Ortodontia frente às reabsorções apicais e periapicais prévias - UFSM
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Málaki Younis a<br />
Luis Eduardo Duarte Irala b<br />
Renata Grazziotin Soares b<br />
Alexandre Azevedo Salles b<br />
Resumo<br />
ORTODONTIA FRENTE ÀS REABSORÇÕES APICAIS E PERIAPICAIS<br />
PRÉVIAS OU POSTERIORES AO TRATAMENTO.<br />
ORTHODONTIC TREATMENT’S POSSIBILITY IN PRESENCE OF PREVIOUS<br />
OR POSTERIOR APICAL AND PERIAPICAL ROOT RESORPTION<br />
Este trabalho de revisão da literatura propôs-se a verificar as possibilidades da movimentação ortodôntica<br />
na presença de <strong>reabsorções</strong> dentárias <strong>prévias</strong> ou posteriores ao tratamento ortodôntico. Apesar das <strong>reabsorções</strong><br />
apresentarem magnitude variável e serem, na maioria dos casos, imprevisíveis, a redução do comprimento radicular<br />
normalmente não chega a comprometer a função do dente na arcáda e a longevidade dos elementos dentários<br />
induzidos. No entanto, a ortodontia, quando diante de <strong>reabsorções</strong> moderadas a extremas, adota condutas baseadas<br />
nos fatores de risco e na magnitude destas <strong>reabsorções</strong>. Às vezes, é preciso alterar a finalização do tratamento<br />
ortodôntico, no intuito de minimizar este irreversível custo biológico, evitando, muitas vezes, a necessidade de um<br />
tratamento endodôntico.<br />
PALAVRAS CHAVE: Movimentação dentária, reabsorção radicular, tratamento ortodôntico.<br />
Abstract<br />
This research purpose to verify the possibilities of orthodontic movement in dental resorption. Although the<br />
resorptions were variable magnitude and were unexpected, the length’s reduction of root does not implicate the<br />
dental’s function. Moderate resorptions and extreme resorptions are treated with care based on the factors of risk and<br />
the magnitude of the resorptions. Many times have that to simplify the objectives or even though to modify the<br />
finishing of the treatment for to minimize the irreversible biological cost, resulting many times in endodontic<br />
treatment.<br />
KEY WORDS: Tooth movement, resorption of the root, orthodontic movement.
Introdução e revisão da literatura<br />
As <strong>reabsorções</strong> radiculares externas transitórias<br />
<strong>apicais</strong>, oriundas de movimentação ortodôntica é um<br />
problema iatrogênico preocupante. Acredita-se ser o<br />
resultado de uma complexa combinação da biologia<br />
individual e dos efeitos das forças mecânicas. A<br />
reabsorção radicular é definida como um processo<br />
patológico ou fisiológico, resultando na perda de<br />
cemento e dentina.<br />
O pioneiro a evidenciar a reabsorção radicular, se<br />
relacionado ao trauma do ligamento periodontal, foi<br />
Bate (1856). Posteriormente, Ottolengli (1914) já<br />
relatava a existência de uma peculiaridade na<br />
reabsorção radicular provocada pelo movimento<br />
ortodôntico, ou seja, a polpa permanece viva enquanto<br />
as raízes são reabsorvidas. Neste processo, uma<br />
atividade osteoblástica preenche com tecido ósseo o<br />
espaço causado pela reabsorção radicular, mantendo o<br />
elemento dentário sem mobilidade.<br />
Kaley, Phillips (1991), estudando os fatores<br />
relacionados com reabsorção radicular e a técnica de<br />
Edgewise, observaram 200 pacientes, nos quais 6 (3%)<br />
mostravam reabsorção severa nos incisivos centrais<br />
superiores. Em outros dentes, tal reabsorção ocorreu<br />
em menos de 1%.<br />
Trope, Chivian (1992) descreveram que o ligamento<br />
periodontal, cementoblastos, cementóide e cemento<br />
intermediário parecem desempenhar algum papel na<br />
resistência da superfície externa da raiz à reabsorção.<br />
Acreditam, também, que os restos epiteliais de<br />
Malassez da bainha radicular estejam relacionadas<br />
com a resistência à anquilose e à reabsorção<br />
substitutiva da raiz dentária.<br />
Ainda Brezniak, Wassertein (1993), citaram fatores<br />
que podem afetar a reabsorção radicular, dentre os<br />
quais o tipo de aparelho utilizado (fixo ou móvel), o<br />
tipo de movimentação dentária e a força utilizada.<br />
Destacam também a presença da reabsorção radicular<br />
antes do tratamento ortodôntico, dentes traumatizados<br />
previamente e susceptibilidade individual.<br />
Braum et al. (1993), relataram que a dentição adulta<br />
