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IX e X NERVOS CRANIANOS - Instituto Paulo Brito

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GLOSSOFARÍNGEO E VAGO: <strong>IX</strong> e X <strong>NERVOS</strong> <strong>CRANIANOS</strong><br />

Esses nervos estão intimamente relacionados com funções similares, tendo ramos motores e<br />

autonômicos com núcleos de origem no bulbo. Possuem fibras aferentes somáticas gerais (ASG)<br />

e fibras aferentes viscerais gerais (AVG), fibras aferentes viscerais especiais (AVE), fibras<br />

eferentes viscerais gerais (EVE) e eferentes viscerais especiais.<br />

Ambos os nervos foram escritos desde a antiguidade. Galeno de Pérgamo (131-201 AC) incluiu os<br />

nervos nas suas descrições de neuroanatomia, agrupando o <strong>IX</strong>, X e XI como um nervo único.<br />

Séculos mais tarde, a anatomia de ambos os nervos, foi detalhada nos estudos do anatomista<br />

prussiano Samuel Thomas Von Soemmering (1755-1830), no seu tratado sobre os 12 nervos<br />

cranianos. No século retrasado, o russo Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936) e E. O. Schumov-<br />

Simanovskaja publicaram seu artigo em 1895, sobre a inervação do nervo vago na secreção<br />

gástrica em cachorro.<br />

ANATOMOFISIOLOGIA DO <strong>IX</strong> NERVO<br />

De acordo com o seu nome o glossofaríngeo distribui-se principalmente para a língua e faringe.<br />

Leva fibras ASG e AVE, gustativas, do terço posterior da língua. Fornece inervação sensorial geral<br />

à faringe, a área da amígdala, a superfície interna da membrana timpânica e a pele do ouvido<br />

externo. Traz aferentes viscerais do corpo carotídeo e do seio carotídeo. Os seus neurônios<br />

motores esqueléticos inervam o músculo estilofaríngeo e seu componente parassimpático inerva<br />

a glândula parótida.<br />

As influências do neurônio motor superior sobre o <strong>IX</strong> nervo originam-se do córtex motor primário<br />

e descem pelos tratos corticobulbares para fazer sinapse na parte superior do núcleo ambíguo na<br />

região pósterolateral do bulbo (Fig.1).


2<br />

A inervação cortical é bilateral. As células do núcleo ambíguo são braquiomotoras e inervam<br />

músculos derivados do III, IV e V arcos brânquias. De acordo com a tendência dos axônios EVE a<br />

formar alças circulares internas, as fibras do <strong>IX</strong> primeiro se dirigem pósteromedial em sentido ao<br />

assoalho do IV ventrículo e depois se voltam e seguem lateralmente e para frente. O nervo<br />

emerge do bulbo como três a seis radículas no sulco dorsolateral do bulbo situado entre a oliva<br />

inferior e o pedúnculo cerebelar inferior, entre as fibras emergentes do VII nervo acima e aquelas<br />

do X nervo a baixo e alinhado com elas (Fig.3). Essas radículas se unem e formam um nervo<br />

único, que sai do crânio pelo forame jugular. O <strong>IX</strong> nervo sai do crânio pelo forame jugular, lateral<br />

e anterior ao X e XI nervos numa bainha dural separada. Depois de sair do crânio, o <strong>IX</strong> nervo<br />

entra na bainha carotídea, desce entre a veia jugular interna e a artéria carótida interna,<br />

mergulha sobre o processo estilóide e passa entre as artérias carótidas interna e externa. Curva-<br />

se para frente, formando um arco do lado do pescoço para chegar à parede lateral da faringe e<br />

desaparece sob o músculo hioglosso para se dividir nos seus ramos terminais. Dois gânglios se<br />

situam sobre o nervo imediatamente caudal ao forame jugular; o gânglio glossofaríngeo superior<br />

e o glossofaríngeo inferior ou petroso (Fig.2).


3<br />

O gânglio glossofaríngeo superior é uma pequena dilatação anômala da raiz superior,<br />

inconstante, não tem ramos e se funde frequentemente com o gânglio inferior. O <strong>IX</strong> nervo tem<br />

seis ramos terminais: a) o nervo timpânico de Jacobson e seus ramos; b) carotídeo; c) faríngeo; d)<br />

muscular; e) tonsilar; e f) lingual. O <strong>IX</strong> nervo tem conexões importantes com o V, VII e X nervos<br />

com os ramos simpáticos cervicais.<br />

Via salivatória inferior<br />

O <strong>IX</strong> nervo fornece inervação parassimpática à glândula parótida e as membranas mucosas da<br />

faringe e da parte pósteroinferior da boca, veja fig.2. Os núcleos parassimpáticos no tronco<br />

cerebral são os: salivatório superior e inferior e o núcleo motor dorsal do vago (NMDV). As<br />

células situadas principalmente no núcleo salivatório inferior e algumas do NMDV são fibras do<br />

tipo EVG, emitem prolongamentos que se dirigem à área retro-olivar, emergindo e incorporando-<br />

se ao <strong>IX</strong> nervo. As fibras parassimpáticas passam pelo gânglio glossofaríngeo superior e inferior<br />

sem fazer sinapse. Logo abaixo do gânglio inferior, saem e formam o nervo timpânico, que sobe


4<br />

até a cavidade timpânica por um pequeno canal na superfície inferior do osso temporal entre o<br />

canal carotídeo e a fossa jugular (canalículo timpânico). O nervo timpânico de Jacobson ramifica-<br />

se na cavidade timpânica para fazer parte do plexo timpânico. O nervo petroso menor é uma<br />

continuação do nervo timpânico que sai do plexo timpânico, passa brevemente pela fossa<br />

craniana média e sai pelo forame oval para fazer sinapse no gânglio ótico. As fibras<br />

pósganglionares originárias das células do gânglio ótico transportam impulsos secretores<br />

parassimpáticos para a glândula parótida. As células do núcleo salivatório inferior são<br />

colinérgicas de organização espalhadas na formação reticular e consideradas equivalente ao<br />

