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Revista Estratégica vol.11 - Faap

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VOLUME<br />

ISSN 1519-4426<br />

11<br />

<strong>Estratégica</strong><br />

A profissionalização do gerenciamento<br />

de projetos no Brasil: um estudo<br />

comparativo dos resultados dos<br />

benchmarkings de 2004 e 2010<br />

Armando Terribili Filho<br />

Armadilhas regulatórias presentes no setor<br />

elétrico brasileiro – análise crítica<br />

Ana Lúcia Rodrigues da Silva e<br />

Fernando Amaral de Almeida Prado Jr.<br />

O uso e a proteção de sinais não<br />

tradicionais no processo de identificação<br />

e diferenciação de uma marca<br />

José Carlos de Lima Júnior, Marcos Machado e<br />

Geraldo Luciano Toledo<br />

<strong>Revista</strong> da Faculdade de Administração<br />

Número 1<br />

volume 11 • número 1 • junho 2011<br />

Top management team international dominant<br />

logic: a new linkage in the international<br />

diversification – performance link<br />

Douglas E. Thomas<br />

O Balanced Scorecard como instrumento<br />

da gestão do desempenho nas<br />

organizações do terceiro setor<br />

Igor Vovchenco Cabral<br />

Utilização de redes sociais na contratação<br />

de profissionais de nível gerencial<br />

Alexandre Augusto Tayer Gonçalves e<br />

Deisi Domenech


CONSELHO DE CURADORES<br />

Presidente<br />

Sra. Celita Procopio de Carvalho<br />

Integrantes<br />

Dr. Benjamin Augusto Baracchini Bueno<br />

Dr. Octávio Plínio Botelho do Amaral<br />

Dr. José Antonio de Seixas Pereira Neto<br />

Sra. Maria Christina Farah Nassif Fioravanti<br />

Embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima<br />

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO<br />

Diretor<br />

Prof. Dr. Tharcisio Bierrenbach de Souza Santos<br />

DIRETORIA EXECUTIVA<br />

Diretor Presidente<br />

Dr. Antonio Bias Bueno Guillon<br />

Diretor Tesoureiro<br />

Dr. Américo Fialdini Jr.<br />

Diretor Cultural<br />

Prof. Victor Mirshawka<br />

ASSESSORES DA DIRETORIA<br />

Área Administrativa e Financeira<br />

Dr. Sérgio Roberto de Figueiredo Santos e Marchese<br />

Área Acadêmica<br />

Prof. Raul Edison Martinez<br />

ESTRATÉGICA<br />

<strong>Revista</strong> da Faculdade de Administração FAAP e do FAAP-MBA<br />

Editor<br />

Tharcisio Bierrenbach de Souza Santos<br />

Editores Associados<br />

Armando Terribili Filho e Celi Langhi<br />

Conselho Editorial<br />

Alexandre Massote, Armando Terribili Filho, Celi<br />

Langhi, Emerson Piovezan, Jorge Marinho de<br />

Araújo, Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva,<br />

Marco Aurélio Xavier Soares de Mello, Marina<br />

Lindenberg Lima, Tharcisio Bierrenbach de Souza<br />

Santos e Walter Gomes da Cunha Filho.<br />

Arte / Editoração Eletrônica<br />

Agência FAAP<br />

Periocidade<br />

Semestral<br />

Publicação<br />

As correspondências, inclusive originais de<br />

artigos, devem ser endereçadas à<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Estratégica</strong><br />

Rua Alagoas, 903 – Prédio 4 – 2º andar<br />

Higienópolis – São Paulo/SP<br />

CEP: 01242-902<br />

ou pelo e-mail: estrategica@faap.br<br />

www.faap.br


volume 11 / número 1/ junho de 2011<br />

ISSN 1519-4426<br />

Rua Alagoas, 903 - Higienópolis<br />

São Paulo, SP - Brasil


<strong>Estratégica</strong>/ Faculdade de Administração da Fundação Armando Alvares Penteado.<br />

Vol. 11, n. 1 (2011) - São Paulo: FA-FAAP, 2011<br />

Semestral<br />

1. Administração – Periódicos. I. Fundação Armando Alvares Penteado. Faculdade de Administração.<br />

ISSN 1519-4426


volume 11 / número 1/ junho de 2011<br />

Sumário<br />

Editorial 7<br />

A profissionalização do gerenciamento de projetos no Brasil: um estudo<br />

comparativo dos resultados dos benchmarkings de 2004 e 2010<br />

Armando Terribili Filho<br />

Armadilhas regulatórias presentes no setor elétrico brasileiro –<br />

análise crítica<br />

Ana Lúcia Rodrigues da Silva e Fernando Amaral de Almeida Prado Jr.<br />

O uso e a proteção de sinais não tradicionais no processo de<br />

identificação e diferenciação de uma marca<br />

José Carlos de Lima Júnior, Marcos Machado e Geraldo Luciano Toledo<br />

Top management team international dominant logic: a new linkage in<br />

the international diversification – performance link<br />

Douglas E. Thomas<br />

O Balanced Scorecard como instrumento da gestão do desempenho nas<br />

organizações do terceiro setor<br />

Igor Vovchenco Cabral<br />

Utilização de redes sociais na contratação de profissionais de nível gerencial<br />

Alexandre Augusto Tayer Gonçalves e Deisi Domenech<br />

Orientações para os autores e para a elaboração de artigos científicos 99<br />

9<br />

21<br />

37<br />

51<br />

65<br />

89


6<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


Editorial<br />

Nesta edição apresentamos seis artigos que abordam temas relevantes da administração,<br />

com destaque para: gerenciamento de projetos, marketing, ferramentas<br />

de mercado, uso de redes sociais dentre outros.<br />

No primeiro artigo, Armando Terribili Filho mostra como a área de gerenciamento<br />

de projetos está cada vez mais profissionalizada no Brasil e faz um comparativo<br />

entre os resultados dos benchmarkings (2004 e 2010) que são realizados anualmente<br />

pelos chapters do PMI Brasil – Project Management Institute. Ao final, o autor<br />

deixa um alerta sobre a retração nos investimentos efetuados pelas organizações<br />

em treinamento e qualificação profissional.<br />

O segundo artigo, intitulado “Armadilhas regulatórias presentes no setor elétrico<br />

brasileiro – análise crítica”, é de autoria de Ana Lúcia Rodrigues da Silva e Fernando<br />

Amaral de Almeida Prado Jr. Este artigo procura à luz de exemplos do setor<br />

elétrico brasileiro, registrar a ocorrência de falhas ou lacunas na regulação provocadas<br />

por outras regulamentações produzindo efeitos indesejados e não previstos<br />

aos agentes e consumidores finais de energia.<br />

O terceiro artigo intitula-se “O uso e a proteção de sinais não tradicionais no<br />

processo de identificação e diferenciação de uma marca” e é de autoria de José<br />

Carlos de Lima Júnior, Marcos Machado e Geraldo Luciano Toledo. Os autores<br />

apresentam as diferenciações entre os sinais tradicionais e os sinais não tradicionais<br />

no processo de identificação e diferenciação de uma marca, destacando as formas<br />

de uso e proteção que esses novos elementos recebem em diversos países.<br />

O quarto artigo de Douglas E. Thomas, em língua inglesa, destaca a mudança<br />

acerca da importância do CEO (Chief Executive Officer) nas organizações. O ponto<br />

focal da nova proposta reside no TMT (Top Management Team) como locus importante<br />

de tomada de decisão, tornando esse grupo o foco central para a gestão.<br />

Os últimos dois artigos são subprodutos de nossos ex-alunos. Igor Vovchenco<br />

Cabral apresenta em seu artigo a aplicabilidade do Balanced Scorecard (BSC) nas instituições<br />

do Terceiro Setor, que foi tema de sua monografia do MBA, com o título “O<br />

Balanced Scorecard como instrumento da gestão do desempenho nas organizações<br />

do terceiro setor”. Finalmente, o sexto artigo, subproduto de um TCC da Faculdade de<br />

Administração aborda a utilização de redes sociais na contratação de profissionais de<br />

nível gerencial. Foram realizadas 19 entrevistas com profissionais de Recursos Humanos,<br />

headhunters, advogados trabalhistas e psicólogos organizacionais. Os autores do<br />

artigo são Alexandre Augusto Tayer Gonçalves e Deisi Domenech.<br />

Na próxima edição teremos a participação de um Conselho Editorial ampliado,<br />

com renomados e titulados professores, como: Angelo Palmisano (FMU - Facul-<br />

7


dades Metropolitanas Unidas), João Carlos Néto (SENAC-SP), Marcelo Lampkowski<br />

(Instituição Toledo de Ensino), Marcelo Rodrigues dos Anjos (Fundação da<br />

Universidade Federal do Amazonas), Noêmia Lazzareschi (Pontifícia Universidade<br />

Católica de São Paulo - Faculdade de Ciências Sociais, Depto de Sociologia), Raquel<br />

da Silva Pereira (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) e Sérgio Bairon<br />

(Universidade de São Paulo - Escola de Comunicações e Artes).<br />

8<br />

Boa leitura!<br />

Prof. Dr. Tharcisio Bierrenbach de Souza Santos<br />

Diretor da Faculdade de Administração da FAAP<br />

Editor da <strong>Revista</strong> <strong>Estratégica</strong><br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


A profissionalização do gerenciamento<br />

de projetos no Brasil: um estudo<br />

comparativo dos resultados dos<br />

benchmarkings de 2004 e 2010<br />

Resumo: Este artigo apresenta a situação<br />

atual do gerenciamento de projetos<br />

no país, tendo por base o benchmarking<br />

conduzido em 2010 pelos 13 chapters<br />

brasileiros do PMI – Project Management<br />

Institute, que teve a participação de 460<br />

organizações públicas e privadas. Resultados<br />

deste benchmarking comparados<br />

com o de 2004 (73 organizações) e observações<br />

práticas de mercado (anúncios<br />

classificados de empregos, crescimento<br />

nos cursos de pós-graduação e de extensão;<br />

valorização das certificações profissionais<br />

e lançamento de livros, revistas e<br />

sites especializados) evidenciam o crescimento<br />

e a profissionalização da área<br />

no Brasil. Do Benchmarking 2010, há um<br />

alerta sobre a retração nos investimentos<br />

efetuados pelas organizações em treinamento<br />

e qualificação profissional.<br />

Palavras-chave: Gerenciamento de Projetos.<br />

PMI. Benchmarking em Gerenciamento<br />

de Projetos. Escritório de Projetos.<br />

PMO. Certificação PMP.<br />

Armando Terribili Filho, PMP *<br />

Abstract: This article discusses the current<br />

situation in project management in<br />

Brazil, based on benchmarking conducted<br />

in 2010 by PMI (Project Management<br />

Institute) Brazilian chapters (13), in which<br />

460 public and private organizations participated.<br />

The results of this benchmarking<br />

compared with the benchmarking<br />

conducted in 2004 (73 organizations)<br />

and observations from market practices<br />

(classified ads for jobs, growth in postgraduate<br />

and extension courses, appreciation<br />

of professional certifications, books<br />

release, new magazines and specialized<br />

websites) demonstrate the growth and<br />

professionalism in project management<br />

area in Brazil. However, the Benchmarking<br />

comparison highlights the downturn<br />

in investments made by organizations in<br />

training and professional qualification.<br />

Keywords: Project Management. PMI.<br />

Benchmarking in Project Management.<br />

Project Management Office. PMO. PMP<br />

certification.<br />

* Doutor em Educação pela UNESP e mestre em Administração de Empresas pela FECAP. Professor da Fac. de Administração,<br />

da Fac. de Computação e Informática, do MBA e da Pós-graduação da FAAP. Professor convidado da<br />

Pós-graduação da Universidade São Judas Tadeu e no SENAC. Detentor da certificação PMP (Project Management<br />

Professional) em gerenciamento de projetos. Autor dos livros “Gerenciamento de Projetos em 7 passos” e “Indicadores<br />

de Gerenciamento de Projetos”. E-mail: aterribili@faap.br.<br />

A profissionalização do gerenciamento de projetos no Brasil: um estudo comparativo dos resultados..., Armando Terribili Filho, p. 9-20<br />

9


Introdução<br />

O conceito de projetos remonta à antiguidade: a construção das pirâmides do<br />

Egito há mais de 4.500 anos, a Muralha da China há mais de 2.200 anos, o Coliseu<br />

de Roma há quase 2.000 anos, dentre outras obras que ainda podem ser admiradas<br />

em pleno século XXI são exemplos vivos de projetos bem sucedidos. Na Idade<br />

Média já se podia pensar na construção de grandes igrejas e nos projetos de navegação<br />

de Portugal e Espanha. O nível de profissionalização da gestão de projetos<br />

e aplicação de metodologias às épocas mencionadas são desconhecidas, porém,<br />

há uma certeza: o binômio “planejamento” e “execução/controle” era algo indissociável<br />

do dia a dia dos idealizadores e executores.<br />

Na atualidade, os projetos deixam de ser quase que exclusivamente das áreas de<br />

Engenharia e Arquitetura proliferando-se em praticamente todas as áreas do conhecimento<br />

humano: realização de uma feira internacional, desenvolvimento de um novo<br />

produto, desenvolvimento de softwares (votação eletrônica, por exemplo), implantação<br />

de um software aplicativo (por exemplo, SAP, Totvs, Peoplesoft e outros), realização<br />

de missão tripulada a outros planetas, realização de uma Copa do Mundo de Futebol<br />

(por exemplo, Brasil 2014), criação de um novo curso etc.<br />

Se o conceito de projetos é tão amplo e tão antigo, a pergunta que se faz é por que<br />

só recentemente é que as organizações começaram a trabalhar na modalidade de projetos?<br />

Os indicativos que evidenciam isto são: (i) anúncios classificados que requisitam<br />

profissionais para a área de gerenciamento de projetos; (ii) intenso crescimento dos<br />

cursos de pós-graduação e de extensão na referida área; (iii) aumento no lançamento<br />

de livros sobre gerenciamento de projetos, de revistas e sites especializados; e (iv) valorização<br />

das certificações profissionais (PMP e CAPM, por exemplo).<br />

As organizações vêm constatando que atuar na modalidade de “projeto” é extremamente<br />

positivo e pragmático, pois todo projeto tem um ou vários entregáveis que são<br />

únicos. Além disto, um projeto é um empreendimento temporário (finito em termos<br />

de prazos), que envolve recursos (materiais, logísticos, humanos, entre outros) e, por<br />

isto, exige orçamento prévio e gestão financeira amiúde dos investimentos realizados.<br />

Assim, trabalhar na modalidade de projeto representa que em um determinado espaço<br />

de tempo, um produto ou serviço único será gerado dentro de um orçamento<br />

previamente aprovado. Isto é mais profissional e vantajoso que aquilo que se fazia anteriormente,<br />

com execução de planos infindáveis (por vezes, utilizando o método de<br />

tentativa-erro), com desembolsos que cresciam a cada nova etapa e com resultados<br />

discutíveis na análise de custos-benefícios (TERRIBILI FILHO, 2011a).<br />

Quanto ao gerenciamento de projetos, só em 1969 foi criado na Pensilvânia, Estados<br />

