Revista Estratégica vol.11 - Faap
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VOLUME<br />
ISSN 1519-4426<br />
11<br />
<strong>Estratégica</strong><br />
A profissionalização do gerenciamento<br />
de projetos no Brasil: um estudo<br />
comparativo dos resultados dos<br />
benchmarkings de 2004 e 2010<br />
Armando Terribili Filho<br />
Armadilhas regulatórias presentes no setor<br />
elétrico brasileiro – análise crítica<br />
Ana Lúcia Rodrigues da Silva e<br />
Fernando Amaral de Almeida Prado Jr.<br />
O uso e a proteção de sinais não<br />
tradicionais no processo de identificação<br />
e diferenciação de uma marca<br />
José Carlos de Lima Júnior, Marcos Machado e<br />
Geraldo Luciano Toledo<br />
<strong>Revista</strong> da Faculdade de Administração<br />
Número 1<br />
volume 11 • número 1 • junho 2011<br />
Top management team international dominant<br />
logic: a new linkage in the international<br />
diversification – performance link<br />
Douglas E. Thomas<br />
O Balanced Scorecard como instrumento<br />
da gestão do desempenho nas<br />
organizações do terceiro setor<br />
Igor Vovchenco Cabral<br />
Utilização de redes sociais na contratação<br />
de profissionais de nível gerencial<br />
Alexandre Augusto Tayer Gonçalves e<br />
Deisi Domenech
CONSELHO DE CURADORES<br />
Presidente<br />
Sra. Celita Procopio de Carvalho<br />
Integrantes<br />
Dr. Benjamin Augusto Baracchini Bueno<br />
Dr. Octávio Plínio Botelho do Amaral<br />
Dr. José Antonio de Seixas Pereira Neto<br />
Sra. Maria Christina Farah Nassif Fioravanti<br />
Embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima<br />
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO<br />
Diretor<br />
Prof. Dr. Tharcisio Bierrenbach de Souza Santos<br />
DIRETORIA EXECUTIVA<br />
Diretor Presidente<br />
Dr. Antonio Bias Bueno Guillon<br />
Diretor Tesoureiro<br />
Dr. Américo Fialdini Jr.<br />
Diretor Cultural<br />
Prof. Victor Mirshawka<br />
ASSESSORES DA DIRETORIA<br />
Área Administrativa e Financeira<br />
Dr. Sérgio Roberto de Figueiredo Santos e Marchese<br />
Área Acadêmica<br />
Prof. Raul Edison Martinez<br />
ESTRATÉGICA<br />
<strong>Revista</strong> da Faculdade de Administração FAAP e do FAAP-MBA<br />
Editor<br />
Tharcisio Bierrenbach de Souza Santos<br />
Editores Associados<br />
Armando Terribili Filho e Celi Langhi<br />
Conselho Editorial<br />
Alexandre Massote, Armando Terribili Filho, Celi<br />
Langhi, Emerson Piovezan, Jorge Marinho de<br />
Araújo, Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva,<br />
Marco Aurélio Xavier Soares de Mello, Marina<br />
Lindenberg Lima, Tharcisio Bierrenbach de Souza<br />
Santos e Walter Gomes da Cunha Filho.<br />
Arte / Editoração Eletrônica<br />
Agência FAAP<br />
Periocidade<br />
Semestral<br />
Publicação<br />
As correspondências, inclusive originais de<br />
artigos, devem ser endereçadas à<br />
<strong>Revista</strong> <strong>Estratégica</strong><br />
Rua Alagoas, 903 – Prédio 4 – 2º andar<br />
Higienópolis – São Paulo/SP<br />
CEP: 01242-902<br />
ou pelo e-mail: estrategica@faap.br<br />
www.faap.br
volume 11 / número 1/ junho de 2011<br />
ISSN 1519-4426<br />
Rua Alagoas, 903 - Higienópolis<br />
São Paulo, SP - Brasil
<strong>Estratégica</strong>/ Faculdade de Administração da Fundação Armando Alvares Penteado.<br />
Vol. 11, n. 1 (2011) - São Paulo: FA-FAAP, 2011<br />
Semestral<br />
1. Administração – Periódicos. I. Fundação Armando Alvares Penteado. Faculdade de Administração.<br />
ISSN 1519-4426
volume 11 / número 1/ junho de 2011<br />
Sumário<br />
Editorial 7<br />
A profissionalização do gerenciamento de projetos no Brasil: um estudo<br />
comparativo dos resultados dos benchmarkings de 2004 e 2010<br />
Armando Terribili Filho<br />
Armadilhas regulatórias presentes no setor elétrico brasileiro –<br />
análise crítica<br />
Ana Lúcia Rodrigues da Silva e Fernando Amaral de Almeida Prado Jr.<br />
O uso e a proteção de sinais não tradicionais no processo de<br />
identificação e diferenciação de uma marca<br />
José Carlos de Lima Júnior, Marcos Machado e Geraldo Luciano Toledo<br />
Top management team international dominant logic: a new linkage in<br />
the international diversification – performance link<br />
Douglas E. Thomas<br />
O Balanced Scorecard como instrumento da gestão do desempenho nas<br />
organizações do terceiro setor<br />
Igor Vovchenco Cabral<br />
Utilização de redes sociais na contratação de profissionais de nível gerencial<br />
Alexandre Augusto Tayer Gonçalves e Deisi Domenech<br />
Orientações para os autores e para a elaboração de artigos científicos 99<br />
9<br />
21<br />
37<br />
51<br />
65<br />
89
6<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
Editorial<br />
Nesta edição apresentamos seis artigos que abordam temas relevantes da administração,<br />
com destaque para: gerenciamento de projetos, marketing, ferramentas<br />
de mercado, uso de redes sociais dentre outros.<br />
No primeiro artigo, Armando Terribili Filho mostra como a área de gerenciamento<br />
de projetos está cada vez mais profissionalizada no Brasil e faz um comparativo<br />
entre os resultados dos benchmarkings (2004 e 2010) que são realizados anualmente<br />
pelos chapters do PMI Brasil – Project Management Institute. Ao final, o autor<br />
deixa um alerta sobre a retração nos investimentos efetuados pelas organizações<br />
em treinamento e qualificação profissional.<br />
O segundo artigo, intitulado “Armadilhas regulatórias presentes no setor elétrico<br />
brasileiro – análise crítica”, é de autoria de Ana Lúcia Rodrigues da Silva e Fernando<br />
Amaral de Almeida Prado Jr. Este artigo procura à luz de exemplos do setor<br />
elétrico brasileiro, registrar a ocorrência de falhas ou lacunas na regulação provocadas<br />
por outras regulamentações produzindo efeitos indesejados e não previstos<br />
aos agentes e consumidores finais de energia.<br />
O terceiro artigo intitula-se “O uso e a proteção de sinais não tradicionais no<br />
processo de identificação e diferenciação de uma marca” e é de autoria de José<br />
Carlos de Lima Júnior, Marcos Machado e Geraldo Luciano Toledo. Os autores<br />
apresentam as diferenciações entre os sinais tradicionais e os sinais não tradicionais<br />
no processo de identificação e diferenciação de uma marca, destacando as formas<br />
de uso e proteção que esses novos elementos recebem em diversos países.<br />
O quarto artigo de Douglas E. Thomas, em língua inglesa, destaca a mudança<br />
acerca da importância do CEO (Chief Executive Officer) nas organizações. O ponto<br />
focal da nova proposta reside no TMT (Top Management Team) como locus importante<br />
de tomada de decisão, tornando esse grupo o foco central para a gestão.<br />
Os últimos dois artigos são subprodutos de nossos ex-alunos. Igor Vovchenco<br />
Cabral apresenta em seu artigo a aplicabilidade do Balanced Scorecard (BSC) nas instituições<br />
do Terceiro Setor, que foi tema de sua monografia do MBA, com o título “O<br />
Balanced Scorecard como instrumento da gestão do desempenho nas organizações<br />
do terceiro setor”. Finalmente, o sexto artigo, subproduto de um TCC da Faculdade de<br />
Administração aborda a utilização de redes sociais na contratação de profissionais de<br />
nível gerencial. Foram realizadas 19 entrevistas com profissionais de Recursos Humanos,<br />
headhunters, advogados trabalhistas e psicólogos organizacionais. Os autores do<br />
artigo são Alexandre Augusto Tayer Gonçalves e Deisi Domenech.<br />
Na próxima edição teremos a participação de um Conselho Editorial ampliado,<br />
com renomados e titulados professores, como: Angelo Palmisano (FMU - Facul-<br />
7
dades Metropolitanas Unidas), João Carlos Néto (SENAC-SP), Marcelo Lampkowski<br />
(Instituição Toledo de Ensino), Marcelo Rodrigues dos Anjos (Fundação da<br />
Universidade Federal do Amazonas), Noêmia Lazzareschi (Pontifícia Universidade<br />
Católica de São Paulo - Faculdade de Ciências Sociais, Depto de Sociologia), Raquel<br />
da Silva Pereira (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) e Sérgio Bairon<br />
(Universidade de São Paulo - Escola de Comunicações e Artes).<br />
8<br />
Boa leitura!<br />
Prof. Dr. Tharcisio Bierrenbach de Souza Santos<br />
Diretor da Faculdade de Administração da FAAP<br />
Editor da <strong>Revista</strong> <strong>Estratégica</strong><br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
A profissionalização do gerenciamento<br />
de projetos no Brasil: um estudo<br />
comparativo dos resultados dos<br />
benchmarkings de 2004 e 2010<br />
Resumo: Este artigo apresenta a situação<br />
atual do gerenciamento de projetos<br />
no país, tendo por base o benchmarking<br />
conduzido em 2010 pelos 13 chapters<br />
brasileiros do PMI – Project Management<br />
Institute, que teve a participação de 460<br />
organizações públicas e privadas. Resultados<br />
deste benchmarking comparados<br />
com o de 2004 (73 organizações) e observações<br />
práticas de mercado (anúncios<br />
classificados de empregos, crescimento<br />
nos cursos de pós-graduação e de extensão;<br />
valorização das certificações profissionais<br />
e lançamento de livros, revistas e<br />
sites especializados) evidenciam o crescimento<br />
e a profissionalização da área<br />
no Brasil. Do Benchmarking 2010, há um<br />
alerta sobre a retração nos investimentos<br />
efetuados pelas organizações em treinamento<br />
e qualificação profissional.<br />
Palavras-chave: Gerenciamento de Projetos.<br />
PMI. Benchmarking em Gerenciamento<br />
de Projetos. Escritório de Projetos.<br />
PMO. Certificação PMP.<br />
Armando Terribili Filho, PMP *<br />
Abstract: This article discusses the current<br />
situation in project management in<br />
Brazil, based on benchmarking conducted<br />
in 2010 by PMI (Project Management<br />
Institute) Brazilian chapters (13), in which<br />
460 public and private organizations participated.<br />
The results of this benchmarking<br />
compared with the benchmarking<br />
conducted in 2004 (73 organizations)<br />
and observations from market practices<br />
(classified ads for jobs, growth in postgraduate<br />
and extension courses, appreciation<br />
of professional certifications, books<br />
release, new magazines and specialized<br />
websites) demonstrate the growth and<br />
professionalism in project management<br />
area in Brazil. However, the Benchmarking<br />
comparison highlights the downturn<br />
in investments made by organizations in<br />
training and professional qualification.<br />
Keywords: Project Management. PMI.<br />
Benchmarking in Project Management.<br />
Project Management Office. PMO. PMP<br />
certification.<br />
* Doutor em Educação pela UNESP e mestre em Administração de Empresas pela FECAP. Professor da Fac. de Administração,<br />
da Fac. de Computação e Informática, do MBA e da Pós-graduação da FAAP. Professor convidado da<br />
Pós-graduação da Universidade São Judas Tadeu e no SENAC. Detentor da certificação PMP (Project Management<br />
Professional) em gerenciamento de projetos. Autor dos livros “Gerenciamento de Projetos em 7 passos” e “Indicadores<br />
de Gerenciamento de Projetos”. E-mail: aterribili@faap.br.<br />
A profissionalização do gerenciamento de projetos no Brasil: um estudo comparativo dos resultados..., Armando Terribili Filho, p. 9-20<br />
9
Introdução<br />
O conceito de projetos remonta à antiguidade: a construção das pirâmides do<br />
Egito há mais de 4.500 anos, a Muralha da China há mais de 2.200 anos, o Coliseu<br />
de Roma há quase 2.000 anos, dentre outras obras que ainda podem ser admiradas<br />
em pleno século XXI são exemplos vivos de projetos bem sucedidos. Na Idade<br />
Média já se podia pensar na construção de grandes igrejas e nos projetos de navegação<br />
de Portugal e Espanha. O nível de profissionalização da gestão de projetos<br />
e aplicação de metodologias às épocas mencionadas são desconhecidas, porém,<br />
há uma certeza: o binômio “planejamento” e “execução/controle” era algo indissociável<br />
do dia a dia dos idealizadores e executores.<br />
Na atualidade, os projetos deixam de ser quase que exclusivamente das áreas de<br />
Engenharia e Arquitetura proliferando-se em praticamente todas as áreas do conhecimento<br />
humano: realização de uma feira internacional, desenvolvimento de um novo<br />
produto, desenvolvimento de softwares (votação eletrônica, por exemplo), implantação<br />
de um software aplicativo (por exemplo, SAP, Totvs, Peoplesoft e outros), realização<br />
de missão tripulada a outros planetas, realização de uma Copa do Mundo de Futebol<br />
(por exemplo, Brasil 2014), criação de um novo curso etc.<br />
Se o conceito de projetos é tão amplo e tão antigo, a pergunta que se faz é por que<br />
só recentemente é que as organizações começaram a trabalhar na modalidade de projetos?<br />
Os indicativos que evidenciam isto são: (i) anúncios classificados que requisitam<br />
profissionais para a área de gerenciamento de projetos; (ii) intenso crescimento dos<br />
cursos de pós-graduação e de extensão na referida área; (iii) aumento no lançamento<br />
de livros sobre gerenciamento de projetos, de revistas e sites especializados; e (iv) valorização<br />
das certificações profissionais (PMP e CAPM, por exemplo).<br />
As organizações vêm constatando que atuar na modalidade de “projeto” é extremamente<br />
positivo e pragmático, pois todo projeto tem um ou vários entregáveis que são<br />
únicos. Além disto, um projeto é um empreendimento temporário (finito em termos<br />
de prazos), que envolve recursos (materiais, logísticos, humanos, entre outros) e, por<br />
isto, exige orçamento prévio e gestão financeira amiúde dos investimentos realizados.<br />
Assim, trabalhar na modalidade de projeto representa que em um determinado espaço<br />
de tempo, um produto ou serviço único será gerado dentro de um orçamento<br />
previamente aprovado. Isto é mais profissional e vantajoso que aquilo que se fazia anteriormente,<br />
com execução de planos infindáveis (por vezes, utilizando o método de<br />
tentativa-erro), com desembolsos que cresciam a cada nova etapa e com resultados<br />
discutíveis na análise de custos-benefícios (TERRIBILI FILHO, 2011a).<br />
Quanto ao gerenciamento de projetos, só em 1969 foi criado na Pensilvânia, Estados<br />
Unidos, o Project Management Institute (PMI), com o objetivo de profissionalizar a área<br />
de gerenciamento de projetos. O PMI (2008, p. 435) por meio de sua mais importante<br />
publicação, o PMBOK (Project Management Body of Knowledge), define o gerenciamento<br />
de projeto como sendo a aplicação de conhecimentos, habilidades, ferramentas e<br />
técnicas para atingir os requerimentos de um projeto.<br />
10<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
1 O PMI – Project Management Institute<br />
O PMI tem crescido rapidamente em nível mundial, tendo hoje 250 chapters<br />
(sendo que o termo “chapter” vem sendo traduzido por escritórios, seções ou capítulos)<br />
localizados em mais de 70 países, com afiliados e comunidades virtuais em<br />
185 países. Os chapters têm por objetivo estimular e incentivar o desenvolvimento<br />
profissional da área de gerenciamento de projetos, organizando e/ou divulgando<br />
palestras, seminários, artigos, cursos e lançamentos de livros, além de eventos sociais<br />
para seus associados e convidados. A missão dos chapters é servir ao interesse<br />
profissional dos associados e contribuir com o desenvolvimento econômico e social,<br />
promovendo a ética e a responsabilidade em Gerenciamento de Projetos.<br />
O PMI tem publicações em nível mundial direcionadas para a comunidade de<br />
gerenciamento de projetos: o PMI Today e PM Network (ambas mensais) e o Project<br />
Management Journal, com periodicidade trimestral.<br />
O PMBOK é o conjunto de melhores práticas (best practices) em gerenciamento<br />
de projetos, estando em sua quarta edição, datada de 2008, evidenciando que se trata<br />
de um instrumento vivo e periodicamente atualizado por especialistas e grupos<br />
de discussão da área. As nove disciplinas contidas no PMBOK são: gerenciamento do<br />
escopo, comunicação, recursos humanos, riscos, tempo, custos, qualidade, aquisições<br />
e gerenciamento da integração. O PMBOK pode ser considerado um padrão “de<br />
fato” na área de gerenciamento de projetos. Outro item relevante para os praticantes<br />
em gerenciamento de projetos é o Código de Ética e de Conduta Profissional do PMI.<br />
Este documento não faz parte do PMBOK, porém, trata-se de um documento específico<br />
que norteia, de forma universal, as obrigações básicas de um gerente de projetos<br />
quanto à responsabilidade, justiça, respeito e honestidade (TERRIBILI FILHO,<br />
2011c). É condição sine qua non a todo profissional filiado ao PMI ou certificado por<br />
este instituto sua aceitação e adesão ao referido código de conduta.<br />
O conceito de projetos e sua aplicação no dia a dia das organizações permitiram<br />
o desenvolvimento de novas metodologias, aplicação de técnicas e ferramentas,<br />
criação de programas para capacitação e certificação de profissionais e a alteração<br />
na estrutura das organizações como: criação de escritório de projetos e alteração<br />
da convencional estrutura hierárquica (departamentalizada) para estrutura projetizada.<br />
Mudanças culturais e processuais também ocorreram nas organizações,<br />
como, por exemplo, implantação de gestão de riscos e gestão da comunicação.<br />
Neste contexto, os projetos devem estar consistentes com o contexto estratégico<br />
da empresa, ou seja, o conjunto de projetos pode ser considerado como a tática<br />
organizacional para atingimento dos objetivos estratégicos definidos.<br />
2 O PMI no Brasil<br />
Dos 250 chapters mundiais, 13 estão localizados no Brasil. O primeiro chapter brasileiro<br />
foi criado na cidade de São Paulo em 1998. No ano seguinte, surgem os chapters<br />
A profissionalização do gerenciamento de projetos no Brasil: um estudo comparativo dos resultados..., Armando Terribili Filho, p. 9-20<br />
11
do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Segue-se de forma cronológica: Paraná (2000), Brasília<br />
e Rio Grande do Sul (em 2001), Bahia, Joinville, Manaus e Recife (em 2003). Em 2005<br />
são criados outros três chapters no país: Espírito Santo, Fortaleza e Goiânia. No início de<br />
2005, surge em Curitiba uma publicação bimestral especializada na área de gerenciamento<br />
de projetos: a <strong>Revista</strong> Mundo PM ou <strong>Revista</strong> Mundo Project Management, que<br />
apresenta artigos e matérias de autoria de profissionais e docentes do país e do exterior.<br />
A representatividade dos 13 chapters do PMI no Brasil pode ser considerada marcante<br />
se comparada com a América Latina que possui outros 20 chapters. Excluindo o México<br />
que conta com cinco chapters e a Argentina que tem dois, os demais países têm um<br />
único chapter, são eles: Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guatemala, Honduras,<br />
Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela (PMI, 2011a).<br />
Desde 2003 é realizado anualmente no país um benchmarking na área de gerenciamento<br />
de projetos. Esta iniciativa nasceu de forma local no chapter Rio de Janeiro e<br />
a última edição, realizada em 2010, teve a participação dos 13 chapters do PMI. Nestas<br />
oito edições pôde-se compreender a situação da área de gerenciamento de projetos<br />
no país e sua evolução, pois os resultados dos benchmarkings mostram as práticas mais<br />
utilizadas pelas organizações, as metodologias aplicadas, as principais ferramentas utilizadas,<br />
as áreas e as causas dos problemas, o nível de treinamento, a importância dada<br />
às certificações profissionais, as habilidades requeridas dos profissionais para gerenciar<br />
projetos e as tendências da área. Na edição de 2010 participaram 460 organizações que<br />
podem ser agrupadas em seis setores distintos: Consultoria, Engenharia & EPC (Engineering,<br />
Procurement and Construction), Governo (administração direta e indireta), Indústria,<br />
Serviços e Tecnologia da Informação (PMI, 2011b).<br />
3 O Benchmarking em gerenciamento de projetos no Brasil<br />
Benchmarking é um instrumento para comparar e melhorar o desempenho de<br />
produtos, processos e sistemas das organizações tendo por base as melhores práticas,<br />
sejam internas à organização ou de mercado, que são chamadas de best practices. A<br />
primeira utilização do benchmarking ocorreu em 1979 nos Estados Unidos pela Xerox<br />
Corporation, em momento de intensa competitividade internacional no segmento de<br />
fotocopiadoras. Atualmente muitos autores abordam o tema benchmarking, com destaque<br />
para Mattos e Guimarães (2005) que apresentam quatro tipos de benchmarking:<br />
(i) interno, que é a identificação de melhores práticas na própria organização em áreas,<br />
unidades, filiais ou subsidiárias distintas; (ii) o benchmarking competitivo, que é a comparação<br />
com os concorrentes, quando se procura identificar a causa do melhor desempenho;<br />
(iii) o benchmarking de processo que é a comparação de processos similares<br />
utilizados em empresas não concorrentes; e, (iv) o benchmarking genérico que trata da<br />
comparação do uso de uma determinada tecnologia (TERRIBILI FILHO, 2011d).<br />
O benchmarking interno é o mais fácil de ser realizado, pois não há obstáculos impeditivos<br />
para obtenção da informação, que é relativamente fácil de ser coletada; no<br />
entanto, há uma limitação no universo de conhecimento, pois fica restrito ao ambiente<br />
12<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
interno da organização. Por sua vez, o benchmarking competitivo é de difícil realização,<br />
sobretudo quando se pretende identificar as causas-raiz que geram o melhor desempenho<br />
do concorrente. Desta forma, os benchmarkings mais viáveis de serem realizados<br />
são os de processos e de tecnologia – exemplo disto foi o benchmarking realizado em<br />
2010 pelos chapters brasileiros acerca do gerenciamento de projetos no país.<br />
Do Benchmarking em Gerenciamento de Projetos no Brasil (PMI, 2011b) participaram<br />
460 organizações nacionais e multinacionais, de diferentes portes e segmentos de<br />
atuação. Em uma primeira avaliação, pode-se analisar as três dimensões que compõem<br />
a tradicional tríplice restrição: custo, prazo e escopo (afetando diretamente a qualidade).<br />
Da amostra investigada, 78% declarou ter problema com o cumprimento de prazos<br />
em seus projetos, 61% com problemas de custos e 44% com problemas de qualidade,<br />
ou seja, grosso modo pode-se dizer que em cada 5 organizações do país, 4 têm problemas<br />
de cumprimento de prazos, 3 têm problemas de custos e 2 apresentam problemas<br />
de qualidade em seus projetos.<br />
Outro ponto importante observado é a apresentação das causas dos problemas<br />
nos projetos. No resultado do Benchmarking 2010 foram apresentadas 18 causas<br />
de problemas com o respectivo percentual de organizações que citaram cada<br />
uma delas. As quatro causas que tiveram índice superior a 30% foram: não cumprimento<br />
dos prazos (60,2%), mudanças de escopo constantes (43,0%), problemas<br />
de comunicação (40,1%) e escopo não definido adequadamente, com 39,5%. Estes<br />
resultados demonstram a importância em se gerenciar efetivamente as áreas<br />
de comunicação e escopo de um projeto, evidenciando que os problemas atuais<br />
encontrados nos projetos são efetivamente gerenciais, passando ao largo por problemas<br />
que poderiam ser considerados de natureza técnica.<br />
Nos resultados do Benchmarking realizado em 2004, que contou com a participação<br />
de 73 organizações, utilizando-se o mesmo critério de seleção das causas dos problemas<br />
(itens com percentual acima de 60%), obteve-se: não cumprimento dos prazos<br />
estabelecidos (66%), mudanças de escopo constantes (64%) e problemas de comunicação<br />
(61%), ou seja, as causas dos problemas do Benchmarking 2004 (realizado seis<br />
anos antes do atual) permanecem praticamente inalterados, embora com significativa<br />
redução nos percentuais apresentados (PMI, 2004).<br />
Uma causa de problema relevante mencionada no Benchmarking 2010 (PMI,<br />
2011b) e que foi mencionada por 15,6% das organizações participantes foi “estimativas<br />
incorretas e sem fundamento”. Uma provável causa (e que exige reflexão!)<br />
decorre do fato que muitas vezes as estimativas são elaboradas apressadamente,<br />
sem aplicação de uma metodologia e pesquisa adequadas e ignorando-se as lessons<br />
learned (lições aprendidas) de outros projetos anteriores similares. Ademais,<br />
as estimativas são, por vezes, realizadas por profissionais pouco especializados ou<br />
alocados em outros projetos, que no momento de elaboração das estimativas atribuem<br />
prioridade aos projetos em curso e não à elaboração de estimativas. Pode<br />
ocorrer que a intenção em “vender” um novo projeto (internamente à organização<br />
ou para um cliente, no caso de empresa de consultoria) faz com que haja um in-<br />
A profissionalização do gerenciamento de projetos no Brasil: um estudo comparativo dos resultados..., Armando Terribili Filho, p. 9-20<br />
13
tencional subdimensionamento de prazos e custos, sem uma consistente análise<br />
de riscos e negligenciando necessárias contingências de prazos e de custos. Com<br />
isto, o otimismo da venda (ou superficialidade de algumas questões importantes)<br />
pode se traduzir na entrega do projeto com atrasos e/ou aumento dos custos.<br />
4 O Escritório de Projetos ou PMO (Project Management Office)<br />
Os professores da Universidade de Udine na Itália, Tonchia e Nonino (2007) definem<br />
o PMO - Project Management Office ou Escritório de Projetos como sendo a unidade organizacional<br />
que tem como objetivo a direção centralizada e coordenada dos projetos<br />
de uma organização. Ademais, mencionam a autoridade formal que o PMO tem para<br />
definir prioridade dos projetos, alocar recursos tecnológicos ou humanos (incluindo a<br />
definição do gerente e equipe do projeto), analisar os riscos de cada projeto para atingir<br />
a performance e os objetivos empresariais globais. Adicionam também, a captura<br />
e divulgação das lessons learned por toda organização e a assistência aos gerentes de<br />
projetos nas fases de início (start-up) e finalização de cada projeto.<br />
O PMO é uma estrutura específica e profissional para a área de gerenciamento de<br />
projetos, que tem diferentes níveis de autoridade e responsabilidade nas organizações.<br />
Em algumas, a responsabilidade PMO se restringe ao suporte aos Gerentes de Projeto;<br />
em outras, tem suas responsabilidades expandidas, pois fica responsável por definir<br />
metodologias, ferramentas e padrões, englobando: criação da documentação, divulgação,<br />
treinamento dos profissionais e monitoração quanto ao uso correto. Há ainda,<br />
organizações em que o PMO é responsável direto pelos entregáveis dos projetos, tendo<br />
sob sua gestão os Gerentes de Projeto e o Pool de consultores e especialistas. Este terceiro<br />
caso é aderente à definição atribuída a Tonchia e Nonino (2007).<br />
Assim, um PMO pode atuar como Centro de Suporte (apoio à execução dos projetos),<br />
Centro de Gerenciamento (responsável pela execução dos projetos) ou Centro de<br />
Excelência na organização, responsável pelo direcionamento, padronização e execução<br />
dos projetos (TERRIBILI FILHO, 2011b; VERZUH, 2000). O Quadro 1 ilustra os três principais<br />
tipos de Escritório de Projetos com suas respectivas funções e responsabilidades.<br />
14<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
PAPEL PRINCIPAL<br />
Fonte: Terribili Filho (2011b).<br />
Quadro 1 – Tipos de PMO com suas funções/responsabilidades<br />
PMO<br />
“Centro de<br />
Suporte a<br />
Projetos"<br />
Consultivo e<br />
de apoio<br />
Tipo de Escritório de Projetos<br />
“Centro de<br />
Gerenciamento<br />
de Projetos"<br />
Executor<br />
“Centro de<br />
Excelência”<br />
Knowledge<br />
Management<br />
METODOLOGIA E FERRAMENTAS<br />
Identificar e/ou desenvolver metodologias não não sim<br />
Implantar metodologias opcional opcional sim<br />
Monitorar o uso de metodologias opcional sim sim<br />
Definir padrões (ferramentas, documentação, etc.) não opcional sim<br />
Capturar e divulgar best practices opcional opcional sim<br />
POLÍTICAS E PROCEDIMENTOS<br />
Definir políticas e procedimentos não opcional sim<br />
Definir e implantar indicadores de desempenho não opcional sim<br />
Acompanhar resultados dos indicadores não sim não<br />
Auditar qualidade nos projetos não sim opcional<br />
GESTÃO DE RECURSOS<br />
Alocar/desalocar recursos aos projetos não sim opcional<br />
Planejar desenvolvimento e cursos dos<br />
profissionais<br />
não sim opcional<br />
Realizar coaching dos profissionais não sim opcional<br />
Planejar e acompanhar encarreiramento não sim opcional<br />
EXECUÇÃO DE PROJETOS APÓIA EXECUTA ACOMPANHA<br />
No Benchmarking 2010 constatou-se que 38% das organizações pesquisadas possuem<br />
um PMO, 23% têm mais de um PMO e 39% delas não têm PMO. O Benchmarking<br />
2004 apontava que 51% das organizações pesquisadas possuíam pelo menos um PMO.<br />
