, condicionando os sujeitos à instabilidade e comprometendo sua capacidade<br />
produtiva, ou até acarretar a sua morte. Estas, estão baseadas no instinto de autoconservação humana,<br />
e algumas delas são: necessidade de alimento, necessidade sexual, necessidade de contato social e de<br />
cooperação, necessidade de trabalho, etc.<br />
7 Na sua obra Necessidade Humanas, Potyara A. P Pereira (2002), identifica os autores, Len Doyal e Ian<br />
Gough, da obra Teoría de Las Necessidades Humanas (versão em língua espanhola) como um dos<br />
estudos disponíveis sobre necessidades humanas básicas, com maior densidade analítica e coerência<br />
teórico-conceitual, além da apresentar afinidade com a concepção de necessidades humanas básicas<br />
dos autores em oposição à de necessidades mínimas. Entre as necessidades humanas básicas os<br />
autores elencam a autonomia, motivo pelo qual consideramos adequada tal concepção para o estudo<br />
que estamos nos propondo.<br />
28
em vida social e política, e a impossibilidade disto acarreta impactos negativos à<br />
condição de ser humano saudável e social.<br />
Conforme Pereira (2002, p. 70), toda pessoa deve possuir saúde física que<br />
garanta as condições necessárias para viver e prover seu trabalho, sem isto estariam<br />
todos impedidos “[...] de usufruírem condições de vida favoráveis à sua participação<br />
social [...]”.<br />
Saúde física, portanto, é necessidade básica, porque sem a provisão devida<br />
para satisfazê-la os homens estarão impedidos inclusive de viver. Esta é<br />
basicamente uma necessidade natural que afeta a todos os seres vivos e que,<br />
em princípio, não diferencia os homens dos animais, embora, como já foi<br />
salientado, o modo de satisfazê-las requeira, no que se refere aos homens,<br />
provisões de conteúdo humano-social (PEREIRA, 2002, p. 70).<br />
A condição física humana é responsável e básica para toda pessoa frente a<br />
participação na sociedade e a sua liberdade humana, para o que se almeja alcançar. A<br />
dimensão física e biológica do homem está intrinsecamente ligada às possibilidades do<br />
trabalho (práxis) e do alcance das necessidades humanas.<br />
Além da provisão da saúde física dos sujeitos, Pereira (2002, p. 70) também<br />
inspirada em Doyal e Gough (1991) considera, as dimensões além do corpo biológico<br />
do homem, essenciais a estes para agirem com autonomia, descrito pela autora como o<br />
“outro componente constitutivo das suas necessidades básicas”. Entendendo<br />
autonomia por ser,<br />
[...] a capacidade do indivíduo de eleger objetivos e crenças, de valorá-los com<br />
discernimento e de pô-los em prática sem opressões. Isso se opõe à noção de<br />
auto-suficiência do indivíduo perante as instituições coletivas ou, como querem<br />
os liberais, a mera ausência de constrangimentos sobre preferências<br />
individuais, incluindo no rol desses constrangimentos os direitos sociais que<br />
visam protegê-lo (PEREIRA, 2002, p. 70).<br />
No que se refere à autonomia das pessoas pairamos na capacidade das pessoas<br />
em escolher o que fazer e como se fazer em relação a um dado problema ou contexto,<br />
e não ser somente livre para tais ações. Esta capacidade de valorar e compreender a<br />
cultura, a sociedade e a si mesmo são as oportunidades que toda pessoa tem de não<br />
ficar a margem da sociedade, como certas minorias raciais, pobres e desempregados.<br />
Em palavras sucintas, é colocar em prática a cidadania. Autonomia vai além do<br />
indivíduo, é a liberdade da compreensão do todo social (o outro e eu), a capacidade de<br />
29
criar objetivos e crenças comuns e ter participação no processo construtivo de<br />
sociedade na forma de autonomia crítica.<br />
A autonomia crítica é um estágio mais avançado de autonomia, que deve estar<br />
ao alcance de todos. Revela-se como a capacidade das pessoas de não<br />
apenas saber eleger e avaliar informações com vista à ação, mas de criticar e,<br />
se necessário, mudar as regras e práticas da cultura a que pertencem<br />
(PEREIRA, 2002, p. 74).<br />
Por isso, a garantia de saúde, qualidade de vida, entre outros demandam<br />
oportunidades coletivas e que devem ser garantidas pelo poder público frente a<br />
participação popular, abonando assim, os direitos fundamentais das pessoas. E a<br />
otimização destes direitos exigem a satisfação das dimensões humanas:<br />
A. produção: toda sociedade deve produzir suficientes recursos para assegurar<br />
a todos os seus membros níveis básicos de saúde física e autonomia;<br />
B. reprodução: toda sociedade deve assegurar um adequado nível de<br />
reprodução biológica e de socialização das crianças; C. transmissão cultural:<br />
toda sociedade deve assegurar à população a transmissão de conhecimentos e<br />
valores necessários à produção e à reprodução social; D. sistema de<br />
autoridade: algum tipo de sistema de autoridade deve ser instituído e legitimado<br />
pela sociedade para garantir adesão e respeito às regras que institucionalizam<br />
direitos e deveres. (PEREIRA, 2002, p. 74).<br />
Com condições físicas e autonomia garantida, todo ser humano é capaz de<br />
escolher crenças e atribuir valores, e se responsabilizar pelos atos praticados em<br />
sociedade. Doyal e Gough (apud PEREIRA, 2002), apontam as características de<br />
satísfier, possibilitadoras de melhorar e/ ou garantir a saúde física/ psíquica e a<br />
autonomia de todo homem. Devemos salientar o fato de que, estes, como Pereira<br />
(2002) enfatiza, são fatores universais de satisfação, mas em alguns casos não suprem<br />
necessidades específicas, em diversas localidades onde se encontram grupos<br />
minoritários. A autora agrega a esses satisfadores (vocábulo da autora) universais onze<br />
categorias,<br />
[...] nove delas aplicam-se indistintamente a todas as pessoas, enquanto duas<br />
referem-se, respectivamente, a necessidades específicas de crianças e de<br />
mulheres, como segue:<br />
a. alimentação nutritiva e água potável;<br />
b. habitação adequada;<br />
c. ambiente de trabalho desprovido de riscos;<br />
d. ambiente físico saudável;<br />
e. cuidados de saúde apropriados;<br />
f. proteção à infância;<br />
g. relações primárias significativas;<br />
h. segurança física;<br />
i. segurança econômica;<br />
30
j. educação apropriada; (PEREIRA, 2002, p. 76).<br />
Na sociedade capitalista toda pessoa satisfaz as necessidades humanas com a<br />
renda provida de seu trabalho. Assim, o poder de aquisição de bens e meios para tal<br />
satisfação se limita ao poder de compra. Porém, a força de trabalho, valor de troca de<br />
todo trabalhador, desvalorizado pelo capital, inúmeras vezes excluem as pessoas da<br />
participação da produção e ainda dos resultados dessa produção.<br />
Com as reflexões acima percebemos que as necessidades humanas vão além<br />
das materializadas, como abrigo, comida e outras. As necessidades humanas dizem<br />
respeito a fatores que influem no processo da vida humana e nas relações sociais<br />
construídas ao longo do tempo. O trabalho como meio de satisfação de inúmeras<br />
necessidades, passa talvez, hoje, a ser a principal necessidade apresentada em nossa<br />
sociedade.<br />
Dentre as categorias de satisfação das necessidades humanas, apontadas por<br />
Pereira (2002) e citadas acima, uma merece maior destaque neste trabalho, pois para a<br />
análise da pesquisa se torna tema central da discussão. Trata-se da segurança<br />
econômica, necessidade intermediária e garantidora da manutenção e do<br />
desenvolvimento da autonomia individual.<br />
O trabalho, a remuneração frente à produção na sociedade capitalista, garante a<br />
segurança econômica de toda família e possibilita as pessoas de planejar e prever as<br />
formas concretas de satisfação de suas necessidades. A ausência desta caução<br />
acarreta instabilidade econômica, desorientação das pessoas, doenças; a não<br />
satisfação de necessidades essenciais a existência humana tais como: gastos com<br />
habitação, alimentação, saúde e educação, fatores fundamentais para o<br />
desenvolvimento social.<br />
Portanto, medidas protetoras sob a forma de renda contra contingências<br />
sociais, como velhice, enfermidade, incapacidade, desemprego, devem ser<br />
previstas como “condição necessária para que os indivíduos possam participar<br />
socialmente e questionar os valores dessa sociedade” (PEREIRA, 2002, p. 80).<br />
Com estas reflexões é possível verificar que hoje, o trabalho através das<br />
construções e relações sociais se torna necessidade humana, porém inacessível a<br />
muitas pessoas em todo o mundo. Mandel (1995, p.44) ressalta que o “dinheiro e as<br />
relações de mercado, em contraste, se consubstanciam como instrumentos de garantia<br />
31
à maior liberdade do consumidor na exata medida em que as necessidades básicas<br />
tenham já sido satisfeitas”. A liberdade se aludia no poder de escolha das pessoas e,<br />
quando estas escolhas se confrontam com as necessidades humanas fundamentais, as<br />
pessoas não têm qualquer escolha.<br />
Normalmente não se ‘ escolhe’ entre pão e uma passagem aérea, entre<br />
educação básica e um segundo televisor, entre tratamento de saúde e um<br />
tapete persa. O dinheiro, enquanto meio para a liberdade do consumidor, é<br />
eficiente apenas para a escolha entre bens relativamente supérfluos – dado um<br />
alto grau de eqüidade de renda. Como um meio de se determinar os rumos<br />
básicos da alocação social de recursos, é passível de ser tanto injusto como<br />
ineficiente (MANDEL, 1995, p. 44).<br />
Conforme já mencionado, é a produção de bens e serviços, através do trabalho,<br />
o meio primordial de prover a satisfação das necessidades humanas. Mas, tais<br />
necessidades tornam-se mercadorias na sociedade em que vivemos, e somente aquele<br />
que tem renda suficiente dará conta de prover por si só todas as suas necessidades e<br />
de sua família.<br />
Simão, (2003, p. 15) coloca que<br />
se, na sociedade capitalista, o critério de acesso a direitos e poderes é a<br />
participação na produção de riquezas através do trabalho, este deveria ser<br />
garantido a todo cidadão. Contudo, as novas formas de organização do<br />
processo produtivo vêm excluindo um número significativo de trabalhadores da<br />
participação na produção social, aumenta o número de pessoas empobrecidas<br />
e sem perspectiva de inclusão nas exigências atuais do mercado de trabalho<br />
(SIMÃO, 2003, p. 15).<br />
Todavia, as necessidades comuns e fundamentais as pessoas serão supridas se<br />
estes tiverem acesso ao trabalho. E para prevalência de uma vida humana digna se<br />
