memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
isso que eu não tinha quando trabalhava fora. Ali era tudo<br />
assim, precário. Nem luz tinha, era luz <strong>de</strong> querosene. Não<br />
tinha luz elétrica, não tinha estra<strong>da</strong> e eu trabalhei assim<br />
vinte anos. Tudo era à cavalo, mal o carro <strong>de</strong> boi passava.<br />
Tenho muitas histórias para contar[...]Eu tive oferta para<br />
trabalhar no hospital em Rio Negrinho, quando eu me formei.<br />
Para mim seria mais fácil, mas meu pai disse: não, eu quis que<br />
tu estu<strong>da</strong>sse, para que você viesse trabalhar aqui em Rio<br />
Fortuna. E eu <strong>de</strong> qualquer jeito tive que vir para cá e ficar<br />
trabalhando aqui, porque não tinha outra parteira. Sim, vinte<br />
e seis anos eu fiquei <strong>de</strong>dica<strong>da</strong> a isso.<br />
Eu não me lembro a porcentagem <strong>de</strong> cesarianas, mas<br />
aumentaram muito mais com o hospital. No início só faziam se<br />
era um parto mais difícil às vezes fazia cesariana, não tinha<br />
essa história <strong>de</strong> cesariana programa<strong>da</strong> não. Cesariana<br />
programa<strong>da</strong> começou mais tar<strong>de</strong>, porque vinham mulheres e<br />
diziam: nós queremos operar porque não quero parto normal,<br />
quero operar, quero marcar o dia para fazer a cesárea. E às<br />
vezes o médico entrava naquele “baralho” porque ele queria<br />
sair rápido e era cliente <strong>de</strong>le, então eles programavam para<br />
fazer a cesariana num certo tempo que não atrapalhasse. Eu não<br />
acho certo porque acho que a criança <strong>de</strong>ve escolher o dia para<br />
nascer e não o médico nem a mãe. Deve esperar, mas tudo hoje é<br />
ultra-sonografia. Antigamente quando não tinha ultrasonografia<br />
não era tanto assim porque era impossível ficar<br />
dizendo: a criança já pesa três quilos, três quilos e pouco,<br />
está “madura” po<strong>de</strong> nascer. Mas não se lembravam que muitas<br />
vezes a criança nascia pesando quatro quilos. Então eu acho<br />
que às vezes uma criança que nasce <strong>de</strong> cesariana é mais<br />
prematura não se cria tão bem como uma criança que nasce <strong>de</strong><br />
parto normal. Porque mesmo criança <strong>de</strong> parto prematuro que se<br />
faz normalmente pelo próprio parto ela já amadurece. O pulmão<br />
<strong>de</strong>la fica mais forte, porque ela tem que se esforçar um<br />
pouco.durante o nascimento.<br />
Parto feito por parteira ou feito por médico é a mesma<br />
coisa, porque parto é parto! Só tem uma diferença: os médicos<br />
só vinham na hora <strong>de</strong> fazer o parto mas o controle do parto a<br />
parteira fazia. A parteira ficava a noite inteira, então na<br />
hora que era para nascer, se era uma pessoa que exigia, <strong>da</strong>í<br />
chamava o médico e ele vinha e fazia o parto. Só chegavam na<br />
hora <strong>de</strong> fazer o parto. Porque o médico não tem paciência <strong>de</strong><br />
esperar progredir um parto. Por isso eles fazem muita<br />
cesariana e pouco médico fazia o parto, <strong>da</strong>í é muito mais fácil<br />
para eles fazer cesariana. Opera rápido, sai <strong>da</strong> cabeça e eles<br />
po<strong>de</strong>m aten<strong>de</strong>r outras coisas. Nós tínhamos um médico aqui que<br />
quando entrou na facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> medicina vinha todo fim <strong>de</strong> ano<br />
porque os pais <strong>de</strong>le moravam aqui, inclusive quando ele nasceu<br />
eu fiz o parto.<strong>de</strong>le. Daí todo ano ele vinha e ficava comigo na<br />
sala <strong>de</strong> parto, fim <strong>de</strong> ano ele sempre estava ali. Eu ensinei<br />
ele a fazer tudo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o toque até o parto mesmo. Depois que<br />
ele se formou ele fazia partos mas um dia ele disse: D. Deta,<br />
98