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Impacto da Rio-92<br />
na produção científica<br />
da <strong>USP</strong> considerando<br />
o tópico Mudanças Climáticas<br />
<strong>Edmilson</strong> dias dE FrEitas e tércio ambrizzi<br />
Introdução<br />
Desde a rio-92, marco na história socioambiental mundial, o interesse<br />
e a preocupação com temas ligados à ação do homem sobre o meio<br />
ambiente têm assumido proporções de destaque não apenas nas discussões<br />
científicas, mas também no cotidiano das pessoas. Atualmente, a divulgação<br />
de assuntos ligados ao ambiente tem sido quase diária nos meios de comunicação<br />
de maior alcance sobre a população, tais como a televisão e a internet.<br />
É comum em qualquer discussão rotineira a associação com efeitos observados<br />
e atribuição de algum tipo de causa. Um dos principais efeitos dessas discussões<br />
está relacionado a eventos meteorológicos extremos, tais como ondas de calor,<br />
furacões, tornados, inundações, deslizamentos de encostas, secas, e muitos<br />
outros aos quais, em grande parte, se faz relação imediata com algum tipo de<br />
Mudança Climática. Obviamente, existem e sempre existirão grandes incertezas<br />
relacionadas ao tema, mas o aumento no entendimento e na procura por melhores<br />
explicações sobre a causa para fenômenos meteorológicos de destaque,<br />
seja por sua intensidade, seja por sua duração, é um aspecto incontestável. Nesse<br />
sentido, é de esperar que a Universidade de São Paulo, por intermédio de seus<br />
Programas de Pós-Graduação e Núcleos de Pesquisa, tenha um papel de extrema<br />
relevância. Tal expectativa, envolvendo a área de Mudanças Climáticas, foi e<br />
está sendo atendida de forma crescente em diversas áreas do conhecimento, não<br />
se limitando apenas aos programas ligados diretamente às ciências atmosféricas.<br />
Programas de economia, ciências sociais, medicina, artes, engenharia, filosofia,<br />
física, matemática, computação, ciências da terra e muitos outros se empenharam<br />
em atender as demandas da sociedade mundial e, em especial, a sociedade<br />
brasileira, discutindo e tentando entender melhor todos os aspectos ligados aos<br />
efeitos diretos e indiretos que a atividade humana pode ter causado ao clima da<br />
Terra, como será apresentado nos levantamentos a seguir.<br />
Material e métodos<br />
Para esta análise foram utilizadas duas abordagens principais: resposta dos<br />
estudos avançados 26 (74), 2012<br />
341
programas de Pós-Graduação da <strong>USP</strong> quanto à identificação das teses e dissertações<br />
defendidas desde junho de 1992 que estivessem ligadas ao tema das<br />
Mudanças Climáticas, e utilizar os dois principais acervos digitais de teses e<br />
dissertações do país, o sistema Dedalus (Banco de Dados Bibliográficos da <strong>USP</strong>,<br />
que pode ser consultado no portal http://dedalus.usp.br) e o banco de Teses e<br />
Dissertações da <strong>USP</strong> (http://www.teses.usp.br/). Uma descrição da metodologia<br />
utilizada para o presente levantamento pode ser encontrada em artigo de<br />
Wagner Costa Ribeiro et al. nesta edição da revista.<br />
Resultados<br />
O Gráfico 1 mostra a evolução crescente no número de títulos defendidos<br />
na <strong>USP</strong> desde a realização da Rio 92.<br />
Gráfico 1 – Evolução do número de títulos de mestrado e doutorado defendidos<br />
nos Programas de Pós-Graduação da Universidade de São Paulo entre<br />
junho de 1992 e setembro de 2011.<br />
No Gráfico 1 nota-se claramente que a abordagem da temática de mudanças<br />
climáticas pelos programas de Pós-Graduação da <strong>USP</strong> só foi percebida a<br />
partir de 1996, como um possível reflexo das discussões realizadas na Rio-92, as<br />
quais motivaram a sociedade científica a discutir e estudar esse tema. As primeiras<br />
teses de doutorado só foram defendidas em 1998, e seu número permaneceu<br />
