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Euro: Da criação à crise Nome do Autor: Nayara Furlan ... - Faap

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FUNDAÇÃO ARMANDO ALVARES PENTEADO<br />

FACULDADE DE ECONOMIA<br />

EURO: DA CRIAÇÃO À CRISE<br />

NAYARA FURLAN ROCHA LEME<br />

Monografia de Conclusão de Curso apresentada <strong>à</strong> Faculdade<br />

de Economia para obtenção <strong>do</strong> título de graduação em<br />

Relações Internacionais, sob orientação <strong>do</strong> Prof. Eduar<strong>do</strong><br />

Mekitarian.<br />

São Paulo, 2010


FURLAN, <strong>Nayara</strong> R. Leme. EURO: DA CRIAÇÃO À CRISE. São Paulo, Fundação<br />

Arman<strong>do</strong> Alvares Pentea<strong>do</strong>, 2010, 81 p.<br />

(Monografia Apresentada ao Curso de Graduação em Relações Internacionais da Faculdade<br />

de Economia da Fundação Arman<strong>do</strong> Alvares Pentea<strong>do</strong>)<br />

Palavras-chave: Integração <strong>Euro</strong>peia – <strong>Euro</strong> – Crise <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>


AGRADECIMENTOS<br />

Ao excelente professor e orienta<strong>do</strong>r exemplar, Eduar<strong>do</strong> Mekitarian, que durante um<br />

ano inteiro de trabalho sempre esteve <strong>à</strong> disposição para esclarecimentos, correções e apoio.<br />

Obrigada pela confiança em mim depositada, desde o início, quan<strong>do</strong> nos conhecemos nas<br />

aulas <strong>do</strong> 7° semestre, e por ter participa<strong>do</strong> ativamente da elaboração deste trabalho, <strong>do</strong> qual<br />

tenho muito orgulho de ter concluí<strong>do</strong>.<br />

Agradeço <strong>à</strong> minha família, que de maneiras diversas, me apoiou e supriu as minhas<br />

necessidades enquanto me dedicava ao desenvolvimento <strong>do</strong> trabalho. Tenho plena certeza de<br />

que as orações a mim dirigidas, com carinho e amor, me protegeram e me ajudaram a chegar<br />

até aqui. Obrigada!<br />

Ao meu companheiro de todas as horas, André, por ter si<strong>do</strong> sempre tão prestativo e<br />

compreensivo, até mesmo em meus piores momentos. Obrigada pelo tempo que dedicou me<br />

ajudan<strong>do</strong>, com detalhes tão importantes, e me completan<strong>do</strong> com seus conhecimentos e amor.<br />

Esten<strong>do</strong> também estes agradecimentos <strong>à</strong> sua família.<br />

Aos amigos queri<strong>do</strong>s que sentiram a minha ausência nos últimos meses e que me<br />

desejaram inúmeras vezes: boa sorte. Obrigada pelas palavras de incentivo e por toda a<br />

amizade.<br />

Aos professores que marcaram a minha passagem pela faculdade: Mário Sacchi,<br />

Álvaro Ba<strong>do</strong>, George Landau, Paulo Dutra, Bichir, e também aos que não estão mais na<br />

instituição, Caroline Freitas, Pedro Brasil e Guilherme Assis.<br />

À Fundação Arman<strong>do</strong> Alvares Pentea<strong>do</strong>, pela estrutura oferecida e a to<strong>do</strong>s os<br />

profissionais sempre muito dedica<strong>do</strong>s da Diretoria, <strong>do</strong> Apoio, da Sala de Monografia, da<br />

Biblioteca, <strong>do</strong>s corre<strong>do</strong>res, e especialmente <strong>à</strong> Fernanda Magnotta. Enfim, <strong>à</strong> faculdade como<br />

um to<strong>do</strong>.<br />

Por se tratar de um trabalho de conclusão de curso e, portanto, da finalização de uma<br />

etapa importante da minha vida, esten<strong>do</strong> ainda estes agradecimentos a todas as pessoas que<br />

me acompanharam durante estes quatro anos de constante aprendizagem e que contribuíram<br />

para o meu desenvolvimento.


RESUMO<br />

Esta monografia versa sobre a história <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>, desde sua <strong>criação</strong> até o os dias de hoje,<br />

em que enfrenta sua primeira <strong>crise</strong>. Traz, portanto, toda a parte histórica referente <strong>à</strong> integração<br />

<strong>do</strong> continente europeu que possibilitou a formação da União <strong>Euro</strong>peia, reconhecida como a<br />

maior área de integração regional <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

Tem como objetivo destacar o assunto extremamente atual que é a <strong>crise</strong> <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>, e<br />

como a União <strong>Euro</strong>peia tem lida<strong>do</strong> com os novos desafios. O trabalho destaca as falhas da<br />

integração europeia e aponta as possíveis soluções.


ABSTRACT<br />

This essay deals with the history of the <strong>Euro</strong>, from its creation until today, when<br />

<strong>Euro</strong>pe is facing her first <strong>Euro</strong> crisis. Bring therefore all the historic part on the integration of<br />

the <strong>Euro</strong>pean continent that made possible the formation of the <strong>Euro</strong>pean Union, recognized<br />

as the largest area of regional integration in the world.<br />

Aims to highlight the <strong>Euro</strong> crisis, an extremely current issue, and how the EU has<br />

dealt with the new challenges. This paper brings in evidence the <strong>Euro</strong>pean integration’s<br />

failures and indicates the possible solutions.


SUMÁRIO<br />

Lista de Figuras<br />

Lista de Quadros<br />

Lista de Tabelas<br />

Lista de Siglas<br />

INTRODUÇÃO.........................................................................................................................1<br />

1. A CRIAÇÃO DO SISTEMA DE BRETTON WOODS E SEU COLAPSO...........8<br />

2. A ORIGEM DO EURO NA INTEGRAÇÃO EUROPEIA....................................18<br />

3. A UNIÃO EUROPEIA E O EURO HOJE...............................................................34<br />

3.1 A Origem da Crise <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>.....................................................................................36<br />

3.2 Os PIIGS.................................................................................................................37<br />

3.2.1 Grécia..........................................................................................................39<br />

3.2.2 Portugal.......................................................................................................43<br />

3.2.3 Espanha.......................................................................................................45<br />

3.2.4 Irlanda.........................................................................................................49<br />

3.2.5 Itália............................................................................................................49<br />

3.3 Problemas e Planos de Austeridade Ultrapassam os PIIGS...................................50<br />

3.4 A França e o Caso da Reforma da Previdência......................................................53<br />

3.5 O plano de Socorro e as Soluções Propostas Até Agora........................................56<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................68<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................72<br />

APÊNDICES............................................................................................................................I


LISTA DE FIGURAS<br />

Figura 1 – Posição das populações europeias em relação ao <strong>Euro</strong>...........................................28<br />

Figura 2 – Indica<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s 5 países mais vulneráveis da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>..................................38<br />

Figura 3 – Projeção da dívida grega.........................................................................................40<br />

Figura 4 – Greves e manifestações na <strong>Euro</strong>pa..........................................................................53<br />

Figura 5 – As principais reformas da Previdência na <strong>Euro</strong>pa..................................................55


LISTA DE QUADROS<br />

Quadro 1 – Relação de Trata<strong>do</strong>s da União <strong>Euro</strong>peia................................................................33<br />

Quadro 2 – Adesão <strong>do</strong>s países <strong>à</strong> União <strong>Euro</strong>peia ao longo <strong>do</strong> anos.........................................33


LISTA DE TABELAS<br />

Tabela 1 – Performance macroeconômica antes e depois da introdução <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>....................32<br />

Tabela 2 – Comparação entre preços no merca<strong>do</strong> europeu.......................................................34


LISTA DE SIGLAS<br />

BCE – Banco Central <strong>Euro</strong>peu<br />

CCEE – Comissão para Cooperação Econômica <strong>Euro</strong>peia<br />

CECA – Comunidade <strong>Euro</strong>peia <strong>do</strong> Carvão e <strong>do</strong> Aço<br />

CE – Comunidade <strong>Euro</strong>peia<br />

CEE – Comunidade Econômica <strong>Euro</strong>peia<br />

CEEA – Comunidade <strong>Euro</strong>peia <strong>do</strong> Átomo<br />

C20 – Comitê <strong>do</strong>s Vinte<br />

ECU – <strong>Euro</strong>pean Currency Unit<br />

EFSF – <strong>Euro</strong>pean Financial Stability Facility<br />

EURATOM – Comunidade <strong>Euro</strong>peia <strong>do</strong> Átomo<br />

FED – Federal Reserve<br />

FME – Fun<strong>do</strong> Monetário <strong>Euro</strong>peu<br />

FMI – Fun<strong>do</strong> Monetário Internacional<br />

GIP – Gold Import Point<br />

GEP – Gold Export Point<br />

IME – Instituto Monetário <strong>Euro</strong>peu<br />

NPE – Nova Política Econômica<br />

OCDE – Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico<br />

OECE – Organização <strong>Euro</strong>peia de Cooperação Econômica<br />

OIT – Organização Internacional <strong>do</strong> Trabalho<br />

PEC – Pacto de Estabilidade e Crescimento<br />

PESC – Política Externa e Segurança Comum<br />

PIB – Produto Interno Bruto<br />

SME – Sistema Monetário <strong>Euro</strong>peu<br />

TCE – Trata<strong>do</strong>s de Roma<br />

UE – União <strong>Euro</strong>peia<br />

UEME – União Econômica e Monetária <strong>Euro</strong>peia<br />

UFE – União Federalista <strong>Euro</strong>peia


INTRODUÇÃO<br />

Conhece-se a União <strong>Euro</strong>peia como sen<strong>do</strong> o modelo de integração regional de maior<br />

sucesso. Alcançar os patamares já alcança<strong>do</strong>s pela UE exige um alto grau de convergência de<br />

interesses por parte de to<strong>do</strong>s os membros; no caso da UE, os próprios interesses nacionais <strong>do</strong>s<br />

Esta<strong>do</strong>s membros da União levaram <strong>à</strong> integração.<br />

Para entender to<strong>do</strong> o processo de unificação da <strong>Euro</strong>pa é preciso analisar as teorias de<br />

integração e as possíveis razões que motivam os países a se integrar e convergir nos interesses<br />

nacionais. Os primeiros processos de integração podem ser data<strong>do</strong>s entre 1812 e 1914, sen<strong>do</strong> o<br />

mais significante deles a <strong>criação</strong> <strong>do</strong> Zollverein em 1833, que consistiu na abertura das fronteiras<br />

de 18 Esta<strong>do</strong>s alemães e a a<strong>do</strong>ção de uma pauta comum para as relações exteriores. Já mais<br />

próximo da UE, o primeiro passo da<strong>do</strong> no senti<strong>do</strong> da integração foi a <strong>criação</strong> da organização<br />

regional Benelux em 1944, envolven<strong>do</strong> Bélgica, Holanda e Luxemburgo, forman<strong>do</strong> uma união<br />

aduaneira (HERZ e HOFFMANN, 2004)<br />

Quanto <strong>à</strong> classificação das etapas de integração, não existe até o momento um consenso<br />

entre os autores sobre o assunto. Pode-se destacar a classificação feita por B. Balassa que engloba<br />

cinco fases distintas: zona de livre comércio, união aduaneira, merca<strong>do</strong> comum, união econômica<br />

e integração econômica total e a classificação de R. Tamames composta, por sua vez, de quatro<br />

fases: preferências aduaneiras, zona de livre comércio, união aduaneira e união econômica<br />

(VIEIRA, 2004). Para Balassa a integração econômica total, que ele identifica como último<br />

estágio da integração, pressupõe a unificação de políticas monetárias, fiscais e até sociais, e em<br />

consequência disso exige a existência de uma autoridade supranacional (BALASSA, 1961 apud<br />

VIEIRA, 2004).<br />

De acor<strong>do</strong> com a proposta funcionalista de Mitrany (1946 apud HERZ e HOFFMANN,<br />

2004) a cooperação está conectada <strong>à</strong> segurança internacional. Primeiramente, atos de cooperação<br />

seriam firma<strong>do</strong>s em áreas mais técnicas e específicas relacionadas <strong>à</strong>s esferas econômica e social<br />

para só depois atingir a esfera política ao criar valores comuns e atingir outras áreas; é o chama<strong>do</strong><br />

processo de spillover. A ideia <strong>do</strong> autor era a da <strong>criação</strong> de um sistema de paz onde o bem-estar<br />

alcança<strong>do</strong> pela população não seria credita<strong>do</strong> ao Esta<strong>do</strong> nacional, mas sim, <strong>à</strong> cooperação<br />

internacional e aos seus benefícios. A aceitação <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s por esse modelo de cooperação, dar-<br />

se-ia pelo fato de que as soberanias não seriam suprimidas, apenas uma parte da soberania de<br />

1


cada país passaria para uma autoridade central, mas nas decisões sobre política externa a<br />

soberania individual pautaria o interesse nacional. Seguin<strong>do</strong> a linha <strong>do</strong> funcionalismo, surgiu o<br />

neofuncionalismo. “(...) um conjunto de autores e líderes concluiu que o funcionalismo como<br />

teoria e prática deveria ser reformula<strong>do</strong> e apropria<strong>do</strong> para a discussão sobre a natureza <strong>do</strong><br />

processo de integração em curso na <strong>Euro</strong>pa Ocidental” (HERZ e HOFFMANN, 2004). A nova<br />

teoria ainda seguia o processo de spillover, ou seja, uma integração gradual através de setores<br />

específicos tem a capacidade de se espalhar para novas áreas e setores e promover neles a<br />

integração. O neofuncionalismo também propõe que a existência de órgãos supranacionais<br />

confere um nível mais eleva<strong>do</strong> de integração e cooperação aos Esta<strong>do</strong>s que se submetem a eles<br />

(SARFATI, 2005).<br />

Entre as razões que levam um grupo de países a se integrar estão contidas, além da<br />

econômica, razões políticas e sociais. No caso específico da UE foram principalmente os motivos<br />

políticos que levaram <strong>à</strong> <strong>criação</strong> da CEE.<br />

Para analisar a fase mais profunda desse bem sucedi<strong>do</strong> processo que é a integração<br />

monetária, é preciso entender os motivos que levaram os países a optarem por esse caminho. A<br />

decisão foi tomada com base no cenário mundial daquele momento e nos ensinamentos das<br />

experiências passadas durante o perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> padrão ouro com o câmbio fixo e após com o câmbio<br />

flexível.<br />

O padrão ouro foi um sistema de taxas de câmbio fixas que funcionou no mun<strong>do</strong> de 1880<br />

até 1914 quan<strong>do</strong> eclodiu a Primeira Guerra Mundial. Suas origens são da época em que as<br />

moedas passaram a ser utilizadas como meio de troca, no mercantilismo.<br />

Neste sistema o ouro era o único ativo das reservas internacionais, e cada nação era<br />

responsável por estabelecer o conteú<strong>do</strong> de ouro equivalente <strong>à</strong> sua moeda. Dessa forma, o<br />

conteú<strong>do</strong> de ouro de uma unidade de cada moeda era fixo, assim como as taxas de câmbio. Era o<br />

chama<strong>do</strong> sistema de paridade da moeda, e nele as taxas de câmbio podiam flutuar dentro de uma<br />

pequena margem acima e abaixo da paridade (SALVATORE, 1998). Era tarefa <strong>do</strong> Banco Central<br />

de cada país garantir a paridade de sua moeda com o ouro e para tanto precisavam ter a<br />

quantidade suficiente da moeda em estoque (KRUGMAN, 2005).<br />

Foi através de <strong>Da</strong>vid Hume em 1752 que o mun<strong>do</strong> conheceu o sistema que ele denominou<br />

de fluxo-espécie-preço. O mecanismo explica<strong>do</strong> por Hume para se contrapor <strong>à</strong>s ideias<br />

mercantilistas assumia que o sistema <strong>do</strong> padrão ouro possuía um ajuste automático e que os<br />

2


superávits contínuos no balanço de pagamento <strong>do</strong>s países, prega<strong>do</strong> pelos mercantilistas, não era<br />

eficiente. Hume explicou através de seus argumentos que a acumulação de capitais tão<br />

perseguida pelos mercantilistas afetava a oferta interna da moeda e consequentemente elevava os<br />

preços e os salários internos, causan<strong>do</strong> inflação. Além disso, o aumento nos preços internos e nos<br />

salários ocasionava ao país perda de competitividade externa o que dificultava a obtenção de<br />

excedentes comerciais.<br />

O mecanismo monetário internacional fluxo-espécie-preço baseava-se em duas premissas<br />

básicas da Teoria Quantitativa da Moeda. Para resolver o problema entre um país superavitário e<br />

um deficitário apenas o ouro das reservas internacionais seria o suficiente. Suponha-se que os<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s estão em déficit enquanto que a Ingleterra está em superávit. Para equilibrar os<br />

balanços de pagamentos de ambos os países os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s devem exportar ouro para a<br />

Inglaterra, enquanto esta exporta seus bens e serviços para os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Ao realizar a saída<br />

de divisas, os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s sofrem uma queda em suas reservas e consequentemente na sua<br />

oferta interna de moedas. O momento que se segue é de forte pressão sobre os preços internos<br />

que caem e levam <strong>à</strong> depreciação cambial. Com a depreciação o país ganha competitividade, passa<br />

a exportar mais <strong>do</strong> que importar e em resulta<strong>do</strong> reduz seu déficit. Do outro la<strong>do</strong> da balança, a<br />

Inglaterra vai receber as divisas e aumentar suas reservas. Ao contrário <strong>do</strong> que acontece nos<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, o país passa por um aumento na oferta monetária, e a pressão sobre os preços faz<br />

com que eles subam e assim ocorre a apreciação cambial. Em decorrência da apreciação o país<br />

perde competitividade, suas exportações diminuem, enquanto as importações crescem e o<br />

resulta<strong>do</strong> final é a redução <strong>do</strong> superávit inicial. Então, como resulta<strong>do</strong> deste mecanismo, se obtém<br />

o equilíbrio entre os balanços de pagamentos <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is países.<br />

Como menciona<strong>do</strong> anteriormente, as taxas de câmbio que vigoraram neste sistema, eram<br />

fixas, uma vez que as moedas equivaliam a um conteú<strong>do</strong> fixo de ouro. Mesmo assim, havia uma<br />

margem pequena de flutuação, devida aos preços de importação e exportação <strong>do</strong> ouro chama<strong>do</strong>s<br />

de gold importing point (GIP) e gold exporting point (GEP) respectivamente.<br />

Apesar de existir um mecanismo de ajuste no sistema <strong>do</strong> padrão ouro, muitos <strong>do</strong>s ajustes<br />

não ocorreram de acor<strong>do</strong> com suas regras. Basicamente foram os países em déficit que arcaram<br />

com as consequências de equilibrar to<strong>do</strong> o sistema, enquanto os países em superávit a<strong>do</strong>tavam<br />

uma postura menos rígida em relação <strong>à</strong>s suas políticas monetárias (KRUGMAN, 2005). Mesmo<br />

3


assim, o sistema funcionou tranquilamente por cerca de 30 anos, e de acor<strong>do</strong> com Salvatore<br />

(1998) isso só foi possível devi<strong>do</strong> <strong>à</strong>s condições especiais durante o perío<strong>do</strong>.<br />

Foi um perío<strong>do</strong> de grande expansão econômica e estabilidade na maior parte <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

A libra esterlina era a única moeda internacional importante, e Londres, o único centro<br />

monetário internacional. Por esses motivos, não poderiam existir falta de confiança na<br />

libra e trocas para outras moedas e outros centros monetários rivais. Havia maior<br />

flexibilidade de preços <strong>do</strong> que nos dias de hoje, e as nações subordinavam o equilíbrio<br />

interno ao externo. Em tais circustâncias, qualquer sistema monetário internacional teria<br />

atua<strong>do</strong> de maneira razoavelmente tranquila (SALVATORE, 1998:391).<br />

O mun<strong>do</strong> viu o fim <strong>do</strong> padrão ouro clássico em 1914, quan<strong>do</strong> teve início a Primeira<br />

Guerra Mundial e o câmbio flutuante foi a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>. Durante o episódio, ficou claro que a ideia<br />

aplicada até aquele momento de que o ajuste no balanço de pagamentos <strong>do</strong>s países ocorria de<br />

forma automática, não era real. Os principais países participantes da guerra passaram a emitir<br />

moeda quase que sem controle com o objetivo de financiar seus gastos militares; os resulta<strong>do</strong>s da<br />

guerra e das emissões desenfreadas trouxeram problemas graves <strong>à</strong> economia como o eleva<strong>do</strong><br />

nível de preços e a consequente inflação. A Alemanha e outros países da <strong>Euro</strong>pa Central foram os<br />

mais atingi<strong>do</strong>s pela inflação, sen<strong>do</strong> o caso da hiperinflação alemã o mais comenta<strong>do</strong> e<br />

impressionante. De acor<strong>do</strong> com Krugman, o índice de preços <strong>do</strong> país passou de 262 em 1919 para<br />

126.160.000.000.000 em 1923. Grande culpa disso é imposta ao Trata<strong>do</strong> de Versalhes que<br />

condenou a Alemanha a enormes indenizações (KRUGMAN, 2005)<br />

A situação econômica pouco agradável que se seguiu, fez com que os países desejassem o<br />

retorno <strong>do</strong> padrão ouro principalmente devi<strong>do</strong> <strong>à</strong> sua estabilidade. A guerra terminou em 1918, e o<br />

primeiro país a retornar ao antigo padrão foram os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s logo em 1919. Em 1922, a<br />

Conferência de Gênova, que reuniu Itália, Grã-Bretanha, França e Japão, reconheceu o problema<br />

de a disponibilidade total <strong>do</strong> ouro não ser suficiente e optou por um padrão câmbio-ouro, o que<br />

significa que tanto o ouro quanto as moedas conversíveis em ouro serviram como reservas<br />

internacionais (KRUGMAN, 2005). No entanto, em 1925, a Grã-Bretanha com o ministro da<br />

Fazenda Winston Churchill retornou ao conheci<strong>do</strong> padrão ouro e reestabeleceu a conversibilidade<br />

de sua moeda, a libra, ao preço <strong>do</strong> ouro vigente antes da guerra. Aos poucos, os outros países<br />

também retornaram ao padrão ouro, mas não deram a devida atenção <strong>à</strong> nova situação e nem se<br />

atentaram para o que outros países estavam estabelecen<strong>do</strong> (KENEN, 1998).<br />

4


Segun<strong>do</strong> Salvatore (1998), O fato de o sistema funcionar mais como um padrão ouro-<br />

câmbio <strong>do</strong> que como o padrão ouro clássico, diminuiu substancialmente a quantidade de ouro no<br />

comércio mundial. “Naquela época, a substituição <strong>do</strong> ouro por moedas foi vista como um mo<strong>do</strong><br />

de reduzir a dependência que o sistema monetário possuía da oferta de ouro, mas acabou sen<strong>do</strong><br />

uma grande falha <strong>do</strong> sistema” (KENEN, 1998:507).<br />

Ao fim da década de 1920, já com a Inglaterra estagnada, o mun<strong>do</strong> enfrentou a grande<br />

depressão ocasionada a partir da quebra da bolsa de Nova York no ano de 1929. A <strong>crise</strong> alastrou-<br />

se por todas as partes e os países endivida<strong>do</strong>s por causa da guerra não mais pagaram seus<br />

empréstimos por não terem na verdade de quem tomar empresta<strong>do</strong>. O pânico prosseguiu e<br />

resultou no fim <strong>do</strong> padrão ouro primeiramente por parte da Inglaterra em 1931 e outros países na<br />

sequência. Em 1934, de volta ao padrão ouro de que haviam saí<strong>do</strong> um ano antes, os Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s desvalorizaram o dólar em 70% e estabeleceram um novo preço para o ouro, passan<strong>do</strong> de<br />

US$ 20,67 para US$ 35,00 a onça (KENEN, 1998).<br />

As medidas tomadas pelos países para enfrentar a depressão repercutiram em custos<br />

significativos <strong>à</strong> economia global. Até 1939 muitos ainda se encontravam afunda<strong>do</strong>s em dívidas,<br />

graças aos profun<strong>do</strong>s cortes nas relações comerciais que prometiam melhora. Ao ficar claro que a<br />

nova postura não trazia benefícios, o comércio internacional livre foi cota<strong>do</strong> como possível<br />

solução e o fato foi essencial para estabelecer o sistema monetário internacional que seria<br />

implementa<strong>do</strong> no pós-guerra: o acor<strong>do</strong> de Bretton Woods (KRUGMAN, 2005).<br />

A conferência de Bretton Woods veio então em resposta ao complica<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> das<br />

décadas de 20 e 30 em que os países <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong> enfrentaram complicações no sistema<br />

monetário internacional. O histórico das negociações, os resulta<strong>do</strong>s, suas implicações e seu<br />

posterior colapso serão o assunto <strong>do</strong> primeiro capítulo deste trabalho.<br />

Em seguida, o segun<strong>do</strong> capítulo tratará da <strong>criação</strong> da União <strong>Euro</strong>peia. Serão abordadas<br />

todas as fases da integração, desde o nascimento das primeiras ideias até a conclusão da<br />

integração monetária com a implantação da moeda única, os passos da<strong>do</strong>s em direção <strong>à</strong> formação<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> comum, os países favoráveis <strong>à</strong> unificação e os contrários, as dificuldades enfrentadas<br />

para se concluir o ambicioso plano, e os primeiros resulta<strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s.<br />

Ficará claro ao longo <strong>do</strong> capítulo que o processo de integração da <strong>Euro</strong>pa foi desde seu<br />

início um movimento crescente e dinâmico e ainda o é até hoje. Os altos e baixos das<br />

5


negociações foram necessários para que se chegasse <strong>à</strong> melhor solução que de início tinha como<br />

principal objetivo constituir uma força econômica estável para depois, no começo <strong>do</strong>s anos 1980,<br />

enfrentar Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e Japão na área comercial.<br />

Também serão destaque as vantagens e a importância da unificação para as populações<br />

europeias que antes tinham em comum apenas suas fronteiras, mas que hoje são consideradas<br />

uma única <strong>Euro</strong>pa ten<strong>do</strong> o idioma como principal e quase que exclusivo diferencial para os que a<br />

veem de fora. Os fatores que diferenciam franceses de alemães sempre existiram e ainda<br />

permanecem; o ponto chave para a unificação total ter obti<strong>do</strong> sucesso foi que as próprias<br />

populações entenderam que seria possível realizá-la sem deixar de la<strong>do</strong> suas características<br />

nacionais – “o nacionalismo econômico não vai conseguir modificar o cultural” (SILVA e<br />

SJOGREN, 1991:79). Ou seja, apesar de políticas iguais em muitas áreas, franceses continuaram<br />

franceses, alemães continuaram alemães e hoje to<strong>do</strong>s circulam livremente pelo continente e<br />

grande parte divide uma mesma moeda, o que trouxe facilidade para suas vidas. Silva e Sjogren<br />

(1991:78) definem da seguinte forma: “A unificação pode envolver uma euromoeda, eurobancos,<br />

euroleis, mas as ‘Mc<strong>Euro</strong>’ vão vender sanduíches ingleses, franceses, gregos e holandeses”.<br />

A realidade hoje para os cidadãos <strong>do</strong>s países que compõem a União <strong>Euro</strong>peia é o <strong>Euro</strong>.<br />

Fazer parte de uma união econômica e monetária, há tanto esperada e planejada, traz expectativas<br />

a cada uma das populações que traz o <strong>Euro</strong> nos bolsos. Será que tais expectativas foram<br />

realmente alcançadas após 11 anos da <strong>criação</strong> da moeda? Existem arrependimentos entre os<br />

países que optaram por fazer parte da união monetária? E quanto ao projeto, existem falhas? E<br />

diante de problemas, quais as soluções propostas pela UE? O terceiro e último capítulo ocupar-<br />

se-á da situação mais atual e responderá a estas perguntas, mostran<strong>do</strong> o presente das economias<br />

que compartilham o <strong>Euro</strong>.<br />

A União <strong>Euro</strong>peia recebeu grande destaque ao ser criada e em sequência aconteceu o<br />

mesmo com a <strong>criação</strong> <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> e sua implantação. Hoje a UE e o <strong>Euro</strong> estão mais uma vez em<br />

destaque ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, porém, não mais por sua inovação e sucesso. As notícias atuais<br />

tratam da <strong>crise</strong> que atingiu aquele continente e que preocupa governos bem posiciona<strong>do</strong>s na lista<br />

das maiores economias mundiais. Os cinco países, a<strong>do</strong>tantes <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>, que se encontram em<br />

situação mais delicada já são inclusive classifica<strong>do</strong>s através <strong>do</strong> acrônimo PIIGS, dan<strong>do</strong> um tom<br />

pejorativo a Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha (Spain em inglês).<br />