NMDV.<br />

Vias pressorreceptoras e quimiorreceptoras<br />

Uma das funções mais importantes do <strong>IX</strong> nervo é a de levar fibras aferentes viscerais do corpo<br />

carotídeo e do seio carotídeo envolvidas no controle reflexo da freqüência cardíaca, pressão<br />

arterial e respiração. O ramo carotídeo do <strong>IX</strong> nervo (nervo do seio carotídeo de Hering) origina-se


5<br />

logo abaixo do forame jugular e desce pela a artéria carótida interna até o seio carotídeo e o<br />

corpo carotídeo. Leva impulso dos quimiorreceptores do corpo carotídeo e dos barorreceptores<br />

do seio carotídeo para termina centralmente no núcleo do trato solitário. A parede do seio<br />

carotídeo apresenta uma túnica média delgada, enquanto a adventícia é espessa, e nessa<br />

encontram-se terminações nervosas das fibras aferentes do <strong>IX</strong> nervo. Devido à túnica média ser<br />

delgada, a adventícia receberá todo o impacto da pressão interna do vaso, local onde ocorrerá a<br />

estimulação das terminações nervosas ou área pressorreceptora. Qualquer aumento da pressão<br />

arterial na carótida excitará os barorreceptores do seio carotídeo e os impulsos são levados pelo<br />

<strong>IX</strong> nervo para o núcleo do trato solitário. Neurônios de segunda ordem do núcleo solitário<br />

projetam-se para o NMDV, o que gera redução da pressão arterial e frequência cardíaca através<br />

das fibras do X nervo pré e pósganglionares que se projetam para o nó sinoatrial, atrioventricular<br />

e musculatura cardíaca atrial.<br />

Por sua vez, os órgãos receptores chamados de corpúsculos carotídeos encontram-se formados<br />

de células epitelióides, ricamente supridas de terminações nervosas do <strong>IX</strong> e X nervos e de<br />

sinusóides. Essas células que são chamadas de glomus apresentam vesículas com


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neurotransmissores, sugerindo dopamina. Existem canais de K e de Ca sensíveis à concentração<br />

de oxigênio no sangue, assim como a variação de outras substâncias, como, por exemplo, o<br />

dióxido de carbono. Quando diminui a concentração de O2, ocorre bloqueio dos canais de K e<br />

abertura dos canais de Ca no corpúsculo carotídeo. Com a entrada de Ca, ocorre despolarização<br />

da membrana e aumenta a concentração do Ca no citosol, em seguida, ocorre à liberação do<br />

neurotransmissor na fenda sináptica, dopamina, com posteriores potenciais no <strong>IX</strong> nervo até o<br />

centro respiratório, que por via vagal, regulará a ventilação pulmonar.<br />

Via motora<br />

As fibras braquiomotoras do <strong>IX</strong> vão até a faringe. O ramo muscular segue ao longo da borda<br />

posterior do músculo estilofaríngeo e termina no corpo do músculo. A maior parte dos músculos<br />

da faringe é suprida tanto pelo <strong>IX</strong> como X nervos. O <strong>IX</strong> nervo supre o músculo estilofaríngeo<br />

isolado que tem a função de elevar e dilatar a faringe.<br />

Via sensitiva<br />

Os neurônios sensoriais do <strong>IX</strong> nervo são pseudounipolares e estão localizados no gânglio<br />

glossofaríngeo superior e inferior. Há fibras ASG que levam sensação exteroceptiva comum das<br />

membranas mucosas da cavidade timpânica, das células aéreas da mastóide e do canal auditivo<br />

através do plexo timpânico e do ramo timpânico. A sensação da faringe, da amígdala e do terço<br />

posterior da língua segue pelos ramos faríngeo, tonsilar e lingual. Os processos centrais dessas<br />

células terminam nos núcleos do V nervo e suas conexões centrais são as mesmas de outras<br />

fibras ASG no núcleo ventral pósteromedial do tálamo; fibras AVG levam informações do corpo<br />

carotídeo e do seio carotídeo, assim como sensação visceral da laringe; e fibras AVE dos ramos<br />

linguais do <strong>IX</strong> nervo levam sensações gustativas, principalmente azedo e amargo, das papilas<br />

circunvaladas, das membranas mucosas da base e das papilas gustativas no terço posterior da<br />

língua, das pregas glossoepiglótica e faringoepiglótica e da superfície lingual da epiglote. Essas<br />

fibras terminam na parte superior do núcleo do trato solitário (gustativo). Suas conexões centrais<br />

são as mesmas das fibras gustativas do VII nervo. Outras fibras que levam AVE transportam a<br />

sensibilidade tátil, térmica e dolorosa das membranas mucosas da faringe, do palato mole e do<br />

terço posterior da língua atravessam o gânglio petroso e terminam no trato e no núcleo solitário.


7<br />

Via gustatória<br />

As sensações gustativas que partem das papilas<br />

circunvaladas, das foliadas das faces laterais do<br />

terço posterior da língua e botões da<br />

nasofaringe são levadas a níveis superiores do<br />

SNC, pelos nervos ramos linguais do <strong>IX</strong> nervo,<br />

porque essa parte da língua se origina do<br />

terceiro arco faríngeo junto com o <strong>IX</strong> nervo. As<br />

sensações gustativas que partem dos botões da<br />

epiglote e do esôfago superior são levadas pelo<br />

X nervo a níveis superiores do SNC. A partir dos<br />

gânglios do <strong>IX</strong> nervo, principalmente o inferior,<br />

saem os prolongamentos das células<br />

pseudounipolares cujos prolongamentos<br />

periféricos atingem os corpúsculos gustativos e<br />

os centrais o neuroeixo. Os periféricos atingem as células neuroepiteliais localizadas nesses<br />

corpúsculos no terço posterior da língua. Pela excitação química esses corpúsculos disparam em<br />

sentido do núcleo solitário. Esse núcleo pertence à coluna visceral especial origina o segundo<br />

neurônio em sentido ao núcleo ventral pósteromedial do tálamo, seguindo como terceiro<br />

neurônio para o úncus, parte anterior da ínsula, a parte anterior da porção opercular parietal do<br />

giro póscentral para que o estimulo torne-se consciente.<br />

Foi possível determinar quatro sabores básicos: salgado, doce, azedo e amargo. Mas, as fibras do<br />

