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12 TERESINA-PI, SETEMBRO DE 2010<br />
DIAGNÓSTICO GEOAMBIENTAL: ZONA COSTEIRA DO ESTADO DO PIAUÍ<br />
A ciência necessita elaborar novos critérios conceituais,<br />
técnicas e meios mais eficientes para estudar as relações que<br />
ocorrem entre os fenômenos naturais e sociais. Isto só será conseguido<br />
através de trabalhos constantes e intensivos de caráter<br />
específico, com a difusão de métodos e técnicas adequadas de<br />
manejo do meio ambiente, como estratégia de utilização plena<br />
e equilibrada dos recursos naturais, para cumprir seu papel nos<br />
processos de desenvolvimento e planejamento.<br />
Os impactos ambientais induzidos pela pressão humana<br />
são extremamente significativos nas áreas costeiras, trazendo<br />
sérios problemas, sendo, muitas vezes, superiores à capacidade<br />
de assimilação dos sistemas naturais, exercendo pressões no<br />
ambiente ou produzindo vários impactos negativos, como a locação<br />
de materiais impróprios, suporte da infraestrutura e modificação<br />
do escoamento superficial e a drenagem subterrânea,<br />
e desmatamento de áreas naturais.<br />
DIAGNÓSTICO GEOAMBIENTAL<br />
O diagnóstico geoambiental trata de analisar as consequências<br />
das ações ocorridas em uma determinada área, com<br />
o intuito de verificar sua qualidade ambiental. Considera ainda<br />
os efeitos sobre o meio ambiente de uma nova atividade, o estabelecimento<br />
de planos e programas ou novos projetos e possíveis<br />
alternativas. É fundamentalmente um instrumento<br />
específico das políticas ambientais preventivas, com decisões<br />
baseadas em conhecimento dos efeitos ambientais de uma determinada<br />
ação, sobretudo nos planos de urbanização e organização<br />
do espaço, oferecendo subsídios para o desenvolvimento.<br />
Este diagnóstico foi obtido através da observação e análise<br />
das condições ambientais, considerando-se as interrelações<br />
entre os componentes físicos, biológicos e humanos, coletados<br />
através de estudos sistemáticos (de campo e gabinete), sendo<br />
posteriormente interpretados com visão crítica, com o intuito<br />
de serem aplicados nas propostas de desenvolvimento.<br />
Avaliação e análise dos impactos ambientais<br />
A avaliação e análise dos impactos ambientais passaram<br />
a serem vistos como uma atividade sistematizada e institucionalizada,<br />
sendo incorporada ao processo de desenvolvimento,<br />
tornando-se parte constituinte das políticas ambientais, que<br />
abrangem não só a análise dos aspectos físicos e biológicos,<br />
mas contempla também os aspectos sociais e econômicos.<br />
A partir das características naturais e antrópicas dominantes,<br />
foram estabelecidos os graus de artificialização e a caracterização<br />
antrópica foi obtida através da tipologia dos sistemas<br />
A extensão rural no Brasil surge impulsionada pelo capitalismo<br />
norte-americano tendo como objetivo inserir nossa<br />
agricultura na chamada modernidade. As tradições dos agricultores<br />
e suas técnicas produtivas são vistas como inadequadas<br />
e insuficientes, a ponto de se achar que o agricultor não é<br />
capaz nem mesmo de adaptar suas próprias tecnologias, o que<br />
demonstra uma visão preconceituosa do camponês e do seu<br />
meio de trabalho (CANUTO, 2005).<br />
Nos cinco anos de exílio no Chile, Paulo Freire trabalhou<br />
como consultor da UNESCO. Em 1969 foi publicada em espanhol<br />
sua obra: Extención o Comunicación?, pelo Instituto<br />
de Capacitación e Investigación en Reforma Agrária - ICIRA,<br />
em Santiago do Chile. “Mais do que uma análise do trabalho<br />
do agente de extensão como educador, equivocadamente chamado<br />
extensionista, a obra faz uma síntese muito profunda do<br />
papel que Freire assinala à educação compreendida em sua<br />
perspectiva verdadeira, que não é outra senão a de humanizar<br />
o homem na ação consciente que este deve fazer para transformar<br />
o mundo”, assinala o pensador chileno Jacques Chonchol<br />
(2006).<br />
Segundo Freire, na ação extensiva do conhecimento: um<br />