praticamente constante ao longo dos anos, oscilando em torno de seis defesas<br />
por ano. Em contrapartida, o número de dissertações de mestrado apresentou<br />
crescimento expressivo, atingindo em 2010 o total de 22 dissertações defendidas.<br />
Interessante notar que esse mesmo ano também mostrou um aumento significativo<br />
de teses de doutorado defendidas, totalizando 12 defesas, o dobro dos<br />
342<br />
estudos avançados 26 (74), 2012
períodos anteriores. Outro ano de destaque, com um número de trabalhos um<br />
pouco menor que em 2010, foi o ano 2007, com 16 dissertações de mestrado e<br />
sete teses de doutorado defendidas. Boa parte desse aumento pode ser explicada<br />
em razão da publicação do Terceiro Relatório do IPCC em 2001 (IPCC Third<br />
Assessment Report – TAR). Esse relatório foi um dos mais citados até hoje, em<br />
virtude de um de seus capítulos discutir em detalhes as bases científicas das Mudanças<br />
Climáticas (IPCC, 2001). Após a publicação desse importante trabalho,<br />
aspectos como ciclo de carbono, queima de combustíveis fósseis, aquecimento<br />
global, desmatamento, eventos extremos e muitos outros começaram a ser estudados<br />
numa perspectiva mais ampla e correlacionada. O que antes era estudado<br />
de maneira isolada por área passou a ser considerado de maneira interdisciplinar,<br />
dando origem a um grande número de programas de Pós-Graduação Interunidades<br />
na Universidade de São Paulo e em outras Universidades importantes do<br />
país.<br />
Dentro da <strong>USP</strong> existe uma distribuição de trabalhos ligados às Mudanças<br />
Climáticas bastante heterogênea e abrangente. Ao todo, foi constatado por<br />
meio desse levantamento que 28 Unidades distintas abordaram o tema, conforme<br />
pode ser verificado na Tabela 1.<br />
Tabela 1 – Unidades da <strong>USP</strong> com teses e dissertações defendidas abordando<br />
temas ligados às Mudanças Climáticas<br />
Unidade Sigla Unidade Sigla<br />
Escola de<br />
Comunicações e Artes<br />
Escola de<br />
Enfermagem<br />
Ensino Ciências<br />
Instituto de Física<br />
Faculdade de Arquitetura e<br />
Urbanismo<br />
Faculdade de Economia,<br />
Administração e Contabilidade de<br />
Ribeirão Preto<br />
Instituto de Ciências Matemáticas<br />
e de Computação<br />
Programa Interunidades em<br />
Biotecnologia <strong>USP</strong>/IPT/Instituto<br />
Butantan<br />
Instituto de Pesquisas<br />
Energéticas e Nucleares<br />
Instituto de<br />
Química<br />
estudos avançados 26 (74), 2012<br />
ECA<br />
EE<br />
Enscienc<br />
FAU<br />
Fearp<br />
ICMC<br />
Inter Biotec<br />
Ipen<br />
Instituto de Eletrotécnica e<br />
Energia<br />
Instituto de Química<br />
de São Carlos<br />
Faculdade de Medicina<br />
de Ribeirão Preto<br />
Escola de Engenharia<br />
de São Carlos<br />
Faculdade de<br />
Direito<br />
Programa Interunidades em<br />
Energia EP/IEE/FEA/IF<br />
Programa Interunidades<br />
Ciência Ambiental<br />
Faculdade de Filosofia,<br />
Ciências e Letras de Ribeirão<br />
Preto<br />
IEE<br />
IQSC<br />
FMRP<br />
Eesc<br />
FD<br />
Inter<br />
Energia<br />
Procam<br />
FFCLRP<br />
IQ Instituto Oceanográfico IO<br />
343
Programa de Integração da<br />
América Latina<br />
Faculdade de Economia,<br />
Administração e Contabilidade<br />
Faculdade de<br />
Saúde Pública<br />
Faculdade de Filosofia, Letras e<br />
Ciências Humanas<br />
Instituto de<br />
Geociências<br />
344<br />
Prolam Escola Politécnica Poli<br />
FEA<br />
FSP<br />
FFLCH<br />
IGC<br />
Centro de Energia Nuclear na<br />
Agricultura<br />
Instituto de<br />
Biociências<br />
Instituto de Astronomia,<br />
Geofísica e Ciências<br />
Atmosféricas<br />
Escola Superior de Agricultura<br />
Luiz de Queiróz<br />
Cena<br />
IB<br />
IAG<br />
Esalq<br />
O Gráfico 2 apresenta o número de trabalhos defendidos em cada uma das<br />
unidades listadas na Tabela 1.<br />
Gráfico 2 – Número de títulos de mestrado e doutorado defendidos nas Unidades<br />