<strong>IX</strong> nervo respondem melhor aos estímulos azedo e amargo e, as do X nervo, os do azedo e da<br />

água pura. O sabor azedo é o sabor dos ácidos, inclusive dos aminoácidos essenciais que nosso<br />

organismo utiliza para síntese de proteína. O sabor amargo representa um sinal de possível<br />

toxicidade, sendo muitas vezes rejeitado por mecanismos reflexos. A transdução do sabor azedo<br />

deve-se ao íon hidrogênio que se dissocia dos ácidos presentes, principalmente das frutas<br />

cítricas. Com a ingestão de ácidos os íons H se acumulam no meio extracelular e move-se através<br />

dos canais de Na. Já a transdução do sabor amargo envolve moléculas receptoras acopladas à


8<br />

gustatina, e utiliza o IP3, sintetizado pela enzima fosfolipase A, como segundo mensageiro. Os<br />

gustantes típicos são quinino, cafeína e sais de césio e de magnésio. O IP3 atua diretamente<br />

sobre os estoques extracelulares de Ca, liberando esse íon para o citosol para liberar o<br />

neurotransmissor direto para os terminais aferentes (possivelmente sem potencial receptor). Os<br />

neurônios sensoriais do <strong>IX</strong> nervo projetam ao núcleo do trato solitário. Os neurônios de segunda<br />

ordem distribuem a informação para diversos núcleos do tronco cerebral cuja função é<br />

estabelecer o ritmo respiratório e cardíaco, além de controlar o diâmetro das vias aéreas e dos<br />

vasos sanguíneos, através da inervação motora dos músculos respiratórios, cardíaco, da<br />

musculatura lisa da arvore brônquica e dos vasos. Portanto, a informação sobre taxa de oxigênio<br />

no sangue não chega ao córtex cerebral.<br />

O gânglio ótico<br />

Está situado na fossa infratemporal, imediatamente por debaixo do forame oval, entre o nervo<br />

maxilar inferior e o músculo tensor do véu do palato, e ventral à artéria meningéa média e por<br />

trás do músculo pterigoideo medial. Sua principal raiz motora, parassimpática, é o nervo petroso<br />

superficial menor. Essas fibras préganglionares, derivadas do <strong>IX</strong> nervo, fazem sinapse no gânglio.<br />

As fibras pósganglionares passam para o nervo aurículotemporal que contem as fibras motoras<br />

secretoras para a parótida. A raiz simpática do gânglio ótico é um filamento procedente do plexo<br />

meníngeo médio, são pósganglionares derivadas do gânglio cervical superior, passam pelo<br />

gânglio ótico e por intermédio do nervo aurículotemporal, suprem os vasos sanguíneos da<br />

parótida. Algumas fibras responsáveis pelo paladar nos dois terços posteriores da língua podem<br />

passar através do gânglio ótico, que atingem por uma comunicação da corda do tímpano, e<br />

deixam-no por uma comunicação ao nervo do canal pterigoideo (Fig.6).


9<br />

O exame clínico<br />

Examinar o <strong>IX</strong> nervo é uma tarefa difícil devido as suas relações com demais nervos cranianos,<br />

principalmente com o X nervo e, o acesso ao exame que se torna inacessível. Pacientes com<br />

lesões do <strong>IX</strong> nervo podem ter teoricamente perda sensorial detectável, mas não é possível<br />

encontrá-la em pacientes que foram submetidos à secção do <strong>IX</strong> nervo devido à neuralgia do<br />

glossofaríngeo. O único músculo que recebe inervação motora do <strong>IX</strong> nervo é o estilofaríngeo, que<br />

mostra um ligeiro abaixamento do véu do palato em repouso no lado lesado (veja mais detalhes<br />

neste site, no ícone trabalhos científicos: neuralgia vagoglossofaríngea).<br />

A atividade salivar da secreção da glândula parótida passa através do ducto de Stensen, por<br />

dentro da bochecha até desaguar ao nível superior do segundo molar superior. Sua secreção é<br />

simétrica e a quantidade de saliva pode variar, mas a quantidade pode ser testada ao se chupar<br />

uma rodela de limão. A redução de um lado sugere disfunção autonômica do <strong>IX</strong> nervo ipsilateral.


10<br />

A aferência é feita por fibras gustativas e a eferência pela via parassimpática dos núcleos<br />

salivatório superior e inferior.<br />

O reflexo nauseoso ocorre ao se tocar à faringe ou o palato ou a base da língua, dependendo da<br />

sensibilidade de cada indivíduo. A resposta motora consiste na constrição e elevação da<br />

orofaringe, causando elevação da rafe da linha média do palato e da úvula e contração dos<br />

constritores da faringe. O referido reflexo só deve ser valorizado quando o mesmo for<br />

assimétrico, pois pessoas normais podem não apresentá-lo bilateralmente. A abolição unilateral<br />

do reflexo nauseoso indica lesão do neurônio inferior, uma vez que os nervos bulbares recebem<br />

inervação supracortical bilateral, e uma lesão supracortical unilateral não causa déficit<br />

significante. O reflexo nauseoso pode ser vivo ou exaltado em lesões corticais bilaterais como na<br />

paralisia pseudobulbar e esclerose lateral amiotrófica. O reflexo nauseoso pode ser reduzido em<br />

idosos e fumantes crônicos. A aferência é mediada pelo <strong>IX</strong> nervo e a eferência pelo <strong>IX</strong> e X nervos.<br />

Há três componentes motores do reflexo nauseoso: elevação do palato mole para fechar a<br />

nasofaringe, fechamento da glote para proteger a via aérea e constrição da faringe para impedir<br />

a entrada de substância para laringe. O reflexo nauseoso não é determinante para a deglutição<br />

normal.<br />

O mecanismo neuromuscular da deglutição<br />

O processo de deglutição é uma sequência uniforme e coordenada de contrações musculares<br />

que impele o alimento da boca para o esôfago. No caso de abolição do reflexo nauseoso o V<br />

nervo contribui para a sensação palatina e pode possibilitar preservação paradoxal do reflexo<br />

nauseoso.<br />

Primeiro tempo da deglutição: o bolo alimentar está situado na região medial do dorso da língua,<br />

sobre um canal de concavidade cranial, formado pelas contrações de certos músculos intrínsecos<br />

da língua. A contração enérgica é realizada por dois músculos: os músculos milohioideos que<br />

constitui a cinta muscular que passa por debaixo da língua e recebem impulsos motores dos<br />

nervos maxilares inferiores ramos do V nervo; e dos músculos retratores da língua, como: o<br />

estiloglosso e hioglosso que se originam na apófise estilóide, são inervados pelo <strong>IX</strong> nervo e o


