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Universidade Estadual de Maringá – UEM Maringá-PR, 9, 10 e 11 de junho de 2010 – ANAIS - ISSN 2177-6350 _________________________________________________________________________________________________________ .1. Lendas, contos populares,.. ou apenas... contos marcados pela oralidade. A memória existe e há memórias que surgem em contos e relatos, em mitos e crenças, em toques e silêncios de tambores. Também no gesto, na dança e na ética do viver ou do morrer. Luz Maria Martínez Montiel A leitura do livro de Júlio Emílio Brás, Lendas Negras apresenta as lendas localizando-as geograficamente, relata algumas lendas de diferentes países africanos. Este livro de Brás despertou-nos o interesse pelas lendas africanas. Na busca de outras lendas deste continente, encontramos o livro Contos Populares de Angola – folclore quimbundo. organizado por José Viale Moutinho. Segundo as notas presentes na orelha do livro, estes contos foram extraídos “da mais vasta recolha efetuada até agora, a de Héli Chatelain”. Os contos de Chatelain foram publicados em quimbundo e inglês. Estes contos populares se assemelham bastante as lendas apresentadas por Brás. Lendas... contos... mitos … Para melhor entender estas narrativas, procuraremos conhecer um pouco sobre os conceitos ligados as mesmas. Falar sobre lendas nos remete a oralidade. As lendas estão presentes no mundo todo. Lóssio (sem data) cita Arinos que diz que a origem das lendas está relacionada a palavra Ler. Diz que, na era cristã, era comum nos mosteiros e conventos, a hora das refeições, fazer a leitura da vida dos santos do dia. “Daí a chamar-se “lenda” o trecho a ser lido”. A “lenda” estaria assim relacionada a biografia dos santos. Arinos afirma também que com o passar do tempo dados foram sendo acrescidos a estas biografias, “ações que a fé ardente dos autores atribuía a seus heróis”. O dicionário Michaelis on- line, conceitua lenda como “2 Narrativa transmitida pela tradição, de eventos geralmente considerados históricos, mas cuja autenticidade não se pode provar. 3 História fantástica, imaginosa”, estes dois conceitos colocam a lenda entre eventos históricos e a fantasia. Debus (2008) associa o conceito de lendas ao latim legenda, legere – Ler, lembrando sua característica oral, permitindo que a ela se agregue ou se desvincule componentes ao longo dos anos.
Universidade Estadual de Maringá – UEM Maringá-PR, 9, 10 e 11 de junho de 2010 – ANAIS - ISSN 2177-6350 _________________________________________________________________________________________________________ Percebemos ao ler as lendas e contos africanos que os mesmos não estão vinculados a um povo, por exemplo, Brás (2001) ao situar a Lenda A Viúva Velha em Angola, lembra que muitas lendas possuem inúmeras versões, e que esta encontrará em outros grupos tribais e em países vizinhos outras interpretações. Esta afirmativa de Brás reforça, como característica da lenda, a idéia de não pertencimento a um único povo. Montiel(1999), africanista mexicana, lembra que “muitos contos são restos de mitos”, dentro deste pensamento, encontraremos uma proximidade ainda maior entre os contos, mitos e lendas e a dificuldade que temos em dissociá-los. Montiel (ibidem) lembra que a oralidade apresenta, no caso dos contos, uma linguagem codificada. O conto chega até nós com esta linguagem (codificada), em sua maioria, trazendo uma mensagem implícita, que cabe ao leitor decifrar. O conto popular se aproxima do receptor pelas características orais que apresenta, uma vez que utiliza linguagem ligada ao dia a dia, e ao mesmo tempo se afasta da realidade deste pelo seu caráter fantasioso. Na busca de identificar este gênero foi feito um grande percurso. Percebemos que alguns textos classificados como lendas num livro, aparecem em outro como contos populares. Diante destes desencontros nas definições relacionadas às Lendas e Contos populares, nós não nos prenderemos aqui a nomenclatura, mas ao caráter oral e seus desdobramentos: caráter fantasioso, imaginário, linguagem codificada, oralidade. Observaremos também no desenrolar deste estudo, alguns aspectos encontrados em Nunes (2009) que aponta para características dos contos. Dentre eles ressaltamos: • Uns contos apresentam “estrutura definida no conto arquetipal:” Situação Inicial (SI) de equilíbrio, que é perturbada pelo aparecimento de um acontecimento desestabilizador, e, retorna novamente ao equilíbrio, Situação Final (SF). • Outros, ao contrário, apresentam uma relação de inversão entre a SI e a SF. • Existe também os que apresentam uma estrutura complexa, que se caracterizam pela presença de narrativas encadeadas, em que cada uma tem uma SI e uma SF.
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