exibe uma diminuição no suporte alveolar e que os<br />
riscos ao tratamento são maiores, necessitando uma<br />
intervenção mais cuidadosa e lenta.<br />
Stephen (1996), avaliando a diferença na extensão da<br />
reabsorção radicular nos tratamentos com arco<br />
contínuo e arco seccionado em 56 pessoas com<br />
maloclusões semelhantes, observou que a extensão da<br />
Figura 1 . Restos epiteliais de Malassez.Fonte: Lopes,<br />
Siqueira. Jr. (2004).<br />
reabsorção radicular nos grupos tratados exibia os<br />
mesmos níveis, indicando que o efeito do tratamento<br />
pode se relacionar a uma avaliação individual.<br />
Costopoulos, Nanda (1996) investigaram a intrusão<br />
como possível causa de reabsorção, a partir de um<br />
grupo de 17 pessoas com excessivo overbite, tratados<br />
com arco intrusivo tipo Burstone, sob baixa pressão e<br />
utilizando um grupo de controle de 17 pacientes com<br />
aparelho fixo, os quais foram selecionados ao acaso.<br />
Como resultado, segundo os autores, indicou que a<br />
intrusão com força leve pode ser efetuada para a<br />
redução do overbite, enquanto causa desprezível<br />
reabsorção radicular apical.<br />
Long et al. (1996) concluíram em seu estudo<br />
histológico que as <strong>reabsorções</strong> podem ocorrer<br />
decorrentes de força ortodôntica e essas injúrias<br />
possivelmente podem ser permanentes.<br />
Mathews, Kokich (1997) enfatizaram a importância do<br />
diagnóstico pré-tratamento nos pacientes adultos, com<br />
leve ou severa alteração periodontal, relatam que tais<br />
pacientes oferecem riscos maiores à evolução do<br />
tratamento.<br />
No que se refere à magnitude da reabsorção, os dentes<br />
mais vulneráveis por ordem decrescente de<br />
prevalência são os incisivos laterais superiores,<br />
seguidos pelos incisivos centrais superiores, incisivos<br />
inferiores, raiz distal dos primeiros molares inferiores,<br />
segundos pré-molares inferiores, segundos pré-molares
superiores, molares superiores e inferiores<br />
(KENNEDY et al., 1983; PHILIPS, 1995; SHARPE et<br />
al., 1987; SILVA FILHO et al., 1993). A maior<br />
predisposição à reabsorção dos incisivos superiores<br />
está relacionada à extensão de movimentação destes<br />
dentes, em decorrência da correção da má-oclusão,<br />
função e estética (SHARPE et al., 1987; SILVA FILHO<br />
et al., 1993).<br />
Quando, ao exame radiográfico, evidencia-se uma<br />
reabsorção mínima ou ausência de reabsorção, pode-se<br />
afirmar que o paciente apresenta risco pequeno de<br />
reabsorção severa ao final do tratamento e, então,<br />
mantém-se ao mesmo regime de tratamento. Ao<br />
detectar-se uma reabsorção moderada, tem-se um risco<br />
regular de reabsorção severa e risco pequeno de<br />
reabsorção extrema ao final do tratamento. Nesses<br />
casos recomenda-se um período de repouso (fio<br />
passivo, mecânica estabilizada) de 60 a 90 dias, e devese<br />
comunicar a susceptibilidade ao paciente<br />
(LEVANDER et al., 1994). Diante de <strong>reabsorções</strong><br />
severa existe um alto risco de <strong>reabsorções</strong> extremas no<br />
final do tratamento. (SILVA FILHO, 1993;<br />
LEVANDER et al., 1994; CAPEZZOLA FILHO, l998) .<br />
O tratamento endodôntico parece não intervir no grau<br />
de reabsorção radicular durante o tratamento<br />
ortodôntico (MATTISON et al., 1984; REMINGTON et<br />
al., 1989; SPURRIER et al., 1990). Mirabella, Artun,<br />
1995ª. Os estudos que levantaram hipótese dos dentes<br />
tratados endodonticamente serem mais susceptíveis à<br />
reabsorção (WICKWIRE et al., 1974) apresentam<br />
metodologia questionável, ao incluírem dentes com<br />
traumatismo prévio no grupo experimental, visto que o<br />
trauma dental aumenta o risco de encurtamento<br />
radicular. Além disso, uma reabsorção radicular<br />
excessiva ocorrida durante a movimentação<br />
ortodôntica de dentes tratados endodonticamente pode<br />
estar mais associada ao insucesso da terapia<br />
endodôntica do que o tratamento ortodôntico em si.<br />
Toda a mecânica, por menores que sejam as forças<br />
aplicadas (OWMAN-MOLL et al., 1995; OWMAN–<br />
MOLL, KURIOL, 1995; OWMAN-MOLL et al., 1996;<br />
OWMAN-MOLL, KURIOL, 1998), não estará livre de<br />
desencadear reabsorção. Uma mecânica consistente<br />
vai provocar reabsorção discreta e pouco significante<br />