Unidos, o Project Management Institute (PMI), com o objetivo de profissionalizar a área<br />

de gerenciamento de projetos. O PMI (2008, p. 435) por meio de sua mais importante<br />

publicação, o PMBOK (Project Management Body of Knowledge), define o gerenciamento<br />

de projeto como sendo a aplicação de conhecimentos, habilidades, ferramentas e<br />

técnicas para atingir os requerimentos de um projeto.<br />

10<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


1 O PMI – Project Management Institute<br />

O PMI tem crescido rapidamente em nível mundial, tendo hoje 250 chapters<br />

(sendo que o termo “chapter” vem sendo traduzido por escritórios, seções ou capítulos)<br />

localizados em mais de 70 países, com afiliados e comunidades virtuais em<br />

185 países. Os chapters têm por objetivo estimular e incentivar o desenvolvimento<br />

profissional da área de gerenciamento de projetos, organizando e/ou divulgando<br />

palestras, seminários, artigos, cursos e lançamentos de livros, além de eventos sociais<br />

para seus associados e convidados. A missão dos chapters é servir ao interesse<br />

profissional dos associados e contribuir com o desenvolvimento econômico e social,<br />

promovendo a ética e a responsabilidade em Gerenciamento de Projetos.<br />

O PMI tem publicações em nível mundial direcionadas para a comunidade de<br />

gerenciamento de projetos: o PMI Today e PM Network (ambas mensais) e o Project<br />

Management Journal, com periodicidade trimestral.<br />

O PMBOK é o conjunto de melhores práticas (best practices) em gerenciamento<br />

de projetos, estando em sua quarta edição, datada de 2008, evidenciando que se trata<br />

de um instrumento vivo e periodicamente atualizado por especialistas e grupos<br />

de discussão da área. As nove disciplinas contidas no PMBOK são: gerenciamento do<br />

escopo, comunicação, recursos humanos, riscos, tempo, custos, qualidade, aquisições<br />

e gerenciamento da integração. O PMBOK pode ser considerado um padrão “de<br />

fato” na área de gerenciamento de projetos. Outro item relevante para os praticantes<br />

em gerenciamento de projetos é o Código de Ética e de Conduta Profissional do PMI.<br />

Este documento não faz parte do PMBOK, porém, trata-se de um documento específico<br />

que norteia, de forma universal, as obrigações básicas de um gerente de projetos<br />

quanto à responsabilidade, justiça, respeito e honestidade (TERRIBILI FILHO,<br />

2011c). É condição sine qua non a todo profissional filiado ao PMI ou certificado por<br />

este instituto sua aceitação e adesão ao referido código de conduta.<br />

O conceito de projetos e sua aplicação no dia a dia das organizações permitiram<br />

o desenvolvimento de novas metodologias, aplicação de técnicas e ferramentas,<br />

criação de programas para capacitação e certificação de profissionais e a alteração<br />

na estrutura das organizações como: criação de escritório de projetos e alteração<br />

da convencional estrutura hierárquica (departamentalizada) para estrutura projetizada.<br />

Mudanças culturais e processuais também ocorreram nas organizações,<br />

como, por exemplo, implantação de gestão de riscos e gestão da comunicação.<br />

Neste contexto, os projetos devem estar consistentes com o contexto estratégico<br />

da empresa, ou seja, o conjunto de projetos pode ser considerado como a tática<br />

organizacional para atingimento dos objetivos estratégicos definidos.<br />

2 O PMI no Brasil<br />

Dos 250 chapters mundiais, 13 estão localizados no Brasil. O primeiro chapter brasileiro<br />

foi criado na cidade de São Paulo em 1998. No ano seguinte, surgem os chapters<br />

A profissionalização do gerenciamento de projetos no Brasil: um estudo comparativo dos resultados..., Armando Terribili Filho, p. 9-20<br />

11


do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Segue-se de forma cronológica: Paraná (2000), Brasília<br />

e Rio Grande do Sul (em 2001), Bahia, Joinville, Manaus e Recife (em 2003). Em 2005<br />

são criados outros três chapters no país: Espírito Santo, Fortaleza e Goiânia. No início de<br />

2005, surge em Curitiba uma publicação bimestral especializada na área de gerenciamento<br />

de projetos: a <strong>Revista</strong> Mundo PM ou <strong>Revista</strong> Mundo Project Management, que<br />

apresenta artigos e matérias de autoria de profissionais e docentes do país e do exterior.<br />

A representatividade dos 13 chapters do PMI no Brasil pode ser considerada marcante<br />

se comparada com a América Latina que possui outros 20 chapters. Excluindo o México<br />

que conta com cinco chapters e a Argentina que tem dois, os demais países têm um<br />

único chapter, são eles: Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guatemala, Honduras,<br />

Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela (PMI, 2011a).<br />

Desde 2003 é realizado anualmente no país um benchmarking na área de gerenciamento<br />

de projetos. Esta iniciativa nasceu de forma local no chapter Rio de Janeiro e<br />

a última edição, realizada em 2010, teve a participação dos 13 chapters do PMI. Nestas<br />

oito edições pôde-se compreender a situação da área de gerenciamento de projetos<br />

no país e sua evolução, pois os resultados dos benchmarkings mostram as práticas mais<br />

utilizadas pelas organizações, as metodologias aplicadas, as principais ferramentas utilizadas,<br />

as áreas e as causas dos problemas, o nível de treinamento, a importância dada<br />

às certificações profissionais, as habilidades requeridas dos profissionais para gerenciar<br />

projetos e as tendências da área. Na edição de 2010 participaram 460 organizações que<br />

podem ser agrupadas em seis setores distintos: Consultoria, Engenharia & EPC (Engineering,<br />

Procurement and Construction), Governo (administração direta e indireta), Indústria,<br />

Serviços e Tecnologia da Informação (PMI, 2011b).<br />

3 O Benchmarking em gerenciamento de projetos no Brasil<br />

Benchmarking é um instrumento para comparar e melhorar o desempenho de<br />

produtos, processos e sistemas das organizações tendo por base as melhores práticas,<br />

sejam internas à organização ou de mercado, que são chamadas de best practices. A<br />

primeira utilização do benchmarking ocorreu em 1979 nos Estados Unidos pela Xerox<br />

Corporation, em momento de intensa competitividade internacional no segmento de<br />

fotocopiadoras. Atualmente muitos autores abordam o tema benchmarking, com destaque<br />

para Mattos e Guimarães (2005) que apresentam quatro tipos de benchmarking:<br />

(i) interno, que é a identificação de melhores práticas na própria organização em áreas,<br />

unidades, filiais ou subsidiárias distintas; (ii) o benchmarking competitivo, que é a comparação<br />

com os concorrentes, quando se procura identificar a causa do melhor desempenho;<br />

(iii) o benchmarking de processo que é a comparação de processos similares<br />

utilizados em empresas não concorrentes; e, (iv) o benchmarking genérico que trata da<br />

comparação do uso de uma determinada tecnologia (TERRIBILI FILHO, 2011d).<br />

O benchmarking interno é o mais fácil de ser realizado, pois não há obstáculos impeditivos<br />

para obtenção da informação, que é relativamente fácil de ser coletada; no<br />

entanto, há uma limitação no universo de conhecimento, pois fica restrito ao ambiente<br />

12<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


interno da organização. Por sua vez, o benchmarking competitivo é de difícil realização,<br />

sobretudo quando se pretende identificar as causas-raiz que geram o melhor desempenho<br />

do concorrente. Desta forma, os benchmarkings mais viáveis de serem realizados<br />

são os de processos e de tecnologia – exemplo disto foi o benchmarking realizado em<br />

2010 pelos chapters brasileiros acerca do gerenciamento de projetos no país.<br />

Do Benchmarking em Gerenciamento de Projetos no Brasil (PMI, 2011b) participaram<br />

460 organizações nacionais e multinacionais, de diferentes portes e segmentos de<br />

atuação. Em uma primeira avaliação, pode-se analisar as três dimensões que compõem<br />

a tradicional tríplice restrição: custo, prazo e escopo (afetando diretamente a qualidade).<br />

Da amostra investigada, 78% declarou ter problema com o cumprimento de prazos<br />

em seus projetos, 61% com problemas de custos e 44% com problemas de qualidade,<br />

ou seja, grosso modo pode-se dizer que em cada 5 organizações do país, 4 têm problemas<br />

de cumprimento de prazos, 3 têm problemas de custos e 2 apresentam problemas<br />

de qualidade em seus projetos.<br />

Outro ponto importante observado é a apresentação das causas dos problemas<br />

nos projetos. No resultado do Benchmarking 2010 foram apresentadas 18 causas<br />

de problemas com o respectivo percentual de organizações que citaram cada<br />

uma delas. As quatro causas que tiveram índice superior a 30% foram: não cumprimento<br />

dos prazos (60,2%), mudanças de escopo constantes (43,0%), problemas<br />

de comunicação (40,1%) e escopo não definido adequadamente, com 39,5%. Estes<br />

resultados demonstram a importância em se gerenciar efetivamente as áreas<br />

de comunicação e escopo de um projeto, evidenciando que os problemas atuais<br />

encontrados nos projetos são efetivamente gerenciais, passando ao largo por problemas<br />

que poderiam ser considerados de natureza técnica.<br />

Nos resultados do Benchmarking realizado em 2004, que contou com a participação<br />

de 73 organizações, utilizando-se o mesmo critério de seleção das causas dos problemas<br />

(itens com percentual acima de 60%), obteve-se: não cumprimento dos prazos<br />

estabelecidos (66%), mudanças de escopo constantes (64%) e problemas de comunicação<br />

(61%), ou seja, as causas dos problemas do Benchmarking 2004 (realizado seis<br />

anos antes do atual) permanecem praticamente inalterados, embora com significativa<br />

redução nos percentuais apresentados (PMI, 2004).<br />

Uma causa de problema relevante mencionada no Benchmarking 2010 (PMI,<br />

2011b) e que foi mencionada por 15,6% das organizações participantes foi “estimativas<br />

incorretas e sem fundamento”. Uma provável causa (e que exige reflexão!)<br />

decorre do fato que muitas vezes as estimativas são elaboradas apressadamente,<br />

sem aplicação de uma metodologia e pesquisa adequadas e ignorando-se as lessons<br />

learned (lições aprendidas) de outros projetos anteriores similares. Ademais,<br />

as estimativas são, por vezes, realizadas por profissionais pouco especializados ou<br />

alocados em outros projetos, que no momento de elaboração das estimativas atribuem<br />

prioridade aos projetos em curso e não à elaboração de estimativas. Pode<br />

ocorrer que a intenção em “vender” um novo projeto (internamente à organização<br />

ou para um cliente, no caso de empresa de consultoria) faz com que haja um in-<br />

A profissionalização do gerenciamento de projetos no Brasil: um estudo comparativo dos resultados..., Armando Terribili Filho, p. 9-20<br />

13


tencional subdimensionamento de prazos e custos, sem uma consistente análise<br />

de riscos e negligenciando necessárias contingências de prazos e de custos. Com<br />

isto, o otimismo da venda (ou superficialidade de algumas questões importantes)<br />

pode se traduzir na entrega do projeto com atrasos e/ou aumento dos custos.<br />

4 O Escritório de Projetos ou PMO (Project Management Office)<br />

Os professores da Universidade de Udine na Itália, Tonchia e Nonino (2007) definem<br />

o PMO - Project Management Office ou Escritório de Projetos como sendo a unidade organizacional<br />

que tem como objetivo a direção centralizada e coordenada dos projetos<br />

de uma organização. Ademais, mencionam a autoridade formal que o PMO tem para<br />

definir prioridade dos projetos, alocar recursos tecnológicos ou humanos (incluindo a<br />

definição do gerente e equipe do projeto), analisar os riscos de cada projeto para atingir<br />

a performance e os objetivos empresariais globais. Adicionam também, a captura<br />

e divulgação das lessons learned por toda organização e a assistência aos gerentes de<br />

projetos nas fases de início (start-up) e finalização de cada projeto.<br />

O PMO é uma estrutura específica e profissional para a área de gerenciamento de<br />

projetos, que tem diferentes níveis de autoridade e responsabilidade nas organizações.<br />

Em algumas, a responsabilidade PMO se restringe ao suporte aos Gerentes de Projeto;<br />

em outras, tem suas responsabilidades expandidas, pois fica responsável por definir<br />

metodologias, ferramentas e padrões, englobando: criação da documentação, divulgação,<br />

treinamento dos profissionais e monitoração quanto ao uso correto. Há ainda,<br />

organizações em que o PMO é responsável direto pelos entregáveis dos projetos, tendo<br />

sob sua gestão os Gerentes de Projeto e o Pool de consultores e especialistas. Este terceiro<br />

caso é aderente à definição atribuída a Tonchia e Nonino (2007).<br />

Assim, um PMO pode atuar como Centro de Suporte (apoio à execução dos projetos),<br />

Centro de Gerenciamento (responsável pela execução dos projetos) ou Centro de<br />

Excelência na organização, responsável pelo direcionamento, padronização e execução<br />

dos projetos (TERRIBILI FILHO, 2011b; VERZUH, 2000). O Quadro 1 ilustra os três principais<br />

tipos de Escritório de Projetos com suas respectivas funções e responsabilidades.<br />

14<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


PAPEL PRINCIPAL<br />

Fonte: Terribili Filho (2011b).<br />

Quadro 1 – Tipos de PMO com suas funções/responsabilidades<br />

PMO<br />

“Centro de<br />

Suporte a<br />

Projetos"<br />

Consultivo e<br />

de apoio<br />

Tipo de Escritório de Projetos<br />

“Centro de<br />

Gerenciamento<br />

de Projetos"<br />

Executor<br />

“Centro de<br />

Excelência”<br />

Knowledge<br />

Management<br />

METODOLOGIA E FERRAMENTAS<br />

Identificar e/ou desenvolver metodologias não não sim<br />

Implantar metodologias opcional opcional sim<br />

Monitorar o uso de metodologias opcional sim sim<br />

Definir padrões (ferramentas, documentação, etc.) não opcional sim<br />

Capturar e divulgar best practices opcional opcional sim<br />

POLÍTICAS E PROCEDIMENTOS<br />

Definir políticas e procedimentos não opcional sim<br />

Definir e implantar indicadores de desempenho não opcional sim<br />

Acompanhar resultados dos indicadores não sim não<br />

Auditar qualidade nos projetos não sim opcional<br />

GESTÃO DE RECURSOS<br />

Alocar/desalocar recursos aos projetos não sim opcional<br />

Planejar desenvolvimento e cursos dos<br />

profissionais<br />

não sim opcional<br />

Realizar coaching dos profissionais não sim opcional<br />

Planejar e acompanhar encarreiramento não sim opcional<br />

EXECUÇÃO DE PROJETOS APÓIA EXECUTA ACOMPANHA<br />

No Benchmarking 2010 constatou-se que 38% das organizações pesquisadas possuem<br />

um PMO, 23% têm mais de um PMO e 39% delas não têm PMO. O Benchmarking<br />

2004 apontava que 51% das organizações pesquisadas possuíam pelo menos um PMO.<br />

Se comparado com o resultado do Benchmarging 2010, houve um crescimento significativo<br />

na presença dos PMOs nas organizações, passando de 51% para 61%.<br />

Quanto às funções desempenhadas pelos PMOs, os resultados obtidos em 2010<br />

comparados aos de 2004, indicam um moderado crescimento na participação dos<br />

PMOs nas organizações como Centro de Gerenciamento e Centro de Excelência, evidenciados<br />

pelo Quadro 2.<br />

Analisando-se o respectivo quadro, contata-se que das quatro funções qualificadas<br />

como “Centro de Excelência” (itens 1, 2, 5 e 11) duas tiveram seus percentuais aumentados,<br />

uma se manteve estável e outra teve queda. As funções relativas a “Centro de<br />

Excelência” são as funções de definição e acompanhamento no uso de metodologias,<br />

A profissionalização do gerenciamento de projetos no Brasil: um estudo comparativo dos resultados..., Armando Terribili Filho, p. 9-20<br />

15


ferramentas e indicadores de desempenho de projetos, bem como, as de captura/divulgação<br />

de best practices internas à organização e de apoio à seleção e priorização de<br />

projetos. O destaque está no item “Suporte à Alta Administração” (item 5) que passou<br />

de 64% em 2004 para 88,5% em 2010.<br />

Ainda pelo Quadro 2 pode-se verificar que a função de “Centro de Suporte” (item 4),<br />

teve uma redução de 69% para 64%, comparando-se os resultados do Benchmarking<br />

dos anos de 2004 e 2010.<br />

Finalmente, das sete funções de atuação do PMO qualificadas como “Centro de Gerenciamento”<br />