Se comparado com o resultado do Benchmarging 2010, houve um crescimento significativo<br />
na presença dos PMOs nas organizações, passando de 51% para 61%.<br />
Quanto às funções desempenhadas pelos PMOs, os resultados obtidos em 2010<br />
comparados aos de 2004, indicam um moderado crescimento na participação dos<br />
PMOs nas organizações como Centro de Gerenciamento e Centro de Excelência, evidenciados<br />
pelo Quadro 2.<br />
Analisando-se o respectivo quadro, contata-se que das quatro funções qualificadas<br />
como “Centro de Excelência” (itens 1, 2, 5 e 11) duas tiveram seus percentuais aumentados,<br />
uma se manteve estável e outra teve queda. As funções relativas a “Centro de<br />
Excelência” são as funções de definição e acompanhamento no uso de metodologias,<br />
A profissionalização do gerenciamento de projetos no Brasil: um estudo comparativo dos resultados..., Armando Terribili Filho, p. 9-20<br />
15
ferramentas e indicadores de desempenho de projetos, bem como, as de captura/divulgação<br />
de best practices internas à organização e de apoio à seleção e priorização de<br />
projetos. O destaque está no item “Suporte à Alta Administração” (item 5) que passou<br />
de 64% em 2004 para 88,5% em 2010.<br />
Ainda pelo Quadro 2 pode-se verificar que a função de “Centro de Suporte” (item 4),<br />
teve uma redução de 69% para 64%, comparando-se os resultados do Benchmarking<br />
dos anos de 2004 e 2010.<br />
Finalmente, das sete funções de atuação do PMO qualificadas como “Centro de Gerenciamento”<br />
(itens 3, 6, 7, 8, 9, 10 e 12), seis tiveram percentual aumentado, destacando-se<br />
os itens “Gestão de Documentos” (item 9) e “Controle dos Projetos” (item 3) com<br />
acréscimo de 9,3% e 9,1% respectivamente.<br />
16<br />
Quadro 2 – Comparativo das funções do PMO: Benchmarking 2004 e 2010<br />
Benchmarking<br />
Item Funções do PMO Tipo do PMO 2004 2010<br />
1 Definição de padrões, metodologias e ferramentas Centro de Excelência 87% 85,8%<br />
2 Apoio no Planejamento dos Projetos Centro de Excelência 82% 56,9%<br />
3 Controle dos Projetos Centro de Gerenciamento 79% 88,1%<br />
4 Suporte a software de Gerenciamento de Projetos Centro de Suporte 69% 64,0%<br />
5 Suporte à Alta Administração Centro de Excelência 64% 88,5%<br />
6 Coaching no Gerenciamento de Projetos Centro de Gerenciamento 64% 55,2%<br />
7 Gestão do treinamento em Gerenciamento de Projetos Centro de Gerenciamento 56% 61,6%<br />
8 Gestão do Portfólio de Projetos Centro de Gerenciamento 56% 59,9%<br />
9 Gestão de Documentos Centro de Gerenciamento 51% 60,3%<br />
10 Auditoria de Projetos Centro de Gerenciamento 41% 46,3%<br />
11 Seleção e Priorização de Projetos Centro de Excelência 38% 47,0%<br />
12 Pool de Recursos para Projetos Centro de Gerenciamento 28% 36,4%<br />
Fonte: PMI (2004); adaptado de PMI (2011b) 1 .<br />
5 A certificação PMP<br />
O PMI concede cinco certificações distintas: PMP (Project Management Professional),<br />
CAPM (Certified Associate in Project Managament), PMI-SP (PMI Schedule Professional),<br />
PMI-RMP (PMI Risk Management Professional) e PgMP (Program Management Professio-<br />
1 Os títulos das doze “Funções do PMO” contidas no Quadro 2 foram extraídos do relatório Benchmarking 2004 (PMI,<br />
2004) e apresentados por ordem decrescente de percentual de organizações que mencionaram o item. Como não havia<br />
uma equivalência nos títulos apresentados no relatório Benchmarking 2004 com os itens mencionados no Benchmarking<br />
de 2010, coube ao autor deste artigo estabelecer uma correspondência biunívoca entre os doze itens, segundo<br />
seus critérios de interpretação. Ressalta-se também, que a classificação de cada função em “Tipo de PMO” contido no<br />
mesmo quadro para as doze funções é resultado de avaliação do autor, que em casos em que havia mais de uma possibilidade,<br />
foi considerado o predominante, o mais marcante.<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
nal). Para obtenção de qualquer certificação há exigências particulares relacionadas à<br />
experiência profissional e aprovação em exame específico. A certificação profissional<br />
mais conhecida na área de gerenciamento de projetos é a PMP. Para obtenção da certificação<br />
PMP, o candidato deve ser aprovado em um exame com 200 questões, que tem<br />
duração de 4 horas. O exame aborda as práticas contidas no PMBOK nas nove áreas do<br />
conhecimento: gerenciamento do escopo, da comunicação, dos recursos humanos, de<br />
riscos, do tempo, de custos, da qualidade, das aquisições e da integração. Para realizar<br />
o exame de certificação PMP, há dois requisitos: o primeiro é que o candidato tenha recebido<br />
um treinamento formal em gerenciamento de projetos de no mínimo 35 horas<br />
e ter experiência prática em gerenciamento de projetos de 4.500 horas (se o candidato<br />
tiver curso superior completo) e 36 meses de atuação nos últimos seis anos.<br />
Caso o candidato não tenha curso superior completo, as exigências mudam: 7.500<br />
horas de experiência em gerenciamento de projetos e 60 meses de atuação nos últimos<br />
oito anos. A realização do exame somente é autorizada após a submissão do currículo<br />
do candidato, comprovando o atendimento aos requisitos. Durante a realização<br />
do exame, o candidato é monitorado por câmeras para evitar qualquer tipo de fraude,<br />
trazendo ao exame e à certificação credibilidade em nível mundial. A certificação tem<br />
validade por três anos, podendo ser renovada por novos períodos de três anos sem necessidade<br />
de realizar novo exame, desde que se comprove atuação profissional na área<br />
no triênio. Esta atividade engloba vivência, realização de cursos, atuação como docente<br />
ou palestrante na área, publicação de artigos e livros, participação em eventos etc (PMI,<br />
2010; TERRIBILI FILHO, 2011f).<br />
O número de profissionais com certificação PMP no país tem crescido de forma<br />
representativa. Em março de 2005 eram 2.760 profissionais certificados (INFOEXAME,<br />
2005); em junho de 2006, a quantidade de profissionais certificados era 4.063 (MIRAN-<br />
DA, 2006). No final de 2008, o PMI publicou um resumo das certificações no Brasil no<br />
PMI Today, apontando o total de 7.258 profissionais com certificação PMP ativa (PMI,<br />
2009). Em junho de 2011, a quantidade de profissionais com a certificação PMP no Brasil<br />
atingia a marca de 10.569 (GP EM DESTAQUE, 2011).<br />
O Benchmarking 2010 (PMI, 2011b) apontou que 14% da amostra pesquisada possui<br />
um programa formal de preparação para a certificação PMP e 43% das organizações<br />
pesquisadas pretendem desenvolver algo similar. Quanto aos programas de treinamento,<br />
29% da amostra declarou possuir um programa formal em Gerenciamento de<br />
Projetos, não incluindo programas para obtenção da certificação PMP.<br />
No Benchmarking 2004, os índices de programas de treinamento eram: 32% (geral<br />
em gerenciamento de projetos) e 24% (preparação PMP, implantado pela própria empresa<br />
ou por terceiros). A queda ocorrida nos dois índices no período 2004-2010: de<br />
32% para 29% (treinamento genérico na área) e de 24% para 14% (treinamento específico<br />
para a certificação PMP), traz à tona uma reflexão quanto à prioridade e ao nível de<br />
investimento que as organizações brasileiras estão atribuindo à capacitação e desenvolvimento<br />
de seus profissionais e à busca de certificações na área de gerenciamento<br />
de projetos (PMI, 2004; PMI, 2011b; TERRIBILI FILHO, 2011e).<br />
A profissionalização do gerenciamento de projetos no Brasil: um estudo comparativo dos resultados..., Armando Terribili Filho, p. 9-20<br />
17
Considerações finais<br />
É evidente que a área de gerenciamento de projetos tem tido uma expansão notória<br />
nos últimos anos, seja pelos resultados dos benchmarkings que são realizados<br />
anualmente pelos chapters do PMI no país, seja pelas observações do dia a dia: nos<br />
classificados de empregos, na oferta de cursos de especialização na área, no crescimento<br />
dos eventos e congressos que abordam o gerenciamento de projetos, na existência<br />
de revistas especializadas, no aumento do lançamento de livros direcionados à comunidade<br />
de gerência de projetos, na filiação de profissionais aos chapters do PMI e no<br />
aumento do número de profissionais certificados. Que esta evolução no conhecimento<br />
em gerenciamento de projetos, que é reconhecidamente multidisciplinar, seja aplicada<br />
no Brasil nas áreas públicas e privadas, trazendo benefícios às organizações, ao cidadão<br />
e, sobretudo, à sociedade na melhoria da qualidade de vida.<br />
Os resultados comparativos entre os benchmarkings de gerenciamento de projetos<br />
de 2004 e 2010 evidenciaram uma retração no investimento das organizações brasileiras<br />
em treinamento, na qualificação profissional e obtenção de certificações. Os administradores<br />
nesse país devem crer que a competitividade em um mundo globalizado,<br />
com prestação de serviços offshore (para um cliente fora das fronteiras do país onde<br />
está localizada a empresa produtora) tem na máxima “o plantio é livre, a colheita obrigatória”<br />
um alerta para sua gestão no século XXI.<br />
18<br />
Referências<br />
GP EM DESTAQUE. Números PMI – Mundo x Brasil. 17/06/2011. Disponível em: . Acesso em: 28 fev. 2012.<br />
INFOEXAME. Coleção Info: Certificação. São Paulo: Abril, 2005.<br />
MATTOS, José Roberto Loureiro de; GUIMARÃES, Leonam dos Santos. Gestão da tecnologia e<br />
inovação: uma abordagem prática. São Paulo: Saraiva, 2005.<br />
MIRANDA, Carolina Sanchez. Mais campo para gerente de projetos. Gazeta Mercantil. São<br />
Paulo, 30 nov. 2006. Caderno Plano Pessoal, p. C-8.<br />
PMI, Project Management Institute. Seção Rio de Janeiro. Estudo de Benchmarking em Gerenciamento<br />
de Projetos Brasil 2004, 2004.<br />
_______________. A guide to the Project Management of Body of Knowledge (PMBOK).<br />
4. ed. Pensilvânia: Project Management Institute, 2008.<br />
_______________. PMI Today, March 2009.<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
_______________. PMI São Paulo. Certificação PMP. 2010. Disponível em: . Acesso em: 08 ago. 2010.<br />
_______________. PMI Chapters. 2011a. Disponível em: . Acesso em: 27 fev. 2012.<br />
_______________. Chapters Brasileiros. Estudo de Benchmarking em Gerenciamento de<br />
Projetos Brasil - 2010, 2011b.<br />
TERRIBILI FILHO, Armando. A escolha dos indicadores de desempenho de projetos. In: TERRIBILI<br />
FILHO, Armando. Gerenciamento de Projetos em 7 Passos: uma abordagem prática. São<br />
Paulo: M.Books, 2011a, p. 260-262.<br />
_______________. Escritório de projetos: modalidades e responsabilidades. In: TERRIBILI FI-<br />
LHO, Armando. Gerenciamento de Projetos em 7 Passos: uma abordagem prática. São Paulo:<br />
M.Books, 2011b, p. 206-208.<br />
_______________. A ética e o gerenciamento de projetos. In: TERRIBILI FILHO, Armando. Gerenciamento<br />
de Projetos em 7 Passos: uma abordagem prática. São Paulo: M. Books, 2011c,<br />
p. 267-269.<br />
_______________. Benchmarking em gerenciamento de projetos. In: TERRIBILI FILHO, Armando.<br />
Gerenciamento de Projetos em 7 Passos: uma abordagem prática. São Paulo: M. Books,<br />
2011d, p. 201-203.<br />
_______________. Benchmarking em gerenciamento de projetos: PMO e treinamento. In: TER-<br />
RIBILI FILHO, Armando. Gerenciamento de Projetos em 7 Passos: uma abordagem prática.<br />
São Paulo: M.Books, 2011e, p. 204-205.<br />
_______________. Contratação de profissionais na área de projetos: certificados ou com pós-<br />
-graduação? In: TERRIBILI FILHO, Armando. Gerenciamento de Projetos em 7 Passos: uma<br />
abordagem prática. São Paulo: M. Books, 2011f, p. 263-266.<br />
TONCHIA, Stefano; NONINO, Fabio. Project Management: gestire l’innovazione nei produtti e<br />
nei servizi. Milano (Itália): Il Sole 24 Ore, 2007.<br />
VERZUH, Eric. MBA compacto: gestão de projetos. Rio de Janeiro: Elvesier, 2000.<br />
A profissionalização do gerenciamento de projetos no Brasil: um estudo comparativo dos resultados..., Armando Terribili Filho, p. 9-20<br />
19
20<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
Armadilhas regulatórias presentes no<br />
Setor Elétrico Brasileiro - Análise Crítica<br />
Ana Lúcia Rodrigues da Silva *<br />
Fernando Amaral de Almeida Prado Jr. **<br />
Resumo: Este artigo procura à luz de<br />
exemplos do setor elétrico brasileiro, registrar<br />
a ocorrência de falhas ou lacunas<br />
na regulação provocadas por outras regulamentações<br />
produzindo efeitos indesejados<br />
e não previstos aos agentes<br />
e consumidores finais de energia. Parte<br />
dessas “armadilhas” ocorre por falhas na<br />
concepção dos regulamentos e outros<br />
diplomas legais, por desvios da função de<br />
regulação. Essas falhas podem ocorrer na<br />
função precípua do regulador, mas podem<br />
se originar também em atividades<br />
de empresas públicas acessórias como<br />
EPE, CCEE ou ONS. O artigo utiliza a metodologia<br />
de busca empírica a partir de<br />
exemplos selecionados, onde se busca<br />
entender as causas destes efeitos colaterais.<br />
O artigo conclui pela necessidade<br />
permanente de aprimoramento da concepção<br />
e desenvolvimento de instrumentos<br />
regulatórios, sem que isso demande<br />
um aumento excessivo do número desses<br />
regulamentos.<br />
Palavras-chave: Risco. Regulação. Armadilha.<br />
Política Pública.<br />
Abstract: This paper discusses the occurrence<br />
of failures or gaps in the regulation<br />
of the Brazilian electric sector<br />
that results in unwanted effects. Some<br />
of these “traps” occurred by design<br />
flaws in the regulations or deviations<br />
from the regulatory function. These failures<br />
may occur in the primary function<br />
of the regulator, but also could be originated<br />
in the state-owned enterprises<br />
like EPE, CCEE or ONS. The article uses<br />
empirical search method from a group<br />
of selected examples, which seeks to<br />
understand the causes of these side effects.<br />
The article concludes that there is<br />
a need of a continuous improvement in<br />
the design and regulatory instruments<br />
that will not demand an excessive increase<br />
in the number of regulations.<br />
Keywords: Risk. Regulation. Traps.<br />
Public Policy.<br />
* Física, mestre, doutora e pós doutora em Planejamento de Sistemas Energéticos pela UNICAMP, autora dos<br />
livros “Monografia Fácil: ferramentas e exercícios”; “Marketing Energético” e “Comportamento do Grande Consumidor<br />
de Energia Elétrica”. Sócia da Sinerconsult Consultoria e Treinamento, Professora da Fundação Armando<br />
Alvares Penteado. E-mail: ana@sinerconsult.com.br.<br />
** Engenheiro civil, mestre e doutor em Planejamento de Sistemas Energéticos pela UNICAMP. Professor Doutor<br />
da Escola Politécnica da USP, onde realizou seu pós-doutorado. Sócio da Sinerconsult Consultoria e Treinamento.<br />
E-mail: fernando@sinerconsult.com.br.<br />
Armadilhas regulatórias presentes no setor elétrico brasileiro – análise crítica, Ana L. R. da Silva e Fernando A. de A. Prado Jr., p. 21-36<br />
21
Introdução<br />
Em 1772, na Carolina do Norte, EUA, uma população enfurecida prendeu e enforcou<br />
em uma praça, reguladores públicos que propiciaram a cobrança de impostos abusivos<br />
sobre alimentos essenciais (VEIGA, 2009). Hoje os reguladores, graças aos avanços da<br />
civilidade e da consolidação das leis estão livres do risco de linchamento.<br />
Apesar disto, a função de regulador, em países ainda com pequena tradição nessa<br />
função, é muitas vezes não compreendida e obviamente sujeita a falhas. Enquanto em<br />
países como os EUA, a instituição regulatória é centenária, no Brasil, a ANEEL, primeira<br />
agência regulatória dita moderna em termos de uma nova concepção de prestação de<br />
serviços públicos por empresas privadas, possui apenas 14 anos. A solidez institucional<br />
dessas organizações de Estado às vezes é posta à prova, numa tentativa de transformá-<br />
-las em órgãos de governo. Isto pode ser evidenciado pela priorização de atos regulatórios<br />
ligados a grandes problemas de cunho de formatação de políticas de Governo.<br />
O permanente conflito a que um administrador público pode ser submetido no<br />
exercício dessas novas funções, por ações publicas ou por iniciativa do Ministério Público,<br />
já foi objeto de exemplo por Kelman (2009) em seu livro, “Desafios do regulador”.<br />
Poucos setores da economia produzem tantos efeitos múltiplos, diretos ou colaterais,<br />
por decisões tomadas por formadores de políticas públicas como o setor de energia.<br />
Em nome da energia, de forma aberta ou velada, guerras já foram declaradas, crises<br />
políticas instaladas e incertezas políticas ampliadas.<br />
Tarifas e preços elevados atraem novos investimentos, mas reduzem a competitividade<br />
das empresas e limitam o acesso da energia aos mais pobres. A situação oposta<br />
contribui para preços estáveis, mais empregos e crescimento econômico, mas pode<br />
esbarrar na insuficiência de investimentos que promovam a segurança energética e a<br />
universalização do atendimento às necessidades energéticas da sociedade.<br />
Nesta complexidade é necessária ainda a consideração dos impactos ambientais,<br />
presentes em toda a cadeia produtiva da indústria de energia. Nesta questão, as emissões<br />
de carbono representam um potencial restritivo que poderá em pouco tempo alterar<br />
radicalmente a maneira como se produzirá e se consumirá energia.<br />
Neste contexto, o futuro da regulação é incerto, pois a desregulamentação dos antigos<br />
monopólios ditos naturais, a busca e o incentivo por fontes renováveis de energia,<br />
a interface com tecnologias que permitam e incentivem o uso de redes inteligentes<br />
representam alguns dos desafios que os reguladores energéticos já enfrentam ou enfrentarão<br />
com maior intensidade nos anos vindouros.<br />
Como exemplo dos impactos desses novos desafios aos reguladores, Hunt e Shuttleworth<br />
(1996) em seu livro clássico sobre competição e o poder de escolha na indústria<br />
de eletricidade, relatam o desânimo de um regulador diante da tarefa de regular as<br />
novas questões trazidas pela competição e para as quais não se sentia preparado.<br />
22<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
A preocupação com os impactos da regulação pode ser tão relevante que o governo<br />
inglês criou uma força tarefa para identificar maneiras de promover melhores maneiras<br />
de estabelecer regras para os mais diversos segmentos de atividade, inclusive fora dos<br />
mercados competitivos, como por exemplo, o estabelecimento de regulamentos para<br />
entidades que promovem a caridade. Arculus (2004), coordenador dessa força tarefa<br />
em seu relatório de 2004, relata que estudos desenvolvidos nos EUA dão conta que o<br />
PIB americano é influenciado em cerca de 10% por atividades regulatórias, sendo 2,5%<br />
o custo para estabelecer o cumprimento dos relatos e registros requeridos de documentação<br />
a partir de exigência das Agências.<br />
1 Armadilhas Ambientais<br />
O marco regulatório do setor elétrico de 2004, estabelecido ainda no primeiro governo<br />
Lula, definiu pela necessidade de regras para a expansão da geração que contemplassem<br />
a inclusão nos leilões apenas das obras que já tivessem a licença ambiental<br />
prévia, cuja responsabilidade de obtenção ficaria delegada a empresa de pesquisa<br />
Energética – EPE. Tal medida objetivava a redução dos riscos para os empreendedores<br />
após a obtenção das concessões, como acontecia no governo FHC, quando era possível<br />
a obtenção de uma concessão (com pagamento pelo uso do bem público em espécie<br />
monetária) seguida de uma recusa dos órgãos da emissão da licença ambiental.<br />
Ocorre, no entanto que a EPE nem sempre tem conseguido diligenciar um rol de<br />
opções de projetos de obras hidráulicas a licitar nos leilões de expansão que atendam<br />
a necessidade de energia futura projetada pelas Distribuidoras, consequentemente<br />
abrindo espaço para a necessidade de leilões de usinas térmicas nos leilões de disponibilidade.<br />
Assim, apesar do Brasil possuir um dos maiores, senão o maior potencial de<br />
hidroeletricidade do mundo, necessita recorrer à expansão térmica com os correlatos<br />
problemas de emissões, em uma espécie de contramão das políticas desenvolvidas no<br />
mundo. O leilão A-5 / 2008 foi pródigo nessa situação, conforme Tabela 1.<br />
Tabela 1 – Oferta de energia leilão A-5 em 2008<br />
Ano Quantidade Hidro Biomassa<br />
Gás<br />
Natural<br />
Carvão<br />
Óleo<br />
Combustível<br />
2008 MW 121 35 703 276 1990 3125<br />
Fonte: Elaboração própria, a partir de informações dos sites e<br />
. Acesso em: 17 out. 2008.<br />
O sistema elétrico brasileiro, como explicam Brito et al. (2009), com suas características<br />
de geração predominantemente hidroelétrica tem capacidade de regularização<br />
plurianual, isto é, os reservatórios seriam capazes de estabilizar a produção hidrelétrica<br />
mesmo que uma restrição hidrológica perdurasse por vários anos. A Figura 1 reproduzida<br />
de Brito et al. (2009) apresenta em unidades equivalentes ao volume da Baia da<br />
Guanabara, a capacidade de reservação de usinas construídas tipicamente nos anos<br />
1960 e 1970. Como é possível avaliar são usinas com elevada capacidade de reservação.<br />
Armadilhas regulatórias presentes no setor elétrico brasileiro – análise crítica, Ana L. R. da Silva e Fernando A. de A. Prado Jr., p. 21-36<br />
Total<br />
23
24<br />
Figura 1 - Capacidade de reservação em volumes equivalentes da Baía da Guanabara<br />
SERRA DA MESA<br />
TUCURUI<br />
ILHA SOLTEIRA<br />
SOBRADINHO<br />
ITAIPU<br />
FURNAS<br />
Fonte: Brito et al. (2009), XX SNPTEE.<br />
0 5 10 15 20 25<br />
No mesmo trabalho, Brito et al. (2009) ensinam que maiores restrições ambientais<br />
tem feito com que as novas usinas sejam concebidas como usinas a fio d’água,<br />
como exemplificam as recentes usinas do Rio Madeira e Belo Monte, todas com<br />
essa concepção que totalizam conjuntamente mais de 17GW de capacidade instalada.<br />
Esta mudança de partido dos projetos indica uma redução projetada da relação<br />
entre Energia Armazenada Máxima (TWh) e a Energia Natural Afluente (TWh/<br />
ano) dos atuais 41% (2010) para 32% (2020) indicando uma maior fragilidade do<br />
sistema em relação à segurança energética.<br />
Portanto, do ponto de vista da operação do sistema, a maior inserção de usinas fio<br />
d’água exige que maior necessidade de despachos térmicos venham a ser realizados<br />
nos próximos anos. Nas previsões de Brito et al. (2009) as emissões decorrentes dessa<br />
necessidade operativa evoluem de 30 milhões de T CO 2 em 2010, para 170 milhões T<br />
CO 2 em 2020, caracterizando uma armadilha regulatória, ou seja, por se exigir maiores<br />
cuidados ambientais na concepção dos impactos decorrentes de alagamentos de hidroelétricas,<br />
o Brasil enfrentará um crescimento das emissões de Gases de Efeito Estufa<br />
em mais de 460% em apenas 10 anos.<br />
Ainda em relação ao tema ambiental, parte importante do mercado das usinas de<br />
pequeno porte, consequentemente com menores impactos ambientais, por serem<br />
consideradas incentivadas tem o direito de um desconto, usualmente de 50% sobre<br />
as tarifas de uso do sistema (tarifas de fio). Para terem o direito a este desconto, que<br />
obviamente empresta competitividade ao mercado comprador desse tipo de energia,<br />
possuem uma restrição quanto ao seu porte ficando restritas a empreendimentos menores<br />
do que 30MW. Ocorre que para efeito escala nem sempre esta restrição leva a<br />
melhor concepção de projeto. Não raro se encontra em um mesmo sítio empreendimentos<br />
eólicos ou de térmicas de biomassa com potencias superiores a 30 MW. No entanto,<br />
para não perderem o benefício do desconto, são feitos arranjos societários como<br />
se fossem diversos empreendimentos, cada um limitado a 30 MW.<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
2 As armadilhas na expansão do sistema / Segurança energética<br />
O racionamento de 2001 provocou tamanha influência no comportamento dos<br />
dirigentes do setor elétrico, estatal ou privado, que a então Ministra Dilma Roussef<br />
chegou a afirmar que não faltaria mais energia ao Brasil “nem que a vaca tussa 1 ”.<br />
Assim, o modelo regulatório vem priorizando a segurança como seu maior valor<br />
no processo de planejamento. Medidas estabelecendo a obrigatoriedade de contratação<br />
de 100% da necessidade energética pelos agentes distribuidores com<br />
contratos de longo prazo e diversas outras regras visando proteger os investidores<br />
foram implantadas desde 2004. Entre estas, pode-se citar a liberdade de localização<br />
geográfica de novos empreendimentos de geração térmica independentemente<br />
de riscos de sub-mercado (que são alocados aos consumidores finais de energia<br />
elétrica), criação de regras para leilões de disponibilidade com repasse automático<br />
dos custos variáveis à tarifa e forte participação do Estado em projetos de grande<br />
porte denominados como estruturantes.<br />
Do ponto de vista da segurança energética foram criados os mecanismos de níveis<br />
metas, leilões de reserva e cada vez, com maior frequência, despachos fora da ordem de<br />
mérito. Cada uma destas medidas provocou efeitos colaterais, que podem na concepção<br />
dos autores serem classificados como armadilhas regulatórias. Na sequência são<br />
analisados cada um desses efeitos.<br />
2.1 Liberdade de localização geográfica de empreendimentos<br />
termoelétricos<br />
As regras dos leilões de disponibilidade visam à competitividade do processo (contribuição<br />
para a modicidade tarifária) e maior segurança dos empreendedores (maior<br />
atratividade para o empreendedor e atração do capital privado), inclusive transferindo<br />
ao consumidor final as eventuais distorções de preço entre sub-mercados.<br />
Ocorre que por razões de incentivo ao desenvolvimento regional, a região Nordeste<br />
possui incentivos fiscais inclusive oriundos de políticas do governo federal.<br />
Assim, a região se mostrou atrativa a maioria dos empreendimentos definidos nos<br />
leilões de 2007 e 2008. Castro et al. (2010) em recente texto de discussão da UFRJ<br />
analisam que a capacidade planejada dessas usinas não tem relação direta com o<br />
mercado de energia elétrica do Nordeste. Desta forma a energia produzida na região<br />
precisará ser reconduzida para outros centros de consumo, gerando investimentos<br />
não previstos no planejamento dos sistemas de transmissão (CASTRO et al., 2010). A<br />
necessidade destes investimentos contraria o senso comum que prescreve a alocação<br />
de empreendimentos térmicos o mais próximo das regiões de consumo. Obviamente<br />
esta situação redundará em prejuízo à modicidade tarifária.<br />
1 Folha de São Paulo, edição de 29 de outubro de 2006.<br />
Armadilhas regulatórias presentes no setor elétrico brasileiro – análise crítica, Ana L. R. da Silva e Fernando A. de A. Prado Jr., p. 21-36<br />
25
Ainda pior, em situações pontuais caso não ocorram os investimentos em transmissão,<br />
pode-se correr o risco de se dispor de usinas térmicas, contratadas, construídas e que<br />
não possam disponibilizar todo seu potencial por carência de sistemas de transmissão.<br />
É importante destacar também que a escolha locacional da usina com base em incentivos<br />
fiscais, muitas vezes está desconectada da questão da logística do fornecimento<br />
do combustível para a usina.<br />
2.2 Custo variável com repasse automático às tarifas de energia<br />
elétrica<br />
A Empresa de Pesquisa Energética - EPE, a principal entidade organizadora dos leilões<br />
possui na opinião dos autores restrições de governança, uma vez que pelas suas<br />
caraterísticas de governo possui viés político com resultados esperados de contribuição<br />
às realizações do mesmo. Ou seja, é premida para garantir oferta de energia que<br />
permita níveis de segurança adequados ao suprimento de energia e se possível com<br />
oferta a preços módicos.<br />
A contratação por disponibilidade 2 funciona, segundo Bezerra (2009), como uma<br />
opção de compra de energia para o consumidor: a receita fixa (RF, em R$/ano), corresponde<br />
ao prêmio da opção e o custo variável unitário (CVU) correspondente ao preço<br />
de exercício que incluí o reembolso dos custos operativos da usina, quando ela é acionada<br />
pelo ONS; e os custos de compra de energia na CCEE para atender a demanda,<br />
que seria “coberta” pela usina, quando a mesma não é acionada pelo ONS.<br />
O objetivo da EPE é selecionar as usinas que possuam o menor preço total, considerando-se<br />
a renda fixa esperada (e exigida) pelo investidor e o custo variável que depende<br />
da tecnologia (nível de inflexibilidade e diferentes níveis de investimento inicial) e<br />
dos combustíveis (diferentes custos de operação).<br />
2 Contratação de usinas térmicas que complementam nos leilões, a oferta não realizada de usinas hidroelétricas<br />
que não foram estudadas ou não conseguiram a licença prévia.<br />
26<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