concretizar, esse trabalho deve garantir as pessoas condições suficientes para o<br />
acesso aos bens e serviços socialmente produzidos. O acesso ao direito, na sociedade<br />
capitalista, ocorre por meio da participação na produção da riqueza social, e isto, seria<br />
argumento suficiente para toda pessoa ter garantido o direito ao trabalho. Porém, as<br />
mudanças na organização produtiva excluem significativamente inúmeros trabalhadores<br />
desta produção, aumentando o empobrecimento e a falta de alternativas para inclusão<br />
dos cidadãos no mundo da produção social.<br />
Satisfazer necessidades é um direito humano, no entanto, há diferentes<br />
concepções e respostas. Se pensarmos em termos de sociedade justa e com<br />
propósitos humanos igualitários, esse direito é responsabilidade de toda a<br />
sociedade e será garantido com a intervenção do Estado na distribuição de<br />
32
enda. Mas, se pensarmos segundo os fundamentos de uma sociedade<br />
desigual e sustentada em princípios mercadológicos, a responsabilidade é de<br />
cada indivíduo e à sociedade cabe a responsabilidade pela manutenção da vida<br />
de todos. Portanto, o que há em comum é que todos devem ter necessidades<br />
satisfeitas e a diferença é quanto ao tipo de necessidade a ser satisfeita<br />
(SIMÃO, 2003, p. 13).<br />
Para muitos trabalhadores, em postos de trabalho mal remunerados, pela<br />
terceirização e pela subcontratação; ou desempregados, o acirramento das<br />
desigualdades sociais, sustentadas pelo desenvolvimento econômico e social<br />
desiguais, as necessidades humanas satisfeitas são cada vez mais reduzidas.<br />
Com estas linhas percorridas, neste contexto traremos a discussão do trabalho<br />
cooperado e solidário como forma de garantir renda e através desta, a satisfação das<br />
necessidades humanas, para os sócios da APRI.<br />
3.3 ECONOMIA SOLIDÁRIA<br />
Como já colocado anteriormente, hoje o trabalho na sociedade passa a ser<br />
necessidade humana indispensável para as pessoas e para a condição de vida destas.<br />
Marx (apud SIMÃO, 2008) coloca o trabalho como mercadoria, valor- de- troca do<br />
trabalhador frente a sociedade capitalista, algo que aliena e condiciona os indivíduos a<br />
trocarem sua força de trabalho por remuneração para a satisfação das necessidades<br />
humanas, porém fato que não interfere na lucratividade do capital, na produção de<br />
mais- valia e na exploração demasiada do trabalho humano. Já o trabalho do homem<br />
como valor- de- uso leva as pessoas a produzirem o suficiente para o consumo próprio<br />
e de suas famílias, sem a produção lucrativa e do acumulo de riqueza para os<br />
proprietários dos meios de produção. Cabe, então, colocar que as experiências em<br />
Economia Solidária- ES atribuem ao trabalho cooperado e solidário o valor- de- uso,<br />
produção e distribuição social. Como Simão, (2008, p. 26) discorre:<br />
Neste tipo de relação, será possível o trabalho como possibilidade de criação e<br />
de realização humana. Assim, ter-se-ia a liberdade como real possibilidade de<br />
satisfação de necessidades, com o fim da presença do indivíduo centrado nos<br />
seus interesses particulares (Simão, 2008, p.26).<br />
O cenário vivenciado na sociedade de hoje é de crise, desemprego e grande<br />
exclusão das camadas populares menos favorecidas, frente ao aumento da produção<br />
33
com prioridade de maior acumulação do capital. Neste sentido, pesquisadores,<br />
técnicos, estudantes, religiosos, sindicalistas, entre outros, desde o início dos anos 80<br />
vêm discutindo novos mecanismos de geração de renda e garantia de sobrevivência<br />
das camadas mais atingidas da população, oferecendo oportunidade real de re-<br />
inserção na economia por sua própria iniciativa, transformando, dessa forma,<br />
desempregados em trabalhadores cooperados, autogestionários, informais e<br />
microempresários. Também, o governo - em suas várias esferas - tem desenvolvido<br />
medidas alternativas à crise do desenvolvimento capitalista nacional. Assim, a ES se<br />
torna reação na busca de soluções para a inserção dos indivíduos na produção social,<br />
com ênfase na coletividade, solidariedade e autogestão.<br />
Esse novo contexto agressivo e violento de deslocamento do assalariamento e<br />
do conjunto do trabalho organizado produz — simultaneamente ao sofrimento<br />
humano — novas experimentações na gestão de ocupações e na geração de<br />
renda. Em grande medida, destaca se a presença de um grupo de militantes<br />
críticos e engajados na formulação teórica e prática de alternativas de<br />
produção, trabalho e renda, que, somado ao contingente de deserdados pela<br />
crise do desenvolvimento capitalista no país, compreende um novo foco da<br />
economia solidária (POCHMANN, 2004, p.29).<br />
A ES, que no meio acadêmico e político tem ganhado destaque, vem sendo para<br />
muitas pessoas uma possibilidade de geração de trabalho e renda e de suprimento de<br />
suas necessidades humanas. Podemos então, considerar a ES como estratégias de<br />
resistência e de sobrevivência diante do crescimento da exclusão social e da falta de<br />
possibilidades de trabalho e renda na sociedade capitalista.<br />
O futuro da economia solidária pressupõe o desenho de uma estratégia de<br />
inclusão social, capaz de combinar o fortalecimento de medidas comprometidas<br />
com a redistribuição de renda e com caminhos de emancipação social, política<br />
e econômica. Sem isso, todavia, os limites de superação da fase inicial da<br />
economia solidária no Brasil permanecem expressivos. (POCHMANN, 2004,<br />
p.32).<br />
Para maior compreensão do que vem a ser ES e quais as presunções trazidas<br />
por esta forma de organização da produção e comercialização, e geração de trabalho e<br />
renda, abordaremos os traços preconizantes.<br />
A economia solidária vem se apresentando, nos últimos anos, como inovadora<br />
alternativa de geração de trabalho e renda e uma resposta a favor da inclusão<br />
social. Compreende uma diversidade de práticas econômicas e sociais<br />
organizadas sob a forma de cooperativas, associações, clubes de troca,<br />
empresas autogestionárias, redes de cooperação, entre outras, que realizam<br />
atividades de produção de bens, prestação de serviços, finanças solidárias,<br />
34
trocas, comércio justo e consumo solidário (MTE/ SENAES, Disponível em:<br />
http://www.mte.gov.br/ecosolidaria/ecosolidaria_oque.asp. Acesso em:<br />
08/07/2008).<br />
Neste sentido, os grupos de trabalho com ênfase em ES são cooperativas,<br />
associações, grupos informais ou ainda empresas falidas e autogeridas pelos antigos<br />
empregados, formando assim, um conjunto de atividades econômicas de produção,<br />
comercialização, distribuição, consumo e crédito, organizados pela autogestão.<br />
Considerando essa concepção, a ES possui as seguintes características:<br />
(1) acento na dimensão autogestionária e novas formas de gestão social a partir<br />
da interação dos cidadãos produtores com usuários e consumidores; (2) busca<br />
de alternativa sistêmica; (3) criação de redes horizontais de organização; (4)<br />
tem o cooperativismo popular como centro e a cooperativa como forma de<br />
empreendimento social; (5) contém elementos estratégicos anti-capitalistas; (6)<br />
a afirmação dos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais bem como<br />
dos espaços de participação, decisão e governo; (7) desenvolvimento local –<br />
território como base socioprodutiva. (VEIGA, 2004, p.144).<br />
Deste modo, a ES é uma forma inovadora de organizar a sociedade do trabalho,<br />
centrando o homem como valor principal, buscando nas relações econômicas, sociais e<br />
culturais a efetivação dos direitos igualitários, buscando a participação coletiva e<br />
solidária nas relações da produção social. A ES apresenta-se como projeto econômico<br />
prático das classes trabalhadoras e constitui-se como base para uma retomada da<br />
crítica da economia política enfática da sociedade capitalista. Nas palavras de Singer<br />
(2003, p. 13) “a economia solidária é uma criação em processo continuo de<br />
trabalhadores em luta conta o capitalismo. Como tal, ela não poderia preceder o<br />
capitalismo industrial, mas o acompanha como uma sombra, em toda sua evolução”.<br />
Podemos evidenciar que o homem e seu bem - estar econômico e social são<br />
valores ressaltados no âmbito da ES. Além de surgir como uma nova forma de superar<br />
as relações de exploração colocadas pelo capital em nossa sociedade, a formação da<br />
ES vem ao encontro da necessidade de criar novas maneiras de produzir, comercializar<br />
e consumir, visando à superação da exclusão social e das desigualdades apartadas em<br />
nossa sociedade com princípios de solidariedade, igualdade e autogestão.<br />
Os valores apontados até agora permitem avaliar positivamente essas novas<br />
experiências de geração de trabalho e renda. Com os valores e princípios norteadores<br />
da ES a produção passa a ser construída coletivamente e sua divisão é igual a todos. É<br />
bastante prepositivo que estas experiências buscam a superação da pobreza,<br />
35
miserabilidade e fortaleça a inclusão produtiva, social e política dos sujeitos envolvidos.<br />
Basta agora sabermos em que medida isto se apresenta na realidade dos EES.<br />
O Relatório Estadual, do Sistema Nacional de Informações em Economia<br />
Solidária – SIES, referência 2005/2007, disponível no site www.sies.mte.gov.br, revela a<br />
existência de 690 grupos de trabalho norteados pela ES em Santa Catarina. Dentre<br />
estes, 326 são associações de trabalhadores organizados, caso da APRI, amostra<br />
desta pesquisa. Seguidos por cooperativas e grupos informais de trabalho.<br />
TABELA 1: FORMAS DE ORGANIZAÇÃO<br />
FORMAS DE ORGANIZAÇÃO QUANTIDADE<br />
Associação 326<br />
Cooperativa 201<br />
Grupo informal 143<br />
Sociedade mercantil de capital e<br />
indústria 8<br />
Sociedade mercantil por cotas de<br />
responsabilidade limitada 7<br />
Sociedade mercantil em nome coletivo 5<br />
TOTAL 690<br />
FONTE: www.sies.mte.gov.br<br />
Dentre os grupos mencionados na tabela 1, o Atlas da Economia Solidária (MTE/<br />
SENAES, 2006, p.26) aponta que os três principais motivos para a criação dos EES<br />
são, em âmbito nacional: alternativa ao desemprego (45%), complemento da renda dos<br />
sócios (44%) e obtenção de maiores ganhos (41%). Com estes dados verificamos que<br />
muitas pessoas participam de EES pelos ganhos financeiros que são proporcionados.<br />
Com estes números constatamos ainda, com Pedrine e Oliveira (2007, p.131) o<br />
crescimento da ES no cenário nacional,<br />
a Economia Solidária brasileira cresceu significativamente na ultima década,<br />
