13.06.2013 Views

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

esperava que ia acontecer nas minhas mãos nunca! Quando eu via<br />

que não era para mim, eu já tratava logo <strong>de</strong> chamar o médico,<br />

porque é muito chato. E te digo que complicado assim foram<br />

poucos mesmo. Quem ficava lá no posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> indicava as<br />

<strong>parteiras</strong>. Então eu tinha uma gran<strong>de</strong> indicação <strong>de</strong>las, do<br />

pessoal do posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> porque elas tinham confiança em mim.<br />

Já cheguei a fazer três partos.no mesmo dia Teve um dia que eu<br />

estava fazendo um parto e uma senhora me chamou, a criança já<br />

tinha nascido, então eu enrolei a criança, <strong>de</strong>ixei ela lá,<br />

falei para a mãe que eu voltava rápido, fui fiz o parto <strong>de</strong>ssa<br />

outra senhora e voltei para acabar <strong>de</strong> arrumar a criança. Sabe<br />

porque elas preferiam fazer em casa? Primeiro elas tinham<br />

vergonha, aquelas enfermeiras novas lá do hospital elas tinham<br />

vergonha. Elas tinham vergonha, então preferiam ficar em casa<br />

comigo do que ir para o hospital. O médico chegava examinava e<br />

levava para o quarto e se fosse um parto normal as enfermeiras<br />

levavam para a sala e elas mesmo faziam, não o médico. Então<br />

elas recusavam por isso, porque tinham vergonha <strong>da</strong>s meninas.<br />

Elas tinham aquele complexo <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>, tinham muita vergonha,<br />

por isso preferiam fazer comigo, e por isso eu trabalhava em<br />

casa, na casa <strong>de</strong>las, ia na roça, ia no mato. E também porque<br />

no hospital tudo era pago. Muitos milhares <strong>de</strong> partos eu fiz<br />

sem cobrar, porque a pessoa não tinha condições <strong>de</strong> pagar. O<br />

médico me dizia: vocês são obriga<strong>da</strong>s a ir ao chamado porque se<br />

acontecer alguma coisa, vocês são responsáveis. Eu um dia<br />

falei para ele: como é que nós somos responsáveis e o Sr. não<br />

é responsável? Porque se fosse uma pessoa que não pu<strong>de</strong>sse<br />

pagar eles não atendiam mesmo, os médicos não atendiam. Uma<br />

vez uma mulher que veio lá <strong>de</strong> Buritis foi para o hospital e<br />

não aten<strong>de</strong>ram. Ela então veio para a minha casa e passou uma<br />

meia hora ela teve a criança. Ela não ficou no hospital porque<br />

não tinha dinheiro para fazer o <strong>de</strong>pósito que era obrigatório.<br />

Elas não tinham dinheiro para pagar o parto.<br />

Na roça, quando a criança nascia, eles batiam um prato<br />

para fazer barulho e a criança chorar. Mas aquilo tudo era <strong>de</strong><br />

roça, <strong>de</strong>pois o doutor nos ensinou que quando nascesse uma<br />

criança asfixiado, a gente tinha que virar a cabecinha, bater<br />

no pezinho para a criança chorar e limpava a boca. Tinha<br />

material para fazer isso, eu carregava tudo. Então nascia um<br />

menino com problema eu pedia duas bacias, uma com água quente<br />

e outra com água fria. Eu enfiava na quente, <strong>de</strong>pois enfiava na<br />

fria, na quente, na fria, eles nos ensinaram assim e a criança<br />

voltava. No começo tive medo, eu achava que a criança podia<br />

era morrer[...] Mas ele nos ensinou, eu fiz e <strong>de</strong>u resultado.<br />

Eu antes soprava a boca, o nariz, e nem sempre <strong>da</strong>va, eu<br />

enfiava na água quente e na água fria e a criança vivia. E eu<br />

aprendi com ele, o doutor. Ele me <strong>da</strong>va aula, me <strong>da</strong>va<br />

explicações.<br />

Outra coisa que na roça eles faziam era colocar um cabo<br />

<strong>de</strong> colher no fogo, até avermelhar e queimava o umbigo cortado.<br />

Primeiro eu fiz, porque o que as outras faziam eu também<br />

60

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!