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Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros ... - ceapp

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Tu<strong>do</strong> o que produziu foi que a escrita pertencia a um senhor <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> (o que era fácil <strong>de</strong><br />

adivinhar), com quem era difícil viver, visto tratar-se <strong>de</strong> um tirano intolerável no lar. Aqueles que<br />

<strong>de</strong>sfrutam <strong>de</strong> minha casa dificilmente confirmarão isso. Mas, como sabemos, o campo <strong>do</strong> oculto<br />

está sujeito ao conveniente <strong>princípio</strong> <strong>de</strong> que os casos negativos nada provam. Não efetuei<br />

observações diretas sobre Schermann, porém, através <strong>de</strong> um paciente meu, entrei em contato<br />

com ele, sem que o soubesse. Contar-lhes-ei a respeito.<br />

Há alguns anos atrás procurou-me um jovem que me causou impressão particularmente<br />

simpática, e eu, assim, lhe <strong>de</strong>i preferência sobre alguns <strong>outros</strong>. Parecia estar envolvi<strong>do</strong> com uma<br />

das mais conhecidas <strong>de</strong>mi-mondaines e que <strong>de</strong>sejava livrar-se <strong>de</strong>la, <strong>de</strong> vez que a relação o<br />

privava <strong>de</strong> toda in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> ação, mas era incapaz <strong>de</strong> fazê-lo. Consegui libertá-lo e, ao<br />

mesmo tempo, logrei uma plena compreensão <strong>de</strong> sua compulsão. Não muitos meses atrás<br />

noivara <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> normal e respeitável. A análise logo mostrou que a compulsão contra a qual<br />

estava lutan<strong>do</strong>, não era a ligação com a <strong>de</strong>mi-mondaine, mas com uma senhora casada <strong>de</strong> seu<br />

próprio círculo, com quem tivera uma liaison, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da juventu<strong>de</strong>. A <strong>de</strong>mi-mondaine<br />

servia apenas <strong>de</strong> bo<strong>de</strong> expiatório em quem podia satisfazer to<strong>do</strong>s os sentimentos <strong>de</strong> vingança e<br />

ciúme que realmente se aplicavam à outra senhora. Segun<strong>do</strong> um mo<strong>de</strong>lo que nos é familiar,<br />

fizera uso <strong>do</strong> <strong>de</strong>slocamento para um novo objeto, a fim <strong>de</strong> escapar à inibição ocasionada por sua<br />

ambivalência.<br />

Era hábito seu infligir os tormentos mais refina<strong>do</strong>s à <strong>de</strong>mi-mondaine, que se apaixonara<br />

por ele <strong>de</strong> uma maneira quase <strong>de</strong>sprendida. Entretanto, quan<strong>do</strong> não mais podia escon<strong>de</strong>r seus<br />

sofrimentos, ele, por sua vez, transportava para ela a afeição que sentira pela mulher que amara<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a juventu<strong>de</strong>; dava-lhe presentes e a aplacava, e o ciclo retomava seu curso. Quan<strong>do</strong><br />

enfim, sob a influência <strong>do</strong> tratamento, rompeu com ela, tornou-se claro o que estivera tentan<strong>do</strong><br />

conseguir por aquele comportamento em relação a esse sucedâneo <strong>de</strong> seu primeiro amor: a<br />

vingança com a tentativa <strong>de</strong> suicídio que fizera quan<strong>do</strong> essa amada rejeitara suas propostas.<br />

Após a tentativa, conseguiu por fim vencer a relutância <strong>de</strong>la. Durante esse perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> tratamento<br />

costumava visitar o famoso Schermann. Com base em amostras da letra da <strong>de</strong>mi-mondaine, o<br />

grafologista repetidamente lhe disse, à guisa <strong>de</strong> interpretação, que ela se achava em seu último<br />

alento, que se encontrava à beira <strong>do</strong> suicídio e que certamente se mataria. Ela, contu<strong>do</strong>, assim<br />

não proce<strong>de</strong>u, mas arremessou <strong>de</strong> si suas fraquezas humanas e recor<strong>do</strong>u os <strong>princípio</strong>s <strong>de</strong> sua<br />

profissão e seus <strong>de</strong>veres para com o amigo oficial. Percebi com clareza que o homem milagroso<br />

havia simplesmente revela<strong>do</strong> a meu paciente o seu <strong>de</strong>sejo mais íntimo.<br />

Após <strong>de</strong>scartar-se <strong>de</strong>ssa figura espúria, meu paciente empreen<strong>de</strong>u seriamente a tarefa<br />

<strong>de</strong> libertar-se <strong>de</strong> seu vínculo real. Depreendi <strong>de</strong> seus sonhos um plano que estava forman<strong>do</strong>,<br />

com o qual po<strong>de</strong>ria escapar da relação com o seu primeiro amor sem causar-lhe <strong>de</strong>masiada<br />

mortificação ou prejuízos materiais. Ela tinha uma filha, que gostava muito <strong>do</strong> jovem amigo da<br />

família e ostensivamente nada sabia <strong>do</strong> papel secreto que <strong>de</strong>sempenhava. Propunha-se agora a

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