6


O caso trouxe <strong>à</strong> luz críticas feitas anteriormente que apontavam falhas na <strong>criação</strong> da união<br />

econômica e monetária. Estas falhas poderiam ter si<strong>do</strong> minimizadas e até mesmo solucionadas ao<br />

longo <strong>do</strong>s anos em que o <strong>Euro</strong> está em circulação; não foi o caso. E agora? A União <strong>Euro</strong>peia<br />

recorrerá <strong>à</strong> ajuda externa, demonstran<strong>do</strong> suas fraquezas ou, reencontrará sozinha o caminho <strong>do</strong><br />

sucesso? O capítulo irá apontá-las em paralelo ao relato da situação atual <strong>do</strong>s países da zona <strong>do</strong><br />

<strong>Euro</strong>.<br />

Após esta introdução sobre a economia mundial no momento anterior <strong>à</strong> Conferência de<br />

Bretton Woods e a breve explanação <strong>do</strong>s capítulos que virão a seguir, vale ressaltar que a<br />

relevância deste trabalho está relacionada principalmente ao processo de integração mais<br />

completo da atualidade e possivelmente da história da humanidade. Analisar a União <strong>Euro</strong>peia e<br />

estudar seu modelo de integração, incluin<strong>do</strong> todas as suas fases, sucessos, dificuldades e<br />

problemáticas ajuda a compreender outros processos de integração regional que ainda estão em<br />

andamento, como o caso mais próximo <strong>do</strong> Brasil, o Mercosul. Especialmente hoje, devi<strong>do</strong> <strong>à</strong> <strong>crise</strong><br />

que enfrenta, a UE traz-nos lições <strong>do</strong> que deixou de ser feito e que acabou dificultan<strong>do</strong> seu pleno<br />

sucesso.<br />

Por ser o processo de integração mais completo de que se tem conhecimento, a UE<br />

merece a atenção <strong>do</strong> campo acadêmico. Seu grande diferencial está em sua última fase: a a<strong>do</strong>ção<br />

da moeda única acompanhada de uma única política monetária para to<strong>do</strong>s os membros. Alterar o<br />

sistema monetário de um país não é uma tarefa simples e exige intensos esforços <strong>do</strong>s que se<br />

dispõem a integrar o novo sistema; afinal, os maiores obstáculos encontram-se internamente.<br />

Para países que já enfrentaram reformas monetárias, como o Brasil, a população está de<br />

certa forma acostumada, pois em poucos anos passou por três sistemas monetários antes de<br />

chegar ao atual. Já para os europeus a mudança foi uma novidade completa e apresentou o fator<br />

dificulta<strong>do</strong>r de modificar não apenas o sistema monetário de um país, como no nosso caso, mas<br />

sim, de várias economias distintas e governos com políticas fiscal e monetária diversas, além de<br />

diferentes interesses nacionais e características culturais muito distintas.<br />

Portanto, entender os passos que foram da<strong>do</strong>s visan<strong>do</strong> ao objetivo final de unificar as<br />

moedas, as dificuldades pelas quais passaram os países participantes, as consequências advindas<br />

da implantação e os sucessos alcança<strong>do</strong>s até o momento presente, bem como os erros cometi<strong>do</strong>s<br />

que culminaram na <strong>crise</strong> atual, torna-se relevante, e foi o tema escolhi<strong>do</strong> para este trabalho.<br />

7


1. A CRIAÇÃO DO SISTEMA DE BRETTON WOODS E SEU COLAPSO<br />

A hegemonia britânica que havia chega<strong>do</strong> ao fim praticamente com o início da Primeira<br />

Guerra Mundial, deu lugar, ao longo <strong>do</strong>s anos, <strong>à</strong> hegemonia <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s que,<br />

aproveitan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong>s estragos da guerra, se posicionaram como cre<strong>do</strong>r internacional<br />

transforman<strong>do</strong>-se em um novo poder econômico <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. No perío<strong>do</strong>, porém, entre guerras e<br />

principalmente no final <strong>do</strong>s anos 1920, os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s optaram por não atuar como este poder<br />

econômico <strong>do</strong>minante, apesar de já o serem, e ficaram volta<strong>do</strong>s mais para dentro praticamente,<br />

ignoran<strong>do</strong> os problemas que atingiam a quase totalidade <strong>do</strong>s países. Em relação ao<br />

posicionamento <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s frente <strong>à</strong> grande depressão, Edward M. Bernstein declarou<br />

que: “(...) Os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, que poderiam ter assumi<strong>do</strong> a liderança numa ação solidária,<br />

estavam desatentos aos perigos de uma deflação mundial e preocupavam-se mais com sua<br />

economia <strong>do</strong>méstica <strong>do</strong> que com a economia mundial” (BERNSTEIN apud MOFFITT, 1984:18).<br />

No começo <strong>do</strong>s anos 1940, porém, o Reino Uni<strong>do</strong>, através <strong>do</strong>s consultores de política<br />

externa de Roosevelt, soube que o isolamento <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s não perduraria por muito mais<br />

tempo, pois não havia outra escolha para eles a não ser colocar-se <strong>à</strong> frente da formulação da nova<br />

ordem econômica mundial pós Segunda Guerra (MOFFITT, 1984). Entre 1940 e 1941, ambos os<br />

países deram início ao desenvolvimento dessa possível nova ordem monetária, mas a<br />

concretização <strong>do</strong>s planejamentos só se deu em julho de 1944, quan<strong>do</strong> representantes de 44 países,<br />

totalizan<strong>do</strong> 730 delega<strong>do</strong>s, se reuniram na cidade de Bretton Woods, New Hampshire na<br />

conferência que levou o nome da cidade. O objetivo central da Conferência de Bretton Woods era<br />

criar mecanismos que futuramente evitassem os principais problemas sofri<strong>do</strong>s no perío<strong>do</strong> entre<br />

guerras, como a falta de liquidez e a desorganização <strong>do</strong> comércio mundial.<br />

Na ocasião foram apresentadas duas propostas. A primeira delas idealizada por John<br />

Maynard Keynes, homem de renome da teoria econômica, representan<strong>do</strong> o Reino Uni<strong>do</strong>, e a<br />

segunda chefiada por Harry Dexter White, economista <strong>do</strong> Tesouro, representan<strong>do</strong> os Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s. O debate entre Keynes e White esteve fundamenta<strong>do</strong> em importantes diferenças contidas<br />

em seus planos. A proposta de Keynes trazia como um <strong>do</strong>s pontos principais a <strong>criação</strong> de um<br />

organismo financeiro internacional que o próprio Keynes denominou de Câmara de<br />

8


Compensações Internacionais e que funcionaria nos moldes de um banco central com caráter<br />

mundial e teria como função supervisionar o balanço de pagamentos <strong>do</strong>s países e regular a<br />

liquidez mundial. Além disso, o organismo seria o responsável pela emissão de uma nova moeda<br />

intitulada “bancor” que serviria para o acerto de contas entre países deficitários e superavitários.<br />

A ideia de Keynes ao criar tal organismo era a de que, ao estabelecer uma única moeda para<br />

liquidar as contas de um país em relação a outro, não haveria mais desequilíbrios. Entre os outros<br />

pontos da proposta de Keynes estavam intervenções <strong>do</strong>s bancos centrais <strong>do</strong>s países com a<br />

finalidade de regular as taxas cambiais e inibir flutuações exageradas, valorizações das moedas<br />

<strong>do</strong>s países cre<strong>do</strong>res e desvalorizações das moedas <strong>do</strong>s países deve<strong>do</strong>res e a divisão <strong>do</strong> peso das<br />

medidas de correção entre países cre<strong>do</strong>res e deve<strong>do</strong>res. Já a proposta de White estabelecia o dólar<br />

norte-americano como a principal moeda <strong>do</strong> sistema internacional, garantin<strong>do</strong> assim a sua<br />

conversibilidade em ouro ao preço de US$35,00/onça, um sistema de câmbio fixo das moedas<br />

<strong>do</strong>s outros países em relação ao dólar, permitin<strong>do</strong> pequenas flutuações de até 1% acima e abaixo<br />

<strong>do</strong> estabeleci<strong>do</strong>, <strong>criação</strong> de um fun<strong>do</strong> de estabilização para a resolução <strong>do</strong>s problemas de curto<br />

prazo <strong>do</strong> balanço de pagamentos e para os problemas de longo prazo a <strong>criação</strong> de um banco de<br />

reconstrução visan<strong>do</strong> primeiramente <strong>à</strong> <strong>Euro</strong>pa.<br />

A principal diferença entre os planos <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is especialistas “estava nas obrigações que<br />

eles impunham aos países cre<strong>do</strong>res na flexibilidade das taxas de câmbio e na mobilidade <strong>do</strong><br />

capital por eles admitidas” (EICHENGREEN, 2000:135). Enquanto o plano de Keynes<br />

trabalhava com um sistema cambial flutuante, permitin<strong>do</strong> aos países alterar suas taxas de câmbio<br />

se necessário, o de White tinha sistema cambial fixo. O banco de reconstrução proposto por<br />

White previa a a<strong>do</strong>ção de políticas austeras aos países que tomassem crédito, enquanto a Câmara<br />

de Compensações de Keynes praticamente não previa limites para o empréstimo de “bancores”,<br />

o que na visão da comissão norte-americana, com razão, estimularia o endividamento. Por último,<br />

as valorizações e desvalorizações das moedas contidas na proposta de Keynes desagradaram aos<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s profundamente, uma vez que eram os maiores cre<strong>do</strong>res mundiais e, portanto,<br />

sofreriam desvalorizações contínuas, além de o mecanismo ser prejudicial aos investimentos e ao<br />

comércio internacional.<br />

Após os debates, com algumas alterações, a proposta norte-americana de Harry Dexter<br />

White foi a escolhida para vigorar como a nova ordem monetária mundial, e nada proposto por<br />

9


John Maynard Keynes foi implanta<strong>do</strong>. A escolha, além de consagrar os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s como o<br />

poder hegemônico, consagrou também o dólar como a moeda <strong>do</strong>minante <strong>do</strong> sistema.<br />

Como parte da proposta norte-americana foram criadas as instituições que serviriam de<br />

base para o novo sistema monetário internacional. A primeira delas, o Fun<strong>do</strong> Monetário<br />

Internacional (FMI), nasceu com três objetivos principais: supervisionar o balanço de<br />

pagamentos <strong>do</strong>s países, coordenar as paridades monetárias e fornecer recursos aos países com<br />

desequilíbrios temporários no balanço de pagamentos. Um <strong>do</strong>s requisitos para que o FMI<br />

cumprisse suas tarefas era exatamente o que já havia proposto White: taxas de câmbio fixadas em<br />

dólar. A opção por um sistema cambial fixo foi feita com base nos anos anteriores. “Certos ou<br />

erra<strong>do</strong>s, os cria<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong> estavam convenci<strong>do</strong>s, devi<strong>do</strong> <strong>à</strong> experiência <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> entre<br />

guerras, de que as taxas de câmbio flutuantes provocavam instabilidade especulativa e eram<br />

prejudiciais ao comércio internacional” (KRUGMAN, 2005:407). Ainda de acor<strong>do</strong> com<br />

Krugman, além da escolha pela paridade fixa para combater as dificuldades <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, os<br />

artigos <strong>do</strong> Acor<strong>do</strong> <strong>do</strong> FMI continham medidas com vistas a combater a instabilidade financeira, a<br />

instabilidade <strong>do</strong>s níveis de preço, o desemprego e a desintegração econômica internacional.<br />

Para conseguir atuar com sucesso e ser aceito pelos países o FMI precisou se fixar-se,<br />

como bem apontou Krugman (2005), em uma mistura entre disciplina e flexibilidade. Disciplina<br />

para fazer com que os países cumprissem suas regras e flexibilidade para não prejudicá-los a<br />

alcançarem o equilíbrio interno no favorecimento <strong>do</strong> equilíbrio externo. Para garantir a<br />

flexibilidade o FMI implantou as facilidades de crédito e as paridades ajustáveis. A primeira diz<br />

respeito ao mo<strong>do</strong> como o FMI realiza seus empréstimos; cada país, ao ingressar no Fun<strong>do</strong>, obtém<br />

uma cota de contribuição que consiste em um quarto de ouro e três quartos em moeda <strong>do</strong> próprio<br />

país. São estes recursos, capta<strong>do</strong>s através das cotas, que permitem ao FMI emprestar aos países<br />

membros em desequilíbrio. As paridades ajustáveis estão relacionadas <strong>à</strong>s possíveis alterações nas<br />

taxas de câmbio, mesmo elas sen<strong>do</strong> fixas, se assim o FMI autorizar, por razão de um<br />

‘desequilíbrio fundamental’ no balanço de pagamentos. Por ‘desequilíbrio fundamental’<br />

entendem-se alterações internacionais adversas e permanentes que prejudicam a demanda por<br />

produtos de determina<strong>do</strong>s países e consequentemente prejudicam o balanço de pagamentos. Os<br />

países identifica<strong>do</strong>s com este problema e autoriza<strong>do</strong>s pelo FMI poderiam realizar valorizações ou<br />

desvalorizações na moeda nacional em relação ao dólar para evitarem o aumento <strong>do</strong> desemprego<br />

e <strong>do</strong> déficit nas transações correntes (KRUGMAN, 2005).<br />

10


Dentre as cláusulas <strong>do</strong> acor<strong>do</strong> estava a exigência de que os países tornassem suas moedas<br />

nacionais conversíveis em ouro o quanto antes, para que to<strong>do</strong> o comércio internacional<br />

funcionasse com mais facilidade. Havia também uma segunda opção: fixar as moedas nacionais<br />

em relação ao dólar, com o câmbio fixo de US$ 35,00 a onça; a conversibilidade referia-se <strong>à</strong><br />

aceitação e liquidez internacional para facilitar os movimentos de capital e comércio. Quan<strong>do</strong><br />

todas as moedas nacionais tivessem a sua conversibilidade instaurada, uma transação comercial<br />

ocorrida, por exemplo, entre Holanda e França em que uma das partes receberia o pagamento em<br />

moeda nacional <strong>do</strong> outro país, não seria problema, pois esta moeda poderia ser facilmente<br />

utilizada para qualquer outra transação de conta corrente, bem como ser vendida para o banco<br />

central <strong>do</strong> país que a recebeu para posteriormente ser convertida em moeda nacional ou até<br />

mesmo em dólares. Apesar da recomendação de que a conversibilidade deveria ser feita<br />

imediatamente, a total conversibilidade das moedas <strong>do</strong>s países europeus só ocorreu em 1958. O<br />

principal motivo para o processo ter ocorri<strong>do</strong> mais lentamente <strong>do</strong> que o solicita<strong>do</strong> foi em razão da<br />

Inglaterra que a<strong>do</strong>tou a conversibilidade em 1947 e logo a cancelou, devi<strong>do</strong> <strong>à</strong> grande corrida por<br />

parte <strong>do</strong>s outros países que sacaram tu<strong>do</strong> o que tinham deposita<strong>do</strong> em Londres para comprar<br />

dólares (KENEN, 1998).<br />

A vigência das regras impostas por Bretton Woods teve continuidade, e a situação <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> passou <strong>à</strong> seguinte: dólar como a principal moeda <strong>do</strong> comércio internacional e por ter si<strong>do</strong><br />

a primeira a se tornar conversível em ouro também passou a exercer o papel de unidade de conta<br />

e de reserva de valor; os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s como a economia mais forte <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> exercen<strong>do</strong> o<br />

papel de cre<strong>do</strong>res para a reconstrução da <strong>Euro</strong>pa e Japão, então devasta<strong>do</strong>s pela guerra; muitos<br />

países com economias mais fracas e também prejudica<strong>do</strong>s pela guerra apresentan<strong>do</strong> déficits nas<br />

contas correntes, e corrida pela compra de dólares por praticamente to<strong>do</strong>s os países, uma vez que<br />

a maioria <strong>do</strong>s serviços e também merca<strong>do</strong>rias eram importa<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Toda essa<br />

nova situação que perdurou por anos se transformou no perío<strong>do</strong> de escassez de dólares e levou<br />

preocupação aos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s que passaram a conviver com excedentes comerciais.<br />

Em busca de uma solução para os problemas <strong>do</strong> comércio mundial que naquele momento<br />

prejudicavam inteiramente o maior produtor <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, em 1948 foi lança<strong>do</strong> o Plano Marshall. O<br />

plano, apresenta<strong>do</strong> por Truman, consistiu em <strong>do</strong>ações de dólares para o Japão e para a <strong>Euro</strong>pa<br />

que não tinha mais condições de bancar os financiamentos para sua reconstrução e<br />

consequentemente em breve estaria falida e sem capacidade de comprar <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s que<br />

11


entrariam em recessão. De acor<strong>do</strong> com o professor Block: “O Plano Marshall só se tornou<br />

possível com a deteriorização <strong>do</strong> clima político internacional em 1947. Sem a intensificação da<br />

Guerra Fria, seria impossível vislumbrar o envio ao Congresso de tão maciço programa de ajuda”<br />

(MOFFITT, 1984:26).<br />

A duração <strong>do</strong> plano não foi tão longa, mas os recursos envia<strong>do</strong>s ultrapassaram em grande<br />

escala os valores que o FMI e o Banco Mundial poderiam ter ofereci<strong>do</strong> em conjunto no mesmo<br />

perío<strong>do</strong>. Entre 1948 e 1952 foram envia<strong>do</strong>s mais de US$12 bilhões aos países da <strong>Euro</strong>pa e ao<br />

Japão. Foi através <strong>do</strong> Plano Marshall que a escassez de dólares foi resolvida e que a <strong>Euro</strong>pa<br />

começou a se recuperar (MOFFITT, 1984).<br />

Além de dar início <strong>à</strong> recuperação europeia, o Plano Marshall contribuiu em três pontos<br />

principais para a <strong>Euro</strong>pa: possibilitou a compra de bens de capital e de matérias-primas<br />

necessários para reaquecer as indústrias, levou ao fim os controles sobre o comércio e<br />

pagamentos que visavam a conservar os dólares, permitin<strong>do</strong> assim o aumento <strong>do</strong> comércio intra-<br />

europeu e, por fim, aju<strong>do</strong>u a adquirir reservas tanto em ouro como em dólares (KENEN, 1998).<br />

Ao final <strong>do</strong>s anos 50, já não havia mais o problema da escassez de dólares; pelo contrário,<br />

agora o problema estava em seu excesso. Robert Triffin, foi o primeiro a detectar que os<br />

contínuos déficits no balanço de pagamento <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s não funcionariam para sempre<br />

como fonte de moeda internacional, enquanto o dólar estivesse atrela<strong>do</strong> ao ouro. O chama<strong>do</strong><br />

“dilema de Triffin”, como ficou conheci<strong>do</strong>, foi a primeira constatação de que o sistema cria<strong>do</strong> em<br />

Bretton Woods era fraco e que não daria conta de uma nova escassez de dólares. (MOFFITT,<br />

1984). Foi exatamente neste ponto da história que o Sistema de Bretton Woods passou a se<br />

enfraquecer. Em 1959, os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s já não possuíam mais grandes reservas de ouro como<br />

na <strong>criação</strong> <strong>do</strong> sistema em que eram detentores de 70% <strong>do</strong> ouro mundial; o que possuíam nesse<br />

ano era insuficiente para garantir toda a conversibilidade de dólares.<br />

Essa nova realidade, apoiada no “dilema de Triffin”, deu origem <strong>à</strong> <strong>crise</strong> de confiança <strong>do</strong><br />

dólar. Os países detentores de grandes quantias de dólares começaram a perceber que os Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s talvez não fossem capazes de garantir a conversibilidade de dólares em ouro, se to<strong>do</strong>s<br />

decidissem realizá-la, e a desconfiança gerou uma <strong>crise</strong> monetária internacional. Acreditava-se<br />

que os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s desvalorizariam sua moeda a qualquer momento para combater o déficit<br />

em transações correntes, o que deixaria a maioria <strong>do</strong>s países em situação complicada. Devi<strong>do</strong> <strong>à</strong><br />

12


especulação, o preço <strong>do</strong> ouro subiu para US$40,00/onça, e o presidente Kennedy, recém eleito<br />

nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, precisou prometer que seu país manteria o lastro <strong>do</strong> dólar em ouro<br />

(MOFFITT, 1984). Essa primeira corrida ao ouro ficou conhecida como o primeiro movimento<br />

especulativo contra o dólar, em que praticamente to<strong>do</strong>s os países optaram por converter grande<br />

parte de suas reservas em dólares para ouro.<br />

A década de 60 não trouxe uma solução definitiva ao problema, e, apesar de relativa<br />

calmaria entre 1961 e 1965, a situação foi-se deterioran<strong>do</strong> cada vez mais com o estoque norte-<br />

americano de ouro acaban<strong>do</strong> e os déficits crescen<strong>do</strong>. O problema no balanço de pagamentos <strong>do</strong>s<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s pode ser entendi<strong>do</strong> pelo ressurgimento das economias europeias e japonesa na<br />

disputa por merca<strong>do</strong>s, o que desestabeleceu a supremacia <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e pelos imensos<br />

gastos militares devi<strong>do</strong> <strong>à</strong> Guerra <strong>do</strong> Vietnã que contribuiu com bilhões para o déficit (MOFFITT,<br />

1984). A manutenção da desconfiança e a falta de solução geraram o segun<strong>do</strong> movimento<br />

especulativo contra o dólar no final <strong>do</strong>s anos 60, ten<strong>do</strong> a França de Charles De Gaulle na<br />

dianteira, que, além de correr para trocar seus dólares por ouro, exigiu que to<strong>do</strong>s os déficits com<br />

seu governo fossem salda<strong>do</strong>s em ouro, pois a intenção era ter em suas reservas apenas ouro e não<br />

mais dólares.<br />

A situação de corrida ao ouro não era mais sustentável, e em março de 1968 os bancos<br />

centrais europeus criaram um merca<strong>do</strong> duplo de ouro (Two Tier Agreement) que contemplava um<br />

preço oficial de US$35,00/onça utiliza<strong>do</strong> para transações entre bancos centrais e um preço livre<br />

utiliza<strong>do</strong> por negocia<strong>do</strong>res priva<strong>do</strong>s (KRUGMAN, 2005). Frente <strong>à</strong>s especulações e <strong>à</strong>s<br />

movimentações de países importantes na economia mundial, o então presidente norte americano<br />

em 1971, Richard Nixon, fortemente influencia<strong>do</strong> pelo secretário <strong>do</strong> Tesouro John Connally, foi<br />

<strong>à</strong> televisão e decretou unilateralmente importantes mudanças que mexeram com o mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong>.<br />

Primeiramente congelou salários e preços, reduziu gastos públicos e impostos de mo<strong>do</strong> a<br />

estimular o emprego e reduzir a inflação, depois sobretaxou em 10% todas as importações norte-<br />

americanas como saída para forçar seus parceiros comerciais a desvalorizarem suas moedas em<br />

relação ao dólar e, para completar, a medida mais grave de todas: colocou fim <strong>à</strong> conversibilidade<br />

<strong>do</strong> dólar em ouro.<br />

A mudança que ficou conhecida como a Nova Política Econômica (NPE) foi duramente<br />

criticada, e o presidente Nixon juntamente com John Connally foram os responsabiliza<strong>do</strong>s. Em<br />

13


dezembro <strong>do</strong> mesmo ano, após longas reuniões de negociações, foi assina<strong>do</strong>, em dezembro de<br />

1971, o Acor<strong>do</strong> de Washington no Smithsonian Institution, que retirou a sobretaxa de 10% das<br />

importações em troca <strong>do</strong> realinhamento da taxa de câmbio que obrigou principalmente a moeda<br />

alemã e a japonesa a se valorizarem, o que consequentemente desvalorizou o dólar em uma<br />

média de 8%. Ainda na reunião ficou acerta<strong>do</strong> o novo preço oficial <strong>do</strong> ouro em US$ 38,00/onça e<br />

confirma<strong>do</strong> que os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s não mais venderiam ouro aos bancos centrais estrangeiros<br />

(KENEN, 1998; MOFFIT 1984; EICHENGREEN, 2000).<br />

Richard Nixon, dan<strong>do</strong> créditos a si mesmo, declarou que o Acor<strong>do</strong> de Washington ficaria<br />

marca<strong>do</strong> como ‘o acor<strong>do</strong> monetário mais significativo na história mundial’. Sua vontade durou<br />

pouco mais de um ano, e em fevereiro de 1973 teve início um novo ataque especulativo ao dólar<br />

que exigiu uma desvalorização complementar de 10%. Durante este novo movimento<br />

especulativo, os merca<strong>do</strong>s de câmbio foram fecha<strong>do</strong>s por duas vezes, sen<strong>do</strong> a última em 1° de<br />

março e sua reabertura apenas no dia 19 <strong>do</strong> mesmo mês com a moeda japonesa e as seis<br />

principais moedas europeias flutuan<strong>do</strong> juntas em relação ao dólar, no que ficou conheci<strong>do</strong> como a<br />

‘serpente monetária’. De início pensou-se que a flutuação das taxas de câmbio era apenas<br />

temporária, mas o que, de fato, aconteceu foi que as mudanças <strong>do</strong> começo de 1973<br />

permaneceram e não permitiram mais o retorno <strong>do</strong> câmbio fixo, dan<strong>do</strong> início ao colapso <strong>do</strong><br />

sistema monetário internacional cria<strong>do</strong> em Bretton Woods (KRUGMAN, 2005; KENEN, 1998).<br />

De acor<strong>do</strong> com Kenen (1998), a partir daí as décadas de 70, 80 e início da década de 90<br />

ficaram marcadas por tentativas de juntar os pedaços <strong>do</strong> sistema monetário internacional. No<br />

decorrer <strong>do</strong>s anos 70, a frente europeia e a norte-americana desentenderam-se constantemente.<br />

Ambas defendiam um sistema mais simétrico, mas discordavam na ideia dessa simetria.<br />

Ainda de acor<strong>do</strong> com Kenen, em 1972 foi cria<strong>do</strong> o Comitê <strong>do</strong>s Vinte (C20) para<br />

representar o interesse de to<strong>do</strong>s os países participantes <strong>do</strong> FMI. O Comitê tentou formular uma<br />

proposta de reforma para o sistema de paridades cambiais; porém, <strong>do</strong>is anos depois seus trabalhos<br />

foram encerra<strong>do</strong>s sem qualquer sucesso. Seu fracasso deu-se não apenas pelas opiniões<br />

divergentes de reforma entre os grupos de países como pelo acontecimento de eventos<br />

internacionais importantes como o primeiro choque <strong>do</strong> petróleo em 1973 e to<strong>do</strong>s os problemas<br />

que o seguiram.<br />

14


A forte recessão sofrida pela economia mundial provocada pela queda <strong>do</strong> consumo e<br />

diminuição <strong>do</strong>s investimentos, ambos resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> aumento no preço <strong>do</strong> petróleo de US$ 3,00<br />

para US$ 12,00/barril, causou o fenômeno da estagflação que é a combinação da estagnação <strong>do</strong><br />

PIB com alto índice de inflação. A decisão de grande parte <strong>do</strong>s países frente ao problema foi<br />

a<strong>do</strong>tar políticas monetária e fiscal expansionistas, o que permitiu aos países industrializa<strong>do</strong>s<br />

retornarem ao equilíbrio logo em 1976. Krugman (2005) afirma que a escolha pelas taxas de<br />

câmbio flutuantes foi o que proporcionou a melhora.<br />

O perío<strong>do</strong> inicial das taxas flutuantes deu ao dólar uma valorização importante em relação<br />

<strong>à</strong>s principais moedas mundiais, o que permitiu aos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s se recuperarem da recessão<br />

com mais rapidez <strong>do</strong> que Alemanha e Japão. Tal vantagem, porém, transformou-se em problema,<br />

quan<strong>do</strong> as outras economias demoraram demais para reagir, o que elevou os preços norte-<br />

americanos fazen<strong>do</strong> o país perder competitividade e encarar déficits em conta corrente logo no<br />

ano de 1977. O dólar, portanto, enfraqueceu-se e a medida tomada pelos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s no ano<br />

seguinte foi unir-se ao Japão e <strong>à</strong> Alemanha para a a<strong>do</strong>ção de políticas expansionistas, visan<strong>do</strong> a<br />

retirar a economia mundial da recessão. Além disso, para restabelecer a confiança no dólar o<br />

então presidente norte-americano Jimmy Carter escolheu Paul Volcker para a presidência <strong>do</strong><br />

Federal Reserve que reajustou com rigor e de maneira restritiva a política monetária <strong>do</strong> país.<br />

Em 1979 mais um evento internacional de grandes proporções atrapalhou a reestruturação<br />