sujeito leva o conhecimento a outro, faz com que a prática<br />
“extensionista” facilmente caia no uso de técnicas de propaganda,<br />
de persuasão, utilizando-se de forma abundante dos<br />
chamados “meios de comunicação em massa”. À pergunta que<br />
dá título ao livro: “Extensão ou Comunicação?”, responde-se<br />
negativamente à extensão e afirmativamente à comunicação.<br />
Comunicação pressupõe uma sapiência – palavra antiga<br />
que engloba “sabedoria” e “ciência”. Na Educação, (comunicação)<br />
trata-se de transformar as informações em conheci-<br />
DIVULGAÇÃO<br />
de produção (uso da terra) e dos impactos ambientais advindos<br />
desse uso. Ressalte-se que estes tópicos serão estudados, seguindo-se<br />
a ordem estipulada quando da determinação dos indicadores<br />
naturais, potencialidades, limitações e impactos.<br />
1. Praias e campo de dunas: os impactos ambientais<br />
estão vinculados ao desenvolvimento de núcleos urbanos e<br />
a pesca predatória. As formas de uso e ocupação não observaram<br />
as limitações impostas pela dinâmica natural, constatando-se<br />
ocupações residenciais de diversas tipologias,<br />
construção de áreas de lazer, instalações comerciais, estruturação<br />
de rodovias, além da retirada de sedimentos para a<br />
construção civil, em função do crescente incremento de<br />
construção de segundas residências, comércio e infra-estrutura<br />
para recreação e lazer.<br />
2. Planícies fluviais: os impactos ambientais decorrem<br />
das atuais formas de uso e ocupação, principalmente as relacionadas<br />
ao extrativismo vegetal, provocando desmatamento<br />
das margens dos cursos de água com a retirada da<br />
vegetação nativa para uso energético, construção de embarcações,<br />
habitações e cercas, causando modificações<br />
que levam ao aumento da temperatura, evaporação hídrica<br />
superficial e edáfica, aumentando a perda de água do solo.<br />
Através do diagnóstico ambiental, constatou-se o aumento<br />
do processo de erosão nas margens dos canais fluviais e<br />
sua capacidade de retenção de águas superficiais e produtividade<br />
biológica.<br />
3. Planícies flúvio – marinhas: com relação ao diagnóstico<br />
ambiental, observou-se que a dinâmica natural atua de<br />
forma significativa, em função do recobrimento vegetal propiciado<br />
pelo manguezal e pela deposição sedimentar ao longo<br />
dos cursos de água e nas margens dos canais. Atualmente verifica-se<br />
um gradativo aumento das atividades humanas relacionadas<br />
ao extrativismo vegetal e animal, agricultura e<br />
construção de salinas, ocorrendo, ainda, em algumas áreas, a<br />
EDUCAÇÃO E EXTENSÃO RURAL<br />
mento, de transformar o conhecimento em sapiência. Ensinar<br />
a viver necessita não só dos conhecimentos, mas também da<br />
transformação do conhecimento adquirido em sapiência, adverte<br />
E. Morin (2009) na sua obra Cabeça bem-feita.<br />
Em Pedagogia da autonomia, Freire (1996) elenca uma<br />
série de saberes necessários à prática educativa transformadora,<br />
sugere então uma pedagogia fundada na ética, no respeito<br />
à dignidade e à própria autonomia do educando. Para<br />
Freire, formar é muito mais do que puramente treinar o educando<br />
no desempenho de destrezas e nos adverte da malvadeza<br />
neoliberal e do cinismo de sua ideologia que não favorece a<br />
transformação da curiosidade ingênua – inerente de todo ser<br />
humano - em curiosidade crítica ou epistemológica.<br />
Assim, no Brasil, a partir dos escritos de Freire e também<br />
devido ao término do crédito agrícola subsidiado a partir dos<br />
anos 1980 (LISITA, 2009), inicia-se uma nova proposta de extensão<br />
rural que preconiza a construção de uma “consciência<br />
crítica” nos extensionistas, fomentada, inclusive pela “Política<br />
Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural” (2009)<br />
brasileira. O agente de extensão, apesar de toda a orientação<br />
dos órgãos públicos de extensão rural, ao contrário, tem dificuldade<br />
de construir espaços educativos diferentes, de diálogo<br />
e respeito pela experiência do camponês, daí a importância de<br />