ganhou densidade, apoiadores, militantes e reinvidicou políticas. Tem se<br />
fortalecido como rica experiência de enfrentamento à pobreza e um dos vetores<br />
de um desenvolvimento sustentável e solidário. (PEDRINE E OLIVEIRA, 2007,<br />
p.131).<br />
Outro dado, trazido pelo SIES, referência 2005/2007, é o tipo de atividade<br />
desenvolvida pelos grupos de trabalho. No caso de SC as principais atividades são<br />
36
elacionadas a agricultura, prestação de serviços, criação de bovinos, produção de<br />
artefatos têxteis, seguido por outras.<br />
Colocamos aqui outra estatística importante para a análise de alguns dados<br />
coletados neste estudo. Se trata da situação da sede, ou local de funcionamento do<br />
EES. Em SC, são 275 grupos que tem sede cedida ou emprestada para a realização<br />
das atividades. Número este bastante significativo, quando discutidas a autonomia e a<br />
manutenção destes grupos de trabalho. Para muitos destes, a inexistência dessa<br />
possibilidade de sede impediria o funcionamento da associação, cooperativa ou demais<br />
grupos, sendo que, as despesas com estes gastos, em suma, são elevados, como fica<br />
claro na apresentação da tabela 1.<br />
TABELA 2: SITUAÇÃO DA SEDE<br />
SITUAÇÃO QUANTIDADE<br />
Cedida ou emprestada 275<br />
Própria 200<br />
Não possui sede 92<br />
Alugada 83<br />
Outra 30<br />
Arrendada 3<br />
Ocupada 2<br />
TOTAL 685<br />
FONTE: www.sies.mte.gov.br<br />
Em relação a algum tipo de apoio, assistência ou capacitação para o fomento e<br />
desenvolvimento destes grupos de trabalho, o relatório do SIES, base 2005/2007<br />
apresenta em SC, que a grande maioria teve algum tipo de sufrágio para tanto. E<br />
dentre os tipos de apoio a estes, estão: assistência técnica e/ ou gerencial, qualificação<br />
profissional, formação sócio- política (autogestão, cooperativismo, economia solidária),<br />
assistência jurídica, diagnóstico e planejamento (viabilidade econômica), assessoria na<br />
constituição, formalização ou registro. Na maioria dos casos no Estado de SC, este<br />
apoio vem de órgãos governamentais, seguidos por organizações não-<br />
governamentais- ONGs, movimentos sociais, e Universidades entre outros. Este último<br />
dado remete a questão de como o Estado, e em contrapartida, a sociedade civil,<br />
buscam alternativas de trabalho e renda para os trabalhadores excluídos das relações<br />
capitalistas de produção.<br />
37
Com relação as retiradas dos sócios destes grupos, a remuneração mensal<br />
média em SC trazida pelo SIES, base 2005/ 2007, retrata valores oscilantes entre a não<br />
remuneração e até cinco salários mínimos, em maioria. (Valor de referência é de R$<br />
300,00 correspondentes ao Salário Mínimo de 2005). E uma pequena parcela com<br />
ganhos acima disto, como evidenciamos abaixo:<br />
TABELA 3: RETIRADAS/ REMUNERAÇÃO<br />
FAIXAS EMPREENDIMENTOS<br />
1. R$ 0,00 58<br />
2. Até 1/2 salário mínimo 55<br />
3. 1/2 a 1 salário mínimo 61<br />
4. 1 a 2 salários mínimos 121<br />
5. 2 a 5 salários mínimos 100<br />
6. Maiores que 5 salários mínimos 14<br />
TOTAL 409<br />
FONTE: www.sies.mte.gov.br<br />
Seguindo a rentabilidade individual dos sujeitos, face ao trabalho cooperativo e<br />
solidário em SC, o SIES, base 2005/ 2007, aponta que os benefícios, garantias e<br />
direitos para estes, e são apresentadas na tabela 4.<br />
TABELA 4: BENEFÍCIOS, GARANTIAS E DIREITOS DOS INTEGRANTES DO EMPREENDIMENTO<br />
BENEFÍCIO, GARANTIA, DIREITO TOTAL<br />
Não existem 292<br />
Qualificação social e profissional 116<br />
Férias remuneradas 74<br />
Equipamentos de segurança 67<br />
Outro. Qual? 54<br />
Descanso semanal remunerado 53<br />
Gratificação natalina 32<br />
Comissão de prevenção de acidentes no<br />
trabalho 23<br />
FONTE: www.sies.mte.gov.br<br />
São números que mostram quão é a vulnerabilidade dos sujeitos que tem a<br />
opção de trabalhar em um grupo de ES. Não existe, em grande número, se quer a<br />
manutenção de qualquer ganho extra aos ganhos líquidos a estes trabalhadores. Sem<br />
levar em consideração as fragilidades perante as relações capitalistas de produção,<br />
temos também a falta de garantia destes quesitos, por parte do Estado, pela constante<br />
ausência de políticas públicas que efetivem a saúde, educação, qualificação<br />
38
profissional, trabalho e renda digno a todos os cidadãos para o suprimento de suas<br />
necessidades humanas.<br />
3.3.1 Os Dilemas da Economia Solidária<br />
É nesse contexto que trabalhadores excluídos, marginalizados, adotam o lixo<br />
como fonte de renda e alternativa para o desemprego. Os números apontados acima<br />
mostram que as pessoas se reúnem em grupos de trabalho, com objetivo principal de<br />
garantir trabalho e renda e através deste garantir o sustento de suas famílias.<br />
As pessoas que optam em trabalhar em um EES são oriundas de experiências<br />
centradas no individualismo, sem cooperação e por vezes acostumadas a<br />
superexploração. Muitos sujeitos sem qualificação profissional, com experiências<br />
contrárias à participação no processo de tomada de decisão dentro do grupo, visto que<br />
a cultura predominante na sociedade é de exploração e submissão dos indivíduos<br />
perante uma política de acumulação de lucros, se tornando problema constante aos<br />
grupos de ES.<br />
Porém, outros dilemas também são enfrentados pelos EES, como trazidos pelo<br />
Atlas da Economia Solidária (MTE/ SENAES, 2006, p.46), como podemos constatar:<br />
Quanto às dificuldades enfrentadas constata-se que 61% dos EES afirmaram<br />
ter dificuldades na comercialização, 49% para acesso a crédito e 27% não<br />
tiveram acesso a acompanhamento, apoio ou assistência técnica. A região<br />
Norte está acima da média nacional em todos os itens (68% comercialização,<br />
54% crédito e 34% apoio ou assistência). A região Nordeste destaca-se pela<br />
dificuldade de crédito (58% dos EES) e a região Centro-Oeste pelo não acesso<br />
a apoio ou assistência técnica (35%).(MTE/ SENAES, 2006, p.46).<br />
Tendo estes indícios como fatores limitantes para o fortalecimento destes grupos<br />
de trabalho, Pedrine e Oliveira (2007) apontam que os entraves da comercialização e<br />
da produção são a falta de um padrão de qualidade e a irregularidade dos produtos<br />
impactando assim a relação custo/ beneficio para os EES. Outro empecilho da<br />
comercialização, apontado pelas autoras, é a falta de espaço no mercado consumidor,<br />
muitas vezes, ficando dentro dos limites territoriais em sua região. O fortalecimento<br />
destes grupos é prejudicado, também pela inexistência de leis adequadas às<br />
necessidades destes grupos e que possibilite ainda a eles o acesso a processos<br />
39
licitatórios do governo, bem como, a legalidade dos estabelecimentos. Muitos outros<br />
fatores limitam a inserção dos EES na produção capitalista, como por exemplo, a falta<br />
de financiamento, a falta de tecnologias e formação compatíveis com as necessidades<br />
dos grupos. A falta de apoio técnico (administrativo, jurídico, político) para o avanço da<br />
gestão dos EES é também outra dificuldade para tais sujeitos.<br />
Mesmo com todas estas limitações, sofridas por grande parte dos trabalhadores<br />
dos grupos de ES ao longo dos últimos anos, esta tem se tornado uma forma<br />
democrática e cidadã de enfrentamento da pobreza e da exclusão social. Todas essas<br />
dificuldades apontadas anteriormente mostram a fragilidade dos EES para se<br />
estabelecerem perante as relações do capital existentes, e tais dificuldades acarretam<br />
na continua instabilidade destes trabalhadores, ressaltamos abaixo<br />
[...] a Economia Solidária no Brasil, mesmo ainda não atingindo número tão<br />
expressivo quanto se desejaria e seria necessário, em face da multidão de<br />
pessoas que buscam um trabalho digno, é uma experiência social que pode<br />
fermentar novas formas de vida, a partir dos setores excluídos/ as do mercado<br />
capitalista (PEDRINE E OLIVEIRA 2007, p.132).<br />
Cabe então, a este trabalho analisar o impacto da experiência, neste caso a<br />
APRI como universo, na satisfação das necessidades humanas, como resultados da<br />
contribuição de um modelo de desenvolvimento, que a divisão da riqueza, a<br />
participação democrática, à valorização da vida política, social, cultural, face ao real<br />
modelo de produção, da miséria e da precarização das condições humanas e sociais<br />
vivenciadas pela sociedade brasileira são exaltadas. Sendo assim, trazemos dados<br />
relevantes em relação a um grupo de trabalho com todas as características e dilemas<br />
até agora suscitados, porém vale lembrar que utilizamos o olhar voltado, especialmente,<br />
aos cooperados deste grupo e não ao EES, como tem sido apresentado<br />
sucessivamente na maioria dos estudos dessa área.<br />
40
4 RESULTADO DA PESQUISA<br />
Neste capítulo apresentamos um breve histórico da associação pesquisada,<br />
com o intuito de perceber quais as mudanças aos sócios desde a formação do grupo.<br />
Analisar a situação econômica- financeira do grupo e conseqüentemente visualizar<br />
quais são as conquistas e ganhos adquiridos ao longo da trajetória destes<br />
trabalhadores.<br />
4.1 ASSOCIAÇÃO PARTICIPATIVA RECICLE INDAIAL- APRI<br />
A formação da Associação Participativa Recicle Indaial- APRI, ocorreu no ano<br />
de 2002, projeto proposto pela Prefeitura Municipal de Indaial, face um dos maiores<br />
problemas enfrentados por inúmeras cidades hoje, o destino do lixo produzido pelos<br />
domicílios, hospitais, empresas entre outros.<br />
A cidade passara pela desativação do aterro sanitário do município, o qual não<br />
suportava o acondicionamento do lixo da cidade nesta mesma época. Como solução<br />
para este problema, houve o deslocamento do depositário para uma cidade vizinha,<br />
com local de maior capacidade. Porém, na mesma época muitas pessoas excluídas do<br />
mercado formal de trabalho viviam em torno deste lixão para catarem materiais<br />
recicláveis e venderem posteriormente, como forma de conseguirem renda para seu<br />
sustento. Assim, o poder público local além de pensar o destino do lixo, tinha também<br />
que concretizar uma ação voltada para o destino destes catadores.<br />
Como previsto na Lei Orgânica de Assistência Social- LOAS -art. 25 e 26, no<br />
início do mesmo ano foram então, cadastrados e atendidos os catadores de materiais<br />
da cidade, com o objetivo de “subsidiar iniciativas que lhes garantissem capacidade<br />
produtiva e de gestão para melhoria das condições gerais de subsistência, preservação<br />
do meio ambiente e organização social” (LOAS, 2004, p.25).<br />