(itens 3, 6, 7, 8, 9, 10 e 12), seis tiveram percentual aumentado, destacando-se<br />

os itens “Gestão de Documentos” (item 9) e “Controle dos Projetos” (item 3) com<br />

acréscimo de 9,3% e 9,1% respectivamente.<br />

16<br />

Quadro 2 – Comparativo das funções do PMO: Benchmarking 2004 e 2010<br />

Benchmarking<br />

Item Funções do PMO Tipo do PMO 2004 2010<br />

1 Definição de padrões, metodologias e ferramentas Centro de Excelência 87% 85,8%<br />

2 Apoio no Planejamento dos Projetos Centro de Excelência 82% 56,9%<br />

3 Controle dos Projetos Centro de Gerenciamento 79% 88,1%<br />

4 Suporte a software de Gerenciamento de Projetos Centro de Suporte 69% 64,0%<br />

5 Suporte à Alta Administração Centro de Excelência 64% 88,5%<br />

6 Coaching no Gerenciamento de Projetos Centro de Gerenciamento 64% 55,2%<br />

7 Gestão do treinamento em Gerenciamento de Projetos Centro de Gerenciamento 56% 61,6%<br />

8 Gestão do Portfólio de Projetos Centro de Gerenciamento 56% 59,9%<br />

9 Gestão de Documentos Centro de Gerenciamento 51% 60,3%<br />

10 Auditoria de Projetos Centro de Gerenciamento 41% 46,3%<br />

11 Seleção e Priorização de Projetos Centro de Excelência 38% 47,0%<br />

12 Pool de Recursos para Projetos Centro de Gerenciamento 28% 36,4%<br />

Fonte: PMI (2004); adaptado de PMI (2011b) 1 .<br />

5 A certificação PMP<br />

O PMI concede cinco certificações distintas: PMP (Project Management Professional),<br />

CAPM (Certified Associate in Project Managament), PMI-SP (PMI Schedule Professional),<br />

PMI-RMP (PMI Risk Management Professional) e PgMP (Program Management Professio-<br />

1 Os títulos das doze “Funções do PMO” contidas no Quadro 2 foram extraídos do relatório Benchmarking 2004 (PMI,<br />

2004) e apresentados por ordem decrescente de percentual de organizações que mencionaram o item. Como não havia<br />

uma equivalência nos títulos apresentados no relatório Benchmarking 2004 com os itens mencionados no Benchmarking<br />

de 2010, coube ao autor deste artigo estabelecer uma correspondência biunívoca entre os doze itens, segundo<br />

seus critérios de interpretação. Ressalta-se também, que a classificação de cada função em “Tipo de PMO” contido no<br />

mesmo quadro para as doze funções é resultado de avaliação do autor, que em casos em que havia mais de uma possibilidade,<br />

foi considerado o predominante, o mais marcante.<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


nal). Para obtenção de qualquer certificação há exigências particulares relacionadas à<br />

experiência profissional e aprovação em exame específico. A certificação profissional<br />

mais conhecida na área de gerenciamento de projetos é a PMP. Para obtenção da certificação<br />

PMP, o candidato deve ser aprovado em um exame com 200 questões, que tem<br />

duração de 4 horas. O exame aborda as práticas contidas no PMBOK nas nove áreas do<br />

conhecimento: gerenciamento do escopo, da comunicação, dos recursos humanos, de<br />

riscos, do tempo, de custos, da qualidade, das aquisições e da integração. Para realizar<br />

o exame de certificação PMP, há dois requisitos: o primeiro é que o candidato tenha recebido<br />

um treinamento formal em gerenciamento de projetos de no mínimo 35 horas<br />

e ter experiência prática em gerenciamento de projetos de 4.500 horas (se o candidato<br />

tiver curso superior completo) e 36 meses de atuação nos últimos seis anos.<br />

Caso o candidato não tenha curso superior completo, as exigências mudam: 7.500<br />

horas de experiência em gerenciamento de projetos e 60 meses de atuação nos últimos<br />

oito anos. A realização do exame somente é autorizada após a submissão do currículo<br />

do candidato, comprovando o atendimento aos requisitos. Durante a realização<br />

do exame, o candidato é monitorado por câmeras para evitar qualquer tipo de fraude,<br />

trazendo ao exame e à certificação credibilidade em nível mundial. A certificação tem<br />

validade por três anos, podendo ser renovada por novos períodos de três anos sem necessidade<br />

de realizar novo exame, desde que se comprove atuação profissional na área<br />

no triênio. Esta atividade engloba vivência, realização de cursos, atuação como docente<br />

ou palestrante na área, publicação de artigos e livros, participação em eventos etc (PMI,<br />

2010; TERRIBILI FILHO, 2011f).<br />

O número de profissionais com certificação PMP no país tem crescido de forma<br />

representativa. Em março de 2005 eram 2.760 profissionais certificados (INFOEXAME,<br />

2005); em junho de 2006, a quantidade de profissionais certificados era 4.063 (MIRAN-<br />

DA, 2006). No final de 2008, o PMI publicou um resumo das certificações no Brasil no<br />

PMI Today, apontando o total de 7.258 profissionais com certificação PMP ativa (PMI,<br />

2009). Em junho de 2011, a quantidade de profissionais com a certificação PMP no Brasil<br />

atingia a marca de 10.569 (GP EM DESTAQUE, 2011).<br />

O Benchmarking 2010 (PMI, 2011b) apontou que 14% da amostra pesquisada possui<br />

um programa formal de preparação para a certificação PMP e 43% das organizações<br />

pesquisadas pretendem desenvolver algo similar. Quanto aos programas de treinamento,<br />

29% da amostra declarou possuir um programa formal em Gerenciamento de<br />

Projetos, não incluindo programas para obtenção da certificação PMP.<br />

No Benchmarking 2004, os índices de programas de treinamento eram: 32% (geral<br />

em gerenciamento de projetos) e 24% (preparação PMP, implantado pela própria empresa<br />

ou por terceiros). A queda ocorrida nos dois índices no período 2004-2010: de<br />

32% para 29% (treinamento genérico na área) e de 24% para 14% (treinamento específico<br />

para a certificação PMP), traz à tona uma reflexão quanto à prioridade e ao nível de<br />

investimento que as organizações brasileiras estão atribuindo à capacitação e desenvolvimento<br />

de seus profissionais e à busca de certificações na área de gerenciamento<br />

de projetos (PMI, 2004; PMI, 2011b; TERRIBILI FILHO, 2011e).<br />

A profissionalização do gerenciamento de projetos no Brasil: um estudo comparativo dos resultados..., Armando Terribili Filho, p. 9-20<br />

17


Considerações finais<br />

É evidente que a área de gerenciamento de projetos tem tido uma expansão notória<br />

nos últimos anos, seja pelos resultados dos benchmarkings que são realizados<br />

anualmente pelos chapters do PMI no país, seja pelas observações do dia a dia: nos<br />

classificados de empregos, na oferta de cursos de especialização na área, no crescimento<br />

dos eventos e congressos que abordam o gerenciamento de projetos, na existência<br />

de revistas especializadas, no aumento do lançamento de livros direcionados à comunidade<br />

de gerência de projetos, na filiação de profissionais aos chapters do PMI e no<br />

aumento do número de profissionais certificados. Que esta evolução no conhecimento<br />

em gerenciamento de projetos, que é reconhecidamente multidisciplinar, seja aplicada<br />

no Brasil nas áreas públicas e privadas, trazendo benefícios às organizações, ao cidadão<br />

e, sobretudo, à sociedade na melhoria da qualidade de vida.<br />

Os resultados comparativos entre os benchmarkings de gerenciamento de projetos<br />

de 2004 e 2010 evidenciaram uma retração no investimento das organizações brasileiras<br />

em treinamento, na qualificação profissional e obtenção de certificações. Os administradores<br />

nesse país devem crer que a competitividade em um mundo globalizado,<br />

com prestação de serviços offshore (para um cliente fora das fronteiras do país onde<br />

está localizada a empresa produtora) tem na máxima “o plantio é livre, a colheita obrigatória”<br />

um alerta para sua gestão no século XXI.<br />

18<br />

Referências<br />

GP EM DESTAQUE. Números PMI – Mundo x Brasil. 17/06/2011. Disponível em: . Acesso em: 28 fev. 2012.<br />

INFOEXAME. Coleção Info: Certificação. São Paulo: Abril, 2005.<br />

MATTOS, José Roberto Loureiro de; GUIMARÃES, Leonam dos Santos. Gestão da tecnologia e<br />

inovação: uma abordagem prática. São Paulo: Saraiva, 2005.<br />

MIRANDA, Carolina Sanchez. Mais campo para gerente de projetos. Gazeta Mercantil. São<br />

Paulo, 30 nov. 2006. Caderno Plano Pessoal, p. C-8.<br />

PMI, Project Management Institute. Seção Rio de Janeiro. Estudo de Benchmarking em Gerenciamento<br />

de Projetos Brasil 2004, 2004.<br />

_______________. A guide to the Project Management of Body of Knowledge (PMBOK).<br />

4. ed. Pensilvânia: Project Management Institute, 2008.<br />

_______________. PMI Today, March 2009.<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


_______________. PMI São Paulo. Certificação PMP. 2010. Disponível em: . Acesso em: 08 ago. 2010.<br />

_______________. PMI Chapters. 2011a. Disponível em: . Acesso em: 27 fev. 2012.<br />

_______________. Chapters Brasileiros. Estudo de Benchmarking em Gerenciamento de<br />

Projetos Brasil - 2010, 2011b.<br />

TERRIBILI FILHO, Armando. A escolha dos indicadores de desempenho de projetos. In: TERRIBILI<br />

FILHO, Armando. Gerenciamento de Projetos em 7 Passos: uma abordagem prática. São<br />

Paulo: M.Books, 2011a, p. 260-262.<br />

_______________. Escritório de projetos: modalidades e responsabilidades. In: TERRIBILI FI-<br />

LHO, Armando. Gerenciamento de Projetos em 7 Passos: uma abordagem prática. São Paulo:<br />

M.Books, 2011b, p. 206-208.<br />

_______________. A ética e o gerenciamento de projetos. In: TERRIBILI FILHO, Armando. Gerenciamento<br />

de Projetos em 7 Passos: uma abordagem prática. São Paulo: M. Books, 2011c,<br />

p. 267-269.<br />

_______________. Benchmarking em gerenciamento de projetos. In: TERRIBILI FILHO, Armando.<br />

Gerenciamento de Projetos em 7 Passos: uma abordagem prática. São Paulo: M. Books,<br />

2011d, p. 201-203.<br />

_______________. Benchmarking em gerenciamento de projetos: PMO e treinamento. In: TER-<br />

RIBILI FILHO, Armando. Gerenciamento de Projetos em 7 Passos: uma abordagem prática.<br />

São Paulo: M.Books, 2011e, p. 204-205.<br />

_______________. Contratação de profissionais na área de projetos: certificados ou com pós-<br />

-graduação? In: TERRIBILI FILHO, Armando. Gerenciamento de Projetos em 7 Passos: uma<br />

abordagem prática. São Paulo: M. Books, 2011f, p. 263-266.<br />

TONCHIA, Stefano; NONINO, Fabio. Project Management: gestire l’innovazione nei produtti e<br />

nei servizi. Milano (Itália): Il Sole 24 Ore, 2007.<br />

VERZUH, Eric. MBA compacto: gestão de projetos. Rio de Janeiro: Elvesier, 2000.<br />

A profissionalização do gerenciamento de projetos no Brasil: um estudo comparativo dos resultados..., Armando Terribili Filho, p. 9-20<br />

19


20<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


Armadilhas regulatórias presentes no<br />

Setor Elétrico Brasileiro - Análise Crítica<br />

Ana Lúcia Rodrigues da Silva *<br />

Fernando Amaral de Almeida Prado Jr. **<br />

Resumo: Este artigo procura à luz de<br />

exemplos do setor elétrico brasileiro, registrar<br />

a ocorrência de falhas ou lacunas<br />

na regulação provocadas por outras regulamentações<br />

produzindo efeitos indesejados<br />

e não previstos aos agentes<br />

e consumidores finais de energia. Parte<br />

dessas “armadilhas” ocorre por falhas na<br />

concepção dos regulamentos e outros<br />

diplomas legais, por desvios da função de<br />

regulação. Essas falhas podem ocorrer na<br />

função precípua do regulador, mas podem<br />

se originar também em atividades<br />

de empresas públicas acessórias como<br />

EPE, CCEE ou ONS. O artigo utiliza a metodologia<br />

de busca empírica a partir de<br />

exemplos selecionados, onde se busca<br />

entender as causas destes efeitos colaterais.<br />

O artigo conclui pela necessidade<br />

permanente de aprimoramento da concepção<br />

e desenvolvimento de instrumentos<br />

regulatórios, sem que isso demande<br />

um aumento excessivo do número desses<br />

regulamentos.<br />

Palavras-chave: Risco. Regulação. Armadilha.<br />

Política Pública.<br />

Abstract: This paper discusses the occurrence<br />

of failures or gaps in the regulation<br />

of the Brazilian electric sector<br />

that results in unwanted effects. Some<br />

of these “traps” occurred by design<br />

flaws in the regulations or deviations<br />

from the regulatory function. These failures<br />

may occur in the primary function<br />

of the regulator, but also could be originated<br />

in the state-owned enterprises<br />

like EPE, CCEE or ONS. The article uses<br />

empirical search method from a group<br />

of selected examples, which seeks to<br />

understand the causes of these side effects.<br />

The article concludes that there is<br />

a need of a continuous improvement in<br />

the design and regulatory instruments<br />

that will not demand an excessive increase<br />

in the number of regulations.<br />

Keywords: Risk. Regulation. Traps.<br />

Public Policy.<br />

* Física, mestre, doutora e pós doutora em Planejamento de Sistemas Energéticos pela UNICAMP, autora dos<br />

livros “Monografia Fácil: ferramentas e exercícios”; “Marketing Energético” e “Comportamento do Grande Consumidor<br />

de Energia Elétrica”. Sócia da Sinerconsult Consultoria e Treinamento, Professora da Fundação Armando<br />

Alvares Penteado. E-mail: ana@sinerconsult.com.br.<br />

** Engenheiro civil, mestre e doutor em Planejamento de Sistemas Energéticos pela UNICAMP. Professor Doutor<br />

da Escola Politécnica da USP, onde realizou seu pós-doutorado. Sócio da Sinerconsult Consultoria e Treinamento.<br />

E-mail: fernando@sinerconsult.com.br.<br />

Armadilhas regulatórias presentes no setor elétrico brasileiro – análise crítica, Ana L. R. da Silva e Fernando A. de A. Prado Jr., p. 21-36<br />

21


Introdução<br />

Em 1772, na Carolina do Norte, EUA, uma população enfurecida prendeu e enforcou<br />

em uma praça, reguladores públicos que propiciaram a cobrança de impostos abusivos<br />

sobre alimentos essenciais (VEIGA, 2009). Hoje os reguladores, graças aos avanços da<br />

civilidade e da consolidação das leis estão livres do risco de linchamento.<br />

Apesar disto, a função de regulador, em países ainda com pequena tradição nessa<br />

função, é muitas vezes não compreendida e obviamente sujeita a falhas. Enquanto em<br />

países como os EUA, a instituição regulatória é centenária, no Brasil, a ANEEL, primeira<br />

agência regulatória dita moderna em termos de uma nova concepção de prestação de<br />

serviços públicos por empresas privadas, possui apenas 14 anos. A solidez institucional<br />

dessas organizações de Estado às vezes é posta à prova, numa tentativa de transformá-<br />

