Hayaldo Copque Fraga de Oliveira.pdf - RI UFBA - Universidade ...
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Foi por conta da consciência da transformação pela qual havia passado esse<br />
ambiente após tantas violências perpetradas e também da importância <strong>de</strong> Vitebsk<br />
para a composição do universo <strong>de</strong> sua obra 6 que, quando pô<strong>de</strong> retornar à Rússia<br />
sessenta anos após ter saído para o exílio, Chagall se recusou a pisar novamente<br />
em sua terra natal, certo <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>ria colocar a sua arte em risco: “O que verei lá<br />
hoje será incompreensível para mim. E, principalmente, aquilo que forma um dos<br />
elementos vivos da minha pintura terminaria por se mostrar inexistente” (CHAGALL,<br />
M. apud WULLSCHLAGER, 2009, p. 640).<br />
Filho <strong>de</strong> hassídicos 7 , Chagall habitou toda a sua infância no Território do<br />
Assentamento. Cresceu nesse ambiente controverso que persistia fortemente<br />
calcado nas tradições judaicas, apesar da insistência czarista em reprimi-las. E foi<br />
nesse lugar que o mais velho dos nove filhos da união entre os primos Zachar e<br />
Feiga-Ita colheu, com um olhar atento e imaginativo, praticamente todas as imagens<br />
que lhe serviriam <strong>de</strong> inspiração para as suas obras sobre o mundo judaico.<br />
Segundo Susan Tumarkin Goodman (2001, p. 13), responsável pela curadoria<br />
<strong>de</strong> algumas exposições com obras do artista em Nova Iorque, a celebrada força das<br />
obras <strong>de</strong> Chagall sobre o imaginário do oci<strong>de</strong>nte vem justamente <strong>de</strong>:<br />
[...] seus anos na Rússia, on<strong>de</strong> ele <strong>de</strong>senvolveu uma<br />
po<strong>de</strong>rosa memória visual e uma inteligência pictórica não<br />
limitadas a uma mera configuração <strong>de</strong> sua vida e do entorno<br />
russo. A visão <strong>de</strong> Chagall ascen<strong>de</strong>u e ele criou uma nova<br />
realida<strong>de</strong>, que se baseou tanto em seu mundo interior quanto<br />
no exterior. As imagens e experiências <strong>de</strong> seus primeiros<br />
anos em Vitebski sustentaram a arte <strong>de</strong> Chagall por mais <strong>de</strong><br />
setenta anos, tanto quando ele viveu na Rússia (1887-1910,<br />
1914-22) quanto nos anos subsequentes quando ele viveu no<br />
exterior. Sua concepção antirracional da pintura levou-o a<br />
criar não uma sentimental, pitoresca Vitebski, mas uma<br />
cida<strong>de</strong> fantasmagórica, vista através do filtro <strong>de</strong> sua mente. 8<br />
6 “o solo que alimentou as raízes <strong>de</strong> minha arte” (CHAGALL M. apud BAAL-TESHUVA, 2008, p. 19).<br />
7 Ver a primeira nota da seção anterior, p. 1.<br />
8 Tradução minha para: “[...] his years in Russia, where he <strong>de</strong>veloped a powerful visual memory and a<br />
pictorial intelligence not limited to a mere configuration of his Russian life and environs. Chagall’s<br />
vision soared and he created a new reality, one that Drew on both his inner and outer worlds. The<br />
images and experiences from his early years in Vitebski sustained Chagall's art for more than seventy<br />
years, both when he lived in Russia (1887-1910, 1914-22) and in subsequent years when he lived<br />
abroad. His anti-rational conception of painting led him to create not a sentimental, picturesque<br />
Vitebski, but a phantasmagorical city, viewed through the filter of his mind”.<br />
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