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4ª EDIÇÃO<br />

MATUTO APAIXONADO<br />

Chico Salles


Nas asas do pensamento<br />

Viaja um sonhador<br />

Cordelista brasileiro<br />

Forrozeiro e cantador.<br />

Contente pelo que sinto<br />

Abraço Antônio Olinto<br />

Meu notável Professor.<br />

Chico Salles.<br />

Capa e Ilustrações em Xilogravura: Ciro Fernandes<br />

Projeto Gráfico: Humberto Neves


Vou contar <strong>para</strong> vocês<br />

A história do Zezé<br />

Que nasceu lá no sertão<br />

No sertão do Canindé<br />

Que quando menino então<br />

Traquino que só o cão<br />

Somente em Deus tinha fé.<br />

Não tinha medo de nada<br />

Andava na escuridão<br />

Passava a cerca num pulo<br />

Pegava cobra na mão<br />

E tudo que ele fazia<br />

Era com muita alegria<br />

Um sujeito brincalhão.<br />

Quando tinha quinze anos<br />

Era no mês de setembro<br />

O seu pai Sebastião<br />

Falou: — Zezé, hoje lembro!<br />

Que vai chegar lá na Vila<br />

O circo Sanção e Dalila<br />

Elefante e outros membros.<br />

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2<br />

Zezé vivia tranqüilo<br />

Plantava feijão e arroz<br />

Tirava leite das vacas<br />

Só estudava depois<br />

Das obrigações da roça<br />

Passava pela palhoça<br />

Para aprender dois mais dois.<br />

Zezé ficou animado<br />

Pois nunca tinha assistido<br />

Pensou rápido e rasteiro<br />

Deve ser bem colorido<br />

E no dia da estréia<br />

Tava lá bem na platéia<br />

Zezé ali bem vestido.<br />

Primeiro o malabarista<br />

Depois entrou o palhaço<br />

Zezé na risada caiu<br />

E sem nenhum embaraço<br />

Contente se divertia<br />

Sentindo grande alegria<br />

Sem um tiquim de cansaço.


Tava tudo muito bem<br />

Quando entrou o elefante<br />

Quase uma tonelada<br />

Com uma tromba gigante<br />

Depois Sanção veio à cena<br />

Dalila era bem pequena<br />

Com participação importante.<br />

Com duas horas de circo<br />

Entrou pelo picadeiro<br />

Uma menina cantando<br />

Um bolerão verdadeiro<br />

Naquele dia então<br />

Zezé viu o seu coração<br />

Batendo igual um pandeiro.<br />

Nunca tinha namorado<br />

Nem sabia como era<br />

Aí sentiu a pancada<br />

Quando o peito dilacera<br />

Não tem cristão que agüente<br />

Do amor o laço quente<br />

Que da alma se apudera.<br />

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4<br />

Tinha dez dias de prazo<br />

Pro Circo ficar na Vila<br />

Zezé disse: — Amanhã volto<br />

Quero rever a Priscila<br />

Cantando do mesmo jeito<br />

Para sentir se o meu peito<br />

Outra vez por ela oscila.<br />

No outro dia Zezé<br />

Tangeu o gado bem cedo<br />

Fez as tarefas do dia<br />

Guardando bem seu segredo<br />

Tomou um banho no açude<br />

E cheio de atitude<br />

Foi <strong>para</strong> a Vila sem medo.<br />

Era o primeiro da fila<br />

Para comprar a entrada<br />

Quando seu primo Chicão<br />

Passava ali na calçada<br />

Chamou Zezé: — Vamos ali!<br />

Na bodega de Marli<br />

Tomar logo uma lapada.


Zezé de menor ainda<br />

Falou: — Não posso beber!<br />

Papai está por aí<br />

Se assim ele me ver<br />

Vai me passar um carão<br />

E nessa situação<br />

Sei que ele vai sofrer.<br />

E assim ficou Zezé<br />

No circo a semana inteira<br />

Com o coração queimando<br />

Queimando que nem fogueira<br />

Nunca com ela falava<br />

No outro dia pensava:<br />

— Hoje eu falo de primeira.<br />

Quando na penúltima noite<br />

Zezé pensou: — É agora<br />

Tenho que falar com ela<br />

Que amanhã vai embora<br />

Mas também não teve jeito<br />

Priscila ficou no leito<br />

Esperando uma melhora.<br />

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6<br />

Teve uma febre bem alta<br />

Logo na manhã seguinte<br />

A sua mãe já nervosa<br />

Por volta de sete e vinte<br />

Botou no carro Priscila<br />

E deixaram aquela Vila<br />

Sem açoite e sem acinte.<br />

Zezé voltou pra fazenda<br />

Pensando amanhã eu falo<br />

Foi quando soube porém<br />

Que naquele intervalo<br />

Priscila muito doente<br />

Dali estava ausente.<br />

Sofreu o maior abalo.<br />

Vários dias sem comer<br />

Largou as obrigações<br />

Seu pai procurava um jeito<br />

Pro filho ter reação<br />

Mais o Zezé não falava<br />

Só em Priscila pensava<br />

Numa grande solidão.


