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Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros ... - ceapp

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psicanálise não seja tanto uma prova da natureza artística <strong>de</strong> Freud quanto <strong>de</strong> sua convicção,<br />

equivalente quase a uma opinião preconcebida, <strong>de</strong> que to<strong>do</strong>s os fatos mentais são<br />

completamente <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s. Decorreu <strong>de</strong>ssa opinião que a primeira e mais provável<br />

possibilida<strong>de</strong> fosse que uma associação livre se relacionasse com o assunto <strong>de</strong>signa<strong>do</strong>, e isso<br />

foi confirma<strong>do</strong> pela experiência da análise, exceto na medida em que resistências <strong>de</strong>masia<strong>do</strong><br />

gran<strong>de</strong>s tornassem irreconhecível a vinculação suspeitada.<br />

Entretanto, é seguro presumir que nem Schiller nem Garth Wilkinson tiveram na<br />

realida<strong>de</strong> qualquer influência sobre a escolha da técnica psicanalítica. É <strong>de</strong> outra direção que<br />

existem indicações <strong>de</strong> uma influência pessoal em ação.<br />

Há pouco tempo atrás, em Budapest, o Dr. Hugo Dubowitz chamou a atenção <strong>do</strong> Dr.<br />

Ferenczi para um breve ensaio que abrangia apenas quatro páginas e meia, da autoria <strong>de</strong><br />

Ludwig Börne. Fora escrito em 1823 e reimpresso no primeiro volume da edição <strong>de</strong> 1862 <strong>de</strong><br />

suas obras completas. Intitula-se ‘A Arte <strong>de</strong> Tornar-se um Escritor Original em Três Dias’ e<br />

mostra as familiares características estilísticas <strong>de</strong> Jean Paul, <strong>de</strong> quem Börne era na ocasião<br />

gran<strong>de</strong> admira<strong>do</strong>r. Ele termina o ensaio com as seguintes frases:<br />

‘E aqui temos a aplicação prática que foi prometida. Pegue algumas folhas <strong>de</strong> papel e<br />

por três dias a fio anote, sem falsida<strong>de</strong> ou hipocrisia, tu<strong>do</strong> o que lhe vier à cabeça. Escreva o que<br />

pensa <strong>de</strong> si mesmo, <strong>de</strong> sua mulher, da Guerra Turca, <strong>de</strong> Goethe, <strong>do</strong> julgamento <strong>de</strong> Fonk, <strong>do</strong><br />

Juízo Final, <strong>de</strong> seus superiores, e, quan<strong>do</strong> os três dias houverem passa<strong>do</strong>, ficará<br />

espantadíssimo pelo novos e inauditos pensamentos que teve. Esta é a arte <strong>de</strong> tornar-se um<br />

escritor original em três dias.’<br />

Quan<strong>do</strong> o Professor Freud veio a ler esse ensaio <strong>de</strong> Börne, apresentou certo número <strong>de</strong><br />

fatos que po<strong>de</strong>m ter uma importante relação com a questão aqui em <strong>de</strong>bate quanto à pré-história<br />

<strong>do</strong> emprego psicanalítico da associação livre. Disse que quan<strong>do</strong> contava 14 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>,<br />

recebera <strong>de</strong> presente as obras <strong>de</strong> Börne; que hoje ainda possuía o livro, cinqüenta anos <strong>de</strong>pois,<br />

e que se tratava <strong>do</strong> único que sobrevivera <strong>do</strong>s seus tempos <strong>de</strong> rapaz. Börne, disse ele, fora o<br />

primeiro autor em cujos escritos penetrara profundamente. Não podia lembrar-se <strong>do</strong> ensaio em<br />

pauta, mas alguns <strong>do</strong>s <strong>outros</strong> conti<strong>do</strong>s no mesmo volume, tais como ‘Um Tributo à Memória <strong>de</strong><br />

Jean Paul’, ‘O Artista a Comer’ e ‘O Tolo na Estalagem <strong>do</strong> Cisne Branco’, continuaram a vir-lhe à<br />

mente, sem razão óbvia, por longos anos. Ficou particularmente espanta<strong>do</strong> <strong>de</strong> encontrar<br />

expressas no conselho ao escritor original algumas opiniões que ele próprio sempre prezara e<br />

reivindicara, como, por exemplo: ‘Uma covardia vergonhosa com relação ao pensar nos retém a<br />

to<strong>do</strong>s. A censura <strong>do</strong> governo é menos opressiva que a censura exercida pela opinião pública<br />

sobre nossas produções intelectuais. (<strong>Além</strong> disso, temos aqui uma referência a uma ‘censura’<br />

que reaparece na psicanálise como a censura onírica.) ‘Não é falta <strong>de</strong> intelecto, mas <strong>de</strong> caráter<br />

que impe<strong>de</strong> a maioria <strong>do</strong>s escritores <strong>de</strong> serem melhores que são… A sincerida<strong>de</strong> é a fonte <strong>de</strong><br />

to<strong>do</strong> gênio e os homens seriam mais argutos se fossem mais morais…’

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