Figura 2 - Frequência de despachos estimada segundo procedimentos dos leilões<br />
segundo procedimentos operativos do ONS em função do CVU (R$/MWh)<br />
Despacho em %<br />
50%<br />
45%<br />
40%<br />
35%<br />
30%<br />
25%<br />
20%<br />
15%<br />
10%<br />
5%<br />
0%<br />
100 150 200 250 300 350<br />
Fonte: Elaboração própria a partir de Veiga (2009).<br />
R$/MWh<br />
Premissas do Leilão<br />
Premissas Operavas<br />
Como explicam Bezerra et al. (2009), o núcleo da composição do ICB 3 , indicador que<br />
conjuga a composição dos custos variáveis e dos custos fixos, depende do planejador<br />
(EPE) pela tarefa de estimar antecipadamente o valor esperado dos custos variáveis de<br />
cada usina candidata, em nome dos consumidores regulados. Assim, os resultados dos<br />
leilões, muitas vezes exaltados quanto à modicidade tarifaria obtida, não necessariamente<br />
representam o efeito que o consumidor de fato vai pagar a cada ano, e sim uma<br />
estimativa do que seria pago em média. Ainda segundo Bezerra et al. (2009), o único<br />
pagamento conhecido é o da parcela fixa. As demais parcelas variam a cada ano em<br />
função da hidrologia, nível de armazenamento dos reservatórios, balanço oferta × demanda,<br />
custo do combustível e muitos outros fatores.<br />
Veiga (2009) vem alertando que a metodologia utilizada pela EPE/MME não contempla<br />
os procedimentos operativos do ONS e consequentemente a frequência real<br />
de despacho dessas usinas, o que tem sido maior do que o previsto nas condicionantes<br />
dos leilões, assim custos adicionais serão repassados aos consumidores. A Figura 2 demonstra<br />
esta situação.<br />
2.3 Atrasos em projetos contratados em leilões de expansão<br />
Os leilões concebidos no marco regulatório do setor elétrico brasileiro tem por objetivo<br />
dar segurança ao consumidor pela oportunidade da contestação pública entre<br />
diferente ofertantes garantindo as melhores condições de contratação (modicidade tarifária)<br />
e seus longos prazos de contratação garantiriam a estabilidade necessária para a<br />
financiabilidade dos projetos e a atratividade dos investidores.<br />
3 ICB – Índice de Custo Benefício que pondera em R$/MWh a energia “comercializada” pela usina proponente.<br />
Armadilhas regulatórias presentes no setor elétrico brasileiro – análise crítica, Ana L. R. da Silva e Fernando A. de A. Prado Jr., p. 21-36<br />
27
No entanto esta segurança pode ser afetada pelo não cumprimento dos compromissos<br />
dos empreendedores em relação aos prazos contratados. Obviamente existem penalidades<br />
para este descumprimento, sendo que atrasos exigem que o montante de energia<br />
contratada seja reposto e a usina inadimplente não recebe pagamentos enquanto<br />
não estiver em funcionamento, mas tem direito de ser ressarcida pela energia contratada<br />
para esta reposição. As regras de pagamento à usina com operação atrasada são severas e<br />
podem causar prejuízos pesados, pois estabelecem que o ressarcimento pela energia de<br />
reposição se dará sempre pelo menor valor entre quatro opções possíveis 4 .<br />
Atrasos podem ser decorrentes de várias razões: (i) dificuldades de obtenção<br />
das licenças ambientais 5 , (ii) dificuldades com a logística de contratação de combustíveis,<br />
quer pela localização do empreendimentos, quer pela dificuldade de estabelecer<br />
um contrato firme com volumes de combustíveis, uma vez que existe a<br />
incerteza da frequência da ordem de despacho, (iii) dificuldades de obtenção de<br />
financiamento agravadas pela crise financeira internacional de 2008/2009, (iv) dificuldades<br />
de obtenção de financiamento pela elevada concentração de multiplos<br />
projetos para um mesmo empreendedor.<br />
Ressalte-se que a existência de multas e da obrigação de comprar energia para reposição<br />
do volume não entregue em decorrência do atraso pode incentivar um circulo<br />
vicioso, onde o atraso por falta de financiamento gera penalidades e custos adicionais,<br />
o que torna mais dificil o saneamento da finaciabilidade do projeto. Destaque-se que a<br />
concentração de empreendimentos contribuí para este ciclo vicioso.<br />
Em relação ao fator concentração de projetos em um mesmo investidor , o diretor<br />
geral da ANEEL, Nelson Hubner, se pronunciou dizendo: (www.abrace.org.br, acesso<br />
em: 03 mar. 2011):. “Você pode ter tido um erro nesse leilão de térmicas. Até por ter permitido<br />
uma posição muito maior na mão de um comprador”, analisou, lembrando que<br />
o Grupo Bertin é, sozinho, responsável por seis empreendimentos fora de cronograma.<br />
Os demais pertencem à Fênix Energy, Floralco Açúcar e Álcool e Multiner/Gênesis. O diretor<br />
admitiu que “poder-se-ia evitar o que aconteceu”, mas deixou claro que não acredita<br />
na viabilidade de uma grande reformulação no modelo adotado pelo setor.<br />
A preocupação da ANEEL é ainda mais grave, pois por conta de liminares, não tem<br />
conseguido executar as penalidades e os agentes inadimplentes, com os prazos contratuais<br />
na produção de energia, não tem cumprido com os regulamentos vigentes.<br />
As usinas, que deveriam estar gerando para o sistema desde janeiro, também não<br />
depositaram garantias na CCEE e não compraram energia no mercado livre para garantir<br />
o cumprimento dos contratos que fecharam com as distribuidoras na ocasião do<br />
certame. Segundo Edvaldo Santana, diretor da agência reguladora, as usinas em atraso<br />
4 A discussão destas regras está fora do contexto deste artigo, mas recomenda-se a leitura BOLETIM REGULATÓ-<br />
RIO - Edição 2009 Atrasos nas instalações de transmissão Aumento da CCC Obrigação de contratação de potência<br />
editado pela empresa PSR de 20/08/2010.<br />
5 Neste caso responsabilidade do empreendedor.<br />
28<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
somam uma inadimplência de R$330 milhões com a CCEE, que administra o mercado<br />
regulado de energia. O diretor lembrou que a falta de pagamentos decorrem de liminares<br />
já deferidas. Essa situação causa ônus a todos os agentes de mercado.<br />
Gomes e Baggio (2010), advogados do escritório Kaercher e Baggio, argumentam<br />
sobre outra questão que merece reflexão neste debate: qual é a real culpa do empreendedor?<br />
Seria desejável que a regulação contemplasse a responsabilidade de agentes<br />
de Estado em eventuais atrasos, o que configura ainda mais a tipologia de “armadilha<br />
regulatória”, pois culpa induzida pelo Estado redundaria em prejuízos “socializados” pelos<br />
demais agentes e consumidores.<br />
Finalmente, para complementar a análise de armadilhas decorrentes de atrasos<br />
em empreendimentos contratados, pode-se considerar que o despacho de usinas<br />
hidroelétricas por parte do ONS, considerando que as obras previstas performariam<br />
no tempo previsto, levam a um deplecionamento a maior dos reservatórios<br />
e consequentemente a uma maior necessidade de despachos fora de ordem de<br />
mérito (conforme abordado na seção seguinte deste artigo) e eventualmente, necessidades<br />
de revisões no status de gerenciamento das curvas de aversão ao risco<br />
e dos níveis das metas. A Figura 3 apresenta a revisão das curvas de aversão ao<br />
risco a partir da consideração em agosto de 2010, que várias usinas contratadas<br />
no leilão A-3 em 2008, teriam um atraso que se tornara irrreversível, resultando em<br />
um maior dispêndio para os consumidores de energia elétrica.<br />
Armazenamento (%EARmax)<br />
Figura 3 - Curva de Aversão a Risco do Subsistema Nordeste Antes e Depois da Redução<br />
na Oferta Programada de Energia Térmica<br />
Fonte: Castro et al. (2010).<br />
59%<br />
30%<br />
54%<br />
27%<br />
49%<br />
24%<br />
43%<br />
19%<br />
34%<br />
32%<br />
12%<br />
10%<br />
CAR 2010-2011 com oferta PMO junho/2010<br />
CAR 2010-2011 vigente<br />
jan/10<br />
fev/10<br />
mar/10<br />
abr/10<br />
mai/10<br />
jun/10<br />
jul/10<br />
ago/10<br />
set/10<br />
out/10<br />
nov/10<br />
dez/10<br />
jan/11<br />
fev/11<br />
mar/11<br />
abr/11<br />
mai/11<br />
jun/11<br />
jul/11<br />
ago/11<br />
set/11<br />
out/11<br />
nov/11<br />
dez/11<br />
Armadilhas regulatórias presentes no setor elétrico brasileiro – análise crítica, Ana L. R. da Silva e Fernando A. de A. Prado Jr., p. 21-36<br />
41%<br />
17%<br />
50% 50% 50%<br />
47%<br />
42%<br />
36%<br />
34% 34%<br />
31%<br />
32% 32%<br />
28%<br />
29% 29%<br />
26%<br />
22% 22%<br />
17%<br />
15%<br />
13%<br />
10% 10%<br />
29
2.4 Despachos fora de ordem de mérito<br />
Como já analisado em seção anterior deste artigo, o racionamento de 2001 promoveu<br />
enorme preocupação com os efeitos econômicos e políticos que a sua repetição<br />
provocou na sociedade brasileira. Esta preocupação faz sentido, pois entre os riscos<br />
incluem-se a visibilidade e sensibilidade da opinião pública para com os reguladores.<br />
Por esta razão em janeiro de 2008, em pleno período úmido quando se pressupunha<br />
reservatórios cheios e preços baixos no mercado “spot”, o Preço de Liquidação de Diferenças<br />
(PLD) atingiu seus patamares máximos e os riscos de déficit atingiram valores<br />
elevados, causando várias inadimplências no mercado e sinalizando preocupação política<br />
no Governo.<br />
A partir daí o Conselho Nacional de Política Energética - CNPE autorizou que o Operador<br />
Nacional do Sistema pudesse dar ordem de despacho fora da ordem de mérito<br />
econômico. Esta nova modalidade de despacho, além de gerar custos elevados em<br />
nome da segurança energética, diminui a transparência do processo operativo e reduz<br />
artificialmente o PLD, beneficiando os agentes que não estejam 100% contratados e<br />
prejudicando (pelo menos em tese) aqueles que cumprem a determinação regulatória<br />
de estarem contratados na totalidade de suas cargas. Para que se tenha uma dimensão<br />
dos impactos econômicos dessa decisão de priorizar a segurança energética a qualquer<br />
custo, basta comparar os valores de Encargos de Serviço do Sistema (rubrica apenas<br />
de serviços ancilares usuais) que perfizeram R$ 1,7 bilhão entre 2000 e 2008 e o<br />
mesmo encargo ESS, considerando-se a rubrica segurança energética (que contabiliza<br />
a remuneração do despacho fora de ordem de mérito) que alcançou a mesma cifra 6<br />
apenas entre fevereiro e outubro de 2008. Por coincidência a mesma cifra de R$ 1,7<br />
bilhão correspondia à estimativa que Paulo Pedrosa, presidente da Abrace - Associação<br />
Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres<br />
avaliava como sendo o dispêndio ocorrido em 2010 nesse encargo 7 . Os reguladores<br />
decidiram pela segurança energética, mas o custo foi repassado à sociedade.<br />
3 Erros na Formulação das tarifas<br />
O modelo tarifário do setor elétrico brasileiro é bastante complexo e possui muitos<br />
detalhes em sua regulamentação. Sobre os custos que compõem o serviço de distribuição,<br />
o regulador estabeleceu duas tipologias de custos.<br />
A primeira com aqueles custos que seriam passíveis de serem gerenciados pelas<br />
distribuidoras (denominados custos gerenciáveis ou parcela B), onde se incluem operação,<br />
manutenção, salários, depreciação e custo de capital.<br />
6 Cifras e conclusões apuradas pelos autores a partir de consultas aos relatórios da ABRACE, Encargos Setoriais - 3 a<br />
edição de outubro de 2009 e Relatório Técnico de agosto de 2010.<br />
7 Disponível em: . Acesso em: 10 jan. 2011.<br />
30<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
A outra tipologia denominada parcela A, seria composta de custos não gerenciáveis<br />
pelas empresas, ou seja, compostas pelas parcelas de compra de energia 8 , custeio de<br />
contas de combustíveis para os sistemas isolados, variações cambiais que impactam as<br />
tarifas de Itaipu entre outras.<br />
Para estas duas parcelas o tratamento regulatório é feito de forma diferente, como<br />
apresentado a seguir.<br />
Parcela A - VPA = custo médio da energia contratada (R$/MWh) * mercado de<br />
referência (MWh) + custo previsto para os encargos.<br />
Parcela B - VPB = (Receita do ano anterior (R$) – Valor da parcela A do ano anterior<br />
(R$)) * (IGPM- fator X)<br />
Onde o IGPM representa o indexador de inflação e o fator X , um índice de produtividade<br />
da concessionária que reduz a correção dos preços gerenciáveis.<br />
Assim, a tarifa referencial se constituí como T(R$/MWh) = (VPA + VPB) / (mercado<br />
de referência).<br />
Para compensar a variação, em alguns casos extremos de componentes da parcela<br />
A entre dois reajustes consecutivos, o Ministério de Minas e Energia- MME criou um<br />
mecanismo denominado como CVA- Conta de variação da parcela A, sobre a qual são<br />
aplicadas em uma conta gráfica correções financeiras baseadas na taxa de juro básica<br />
do Brasil. Por ocasião do próximo reajuste a CVA compensa financeiramente perdas e<br />
ou ganhos da distribuidora. Assim a tarifa de referência passou a ser calculada como<br />
T(R$/MWh) = (VPA + VPB + CVA) / (mercado de referência).<br />
Ocorre que alguns dos componentes dos encargos não são cobrados proporcionalmente<br />
ao mercado da distribuidora e sim por meio de uma previsão estabelecida<br />
pelo regulador. Como o mercado de referência é o do ano anterior e normalmente no<br />
Brasil existe elevado crescimento do consumo de energia, inclusive com taxas superiores<br />
aquelas do crescimento econômico, as componentes fixas de variação da parcela<br />
A provocam um ganho não previsto pelo espírito da regulamentação como proposta<br />
inicialmente.<br />
Como a CVA foi criada pelo MME por meio de uma portaria ministerial, a solução da<br />
questão ficou fora da alçada da ANEEL. Posterirormente o MME orientou a ANEEL para<br />
que procedesse a alteração dos contratos de concessão de forma negociada com as<br />
empresas, ação desenvolvida e precedida de uma Audiência Pública.<br />
8 No Brasil o processo de compra de energia é feito por leilões onde as Distribuidoras estabelecem os montantes<br />
a serem contratados e o preço decorre dos mecanismos dos leilões estabelecidos pelos órgãos de governo.<br />
Armadilhas regulatórias presentes no setor elétrico brasileiro – análise crítica, Ana L. R. da Silva e Fernando A. de A. Prado Jr., p. 21-36<br />
31
Permanece ainda não resolvida a questão de uma eventual devolução dos recursos<br />
recebidos indevidamente pelas concessionárias. Faz-se necessário registrar que, entre<br />
os argumentos apresentados pelas distribuidoras para contestar qualquer alteração<br />
das regras, dizia-se que em anos onde ocorresse uma redução do mercado no ano<br />
subsequente o procedimento registraria perdas para as empresas. Ocorre que exceto<br />
em anos com fatores extraordinários, como por exemplo, o racionamento de 2001, não<br />
tem sido registrados decréscimos no mercado das distribuidoras, mesmo em anos com<br />
baixo crescimento do PIB. Outro ponto bastante argumentado nessa temática foi o fator<br />
que a aplicação da regra não trazia em si nenhuma ilegalidade.<br />
Estima-se que a receita a maior registrada pelas empresas distribuidoras no Brasil<br />
entre 2002 e 2008 tenha alcançado a cifra de R$ 7 bilhões.<br />
4 Armadilhas relacionadas a assimetria do processo de influência<br />
na regulação<br />
Conforme abordam Almeida Prado Jr. et al. (2011), entre 1998 e 2007 foram realizadas<br />
pela ANEEL 283 Audiências Públicas - AP e 68 Consultas Públicas - CP, sendo registrado<br />
um crescimento desses eventos ano a ano, o que permite inferir o crescimento da<br />
importância desses procedimentos no desenvolvimento de normas e procedimentos<br />
por parte da Agência.<br />
Nas APs e CPs, durante o período de 1998 a 2007, foram contabilizados 15.406 participantes,<br />
responsáveis pelo encaminhamento de 9.411 contribuições, que somaram<br />
356 normas regulamentares entre resoluções, despachos e outros procedimentos por<br />
parte da Agência reguladora.<br />
No mesmo artigo de Almeida Prado Jr. et al. (2011) foi possível identificar grupos<br />
com interesses específicos voltados a regulação do segmento de geração de energia<br />
elétrica, sendo identificados 4 grupos distintos baseado na participação de 962 colaboradores<br />
identificados nas APs, a saber: (i) Grupo A – Empresas e/ou Organizações Associativas<br />
dos Agentes de Mercado ligados diretamente ao Serviço de Energia Elétrica;<br />
(ii) Grupo B 9 – Órgãos de Governo na administração direta e indireta (federal, estadual<br />
e municipal, inclusive autarquias), Universidades e Outras Organizações vinculadas ou<br />
não ao Serviço de Energia Elétrica; (iii) Grupo C – Empresas, Consultorias, Organizações<br />
e Outros não vinculados diretamente ao Serviço de Energia Elétrica, e (iv) Grupo D –<br />
Consumidores ou Pessoas Físicas cuja contribuição na oportunidade não esteve vinculada<br />
a nenhuma organização formal.<br />
As Figuras 4 e 5 apresentam claramente a assimetria de participação desses<br />
diferentes agentes nos processos de discussão e de pressão para a formatação de<br />
novos regulamentos.<br />
9 Neste Grupo excetuaram-se as empresas públicas do setor de energia elétrica, uma vez que as mesmas já estão<br />
enquadradas como agentes de mercado no Grupo A.<br />
32<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
Figura 4 - Participação em APs do tema geração por grupo de interesse.<br />
B<br />
56<br />
7%<br />
C<br />
108<br />
14%<br />
Fonte: Almeida Prado Jr. et al. (2011).<br />
A<br />
569<br />
74%<br />
Figura 5 - Contribuições nas APs do tema geração por grupo de Interesse.<br />
B<br />
139<br />
5%<br />
C<br />
401<br />
15%<br />
Fonte: Almeida Prado Jr. et al. (2011).<br />
D<br />
35<br />
5%<br />
D<br />
75<br />
3%<br />
A<br />
2.057<br />
77%<br />
Embora seja relevante a iniciativa da ANEEL de propiciar a discussão pública e o recebimento<br />
de contribuições por parte dos agentes em temas relevantes, parece que<br />
esta iniciativa tem sido bem sucedida apenas parcialmente, pois os consumidores não<br />
conseguem participar ou não identificam relevância em sua inserão no processo decisório.<br />
É importante não permitir que os grandes números venham a ser considerados<br />
como os relevantes do processo participativo sem se considerar a participação relativa<br />
dos diferentes grupos de interesse, onde ainda é incipiente a participação do cliente.<br />
Armadilhas regulatórias presentes no setor elétrico brasileiro – análise crítica, Ana L. R. da Silva e Fernando A. de A. Prado Jr., p. 21-36<br />
33
Conclusões<br />
Talvez mais de uma dezena de exemplos que caracterizam uma “armadilha regulatória”<br />
na opinião dos autores pudesse ser agregada a este artigo, por exemplo: (i) a<br />
alocação da parcela de energia dos empreendimentos estruturantes destinada ao mercado<br />
livre e auto produção como vetor de financiamento ao mercado regulado, (ii) os<br />
retrocessos nos direitos dos consumidores na resolução 414/2010 bastante caracterizados<br />
pelos grupos de pressão de interesse nas distribuidoras nas APs e CPs realizadas<br />
para sua consolidação; (iii) a própria complexidade do setor e o número expressivo de<br />
regulamentos já publicados desde a criação da ANEEL 10 , (iv) as dificuldades dos reguladores<br />
de coordenar 11 aspectos conjuntos de combustíveis fósseis, uso da água e energia<br />
elétrica com políticas conjuntas.<br />
Este artigo procura demonstrar que existem oportunidades para uma melhor regulação,<br />
priorizando: (i) Consistência; (ii) Proporcionalidade; (iii) Documentação e registro;<br />
(iv) Transparência e (v) Objetivos. Particularmente o ítem (v) é o que guarda maior relação<br />
com o tema do artigo, onde as metas da regulação não devem ser contaminadas<br />
com outras decisões e nem contribuir para contaminá-las evitando-se futuras armadilhas<br />
regulatórias que causam prejuízos a toda sociedade.<br />
Como contribuição final se faz presente a necessidade da discussão da hierarquia<br />
entre as instâncias de governo, suas agências regulatórias e o plano de ação regulatório<br />
desejado. A Figura 6 apresenta de forma inspirada no Better Regulation Task Force Cabinet<br />
Office a consolidação deste conceito.<br />
34<br />
Figura 6 - Concepção regulatória<br />
I II III<br />
Fonte: Elaboração própria baseada em Arculus (2004).<br />
10 Desde sua criação foram publicadas 8.783 resoluções dos mais diversos tipos pela ANEEL (até 8 de março de<br />
2011). Winston Churchill disse certa vez: “Se você tem 10.000 regulamentos então você destrói o respeito à lei”.<br />
11 Desde sua institucionalização a ANEEL, a ANP, a ANATEL e a ANA publicaram apenas três resoluções conjuntas.<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011<br />
I - Regulação como forma especíca<br />
de governo: conjunto de regras<br />
determinantes, frequentemente<br />
supervisionadas por uma agência<br />
administrativa ou de<br />
regulação especíca.<br />
II - Regulação como governança no<br />
sentido geral: esforço agregado de<br />
governos e agências regulatórias para<br />
inuenciar na economia de acordo com<br />
metas e princípios pré-estabelecidos.<br />
III - Regulação no seu sentido<br />
mais amplo: qualquer forma<br />
de controle social.
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Alvares Penteado (FAAP), 2011, São Paulo.<br />
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Task Force Cabinet Office, ISBN 071150458X, Londres, 2004.<br />
BEZERRA, Bernardo V. et al. A eficiência do ICB como indicador do resultado correto do<br />
leilão de contratos por disponibilidade, Grupo VI, XX SNPTEE, Recife, 2009.<br />
BRITO, Marcelle et al. Uma metodologia apara analisar o impacto das Usinas fio d´água<br />
na capacidade de regularização do sistema hidrotérmico brasileiro, Grupo IX, XX SNPTEE,<br />
Recife, 2009.<br />
CASTRO, N. J. et al. Contratação e atrasos de centrais termoelétricas nos leilões de energia<br />
nova, Texto de discussão do setor elétrico n. 22, GESEL, UFRJ, Rio de Janeiro, Julho de 2010.<br />
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energia, Jornal da Energia. Disponível no site www.abrace.org.br. Acesso em: 03 mar. 2011.<br />
GOMES, Victor J. F; BAGGIO, Lucas P.. Questões polêmicas sobre o atraso de usinas com<br />
CCEARs. 10/08/2010. Disponível em: . Acesso em: 10 ago. 2010.<br />
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0-471-95782-8, England, 1996.<br />
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setembro de 2009, Rio de Janeiro. Disponível em: . Acesso em: 08<br />
mar. 2011.<br />
Armadilhas regulatórias presentes no setor elétrico brasileiro – análise crítica, Ana L. R. da Silva e Fernando A. de A. Prado Jr., p. 21-36<br />
35
36<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
O uso e a proteção de sinais não<br />
tradicionais no processo de identificação<br />
e diferenciação de uma marca<br />
Resumo: Afirma-se, por um conjunto<br />
de razões, que a marca é um dos ativos<br />
intangíveis mais importantes de uma<br />
empresa. Durante anos, as marcas se<br />
apoiaram nos sinais tradicionais como<br />
elemento principal da sua identificação<br />
como logotipo, slogan e personagem.<br />
Nos dias atuais, com o desenvolvimento<br />
das novas formas de mídia, os sinais<br />
não tradicionais começam a ganhar<br />
destaque nas estratégias empresariais,<br />
incluindo elementos como som e aroma,<br />
cuja especialização o Marketing tem<br />
denominado de “Marketing Sensorial”.<br />
Neste ensaio, de natureza exploratória e<br />
qualitativa, os autores apresentam as diferenciações<br />
entre os sinais tradicionais<br />
e os sinais não tradicionais, destacando<br />
as formas de uso e proteção que esses<br />
novos elementos recebem em diversos<br />
países. Ao final, conclui-se que nos próximos<br />
anos os elementos não tradicionais<br />
serão cada vez mais utilizados como ferramentas<br />
integrantes do planejamento<br />
estratégico, uma vez que os sinais tradi-<br />
José Carlos de Lima Junior *<br />
Marcos Machado **<br />
Geraldo Luciano Toledo ***<br />
cionais já apresentam esgotamento na<br />
função de identificar e diferenciar um<br />
produto devido ao excesso de estímulos<br />
externos a que está exposto o consumidor.<br />
Caberá ao profissional de Marketing<br />
a função de pensar a melhor estratégia<br />
desses novos elementos, assim como<br />
planejar sob quais meios ocorrerão o<br />
uso e a proteção em países que não possuem<br />
uma legislação que os proteja integralmente.<br />
Palavras-chave: Marcas. Proteção e Uso.<br />
Sinais tradicionais e não tradicionais.<br />
Abstract: It is stated by a number of reasons,<br />
that the brand is one of the most<br />
important intangible assets of a company.<br />
For years, brands have relied on traditional<br />
signs as a core element of their<br />
identities as a logo, slogan and character.<br />
Nowadays, with the development of new<br />
forms of media, non-traditional signs<br />
begin to gain prominence in corporate<br />
strategies, including elements such as<br />
* Doutorando em Administração pela FEA/USP; Mestre em Administração de Organizações pela FEA-RP/USP. Professor<br />
FAAP Pós-graduação e PECEGE/ESALQ/USP. Pesquisador MARKESTRAT – Centro de Pesquisa em Marketing<br />
e Estratégia. E-mail: jclima@faap.br ou jclima@usp.br.<br />
** Doutorando em Administração pela FEA/USP; Mestre em Administração pela PUC; Bacharel em Administração<br />
de Empresas pela FGV/SP e Direito pela USP. Co-autor do livro Gestão <strong>Estratégica</strong> de Marcas (edição brasileira de<br />
Strategic Brand Management de Kevin Keller).<br />
*** Doutor em Administração de Empresas pela FEA/USP. Professor titular do Departamento de Administração e<br />
do Curso de Pós-graduação em Administração do PPGA/FEA/USP.<br />
O uso e a proteção de sinais não tradicionais no processo de identificação..., José C. de Lima Jr., Marcos Machado e Geraldo L. Toledo, p. 37-50<br />
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sound and flavor, where Marketing specialization<br />
calls “Sensory Marketing”. In<br />
this trial, an exploratory qualitative study,<br />
the authors present the differences between<br />
the traditional signs and non-traditional<br />
signals, highlighting the use and<br />
protection that these new elements are<br />
given in several countries. At the end, it<br />
is concluded that in the coming years the<br />
non-traditional elements will be increasingly<br />
used as tools of strategic planning<br />
members, since the signs have already<br />
Introdução<br />
As marcas são ativos competitivos importantes para as organizações de todos os<br />
tipos. Entre as principais razões que justificam esta crescente importância das marcas<br />
está uma maior padronização entre produtos e serviços, sob o ponto de vista dos aspectos<br />
funcionais/ tangíveis; outra razão é o valor do tempo para os clientes/consumidores<br />
o que faz com que as decisões de compra sejam cada vez mais rápidas.<br />
Neste sentido, as marcas podem ser importantes diferenciais competitivos, facilitadores<br />
da tomada de decisão para clientes/consumidores com dificuldade de encontrarem<br />
diferenças perceptíveis de desempenho entre produtos e serviços, ou mesmo em<br />
casos em que se sentem pressionados pelo valor que o tempo assume no estilo de vida<br />
contemporâneo. Como afirma Keller (2008), marcas fortes podem ser atalhos seguros<br />
para decisões de compra cada vez mais difíceis.<br />
Nos dias atuais, constitui um desafio às empresas ter uma marca forte, eficaz, que<br />
de fato agregue valor a um produto ou serviço e que possibilite resultados positivos<br />
para a organização que a controla (em termos de vendas, preços superiores, fidelidade<br />
e participação de mercado).<br />
É possível crer que qualquer trabalho que, de alguma forma aborde aspectos que<br />
permitam aprimorar o processo de gestão de marcas pelas organizações em geral, são<br />
relevantes no cenário competitivo atual. A fronteira do branding ou da gestão de marcas,<br />
ainda tem muitos campos a serem estudados e aprofundados.<br />
No que diz respeito especificamente ao processo de identificação (uma das funções<br />
de uma marca), um campo ainda pouco abordado, notadamente no Brasil, é o uso de<br />
sinais não tradicionais. Este trabalho pretende abordar justamente este tema, “o uso de<br />
sinais não tradicionais”, destacando a teoria e ações práticas que começam a surgir neste<br />
campo. Desta forma, os autores esperam contribuir para o esclarecimento de um<br />
tema relevante às organizações de um modo geral, incentivando o aprimoramento de<br />
suas práticas de gestão e para novas discussões e pesquisas nesta direção.<br />
38<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011<br />
exhausted the traditional role of identifying<br />
and differentiating a product due<br />
to excessive external stimuli is exposed<br />
to the consumer. It is for the professional<br />
marketing function to think of the best<br />
strategy of these new elements, as well<br />
as planning ways in which occur the use<br />
and protection in countries that do not<br />
have legislation that protects them in full.<br />
Keywords: Brands. Protection and Use.<br />
Traditional and nontraditional signs.