11<br />

último também pelo XII nervo, empurram o bolo alimentar para faringe, através do anel da<br />

faringe, o que arrasta a língua para cima e para trás.<br />

Segundo tempo da deglutição: a gravidade pouco influencia na descida do bolo alimentar, a<br />

postura não interfere no seu deslocamento. A pressão saída da boca é mais importante para<br />

empurrar o bolo alimentar para faringe Essa pressão na boca passa de 60 para 80 cm de água<br />

que cai para zero no esôfago superior é suficiente para empurrar o bolo alimentar. O<br />

relaxamento do esfincter tem dois mecanismos: um passivo, que é a elevação e o deslocamento<br />

do músculo cricóide, e outro ativo, que é o impulso nervoso trazidos pelas fibras dos nervos<br />

recorrentes. Em circunstâncias da deglutição em repouso as fibras musculares desse esfincter<br />

possuem um tônus de repouso simpático, que mantém dentro do conduto esofágico uma<br />

pressão de 20 a 30 cm de água. A contração tônica do esfincter impele o ar ao esôfago durante a<br />

respiração. A elevação do bloqueio faringolaringeo, que se traduz pela elevação do pomo de<br />

Adão, é a resultante de um movimento de elevação e deslocamento para diante pela contração<br />

dos músculos digástrico (VII nervo), geniohioideo (raiz de C1) e geniohioglosso (XII nervo), e de<br />

outro movimento de elevação e deslocamento em sentido posterior. O segundo movimento está<br />

determinado pelas contrações dos músculos elevadores da faringe, ou seja, os constrictores<br />

médios e inferiores que puxam para cima o osso hióide, toda laringe e parte inferior da faringe;<br />

estilofaringeo inervado pelo <strong>IX</strong> nervo participa da elevação da faringe; faringoestafilino participa<br />

também na elevação da faringe e o estilohioideo inervado pelo VII nervo eleva o osso hióide; e os<br />

demais são inervados pelo ramo interno do XI.<br />

Desordens na função<br />

Lesões isoladas do <strong>IX</strong> nervo são extremamente raras, se é que ocorrem. Portanto, interrupção<br />

cirúrgica do <strong>IX</strong> nervo, verificada na autópsia, não demonstrou perda do paladar ou de outro<br />

prejuízo sensitivo ou motor. Isso sugere que o X nervo pode ser responsável por essas funções,<br />

pelo menos nesses dois casos. Os processos nucleares e infranucleares do <strong>IX</strong> nervo podem ser<br />

afetados por neoplasia e outras massas tumorais como: tumor do glomo jugular; traumatismo<br />

com fratura de base de crânio; doença do neurônio motor; siringobulbia; abscesso retrofaríngeo;<br />

doenças desmielinizantes; lesões de parto; e isquemia do tronco cerebral. Às vezes, pode<br />

acontecer disautonomia cardiovascular que acompanha síndrome de Guillain-Barré.


12<br />

Mas, a lesão mais comum do <strong>IX</strong> nervo é a neuralgia glossofaríngea caracterizada por dor intensa<br />

de caráter lancinante, originada na garganta de um lado com irradiação ao trajeto da trompa de<br />

Eustáquio até a membrana timpânica, canal auditivo externo, por trás do ângulo do maxilar e<br />

parte adjacente do ouvido. A região de gatilho está na faringe, tonsila ou base da língua. A dor<br />

pode ser desencadeada por falar muito, comer, tossir, sorrir. Pode apresentar síncope, convulsão<br />

e, raramente, parada cardíaca por estimulação do reflexo do seio carotídeo, como em colarinho<br />

apertado comprimindo o seio carotídeo. A neuralgia glossofaríngea deve ser diferenciada da<br />

neuralgia do nervo timpânico de Jacobson, em que a dor se limita ao ouvido e a trompa de<br />

Eustáquio (veja neste site, no ícone artigos científicos, procure: neuralgia vagoglossofaríngea,<br />

1986). Lesão do núcleo pósteromedial do tálamo produz hipoageusia ipsilateral.<br />

Na lesão unilateral do <strong>IX</strong> nervo, encontramos: leve disfagia; perda do reflexo nauseoso; desvio da<br />

úvula para o lado oposto; em paciente cooperativo, a diferença de sensibilidade do palato mole e<br />

da faringe entre o lado da lesão e o sadio; a perda dos sabores, azedo e amargo no terço<br />

posterior da língua; redução da secreção da glândula parótida; aceleração do batimento<br />

cardíaco.<br />

ANATOMOFISIOLOGIA DO X NERVO<br />

O termo vago do latim significa errante, por ser o nervo craniano mais longo (Fig.3). Os núcleos<br />

do X nervo são os mesmos do <strong>IX</strong> nervo com funções em comum. O X nervo se liga a quatro<br />

núcleos do tronco cerebral: núcleo ambíguo, NMDV, o núcleo do V nervo e o núcleo do trato<br />

solitário. O núcleo ambíguo é uma coluna de células da formação reticular composta por<br />

neurônios motores multipolares colinérgicos, dividindo-se em uma porção superior e inferior. As<br />

partes caudais do núcleo ambíguo dão origem à parte craniana do XI nervo, enquanto as partes<br />

rostrais dessa coluna dão origem às fibras EVE glossofaríngeas que inervam o músculo<br />

estilofaringeo. O NMDV situa-se no assoalho do IV ventrículo, pósterolateral ao núcleo do XII<br />

nervo e seus neurônios colinérgicos dão origem às fibras préganglionares parassimpáticas (EVG),<br />

sendo responsável pela secreção gástrica. O núcleo do V nervo (veja V nervo). O núcleo do trato<br />

solitário divide-se em: núcleo medial que se estende para baixo em sentido do óbex para se<br />

juntar com o homólogo contralateral e formar o núcleo comissural do X nervo; subnúcleos<br />

dorsomedial e ventrolateral que contêm células que sintetizam encefalina, somatostatina,