Mais o tempo foi passando<br />

O circo em outra praça<br />

Zezé foi mostrando aos poucos<br />

Que voltava sua raça<br />

Sempre que ia na Vila<br />

Lembrava-se de Priscila<br />

Com sua beleza e graça.<br />

Uns quatro anos depois<br />

Chegando a maioridade,<br />

Zezé migrou <strong>para</strong> o Rio<br />

Para vender na cidade<br />

Rapadura, fava e queijo<br />

No atacado e varejo<br />

Com muita capacidade.<br />

Na feira de São Cristovão<br />

Tinha um comercio pequeno<br />

Mas o Zezé era esperto<br />

Com o negócio crescendo<br />

Bastaram alguns poucos anos<br />

Para Zezé com seus planos<br />

Ter um império se erguendo.<br />

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Com uma rede de lojas<br />

Vendendo no atacado<br />

Zezé já com casa própria<br />

E até carro importado<br />

Em um subúrbio passando<br />

Viu um carro anunciando<br />

Que tinha o circo chegado.<br />

Ouviu o carro de som<br />

O locutor repetir<br />

O pessoal convidando<br />

Pra todo mundo assistir<br />

Circo Sanção e Dalila<br />

Ele lembrou da Priscila<br />

— Hoje não saio daqui.<br />

Aquele som foi seguindo<br />

Quando o sinal fechou<br />

Perguntou, o endereço<br />

Onde o circo se armou<br />

O locutor sem ter dengo:<br />

— É ali em Realengo<br />

E ele pra lá rumou.


Ainda era bem cedo<br />

Mais ou menos uma hora<br />

Zezé foi ate o circo<br />

E lá chegou sem demora<br />

Procurando o gerente,<br />

Alguém disse: — Vá em frente<br />

Tá de camisa por fora.<br />

Apresentou-se dizendo:<br />

— Me dê uma informação<br />

O circo que aqui está<br />

Diga-me com precisão<br />

Se há muitos anos atrás<br />

Nas voltas que o mundo faz<br />

Teve lá no meu Sertão?<br />

Ele disse no Brasil<br />

Fomos em todo buraco<br />

Cidade grande ou pequena<br />

Serra, serrote ou suvaco<br />

Seja de noite ou de dia<br />

Importa só alegria<br />

Confio no nosso taco.<br />

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— Quero saber da estrela<br />

A garota que cantava<br />

Cantava como ninguém<br />

Por onde se apresentava<br />

Tinha o nome Priscila<br />

Quando cantou lá na vila<br />

Percebi que lhe amava.<br />

O moço ficou sisudo<br />

Com o rosto bem fechado<br />

Porem chamou a mãe dela<br />

Assim bem preocupado<br />

E quando ela chegou<br />

Para o estranho olhou<br />

Com o semblante amuado.<br />

Os seus cabelos grisalhos<br />

O rosto bem deprimido<br />

Falou: — Moço que tu queres?<br />

Zezé falou destemido:<br />

— Olhe aqui minha Senhora<br />

Eu quero saber agora<br />

Priscila já tem marido?


Olhou fundo nos seus olhos<br />

Com muita moderação<br />

E falou que sua vida<br />

Quase perdeu a razão<br />

Que muito tinha sofrido<br />

Priscila havia morrido<br />

Lá no meio do Sertão.<br />

Saiu de lá bem doente<br />

Em busca da capital<br />

Para encontrar um jeito<br />

Ficaram num hospital<br />

E poucos dias passou<br />

Quando o doutor lhe falou<br />

Ela chegou ao final.<br />

Zezé sentiu no seu peito<br />

Variação de pancada<br />

Pensando bem abatido<br />

Com uma dor transpassada<br />

Dizendo: — Como é que pode<br />

Vem cá meu Deus, me acorde<br />

É sonho ou é cilada.<br />

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— Começou no Canindé<br />

Onde ela passou mal<br />

O resto já lhe contei<br />

Foi uma coisa brutal<br />

Disse-me Dona Jurema:<br />

— Só me restou Iracema<br />

Pra melhorar meu astral.<br />

Zezé ficou pensativo<br />

Num profundo desalento<br />

Com a imagem de Priscila<br />

Fixa no seu pensamento<br />

E hoje, tem espetáculo?<br />

Indagou sem obstáculo<br />

Zezé naquele momento.<br />

— Hoje tem caro Senhor<br />

E hoje a grande atração<br />

É Iracema cantando<br />

Cantando com emoção<br />

Forró, baião e caipira<br />

O povo todo delira<br />

Com sua interpretação.