1 Objetivo<br />
O objetivo geral desse ensaio é apresentar a visão de diferentes autores e relatar a<br />
experiência de algumas empresas, no tocante ao uso e proteção de sinais não tradicionais<br />
no processo de identificação e diferenciação de marca.<br />
Para alcançar o objetivo geral proposto, serão utilizados os seguintes objetivos<br />
específicos:<br />
• Revisão teórica para definição de marca e de elementos de marca;<br />
• Revisão teórica para diferenciação entre sinais tradicionais e não-tradicionais;<br />
• Análise do uso dos sinais não-tradicionais por diferentes empresas;<br />
• Análise no uso e proteção dos sinais não tradicionais por estas empresas.<br />
2 Revisão Teórica<br />
2.1 Definição de Marca<br />
Para se avaliar o papel dos elementos de marca, tema central deste ensaio, é importante<br />
revisitar a definição de marca mais aceita na bibliografia sobre o tema, que é a<br />
definição da AMA - American Marketing Association (2012)<br />
[...] marca é um nome, termo, símbolo, desenho ou combinação desses elementos que deve<br />
identificar os bens ou serviços de um fornecedor ou grupo de fornecedores e diferenciá-los<br />
dos da concorrência.<br />
Com base nesta definição pode-se observar, de forma sucinta, que uma marca possui<br />
dois grandes objetivos: (i) a identificação e (ii) a diferenciação dos produtos e serviços<br />
de um vendedor.<br />
Outro conceito importante para ser revisitado, ainda que rapidamente para se entender<br />
o papel dos elementos de marca, é o conceito de brand equity. Segundo Keller<br />
(2008), embora existam várias visões diferentes de brand equity, a maioria dos autores<br />
concorda que o conceito tem a ver com os efeitos de marketing atribuíveis exclusivamente<br />
a uma marca. Portanto, entender melhor o conceito de brand equity é chave para<br />
entender como os elementos de marca podem afetá-lo.<br />
Para Aaker (2000) o conceito de brand equity pode ser entendido como o conjunto<br />
de ativos associados a uma marca, seu nome e seus símbolos, e que podem ser somados<br />
ou subtraídos do valor proporcionado por um produto ou serviço. Tal capacidade<br />
está baseada em um conjunto de grupos de recursos: lealdade, conhecimento, qualidade<br />
percebida, associações da marca e outros ativos.<br />
Para Kapferer (2003) o conceito de brand equity está relacionado com a capacidade<br />
que uma marca tem como fator de vantagem competitiva e de redução de riscos para<br />
O uso e a proteção de sinais não tradicionais no processo de identificação..., José C. de Lima Jr., Marcos Machado e Geraldo L. Toledo, p. 37-50<br />
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seu detentor. Uma marca forte permite preços superiores, usufrui de lealdade dos consumidores<br />
e permite alavancar a lucratividade.<br />
2.2 Elementos de Marca<br />
Segundo Keller (2008), elementos de marca são aqueles que servem para<br />
identificar e diferenciar a marca. Os principais elementos de marca são: nomes de<br />
marcas, domínios na internet, logotipos, símbolos, personagens, slogans, jingles e<br />
embalagens. Sob a ótica da gestão de marcas, as decisões de escolha e divulgação<br />
dos elementos de marca são feitas de modo a construir o maior brand equity<br />
possível. Neste sentido, não se deve perder a noção do papel que os elementos de<br />
marca podem ter em uma melhor identificação e diferenciação, principais objetivos<br />
de uma marca. Desta forma, elementos de marca podem ser escolhidos para:<br />
aprimorar conhecimento de marca; facilitar a formação de associações de marca<br />
fortes, favoráveis e exclusivas; ou provocar julgamentos e sentimentos de marca<br />
positivos. Uma boa forma de identificar a contribuição dos elementos de marca<br />
é avaliar o que os consumidores pensariam sobre o produto se conhecessem somente<br />
seu nome de marca, logotipo e outros elementos. Um elemento de marca<br />
que proporciona uma contribuição positiva para o brand equity, é aquele elemento<br />
por meio do qual os consumidores presumem ou inferem certas associações ou<br />
respostas valorizadas.<br />
Ainda segundo Keller (2008) há seis critérios para escolher elementos de marca:<br />
memorabilidade, significância, simpatia, transferibilidade, adaptabilidade e proteção.<br />
A memorabilidade é a facilidade com que um elemento de marca é memorizado.<br />
Significância está relacionada com as associações diretas de significados<br />
à que o elemento de marca remete. Simpatia é o julgamento subjetivo sobre a<br />
forma como um elemento de marca é aceito pelo público. Transferibilidade é a<br />
capacidade do elemento de marca ser utilizado em diferentes contextos, novas<br />
categorias, extensões de linhas etc. Adaptabilidade está relacionada com a flexibilidade<br />
do elemento de marca para atualizações ao longo do tempo. Finalmente,<br />
a proteção tem relação com as condições que a empresa tem para proteger o elemento<br />
de marca tanto legalmente como competitivamente.<br />
Os três primeiros critérios (memorabilidade, significância e simpatia) podem ser<br />
caracterizados como de natureza de “construção de marca” e referem-se ao modo<br />
como o brand equity pode ser construído mediante a escolha de um elemento de<br />
marca. Os três últimos, entretanto, são de natureza mais “defensiva” e relacionam-se<br />
com o modo como um elemento de marca pode ser preservado.<br />
Os elementos de marca até aqui citados (nomes de marca, domínios na internet, logotipos,<br />
símbolos, personagens, slogans, jingles e embalagens) podem ser classificados<br />
como os elementos de marca tradicionais. Tratam-se dos elementos mais abordados na<br />
literatura, aqueles que as empresas mais utilizam e, consequentemente, aqueles que<br />
estão mais adiantados em termos de possibilidades, proteção legal e competitividade.<br />
40<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
No entanto, o principal objetivo deste artigo é analisar as implicações do uso dos<br />
elementos de marca não tradicionais, por parte das empresas. Tratam-se de novas<br />
oportunidades de identificação e diferenciação para marcas, elementos estes que<br />
estão sendo cada vez mais utilizados por diferentes empresas para se destacarem da<br />
concorrência. Entre tais elementos não tradicionais há o cheiro (marca olfativa), sinais<br />
sonoros, concepção arquitetônica e formato de produto, entre outras (Quadro 1). Justamente<br />
por serem elementos não tradicionais, tais elementos constituem no presente<br />
momento excelentes oportunidades pouco exploradas. No entanto, dado seu caráter<br />
novo, oferecem diversas limitações quanto à proteção legal e competitiva.<br />
2.3 Tendências ao uso dos elementos de marca: sinais tradicionais e<br />
sinais não tradicionais<br />
Se fosse possível definir, em poucas palavras, uma das principais características<br />
que deve ser considerada pelo marketing do século XXI, certamente o excesso de estímulo<br />
externo a que está exposto um consumidor figuraria como elemento central.<br />
Segundo Lindstrom (2005), no ano de 1965, aproximadamente 34% dos consumidores<br />
americanos conseguiam fixar o nome de uma marca após a exibição de<br />
um comercial na TV. Trinta anos depois, somente 8% são capazes de fazê-lo. Para<br />
Lindstrom (2005), um consumidor com idade de 65 anos já esteve exposto a dois<br />
milhões de comerciais somente via televisão, número que equivale a uma média<br />
de seis anos de anúncios, assistidos durante 8 horas por dia, 7 dias da semana. Se<br />
antes um produto fazia uso de poucos canais para apresentar-se ao consumidor,<br />
nos dias atuais as formas de estimular esse mesmo consumidor foram potencializadas<br />
com o surgimento de novas mídias e da portabilidade de muitas delas. Para<br />
Volmer e Precourt (2010), assiste-se o início de uma era onde os enfoques tradicionais<br />
de marketing não são mais viáveis, pois gradativamente o comando passa a<br />
ser do consumidor.<br />
Fazendo uso do varejo, Esbjerg e Bech-Larsen (2009) citam a arena que se transformou<br />
um supermercado moderno, destacando a liberdade que o consumidor<br />
tem para fazer as suas escolhas. Se antes a arquitetura de uma marca se ocupava,<br />
principalmente, da relação marca/produto, em uma realidade mais competitiva,<br />
Esbjerg e Bech-Larsen (2009) afirmam que essa mesma arquitetura de marca também<br />
precisa se ocupar das formas e dos meios em que ocorre a imersão do consumidor<br />
nesse universo de marcas.<br />
Os sinais tradicionais de uma marca, como nome, logotipo, slogan, personagem,<br />
se tornaram insuficientes para chamar a atenção do consumidor, sobretudo<br />
após a internacionalização do comércio e o acirramento da concorrência. Surgem<br />
assim estudos realizados por vários pesquisadores (JIN NA et al., 2008; VAVER,<br />
2005; KUMAR; JOSHI, 2006; RAZ et al., 2008; ESBJERG; BECH-LARSEN, 2009), que<br />
incluíram os sinais não tradicionais ao corpo teórico da literatura de marcas, como<br />
som, cheiro, design, o que Raz et al. (2008) denominam de Marketing Sensorial.<br />
O uso e a proteção de sinais não tradicionais no processo de identificação..., José C. de Lima Jr., Marcos Machado e Geraldo L. Toledo, p. 37-50<br />
41
2.3.1 Sinais tradicionais<br />
Durante muito tempo, os principais elementos de uma marca foram o nome, o<br />
domínio de internet, logotipos, símbolos, personagens, porta-vozes, slogans, jingles,<br />
embalagens Para apresentar as promessas de um produto ao consumidor,<br />
esses elementos fazem uso da propaganda para que esse consumidor possa perceber<br />
os benefícios oferecidos pela organização e assim construir a identidade<br />
desta marca (CRAVENS; PIERCY, 2007). Para Alcock et al. (2003), uma marca forte é<br />
a melhor estratégia para uma empresa ser percebida entre vários competidores,<br />
razão que faz Keller (2008) afirmar que o emprego coordenado desses elementos<br />
deve permitir uma contribuição positiva para a marca.<br />
Historicamente, os meios impressos dominaram a comunicação das marcas durante<br />
muito tempo. Com o surgimento e o acesso do consumidor aos meios eletrônicos,<br />
como a TV e o rádio, essas novas mídias foram então utilizadas com o objetivo<br />
de divulgar a imagem para determinado produto. A partir dos anos de 1990, com<br />
o surgimento e o desenvolvimento da Internet, o mundo virtual passou a ser empregado<br />
nas estratégias corporativas, inicialmente por meio de um domínio URL,<br />
e posteriormente com a interação de serviços e redes criados exclusivamente para<br />
acesso de usuários fidelizados. Nos dias atuais, a portabilidade de equipamentos e o<br />
fácil acesso ao cyberespaço, ilustrado recentemente nos smartphones, os elementos<br />
tradicionais de uma marca gradativamente passam por um processo de adaptação,<br />
principalmente quanto à aplicabilidade, uma vez que o excesso de informação impacta<br />
diretamente na percepção do consumidor (ZEKOS, 2006; LINDSTROM, 2005).<br />
É possível afirmar que as mudanças vivenciadas pelos sinais de uma marca estão<br />
condicionadas às alterações que ocorreram nos meios de acesso ao consumidor.<br />
Quando os meios de informação eram reduzidos e o número de empresas<br />
ofertantes para determinado produto era igualmente menor, era possível inferir<br />
que o controle estava na organização. Com a ampliação dos meios de comunicação<br />
e o acirramento da concorrência, o consumidor passou a ter mais condições<br />
de escolha sobre o canal de que faz uso para se informar, motivo este que, ainda<br />
que não único, é por si só suficiente para o surgimento de estratégias de marketing<br />
mais eficientes que visam alcançar este mesmo consumidor em boa parte da<br />
sua trajetória diária. Assim, uma sala de cinema ou um passeio pelo corredor de<br />
um centro de compras se tornaram meios relevantes para as organizações. Porém<br />
estes lugares não seriam plenamente atendidos se estas marcas fizessem uso somente<br />
dos sinais tradicionais. Tem-se assim a necessidade de complementar a comunicação<br />
entre o produto e o usuário de maneira que ela se torne mais eficiente,<br />
razão esta que se faz crescer, nos dias atuais, o uso dos sinais não tradicionais.<br />
2.3.2 Sinais não tradicionais<br />
Os sinais não tradicionais para comunicação da marca aos poucos estão sendo<br />
descobertos. A marca de cosméticos Nívea realizou recentemente uma ação nos<br />
42<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
cinemas alemães em que, após a exibição de um filme de 60 segundos, a fragrância<br />
do seu protetor solar espalhou-se pela sala acompanhada do slogan “Nivea.<br />
The scent of summer” (Nivea. O Aroma do Verão). Esta técnica foi batizada de “Endorphin<br />
Branding” por C. Russell Brumfield e já faz parte do portfólio de mídia para<br />
potenciais anunciantes da rede Cinescent (BRANDING WEEBLY.COM, 2008).<br />
Ações de marketing olfativo fizeram com que empresas especializadas surgissem<br />
no Brasil, como a Biomist, cuja função é desenvolver aromas específicos para<br />
empresas de varejo, buscando ampliar o apelo emocional e distinguir a marca do<br />
anunciante (BIOMIST, 2012).<br />
Para a valorização da marca, os sinais tradicionais foram extrapolados para os<br />
cinco sentidos humanos, no que Vilhena Neto (2009) denomina de “Classificação<br />
Sensorial” ou “Marketing Sensorial”, denominação esta de Raz et al. (2008).<br />
Fonte: Vilhena Neto (2009, p. 14-15).<br />
Quadro 1 - Espécies de marcas não-tradicionais<br />
Marcas tridimensionais<br />
Marcas compostas por cores isoladas ou combinadas<br />
Marcas compostas por hologramas<br />
Marcas compostas por slogans<br />
Perceptibilidade Visual<br />
Marcas compostas por títulos de obras autorais<br />
Marcas compostas por imagens em movimento<br />
Marcas de posição<br />
Marcas gestuais<br />
Marcas prediais ou arquitetônicas<br />
Marcas sonoras musicais<br />
Perceptibilidade Auditiva<br />
Marcas sonoras não-musicais<br />
Perceptibilidade Olfativa Marcas olfativas<br />
Perceptibilidade Táctil Marcas tácteis<br />
Perceptibilidade Gustativa Marcas gustativas<br />
Outra fonte de sinal não tradicional e que recebeu um criterioso estudo por Kumar<br />
e Joshi (2006) foi o uso e o emprego das cores. Estes autores destacaram que as<br />
cores prevalecem no dia-a-dia do consumidor conforme a sua cultura, estando esta<br />
associada ao aspecto dominante que este mantém em sua própria personalidade,<br />
seja ela política, religiosa ou racial. Kumar e Joshi (2006) ilustram essa afirmação por<br />
meio do emprego das cores na política: o vermelho na ideologia comunista ou socialista,<br />
o azul nos partidos conservadores, o preto no fascismo ou neo-fascismo, o<br />
rosa nos partidos moderados, o amarelo nos liberalistas e o verde nos partidos com<br />
direcionamento ambiental. Tem-se assim uma importante observação: quando se<br />
considera que todo indivíduo vive imerso em um universo de marcas, entender a<br />
cultura e empregar corretamente as cores permitem um melhor estímulo às próprias<br />
aspirações pessoais desse consumidor, propiciando maior interação e reduzindo<br />
o universo competitivo das marcas por meio de suas próprias aspirações.<br />
Segundo Orozco e Conley (2008), todo consumidor tende a desconstruir a marca<br />
em elementos visuais, criando diferentes pontos de vista sob a mesma. Portanto, se<br />
O uso e a proteção de sinais não tradicionais no processo de identificação..., José C. de Lima Jr., Marcos Machado e Geraldo L. Toledo, p. 37-50<br />
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a função primária da marca é identificar e distinguir o produto (KAPFERER, 2003), todos<br />
os sinais presentes, tanto na marca como no produto, obrigatoriamente devem ser<br />
observados. Esta desconstrução, a princípio intangível no universo das marcas, é facilmente<br />
tangibilizada nos produtos quando se observa a migração de valor de designs<br />
ultrapassados por novos designs que oferecem valor adicional (CRAVENS; PIERCY, 2007),<br />
destacando o sinal não tradicional design ou “marca tridimensional”.<br />
Em matéria veiculada no The Wall Street Journal (OROZCO; CONLEY, 2008), esta situação<br />
foi bem ilustrada pelos mecanismos de proteção utilizados pela Apple para o<br />
iPod. A inovação do design do produto e o direito de propriedade intelectual tiveram<br />
que ser protegidos como elementos importantes da vantagem competitiva que objetivava<br />
a companhia, colocando não somente o design do produto, mas também as<br />
interfaces que este teria com o consumidor. Todo este conjunto-produto formado por<br />
cores, embalagens, configuração do produto, sinais, estilização, texturas e ornamentos<br />
em geral que seriam capazes de identificar o produto iPod e diferenciá-lo dos demais<br />
é denominado na literatura dos sinais não tradicionais de trade dres, e nos dias atuais é<br />
uma das áreas mais nebulosas de proteção da Propriedade Intelectual (DANIEL, 2006).<br />
Outro importante mecanismo de sinalização da marca é o som. A Intel conseguiu<br />
minimizar a necessidade visual da própria marca, sendo facilmente identificada pelos<br />
acordes veiculados em suas propagandas (ZOGBI, 2008). Outros exemplos também se<br />
destacam. Em matéria veiculada no Mundo do Marketing, o som nas marcas foi definido<br />
como “logosom” por profissionais da área, já sendo bastante difundida e utilizada<br />
por diversas empresas como Motorola, Nokia e TV Globo (ZOGBI, 2008).<br />
A partir da expansão dos sinais não tradicionais, a territorialidade da marca proposta<br />
por Kapferer (2003) é ampliada na personalidade e no estilo da marca como<br />
importante elemento de identificação em mercados cada vez mais competitivos,<br />
possibilitando, até em meios ainda não plenamente compreendidos plenamente<br />
pelo marketing, como o ciberespaço, um melhor posicionamento (ZEKOS, 2006),<br />
ou, nas palavras de Raz et al. (2008, p. 719), trata-se de uma “contínua inovação<br />
para a empresa manter-se na liderança”.<br />
2.4 Possibilidades de Proteção para os sinais não tradicionais<br />
As possibilidades de proteção para os sinais não tradicionais ainda carecem de muitas<br />
regras em vários países. No Brasil, somente com a nova Lei de Propriedade Industrial<br />
datada de 14/05/1996 (Lei 9.279/96) é que o registro das marcas tridimensionais, um<br />
dos elementos não tradicionais, passou a ser contemplada. Os Estados Unidos foram os<br />
pioneiros ao ampliar o próprio conceito de marca, como fonte de identificação e diferenciação,<br />
e incluir as formas de proteção também para cores, sons, aromas, movimentos,<br />
hologramas e outras formas imagináveis de representação da marca (SIEMSEN; LEIS,<br />
2010). Segundo Siemsen e Leis (2010, p. 4), “as cortes americanas já proferiram inúmeras<br />
decisões permitindo o registro de marcas não-tradicionais, baseadas no princípio de que<br />
o importante é a capacidade distintiva da marca, não importando sua natureza”.<br />
44<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
A Europa, por meio da International Trademark Association, publicou um documento<br />
apresentando os atuais estágios de proteção de marcas dos 36 países que<br />
representa, destacando, principalmente, as cores e as marcas tridimensionais. No<br />
Quadro 2, são apresentados 24 países selecionados pela sua importância econômica,<br />
incluindo a União Europeia.<br />
É possível notar que o registro dos sinais não tradicionais ainda carece de regulamentação<br />
em vários países. Entre os principais motivos, Vadi (2009) apresenta a dificuldade<br />
de precisar o limite da lei pública, que observa os interesses da sociedade, da lei<br />
de proteção individual, que observa os interesses de um agente específico. Como afirma<br />
Correa (2004), quando este diz que a marca passa a estar inserida na infinita teia de<br />
sinais que formam as conexões entre o indivíduo e o mundo exterior. Com premissa tão<br />
ampla, é compreensível que exista muito campo para ser estudado nos próximos anos.<br />
Albânia<br />
Alemanha<br />
Áustria<br />
Quadro 2 - Formas de proteção não tradicionais para<br />
cores e marcas tridimensionais – países selecionados<br />
PAÍS MARCA POR CORES MARCAS TRIDIMENSIONAIS<br />
Benelux (Bélgica,<br />
Holanda,<br />
Luxemburgo)<br />
Bulgária<br />
Dinamarca<br />
Espanha<br />
Finlândia<br />
França<br />
Grécia<br />
Hungria<br />
Não há restrição. É possível registrar uma<br />
cor ou uma combinação de cores sem<br />
nenhum design especial.<br />
É possível registrar combinações de cores,<br />
desde que seja diferenciado o emprego<br />
em bens ou serviços.<br />
A representação deve ser clara e<br />
permanente, devendo ser distinguido<br />
entre bens e serviços.<br />
É possível registrar, mas precisa estar claro<br />
sob quais signos serão representados<br />
graficamente.<br />
Aceita o registro somente de cores<br />
combinadas e jamais isoladas.<br />
Todos os signos são passíveis de registro.<br />
As cores precisam ser especificadas<br />
quanto a sua aplicação.<br />
Tradicionalmente não permite o registro<br />
das cores, pois somente as cores não são<br />
passíveis de identificação suficiente.<br />
Certamente é a que tem maior dificuldade<br />
de registro, pois devem ser apresentadas<br />
todas as diferenciações da cor em questão<br />
com relação às demais.<br />
Aceita registro, desde que seja precisado a<br />
cor na escala internacional Pantone.<br />
As cores sem outros elementos de<br />
identificação não são aceitos para registro.<br />
É possível registro. Solicita somente o<br />
emprego se para bens ou serviços.<br />
É possível registrar, mas com algumas<br />
restrições.<br />
É possível registrar somente a embalagem.<br />
A legislação alemã não aceita o registro<br />
do signo.<br />
Foca especificamente as embalagens.<br />
É possível registrar, mas precisa estar claro<br />
qual a natureza e o emprego.<br />
Não há leis específicas de proteção. Estão<br />
subordinadas às leis do próprio país<br />
Somente algumas formas tridimensionais<br />
são aceitas, geralmente por critério de<br />
relevância.<br />
Permite o registro desde que detalhado<br />
as finalidades e funcionalidades, incluindo<br />
palavras e design.<br />
Extremamente simples. Um original 3D já<br />
é passível de registro.<br />
Atualmente alguns registros são<br />
aceitos sem objeções, desde que sejam<br />
diferenciados.<br />
São aceitos registros.<br />
É possível registro.<br />
Continua...<br />
O uso e a proteção de sinais não tradicionais no processo de identificação..., José C. de Lima Jr., Marcos Machado e Geraldo L. Toledo, p. 37-50<br />
45
Irlanda<br />
Itália<br />
Polônia<br />
Portugal<br />
Reino Unido<br />
República<br />
da Bósnia<br />
Herzegovina<br />
46<br />
PAÍS MARCA POR CORES MARCAS TRIDIMENSIONAIS<br />
República Tcheca<br />
Romênia<br />
Rússia<br />
Devido às leis não fazerem menção ao uso<br />
e emprego das cores, há dificuldade para<br />
registro.<br />
É possível registro. As leis aceitam cores e<br />
combinações em diferentes tonalidades.<br />
Desde junho de 200 são consideradas<br />
como integrantes de uma marca.<br />
Deve-se distinguir o emprego para<br />
registro das cores. Há maior dificuldade.<br />
É possível registro desde que especificado<br />
o emprego e uso.<br />
É possível registrar sem nenhuma<br />
restrição.<br />
Desde abril de 2004 não são aceitos o<br />
registro de cores.<br />
As cores e suas combinações constituem<br />
partes da marca. É possível registro.<br />
Permite registro, mas há grande<br />
dificuldade, pois exige a especificação<br />
detalhada da aplicação.<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011<br />
Há forte dificuldade no registro de marcas<br />
tridimensionais. As leis especificam<br />
somente palavras, design, letras, números<br />
e embalagens (extremamente genérico).<br />
É possível registro, exigindo somente a<br />
natureza e o emprego.<br />
Desde junho de 200 são consideradas<br />
como integrantes de uma marca.<br />
É possível registro.<br />
É possível registro.<br />
É possível registrar sem nenhuma<br />
restrição.<br />
É possível fazer registros somente<br />
para embalagens, apesar das marcas<br />
tridimensionais não serem usualmente<br />
diferenciadas.<br />
Formas 3D constituem partes da marca. É<br />
possível registro.<br />
Não permite registro, pois são<br />
considerados como elementos funcionais<br />
de domínio comum.<br />
Suécia<br />
A lei atual apresenta dificuldade de<br />
interpretação, pois solicita o detalhamento<br />
para bens e serviços. Não considera as<br />
cores como parte funcional para registro<br />
de uma marca.<br />
Similar ao registro de marca de cores.<br />
Suíça É possível registro. É possível registro.<br />
União Europeia<br />
Quadro 2 - Formas de proteção não tradicionais para<br />
cores e marcas tridimensionais – países selecionados<br />
É possível registrar uma combinação de<br />
cores, mas deve estar claro os parâmetros<br />
de uso.<br />
É possível registrar, mas não diferencia a<br />
natureza do produto (bens/serviços).<br />
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de International Trademark Association (2005).<br />
Considerações Finais<br />
É consenso que a competição tende a se acirrar nos próximos anos. Sendo a marca<br />
a melhor forma de identificação e diferenciação do produto, os elementos que a<br />
compõe receberão cada vez mais atenção conforme são intensificadas as relações<br />
de concorrência.<br />
No momento atual, é possível notar que o crescimento dos sinais não tradicionais<br />
destaca, simultaneamente, tanto o esgotamento dos sinais tradicionais na função primária<br />
de identificação e diferenciação, como a necessidade de ocupar um espaço na<br />
atenção, cada vez mais seletiva, do consumidor.