13<br />

substância P, colecistoscinina; o subnúcleo dorsolateral ou núcleo gustativo que recebe fibras<br />

AVE do tipo gustativo do nervo intermediário de Wrisberg e do <strong>IX</strong> nervo; e o subnúcleo<br />

parvocelular relacionado com a sensibilidade gustativa.<br />

As fibras aferentes e eferentes do X nervo<br />

O X nervo tem fibras aferentes somáticas gerais (ASG) que se originam nas células do gânglio<br />

superior ou jugular, as fibras aferentes viscerais gerais (AVG) e aferentes viscerais especiais (AVE)<br />

que se originam no gânglio inferior ou nodoso. As fibras aferentes do X nervo penetram na face<br />

lateral do bulbo, anterior ao pedúnculo cerebelar inferior e atravessa parte do trato espinhal do<br />

trigêmio. As fibras cutâneas penetram na parte posterior do espinhal do trigêmio junto com as<br />

fibras ASG. As fibras que entram no trato solitário bifurcam-se em ascendentes e descendentes.<br />

O trato solitário é formado por fibras aferentes viscerais emitidas pelo X nervo, <strong>IX</strong> e


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intermediário de Wrisberg. Na parte superior do núcleo entram as fibras que veem dos dois<br />

terços anteriores da língua (corda do tímpano) e do terço posterior da língua (<strong>IX</strong> nervo) e, na<br />

parte inferior, as fibras AVG do X nervo. Esse nervo emerge do bulbo em uma série de raízes<br />

abaixo do X nervo. O X nervo sai do crânio pelo forame jugular na mesma bainha neural do <strong>IX</strong><br />

nervo e atrás dele. No forame jugular o X nervo situa-se próximo ao bulbo jugular, uma dilatação<br />

da veia jugular interna que aloja o glomo jugular (corpo timpânico) que tem funções similares ao<br />

corpo carotídeo. O X nervo desce pelo pescoço na bainha carotídea entre a artéria carótida e a<br />

veia jugular até a cartilagem da tireóide, seguindo entre a veia carótida comum até a base do<br />

pescoço. Os ramos saem pelo forame jugular para suprir as meninges e o ouvido; outros ramos<br />

saem distal para suprir a faringe e laringe. A parte principal do nervo entra no tórax. O X nervo<br />

tem dois gânglios sensoriais, o superior ou jugular que se localiza na fossa jugular do osso<br />

temporal; e o gânglio inferior ou nodoso que está localizado distal ao forame jugular. Há 10<br />

grandes ramos terminais que se originam em diferentes níveis do X nervo: a) meníngeo, b)<br />

auricular, c) faríngeo, d) carotídeo, e) laríngeo superior, f) laríngeo recorrente, g) cardíaco, h)<br />

esofágico, i) pulmonar, e j) gastrointestinal (Fig.7).<br />

A parte motora do X nervo<br />

O núcleo ambíguo recebe input da área motora do córtex cerebral, particularmente do giro<br />

précentral. O input cortical é bilateral e indireto, predominantemente cruzado. Essas fibras<br />

descem pelo trato corticobulbar e fazem sinapse na formação reticular adjacente que<br />

retransmitem para o núcleo ambíguo. Esse núcleo recebe input sensitivo da laringe, faringe e<br />

vias aéreas que medeiam às ações reflexas da tosse, deglutição e vômito. Existem três ramos<br />

branquiomotores: faríngeo, laríngeo superior e recorrente laríngeo. O ramo faríngeo origina-se<br />

do gânglio nodoso e forma o plexo faríngeo que inerva os músculos constritores da faringe,<br />

exceto o músculo estilofaríngeo inervado pelo <strong>IX</strong> e o tensor do véu do palato inervado pelo V. O<br />

ramo laríngeo superior origina-se do gânglio nodoso e sua parte interna fornece inervação<br />

sensorial às superfícies internas da laringe até as pregas vocais. Recorrente laríngeo origina-se no<br />

tórax e sobe até a laringe e inerva todos os seus músculos, exceto o cricotiroideo que é inervado<br />

pelo ramo externo do laríngeo superior. Os músculos da laringe executam três funções básicas:<br />

os músculos abduzem as cordas vocais para entrada de ar na traquéia; a contração do músculo


15<br />

aritenoideo bilateral aduz as cartilagens aritenoidéas, aproximando as cordas vocais para fechar<br />

a glote na deglutição; e os músculos tireoaritenoideos regulam a tensão das cordas vocais. O<br />

palatoglosso é o único músculo da língua suprido pelo vago; esse músculo origina-se no palato<br />

mole e passa através da língua de modo transverso e, junto com o músculo estiloglosso, atuam<br />

elevando o dorso da língua (Fig.4).<br />

Déficit motor dos músculos da laringe<br />

Cricotiroideo: perda da tensão; alongamento da corda vocal na fonação; perda do tom alto;<br />

rouquidão e fadiga fácil; inspiração normal ou dispnéia ou estridor. Tiroaritenoideo: abdução<br />

com alguma dificuldade, mas adução com leve prejudicada; com paralisia bilateral a glote tem<br />

uma aparência oval ao invés de linear na fonação; voz rouca. Sem dispnéia ou estridor.<br />

Aritenóide: glote fechada anteriormente; laringe mostra pequena fenda posterior de forma<br />

triangular durante a fonação; inspiração normal. Abdutores unilaterais: as cordas situam-se na<br />

linha media; não podem ser abduzidas na inspiração; voz rouca, mas a fonação e a tosse são<br />

pouco afetadas (abdução é normal), dispnéia incomum porque a corda abduz normal na<br />

inspiração, mas pode ocorrer estridor na inspiração; Abdutores bilaterais: ambas as cordas<br />

fechadas na linha média e não podem ser abduzidas; voz rouca, mas a fonação é pouco afetada e<br />

a tosse normal porque a adução é preservada; severa dispnéia com estridor na inspiração.<br />