que possuem Programas de Pós-Graduação na Universidade de São Paulo,<br />
abordando temas ligados a Mudanças Climáticas entre junho de 1992<br />
e setembro de 2011.<br />
Como pode ser visto no Gráfico 2, diversas Unidades abordaram a temática<br />
de Mudanças Climáticas em suas pesquisas na pós-graduação, destacando-se,<br />
em particular, aquelas ligadas à parte de biologia, agricultura e ciências da terra.<br />
O número de trabalhos defendidos na Esalq, IAG, IGc, FFLCH, IB, Cena e<br />
Poli está provavelmente relacionado aos impactos que as Mudanças Climáticas<br />
têm em eventos como seca, excesso de chuvas, variações na disponibilidade de<br />
energia solar, concentração de CO 2 na atmosfera, além de outros fatores ligados<br />
ao sistema solo-vegetação-atmosfera, em que a agricultura é um dos setores de<br />
maior suscetibilidade a qualquer mudança nos padrões climáticos, além de sua<br />
estudos avançados 26 (74), 2012
importância econômica para o nosso país. Os trabalhos defendidos nas diferentes<br />
Unidades da <strong>USP</strong> abordaram diversos aspectos das Mudanças Climáticas,<br />
partindo de definições específicas sobre o tema, passando por impactos na<br />
sociedade, ações dos meios de comunicações, impactos na saúde, impactos na<br />
economia, desenvolvimento tecnológico, e alcançando até a busca por ações de<br />
mitigação dos efeitos indesejáveis que o aumento dos Gases de Efeito Estufa<br />
(GEE) e seu impacto no aquecimento global podem trazer. Um exemplo interessante<br />
da multiplicidade de assuntos tratados dentro dos diversos trabalhos<br />
científicos estudados na pós-graduação da <strong>USP</strong> é apresentado na Figura 1, que<br />
contém uma “nuvem de termos” baseada nos títulos dos 180 trabalhos de teses<br />
e dissertações defendidas abordando o tema Mudanças Climáticas e assuntos<br />
correlatos.<br />
Figura 1 – Nuvem de termos baseada nos títulos das teses e dissertações defendidas<br />
na <strong>USP</strong> entre junho de 1992 e setembro de 2011, abordando assuntos<br />
ligados a Mudanças Climáticas, destacando as 70 palavras mais utilizadas<br />
nos títulos.<br />
Observando a Figura 1, vemos como o tema Mudanças Climáticas é multidisciplinar,<br />
pois palavras como precipitação e temperatura podem indicar impactos<br />
no clima de diferentes regiões como Amazônia (floresta), Cerrado e outros<br />
municípios e Estados do Brasil. Nota-se também a presença de termos como<br />
emissões, gases de efeito estufa, ilha de calor nas grandes cidades, implicações e<br />
outros. Aspectos mais direcionados a políticas de mitigação como o Protocolo<br />
de Kyoto e meio ambiente também são mostrados.<br />
O aquecimento global causado pelo aumento da concentração dos gases<br />
de efeito estufa na atmosfera, por ações antrópicas, influencia temperaturas e<br />
circulações atmosféricas e oceânicas, que por sua vez atuam para modificar o<br />
regime hidrológico que terão um impacto na chuva em várias regiões do globo.<br />
Será afetado o manejo da água de forma geral e, com isso, a agricultura, a<br />
estudos avançados 26 (74), 2012<br />
345
produção de energia e as atividades socioeconômicas nas grandes cidades. Toda<br />
essa interação tem um custo que pode ser avaliado e posteriormente associado à<br />
vulnerabilidade das populações.<br />
Como um exemplo das contribuições que os estudos científicos realizados<br />
na pós-graduação da <strong>USP</strong> trouxeram, podemos citar uma tese de doutorado defendida<br />
na Esalq em 2010 (Moraes, 2010). Essa pesquisa destaca como as alterações<br />
climáticas são especialmente importantes para o setor agropecuário, uma vez<br />
que se trata de atividade que possui dependência dos ciclos naturais. O objetivo<br />
da tese foi avaliar impactos econômicos de cenários de mudança climática para<br />
a agricultura brasileira. Efeitos sobre áreas aptas de oito culturas (feijão, milho,<br />