-las em órgãos de governo. Isto pode ser evidenciado pela priorização de atos regulatórios<br />

ligados a grandes problemas de cunho de formatação de políticas de Governo.<br />

O permanente conflito a que um administrador público pode ser submetido no<br />

exercício dessas novas funções, por ações publicas ou por iniciativa do Ministério Público,<br />

já foi objeto de exemplo por Kelman (2009) em seu livro, “Desafios do regulador”.<br />

Poucos setores da economia produzem tantos efeitos múltiplos, diretos ou colaterais,<br />

por decisões tomadas por formadores de políticas públicas como o setor de energia.<br />

Em nome da energia, de forma aberta ou velada, guerras já foram declaradas, crises<br />

políticas instaladas e incertezas políticas ampliadas.<br />

Tarifas e preços elevados atraem novos investimentos, mas reduzem a competitividade<br />

das empresas e limitam o acesso da energia aos mais pobres. A situação oposta<br />

contribui para preços estáveis, mais empregos e crescimento econômico, mas pode<br />

esbarrar na insuficiência de investimentos que promovam a segurança energética e a<br />

universalização do atendimento às necessidades energéticas da sociedade.<br />

Nesta complexidade é necessária ainda a consideração dos impactos ambientais,<br />

presentes em toda a cadeia produtiva da indústria de energia. Nesta questão, as emissões<br />

de carbono representam um potencial restritivo que poderá em pouco tempo alterar<br />

radicalmente a maneira como se produzirá e se consumirá energia.<br />

Neste contexto, o futuro da regulação é incerto, pois a desregulamentação dos antigos<br />

monopólios ditos naturais, a busca e o incentivo por fontes renováveis de energia,<br />

a interface com tecnologias que permitam e incentivem o uso de redes inteligentes<br />

representam alguns dos desafios que os reguladores energéticos já enfrentam ou enfrentarão<br />

com maior intensidade nos anos vindouros.<br />

Como exemplo dos impactos desses novos desafios aos reguladores, Hunt e Shuttleworth<br />

(1996) em seu livro clássico sobre competição e o poder de escolha na indústria<br />

de eletricidade, relatam o desânimo de um regulador diante da tarefa de regular as<br />

novas questões trazidas pela competição e para as quais não se sentia preparado.<br />

22<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


A preocupação com os impactos da regulação pode ser tão relevante que o governo<br />

inglês criou uma força tarefa para identificar maneiras de promover melhores maneiras<br />

de estabelecer regras para os mais diversos segmentos de atividade, inclusive fora dos<br />

mercados competitivos, como por exemplo, o estabelecimento de regulamentos para<br />

entidades que promovem a caridade. Arculus (2004), coordenador dessa força tarefa<br />

em seu relatório de 2004, relata que estudos desenvolvidos nos EUA dão conta que o<br />

PIB americano é influenciado em cerca de 10% por atividades regulatórias, sendo 2,5%<br />

o custo para estabelecer o cumprimento dos relatos e registros requeridos de documentação<br />

a partir de exigência das Agências.<br />

1 Armadilhas Ambientais<br />

O marco regulatório do setor elétrico de 2004, estabelecido ainda no primeiro governo<br />

Lula, definiu pela necessidade de regras para a expansão da geração que contemplassem<br />

a inclusão nos leilões apenas das obras que já tivessem a licença ambiental<br />

prévia, cuja responsabilidade de obtenção ficaria delegada a empresa de pesquisa<br />

Energética – EPE. Tal medida objetivava a redução dos riscos para os empreendedores<br />

após a obtenção das concessões, como acontecia no governo FHC, quando era possível<br />

a obtenção de uma concessão (com pagamento pelo uso do bem público em espécie<br />

monetária) seguida de uma recusa dos órgãos da emissão da licença ambiental.<br />

Ocorre, no entanto que a EPE nem sempre tem conseguido diligenciar um rol de<br />

opções de projetos de obras hidráulicas a licitar nos leilões de expansão que atendam<br />

a necessidade de energia futura projetada pelas Distribuidoras, consequentemente<br />

abrindo espaço para a necessidade de leilões de usinas térmicas nos leilões de disponibilidade.<br />

Assim, apesar do Brasil possuir um dos maiores, senão o maior potencial de<br />

hidroeletricidade do mundo, necessita recorrer à expansão térmica com os correlatos<br />

problemas de emissões, em uma espécie de contramão das políticas desenvolvidas no<br />

mundo. O leilão A-5 / 2008 foi pródigo nessa situação, conforme Tabela 1.<br />

Tabela 1 – Oferta de energia leilão A-5 em 2008<br />

Ano Quantidade Hidro Biomassa<br />

Gás<br />

Natural<br />

Carvão<br />

Óleo<br />

Combustível<br />

2008 MW 121 35 703 276 1990 3125<br />

Fonte: Elaboração própria, a partir de informações dos sites e<br />

. Acesso em: 17 out. 2008.<br />

O sistema elétrico brasileiro, como explicam Brito et al. (2009), com suas características<br />

de geração predominantemente hidroelétrica tem capacidade de regularização<br />

plurianual, isto é, os reservatórios seriam capazes de estabilizar a produção hidrelétrica<br />

mesmo que uma restrição hidrológica perdurasse por vários anos. A Figura 1 reproduzida<br />

de Brito et al. (2009) apresenta em unidades equivalentes ao volume da Baia da<br />

Guanabara, a capacidade de reservação de usinas construídas tipicamente nos anos<br />

1960 e 1970. Como é possível avaliar são usinas com elevada capacidade de reservação.<br />

Armadilhas regulatórias presentes no setor elétrico brasileiro – análise crítica, Ana L. R. da Silva e Fernando A. de A. Prado Jr., p. 21-36<br />

Total<br />

23


24<br />

Figura 1 - Capacidade de reservação em volumes equivalentes da Baía da Guanabara<br />

SERRA DA MESA<br />

TUCURUI<br />

ILHA SOLTEIRA<br />

SOBRADINHO<br />

ITAIPU<br />

FURNAS<br />

Fonte: Brito et al. (2009), XX SNPTEE.<br />

0 5 10 15 20 25<br />

No mesmo trabalho, Brito et al. (2009) ensinam que maiores restrições ambientais<br />

tem feito com que as novas usinas sejam concebidas como usinas a fio d’água,<br />

como exemplificam as recentes usinas do Rio Madeira e Belo Monte, todas com<br />

essa concepção que totalizam conjuntamente mais de 17GW de capacidade instalada.<br />

Esta mudança de partido dos projetos indica uma redução projetada da relação<br />

entre Energia Armazenada Máxima (TWh) e a Energia Natural Afluente (TWh/<br />

ano) dos atuais 41% (2010) para 32% (2020) indicando uma maior fragilidade do<br />

sistema em relação à segurança energética.<br />

Portanto, do ponto de vista da operação do sistema, a maior inserção de usinas fio<br />

d’água exige que maior necessidade de despachos térmicos venham a ser realizados<br />

nos próximos anos. Nas previsões de Brito et al. (2009) as emissões decorrentes dessa<br />

necessidade operativa evoluem de 30 milhões de T CO 2 em 2010, para 170 milhões T<br />

CO 2 em 2020, caracterizando uma armadilha regulatória, ou seja, por se exigir maiores<br />

cuidados ambientais na concepção dos impactos decorrentes de alagamentos de hidroelétricas,<br />

o Brasil enfrentará um crescimento das emissões de Gases de Efeito Estufa<br />

em mais de 460% em apenas 10 anos.<br />

Ainda em relação ao tema ambiental, parte importante do mercado das usinas de<br />

pequeno porte, consequentemente com menores impactos ambientais, por serem<br />

consideradas incentivadas tem o direito de um desconto, usualmente de 50% sobre<br />

as tarifas de uso do sistema (tarifas de fio). Para terem o direito a este desconto, que<br />

obviamente empresta competitividade ao mercado comprador desse tipo de energia,<br />

possuem uma restrição quanto ao seu porte ficando restritas a empreendimentos menores<br />

do que 30MW. Ocorre que para efeito escala nem sempre esta restrição leva a<br />

melhor concepção de projeto. Não raro se encontra em um mesmo sítio empreendimentos<br />

eólicos ou de térmicas de biomassa com potencias superiores a 30 MW. No entanto,<br />

para não perderem o benefício do desconto, são feitos arranjos societários como<br />

se fossem diversos empreendimentos, cada um limitado a 30 MW.<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


2 As armadilhas na expansão do sistema / Segurança energética<br />

O racionamento de 2001 provocou tamanha influência no comportamento dos<br />

dirigentes do setor elétrico, estatal ou privado, que a então Ministra Dilma Roussef<br />

chegou a afirmar que não faltaria mais energia ao Brasil “nem que a vaca tussa 1 ”.<br />

Assim, o modelo regulatório vem priorizando a segurança como seu maior valor<br />

no processo de planejamento. Medidas estabelecendo a obrigatoriedade de contratação<br />

de 100% da necessidade energética pelos agentes distribuidores com<br />

contratos de longo prazo e diversas outras regras visando proteger os investidores<br />

foram implantadas desde 2004. Entre estas, pode-se citar a liberdade de localização<br />

geográfica de novos empreendimentos de geração térmica independentemente<br />

de riscos de sub-mercado (que são alocados aos consumidores finais de energia<br />

elétrica), criação de regras para leilões de disponibilidade com repasse automático<br />

dos custos variáveis à tarifa e forte participação do Estado em projetos de grande<br />

porte denominados como estruturantes.<br />

Do ponto de vista da segurança energética foram criados os mecanismos de níveis<br />

metas, leilões de reserva e cada vez, com maior frequência, despachos fora da ordem de<br />

mérito. Cada uma destas medidas provocou efeitos colaterais, que podem na concepção<br />

dos autores serem classificados como armadilhas regulatórias. Na sequência são<br />

analisados cada um desses efeitos.<br />

2.1 Liberdade de localização geográfica de empreendimentos<br />

termoelétricos<br />

As regras dos leilões de disponibilidade visam à competitividade do processo (contribuição<br />

para a modicidade tarifária) e maior segurança dos empreendedores (maior<br />

atratividade para o empreendedor e atração do capital privado), inclusive transferindo<br />

ao consumidor final as eventuais distorções de preço entre sub-mercados.<br />

Ocorre que por razões de incentivo ao desenvolvimento regional, a região Nordeste<br />

possui incentivos fiscais inclusive oriundos de políticas do governo federal.<br />

Assim, a região se mostrou atrativa a maioria dos empreendimentos definidos nos<br />

leilões de 2007 e 2008. Castro et al. (2010) em recente texto de discussão da UFRJ<br />

analisam que a capacidade planejada dessas usinas não tem relação direta com o<br />

mercado de energia elétrica do Nordeste. Desta forma a energia produzida na região<br />

precisará ser reconduzida para outros centros de consumo, gerando investimentos<br />

não previstos no planejamento dos sistemas de transmissão (CASTRO et al., 2010). A<br />

necessidade destes investimentos contraria o senso comum que prescreve a alocação<br />

de empreendimentos térmicos o mais próximo das regiões de consumo. Obviamente<br />

esta situação redundará em prejuízo à modicidade tarifária.<br />

1 Folha de São Paulo, edição de 29 de outubro de 2006.<br />

Armadilhas regulatórias presentes no setor elétrico brasileiro – análise crítica, Ana L. R. da Silva e Fernando A. de A. Prado Jr., p. 21-36<br />

25


Ainda pior, em situações pontuais caso não ocorram os investimentos em transmissão,<br />

pode-se correr o risco de se dispor de usinas térmicas, contratadas, construídas e que<br />

não possam disponibilizar todo seu potencial por carência de sistemas de transmissão.<br />

É importante destacar também que a escolha locacional da usina com base em incentivos<br />

fiscais, muitas vezes está desconectada da questão da logística do fornecimento<br />

do combustível para a usina.<br />

2.2 Custo variável com repasse automático às tarifas de energia<br />

elétrica<br />

A Empresa de Pesquisa Energética - EPE, a principal entidade organizadora dos leilões<br />

possui na opinião dos autores restrições de governança, uma vez que pelas suas<br />

caraterísticas de governo possui viés político com resultados esperados de contribuição<br />

às realizações do mesmo. Ou seja, é premida para garantir oferta de energia que<br />

permita níveis de segurança adequados ao suprimento de energia e se possível com<br />

oferta a preços módicos.<br />

A contratação por disponibilidade 2 funciona, segundo Bezerra (2009), como uma<br />

opção de compra de energia para o consumidor: a receita fixa (RF, em R$/ano), corresponde<br />

ao prêmio da opção e o custo variável unitário (CVU) correspondente ao preço<br />

de exercício que incluí o reembolso dos custos operativos da usina, quando ela é acionada<br />

pelo ONS; e os custos de compra de energia na CCEE para atender a demanda,<br />

que seria “coberta” pela usina, quando a mesma não é acionada pelo ONS.<br />

O objetivo da EPE é selecionar as usinas que possuam o menor preço total, considerando-se<br />

a renda fixa esperada (e exigida) pelo investidor e o custo variável que depende<br />

da tecnologia (nível de inflexibilidade e diferentes níveis de investimento inicial) e<br />

dos combustíveis (diferentes custos de operação).<br />

2 Contratação de usinas térmicas que complementam nos leilões, a oferta não realizada de usinas hidroelétricas<br />

que não foram estudadas ou não conseguiram a licença prévia.<br />

26<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


Figura 2 - Frequência de despachos estimada segundo procedimentos dos leilões<br />

segundo procedimentos operativos do ONS em função do CVU (R$/MWh)<br />

Despacho em %<br />

50%<br />

45%<br />

40%<br />

35%<br />

30%<br />

25%<br />

20%<br />

15%<br />

10%<br />

5%<br />

0%<br />

100 150 200 250 300 350<br />

Fonte: Elaboração própria a partir de Veiga (2009).<br />

R$/MWh<br />

Premissas do Leilão<br />

Premissas Operavas<br />

Como explicam Bezerra et al. (2009), o núcleo da composição do ICB 3 , indicador que<br />

conjuga a composição dos custos variáveis e dos custos fixos, depende do planejador<br />

(EPE) pela tarefa de estimar antecipadamente o valor esperado dos custos variáveis de<br />

cada usina candidata, em nome dos consumidores regulados. Assim, os resultados dos<br />

leilões, muitas vezes exaltados quanto à modicidade tarifaria obtida, não necessariamente<br />

representam o efeito que o consumidor de fato vai pagar a cada ano, e sim uma<br />

estimativa do que seria pago em média. Ainda segundo Bezerra et al. (2009), o único<br />

pagamento conhecido é o da parcela fixa. As demais parcelas variam a cada ano em<br />

função da hidrologia, nível de armazenamento dos reservatórios, balanço oferta × demanda,<br />

custo do combustível e muitos outros fatores.<br />

Veiga (2009) vem alertando que a metodologia utilizada pela EPE/MME não contempla<br />

os procedimentos operativos do ONS e consequentemente a frequência real<br />

de despacho dessas usinas, o que tem sido maior do que o previsto nas condicionantes<br />

dos leilões, assim custos adicionais serão repassados aos consumidores. A Figura 2 demonstra<br />

esta situação.<br />

2.3 Atrasos em projetos contratados em leilões de expansão<br />

Os leilões concebidos no marco regulatório do setor elétrico brasileiro tem por objetivo<br />

dar segurança ao consumidor pela oportunidade da contestação pública entre<br />

diferente ofertantes garantindo as melhores condições de contratação (modicidade tarifária)<br />

e seus longos prazos de contratação garantiriam a estabilidade necessária para a<br />

financiabilidade dos projetos e a atratividade dos investidores.<br />

3 ICB – Índice de Custo Benefício que pondera em R$/MWh a energia “comercializada” pela usina proponente.<br />

Armadilhas regulatórias presentes no setor elétrico brasileiro – análise crítica, Ana L. R. da Silva e Fernando A. de A. Prado Jr., p. 21-36<br />

