memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
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instrução como é que tinha que aju<strong>da</strong>r: não fazer força no<br />
pescoço e sim fazer força como evacuar, fazer força embaixo<br />
para o neném po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>scer. E quando a gente via que não <strong>da</strong>va<br />
passo, que a bacia era estreita, que não podia nascer, aí a<br />
gente encaminhava mais cedo para o médico, para o hospital.<br />
Depois que os partos começaram a ser feitos no hospital aí<br />
não podia mais entrar outras pessoas <strong>da</strong> família. Olha, não sei<br />
se aju<strong>da</strong>va, mas se elas insistissem muito a gente <strong>de</strong>ixava<br />
entrar, muitas vezes a mãe, porque para algumas parece que<br />
confortava mais. Por uma parte po<strong>de</strong> ser bom, por outra parte<br />
talvez não. Isso <strong>da</strong>í a gente não po<strong>de</strong> nem discutir. Isso<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> muito do tipo <strong>de</strong> pessoa. Às vezes ela quer, ela<br />
insiste. Algumas já não querem, eu por exemplo nunca quis. Eu<br />
não queria que meu marido estivesse perto <strong>de</strong> mim naquela hora,<br />
preferia ficar sozinha com a parteira.<br />
Mas lembra que sempre a gente esperava a evolução natural<br />
do parto. Sim! Esperava às vezes <strong>de</strong> um dia para o outro ou até<br />
mais. Primeiro filho às vezes levava vinte e quatro horas,<br />
porque os vizinhos me chamavam rápido porque era longe. Quando<br />
tinha o primeiro sinalzinho eles corriam a me chamar e até que<br />
ela mesmo começava a entrar em trabalho <strong>de</strong> parto levava<br />
algumas horas. Isso não era tão rápido, mas a gente tinha que<br />
ter muita paciência e muita calma para ser parteira. Quem é<br />
uma pessoa nervosa, quem não sabe acalmar uma paciente não<br />
serve. A gente tem que usar, às vezes, um pouquinho <strong>de</strong><br />
psicologia para acalmar as pacientes. E eu sempre me sentava<br />
do lado e conversava com elas. Elas ficavam gemendo, ali, e eu<br />
dizia: olha que bom, agora já passou mais uma dor, já está um<br />
passinho mais perto para o neném nascer e assim <strong>da</strong>qui à<br />
pouquinho o neném já vai nascer, já vai <strong>da</strong>r aquela alegria!<br />
Era o meu serviço o meu trabalho!<br />
Eu tive oito filhos e amamentei todos os oito levando<br />
eles junto a cavalo quando ia fazer parto. Levava os meus<br />
filho pequenininhos, quando eles estavam mamando. Eu levava<br />
junto e almoçava em cima do cavalo: botava o neném no peito,<br />
ele ia sugando o leite e o cavalo ia “pá-pá pá-pá, numa marcha<br />
indo embora. E o neném igual a um morceguinho pregado ali, e<br />
olha que todos se criaram. Ser parteira não atrapalhou em<br />
na<strong>da</strong>. Não! Tive oito filhos e não atrapalhou em na<strong>da</strong>. Quando<br />
estavam maiorzinhos ficavam em casa com meu marido: meu marido<br />
me auxiliava muito, era muito bom para as crianças, e cui<strong>da</strong>va<br />
bem <strong>da</strong>s crianças.<br />
Nós éramos pobres, mas era bastante gente pobre ali na<br />
região e eu não tinha coragem <strong>de</strong> cobrar os partos <strong>de</strong>ssa gente<br />
que não tinha condição <strong>de</strong> pagar. Os que podiam pagar, claro,<br />
me pagavam uma taxazinha, mas quem não podia a gente atendia<br />
assim mesmo, e muitas vezes até <strong>da</strong>va alguma coisa para esses<br />
que não tinham na<strong>da</strong>. Chegava em casa <strong>de</strong> gente pobre, que não<br />
tinha na<strong>da</strong>, não tinha na<strong>da</strong> mesmo! Uma noite eu estava fazendo<br />
um parto e estava fazendo muito frio, era muita gea<strong>da</strong>.<br />
Percebendo que o parto <strong>da</strong>quela senhora não estava muito<br />
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