soja, algodão, arroz, cana-de-açúcar, mandioca e café) foram avaliados por meio<br />
de um modelo de equilíbrio geral computável, o The Enormous Regional Model<br />
for Brazil (Term-BR) e cenários disponibilizados pela Empresa Brasileira de<br />
Pesquisa Agropecuária (Embrapa), baseados no Painel Intergovernamental para<br />
a Mudança Climática (IPCC). Dois cenários foram simulados com horizontes<br />
distintos, um para 2020 desconsiderando mudanças sociais e econômicas (2020/<br />
A2), e outro para 2070 com adaptações sociais e econômicas, nas projeções do<br />
IPCC (2070/B2). Para 2020/A2 os efeitos negativos se concentram na região<br />
Nordeste, como uma consequência do clima semiárido e perfil produtivo da região,<br />
além dos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, como resultado<br />
de impactos sobre a área apta para o produto soja. Em oposição, nesse cenário, a<br />
região Sudeste se beneficiou, pois o produto cana-de-açúcar mostrou aumentos<br />
de rendimento sob aquecimento climático brando. O resultado líquido apontou<br />
para uma pequena redução da atividade econômica (PIB), elevação de preços de<br />
gêneros alimentícios e deslocamentos regionais da mão de obra, do Nordeste e<br />
no Centro-Oeste para as demais regiões. Para o segundo cenário, 2070/B2, o<br />
Nordeste e o Centro-Oeste foram novamente as regiões mais afetadas. Porém,<br />
os ganhos para a atividade econômica da região Sudeste foram menores, uma<br />
vez que o efeito benéfico sobre a cana-de-açúcar desaparece em cenários mais<br />
severos de mudança climática. Como consequência, houve um declínio nacional<br />
da atividade econômica superior ao cenário anterior. Com relação ao mercado<br />
de trabalho permaneceram as tendências de migração da mão de obra das regiões<br />
Nordeste e Centro-Oeste para as demais regiões. Contudo, essa migração<br />
se concentrou, proporcionalmente, nos estratos mais qualificados do mercado<br />
de trabalho. A mudança climática, na ausência de medidas de adaptação e mitigação<br />
mais intensas, pode representar um risco para regiões historicamente<br />
subdesenvolvidas ou de desenvolvimento recente. Em especial, demonstrou-se<br />
que os impactos econômicos no território brasileiro são heterogêneos entre as<br />
grandes regiões e os Estados que as compõem.<br />
Outro exemplo específico e interessante relacionando emissões do GEE,<br />
economia e a industrialização foi desenvolvido em uma tese de doutorado na EP<br />
(Lima, 2009). Esse trabalho demonstrou como o setor da construção contribui<br />
para a emissão de CO 2 na produção de materiais, sugerindo até mesmo a im-<br />
346<br />
estudos avançados 26 (74), 2012
portância da criação de políticas nessa área. O trabalho tinha por objetivo obter<br />
indicadores relacionados à emissão de CO 2 no segmento de concreto nacional<br />
para avaliação de sua relação com as mudanças climáticas. Os resultados mostraram<br />
que a emissão na faixa de 195 a 231 kgCO 2 /t de concreto, em torno de<br />
88%, estão associados ao cimento. Nos cenários escolhidos para os estudos, caso<br />
não haja alterações na emissão de CO 2 no cimento, as emissões totais, em 2030,<br />
serão iguais a 3,0 e 4,5 vezes maiores que as de 1990, ano adotado como referência<br />
em cenários de evolução de fatores ligados às mudanças climáticas. Nesses<br />
patamares, o crescimento das emissões será maior que os necessários para enquadramento<br />
em qualquer dos cenários de mitigação considerados mundialmente<br />
na atualidade, o que mostra os desafios que a indústria cimenteira enfrentará<br />
nas próximas décadas. O setor da construção também pode contribuir com a<br />
melhoria do controle tecnológico na produção do concreto, e com a maior participação<br />
do concreto usinado no segmento. Esse trabalho se insere num tema<br />
mais geral: sustentabilidade da cadeia de materiais de construção, que é cada<br />
vez mais importante. Nessa cadeia, há dificuldade de se encontrar indicadores<br />