27


No entanto esta segurança pode ser afetada pelo não cumprimento dos compromissos<br />

dos empreendedores em relação aos prazos contratados. Obviamente existem penalidades<br />

para este descumprimento, sendo que atrasos exigem que o montante de energia<br />

contratada seja reposto e a usina inadimplente não recebe pagamentos enquanto<br />

não estiver em funcionamento, mas tem direito de ser ressarcida pela energia contratada<br />

para esta reposição. As regras de pagamento à usina com operação atrasada são severas e<br />

podem causar prejuízos pesados, pois estabelecem que o ressarcimento pela energia de<br />

reposição se dará sempre pelo menor valor entre quatro opções possíveis 4 .<br />

Atrasos podem ser decorrentes de várias razões: (i) dificuldades de obtenção<br />

das licenças ambientais 5 , (ii) dificuldades com a logística de contratação de combustíveis,<br />

quer pela localização do empreendimentos, quer pela dificuldade de estabelecer<br />

um contrato firme com volumes de combustíveis, uma vez que existe a<br />

incerteza da frequência da ordem de despacho, (iii) dificuldades de obtenção de<br />

financiamento agravadas pela crise financeira internacional de 2008/2009, (iv) dificuldades<br />

de obtenção de financiamento pela elevada concentração de multiplos<br />

projetos para um mesmo empreendedor.<br />

Ressalte-se que a existência de multas e da obrigação de comprar energia para reposição<br />

do volume não entregue em decorrência do atraso pode incentivar um circulo<br />

vicioso, onde o atraso por falta de financiamento gera penalidades e custos adicionais,<br />

o que torna mais dificil o saneamento da finaciabilidade do projeto. Destaque-se que a<br />

concentração de empreendimentos contribuí para este ciclo vicioso.<br />

Em relação ao fator concentração de projetos em um mesmo investidor , o diretor<br />

geral da ANEEL, Nelson Hubner, se pronunciou dizendo: (www.abrace.org.br, acesso<br />

em: 03 mar. 2011):. “Você pode ter tido um erro nesse leilão de térmicas. Até por ter permitido<br />

uma posição muito maior na mão de um comprador”, analisou, lembrando que<br />

o Grupo Bertin é, sozinho, responsável por seis empreendimentos fora de cronograma.<br />

Os demais pertencem à Fênix Energy, Floralco Açúcar e Álcool e Multiner/Gênesis. O diretor<br />

admitiu que “poder-se-ia evitar o que aconteceu”, mas deixou claro que não acredita<br />

na viabilidade de uma grande reformulação no modelo adotado pelo setor.<br />

A preocupação da ANEEL é ainda mais grave, pois por conta de liminares, não tem<br />

conseguido executar as penalidades e os agentes inadimplentes, com os prazos contratuais<br />

na produção de energia, não tem cumprido com os regulamentos vigentes.<br />

As usinas, que deveriam estar gerando para o sistema desde janeiro, também não<br />

depositaram garantias na CCEE e não compraram energia no mercado livre para garantir<br />

o cumprimento dos contratos que fecharam com as distribuidoras na ocasião do<br />

certame. Segundo Edvaldo Santana, diretor da agência reguladora, as usinas em atraso<br />

4 A discussão destas regras está fora do contexto deste artigo, mas recomenda-se a leitura BOLETIM REGULATÓ-<br />

RIO - Edição 2009 Atrasos nas instalações de transmissão Aumento da CCC Obrigação de contratação de potência<br />

editado pela empresa PSR de 20/08/2010.<br />

5 Neste caso responsabilidade do empreendedor.<br />

28<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


somam uma inadimplência de R$330 milhões com a CCEE, que administra o mercado<br />

regulado de energia. O diretor lembrou que a falta de pagamentos decorrem de liminares<br />

já deferidas. Essa situação causa ônus a todos os agentes de mercado.<br />

Gomes e Baggio (2010), advogados do escritório Kaercher e Baggio, argumentam<br />

sobre outra questão que merece reflexão neste debate: qual é a real culpa do empreendedor?<br />

Seria desejável que a regulação contemplasse a responsabilidade de agentes<br />

de Estado em eventuais atrasos, o que configura ainda mais a tipologia de “armadilha<br />

regulatória”, pois culpa induzida pelo Estado redundaria em prejuízos “socializados” pelos<br />

demais agentes e consumidores.<br />

Finalmente, para complementar a análise de armadilhas decorrentes de atrasos<br />

em empreendimentos contratados, pode-se considerar que o despacho de usinas<br />

hidroelétricas por parte do ONS, considerando que as obras previstas performariam<br />

no tempo previsto, levam a um deplecionamento a maior dos reservatórios<br />

e consequentemente a uma maior necessidade de despachos fora de ordem de<br />

mérito (conforme abordado na seção seguinte deste artigo) e eventualmente, necessidades<br />

de revisões no status de gerenciamento das curvas de aversão ao risco<br />

e dos níveis das metas. A Figura 3 apresenta a revisão das curvas de aversão ao<br />

risco a partir da consideração em agosto de 2010, que várias usinas contratadas<br />

no leilão A-3 em 2008, teriam um atraso que se tornara irrreversível, resultando em<br />

um maior dispêndio para os consumidores de energia elétrica.<br />

Armazenamento (%EARmax)<br />

Figura 3 - Curva de Aversão a Risco do Subsistema Nordeste Antes e Depois da Redução<br />

na Oferta Programada de Energia Térmica<br />

Fonte: Castro et al. (2010).<br />

59%<br />

30%<br />

54%<br />

27%<br />

49%<br />

24%<br />

43%<br />

19%<br />

34%<br />

32%<br />

12%<br />

10%<br />

CAR 2010-2011 com oferta PMO junho/2010<br />

CAR 2010-2011 vigente<br />

jan/10<br />

fev/10<br />

mar/10<br />

abr/10<br />

mai/10<br />

jun/10<br />

jul/10<br />

ago/10<br />

set/10<br />

out/10<br />

nov/10<br />

dez/10<br />

jan/11<br />

fev/11<br />

mar/11<br />

abr/11<br />

mai/11<br />

jun/11<br />

jul/11<br />

ago/11<br />

set/11<br />

out/11<br />

nov/11<br />

dez/11<br />

Armadilhas regulatórias presentes no setor elétrico brasileiro – análise crítica, Ana L. R. da Silva e Fernando A. de A. Prado Jr., p. 21-36<br />

41%<br />

17%<br />

50% 50% 50%<br />

47%<br />

42%<br />

36%<br />

34% 34%<br />

31%<br />

32% 32%<br />

28%<br />

29% 29%<br />

26%<br />

22% 22%<br />

17%<br />

15%<br />

13%<br />

10% 10%<br />

29


2.4 Despachos fora de ordem de mérito<br />

Como já analisado em seção anterior deste artigo, o racionamento de 2001 promoveu<br />

enorme preocupação com os efeitos econômicos e políticos que a sua repetição<br />

provocou na sociedade brasileira. Esta preocupação faz sentido, pois entre os riscos<br />

incluem-se a visibilidade e sensibilidade da opinião pública para com os reguladores.<br />

Por esta razão em janeiro de 2008, em pleno período úmido quando se pressupunha<br />

reservatórios cheios e preços baixos no mercado “spot”, o Preço de Liquidação de Diferenças<br />

(PLD) atingiu seus patamares máximos e os riscos de déficit atingiram valores<br />

elevados, causando várias inadimplências no mercado e sinalizando preocupação política<br />

no Governo.<br />

A partir daí o Conselho Nacional de Política Energética - CNPE autorizou que o Operador<br />

Nacional do Sistema pudesse dar ordem de despacho fora da ordem de mérito<br />

econômico. Esta nova modalidade de despacho, além de gerar custos elevados em<br />

nome da segurança energética, diminui a transparência do processo operativo e reduz<br />

artificialmente o PLD, beneficiando os agentes que não estejam 100% contratados e<br />

prejudicando (pelo menos em tese) aqueles que cumprem a determinação regulatória<br />

de estarem contratados na totalidade de suas cargas. Para que se tenha uma dimensão<br />

dos impactos econômicos dessa decisão de priorizar a segurança energética a qualquer<br />

custo, basta comparar os valores de Encargos de Serviço do Sistema (rubrica apenas<br />

de serviços ancilares usuais) que perfizeram R$ 1,7 bilhão entre 2000 e 2008 e o<br />

mesmo encargo ESS, considerando-se a rubrica segurança energética (que contabiliza<br />

a remuneração do despacho fora de ordem de mérito) que alcançou a mesma cifra 6<br />

apenas entre fevereiro e outubro de 2008. Por coincidência a mesma cifra de R$ 1,7<br />

bilhão correspondia à estimativa que Paulo Pedrosa, presidente da Abrace - Associação<br />

Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres<br />

avaliava como sendo o dispêndio ocorrido em 2010 nesse encargo 7 . Os reguladores<br />

decidiram pela segurança energética, mas o custo foi repassado à sociedade.<br />

3 Erros na Formulação das tarifas<br />

O modelo tarifário do setor elétrico brasileiro é bastante complexo e possui muitos<br />

detalhes em sua regulamentação. Sobre os custos que compõem o serviço de distribuição,<br />

o regulador estabeleceu duas tipologias de custos.<br />

A primeira com aqueles custos que seriam passíveis de serem gerenciados pelas<br />

distribuidoras (denominados custos gerenciáveis ou parcela B), onde se incluem operação,<br />

manutenção, salários, depreciação e custo de capital.<br />

6 Cifras e conclusões apuradas pelos autores a partir de consultas aos relatórios da ABRACE, Encargos Setoriais - 3 a<br />

edição de outubro de 2009 e Relatório Técnico de agosto de 2010.<br />

7 Disponível em: . Acesso em: 10 jan. 2011.<br />

30<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


A outra tipologia denominada parcela A, seria composta de custos não gerenciáveis<br />

pelas empresas, ou seja, compostas pelas parcelas de compra de energia 8 , custeio de<br />

contas de combustíveis para os sistemas isolados, variações cambiais que impactam as<br />

tarifas de Itaipu entre outras.<br />

Para estas duas parcelas o tratamento regulatório é feito de forma diferente, como<br />

apresentado a seguir.<br />

Parcela A - VPA = custo médio da energia contratada (R$/MWh) * mercado de<br />

referência (MWh) + custo previsto para os encargos.<br />

Parcela B - VPB = (Receita do ano anterior (R$) – Valor da parcela A do ano anterior<br />

(R$)) * (IGPM- fator X)<br />

Onde o IGPM representa o indexador de inflação e o fator X , um índice de produtividade<br />

da concessionária que reduz a correção dos preços gerenciáveis.<br />

Assim, a tarifa referencial se constituí como T(R$/MWh) = (VPA + VPB) / (mercado<br />

de referência).<br />

Para compensar a variação, em alguns casos extremos de componentes da parcela<br />

A entre dois reajustes consecutivos, o Ministério de Minas e Energia- MME criou um<br />

mecanismo denominado como CVA- Conta de variação da parcela A, sobre a qual são<br />

aplicadas em uma conta gráfica correções financeiras baseadas na taxa de juro básica<br />

do Brasil. Por ocasião do próximo reajuste a CVA compensa financeiramente perdas e<br />

ou ganhos da distribuidora. Assim a tarifa de referência passou a ser calculada como<br />

T(R$/MWh) = (VPA + VPB + CVA) / (mercado de referência).<br />

Ocorre que alguns dos componentes dos encargos não são cobrados proporcionalmente<br />

ao mercado da distribuidora e sim por meio de uma previsão estabelecida<br />

pelo regulador. Como o mercado de referência é o do ano anterior e normalmente no<br />

Brasil existe elevado crescimento do consumo de energia, inclusive com taxas superiores<br />

aquelas do crescimento econômico, as componentes fixas de variação da parcela<br />

A provocam um ganho não previsto pelo espírito da regulamentação como proposta<br />

inicialmente.<br />

Como a CVA foi criada pelo MME por meio de uma portaria ministerial, a solução da<br />

questão ficou fora da alçada da ANEEL. Posterirormente o MME orientou a ANEEL para<br />

que procedesse a alteração dos contratos de concessão de forma negociada com as<br />

empresas, ação desenvolvida e precedida de uma Audiência Pública.<br />

8 No Brasil o processo de compra de energia é feito por leilões onde as Distribuidoras estabelecem os montantes<br />

a serem contratados e o preço decorre dos mecanismos dos leilões estabelecidos pelos órgãos de governo.<br />

Armadilhas regulatórias presentes no setor elétrico brasileiro – análise crítica, Ana L. R. da Silva e Fernando A. de A. Prado Jr., p. 21-36<br />

31


Permanece ainda não resolvida a questão de uma eventual devolução dos recursos<br />

recebidos indevidamente pelas concessionárias. Faz-se necessário registrar que, entre<br />

os argumentos apresentados pelas distribuidoras para contestar qualquer alteração<br />

das regras, dizia-se que em anos onde ocorresse uma redução do mercado no ano<br />

subsequente o procedimento registraria perdas para as empresas. Ocorre que exceto<br />

em anos com fatores extraordinários, como por exemplo, o racionamento de 2001, não<br />

tem sido registrados decréscimos no mercado das distribuidoras, mesmo em anos com<br />

baixo crescimento do PIB. Outro ponto bastante argumentado nessa temática foi o fator<br />

que a aplicação da regra não trazia em si nenhuma ilegalidade.<br />

Estima-se que a receita a maior registrada pelas empresas distribuidoras no Brasil<br />

entre 2002 e 2008 tenha alcançado a cifra de R$ 7 bilhões.<br />

4 Armadilhas relacionadas a assimetria do processo de influência<br />

na regulação<br />

Conforme abordam Almeida Prado Jr. et al. (2011), entre 1998 e 2007 foram realizadas<br />

pela ANEEL 283 Audiências Públicas - AP e 68 Consultas Públicas - CP, sendo registrado<br />

um crescimento desses eventos ano a ano, o que permite inferir o crescimento da<br />

importância desses procedimentos no desenvolvimento de normas e procedimentos<br />

por parte da Agência.<br />

Nas APs e CPs, durante o período de 1998 a 2007, foram contabilizados 15.406 participantes,<br />

responsáveis pelo encaminhamento de 9.411 contribuições, que somaram<br />

356 normas regulamentares entre resoluções, despachos e outros procedimentos por<br />

parte da Agência reguladora.<br />

No mesmo artigo de Almeida Prado Jr. et al. (2011) foi possível identificar grupos<br />

com interesses específicos voltados a regulação do segmento de geração de energia<br />

elétrica, sendo identificados 4 grupos distintos baseado na participação de 962 colaboradores<br />

identificados nas APs, a saber: (i) Grupo A – Empresas e/ou Organizações Associativas<br />

dos Agentes de Mercado ligados diretamente ao Serviço de Energia Elétrica;<br />

(ii) Grupo B 9 – Órgãos de Governo na administração direta e indireta (federal, estadual<br />

e municipal, inclusive autarquias), Universidades e Outras Organizações vinculadas ou<br />

não ao Serviço de Energia Elétrica; (iii) Grupo C – Empresas, Consultorias, Organizações<br />

e Outros não vinculados diretamente ao Serviço de Energia Elétrica, e (iv) Grupo D –<br />

