VJ JUL 2011.p65 - Visão Judaica
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ontando a presença<br />
do reitor da Universidade<br />
Federal do<br />
Paraná, Zaki Akel Sobrinho,<br />
do presidente<br />
da Federação Israelita<br />
do Paraná, Manoel<br />
Knopfholz, da presidente da Comunidade<br />
Israelita do Paraná, Ester<br />
Proveller, do rabino da comunidade<br />
Pablo Berman, de professores,<br />
alunos e membros da comunidade<br />
israelita, foi aberta na noite do dia<br />
22/6, no mezanino do setor de Ciências<br />
Jurídicas, no prédio Histórico<br />
da UFPR, na Praça Santos Andrade a<br />
1ª Exposição Imigração <strong>Judaica</strong> no<br />
Paraná, organizada pelo Instituto<br />
Cultural Judaico Brasileiro Bernardo<br />
Schulman com o apoio de um<br />
grupo de jovens da comunidade,<br />
entre eles Diana Axelrud, André<br />
Camlot, Marcel Heilhorn, Eliane<br />
Melnik e Vanessa, com o seu grupo<br />
folclórico.<br />
Abrindo a solenidade os presentes<br />
assistiram a uma apresentação<br />
do grupo folclórico israelita do CIP,<br />
que dançou dois números especialmente<br />
selecionados para o evento<br />
no saguão do prédio histórico. A mostra<br />
fotográfica e de objetos judaicos<br />
permaneceu no local até o dia 30/6,<br />
sendo posteriormente transferida<br />
para o hall de entrada do edifício onde<br />
ficará exposta até o final de agosto<br />
para visitação pública.<br />
O primeiro a discursar foi o presidente<br />
da Federação Israelita do<br />
Paraná, Manoel Knopfholz, que fez<br />
uma retrospectiva a respeito da<br />
imigração judaica ao Paraná, enal-<br />
tecendo a acolhida de imigrantes<br />
judeus em um Brasil ainda<br />
infante que também migrava<br />
de uma monarquia obsoleta<br />
para uma recém-nascida república<br />
repleta de esperança. Ele<br />
também reconheceu "a perfeita<br />
sinergia desta gente de hábitos<br />
seculares europeus, judeus,<br />
com a terra da recém-criada<br />
província do Paraná, já miscigenada<br />
e promissora".<br />
A seguir, fez uso da palavra,<br />
a presidente do Instituto Cultural<br />
Judaico Brasileiro Bernardo<br />
Schulman, Sara Schulman, que depois<br />
de enumerar uma série de personalidades<br />
judaicas que cursaram a<br />
UFPR e brilharam no Paraná, no Brasil<br />
e no exterior, destacou que a Universidade<br />
Federal do Paraná, é um<br />
"melting pot" de experiências, conhecimentos<br />
e cultura. E participantes<br />
dela, nós, os filhos e netos dos imi-<br />
grantes judeus, nos tornamos<br />
orgulhosos de<br />
pertencer à comunidade<br />
brasileira, que tão bem<br />
nos recebeu em seu<br />
meio. Ela permitiu que o<br />
povo judeu, através dela,<br />
pudesse florescer, finalmente,<br />
naquilo que lhe<br />
é peculiar e que cultua,<br />
com fervor: - a ciência e<br />
a cultura universal - em<br />
seus mais diferentes<br />
aspectos.<br />
Depois foi a vez do<br />
reitor Zaki Akel Sobnho falar. Ao ressaltar<br />
a importância da comunidade<br />
judaica no Paraná lembrou também<br />
que a instituição recebeu não<br />
só judeus, mas representantes de<br />
outras nações e evidenciou os fundamentos<br />
democráticos da universidade,<br />
observando que ele próprio<br />
descendente de imigrantes (árabes)<br />
pode chegar à magna direção<br />
da UFPR. Conclamou a todos para<br />
participarem dos eventos do centenário<br />
de fundação da UFPR que serão<br />
desenvolvidos a partir do próximo<br />
ano, mas que a Exposição sobre<br />
a Imigração <strong>Judaica</strong> no Paraná abria<br />
o conjunto de eventos comemorativos<br />
a essa data histórica.<br />
Na continuidade<br />
foi aberta a<br />
mostra fotográfica<br />
e a exibição dos<br />
objetos religiosos<br />
judaicos para a visitação,oportunidade<br />
em que teve<br />
lugar um coquetel<br />
e o lançamento<br />
oficial do livro de<br />
Sara Schulman "O<br />
teatro na coletividade judaica curitibana",<br />
um apanhado histórico e<br />
iconográfico cultural da comunidade<br />
desde os primórdios de sua<br />
constituição.<br />
No dia 22/6, o professor Gabriel<br />
Schulman, mestre em direito pela<br />
UFPR e professor da Universidade<br />
Positivo fez a abertura da palestra<br />
proferida pelo professor e historiador<br />
Sérgio Feldman, da Universidade<br />
Federal do Espírito Santo, "Identidade<br />
e Assimilação: a travessia do<br />
Atlântico ou o Êxodo do século XX. O<br />
dilema da identidade judaica".<br />
Numa explanação de alto nível,<br />
Feldman observou que os judeus foram<br />
discriminados através dos séculos,<br />
por motivos religiosos, sociais e<br />
econômicos. Notou que existem divergências<br />