<strong>do</strong> sistema monetário mundial. O segun<strong>do</strong> choque <strong>do</strong> petróleo provoca<strong>do</strong> pela queda <strong>do</strong> xá <strong>do</strong> Irã<br />

elevou os preços <strong>do</strong> barril de US$ 13,00 para US$ 32,00 e os países importa<strong>do</strong>res viram-se mais<br />

uma vez de frente com a estagnação e a elevada inflação. Diferente <strong>do</strong> que ocorreu depois <strong>do</strong><br />

primeiro choque, no segun<strong>do</strong> as medidas a<strong>do</strong>tadas pelos países foram restritivas ao crescimento<br />

monetário, uma vez que o combate <strong>à</strong> inflação era prioritário.<br />

A a<strong>do</strong>ção, em 1973, das taxas de câmbio flutuantes devi<strong>do</strong> ao problema da estagflação foi<br />

o início <strong>do</strong> fracasso <strong>do</strong> Sistema Monetário de Bretton Woods. De acor<strong>do</strong> com Eichengreen (2000)<br />

o evento é considera<strong>do</strong> um divisor de águas ainda mais importante <strong>do</strong> que quan<strong>do</strong> houve a<br />

reconstrução <strong>do</strong> padrão ouro em 1925 ou quan<strong>do</strong> a conversibilidade foi reinstaurada em 1958.<br />

“(...) o fim de Bretton Woods transformou as questões monetárias internacionais” (2000:183).<br />

Enquanto países como Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e Japão a<strong>do</strong>taram o câmbio flutuante logo no<br />

começo das transformações, os países em desenvolvimento optaram pelo estabelecimento <strong>do</strong><br />

15


câmbio fixo; porém, não aguentaram por muito tempo manter a escolha, uma vez que ao não<br />

liberalizarem seus merca<strong>do</strong>s financeiros estavam perden<strong>do</strong> investi<strong>do</strong>res estrangeiros e<br />

prejudican<strong>do</strong> sua economia. Então, aos poucos, os países em desenvolvimento também a<strong>do</strong>taram<br />

a flutuação de suas moedas (EICHENGREEN, 2000).<br />

Durante este mesmo perío<strong>do</strong>, a <strong>Euro</strong>pa passava por uma transformação um pouco<br />

diferente. Em 1979 foi cria<strong>do</strong> com iniciativa francesa o Sistema Monetário <strong>Euro</strong>peu (SME) que<br />

formou uma união monetária como complemento <strong>à</strong> união aduaneira já existente. O primeiro<br />

passo para essa nova união foi da<strong>do</strong> em 1973, quan<strong>do</strong> seis países <strong>do</strong> continente optaram por uma<br />

flutuação em conjunto que ficou conhecida como “serpente monetária”. Em seguida, em virtude<br />

da proposta da França e da Alemanha de estabelecer um acor<strong>do</strong> mais formal, foi criada a Unidade<br />

Monetária <strong>Euro</strong>peia (ECU) composta por uma cesta de moedas <strong>do</strong>s países participantes <strong>do</strong> acor<strong>do</strong><br />

que criaram um sistema de câmbio fixo ao fixarem um valor <strong>à</strong>s suas moedas em função da ECU<br />

(KENEN, 1998).<br />

Ao longo da década de 80, o dólar passou por uma intensa valorização devi<strong>do</strong> ao<br />

aban<strong>do</strong>no das metas cambiais das outras duas economias importantes, alemã e japonesa, e<br />

também graças ao aumento na taxa de juro norte-americana. Em 1984 o dólar alcançou um<br />

patamar de valorização tão eleva<strong>do</strong> que foi impossível evitar uma intervenção no merca<strong>do</strong> de<br />

câmbio. No ano seguinte reuniram-se secretamente no Hotel Plaza, em Nova York, os ministros<br />

das finanças e os presidentes <strong>do</strong>s bancos centrais <strong>do</strong>s países pertencentes ao G-5. O objetivo<br />

dessa reunião era pressionar o dólar para baixo e impedir a aprovação de uma legislação<br />

protecionista pelo Congresso norte-americano. Seu resulta<strong>do</strong>, que ficou conheci<strong>do</strong> como Acor<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> Plaza, foi uma declaração que defendia a valorização das outras moedas em relação ao dólar.<br />

Imediatamente ao seu anúncio o dólar caiu 4% em relação ao marco alemão e ao iene e seguiu<br />

em queda. Em 1986 europeus e japoneses estavam prejudica<strong>do</strong>s com essa desvalorização<br />

contínua e foi necessária uma nova reunião, desta vez com a participação <strong>do</strong>s ministros das<br />

finanças <strong>do</strong> G-7, para discutir a a<strong>do</strong>ção de ajustes mais fundamentais. No Acor<strong>do</strong> <strong>do</strong> Louvre,<br />

como foi chama<strong>do</strong>, firma<strong>do</strong> em fevereiro de 1987, ficou acertada a estabilização <strong>do</strong> dólar em<br />

torno <strong>do</strong>s níveis correntes (EICHENGREEN, 2000).<br />

Mas, ainda de acor<strong>do</strong> com Eichengreen (2000), os problemas cambiais na <strong>Euro</strong>pa<br />

permaneceram. A “serpente monetária”, que surgiu em 1973 para dar lugar <strong>à</strong>s políticas de<br />

16


Bretton Woods, não atingiu o sucesso. Um <strong>do</strong>s motivos que explica seu fracasso é o primeiro<br />

choque <strong>do</strong> petróleo no mesmo ano em que foi implantada e a consequente perda de<br />

competitividade <strong>do</strong>s países europeus. Além disso, alguns países foram obriga<strong>do</strong>s a sair <strong>do</strong><br />

esquema da serpente em determina<strong>do</strong>s momentos, como a França fez em 1974 para flutuar<br />

livremente sua moeda e retornou no ano seguinte. É evidente que a estabilidade cambial da<br />

<strong>Euro</strong>pa não foi alcançada através deste méto<strong>do</strong> e os impactos foram sofri<strong>do</strong>s assimetricamente,<br />

enquanto o marco alemão era a moeda de referência e o Bundesbank regulava a política<br />

monetária <strong>do</strong> continente. Com isso, os outros países não tinham qualquer influência na escolha da<br />

política a<strong>do</strong>tada, o que os fez aban<strong>do</strong>nar a serpente.<br />

17


2. A ORIGEM DO EURO NA INTEGRAÇÃO EUROPEIA<br />

A União <strong>Euro</strong>peia que se conhece hoje é fruto de intensos e varia<strong>do</strong>s processos ocorri<strong>do</strong>s<br />

ao longo de muitos anos, e a própria ideia de integração envolven<strong>do</strong> o continente europeu possui<br />

origens muito antigas. Por mais de <strong>do</strong>is séculos, intelectuais e homens <strong>do</strong> poder buscaram formar<br />

uma unidade europeia (BACHE e GEORGE, 2006). Uma das primeiras tentativas de que se tem<br />

notícia, partiu <strong>do</strong> abade de Saint-Pierre em 1713, visan<strong>do</strong> <strong>à</strong> paz perpétua para o continente, e sua<br />

ideia era a constituição de uma associação federativa formada pelos Esta<strong>do</strong>s europeus soberanos<br />

que se organizariam em um tipo de aliança permanente e debateriam através de assembleias ou<br />

congresso (PFETSCH, 2001). Já um pouco mais tarde, durante o Congresso de Viena de 1815, o<br />

Conde Henri de Saint-Simon propôs um tipo de confederação envolven<strong>do</strong> primeiramente França<br />

e Inglaterra. Apesar de ter desperta<strong>do</strong> certo interesse, a proposta não foi implementada, e os<br />

Esta<strong>do</strong>s europeus saíram <strong>do</strong> congresso sem qualquer aproximação (HERZ e HOFFMANN,<br />

2004).<br />

Ao longo <strong>do</strong>s anos, principalmente depois da Primeira Guerra Mundial, alguns<br />

movimentos foram senti<strong>do</strong>s a favor de uma integração pacífica, mas com o fracasso da Liga das<br />

Nações que pretendia garantir um mun<strong>do</strong> de paz, ressurgiram os nacionalismos, e a preocupação<br />

com uma possível integração foi deixada de la<strong>do</strong>. Em seguida, o início da Segunda Guerra<br />

Mundial destruiu toda e qualquer possibilidade de uma união, derruban<strong>do</strong> inclusive a esperança<br />

<strong>do</strong>s que ainda acreditavam nela (BACHE e GEORGE, 2006). Foi necessário que a <strong>Euro</strong>pa<br />

enfrentasse duas guerras em seus territórios para que finalmente uma atitude mais concreta em<br />

direção <strong>à</strong> integração fosse tomada: “Foi ainda nos anos escuros da II Guerra Mundial que veio <strong>à</strong><br />

luz o <strong>do</strong>cumento considera<strong>do</strong> hoje o esforço formal da ideia de uma <strong>Euro</strong>pa unida: o Manifesto<br />

de Ventotene escrito em 1941 pelos intelectuais italianos Altiero Spinelli e Ernesto Rossi” 1<br />

(MANTOVANI e MARATTIN, 2008:18, tradução nossa).<br />

Com o fim da II Guerra Mundial, em que grande parte <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s europeus a<br />

enfrentaram em seus próprios territórios, a prioridade foi dada para a reconstrução econômica e<br />

1 T.A.: “E fu nel pieno degli anni bui della seconda guerra mondiale che vide la luce il <strong>do</strong>cument considerate oggi l’<br />

`esordio formale` dell’idea di <strong>Euro</strong>pa unita: il Manifesto di Ventotene (1941) (…) scritto dagli intellecttuali italiani<br />

Altiero Spinelli (di ispirazione social-comunista) ed Ernesto Rossi (di tradizione liberale) confinati nell’isola dal<br />

regime fascista”.<br />

18


política e para a <strong>criação</strong> de estruturas que garantissem a segurança e a paz coletivas (PFETSCH,<br />

2001). Não havia outra opção, uma vez que a <strong>Euro</strong>pa estava intensamente destruída: sem<br />

infraestrutura, com a produção paralisada e com grande deslocamento social. “Estradas, ferrovias,<br />

e pontes haviam si<strong>do</strong> destruídas pelo bombardeio <strong>do</strong>s alia<strong>do</strong>s ou pela Alemanha para conter o<br />

avanço das forças aliadas. (...) Havia milhões de refugia<strong>do</strong>s vagan<strong>do</strong> pela <strong>Euro</strong>pa tentan<strong>do</strong><br />

retornar para suas casas, ou sem nenhuma casa para retornar” 2 . O ponto crucial que deu início <strong>à</strong>s<br />

mudanças que estavam por vir, foi que em to<strong>do</strong> o continente, exceto Alemanha e Áustria, havia<br />

um sentimento a favor de mudanças; um sentimento de que a situação de antes da guerra não<br />

deveria mais retornar. Foi esse sentimento que favoreceu alguns parti<strong>do</strong>s de esquerda a ganharem<br />

o poder e que países como a Itália, que haviam sofri<strong>do</strong> com o Fascismo, se tornassem a favor de<br />

acabar com os nacionalismos. Assim, a ideia de um federalismo europeu ganhou apoio e passou a<br />

ser partilhada pelo continente, menos na Inglaterra e nos países escandinavos (BACHE e<br />

GEORGE, 2006:83, tradução nossa). “Ficou claro que a divisão interna da <strong>Euro</strong>pa havia si<strong>do</strong> a<br />

causa de duas guerras mundiais em menos de trinta anos e provoca<strong>do</strong> a morte de 60 milhões de<br />

pessoas. Iniciar um processo gradual de integração política no continente pareceu ser o mo<strong>do</strong><br />

mais eficiente para evitar futuros conflitos e divisões” 3 (MANTOVANI e MARATTIN, 2008:18,<br />

tradução nossa).<br />

De acor<strong>do</strong> com os autores havia duas possibilidades para atingir o objetivo: a proposta<br />

federalista que constituía na <strong>criação</strong> imediata de instituições comuns a to<strong>do</strong>s os países, forman<strong>do</strong><br />

os “Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s da <strong>Euro</strong>pa” e a proposta funcionalista que apontava para um processo gradual<br />

que eliminaria aos poucos os motivos de um conflito futuro, começan<strong>do</strong> pela unificação<br />

econômica, porque naquele momento, após duas guerras mundiais, seria utópico e provavelmente<br />

impossível começar por uma união política (idem, ibidem).<br />

Em 1946 foi colocada em prática a proposta federalista e criada a União Federalista<br />

<strong>Euro</strong>peia (UFE), mas foi só <strong>do</strong>is anos depois que a primeira conferência foi finalmente<br />

organizada para dar início <strong>à</strong> nova constituição. O Congresso <strong>Euro</strong>peu reuniu-se em maio de 1948<br />

2 T.A.: “Roads, railways and bridges had been destroyed by allied bombing or by the retreating German army in its<br />

attempt to slow the advance of the allied forces. (…) There were millions of refugees wandering around <strong>Euro</strong>pe<br />

trying to return to their homes, or without any homes to return to”.<br />

3 T.A.: “(…) visto che le divisione interne all’<strong>Euro</strong>pa erano state la causa di due guerre mondiali in meno di<br />

trent’anni e di sessanta milioni di morti, ci si convinse che iniziare um processo graduale di integrazione politica del<br />

continente fosse il mo<strong>do</strong> più sicuro per evitare future conflitti e divisioni ”<br />

19


na cidade de Haia, Países Baixos, e contou com Winston Churchill como presidente honorário. Já<br />

naquela ocasião ficou claro que a Inglaterra não estava interessada em participar de uma união<br />

supranacional que implicaria perda de sua soberania. O próprio Churchill declarou que a<br />

Inglaterra ficaria de fora <strong>do</strong>s “Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s da <strong>Euro</strong>pa”, pois já contava com o seu regime de<br />

commonwealth e que seu papel, portanto, seria de amiga e apoia<strong>do</strong>ra da nova união, assim como<br />

fariam os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s da América (BACHE e GEORGE, 2006).<br />

A UFE não obteve sucesso. As discussões ocorridas em seu âmbito foram <strong>do</strong>minadas<br />

pelos governos nacionais, o que desviou completamente sua intenção, e, ainda, as preocupações<br />

da época estavam mais voltadas para a reconstrução econômica de cada país. O que sobrou dessa<br />

tentativa foi o Conselho da <strong>Euro</strong>pa, forma<strong>do</strong> durante a UFE, que existe até hoje e que não deve<br />

ser confundi<strong>do</strong> com o Conselho <strong>Euro</strong>peu. O primeiro conta com 46 membros e não está liga<strong>do</strong> <strong>à</strong><br />

União <strong>Euro</strong>peia, o que o diferencia <strong>do</strong> segun<strong>do</strong>. Enquanto a UFE ainda estava viva, em 5 de<br />

junho de 1947, o secretário de Esta<strong>do</strong> Americano, George Marshall, anunciou uma ajuda<br />

financeira e o envio de alimentos para a <strong>Euro</strong>pa de mo<strong>do</strong> a colaborar com a sua reconstrução. A<br />

ajuda foi direcionada a to<strong>do</strong> o continente; porém, a URSS desconfiou da súbita bondade e optou<br />

por rejeitar a oferta (idem, ibidem).<br />

O Plano Marshall, como ficou conheci<strong>do</strong>, dispôs de 13 bilhões e 150 milhões de dólares<br />

norte-americanos para a economia europeia (LOGNE, 1965 apud PFETSCH, 2001). A quantia<br />

era destinada para a reconstrução econômica da <strong>Euro</strong>pa e possibilitaria as trocas comerciais entre<br />

os Esta<strong>do</strong>s europeus e os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e também entre os próprios Esta<strong>do</strong>s europeus. Para os<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s era um grande negócio retomar o comércio com o velho continente,<br />

principalmente para as indústrias voltadas para exportação (BACHE e GEORGE, 2006).<br />

Como condição para a ajuda os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s insistiram para que a distribuição fosse<br />

feita de maneira conjunta entre os Esta<strong>do</strong>s europeus, e dessa forma surgiu em julho de 1947 a<br />

Comissão para a Cooperação Econômica <strong>Euro</strong>peia CCEE. A ideia proposta era de que cada<br />

Esta<strong>do</strong> teria total autonomia para decidir onde investir, mas o fato é que os próprios Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s estavam presentes no comitê e, portanto, influenciavam nas decisões. A CCEE passou por<br />

algumas alterações para se tornar mais sólida e em 1948 recebeu o nome de Organização<br />

<strong>Euro</strong>peia de Cooperação Econômica (OECE) (idem, ibidem). Para o Plano Marshall foram<br />

identifica<strong>do</strong>s 16 países receptores <strong>do</strong>s recursos monetários; foram eles: Reino Uni<strong>do</strong>, França,<br />

20


Benelux, Turquia, Grécia, Itália, Portugal, Irlanda, Áustria, Suécia, Noruega, Dinamarca e<br />

Islândia (HERZ e HOFFMANN, 2004).<br />

A ideia por trás de uma organização como a OECE era a de preparar as bases para uma<br />

<strong>Euro</strong>pa supranacional que viria no futuro. Naquele momento, década de 50, ninguém tinha<br />

definições claras sobre a supranacionalidade. O que se sabia era que estava de certa forma<br />

relacionada <strong>à</strong> perda de soberania nos assuntos econômicos. Apesar das intenções, a OECE<br />

avançou muito pouco em direção <strong>à</strong> integração, mas realizou seus trabalhos durante <strong>do</strong>ze anos e<br />

foi peça chave para que os países da <strong>Euro</strong>pa entendessem sua mútua dependência econômica: “e<br />

que eles prosperariam ou fracassariam juntos” 4 (BACHE e GEORGE, 2006:89, tradução nossa).<br />

Em 1961 a organização mu<strong>do</strong>u de nome mais uma vez e passou a ser Organização para a<br />

Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).<br />

Em 9 de maio de 1950 Robert Schuman, então ministro das Relações Exteriores da<br />

França, apresentou sua proposta que ficou conhecida como Plano Schuman para integrar as<br />

produções de carvão e de aço da França e da Alemanha com a possibilidade de participação de<br />

outros países. A proposta havia si<strong>do</strong> elaborada pelo político francês Jean Monnet que já havia<br />

participa<strong>do</strong> de importantes decisões <strong>do</strong> governo da França e era defensor da integração europeia<br />

desde o fim da II Guerra Mundial (HERZ e HOFFMANN, 2004). A ideia era “subordinar a<br />

produção de carvão e aço franco-germânica a uma autoridade independente e supranacional, com<br />

competência para decidir sobre estes assuntos” (SABA, 2002:17).<br />

Se concluída, a organização permitiria <strong>à</strong> França obter o carvão necessário para a<br />

reconstrução de sua economia e ainda controlaria o rearmamento da Alemanha. Konrad<br />

Adenauer, chanceler alemão, apoiou e aceitou o plano por vislumbrar nele uma chance de<br />

ampliar o prestígio de seu país. Juntamente com a Alemanha, os países <strong>do</strong> Benelux e a Itália<br />

aderiram ao acor<strong>do</strong>, enquanto o Reino Uni<strong>do</strong>, maior produtor de carvão e aço daquela época, se<br />

recusou a participar através da declaração de Churchill que “o Reino Uni<strong>do</strong> jamais poderia<br />

subordinar sua política industrial a uma entidade supranacional” (idem, ibidem). Sen<strong>do</strong> assim, os<br />

seis países assinaram em abril de 1952 o Trata<strong>do</strong> de Paris que colocou em operação a partir de<br />

julho <strong>do</strong> mesmo ano a Comunidade <strong>Euro</strong>peia <strong>do</strong> Carvão e <strong>do</strong> Aço (CECA) que foi a primeira<br />

organização europeia transnacional. De acor<strong>do</strong> com Bache e George (2006:93, tradução nossa), o<br />

Plano Schuman seria “o primeiro passo decisivo em direção <strong>à</strong> uma unidade europeia e faria com<br />

4 T.A.: “(…), and that they prospered or failed together”.<br />

21


que uma guerra entre França e Alemanha se tornasse não apenas impensável, mas também<br />

materialmente impossível” 5 .<br />

Já no preâmbulo da Ceca se pode notar a forte convergência de interesses <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s-<br />

membros bem como a profundidade <strong>do</strong>s objetivos que não ficavam apenas na área econômica.<br />

Segun<strong>do</strong> Pfetsch (2001), dentre os motivos apresenta<strong>do</strong>s para a instituição da Ceca estavam: a<br />

busca pela paz mundial, a construção de uma <strong>Euro</strong>pa organizada como contribuição para a<br />

civilização, o estabelecimento de uma base comum para o desenvolvimento econômico, a<br />

elevação <strong>do</strong> nível de vida e a cooperação ao invés de rivalidades centenárias. O Trata<strong>do</strong> de Paris<br />

estabeleceu que a Ceca trabalharia “em harmonia com os Esta<strong>do</strong>s-membros e através <strong>do</strong><br />

estabelecimento de uma área de livre comércio carbo-siderúrgico, para a expansão econômica,<br />

para o aumento <strong>do</strong> emprego e para a melhoria <strong>do</strong> nível de vida nos Esta<strong>do</strong>s participantes (art. 2°)”<br />

(SABA, 2002:18).<br />

Paralelamente <strong>à</strong>s negociações da Ceca estava a elaboração de uma plano de defesa mútua<br />

que criaria a Comunidade <strong>Euro</strong>peia de Defesa e ainda uma Comunidade Política <strong>Euro</strong>peia com o<br />

objetivo de coordenar a política externa <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s. A ideia envolvia mais uma vez a divisão das<br />

soberanias e os Esta<strong>do</strong>s continuavam não prepara<strong>do</strong>s para este grande passo, o que fez com que<br />

ambas as propostas fracassassem (BACHE e GEORGE, 2006).<br />

Quanto <strong>à</strong> Ceca , nos primeiros anos de operação a comunidade ganhou destaque na arena<br />

internacional e passou a ter credibilidade. Conseguiu empréstimos norte-americanos e participou<br />

de negociações de acor<strong>do</strong>s bilaterais de comércio, <strong>do</strong>s quais se pode destacar o Acor<strong>do</strong> de<br />

Associação com o Reino Uni<strong>do</strong>. Muito <strong>do</strong> seu sucesso se deve, porém, <strong>à</strong> conjuntura econômica<br />

favorável que deu início ao “milagre alemão” e relaxou as tensões leste-oeste (HERZ e<br />

HOFFMANN, 2004). De acor<strong>do</strong> com o The Economist de agosto de 1956 (apud BACHE e<br />

GEORGE, 2006), em seus últimos anos a Ceca provou que o merca<strong>do</strong> comum era viável e<br />

vantajoso, porém, que a integração por setores gerava problemas de distorção e descriminação.<br />

O passo seguinte veio então em 1957, quan<strong>do</strong> foram assina<strong>do</strong>s o que se conhece como os<br />

Trata<strong>do</strong>s de Roma (TCE) que deram origem <strong>à</strong> Comunidade <strong>Euro</strong>peia <strong>do</strong> Átomo (CEEA ou<br />

Euratom) e <strong>à</strong> Comunidade Econômica <strong>Euro</strong>peia (CEE) mais tarde chamada apenas de<br />

Comunidade <strong>Euro</strong>peia (CE), ten<strong>do</strong> esta última da<strong>do</strong> um grande passo em direção <strong>à</strong> integração <strong>do</strong>s<br />

5 T.A.: “It would be a decisive first step towards <strong>Euro</strong>pean unit. It would make war between France and Germany not<br />

only unthinkable, but also materially impossible”.<br />

22


povos europeus, pois não tinha pretensões meramente econômicas. Mais uma vez Jean Monnet<br />

participou da evolução da integração e dessa vez, junto com ele, estava Paul-Henri Spaak,<br />

chanceler belga. A proposta de Spaak versava sobre a <strong>criação</strong> de uma comunidade para<br />

administrar o desenvolvimento de energia atômica e ía um pouco além ao apostar na formação de<br />

um merca<strong>do</strong> comum geral que ampliasse os objetivos <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> de Paris (SABA, 2002). A<br />

França foi o primeiro país a se opor <strong>à</strong> <strong>criação</strong> <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> comum geral, pois temia por suas<br />

indústrias, enquanto os países <strong>do</strong> Benelux, a Itália e a Alemanha se posicionaram a favor.<br />

Posteriormente, com a mudança <strong>do</strong> primeiro ministro francês, a França se alinhou aos outros, não<br />

sem antes levantar algumas concessões. Os Trata<strong>do</strong>s de Roma representaram a promessa de que a<br />

integração continuaria avançan<strong>do</strong> (BACHE e GEORGE, 2006).<br />

As duas novas organizações, Euratom e CEE, tiveram suas sedes instaladas em Bruxelas<br />

e seguiram a estrutura institucional já implementada na Ceca (HERZ e HOFFMANN, 2004).<br />

Segun<strong>do</strong> as autoras, com a assinatura <strong>do</strong>s Trata<strong>do</strong>s de Roma, que entraram em vigor em janeiro<br />

de 1958, os Esta<strong>do</strong>s-membros passaram a a<strong>do</strong>tar um número cada vez maior de decisões<br />

comunitárias e a dividir as operações das três comunidades que funcionavam no âmbito da<br />

integração: Ceca, CEE e Euratom. Apesar das diferentes funções, as atuações dessas três<br />

comunidades passaram a gerar problemas, pois os objetivos de uma atrapalhavam o andamento<br />

das outras e, além disso, os gastos com as três estruturas tornaram-se alvo de preocupação. Frente<br />

ao problema, a solução proposta foi a <strong>criação</strong> de uma estrutura organizacional idêntica para as<br />

três instituições que foi assinada e estabelecida pelo Trata<strong>do</strong> de Bruxelas, em 1965, pela <strong>Euro</strong>pa<br />

<strong>do</strong>s Seis.<br />

Tal fusão não transformou as três comunidades em uma única; cada uma continuou com<br />

suas competências. Foi também através <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> de Bruxelas que a integração europeia<br />

recebeu seu primeiro alargamento em 1972, uma vez que o <strong>do</strong>cumento de integração estava<br />

aberto <strong>à</strong> novas adesões, como já previam os trata<strong>do</strong>s anteriores de Paris e Roma. Os novos países<br />

a ingressar forman<strong>do</strong> a <strong>Euro</strong>pa <strong>do</strong>s Nove foram: Reino Uni<strong>do</strong>, que já havia si<strong>do</strong> veta<strong>do</strong> duas<br />

vezes pelo presidente francês de Gaulle, Dinamarca e Irlanda. A Noruega, que também se havia<br />

candidata<strong>do</strong>, não pôde ratificar, pois sua adesão foi negada em referen<strong>do</strong> popular. No ano<br />

seguinte, o primeiro alargamento já entrou em vigor, e Londres recebeu destaque importante por<br />

representar novo interesse no processo que antes se havia coloca<strong>do</strong> apenas como apoia<strong>do</strong>r. As<br />

ampliações continuaram: Grécia em 1981, Portugal e Espanha em 1986.<br />

23


Após algumas turbulências, incluin<strong>do</strong> o primeiro choque <strong>do</strong> petróleo, em 1979 foi<br />

aprovada a <strong>criação</strong> <strong>do</strong> Sistema Monetário <strong>Euro</strong>peu (SME) que consistiu no agrupamento das<br />

moedas <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s-membros em uma cesta de moedas em que cada uma participava<br />

ponderadamente. Este passo significou apenas a parte inicial <strong>do</strong> plano de unificação que tinha<br />

como fim a <strong>criação</strong> da moeda comum e <strong>do</strong> banco central europeu. Neste momento ocorre a<br />

primeira convergência das taxas de inflação <strong>do</strong>s países membros. Mais um choque <strong>do</strong> petróleo e<br />

outras turbulências complementares esfriaram o processo da União Econômica e Monetária que<br />

só voltaria <strong>à</strong> pauta das decisões no ano de 1989, graças <strong>à</strong> queda <strong>do</strong> muro de Berlim e ao<br />

consequente desmoronamento <strong>do</strong>s regimes <strong>do</strong> Leste europeu.<br />

Então, após o perío<strong>do</strong> de esfriamento no ritmo da integração durante os primeiros anos de<br />

1980 que ficou conheci<strong>do</strong> como a “eurosclerosis”, a Comissão das Comunidades <strong>Euro</strong>peias<br />

decidiu publicar em 1985 um projeto para a <strong>criação</strong> de um merca<strong>do</strong> único europeu dan<strong>do</strong> novo<br />

fôlego ao processo. A ideia principal da Comissão era suprir barreiras físicas, técnicas e fiscais<br />

para melhorar a livre circulação de merca<strong>do</strong>rias (COMISSÃO DAS COMUNIDADES<br />

EUROPEIAS, 1992; HERZ e HOFFMANN, 2004).<br />

A primeira revisão <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> de Roma foi apresentada em 1986 pelo francês Jacques<br />