Consumidores ou Pessoas Físicas cuja contribuição na oportunidade não esteve vinculada<br />

a nenhuma organização formal.<br />

As Figuras 4 e 5 apresentam claramente a assimetria de participação desses<br />

diferentes agentes nos processos de discussão e de pressão para a formatação de<br />

novos regulamentos.<br />

9 Neste Grupo excetuaram-se as empresas públicas do setor de energia elétrica, uma vez que as mesmas já estão<br />

enquadradas como agentes de mercado no Grupo A.<br />

32<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


Figura 4 - Participação em APs do tema geração por grupo de interesse.<br />

B<br />

56<br />

7%<br />

C<br />

108<br />

14%<br />

Fonte: Almeida Prado Jr. et al. (2011).<br />

A<br />

569<br />

74%<br />

Figura 5 - Contribuições nas APs do tema geração por grupo de Interesse.<br />

B<br />

139<br />

5%<br />

C<br />

401<br />

15%<br />

Fonte: Almeida Prado Jr. et al. (2011).<br />

D<br />

35<br />

5%<br />

D<br />

75<br />

3%<br />

A<br />

2.057<br />

77%<br />

Embora seja relevante a iniciativa da ANEEL de propiciar a discussão pública e o recebimento<br />

de contribuições por parte dos agentes em temas relevantes, parece que<br />

esta iniciativa tem sido bem sucedida apenas parcialmente, pois os consumidores não<br />

conseguem participar ou não identificam relevância em sua inserão no processo decisório.<br />

É importante não permitir que os grandes números venham a ser considerados<br />

como os relevantes do processo participativo sem se considerar a participação relativa<br />

dos diferentes grupos de interesse, onde ainda é incipiente a participação do cliente.<br />

Armadilhas regulatórias presentes no setor elétrico brasileiro – análise crítica, Ana L. R. da Silva e Fernando A. de A. Prado Jr., p. 21-36<br />

33


Conclusões<br />

Talvez mais de uma dezena de exemplos que caracterizam uma “armadilha regulatória”<br />

na opinião dos autores pudesse ser agregada a este artigo, por exemplo: (i) a<br />

alocação da parcela de energia dos empreendimentos estruturantes destinada ao mercado<br />

livre e auto produção como vetor de financiamento ao mercado regulado, (ii) os<br />

retrocessos nos direitos dos consumidores na resolução 414/2010 bastante caracterizados<br />

pelos grupos de pressão de interesse nas distribuidoras nas APs e CPs realizadas<br />

para sua consolidação; (iii) a própria complexidade do setor e o número expressivo de<br />

regulamentos já publicados desde a criação da ANEEL 10 , (iv) as dificuldades dos reguladores<br />

de coordenar 11 aspectos conjuntos de combustíveis fósseis, uso da água e energia<br />

elétrica com políticas conjuntas.<br />

Este artigo procura demonstrar que existem oportunidades para uma melhor regulação,<br />

priorizando: (i) Consistência; (ii) Proporcionalidade; (iii) Documentação e registro;<br />

(iv) Transparência e (v) Objetivos. Particularmente o ítem (v) é o que guarda maior relação<br />

com o tema do artigo, onde as metas da regulação não devem ser contaminadas<br />

com outras decisões e nem contribuir para contaminá-las evitando-se futuras armadilhas<br />

regulatórias que causam prejuízos a toda sociedade.<br />

Como contribuição final se faz presente a necessidade da discussão da hierarquia<br />

entre as instâncias de governo, suas agências regulatórias e o plano de ação regulatório<br />

desejado. A Figura 6 apresenta de forma inspirada no Better Regulation Task Force Cabinet<br />

Office a consolidação deste conceito.<br />

34<br />

Figura 6 - Concepção regulatória<br />

I II III<br />

Fonte: Elaboração própria baseada em Arculus (2004).<br />

10 Desde sua criação foram publicadas 8.783 resoluções dos mais diversos tipos pela ANEEL (até 8 de março de<br />

2011). Winston Churchill disse certa vez: “Se você tem 10.000 regulamentos então você destrói o respeito à lei”.<br />

11 Desde sua institucionalização a ANEEL, a ANP, a ANATEL e a ANA publicaram apenas três resoluções conjuntas.<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011<br />

I - Regulação como forma especíca<br />

de governo: conjunto de regras<br />

determinantes, frequentemente<br />

supervisionadas por uma agência<br />

administrativa ou de<br />

regulação especíca.<br />

II - Regulação como governança no<br />

sentido geral: esforço agregado de<br />

governos e agências regulatórias para<br />

inuenciar na economia de acordo com<br />

metas e princípios pré-estabelecidos.<br />

III - Regulação no seu sentido<br />

mais amplo: qualquer forma<br />

de controle social.


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leilão de contratos por disponibilidade, Grupo VI, XX SNPTEE, Recife, 2009.<br />

BRITO, Marcelle et al. Uma metodologia apara analisar o impacto das Usinas fio d´água<br />

na capacidade de regularização do sistema hidrotérmico brasileiro, Grupo IX, XX SNPTEE,<br />

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nova, Texto de discussão do setor elétrico n. 22, GESEL, UFRJ, Rio de Janeiro, Julho de 2010.<br />

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energia, Jornal da Energia. Disponível no site www.abrace.org.br. Acesso em: 03 mar. 2011.<br />

GOMES, Victor J. F; BAGGIO, Lucas P.. Questões polêmicas sobre o atraso de usinas com<br />

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setembro de 2009, Rio de Janeiro. Disponível em: . Acesso em: 08<br />

mar. 2011.<br />

Armadilhas regulatórias presentes no setor elétrico brasileiro – análise crítica, Ana L. R. da Silva e Fernando A. de A. Prado Jr., p. 21-36<br />

35


36<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


O uso e a proteção de sinais não<br />

tradicionais no processo de identificação<br />

e diferenciação de uma marca<br />

Resumo: Afirma-se, por um conjunto<br />

de razões, que a marca é um dos ativos<br />

intangíveis mais importantes de uma<br />

empresa. Durante anos, as marcas se<br />

apoiaram nos sinais tradicionais como<br />

elemento principal da sua identificação<br />

como logotipo, slogan e personagem.<br />

Nos dias atuais, com o desenvolvimento<br />

das novas formas de mídia, os sinais<br />

não tradicionais começam a ganhar<br />

destaque nas estratégias empresariais,<br />

incluindo elementos como som e aroma,<br />

cuja especialização o Marketing tem<br />

denominado de “Marketing Sensorial”.<br />

Neste ensaio, de natureza exploratória e<br />

qualitativa, os autores apresentam as diferenciações<br />

entre os sinais tradicionais<br />

e os sinais não tradicionais, destacando<br />

as formas de uso e proteção que esses<br />

novos elementos recebem em diversos<br />

países. Ao final, conclui-se que nos próximos<br />

anos os elementos não tradicionais<br />

serão cada vez mais utilizados como ferramentas<br />

integrantes do planejamento<br />

estratégico, uma vez que os sinais tradi-<br />

José Carlos de Lima Junior *<br />

Marcos Machado **<br />

Geraldo Luciano Toledo ***<br />

cionais já apresentam esgotamento na<br />

função de identificar e diferenciar um<br />

produto devido ao excesso de estímulos<br />

externos a que está exposto o consumidor.<br />

Caberá ao profissional de Marketing<br />

a função de pensar a melhor estratégia<br />

desses novos elementos, assim como<br />

planejar sob quais meios ocorrerão o<br />

uso e a proteção em países que não possuem<br />

uma legislação que os proteja integralmente.<br />

Palavras-chave: Marcas. Proteção e Uso.<br />

Sinais tradicionais e não tradicionais.<br />

Abstract: It is stated by a number of reasons,<br />

that the brand is one of the most<br />

important intangible assets of a company.<br />

For years, brands have relied on traditional<br />

signs as a core element of their<br />

identities as a logo, slogan and character.<br />

Nowadays, with the development of new<br />

forms of media, non-traditional signs<br />

begin to gain prominence in corporate<br />

strategies, including elements such as<br />

* Doutorando em Administração pela FEA/USP; Mestre em Administração de Organizações pela FEA-RP/USP. Professor<br />

FAAP Pós-graduação e PECEGE/ESALQ/USP. Pesquisador MARKESTRAT – Centro de Pesquisa em Marketing<br />

e Estratégia. E-mail: jclima@faap.br ou jclima@usp.br.<br />

** Doutorando em Administração pela FEA/USP; Mestre em Administração pela PUC; Bacharel em Administração<br />

de Empresas pela FGV/SP e Direito pela USP. Co-autor do livro Gestão <strong>Estratégica</strong> de Marcas (edição brasileira de<br />

Strategic Brand Management de Kevin Keller).<br />

*** Doutor em Administração de Empresas pela FEA/USP. Professor titular do Departamento de Administração e<br />

do Curso de Pós-graduação em Administração do PPGA/FEA/USP.<br />

O uso e a proteção de sinais não tradicionais no processo de identificação..., José C. de Lima Jr., Marcos Machado e Geraldo L. Toledo, p. 37-50<br />

37


sound and flavor, where Marketing specialization<br />

calls “Sensory Marketing”. In<br />

this trial, an exploratory qualitative study,<br />

the authors present the differences between<br />

the traditional signs and non-traditional<br />

signals, highlighting the use and<br />

protection that these new elements are<br />

given in several countries. At the end, it<br />

is concluded that in the coming years the<br />

non-traditional elements will be increasingly<br />

used as tools of strategic planning<br />

members, since the signs have already<br />

Introdução<br />

As marcas são ativos competitivos importantes para as organizações de todos os<br />

tipos. Entre as principais razões que justificam esta crescente importância das marcas<br />

está uma maior padronização entre produtos e serviços, sob o ponto de vista dos aspectos<br />

funcionais/ tangíveis; outra razão é o valor do tempo para os clientes/consumidores<br />

o que faz com que as decisões de compra sejam cada vez mais rápidas.<br />

Neste sentido, as marcas podem ser importantes diferenciais competitivos, facilitadores<br />

da tomada de decisão para clientes/consumidores com dificuldade de encontrarem<br />

diferenças perceptíveis de desempenho entre produtos e serviços, ou mesmo em<br />

casos em que se sentem pressionados pelo valor que o tempo assume no estilo de vida<br />

contemporâneo. Como afirma Keller (2008), marcas fortes podem ser atalhos seguros<br />

para decisões de compra cada vez mais difíceis.<br />

Nos dias atuais, constitui um desafio às empresas ter uma marca forte, eficaz, que<br />

de fato agregue valor a um produto ou serviço e que possibilite resultados positivos<br />

para a organização que a controla (em termos de vendas, preços superiores, fidelidade<br />

e participação de mercado).<br />

É possível crer que qualquer trabalho que, de alguma forma aborde aspectos que<br />

permitam aprimorar o processo de gestão de marcas pelas organizações em geral, são<br />

relevantes no cenário competitivo atual. A fronteira do branding ou da gestão de marcas,<br />

ainda tem muitos campos a serem estudados e aprofundados.<br />

No que diz respeito especificamente ao processo de identificação (uma das funções<br />

de uma marca), um campo ainda pouco abordado, notadamente no Brasil, é o uso de<br />

sinais não tradicionais. Este trabalho pretende abordar justamente este tema, “o uso de<br />

sinais não tradicionais”, destacando a teoria e ações práticas que começam a surgir neste<br />

campo. Desta forma, os autores esperam contribuir para o esclarecimento de um<br />

tema relevante às organizações de um modo geral, incentivando o aprimoramento de<br />

suas práticas de gestão e para novas discussões e pesquisas nesta direção.<br />

38<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011<br />

exhausted the traditional role of identifying<br />

and differentiating a product due<br />

to excessive external stimuli is exposed<br />

to the consumer. It is for the professional<br />

marketing function to think of the best<br />

strategy of these new elements, as well<br />

as planning ways in which occur the use<br />

and protection in countries that do not<br />

have legislation that protects them in full.<br />

Keywords: Brands. Protection and Use.<br />

Traditional and nontraditional signs.


1 Objetivo<br />

O objetivo geral desse ensaio é apresentar a visão de diferentes autores e relatar a<br />

experiência de algumas empresas, no tocante ao uso e proteção de sinais não tradicionais<br />

no processo de identificação e diferenciação de marca.<br />

Para alcançar o objetivo geral proposto, serão utilizados os seguintes objetivos<br />

específicos:<br />

• Revisão teórica para definição de marca e de elementos de marca;<br />

• Revisão teórica para diferenciação entre sinais tradicionais e não-tradicionais;<br />

• Análise do uso dos sinais não-tradicionais por diferentes empresas;<br />

• Análise no uso e proteção dos sinais não tradicionais por estas empresas.<br />

2 Revisão Teórica<br />

2.1 Definição de Marca<br />

Para se avaliar o papel dos elementos de marca, tema central deste ensaio, é importante<br />

revisitar a definição de marca mais aceita na bibliografia sobre o tema, que é a<br />

definição da AMA - American Marketing Association (2012)<br />

[...] marca é um nome, termo, símbolo, desenho ou combinação desses elementos que deve<br />

identificar os bens ou serviços de um fornecedor ou grupo de fornecedores e diferenciá-los<br />

dos da concorrência.<br />

Com base nesta definição pode-se observar, de forma sucinta, que uma marca possui<br />

dois grandes objetivos: (i) a identificação e (ii) a diferenciação dos produtos e serviços<br />

de um vendedor.<br />

Outro conceito importante para ser revisitado, ainda que rapidamente para se entender<br />

o papel dos elementos de marca, é o conceito de brand equity. Segundo Keller<br />

(2008), embora existam várias visões diferentes de brand equity, a maioria dos autores<br />

concorda que o conceito tem a ver com os efeitos de marketing atribuíveis exclusivamente<br />

a uma marca. Portanto, entender melhor o conceito de brand equity é chave para<br />

entender como os elementos de marca podem afetá-lo.<br />

Para Aaker (2000) o conceito de brand equity pode ser entendido como o conjunto<br />

de ativos associados a uma marca, seu nome e seus símbolos, e que podem ser somados<br />

ou subtraídos do valor proporcionado por um produto ou serviço. Tal capacidade<br />

está baseada em um conjunto de grupos de recursos: lealdade, conhecimento, qualidade<br />

percebida, associações da marca e outros ativos.<br />

Para Kapferer (2003) o conceito de brand equity está relacionado com a capacidade<br />

que uma marca tem como fator de vantagem competitiva e de redução de riscos para<br />

O uso e a proteção de sinais não tradicionais no processo de identificação..., José C. de Lima Jr., Marcos Machado e Geraldo L. Toledo, p. 37-50<br />

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seu detentor. Uma marca forte permite preços superiores, usufrui de lealdade dos consumidores<br />

e permite alavancar a lucratividade.<br />

2.2 Elementos de Marca<br />

Segundo Keller (2008), elementos de marca são aqueles que servem para<br />

identificar e diferenciar a marca. Os principais elementos de marca são: nomes de<br />

marcas, domínios na internet, logotipos, símbolos, personagens, slogans, jingles e<br />

embalagens. Sob a ótica da gestão de marcas, as decisões de escolha e divulgação<br />

dos elementos de marca são feitas de modo a construir o maior brand equity<br />

possível. Neste sentido, não se deve perder a noção do papel que os elementos de<br />

marca podem ter em uma melhor identificação e diferenciação, principais objetivos<br />

de uma marca. Desta forma, elementos de marca podem ser escolhidos para:<br />

aprimorar conhecimento de marca; facilitar a formação de associações de marca<br />

fortes, favoráveis e exclusivas; ou provocar julgamentos e sentimentos de marca<br />

positivos. Uma boa forma de identificar a contribuição dos elementos de marca<br />

é avaliar o que os consumidores pensariam sobre o produto se conhecessem somente<br />

seu nome de marca, logotipo e outros elementos. Um elemento de marca<br />

que proporciona uma contribuição positiva para o brand equity, é aquele elemento<br />

por meio do qual os consumidores presumem ou inferem certas associações ou<br />

respostas valorizadas.<br />

Ainda segundo Keller (2008) há seis critérios para escolher elementos de marca:<br />

memorabilidade, significância, simpatia, transferibilidade, adaptabilidade e proteção.<br />