na maioria dos pacientes, mas será agressiva em 10%<br />
deles (LINGE, LINGE, 1991).<br />
Na população ocidental, 7 a 10% das pessoas sem<br />
qualquer tipo de tratamento ortodôntico tem<br />
reabsorção radicular (BREZNIAK; WASSERTEIN.,<br />
2002). Se estas <strong>reabsorções</strong> não forem diagnosticadas<br />
em radiografias peri<strong>apicais</strong> antes do início do<br />
tratamento ortodôntico, durante movimentação, elas<br />
serão exacerbadas e a culpa recai sobre a ortodontia,<br />
pela falta de diagnóstico prévio. Vale lembrar que a<br />
radiografia para diagnosticar <strong>reabsorções</strong> deve ser<br />
sempre tomada com películas peri<strong>apicais</strong> e não<br />
panorâmicas.<br />
CONSOLARO (2002), diz que apenas 10% das<br />
<strong>reabsorções</strong> dentárias em <strong>Ortodontia</strong> são severas,<br />
sendo assim, indica-se que sejam realizadas<br />
rotineiramente radiografias peri<strong>apicais</strong> dos incisivos<br />
superiores e inferiores em pacientes adolescentes e<br />
uma série de radiografias em adultos como conduta<br />
preventiva habitual, previamente ao início do<br />
tratamento. Uma vez que esse tenha sido iniciado,<br />
recomenda-se que sejam feitas radiografias peri<strong>apicais</strong><br />
dos incisivos superiores e inferiores a cada seis meses,<br />
para controle do custo biológico da mecanoterapia<br />
(BREZNIAK, WASSERTEIN, 1993b; SILVA FILHO,<br />
1993; LEVANDER et al., 1994; CAPELOZZA FILHO,<br />
l998; BRESNIAK, WASSERTEIN, 2002).<br />
Lopes, Siqueira. Jr. (2004), afirmam que a reabsorção<br />
substitutiva é assintomática. Clinicamente o dente<br />
anquilosado mostra-se imóvel (sem mobilidade<br />
fisiológica) e, freqüentemente, em suboclusão. O dente<br />
permanece estável no arco, até uma pequena porção<br />
remanescente de raiz.<br />
Figura 2 . Reabsorção substitutiva.Fonte: LOPES,<br />
SIQUEIRA Jr. (2004).
Quando apenas a inserção epitelial sustentar o dente,<br />
a exodontia é indicada.<br />
A instalação da anquilose alvéolo dentária implica a<br />
perda do ligamento periodontal e a sua substituição<br />
por tecido ósseo. Conseqüentemente, desaparecem os<br />
cementoblastos, pré cementoblastos e os restos<br />
epiteliais de Malassez, elementos essenciais para a<br />
proteção da superfície radicular contra a instalação<br />
das unidades osteorremodeladoras (LOPES, SIQUERA<br />
Jr.,2004).<br />
A reabsorção substitutiva pode ser evitada, mas, até o<br />
momento, não responde a qualquer opção<br />
terapêutica.Sendo a remodelação óssea um fenômeno<br />
fisiológico, os fatores de manutenção representados<br />
especialmente pelos hormônios calcitonina<br />
paratormônio não podem ser removidos. Em<br />
conseqüência, a reabsorção ocorrerá no osso e na raiz<br />
dentária, sendo esta substituída gradualmente por<br />
tecido ósseo.A reabsorção substititiva é muito lenta e<br />
levará anos (3 a 10) para substituir a raiz dentária<br />
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Figura 3 .
DOGMAS NAS REABSORÇÕES DENTÁRIAS NA<br />
MOVIMENTAÇÃO ORTODÔNTICA.<br />
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REABSORÇÕES DENTÁRIAS E A MORFOLOGIA<br />
RADICULAR<br />
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Figura 4 .
A polpa dentária não participa do processo da<br />
reabsorção radicular induzida pelo tratamento<br />
ortodôntico ou não, exceto nos casos de reabsorção<br />
interna.<br />
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Figura 5 .
Todos os trabalhos que se propuseram a,<br />
metodologicamente, determinar se haviam diferenças<br />
no índice de reabsorção dentária, no tratamento<br />
ortodôntico, de adultos detectaram que em jovens e<br />
adultos os riscos são iguais. Esses dados são<br />
observados tanto em animais quanto em homens.<br />
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Na década de 80, com o incremento do tratamento<br />
ortodôntico em pessoas com mais idade e com dentes<br />
submetidos a outros procedimentos prévios, as<br />
casuísticas de movimentação dentária induzida em<br />
casos com tratamento endodôntico, aumentaram e<br />
percebeu-se que não havia essa diferença presumida<br />
anteriormente.<br />
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Figura 6 .
Considerações Finais<br />
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