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<strong>Revista</strong> <strong>Entre</strong> <strong>Lagos</strong> • <strong>Edição</strong> <strong>84</strong> • MAR-2013 24 Vanessa Costa<br />
E por falar em Fernando Pessoa...<br />
Segunda-feira, 1ª<br />
ligação do dia...<br />
Finalmente ficou<br />
pronto! E assim foi<br />
feita a montagem do<br />
“novo armário”.<br />
Primeiro a desmontagem do velho<br />
e a retirada de todas as “coisas”. E foi<br />
assim que me veio em mente um texto<br />
que recebi de alguém muito especial.<br />
Provavelmente muitos conhecem, tradicional<br />
texto do fernando Pessoa, em<br />
que se fala de encerrar ciclos, fechar<br />
portas, terminar capítulos, deixar no<br />
passado os momentos da vida que já se<br />
acabaram, etc.<br />
É bem assim que me sinto agora...<br />
<strong>Entre</strong> tantas outras coisas que ali estavam,<br />
havia uma caixa, no mesmo lugar<br />
ha pelo menos dez anos (lembranças do<br />
primeiro namorado). Sem dúvida uma<br />
pessoa fantástica, até pensei em abrir e<br />
reler tudo, apenas pra relembrar, afinal de<br />
Jornalista<br />
Novo<br />
armário<br />
contas foi um sentimento bom que vivi naquela<br />
época da minha vida! Mas mudei de<br />
ideia, apenas olhei, lembrei que havíamos<br />
dito que um dia mostraríamos tudo àquilo<br />
aos nossos netos. Até poderia mostrar<br />
daqui alguns anos aos meus netos quem<br />
sabe, mas a intenção na época era de estarmos<br />
casados, aquela coisa toda que possivelmente<br />
não mais se concretizará.<br />
Então vi que aquela caixa fazia parte<br />
somente do meu passado, com um contexto<br />
e uma realidade muito distantes<br />
de hoje. Me desfiz de tudo. Confesso que<br />
senti uma “dorzinha” no coração, como<br />
me culpando por aquela insensibilidade,<br />
mas não! Passou! Nada tem<br />
haver com insensibilidade, e<br />
de qualquer forma o que<br />
é valioso guardamos<br />
em outro lugar. Foi<br />
bom enquanto existiu,<br />
foi sincero e me<br />
acrescentou muito,<br />
mas se fosse para<br />
ser estaríamos juntos<br />
até hoje.<br />
Havia caixas<br />
bem mais novas<br />
que aquela.<br />
Existia também a mais difícil de se desvincular.<br />
Então raciocinei: Pra que deixar passar<br />
mais dez anos para perceber que tudo<br />
aquilo que hoje ainda faz falta, ao longo<br />
dos anos será apenas mais uma lembrança?<br />
Mais uma caixa ocupando espaço no<br />
meu armário.<br />
Podemos ir além... Mensagens antigas<br />
no celular (aquelas que ficamos com<br />
“dó” de apagar), objetos sem funcionalidade<br />
nenhuma, e-mails, arquivos ultrapassados,<br />
xerox antigos da faculdade ou do<br />
trabalho, declarações, recadinhos, bilhete<br />
de um cinema especial. Tudo isso ocupa<br />
muito mais espaço que se pode imaginar,<br />
além do físico eu diria.<br />
“Guardando caixas” corremos vários<br />
riscos!<br />
Risco de não viver o presente com a<br />
mesma intensidade que ele poderia ser<br />
vivido, de criar expectativas exageradas<br />
nas pessoas que o cerca, de não enxergar<br />
oportunidades, de magoar, mentir, iludir e<br />
perder as pessoas que realmente lhe fazem<br />
bem, pior, corremos o risco de nos perder<br />
no presente, vivendo de lembranças do<br />
passado e preso demais para almejar o futuro.<br />
Enquanto permitirmos, o velho ocupa<br />
o espaço do novo.<br />
“Tudo neste mundo visível é uma<br />
manifestação do mundo invisível, do que<br />
está acontecendo em nosso coração. O<br />
desfazer de certas lembranças significa<br />
também abrir espaço para que<br />
outras tomem o seu lugar...” Fernando<br />
Pessoa<br />
Só para constar, meu novo<br />
armário ficou ótimo e não pretendo<br />
criar uma nova caixa<br />
nele tão cedo.