Assim, surgiu a parceria entre a Prefeitura Municipal de Indaial e a Incubadora<br />
Tecnológica de Cooperativas Populares - ITCP/ FURB, sendo que a segunda,<br />
41
inicialmente ministrou aos catadores um curso de Associativismo e Gestão Ambiental,<br />
baseado nos princípios da Economia Solidária.<br />
Após este processo, ocorreram algumas reuniões com os catadores juntamente<br />
à Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Departamento de Assistência Social de<br />
Indaial, sendo que os catadores optaram pela formação de uma associação, a então<br />
APRI.<br />
As pessoas que viviam dessa atividade estavam a tempo fora do mercado de<br />
trabalho, ou tinham uma remuneração insatisfatória e passavam dificuldades no<br />
suprimento de suas necessidades humanas básicas, a pobreza para estas pessoas era<br />
uma constante. Acreditamos que este foi o motivo impulsionante para adesão destes<br />
sujeitos à associação, pois vislumbravam uma forma de manterem o mínimo do que<br />
precisavam para o sustento de suas famílias.<br />
O grupo inicialmente era formado por dezenove pessoas, entre mulheres e<br />
homens, alocados num galpão, custeado através de recursos do Fundo Municipal de<br />
Assistência Social, para a triagem e o acondicionamento do material reciclável recolhido<br />
nas ruas da cidade. Os catadores neste período não disponibilizavam de caminhão ou<br />
carrinhos, por este motivo a coleta de material reciclável era feita somente nos bairros<br />
próximos de suas residências ou ao galpão.<br />
Com o intuito de construir a identidade coletiva, solidária e cooperada dos<br />
associados o apoio da Prefeitura Municipal e a assessoria da ITCP/ FURB permitiram<br />
inicialmente à associação, como defini Prim e Schimit (2006):<br />
a) a elaboração do Estatuto Social; b) a mobilização para conseguir um galpão<br />
para acondicionamento, triagem e comercialização coletiva dos materiais<br />
coletados; c) o desenvolvimento de estratégias para a valorização social dos<br />
sócios: como a criação da logomarca e a elaboração de material de divulgação,<br />
camisetas, folders, banners, cartões de visitas e imãs de geladeira da APRI; d)<br />
a capacitação dos associados na área da reciclagem; e) a definição de valores<br />
para a tabela de custo de produtos e a elaboração de projetos para a captação<br />
de recursos financeiros e f) organização das formas internas de funcionamento<br />
da Associação (PRIM e SCHIMIT, 2006, s.n)<br />
A Prefeitura de Indaial, através da Secretaria do Meio Ambiente fornece hoje,<br />
apoio no que tange a infra-estrutura e equipamentos necessários para todo o processo<br />
de coleta, triagem, acondicionação e invólucro dos materiais para a venda. Já, a ITCP/<br />
FURB com o assessoramento voltado para a organização e gestão da cooperativa,<br />
42
possibilita a estes sujeitos a conquista da cidadania, através do trabalho cooperado e<br />
solidário.<br />
Atualmente a Prefeitura realiza a coleta dos materiais recicláveis em oito bairros<br />
da cidade, levando todo o material coletado para o processo de reciclagem até a APRI,<br />
possibilitando através do processo coletivo a seleção e comercialização dos materiais<br />
recicláveis para onze sócios, dentre estes, quatro do sexo feminino.<br />
O apoio do poder público local através de parcerias e convênios firmados com<br />
empresas e bancos disponibiliza atualmente a APRI o custeio permanente do aluguel<br />
do galpão utilizado. Também, aderidas pela Prefeitura, duas prensas utilizadas no<br />
processo de trabalho foram compradas para maior eficiência do processo.<br />
4.1.1 Situação e Dificuldades da APRI<br />
Desde a formação do grupo a APRI enfrenta problemas quanto a novos sócios.<br />
Até o ano de 2005 houve bastante rotatividade de pessoas na associação, dificultando<br />
o trabalho coletivo e o fortalecimento dos vínculos cooperativos e solidários, já que os<br />
novos integrantes não recebem formação em cooperativismo e autogestão. Os<br />
associados que permanecem têm dificuldade de manter o trabalho cooperado e<br />
autogestor face à ex- experiências de trabalho que tiveram e das trazidas pelos novos<br />
sócios; torna-se cômodo e mais fácil reproduzir práticas alienadoras de trabalho<br />
aprendidas durante toda uma vida.<br />
No ano de 2006 houve seis vinculações no decorrer do ano; em 2007 mais<br />
duas pessoas e em 2008 houve a associação de uma pessoa. Segundo os atuais<br />
sócios, muitas pessoas saem da associação por acharem que o trabalho<br />
desempenhado não é reconhecido; pela ausência de um vínculo formal de trabalho com<br />
a associação; por ter dificuldades nas relações colocadas pelo trabalho cooperado; ou<br />
por problemas pessoais e/ ou familiares.<br />
O processo administrativo se faz através de um conselho gestor, com um<br />
presidente, um tesoureiro, um secretário e três fiscais, os quais não ganham valor<br />
excedente para exercer estas tarefas. Este conselho é escolhido a cada dois anos e<br />
fica a critério de cada sócio participar ou não das eleições, as quais são internas. Os<br />
43
sócios que desempenham as funções administrativas, trabalham diariamente no<br />
galpão. Somente próximo ao fechamento das retiradas e das negociações com os<br />
compradores de materiais é que o presidente, o tesoureiro e os fiscais se ausentam do<br />
trabalho corriqueiro.<br />
A situação econômico-financeira da APRI é estável, não possue dívidas<br />
acumuladas e consegue com o montante mensal pagar os gastos fixos da associação,<br />
tais como energia e água. Ainda com este fazem a divisão das retiradas individuais de<br />
cada sócio e realizam a coleta mensal da contribuição ao INSS, sendo que cada sócio<br />
paga sua parte e o presidente e o tesoureiro são encarregados de efetuar tal<br />
pagamento. Além disso, os sócios conseguem comprar alguns materiais, como botas,<br />
luvas e materiais para limpeza do galpão.<br />
A formação de um fundo monetário coletivo na associação foi decisão dos<br />
sócios e desde meados de 2006 vem acontecendo. Este dinheiro prevê futuras<br />
melhorias de maquinários e infra- estrutura. Porém, no inicio de 2008 este foi utilizado<br />
para pagar a perda de um processo jurídico trabalhista, qual um ex- sócio recorreu seus<br />
direitos, e a justiça por entender que a associação mantinha vínculos empregatícios,<br />
ordenou o pagamento do pedido feito. Com este acontecimento o fundo coletivo esta<br />
sem novas coletas.<br />
A dependência do poder público para custeio do aluguel do galpão e a não<br />
propriedade do mesmo gera instabilidade e insegurança, pois os sócios estão à mercê<br />
das decisões do poder público. Caso a administração do município sofra alterações,<br />
cortes de gastos ou troca do partido político frente às questões burocráticas do<br />
município podem, vir ocorrer mudanças na manutenção das despesas com o aluguel do<br />
galpão e do transporte para a coleta dos materiais cedidos a associação.<br />
4.2 DIAGNÓSTICO DO TRABALHO E RENDA DOS INTEGRANTES DA APRI<br />
Com os dados coletados e descritos acima foi possível delinear a forma de<br />
trabalho adotado pela APRI e a organização interna do grupo. À seguir destacamos os<br />
principais traços da trajetória ocupacional dos atuais sócios.<br />
44
O grupo de associados da APRI tem idades bem diferenciadas entre eles, o<br />
que, muito provavelmente, vai influenciar na diferenciação entre as trajetórias<br />
ocupacionais destes sócios. Há aqui os aspectos de periodicidade diferenciadas em<br />
relação à inserção e manutenção no mercado de trabalho. A idade dos sócios varia<br />
entre 26 e 62 anos de idade, sendo que seis pessoas têm acima dos 50 anos, quatro<br />
tem entre 30 e 49 anos e um sócio tem 26 anos.<br />
Dentre os sócios entrevistados há uma pessoa com segundo grau completo<br />
com idade de 35 anos. Há dois sócios com o primeiro grau completo, com 40 e 56 anos<br />
respectivamente; e as demais pessoas com pouca escolaridade, não ultrapassando a<br />
segunda série do antigo colegial. Cinco delas estão na faixa etária acima dos 50 anos e<br />
três deles com idades de 26, 37 e 49 concomitantes.<br />
Para os sócios que estão na faixa etária superior a 50 anos, o acesso a<br />
escolaridade quando jovens era precário por diversos fatores; tinham empecilhos como<br />
a distância entre a casa que moravam e a escola, as vias e o transporte ruins da época,<br />
os investimentos do governo, ainda mais baixos do que hoje, na área da educação,<br />
fatores familiares e culturais que influenciam neste aspecto apresentado. Alguns<br />
depoimentos cedidos ilustram a realidade dos sujeitos de maior idade quanto à<br />
escolaridade e as possibilidades alcançadas quando jovens.<br />
Naquele tempo nós não podia estudar, tinha que ajudar a mãe e também pra ir<br />
na escola era longe, tinha que caminhar bastante e se o rio enchia não tinha<br />
nem como passar. Ai eu estudei bem pouco. Leio e escrevo muito pouco, ai<br />
como a gente não usa acabamos esquecendo (RITA, 2008).<br />
Eu tenho a 2ª serie do primeiro grau, tinha que logo ajudar na lavoura, estudei<br />
pouco (JOSÈ, 2008).<br />
Já, os de 26 a 49 anos de idade provavelmente possuíram e alguns ainda,<br />
possuem condições para o acesso a escolaridade, mas igualmente aos de maior idade<br />
iniciaram prematuramente no mercado de trabalho pelas necessidades de subsistência<br />
da família. Provavelmente se dedicaram a atividades remuneradas como meio de<br />
contribuir nas condições financeiras do grupo familiar.<br />
É possível afirmar que a maioria, dos sócios da APRI teve pouca ou nenhuma<br />
possibilidade de acesso à escolaridade, além das dificuldades próprias da época, como<br />
por exemplo, a distância da casa até a escola, as condições financeiras da família<br />
45
exigia a inserção no mercado de trabalho ainda muito jovens, antes dos 16 anos de<br />
idade, como constatado. Assim, deixavam a escola para obter renda e complementar os<br />
ganhos familiares, neste sentido, foram adquirindo conhecimento ocupacional no<br />
próprio trabalho ou, na maioria das vezes, pelos familiares, conforme relatos abaixo:<br />
Quando eu era solteira trabalhava na roça, e a mãe empregava nós nas casas<br />
para cuidar das crianças (RITA, 2008).<br />
Eu me criei na lavoura, eu aprendi a ser carpinteiro com o falecido meu pai [...]<br />
(JOSÉ, 2008).<br />
Tais características, baixa escolaridade e prematura inserção no mercado de<br />
trabalho são comuns na trajetória das pessoas que trabalham na APRI. Na atualidade,<br />
estas pessoas com uma trajetória marcada pela pouca instrução, baixa qualificação<br />