A memorabilidade é a facilidade com que um elemento de marca é memorizado.<br />

Significância está relacionada com as associações diretas de significados<br />

à que o elemento de marca remete. Simpatia é o julgamento subjetivo sobre a<br />

forma como um elemento de marca é aceito pelo público. Transferibilidade é a<br />

capacidade do elemento de marca ser utilizado em diferentes contextos, novas<br />

categorias, extensões de linhas etc. Adaptabilidade está relacionada com a flexibilidade<br />

do elemento de marca para atualizações ao longo do tempo. Finalmente,<br />

a proteção tem relação com as condições que a empresa tem para proteger o elemento<br />

de marca tanto legalmente como competitivamente.<br />

Os três primeiros critérios (memorabilidade, significância e simpatia) podem ser<br />

caracterizados como de natureza de “construção de marca” e referem-se ao modo<br />

como o brand equity pode ser construído mediante a escolha de um elemento de<br />

marca. Os três últimos, entretanto, são de natureza mais “defensiva” e relacionam-se<br />

com o modo como um elemento de marca pode ser preservado.<br />

Os elementos de marca até aqui citados (nomes de marca, domínios na internet, logotipos,<br />

símbolos, personagens, slogans, jingles e embalagens) podem ser classificados<br />

como os elementos de marca tradicionais. Tratam-se dos elementos mais abordados na<br />

literatura, aqueles que as empresas mais utilizam e, consequentemente, aqueles que<br />

estão mais adiantados em termos de possibilidades, proteção legal e competitividade.<br />

40<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


No entanto, o principal objetivo deste artigo é analisar as implicações do uso dos<br />

elementos de marca não tradicionais, por parte das empresas. Tratam-se de novas<br />

oportunidades de identificação e diferenciação para marcas, elementos estes que<br />

estão sendo cada vez mais utilizados por diferentes empresas para se destacarem da<br />

concorrência. Entre tais elementos não tradicionais há o cheiro (marca olfativa), sinais<br />

sonoros, concepção arquitetônica e formato de produto, entre outras (Quadro 1). Justamente<br />

por serem elementos não tradicionais, tais elementos constituem no presente<br />

momento excelentes oportunidades pouco exploradas. No entanto, dado seu caráter<br />

novo, oferecem diversas limitações quanto à proteção legal e competitiva.<br />

2.3 Tendências ao uso dos elementos de marca: sinais tradicionais e<br />

sinais não tradicionais<br />

Se fosse possível definir, em poucas palavras, uma das principais características<br />

que deve ser considerada pelo marketing do século XXI, certamente o excesso de estímulo<br />

externo a que está exposto um consumidor figuraria como elemento central.<br />

Segundo Lindstrom (2005), no ano de 1965, aproximadamente 34% dos consumidores<br />

americanos conseguiam fixar o nome de uma marca após a exibição de<br />

um comercial na TV. Trinta anos depois, somente 8% são capazes de fazê-lo. Para<br />

Lindstrom (2005), um consumidor com idade de 65 anos já esteve exposto a dois<br />

milhões de comerciais somente via televisão, número que equivale a uma média<br />

de seis anos de anúncios, assistidos durante 8 horas por dia, 7 dias da semana. Se<br />

antes um produto fazia uso de poucos canais para apresentar-se ao consumidor,<br />

nos dias atuais as formas de estimular esse mesmo consumidor foram potencializadas<br />

com o surgimento de novas mídias e da portabilidade de muitas delas. Para<br />

Volmer e Precourt (2010), assiste-se o início de uma era onde os enfoques tradicionais<br />

de marketing não são mais viáveis, pois gradativamente o comando passa a<br />

ser do consumidor.<br />

Fazendo uso do varejo, Esbjerg e Bech-Larsen (2009) citam a arena que se transformou<br />

um supermercado moderno, destacando a liberdade que o consumidor<br />

tem para fazer as suas escolhas. Se antes a arquitetura de uma marca se ocupava,<br />

principalmente, da relação marca/produto, em uma realidade mais competitiva,<br />

Esbjerg e Bech-Larsen (2009) afirmam que essa mesma arquitetura de marca também<br />

precisa se ocupar das formas e dos meios em que ocorre a imersão do consumidor<br />

nesse universo de marcas.<br />

Os sinais tradicionais de uma marca, como nome, logotipo, slogan, personagem,<br />

se tornaram insuficientes para chamar a atenção do consumidor, sobretudo<br />

após a internacionalização do comércio e o acirramento da concorrência. Surgem<br />

assim estudos realizados por vários pesquisadores (JIN NA et al., 2008; VAVER,<br />

2005; KUMAR; JOSHI, 2006; RAZ et al., 2008; ESBJERG; BECH-LARSEN, 2009), que<br />

incluíram os sinais não tradicionais ao corpo teórico da literatura de marcas, como<br />

som, cheiro, design, o que Raz et al. (2008) denominam de Marketing Sensorial.<br />

O uso e a proteção de sinais não tradicionais no processo de identificação..., José C. de Lima Jr., Marcos Machado e Geraldo L. Toledo, p. 37-50<br />

41


2.3.1 Sinais tradicionais<br />

Durante muito tempo, os principais elementos de uma marca foram o nome, o<br />

domínio de internet, logotipos, símbolos, personagens, porta-vozes, slogans, jingles,<br />

embalagens Para apresentar as promessas de um produto ao consumidor,<br />

esses elementos fazem uso da propaganda para que esse consumidor possa perceber<br />

os benefícios oferecidos pela organização e assim construir a identidade<br />

desta marca (CRAVENS; PIERCY, 2007). Para Alcock et al. (2003), uma marca forte é<br />

a melhor estratégia para uma empresa ser percebida entre vários competidores,<br />

razão que faz Keller (2008) afirmar que o emprego coordenado desses elementos<br />

deve permitir uma contribuição positiva para a marca.<br />

Historicamente, os meios impressos dominaram a comunicação das marcas durante<br />

muito tempo. Com o surgimento e o acesso do consumidor aos meios eletrônicos,<br />

como a TV e o rádio, essas novas mídias foram então utilizadas com o objetivo<br />

de divulgar a imagem para determinado produto. A partir dos anos de 1990, com<br />

o surgimento e o desenvolvimento da Internet, o mundo virtual passou a ser empregado<br />

nas estratégias corporativas, inicialmente por meio de um domínio URL,<br />

e posteriormente com a interação de serviços e redes criados exclusivamente para<br />

acesso de usuários fidelizados. Nos dias atuais, a portabilidade de equipamentos e o<br />

fácil acesso ao cyberespaço, ilustrado recentemente nos smartphones, os elementos<br />

tradicionais de uma marca gradativamente passam por um processo de adaptação,<br />

principalmente quanto à aplicabilidade, uma vez que o excesso de informação impacta<br />

diretamente na percepção do consumidor (ZEKOS, 2006; LINDSTROM, 2005).<br />

É possível afirmar que as mudanças vivenciadas pelos sinais de uma marca estão<br />

condicionadas às alterações que ocorreram nos meios de acesso ao consumidor.<br />

Quando os meios de informação eram reduzidos e o número de empresas<br />

ofertantes para determinado produto era igualmente menor, era possível inferir<br />

que o controle estava na organização. Com a ampliação dos meios de comunicação<br />

e o acirramento da concorrência, o consumidor passou a ter mais condições<br />

de escolha sobre o canal de que faz uso para se informar, motivo este que, ainda<br />

que não único, é por si só suficiente para o surgimento de estratégias de marketing<br />

mais eficientes que visam alcançar este mesmo consumidor em boa parte da<br />

sua trajetória diária. Assim, uma sala de cinema ou um passeio pelo corredor de<br />

um centro de compras se tornaram meios relevantes para as organizações. Porém<br />

estes lugares não seriam plenamente atendidos se estas marcas fizessem uso somente<br />

dos sinais tradicionais. Tem-se assim a necessidade de complementar a comunicação<br />

entre o produto e o usuário de maneira que ela se torne mais eficiente,<br />

razão esta que se faz crescer, nos dias atuais, o uso dos sinais não tradicionais.<br />

2.3.2 Sinais não tradicionais<br />

Os sinais não tradicionais para comunicação da marca aos poucos estão sendo<br />

descobertos. A marca de cosméticos Nívea realizou recentemente uma ação nos<br />

42<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


cinemas alemães em que, após a exibição de um filme de 60 segundos, a fragrância<br />

do seu protetor solar espalhou-se pela sala acompanhada do slogan “Nivea.<br />

The scent of summer” (Nivea. O Aroma do Verão). Esta técnica foi batizada de “Endorphin<br />

Branding” por C. Russell Brumfield e já faz parte do portfólio de mídia para<br />

potenciais anunciantes da rede Cinescent (BRANDING WEEBLY.COM, 2008).<br />

Ações de marketing olfativo fizeram com que empresas especializadas surgissem<br />

no Brasil, como a Biomist, cuja função é desenvolver aromas específicos para<br />

empresas de varejo, buscando ampliar o apelo emocional e distinguir a marca do<br />

anunciante (BIOMIST, 2012).<br />

Para a valorização da marca, os sinais tradicionais foram extrapolados para os<br />

cinco sentidos humanos, no que Vilhena Neto (2009) denomina de “Classificação<br />

Sensorial” ou “Marketing Sensorial”, denominação esta de Raz et al. (2008).<br />

Fonte: Vilhena Neto (2009, p. 14-15).<br />

Quadro 1 - Espécies de marcas não-tradicionais<br />

Marcas tridimensionais<br />

Marcas compostas por cores isoladas ou combinadas<br />

Marcas compostas por hologramas<br />

Marcas compostas por slogans<br />

Perceptibilidade Visual<br />

Marcas compostas por títulos de obras autorais<br />

Marcas compostas por imagens em movimento<br />

Marcas de posição<br />

Marcas gestuais<br />

Marcas prediais ou arquitetônicas<br />

Marcas sonoras musicais<br />

Perceptibilidade Auditiva<br />

Marcas sonoras não-musicais<br />

Perceptibilidade Olfativa Marcas olfativas<br />

Perceptibilidade Táctil Marcas tácteis<br />

Perceptibilidade Gustativa Marcas gustativas<br />

Outra fonte de sinal não tradicional e que recebeu um criterioso estudo por Kumar<br />

e Joshi (2006) foi o uso e o emprego das cores. Estes autores destacaram que as<br />

cores prevalecem no dia-a-dia do consumidor conforme a sua cultura, estando esta<br />

associada ao aspecto dominante que este mantém em sua própria personalidade,<br />

seja ela política, religiosa ou racial. Kumar e Joshi (2006) ilustram essa afirmação por<br />

meio do emprego das cores na política: o vermelho na ideologia comunista ou socialista,<br />

o azul nos partidos conservadores, o preto no fascismo ou neo-fascismo, o<br />

rosa nos partidos moderados, o amarelo nos liberalistas e o verde nos partidos com<br />

direcionamento ambiental. Tem-se assim uma importante observação: quando se<br />

considera que todo indivíduo vive imerso em um universo de marcas, entender a<br />

cultura e empregar corretamente as cores permitem um melhor estímulo às próprias<br />

aspirações pessoais desse consumidor, propiciando maior interação e reduzindo<br />

o universo competitivo das marcas por meio de suas próprias aspirações.<br />

Segundo Orozco e Conley (2008), todo consumidor tende a desconstruir a marca<br />

em elementos visuais, criando diferentes pontos de vista sob a mesma. Portanto, se<br />

O uso e a proteção de sinais não tradicionais no processo de identificação..., José C. de Lima Jr., Marcos Machado e Geraldo L. Toledo, p. 37-50<br />

43


a função primária da marca é identificar e distinguir o produto (KAPFERER, 2003), todos<br />

os sinais presentes, tanto na marca como no produto, obrigatoriamente devem ser<br />

observados. Esta desconstrução, a princípio intangível no universo das marcas, é facilmente<br />

tangibilizada nos produtos quando se observa a migração de valor de designs<br />

ultrapassados por novos designs que oferecem valor adicional (CRAVENS; PIERCY, 2007),<br />

destacando o sinal não tradicional design ou “marca tridimensional”.<br />

Em matéria veiculada no The Wall Street Journal (OROZCO; CONLEY, 2008), esta situação<br />

foi bem ilustrada pelos mecanismos de proteção utilizados pela Apple para o<br />

iPod. A inovação do design do produto e o direito de propriedade intelectual tiveram<br />

que ser protegidos como elementos importantes da vantagem competitiva que objetivava<br />

a companhia, colocando não somente o design do produto, mas também as<br />

interfaces que este teria com o consumidor. Todo este conjunto-produto formado por<br />

cores, embalagens, configuração do produto, sinais, estilização, texturas e ornamentos<br />

em geral que seriam capazes de identificar o produto iPod e diferenciá-lo dos demais<br />

é denominado na literatura dos sinais não tradicionais de trade dres, e nos dias atuais é<br />

uma das áreas mais nebulosas de proteção da Propriedade Intelectual (DANIEL, 2006).<br />

Outro importante mecanismo de sinalização da marca é o som. A Intel conseguiu<br />

minimizar a necessidade visual da própria marca, sendo facilmente identificada pelos<br />

acordes veiculados em suas propagandas (ZOGBI, 2008). Outros exemplos também se<br />

destacam. Em matéria veiculada no Mundo do Marketing, o som nas marcas foi definido<br />

como “logosom” por profissionais da área, já sendo bastante difundida e utilizada<br />

por diversas empresas como Motorola, Nokia e TV Globo (ZOGBI, 2008).<br />

A partir da expansão dos sinais não tradicionais, a territorialidade da marca proposta<br />

por Kapferer (2003) é ampliada na personalidade e no estilo da marca como<br />

importante elemento de identificação em mercados cada vez mais competitivos,<br />

possibilitando, até em meios ainda não plenamente compreendidos plenamente<br />

pelo marketing, como o ciberespaço, um melhor posicionamento (ZEKOS, 2006),<br />

ou, nas palavras de Raz et al. (2008, p. 719), trata-se de uma “contínua inovação<br />

para a empresa manter-se na liderança”.<br />

2.4 Possibilidades de Proteção para os sinais não tradicionais<br />

As possibilidades de proteção para os sinais não tradicionais ainda carecem de muitas<br />

regras em vários países. No Brasil, somente com a nova Lei de Propriedade Industrial<br />

datada de 14/05/1996 (Lei 9.279/96) é que o registro das marcas tridimensionais, um<br />

dos elementos não tradicionais, passou a ser contemplada. Os Estados Unidos foram os<br />

pioneiros ao ampliar o próprio conceito de marca, como fonte de identificação e diferenciação,<br />

e incluir as formas de proteção também para cores, sons, aromas, movimentos,<br />

hologramas e outras formas imagináveis de representação da marca (SIEMSEN; LEIS,<br />

2010). Segundo Siemsen e Leis (2010, p. 4), “as cortes americanas já proferiram inúmeras<br />

decisões permitindo o registro de marcas não-tradicionais, baseadas no princípio de que<br />

o importante é a capacidade distintiva da marca, não importando sua natureza”.<br />

44<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


A Europa, por meio da International Trademark Association, publicou um documento<br />

apresentando os atuais estágios de proteção de marcas dos 36 países que<br />

representa, destacando, principalmente, as cores e as marcas tridimensionais. No<br />

Quadro 2, são apresentados 24 países selecionados pela sua importância econômica,<br />

incluindo a União Europeia.<br />

É possível notar que o registro dos sinais não tradicionais ainda carece de regulamentação<br />

em vários países. Entre os principais motivos, Vadi (2009) apresenta a dificuldade<br />

de precisar o limite da lei pública, que observa os interesses da sociedade, da lei<br />

de proteção individual, que observa os interesses de um agente específico. Como afirma<br />

Correa (2004), quando este diz que a marca passa a estar inserida na infinita teia de<br />

sinais que formam as conexões entre o indivíduo e o mundo exterior. Com premissa tão<br />

ampla, é compreensível que exista muito campo para ser estudado nos próximos anos.<br />