Zezé foi logo dizendo:<br />

— Mais tarde eu voltarei<br />

Quero relembrar no circo<br />

A mulher que sempre amei<br />

Saiu no seu belo carro<br />

Pensativo sem cigarro<br />

À noite aqui estarei.<br />

Como era um homem rico<br />

Muito bem afeiçoado<br />

A vida lhe ensinou<br />

Ser bem desembaraçado<br />

E como quem não cochila<br />

Sentou na primeira fila<br />

Com o seu plano traçado.<br />

Queria reviver ali<br />

Aquela noite distante<br />

Em que conheceu Priscila<br />

Para sempre sua amante<br />

O circo estava lotado<br />

E era do seu agrado<br />

Aquela noite brilhante.<br />

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Já quase no fim da noite<br />

Anunciaram Iracema<br />

Quando ela chegou no palco<br />

Era coisa de cinema<br />

A voz perfeita e divina<br />

E tudo naquela menina<br />

Era de beleza extrema.<br />

Quando o numero acabou<br />

Zezé naquela jornada<br />

Foi procurar Iracema<br />

Nos bastidores cansada<br />

— Você não é a Priscila?<br />

Desde que lhe vi na Vila<br />

Você não mudou em nada.<br />

Ela disse: — Somos gêmeas<br />

Eu vivia com meu pai<br />

Depois que ela morreu<br />

Minha mãe quase se vai<br />

Aí vim pro lugar dela<br />

Entrando como em novela<br />

E depois que entra não sai.


Aquela linda mulher<br />

Muito bonita e gostosa<br />

Deixou Zezé pensativo<br />

Com sua voz bem lustosa<br />

Disse: — Convido você<br />

Pra comigo conhecer<br />

A Cidade Maravilhosa.<br />

Ela disse: — Sou casada<br />

Com o João trapezista<br />

Já fazem quase três anos<br />

O inicio dessa conquista<br />

Temos uma vida calma<br />

Agradeço-te de alma<br />

Amigo, até outra vista.<br />

No outro dia Zezé<br />

Na sua atividade<br />

Foi entrando no sistema<br />

Da responsabilidade<br />

Pensando naquele dilema<br />

Que viveu com Iracema<br />

É triste a realidade.<br />

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A rotina de Zezé<br />

Foi mudando o pensamento<br />

A vida de empresário<br />

Capaz de muito talento<br />

Depois de passado um mês<br />

Quando tudo se refez<br />

Acabou o seu tormento.<br />

Mais na hora dormir<br />

O <strong>Matuto</strong> Apaixonado<br />

Não pensava em outra coisa<br />

A não ser no seu passado<br />

E Iracema no seu canto<br />

Vivia em desencanto<br />

Com a vida de casada.<br />

Mais o destino é assim<br />

Antes do bem vem o mal<br />

Um dia Zezé na Empresa<br />

Pegou pra ler o jornal<br />

E viu aquela notícia<br />

Que foi <strong>para</strong>r na polícia<br />

Caso de morte fatal.


Um acidente no circo<br />

O trapezista João<br />

Numa de suas manobras<br />

Tinha caído no chão<br />

Devido à falha na linha<br />

Tinha quebrado a espinha<br />

De modo sem salvação.<br />

João morreu ali mesmo<br />

Foi grande a fatalidade<br />

O circo ficou de luto<br />

Com triste comosidade<br />

Depois chegou a polícia<br />

Foi constatada a perícia:<br />

— Acidente de verdade.<br />

Zezé com temperamento<br />

De homem de caridade<br />

Foi lá no local do circo<br />

Por solidariedade<br />

Porem vivendo o dilema<br />

De pensar em Iracema<br />

Na sua intimidade.<br />

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Quando Iracema lhe viu<br />

Foi tamanha a comoção<br />

Pois veio a fatalidade<br />

Alimentar a paixão<br />

E a partir deste momento<br />

Ali no seu pensamento<br />

Começou a confusão.<br />

Já Zezé por sua vez<br />

Também pensava assim<br />

Confortando Iracema<br />

Com seu lenço de cetim<br />

Deus consertou o seu erro<br />

Hoje depois do enterro<br />

Iracema vem pra mim.<br />

Do cemitério pro circo<br />

Voltaram no mesmo carro<br />

Os dois assim pensativos<br />

Na voz aquele pigarro<br />

Devido à situação<br />

Os dois assim sem ação<br />

Foi um instante bizarro.