Adutores unilaterais: paralisia de um cricoaritenoideo lateral; rouquidão e prejuízo na tosse.<br />

Adutores bilaterais: cordas não abduzem na fonação e a voz fica perdida ou reduzida para<br />

cochicar; inspiração normal sem estridor ou dispnéia; tosse normal. Paralisia total unilateral:<br />

adutor e abdutor afetados; cordas vocais envolvidas situadas em posição cadavérica; sem<br />

movimento na abdução média; voz baixa e rouca; dificuldade para tossir; pouca ou nenhuma<br />

dispnéia; estridor inspiratório ausente ou só em profunda inspiração. Paralisia total bilateral:<br />

ambas as cordas vocais em posição cadavérica; fonação e tosse perdidas; marcada dispnéia com<br />

estridor, especialmente na inspiração (veja fig.4).<br />

A parte parassimpática do X nervo<br />

O componente parassimpático do X nervo origina-se do NMDV e inervam as vísceras vagais. Esse<br />

núcleo é composto por uma coluna de células situada no assoalho do IV ventrículo medial ao


16<br />

núcleo ambíguo. Os neurônios que se situam adjacentes ao núcleo ambíguo, inervam o coração<br />

e, sua estimulação, determina efeito inotrópico negativo sobre a contração do músculo cardíaco.<br />

Essas fibras se unem com as fibras braquiomotoras proveniente do núcleo ambíguo. O córtex<br />

cerebral, especialmente as subdivisões da área 6 de Brodmann (área 6 aα e 6 bβ) e o hipotálamo<br />

controlam os centros do X nervo no bulbo. As fibras parassimpáticas do vago também inervam a<br />

musculatura lisa das vias aéreas e intestino. Essas fibras são responsáveis pela: abertura da<br />

passagem de ar para a traquéia durante a inspiração, produção de broncoconstrição e<br />

coordenação do peristaltismo do esôfago e intestino. O controle supranuclear do NMDV recebe<br />

input do hipotálamo, núcleo do trato solitário, formação reticular e o sistema olfatório. Portanto,<br />

na doença de Parkinson, a degeneração seletiva dos neurônios localizados no complexo dos<br />

núcleos do <strong>IX</strong> e X nervos, pode anteceder o aparecimento dos corpos de Lewy no núcleo olfativo<br />

e substância negra, contribuindo para desnervação simpática cardíaca e sintomas associados<br />

com disfunção autonômica.<br />

Fibras autonômicas saem do bulbo como fibras préganglionares da divisão craniossacra<br />

parassimpática, terminando em gânglios próximos às vísceras e enviam fibras pósganglionares<br />

para músculos e glândulas. As funções parassimpáticas do X nervo são bradcardia, hipotensão<br />

arterial, bronconstrição, broncorréia, aumento do peristaltismo e da secreção gástrica e inibição<br />

da suprarenal. Sua inibição exerce funções opostas.<br />

A parte sensorial do X nervo<br />

O gânglio jugular está situado na parte superior do forame jugular, comunicando-se com a parte<br />

craniana do XI nervo e do nervo petroso ramo do <strong>IX</strong> nervo, com o VII nervo e com o gânglio<br />

cervical superior. O gânglio nodoso situa-se abaixo do forame jugular e a raiz do <strong>IX</strong> nervo passa<br />

por ele para se unir a do X nervo e, esse gânglio ainda se comunica com o XII nervo, com o<br />

gânglio cervical superior e a alça entre C1 e C2. Assim, ambos os gânglios vagais são sensoriais,<br />

contendo neurônios unipolares que medeiam fibras aferentes somáticos gerais, aferentes<br />

viscerais gerais e especiais. Os axônios branquiomotores e parassimpáticos passam pelos<br />

gânglios sem fazer sinapse. O gânglio jugular transmite sensação somática destinada<br />

principalmente ao nervo auricular, enquanto o gânglio nodoso transmite sensações viscerais<br />

gerais e gustativas.


17<br />

As fibras ASG levam a sensação de dor, temperatura e tato da faringe, laringe, canal auditivo<br />

externo, superfície externa da membrana timpânica e das meninges da fossa posterior fazem<br />

sinapse no núcleo do trato solitário do V nervo, sendo transmitidas ao tálamo e ao córtex. Na<br />

laringe as fibras ASG da região acima das pregas vocais seguem pelo ramo laríngeo interno ramo<br />

do nervo laríngeo superior; fibras da região inferior das cordas vocais seguem junto com o nervo<br />

recorrente laríngeo. O X nervo também emite os ramos cardíacos superiores, usualmente abaixo<br />

do nervo laríngeo superior. Esses seguem as carótidas para baixo em direção à aorta e participam<br />

da formação do plexo cardíaco, os quais são também supridos pelos ramos cardíacos inferiores,<br />

provenientes do nervo recorrente. Os ramos cardíacos superiores, médios e inferiores,<br />

provenientes dos gânglios correspondentes do tronco simpático formam outro componente do<br />

plexo cardíaco.<br />

As fibras ASG do ouvido, do canal auditivo e da membrana timpânica seguem pelo ramo auricular<br />

de Arnold e quando estimulado pode causar ativação reflexa do NMDV com tosse, vômito ou<br />

síncope. As aferentes viscerais seguem as mesmas vias. As fibras AVG da faringe, laringe, vísceras<br />

com inervação vagal, de barorreceptores e quimiorreceptores na aorta são os processos<br />

periféricos de neurônios do gânglio nodoso e, os seus prolongamentos centrais, terminam na<br />

parte caudal do trato solitário. Suas colaterais à formação reticular, NMDV, e núcleos de outros<br />

nervos cranianos medeiam importantes reflexos envolvidos na função cardiovascular,<br />

respiratória, gastrointestinal. Algumas fibras gustativas da região da epiglote e dos músculos<br />

aritenoideos seguem junto com as fibras gustativas do <strong>IX</strong> nervo, terminam no trato solitário<br />

superior.<br />

O exame das funções motoras do X nervo<br />

O reflexo oculocardíaco de Aschner consiste em leve bradcardia ao se pressionar o globo ocular.<br />

