Francisco Marialva Mont'Alverne Frota - Ceara.pro.br
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I<<strong>br</strong> />
meu percurso que se estende pelo cordão azul da Ibiapaba, desde<<strong>br</strong> />
a Ribeira até a Ilha. Caminhei sob o sol escaldante da terra<<strong>br</strong> />
ardente de So<strong>br</strong>al para depois subir rampas e contemplar telhados<<strong>br</strong> />
em São Luís.<<strong>br</strong> />
Houve tempo de semear nas madrugadas para as colheitas<<strong>br</strong> />
de dia claro. Cedo ouvi nos corredores da Betânia as litanias do<<strong>br</strong> />
canto gregoriano, os versos do Mantuano e o eco da eloquência<<strong>br</strong> />
tribunícia de Cícero nas vozes dos padres-mestres. Alimt:ntava-se<<strong>br</strong> />
o corpo com frugal refeição, robustecia-se o espírito com as leituras<<strong>br</strong> />
da Vida de Dom Frei Bartolomeu dos Mártires, de Frei Luis de<<strong>br</strong> />
Sousa, e das Viagens na minha terra, de Almeida Garret. Deitavase<<strong>br</strong> />
cedo ao som do Miserere e acordava-se manhã nova, cantando<<strong>br</strong> />
Te Deum laudamus. O latim era nossa língua. Os Clássicos franceses<<strong>br</strong> />
e portugueses eram velhos amigos de <strong>pro</strong>longadas releituras.<<strong>br</strong> />
Debaixo dos caramanchões dos jasmineiros, no jardim do<<strong>br</strong> />
Mosteiro de minha avó, Maria Marphisa Mont'Alveme, de calças<<strong>br</strong> />
curtas, li o Eça de Queiroz, esquecido das horas, atraído pela<<strong>br</strong> />
<strong>pro</strong>sa de carântulas ç:lo mestre português e pela trama que urdiu<<strong>br</strong> />
em seus romances, que naquela idade se tomavam mais fascinantes.<<strong>br</strong> />
Ainda agora, quando retomo às páginas sedutoras daquela<<strong>br</strong> />
orquestração verbal do escritor, logo me rea<strong>pro</strong>prio da impressão<<strong>br</strong> />
inaugural que me causou a leitura e constato que, em cardumes,<<strong>br</strong> />
chegam à tona da memória múltiplas recordações, que se atropelam<<strong>br</strong> />
em planos superpostos, permitindo, no fluxo atemporal, me<<strong>br</strong> />
rever menino, ao mesmo tempo em que, reiluminado pelas luzes<<strong>br</strong> />
que convergem para essa festa do recordar interior, identifico nomes<<strong>br</strong> />
de ruas, largos e recortes de paisagens portuguesas que vi tão<<strong>br</strong> />
semelhantes na Praia Grande, no Largo do Ribeirão, no Largo dos<<strong>br</strong> />
Amores, no Campo do Ourique e na azulejaria colorida, dispersa<<strong>br</strong> />
na volumetria dos so<strong>br</strong>adões de São Luís do Maranhão - cidade<<strong>br</strong> />
singularmente luso-<strong>br</strong>asileira.<<strong>br</strong> />
Andei com meu destino em Fortaleza, capital do meu pátrio<<strong>br</strong> />
Ceará. Subi a escadaria da Faculdade de Direito, so<strong>br</strong>açando as<<strong>br</strong> />
Lições de Filosofia do Direito, de Giorgio dei Vechio, e a Teoria<<strong>br</strong> />
Geral do Estado, de Hans Kelsen. Lá, assisti à defesa de tese de<<strong>br</strong> />
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