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As questões ambientais e, em particular, as relacionadas<br />

à conservação da natureza, estão entre as mais críticas<br />

para a humanidade, pois afetam as condições de<br />

sobrevivência da vida sobre a terra e as relações entre<br />

grupos sociais e sociedades. No entanto, a conservação<br />

é frequentemente definida somente em seus aspectos técnicos<br />

e científicos, sem inseri-la em contextos mais amplos<br />

relativos aos estudos das relações homem e<br />

natureza, posto que os seres humanos dependem da biodiversidade<br />

e da capacidade dos ecossistemas de fornecer<br />

produtos e serviços que sustentem modos de vida saudáveis,<br />

conservando ambientes naturais.<br />

A literatura que aborda a interação dos recursos naturais<br />

e populações humanas tem caracterizado diversas<br />

linhas de pesquisa, como a Etnobiologia, definida como<br />

o estudo do conhecimento e das conceituações desenvolvidas<br />

por qualquer sociedade a respeito do mundo vegetal<br />

e animal. Como tema interdisciplinar, possui vários<br />

campos, como a Etnobotânica, que trata do estudo das interrrelações<br />

das sociedades humanas com os vegetais, e<br />

a Etnozoologia, que visa à compreensão dos modos de<br />

interação entre o homem e a fauna, dentre outras áreas.<br />

Os pescadores artesanais estão em constante contato<br />

com a natureza através da atividade pesqueira e possuem<br />

um conhecimento único e detalhado sobre a dinâmica do<br />

ecossistema fluvio-estuarino-lagunar. A reprodução e<br />

criação de estratégias de pesca com base na experimentação<br />

se baseiam na utilização dos recursos naturais do<br />

ambiente onde vivem, permitindo o desenvolvimento<br />

econômico, social e cultural.<br />

Vários trabalhos de enfoque etnobiológico com pescadores<br />

artesanais vêm sendo desenvolvidos no Brasil,<br />

concentrando-se principalmente nas regiões Sudeste,<br />

Norte e Nordeste, versando sobre análise de categorias<br />

de uso (medicinal, alimentícia, artesanal, tecnológica,<br />

etc.), da diversidade de espécies úteis, da associação do<br />

conhecimento às tradições locais, da classificação das<br />

(etno) espécies, do registro de aspectos socioeconômicos<br />

e culturais, da potencialidade das artes de pesca e sobre<br />

os pescados capturados. No Piauí, recentemente foram<br />

desenvolvidos dois trabalhos de cunho etnobiológico,<br />

com pescadores artesanais sob a orientação da Profa.<br />

Dra. Roseli Barros, através do Programa de Pós-Graduação<br />

em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade<br />

Federal do Piauí.<br />

Um deles foi realizado por Alexandre Nojoza Amorim,<br />

na comunidade de pescadores artesanais do bairro<br />

Poti Velho, o qual, através de estudo etnobotânico, caracterizou<br />

os quintais como espaços de convivência e de<br />

cultivo, na maioria, de plantas medicinais, principalmente<br />

exóticas, inferindo que a concentração do<br />

conhecimento tradicional na<br />

população adulta<br />

e do gênero feminino<br />

ocorre devido<br />

à influência<br />

urbana e a maior<br />

tendência das mulheres<br />

em cuidar da<br />

residência enquanto<br />

os homens pescam.<br />

Ao descrever os<br />

modos e artes de<br />

pesca e usos das espécies<br />

vegetais na<br />

construção de embarcações,<br />

constatou a<br />

transmissão familiar<br />

do conhecimento sobre<br />

a carpintaria naval, e<br />

investigou acerca da Etnozoologia,<br />

registrando<br />

principalmente o caráter<br />

da pesca de subsistência<br />

TERESINA-PI, SETEMBRO DE 2010<br />

A FLORA E FAUNA ÚTEIS DE PESCADORES ARTESANAIS<br />

e a zooterapia com peixes.<br />

O outro<br />

foi desenvolvido<br />

por Rosemary<br />

da<br />

Silva Sousa<br />

em comunidades<br />

pesqueiras<br />

da APA do<br />

Delta do Parnaíba,<br />

o qual<br />

investigou a<br />

distribuição de<br />

conhecimento<br />

sobre a flora e<br />

fauna úteis, identificando<br />

que há<br />

um compartilhamento<br />

de conhecimento<br />

da flora útil<br />

por gênero e que<br />

os idosos são os<br />

detentores do saber<br />

na comunidade.<br />

Quanto à etnozoologia,<br />

inferiu que os<br />

homens possuem<br />

maior conhecimento,<br />

por estarem em maior<br />

contato com a natureza<br />

do que as mulheres,<br />

que se dedicam<br />

aos afazeres domésticos,<br />

e os jovens, por atuarem no turismo e artesanato,<br />

usando recursos da fauna na<br />

confecção de produtos.<br />

O conhecimento etnobotânico e etnozoológico<br />

deve ser considerado na conservação<br />

e preservação da biodiversidade e da<br />

cultura local, valorizando e evidenciando o<br />

direito e a necessidade da participação das populações,<br />

nos planos de manejo, apontando caminhos<br />

para estudos que abordem a<br />

especificidade do conhecimento local que contribuam<br />

na ciência convencional e nas relações<br />

entre as populações de pescadores artesanais e<br />

o ambiente, incentivando atividades sustentáveis<br />

e tornando esses dados úteis na gestão e conservação<br />

de áreas.<br />

FOTOS: DIVULGAÇÃO<br />

Rosemary da Silva Sousa – Mestre em<br />

Desenvolvimento e Meio Ambiente<br />

biologarosemary@gmail.com<br />

Alexandre Nojoza Amorim – Mestre em<br />

Desenvolvimento e Meio Ambiente<br />

alexandrenojoza@hotmail.com<br />

Roseli Farias M. de Barros – Profa. Dra. da UFPI<br />

rbarros.ufpi@yahoo.com.br<br />

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