confiáveis, o que é relacionado, em parte, ao alto grau de informalidade e organização<br />
setorial deficiente em alguns segmentos. Por isso, a utilização de ferramentas<br />
que permitam a identificação e estudo de problemas relevantes com grau<br />
adequado de confiabilidade e com boa relação custo-benefício das pesquisas é<br />
muito importante. Ao longo dos últimos anos, a Amazônia tem sido o foco de<br />
discussões em todos os setores da sociedade, particularmente pelo seu crescente<br />
desmatamento e consequente impacto climático que poderá causar. No entanto,<br />
uma tese de doutorado defendida em 2001 na FFLCH (Zamparoni, 2001)<br />
já demonstrava claramente o processo de degradação do solo e urbanização em<br />
algumas regiões do Brasil. Esse estudo analisou as alterações climáticas ocorridas<br />
na Amazônia Mato-Grossense, derivadas do processo de colonização a partir da<br />
década de 1970, tomando como amostragem os municípios de Sinop, Sorriso<br />
e Vera, localizados na Bacia do Médio Teles Pires. No contexto da apropriação,<br />
ocupação e transformação do espaço na Amazônia Mato-Grossense, os dados<br />
relativos à evolução temporal/espacial do processo de desmatamento da área<br />
de estudos foram mapeados e quantificados, resultando em porcentagens de<br />
áreas ocupadas e áreas com vegetação remanescentes. Os dados resultantes do<br />
acréscimo populacional da área de estudo e o crescente processo de urbanização<br />
do campo na Amazônia Mato-Grossense foram enfocados à luz das correntes<br />
migratórias rural/urbana, derivadas dos processos de modernização da agricultura<br />
na Região Sul do Brasil. A análise dos resultados das tendências das variáveis<br />
climáticas analisadas no período de 1973-1998 subsidiou a verificação de possíveis<br />
alterações climáticas derivadas do processo de ocupação e transformação<br />
da área estudada. Enquanto no município de Vera o desmatamento de sua área<br />
total foi de 31%; em Sinop foi de 47,08%; em Sorriso chegou a 66%, até o ano de<br />
1997, a partir do processo de ocupação da área, na década de 1970. O processo<br />
de urbanização do campo se manifestou nos três municípios objetos do referido<br />
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estudo, pois a maior parte da população migrante está concentrada nas áreas<br />
urbanas. Ficou evidenciado um acréscimo nas médias anuais das temperaturas<br />
do ar, das máximas e mínimas, um decréscimo nos valores das médias anuais das<br />
chuvas e acréscimos nos valores das médias anuais da umidade relativa e evaporação.<br />
Concluiu-se que as modificações nas variáveis climáticas possuem relações<br />
com o processo de desmatamento e o processo de urbanização do campo nos<br />
municípios de Sinop, Sorriso e Vera, localizados na Amazônia Mato-Grossense.<br />
Conforme visto aqui, e baseado em vários outros trabalhos, a modificação<br />
do clima local em razão das atividades humanas pode contribuir para a mudança<br />
do clima global. Discute-se atualmente como se dá esse feedback, ou seja, essa<br />
retroalimentação entre ambos, pois vários indicadores meteorológicos considerando<br />
cenários futuros mostram alterações nas circulações médias globais e,<br />
particularmente, em sistemas de tempo. Uma dissertação de mestrado defendida<br />
em 2009 no IAG (Krüger, 2009) mostrou interessantes resultados nessa direção.<br />
A pesquisa analisou possíveis impactos dos cenários de mudanças climáticas<br />
na climatologia de ciclones extratropicais no Atlântico Sul. O trabalho utilizou<br />
um modelo numérico regional analisando os ciclones no clima presente (1975-<br />
1989) e no futuro (2071-2085-cenários A2 e B2). Primeiramente avaliou-se a<br />
climatologia simulada pelo modelo em termos de precipitação e de temperatura<br />
no clima presente. Para ambas variáveis, o modelo regional simulou o padrão<br />
espacial e sazonal de forma semelhante ao observado, embora com diferenças<br />