entre historiadores com<br />
enfoques focos diferenciados. A religião<br />
foi a motivação efetiva desde<br />
o surgimento do Cristianismo e as<br />
causas principais a herança da Revelação<br />
e das Escrituras. O Islã também<br />
conflita, mas de maneira menos<br />
intensa e prolongada.<br />
Ele citou a exclusão social, as<br />
leis restritivas e marginalização dos<br />
judeus no Velho Continente, para<br />
abordar em seguida dos movimentos<br />
de integração e obtenção de cidadania,<br />
tanto internos como externos.<br />
Mencionou a Haskalá ou Iluminismo<br />
judaico que quis aproximar<br />
os judeus da sociedade cristã, sem<br />
perder a identidade coletiva e<br />
aprender as línguas dos países,<br />
atuar na sociedade laica; obter direitos<br />
de cidadania; estudar as ciências<br />
e penetrar na cultura de seus<br />
países de adoção. Enfim, ser parte<br />
da cidadania e da "nacionalidade".<br />
Feldman comentou a seguir a saída<br />
dos judeus da Europa Oriental, a<br />
atuação nos movimentos políticos<br />
que almejavam ou democratizar, ou<br />
derrubar as autocracias e o desenvolver<br />
uma vertente nacional judaica<br />
que visava recriar lar nacional judaico,<br />
na terra de Israel, o Sionismo.<br />
O professor ressaltou que no<br />
caso da maioria dos imigrantes estrangeiros<br />
italianos, espanhóis,<br />
portugueses e japoneses que aportaram<br />
no Brasil prevaleceram motivos<br />
de ordem econômicos. Novas<br />
VISÃO JUDAICA • julho de 2011 • Tamuz / Av 5771<br />
1ª Exposição da Imigração <strong>Judaica</strong><br />
na Universidade Federal do Paraná<br />
Fotos: Paulo Kulisch<br />
A partir da esquerda, o Rabino da comunidade, Pablo Berman; a<br />
presidente do ICJBS Sara Schulman; o Reitor da UFPR Zaki Akel<br />
Sobrinho: a presidente da Kehilá, Ester Proveller; e o presidente da<br />
Federação Israelita do Paraná, Manoel Knopfholz<br />
Apresentação do grupo folclórico da comunidade Israelita do Paraná<br />
Foto: Szyja Lorber<br />
Sérgio Feldman fez palestra sobre os judeus no Brasil<br />
oportunidades e ascensão social.<br />
Entre eles, a hipótese de voltar existia<br />
e é alentada. Poucas vezes ocorre,<br />
mas é uma hipótese real.<br />
Já os judeus entre as duas guerras<br />
(1920-1939) abandonaram seus<br />
locais de moradia não pretendendo<br />
voltar aos países de origem e<br />
como apátridas, pois sequer tinham<br />
a cidadania e direitos civis básicos.<br />
E comparou ainda as dificuldades<br />
dos judeus nas novas terras em relação<br />
aos demais imigrantes.<br />
Os imigrantes latinos tinham<br />
ora a língua e a religião em comum,<br />
ora pelo menos uma delas. Portugueses,<br />
espanhóis e italianos têm<br />
alguma proximidade com o ambiente<br />
cultural e linguístico. A aceitação<br />
era mais fácil e houve abertura relativa.<br />
Os alemães, poloneses e<br />
ucranianos já não tinham esta facilidade,<br />
mas são cristãos.<br />
Judeus e japoneses são agudamente<br />
diferenciados e tiveram mais dificuldades<br />
de se integrar ao ambiente,<br />
embora o tivessem conseguido.<br />
Ele ainda explicou que as ondas<br />
imigratórias judaicas foram<br />
motivadas por diversas razões, tais<br />
como: busca de novos horizontes,<br />
tanto no âmbito sócioeconômico,<br />
quanto no sóciopolítico; perseguições<br />
das autocracias/regimes totalitários<br />
da Europa Oriental, por<br />
exemplo, czarismo ou bolchevismo,<br />
ou do totalitarismo<br />
nazifascista ou ainda<br />
fascistóide na<br />
década de 1930.<br />
Especificamente<br />
no caso sionista,<br />
havia ainda que solucionar<br />
a "questão<br />
judaica" através da<br />
criação de lar Nacional/Estado<br />
judaico<br />
na terra de Israel,<br />
frisou.<br />
Sergio Feldman<br />
ainda fez uma analise<br />
profunda sobre<br />
o processo denominado "melting<br />
pot" (cadinho ou mistura cultural)<br />
que levou a uma aproximação com<br />
os valores culturais, a língua, aos<br />
conceitos de vida, pois as necessidades<br />
do cotidiano dificultaram a<br />
manutenção de hábitos como a<br />
guarda do Shabat (sábado judaico)<br />
e da Kashrut (normas dietéticas judaicas)<br />
além de outras tradições. O<br />
foco na educação religiosa como<br />
ênfase maior perdeu terrenos para<br />
os estudos universitários. Trocouse<br />
o Talmud Torá, pela universidade<br />
e pela profissionalização e inserção<br />
social. Mas ele valorizou o<br />
processo da adaptação judaica, que<br />
a despeito da evolução soube e conseguiu<br />
manter vidas suas tradições<br />
e religião.<br />
Reitor da UFPR Zaki Akel Sobrinho<br />
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