Partindo destas premissas, várias empresas já notaram as oportunidades e passaram<br />
a incluir em suas mensagens elementos não tradicionais. O alinhamento estratégico<br />
entre os sinais tradicionais e não tradicionais devem contribuir para o brand equity,<br />
porém precisam estes últimos observar os seis critérios propostos por Keller (2008):<br />
memorabilidade, significância, simpatia, transferibilidade, adaptabilidade e proteção.<br />
No entanto, é no último critério proposto por Keller (2008) que nos dias atuais reside<br />
o maior desafio, já que a proteção legal ainda carece de melhor definição para<br />
salvaguardar o proprietário da marca; conforme destaca Vadi (2009), há dificuldade de<br />
precisar os limites entre a lei pública e a lei de proteção individual.<br />
Em cenários de indefinição, é importante investir em ações de proteção competitiva,<br />
propiciadas principalmente pelas ferramentas de comunicação.<br />
Especificamente no Brasil, apesar de suscitar o questionamento sobre a normalidade<br />
de a legislação estar atrasada em relação a outros países e regiões, como<br />
Europa e Estados Unidos, há que destacar o pouco uso dos sinais não tradicionais<br />
pelas organizações locais.<br />
É possível supor que, em um futuro próximo, quando a atenção corporativa se voltar<br />
para esta nova forma de estar presente no cotidiano dos consumidores, deverão ser<br />
ampliados os investimentos na criação dos elementos não tradicionais, forçando assim<br />
a necessidade de modificar as atuais regras de registro no âmbito institucional.<br />
Sob os atuais condicionantes, as organizações enfrentam muitos riscos que são potencializados<br />
pela não proteção, destacando-se a possibilidade de cópia que é inerente<br />
no universo das marcas. Entretanto, é preferível para essas mesmas organizações atentar-se<br />
para esta oportunidade de valorizar a própria marca pelo uso destes elementos<br />
não tradicionais, ao invés de correr o risco de preterir o seu uso.<br />
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49
50<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
Top management team international<br />
dominant logic: a new linkage in<br />
the international diversificationperformance<br />
link<br />
Abstract: The shift away from the general<br />
focus on the importance of the CEO<br />
(Chief Executive Officer) of organizations<br />
is the basis of this paper. Their proposed<br />
new focal point of importance now lays<br />
on the Top Management Team (TMT) as<br />
the important locus of decision making,<br />
thus making this group the central focus<br />
for management analysis. The hypothesis<br />
that the firm itself (its structure and<br />
strategies) is correlated to the mindset<br />
Introduction<br />
Douglas E. Thomas *<br />
* Department of Management. Texas A&M University. E-mail: dthomas@tamu.edu<br />
of the TMT has been expanded to contemplate<br />
the firm’s diversification decisions<br />
and the relationship with firm’s<br />
performance. The author proposes four<br />
views of analysis to understand the relationships<br />
between the dominant logic<br />
for company management, being it international<br />
or not, and its performance.<br />
Keywords: Decision. Strategic management.<br />
Problem solving behavior.<br />
The past fifteen years of strategic management research has greatly increased our<br />
understanding of the importance of top management team (TMT) characteristics<br />
and composition in corporate strategy and performance. In general, management researchers<br />
have shifted away from a general focus on the importance of the firm’s chief<br />
executive officer (CEO) and introduced the TMT as focal point of study (FINKELSTEIN;<br />
HAMBRICK, 1996). This shift reflects the understanding that the TMT is the important<br />
locus of decision making in organizations and that the interactions ongoing within this<br />
group is the relevant level of analysis. Further, upper echelon theorists have hypothesized<br />
that the firm itself (its strategies and structure) is to a large degree a reflection of<br />
the top management team (HAMBRICK; MASON, 1984). In a related stream of research,<br />
the administrative heritage of the top management team or its dominant logic is posited<br />
to affect the way in which it develops and implements corporate strategy and firm<br />
outcomes (PRAHALAD; BETTIS, 1986; BARTLETT; GHOSHAL, 1989; BETTIS; PRAHALAD,<br />
1995). A TMT’s dominant logic is defined as its “mind set or world view or conceptualization<br />
of the business and the administrative tools to accomplish goals and make decisions”<br />
which is stored as a “a shared cognitive map (or set of schemas) among the dominant<br />
coalition” (PRAHALAD; BETTIS, 1986, p. 491). The dominant logic, for example, has<br />
been theorized as a crucial link in the relationship between the firm’s level and degree<br />
of product diversification and firm financial performance (PRAHALAD; BETTIS, 1986).<br />
Top management team international dominant logic: a new linkage in the international diversification..., Douglas E. Thomas, p. 51-64<br />
51
In addition to diversifying along product lines, firms also diversify internationally.<br />
International diversification 1 is the degree to which multinational firms expand their<br />
sales and operations abroad across national political boundaries. Recently, researchers<br />
have begun to extend upper echelon theory to explain the relationship between<br />
the TMT and the firm’s international diversification strategy (VOLKMAR, 1998; SAMB-<br />
HARYA, 1996; ATHANASSIOU, 1995). The effects that international diversification has<br />
on firm financial performance has also been explored (GERINGER, BEAMISH, DACOS-<br />
TA, 1989; HITT, HOSKISSON,; KIM, 1997; although mixed results have been found in<br />
empirical tests of this relationship (e.g., GRANT, 1987; DANIELS; BRACKER, 1989; COL-<br />
LINS, 1990; BUHNER, 1987). For example, Hitt et al. (1997) found an inverted U relationship<br />
between international diversification and performance; further, they found<br />
that the level of firm product diversification moderates the relationship. Further,<br />
they suggest that management of international and product diversification may be<br />
an important link in the relationship. TMT researchers, however, have not specifically<br />
explored the relationship that the firm’s dominant logic, international diversification<br />
and performance may have with each other.<br />
This paper has several purposes. First, I propose a new construct to the strategic<br />
management literature that is theorized to affect the relationship between international<br />
diversification and performance: the international dominant logic. Following<br />
Prahalad and Bettis (1986), the international dominant logic is the dominant coalition’s<br />
(TMT) mindset toward and administration of its international business (sales<br />
and operations); it is stored as a shared cognitive map amongst TMT members. The<br />
international dominant logic differs from the dominant logic proposed by Prahalad<br />
and Bettis in the sense that the dominant logic has previously focused on the TMT’s<br />
towards managing its product diversified portfolio whereas the international dominant<br />
logic specifically focuses on management’s orientation towards managing its<br />
international portfolio of operations and the unique causes of this orientation. [In a<br />
more general sense, the author recognizes that this difference between the two may<br />
be a matter of semantics; in other words, in a purely theoretical sense, the construct<br />
of the dominant logic likely includes what I am calling here the international dominant<br />
logic. In this sense, what I am proposing here is not a separate “construct”; the<br />
use here, then, is for more practical reasons - to emphasize the international context<br />
of my argument. I don’t think this hurts my argument but welcome any suggestions<br />
or comments (e.g., maybe I shouldn’t be using the word construct here)]<br />
The international dominant logic construct builds on previous research in global<br />
strategic management research that has focused on firm management’s cognitive<br />
orientation towards its international operations. Researchers have suggested that the<br />
firms of management with certain (which will be further explained later in the paper)<br />
mind sets towards its international operations may be more likely to diversify internationally<br />
(SAMBHARYA, 1996) and may lead to improved firm performance (BARTLETT;<br />
1 International diversification has been defined as “expansion across borders of global regions and countries into<br />
different geographic locations, or markets” (Hitt, Hoskisson, and Kim, 1997). (To this point this simple definition of<br />
international diversification is sufficient; however, later in this paper, a more refined definition will be necessary).<br />
52<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
GHOSHAL, 1989; CALOF; BEAMISH, 1994). The second purpose of this paper then is to<br />
explore the antecedents of the TMT’s international dominant logic. For example, I identify<br />
previous international experience as an important source of the TMT’s international<br />
dominant logic. Third, I argue that the TMT’s international dominant logic is a crucial link<br />
in the relationship between a firm’s international diversification strategy and its performance.<br />
More specifically, I posit that management’s learned problem solving behavior<br />
and cognitive map with respect to its increasingly diversified portfolio of international<br />
operation is related to firm performance. Finally, I explore the relationship that the<br />
TMT’s dominant logic may have with its international dominant logic and any potential<br />
effects that this relationship may have on firm performance.<br />
The dominant logic<br />
As was previously mentioned, Prahalad and Bettis (1986) introduce the construct of<br />
managerial dominant logic in the strategic management literature. A TMT’s dominant<br />
logic is defined as a “mind set or world view or conceptualization of the business and<br />
the administrative tools to accomplish goals and make decisions” which is stored as a<br />
“a shared cognitive map (or set of schemas) among the dominant coalition” (p. 491). A<br />
schema is a knowledge system that represents a manager’s “beliefs, theories, and propositions<br />
that have developed over time based on the manager’s personal experiences”<br />
(p. 489). The dominant coalition is the top management team. The TMT’s dominant<br />
logic is “expressed as a learned, problem-solving behavior” (p. 491). The TMT’s dominant<br />
logic results from: 1. operant conditioning (positive reinforcement), 2. pattern recognition<br />
processes and 3. cognitive biases 4. personal experiences. TMT’s may have single or<br />
multiple dominant logics, depending on the strategic variety (e.g., the relatedness and<br />
unrelatedness of the firm’s product diversification portfolio) of the firm. TMTs working<br />
in one product line or business (i.e., an undiversified firm) may have a single dominant<br />
logic - only one paradigm by which they manage that business. TMT’s of firms that have<br />
diversified into unrelated businesses may have developed multiple dominant logics -<br />
one dominant logic that that guides their decision making in one line of business and<br />
another in an unrelated business.<br />
Prahalad and Bettis (1986) suggest that because the dominant logic is a learned<br />
problem solving behavior that TMTs may learn to adjust the dominant logic according<br />
to the demands of managing the business. Significant changes in the demands necessary<br />
for managing the existing business (e.g., significant changes in the firm’s operating<br />
environment) of a firm with a single dominant logic TMT may require the TMT to<br />
make adjustments to its dominant logic in order for the firm to succeed. Further, TMTs<br />
may learn new dominant logics - adding to their existing dominant logic(s). The TMT of<br />
a single dominant logic firm may add an additional dominant logic(s) and become a<br />
multiple dominant logic TMT or the TMT of a multiple dominant logic firm may add an<br />
additional dominant logic(s). For example, when diversifying into a new product line or<br />
business, the TMT of a single dominant logic firm may adjust its dominant logic or add<br />
new ones depending on the relatedness of the diversification. If the new business is<br />
related or similar to the existing business, then the TMT may be able to manage it with<br />
Top management team international dominant logic: a new linkage in the international diversification..., Douglas E. Thomas, p. 51-64<br />
53
the same dominant logic with which it has managed the existing business. Adding a<br />
new but dissimilar business will require a single or multiple dominant logic TMT to learn<br />
a new dominant logic that meets the demands of the new business in order for the<br />
diversification to improve firm financial performance.<br />
Thus, the dominant logic is malleable. It is a learned, problem-solving behavior;<br />
adjustments can be made to existing logics and new ones can be learned. As it<br />
is mentioned above, Prahalad and Bettis’s (1986) work on the dominant logic is<br />
specifically concerned with the dominant logic construct in the context of product<br />
diversification. In other words, the effects of the firm’s diversification strategy on<br />
firm financial performance is determined in part by the TMT’s dominant logic -<br />
the problem-solving behavior with which it implements the strategy. At the same<br />
time, no such work has been done with respect to the construct of dominant logic<br />
and its international diversification strategy.<br />
The international dominant logic<br />
Building on the dominant logic construct developed by Prahalad and Bettis (1986)<br />
for product diversification, we can extend the construct to the firm’s international diversification<br />
portfolio. The TMT’s international dominant logic is the cognitive map by<br />
which it manages its portfolio of internationally diversified operations. The TMT has<br />
learned this problem solving behavior through the firm’s previous experience in the<br />
international arena, from the cognitive biases of the individual TMT members, and<br />
from the success or failures that it has experienced in conducting its firm’s operations<br />
internationally. Similar, to the dominant logic construct, a firm may have a single international<br />
dominant logic or multiple international dominant logics. The international<br />
dominant logic(s) of the TMT depend in part on the degree of similarity or relatedness<br />
of the markets in which it operates internationally; further, it depends on the nature of<br />
those operations (e.g., exports, wholly owned subsidiaries, etc.). This concept will be<br />
further developed later in this paper. However, first, previous literature that provides the<br />
foundation for the international dominant logic will be reviewed.<br />
Previous research that supports the international dominant logic<br />
concept<br />
Previous research in international business reveals that the idea that executives and<br />
managers of firms have general mind sets towards areas, cultures, and business environments<br />
foreign to their own which affects their implementation of firm strategy in<br />
the international arena is not new. [Mind set is understood here to be quite similar to<br />
the dominant logic; it is a cognitive orientation or attitude developed over time based<br />
on personal experience and biases.] Perlmutter (1969) developed a typology which<br />
identifies three different managerial mind sets that affect the way in which executives<br />
manage the firm’s international strategy and structure: ethnocentric, polycentric, and<br />
geocentric mind sets.<br />
54<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
An ethnocentric manager has a strong home-country culture mind set in conducting<br />
firm operations overseas; strategies, structures, and other decisions are likely to<br />
reflect such a mind set. The dominant management mindset resulting from the firm’s<br />
home-country environment dominates management of the firm’s international operations.<br />
According to the typology, a firm led by predominantly ethnocentric managers<br />
will likely have an ethnocentric orientation. This assertion accords with upper-echelon<br />
theory that posits that the firm is a reflection of its top managers (HAMBRICK; MASON,<br />
1984). A manager with a polycentric mind set recognizes that there are differences<br />
between the cultures, markets, and business environments in which it operates and<br />
manages firm operations in light of such operations; however, strategies and structures<br />
dominate in the home-country still dominate the corporate strategy, structure, and culture.<br />
The geocentric managerial mindset recognizes the importance of each culture,<br />
subsidiary, and area as integral parts of the firm’s global system of operations. The focus<br />
in such a corporation is on a global strategy, structure and culture where no homecountry<br />
managerial mindset dominates. Further, the geocentric managerial mindset<br />
recognizes the need for local adaptations. Corporate strategy, structure, and culture reflect<br />
the geocentric mindset of top management.<br />
The implicit assumption in this typology is that the three types of mind sets lie along<br />
a continuum, with ethnocentrism on one extreme and geocentrism on the other. Further,<br />
Perlmutter’s writings implicitly assume that geocentrism is positively associated<br />
with performance. He suggests that management of firms involved in international<br />
operations should develop a geocentric mindset. Thus, his typology is both descriptive<br />
of what reality is and prescriptive to what it should be like. The emphasis that I wish to<br />
draw from his work is that managers do have specific mindsets with respect to managing<br />
their portfolio of internationally diversified operations.<br />
More recently, other researchers have developed similar typologies. For example,<br />
Bartlett and Ghoshal (1989) observe three different types of firms - the international,<br />
multinational, and global firm - that reflect the executives of the firm and the strategies<br />
that they have implemented. The international, multinational, and global typology basically<br />
translates to the ethnocentric, polycentric, and geocentric typology developed<br />
by Perlmutter (1969). Bartlett and Ghoshal (1989) are prescriptive as Perlmutter in that<br />
they propose a particular “solution” to improving firm performance when managing an<br />
internationally diversified portfolio of operations: the transnational solution or transnational<br />
approach to management.<br />
Transnational management cuts across the typology; it includes elements of all<br />
three mindsets: international, multinational, and global. Transnational management is<br />
characterized by focusing on a both a global strategy and local responsiveness. Managers<br />
of such a firm recognize the need to integrate operations across borders within a<br />
global strategy. At the same time, their mindset is towards responding to the needs of<br />
individual, local markets. Operations around the world are part of an integrated whole.<br />
The firm’s culture, strategy and structure represent the transnational mindset of management.<br />
The location of headquarters or any other country or culture does not affect<br />
the mindset of the managers. An example of such a firm is Asea Brown Boveri (ABB)<br />
Top management team international dominant logic: a new linkage in the international diversification..., Douglas E. Thomas, p. 51-64<br />
55
which is highly diversified internationally and which purposely has top managers from<br />
various culturally diverse areas. Their stated reason for doing so, is the idea that greater<br />
diversity amongst top managers brings the mind set necessary for managing a firm<br />
that is globally competitive but locally responsive. Bartlett and Ghoshal (1989) point<br />
out that the firm’s administrative heritage (which is quite similar to the dominant logic)<br />
is highly correlated with management’s mindset with respect to conducting its international<br />
operations. For firms wishing to follow the prescription, they point out that one<br />
way for managers to develop such a transnational mindset is through international experience.<br />
They suggest that in the future firm performance will be dependent to a large<br />
degree on management’s ability to adopt the transnational mindset.<br />
Both Bartlett and Ghoshal (1989) and Perlmutter (1969) suggest prescriptions for<br />
managers of multinational firms; they suggest that management’s adoption of geocentric<br />
or transnational mindsets with respect to managing international operations will<br />
have positive effects on firm financial performance. The main points to be taken from<br />
the two approaches is that managers have mindsets with respect to their firm’s international<br />
operations and that certain mindsets may have positive effects on performance.<br />
More recently, other researchers have specifically focused on the top management<br />
team and its relationship with firm international diversification strategy (the focus of the<br />
aforementioned authors was not on the TMT per se). For example, Athanassiou (1995)<br />
argues that TMT’s develop firm specific international business tacit knowledge through<br />
engaging in foreign operations. As firms diversify internationally, individual top management<br />
team members acquire international business tacit knowledge. Tacit knowledge<br />
refers to know-how or process knowledge that can not be written down. The international<br />
business tacit knowledge of individual TMT members is integrated across<br />
other TMT members to create a TMT level international business tacit knowledge. This<br />
idea stems from upper-echelon theory and its focus on group processes (HAMBRICK;<br />
MASON, 1984). The degree to which international business tacit knowledge is assimilated<br />
among TMT members can affect firm performance. Top managers use their international<br />
business tacit knowledge to manager their firm’s international operations. The<br />
international business tacit knowledge concept is similar to the concept of the international<br />
dominant logic – both are learned, problem solving behaviors that management<br />
uses to manage the firm’s international operations.<br />
Unfortunately, empirical tests of the hypothesized relationship between management’s<br />
international mind sets and firm performance are scant (i.e., that geocentric or<br />
transnational managerial mind set is positively correlated with performance). Calof and<br />
Beamish (1994), found that a geocentric mindset is positively related to performance<br />
based on the results of a questionnaire sent to executives of thirty-eight Canadian firms.<br />
Kobrin (1994) has convincingly argued and shown, in a survey of international<br />
human resource executives, that a geocentric mind set is not related to any specific<br />
international strategy or structure. “A centralized firm that is global in scope could be<br />
managed either ethno- or geocentrically, and it is also quite possible that a geocentric<br />
mind set could be prevalent in a firm that decentralizes responsibility but relies on<br />
56<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
socialization of managers for control” (p. 496). He argues that “geographic scope, strategy<br />
and structure, and cognitive orientation are distinct concepts and that a geocentric<br />
managerial mind-set is not a necessary correlate of either a firm’s position on the strategic<br />
continuum or its organizational structure” (p. 496). However, he did find that geocentrism<br />
was positively associated with geographic scope which for the purposes of<br />
this paper is similar to international diversification (foreign sales/total sales, number of<br />
countries with manufacturing operations, and percent of employees abroad). (It should<br />
be noted that his main research concern was the sources of geocentrism; he wanted to<br />
find out whether or not certain strategies or structures led to certain mind sets). Thus,<br />
“geographic scope, [international] strategy and structure, and [international] cognitive<br />
orientation are distinct concepts” (p. 496).<br />
Thus, recent research suggests that the proposed relationship between mindsets<br />
as they have been hypothesized and operationalized to this point may not always<br />
hold. The attitudes and mind sets outlined by previous researchers then may<br />
not qualify under the domain of dominant which indicates that attitudes and mind<br />
sets are expressed in strategies and structures. One possible explanation for such<br />
a discrepancy is that it takes time for the effects of the dominant logic to effect<br />
strategies and structures. There also may be problems with the operationalization<br />
of the geocentric mind set. Because of the difficulties encountered in empirical<br />
tests of the aforementioned typologies and their hypotheses, I propose a broader<br />
construct – the international dominant logic. This broader construct matches<br />
TMT’s mind sets to their strategies and structures; although the matching process<br />
may take time. It is clear based on this review of the literature that managers of<br />
firms do develop specific mindset and attitudes with respect to their international<br />
operations. Further, the previously reviewed work has focused on management in<br />
general but has not appeared to upper echelon theory per se. Thus, I propose that<br />
the top management teams of firms develop and maintain dominant logics with<br />
respect to managing their internationally diversified operations.<br />
A TMTs international dominant logic is its mindset or towards its firm’s international<br />
operations. It is expressed in its way of conducting is foreign operations. It is its<br />
learned problem-solving behavior – the cognitive map by which it manages its international<br />
portfolio of operations. The firm’s international dominant logic is not necessarily<br />
evolving continually along a continuum from ethnocentric to geocentric as has<br />
been suggested previously (KOBRIN, 1994) also argues against the continuum concept);<br />
although some firms may follow such an evolution. Simply put, the international<br />
dominant logic of a top management team and its firm is its mind set towards its international<br />
operations which is also expressed in its international structure and strategy.<br />
Further, following Prahalad and Bettis (1986), the TMTs of firms may have multiple<br />
international dominant logics. For example, as was previously mentioned, Bartlett and<br />
Ghoshal (1989) identify the transnational mind set which represents elements of the<br />
other mindsets that they identify - multinational, international, and global. Managers<br />
with a transnational mindset simultaneously apply elements each of the three; in other<br />
words, they have learned and are using multiple international dominant logics to manage<br />
international operations.<br />
Top management team international dominant logic: a new linkage in the international diversification..., Douglas E. Thomas, p. 51-64<br />
57
The international dominant logic concept deals with how top management conceives<br />
of and subsequently manages its international operations. Management of a<br />
firm may have operations in 18 different countries, spread out over 3 different regions;<br />
12 in “developed” and 6 in “developing” countries. They may only source from some<br />
of these countries and export its product to others. In some they have wholly owned<br />
subsidiaries managed by local managers; in others their only contact is a third party<br />
who coordinates sales of the firm’s product to retailers. Management may have a dominant<br />
logic for managing in certain regions – one for its operations in Africa, another<br />
for operations in Europe. The difference for management in thinking about managing<br />
operations in the two regions may be based in cultural differences that it has learned<br />
through experience or from cognitive biases. When thinking of its goals for developed<br />
and developing countries it may use different dominant logics that it has learned over<br />
time. The separation of different dominant logics for managing the two different types<br />
of countries may be based in market characteristics, technological infrastructure, political<br />
riskiness, among other factors. Some of the country’s economies may be characterized<br />
as market-oriented and other more as centrally planned. Some of the countries in<br />
which it operates may be allies of the country in which the firm is legally incorporated<br />
(its physical, legal headquarters) and others as political enemies. Management likely has<br />
different dominant logics for managing such diversity in its international operations.<br />
A firm that is headquartered in the United States and whose foreign operations consist<br />
of exports to Canada and to England may successfully manage operations with a<br />
single dominant logic. Thus, the concept differs from the ideas developed by Perlmutter<br />
and Bartlett and Ghoshal in that they prescribe certain mindsets for management and<br />
they identify a typology of specific mindsets. For example, Bartlett and Ghoshal suggest<br />
that the transnational solution may be a universal solution that top management of all<br />
firms engaged in international business may need to adopt. The concept of the international<br />
dominant logic does not prescribe geocentrism, transnationalism, or any other<br />
specific solution for all firms. For the firm just mentioned a geocentric or transnational<br />
mind set may be inappropriate. Indeed, Perlmutter, for example, may well classify the<br />
management of this firm to be ethnocentric which according to his hypothesis would<br />
not be positively related to firm performance. Instead, the international dominant logic<br />
recognizes that firms likely have multiple international dominant logics that do not necessarily<br />
fit into a three-category typology.<br />
Sources of the international dominant logic<br />
Prahalad and Bettis (1986) suggest four sources of a firm’s international dominant<br />
logic: operant conditioning (positive reinforcement), pattern recognition process, and<br />
cognitive biases and personal experience. With respect to the international dominant<br />
logic it appears that these origins also apply. For example, top management team member<br />
international experience has been identified as an indicator of international mind<br />
set (PERLMUTTER, 1969; ATHANASSIOU, 1995). One researcher recently operationalized<br />
a top management team member’s international mindset by using the length of<br />
time he or she had spent in international experience (SAMBHARYA, 1996). International<br />
58<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
experience, according to Sambharya (1996), represents three important issues for the<br />
firm. “First, international experience is a proxy for the reduction of uncertainty. Second,<br />
it is a surrogate for accumulating cultural knowledge. Third, international experience<br />
represents the response of firms to internationalize their TMT’s to the forces of an expanding<br />
global economy and markets.” (p. 741). International experience is likely an important<br />
source of the dominant logic of a firm’s top management team.<br />
Top management team members gain international experience in varied ways:<br />
overseas assignments, study abroad as part of higher education, living in foreign countries.<br />
Sambharya (1996) operationalized international experience as number of years<br />
spent abroad on assignment and/or higher education or spent in the international division.<br />
For the purposes of this paper, I suggest that international experience can come<br />
in varied ways. Managers develop their international mind set through direct experience<br />
but also through more indirect experience, including learning foreign languages,<br />
international travel (but not living abroad), studying international topics in college (e.g.,<br />
majoring in international relations). For example, the CEO of a major corporation may<br />
not have ever lived in a foreign country; however, because of the high degree of international<br />
diversification of his or her company and frequent travel to foreign subsidiaries,<br />
he or she develops more international experience. This experience, though indirect,<br />
contributes to his or her individual international dominant logic and thus, to that of the<br />
firm. Further, there is evidence that top managers of a firm learn from the international<br />
experience of other top managers. For example, Athanassiou (1995) suggests that TMTs<br />
develop team-level international business tacit knowledge through individual members’<br />
involvement in the firm’s overseas operations.<br />
International dominant logic: a crucial link in the international<br />
diversification – firm performance relationship<br />
Research in strategic management has also focused on the effects of international<br />
diversification strategies on firm financial performance. Most previous work has<br />
hypothesized a direct relationship between international diversification strategies<br />
and performance (GRANT, 1987; DANIELS; BRACKER, 1989; COLLINS, 1990; BUHNER,<br />
1987). Also, as has previously been noted, the work on managerial mindsets towards<br />
firm international operations has focused on direct effects on performance. Empirical<br />
tests of the relationship between international diversification and firm performance<br />
have found mixed results (Hit et al., 1997). Positive (e.g., GRANT, 1987; DAN-<br />
IELS; BRACKER, 1989), negative (e.g., COLLINS, 1990) and intermediate (e.g., BUHNER,<br />
1987) relationships have been found; other researchers (GERINGER; BEAMISH; DA-<br />
COSTA, 1989; HITT et al., 1997) have found an inverted U relationship between international<br />
diversification and firm performance. The latter authors point out that as<br />
firms diversify internationally there is first a positive effect on performance but then<br />
a threshold is reached and performance begins to decline. Their findings suggest<br />
that international diversification only has positive effects up to a certain point when<br />
it actually begins to have a negative effect. Generally, it has been pointed out that<br />
as international diversification increases, so do the complexities that top managers<br />
Top management team international dominant logic: a new linkage in the international diversification..., Douglas E. Thomas, p. 51-64<br />
59
have to manage. Coordination costs and control help explain such a relationship<br />
(HITT et al., 1997). What is important for my argument, is that how management<br />
manages the firm’s overseas operations is a key link in the relationship between its<br />
internationally diversified portfolio of operations.<br />
The idea that management plays a crucial role in the success of international operations<br />
is not new. Researchers have previously suggested that one of the most important<br />
constraints facing internationally diversified firms is the lack of international experience<br />
of managers (BARTLETT; GHOSHAL, 1992). Athanassiou (1995) argues that the degree<br />
to which individual top management team members assimilate international business<br />
knowledge tacit knowledge within the TMT will affect firm international performance.<br />
Barkema, Shenkar, Vermeulen, and Bell (1997) argue that as firms expand internationally<br />
they must “unlearn practices typical of their home countries” in order to have success<br />
in international joint ventures (p. 427). Finally, Hitt et al. (1997) note the “critical importance<br />
of the ability to manage…diversification” to firm performance (p. 793).<br />
Thus, following Prahalad and Bettis’ framework (reviewed earlier in paper) the<br />
outcome (firm performance) of firm strategy (diversification) depends on the dominant<br />
logic by which managers manage diversity. Thus, managing international diversity<br />
also depends on the TMTs international dominant logic. Prahalad and Bettis<br />
focus on the relatedness/unrelatedness or similarity/dissimilarity of the diversified<br />