Delors, então presidente da Comissão <strong>Euro</strong>peia. Seu projeto visava a acelerar e aprofundar a<br />

integração e foi intitula<strong>do</strong> de Ato Único <strong>Euro</strong>peu. A ideia contida no <strong>do</strong>cumento era futuramente<br />

formar uma União <strong>Euro</strong>peia que incluísse, além da área comercial, cooperação em política<br />

externa e uma política comum de segurança. Ao entrar em vigor no ano seguinte, consoli<strong>do</strong>u<br />

modificações importantes nos trata<strong>do</strong>s constitutivos da comunidade que naquele momento era a<br />

<strong>Euro</strong>pa <strong>do</strong>s Doze (SABA, 2002).<br />

O Relatório Delors foi composto de três fases distintas e pode-se dizer que grande parte<br />

de seu sucesso foi devi<strong>do</strong> <strong>à</strong> reunificação alemã. Jacques Delors focou seu relatório na questão das<br />

disparidades econômico-monetárias e propôs como solução uma maior unificação <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />

nesse nível. Dentre as mudanças, a mais importante está na inclusão definitiva <strong>do</strong> SME no quadro<br />

comum <strong>do</strong>s países de mo<strong>do</strong> a conferir maior coesão econômica e monetária <strong>à</strong> comunidade (idem,<br />

ibidem). De acor<strong>do</strong> com Krugman (2005), as fases propostas pelo Relatório Delors foram:<br />

primeiramente to<strong>do</strong>s os membros deveriam ingressar no mecanismo de taxa de câmbio; em<br />

seguida, as margens das taxas de câmbio passariam por uma redução e as decisões<br />

macroeconômicas estariam sob a responsabilidade da UE e, por fim, seria criada a moeda única<br />

24


europeia, e as decisões de política monetária passariam para as mãos de um sistema europeu de<br />

bancos centrais, ten<strong>do</strong> o FED norte-americano como modelo, com a direção de um banco central<br />

europeu. A previsão de Delors era de que o processo levaria cerca de dez anos para se completar.<br />

Mais tarde, devi<strong>do</strong> a suas propostas, Delors seria considera<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s mentores <strong>do</strong> <strong>Euro</strong><br />

(BITTENCOURT, 2002).<br />

“A ênfase dada por Delors no merca<strong>do</strong> único fazia parte de uma cuida<strong>do</strong>sa estratégia” 6<br />

(BACHE e GEORGE, 2006:162, tradução nossa). De acor<strong>do</strong> com os autores, o mentor viu neste<br />

projeto sua única chance de conquistar o apoio <strong>do</strong>s governos mais céticos, principalmente o da<br />

Grã-Bretanha. Através <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> comum, seria possível alcançar a especialização e a melhorar<br />

as economias de escala, tornan<strong>do</strong> as firmas europeias mais competitivas no merca<strong>do</strong><br />

internacional, o que naquele momento era de extrema importância para enfrentar Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />

e Japão. Apesar de ter apresenta<strong>do</strong> apenas mudanças modestas na visão <strong>do</strong>s federalistas, o Ato<br />

único <strong>Euro</strong>peu rejuvenesceu to<strong>do</strong> o processo de integração no continente. Além disso, para<br />

Delors a concretização <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> comum europeu não representava o fim <strong>do</strong> seu projeto, mas<br />

sim, o primeiro passo para o aprofundamento da integração. Sua ideia particular era agregar uma<br />

dimensão social e para tanto enfrentou a oposição da primeira ministra britânica, Margaret<br />

Thatcher.<br />

Mesmo sem a participação da Grã-Bretanha, os onze governos assinaram um protocolo de<br />

políticas sociais que continha os seguintes objetivos: promoção de empregos, melhorias nas<br />

condições de vida e trabalho, proteção social adequada, diálogo, desenvolvimento de recursos<br />

humanos para garantir mais qualidade no nível de empregos e a integração da população excluída<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho (idem, ibidem).<br />

Como resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> aprofundamento da integração, o merca<strong>do</strong> comum passou a se<br />

desenvolver, o que consequentemente afetou a vida <strong>do</strong>s cidadãos europeus. “Empresários e<br />

trabalha<strong>do</strong>res começaram a compartilhar de fato um merca<strong>do</strong> único. Paralelamente a sociedade<br />

civil se foi transnacionalizan<strong>do</strong> (...). A divisão entre as sociedades nacionais e a sociedade<br />

europeia tornou-se cada vez mais fluida”. A queda <strong>do</strong> muro de Berlim, a reunificação da<br />

Alemanha em 1990 e o fim da União Soviética no ano seguinte transformaram o processo de<br />

integração e proporcionaram maior evolução (HERZ e HOFFMANN, 2004:185).<br />

6 T.A.: “The emphasis that Delors put on the single market was part of a carefully considered strategy”<br />

25


“Devi<strong>do</strong> ao colapso <strong>do</strong> comunismo no leste europeu e <strong>à</strong> reunificação da Alemanha, o<br />

futuro da integração europeia foi novamente coloca<strong>do</strong> em foco” 7 (BACHE e GEORGE,<br />

2006:166, tradução nossa). A conferência intergovernamental de 1990, que tinha em pauta a<br />

<strong>criação</strong> da União Econômica <strong>Euro</strong>peia (UEM) e que posteriormente estendeu suas discussões<br />

para a <strong>criação</strong> de uma união política, deu origem ao Trata<strong>do</strong> de Maastricht de 1992, em vigor<br />

desde o ano seguinte. Maastricht transformou a Comunidade Econômica <strong>Euro</strong>peia em uma união<br />

levan<strong>do</strong> a integração <strong>à</strong> sua mais importante fase. O novo trata<strong>do</strong> que criou a União <strong>Euro</strong>peia,<br />

apresentou significativas modificações, sen<strong>do</strong> a mais importante delas a implantação de uma<br />

moeda única que entraria em circulação até 1999. As outras novidades contidas no trata<strong>do</strong><br />

versavam sobre: novos direitos para os cidadãos da União, melhorias na saúde, infraestrutura,<br />

cooperação para o desenvolvimento, mais poderes para o Parlamento <strong>Euro</strong>peu e introdução de<br />

uma política externa e de segurança comum, entre outras. De acor<strong>do</strong> com o trata<strong>do</strong>, a UE foi<br />

constituída sobre três pilares, sen<strong>do</strong> o primeiro deles o pilar comunitário composto pelas três<br />

comunidades já existentes (Ceca, CE e Euratom), o segun<strong>do</strong> conten<strong>do</strong> a política externa e a de<br />

segurança comum (Pesc), que previa a formação de uma identidade europeia única no âmbito<br />

internacional, e o terceiro forma<strong>do</strong> pela cooperação <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s na área de justiça e negócios<br />

internos, objetivan<strong>do</strong>, através da atuação comunitária, intensificar o combate a assuntos delica<strong>do</strong>s<br />

como tráfico, terrorismo e xenofobia (SABA, 2002). Este novo trata<strong>do</strong> foi o responsável por<br />

ampliar a atuação da Comunidade <strong>Euro</strong>peia e estabeleceu metas importantes que permitiram a<br />

conclusão <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> comum perfeito e a introdução da moeda única. Desde o início das<br />

negociações, a polêmica sobre a divisão de soberania esteve presente, e diversas propostas de<br />

inclusão de áreas importantes no âmbito comunitário não obtiveram consenso (HERZ e<br />

HOFFMANN, 2004).<br />

Como já cita<strong>do</strong>, a <strong>criação</strong> da moeda única foi o ponto mais importante levanta<strong>do</strong> em<br />

Maastricht. Para a União Econômica e Monetária <strong>Euro</strong>peia (UEME) se concretizar, o trata<strong>do</strong><br />

previa três fases que permitiriam realizar as alterações necessárias. Na primeira fase, com<br />

previsão de duração de 1990 a 1993, ocorreria a plena liberalização <strong>do</strong>s movimentos de capitais<br />

assim como o estreitamento das políticas econômicas de cada Esta<strong>do</strong>. Estes <strong>do</strong>is pontos seriam a<br />

base para o funcionamento da UEME. Já na segunda, que duraria até 1999, seriam criadas as<br />

7 T.A.: ”Following the collapse of Communism in eastern <strong>Euro</strong>pe and the reunification of Germany, the future of<br />

<strong>Euro</strong>pean integration was once again brought into focus”.<br />

26


ases institucionais. Os bancos centrais de cada Esta<strong>do</strong> tornar-se-iam independentes e não<br />

poderiam mais financiar os déficits <strong>do</strong>s países, e o Instituto Monetário <strong>Euro</strong>peu (IME), recém-<br />

cria<strong>do</strong> e precursor <strong>do</strong> Banco Central <strong>Euro</strong>peu (BCE), seria o responsável por supervisionar as<br />

políticas econômica e financeira de cada país-membro. Por fim, a partir de 1º de janeiro de 1999<br />

a fase monetária e cambial da integração seria concluída. Cada país-membro passaria sua<br />

autonomia em políticas monetária e cambial para o Sistema <strong>Euro</strong>peu de Bancos Centrais forma<strong>do</strong><br />

pelos bancos centrais de cada um e pelo BCE (BITTENCOURT, 2002).<br />

Foi também no Trata<strong>do</strong> de Maastricht que o conceito de cidadania europeia foi<br />

introduzi<strong>do</strong>. Através dele os cidadãos da <strong>Euro</strong>pa ganharam o direito não só de circular livremente<br />

pelos países-membros como também de morar, votar e candidatar-se para eleições europeias e<br />

municipais no Esta<strong>do</strong> em que reside e receber proteção diplomática ou consular de qualquer outro<br />

país-membro que não o de sua origem, quan<strong>do</strong> se encontra fora de um país-membro (BACHE e<br />

GEORGE, 2006).<br />

Pode-se notar que, a partir <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> de Maastricht, foi dada grande ênfase ao fator<br />

desenvolvimento, seja ele econômico ou social, mas de maneira comum a to<strong>do</strong>s os Esta<strong>do</strong>s-<br />

membros, visan<strong>do</strong> a uma harmonia, inclusive no que diz respeito <strong>à</strong>s instituições. De acor<strong>do</strong> com<br />

Herz e Hoffmann (2004:187/188), também foi após a implantação <strong>do</strong> trata<strong>do</strong> que a população<br />

europeia passou a ter mais consciência sobre o processo de integração que estava definitivamente<br />

mudan<strong>do</strong> sua vida. Houve então uma maior participação da coletividade principalmente após<br />

1995, quan<strong>do</strong> o Acor<strong>do</strong> de Schengen, parte <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> de Amsterdã, estabeleceu a eliminação<br />

<strong>do</strong>s controles fronteiriços entre os países signatários e que posteriormente se estendeu a toda a<br />

UE, o que “significou a implementação da liberdade de circulação de pessoas no âmbito <strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong> comum. O impacto da possibilidade de cruzar fronteiras livremente sem controle de<br />

passaporte foi, sem dúvida, enorme”. Foi também no ano de 1995 que a UE se expandiu para<br />

quinze Esta<strong>do</strong>s agregan<strong>do</strong> Suécia, Finlândia e Áustria (BACHE e GEORGE, 2006).<br />

Após Maastricht, em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 1990, ainda que alguns agiram com relutância, a<br />

maioria <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s-membros demonstrou ser favorável <strong>à</strong> a<strong>do</strong>ção da moeda única. Alguns<br />

governos passaram a aplicar referen<strong>do</strong>s para dar <strong>à</strong> população o poder da decisão. Sen<strong>do</strong> assim,<br />

em junho de 1992, a Dinamarca rejeitou a a<strong>do</strong>ção da moeda por 50,7%, e a principal<br />

concentração de opinião contrária foi em Copenhagen e outros centros urbanos (idem, ibidem). O<br />

gráfico abaixo representa a porcentagem da população de cada Esta<strong>do</strong> a favor ou contra <strong>à</strong> adesão<br />

27


<strong>do</strong> <strong>Euro</strong>. Nota-se que a maior parte <strong>do</strong>s países apresenta porcentagem de 50% ou acima a favor<br />

da adesão, sen<strong>do</strong> que apenas Grã Bretanha (UK) e Dinamarca (DK), como já cita<strong>do</strong>, têm mais<br />

porcentagem contra <strong>do</strong> que a favor. A população que mais demonstrou ser a favor foi a Itália,<br />

atingin<strong>do</strong> em torno de 70%, e a média (EC) de to<strong>do</strong>s os Esta<strong>do</strong>s ficou em torno de 50%.<br />

Figura 1 – Posição das populações europeias com relação ao <strong>Euro</strong><br />

Fonte: Comissão das Comunidades <strong>Euro</strong>peias. O Dossier da <strong>Euro</strong>pa, 2001.<br />

Para que os Esta<strong>do</strong>s-membros interessa<strong>do</strong>s na a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> fizessem realmente parte<br />

da união econômica e monetária foi preciso seguir os critérios de convergência propostos em um<br />

<strong>do</strong>s protocolos de Maastricht. Tais critérios foram elabora<strong>do</strong>s para que houvesse certa<br />

homogeneidade econômica e estabilidade entre os futuros parceiros de moeda. Primeiramente,<br />

cada país deveria apresentar, no ano anterior ao seu ingresso, uma taxa média de inflação de no<br />

máximo 1,5% acima da mesma taxa apresentada pelos países com maior estabilidade de preços;<br />

portanto, o futuro país a a<strong>do</strong>tar a moeda comum deveria mostrar-se capaz de combater a inflação.<br />

Em segun<strong>do</strong> lugar, com relação ao câmbio, o país deveria ter respeita<strong>do</strong> as margens de flutuação<br />

propostas no SME, pelo menos nos <strong>do</strong>is anos anteriores. Por fim, mas não menos importante, o<br />

déficit público anual de cada país candidato não poderia ultrapassar 3% <strong>do</strong> seu PIB, e sua dívida<br />

pública não ser mais de 60% <strong>do</strong> seu PIB (BITTENCOURT, 2002). Posteriormente, por iniciativa<br />

28


alemã, foi cria<strong>do</strong> o Pacto de Estabilidade e Crescimento com o objetivo de assegurar o<br />

cumprimento <strong>do</strong>s critérios de convergência no futuro e não apenas no momento da adesão <strong>à</strong><br />

moeda (LIBERATO, 2002).<br />

De acor<strong>do</strong> com os autores Bache e George (2006), entre 1995 e 1996 foram decidi<strong>do</strong>s<br />

pontos importantes sobre a união econômica e monetária, mesmo que nem to<strong>do</strong>s os membros<br />

tivessem decidi<strong>do</strong> sua posição final. Por exemplo, ficou decidi<strong>do</strong> que o Banco Central <strong>Euro</strong>peu<br />

teria sede em Frankfurt e que a nova moeda se chamaria <strong>Euro</strong>, contrarian<strong>do</strong> o desejo francês de<br />

nomeá-la ecu. Foi em meio a estas reuniões que se colocou em dúvida se o prazo limite para<br />

atingir os critérios de convergência seria alcança<strong>do</strong>, o que fez com que os países candidatos se<br />

esforçassem mais e se aproximassem mais claramente das metas. Apesar da torcida contrária da<br />

Grã-Bretanha que temia por sua economia e por sua influência na <strong>Euro</strong>pa, ao final de 1997 ficou<br />

claro que a moeda única poderia ser a<strong>do</strong>tada dentro <strong>do</strong> prazo, mesmo que ainda não se tivesse<br />

plena certeza <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s-membros capazes de a<strong>do</strong>tá-la.<br />

Buscan<strong>do</strong> dar mais flexibilidade ao projeto de integração, em 1997 a União <strong>Euro</strong>peia deu<br />

outro passo importante para o aprofundamento <strong>do</strong> processo através <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> de Amsterdã, em<br />

vigor a partir de 1999. Este novo trata<strong>do</strong> revisou os anteriores, Roma e Maastricht, e os<br />

consoli<strong>do</strong>u. Neste foi lançada a ideia de uma extensão da UE para o Leste europeu, apoiada<br />

fortemente pela Alemanha e em menor escala pela Grã-Bretanha e pelos países escandinavos,<br />

mas com dificuldades de aceitação na França, Itália e Espanha. O motivo crucial que fez com que<br />

a Alemanha se posicionasse a favor, foi sua própria segurança, pois via na adesão de seus<br />

vizinhos o fator de estabilidade para a região. “Enquanto os governos da França e <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s-<br />

membros <strong>do</strong> Mediterrâneo entendiam os argumentos a favor <strong>do</strong> alargamento para o leste, e até<br />

mesmo os aceitavam, estavam apreensivos quanto aos efeitos que seriam causa<strong>do</strong>s na UE” 8 . Grã-<br />

Bretanha e França já haviam concorda<strong>do</strong>, alguns anos antes, que, quanto mais países integrassem<br />

a UE, maior seria a diversidade entre o grupo e mais difícil seria manter as linhas federalistas<br />

(BACHE e GEORGE, 2006:182, tradução nossa; SABA, 2002).<br />

Os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> de Amsterdã quanto ao alargamento para o leste foram muito<br />

modestos e não representaram qualquer decisão concreta. Portanto, em fevereiro de 2001 mais<br />

um trata<strong>do</strong> foi agrega<strong>do</strong> <strong>à</strong> constituição da UE: o Trata<strong>do</strong> de Nice, em vigor desde 2003. Mas,<br />

8 T.A.: “While the governments of France and the Mediterranean member states could see the arguments for<br />

enlargement to the east, and even accepted them, they were apprehensive about the effect that such an enlargement<br />

would have on the EU”.<br />

29


antes disso, é preciso destacar que em 1999 o <strong>Euro</strong> finalmente entrou em operação em onze<br />

países e se tornou a moeda oficial. Cédulas e moedas nacionais continuaram em circulação até a<br />

data limite de 1º de março de 2002 (SABA, 2002). “(...) os países aptos a a<strong>do</strong>tar o <strong>Euro</strong>:<br />

Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Irlanda, Itália, Luxemburgo e<br />

Portugal” (BITTENCOURT, 2002:32). A Grécia candidata a integrar a zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> foi<br />

previamente excluída por não ter cumpri<strong>do</strong> os critérios de convergência pré-estabeleci<strong>do</strong>s, mas<br />

teve a oportunidade de melhorar sua situação e foi aprovada em 2001. Grã-Bretanha, Dinamarca<br />

e Suécia optaram por não dividir a moeda única (BACHE e GEORGE, 2006; PAPADIA e<br />

SANTINI, 1998).<br />

O Trata<strong>do</strong> de Nice, negocia<strong>do</strong> durante onze meses e assina<strong>do</strong> em 2001, tratou<br />

principalmente de modificações no âmbito institucional da UE. Algumas destas modificações<br />

são: para o Parlamento <strong>Euro</strong>peu foi introduzi<strong>do</strong> um novo sistema de distribuição de cadeiras,<br />

basea<strong>do</strong> no critério demográfico e houve ampliação <strong>do</strong>s seus poderes; introduziu-se um número<br />

máximo para eurodeputa<strong>do</strong>s – 732; ampliaram-se os casos em que serão consideradas as decisões<br />

por maioria qualificada (BACHE e GEORGE, 2006; SABA, 2002). Por fim, o mais recente<br />

trata<strong>do</strong> da UE é o Trata<strong>do</strong> de Lisboa, assina<strong>do</strong> em 2007 e ratifica<strong>do</strong> em 2009. Lisboa teve como<br />

objetivo modernizar as instituições europeias, principalmente por causa da globalização e <strong>do</strong>s<br />

alargamentos, <strong>do</strong>tan<strong>do</strong>-as de mais instrumentos para atuação (EUROPA, 2010).<br />

Na visão de Bache e George (2006), diferentemente <strong>do</strong> espera<strong>do</strong> por algumas economias,<br />

a nova moeda marcou seu início com exagerada cautela e, mesmo assim, deparou-se com<br />

dificuldades. O principal problema logo ficou claro: a zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> é uma área econômica<br />

composta pela diversidade <strong>do</strong>s países que precisam ter uma taxa única de juro. Sen<strong>do</strong> assim, os<br />

efeitos foram diferentes em cada membro; Espanha e Irlanda imediatamente começaram a sentir<br />

sintomas de inflação, enquanto Alemanha e França se deparavam com crescimento. Como<br />

proposta de melhora, os ministros das finanças, alemão e francês, pediram que o Banco Central<br />

<strong>Euro</strong>peu promovesse a queda da taxa de juro, visan<strong>do</strong> a estimular o crescimento nos países que já<br />

apresentavam dificuldades; porém, o presidente da instituição negou-se a aplicar a medida, e a<br />

maioria <strong>do</strong>s países da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> continuou a apresentar taxas de crescimento mínimas e<br />

aumento no número de desemprega<strong>do</strong>s. Enquanto isso, os países que permaneceram com suas<br />

moedas nacionais, demonstravam condições melhores.<br />

30


Para que onze países compartilhassem uma mesma moeda foi necessária a a<strong>do</strong>ção de uma<br />

política monetária única determinada pelo BCE, instituição criada com o objetivo de manter a<br />

estabilidade <strong>do</strong>s preços na zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>. Para tornar possível a atuação <strong>do</strong> BCE foi preciso<br />

adicionar eleva<strong>do</strong> grau de supranacionalidade <strong>à</strong> UE, o que consequentemente implicou a perda de<br />

soberania <strong>do</strong>s países que a<strong>do</strong>taram o <strong>Euro</strong>. Determina<strong>do</strong> pelo Trata<strong>do</strong> de Maastricht, o BCE tem<br />

total independência para conduzir a política monetária da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>, e além dele, existem os<br />

bancos centrais nacionais também independentes de seus governos; o conjunto de to<strong>do</strong>s estes<br />

compõe o Sistema <strong>Euro</strong>peu de Banco Central (PAPADIA e SABATINI, 1998). O BCE é,<br />

portanto, um órgão supranacional e de personalidade jurídica. As decisões são tomadas pelo<br />

Conselho de Governa<strong>do</strong>res composto pelos governa<strong>do</strong>res de cada Banco Central nacional; cada<br />

um tem direito a um voto. Cabe a este Conselho definir a política monetária e fixar a taxa de juro,<br />

enquanto cabe a uma comissão executiva aplicar as medidas decididas. Compete somente ao<br />

BCE a emissão de papel-moeda, o que implica um forte controle quanto <strong>à</strong> quantidade de <strong>Euro</strong> em<br />

circulação (LIBERATO, 2002; BITTENCOURT, 2002).<br />

Com o decorrer deste capítulo, ficou claro que o processo da integração europeia passou<br />

por inúmeras dificuldades. Desde o seu princípio, fatores externos e internos afetaram o<br />

andamento das negociações e foi preciso muito planejamento e paciência para que as ideias de<br />

fato saíssem <strong>do</strong> papel e alcançassem os resulta<strong>do</strong>s aguarda<strong>do</strong>s. A importância de uma moeda<br />

como o <strong>Euro</strong> não versa apenas na esfera econômica e monetária, mas também na política e social.<br />

De acor<strong>do</strong> com Liberato (2002), a a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> é a parte mais vasta da integração europeia e<br />

tem grande relevância no desenvolvimento <strong>do</strong> continente como um to<strong>do</strong>. “Para os europeus a<br />

realidade mais tangível da unificação monetária está no próprio <strong>Euro</strong>, sobretu<strong>do</strong>, na sua forma<br />

concreta de notas e moedas” (PAPADIA e SANTINI, 1998:7).<br />

O impacto <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> sobre o processo de integração ultrapassa seus aspectos técnicos. A<br />

moeda é considerada um <strong>do</strong>s símbolos da soberania estatal. Além disso, certas moedas,<br />

como o franco francês e o marco alemão, tinham um valor cultural particular, o primeiro<br />

ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> cria<strong>do</strong> por Napoleão, e o segun<strong>do</strong>, após o conturba<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> das<br />

hiperinflações. (...) A queda inicial de seu valor frente ao dólar e a percepção da<br />

‘inflação escondida’, decorrente de ajustes de preços, contribuíram para uma apreensão<br />

geral. No entanto, <strong>à</strong> medida que os ganhos econômicos decorrentes da eliminação de<br />

gastos com conversões e a facilidade <strong>do</strong> manuseio em viagens de negócios e turismo<br />

foram sen<strong>do</strong> percebi<strong>do</strong>s e a população foi se identifican<strong>do</strong> com a nova moeda (HERZ e<br />

HOFFMANN, 2004:193).<br />

31


Também no que diz respeito ao campo externo, a UE atingiu seu objetivo que era ser<br />

reconhecida como um ator único, sem diferenciações de seus Esta<strong>do</strong>s-parte (HERZ e<br />

HOFFMANN, 2004). Após trinta anos da primeira ideia de introduzir uma moeda única, isso de<br />

fato se concluiu, o que marcou a história <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> de maneira singular. Em relativamente pouco<br />

tempo a UE ganhou as proporções desejadas e os desafios que estavam por vir começaram a ser<br />

traça<strong>do</strong>s.<br />

A tabela a seguir traz indica<strong>do</strong>res macroeconômicos tanto da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>, como da UE,<br />

e especifica os casos da Itália, Alemanha e França, além <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, para motivo de<br />

comparação, antes e depois da implantação da moeda única.<br />

Tabela 1 – Performance macroeconômica antes e depois da introdução <strong>do</strong> <strong>Euro</strong><br />

Zona<br />

<strong>do</strong><br />

<strong>Euro</strong><br />

Itália Alemanha França<br />

Fora da<br />

zona <strong>do</strong><br />

<strong>Euro</strong><br />

Aumento <strong>do</strong> PIB 1989 - 1998 2,2 1,6 2,5 1,9 2,5 3,0<br />

EUA<br />

1999 - 2008 2,1 1,4 1,6 2,2 2,9 2,6<br />

Aumento <strong>do</strong> 1989 - 1998 1,8 2,5 1,8 1,5 2,1 1,8<br />

PIB per capita 1999 - 2008 1,6 1,0 1,5 1,4 2,4 1,5<br />

Taxa média 1989 - 1998 9,6 10,1 7,0 10,6 11,2 5,9<br />

de desocupação 1999 - 2008 8,2 8,2 8,4 8,9 7,7 5,0<br />

Novos postos de 1989 - 1998 7,9 0,1 1,5 0,9 5,3 16,5<br />

trabalho (milhões) 1999 - 2008 17,3 1,5 2,0 2,5 11,4 15.9<br />

Aumento da 1989 - 1998 1,6 1,5 1,9 1,6 1,5 1,3<br />

Produtividade 1999 - 2008 0,8 0,1 1,0 1,1 0,7 1,8<br />

Taxa de juros 1989 - 1998 4,8 5,3 3,3 4,9 5,8 2,1<br />

1999 - 2008 1,2 1,1 1,7 1,4 0,7 0,5<br />

Fonte: Fun<strong>do</strong> Monetário Intenacional, World Economic Outlook, OCSE Economis Outlook, Comissão <strong>Euro</strong>peia,<br />

BCE apud SMAGHI, 2008:207. (Os da<strong>do</strong>s de 2008 são previsões).<br />

32


Quadro 1 – Relação de Trata<strong>do</strong>s da União <strong>Euro</strong>peia<br />

Principais<br />

Trata<strong>do</strong>s<br />

<strong>Da</strong>ta de<br />

Assinatura<br />

<strong>Da</strong>ta da Entrada<br />

em Vigor<br />

Quadro 2 – Adesão <strong>do</strong>s países <strong>à</strong> União <strong>Euro</strong>peia ao longo <strong>do</strong>s anos<br />

Candidatos Macedônia, Croácia e Turquia<br />

Fonte: HERZ e HOFFMANN, 2004:194, adaptada.<br />

Principais Características<br />

Trata<strong>do</strong> de Paris 18/4/1951 25/7/1952 Criação da CECA<br />

Trata<strong>do</strong>s de<br />

Roma<br />

25/3/1957 14/1/1958 Criação da CEE e Euratom<br />

Trata<strong>do</strong> de Fusão 8/4/1965 1/7/1967<br />

Unificação das instituições das 3<br />

comunidades<br />

Ato único<br />

<strong>Euro</strong>peu<br />

17/2/1986 1/7/1987<br />

Mais poder para o Parlamento <strong>Euro</strong>peu<br />

e metas para o merca<strong>do</strong> comum<br />

Trata<strong>do</strong> de<br />

Maastricht<br />

7/2/1992 1/11/1993 Criação da UE e <strong>do</strong> <strong>Euro</strong><br />