profissional e, ainda, para a maioria, idade considerada avançada para reinserção ou<br />
inserção no mercado de trabalho. Assim sendo, para a maioria, a associação é a<br />
alternativa possível para a obtenção de renda pelo trabalho.<br />
Algo evidenciado por Simão (2008, p. 90) em seu relado acerca da trajetória de<br />
exclusão da composição do trabalhador coletivo, caso da cooperativa Cooperanti, é<br />
também identificado na trajetória ocupacional dos associados da APRI; 3 dos sócios<br />
nunca tiveram em sua trajetória ocupacional vínculo empregatício, as experiências<br />
relatadas são como jardineiro e doméstica e posteriormente, como relatado por uma<br />
das sócias, como catadora:<br />
Olha, primeiro eu trabalhei em uma firma de conserva, prometeram assinar a<br />
carteira, mas nada, só enrolaram. Logo vim morar aqui. Trabalhei como<br />
doméstica na casa de uma mulher lá em Blumenau um tempo, só que desisti.<br />
Ai, procurei, procurei emprego e fiquei um bom tempo desempregada. Daí eu<br />
fui trabalhar com o Alemão (dono/ responsável pelo lixão), lá no lixão. (RITA,<br />
2008).<br />
Sempre trabalhei como doméstica, desde os 11 anos e depois vim pra cá [...]<br />
(JOANA, 2008).<br />
Já, cinco dos associados relataram experiências formais de trabalho, tais como<br />
experiências no ramo da construção civil, alimentícia, marcenaria e trabalhos<br />
domésticos como ocupações anteriores à associação. Estas experiências dizem<br />
respeito a ocupações com vínculos formais assalariados de pequenos proprietários.<br />
Contudo, pelo relato deles, não participaram da composição do trabalhador coletivo<br />
próprio da divisão do trabalho, mas, o vínculo de trabalho era formal. As ocupações<br />
46
desenvolvidas e descritas pelos sócios não exigiam constantemente deles a<br />
cooperação no processo do trabalho, característica marcante do trabalhador coletivo,<br />
na atual divisão do trabalho, assim muitos eventos da trajetória ocupacional destes<br />
trabalhadores não exigiam o comprometimento e a cooperação coletiva.<br />
Mas, três dos sócios em algum momento de sua trajetória ocupacional, viveram<br />
a experiência da composição do trabalhador coletivo. As experiências relatadas se<br />
referem à funções como metalúrgico, revisora e tintureiro de empresas na região em<br />
que moram.<br />
Um fato que chama a atenção são os curtos períodos nas ocupações<br />
anteriores a associação, alguns ficando apenas poucos meses em um emprego, ou<br />
então poucos anos, sem um vínculo duradouro nas funções exercidas por eles<br />
descritas anteriormente, indiferente do vínculo ser formal ou não. Diante de tais eventos<br />
podemos denominar tais trajetórias de fragilidade dos vínculos de trabalho e de<br />
vulnerabilidade na manutenção das necessidades humanas, evento ocorrido no mundo<br />
do trabalho nos últimos, como constatado na revisão bibliográfica deste.<br />
Confirmando a denominação da trajetória como frágil e vulnerável, é, comum a<br />
maioria deles, a má remuneração nos empregos anteriores a associação, a não<br />
valorização do oficio desempenhado, as condições precárias de trabalho que<br />
perpassaram em momentos da trajetória ocupacional no trabalho. Em alguns<br />
momentos, os sócios deixam transparecer estes aspectos:<br />
O serviço era braçal (referindo-se ao serviço na lavoura)[...]. Ai sai dali e fui pro<br />
garimpo, sem carteira assinada. Era um serviço pesado, nós procurávamos<br />
pedras preciosas,mas não tinha mais lucro, e o pó das pedras me fazia mal<br />
(JOSÈ, 2008).<br />
Era um salário que eu ganhava, só tinha a carteira assinada e só, ia de bicicleta<br />
até lá no trabalho. O salário era pouco, não dava pra nada (MARA, 2008).<br />
O evento desemprego foi presente em vários momentos da trajetória dos atuais<br />
sócios da APRI. Porém, cinco deles, disseram que nunca ficaram desempregados, pois<br />
quando não tinham um emprego fixo, em períodos entre um emprego e outro, tiveram<br />
os famosos ‘bicos’ para se sustentarem. Estas pessoas, que ao longo de sua trajetória,<br />
vivenciaram dificuldades para se manterem no mercado de trabalho, não reconhecem<br />
estes momentos como desemprego ou emprego precarizado, pois conseguiam a dura<br />
47
custa manterem o sustento de suas famílias, algo muito enfatizado nas conversas<br />
estabelecidas durante a aproximação dos sujeitos.<br />
É relevante o fato de que três dos atuais sócios trabalharam períodos de suas<br />
vidas no antigo lixão da cidade. Uma dessas pessoas seguiu rumo diferente de 2 deles<br />
que estão até hoje na associação desde sua constituição. Mas no ano de 2006 depois<br />
de ter passado por outros dois empregos, na construção civil, sem vínculo empregatício<br />
e por problemas de saúde este optou em se associar a APRI, segundo ele, pelo ‘serviço<br />
ser mais leve’ como forma de melhorar sua condição de saúde e não perder o<br />
rendimento de sua família. Com a fala de uma sócia percebemos como o desemprego a<br />
motivou buscar o trabalho no lixão como forma de sobrevivência , antes de se associar<br />
a APRI:<br />
Ah, eu já fiquei muito tempo desempregada. Fiquei uns três, quatro anos sem<br />
trabalhar. Ai, comecei lá no lixão [...] (RITA,2008).<br />
É possível constatar a presença de vínculos frágeis de trabalho assalariado e<br />
de desemprego na trajetória de todos os associados da APRI, fato que remete a<br />
questão da vulnerabilidade sofrida frente às questões postas pela seguidas<br />
transformações no mundo do trabalho.<br />
Em relação ao evento desemprego vivido pelos sócios da APRI, de modo geral<br />
a maioria deles passou por períodos curtos ou médios (de até seis meses a dois anos)<br />
sem um vínculo de trabalho, mesmo que informal.<br />
Com todos estes traços da trajetória ocupacional dos associados, é evidente<br />
que o ingresso deles na associação foi motivado principalmente por vínculos instáveis<br />
de trabalho e renda, ou pela falta destes. Dos entrevistados, cinco pessoas foram<br />
incentivadas por associados para iniciarem o trabalho como reciclador, pois pediram<br />
demissão ou tinham sido demitidos do último trabalho antes da vinculação a APRI.<br />
Outros quatro disseram que estavam desempregados há algum tempo e esse foi o<br />
motivo impulsionante para o ingresso, sendo que dois deles se sentiram motivados pela<br />
publicação na mídia das vagas ofertadas. Já, as duas pessoas que estão desde a<br />
constituição da APRI foram incentivadas pelas políticas públicas de trabalho e renda do<br />
município.<br />
48
Nas vésperas de suas vinculações à APRI, os sócios em suma estavam em<br />
situações de desemprego, mal remunerados, em condições precárias de trabalho e sem<br />
a devida satisfação das necessidades humanas básicas. A opção de escolha destas<br />
pessoas ronda a possibilidade de adquirir renda e trabalho através da associação, o<br />
que para muitos significa a possibilidade da continuidade e/ ou melhora da satisfação<br />
de suas necessidades. Assim, estas pessoas nos passam que além da garantia de<br />
emprego, o sustento e a qualidade de vida de suas famílias é imprescindível, e não os<br />
leva a deixar de lado as possibilidades existentes do trabalho cooperado, mesmo fora<br />
do assalariamento proporcionado pelo trabalho formal.<br />
4.3 AS CONDIÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS DOS INTEGRANTES DA APRI<br />
Aqui abordamos a motivação para se manterem na associação, o<br />
conhecimento adquirido depois do trabalho associativo e as perspectivas destas<br />
pessoas frente às condições de trabalho enfrentadas no cotidiano da associação.<br />
4.3.1 Motivação para se Associar a APRI<br />
Considerando a trajetória ocupacional, as pessoas que se associaram a APRI<br />
foram principalmente, motivadas pelas dificuldades de renda e da satisfação de suas<br />
necessidades humanas. Estavam sem emprego, mal remunerados, em postos de<br />
trabalhos precários, ou ainda viviam de atividades esporádicas para conseguirem o<br />
mantimento de suas famílias.<br />
Percebemos que com o trabalho cooperado desempenhado por estas pessoas<br />
a situação de vulnerabilidade vivenciada até a adesão à associação foi superada por<br />
alguns dos associados. Isto é evidenciado quando questionamos, pelo instrumento da<br />
entrevista, quanto às retiradas mensais de cada sócio.<br />
Seis pessoas dizem que mantêm as despesas de moradia, alimentação e<br />
vestuário de suas famílias com a renda obtida na APRI. Dentre elas há quem relate que<br />
com suas retiradas conseguem ainda aplicar uma parte em poupança e/ ou na compra<br />
49
de materiais recicláveis fora da associação para venda posterior, com maior valor<br />
agregado, ganhando lucro extra com essa atividade.<br />
Há também pessoas que se dizem satisfeitas, pois conseguem pagar a<br />
prestação da casa própria ou do veículo adquirido, como constatado abaixo:<br />
Consigo sobreviver com isso. Pagar prestações da casa e nossa alimentação<br />
(JOANA, 2008).<br />
Sustento a minha família, estou terminando a casa e comprei um carrinho<br />
(FLÁVIO, 2008).<br />
Aqui, com esse salário dá pra sobreviver, ganhamos melhor que na construção<br />
e o serviço não é tão pesado (JOSÉ,2008).<br />
Pago a comida lá em casa e consigo aplicar um pouco de dinheiro na compra<br />
de materiais recicláveis, pra vender quando o preço esta melhor, fora da<br />
associação (JOÃO, 2008).<br />
Na última fala constatamos por parte deste sócio, tesoureiro do grupo, iniciativa<br />
que reproduz o individualismo em vez de prática cooperada e solidária. Este sujeito<br />
talvez visualize somente o ganho extra que esta atividade traz a sua família, porém<br />
cabe ao grupo tomar posicionamento frente a esta prática, já que o regimento interno<br />
da associação prevê que as vendas de materiais recicláveis serão feitas somente<br />
através da associação.<br />
Já, três pessoas pensam que as retiradas na associação são em parte<br />
suficientes para o atendimento de suas necessidade. Relatam que suas retiradas são<br />
boas, mas que de um mês para outro as despesas são diversas. Um destes relata caso<br />
de doença na família.<br />
Tem meses que é difícil, a esposa não trabalha e o filho está doente<br />
(ARNALDO, 2008).<br />
As economias que poderiam gerar uma poupança ou aquisição de bens ou<br />
utensílios para maior comodidade destas pessoas vêm sendo usadas para a compra de<br />
medicamentos ou tratamentos de doenças na família. Aqui podemos apontar que além<br />
da instabilidade financeira e de manutenção de suas vidas, muitos trabalhadores não<br />
têm acesso às políticas sociais de saúde, educação, habitação, o que acaba gerando<br />
