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Esta adequação do porno-jornal à pornocracia comporta argumento de cuja<br />
justeza não nos livraremos facilmente.<br />
Mas venham tarde ou cedo as concretizações de tal esperança - do regresso de<br />
jornalistas e jornalismos propriamente ditos ao território - e mesmo sem ela<br />
consumada, o que quer que a imprensa subsistente ilumine já, face à prática<br />
judiciária, tem, logo, tratamento mais cauteloso, e isso, evidentemente, dá aos<br />
jornalistas uma imagem desfasada da realidade institucional. A opinião pública<br />
paga caro esse desfasamento. Essa, aliás, é a utilidade visível da coisa do ponto<br />
de vista dos funcionários. Um livro recente de jornalista local foca casos<br />
sabiamente resolvidos, diria, para jornalista ver. Os jornalistas aquietam-se. E as<br />
coisas continuam substancialmente na mesma. Mas esta cosmética também nos<br />
é útil. A nós, os outros. Revela a consciência da ilicitude quanto ao<br />
procedimento habitual ou mais corrente. Esse salda-se na chamada<br />
“jurisprudência dominante” e jamais desaparecerá como acervo documental. A<br />
contradição entre as decisões excepcionais e as “dominantes” não deixará<br />
também de ter sua relevância prática nos debates em juízo, como nos autos do<br />
grande processo do futuro, que pode ser a História, ou algo mais…<br />
É portanto preciso iluminar. Noticiar consistentemente. Difundir com clara<br />
noção da dignidade política maior dos direitos de informar e de ser informado.<br />
Os jornalistas locais devem aprender a interrogar. Ao contrário do que os portavozes<br />
de um sistema de obscuridades pretendem e vão conseguindo. O sistema<br />
anseia pelas penumbras e opacidades. E há-de tê-las. O interior dos sepulcros<br />
não se ilumina, em regra. No domínio da vida, contudo, noticiar é a primeira<br />
tarefa. E talvez nem sequer em Língua Portuguesa. Os Portugueses não lêem.<br />
Sessenta por cento de taxa de iliteracia (ou do analfabetismo que<br />
funcionalmente regressou) são demonstração suficiente dessa afirmação. Mas<br />
alguma da imbecilidade no debate político institucional tem fundamento<br />
próximo. Seguir um debate parlamentar, ao acaso, basta para verificar que<br />
quem ousa tomar a palavra frequentemente acabou a leitura do seu último livro<br />
há uns trinta anos (e não raros dos manuais que leu já teriam essa idade, ou<br />
próxima dessa, quando foram lidos). Quando se põem a discutir “modelos” o<br />
panorama é arrepiante.<br />
Todas as indústrias da Cultura são neste território economicamente inviáveis.<br />
Compreendendo os interesses comerciais na exploração do ensino superior.<br />
Compreendendo também a Imprensa, a viver de várias coisas mas talvez não<br />
dos seus leitores… A visita a qualquer das pretensas livrarias do território é<br />
ocasião de frustração costumeira. Parecem restaurantes de Sarajevo –“não<br />
temos”, – “não”, – “não há”. Lugares onde já não vou (a Sarajevo e às ditas<br />
livrarias, bem entendido). Compro livros onde os há e onde há livreiros, ou seja,<br />
fora daqui. Procurem-se cá os Nobel da Economia dos últimos cinco anos e<br />
veremos se tenho ou não razão… Mas acedendo a que as novidades podem não<br />
estar sempre disponíveis, procurem-se então os clássicos, procure-se de Hegel a<br />
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