Trata<strong>do</strong> de<br />

Amsterdã<br />

2/10/1997 1/5/1999<br />

Mais poderes para o Parlamento<br />

<strong>Euro</strong>peu e incorporação <strong>do</strong> Schengen<br />

Trata<strong>do</strong> de Nice 26/2/2001 1/2/2003<br />

Reformas institucionais para a<br />

ampliação<br />

Trata<strong>do</strong> de Lisboa 13/12/2007 1/12/2009<br />

Reformas para modernizar as<br />

instituições<br />

Fonte: HERZ e HOFFMANN, 2004:194, adaptada.<br />

ANO AMPLIAÇÕES DO PROCESSO DE INTEGRAÇÃO EUROPEU<br />

1951 Alemanha, Bélgica, França, Itália, Luxemburgo e Países Baixos<br />

1973 Dinamarca, Irlanda e Reino Uni<strong>do</strong><br />

1981 Grécia<br />

1986 Portugal e Espanha<br />

1995 Áustria, Finlândia e Suécia<br />

2004 Chipre, Eslovênia, Eslováquia, Estônia, Hungria, Lituânia, Letônia,<br />

Malta, Polônia e República Checa<br />

2007 Bulgária e Romênia<br />

33


3. A UNIÃO EUROPEIA E O EURO HOJE<br />

Os <strong>do</strong>ze países que inicialmente a<strong>do</strong>taram o <strong>Euro</strong> como moeda, assim o fizeram visan<strong>do</strong> a<br />

adquirir certas vantagens específicas decorrentes de uma união monetária. De acor<strong>do</strong> com Lopes<br />

(2003:123), as principais são: redução <strong>do</strong>s custos de transação, eliminação <strong>do</strong>s riscos de<br />

flutuações cambiais, transparência nos processos de formação de preços, formação de merca<strong>do</strong>s<br />

financeiros mais fortes, estabilidade macroeconômica para a região, taxas de juros mais baixas e<br />

aumento <strong>do</strong> crescimento econômico, além de existir a possibilidade de que futuramente a nova<br />

moeda poderia representar uma nova fonte de reserva internacional. De acor<strong>do</strong> com a tabela<br />

abaixo, havia significante variação de preços entre os países europeus antes da união monetária, e<br />

atingir números mais igualitários foi uma das grandes vantagens.<br />

Tabela 2 – Comparação entre preços no merca<strong>do</strong> europeu (março 1988)<br />

Carros<br />

Alemães<br />

Produtos<br />

Farmcêuticos<br />

Seguro de Vida Eletro<strong>do</strong>mésticos<br />

Bélgica 100 100 100 100<br />

França 115 78 75 130<br />

Alemanha 127 174 59 117<br />

Itália 129 80 102 110<br />

Holanda - 164 51 105<br />

Grã-Bretanha 142 114 39 93<br />

Fonte:<strong>Euro</strong>pean Economy, março de 1988; Nicolaides & Baden Fuller apud SILVA, Michael; SJOGREN, Bertil,<br />

1991:99.<br />

É óbvio que ao la<strong>do</strong> das vantagens também estão alguns custos. Os mais aponta<strong>do</strong>s deles<br />

sempre foram a perda da soberania monetária e a impossibilidade de se utilizar a taxa de câmbio<br />

como um instrumento para ajustar a economia. Ambos são de grande relevância, mas o segun<strong>do</strong><br />

merece maior destaque por ser a perda de um importante mecanismo macroeconômico antes<br />

utiliza<strong>do</strong> pelos países que enfrentaram problemas com suas moedas, como foi o caso de Portugal<br />

entre as décadas de 70 e 80. O governo utilizou-se da taxa de câmbio para corrigir problemas no<br />

34


seu balanço de pagamentos e assim desvalorizou o escu<strong>do</strong>, então moeda nacional, para não<br />

perder competitividade e não partir para medidas mais recessivas; funcionou. (SILVA LOPES,<br />

1999).<br />

Ainda de acor<strong>do</strong> com o mesmo autor, se já não existe mais a possibilidade de corrigir<br />

desequilíbrios através da taxa de câmbio, então outras alternativas deverão ser buscadas. A opção<br />

seguinte é mexer nos preços internos e nos salários, que normalmente não são devidamente<br />

flexíveis para receber ajustes necessários, e a consequência será uma recessão acompanhada por<br />

desempregos.<br />

Este é o meu entender, o ponto mais fraco, é o mais preocupante da construção<br />

monetária da <strong>Euro</strong>pa. Na falta de mecanismos orçamentais automáticos que ajudem a<br />

estabilização das regiões mais afectadas por choques específicos, como sucede nos<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, o único caminho que resta para correção <strong>do</strong>s desequilíbrios provoca<strong>do</strong>s<br />

por tais choques é o da recessão e <strong>do</strong> desemprego (SILVA LOPES, 1999:132).<br />

Diferentemente <strong>do</strong> que acontece nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, a união monetária da <strong>Euro</strong>pa não<br />

prevê muitos mecanismos de compensação em casos de <strong>crise</strong>s. Além disso, há o fator dificulta<strong>do</strong>r<br />

da circulação de mão de obra na União <strong>Euro</strong>peia, apesar de existir a liberdade que é a questão <strong>do</strong>s<br />

diferentes idiomas e também alguns obstáculos culturais, inexistentes nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s (idem,<br />

ibidem).<br />

Ao acompanharmos as notícias atuais sobre a <strong>Euro</strong>pa deparamo-nos com o que vem sen<strong>do</strong><br />

chamada de a “<strong>crise</strong> <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>”. Desde o início de 2010 os jornais <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong> foram toma<strong>do</strong>s<br />

pelos assuntos econômicos daquela que costumava ser o melhor modelo de integração de to<strong>do</strong>s<br />

os tempos, a União <strong>Euro</strong>peia. Hoje, <strong>do</strong>s 27 países que compõem a união, 20 deles estão altamente<br />

endivida<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>s 16 que compartilham o <strong>Euro</strong> 5 estão em situação muito delicada.<br />

Manten<strong>do</strong> a linha de pensamento de Silva Lopes (1999:133) durante um ciclo de<br />

conferências em Lisboa, em 1998, faltou e ainda falta <strong>à</strong> União <strong>Euro</strong>peia uma espécie de<br />

federalismo financeiro para os países que fazem parte da união monetária. Estabelecê-la foi um<br />

enorme passo; isso é certo. Porém, sua mais séria deficiência está na “falta de um orçamento<br />

comunitário de maiores dimensões”. Sem ele, a construção da união monetária é de certa forma<br />

incompleta e traz prejuízos aos países membros.<br />

35


Quan<strong>do</strong> a moeda única foi criada e os primeiros <strong>do</strong>ze países passaram a compartilhá-la,<br />

muitos economistas argumentaram que nenhuma união monetária sobreviveria sem uma união<br />

política. A primeira foi desenvolvida e implementada na UE; porém, a segunda não. Quan<strong>do</strong> na<br />

formação da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>, há dez anos, os países decidiram por realizar a unificação econômica,<br />

mas continuarem politicamente independentes. “Em suma, (a <strong>Euro</strong>pa) quis o melhor <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is<br />

mun<strong>do</strong>s e, por algum tempo, pareceu ter obti<strong>do</strong> êxito” (NORRIS, 2010:B6).<br />

Tais falhas, apontadas durante a formação da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> por alguns autores, estão<br />

sen<strong>do</strong> atualmente sentidas verdadeiramente pela primeira vez, e os países estão lutan<strong>do</strong> para lidar<br />

com os prejuízos, não corrigin<strong>do</strong> os erros num primeiro momento, mas aprenden<strong>do</strong> a lidar com<br />

eles para num futuro próximo corrigir as imperfeições.<br />

Em meio a este momento, a UE descobriu um problema que sempre existiu, mas que em<br />

outros casos nunca provocou tantas dificuldades: as enormes diferenças entre os países que a<br />

formam. Desta vez não ficaram claras apenas as diferenças econômicas entre, por exemplo,<br />

Alemanha, maior economia europeia, e a Grécia, contribuinte de 2% <strong>do</strong> PIB <strong>do</strong> continente, mas<br />

também traços culturais muito marcantes que fizeram com que cada país tomasse uma posição<br />

diferente diante <strong>do</strong>s mesmos problemas.<br />

Mas, antes de se aprofundar nas diversas reações causadas dentro da própria UE, quan<strong>do</strong><br />

ela se deparou com sua <strong>crise</strong>, é preciso entender como ela começou.<br />

3.1 A Origem da Crise <strong>do</strong> <strong>Euro</strong><br />

A <strong>crise</strong> <strong>do</strong> subprime que teve início nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s no segun<strong>do</strong> semestre de 2008,<br />

atingiu não só aquele país, mas o mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong>. Antes dela, os países europeus atraíam grandes<br />

quantidades de capital estrangeiro, o que os fez apresentar números dentro <strong>do</strong>s limites permiti<strong>do</strong>s<br />

pelo Trata<strong>do</strong> de Maastricht e até mesmo positivos em alguns países durante alguns anos. Com a<br />

<strong>crise</strong>, os investimentos vin<strong>do</strong>s de fora secaram e tornou-se impossível manter os mesmos<br />

desempenhos, fazen<strong>do</strong> com que os déficits aumentassem (KRUGMAN, 2010a). Cada um desses<br />

36


países teve que encontrar as soluções mais apropriadas para não ser completamente absorvi<strong>do</strong><br />

pelos efeitos da <strong>crise</strong>, e assim surgiram pacotes bilionários de incentivo <strong>à</strong>s economias.<br />

Na <strong>Euro</strong>pa não foi diferente. Os governos utilizaram-se de medidas de incentivo para<br />

setores específicos que apresentavam maior dificuldade, na esperança de que as taxas de<br />

crescimento não fossem abaladas; porém, existe aí um problema. As altas taxas de crescimento<br />

alcançadas por alguns países da União <strong>Euro</strong>peia, entre eles a Grécia entre 2001 e 2008 que<br />

cresceu 4% ao ano, criaram bolhas em alguns setores, como no imobiliário a exemplo <strong>do</strong>s<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Assim, quan<strong>do</strong> a <strong>crise</strong> <strong>do</strong> subprime se espalhou por outros continentes e os<br />

governos tiveram que implementar pacotes de incentivo eles já não foram 100% eficazes. Devi<strong>do</strong><br />

<strong>à</strong> <strong>crise</strong>, os créditos, antes abundantes, praticamente secaram e as bolhas passaram a não ter mais<br />

condições de serem financiadas, o que gerou problemas muito maiores (CHADE, 2010a).<br />

Na União <strong>Euro</strong>peia, o primeiro país a escancarar seus problemas e alertar toda a<br />

comunidade internacional foi a Grécia. Os merca<strong>do</strong>s reagiram; o <strong>Euro</strong> atingiu sua menor cotação<br />

em meses em relação ao dólar; houve muita especulação; os governos europeus ora se<br />

entenderam, ora não, e o problema inicial da Grécia contagiou outros parceiros da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>,<br />

deixan<strong>do</strong> a UE em situação extremamente delicada.<br />

3.2 Os PIIGS<br />

O que antes parecia ser um problema grave de uma só nação, no caso, da Grécia, foi<br />

coloca<strong>do</strong> em xeque pelo merca<strong>do</strong> financeiro internacional. Os problemas fiscais de outros quatro<br />

países da UE vieram <strong>à</strong> tona, e o grupo passou a ser chama<strong>do</strong> de PIIGS, contemplan<strong>do</strong> Portugal,<br />

Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, os cinco países mais vulneráveis da <strong>Euro</strong>pa e protagonistas <strong>do</strong><br />

“momento mais crítico da história <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>” (CHADE, 2010a:B8; MILANESE, 2010). A cada<br />

nova notícia, a sensação de que a <strong>crise</strong> da Grécia era apenas a ponta <strong>do</strong> iceberg, parecia se<br />

confirmar (KHAIR, 2010).<br />

37


Como cada um desses países possui características próprias e se encontram em situações<br />

particulares, vale a pena abordá-los primeiramente em separa<strong>do</strong>, para depois fazer uma análise da<br />

<strong>crise</strong> como um to<strong>do</strong>. Abaixo, a figura aponta os principais números, divulga<strong>do</strong>s em fevereiro, que<br />

fizeram os cinco países receberem a denominação de PIIGS.<br />

Figura 2 – Indica<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s 5 países mais vulneráveis da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong><br />

Fonte: <strong>Euro</strong>stat apud O Esta<strong>do</strong> de S. Paulo, São Paulo, 7 fev. 2010a, Economia, B8.<br />

38


3.2.1 Grécia<br />

Como se sabe, o Pacto de Estabilidade e Crescimento firma<strong>do</strong> no Trata<strong>do</strong> de Maastricht<br />

prevê que para um país aderir ao <strong>Euro</strong> ele precisa ter respeita<strong>do</strong> algumas regras. Dentre elas, seu<br />

déficit orçamentário não deve ultrapassar 3% <strong>do</strong> PIB e sua dívida pública 60% também <strong>do</strong> PIB.<br />

De acor<strong>do</strong> com os números apresenta<strong>do</strong>s pela Grécia em 2001, ela estava apta a aderir ao seleto<br />

grupo <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>. Entretanto, após a situação grega ter si<strong>do</strong> colocada sobre a mesa, surgiram<br />

desconfianças quanto <strong>à</strong> veracidade <strong>do</strong>s números <strong>do</strong> país, quan<strong>do</strong> na adesão ao <strong>Euro</strong>. O governo<br />

<strong>do</strong> primeiro ministro George Papandreou, ao final de 2009, revelou que a herança deixada pelo<br />

governo anterior de Costas Caramanlis era muito pior <strong>do</strong> que se conhecia e que o déficit fiscal<br />

passaria de 10% <strong>do</strong> PIB. O fato abriu as portas para as futuras desconfianças e logo de início<br />

entregou ao novo governo imensos desafios. O anúncio ocasionou, em dezembro <strong>do</strong> ano passa<strong>do</strong>,<br />

o rebaixamento da nota da dívida grega pelas agências Fitch, Moody`s e Standart and Poor`s, e o<br />

ágio cobra<strong>do</strong> <strong>do</strong> país passou a ser de 7,1%, muito acima <strong>do</strong> que o exigi<strong>do</strong> para qualquer outro<br />

país da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> (MILANESE, 2010).<br />

Em fevereiro deste ano, já em momento desconfortável, a Grécia passou de fato a ser<br />

acusada de se utilizar de ‘criatividade contábil’ para poder fazer parte da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>. Para<br />

mascarar seus números o governo grego anterior teria realiza<strong>do</strong> um swap cambial com o banco<br />

norte-americano Goldman Sachs, onde teria obti<strong>do</strong> US$ 1 bilhão, tornan<strong>do</strong> assim possível atingir<br />

as metas <strong>do</strong> Pacto de Estabilidade e Crescimento. A quantia teria si<strong>do</strong> obtida através de operações<br />

de derivativos, “instrumentos financeiros sobre os quais não há regulamentação e que não são<br />

negocia<strong>do</strong>s nas bolsas públicas”, entre 2000 e 2001, e a instituição financeira Goldman Sachs<br />

teria arrecada<strong>do</strong> cerca de US$ 300 milhões com essas operações. De acor<strong>do</strong> com a própria<br />

instituição, foram elas que permitiram a redução da dívida externa da Grécia em € 2,36 bilhões e<br />

que, portanto, permitiram ao país ser aceito na união monetária. O caso passou a ser examina<strong>do</strong><br />

pelo banco central norte-americano, o Federal Reserve, mesmo o ministro das finanças grego<br />

ten<strong>do</strong> declara<strong>do</strong> que, quan<strong>do</strong> os acor<strong>do</strong>s foram realiza<strong>do</strong>s, eram totalmente legais e que o país não<br />

se utilizou mais deste tipo de mecanismo (CHADE, 2010b; SCHWARTZ, 2010:B14).<br />

À parte desta situação estão os impactos da <strong>crise</strong> financeira global. No ano de 2009, a<br />

Grécia acumulou uma dívida de € 300 bilhões, acompanhada de um déficit fiscal primeiramente<br />

39


avalia<strong>do</strong> em 12,9% <strong>do</strong> PIB e depois revisa<strong>do</strong> em abril para 13,6%, muito acima <strong>do</strong>s 3%<br />

permiti<strong>do</strong>s pelo Trata<strong>do</strong> de Maastricht (NETTO, 2010a). Ambos os números são resulta<strong>do</strong> de<br />

baixas arrecadações e altos gastos, inclusive para reaquecer o país atingi<strong>do</strong> pela <strong>crise</strong> mundial,<br />

que passou a gastar mais <strong>do</strong> que arrecada e foi contrain<strong>do</strong> suas dívidas (G1, 2010). Para agravar<br />

ainda mais a situação <strong>do</strong> país, grande parte dessas dívidas deveriam ser refinanciadas em breve e<br />

previsões apontaram que o governo precisaria de mais € 40 bilhões para cobrir as novas dívidas<br />

<strong>do</strong> primeiro semestre de 2010. Em declarações no começo <strong>do</strong> ano, o governo revelou que 10% de<br />

sua dívida pública total precisaria ser refinanciada até maio, dan<strong>do</strong> caráter de urgência ao caso<br />

(QUALIMETRIA FAAP, 2010). O gráfico abaixo apresenta a projeção da dívida grega até 2020,<br />

caso o governo não interfira com medidas de austeridade.<br />

Figura 3 – Projeção da dívida grega<br />

Fonte: Comissão <strong>Euro</strong>peia apud O Esta<strong>do</strong> de S. Paulo, São Paulo, 12 fev. 2010b, B8 .<br />

Além <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s adultera<strong>do</strong>s e da <strong>crise</strong> financeira mundial, existe ainda outro fator que<br />

contribuiu para o endividamento da Grécia: eleva<strong>do</strong>s gastos militares. O Exército grego recebe<br />

enormes quantias, e da<strong>do</strong>s da OTAN apontam que o país é o segun<strong>do</strong> na lista de orçamento<br />

militar em relação ao PIB, estan<strong>do</strong> atrás apenas <strong>do</strong> gigante Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Tal absur<strong>do</strong> de € 6,8<br />

bilhões por ano justifica-se pela relação tensa que o país tem com a Turquia, há séculos. O ponto<br />

aqui é que nenhum destes <strong>do</strong>is países tem condições de manter gastos eleva<strong>do</strong>s em defesa e<br />

40


precisam mudar de atitude. Há ainda um detalhe curioso: Alemanha e França seriam as maiores<br />

fornece<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> Exército grego (LAPOUGE, 2010a).<br />

Assim que seus números foram revela<strong>do</strong>s, o governo grego começou a tomar<br />

providências. O primeiro plano de austeridade foi apresenta<strong>do</strong> em 15 de janeiro para a Comissão<br />

<strong>Euro</strong>peia com a meta de diminuir o déficit fiscal para 8,7% ainda este ano e de alcançar os 3%<br />

permiti<strong>do</strong>s em 2012. No plano estão presentes as seguintes medidas: aumento da idade mínima da<br />

aposenta<strong>do</strong>ria de 61 anos para 63; reforma no sistema tributário ineficiente; fim <strong>do</strong>s bônus para<br />

presidentes de estatais; redução na renda básica <strong>do</strong> funcionalismo entre 1% e 5,5%;<br />

congelamento <strong>do</strong>s salários de ministros e chefes de governo e benefícios corta<strong>do</strong>s em 10% (O<br />

ESTADO DE S. PAULO, 2010c).<br />

Um <strong>do</strong>s maiores problemas da Grécia e que já dura há anos é a corrupção. Ela está<br />

presente tanto nas empresas públicas como nas agências <strong>do</strong> governo, o que dificulta maiores<br />

fiscalizações. George Papandreou, o primeiro-ministro grego, em entrevista <strong>à</strong> revista alemã Der<br />

Spiegel revelou alguns erros: hospitais públicos gastam mais <strong>do</strong> que o necessário exatamente por<br />

causa da forte corrupção; o sistema político é marca<strong>do</strong> pelo nepotismo e pelo desperdício de<br />

dinheiro; o funcionalismo tem muitos emprega<strong>do</strong>s (quase um quarto <strong>do</strong> total); e o princípio da<br />

meritocracia há muito tempo foi deixa<strong>do</strong> de la<strong>do</strong> (QUALIMETRIA FAAP, 2010).<br />

Os números pouco confortáveis da Grécia, além de serem um problema por si só, geraram<br />

a perda da credibilidade <strong>do</strong> país. O próprio primeiro-ministro declarou que o maior déficit <strong>do</strong> seu<br />

país é o de credibilidade e não o financeiro (PAPANDREOU, 2010). A declaração é facilmente<br />

comprovada ao se verificar que o governo não consegue melhores taxas para tomar crédito no<br />

merca<strong>do</strong>; em abril era preciso pagar 5,5 pontos porcentuais acima <strong>do</strong> valor pago pela Alemanha<br />

(NETTO, 2010a). A perda de credibilidade também conta com o fato de que, de acor<strong>do</strong> com o<br />

professor de economia e políticas públicas Kenneth Rogoff, a situação de inadimplência na<br />

Grécia ocorre, em média, a cada <strong>do</strong>is anos, desde sua independência no século 19 (ROGOFF,<br />

2010).<br />

Mesmo ten<strong>do</strong> inicia<strong>do</strong> seu plano de austeridade para lidar com os problemas econômicos,<br />

o merca<strong>do</strong> financeiro internacional não per<strong>do</strong>ou, e os especula<strong>do</strong>res começaram a agir. A<br />

primeira semana de fevereiro atingiu a posição de pior semana para o <strong>Euro</strong> desde março de 2009,<br />

e pela primeira vez após a <strong>crise</strong> <strong>do</strong> subprime os investi<strong>do</strong>res preferiram títulos de empresas<br />

41


americanas a títulos de governos europeus. Neste ponto, os principais merca<strong>do</strong>s europeus<br />

começaram a sentir as consequências da dívida grega, e o temor <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res não se limitava<br />

mais apenas <strong>à</strong> Grécia, mas também <strong>à</strong> Espanha, Portugal e Irlanda (CHADE, 2010c).<br />

Preven<strong>do</strong> maiores complicações para to<strong>do</strong> o bloco, a UE resolveu mostrar seus poderes e<br />

indicou publicamente que teria recursos suficientes para salvar a economia grega, caso<br />

necessário. A declaração de Bruxelas foi positiva para o merca<strong>do</strong> financeiro, e o <strong>Euro</strong> voltou a<br />

subir. Para a Grécia a declaração também foi positiva, uma vez que havia si<strong>do</strong> um pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu<br />

governo; porém, com ela vieram cobranças: seu governo deveria provar que o primeiro plano de<br />

medidas era o suficiente; caso contrário, medidas adicionais deveriam ser anunciadas ainda em<br />

março. O pedi<strong>do</strong> da UE foi um consenso entre os 16 países que compartilham o <strong>Euro</strong> e que<br />

consideraram as primeiras medidas insuficientes perto <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> que precisaria ser alcança<strong>do</strong><br />

(CHADE, 2010d).<br />

A partir daí, a UE passou a pressionar o governo grego para implantar novas medidas<br />

rigorosas que representariam uma economia adicional de € 4 bilhões. Dentre as medidas<br />

propostas estariam maiores impostos para itens de luxo; novas reduções nos salários <strong>do</strong>s<br />

funcionários públicos; aumento de imposto sobre bebidas alcoólicas, tabaco e combustíveis;<br />

reformas nos sistemas de previdência, de saúde e da administração pública; aumento da<br />

produtividade e de empregos, entre outras. Todas elas visan<strong>do</strong> <strong>à</strong> retomada da confiança externa<br />

para a Grécia, pois a permitiria cumprir com a redução <strong>do</strong> seu déficit (idem,ibidem; O ESTADO<br />

DE S. PAULO, 2010c; NETTO, 2010b).<br />

Cumprin<strong>do</strong> com as exigências da UE, a Grécia anunciou em 5 de março de 2010 novos<br />

cortes em sua economia. A maior parte deles ficou concentrada no setor público, nos salários <strong>do</strong>s<br />

servi<strong>do</strong>res que já haviam sofri<strong>do</strong> corte anterior, e no aumento de impostos. A previsão é de que<br />

soma<strong>do</strong>s os novos cortes representem uma economia adicional de € 4,8 bilhões neste ano<br />

(NETTO, 2010c). O primeiro-ministrou grego, antes mesmo da aprovação <strong>do</strong> novo pacote,<br />

declarou que as novas medidas seriam <strong>do</strong>lorosas e que caberia aos servi<strong>do</strong>res públicos aprender a<br />

sobreviver com salários menores (PETRAKIS e WEEKS, 2010).<br />

É fácil prever que todas as medidas impostas pelo governo grego nos primeiros meses <strong>do</strong><br />

ano não foram bem aceitas pela população. No dia 24 de fevereiro ocorreu a primeira grande<br />

greve que reuniu os principais sindicatos <strong>do</strong> país, envolveu mais de um milhão de pessoas e teve<br />

42


duração de 24 horas. Repartições públicas, hospitais, universidades e quase a totalidade da rede<br />

de transporte urbano pararam de funcionar, além de os canais de televisão e rádios não terem<br />

transmiti<strong>do</strong> os noticiários <strong>do</strong> dia. Tu<strong>do</strong> isso em função de cerca de 80% da população ser contra<br />

as medidas <strong>do</strong> governo. A greve geral contou com inúmeros protestos e casos isola<strong>do</strong>s de<br />

violência entre manifestantes e polícia. O governo manifestou-se dizen<strong>do</strong> compreender a revolta,<br />

principalmente pelo fato de as medidas atingirem diretamente os salários, mas também disse não<br />

haver outra solução, pois o país não possui mais dinheiro. No mês de março deste ano, o número<br />

de desemprega<strong>do</strong>s no país já chegava aos 514 mil, representan<strong>do</strong> um aumento de 31% com<br />

relação ao ano anterior, a maior alta no perío<strong>do</strong> de onze anos (NETTO, 2010d).<br />

Como continuação de seu plano de austeridade, a Grécia anunciou no início de junho um<br />

pacote de privatizações, visan<strong>do</strong> a arrecadar € 1 bilhão por ano durante os próximos três anos.<br />

George Papaconstantinou, o ministro das Finanças, disse que entre as empresas que serão<br />

privatizadas estão a companhia férrea OSE (49%), cassinos, correios (39%) e companhias de<br />

saneamento (O ESTADO DE S. PAULO, 2010d).<br />

A Grécia representa apenas 2% <strong>do</strong> PIB total da UE, ou seja, é uma economia muito<br />

pequena. Para Jamil Chade (2010e), o maior problema para a <strong>Euro</strong>pa neste momento de <strong>crise</strong> está<br />

exatamente nas menores economias, uma vez que sua capacidade de reação e ajuste também é<br />

pequena e, portanto, terão dificuldades para restabilizar suas finanças.<br />

3.2.2 Portugal<br />

Em uma situação não tão complicada como a da Grécia, porém, com problemas graves,<br />

Portugal também preocupa a UE. Os números atuais <strong>do</strong> país são os seguintes: 9,3% <strong>do</strong> PIB de<br />

déficit orçamentário e endividamento de 77,4% <strong>do</strong> PIB, ambos números de 2009. Apesar de o<br />

déficit orçamentário ser o menor entre os PIIGS, a situação preocupa por causa <strong>do</strong>s fatores que<br />

serão explica<strong>do</strong>s posteriormente. Quanto ao endividamento total, o número apresenta<strong>do</strong> está<br />

relativamente próximo ao permiti<strong>do</strong> pela UE que é de 60%, mas a previsão para o endividamento<br />

em 2010 é que ele chegue aos 85% <strong>do</strong> PIB (QUALIMETRIA FAAP, 2010; MILANESE, 2010).<br />

43


Atualmente o governo português está enfraqueci<strong>do</strong> por não contar com a maioria no<br />

parlamento. O primeiro-ministro José Sócrates tem enfrenta<strong>do</strong> dificuldades para governar, o que<br />

acaba por dificultar a implementação de um plano de austeridade que é de extrema necessidade<br />

(SCHULTZ, 2010). Quan<strong>do</strong> assumiu o governo pela primeira vez, em 2005, o parti<strong>do</strong> socialista<br />

de Sócrates foi bem recebi<strong>do</strong> e começou a atuar com eficiência, crian<strong>do</strong> 150 mil postos de<br />

emprego. Mas, no segun<strong>do</strong> semestre de 2009, seu parti<strong>do</strong> perdeu a maioria absoluta no<br />

parlamento e daí para frente passou a ser muito difícil administrar o país. Além disso, seu nome<br />

está envolvi<strong>do</strong> em escândalos, o que faz com que a população não lhe dê mais confiança<br />

(LAPOUGE, 2010b).<br />

Mas os problemas de Portugal são muito mais antigos e profun<strong>do</strong>s. O setor agrícola <strong>do</strong><br />

país jamais atingiu o desenvolvimento necessário para ser considera<strong>do</strong> forte e é até hoje<br />

considera<strong>do</strong> ineficiente. A <strong>crise</strong> atual não permite que mudanças sejam realizadas e, portanto, o<br />

setor não contribuirá para que o país consiga recuperar-se. O setor <strong>do</strong> turismo, por sua vez,<br />

contribuirá muito pouco. Assim como o agrícola, não é desenvolvi<strong>do</strong>, mas caminha para o ser no<br />

futuro, o que também não significa uma ajuda de peso no momento atual (SCHULTZ, 2010).<br />