na intensidade. Para os cenários futuros, o modelo simulou anomalias positivas<br />
de temperatura do ar, maiores sobre o norte e o nordeste do Brasil para o A2,<br />
coincidindo com as maiores reduções de precipitação. Um esquema automático<br />
de rastreamento de ciclones foi utilizado para obter as climatologias de<br />
ciclones simuladas pelo modelo. Os ciclones simulados foram mais fracos do<br />
que os observados no clima presente (1975-1989). No entanto, a distribuição<br />
espacial da densidade ciclogenética simulada foi mais próxima do observado. A<br />
climatologia projetada para os cenários futuros (A2 e B2) indicou redução no<br />
total de ciclones, tempo de vida médio, intensidade inicial média e velocidade<br />
de deslocamento médio. As maiores alterações ocorreram no cenário A2. As três<br />
regiões de formação de ciclones na costa leste da América do Sul (costa sul/sudeste<br />
do Brasil, sudeste do Uruguai e sul da Argentina) se mantiveram ativas nas<br />
simulações do clima futuro, com pequenas diferenças na intensidade e posição<br />
do núcleo de máxima densidade. Além disso, a região de geração dos ciclones<br />
que tem intensidades iniciais maiores deslocou-se em direção ao Polo Sul. Esses<br />
resultados sugerem que o clima das Regiões Sul e Sudeste do Brasil poderá ser<br />
bem diferente do que observamos atualmente, necessitando, portanto, avaliar<br />
adaptações e definir vulnerabilidades nestas áreas.<br />
Conclusões<br />
De forma geral, fica claro que ao longo dos últimos anos a pesquisa desenvolvida<br />
na Universidade de São Paulo tem contribuído para o aprimoramento<br />
348<br />
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do conhecimento de todas as implicações que as atividades do homem têm gerado<br />
na modificação do clima como o conhecemos nos últimos séculos. Alguns<br />
dos exemplos apresentados mostram claramente que a pós-graduação da <strong>USP</strong><br />
não realiza somente pesquisa básica, mas também está atenta a necessidades da<br />
sociedade para avançar no conhecimento de temas importantes.<br />
Referências<br />
IPCC. climate change 2001: the scientific basis. Contribution of Working Group I to the<br />
Third Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Houghton,<br />
J. T. et al. (Ed.). Cambridge, United Kingdom and New York: Cambridge University<br />
Press, 2001. 881p.<br />
KRÜGER, L. F. Projeções climáticas das ciclogêneses no atlântico sul utilizando os modelos<br />
Hadam3 e regcm3. São Paulo, 2009. 100p. Dissertação (Mestrado) – Instituto de<br />
Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, Universidade de São Paulo.<br />
LIMA, J. A. R. de. avaliação das consequências da produção de concreto no brasil para<br />
as mudanças climáticas. São Paulo, 2009. Tese (Doutorado) – Escola Politécnica, Universidade<br />
de São Paulo.<br />
MORAES, G. I. de. Efeitos econômicos de cenários de mudança climática na agricultura<br />
brasileira: um exercício a partir de um modelo de equilíbrio geral computável. Piracicaba,<br />
2010. 266p. Tese (Doutorado) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”,<br />
Universidade de São Paulo.<br />
ZAMPARONI, C. A. G. P. desmatamento, processo de urbanização do campo e variabilidade<br />
climática na amazônia mato-Grossense. São Paulo, 2001. Tese (Doutorado)<br />
– Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.<br />
<strong>Edmilson</strong> dias de Freitas é professor do Departamento de Ciências Atmosféricas do<br />
Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da <strong>USP</strong>.<br />
@ – efreitas@model.iag.usp.br<br />
tércio ambrizzi é professor do Departamento de Ciências Atmosféricas do Instituto<br />
de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da <strong>USP</strong>.<br />
@ – ambrizzi@model.iag.usp.br<br />
Recebido em 22.12.2011 e aceito em 28.12.2011.<br />
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