se estar sempre apontando e re-apontando as leituras e debates<br />
das obras de Freire, caso se queira fazer educação em sua perspectiva<br />
verdadeira.<br />
Que seria, então, segundo Freire (2006), a verdade da prática<br />
educativa “extensionista”? Responde o autor: “A nós, não<br />
nos é possível persuadir a aceitarmos a persuasão para aceitação<br />
da propaganda como uma ação educativa. Não vemos como<br />
introdução de atividades turísticas.<br />
4. Tabuleiros costeiros: os impactos ambientais estão condicionados<br />
às condições de xeromorfismo bem mais acentuadas<br />
que nas outras unidades ambientais. Devido ao processo<br />
de urbanização, que vem se desenvolvendo, bem como as atividades<br />
agropecuárias, tanto a vegetação natural como a secundária<br />
têm sido continuamente degradadas. Na avaliação<br />
dos impactos ambientais, constatou-se que o tabuleiro costeiro<br />
requer soluções que reduzam os efeitos negativos como a diminuição<br />
da produtividade biológica; alterações no funcionamento<br />
e redução da disponibilidade dos recursos naturais.<br />
CONCLUSÕES<br />
Recomenda-se a priorização das pesquisas científicas<br />
e desenvolvimento tecnológico voltados para as atividades<br />
socioeconômicas e proteção ambiental, no sentido de diagnosticar<br />
o estado, potencialidades e limitações das unidades<br />
ambientais, de acordo com as necessidades das<br />
comunidades locais.<br />
A incapacidade de atender à demanda de serviços de transporte,<br />
habitação, saneamento, saúde e educação vem criando<br />
um quadro crítico nas localidades, acentuando a degradação<br />
ambiental e deterioração da qualidade de vida, causando sérios<br />
problemas e prejuízos às atividades turísticas e de lazer, acentuando<br />
o processo de urbanização desordenada e destruição de<br />
áreas de interesse ecológico.<br />
Recomenda-se a adoção de medidas de proteção ambiental<br />
na concepção, implantação e operação dos empreendimentos<br />
potencialmente impactantes e a priorização no<br />
zoneamento das funções de turismo, lazer, proteção ambiental,<br />
cultural e histórica dos bens e recursos costeiros, apontando<br />
espaços favoráveis à ocupação produtiva para<br />
expansão e melhoria da oferta de<br />
serviços básicos. De modo geral,<br />
a zona costeira do Estado do Piauí<br />
necessita de uma maior articulação<br />
entre os diversos setores envolvidos,<br />
na busca de inovações<br />
tecnológicas nos métodos e práticas,<br />
maior eficiência e controle<br />
dos processos e observância da legislação<br />
ambiental.<br />
Agostinho Paula B. Cavalcanti<br />
Prof. Dr. da UFPI agos@ufpi.br<br />
se possa conciliar a persuasão para a aceitação da propagando<br />
como a educação...” Essa prática “educativa”,<br />
porém, foi reproduzida por muito tempo por técnicos, caracterizando<br />
o camponês apenas como um aplicador de técnicas.<br />
Mas o movimento de revalorização da cultura<br />
camponesa fomentado pelos movimentos sociais permitiunos<br />
enxergar que não seria possível, para o camponês, sobreviver<br />
às mudanças, sem que tivesse implícita em si a<br />
capacidade de pesquisar, mesmo que de forma mais simplificada,<br />
[a educação] só é verdadeira quando encarna a busca<br />
permanente que fazem os homens, uns com os outros, no<br />
mundo em que estão, de seu Ser Mais.<br />
Não podemos esquecer que a realidade é cambiante e<br />
mutável, como já ensinava o velho filósofo de Éfeso, a<br />
guerra é o pai e a mãe de todas as coisas, ou seja, a discórdia,<br />
a contrariedade é a origem de tudo no mundo. O<br />
mundo é um eterno fogo que se transforma. O que implica<br />
que nossos sonhos e realizações<br />
sejam projetos pelos quais devemos<br />
lutar “Sua realização não se verifica<br />
facilmente, sem obstáculos.<br />
Implica, pelo contrário, avanços,<br />
recuos, marchas às vezes demoradas.<br />
Implica luta...” (FREIRE, Pedagogia<br />
da Indignação, 2000).<br />
Felipe César M. Tupinambá<br />
Prof. Msc. Colégio Agrícola<br />
de Floriano da UFPI<br />
felipe_tupinamba@yahoo.com.br