O que mais preocupa a UE e os investi<strong>do</strong>res internacionais em relação a Portugal é o seu<br />

fraco desempenho nos últimos anos. O país apresentou o menor crescimento <strong>do</strong> PIB entre to<strong>do</strong>s<br />

os países que compõem a zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> e dificilmente reverterá a situação (MILANESE, 2010).<br />

Por causa <strong>do</strong> baixo desenvolvimento de setores importantes para a economia, anteriormente<br />

cita<strong>do</strong>s, Portugal apresenta perspectivas limitadas de expansão, o que faz com que as expectativas<br />

de melhora sejam quase inexistentes e ainda, para completar, as projeções da OCDE também não<br />

trazem boas notícias: Portugal crescerá apenas 0,8% em 2010 (NETTO, 2010e).<br />

Em fevereiro de 2010, o governo português elaborou seu primeiro projeto para um plano<br />

de austeridade. A maioria <strong>do</strong> parlamento, oposição <strong>do</strong> governo, não aprovou o projeto e a<br />

situação tornou-se ainda mais tensa para o país (CHADE, 2010c). No mês seguinte, o governo<br />

elaborou o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), visan<strong>do</strong> a conter a expansão das<br />

contas públicas. Dentre as medidas estão: congelamento <strong>do</strong>s salários <strong>do</strong> funcionalismo por quatro<br />

anos, redução <strong>do</strong>s programas sociais, redução <strong>do</strong>s planos de investimento e elevação <strong>do</strong>s<br />

impostos sobre as maiores rendas e ganhos no merca<strong>do</strong> de ações, representan<strong>do</strong> cortes<br />

significativos nos gastos <strong>do</strong> governo (NETTO, 2010e). O objetivo <strong>do</strong> programa é reduzir o déficit<br />

44


orçamentário de 9,3% para o limite da UE de 3% até 2013. O governo está contan<strong>do</strong> com o<br />

crescimento econômico, mesmo que pequeno, para atingir sua meta, uma vez que os cortes nos<br />

gastos públicos serão equivalentes a, no máximo, 50% da redução necessária (O ESTADO DE S.<br />

PAULO, 2010e)<br />

3.2.3 Espanha<br />

A Espanha tem importante peso na zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>, pois representa a quarta maior<br />

economia <strong>do</strong> bloco. Em 2009 a dívida pública espanhola ficou abaixo <strong>do</strong> limite permiti<strong>do</strong> pela<br />

UE, 54,3% <strong>do</strong> PIB; porém, as expectativas são de que ela dispare durante este ano de 2010. Seu<br />

déficit orçamentário já havia atingi<strong>do</strong> 11,2% <strong>do</strong> PIB, sen<strong>do</strong> apenas 3% o permiti<strong>do</strong><br />

(QUALIMETRIA FAAP, 2010).<br />

O que mais preocupa na Espanha não são especificamente esses <strong>do</strong>is números, mas sim,<br />

que sua economia é quatro vezes maior que a grega, o que significa que a qualquer sinal de<br />

tremor toda a estabilidade <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> será comprometida (idem, ibidem).<br />

Pouco antes de a <strong>crise</strong> chegar <strong>à</strong> <strong>Euro</strong>pa e comprometer o desempenho de diversos países,<br />

a Espanha era vista praticamente como um modelo para os outros membros da UE por apresentar<br />

superávits orçamentários e possuir uma regulamentação bancária muito eficiente. Os números<br />

eram claros: em 2007 a dívida espanhola equivalia a 43% <strong>do</strong> PIB, enquanto a alemã, maior<br />

economia da <strong>Euro</strong>pa, 66% (KRUGMAN, 2010b).<br />

Grande parte de seu desempenho positivo foi impusiona<strong>do</strong> por suas condições geográficas<br />

e climáticas. Ainda de acor<strong>do</strong> com Krugman (2010b), com seu clima quente e suas praias, a<br />

Espanha passou a ser a Flórida da <strong>Euro</strong>pa, inclusive na questão <strong>do</strong> boom imobiliário. Durante<br />

anos houve pesada entrada de capitais estrangeiros, principalmente da Alemanha, que serviu para<br />

financiar o boom que por sua vez era o responsável pelo crescimento <strong>do</strong> emprego. Em<br />

consequência, o país experimentou rápi<strong>do</strong> crescimento que veio acompanha<strong>do</strong> de inflação. Entre<br />

os anos 2000 e 2008, houve aumento de 35% nos preços de bens e serviços produzi<strong>do</strong>s no<br />

próprio país, enquanto no mesmo perío<strong>do</strong> os preços na Alemanha subiram apenas 10%. A alta<br />

45


<strong>do</strong>s custos não só causou prejuízos para a população, mas também para a competitividade externa<br />

<strong>do</strong> país que apresentou quedas significativas.<br />

Além <strong>do</strong>s capitais estrangeiros, entre 1990 e 2007, a Espanha recebeu grandes<br />

transferências de recursos <strong>do</strong>s Fun<strong>do</strong>s de Coesão e Estruturais da UE para financiar obras<br />

públicas por ser um país em crescimento acentua<strong>do</strong>. O dinheiro desses fun<strong>do</strong>s permitiu que o país<br />

estimulasse ainda mais seu setor de construção civil que permaneceu em expansão e se<br />

aproveitou de eventos como as Olimpíadas de Barcelona de 1992. Com o forte crescimento<br />

econômico, que fez da Espanha a preferida <strong>do</strong> bloco, ocorreu um boom no consumo que<br />

proporcionou em um primeiro momento <strong>à</strong> elevação <strong>do</strong> PIB; porém, com a chegada de novos<br />

países <strong>à</strong> UE, principalmente os <strong>do</strong> Leste-<strong>Euro</strong>peu, o dinheiro repassa<strong>do</strong> pelos fun<strong>do</strong>s foi reduzi<strong>do</strong><br />

e a Espanha experimentou pela primeira vez em anos a queda nos investimentos, o que<br />

prejudicou sua expansão. O setor da construção civil que já estava aqueci<strong>do</strong> perdeu seu principal<br />

cliente, o Esta<strong>do</strong>, e teve que partir para a sociedade que por sua vez contribuiu fortemente para a<br />

especulação imobiliária. O resulta<strong>do</strong> da mudança foi que em 2005 as famílias espanholas<br />

acumulavam uma dívida de € 651 bilhões referentes <strong>à</strong> compra de imóveis, o que resultou em sete<br />

trimestres consecutivos de crescimento negativo (NETTO, 2010f).<br />

Com a chegada da <strong>crise</strong> ao continente, o setor imobiliário que havia si<strong>do</strong> o motor da<br />

economia espanhola desde o ano 2000 e que em dez anos impulsionou a construção de mais casas<br />

no país <strong>do</strong> que na Itália, na França e na Alemanha somadas, desmoronou, e a bolha <strong>do</strong> setor não<br />

resistiu, provocan<strong>do</strong> altas taxas de desemprego: quatro milhões de espanhóis, ou seja, 20% de<br />

toda a população. O setor imobiliário contribuiu com 3,6% da contração da economia espanhola<br />

em 2009 (QUALIMETRIA FAAP, 2010; CHADE, 2010f).<br />

A explosão da bolha <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> imobiliário nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, em 2007 e 2008,<br />

marcou o início <strong>do</strong> fim de um ciclo de ouro da Espanha. Desde o início <strong>do</strong>s anos 90, a<br />

economia espanhola vivia um perío<strong>do</strong> ininterrupto de expansão que transformou o país<br />

em um el<strong>do</strong>ra<strong>do</strong> na <strong>Euro</strong>pa. Mas o peso exagera<strong>do</strong> da construção civil na economia<br />

agora expõe as fragilidades de um merca<strong>do</strong> pouco produtivo e competitivo e defasa<strong>do</strong> na<br />

exploração de alta tecnologia (NETTO, 2010f:B15).<br />

Diante <strong>do</strong>s fatos, o país precisaria urgentemente promover a reestruturação de toda a sua<br />

economia, o que o colocava em situação mais complicada <strong>do</strong> que a de outros países da zona <strong>do</strong><br />

46


<strong>Euro</strong>. Para tanto seria preciso que o governo implantasse um regime econômico rígi<strong>do</strong> que o<br />

permitisse pagar as dívidas contraídas e que colocasse o déficit público no patamar permiti<strong>do</strong><br />

(SCHULTZ, 2010). Enquanto as decisões eram tomadas, a agência Standard & Poor`s rebaixou a<br />

nota da Espanha de AA+ para AA (NETTO, 2010g).<br />

As primeiras medidas para conter o déficit público foram anunciadas no início <strong>do</strong> mês de<br />

maio e aprovadas por um conselho extraordinário de ministros, alguns dias depois, e seguiram a<br />

tendência <strong>do</strong>s outros países que é a redução <strong>do</strong>s cargos públicos. O governo apostou na redução<br />

de 30% <strong>do</strong> número de estatais, no corte de 500 cargos executivos de empresas públicas e na<br />

eliminação de 32 postos de confiança <strong>do</strong> governo, aqueles considera<strong>do</strong>s cargos de alto escalão.<br />

Além disso, a ideia é de que 24 companhias estatais passem por um processo de fusão e de que a<br />

maioria das fundações mantidas pelo Esta<strong>do</strong> sejam eliminadas, tu<strong>do</strong> para diminuir os gastos<br />

públicos e conter o déficit. Quanto aos salários <strong>do</strong> funcionalismo, os cortes anuncia<strong>do</strong>s foram<br />

entre 0,56% e 7%, com porcentagens um pouco maiores para cargos de diretores gerais e<br />

secretários de Esta<strong>do</strong>. A soma esperada com os cortes é de € 15,25 bilhões até 2011 (CHADE,<br />

2010g; O ESTADO DE S. PAULO, 2010f). O texto também continha uma medida que previa<br />

cortes profun<strong>do</strong>s nas aposenta<strong>do</strong>rias e que, após protestos da população, foi imediatamente<br />

retirada (SCHULTZ, 2010).<br />

Para a vice-presidente da Espanha, María Teresa Fernández de la Vega, todas as medidas<br />

têm como objetivo reestruturar a máquina estatal de mo<strong>do</strong> que ela se torne mais eficiente.<br />

“Atuamos com rigor, decisão e responsabilidade. Os cortes significam mais trabalho com menos<br />

recursos humanos”, declarou (apud CHADE, 2010g:B13).<br />

Poucos dias após o plano de cortes ter si<strong>do</strong> anuncia<strong>do</strong>, surgiu o boato de que a Espanha<br />

precisaria da ajuda financeira da UE em algo em torno de € 280 bilhões. José Luiz Rodríguez<br />

Zapatero, primeiro-ministro <strong>do</strong> país, logo desmentiu o caso e afirmou estar confiante na<br />

recuperação econômica espanhola e pediu a atenção <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res para que os da<strong>do</strong>s e fatos<br />

sejam verdadeiramente analisa<strong>do</strong>s (O ESTADO DE S. PAULO, 2010g).<br />

Ainda no mês de maio, preocupada com sua condição fiscal, a Espanha anunciou um<br />

pacote maior de cortes nos gastos públicos. Desta vez agregou a redução de 5% a partir <strong>do</strong> mês<br />

de junho nos salários <strong>do</strong> funcionalismo, o congelamento <strong>do</strong>s mesmos até o ano que vem ,<br />

suspensão <strong>do</strong>s reajustes nas aposenta<strong>do</strong>rias mais elevadas, contenção nos investimentos públicos,<br />

47


além de um corte de € 300 milhões em ajudas oferecidas a pessoas com alguma limitação. Com<br />

as novas medidas estima-se que a economia seja de mais € 15 bilhões até 2011. O projeto foi<br />

aprova<strong>do</strong> no congresso com dificuldade: 169 a 168 (NETTO, 2010h; NETTO, 2010i).<br />

Assim como na Grécia, a população reagiu negativamente ao conjunto de medidas<br />

impostas. Os efeitos começaram a ser senti<strong>do</strong>s ainda no mês de maio e os sindicatos<br />

manifestaram-se através de protestos e prometeram a convocação de uma greve geral. O<br />

desemprego no país já atingia 4,6 milhões de pessoas, colocan<strong>do</strong> a Espanha no alto <strong>do</strong> ranking de<br />

desemprega<strong>do</strong>s em toda a <strong>Euro</strong>pa Ocidental. A população jovem é a mais afetada: 40,3% <strong>do</strong>s<br />

trabalha<strong>do</strong>res com idade inferior a 25 anos estão sem emprego. A situação é ainda pior, quan<strong>do</strong><br />

se analisa a perspectiva de crescimento médio anual. Crescen<strong>do</strong> menos de 2,0% ao ano, a<br />

Espanha só conseguirá criar novos postos de trabalho que absorvam to<strong>do</strong>s os desemprega<strong>do</strong>s em<br />

2016 (NETTO, 2010h; O ESTADO DE S. PAULO, 2010i).<br />

Para complicar ainda mais a situação <strong>do</strong> país, o Banco Central espanhol anunciou no fim<br />

<strong>do</strong> mês de maio o socorro financeiro a um banco que estava <strong>à</strong> beira da falência. As previsões são<br />

de que o resgate custe ao Esta<strong>do</strong> cerca de € 2,7 bilhões, agravan<strong>do</strong> suas contas públicas e<br />

colocan<strong>do</strong> a Espanha no foco principal <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res. Apesar <strong>do</strong>s cortes de € 15 bilhões<br />

anuncia<strong>do</strong>s pouco tempo antes, o FMI resolveu apertar a cobrança ao país e cobrou “reformas<br />

urgentes”, pedin<strong>do</strong> total prioridade para a reforma <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho (NETTO, 2010j:B7).<br />

Na sequência, mais uma agência de classificação de risco rebaixou o rating da Espanha,<br />

prejudican<strong>do</strong> sua relação com os investi<strong>do</strong>res. A agência Fitch que antes tinha a Espanha no nível<br />

mais eleva<strong>do</strong> da sua escala (AAA), agora a classifica como AA+, que ainda é considera<strong>do</strong> um<br />

bom nível, mas demonstra tendência de baixa. A justificativa para o rebaixamento foi de que por<br />

causa das medidas de austeridade, a taxa de crescimento <strong>do</strong> país será muito baixa em médio<br />

prazo. O episódio na Espanha agora deixa apenas Alemanha, França, Holanda, Suécia e Reino<br />

Uni<strong>do</strong> no patamar de confiança mais eleva<strong>do</strong> da <strong>Euro</strong>pa (NETTO, 2010g).<br />

48


3.2.4 Irlanda<br />

A Irlanda foi o primeiro país europeu a ser atingi<strong>do</strong> pela <strong>crise</strong> <strong>do</strong> subprime, oriunda <strong>do</strong>s<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. <strong>Da</strong><strong>do</strong>s da Comissão <strong>Euro</strong>peia apontaram que a economia irlandesa encolheu<br />

7,5% em 2009, o que deixou o BCE em alerta. O déficit orçamentário <strong>do</strong> país também preocupa<br />

por ser o segun<strong>do</strong> maior entre os PIIGS, (12,5% <strong>do</strong> PIB), atrás apenas da Grécia (SCHULTZ,<br />

2010).<br />

Por ter si<strong>do</strong> a primeira vítima <strong>do</strong> continente, o governo reagiu com reformas antes de<br />

qualquer outro país implementar seus planos de austeridade. Os salários <strong>do</strong> setor público também<br />

receberam cortes, e o setor bancário foi reestabiliza<strong>do</strong>, dan<strong>do</strong> novo fôlego <strong>à</strong> economia; porém, se<br />

outros aspectos forem analisa<strong>do</strong>s, a situação mostra-se ainda muito delicada. Pela primeira vez<br />

em 15 anos, as pessoas que emigraram <strong>do</strong> país, foram mais <strong>do</strong> que as que chegaram; 65,1 mil<br />

pessoas deixaram a Irlanda em 2009 para viver em outros países com melhores condições, sen<strong>do</strong><br />

que muitas delas já eram emigrantes, haven<strong>do</strong> vin<strong>do</strong> para lá buscar a mesma coisa. A falta de<br />

oportunidade de emprego é o fator motiva<strong>do</strong>r de toda essa emigração. Grandes empresas como,<br />

por exemplo a Intel, diminuíram significativamente a presença no país e outras, como a Dell,<br />

saíram definitivamente para se instalar em um país com mão de obra mais barata, no caso a<br />

Polônia. O número total de empresas que fecharam suas portas só em 2009 é espantoso: 1500.<br />

Com isso, mais de 170 mil postos de empregos foram engoli<strong>do</strong>s em um ano, e a previsão é de que<br />

mais 80 mil desapareçam em 2010, representan<strong>do</strong> 12% de desemprego (QUALIMETRIA FAAP,<br />

2010).<br />

3.2.5 Itália<br />

A Itália tem a maior dívida pública não apenas entre os PIIGS, mas também entre os<br />

países da UE, chegan<strong>do</strong> <strong>à</strong> surpreendente cifra de 117% <strong>do</strong> PIB, contabilizan<strong>do</strong> US$ 2,5 trilhões<br />

(CHADE, 2010h). Seus números não são consequência da <strong>crise</strong>, como no caso <strong>do</strong>s outros países<br />

analisa<strong>do</strong>s. A situação de déficit italiana vem desde 2006, quan<strong>do</strong> a <strong>crise</strong> ainda não havia<br />

49


nasci<strong>do</strong>, e, desde então, o que o governo mais tem feito é ignorar o tamanho da sua dívida<br />

(SCHULTZ, 2010).<br />

De acor<strong>do</strong> com a maioria <strong>do</strong>s economistas, apesar da elevada dívida, a Itália não se<br />

encontra na mesma situação grave que a Grécia. Isso porque seus números não foram<br />

manipula<strong>do</strong>s como fez o governo grego; sua economia não teve as fundações abaladas por<br />

consequência de uma bolha imobiliária, como teve a Espanha, e a <strong>crise</strong> não destruiu seu sistema<br />

financeiro como aconteceu na Irlanda, porque a fiscalização bancária na Itália é devidamente<br />

rígida e controlada (QUALIMETRIA FAAP, 2010).<br />

Apesar disso, o governo italiano também teve que tomar providências. O primeiro pacote<br />

de medidas foi elabora<strong>do</strong> no fim de maio, enquanto os outros PIIGS já sofriam com as<br />

consequências de seus cortes. A previsão é de que os cortes na economia italiana rendam € 26<br />

bilhões nos próximos <strong>do</strong>is anos. Dentre as medidas não estão a elevação de impostos e nem<br />

cortes nas pensões, mas, sim, diminuição <strong>do</strong>s gastos com o funcionalismo que somará € 6 bilhões<br />

e constituirá no congelamento <strong>do</strong>s salários por três anos e diminuição em 10% no número de<br />

funcionários; redução <strong>do</strong>s repasses aos governos locais, o que prejudicará principalmente o sul <strong>do</strong><br />

país; reforma nos gastos com a saúde pública, uma medida inédita entre os países que já<br />

aplicaram seus pacotes de austeridade; aumento da fiscalização aos sonega<strong>do</strong>res de impostos;<br />

aumento da idade mínima para a aposenta<strong>do</strong>ria; instalação de pedágios em Roma e <strong>criação</strong> de<br />

taxas sobre transações acima de € 5 mil para aumentar a arrecadação <strong>do</strong> governo (CHADE,<br />

2010i; CHADE, 2010j).<br />

3.3 Problemas e Planos de Austeridade Ultrapassam os PIIGS<br />

Após a UE ter da<strong>do</strong> sinais claros de que poderá, se necessário, resolver os problemas <strong>do</strong>s<br />

PIIGS, principalmente da Grécia, através <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> cria<strong>do</strong> em conjunto pelos 27 Esta<strong>do</strong>s-<br />

membros, foi a vez de as grandes economias <strong>do</strong> bloco aplicarem seus planos de austeridade.<br />

Os números <strong>do</strong> primeiro trimestre de 2010 para a <strong>Euro</strong>pa deixaram evidente que o<br />

problema não estava restrito apenas <strong>à</strong>s economias mais fracas. As seis maiores potências<br />

50


europeias apresentaram crescimento muito próximo a zero entre janeiro e março, o que serviu<br />

para aumentar o receio <strong>do</strong>s países. A Itália foi o país com o melhor desempenho: 0,5% de<br />

crescimento. Já Alemanha, Reino Uni<strong>do</strong> e Holanda cresceram apenas 0,2% e França e Espanha<br />

menos ainda: 0,1% (NETTO, 2010k). O desemprego é outro fator que deve ser leva<strong>do</strong> em conta<br />

para concluir que os poblemas realmente se espalharam por toda a <strong>Euro</strong>pa. Em abril, o índice<br />

atingiu 10,1%, o maior em <strong>do</strong>ze anos, afetan<strong>do</strong> 15,860 milhões de trabalha<strong>do</strong>res (O ESTADO DE<br />

S. PAULO, 2010i). Os números por si só já são bastante ruins, mas as previsões são ainda mais<br />

sombrias. De acor<strong>do</strong> com Olli Rehn, comissário de Economia da UE, se os países não realizarem<br />

suas reformas, a <strong>Euro</strong>pa enfrentará entre 2010 e 2020 uma “década perdida”, e a economia irá<br />

atingir a estagnação (REHN apud CHADE, 2010j:B9).<br />

O déficit da Irlanda continuou sen<strong>do</strong> o mais eleva<strong>do</strong>, segui<strong>do</strong> pelos da Grécia e Espanha;<br />

em média, os países da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> apresentam 6,3% de déficit, estenden<strong>do</strong> o problema para as<br />

economias mais resistentes. França e Reino Uni<strong>do</strong> foram as primeiras economias de peso a<br />

demonstrarem que também implantariam seus próprios planos de rigor seguin<strong>do</strong> o que fizeram<br />

os PIIGS (NETTO, 2010l; NETTO, 2010m).<br />

A França de Nicolas Sarkozy, que apresenta um déficit de 7,5%, anunciou ter como<br />

objetivo a redução em 10% de seus gastos nos próximos três anos, o que a permitirá alcançar o<br />

patamar de 3% em 2013. Para atingí-lo, o governo elevará a idade mínima para a aposenta<strong>do</strong>ria,<br />

assunto que será discuti<strong>do</strong> mais tarde neste mesmo capítulo; reduzirá o funcionalismo através da<br />

extinção de 100 mil cargos, e benefícios sociais como os concedi<strong>do</strong>s para famílias com mais de<br />

três filhos, poderão ser corta<strong>do</strong>s. O Reino Uni<strong>do</strong>, que elegeu seu novo governo este ano, anunciou<br />

primeiramente cortes de € 7,2 bilhões, ultrapassan<strong>do</strong> em € 283 milhões o número inicial previsto.<br />

De acor<strong>do</strong> com os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> governo, o déficit britânico já atinge € 181 bilhões, equivalentes a<br />

11,1% <strong>do</strong> PIB. Para atingir a redução desejada, o governo apostou primeiramente na suspensão<br />

de um ano das contratações para o funcionalismo, no fim <strong>do</strong>s programas de apoio para trabalhos<br />

temporários, no corte de postos de trabalhos no setor público, além de redução nos investimentos<br />

para alguns serviços públicos, como educação e transporte. Posteriormente, em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> mês<br />

de outubro, o governo anunciou cortes adicionais que afetaram benefícios sociais, o orçamento de<br />

defesa e a segurança pública, além da elevação de impostos. Em declaração, a própria rainha<br />

Elizabeth II afirmou que a prioridade número 1 <strong>do</strong> governo <strong>do</strong> Reino Uni<strong>do</strong> será a redução de sua<br />

dívida. O problema, porém, é que o governo optou por mexer nos benefícios da educação,<br />

51


colocan<strong>do</strong> em pauta o aumento das anuidades, o que causou forte onda de protestos e levou<br />

jovens universitários <strong>à</strong>s ruas (O ESTADO DE S. PAULO, 2010h; CHADE, 2010i; CHADE,<br />

2010j; NETTO, 2010m; NETTO, 2010n; O ESTADO DE S. PAULO, 2010j).<br />

A Alemanha, maior economia da <strong>Euro</strong>pa, também precisou apresentar um pacote de<br />

austeridade fiscal que pretende até 2016 realizar os cortes necessários para recolocar sua<br />

economia em ordem. A princípio, os cortes não atingiram nem educação nem fun<strong>do</strong>s de pensão,<br />

mas principalmente desemprega<strong>do</strong>s (CHADE, 2010i). Se as consequências da <strong>crise</strong> <strong>do</strong> <strong>Euro</strong><br />

atingiram até mesmo as grandes economias, é de se imaginar que outras, menos expressivas que<br />

as da Alemanha, França e Reino Uni<strong>do</strong>, e que tão pouco pertencem aos PIIGS, também foram<br />

atingidas. É o caso da Hungria. Em meio aos anúncios de cortes <strong>do</strong>s outros países, seu governo<br />

admitiu estar enfrentan<strong>do</strong> uma forte <strong>crise</strong> e que precisa urgentemente de um plano para evitar<br />

igualar-se <strong>à</strong> Grécia. Em certo ponto, porém, a Hungria já se igualou <strong>à</strong> Grécia: o governo anterior<br />

manipulou os da<strong>do</strong>s econômicos para esconder a <strong>crise</strong> que o atingia (O ESTADO DE S. PAULO,<br />

2010k). Em julho de 2010, a inflação na UE atingiu seu nível mais alto em 20 meses e preocupou<br />

o BCE que não soube qual taxa de juro a<strong>do</strong>tar. O índice de 2,1% foi obti<strong>do</strong> consideran<strong>do</strong> os 27<br />

países que compõem o bloco, sen<strong>do</strong> que o permiti<strong>do</strong> é 2%, e o ponto principal <strong>do</strong> problema é a<br />

disparidade econômica entre os países (CHADE, 2010k).<br />

Em resposta aos planos de austeridade aplica<strong>do</strong>s por quase a totalidade <strong>do</strong>s países e a<br />

exemplo <strong>do</strong> que aconteceu na Grécia, manifestantes europeus foram <strong>à</strong>s ruas protestar sob o lema:<br />

“não <strong>à</strong> austeridade”. Os sindicatos europeus organizaram-se para realizar greves em toda a<br />

<strong>Euro</strong>pa com a intenção de mantê-las, enquanto os trabalha<strong>do</strong>res continuarem sen<strong>do</strong> os principais<br />

prejudica<strong>do</strong>s pelas medidas. De acor<strong>do</strong> com a Organização Internacional <strong>do</strong> Trabalho (OIT), a<br />

<strong>crise</strong> mundial já deixou mais de 30 milhões de pessoas sem emprego em apenas <strong>do</strong>is anos, e<br />

grande parte delas está na <strong>Euro</strong>pa onde, nos dias mais críticos, ocorreram 10 mil demissões por<br />

semana. A figura abaixo aponta os países que enfrentaram greves por causa <strong>do</strong>s planos de<br />

austeridade implanta<strong>do</strong>s, e em destaque os países que aderiram <strong>à</strong> greve geral proposta pela<br />

Confederação de Sindicatos <strong>Euro</strong>peus, e que se encontravam em greve no dia 29 de setembro de<br />

2010 (CHADE, 2010l:B10).<br />

52


Figura 4 – Greves e manifestações na <strong>Euro</strong>pa<br />

Fonte: INFOGRÁFICO/AE apud O Esta<strong>do</strong> de S. Paulo, 29 set. 2010l, Economia, B10.<br />

3.4 A França e o Caso da Reforma da Previdência<br />

Dentre os países europeus, a França era o que apresentava a idade mínima mais baixa para<br />

a aposenta<strong>do</strong>ria: 60 anos. Quan<strong>do</strong> os planos de rigor tiveram de ser estendi<strong>do</strong>s para as maiores<br />

economias <strong>do</strong> continente, o governo francês incluiu em suas medidas a reforma da previdência<br />

pública (NETTO, 2010o).<br />

Implementar uma reforma previdenciária não é simples em nenhum país. No caso da<br />

França, desde 1993, os governos planejam a reforma, tomam a iniciativa, mas não a realizam. A<br />

proposta de Nicolas Sarkozy foi a sexta iniciativa desde então e, a cada dia que passava, ela se<br />

tornava mais necessária. A combinação <strong>do</strong> aumento da expectativa de vida com a redução da taxa<br />

de natalidade e com a degradação <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho acendeu o sinal de alerta <strong>do</strong> governo,<br />

ainda mais quan<strong>do</strong> a perspectiva para 2010 foi divulgada: o déficit na previdência chegará a 10%<br />

