Os Índios no Tempo da Corte – Reflexões sobre Política ... - USP
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16 Capital <strong>da</strong> colônia, desde<br />
1763, <strong>no</strong> final do século XVIII,<br />
o Rio de Janeiro já se tornara o<br />
principal centro comercial e portuário<br />
do Brasil. Desde 1751,<br />
abrigava o segundo Tribunal<br />
<strong>da</strong> Relação <strong>da</strong> colônia e a<br />
Assembléia municipal recebera,<br />
desde 1757, o título de Senado<br />
<strong>da</strong> Câmara. A ci<strong>da</strong>de contava,<br />
<strong>no</strong> século XVIII, com cerca de<br />
45.000 habitantes, número que<br />
aumentaria vertigi<strong>no</strong>samente<br />
com a chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> família real.<br />
Sobre isso, ver: Ciro Cardoso,<br />
Atlas Histórico do Rio de Janeiro,<br />
Relatório de Pesquisa do CNPq,<br />
1984, inédito, pp. 32-49;<br />
Marcelo Lemos, op. cit.<br />
17 Alcir Lenharo, As Tropas <strong>da</strong><br />
Moderação (o Abastecimento<br />
<strong>da</strong> <strong>Corte</strong> na Formação <strong>Política</strong><br />
do Brasil <strong>–</strong> 1808-1842), Rio de<br />
Janeiro, Secretaria Municipal<br />
de Cultura, Turismo e Esportes,<br />
DGDI, Div. de Editoração,<br />
1993, p. 48, apud Marcelo<br />
Lemos, op. cit., p. 137.<br />
98<br />
<strong>Índios</strong> numa<br />
Fazen<strong>da</strong>, de<br />
Johann Moritz<br />
Rugen<strong>da</strong>s<br />
visto, a possibili<strong>da</strong>de de apresentar pesso-<br />
almente suas reivindicações ao monarca,<br />
prática que seria rapi<strong>da</strong>mente aprendi<strong>da</strong><br />
pelos <strong>no</strong>vos súditos indígenas estabelecidos<br />
nas aldeias tardias.<br />
Práticas políticas diferencia<strong>da</strong>s, por-<br />
tanto, integravam uma mesma política<br />
indigenista que procurava assimilar “índios<br />
bravos” dos sertões e índios aliados <strong>da</strong>s<br />
aldeias. Aos primeiros cabia atrair, aldear,<br />
civilizar e assimilar, enquanto aos demais,<br />
já há séculos aldeados, cabia simplesmente<br />
assimilar, misturá-los à massa populacional<br />
e extinguir as aldeias. A essas práticas, os<br />
índios responderam de formas diversas,<br />
que variavam entre colaborações, fugas,<br />
reivindicações, ameaças e ataques.<br />
Convém atentar para o desenvolvimento<br />
socioeconômico e político <strong>da</strong> capitania que,<br />
já acentuado <strong>no</strong> Setecentos, ganharia <strong>no</strong>vo<br />
impulso com a chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> corte <strong>no</strong> início do<br />
XIX 16 . As conseqüências desse crescimento<br />
incidiriam <strong>sobre</strong> as populações indígenas<br />
dos sertões e <strong>da</strong>s aldeias. Desde meados<br />
do Setecentos já se acentuavam <strong>no</strong> Rio de<br />
Janeiro a ocupação de terras e os conflitos<br />
em tor<strong>no</strong> delas. Nas áreas de colonização<br />
antiga diminuíam as terras devolutas e<br />
aumentavam os arren<strong>da</strong>mentos e disputas<br />
<strong>sobre</strong> as terras de aldeias indígenas, enquan-<br />
to <strong>no</strong> médio Vale do Paraíba a ocupação<br />
portuguesa se expandia em busca de <strong>no</strong>vas<br />
terras. A chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> corte <strong>no</strong> início do século<br />
REVISTA <strong>USP</strong>, São Paulo, n.79, p. 94-105, setembro/<strong>no</strong>vembro 2008<br />
XIX iria acelerar consideravelmente todo<br />
esse processo. O crescimento populacional<br />
aumentou a deman<strong>da</strong> por terras e gêneros de<br />
subsistência e a política do príncipe regente<br />
incentivou a abertura de estra<strong>da</strong>s que permi-<br />
tissem a articulação <strong>da</strong> capital com regiões<br />
<strong>no</strong> interior <strong>da</strong> colônia 17 . O desenvolvimento<br />
<strong>da</strong> capitania pressionava, pois, em dois<br />
sentidos: extinguir, em áreas de ocupação<br />
antiga, aldeias seculares sob a pressão de<br />
moradores e colo<strong>no</strong>s interessados em suas<br />
terras e rendimentos; e ocupar <strong>no</strong>vas áreas,<br />
entrando em conflito ou, de preferência, em<br />
acordo com os índios.<br />
ALDEAMENTOS TARDIOS NOS<br />
SERTÕES DOS “ÍNDIOS BRAVOS”<br />
Entre o final do século XVIII e o início<br />
do XIX, as margens setentrionais e meridio-<br />
nais do Rio Paraíba foram sendo ocupa<strong>da</strong>s,<br />
através de um longo processo de negociação,<br />
conflitos e aldeamento dos índios coroados<br />
e puris, entre outros. É instigante observar<br />
que as informações <strong>sobre</strong> a selvageria desses<br />
índios contrastam com outras que afirmam<br />
sua docili<strong>da</strong>de e predisposição para se aldea-<br />
rem, o que aponta para a fluidez <strong>da</strong>s alianças<br />
e para as mu<strong>da</strong>nças de opções dos índios<br />
em suas relações de contato, conforme o<br />
Reprodução