businesses that the firms operates. The relatedness or similarity of international diversification<br />
can also be explored (as was previously noted in this paper). Similarity<br />
for international diversification may be in terms of culture, language, political regime,<br />
market orientation, economic development, among others. The management of a<br />
firm that’s international operations are diversified into foreign areas that are quite<br />
similar along these lines may be classified as a single international dominant logic<br />
TMT. Top management of firms that expand into dissimilar foreign areas along any of<br />
the aforementioned dimensions may need to learn an additional, new international<br />
dominant logic. Management of firms already operating in areas that are dissimilar<br />
along these lines that expand into new areas that are dissimilar to any of their firm’s<br />
own portfolio also may need to learn a new international dominant logic. Thus, as<br />
was previously suggested, TMTs of firms may have an international dominant logic<br />
for managing operations in developed countries and another for developing countries.<br />
The extension can also be to the other dimensions mentioned here.<br />
Another dimension that may affect the TMT’s international dominant logic is the<br />
mode of entry or method of operations in foreign countries. Firms enter foreign markets<br />
through exports, licensing agreements, managerial contracts, joint ventures, strategic<br />
alliances, wholly owned subsidiaries, etc. Firms may have different international<br />
dominant logics depending on the mode of entry. For example, they may manage exports<br />
with one international dominant logic and wholly owned subsidiaries with another.<br />
Further, interactions between the mode of entry dimension and the previously<br />
mentioned dimensions also may be important for managing international operations.<br />
For example, managers may use one dominant logic when managing exports to developed<br />
countries and another for managing exports to developing countries.<br />
60<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
Thus, the international dominant logic is determining the effects of international<br />
diversification on firm performance. Managing dissimilar international diversification<br />
with a single international dominant logic may have negative effects on performance.<br />
For example, a single dominant logic firm that diversifies along dissimilar international<br />
dimensions and does not learn a new international dominant logic may not succeed<br />
(i.e., negative performance).<br />
Further insights from product diversification<br />
Hitt et al. (1997) studied the relationship between product diversification, international<br />
diversification and performance (see inserted figure; note it does not have Figure<br />
1 – Appendix - or anything at the top it is a photocopy from Hitt et al’s paper). They<br />
found that product diversification moderates the relationship between international<br />
diversification. In other words, for highly product-diversified firms, as international diversification<br />
increases so does performance. The concept of the dominant logic and<br />
the international dominant logic may shed light on this relationship. It may be the case<br />
that performance is highest for firms that are highly diversified along international and<br />
product dimensions because their top management has developed the capability to<br />
learn to be flexible – to learn, develop, and add new dominant and international dominant<br />
logics as they expand. Higher levels of diversification along both dimensions has<br />
a positive effect on performance because the TMT recognizes the need to learn new<br />
dominant logics and also because the TMT recognizes when existing dominant and international<br />
dominant logics are appropriate for managing diversification. For example,<br />
a well known, highly diversified (product and international) firm is Proctor & Gamble<br />
(P&G). Imagine that Proctor and Gamble decides to launch one of its existing products<br />
into a new market – say Vietnam. Firm performance may be enhanced by the TMTs ability<br />
to successfully recognize whether an existing international dominant logic is appropriate<br />
for managing this expansion or whether a new one needs to be developed. P&G,<br />
by virtue of the fact that it has learned and developed multiple dominant and international<br />
dominant logic(s) may have the capability to recognize this and act accordingly.<br />
A methodological issue for future research in this area<br />
One problem with the research studying the effects of international diversification<br />
strategies (or degree of internationalization) on firm financial performance is the frequent<br />
operationalization of international diversification with foreign sales/total sales (FSTS) (SUL-<br />
LIVAN, 1994). This is important for the theories being proposed in this paper, because future<br />
research may test their hypotheses using a similar operationalization. Sullivan (1994) in an<br />
exhaustive review of seventeen empirical studies of international diversification and firm<br />
performance found that all had relied on some measure of foreign sales/total sales as the<br />
proxy for international diversification. Six found positive a relationship, six an intermediate,<br />
and seven a negative relationship between international diversification and performance.<br />
(HITT, et al.’s (1997) study, which was published after Sullivan’s review also used a measure<br />
of foreign sales to total sales (an entropy measure) for international diversification).<br />
Top management team international dominant logic: a new linkage in the international diversification..., Douglas E. Thomas, p. 51-64<br />
61
Sullivan concluded that researchers’ consistency in using FSTS makes it impossible<br />
“to state with certainty that international diversification will improve the financial<br />
performance of a firm” (p.330). He proposes an index measure that includes three<br />
components of international diversification: performance, structural, and attitudinal.<br />
Performance measures include FSTS, Research and Development Intensity, Advertising<br />
Intensity, export sales/total sales, and foreign profits/total profits. He proposes two<br />
structural measures: foreign assets/total assets and number of foreign subsidiaries/total<br />
subsidiaries. The attitudinal components that he proposes are top managers’ international<br />
experience and psychic dispersion of operations (which is similar to cultural<br />
distance). Sullivan concludes that in his study he has established content validity for<br />
his measure of degree of internationalization while construct validity issues were left<br />
for future researchers. The main conclusion that can be made from this research is that<br />
foreign sales/total sales as a measure of international diversification likely is a very crude<br />
measure; this calls into question results obtained by previous studies of the international<br />
diversification – firm performance relationship 2 . Thus, in reality, little can be said<br />
conclusively about the relationship between the two. Any future tests of the theorized<br />
relationships included in this paper should take into account this methodological issue.<br />
Conclusion<br />
This paper contributes to the strategic management literature by (1) building on previous<br />
research in strategic management and international business to propose a new<br />
construct: the international dominant logic (2) proposing that the TMT’s international<br />
dominant logic is a crucial link in the relationship between international diversification<br />
and firm performance. More generally, this concepts explored in this paper provide a<br />
framework for better understanding the management of internationally diversified<br />
portfolio of operations. Empirical tests suggest that international diversification may<br />
or may not have positive effects on performance; thus, a better understanding of the<br />
role of the TMT in this process will help both academic and practical research. Future<br />
research on the international dominant logic should focus on developing propositions<br />
and hypotheses that can be tested. It is likely that in such tests alternative measures<br />
of the degree of international diversification (similar to those suggested by Sullivan<br />
(1994)) should be used.<br />
62<br />
References<br />
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64<br />
International<br />
Diversication<br />
Strategy<br />
Appendix – Figure 1<br />
TMT International<br />
Dominant Logic<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011<br />
International<br />
Performance and<br />
Overall Firm<br />
Performance
O Balanced Scorecard como instrumento<br />
da gestão do desempenho nas<br />
organizações do terceiro setor<br />
Resumo: Este trabalho aborda a aplicabilidade<br />
do Balanced Scorecard nas instituições<br />
do Terceiro Setor. O Balanced Scorecard<br />
desenvolvido por Kaplan e Norton<br />
surgiu como uma ferramenta para mensurar,<br />
descrever e traduzir recursos intangíveis<br />
em real valor para a organização. A<br />
estratégia da instituição se reflete nas medidas<br />
de desempenho vinculadas entre si<br />
e demonstradas através de quatro perspectivas:<br />
financeira, cliente, processos<br />
internos, aprendizagem e crescimento. A<br />
gestão das organizações do Terceiro Setor<br />
objetivando um crescimento mais estruturado<br />
e efetivo buscam ferramentas que<br />
adaptadas às suas finalidades e especificidades<br />
contribuam para a melhoria da<br />
gestão. O objetivo do estudo é apresentar<br />
constatação teórica e prática da utilização<br />
do Balanced Scorecard na gestão do desempenho<br />
nas organizações do Terceiro<br />
Setor. Para isso foi constituído um referencial<br />
teórico sobre o Terceiro Setor, Gestão<br />
Social, Balanced Scorecard e realizado estudo<br />
de caso. Através da pesquisa realizada<br />
constata-se a viabilidade da utilização<br />
desse instrumento nas instituições do Terceiro<br />
Setor.<br />
Palavras-chave: Gestão do desempenho.<br />
Terceiro setor. Balanced Scorecard.<br />
Organização da sociedade civil.<br />
Igor Vovchenco Cabral *<br />
Abstract: This work studies the applicability<br />
of the Balanced Scorecard in<br />
Third Sector institutions. The Balanced<br />
Scorecard developed by Kaplan and<br />
Norton has emerged as a tool to measure,<br />
describe and translate intangible<br />
resources into real value for the organization.<br />
The strategy of the institution<br />
is reflected in performance measures<br />
related to each other and is demonstrated<br />
through four perspectives: financial,<br />
customer, internal processes,<br />
learning and growth. The management<br />
of the Third Sector organizations, aiming<br />
at a more structured and effective<br />
growth, seeks tools to suit its purposes<br />
and specific features contributing to<br />
the improvement of management. The<br />
objective of this study is to present theoretical<br />
and practical Balanced Scorecard<br />
utilization in performance management<br />
in Third Sector organizations.<br />
A theoretical reference has been drawn<br />
from Third Sector, Social Management,<br />
Balanced Scorecard and a performed<br />
case study. Through this research it is<br />
concluded the feasibility of using this<br />
instrument in Third Sector institutions.<br />
Keywords: Performance Management.<br />
Third sector. Balanced scorecard. Civil<br />
society organization.<br />
* Este artigo tem por base a monografia apresentada à FAAP-MBA Executivo, como parte dos requisitos para a<br />
aprovação no Curso MBA Executivo, sob orientação da Profa. Dra. Eloisa Helena de Souza Cabral. E-mail do autor:<br />
igorvcabral@hotmail.com.<br />
O Balanced Scorecard como instrumento da gestão do desempenho nas organizações do terceiro setor , Igor V. Cabral, p. 65-88<br />
65
Introdução<br />
O aumento de organizações da sociedade civil com atuação na área social acirra<br />
a concorrência por contribuições, recursos financeiros ou parcerias necessárias<br />
para a sustentabilidade das ações sociais dessas instituições. A concessão de recursos<br />
financeiros por parte das fontes financiadoras tem ocorrido atualmente<br />
sob critérios mais exigentes do que no passado (FISCHER; FALCONER, 1998). Além<br />
disso, a Lei Nº 9.790 de 23/03/1999 (BRASIL, 1999) que qualifica as organizações<br />
do Terceiro Setor (TS) como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público<br />
(OSCIPs) define que uma das cláusulas essenciais do termo de parceria com o Estado<br />
é a previsão expressa dos critérios objetivos de avaliação de desempenho a<br />
serem utilizados, mediante indicadores de resultado.<br />
Dessa forma, é necessária a utilização de instrumentos de medição de desempenho<br />
que possibilitem aumentar a concentração na missão e geração de valor/impacto social,<br />
a responsabilidade por resultados, a prestação de contas aos seus financiadores e<br />
o alinhamento dos recursos humanos e financeiros em relação aos objetivos globais.<br />
Uma das ferramentas existentes para avaliação de desempenho e resultados<br />
é o Balanced Scorecard (BSC) desenvolvido por Robert Kaplan e David Norton. Ela<br />
permite a mensuração do desempenho organizacional, traduzindo a missão em<br />
objetivos estratégicos e indicadores de acompanhamento.<br />
Segundo os autores, mesmo tendo sido o setor privado o foco inicial do desenvolvimento<br />
do BSC, esse instrumento pode ser utilizado em instituições integrantes<br />
do Terceiro Setor (KAPLAN; NORTON, 1997). Apesar de não ter como razão<br />
essencial de existir os objetivos financeiros, o BSC das organizações do Terceiro<br />
Setor tem na sua missão o principal objetivo de esforço de medição (NIVEN, 2005).<br />
Nesse sentido, este artigo visa demonstrar a viabilidade e importância do uso<br />
do Balanced Scorecard como ferramenta de mensuração do desempenho a ser utilizada<br />
pelos executivos e gestores do Terceiro Setor.<br />
1 O terceiro setor<br />
O termo Terceiro Setor foi utilizado pela primeira vez nos Estados Unidos na década<br />
de 1970 e pelos europeus na década de 1980, sendo que:<br />
66<br />
[...] expressa uma alternativa para as desvantagens tanto do mercado, associadas à maximização<br />
do lucro, quanto do governo, com sua burocracia inoperante. Combina a flexibilidade e<br />
a eficiência do mercado com a equidade e a previsibilidade da burocracia pública (COELHO,<br />
2000, p. 58).<br />
As organizações do TS não fazem parte do Estado, porém se dedicam a causas e<br />
problemas que estão afetas a políticas públicas e apesar de serem sociedades civis pri-<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
vadas, não tem como objetivo o lucro destinado a remunerar o capital investido e sim o<br />
atendimento das necessidades da sociedade (TENORIO, 2000).<br />
Uma tentativa de definição do setor é apresentada por Salamon e Anheier<br />
(1997), que avaliam cinco características estruturais-operacionais das organizações<br />
desse setor, quais sejam:<br />
a) Formais/Estruturadas: possuem certo nível de formalização de regras e procedimentos,<br />
ou algum grau de organização permanente. São, portanto, excluídas<br />
as organizações sociais que não apresentem uma estrutura interna formal;<br />
b) Privadas: não têm nenhuma relação institucional com governos, embora<br />
possam dele receber recursos;<br />
c) Não distribuidoras de lucros: nenhum lucro gerado pode ser distribuído<br />
entre seus proprietários ou dirigentes. Quando existente, os lucros devem<br />
ser investidos na missão da instituição;<br />
d) Autônomas: possuem os meios para controlar sua própria gestão e independência<br />
para tomada de decisão;<br />
e) Voluntárias: envolvem a participação voluntária (trabalho não remunerado).<br />
A participação de voluntários pode variar entre organizações e de<br />
acordo com a natureza da atividade por ela desenvolvida.<br />
Rodrigues (1998) também procura definir o setor, porém através da sua finalidade,<br />
dividindo-o em dois grupos:<br />
1. Organizações constituídas para atender os interesses de seus membros: sindicatos,<br />
associações profissionais, associações de bairro, associações empresarias;<br />
2. Organizações de interesse público e/ou coletivo: instituições de caridade,<br />
organismos de proteção ao meio-ambiente, entidades que apoiam portadores<br />
de determinadas doenças ou deficiência física etc.<br />
Fernandes define o Terceiro Setor, como sendo<br />
[...] composto de organizações sem fins lucrativos, criadas e mantidas pela ênfase na participação<br />
voluntária, num âmbito não-governamental, dando continuidade às práticas<br />
tradicionais da caridade, da filantropia e do mecenato e expandindo o seu sentido para<br />
outros domínios, graças, sobretudo, à incorporação do conceito de cidadania e de suas<br />
múltiplas manifestações na sociedade civil (FERNANDES, 1997, p. 27).<br />
O Balanced Scorecard como instrumento da gestão do desempenho nas organizações do terceiro setor , Igor V. Cabral, p. 65-88<br />
67
68<br />
Para Cabral (2008), a designação<br />
[...] Terceiro Setor engloba um conjunto de organizações privadas, baseadas no trabalho associativo<br />
e voluntário, cuja orientação é determinada por valores expressos em uma missão e<br />
com atuação voltada ao atendimento de necessidades ou reivindicações sociais. Estas organizações<br />
relacionam-se com o Estado através de uma regulamentação própria, pois respondem<br />
por iniciativas privadas em áreas nas quais o Estado atua através de políticas públicas (CABRAL,<br />
2008, p. 1).<br />
São então organizações cujo lucro obtido é aplicado em suas próprias atividades, não<br />
sendo, portanto, destinado à apropriação privada de proprietários e acionistas, agindo<br />
sob uma lógica diferente da do capital, investindo não pelo retorno financeiro, mas pela<br />
transformação da realidade social alvo de sua ação (benefício social). Da mesma forma,<br />
não estão no governo e não se confundem com o poder do Estado mesmo que atuando<br />
em espaço público e produzindo bens públicos, uma vez que são constituídas por iniciativa<br />
própria da sociedade e com missão voltada a ações com fins públicos.<br />
1.1 Surgimento do Terceiro Setor<br />
É após a Segunda Guerra Mundial, principalmente nos países europeus que se firma<br />
a ideia da responsabilidade do Estado na garantia de acesso ao direito universal da proteção<br />
social para os cidadãos (CABRAL, 2003). O período de 1950 até a metade dos anos<br />
1970 é marcado pelos investimentos em programas sociais que garantissem retorno<br />
social e manutenção do bem-estar social. O Estado de Bem Estar Social (Welfare State)<br />
assume o provimento da proteção social, exercendo papel regulador na economia e na<br />
sociedade, provendo saúde, educação, segurança, assistência e seguridade social a todos,<br />
através de forte aparato burocrático centralizado.<br />
Em meados da década de 1970, contudo, esse Estado intervencionista e centralizado<br />
começou a dar sinais de esgotamento devido à crise do petróleo nos anos 1970<br />
e a recessão dos anos 1980, requerendo do Estado redução de gastos. Surge o ideal<br />
neoliberal criticando o Estado do Bem Estar Social, questionando a intervenção pública<br />
na economia e pregando o livre mercado como condição ideal para uma economia<br />
competitiva e saudável.<br />
A crise do modelo de Welfare State pode ser destacada como uma das razões<br />
que proporcionaram o crescimento das Organizações do Terceiro Setor, já que abria<br />
espaços para movimentos e associações da sociedade civil no sentido de atender às<br />
necessidades sociais.<br />
Um dos motivos para que o crescimento do Terceiro Setor ocorra se deve à falência do<br />
Estado de Bem-Estar Social. O Welfare State, que surgiu após a II Guerra Mundial na Europa<br />
Ocidental com a finalidade de garantir condições de vida dignas a todos os seus cidadãos,<br />
sucumbiu nos anos 80 após uma crise que o impossibilitou de sustentar a sua ação social<br />
(COSTA JÚNIOR, 1998).<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
1.2 O Terceiro Setor no Brasil<br />
As organizações que compõem o Terceiro Setor não são novas. Do período colonial<br />
até 1930 a presença do poder público na área social era pontual e restringia-se a atendimentos<br />
emergenciais às camadas mais carentes da população. Pode-se mencionar<br />
as Santas Casas de Misericórdia portuguesas como as primeiras formas de intervenção<br />
social (filantropia e caridade).<br />
Na década de 1930 foi promulgada a lei que declarou de utilidade pública as entidades<br />
sociais (1935) e a criação do Conselho Nacional de Serviço Social (1938), que tornou<br />
as instituições sociais aptas a receberem subsídios governamentais.<br />
Mais recentemente as organizações do Terceiro setor resultantes dos movimentos<br />
sociais que emergiram contra o regime autoritário da ditadura militar entre os anos<br />
1960 e 1980 e que tinham na terminologia – não governamental clara postura de oposição<br />
ao governo vigente, nos anos 1990 tornam-se parceiras do poder político para<br />
que o Estado, através de políticas neoliberais, exerça presença mínima (Estado mínimo)<br />
passando ao papel de regulamentador. Gohn (1997) afirma que<br />
Duas outras tendências se fortaleceram no cenário social brasileiro nos anos 90 [...]: o crescimento<br />
das ONGs e as políticas de parcerias implementadas pelo poder público [...]. Trata-se<br />
de novas orientações voltadas para a desregulamentação do papel do Estado na economia,<br />
e na sociedade como um todo, transferindo responsabilidades do Estado para as comunidades<br />
organizadas, com a intermediação das ONGs, em trabalhos de parceria entre o público<br />
estatal e o público não-estatal [...] (GOHN, 1997, p. 309-310).<br />
Neste cenário é que as organizações sem fins lucrativos ganham espaço na cena<br />
política, constituindo uma alternativa de eficácia à gestão das políticas sociais. As organizações<br />
da sociedade civil passam a assumir, em parceria com o Estado, ações sociais<br />
que possibilitam oferecer à população melhores condições de vida.<br />
Segundo Rodrigues (1999), são as seguintes as principais categorias do Terceiro Setor<br />
no Brasil:<br />
1. Associações: baseadas em contratos estabelecidos livremente entre os indivíduos<br />
para exercerem atividades comuns ou defenderem interesses mútuos.<br />
Voltadas principalmente às necessidades dos próprios participantes, compreendendo<br />
atividades recreativas, esportivas, culturais, artísticas, comunitárias e<br />
profissionais;<br />
2. Organizações filantrópicas, beneficentes e de caridade: voltadas para a promoção<br />
de assistência social e de serviços sociais nas áreas de saúde e educação;<br />
3. Organizações não governamentais (ONGs): comprometida com a sociedade<br />
civil, com movimentos sociais e com a transformação social. Orientam-se para<br />
objetivos externos, não exercendo caridade;<br />
O Balanced Scorecard como instrumento da gestão do desempenho nas organizações do terceiro setor , Igor V. Cabral, p. 65-88<br />
69
70<br />
4. Fundações privadas: de conotação essencialmente jurídica. A criação de uma<br />
fundação se dá, segundo o Código Civil, pelo instituidor, que, através de uma escritura<br />
ou testamento, destina bens livres, especificando o fim a ser alcançado;<br />
5. Organizações sociais (OS): organização pública não estatal destinada a absorver<br />
atividades nas áreas de educação, saúde, cultura, meio ambiente e pesquisa<br />
científica, constituída pelas associações civis sem fins lucrativos orientadas para<br />
o atendimento do interesse público.<br />
Segundo levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística<br />
(IBGE) sobre as Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos (FASFIL), 338 mil<br />
Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos existiam oficialmente no Brasil,<br />
em 2005, representando 5,6% do total de 6 milhões de entidades públicas e privadas,<br />
lucrativas e não-lucrativas, que compunham o Cadastro Central de Empresas – CEMPRE<br />
daquele mesmo ano. Essas organizações sem fins lucrativos empregavam nesse período<br />
1,7 milhão de pessoas, ou seja, 5,3% dos trabalhadores brasileiros (IBGE, 2005).<br />
A pesquisa também identificou que a idade média das FASFIL, em 2005, era de 12,3<br />
anos, sendo que 41,5% delas foram criadas na década de 1990, devido ao fortalecimento<br />
da democracia e da participação da sociedade civil na vida nacional. Observa-se pela<br />
Tabela 1 que apesar do crescimento até o ano 2000, os dados de 2001 a 2005 podem sinalizar<br />
uma desaceleração no crescimento das organizações sem fins lucrativos no país.<br />
Tabela 1 - Distribuição das Fundações Privadas e Associações<br />
sem Fins Lucrativos segundo faixas de ano de fundação<br />
Ano de Fundação Quantidade %<br />
Até 1970 10.939 3,2%<br />
De 1971 a 1980 33.408 9,9%<br />
De 1981 a 1990 64.388 19,1%<br />
De 1991 a 2000 140.261 41,5%<br />
De 2001 a 2002 38.007 11,2%<br />
De 2003 a 2004 35.840 10,6%<br />
2005 15.319 4,5%<br />
Total 338.162 100%<br />
Fonte: IBGE (2005)<br />
1.3 Gestão do desempenho no Terceiro Setor<br />
Segundo Drücker (1989), as organizações sem fins lucrativos consideravam a<br />
gestão como algo não pertinente ao seu negócio. As mudanças no cenário econômico<br />
e mundial levaram essas organizações a considerar que as boas intenções<br />
não são substitutas para organização, liderança, responsabilidade, desempenho e<br />
resultado, resultantes da gestão e que tem início com o desenvolvimento da missão<br />
da organização. Drücker (1994) afirmou que<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
As instituições sem fins lucrativos existem por causa da sua missão (DRÜCKER, 1994, p. 33).<br />
Seu produto é um ser humano mudado. As instituições sem fins lucrativos são agentes de<br />
mudança humana. [...] isto é, toda uma vida transformada (DRÜCKER, 1994, p. XIX).<br />
Para o Terceiro Setor, a necessidade de explicitar a missão da organização é uma prioridade<br />
indispensável, uma vez que cabe à organização esclarecer para os financiadores<br />
e outros participantes o que está sendo feito com os recursos por eles disponibilizados.<br />
O crescimento do setor, a concorrência com demais organizações para obtenção de<br />
recursos, recrutar voluntários e contratar pessoal para gerir de forma competente a organização,<br />
as parcerias com os demais setores e a consequente maior exposição pública<br />
corroboram para a necessidade de uma gestão mais profissional, utilizando técnicas<br />
de planejamento estratégico, de gestão de recursos humanos, de controle de gestão,<br />
de planejamento e gestão de projetos.<br />
Para Cabral (2003), o controle de gestão não deve ser exclusivamente competência<br />
da gerência, mas responsabilidade de toda a organização, realizada de forma permanente,<br />
observando-se a cultura organizacional, sendo um instrumento de aperfeiçoamento<br />
dos resultados da instituição.<br />
Para Fischer et al. (2003) há uma dificuldade por parte das Organizações do Terceiro<br />
Setor (OTS) em estabelecer indicadores para mensuração dos processos, resultados e<br />
impactos dos seus projetos sociais. Dificuldade essa intensificada pela falta de experiência<br />
dessas instituições em trabalhar com indicadores e pela inexistência de ferramentas<br />
adequadas para um tipo de gestão que difere daquela praticada pelo mercado.<br />
2 Balanced Scorecard<br />
O controle de gestão é ferramenta essencial para o desenvolvimento de qualquer<br />
organização, permitindo a análise contínua dos resultados esperados, possibilitando<br />
aos gestores conhecer a realidade da instituição.<br />
Para Gomes e Salas (1997) a estruturação do controle de gestão reside na arquitetura<br />
do sistema de informações e na determinação de indicadores de desempenho.<br />
O processo consiste na definição de objetivos e no planejamento para cada área ou<br />
unidade, na execução desse plano e na avaliação e análise dos resultados. Os objetivos<br />
devem estar ligados a indicadores que permitam a medição. Fernandes e Berton (2005,<br />
p. 181) afirmam que<br />
[...] o desenvolvimento de um sistema de medição, de forma consistente com os objetivos<br />
estratégicos, deverá contribuir de maneira decisiva para a efetiva implementação e consolidação<br />
de estratégias de melhoria do desempenho organizacional, impulsionando as necessárias<br />
mudanças, inclusive promovendo uma mudança crítica da cultura organizacional,<br />
quando for o caso.<br />
O Balanced Scorecard como instrumento da gestão do desempenho nas organizações do terceiro setor , Igor V. Cabral, p. 65-88<br />
71
Uma das ferramentas de gestão existentes é o Balanced Scorecard. O seu desenvolvimento<br />
remonta a 1990 quando o Instituto Nolan Norton patrocinou um estudo entre<br />
diversas empresas privadas com o objetivo de desenvolver um novo modelo de medição<br />
de desempenho. Liderado por David Norton e tendo como consultor acadêmico<br />
Robert Kaplan, os participantes do estudo acreditavam que depender de medidas de<br />
desempenho baseadas em indicadores contábeis e financeiros estava prejudicando a<br />
capacidade dessas organizações de criar valor econômico para o futuro.<br />
Para Kaplan e Norton (1997), as medidas financeiras, adequadas para empresas privadas<br />
da era industrial, contam a história de acontecimentos passados, tornando-se<br />
inadequadas para orientar organizações da era da informação, que buscam gerar valor<br />
futuro investindo em clientes, fornecedores, funcionários, processos, tecnologia e<br />
inovação. As discussões levaram ao BSC organizado em quatro perspectivas distintas:<br />
financeira, do cliente, interna e de inovação e aprendizado.<br />
Para esses autores o Balanced Scorecard traduz a missão e a estratégia das empresas<br />
num conjunto abrangente de medidas de desempenho que serve de base para um<br />
sistema de medição e gestão estratégica.<br />
O BSC esclarece e traduz a missão e a estratégia; comunica e associa objetivos e medidas<br />
estratégicas; permite planejar, estabelecer metas e alinhar iniciativas estratégicas;<br />
melhora o feedback e o aprendizado estratégico, conforme Figura 1.<br />
Kaplan e Norton (2000) observam cinco princípios comuns nas organizações bem-<br />
-sucedidas com a utilização do BSC na consecução do foco e do alinhamento estratégico:<br />
Princípio 1 - Traduzir a estratégia em termos operacionais: a estratégia não pode<br />
ser executada se sua compreensão não for possível, e não pode ser compreendida se<br />
não for possível descrevê-la. É importante que cada colaborador da organização compreenda<br />
as consequências das suas decisões e ações na formação dos indicadores. A<br />
descrição da estratégia através do mapa estratégico, indicadores balanceados, metas<br />
e iniciativas, fornecem um referencial para comunicar a estratégia de forma coerente,<br />
criando um ponto de referência comum e compreensível para todas as unidades do<br />
negócio e empregados. Os mapas de estratégia e os Balanced Scorecard constituem a<br />
tecnologia de mensuração utilizada pela gerência na economia baseada no conhecimento.<br />
(KAPLAN; NORTON, 2004, p. 21).<br />
Princípio 2 – Alinhar a organização com a estratégia: as organizações são compostas<br />
de vários setores, unidades de negócios e departamentos e cada um deles possuem<br />
sua estratégia particular. As instituições focadas na estratégia utilizam o BSC para extinguir<br />
esta dificuldade de integração, substituindo as estruturas formais de informação<br />
por assuntos e prioridades estratégicas, criando a sinergia necessária para a geração de<br />
valor aos stakeholders.<br />
Princípio 3 – Transformar a estratégia em tarefa de todos: qualquer organização<br />
precisa que todos os funcionários se envolvam com a estratégia e administrem suas<br />
72<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
tarefas diárias de modo a contribuir para o seu êxito. As instituições bem sucedidas com<br />
o BSC utilizaram a ferramenta para comunicar, capacitar e esclarecer os objetivos e vincularam<br />
sistemas de incentivos e recompensas relacionando o desempenho pessoal e<br />
da equipe com a organização.<br />
Princípio 4 – Transformar a estratégia num processo contínuo: para administrar a<br />
estratégia, o BSC integra a gestão tática (orçamentos financeiros e revisões mensais) e a<br />
gestão estratégica em um processo uniforme e sucessivo. Através de reuniões de gestão<br />
e análise de resultados é possível avaliar a estratégia e adaptá-la, caso seja necessário,<br />
resguardando as iniciativas de longo prazo da pressão por um bom desempenho<br />
financeiro no curto prazo.<br />
Princípio 5 – Mobilizar a mudança através da liderança executiva: qualquer processo<br />
de implementação de estratégia exige mudanças significativas dentro da organização,<br />
e para isso, é necessário trabalho em equipe e este trabalho deve ser iniciado<br />
pelos líderes, que integram suas atividades cotidianas para definir e fortalecer os novos<br />
valores culturais da organização e exigir o rompimento da estrutura tradicional.<br />
Figura 1 - O Balanced Scorecard como estrutura para ação estratégica<br />
Comunicando e<br />
estabelecendo vinculações<br />
• Comunicando e educando<br />
• Estabelecendo metas<br />
• Vinculando recompensas a<br />
medidas de desempenho<br />
Fonte: Kaplan e Norton (2000, p. 12).<br />
Esclarecendo e traduzindo a<br />
missão e estratégia<br />
• Esclarecendo a visão<br />
• Estabelecendo o consenso<br />
Balanced<br />
Scorecard<br />
Planejamento e<br />
estabelecimento de metas<br />
• Estabelecendo metas<br />
• Alinhando iniciativas<br />
• Alocando recursos<br />
• Estabelecendo marcos de<br />
referência<br />
Feedback e aprendizado<br />
estratégico<br />
• Articulando a visão<br />
compartilhada<br />
• Fornecendo feedback<br />
estratégico<br />
• Facilitando a revisão e o<br />
aprendizado estratégico<br />
O Balanced Scorecard como instrumento da gestão do desempenho nas organizações do terceiro setor , Igor V. Cabral, p. 65-88<br />
73
A partir da visão, missão e estratégia da organização, estabelece-se uma relação entre<br />
os objetivos estratégicos, seus indicadores (medidas), suas metas e suas iniciativas.<br />
O desenvolvimento das quatro perspectivas: financeira, do cliente, dos processos internos<br />
e perspectiva do aprendizado e crescimento, deve refletir e operacionalizar a<br />
missão e a estratégia da organização ou unidade de negócio em objetivos e medidas<br />
tangíveis em longo prazo.<br />
O Balanced Scorecard gera uma série de indicadores que servem como parâmetros<br />
para ações corretivas e preventivas. Mostra as estratégias assertivas e onde se encontram<br />
seus principais gargalos.<br />
A Figura 2 mostra a estrutura necessária para a tradução da estratégia em termos<br />
operacionais.<br />
CLIENTES<br />
"Para alcançar nossa visão, como<br />
como deveríamos ser vistos pelos nossos clientes?"<br />
Objetivos Medidas Metas Iniciativas<br />
74<br />
Figura 2 - O BSC fornece a estrutura necessária para<br />
a tradução da estratégia em termos operacionais<br />
Fonte: Adaptado de Kaplan e Norton (1997, p. 12).<br />
2.1 Perspectiva financeira<br />
FINANCEIRA<br />
"Para sermos nanceiramente bem sucedidos,<br />
como deveremos ser vistos pelos nossos acionistas?"<br />
Objetivos Medidas Metas Iniciativas<br />
Missão,<br />
Visão e<br />
Estratégia<br />
APRENDIZAGEM E CRESCIMENTO<br />
"Para alcançar nossa visão, como deveremos<br />
sustentar nossa capacidade de mudar e melhorar?"<br />
Objetivos Medidas Metas Iniciativas<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011<br />
PROCESSOS INTERNOS<br />
"Para satisfazer nossos acionistas e clientes,<br />
que processos são necessários?"<br />
Objetivos Medidas Metas Iniciativas<br />
Os principais indicadores e metas estabelecidos nessa perspectiva dizem respeito<br />
ao crescimento e mix de receita, à redução de custos e melhoria de produtividade, à<br />
utilização dos ativos e estratégia de investimento. Os objetivos financeiros servem de<br />
foco para os objetivos e medidas das outras perspectivas, em uma cadeia de relação de<br />
causa e efeito que culminam com a melhoria do desempenho financeiro.<br />
Kaplan e Norton (1997) sugerem que seja utilizada a pergunta a seguir para<br />
nortear o processo de montagem da perspectiva financeira: ”para sermos bem sucedidos<br />
financeiramente, como deveríamos ser vistos pelos nossos acionistas“?