maior comprometimento de suas rendas com tais gastos, já que o Estado se<br />
desresponsabiliza e passa tais deveres para a sociedade civil. O atendimento dos<br />
direitos sociais vem, junto a todas as mudanças e transformações ocorridas na<br />
50
sociedade, sendo colocados como mercadorias a serem adquiridas através do poder<br />
aquisitivo de cada indivíduo. Assim, em situações de doença ou outros, fica a critério de<br />
cada pessoa a escolha de qual necessidade atender, e em muitos casos a vida das<br />
pessoas dependem disto.<br />
Outros dois sócios, salientam que as despesas com alimentação e moradia<br />
são bastante caras e que suas retiradas não seriam suficiente para todas as despesas,<br />
caso dependessem somente de suas retiradas. Cabe nestes casos dizer que tais<br />
despesas relacionadas nas falas dos sócios em geral são relacionadas a despesas com<br />
comida, água e luz, sem considerar as possibilidades de investimentos na casa própria,<br />
ou aumento do consumo, o que de certa forma seria um indicativo de melhora em suas<br />
vidas, pois teriam maior disponibilidade de consumo.<br />
Viver só com meu salário sempre faltaria algo (PRUDENTE, 2008).<br />
Viver assim, mais ou menos, porque nós gastamos muito, o custo de vida tá<br />
caro. No mercado as coisas são caras (RITA, 2008).<br />
Apesar das situações vividas por eles descritas acima, como a falta de amparo<br />
social do Estado frente às questões de saúde pública e a não satisfação das<br />
necessidades básicas apenas com os rendimentos obtidos com o trabalho deles,<br />
corroboramos que a condição de vida destes sujeitos em geral apresenta, por<br />
depoimentos cedidos, melhora nas condições de vida depois do trabalho cooperado,<br />
porém, alguns ainda não conseguem satisfazer plenamente as necessidades humanas.<br />
Dentre os aspectos relevantes desta melhoria o que apareceu foram os fatores<br />
econômicos correlacionados com a satisfação das necessidades materiais das famílias<br />
envolvidas.<br />
Nunca pude compra um carro bom, alguma coisa pra dentro de casa. Agora<br />
moro numa casinha boa, é tudo bem melhor (MARA, 2008).<br />
Antes nunca tinha adquirido nada, agora vou até conseguir abri meu próprio<br />
negócio.(FERNANDO, 2008).<br />
O pagamento é melhor e não precisamos nos esforçar tanto no trabalho (JOÃO,<br />
2008).<br />
Hoje cada sócio com seu trabalho desenvolvido na APRI retira mensalmente<br />
em torno de R$ 900,00, com uma pequena variação para mais ou para menos,<br />
dependendo das negociações com os compradores de materiais, mensalmente. Logo<br />
51
no início do desenvolvimento da APRI, nas consultas feitas nos registros da ITCP,<br />
percebemos que as retiradas eram bem menores, o que ficava em torno de um salário<br />
mínimo. Já para aqueles sócios que estão a menos tempo na APRI, as expressões de<br />
satisfação nas respostas dadas ao preenchimento do questionário mostra que houve<br />
uma pequena melhora nas recompensas advindas do trabalho, pois como constatado<br />
anteriormente, muitos não possuíam renda estável ou estavam em situações<br />
vulneráveis de trabalho.<br />
Cada pessoa trabalha diariamente oito horas na associação e todos recebem<br />
igualmente por estas horas dedicadas ao trabalho no galpão. É a cota-trabalho<br />
definindo a cota de retirada individual. Em determinados dias o acumulo de materiais<br />
recicláveis obriga essa carga horária se estender para alguns, pois o galpão é pequeno,<br />
não permitindo grande estoque de materiais. Assim, o grupo decidiu que todos que<br />
trabalham horas a mais do expediente obrigatório a todos, colaborando com todo o<br />
grupo, ganham pagos uma percentagem diferenciada dos que normalmente cumprem<br />
somente as horas definidas para cada sócio. Isto nos leva a pensar de que essa<br />
diferenciação na participação dos resultados finais é injusto, pois todos deveriam ter<br />
direitos iguais. Mas, no caso da APRI, esta questão já foi bastante discutida e por hora<br />
todos acordaram que os sócios que querem e podem contribuir com horas a mais de<br />
trabalho serão recompensados. Porém, como percebemos nas assessorias pontuais<br />
feitas ao grupo, o compromisso com a produção coletiva é algo motivante somente para<br />
alguns dos sócios, enquanto outros não participam disto por não quererem, o que<br />
compromete o caráter cooperativo e solidário da associação.<br />
Com toda uma caminhada para efetivar a APRI como um grupo de trabalho<br />
cooperado e de retorno para os sócios, as retiradas mensais têm sido determinante na<br />
avaliação para tal conquista. No início das assessorias da ITCP/ FURB o valor das<br />
retiradas eram inferiores ao declarado hoje pelos sócios, devido aos inúmeros<br />
problemas enfrentados, tais como a falta de autonomia do grupo frente às decisões<br />
coletivas, falta de comprometimento de toda a equipe, deslealdade na prestação de<br />
contas por ex-sócios, entre outros.<br />
Com este estudo percebemos uma melhora nas condições materiais dos<br />
sujeitos no que tange a aquisição de bens móveis e imóveis individuais depois da<br />
52
associação na APRI. Há um sócio que comprou a casa própria somente depois do<br />
trabalho na cooperativa, outras quatro pessoas conseguiram terminar ou reformar a<br />
casa que possuíam e seis pessoas trocaram ou compraram veículos a partir do posto<br />
assumido por eles na associação, ou ainda compraram bens não duráveis, tais como<br />
utensílios e eletrodomésticos para suas casas, como por exemplos: tvs, microondas,<br />
computadores, máquina de lavar- roupas entre outros.<br />
Outro aspecto relevante é a satisfação com o trabalho realizado que os sócios<br />
expressam em suas falas. Este é um ponto do qual Singer (2003) já levantava no início<br />
das construções coletivas solidárias: a possibilidade de os trabalhadores resgatarem a<br />
cidadania, que em muitos casos estava longe de ser alcançada. “[...] a primeira vez em<br />
suas vidas o gozo de direitos iguais para todos, o prazer de poderem se exprimir<br />
livremente e de serem escutados e o orgulho de perceber que suas opiniões são<br />
respeitadas e pesam no destino do coletivo” (SINGER, 2003, p. 28).<br />
Eu acredito que as pessoas vivem melhor. Aqui temos pessoas que têm mais<br />
de 60 anos, sem estudo e conseguem ganhar um salário razoável (PRUDENTE,<br />
2008).<br />
Porque gosto de trabalhar aqui, me sinto muito bem [...] Aqui é bom, a gente<br />
decidi juntos as coisas (MARA, 2008).<br />
Podemos então, concluir de que não apenas o fator renda é motivo para a<br />
satisfação no trabalho destas pessoas. Alguns expressam a satisfação por trabalhar em<br />
uma associação em que as retiradas e os benefícios são iguais para todos, indicador<br />
este de que a associação caminha para a o bem comum do grupo. O fato de se sentir<br />
bem, satisfeita no local de trabalho e de decisão coletiva é algo novo vivenciado pela<br />
cooperada acima e por outros sócios, fator relevante, pois mostra que mesmo com a as<br />
experiências vivenciadas no modo capitalista de produção, alguns sujeitos estão<br />
abertos e receptíveis a novas experiências.<br />
4.3.2 Autonomia em construção<br />
A APRI, desde 2002, recebe assessoria continuada da ITCP/ FURB, como já<br />
mencionado em outro momento, foi desenvolvido com o grupo um curso de Gestão<br />
53
Ambiental face à formação de um grupo de trabalho cooperado. Mas, outras ações<br />
também foram desenvolvidas junto ao grupo, tais como: visitas sistematizadas dos<br />
professores da equipe da incubadora no que tange as questões legais da associação e<br />
a forma de administrar o grupo. Também são realizadas visitas semanais de uma<br />
estagiária de psicologia, orientada para desenvolver o processo de convivência grupal,<br />
o mútuo respeito, a divisão e a organização das tarefas.<br />
Os princípios da Economia Solidária, o trabalho cooperado e autogestionário<br />
são temas que constantemente estão nas discussões propiciadas pela incubagem<br />
desenvolvida em parceria com a Prefeitura Municipal e a ITCP/ FURB. Mensalmente<br />
dois dos sócios participam das reuniões da RESVI e em algumas ocasiões, outros<br />
participaram do Fórum Estadual do Lixo e Cidadania.<br />
Quanto à obtenção de novos conhecimentos desde a associação da APRI<br />
todos dizem ter aprendido algo novo com o trabalho desenvolvido. Seis pessoas<br />
destacam o processo de reciclagem que aprenderam na associação como um novo<br />
saber, até então desconhecido por eles. Ressaltam a importância da reciclagem para o<br />
meio ambiente e para a comunidade. Uma das sócias lembrou dos cursos<br />
desenvolvidos logo no início da constituição da APRI:<br />
Fizeram uns cursos com nós pra trabalhar no galpão (RITA, 2008).<br />
Dentre estes sujeitos há quem falou das várias formas de relacionamento no<br />
trabalho, do respeito coletivo e do trabalho cooperado como algo novo na vida<br />
profissional.<br />
Aprendemos o que é ser sócio, que todos são donos. Aprendi o que é uma<br />
cooperativa, antes eu tinha medo de errar , de perguntar e hoje eu consigo<br />
entender que eu também sou dona (MARA, 2008).<br />
Aprendi como nos relacionar no trabalho [...]. Trabalho em equipe (PRUDENTE,<br />
2008).<br />
Já, o presidente e o tesoureiro da associação, referenciam as negociações<br />
estabelecidas com os compradores de materiais, a coordenação do grupo e a tarefa de<br />
representação frente aos sócios como aprendizado adquirido:<br />
Olha, a gente aprende muita coisa nova, quanto a reciclar, que é muito<br />
importante. Hoje consigo passar as coisas pros outros. Como presidente tenho<br />
que coordenar o grupo, responder pela associação (PRUDENTE, 2008).<br />
54
Como tesoureiro, aprendi a negociar com o pessoal para vender da melhor<br />
forma nossos materiais, pegar a manha (FERNANDO, 2008).<br />
Para estes sujeitos a comunicação, o manejo com compras, vendas e com o<br />
grupo e também o comprometimento de conseguirem a melhor negociação são<br />
atribuições desenvolvidas na associação e um conhecimento adquirido através do<br />
trabalho coletivo, que contribui para o crescimento individual e conseqüentemente do<br />
grupo.<br />
4.3.3 Perspectivas dos Sócios frente a Associação<br />
Dez dentre os sócios da APRI vêem perspectivas de melhorar as condições de<br />
trabalho e o valor das retiradas individuais mensais. Assim, são vários os apontamentos<br />
feitos pelas pessoas quanto aos aspectos a serem melhorados na associação.<br />
Hoje um dos problemas enfrentados na separação dos materiais é a grande<br />
quantidade de lixo junto aos reciclados. Inúmeras vezes vêm nos sacos, distribuídos<br />