Aí Zezé foi embora<br />

Deixando o seu telefone<br />

Com jeito bem educado<br />

Pronunciou o seu nome<br />

Dizendo: — Quando quiseres,<br />

Peço que reconsideres<br />

Serei o seu cicerone.<br />

Passaram-se alguns dias<br />

O Zezé encabulado<br />

Naquela situação<br />

Sem querer ser abusado<br />

Quando toca o telefone<br />

Na outra linha o nome<br />

De Iracema anunciado.<br />

Dali pra festa, e pra vida<br />

Foi um amor verdadeiro<br />

Casaram com toda pompa<br />

Em pleno mês de janeiro<br />

Viajaram pelo mundo<br />

Neste romance profundo<br />

Que nasceu num picadeiro.<br />

FIM<br />

19


PERFIL DO AUTOR<br />

Há 38 anos no Rio de Janeiro, Chico Salles, esse<br />

nordestino, nascido no município de Sousa, sertão<br />

<strong>para</strong>ibano, se declara apaixonado pela cidade escolheu<br />

pra viver. Chico mostrou isso no seu primeiro CD<br />

"CONFISSÕES", onde apresentou o predomínio do<br />

seu lado carioca, e começou a despontar no cenário<br />

musical com sambas e forrós de belas letras e melodias.<br />

Depois Chico mostrou o seu lado nordestino: xotes,<br />

baiões e xaxados, todos de sua autoria, no CD<br />

"NORDESTINO CARIOCA", lançado com enorme<br />

sucesso nas bancas de jornais do Rio, São Paulo e<br />

Brasília, juntamente com um livreto de literatura de<br />

cordel.<br />

Em 2005 Chico o seu terceiro CD "FORROZANDO",<br />

produzido por José Milton, com repertório<br />

genuinamente pé de serra, cantando outros autores<br />

consagrados, (Patativa do Assaré e Téo Azevedo,<br />

Fagner e Abel Silva, Petrúcio Amorim e Bráulio de<br />

Castro, Lúcio Barbosa, e outros), e foi indicado <strong>para</strong> o<br />

Prêmio Tim como melhor CD e melhor cantor na<br />

categoria regional.<br />

Atualmente, Chico esta divulgando o seu quarto CD,<br />

“TÁ NO SANGUE E NO SUOR”, também<br />

produzido por José Milton, ampliando o conceito de<br />

qualidade e sonoridade do CD anterior. Está lançando<br />

também, dois novos títulos de Literatura de Cordel,<br />

“As minas de minas” e “Jeguerino e Burrozé”.<br />

Chico é membro e Diretor Cultural da <strong>ABLC</strong> -<br />

ACADEMIA BRASILEIRA DE LITERATURA DE<br />

CORDEL, ocupando a cadeira originalmente<br />

pertencente ao ilustre brasileiro Catulo da Paixão<br />

Cearense, e em 2008 recebeu o Título de Cidadão<br />

Carioca.<br />

Faça um fuchicosalles.<br />

www.chicosalles.com.br


OUTRAS OBRAS DO AUTOR<br />

1. A SAGA DO CORDEL EM POESIA<br />

2. BALA PERDIDA<br />

3. O BARATO DA BARATA<br />

4. FINEP - SEMANA NACIONAL DA<br />

.... CIÊNCIA E TECNOLOGIA<br />

5. O TIGRE QUE VIROU DOUTOR<br />

6. O DNA DO INDIANO<br />

7. VLADIMIR PALMEIRA - UM RIO PARA<br />

..... TODOS<br />

8. A PELEJA ENTRE BÉLIO BOSTA E<br />

..... VILBERTO VIL<br />

9. MANEL XICOTE<br />

10. SALIM, JACÓ E JOAQUIM<br />

11. O PAI DO VENTO<br />

12. LIMA BARRETO<br />

13. A JUSTIÇA TARDA E FALHA<br />

14. O HOMEM DA BOLA DE OURO<br />

15. CEM ANOS SEM MACHADO<br />

16. O MAIOR INIMIGO DO CACHORRO<br />

17. A PASSAGEM DE BIN LADEN PELO<br />

CHABOCÃO<br />

18. AS MINAS DE MINAS<br />

19. JEGUERINO E BURROZÉ

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