Medidas genéricas para essa perspectiva são o retorno sobre o investimento e o<br />
valor econômico agregado.<br />
2.2 Perspectiva do cliente<br />
Para nortear o processo de montagem da perspectiva do cliente, Kaplan e Norton<br />
(1997) sugerem a utilização da seguinte pergunta: ”para alcançarmos nossa visão, como<br />
deveríamos ser vistos pelos nossos clientes“?<br />
Os indicadores (medidas de resultados) dessa perspectiva representam metas para<br />
as operações, logística, marketing e desenvolvimento de produtos e serviços das organizações.<br />
Para Kaplan e Norton (1997), os indicadores essenciais de resultados dessa<br />
perspectiva são:<br />
• Participação de mercado: proporção de negócios em um determinado<br />
mercado;<br />
• Captação de clientes: intensidade com que novos clientes ou negócios<br />
são conquistados;<br />
• Retenção de clientes: intensidade com que uma unidade de negócios mantém<br />
relacionamentos contínuos com seus clientes;<br />
• Satisfação dos clientes: nível de satisfação dos clientes de acordo com critérios<br />
específicos de desempenho dentro da proposta de valor;<br />
• Lucratividade dos clientes: lucro líquido de cliente ou segmento, depois de<br />
deduzidas as despesas específicas para sustentar esses clientes.<br />
2.3 Perspectiva dos processos internos<br />
A pergunta sugerida por Kaplan e Norton (1997) para nortear o processo de montagem<br />
da perspectiva dos processos internos é: ”para satisfazermos nossos acionistas e<br />
clientes, em que processo de negócios devemos alcançar a excelência”?<br />
Indicadores genéricos para esse processo são a qualidade, tempo de resposta, custo<br />
e lançamentos de novos produtos.<br />
No processo de inovação pesquisam-se as necessidades dos clientes para criação de<br />
novos produtos e serviços. Esses novos produtos e serviços são criados e oferecidos aos<br />
clientes no processo de operações. O último estágio da cadeia de valor é o serviço ao<br />
cliente após a venda ou entrega do produto ou serviço.<br />
O Balanced Scorecard como instrumento da gestão do desempenho nas organizações do terceiro setor , Igor V. Cabral, p. 65-88<br />
75
2.4 Perspectiva do aprendizado e crescimento<br />
Quanto à perspectiva do aprendizado e crescimento, a pergunta sugerida por Kaplan<br />
e Norton (1997) é: ”para alcançarmos nossa visão, como sustentaremos nossa capacidade<br />
de mudar e melhorar“?<br />
Os objetivos estabelecidos nas demais perspectivas revelam onde a organização<br />
deve se destacar para obter um desempenho excepcional. Os objetivos dessa perspectiva<br />
identificam a infraestrutura que deve ser construída para gerar crescimento e melhoria<br />
no longo prazo, sustentando e criando condições para a realização dos objetivos<br />
das demais perspectivas.<br />
76<br />
Devem ser vistos três eixos nessa perspectiva:<br />
Eixo 1. Capacidades dos funcionários: mudança e inovação estão atreladas ao conhecimento<br />
dos colaboradores que formam uma organização.<br />
O trabalhador do conhecimento, como elemento central para o contínuo processo<br />
de inovação na organização empresarial, é estimulado a participar e agregar com sua<br />
criatividade no processo decisório. Investir, gerenciar e explorar o conhecimento do colaborador<br />
passou a ser fator crítico de sucesso para as organizações (KAPLAN; NORTON,<br />
1997).<br />
As medidas essenciais para os funcionários podem ser resumidas em: satisfação dos<br />
funcionários, retenção de funcionários e produtividade dos funcionários.<br />
Eixo 2. Capacidades dos sistemas de informação: o atual ambiente competitivo<br />
exige que os funcionários tenham informações sobre seus clientes, processos internos<br />
e as consequências financeiras de suas decisões.<br />
Eixo 3. Motivação, empowerment e alinhamento: o clima organizacional deve contribuir<br />
para motivação e iniciativa dos funcionários.<br />
Segundo Herrero Filho (2005, p. 156), ӎ a perspectiva de aprendizado e crescimento<br />
que torna possível a integração dos ativos intangíveis da organização com os ativos<br />
financeiros, que, em conjunto, são as atividades criadoras de valor da empresa“.<br />
2.5 Mapa estratégico e indicadores de desempenho<br />
O mapa estratégico, segundo Kaplan e Norton (2004) representa o elo perdido entre<br />
a formulação e a execução da estratégia. A visualização gráfica das relações de causa e<br />
efeito entre os objetivos estratégicos dispostos ao longo das quatro perspectivas fornece<br />
uma maneira simples, objetiva, uniforme e consistente de descrever a estratégia, facilitando<br />
a definição e o gerenciamento dos objetivos e indicadores, conforme Figura 3.<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
Figura 3 - Mapa estratégico genérico<br />
Estratégia de crescimento<br />
Estratégia de produtividade<br />
Valor a longo prazo<br />
para os acionistas<br />
Perspectiva<br />
Financeira<br />
Aumentar o valor<br />
para os clientes<br />
Expandir a oportunidade<br />
de receitas<br />
Aumentar a utilização<br />
de ativos<br />
Melhorar a estrutura<br />
de custos<br />
Proposição de valor para o cliente<br />
Seleção Funcionalidade Serviços Parceria Marca<br />
Qualidade Disponibilidade<br />
Preços<br />
Perspectiva<br />
do cliente<br />
Processos de gestão operacional Processos de gestão de clientes Processos de inovação Processos regulatórios e sociais<br />
Meio ambiente<br />
Segurança e saúde<br />
Emprego<br />
Comunidade<br />
Identicaçnao de oportunidades<br />
Portfólio de P&D<br />
Projeto/Desenvolvimento<br />
Lançamento<br />
Seleção<br />
Conquista<br />
Retenção<br />
Crescimento<br />
Abastecimento<br />
Produção<br />
Distribuição<br />
Gerenciamento de riscos<br />
Perspectiva<br />
interna<br />
O Balanced Scorecard como instrumento da gestão do desempenho nas organizações do terceiro setor , Igor V. Cabral, p. 65-88<br />
Capital humano<br />
Capital da informação<br />
Perspectiva de<br />
aprendizado<br />
e crescimento<br />
Capital<br />
Cultura Liderança Alinhamento Trabalho em equipe<br />
organizacional<br />
Fonte: Kaplan e Norton (2004, p. 11).<br />
77
2.6 O Balanced Scorecard no Terceiro Setor<br />
Mesmo tendo sido o foco inicial do desenvolvimento do BSC o setor privado, essa<br />
ferramenta pode ser utilizada nas organizações do TS (KAPLAN; NORTON, 1997).<br />
Apesar de não ter como razão de existir os objetivos financeiros, o Balanced<br />
Scorecard das organizações do Terceiro Setor tem na sua missão o principal objetivo<br />
de esforço de medição, seguido pelas perspectivas do cliente, processos internos,<br />
financeiros e crescimento do funcionário (NIVEN, 2005, p. 374).<br />
No Terceiro Setor, ”o desempenho precisa ser planejado e controlado, e isso<br />
começa com a missão, pois ela define os resultados pretendidos“. (CABRAL, 2003,<br />
p. 29). DRÜCKER (1989) esclarece que<br />
78<br />
[...] as organizações sem fins lucrativos não estabelecem sua estratégia no dinheiro,<br />
nem fazem dele o centro dos seus planos [...] _o planejamento [...] começa com o desempenho<br />
da sua missão‘ (DRÜCKER, 1989, p. 89, tradução nossa).<br />
Kaplan (2001) destaca que para uma organização sem fins lucrativos, a missão<br />
representa a prestação de contas para a sociedade – a razão da sua existência. Sem<br />
poder mensurar o sucesso ou fracasso da sua missão, essas organizações não conseguem<br />
avaliar a continuidade, expansão ou mesmo finalização de um programa/<br />
atividade, nem aprender com erros ou acertos, inviabilizando seu autoconhecimento<br />
e comparação com concorrentes.<br />
Dessa forma, a missão de uma organização sem fins lucrativos deve ser destacada<br />
e avaliada no nível mais alto do BSC, uma vez que os indicadores financeiros<br />
não demonstram se a organização está ou não cumprindo sua missão (KAPLAN;<br />
NORTON, 2000). A missão reflete o objetivo de longo prazo da instituição. Logo em<br />
seguida, as organizações podem inserir a perspectiva do doador e a perspectiva<br />
do beneficiário, uma vez que os doadores fornecem recursos financeiros enquanto<br />
outro grupo, os constituintes, recebe o serviço.<br />
Pode-se comparar pela Figura 4, a diferença na criação de valor e consequente<br />
mapa estratégico entre as organizações do setor privado e organizações do setor<br />
público e entidades sem fins lucrativos. Nestas, o critério de sucesso é o desempenho<br />
no cumprimento da missão, atendendo as necessidades dos clientes-alvo<br />
através do desempenho dos processos internos e apoio dos seus ativos intangíveis<br />
(aprendizado e crescimento). A perspectiva fiduciária reflete os objetivos dos<br />
contribuintes ou doadores que fornecem os recursos financeiros.<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
Figura 4 - Mapas estratégicos: o modelo simples de criação de valor<br />
Organizações do setor privado<br />
ESTRATÉGIA<br />
Perspectiva nanceira<br />
"Se formos bem-sucedidos<br />
como seremos percebidos<br />
pelos nossos acionistas?"<br />
Perspectiva do cliente<br />
"Para realizar a visão,<br />
como devemos cuidar<br />
de nossos clientes?"<br />
Perspectiva interna<br />
"Para satisfazer os clientes,<br />
em que processos devemos<br />
ser excelentes?"<br />
Perspectiva de aprendizado<br />
e crescimento<br />
"Para realizar nossa visão,<br />
como a organização deve<br />
aprender e melhorar?"<br />
Fonte: Kaplan e Norton (2004, p. 8).<br />
Perspectiva duciária<br />
"Se formos bem-sucedidos,<br />
como cuidaremos dos<br />
contribuintes<br />
(ou doadores)?"<br />
Organizações do setor público<br />
e entidades sem ns lucrativos<br />
MISSÃO<br />
Perspectiva interna<br />
"Para satisfazer os clientes e<br />
doadores, em que processos<br />
de negócios devemos<br />
ser excelentes?"<br />
Perspectiva de<br />
aprendizado e crescimento<br />
"Para realizar nossa visão,<br />
como a organização deve<br />
aprender e melhorar?"<br />
Perspectiva do cliente<br />
"Para realizar a visão, como<br />
devemos cuidar de<br />
nossos clientes?"<br />
Nas organizações sem fins lucrativos, os doadores fornecem os recursos – eles pagam<br />
pelos serviços – enquanto que outro grupo recebe os serviços. Assim, as organizações<br />
definem objetivos estratégicos para os dois tipos de clientes, o que recebe<br />
o serviço (usuário ou beneficiário) e o que paga por eles (doadores, mantenedores).<br />
(SECAF, 2003, p. 2).<br />
3 Estudo de caso: ESPRO - Ensino Social Profissionalizante<br />
A instituição analisada é o ESPRO – Associação de Ensino Social Profissionalizante,<br />
associação sem fins lucrativos fundada em 1979 por seis Rotary Clubes (São Paulo, Leste,<br />
Liberdade, Cambuci, Aclimação e República).<br />
Tem como missão promover a inclusão social de jovens por meio de ações educativas<br />
e inserção no mercado de trabalho através de duas frentes de atuação:<br />
O Balanced Scorecard como instrumento da gestão do desempenho nas organizações do terceiro setor , Igor V. Cabral, p. 65-88<br />
79
80<br />
• Capacitação Básica para o Trabalho: principal ação de inclusão social, oferece<br />
preparação técnica através de cursos gratuitos, visando a formação<br />
de jovens oriundos de famílias que recebam até três salários mínimos. Tem<br />
como objetivo capacitar jovens para participação nos processos seletivos<br />
em organizações na condição de aprendiz;<br />
• Programas de Aprendizagem: com base na Lei 10.097/00, Decreto Lei n°<br />
5598/2005 e Portaria 1.003/2008, o ESPRO estabelece parcerias com organizações<br />
(empresas parceiras) a fim de formar jovens com idades entre 14 e 24<br />
anos, matriculados ou concluintes em unidades da rede pública de ensino e<br />
de família cuja renda não ultrapasse a marca de três salários mínimos mensais.<br />
Capacita anualmente em torno de 12.000 jovens e conta hoje com cerca de 500 empresas<br />
parceiras em todo o Brasil. A sustentabilidade da instituição provem das parcerias<br />
em diversas regiões do país com organizações privadas e estatais através dos Contratos<br />
de Aprendizagem para capacitação de jovens nos Programas de Aprendizagem.<br />
Além da sua sede na cidade de São Paulo, possui filiais nas cidades do Rio de Janeiro,<br />
Belo Horizonte, Curitiba, Recife, Campo Grande, Brasília, Campinas e 56 pólos<br />
regionais que atendem cidades que estão no raio de 100 quilômetros de sua localização.<br />
Sua capilaridade atual garante atendimento em mais de 900 municípios.<br />
É entidade certificada pela ISO 9001:2008 (escopo Gestão do Vínculo Empregatício<br />
dos Aprendizes que atuam na cidade de São Paulo) e NGO Benchmarking que<br />
atesta as melhores práticas em governança e padrões internacionais de gestão no<br />
Terceiro Setor.<br />
Desde sua fundação em 1979 mais de 69.000 jovens foram atendidos nas regiões<br />
onde atua.<br />
3.1 Missão, visão e valores<br />
Em 2008, o ESPRO começou a descrever sua missão, visão e valores. Apesar de<br />
vivenciados no seu dia a dia, a descrição e alinhamento entre Conselho Diretivo e<br />
colaboradores foi o marco inicial para o delineamento da sua política da qualidade<br />
e desenvolvimento do Balanced Scorecard.<br />
• Missão: Promover a inclusão social de jovens por meio de ações educativas<br />
e inserção no mercado de trabalho.<br />
• Visão: Ser uma instituição do Terceiro Setor reconhecida pela liderança, excelência,<br />
inovação e impacto social através de ações educativas.<br />
• Valores: ética, excelência, transparência e responsabilidade social.<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
3.2 O Balanced Scorecard do ESPRO<br />
Em 2009, com o apoio de uma consultoria especializada, o ESPRO envolveu<br />
seus gestores para iniciar o desenho do mapa estratégico da organização e desenvolvimento<br />
do BSC.<br />
A primeira etapa foi a análise SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats),<br />
ou seja, análise das Forças, Fraquezas, Oportunidades, Ameaças, envolvendo<br />
os colaboradores da instituição, avaliando o ambiente externo quanto as ameaças<br />
e oportunidades, e criando consciência das forças e fraquezas (ambiente interno)<br />
da organização. A partir desse mapeamento, as perguntas que nortearam as definições<br />
dos desempenhos a serem mensurados foram:<br />
• Perspectiva dos clientes: para alcançar nossa visão, como devemos ser vistos<br />
por nossos clientes?<br />
• Perspectiva do aprendizado e crescimento: como podemos melhorar ou<br />
criar valor?<br />
• Perspectivas dos processos internos: em que temos que ser excelentes?<br />
• Perspectiva financeira: quais ações serão adotadas para manutenção da<br />
sustentabilidade?<br />
Para a definição das perspectivas do BSC do ESPRO, foram levadas em consideração<br />
as especificidades do TS. A perspectiva financeira deixa de ser utilizada<br />
como referencial para as demais perspectivas (como ocorreria em uma organização<br />
com lucro destinado á apropriação privada) estando a perspectiva do cliente<br />
no patamar.<br />
Dessa forma, os recursos financeiros obtidos através dos contratos de parcerias<br />
com as organizações privadas e estatais são utilizados para manutenção da Capacitação<br />
Básica para o Trabalho, dos Programas de Aprendizagem e operacionalização<br />
da missão através do seu quadro de colaboradores, processos e infraestrutura.<br />
O Mapa Estratégico 2009-2010 (Figura 5) possibilita uma melhor visualização<br />
dos objetivos estratégicos e das relações de causa e efeito existentes entre os objetivos<br />
das diferentes perspectivas, estando a missão da instituição dentro da perspectiva<br />
dos clientes, inter-relacionada com demais perspectivas. A disposição das<br />
perspectivas foi alinhada de forma que na base estivesse a perspectiva financeira<br />
e no topo a do cliente (jovem e empresa parceira).<br />
O Balanced Scorecard como instrumento da gestão do desempenho nas organizações do terceiro setor , Igor V. Cabral, p. 65-88<br />
81
Figura 5 - Mapa estratégico ESPRO (2009-2010)<br />
82<br />
A descrição dos objetivos de uma cada das quatro perspectivas do BSC:<br />
Perspectiva Financeira:<br />
• Reduzir custos da operação;<br />
• Aumentar faturamento global (aumentar faturamento de novas empresas parceiras<br />
e aumentar faturamento total em empresas parceiras).<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011<br />
Fonte: ESPRO (2010).
Perspectiva do Aprendizado e Crescimento:<br />
• Desenvolver projetos de Ensino a Distância (EAD), Gestão da Marca e Impacto<br />
Social;<br />
• Fixar o DNA do ESPRO entre colaboradores, rede e parceiros;<br />
• Desenvolver projetos educacionais;<br />
• Capacitar colaboradores em gestão;<br />
• Capacitar colaboradores em processos;<br />
• Capacitar colaboradores em educação.<br />
Perspectiva dos Processos Internos:<br />
• Identificar novas demandas/necessidades do mercado;<br />
• Potencializar e/ou adequar produtos existentes;<br />
• Criar novos produtos customizados às demandas;<br />
• Processos operacionais críticos;<br />
• Avaliar desempenho dos aprendizes, empresas parceiras e rede.<br />
Perspectiva dos Clientes:<br />
• Aumentar satisfação das empresas parceiras;<br />
• Proporcionar crescimento profissional/educacional dos jovens/aprendizes;<br />
• Aumentar satisfação dos parceiros da rede;<br />
• Gerar impacto social através de ações educativas e inserção de jovens no mercado.<br />
A partir da definição do mapa estratégico, para cada uma das perspectivas, foi elaborado<br />
um painel do BSC, constando os objetivos de cada tema estratégico, indicadores<br />
de acompanhamento dos objetivos, a situação atual (métrica) desse indicador<br />
(quando existente), a meta a ser obtida dentro do prazo determinado e as iniciativas<br />
(plano de ação) necessários para alcançar o objetivo definido.<br />
Tendo como base o ano de 2009 como aprendizagem, ao final daquele ano a organização<br />
desenvolveu novo mapa estratégico, Figura 6, agora colocando no topo sua<br />
visão e missão e logo abaixo as perspectivas do BSC.<br />
O mapa estratégico do ESPRO comunica sua visão e missão e articula os objetivos e<br />
medidas (indicadores) em relação aos quais seu desempenho deve ser medido.<br />
3.3 Indicadores de desempenho<br />
Os indicadores foram criados tendo como base os objetivos estabelecidos no planejamento<br />
estratégico da instituição elaborado em 2009. Ao todo foram estabelecidos<br />
300 indicadores:<br />
• Perspectiva Financeira: 30 indicadores<br />
• Perspectiva do Aprendizado e Crescimento: 31 indicadores<br />
• Perspectiva dos Processos Internos: 97 indicadores<br />
• Perspectiva dos Clientes: 109 indicadores<br />
O Balanced Scorecard como instrumento da gestão do desempenho nas organizações do terceiro setor , Igor V. Cabral, p. 65-88<br />
83
Em maio de 2010 a instituição passou a realizar acompanhamento mensal dos indicadores<br />
através de reuniões coletivas. Ao invés de encontros individuais que a gerência<br />
fazia com as áreas, a conferência do desempenho passou a ser realizada por processos,<br />
alinhando ações necessárias com todos envolvidos pelo desempenho do indicador.<br />
Dentre os indicadores estabelecidos para o objetivo estratégico ”propiciar crescimento<br />
profissional e educacional aos jovens“ e para sua missão, destacam-se:<br />
número de jovens formados na Capacitação Básica, aproveitamento das prospecções<br />
feitas pela capacitação x contratações, número de jovens capacitados em<br />
cursos de aprimoramento profissional, índice de evasão na Capacitação Básica<br />
para o Trabalho, índice de assiduidade na aprendizagem teórica, aproveitamento<br />
dos jovens vindos da capacitação básica nas contratações nas empresas parceiras,<br />
índice de evasão do programa de aprendizagem.<br />
clientes<br />
processos<br />
aprendizado<br />
nanceira<br />
Fonte: ESPRO (2010).<br />
84<br />
Figura 6 - Mapa estratégico ESPRO (2010-2011)<br />
aumentar a<br />
satisfação das<br />
empresas<br />
parceiras<br />
identicar novas<br />
demandas e<br />
criar produtos<br />
customizados<br />
promover advocacy<br />
promover superavit<br />
desenhar,<br />
implementar<br />
e melhorar<br />
processos<br />
críticos<br />
desenvolver<br />
diversicação<br />
(proj. de<br />
impacto social)<br />
VISÃO<br />
MISSÃO<br />
aumentar o<br />
faturamento<br />
conquistando novas<br />
empresas parceiras<br />
proporcionar<br />
crescimento<br />
educacional e<br />
prossional<br />
aos jovens<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011<br />
implementar<br />
sistemas de<br />
informação que<br />
atendam os<br />
processos críticos<br />
desenvolver gestão<br />
da marca<br />
aumentar o<br />
faturamento<br />
global<br />
manter a<br />
satisfação dos<br />
jovens<br />
mensurar o<br />
desempenho<br />
dos jovens<br />
educar<br />
colaboradores:<br />
gestão de pessoas,<br />
processos<br />
e sistemas<br />
aumentar o<br />
faturamento<br />
total nas empresas<br />
parceiras
3.4 Análise dos dados<br />
A utilização do BSC no ESPRO auxiliou na solidificação, comunicação e esclarecimento<br />
da missão e visão da instituição, mais que isso, “possibilitou a união das<br />
ações de suas várias unidades em prol da sua missão”.<br />
A ferramenta permitiu integrar as ações da instituição, ligando a estratégia e a<br />
ação para cumprimento da sua missão. Além disso, propiciou mecanismo de mensuração<br />
de desempenho que desencadeia medidas de ajuste ou de mudança de<br />
curso de ação.<br />
Pode-se verificar no mapa estratégico da organização a relação de causa efeito<br />
entre as perspectivas e impacto em cadeia até a consecução da missão. Na base<br />
encontra-se a perspectiva financeira, necessária para manutenção das demais<br />
perspectivas que visam a execução da missão da instituição (no topo do mapa e<br />
que norteia as demais perspectivas). Na perspectiva financeira a intenção é além<br />
Na perspectiva do aprendizado e crescimento necessária nas OTS, a fim de manter<br />
o atendimento atual assim como ampliá-lo.<br />
Na perspectiva do aprendizado e crescimento, a capacitação dos colaboradores<br />
ganha destaque, tornando-se primordial para impactar de forma positiva e<br />
inovadora as demais perspectivas: processos internos e clientes. Os objetivos da<br />
perspectiva de aprendizado e crescimento oferecem a infraestrutura que possibilita<br />
a realização de objetivos ambicionados nas perspectivas a seguir.<br />
Os objetivos estabelecidos nas perspectivas processos internos e clientes revelam<br />
onde a organização deve se destacar para obter um desempenho excepcional.<br />
Dessa forma, o mapa estratégico do ESPRO vai ao encontro com Kaplan e Norton<br />
(2000) que destacam que a missão de uma organização sem fins lucrativos<br />
deve ser avaliada no nível mais alto do BSC. Também possui convergência com os<br />
autores Kaplan e Norton (2000), ao ter logo em seguida a perspectiva dos clientes<br />
(doador e beneficiário), uma vez que as empresas parceiras fornecem recursos financeiros<br />
enquanto os jovens recebem o serviço.<br />
Os resultados observados em relatório gerencial de indicadores do ESPRO<br />
(RG.01.21.02 – Monitoramento de Indicadores Consolidado) demonstram relação<br />
de causa e efeito entre os objetivos estratégicos, ou seja, o investimento em<br />
aprendizado e crescimento impacta positivamente nos indicadores da perspectiva<br />
processos internos e consequentemente na satisfação das empresas parceiras<br />
e jovens aprendizes.<br />
Nas reuniões coletivas para acompanhamento mensal dos indicadores participam<br />
os gestores da matriz e das filiais do ESPRO, possibilitando assim o alinhamento<br />
das ações em todas as unidades da organização. Cada gestor é responsável<br />
pela multiplicação da reunião e ações a sua equipe.<br />
O Balanced Scorecard como instrumento da gestão do desempenho nas organizações do terceiro setor , Igor V. Cabral, p. 65-88<br />
85
No entanto, ainda não existe um indicador que possibilite medir o resultado social<br />
da missão após o período de aprendizagem na empresa parceira. Os indicadores atuais,<br />
de controle e acompanhamento da realização dos objetivos da organização referem-se<br />
a um controle interno, não identificando os resultados qualitativos para a sociedade.<br />
Esse indicador deve ser elaborado e perseguido pelo ESPRO para mensurar o sucesso<br />
da sua missão.<br />
Considerações Finais<br />
A ferramenta Balanced Scorecard, propicia a gestão do desempenho de forma mais<br />
fácil e precisa, contribuindo para o sucesso da organização. Além de possibilitar a análise<br />
das estratégias e do consequente cumprimento da missão, possibilita a identificação<br />
da relação de causa e efeito entre os objetivos estratégicos.<br />
Apesar das limitações de generalização decorrentes da pesquisa qualitativa exploratória,<br />
depreende-se pelo estudo de caso que a aplicação dessa ferramenta de acompanhamento<br />
de gestão do desempenho traz um benefício real para as instituições do TS,<br />
possibilitando comunicar e traduzir a missão e visão em estratégias a serem implementadas<br />
em cada unidade dessas organizações. Além disso, norteia novos voluntários ou<br />
colaboradores, que através do mapa estratégico identificam os objetivos da instituição<br />
e indicadores pelos quais são responsáveis ou avaliados.<br />
Conclui-se dessa forma que o BSC possibilita o controle e acompanhamento de<br />
resultados das OTS, sendo um desafio para as instituições do TS a definição clara<br />
e mensurável de um ou mais indicadores que avaliem o cumprimento ou não da<br />
sua missão na sociedade.<br />
Para estudos futuros indica-se a análise da correlação dos objetivos estratégicos entre<br />
as diversas perspectivas do BSC nas OTS e seu impacto sobre sua missão.<br />
86<br />
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88<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
Utilização de redes sociais na contratação<br />
de profissionais de nível gerencial *<br />
Alexandre Augusto Tayer Gonçalves **<br />
Deisi Domenech ***<br />
Resumo: Este estudo aprofundou o<br />
entendimento do uso das redes sociais<br />
para fins de contratação especialmente<br />
de nível gerencial. Para isto, foram<br />
estudadas as principais redes sociais<br />
do mercado e o processo de contratação<br />
em si. Com base neste estudo inicial<br />
foi então formulada a pesquisa que<br />
em análise revelou detalhes significativos<br />
sobre o uso das redes. Foram realizadas<br />
19 entrevistas com profissionais<br />
de RH, headhunters, advogados trabalhistas<br />
e psicólogos organizacionais. A<br />
importância de entender as redes do<br />
ponto de vista científico é fundamental<br />
para que seu potencial seja alcançado<br />
integralmente.<br />
Palavras-chave: Recrutamento. Redes<br />
Sociais. Seleção. Contratação. Internet.<br />
Abstract: This study focused on the understanding<br />
of the use of social networks<br />
for recruiting purposes, especially at management<br />
level. To accomplish this, an<br />
initial study of the main social networks<br />
available in the market as well as the recruiting<br />
process were the basis for formulating<br />
the research itself. The research<br />
revealed important facts on the use of social<br />
networks. During the process, 19 HR<br />
professionals, headhunters, labor lawyers<br />
and organizational psychologists were interviewed.<br />
It is important to study social<br />
networks from a scientific point of view<br />
in order to understand their full potential<br />
when using them and also to understand<br />
their relation to society.<br />
Keywords: Recruitment. Social Network.<br />
Selection. Hiring. Internet.<br />
* Este artigo tem por base o Trabalho de Conclusão de Curso intitulado “Uso das redes sociais na contratação de<br />
profissionais em nível gerencial” apresentado ao final do 1º. semestre de 2011 na Faculdade de Administração da<br />
Fundação Armando Alvares Penteado sob a orientação do Prof. Dr. Armando Terribili Filho. Autores do TCC: Alexandre<br />
Augusto Tayer Gonçalves; Deisi Domenech; Marcus Fabricius Botelho Fernandes; Rodrigo André Valério;<br />
Silvio Tadeu Agostinho Junior e Stefano Gatti Weigand de Andrade Lima.<br />
** Graduado em Administração de Empresas pela Faculdade de Administração da FAAP e Especialista em Marketing<br />
com Enfoque em Planejamento e Marketing Digital. E-mail: buzi.alex@gmail.com.<br />
*** Graduada em Administração de Empresas pela Faculdade de Administração da FAAP e Empreendedora Social.<br />
E-mail: deisidomenech@gmail.com.<br />
Utilização de redes sociais na contratação de profissionais de nível gerencial, Alexandre A. T. Gonçalves e Deisi Domenech, p. 89-98<br />
89
Introdução<br />
Como afirma Qualman (2010), já não existe para empresas a escolha de participar<br />
ou não das redes sociais, a escolha está no quão bem irão participar. Mesmo<br />
que uma empresa se negue a ser ativa no universo social da Internet, usuários<br />
farão isso por ela, tomarão propriedade de sua marca e o controle deixará de estar<br />