A alça aferente é pelo V nervo e a eferente pelo X nervo. Pode ser usado como terapêutica em<br />

casos de taquiarritmias, mas não serve para assegurar a integridade do vago. Nas lesões<br />

unilaterais agudas, a fala pode ser nasalada acompanhada de disfagia, sendo acentuada para<br />

líquido com regurgitação nasal. Na orofaringe observa-se a contração dos músculos faríngeos na<br />

fonação; elevação da laringe; posição do palato mole e da úvula em repouso e, depois, em ação.<br />

Pede-se para o paciente dizer a letra A ou E com a boca aberta para se observar a elevação do


18<br />

véu do palato e posição da úvula no centro. Em lesão unilateral ocorre queda do palato mole e<br />

leve desvio da úvula para o lado oposto, sinal da cortina de Vernet (Fig. 5). A úvula é inervada<br />

pelo músculo tensor do palato do V nervo protegendo-a da lesão motora do X. O reflexo<br />

nauseoso está abolido por ação motora e, não, sensitiva. Em caso de lesão bilateral, não há<br />

elevação do véu do palato, podendo não haver a queda devido à ação do tensor do véu do<br />

palato. Não há elevação da laringe; a fala é nasalada e similar aquela do paciente com fenda<br />

palatina, e a regurgitação para líquidos é acentuada. A tosse espontânea e o reflexo da tosse<br />

estão alterados.<br />

O movimento das cordas vocais é necessário para: respiração, tosse e fala. Durante a inspiração<br />

e expiração as cordas vocais fazem abdução para a passagem do ar; ao falar as cordas vocais<br />

entram em adução e vibram para realizar a fonação, assim como na tosse. A disfonia<br />

espasmódica é uma distonia focal comum que acarreta alterações da voz, ocasionando espasmos<br />

anormais em ambas as cordas vocais, mostrando uma voz forçada. A disfonia abdutora se deve a<br />

contração espasmódica do cricoaritenoideo posterior, que causa insuficiência da adução na<br />

fonação e a voz é sussurrada e rouca. A causa mais comum da paralisia das cordas vocais é a<br />

lesão do nervo recorrente laríngeo. Pode ocorrer desde uma insuficiência do cricoaritenoideo<br />

posterior unilateral até uma paralisia cadavérica. Defeito na fonação e estridor laríngeo podem<br />

ser sinais precoces de falência autonômica na atrofia por múltiplos sistemas. Paralisia do X nervo<br />

bilateral completa é incompatível com a vida.<br />

Desordens do X nervo<br />

A paralisia do vago é caracterizada por: rouquidão (teste de voz); disfagia (lentidão ao deglutir e<br />

ao tossir); o sinal mais distinto é a paralisia unilateral dos músculos faríngeos, devido à perda de<br />

constrição do lado patológico, a rafe da linha mediana é desviada para o lado sadio; paralisia da<br />

corda vocal pode ser observada ao exame laringoscópico; perda sensitiva do meato auditivo<br />

externo e parte da concha auricular; aceleração dos batimentos cardíacos que não respondem a<br />

estimulação dos seios carotídeos ou ao reflexo óculocardiaco.<br />

As síndromes vasovagais constituem-se de bradcardia, hipotensão, vasodilatação periférica e<br />

sensação de desfalecimento ou perda de consciência, sendo induzidas por estímulo não


19<br />

prazeroso ou dor. Bloqueio da bradcardia vagal com atropina não elimina a vasodilatação e<br />

hipotensão ou síncope; ainda não existe explicação neurológica para o mecanismo da síncope.<br />

Os movimentos rítmicos do palato mole como mioclonias, microtremor ou nistagmo palatino,<br />

podem ocorrer nas lesões do tronco cerebral do tipo vascular. As lesões supranucleares bilaterais<br />

como na paralisia pseudobulbar ocorre disfagia e disartria. Lesões extrapiramidais podem<br />

produzir dificuldade de deglutição, espasmo da laringe com estridor pode ocorrer na doença de<br />

Parkinson. Doenças como esclerose lateral amiotrófica, siringobulbia podem causar fasciculações<br />

dos músculos do palato, faringe e laringe. Envolvimentos infranucleares do X nervo podem<br />

ocorrer em caso de lesão da base do cérebro como meninges, aneurismas; no forame jugular os<br />

outros nervos cranianos e ramos simpáticos cervicais; ou ao longo do trajeto do X nervo como<br />

em aneurisma dissecante da carótida interna cervical. Em caso de ramo do X nervo, o recorrente<br />

laríngeo é o mais acometido por carcinoma da tireóide, adenopatia cervical, lesão metastática,<br />

doença de Hodgkin, linfossarcoma, aneurisma da aorta, estenose mitral pelo aumento do átrio<br />

esquerdo, pericardite, tumores do mediastino, tumor de Pancoast, ferimentos por arma branca<br />

no pescoço, etc. O aparecimento de rouquidão e disfagia levam a pensar que a lesão está no<br />

tronco cerebral, enquanto apenas rouquidão faz pensar em lesão no trajeto do nervo.<br />

Talvez, a mais comum lesão do nervo vago é a que envolve o recorrente laríngeo, que resulta em<br />

paralisia da corda vocal com rouquidão, e não ocorre disfagia porque o ramo faríngeo foi<br />

bifurcado antes. O nervo recorrente laríngeo esquerdo tem um curso longo, com sua alça<br />

recorrente, passa por baixo da aorta e sobe para retornar à laringe. O nervo pode ser<br />

comprimido pela expansão do aneurisma do arco aórtico, dilatação atrial, neoplasia pulmonar e<br />

adenopatia do mediastino. Mas, paresia da corda vocal tem sido descrita devido à neuropatia do<br />

recorrente laríngeo atribuída a diabete melito e alcoolismo, e neurite vagal causada por Herpes<br />

simples e zoster. Cerca de um terço ou um quarto dos diagnósticos são idiopáticos. A incidência<br />

mais alta acontece na terceira década, e predomina no sexo masculino.<br />

A neuralgia do ramo laríngeo superior produz dor na área da cartilagem tireóide e no osso<br />

hióide, uni ou bilateral, com irradiação para o ouvido. A dor é desencadeada pela conversa,<br />

deglutição e espirro, pode ser tratada com carbamazepina.