(idem, ibidem).<br />

53


O projeto de Sarkozy, dentre outras medidas, previa o aumento de 60 para 62 na idade<br />

considerada mínima para um trabalha<strong>do</strong>r francês se aposentar. Apesar de necessária, a proposta<br />

de reforma na previdência não foi bem aceita pelos sindicatos e pela opinião pública que em<br />

números é 80% a favor de uma reforma, mas apenas 39% aceitam a elevação na idade mínima<br />

para a aposenta<strong>do</strong>ria. Sen<strong>do</strong> assim, os sindicatos organizaram-se e conseguiram reunir, no dia 7<br />

de setembro, milhares de pessoas nas ruas <strong>do</strong> país, as quais protestaram não só contra a medida,<br />

mas também contra a corrupção e a política migratória, ambos os temas muito delica<strong>do</strong>s. Em<br />

resposta <strong>à</strong>s manifestações, o governo admitiu estar disposto a realizar concessões, mas deixou<br />

claro que a medida da idade mínima não seria alterada (idem, ibidem; NETTO, 2010p).<br />

A primeira greve pareceu não ser suficiente e a população voltou a protestar nas ruas no<br />

dia 24 de setembro, quan<strong>do</strong> o projeto de aumento da idade mínima para a aposenta<strong>do</strong>ria já havia<br />

si<strong>do</strong> aprova<strong>do</strong> pela Assembleia Nacional, faltan<strong>do</strong>, portanto, apenas o voto <strong>do</strong> Parlamento<br />

(NETTO, 2010q). E assim se seguiram outras greves que contaram com a participação <strong>do</strong> setor<br />

público, <strong>do</strong> setor priva<strong>do</strong> e de estudantes; em alguns casos, inclusive, resultan<strong>do</strong> em choques<br />

entre manifestantes e polícia e até mesmo prisões (NETTO, 2010r). “A França está um caos.<br />

Segun<strong>do</strong> pesquisas de opinião, a popularidade de Nicolas Sarcozy é a menor já registrada por um<br />

presidente francês nas últimas décadas” (ROCARD, 2010:A14).<br />

A batalha de Nicolas Sarkozy para aprovar a reforma da Previdência Social não foi fácil,<br />

mas ele conseguiu. O ponto que lhe causou maior problema foi, de fato, a elevação da idade<br />

mínima da aposenta<strong>do</strong>ria de 60 para 62 anos, o que, na verdade, se mostrou extremamente<br />

necessária por <strong>do</strong>is motivos. O primeiro deles é que entre as maiores economias da UE, a França<br />

era quem tinha a menor idade mínima para aposenta<strong>do</strong>ria. Quanto ao segun<strong>do</strong>, de acor<strong>do</strong> com<br />

da<strong>do</strong>s da OCDE, por causa da alta expectativa de vida, os trabalha<strong>do</strong>res franceses eram os que<br />

passavam mais tempo de vida aposenta<strong>do</strong>s (NETTO, 2010s).<br />

A revolta da população francesa, traduzida em diversas greves e manifestações, e que<br />

contou com o apoio de 66% da opinião pública <strong>do</strong> país, tinha fundamentos. Atualmente,<br />

trabalha<strong>do</strong>res com mais de 50 anos não conseguem reposicionar-se no merca<strong>do</strong> com facilidade e<br />

muitos chefes de família estão sem emprego; porém, é preciso notar que a França, assim como<br />

outros países da <strong>Euro</strong>pa, enfrenta <strong>do</strong>is problemas relaciona<strong>do</strong>s <strong>à</strong> previdência. O alto índice de<br />

54


desemprego e o fenômeno denomina<strong>do</strong> “papy boom”, que significa eleva<strong>do</strong> número da<br />

população na terceira idade, deram caráter de urgência <strong>à</strong> reforma (idem, ibidem; NETTO, 2010t).<br />

Depois de assistir <strong>à</strong>s manifestações nas ruas e da oposição, que tentou implementar<br />

diversas emendas <strong>à</strong> sua reforma, no dia 22 de outubro, Sarkozy finalmente obteve sua vitória com<br />

a aprovação <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, e em seguida, em 28 de outubro, com a aprovação final da Assembleia<br />

Nacional (336 votos favoráveis e 233 contrários), quebran<strong>do</strong> um tabu que vinha desde 1982.<br />

Outras reformas no sistema previdenciário já haviam si<strong>do</strong> implementadas em 1993, 1995, 1999,<br />

2003 e 2007, sem alterar a idade mínima. A aprovação, porém, não significou o fim <strong>do</strong>s<br />

protestos; sindicatos e estudantes comprometeram-se a dar continuidade <strong>à</strong>s manifestações,<br />

visan<strong>do</strong> a um desgaste da imagem <strong>do</strong> presidente (NETTO, 2010u; NETTO, 2010v).<br />

Com a reforma, a França se aproxima mais <strong>do</strong>s outros países europeus em termos de<br />

idade mínima para a aposenta<strong>do</strong>ria. Alguns desses países já realizaram reformas anteriores,<br />

enquanto outros ainda estão elaboran<strong>do</strong>-as. A figura abaixo traz as informações de sete países da<br />

UE que se encontram nessas condições.<br />

Figura 5 – As principais reformas da Previdência na <strong>Euro</strong>pa<br />

Fonte: INFOGRÁFICO/AE apud O Esta<strong>do</strong> de S. Paulo, 24 out. 2010m, Economia, B11.<br />

55


3.5 O Plano de Socorro e as Soluções Propostas Até Agora<br />

No meio <strong>do</strong> caminho, entre as exigências feitas pela UE <strong>à</strong> Grécia e os novos cortes<br />

implementa<strong>do</strong>s pelo governo grego, surgiram notícias de que o bloco, lidera<strong>do</strong> por Alemanha e<br />

França, socorreria a Grécia através de um plano de ajuda debati<strong>do</strong> nas reuniões de cúpula da UE.<br />

O plano teria si<strong>do</strong> elabora<strong>do</strong> visan<strong>do</strong> a impedir maiores desgastes no <strong>Euro</strong> e recuperar sua<br />

credibilidade (CHADE, 2010m). Entre fevereiro e março foram noticiadas algumas<br />

possibilidades de socorro da UE, ora com a participação <strong>do</strong> FMI, ora sem; ora Alemanha e<br />

França concordan<strong>do</strong>, ora não. No início, todas as possibilidades foram publicadas e logo<br />

desmentidas pela UE.<br />

Em um primeiro momento, os países da união mostraram-se dividi<strong>do</strong>s em termos de como<br />

ajudar a Grécia financeiramente. Os europeus que se encontram fora da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> sugeriam o<br />

envolvimento <strong>do</strong> FMI; já os que compartilham o <strong>Euro</strong>, principalmente Alemanha e França,<br />

rejeitavam a possibilidade. Não se chegava <strong>à</strong> conclusão de quem pagaria a conta (CHADE,<br />

2010n). Em seguida, foi publica<strong>do</strong> que Alemanha e França, em acor<strong>do</strong>, resgatariam a Grécia<br />

juntamente com os outros países da UE e sem a participação financeira <strong>do</strong> FMI, que apenas<br />

auxiliaria o plano (CHADE, 2010m). Desta vez até houve a confirmação <strong>do</strong> plano; porém, as<br />

declarações deixaram claro que a ajuda propriamente dita não era imediata, e o plano só seria<br />

coloca<strong>do</strong> em prática, caso necessário, coisa que no momento era vista como improvável<br />

(CHADE, 2010o). Mais tarde foram divulga<strong>do</strong>s números na publicação alemã Der Spiegel em<br />

que a ajuda consistiria entre € 20 e € 25 bilhões, logo desmentida novamente tanto pela UE que<br />

afirmou não existir tal plano, como pela Grécia através de seu primeiro-ministro que declarou não<br />

querer ajuda externa por se tratar de uma “questão de honra e orgulho” (NETTO,2010w:B8;<br />

NETTO, 2010x). Já no mês de março, a ministra da economia da França, Christine Lagarde,<br />

admitiu a existência de não apenas um, mas de vários planos de ajuda, deixan<strong>do</strong> claro, porém,<br />

que acreditava na capacidade de a Grécia em se recuperar sozinha (NETTO, 2010y). Logo em<br />

seguida, a UE desmentiu as declarações da ministra e voltou a afirmar que não haveria dinheiro<br />

público <strong>do</strong>s países-membros para resgatar a Grécia, pois ainda não havia tal necessidade. A<br />

declaração colocou novamente Alemanha e França em paridade de ideias, já que a Alemanha não<br />

56


cessou em dizer, através da chanceler Angela Merkel, sobre o descarte de empréstimos ao país<br />

(NETTO, 2010z).<br />

França e Alemanha voltaram a discordar sobre o assunto quan<strong>do</strong> o presidente francês,<br />

Nicolas Sarkozy, declarou ser obrigação de os países que compõem a zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>, apoiarem os<br />

que se encontram em dificuldade. “O governo grego tomou as medidas que nós esperávamos, e<br />

os Esta<strong>do</strong>s da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> devem daqui para a frente estar prontos a tomar as que se esperam<br />

deles” e ainda apontou que a ajuda seria totalmente europeia, descartan<strong>do</strong> o FMI. “Um país da<br />

zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> deve antes de mais nada contar com os outros países da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>. Caso<br />

contrário, por que teríamos feito uma moeda única?”, enquanto a Alemanha continuava a se<br />

recusar a fazer parte de um plano de salvamento para a Grécia por qualificá-la como desleixada<br />

em relação <strong>à</strong>s suas contas públicas e corrupta (NETTO, 2010c; NETTO, 2010aa:B8).<br />

Na sequência, as duas maiores economias da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> voltaram a se entender e<br />

lideraram as discussões para a <strong>criação</strong> <strong>do</strong> que seria chama<strong>do</strong> Fun<strong>do</strong> Monetário <strong>Euro</strong>peu (FME),<br />

um organismo aos moldes <strong>do</strong> FMI, com o objetivo de promover a cooperação econômica entre os<br />

países <strong>do</strong> bloco em casos de endividamento. A ideia da <strong>Euro</strong>pa não é criar uma concorrência ao<br />

FMI, mas, sim, garantir que a zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> tenha condições de manter sua estabilidade e possua<br />

recursos de fiscalização e intervenção. A <strong>criação</strong> de um fun<strong>do</strong> europeu serviria para que nas<br />

próximas <strong>crise</strong>s o continente não precisasse depender <strong>do</strong> FMI, o que, se dessa vez acontecer de<br />

fato, demonstrará fraqueza no bloco. A proposta da <strong>criação</strong> <strong>do</strong> FME teria si<strong>do</strong> aprovada pelos<br />

outros membros da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> (O ESTADO DE S. PAULO, 2010n).<br />

Os primeiros sinais de que a economia grega finalmente seria salva, surgiram em mea<strong>do</strong>s<br />

de março, quan<strong>do</strong> nenhum país <strong>do</strong> bloco desmentiu as notícias sobre o futuro acor<strong>do</strong> de socorro<br />

elabora<strong>do</strong> pelos ministros de Finanças <strong>do</strong>s 16 países que compartilham o <strong>Euro</strong>. To<strong>do</strong>s os<br />

membros da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> aprovaram “um programa de contribuições bilaterais coordenadas, na<br />

forma de empréstimos ou garantias de empréstimos, para a Grécia, caso Atenas se veja incapaz<br />

de refinanciar sua gigantesca dívida”. Algumas fontes declararam que o pacote poderia chegar a €<br />

25 bilhões. Além da ajuda financeira, foram discutidas mudanças nas regras <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> que<br />

concederão <strong>à</strong> <strong>Euro</strong>stat, agência de estatísticas da UE, maiores poderes de inspeção (TRAYNOR,<br />

2010:B14).<br />

57


Enquanto os ministros de Finanças da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> continuaram a decidir sobre o plano<br />

de socorro, a Grécia demonstrou sua disposição em recorrer ao FMI, provocan<strong>do</strong> os países <strong>do</strong><br />

bloco que se opunham <strong>à</strong> solução. No início das discussões sobre a ajuda financeira, to<strong>do</strong>s os<br />

países se posicionaram contra o envolvimento <strong>do</strong> FMI, mas, com o passar <strong>do</strong> tempo e com a falta<br />

de soluções, alguns países mudaram de opinião e já apoiavam a manifestação grega. Dentre os<br />

países que concordaram com a participação <strong>do</strong> fun<strong>do</strong>, estão Alemanha, Holanda e Finlândia,<br />

além de Reino Uni<strong>do</strong> e Suécia, que não compartilham a moeda única. França é a principal<br />

opositora e propõe uma ajuda somente europeia <strong>à</strong> Grécia (NETTO, 2010ab).<br />

Após quase <strong>do</strong>is meses de negociações, a UE finalmente decidiu os moldes <strong>do</strong> mecanismo<br />

de socorro <strong>à</strong> Grécia e a outros países com dificuldades. Na última semana de março, foi<br />

anuncia<strong>do</strong> que o plano de financiamento contaria com 60% a 70% de recursos <strong>do</strong>s 27 países que<br />

formam a UE e 30% a 40% de participação <strong>do</strong> FMI. O dinheiro não será imediatamente libera<strong>do</strong>,<br />

pois ainda prevalece a crença de que a Grécia consiga reerguer-se sozinha. “O acor<strong>do</strong> é<br />

claramente de natureza preventiva. O objetivo é não usá-lo” afirmou Nicolas Sarkozy. Caso<br />

contrário, o mecanismo será aciona<strong>do</strong> e automaticamente uma linha de refinanciamento rápi<strong>do</strong><br />

será criada, com juros baixos, e os recursos virão principalmente de empréstimos bilaterais <strong>do</strong>s<br />

países da UE. A contribuição de cada país dependerá <strong>do</strong> valor com o qual ele contribui ao BCE,<br />

que é elabora<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong> com o PIB e o tamanho da população. Herman van Rompuy,<br />

presidente <strong>do</strong> Conselho <strong>Euro</strong>peu, declarou: “O mecanismo tem de um la<strong>do</strong> o FMI e, de outro<br />

la<strong>do</strong>, os membros da <strong>Euro</strong>zona. É um mecanismo misto, no qual o componente <strong>do</strong>minante será o<br />

europeu”. Consta ainda no texto <strong>do</strong> acor<strong>do</strong> que a quantia necessária só será entregue ao país que<br />

acionar o mecanismo, caso haja a aceitação unânime <strong>do</strong>s 27 países da UE e o parecer positivo <strong>do</strong><br />

BCE juntamente com a Comissão <strong>Euro</strong>peia. Além disso, em breve serão elaboradas<br />

contrapartidas para os países que solicitarem a ajuda financeira de mo<strong>do</strong> a prevenir futuras <strong>crise</strong>s<br />

e aplicar sanções aos que descumprirem o Pacto de Estabilidade, fixa<strong>do</strong> pelo Trata<strong>do</strong> de<br />

Maastricht (NETTO, 2010ac:B12).<br />

Apesar das declarações positivas de que a Grécia conseguiria sair da <strong>crise</strong> com suas<br />

próprias mãos, em 23 de abril, o primeiro-ministro grego, Georges Papandreou, anunciou em um<br />

canal de televisão ter ativa<strong>do</strong> o mecanismo de ajuda mista. A quantia liberada seria de<br />

aproximadamente € 45 bilhões, sen<strong>do</strong> € 30 bilhões provenientes da UE e os outros € 15 bilhões<br />

<strong>do</strong> FMI a juros de até 5%, enquanto no merca<strong>do</strong> priva<strong>do</strong> os juros cobra<strong>do</strong>s estavam em torno de<br />

58


8,5%. A data estipulada, para que a primeira parte <strong>do</strong> valor fosse liberada, foi 19 de maio, a<br />

tempo de o país honrar os títulos com vencimento no fim <strong>do</strong> mesmo mês (NETTO, 2010ad).<br />

O pedi<strong>do</strong> de ajuda feito pela Grécia marcou a história da UE por ter si<strong>do</strong> o primeiro caso<br />

de resgate financeiro a um país <strong>do</strong> bloco em onze anos de sua existência. A forte pressão <strong>do</strong>s<br />

merca<strong>do</strong>s financeiros fez com que a Grécia não tivesse outra saída a não ser recorrer <strong>à</strong> ação<br />

conjunta <strong>do</strong>s países <strong>do</strong> bloco e <strong>do</strong> FMI. O socorro impediu a moratória grega, mas não veio sem<br />

exigir mais esforços por parte <strong>do</strong> governo: Alemanha e França concederam o empréstimo,<br />

prometen<strong>do</strong> cobrar medidas mais rígidas da Grécia que já havia implementa<strong>do</strong> diversas outras (O<br />

ESTADO DE S. PAULO, 2010o).<br />

Antes da liberação em maio, os valores para o socorro foram revistos e ficou constata<strong>do</strong><br />

que os € 45 bilhões seriam insuficientes. Juntos, a UE e o FMI chegaram <strong>à</strong> enorme cifra de € 100<br />

bilhões, poden<strong>do</strong> ser ainda maior, € 120 bilhões, em três anos. Além <strong>do</strong> aumento da quantia, o<br />

socorro faz-se cada vez mais urgente, e não mais para salvar apenas a Grécia, mas toda a zona <strong>do</strong><br />

<strong>Euro</strong>. As declarações preocupadas começaram a surgir: “Há necessidade absoluta de decidir<br />

rapidamente”, disse o presidente <strong>do</strong> BCE e “Cada dia perdi<strong>do</strong> será um dia na qual a situação vai<br />

piorar” anunciou o diretor-gerente <strong>do</strong> FMI (NETTO e CHADE, 2010:B6).<br />

As novas medidas de austeridade exigidas, tanto pelo FMI quanto pelos países<br />

financia<strong>do</strong>res, provocaram reações negativas na população grega e nos sindicatos. Os novos<br />

cortes, que poderão contabilizar até € 24 bilhões, preveem o aumento <strong>do</strong> imposto sobre valor<br />

agrega<strong>do</strong> e o congelamento salarial de três anos <strong>do</strong> setor público. Ficou evidente, através das<br />

manifestações e também de pesquisas, que a maior parte da população grega se opõe ao<br />

envolvimento <strong>do</strong>s outros países da UE e <strong>do</strong> FMI na economia de seu país (O ESTADO DE S.<br />

PAULO e NETTO, 2010).<br />

A ajuda, propriamente dita, demorou a ser liberada, e a Alemanha foi a grande<br />

responsável pelo atraso que quase provocou o naufrágio <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>. Angela Merkel, chanceler<br />

alemã, realizou sucessivos atrasos na decisão <strong>do</strong> parlamento alemão quanto ao pedi<strong>do</strong> de ajuda<br />

grego, mostran<strong>do</strong>-se em alguns momentos claramente contra a ideia de seu país contribuir<br />

financeiramente. De acor<strong>do</strong> com Roland Doerhrn, membro <strong>do</strong> Instituto de Pesquisas RWI, em<br />

entrevista ao Esta<strong>do</strong> de S. Paulo, a pressão exercida pela Alemanha, através <strong>do</strong>s atrasos, foi<br />

programada e teve como objetivo alertar os outros países da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> quanto ao perigo de<br />

59


não cumprir o Pacto de Estabilidade. Mas a estratégia deixa a desejar, quan<strong>do</strong> se nota que a<br />

própria Alemanha está 0,3% acima <strong>do</strong> permiti<strong>do</strong> para o déficit orçamentário. Aliás, dentre os 16<br />

países que compartilham o <strong>Euro</strong>, apenas Luxemburgo e Finlândia cumprem os critérios pré-<br />

estabeleci<strong>do</strong>s, apresentan<strong>do</strong> déficits de 0,7% e 2,2% respectivamente. Após praticamente <strong>do</strong>is<br />

meses e meio de demora, a própria Alemanha passou a criticar Merkel e um jornal denominou-a<br />

como a “responsável pela <strong>crise</strong> <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>” (NETTO, 2010l:B15).<br />

O acor<strong>do</strong> para a liberação da ajuda só foi finalmente finaliza<strong>do</strong> no dia 2 de maio de 2010,<br />

no valor de € 110 bilhões, sen<strong>do</strong> € 80 bilhões repassa<strong>do</strong>s pela UE e € 30 bilhões pelo FMI em um<br />

perío<strong>do</strong> de três anos. Quanto aos juros que serão cobra<strong>do</strong>s, não houve alteração, em torno de 5%.<br />

Através da quantia a Grécia conseguirá refinanciar mais de 30% de sua dívida total que está<br />

avaliada em € 300 bilhões, mas não sem passar pelo intenso processo de reformas proposto em<br />

conjunto pela UE e pelo FMI, principalmente nos setores de administração pública e merca<strong>do</strong> de<br />

trabalho (NETTO, 2010ae).<br />

Poucos dias após o anúncio da decisão final, o parlamento grego aprovou as medidas de<br />

austeridade sugeridas pela UE e pelo FMI, mesmo com fortes protestos da população que voltou<br />

a entrar em choque com a polícia durante manifestações. A aprovação grega não foi facilmente<br />

alcançada (172 votos contra 121), uma vez que o país se mostra dividi<strong>do</strong> quanto <strong>à</strong> maneira que a<br />

ajuda será concedida. Durante a votação no parlamento, acusações duras foram trocadas entre os<br />

parti<strong>do</strong>s socialista e conserva<strong>do</strong>r; o primeiro acusa o segun<strong>do</strong> de ser o responsável pela <strong>crise</strong><br />

grega por ter manipula<strong>do</strong> os números e escondi<strong>do</strong> por anos a real situação da economia. O<br />

primeiro-ministro, <strong>do</strong> parti<strong>do</strong> socialista, fez as seguintes declarações: “Vamos mudar a Grécia,<br />

lamentavelmente com grandes sacrifícios para garantir sua prosperidade” e “A situação é<br />

simples: ou aprovamos cortes duros ou estamos condena<strong>do</strong>s <strong>à</strong> falência”. O ministro das finanças,<br />

George Papaconstantinou, também demonstrou sua opinião dizen<strong>do</strong> que: “Temos de implementar<br />

as medidas mais difíceis já tomadas por esse país” (CHADE, 2010p:B4).<br />

Para o economista Barry Eichengreen (2010) o plano de ajuda mista não é o suficiente<br />

para dar sossego <strong>à</strong> Grécia. Para ele a única saída existente é a reestruturação da dívida, e a UE e o<br />

FMI falharam ao não incluírem esse processo no pacote de ajuda. Quanto mais tempo demorar<br />

para que a reestruturação seja feita, mais prejuízos incorrerão sobre a Grécia, porque será cada<br />

vez mais difícil e caro pagar suas dívidas. Já para Nouriel Roubini (2010), também economista, o<br />

60


fornecimento de dinheiro <strong>à</strong> Grécia apenas adia o problema central, porque a imposição de tantos<br />

cortes na economia pode gerar queda na produção e consequentemente na participação nos<br />

merca<strong>do</strong>s, além <strong>do</strong> aumento <strong>do</strong> desemprego. Roubini então sugere a elaboração de um plano B<br />

que vai de encontro com a proposta de Eichengreen: reestruturação <strong>do</strong> endividamento.<br />

Na mesma reunião em que o pacote de ajuda <strong>à</strong> Grécia foi aprova<strong>do</strong>, foram propostos<br />

novos cortes de gastos para to<strong>do</strong>s os países, a <strong>criação</strong> de um mecanismo de estabilização da<br />

moeda e de um fun<strong>do</strong> para socorrer países com problemas. Uma das maiores urgências para a UE<br />

é regular os merca<strong>do</strong>s financeiros, de mo<strong>do</strong> que países com problemas não contaminem outros e<br />

que o <strong>Euro</strong> não seja diariamente ameaça<strong>do</strong> em tempos de <strong>crise</strong>; desde novembro de 2009, o <strong>Euro</strong><br />

desvalorizou-se em 15% (CHADE, 2010q).<br />

Em agosto, a UE, o FMI e o BCE decidiram que, para que a última parcela da ajuda<br />

financeira, prevista para este ano, fosse liberada, o governo grego teria que arcar com mais cortes.<br />

O pedi<strong>do</strong> em conjunto foi para que a Grécia aprofundasse ainda mais suas reformas e as<br />

acelerasse para então receber a quantia planejada. As novas exigências feitas tinham relação com<br />

privatizações e aumento de impostos, o que não causou reação muito positiva <strong>do</strong> governo<br />

(CHADE, 2010r). O problema é que o governo grego já aplicou tantas medidas de austeridade<br />

desde o início <strong>do</strong> ano que a Grécia se tem afunda<strong>do</strong> ainda mais na recessão. O segun<strong>do</strong> trimestre<br />

deste ano apresentou queda de 1,5% na economia em comparação ao primeiro trimestre, o que<br />

demonstra que a contração tem aumenta<strong>do</strong>. Depois de ter caí<strong>do</strong> 2% ano passa<strong>do</strong>, a projeção <strong>do</strong><br />

FMI é de que, ao fim <strong>do</strong> ano, a economia grega apresente contração total de 4% (CHADE,<br />

2010s).<br />

No primeiro país resgata<strong>do</strong> pela UE, os cortes nos gastos parecem não ter um fim<br />

próximo. Para conseguir cumprir com sua meta parcial de atingir em 2011 um déficit de 7,6% <strong>do</strong><br />

PIB, o governo precisa levantar € 4,5 bilhões rapidamente. É <strong>do</strong> sucesso de suas medidas de<br />

austeridade que depende a liberação da terceira parcela de ajuda prevista para este ano; ajuda esta<br />

que permitiu <strong>à</strong> Grécia não decretar o calote da dívida em maio. Já é certo, porém, que a meta<br />

deste ano, de diminuir o déficit para 8,1%, não será cumprida. A baixa coleta de impostos e a<br />

mais nova revisão <strong>do</strong>s números de 2009, que estimou o déficit em 15,4% e não em 13,8%, como<br />

se acreditava, fez com que o governo anunciasse que os cortes feitos nos gastos permitirá reduzir<br />

o déficit para apenas 9,3%. E mais, a dívida pública de 2009, também revista, atingiu 126% <strong>do</strong><br />

61


PIB, colocan<strong>do</strong> a Grécia no topo da lista <strong>do</strong>s endivida<strong>do</strong>s europeus (CHADE, 2010t; O ESTADO<br />

DE S. PAULO, 2010p).<br />

Na situação atual, a única solução vista pelo governo grego, é continuar com os cortes de<br />

gastos. A diferença, porém, é a promessa feita pelo primeiro-ministro que a população não será a<br />

maior atingida, como nas medidas anteriores; desta vez o foco estará no setor público, e a ideia é<br />

de reorganizá-lo. Além disso, Papandreou admitiu que solicitará o prolongamento <strong>do</strong> prazo de<br />

pagamento da dívida para depois de 2015 (CHADE, 2010t).<br />

Na contramão da Grécia está a Alemanha. A maior economia <strong>do</strong> bloco foi a responsável<br />

pelo crescimento de 1% apresenta<strong>do</strong> em agosto na zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> em relação ao trimestre anterior,<br />

que contou também, em menor participação, com a França. A notícia reanimou o bloco e<br />

surpreendeu economistas que não esperavam tamanho crescimento da Alemanha: 2,2% na<br />

comparação trimestral. “A alta no Produto Interno Bruto (PIB) ocorreu principalmente graças <strong>à</strong>s<br />

exportações, já que o merca<strong>do</strong> interno continua relativamente frágil”. Em to<strong>do</strong> caso, porém, a<br />

previsão a partir <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> semestre é de desaceleração, uma vez que o governo alemão<br />

também já aplicou seu plano de austeridade, e que os países que importam seus produtos,<br />

apresentaram queda no crescimento. É por estes motivos que a chanceler Angela Merkel afirmou<br />

que o plano de austeridade não será altera<strong>do</strong>, ou seja, os impostos continuarão os mesmos e os<br />

cortes nos gastos públicos seguirão. O governo francês acredita que a Alemanha ainda pode<br />

colaborar para a recuperação <strong>do</strong> bloco, se criar um merca<strong>do</strong> <strong>do</strong>méstico significante, que compre<br />

as exportações <strong>do</strong>s outros países que enfrentam enormes dificuldades de crescimento (O<br />

ESTADO DE S. PAULO, 2010q; CHADE, 2010u:B9).<br />

Enquanto a Alemanha crescia, a Espanha anunciou a continuação <strong>do</strong> seu plano com a<br />

aprovação da reforma <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho. Com sua população extremamente atingida pelo<br />

desemprego, a reforma busca dar novo fôlego ao setor, através de mais flexibilidade de horários,<br />

redução no valor das indenizações por demissões, mais facilidade para a dispensa de funcionários<br />

por motivos econômicos e redução de 90 para 30 dias o pagamento <strong>do</strong> auxílio desemprego (O<br />

ESTADO DE S. PAULO, 2010r).<br />

A seguinte reunião da Cúpula da União <strong>Euro</strong>peia significou um grande passo em direção <strong>à</strong><br />

cooperação entre os países que formam o bloco. Denomina<strong>do</strong> primeiramente de ‘mecanismo de<br />

estabilização’, os países concordaram na <strong>criação</strong> de um fun<strong>do</strong> para “combater <strong>crise</strong>s sistêmicas na<br />

