memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
era muito pequeno. Então eles atendiam os institutos, IAPI,<br />
IAPTEC, IAPC. Então eu digo que eles não interferiam porque o<br />
trabalho era esse: chegava, a parteira atendia, a não ser o<br />
caso <strong>de</strong> uma paciente que exigisse o médico, já tinha combinado<br />
previamente, eles aten<strong>de</strong>riam. Mas imagina só: dois ou três<br />
médicos obstetras para aten<strong>de</strong>r uma materni<strong>da</strong><strong>de</strong>, não <strong>da</strong>va<br />
tempo! Então o parto normal, fisiológico, nós atendíamos. As<br />
outras intercorrências eles atendiam quando eram solicitados,<br />
eles <strong>de</strong>ixavam seus consultórios, para aten<strong>de</strong>r. O quê eles<br />
faziam? Iam fazer uma curetagem, um fórceps, uma cesariana,<br />
enfim essa complementação que não é <strong>da</strong> parteira. Mas era<br />
assim, hoje não, a paciente chega, o médico que vai fazer os<br />
exames, vai internar, vai <strong>da</strong>r atendimento.<br />
As mulheres não se importavam <strong>de</strong> serem atendi<strong>da</strong>s por<br />
<strong>parteiras</strong>. Não porque isso aí já estava assim tão habitual! Eu<br />
acho que essa informação boca-a-boca ain<strong>da</strong> era muito forte<br />
naquela época: porque fulana ganhou com ciclana, ou com D.<br />
Army, ou fulana <strong>de</strong> tal. Os médicos também atendiam é lógico<br />
que aqueles médicos antigos atendiam quando solicitados,<br />
vários já faleceram. Em uma época que eu digo que era anterior<br />
ao meu tempo, porque eu fui a terceira parteira a assumir o<br />
trabalho na materni<strong>da</strong><strong>de</strong>, as mulheres ain<strong>da</strong> resistiam muito a<br />
ir para a materni<strong>da</strong><strong>de</strong>, preferiam em casa. A materni<strong>da</strong><strong>de</strong> teve<br />
uma parteira que trabalhou alguns anos, logo ficou doente. A<br />
que me antece<strong>de</strong>u, uma senhora <strong>de</strong> origem alemã, trabalhou onze<br />
anos e eu acabei ficando esses 33 anos, 7 meses e alguns dias.<br />
Nós <strong>parteiras</strong> acompanhávamos to<strong>da</strong> a evolução do parto.<br />
Quando havia necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> alguma intervenção como a<br />
episiotomia, nós tínhamos uma orientação médica, razão pela<br />
qual a gente <strong>da</strong>va essa assistência, mormente as primíparas<br />
to<strong>da</strong>s eram submeti<strong>da</strong>s à episiotomia. Fazia-se a episiotomia e<br />
também a sutura, não só a incisão mas a sutura, o médico<br />
chegava e já estava tudo resolvido.<br />
Porque naquele tempo existia a enfermaria que ficava<br />
bastante direciona<strong>da</strong> para a escola <strong>de</strong> enfermagem, era<br />
enfermagem obstétrica. Então chegava uma aluna para fazer esse<br />
estágio, ela ficava morando também na materni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Depois <strong>de</strong><br />
ter completado a parte teórica passava por mim. Eu havia<br />
passado por esse aprendizado com a parteira-chefe quando<br />
estu<strong>da</strong>nte do curso. Depois eu passei a <strong>da</strong>r a parte prática<br />
para as moças que chegavam: elas vinham, faziam o curso, e iam<br />
para esses interiores trabalhar. Das moças que fizeram esse<br />
curso a maioria já faleceu. E também a casa não aceitava<br />
muitas alunas em ca<strong>da</strong> turma.<br />
A materni<strong>da</strong><strong>de</strong> não tinha nenhuma funcionária para trabalhar<br />
na enfermagem. Tudo era feito por essas praticantes, por essas<br />
alunas do curso. A casa <strong>da</strong>va hospe<strong>da</strong>gem, e elas trabalhavam<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> linha <strong>da</strong> enfermagem, não se envolviam com cozinha,<br />
lavan<strong>de</strong>ria, na<strong>da</strong> disso, mas os cui<strong>da</strong>dos <strong>de</strong> enfermagem eram<br />
<strong>da</strong>dos por elas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a higiene do neném até o banho na<br />
paciente, a gente ensinava tudo como era feito.<br />
79