20<br />

Síndromes que envolvem o X nervo ou síndromes bulbares posteriores<br />

A síndrome de Avellis (1891) ocorre lesão vascular, traumática ou compressiva na região do<br />

núcleo ambíguo, o núcleo do trato solitário e o trato espinotalâmico adjacente, principalmente<br />

regiões media e inferior do núcleo ambíguo (X nervo e ramo craniano do XI nervo, ou complexo<br />

vagoespinhal). Apresenta ipsilateral à lesão, paralisia do véu do palato e dos músculos abdutores<br />

da laringe (paralisia velofaringea). O paciente tem voz rouca, nasalada, às vezes disfagia.<br />

Contralateral à lesão pode haver hemianestesia termodolorosa (pelo comprometimento do trato<br />

espinotalâmico).<br />

Síndrome de Schmidt (1926) ocorre por lesão do vago e acessório bulbar e medular. O paciente<br />

apresenta o quadro clínico da síndrome de Avellis e paralisia homolateral dos músculos<br />

esternocleidomastoideo e trapézio.<br />

Síndrome de Jackson (1872) ocorre por lesão do nervo vago, acessório e hipoglosso. O paciente<br />

apresenta síndrome de Schmidt e hemiparesia contralateral. Geralmente a lesão ocorre em nível<br />

radicular extrabulbar, comprometendo o X e XI.<br />

Síndromes que envolvem o X nervo ou síndromes bulbares laterais<br />

Síndrome de Wallenberg (1901) ocorre por lesão do nervo trigêmio, vago e acessório,<br />

determinada pelo amolecimento da fosseta lateral devido a obstrução da artéria vertebral ou<br />

artéria cerebelar pósteroinferior. Geralmente acontece após os 20 anos, com vertigem, vômitos,<br />

soluços, disfagia, disartria, ataxia e dor numa hemiface e hemicorpo contralateral.<br />

Ocasionalmente, ocorre diplopia. Ipsilateral à lesão existe hemissíndrome cerebelar, paresia do<br />

palato mole e corda vocal, hipoestesia superficial da face, síndrome de Claude Bernard-Horner<br />

(1869). No lado oposto à lesão existem hemihipoestesia superficial. O substrato anatômico<br />

abrange o corpo restiforme. O trato espinotalâmico, a raiz descendente do trigêmio, vias<br />

oculossimpáticas, núcleos vestibulares e porção superior do núcleo ambíguo, compreendendo os<br />

nervos <strong>IX</strong> e X.<br />

Síndrome de Babinski-Nageotte (1902) ocorre por lesão na porção lateral e também medial do<br />

bulbo por vários amolecimentos vascular. Caracteriza-se por hemiplegia associada à síndrome de<br />

Wallenberg.


21<br />

A síndrome de Cestan-Chenais (1903) ocorre por trombose da artéria vertebral abaixo do ponto<br />

de origem da artéria cerebelar pósteroinferior, lesando o núcleo ambíguo, o corpo restiforme, as<br />

vias oculossimpáticas, trato corticoespinhal e leminisco medial. Apresenta ipsilateral à lesão<br />

paralisia unilateral do palato mole, faringe e laringe, síndrome cerebelar e síndrome de Horner.<br />

Contralateral à lesão hemiplegia com abolição da sensibilidade profunda e tátil.<br />

Síndrome de Bonnier (1903) ocorre por lesão do núcleo vestibular lateral. O paciente apresenta<br />

vertigem e surdez composta de sintomas da síndrome de Ménière, do <strong>IX</strong> e X nervos e, alguns,<br />

dos óculomotores e trigêmio. Hemiplegia contralateral, sonolência, tremor, taquicardia e<br />

debilidade.<br />

Síndrome que envolve o X nervo ou síndrome bulbar anterior<br />

Síndrome de Déjérine (1900) ou síndrome piramidal-hipoglosso ocorre por hemorragia ou<br />

trombose da artéria vertebral anterior que irriga a pirâmide, o leminisco medial e as fibras<br />

aferentes do hipoglosso, produzindo paralisia ipsilateral da língua e hemiplegia contralateral e, às<br />

vezes, alteração da sensibilidade proprioceptiva e tátil.


22<br />

LEITURAS RECOMENDADAS<br />

1.CAMPBELL, W.W. DeJONG: THE NEUROLOGIC EXAMINATION. S<strong>IX</strong>TH<br />

EDITION, PHILADELPHIA, LIPPINCOTT WILLIAMS & WILKINS, 2005, p.671.<br />

2. CARPENTER, M.B. FUNDAMENTOS DE NEUROANATOMIA. QUARTA<br />

EDIÇÃO, MARYLAND, PANAMERICANA, 1999, p. 458.<br />

3. CASAS, A.P & GONZÁLEZ, M.E.B. MORFOLOGÍA, ESTRUTURA Y<br />

FUNCIÓN DE LOS CENTROS NERVIOSOS. TERCERA EDICIÓN, MADRID,<br />

EDITORIAL PAZ MONTALVO, 1977, p. 901.<br />

4. DANTAS, A. M. OS <strong>NERVOS</strong> <strong>CRANIANOS</strong>: ESTUDO ANATOMOCLÍNICO.<br />

RIO DE JANEIRO, GUANABARA KOOGAN, 2005,p. 213.<br />

5. GOETZ, C.G. TEXTBOOK OF CLINICAL NEUROLOGY. THIRD EDITION,<br />

PHILADELPHIA, SAUNDERS ELSEVIER, 2007, p.1364.<br />

6. LENT, R. CEM BILHÕES DE NEURÔNIOS: CONCEITOS FUNDAMENTAIS<br />

DE NEUROCIÊNCIAS. SÃO PAULO, EDITORA ATHENEU, 2005, p. 698.<br />

7. ROPPER, A.H and BROWN, R.H. ADAMS and VICTOR’S: PRINCIPLES OF<br />

NEUROLOGY. EIGHTH EDITION, NEW YORK, McGRAW HILL, 2005, p.1382.<br />

8. SANVITO, W.L. SÍNDROMES NEUROLÓGICAS. TERCEIRA EDIÇÃO, SÃO<br />

PAULO, ATHENEU, 2008, p. 614.

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