62


Zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> e nos países <strong>do</strong> bloco que ainda a<strong>do</strong>tam moedas nacionais”. O objetivo é que o<br />

mecanismo de estabilização dê origem, futuramente, ao Fun<strong>do</strong> Monetário <strong>Euro</strong>peu (FME), que<br />

ainda não pode ser cria<strong>do</strong> por causa de impedimentos nos trata<strong>do</strong>s de constituição da União<br />

<strong>Euro</strong>peia. De acor<strong>do</strong> com as informações cedidas, o fun<strong>do</strong> contará com a disponibilidade de<br />

€ 500 bilhões, <strong>do</strong>s quais € 60 bilhões já pertencem a um fun<strong>do</strong> da Comissão <strong>Euro</strong>peia, e o<br />

restante virá <strong>do</strong>s países-membros. Há ainda a possibilidade <strong>do</strong> FMI complementar o fun<strong>do</strong> com<br />

mais € 250 bilhões. O dinheiro será libera<strong>do</strong> para os países com problemas mediante a<br />

autorização de to<strong>do</strong>s os 27 Esta<strong>do</strong>s-membros através de contratos de empréstimos bilaterais ou<br />

garantias a juros <strong>do</strong> FMI (NETTO, 2010af:B1).<br />

A decisão foi o sinal mais forte de que a UE tem realmente condições de salvar sua<br />

moeda. Apesar de a decisão não significar o desembolso <strong>do</strong> dinheiro de fato e ter si<strong>do</strong> apenas<br />

uma demonstração <strong>do</strong> que os países-membros podem fazer, os merca<strong>do</strong>s finalmente<br />

demonstraram ânimo. Nas palavras de Celso Ming (2010a:B2), “a decisão tomada em Bruxelas é<br />

uma convincente demonstração de unidade”, o que desde o começo da <strong>crise</strong> vinha sen<strong>do</strong> espera<strong>do</strong><br />

e, “os compromissos consagra<strong>do</strong>s pelo Trata<strong>do</strong> de Maastricht e pelo Pacto de Estabilidade e<br />

Crescimento (PEC) não são suficientes para assegurar a necessária austeridade fiscal <strong>do</strong>s<br />

membros da área <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>”, exigin<strong>do</strong> novas providências da UE.<br />

Dentre os chefes de Esta<strong>do</strong>, a alemã Angela Merkel foi a primeira a declarar que o pacote<br />

de resgate elabora<strong>do</strong> pelos membros da UE, incluin<strong>do</strong> a própria Alemanha, seria insuficiente para<br />

devolver a tranquilidade ao continente. Para ela o ponto crucial é resolver as disparidades<br />

econômicas entre os membros <strong>do</strong> bloco que compartilham o <strong>Euro</strong>, e as medidas tomadas até o<br />

momento serviram apenas para ganhar tempo. De acor<strong>do</strong> com a chanceler, a UE precisa fazer<br />

mais para combater a especulação contra sua moeda (O ESTADO DE S. PAULO, 2010s).<br />

De certa forma, as afirmações de Merkel abriram espaço para que os ministros de finanças<br />

da UE reconhecessem a necessidade de impor mais medidas de rigor em to<strong>do</strong> o bloco. A mais<br />

importante delas foi, sem dúvida, a <strong>criação</strong> de punições para os países que não conseguirem<br />

controlar suas dívidas, como vem acontecen<strong>do</strong>. A sugestão alemã, acatada pelo restante <strong>do</strong>s<br />

países, pede que os governos apresentem orçamentos equilibra<strong>do</strong>s e prevê punições para os que<br />

não cumprirem a meta como, por exemplo, a suspensão <strong>do</strong> direito de voto em decisões <strong>do</strong> bloco e<br />

até mesmo o não recebimento da verba disponível para ajuda. O objetivo das medidas é<br />

63


ealmente punir os países que ultrapassarem repetidamente o limite de 3%, imposto pelo Trata<strong>do</strong><br />

de Maastricht para o déficit (O ESTADO DE S. PAULO, 2010t).<br />

O próximo passo da<strong>do</strong> pela UE com vistas a estabelecer o equilíbrio econômico no bloco<br />

referiu-se <strong>à</strong> <strong>criação</strong> de novos mecanismos de controle comunitários tanto sobre os déficits como<br />

sobre as dívidas nacionais. Os ministros de Finanças decidiram, na reunião ocorrida no início de<br />

junho, o que já era espera<strong>do</strong>: aumento <strong>do</strong> rigor. Como resulta<strong>do</strong> da reunião, o escritório<br />

responsável pelas estatísticas das Comunidades <strong>Euro</strong>peias, o <strong>Euro</strong>stat, vai ganhar mais<br />

atribuições e poder, e não mais apenas receberá <strong>do</strong>s países seus da<strong>do</strong>s macroeconômicos; agora<br />

também verificará e investigará a solidez <strong>do</strong>s números apresenta<strong>do</strong>s. Será uma espécie de<br />

fiscalização que permitirá <strong>à</strong> UE analisar os orçamentos de cada Esta<strong>do</strong>-membro seis meses antes<br />

de os respectivos parlamentos os terem aprova<strong>do</strong>s, impedin<strong>do</strong> assim que outros países<br />

apresentem da<strong>do</strong>s manipula<strong>do</strong>s. A supervisão <strong>do</strong>s orçamentos nacionais terá início em 2011 e os<br />

orçamentos deverão ser encaminha<strong>do</strong>s com programas de estabilidade e a fiscalização não mais<br />

permitirá “a contração excessiva de dívidas ou a explosão <strong>do</strong>s déficits” (NETTO, 2010ag:B6;<br />

NETTO, 2010ah).<br />

No decorrer das discussões surgiu o que parece ser a solução mais ambiciosa para que a<br />

UE volte a desfrutar seus dias de paz: governança fiscal. Só através de um mecanismo de<br />

governança fiscal é que os déficits orçamentários serão impedi<strong>do</strong>s; porém, a implantação de um<br />

mecanismo desse tipo implica, em primeiro lugar, a perda de soberania política, assunto pouco<br />

agradável para os países. Além disso, devi<strong>do</strong> ao <strong>Euro</strong> ser compartilha<strong>do</strong> por 16 países-membros e<br />

não pela totalidade de países que formam a UE, para vigorar um mecanismo de governança fiscal<br />

seria necessária a elaboração de novos trata<strong>do</strong>s que apenas dissessem respeito aos países da zona<br />

<strong>do</strong> <strong>Euro</strong>, bem como novas instituições supranacionais; essa é a ideia francesa. Já na ideia alemã,<br />

não pode haver maiores divisões dentro da UE, ou seja, criar novos trata<strong>do</strong>s e novas instituições<br />

para os países da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> está fora de questão. As duas potências europeias concordam que<br />

a governança fiscal é uma das saídas possíveis, porém dificilmente concordarão em subtrair ainda<br />

mais suas soberanias e não cederão <strong>à</strong>s ideias uma da outra com relação de como a governança<br />

deverá funcionar (MING, 2010b; LAPOUGE, 2010c).<br />

A França ainda foi além e apresentou a proposta mais profunda de solução para o bloco.<br />

Na verdade, a solução ultrapassa os limites <strong>do</strong> bloco, atingin<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o sistema financeiro<br />

64


internacional, uma vez que a proposta é exatamente sua reforma. A França de Sarkozy, que<br />

assumiu agora em novembro a presidência <strong>do</strong> G-20, anunciou sua intenção de negociar o que<br />

seria um novo “Bretton Woods”. Sua intenção é, já a partir de 2011, “consolidar os mecanismos<br />

de coordenação” e “reforçar a supervisão multilateral”, visan<strong>do</strong> a recuperar a estabilidade<br />

monetária mundial. A intenção <strong>do</strong> presidente francês é boa, porém, algumas barreiras impedem<br />

que seja colocada em prática. A primeira delas é que, atualmente, nenhuma moeda é capaz de<br />

substituir o dólar; portanto, a reserva internacional de valor continuará sen<strong>do</strong> a moeda norte-<br />

americana. E a segunda, realmente importante, é que nenhuma proposta que tire o dólar <strong>do</strong> lugar<br />

que se encontra hoje, será aceita pelos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s (NETTO, 2010ai:B9; MING, 2010c).<br />

Até setembro de 2010, o maior avanço da<strong>do</strong> para solucionar os problemas de toda a UE<br />

havia si<strong>do</strong> a <strong>criação</strong> de um fun<strong>do</strong> de socorro que está sob o coman<strong>do</strong> <strong>do</strong> economista alemão,<br />

Klaus Regling. A denominação <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> é a seguinte: Fun<strong>do</strong> <strong>Euro</strong>peu de Estabilização<br />

Financeira (EFSF é a sigla em inglês). Regling tem <strong>à</strong> sua disposição € 440 bilhões e uma difícil<br />

missão: devolver o <strong>Euro</strong> <strong>à</strong> estabilidade. A abrangência de suas medidas é a zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>, ou seja,<br />

16 países, e o objetivo é de que em casos de emergência fiscal em qualquer um deles, o fun<strong>do</strong><br />

esteja pronto para intervir financeiramente. O mecanismo funcionará pelos próximos três anos, e<br />

por ter si<strong>do</strong> cria<strong>do</strong> com a quantia de € 440 bilhões <strong>à</strong> sua disposição, elimina a necessidade de<br />

arrecadações entre os países <strong>do</strong> bloco, que, como visto no caso da Grécia, complica e atrasa as<br />

resoluções. No fun<strong>do</strong>, o EFSF é mais uma medida de precaução, e o desejo da UE é que ele não<br />

precisasse interferir em nenhum país (REIERMAN, 2010). O problema, porém, é que a<br />

possibilidade <strong>do</strong> EFSF não precisar salvar os países durou pouco. Os acontecimentos mais<br />

recentes colocaram a Irlanda como a maior ameaça ao <strong>Euro</strong>, e um plano para salvá-la com os<br />

recursos <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> precisou ser elabora<strong>do</strong>.<br />

A <strong>crise</strong> na Irlanda deteriorou-se quan<strong>do</strong> um resgate aos bancos <strong>do</strong> país foi anuncia<strong>do</strong> no<br />

começo <strong>do</strong> mês de outubro. A soma <strong>do</strong>s recursos necessários para o salvamento foi de € 40<br />

bilhões, quantia muito elevada para um país em contenção de gastos, e que resultará na elevação<br />

<strong>do</strong> déficit público de 2010 ao seu recorde: 32% <strong>do</strong> PIB, dez vezes acima <strong>do</strong> permiti<strong>do</strong> pela UE.<br />

Mesmo assim, <strong>à</strong> época <strong>do</strong> anúncio, o governo irlandês manteve sua meta de derrubar o déficit<br />

para 3% até 2014, exigin<strong>do</strong> cortes ainda mais drásticos. Na ocasião, o ministro das Finanças<br />

deixou claro não precisar de nenhum tipo de empréstimo, ao mesmo tempo em que a UE declarou<br />

65


não ter a intenção de socorrer o país, por mais uma vez acreditar, como fez com a Grécia, que o<br />

governo irlandês se reerguiria sozinho (O ESTADO DE S. PAULO, 2010u).<br />

A sequência <strong>do</strong>s fatos foi ainda pior, pois mesmo com os cortes de gastos a economia<br />

irlandesa não pareceu reagir, o que fez com que a ideia de um novo socorro por parte da UE se<br />

tornasse cada vez mais clara. Preven<strong>do</strong> maiores complicações para to<strong>do</strong> o bloco, o presidente da<br />

Comissão <strong>Euro</strong>peia, José Manuel Durão Barroso, anunciou em novembro, que a UE estaria<br />

pronta para ajudar a Irlanda através <strong>do</strong> EFSF, caso fosse necessário (CHADE, 2010v). Em<br />

seguida, os ministros de Finanças das cinco maiores economias da <strong>Euro</strong>pa, durante a Cúpula <strong>do</strong><br />

G-20 realizada em Seul, reforçaram a declaração de Barroso, na intenção de devolver a confiança<br />

aos merca<strong>do</strong>s em relação ao <strong>Euro</strong>. Ainda assim, o governo irlandês manteve sua posição de não<br />

recorrer ao fun<strong>do</strong>, acreditan<strong>do</strong> que mais medidas de austeridade seriam o suficiente para<br />

conseguir realizar o pagamento da dívida (O ESTADO DE S. PAULO, 2010v)<br />

O ‘Tigre Celta’, como o país foi chama<strong>do</strong> durante seus anos de crescimento, vive agora<br />

sua pior realidade. A Irlanda passou uma década com as maiores taxas de crescimento <strong>do</strong><br />

continente, que está prestes a ser trocada por uma década de estagnação. Desde 2008 o PIB <strong>do</strong><br />

país já declinou 13%, e o único fator que tem afasta<strong>do</strong> a depressão é a exportação, equivalente a<br />

mais de 50% da produção industrial. Especialistas apontam que se essa base exporta<strong>do</strong>ra não<br />

existisse, o país teria si<strong>do</strong> resgata<strong>do</strong> muito antes (CHADE, 2010w). E os problemas não param<br />

por aí. A situação irlandesa é tão grave que a expectativa é que sua população diminua 5% entre<br />

2009 e 2011, o que representará a saída de 200 mil pessoas <strong>do</strong> total de 4 milhões de habitantes.<br />

Só neste ano 70 mil já deixaram a Irlanda (O ESTADO DE S. PAULO, 2010w).<br />

Finalmente, em 21 de novembro, o pacote de resgate para a Irlanda foi anuncia<strong>do</strong>. Apesar<br />

de o governo ter se mostra<strong>do</strong> relutante no início, não houve outra saída; Dublin foi incapaz de<br />

solucionar seus problemas sozinho, e aceitou a intervenção da UE e <strong>do</strong> FMI. A quantia estipulada<br />

para a ajuda foi entre € 80 e € 90 bilhões, sen<strong>do</strong> que, a previsão é que a maior parte seja<br />

direcionada para os bancos e o restante para as contas públicas. Como no caso da Grécia, o<br />

resgate veio acompanha<strong>do</strong> de novas medidas: reforma <strong>do</strong>s bancos, demissão de funcionários<br />

públicos, redução no salário mínimo, novas cargas tributárias, entre outras. Os cortes<br />

representarão uma diminuição de 10% <strong>do</strong> PIB e atrasarão a recuperação da economia (CHADE,<br />

2010x; CHADE, 2010y).<br />

66


A União <strong>Euro</strong>peia não esperava que a “<strong>crise</strong> <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>” se alongasse por tanto tempo, e tão<br />

pouco não previa ter que resgatar outros Esta<strong>do</strong>s-membros além da Grécia. Tal realidade fez com<br />

que o bloco reconhecesse a necessidade de elaborar um mecanismo permanente de socorro. Com<br />

a existência de um mecanismo permanente, qualquer país da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> seria resgata<strong>do</strong> ao<br />

enfrentar problemas de insolvência, sem que se dispendesse meses <strong>à</strong> procura da solução ideal.<br />

Agora, a UE propõe que esse mecanismo seja cria<strong>do</strong> antes de 2013, data em que expira a validade<br />

<strong>do</strong> fun<strong>do</strong> de socorro comanda<strong>do</strong> por Klaus Regling (O ESTADO DE S. PAULO, 2010x). Tu<strong>do</strong><br />

indica que esta medida é apenas parte da solução para reencaminhar a União <strong>Euro</strong>peia ao<br />

caminho <strong>do</strong> sucesso.<br />

67


CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Em maio de 2010 a União <strong>Euro</strong>peia completou 60 anos de aniversário; porém, o momento<br />

que deveria ser de comemorações, foi de constatações a respeito das falhas presentes no projeto<br />

que permitiram <strong>à</strong> UE perder-se na <strong>crise</strong>. Uma coisa, porém, não se pode negar: “o processo é o<br />

maior projeto de paz já conduzi<strong>do</strong> pela humanidade em séculos”, e, além disso, alguns <strong>do</strong>s países<br />

que formam o bloco, apresentam os maiores índices de desenvolvimento social <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Mas,<br />

por ser um bloco muito heterogêneo, a UE enfrenta dificuldades para reorganizar-se e sair de sua<br />

primeira <strong>crise</strong> (CHADE, 2010z:B6). A <strong>crise</strong> mundial de 2008 afetou a UE de tal maneira que foi<br />

possível enxergar com clareza as falhas originais <strong>do</strong> projeto, tanto em relação <strong>à</strong> a<strong>do</strong>ção da moeda<br />

única, quanto em relação <strong>à</strong> união de países tão diferentes e tão orgulhosos de suas diferenças<br />

(LAPOUGE, 2010d). Até o momento, o que se vê, é que a UE tomou algumas medidas de caráter<br />

mais emergencial visan<strong>do</strong> a devolver confiança <strong>à</strong> sua moeda, mas em termos de melhorias na<br />

integração, ainda nada foi coloca<strong>do</strong> em prática.<br />

França e Alemanha, as duas maiores economias da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>, demonstraram muito<br />

bem que existem diferenças fundamentais entre elas, durante os primeiros meses <strong>do</strong> ano em que<br />

se buscava a solução para a <strong>crise</strong> grega. Enquanto a França pendia mais para o la<strong>do</strong> da Grécia,<br />

pedin<strong>do</strong> que a UE a socorresse, a Alemanha não pendia para la<strong>do</strong> nenhum, a não ser o seu<br />

próprio.<br />

Assim, tropeçamos no peca<strong>do</strong> original da moeda comum europeia, que foi impor uma<br />

mesma moeda a países que tu<strong>do</strong> separa, países que não têm a mesma população, nem o<br />

mesmo parque industrial, não têm os mesmos talentos, as mesmas regras em matéria de<br />

salário, compatibilidade, recursos, energia para o trabalho (idem, ibidem) e (...) foi<br />

estúpi<strong>do</strong> impor uma mesma moeda a 16 países que são separa<strong>do</strong>s por tu<strong>do</strong>: força,<br />

hábitos, leis, necessidades. Como impor uma mesma moeda a um gigante racional e<br />

laborioso como a Alemanha e a um pigmeu irracional e frívolo como a Grécia?<br />

(LAPOUGE, 2010e).<br />

A ideia principal contida nesse argumento é que economias tão diversas não podem ser<br />

submetidas <strong>à</strong>s mesmas regras, pois não funcionam da mesma maneira e, portanto, não conseguem<br />

atingir os mesmos objetivos. Para corrigir a queda da competitividade entre economias diversas e<br />

colocar novamente um país no jogo <strong>do</strong> comércio mundial, é preciso praticar a depreciação<br />

cambial. O problema é que entre os países da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>, a depreciação cambial é<br />

68


impraticável, exatamente por utilizarem a mesma moeda. Para exemplificar, Krugman<br />

(2010a:B3) utiliza-se <strong>do</strong> caso da Espanha:<br />

O problema econômico central <strong>do</strong> país é que custos e preços se desalinharam <strong>do</strong>s<br />

vigentes no resto da <strong>Euro</strong>pa. Se a Espanha ainda tivesse sua antiga moeda, a peseta, ela<br />

poderia remediar o problema com uma rápida desvalorização – por exemplo, baixan<strong>do</strong><br />

em 20% o valor da peseta ante outras moedas europeias.<br />

Em casos deste tipo, não restam muitas saídas para o governo. A competitividade só será<br />

retomada através da deflação, um processo não só lento, como também desgastante, atingi<strong>do</strong> pelo<br />

aumento de impostos e cortes nos gastos; medidas já praticadas nos PIIGS. Krugman conclui que<br />

o principal problema da <strong>crise</strong> <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> está na inflexibilidade imposta <strong>à</strong> moeda e não nos enormes<br />

déficits <strong>do</strong>s países. Vai ainda mais longe ao dizer que a a<strong>do</strong>ção da moeda única foi precipitada,<br />

pois a <strong>Euro</strong>pa não possuía, e ainda não possui, as características fundamentais para este<br />

importante passo (idem, ibidem; PASTORE, 2010).<br />

Como então corrigir o problema que acompanha a zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> desde o seu nascimento?<br />

Especialistas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong> foram surpreendi<strong>do</strong>s com o sucesso obti<strong>do</strong> pelo <strong>Euro</strong> em seus<br />

primeiros anos; a maioria deles esperava que sem a unificação política, o <strong>Euro</strong> não chegaria a<br />

lugar algum (NORRIS, 2010). Até antes da <strong>crise</strong>, o que aconteceu foi o contrário; mas agora<br />

parece que sem o aprofundamento da integração, que leve <strong>à</strong> unificação política, o <strong>Euro</strong> não terá<br />

um futuro promissor.<br />

Durante o ano, muito foi dito sobre o que deveria ser feito para salvar a União <strong>Euro</strong>peia e<br />

sua moeda. Sugestões como: expulsar os maiores deve<strong>do</strong>res da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>, retornar <strong>à</strong>s moedas<br />

nacionais, aplicar punições aos governos irresponsáveis, recorrer <strong>à</strong> ajuda externa <strong>do</strong> FMI,<br />

aprofundar a integração, criar um fun<strong>do</strong> para a <strong>Euro</strong>pa (FME) e ampliar as atribuições <strong>do</strong> BCE.<br />

A União Monetária <strong>Euro</strong>peia funcionou bem durante praticamente dez anos. A <strong>crise</strong><br />

mundial chegou ao continente e revelou alguns problemas graves; um deles referiu-se <strong>à</strong> união<br />

monetária. Por incluírem a mesma união monetária, não deveria existir desequilíbrio entre as<br />

economias fortes e as menores, que colocam em risco a resistência da união. Se um <strong>do</strong>s países<br />

está em contração, to<strong>do</strong>s os outros devem seguir o mesmo caminho, para que nenhum deles seja<br />

prejudica<strong>do</strong>. Agora, se dentro da União Monetária <strong>Euro</strong>peia existem países em expansão, ao<br />

mesmo tempo em que outros estão em contração, é evidente que haverá prejuízos, pois o bloco<br />

ainda não conta com a plena mobilidade de mão de obra, que resolveria o problema, e muito<br />

69


menos com uma entidade supranacional que consiga controlar os gastos públicos de toda a região<br />

(PASTORE, 2010). É, portanto, o desequilíbrio entre as economias, provoca<strong>do</strong> marjoritariamente<br />

pela Alemanha, que precisa ser resolvi<strong>do</strong> em primeiro lugar.<br />

Em seguida, diferente <strong>do</strong> que pensam alguns, para a zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> recuperar-se é preciso<br />

avançar nas negociações em direção <strong>à</strong> união política, e não desfazer o projeto de integração. Só<br />

uma união política permite trabalhar com um orçamento centraliza<strong>do</strong>, <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de um mecanismo<br />

automático de equilíbrio; é o caso <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Por lá, as divergências financeiras entre os<br />

países são amenizadas através de redistribuições <strong>do</strong> orçamento federal, sem que se seja preciso<br />

reuniões intermináveis que decidam o futuro de um país (GRAUWE, 2010). A união política,<br />

portanto, conferiria <strong>à</strong> zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> a solidariedade que lhe falta e resolveria grande parte de seus<br />

problemas atuais. Mas é preciso lembrar que este não é um tema fácil para negociações e uma<br />

conclusão neste senti<strong>do</strong> levará tempo.<br />

Ainda assim, aprofundar o processo de integração é, de fato, muito importante. A demora<br />

pressenciada durante os primeiros meses deste ano para chegar a um consenso sobre a ajuda <strong>à</strong><br />

Grécia, não pode mais se repetir.<br />

Muito tempo foi perdi<strong>do</strong> e muitos danos cometi<strong>do</strong>s antes de governos da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong><br />

criarem seu fun<strong>do</strong> de estabilização. Uma união política teria garanti<strong>do</strong> que as políticas<br />

fiscais fossem mais coordenadas, impedin<strong>do</strong> as grandes diferenças nos resulta<strong>do</strong>s fiscais.<br />

Sem ela, a união monetária não tem futuro. Ela caminhará de uma <strong>crise</strong> para outra (idem,<br />

ibidem).<br />

Outro ponto que precisa passar por modificações é a questão das regras para adesão de<br />

novos países <strong>à</strong> zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>. As regras atuais precisam ser atualizadas de mo<strong>do</strong> a conferir uma<br />

maior harmonização entre os países <strong>do</strong> bloco, e devem contar com mais rigor, para garantir que<br />

fraudes como a da Grécia não ocorram mais (CHADE, 2010z).<br />

Seguin<strong>do</strong> com as reformas, o Pacto de Estabilidade e Crescimento que impõe os limites<br />

de 3% <strong>do</strong> PIB para o déficit orçamentário, e de 60% <strong>do</strong> PIB para a dívida pública, precisa ser<br />

complementa<strong>do</strong> porque não prevê nenhum tipo de punição aos países que ultrapassam tais<br />

limites. Além disso, as limitações institucionais <strong>do</strong> BCE devem ser eliminadas para que ele possa<br />

finalmente controlar as instituições financeiras europeias, dan<strong>do</strong> estabilidade <strong>à</strong> moeda únida<br />

(MING, 2010d).<br />

70


As medidas acima citadas, se colocadas em prática, dariam <strong>à</strong> zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> novas<br />

características importantes e provavelmente a conduziriam <strong>à</strong> tranquilidade. Mesmo assim, em<br />

alguns momentos, foi levantada a possibilidade <strong>do</strong>s países saírem da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong>. Países com<br />

dificuldades deixariam o bloco e retornariam <strong>à</strong>s suas moedas nacionais visan<strong>do</strong> a praticar<br />

desvalorizações cambiais, que por sua vez, devolveriam ao país a competitividade perdida e a<br />

estabilização das contas públicas. Além <strong>do</strong> que, tiraria o <strong>Euro</strong> <strong>do</strong> foco <strong>do</strong>s especula<strong>do</strong>res. Mas é<br />

importante destacar que a hipótese de sair da zona <strong>do</strong> <strong>Euro</strong> não é a melhor opção. O país que<br />

fizesse esta escolha continuaria com suas dívidas em <strong>Euro</strong> e teria ainda mais dificuldade para<br />

pagá-las, pois sua moeda estaria desvalorizada em relação ao <strong>Euro</strong>. Além <strong>do</strong> que, não contaria<br />

mais com a ajuda <strong>do</strong> bloco, como ocorreu com a Grécia e a Irlanda, e sua única saída, portanto,<br />

seria recorrer exclusivamente ao FMI e aplicar as pesadas medidas por ele impostas.<br />

Por fim, tão necessária quanto as outras medidas, é a simplicação da estrutura<br />

organizacional da UE. Hoje, são três presidentes: o rotativo, que assume a presidência por seis<br />

meses; o permanente, Herman Van Rompuy; e José Manuel Barroso, presidente da Comissão<br />

<strong>Euro</strong>peia. Além deles, são 27 ministros de relações exteriores e mais a chefe da diplomacia,<br />

baronesa Chaterine Asthon de Upholland. A estrutura pouco prática, facilita a competição entre<br />

os interesses nacionais e não minimiza as diferenças políticas em questões de alta importância<br />

para o bloco. Ironizan<strong>do</strong> o projeto de integração europeia, há 30 anos, o norte-americano Henry<br />

Kissinger perguntou para qual telefone deveria ligar se quisesse falar com a <strong>Euro</strong>pa; ainda hoje<br />

este comentário é váli<strong>do</strong> (CHADE, 2010aa; CHADE, 2010ab).<br />

Trata-se de um momento de definição de to<strong>do</strong> um projeto, que completou 60 anos e<br />

parece ainda ter esperanças de manter-se vivo no velho continente.<br />

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NETTO, Andrei. UE terá € 750 bi para combater <strong>crise</strong>s. O Esta<strong>do</strong> de S. Paulo, São Paulo,<br />

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NETTO, Andrei. Crise grega acende alerta para déficits. O Esta<strong>do</strong> de S. Paulo, São Paulo,<br />

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NETTO, Andrei. PIB fraco traz receio de nova <strong>crise</strong> na <strong>Euro</strong>pa. O Esta<strong>do</strong> de S. Paulo,<br />

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NETTO, Andrei. Franceses vão <strong>à</strong>s ruas contra reformas. O Esta<strong>do</strong> de S. Paulo, São Paulo,<br />

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NETTO, Andrei. Contra aposenta<strong>do</strong>ria, franceses voltam <strong>à</strong>s ruas. O Esta<strong>do</strong> de S. Paulo,<br />

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NETTO, Andrei. Sena<strong>do</strong> francês ignora protestos e eleva idade para aposenta<strong>do</strong>ria. O<br />

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O ESTADO DE S. PAULO. Grécia anuncia pacote de privatizações. São Paulo, 3 jun.<br />

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O ESTADO DE S. PAULO. Hungria admite <strong>crise</strong> grave e assusta merca<strong>do</strong>s. O Esta<strong>do</strong> de<br />

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81


APÊNDICES<br />

As tabelas e gráficos abaixo são complementares ao terceiro capítulo.<br />

82

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