nas mãos da empresa.<br />
Organizações inteligentes e bem sucedidas enxergam no universo das redes sociais<br />
um conjunto de excelentes oportunidades a serem trabalhadas. Sabem que devem<br />
se manter em contato com todos os usuários que de alguma maneira lhe procuram.<br />
Seja para fazer negócios, para defender a bandeira e valores da marca, para<br />
indicar os serviços a alguém ou até para reclamar e apontar defeitos, usuários estão<br />
ativamente movimentando um conjunto de recursos tangíveis e intangíveis relacionado<br />
às empresas, e devem, portanto, ser atendidos.<br />
A atualização constante dos dados online é outro fator chave a ser destacado sobre<br />
este universo. Centrais de Call Center não precisam mais telefonar continuamente<br />
para pessoas cadastradas em seu banco de dados para atualizar os contatos, pois as<br />
próprias pessoas alteram suas informações diretamente em suas redes sociais. Usuários<br />
querem ser encontrados, buscam fazer parte de algo maior e deixam seus canais<br />
abertos para conviver neste universo dinâmico.<br />
Nesta era da informação e globalização, se torna também dinâmico o plano de<br />
carreira do profissional. As novas gerações, como aponta Terribili Filho (2011), têm<br />
menos comprometimento com empresas que não lhe oferecem bons horizontes de<br />
crescimento tanto dentro como fora do plano monetário. Empresas, por sua vez, têm<br />
a difícil tarefa de reter e atrair estes talentos, não podendo comprometer sua produtividade<br />
com profissionais mal contratados e nem investir demais em treinamento,<br />
gerando mão de obra especializada para uma concorrência cada vez mais feroz.<br />
A relação da empresa com seus colaboradores e sua rede de candidatos a eventuais<br />
vagas abertas passa por uma fase turbulenta. O trabalho do profissional de Recursos<br />
Humanos é transformado por mudanças comportamentais da nova sociedade.<br />
Profissionais concorrem em nível global por uma mesma vaga e o tempo para consolidarem<br />
suas especialidades é curtíssimo. O mercado, por sua vez, já está reprimindo<br />
o mau comportamento nas redes sociais, segundo Dreher (2011), um levantamento<br />
feito pela empresa Proofpoint em 2010 indicou que 7% das empresas já demitiram<br />
por causa do mau uso das redes e 20% advertiram seus colaboradores.<br />
Este quadro complexo do universo das redes sociais e de sua influência na sociedade<br />
gera questões a serem discutidas tanto para profissionais quanto para empresas:<br />
é vantajoso o uso de redes sociais para fins de contratação? Existem riscos<br />
e medidas que devem ser adotadas no processo? Quem sai ganhando e perdendo<br />
com isso no mercado de recursos humanos? Existem aspectos legais e éticos a serem<br />
considerados? Existem limites de privacidade a serem respeitados?<br />
90<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
Este artigo é baseado em um Trabalho de Conclusão de Curso de graduação<br />
que teve por objetivo responder a estas questões pertinentes a utilização das redes<br />
sociais, assim como, despertar e instigar aos demais pesquisadores e profissionais<br />
sobre formas inteligentes e produtivas de utilização no amplo e, aparentemente,<br />
“infinito” campo das redes sociais.<br />
1 Metodologia<br />
A metodologia utilizada foi constituída por várias etapas, as quais foram organizadas<br />
de um modo lógico, sequencial e dinâmico para garantir a qualidade na coleta de informações<br />
em campo. No início, houve uma fase exploratória, caracterizada pelo aprofundamento<br />
de conceitos e referenciais teóricos. Em sequencia, foi adotado o método<br />
de Pesquisa Explicativa com base nos guias de Hernández Sampieri, Collado e Lucio<br />
(2006). Segundos os autores (2006, p. 107), os estudos explicativos “vão além da descrição<br />
de conceitos ou fenômenos ou do estabelecimento de relações entre conceitos,<br />
estão destinados a responder as causas dos acontecimentos, fatos, fenômenos físicos<br />
ou sociais“. Portanto, a metodologia adotada foi ao encontro do objetivo proposto na<br />
busca para entender o crescimento da utilização das redes sociais como forma alternativa<br />
para a contratação de pessoal, inclusive em altos escalões, assim como, se há e<br />
como estas variáveis se relacionam.<br />
Para tratar de assuntos relativos à contratação de pessoal em um ambiente repleto<br />
de novas ferramentas virtuais e tecnológicas, foi necessário realizar uma sondagem de<br />
opiniões de especialistas no assunto. Assim, o enfoque dominante do processo de pesquisa<br />
foi do tipo qualitativo, e a delimitação da amostra foi direcionado a “Amostra de<br />
Especialistas”, seguindo as mesmas metodologias adotadas pelos autores Hernández<br />
Sampieri, Collado e Lucio (2006, p. 272).<br />
Após o desenvolvimento e organização para a geração de ideias, o qual se transformou<br />
na formulação do problema de pesquisa, foram realizados roteiros de entrevista<br />
com enfoque de “Entrevista Estruturada”. Segundo, Marconi e Lakatos (20063) tal enfoque<br />
se caracteriza pela possibilidade de o entrevistador seguir um roteiro previamente<br />
estabelecido, o qual é efetuado com pessoas selecionadas de acordo com um plano.<br />
Foram elaborados três diferentes roteiros de entrevistas, um foi direcionado aos Gerentes/Diretores<br />
de Recursos Humanos e Headhunter (recrutadores terceirizados) e os<br />
outros dois roteiros direcionados aos Advogados Trabalhistas e Psicólogos Organizacionais.<br />
O objetivo foi cobrir um espectro mais aberto da questão levantada como tema,<br />
coletando assim, informações relevantes sobre aspectos legais, éticos, psicológicos, de<br />
mecânica do processo de recrutamento e seleção, e da atuação das empresas e profissionais<br />
nas redes.<br />
No total foram entrevistados 19 profissionais de grandes empresas ou de grande<br />
atuação no mercado, com 7 a 14 anos de experiência. Vale destacar, que foi determinado<br />
manter o caráter confidencial das informações pessoais obtidas sobre os entrevistados,<br />
tais como nome do profissional e empresa. Na Figura 1, é detalhado o total da<br />
Utilização de redes sociais na contratação de profissionais de nível gerencial, Alexandre A. T. Gonçalves e Deisi Domenech, p. 89-98<br />
91
amostra de especialistas por área de atuação, tendo como prioridade os profissionais<br />
da área de Recursos Humanos (Gerentes e Headhunters). O processo de realização das<br />
entrevistas foi dinâmico, no qual o entrevistador seguiu um roteiro pré-determinado<br />
para criar com o respondente um ambiente propício para que o máximo de informações<br />
fossem reveladas.<br />
92<br />
Figura 1 – Quantitativo de participantes especialistas por área<br />
Fonte: Autores deste artigo.<br />
Durante a análise dos dados, para manter a qualidade, foi importante a organização<br />
e classificação do material coletado ordenado em critérios, como por<br />
exemplo: cronologicamente; por unidade de análise e perfil de indivíduos participantes;<br />
e por tema tratado. Ao fim da tarefa analítica, foram destacados quatro<br />
pontos-chave na coleta de informações: utilização de redes sociais; ética e confidencialidade;<br />
comportamento e produtividade; e contratação. Estes destaques se<br />
tornaram a premissa para todo o desenvolvimento e conclusão sobre a utilização<br />
das redes sociais em contratação de nível gerencial. Vale citar, que o termo “nível<br />
gerencial” utilizado na pesquisa compreende qualquer posição que tenha outra<br />
subordinada a si e com responsabilidade significativa.<br />
2 Redes Sociais<br />
Psicólogos Organizacionais<br />
Advogados Trabalhistas<br />
Headhunters<br />
Gerentes e/ou Diretores de<br />
Recursos Humanos<br />
As redes sociais estão evoluindo para serem centralizadoras de qualquer necessidade<br />
de uma pessoa navegando na Internet. Segundo o Kantar Group/TNS (2010), “o<br />
que começou como uma plataforma conectada a sua lista de amigos para envio e recebimento<br />
de mensagens se tornou um agregador de serviços: a parada única para<br />
qualquer necessidade de serviços online” . Hoje, a tecnologia de redes sociais converge<br />
com outras tecnologias e a rede se torna uma plataforma para uma gama muito grande<br />
de aplicativos diferentes: jogos, calendários, GPS, entre muitos outros.<br />
As redes, portanto, são classificadas por sua funcionalidade principal, dentre as de<br />
maior relevância no mercado: o YouTube é uma rede para transmissão de vídeo; o Twit-<br />
3<br />
3<br />
5<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011<br />
8
ter para “micro-notícias” (micro-blogging); o Facebook para relacionamento pessoal e o<br />
Linkedin para relacionamento profissional. Na Figura 2, é possível observar um comparativo<br />
entre as principais redes sociais e suas instigantes peculiaridades.<br />
Um dos aspectos mais relevantes sobre as redes sociais é que seus usuários recebem<br />
informações de canais escolhidos por eles. Isto acontece, porque um usuário está<br />
conectado com outro usuário diretamente, e esta conexão foi aceita por ambos. Desta<br />
maneira, usuários, através das redes, filtram as informações de seu interesse por selecionar<br />
suas conexões. Na rede Linkedin, por exemplo, usuários podem “seguir” empresas<br />
que lhe interessam, recebendo notícias e atualizações diretas destas empresas. Este<br />
contato direto também é interessante pois o valor de informações trocadas é maior, já<br />
que vem direto de sua fonte.<br />
Fonte: Adaptada de Melaragno (2009).<br />
Figura 2 – Comparativo entre redes sociais<br />
REDE TIPO VALOR NÚMEROS RELEVANTES PERFIL<br />
3 Resultados da pesquisa<br />
Vídeo Conteúdo Real 36 horas de vídeo por minuto<br />
3.1 Quanto à utilização de Redes Sociais<br />
A utilização das redes é um fator unânime entre os 19 respondentes. Seja para uso<br />
profissional ou pessoal, todos os entrevistados fazem uso delas. Do lado profissional,<br />
fazem uso para diversos fins, sendo um deles a contratação.<br />
Alguns dos respondentes destacaram o uso para prospecção de clientes, divulgação<br />
da empresa, e inclusive a busca por parcerias de negócios. Estas parcerias se estendem<br />
ao ponto de serem chamadas de intercâmbio comercial, e vão muito além da troca de<br />
contatos. Muitas são buscadas internacionalmente.<br />
Utilização de redes sociais na contratação de profissionais de nível gerencial, Alexandre A. T. Gonçalves e Deisi Domenech, p. 89-98<br />
Amador e<br />
Profissional<br />
Mural Integração 600 milhões de usuários Pessoal<br />
Microblog Notícias<br />
25 bilhões de postagens em<br />
2010<br />
Pessoal e<br />
Profissional<br />
Mural Integração 23 milhões de usuários no Brasil Pessoal<br />
Multimídia Personalização 300 mil bandas/músicos<br />
Mural Comprometimento<br />
Fortune 500 - Executivos de<br />
todas as empresas são membros<br />
Pessoal e<br />
Profissional<br />
Profissional<br />
93
Alguns respondentes, contudo, se apresentaram mais cautelosos, afirmando que<br />
o uso deve ser restrito a ser inteligente e produtivo ou para assuntos específicos<br />
pertinentes às atividades da empresa, que requerem o uso das redes sociais virtuais.<br />
A maioria dos respondentes afirmou que o uso é liberado para os colaboradores<br />
de sua empresa, e inclusive incentivado. Nenhum dos respondentes tem<br />
conhecimento sobre o uso feito por parte dos concorrentes. Neste ponto, as respostas<br />
foram objetivas, na maioria dos casos, um simples “não”.<br />
3.2 Quanto à Ética e Confidencialidade<br />
Os três profissionais da área de Direito que foram entrevistados, abordaram a<br />
questão com o “bom senso” entre indivíduos como elemento mais importante,<br />
quando o aspecto legal não oferece regras claras e específicas sobre os limites<br />
quanto ao uso e investigação das redes sociais. Não é proibido colher informações<br />
sobre um candidato através das redes sociais. O artigo 5 o da Constituição Federal<br />
de 1988 destaca a proibição quanto a violar a privacidade de correspondências,<br />
telefone e telégrafo, mas nada que se refira as redes sociais.<br />
3.3 Quanto ao Comportamento e Produtividade<br />
Os três entrevistados da área de Psicologia comentaram que é impossível traçar<br />
um perfil de personalidade e comportamento profissional apenas observando o<br />
uso das redes sociais por uma pessoa. Para criar um perfil de personalidade são necessárias<br />
técnicas específicas. O que seria possível é ter uma indicação da atuação<br />
ou comportamento de uma pessoa.<br />
Observando a ligação do indivíduo com a respectiva família e amigos é possível<br />
ter uma ideia de sua sociabilidade profissional. Observar também menções<br />
referentes ao trabalho é importante, uma pessoa que tem o hábito de reclamar<br />
constantemente, por exemplo, pode ser uma pessoa que tem dificuldades de se<br />
engajar positivamente com a empresa em que trabalha. Alguém que fala repetidas<br />
vezes sobre seu trabalho ou se vangloria de suas tarefas constantemente, e<br />
inclusive por isso passa mais do que o tempo necessário trabalhando, por outro<br />
lado, pode ser afetada mais tardiamente por não ter seus momentos pessoais satisfeitos,<br />
e isto afetar sua produtividade profissional.<br />
O que se deve observar? De acordo com os entrevistados, a frequência do uso,<br />
que pode afetar sua produtividade. A sua exposição em imagens, especialmente<br />
quando ligada ao uso exagerado de álcool ou até de drogas. Erros graves de escrita.<br />
Conteúdo de suas postagens, que podem ser agressivas, ou geradoras constantes<br />
de polêmicas, indicando um potencial criador de problemas. Perceber se a<br />
pessoa é verdadeira. Uma pessoa que transparece falsidade, não interessa.<br />
94<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
3.4 Quanto à Contratação<br />
O uso das redes para a contratação foi confirmado de forma unânime entre os<br />
respondentes. Alguns destacaram que preferem usar a rede de contatos particulares,<br />
seu network pessoal, mas mesmo estes afirmaram que fazem uso de redes<br />
sociais para conhecer maiores detalhes sobre seus candidatos em certos casos.<br />
A principal rede usada para fins de contratação é o LinkedIN, seguida do Twitter<br />
e Facebook. O uso do LinkedIN se justifica por ser uma rede criada para o uso profissional.<br />
Alguns respondentes reforçaram este aspecto defendendo que usuários<br />
devem estabelecer perfis diferenciados para cada rede e que o contexto muda<br />
de uma rede para outra. O Facebook foi mencionado como uma boa rede para<br />
conhecer o lado pessoal de candidatos.<br />
A frequência de contratações tendo o suporte das redes sociais é muito alta<br />
entre os respondentes. Apenas um caso apresentou uma taxa de 20% de contratações<br />
feitas diretamente por redes sociais. Os demais não deram números específicos,<br />
mas deixaram claro que sempre fazem o uso, mesmo em casos de investigações<br />
de candidato.<br />
O conteúdo que os recrutadores buscam sobre candidatos é principalmente<br />
o específico, ou seja, o que já é normal estar contido no currículo. A confirmação<br />
da veracidade de informações expostas por candidatos em currículo ou entrevista<br />
é também parte desta busca. Outro elemento destacado foi o número de contatos<br />
de um candidato na rede, um candidato com um grande número de contatos<br />
pode acrescentar valor para a empresa. Um dos cinco headhunters entrevistados,<br />
afirmou que seus clientes, muitas vezes, querem que seja feito o trabalho de investigação,<br />
que o headhunter atue como um verdadeiro detetive.<br />
Um dos aspectos chave foi a questão da indicação ou referencial de um candidato.<br />
Candidatos para cargos de nível gerencial normalmente são encontrados<br />
através de indicações. Mesmo após serem identificados, a questão das referências<br />
de cada candidato é fator relevante de análise.<br />
Um risco apontado no uso das redes foi o de obter informações falsas. Quem<br />
pesquisa sobre uma pessoa deve apurar seus resultados e validar a veracidade das<br />
informações disponibilizadas nas redes.<br />
Quanto à medição dos resultados obtidos com o uso das redes para contratação,<br />
apenas um dos respondentes utiliza um índice estatístico. Um segundo caso<br />
destaca o acompanhamento em números reais, sem um índice de correlação. A<br />
grande maioria não faz uso de métrica alguma.<br />
Utilização de redes sociais na contratação de profissionais de nível gerencial, Alexandre A. T. Gonçalves e Deisi Domenech, p. 89-98<br />
95
Considerações Finais<br />
Evidencia-se a predominância quanto ao uso de redes sociais pelos entrevistados.<br />
Facebook e LinkedIn foram apontados como os mais utilizados, e em destaque o LinkedIn<br />
apresentou uniformidade quanto a seu uso perante os headhunters, como pode ser<br />
observado em maiores detalhes na Figura 3.<br />
96<br />
Figura 3 – Utilização das redes sociais pelos respondentes<br />
Respondente Área Facebook Orkut LinkedIn Twitter Demais<br />
1 x x<br />
2 Psicologia x<br />
3 x x<br />
4 x x<br />
5 Direito x x<br />
6<br />
7 x x x x<br />
8 x x x<br />
9<br />
10 Recursos x x x x<br />
11 Humanos x x<br />
12 x x x x<br />
13 x x x x<br />
14<br />
15 x x x x<br />
16 x x<br />
17 Headhunter x x<br />
18 x<br />
19 x x<br />
Totais 13 5 12 8 3<br />
% uso 68% 26% 63% 42% 16%<br />
Fonte: Autores deste artigo.<br />
Mesmo diante de todas as evidências indicando o uso das redes sociais como<br />
pré-requisito, e não mais como um diferencial, empresas ainda lidam com esta<br />
atividade de maneira experimental e de certa forma insegura. Observa-se isto<br />
quando os dados coletados revelam que poucas empresas acompanham o uso<br />
por parte da concorrência e que apenas uma, citada nas entrevistas, tem um índice<br />
estatístico para fundamentar sua atuação.<br />
É importante que se crie a demanda por uma especialização nesta atividade<br />
por parte dos profissionais, assim como, promover a inovação e ser “evangelizadores”<br />
do uso como forma de ligação direta entre profissionais e empresas, mudando<br />
a cultura vigente. Tendo isto em vista, observa-se o ânimo nos respondentes ao<br />
mencionarem aspectos como a interatividade com seus candidatos via Internet; a<br />
oportunidade de fazer uma pré-seleção como apoio ao processo de contratação; o<br />
uso da rede como ferramenta de CRM (Customer Relationship Management), mantendo<br />
o contato vivo entre as partes e os casos de intercâmbio comercial.<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
A criação de aplicativos pelos recrutadores pode ser uma estratégia criativa e inovadora.<br />
Pode-se criar um aplicativo onde os candidatos entrem em um pequeno<br />
jogo de decisões, e que com uma simples resposta por dia, dentro de suas redes<br />
sociais, tomem decisões sobre um processo interno fictício criado para o jogo. Estas<br />
respostas levarão os candidatos a passarem por uma seleção natural, e na fase final<br />
a empresa entra e atua diretamente com os finalistas. Neste exemplo, a companhia<br />
não teria “reinventado a roda”, pelo contrário, teria aproveitado que seus candidatos<br />
estão diariamente nas redes e, assim como respondem a comentários de seus amigos,<br />
responderiam aos questionamentos deste jogo com um simples click por dia.<br />
Outra sugestão é a criação de um índice para o monitoramento dos resultados de<br />
ações na Internet voltadas à contratação. É importante que o uso seja otimizado para<br />
que o mercado profissional de contratação online não fique preso exclusivamente a<br />
ferramentas que cobram uma taxa de serviço de candidatos e de empresas, como<br />
por exemplo, a Catho (2011). Existem na Internet algumas ferramentas que realizam o<br />
acompanhamento da performance de marcas atuantes em redes sociais, como é o caso<br />
do IndexSocial (2011), que utiliza a mesma lógica das bolsas de valores. A criação de<br />
um índice para contratação talvez não seja tão simples quanto o IndexSocial, pois avaliaria<br />
um número maior de variáveis. Sua utilização, por outro lado, também seria muito<br />
maior. Portanto, tendo ao alcance um índice que guia a atuação, empresas podem fazer<br />
o trabalho de recrutamento por si mesmas, ou no mínimo ter mais controle do que estão<br />
fazendo e dos resultados de empresas terceirizadas que estão contratando.<br />
Pode-se afirmar que se está no caminho certo, rumo à eficácia no uso das redes<br />
sociais para identificação e contratação de profissionais para o alto escalão das<br />
organizações, mas ainda há a necessidade de quebra de paradigma para que a<br />
tecnologia seja aproveitada em todo seu potencial. Portanto, é preciso racionalizar<br />
o planejamento e análise de resultados no uso das redes, para que sejam utilizadas<br />
e aproveitadas de forma eficaz pela sociedade atual e pelas novas gerações.<br />
Referências<br />
CATHO. Disponível em: . Acesso em: 26 mar. 2011.<br />
DREHER, Felipe. Regras de conduta. Information week. Fevereiro de 2011, p. 53.<br />
HERNÁNDEZ SAMPIERI, Roberto; COLLADO, Carlos Fernández; LUCIO, Pilar Baptista. Metodologia de<br />
pesquisa. 3. ed. São Paulo: McGraw-Hill, 2006.<br />
INDEXSOCIAL. Disponível em: . Acesso em: 26 set. 2011.<br />
KANTAR. Discover digital life. Disponível em: . Acesso em: 28 dez. 2010.<br />
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006.<br />
Utilização de redes sociais na contratação de profissionais de nível gerencial, Alexandre A. T. Gonçalves e Deisi Domenech, p. 89-98<br />
97
MELARAGNO, Laura. Redes sociais como ferramentas de CRM: estudo comparativo entre São<br />
Paulo e Barcelona. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação). Faculdade de Administração da<br />
FAAP. São Paulo, 2009.<br />
QUALMAN, Erik. Socialnomics: how social media transforms the way we live and do business.<br />
New Jersey, 2010.<br />
TERRIBILI FILHO, Armando. Geração Y, geração X e baby boomers: sinergia ou cisão em projetos?<br />
Qualimetria. Janeiro, 2011, p. 86-87.<br />
98<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
Orientações para os autores e para a<br />
elaboração de artigos científicos<br />
1) Foco da <strong>Revista</strong><br />
A <strong>Revista</strong> <strong>Estratégica</strong> publica semestralmente artigos inéditos nas áreas de Estratégia,<br />
Administração, Gestão e temas afins, em português, espanhol e inglês, de<br />
autores brasileiros e do exterior e que foram devidamente aprovados pelo Conselho<br />
Editorial da <strong>Revista</strong>. Excepcionalmente, publica também artigos não inéditos,<br />
mas ainda não divulgados em português ou espanhol, e que a <strong>Revista</strong> considere<br />
importante para publicação nestas línguas, modificados ou não, conforme avaliação<br />
dos editores ou de membros do Conselho Editorial. Os artigos devem conter:<br />
resumo, abstract (e respectivas palavras-chave), introdução, desenvolvimento,<br />
considerações finais e referências. A escrita deve ser acessível ao público em geral.<br />
2) Formato dos Originais<br />
Os textos devem ser submetidos no formato de arquivo eletrônico, enviados<br />
por e-mail, no programa Word, em Fonte Arial, tamanho 10. Considerando os gráficos<br />
e tabelas, cada artigo deve conter de 8 a 25 páginas, tamanho A4, com espaço<br />
1,5 entre linhas. As tabelas e gráficos não preparados originalmente pelo autor<br />
e retirados de outras fontes não poderão ser colocados no artigo no formato de<br />
figuras, necessitando ser refeitos, e sempre escritos no mesmo idioma do texto em<br />
que estão inseridos.<br />
3) Remessa de Originais<br />
Para o e-mail estrategica@faap.br. Além do arquivo em Word deverão ser encaminhados<br />
os demais arquivos contendo gráficos e tabelas, a fim de facilitar a<br />
edição do artigo.<br />
4) Avaliação de Originais<br />
Os artigos serão submetidos aos pareceristas do Conselho Editorial, cujos nomes<br />
não serão informados aos autores.<br />
5) Exemplares para os autores<br />
Os autores recebem 3 (três) exemplares da revista.<br />
99
6) Assinaturas<br />
Informações sobre assinatura ou permuta da revista poderão ser obtidas pelo<br />
e-mail estrategica@faap.br<br />
7) Cabeçalho do Artigo<br />
100<br />
Título do artigo (fonte Arial, tamanho 20, negrito).<br />
Nome do autor (fonte Arial, tamanho 12, negrito).<br />
Indicar um breve currículo (até 6 linhas) indicando a titulação acadêmica, a<br />
ocupação atual e o e-mail para contato no rodapé da primeira página. Utilizar fonte<br />
Arial, tamanho 8.<br />
Cidade, UF, data completa (dia, mês e ano).<br />
8) Resumo<br />
Preferencialmente em uma única frase, apresentar o tema e o contexto em que<br />
o tema se encontra. Escrever sobre:<br />
• O que foi a pesquisa, o problema, as hipóteses, os objetivos.<br />
• Descrição do método adotado, ou seja, onde os dados foram coletados (local<br />
específico) e como (que instrumento foi utilizado para coletar os dados),<br />
quem são os dados (classe de pessoas) ou o que (classe de objetos, fenômenos<br />
naturais, conceitos extraídos de textos) e o tamanho da amostra<br />
em números ou percentuais, e informar o referencial teórico que norteou a<br />
análise dos dados.<br />
• Resultados encontrados.<br />
• Conclusão da pesquisa.<br />
Palavras-chave: apresentar de 3 a 5 palavras, separadas por “.” (ponto).<br />
Formatação: sem margem, com fonte Arial, tamanho 10 e espaçamento simples.<br />
9) Abstract<br />
Tradução do resumo para o inglês, inclusive com as palavras-chave.<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011
10) Introdução<br />
Apresentar a pesquisa, contemplando os seguintes aspectos:<br />
a) Explicar por que foi escolhido o tema e apresentá-lo em determinado contexto<br />
(época, lugar) onde está inserido.<br />
b) Descrever o problema da pesquisa.<br />
c) Apresentar o(s) objetivo(s) que se espera atingir por meio da realização da<br />
pesquisa.<br />
d) Apresentar a(s) hipótese(s) que será(ão) confrontada(s) com os dados colhidos<br />
pela pesquisa.<br />
e) Fazer citações de trabalhos realizados por outros autores (conceitos, dados<br />
estatísticos gerados por outros pesquisadores, teorias). Tais citações devem<br />
ter conexão com o tema da pesquisa.<br />
11) Desenvolvimento<br />
Criar subtítulos do tipo: método adotado (descrever o método que foi adotado<br />
par atingir o objetivo da pesquisa).<br />
Informar em que região geográfica foi realizada a pesquisa, no caso de pesquisa<br />
de campo. Para uma pesquisa puramente bibliográfica, deve ser informado<br />
o que foi feito, a fim de elucidar questões que diversos teóricos tenham pensado<br />
sobre o tema. Descrever o período de tempo dedicado à coleta de dados e apresentar<br />
a amostra (participantes) que selecionou.<br />
Apresentar os dados que coletou, lembrando que um conceito expresso por<br />
algum teórico ou um pensamento colhido durante uma entrevista, são dados. Informar<br />
qual foi “a referência teórica” adotada para realizar a análise dos dados.<br />
Elaborar um debate entre uma amostra de pensamentos produzidos por teóricos<br />
(revisão de literatura, de onde retirou citações e os dados que colheu em<br />
determinada realidade).<br />
Uma pesquisa puramente bibliográfica indica que os dados são “conceitos” colhidos<br />
na literatura que serão igualmente comparados, de acordo com “o problema”<br />
da investigação.<br />
101
12) Conclusão<br />
Apresentar as descobertas de maneira lógica (ou seja, isso é consequência daquilo;<br />
isso causou aquilo), com vocabulário claro e conciso.<br />
Deve estar fundamentada nos resultados e na discussão anteriormente abordadas.<br />
Oferecer respostas sobre o problema investigado; informar se cada objetivo<br />
foi alcançado; se elaborou hipóteses, informar quais foram confirmadas e quais<br />
foram infirmadas (negativadas).<br />
Convém informar sobre as limitações encontradas e com as quais não foi possível<br />
lidar, entretanto, poderiam ser exploradas por outros pesquisadores, por outros<br />
trabalhos. Nenhuma citação de outros autores deve ser feita na fase de conclusão.<br />
A conclusão é do autor da pesquisa.<br />
13) Referências<br />
Devem aparecer pelo sobrenome do autor em ordem alfabética, seguido do restante<br />
do nome e não devem ser numeradas. Devem obedecer as normas da ABNT.<br />
102<br />
Todas as Referências citadas no texto devem constar ao final, na seção Referências.<br />
O título das obras usadas como Referências (das quais foram extraídas as citações)<br />
devem estar destacadas em negrito.<br />
14) Apêndices / Anexos<br />
Devem vir ao final do trabalho. Vale salientar que os apêndices e os anexos, ao<br />
serem inseridos, não são contados como páginas.<br />
AVISO IMPORTANTE<br />
A responsabilidade dos artigos publicados é dos autores,<br />
não expressando qualquer opinião ou posicionamento da revista.<br />
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103
104<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011