para a coleta seletiva nos bairros, componentes não destinados a reciclagem, como por<br />
exemplo: restos de alimentos, papel descartável, fraldas, materiais perigosos como<br />
agulhas e substâncias que pode acarretar malefícios a saúde das pessoas que estão<br />
trabalhando com os materiais. Há um grande desperdício de tempo e de espaço para a<br />
separação e o acondicionamento do lixo trazido junto aos materiais recicláveis. Os<br />
seletadores do galpão têm a tarefa de abrir tais sacos e verificar a existência de<br />
materiais aproveitáveis no processo de reciclagem. A mobilização da comunidade local<br />
para melhor separação dos materiais aparece na fala de duas pessoas, pois segundo<br />
elas, com a limpeza adequada dos materiais e a separação correta feita nos domicílios<br />
o trabalho no galpão ganharia maior agilidade.<br />
É preciso a comunidade separar e limpar melhor os materiais que vem pra nós,<br />
isso nos ajudaria muito (RITA, 2008).<br />
Se viesse mais material e limpo, separado ai ia ser melhor pra nós<br />
(PRUDENTE, 2008).<br />
Com a construção de um galpão maior, projeto este aprovado junto a Prefeitura<br />
Municipal, os sócios vislumbram maior espaço de acondicionamento dos materiais<br />
55
separados, o que permitirá o retardo das vendas de alguns insumos que em<br />
determinadas épocas do ano tem os valores de venda desvalorizados. Ou ainda<br />
facilitaria a procura de compradores dispostos a pagar o melhor preço pelos materiais<br />
recicláveis, pois demandam certo tempo as negociações estabelecidas, algo não<br />
possível hoje no atual galpão.<br />
Com novo galpão poderemos recolher e armazenar mais materiais do que hoje<br />
(MARA, 2008).<br />
O preço das mercadorias deveria melhorar também, se a gente pudesse guarda<br />
pra espera o preço melhora [...] (RITA, 2008).<br />
Por mais que a formação em trabalho cooperado, autogestionário e solidário<br />
ocorreu em diversos momentos pela assessoria da ITCP/ FURB são identificadas<br />
tensões no grupo, pois há presente o desafio de diminuir o individualismo, a<br />
competição, a desconfiança nos outros e em si próprios, características comuns da<br />
forma de trabalho capitalista neoliberal. E isso fica claro quando os sócios falam que<br />
para concretizar e conquistar rumos melhores, a união e a colaboração do grupo são<br />
fundamentais, até mesmo para a continuidade do trabalho na associação.<br />
A colaboração do pessoal aqui dentro tem que ser melhor (PRUDENTE, 2008).<br />
Com maior união e colaboração nós vamos mais longe, sem esse negócio de<br />
competição. (JOSÈ, 2008).<br />
Este mesmo sentimento foi expresso por quatro sujeitos, e não pode deixar de<br />
ser pensado, pois a não continuidade de uma formação diferenciada implica<br />
diretamente no pertencimento do grupo e nas relações construídas coletivamente,<br />
necessárias para deixar de lado uma postura alienadora.<br />
A questão levantada anteriormente levou a reflexão acerca das perspectivas e<br />
satisfação de vida no trabalho de cada sócio. Sete sócios se dizem satisfeitos com o<br />
trabalho e com o retorno recebido. Mesmo com todas as dificuldades encontradas<br />
perante a nova forma de trabalho, das questões inerentes à constituição e consolidação<br />
da associação muitos deixam transparecer contentamento pelas conquistas advindas<br />
do trabalho cooperado e pelas próprias atividades desenvolvidas.<br />
È bom trabalhar aqui, é bastante diferente o serviço, passa o tempo rapidinho,<br />
nos detraímos e tudo mais (MARA, 2008).<br />
56
Ai que eu vejo que a cooperativa é importante, mesmo as pessoas que não tem<br />
tanta condição de trabalhar ganham o mesmo, é uma igualdade entre todos. Eu<br />
gosto de trabalhar em uma associação, ver que todos ganham igual eu fico<br />
feliz, me sinto bem, vejo que eles estão bem e eu me sinto melhor ainda<br />
(PRUDENTE, 2008).<br />
Quatro das pessoas que não pensam em constituir uma nova forma de trabalho<br />
e renda, mas mesmo assim, consultadas a respeito dos vínculos empregatícios, caso<br />
isto ocorresse, dizem que o vínculo de trabalho estabelecido do seu ‘ negócio’ seria a<br />
adesão de sócios, igual na associação que estão hoje.<br />
Ser cooperativa,é muito melhor, todos ganha igual (PRUDENTE, 2008).<br />
Aqui é bem melhor, a gente senta conversa, decidi juntos as coisas (MARA,<br />
2008).<br />
Vale ressaltar que estas pessoas são sócias há mais de dois anos e pelo<br />
assessoramento da ITCP/ FURB anteriormente citado, participaram de inúmeros<br />
momentos da formação e consolidação do grupo.<br />
Já, três dos atuais sócios contratariam pessoas para trabalhar na forma de<br />
empregados, caso abrissem uma empresa ou cooperativa de trabalho. Este fato se<br />
explica por alguns fatores. Primeiro por estas pessoas terem em sua trajetória<br />
ocupacionais traços da forma de trabalho assalariado, e em sua vivência social e<br />
familiar a construção de uma literatura de que serem ‘ donos do próprio negócio’, ou<br />
ainda, ser trabalhador assalariado garante estabilidade financeira e status social. Outro<br />
fator pelo encontro destes desejos individuais é talvez, no caso de uma das pessoas, o<br />
curto prazo de adesão a APRI ou ainda, a estes a falta de compressão do que é<br />
trabalho cooperado. Aqui é possível perceber o que Marx, (1998, p. 172, apud Simão<br />
2003) chama de necessidades humanas alienadas, como a necessidade de dinheiro,<br />
de poder e posição social.<br />
Com as entrevistas percebemos que quatro pessoas, dois casais que hoje<br />
trabalham na APRI juntos, querem montar um ‘negócio’ de sua propriedade e ambos<br />
continuariam no ramo da reciclagem de materiais. Em um dos casos relatados o casal<br />
voltaria para cidade natal e desenvolveria tal plano junto da família, já o outro casal<br />
pensa em ficar na cidade de Indaial e desenvolver junto ao filho as projeções do<br />
negócio, com ênfase na reciclagem de metais. Percebemos nestes o desejo de possuir<br />
uma propriedade familiar que gere renda e trabalho. Talvez estas pessoas mesmo<br />
57
satisfeitas com o retorno recebido e com a atividade desempenhada podem ter<br />
dificuldades quanto à forma cooperativa de trabalho, nos levando a crer que optam por<br />
uma empresa familiar porque os vínculos solidários e cooperativos se tornam mais<br />
fácies com pessoas próximas a eles.<br />
Ah, mais tarde eu queria montar uma reciclagem, com a minha família<br />
(PRUDENTE, 2008).<br />
Nas palavras de Singer, (2003, p. 15) “não é verdade que a pobreza e a<br />
exclusão tornam suas vítimas imanentemente solidárias. O que se observa é que há<br />
muita solidariedade entre os mais pobres e que a ajuda mútua é essencial à<br />
sobrevivência”. É muito mais fácil ser solidário com entes ou vizinhos, pessoas<br />
próximas da convivência cotidiana, do que com pessoas estranhas sem ligação afetiva,<br />
como constatado.<br />
58
5 CONCLUSÃO<br />
Inicialmente este trabalho apresenta a discussão acerca das seguintes<br />
categorias teóricas: mundo do trabalho, necessidades humanas básicas e economia<br />
solidária. E em seguida, discutimos os resultados da pesquisa, que teve como objetivo<br />
principal analisar a trajetória ocupacional dos atuais sócios da Associação Participativa<br />
Recicle Indaial- APRI e as mudanças decorridas nas condições de satisfações de<br />
necessidades humanas.<br />
Apontamos que esta é uma experiência, exemplo de inúmeras tentativas, que se<br />
aproxima do bem sucedido retorno para as satisfações das necessidades coletivas e<br />
individuais dos sócios da APRI. É possível afirma que apesar de todos as fragilidades<br />
enfrentadas pelos sócios da APRI apresentadas anteriormente a satisfação das<br />
necessidades humanas básicas é atendida pela renda provida do trabalho cooperado<br />
destes trabalhadores. O que indica que o crescente número destas formas de prover o<br />
sustento dos trabalhadores e de suas famílias é sim uma reação propositiva a<br />
vulnerabilidade e instabilidade no mundo da produção capitalista.<br />
Não cabe aqui colocar que um grupo de trabalho cooperado e solidário traz<br />
maiores vantagens do que o trabalho construído nas relações capitalistas de mercado e<br />
produção. Mas, merece menção de que esta forma de trabalho vem contribuindo na<br />
satisfação das necessidades humanas básicas de inúmeras pessoas. Porém, o que<br />
podemos, e devemos, duvidar é se a recompensa monetária é suficiente e adequada à<br />
reprodução de vida destas pessoas, o que necessita de um estudo com maior<br />
profundidade.<br />
José Luiz Coraggio (2000, p. 104) discorre a respeito da “reprodução simples ao<br />
mantimento da vida”, o que permite aos indivíduos, a nível histórico e variável, o mínimo<br />
para reprodução das famílias. O autor pondera que a “reprodução ampliada, por outro<br />
lado, denota que há uma melhoria estrutural da qualidade de vida” dos sujeitos<br />
envolvidos em tal processo, “levando em consideração o desenvolvimento das<br />
capacidades e oportunidades sociais” das pessoas que participam de um grupo de<br />
produção familiar ou coletivo. (CORAGGIO, 2000, p. 104). Assim, devemos levar em<br />
consideração para nossa análise não somente aspectos de acesso a serviços como<br />
59
educação e saúde, por exemplo, pois isto são bens públicos comuns a todos os<br />
trabalhadores. E claro, não podemos também simploriamente nos atentar ao fator renda<br />
destes sujeitos como linha para traçamos uma melhoria de vida, mas nos atentar se<br />
estes, apresentam qualidade de vida por mudanças em relação ao padrão de consumo,<br />
as relações sociais, as condições de habitabilidade, contexto que diferencia o trabalho<br />
cooperado e solidário do trabalho alienado.<br />
O trabalho cooperado e solidário possibilita aos sujeitos desenvolver as<br />
capacidades de autogerir, participar e decidir frente às questões enfrentadas pelo<br />
grupo, o que Pereira (2002) chama de autonomia e coloca como um dos pressupostos<br />
da satisfação de seus desejos e anseios, partindo das necessidades individuais.<br />
Então, o que conseguimos com os relatos adquiridos foi perceber que a trajetória<br />
de exclusão destes trabalhadores por anos deixou-os a margem do sistema capitalista,<br />
mal remunerados, em condições precárias de trabalho e por vezes sem possibilidade<br />
de satisfação das necessidades humanas básicas. Com base nos autores estudados,<br />
percebemos que para a satisfação e reprodução da vida, lhes faltava algo, a<br />
oportunidade de produzir uma possibilidade satisfatória à veleidade, incluindo as<br />
necessidades materiais, sociais e políticas destes sujeitos.<br />
