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Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros ... - ceapp

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lhe permitiu isso; o homem tinha <strong>de</strong> permanecer incógnito. Sabemos <strong>de</strong> incontáveis análises o<br />

que significa esse ocultamento e a conclusão que basearíamos na analogia é certificada por<br />

outra afirmativa da sonha<strong>do</strong>ra. Sob a influência <strong>do</strong> paral<strong>de</strong>í<strong>do</strong>, reconheceu certa vez o rosto <strong>do</strong><br />

homem <strong>do</strong> sonho como o rosto <strong>do</strong> médico <strong>do</strong> hospital que a estava tratan<strong>do</strong> e que nada<br />

significava para sua vida emocional consciente. O original, assim, nunca divulgou sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>,<br />

mas essa sua impressão em ‘transferência’ estabeleceu a conclusão <strong>de</strong> que anteriormente <strong>de</strong>ve<br />

ter si<strong>do</strong> sempre o seu pai. Ferenczi [1917] está perfeitamente certo ao apontar que esses<br />

‘sonhos <strong>do</strong> insuspeitante’ constituem valiosas fontes <strong>de</strong> informações, confirman<strong>do</strong> as conjecturas<br />

da análise. Aquela que sonhou era a mais velha <strong>de</strong> <strong>do</strong>ze filhos; quantas vezes não <strong>de</strong>ve ter<br />

sofri<strong>do</strong> as <strong>do</strong>res <strong>do</strong> ciúme e <strong>do</strong> <strong>de</strong>sapontamento, quan<strong>do</strong> não era ela, e sim a mãe, que<br />

conseguia <strong>do</strong> pai o filho por que ansiava!<br />

A sonha<strong>do</strong>ra muito corretamente imaginou que suas primeiras lembranças da infância<br />

seriam valiosas para a interpretação <strong>de</strong> seu sonho precoce e recorrente. Na primeira cena, antes<br />

<strong>de</strong> contar um ano <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, enquanto estava sentada em seu carrinho, viu <strong>do</strong>is cavalos a seu<br />

la<strong>do</strong>, um <strong>de</strong>les olhan<strong>do</strong> para ela. Descreve-o como sen<strong>do</strong> sua mais vívida experiência; teve a<br />

impressão <strong>de</strong> tratar-se <strong>de</strong> um ser humano. É um sentimento que só po<strong>de</strong>mos compreen<strong>de</strong>r se<br />

presumirmos que os <strong>do</strong>is cavalos representavam, neste caso, como é tão freqüente, um casal: o<br />

pai e a mãe. Foi, por assim dizer, um vislumbre <strong>de</strong> totemismo infantil. Se pudéssemos,<br />

perguntaríamos à autora se o cavalo castanho que a olhava tão humanamente não po<strong>de</strong>ria ser<br />

i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>, pela cor, com seu pai. A segunda recordação estava associativamente vinculada à<br />

primeira mediante o mesmo olhar ‘compreensivo’. Tomar o passarinho na mão, contu<strong>do</strong>, recorda<br />

ao analista, que possui opiniões preconcebidas próprias, <strong>de</strong> um aspecto no sonho em que a mão<br />

da mulher estava em contato com outro símbolo fálico.<br />

As duas lembranças seguintes são da mesma categoria e impõem exigências ainda mais<br />

fáceis ao intérprete. A mãe a gritar durante o parto recor<strong>do</strong>u diretamente a filha <strong>do</strong>s porcos<br />

guinchan<strong>do</strong> ao serem abati<strong>do</strong>s e levou-a no mesmo frenesi <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong>. Po<strong>de</strong>mos, entretanto,<br />

também conjecturar que isso constituía uma relação violenta contra um ira<strong>do</strong> <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> morte<br />

dirigi<strong>do</strong> contra a mãe.<br />

Com tais indicações <strong>de</strong> ternura pelo pai, <strong>de</strong> contato com os órgãos genitais <strong>de</strong>le e <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> morte contra a mãe, fica esboça<strong>do</strong> o <strong>de</strong>lineamento <strong>do</strong> complexo <strong>de</strong> Édipo feminino. A<br />

longa conservação <strong>de</strong> sua ignorância sobre assuntos sexuais e sua frigi<strong>de</strong>z em um perío<strong>do</strong><br />

posterior corroboram essas suposições. A autora da carta tornou-se em potencial (e, sem<br />

dúvida, realmente, por vezes) uma neurótica histérica. Para sua própria felicida<strong>de</strong>, as forças da<br />

vida carregaram-na consigo. Despertaram nela os sentimentos sexuais <strong>de</strong> mulher e trouxeram-<br />

lhe as alegrias da maternida<strong>de</strong> e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar. Uma parte <strong>de</strong> sua libi<strong>do</strong>, porém,<br />

ainda se aferra a seus pontos <strong>de</strong> fixação na infância; ela ainda tem o sonho que a arroja para<br />

fora <strong>do</strong> leito e a pune por sua escolha incestuosa <strong>de</strong> objeto com ‘danos <strong>de</strong> não pequena monta’.

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