13.06.2013 Views

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Como eu já disse eu fiz o curso <strong>de</strong> parteira com uma<br />

enfermeira em Paracatu, <strong>de</strong>pois aqui em Jequitaí passaram<br />

algumas enfermeiras, mas não sei bem, eram diferentes. O<br />

relacionamento foi bom porque eu to<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> fui muito passiva,<br />

sempre aceitei tudo, sempre aceitei, fui passiva <strong>de</strong>mais, não<br />

po<strong>de</strong> não po<strong>de</strong>, sempre fui assim. Elas(as enfermeiras) vinham<br />

para morar aqui.mas não ficavam muito tempo. Eu continuava a<br />

fazer os partos, elas sabiam e não tinha problema. Aqui teve<br />

também estagiário <strong>de</strong> medicina, ⊗ <strong>de</strong> Belo Horizonte, <strong>da</strong> UFMG.<br />

Teve muitas duplas aqui, muitas mesmo. Eu fazia parto junto<br />

com eles, ensinava para eles. Já fui inclusive fazer uma<br />

palestra lá na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> em Belo Horizonte, na UFMG. E<br />

durante algum tempo viajava para o Vale do Jequitinhonha para<br />

ensinar <strong>parteiras</strong> <strong>de</strong> lá. E tem uma menina aqui que apren<strong>de</strong>u<br />

comigo, Maria, que apren<strong>de</strong>u comigo, mas não faz, não po<strong>de</strong><br />

mais, acabou-se o tempo em que se ensinava e aprendia a fazer<br />

parto assim.<br />

Mas <strong>de</strong> to<strong>da</strong> maneira eu aju<strong>de</strong>i muita gente nesse mundão <strong>de</strong><br />

Deus, era uma alegria apesar <strong>de</strong> ser muito difícil. Fico me<br />

lembrando: o marido sempre atento ali para o que precisasse,<br />

agora as crianças[...]Eles escondiam muito <strong>da</strong>s crianças as<br />

coisas, mas quando nascia, a criança<strong>da</strong> ia to<strong>da</strong> olhar. Era<br />

muito bom, era tão bom. Eu ia aten<strong>de</strong>r na região to<strong>da</strong>. Ah meu<br />

Deus do céu morava mais na rua do que na minha casa, mais na<br />

rua do que na minha casa! Meus filhos cresceram praticamente<br />

só. E outra coisa para se ver.como era minha vi<strong>da</strong>: eu fazia<br />

parto e tinha pensão. Ah, meus filhos, não sei não, foi uma<br />

vi<strong>da</strong> muito difícil. Mas eu venci e tenho sau<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>quele<br />

tempo, sau<strong>da</strong><strong>de</strong> mesmo. Já cheguei a fazer parto aqui em casa<br />

também, não era aqui nessa casa, era nessa casa <strong>de</strong> frente que<br />

eu morava. Mas já cheguei fazer isso também. E aju<strong>da</strong>va muito<br />

também porque era miséria mesmo. Então eu <strong>da</strong>va muito lençol,<br />

roupa minha,coisas que elas não tinham quando ganhavam<br />

criança. Olha pra ser sincera eu acho que ganha muito pouco, a<br />

gente ganha muito pouco, não ganha quase na<strong>da</strong>, para esse órgão<br />

que a gente trabalha, o Estado. Mas o que você faz é tão<br />

gran<strong>de</strong>, tão bom, tão bom, que parece que o que você ganha<br />

aumenta tanto que não tem nem condições <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r, é uma<br />

recompensa. É realmente eu sinto muita sau<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tudo, e eu<br />

espero que vocês consigam fazer novas <strong>parteiras</strong> e que<br />

modifiquem essa saú<strong>de</strong> e conserte tudo para o povo não sofrer<br />

tanto. Porque sofre muito o povo, sofre muito. Eu acho que tem<br />

que mu<strong>da</strong>r, tem que mu<strong>da</strong>r, e <strong>de</strong>ixo meu abraço para todo mundo<br />

que abraça essa causa com muita garra, com muita coragem, e<br />

que essa causa seja um triunfo para todo mundo.<br />

⊗ Estes estagiários vão para to<strong>da</strong> a região norte mineira em um programa <strong>de</strong> interiorização <strong>da</strong> UFMG através <strong>de</strong> um convênio<br />

com as prefeituras interessa<strong>da</strong>s. Funciona até os dias <strong>de</strong> hoje e chama-se Projeto Manelzão.<br />

111

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!