Este é um trabalho de conclusão de curso e por isso não teve a pretensão de<br />
exaurir a discussão sobre a temática proposta, apenas discuti teoricamente os<br />
conceitos destas categorias e refleti sobre as possibilidades da satisfação das<br />
necessidades humanas em formas de trabalho coletivas autogestoras.<br />
Porém, este contribui para a discussão sobre o assunto, considerando que a<br />
exposição de experiências que atentam para os aspectos questionados no decorrer da<br />
pesquisa são suscintos e aguçam a outros pesquisadores e estudiosos para<br />
continuidade das apreciações feitas.<br />
60
REFERÊNCIAS<br />
ANTUNES, Ricardo (org.). Riqueza e miséria do trabalho no Brasil. São Paulo :<br />
Boitempo, 2006. 527 p, il. (Mundo do trabalho).<br />
ARRUDA, Marcos. Trabalho Emancipado. In: CATTANI, Antonio David. A outra<br />
Economia. Porto Alegre: Veraz, 2003.<br />
BRASIL. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME.<br />
LOAS- Lei Orgânica de Assistência Social. Brasília, 2004.<br />
_______.MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO/ SENAES. Atlas da Economia<br />
Solidária no Brasil 2005. Brasília, 2006.<br />
CANTERLE, Nilsa Maria. A organização do trabalho no mundo do<br />
trabalho. 2003. Disponível em:<br />
http://www.gestiopolis.com/recursos/documentos/fulldocs/rrhh/trabalho.ht<br />
m . Acesso em: 03/07/08.<br />
CORAGGIO José L. Da economia dos setores populares à economia do trabalho. IN:<br />
KRAYCHETE, Gabriel et al. Economia dos setores populares: entre realidade e a<br />
utopia. Petrópolis : Vozes, 2000. 246p, il.<br />
MANDEL, Ernest. Socialismo x mercado. 2. ed. São Paulo : Ensaio, 1995. 79 p.<br />
(Cadernos ensaio. Pequeno formato, 8). Tradução de: In defense of socialist planning.<br />
61
PEDRINI, Dalila Maria. OLIVEIRA, Adriana Lucinda de. A Economia Solidária como<br />
Estratégia de Desenvolvimento. In: EMANCIPAÇÃO.UEPG ed. Ponta Grossa: 2007.<br />
112-132.<br />
PEREIRA, Potyara A. P. Necessidades humanas subsídios à crítica dos mínimos<br />
sociais. 2. ed. —São Paulo: Cortez, 2002.<br />
POCHMANN, Marcio. Economia Solidária no Brasil: Possibilidades e Limites. IPEA:<br />
2004. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/pub/bcmt/mt_24g.pdf. Acesso em:<br />
20/10/2007.<br />
PRIM, Lorena F. SCHMIT, Daniela J. Desafios para atuação da Psicologia no<br />
processo de incubagem de uma associação de recicladores. In: Congresso<br />
Nacional da Rede Universitária de ITCP's,I, 2006, Ilha de Itamaracá.<br />
SIMÃO, Vilma M. As trajetórias e a organização do trabalho cooperado e<br />
autogestor. Brasília: UNB, 2008.<br />
_______. Projeto de Pesquisa: A FLEXIBILIDADE EXCLUDENTE – a realidade dos<br />
usuários da política de assistência social. Blumenau: FURB, 2003. (Impresso).<br />
SINGER, Paul; SOUZA, Andre Ricardo de. A economia solidária no Brasil: a<br />
autogestão como resposta ao desemprego. 2. ed. São Paulo : Contexto, 2003.<br />
62
VEIGA, Sandra Mayrink.Pensando O Brasil, A Economia Solidária e o Desenvolvimento<br />
Local. In: EDUCAÇÃO E SÓCIO- ECONOMIA SOLIDÁRIA - Paradigmas de<br />
conhecimento e de sociedade. Unemat ed. Cáceres: 2004.<br />
OUTRAS REFERÊNCIAS<br />
Documentos APRI:<br />
APRI. Atas de Reunião. 2006/ 2007.<br />
APRI. Estatuto Consolidado da Associação Recicle Indaial- APRI. 2006.<br />
APRI. Regimento Interno da APRI. s.d.<br />
APRI. Relato das Entrevistas da Pesquisa. 2008.<br />
APRI. Questionários da Pesquisa. 2008.<br />
Fontes Eletrônicas:<br />
http://www.gestiopolis.com/recursos/documentos/fulldocs/rrhh/trabalho.htm. Acesso em:<br />
03/07/08.<br />
http://www.sies.mte.gov.br. Acesso em: 02/05/2008.<br />
http://www.ipea.gov.br/pub/bcmt/mt_24g.pdf. Acesso em: 20/10/2007.<br />
http://www.mte.gov.br/ecosolidaria/ecosolidaria_oque.asp. Acesso em: 08/07/2008.<br />
63
APÊNDICE A – ENTREVISTA DA PESQUISA<br />
1. Você tinha emprego com carteira assinada antes de se associar a APRI?<br />
2. Quantas horas/ dia você trabalhava nos seus outros empregos?<br />
3. Qual era o seu rendimento no último emprego? Você tinha quais benefícios?<br />
4. Participava de reuniões para decisões da empresa?<br />
5. O que o você ganhava era suficiente para satisfazer todas as suas<br />
necessidades? Sim, não e por que?<br />
6. Como era sua saúde neste período da sua vida?<br />
7. Você ficou desempregado em algum momento da sua vida? Por quanto tempo?<br />
E por quais motivos?<br />
8. Como era sua condição de vida antes deste trabalho cooperado?<br />
9. Quais os motivos que levaram você a optar por uma associação de trabalho?<br />
10. Quais as principais diferenças entre os trabalhos que você exercia anteriormente<br />
e o atual?<br />
11. Hoje quantas horas você trabalha?<br />
12. Com o trabalho na associação seus rendimentos melhoraram? Qual é seu salário<br />
hoje?<br />
13. Sua condição de vida melhorou depois de integrar uma cooperativa/ associação?<br />
14. Você participa de reuniões para decisões da associação?<br />
15. Você participa de eventos da categoria (associações), de capacitações ?<br />
64
Dados de identificação<br />
APÊNDICE B– QUESTIONÁRIO DE PESQUISA<br />
Questionário - Associado da APRI<br />
Primeiro nome: Idade:<br />
Onde nasceu? Estado Civil:<br />
Escolaridade:<br />
( ) analfabeto.<br />
( ) primeiro grau incompleto.<br />
( ) primeiro grau.<br />
( ) segundo grau incompleto.<br />
( ) segundo grau. ( ) terceiro grau incompleto.<br />
( ) terceiro grau.<br />
Freqüenta a escola?<br />
( ) sim ( ) não<br />
Dados Profissionais<br />
Profissão ANTES DA COOPERATIVA:<br />
Profissão DEPOIS DA COOPERATIVA:<br />
Como aprendeu sua profissão?<br />
( ) em fábricas como empregado.<br />
( ) com os pais.<br />
( ) através de cursos.<br />
( ) na universidade.<br />
( ) outro (especificar):<br />
Se sim, qual o curso que freqüenta:<br />
__________________________________<br />
__________________________________<br />
Você trabalhou como empregado antes de se associar a APRI? ( ) sim ( ) não<br />
Se não, no que<br />
trabalhava?<br />
Qual sua idade no seu primeiro emprego?<br />
Onde Trabalhou? Formal ou informal Motivo de saída<br />
Sem Carteira ( )<br />
Com carteira ( )<br />
Sem Carteira ( )<br />
65
Com carteira ( )<br />
Sem Carteira ( )<br />
Com carteira ( )<br />
Sem Carteira ( )<br />
Com carteira ( )<br />
Sem Carteira ( )<br />
Com carteira ( )<br />
Por que saiu do último emprego, antes de se associar a APRI?<br />
( ) foi demitido.<br />
( ) a empresa faliu.<br />
( ) pediu demissão.<br />
( ) para se associar à cooperativa.<br />
( ) a empresa fechou.<br />
( ) outros (especificar):<br />
Esteve alguma vez desempregado? ( ) não ( ) sim<br />
Se sim, quantas vezes? _________________<br />
Se não, por que? _________________________<br />
Quanto tempo ficou desempregado?<br />
1º<br />
Desemprego<br />
2º<br />
Desemprego<br />
3º<br />
Desemprego<br />
( ) menos de 1 mês ( ) menos de 1 ano. ( ) 1 ano. ( ) 2 anos. ( ) mais de 2 anos.<br />
( ) menos de 1 mês ( ) menos de 1 ano. ( ) 1 ano. ( ) 2 anos. ( ) mais de 2 anos.<br />
( ) menos de 1 mês ( ) menos de 1 ano. ( ) 1 ano. ( ) 2 anos. ( ) mais de 2 anos.<br />
Como foi o ingresso dos associados na APRI?<br />
( ) condicionada pela situação de desemprego.<br />
( ) direcionada pelas políticas públicas de incentivo a cooperativas.<br />
( ) decisão de cada um.<br />
( ) estimulada pelo ex-patrão ( ) outro<br />
(especificar):___________________________________________________________<br />
Em que ano você se associou a APRI?<br />
Qual sua função na APRI?<br />
Você tem planos de montar um “negócio” de sua propriedade?<br />
( ) sim ( ) não<br />
Caso sim, que tipo?<br />
Caso monte uma empresa, você pretende ter empregados?<br />
_______________________________________<br />
66
( ) sim ( ) não<br />
Caso não, que tipo de vínculo: ( ) sócios ( ) empresa cooperativada ( ) empresa familiar<br />
Você tem intenção de sair da cooperativa? ( ) sim ( ) não<br />
Se sim, por que?<br />
( ) quero me aposentar.<br />
( ) quero um emprego onde eu ganhe mais.<br />
( ) não quero mais trabalhar em cooperativa.<br />
( ) quero trabalhar por conta própria como autônomo.<br />
( ) não sei responder.<br />
Quanto aos rendimentos, sua retirada é suficiente para sua manutenção?<br />
( ) sim ( ) não ( ) em parte Valor da retirada<br />
Por quê?<br />
Há alguém, na APRI, que tem retiradas maiores que a sua?<br />
( ) sim ( ) não ( ) não sei informar<br />
Se sim, o que você acha dessa diferença?<br />
__________________________________________________<br />
____________________________________________________________________________<br />
_______<br />
____________________________________________________________________________<br />
_______<br />
Você vê perspectiva de melhora nas suas retiradas?<br />
( ) sim ( ) não<br />
Como?_______________________________________________________________<br />
_____________________________________________________________________________<br />
______<br />
Você adquiriu novos conhecimentos desde a sua associação na APRI?<br />
( ) sim ( ) não.<br />
Quais?__________________________________________________________________<br />
_____________________________________________________________________________<br />
_____________________________________________________________________________<br />
__________________<br />
Quais os bens que você possuía antes de se associar a APRI?<br />
( ) Casa<br />
( ) Terreno<br />
67
( ) Carro<br />
( ) Moto<br />
( )Outros:<br />
_____________________________________________________________________________<br />
Quais os bens que você adquiriu depois de se associar a APRI?<br />
( ) Casa<br />
( ) Reforma na casa que já possuía<br />
( ) Terreno<br />
( ) Carro<br />
( ) Moto<br />
( )Outros:<br />
_____________________________________________________________________________<br />
Ocorreram mudanças em relação a sua saúde, depois da associação a APRI?<br />
( ) sim, para melhor<br />
( ) sim, para pior<br />
( ) não.<br />
Quais?_______________________________________________________________________<br />
_________<br />
_____________________________________________________________________________<br />
_________<br />
Hoje, sua condição de vida é melhor do que nos<br />
empregos anteriores?<br />
( ) Sim ( )Não<br />
Por<br />
68<br />
quê?________________________________________<br />
_<br />
____________________________________________<br />
____________________________________________<br />
__________<br />
Em que local o senhor aceitaria dar uma entrevista sobre o que você já vivenciou na APRI?<br />
( ) aqui mesmo, no intervalo de almoço.<br />
( ) em minha casa, no final de semana.<br />
( ) na FURB, no sábado.<br />
Telefone de contato: ____________________________