Albânia<br />

Alemanha<br />

Áustria<br />

Quadro 2 - Formas de proteção não tradicionais para<br />

cores e marcas tridimensionais – países selecionados<br />

PAÍS MARCA POR CORES MARCAS TRIDIMENSIONAIS<br />

Benelux (Bélgica,<br />

Holanda,<br />

Luxemburgo)<br />

Bulgária<br />

Dinamarca<br />

Espanha<br />

Finlândia<br />

França<br />

Grécia<br />

Hungria<br />

Não há restrição. É possível registrar uma<br />

cor ou uma combinação de cores sem<br />

nenhum design especial.<br />

É possível registrar combinações de cores,<br />

desde que seja diferenciado o emprego<br />

em bens ou serviços.<br />

A representação deve ser clara e<br />

permanente, devendo ser distinguido<br />

entre bens e serviços.<br />

É possível registrar, mas precisa estar claro<br />

sob quais signos serão representados<br />

graficamente.<br />

Aceita o registro somente de cores<br />

combinadas e jamais isoladas.<br />

Todos os signos são passíveis de registro.<br />

As cores precisam ser especificadas<br />

quanto a sua aplicação.<br />

Tradicionalmente não permite o registro<br />

das cores, pois somente as cores não são<br />

passíveis de identificação suficiente.<br />

Certamente é a que tem maior dificuldade<br />

de registro, pois devem ser apresentadas<br />

todas as diferenciações da cor em questão<br />

com relação às demais.<br />

Aceita registro, desde que seja precisado a<br />

cor na escala internacional Pantone.<br />

As cores sem outros elementos de<br />

identificação não são aceitos para registro.<br />

É possível registro. Solicita somente o<br />

emprego se para bens ou serviços.<br />

É possível registrar, mas com algumas<br />

restrições.<br />

É possível registrar somente a embalagem.<br />

A legislação alemã não aceita o registro<br />

do signo.<br />

Foca especificamente as embalagens.<br />

É possível registrar, mas precisa estar claro<br />

qual a natureza e o emprego.<br />

Não há leis específicas de proteção. Estão<br />

subordinadas às leis do próprio país<br />

Somente algumas formas tridimensionais<br />

são aceitas, geralmente por critério de<br />

relevância.<br />

Permite o registro desde que detalhado<br />

as finalidades e funcionalidades, incluindo<br />

palavras e design.<br />

Extremamente simples. Um original 3D já<br />

é passível de registro.<br />

Atualmente alguns registros são<br />

aceitos sem objeções, desde que sejam<br />

diferenciados.<br />

São aceitos registros.<br />

É possível registro.<br />

Continua...<br />

O uso e a proteção de sinais não tradicionais no processo de identificação..., José C. de Lima Jr., Marcos Machado e Geraldo L. Toledo, p. 37-50<br />

45


Irlanda<br />

Itália<br />

Polônia<br />

Portugal<br />

Reino Unido<br />

República<br />

da Bósnia<br />

Herzegovina<br />

46<br />

PAÍS MARCA POR CORES MARCAS TRIDIMENSIONAIS<br />

República Tcheca<br />

Romênia<br />

Rússia<br />

Devido às leis não fazerem menção ao uso<br />

e emprego das cores, há dificuldade para<br />

registro.<br />

É possível registro. As leis aceitam cores e<br />

combinações em diferentes tonalidades.<br />

Desde junho de 200 são consideradas<br />

como integrantes de uma marca.<br />

Deve-se distinguir o emprego para<br />

registro das cores. Há maior dificuldade.<br />

É possível registro desde que especificado<br />

o emprego e uso.<br />

É possível registrar sem nenhuma<br />

restrição.<br />

Desde abril de 2004 não são aceitos o<br />

registro de cores.<br />

As cores e suas combinações constituem<br />

partes da marca. É possível registro.<br />

Permite registro, mas há grande<br />

dificuldade, pois exige a especificação<br />

detalhada da aplicação.<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011<br />

Há forte dificuldade no registro de marcas<br />

tridimensionais. As leis especificam<br />

somente palavras, design, letras, números<br />

e embalagens (extremamente genérico).<br />

É possível registro, exigindo somente a<br />

natureza e o emprego.<br />

Desde junho de 200 são consideradas<br />

como integrantes de uma marca.<br />

É possível registro.<br />

É possível registro.<br />

É possível registrar sem nenhuma<br />

restrição.<br />

É possível fazer registros somente<br />

para embalagens, apesar das marcas<br />

tridimensionais não serem usualmente<br />

diferenciadas.<br />

Formas 3D constituem partes da marca. É<br />

possível registro.<br />

Não permite registro, pois são<br />

considerados como elementos funcionais<br />

de domínio comum.<br />

Suécia<br />

A lei atual apresenta dificuldade de<br />

interpretação, pois solicita o detalhamento<br />

para bens e serviços. Não considera as<br />

cores como parte funcional para registro<br />

de uma marca.<br />

Similar ao registro de marca de cores.<br />

Suíça É possível registro. É possível registro.<br />

União Europeia<br />

Quadro 2 - Formas de proteção não tradicionais para<br />

cores e marcas tridimensionais – países selecionados<br />

É possível registrar uma combinação de<br />

cores, mas deve estar claro os parâmetros<br />

de uso.<br />

É possível registrar, mas não diferencia a<br />

natureza do produto (bens/serviços).<br />

Fonte: Elaborado pelos autores a partir de International Trademark Association (2005).<br />

Considerações Finais<br />

É consenso que a competição tende a se acirrar nos próximos anos. Sendo a marca<br />

a melhor forma de identificação e diferenciação do produto, os elementos que a<br />

compõe receberão cada vez mais atenção conforme são intensificadas as relações<br />

de concorrência.<br />

No momento atual, é possível notar que o crescimento dos sinais não tradicionais<br />

destaca, simultaneamente, tanto o esgotamento dos sinais tradicionais na função primária<br />

de identificação e diferenciação, como a necessidade de ocupar um espaço na<br />

atenção, cada vez mais seletiva, do consumidor.


Partindo destas premissas, várias empresas já notaram as oportunidades e passaram<br />

a incluir em suas mensagens elementos não tradicionais. O alinhamento estratégico<br />

entre os sinais tradicionais e não tradicionais devem contribuir para o brand equity,<br />

porém precisam estes últimos observar os seis critérios propostos por Keller (2008):<br />

memorabilidade, significância, simpatia, transferibilidade, adaptabilidade e proteção.<br />

No entanto, é no último critério proposto por Keller (2008) que nos dias atuais reside<br />

o maior desafio, já que a proteção legal ainda carece de melhor definição para<br />

salvaguardar o proprietário da marca; conforme destaca Vadi (2009), há dificuldade de<br />

precisar os limites entre a lei pública e a lei de proteção individual.<br />

Em cenários de indefinição, é importante investir em ações de proteção competitiva,<br />

propiciadas principalmente pelas ferramentas de comunicação.<br />

Especificamente no Brasil, apesar de suscitar o questionamento sobre a normalidade<br />

de a legislação estar atrasada em relação a outros países e regiões, como<br />

Europa e Estados Unidos, há que destacar o pouco uso dos sinais não tradicionais<br />

pelas organizações locais.<br />

É possível supor que, em um futuro próximo, quando a atenção corporativa se voltar<br />

para esta nova forma de estar presente no cotidiano dos consumidores, deverão ser<br />

ampliados os investimentos na criação dos elementos não tradicionais, forçando assim<br />

a necessidade de modificar as atuais regras de registro no âmbito institucional.<br />

Sob os atuais condicionantes, as organizações enfrentam muitos riscos que são potencializados<br />

pela não proteção, destacando-se a possibilidade de cópia que é inerente<br />

no universo das marcas. Entretanto, é preferível para essas mesmas organizações atentar-se<br />

para esta oportunidade de valorizar a própria marca pelo uso destes elementos<br />

não tradicionais, ao invés de correr o risco de preterir o seu uso.<br />

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<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


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49


50<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


Top management team international<br />

dominant logic: a new linkage in<br />

the international diversificationperformance<br />

link<br />

Abstract: The shift away from the general<br />

focus on the importance of the CEO<br />

(Chief Executive Officer) of organizations<br />

is the basis of this paper. Their proposed<br />

new focal point of importance now lays<br />

on the Top Management Team (TMT) as<br />

the important locus of decision making,<br />

thus making this group the central focus<br />

for management analysis. The hypothesis<br />

that the firm itself (its structure and<br />

strategies) is correlated to the mindset<br />

Introduction<br />

Douglas E. Thomas *<br />

* Department of Management. Texas A&M University. E-mail: dthomas@tamu.edu<br />

of the TMT has been expanded to contemplate<br />

the firm’s diversification decisions<br />

and the relationship with firm’s<br />

performance. The author proposes four<br />

views of analysis to understand the relationships<br />

between the dominant logic<br />

for company management, being it international<br />

or not, and its performance.<br />

Keywords: Decision. Strategic management.<br />

Problem solving behavior.<br />

The past fifteen years of strategic management research has greatly increased our<br />

understanding of the importance of top management team (TMT) characteristics<br />

and composition in corporate strategy and performance. In general, management researchers<br />

have shifted away from a general focus on the importance of the firm’s chief<br />

executive officer (CEO) and introduced the TMT as focal point of study (FINKELSTEIN;<br />

HAMBRICK, 1996). This shift reflects the understanding that the TMT is the important<br />

locus of decision making in organizations and that the interactions ongoing within this<br />

group is the relevant level of analysis. Further, upper echelon theorists have hypothesized<br />

that the firm itself (its strategies and structure) is to a large degree a reflection of<br />

the top management team (HAMBRICK; MASON, 1984). In a related stream of research,<br />

the administrative heritage of the top management team or its dominant logic is posited<br />

to affect the way in which it develops and implements corporate strategy and firm<br />

outcomes (PRAHALAD; BETTIS, 1986; BARTLETT; GHOSHAL, 1989; BETTIS; PRAHALAD,<br />

1995). A TMT’s dominant logic is defined as its “mind set or world view or conceptualization<br />

of the business and the administrative tools to accomplish goals and make decisions”<br />

which is stored as a “a shared cognitive map (or set of schemas) among the dominant<br />

coalition” (PRAHALAD; BETTIS, 1986, p. 491). The dominant logic, for example, has<br />

been theorized as a crucial link in the relationship between the firm’s level and degree<br />

of product diversification and firm financial performance (PRAHALAD; BETTIS, 1986).<br />

Top management team international dominant logic: a new linkage in the international diversification..., Douglas E. Thomas, p. 51-64<br />

51


In addition to diversifying along product lines, firms also diversify internationally.<br />

International diversification 1 is the degree to which multinational firms expand their<br />

sales and operations abroad across national political boundaries. Recently, researchers<br />

have begun to extend upper echelon theory to explain the relationship between<br />

the TMT and the firm’s international diversification strategy (VOLKMAR, 1998; SAMB-<br />

HARYA, 1996; ATHANASSIOU, 1995). The effects that international diversification has<br />

on firm financial performance has also been explored (GERINGER, BEAMISH, DACOS-<br />

TA, 1989; HITT, HOSKISSON,; KIM, 1997; although mixed results have been found in<br />

empirical tests of this relationship (e.g., GRANT, 1987; DANIELS; BRACKER, 1989; COL-<br />

LINS, 1990; BUHNER, 1987). For example, Hitt et al. (1997) found an inverted U relationship<br />

between international diversification and performance; further, they found<br />

that the level of firm product diversification moderates the relationship. Further,<br />

they suggest that management of international and product diversification may be<br />

an important link in the relationship. TMT researchers, however, have not specifically<br />

explored the relationship that the firm’s dominant logic, international diversification<br />

and performance may have with each other.<br />

This paper has several purposes. First, I propose a new construct to the strategic<br />

management literature that is theorized to affect the relationship between international<br />

diversification and performance: the international dominant logic. Following<br />

Prahalad and Bettis (1986), the international dominant logic is the dominant coalition’s<br />

(TMT) mindset toward and administration of its international business (sales<br />

and operations); it is stored as a shared cognitive map amongst TMT members. The<br />

international dominant logic differs from the dominant logic proposed by Prahalad<br />

and Bettis in the sense that the dominant logic has previously focused on the TMT’s<br />

towards managing its product diversified portfolio whereas the international dominant<br />

logic specifically focuses on management’s orientation towards managing its<br />

international portfolio of operations and the unique causes of this orientation. [In a<br />

more general sense, the author recognizes that this difference between the two may<br />

be a matter of semantics; in other words, in a purely theoretical sense, the construct<br />

of the dominant logic likely includes what I am calling here the international dominant<br />

logic. In this sense, what I am proposing here is not a separate “construct”; the<br />

use here, then, is for more practical reasons - to emphasize the international context<br />

of my argument. I don’t think this hurts my argument but welcome any suggestions<br />

or comments (e.g., maybe I shouldn’t be using the word construct here)]<br />

The international dominant logic construct builds on previous research in global<br />

strategic management research that has focused on firm management’s cognitive<br />

orientation towards its international operations. Researchers have suggested that the<br />

firms of management with certain (which will be further explained later in the paper)<br />

mind sets towards its international operations may be more likely to diversify internationally<br />

(SAMBHARYA, 1996) and may lead to improved firm performance (BARTLETT;<br />

1 International diversification has been defined as “expansion across borders of global regions and countries into<br />

different geographic locations, or markets” (Hitt, Hoskisson, and Kim, 1997). (To this point this simple definition of<br />

international diversification is sufficient; however, later in this paper, a more refined definition will be necessary).<br />

52<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


GHOSHAL, 1989; CALOF; BEAMISH, 1994). The second purpose of this paper then is to<br />

explore the antecedents of the TMT’s international dominant logic. For example, I identify<br />

previous international experience as an important source of the TMT’s international<br />

dominant logic. Third, I argue that the TMT’s international dominant logic is a crucial link<br />

in the relationship between a firm’s international diversification strategy and its performance.<br />

More specifically, I posit that management’s learned problem solving behavior<br />

and cognitive map with respect to its increasingly diversified portfolio of international<br />

operation is related to firm performance. Finally, I explore the relationship that the<br />

TMT’s dominant logic may have with its international dominant logic and any potential<br />

effects that this relationship may have on firm performance.<br />

The dominant logic<br />

As was previously mentioned, Prahalad and Bettis (1986) introduce the construct of<br />

managerial dominant logic in the strategic management literature. A TMT’s dominant<br />

logic is defined as a “mind set or world view or conceptualization of the business and<br />

the administrative tools to accomplish goals and make decisions” which is stored as a<br />

“a shared cognitive map (or set of schemas) among the dominant coalition” (p. 491). A<br />

schema is a knowledge system that represents a manager’s “beliefs, theories, and propositions<br />

that have developed over time based on the manager’s personal experiences”<br />

(p. 489). The dominant coalition is the top management team. The TMT’s dominant<br />

logic is “expressed as a learned, problem-solving behavior” (p. 491). The TMT’s dominant<br />

logic results from: 1. operant conditioning (positive reinforcement), 2. pattern recognition<br />

processes and 3. cognitive biases 4. personal experiences. TMT’s may have single or<br />

multiple dominant logics, depending on the strategic variety (e.g., the relatedness and<br />

unrelatedness of the firm’s product diversification portfolio) of the firm. TMTs working<br />

in one product line or business (i.e., an undiversified firm) may have a single dominant<br />

logic - only one paradigm by which they manage that business. TMT’s of firms that have<br />

diversified into unrelated businesses may have developed multiple dominant logics -<br />

one dominant logic that that guides their decision making in one line of business and<br />

another in an unrelated business.<br />

Prahalad and Bettis (1986) suggest that because the dominant logic is a learned<br />

problem solving behavior that TMTs may learn to adjust the dominant logic according<br />

to the demands of managing the business. Significant changes in the demands necessary<br />

for managing the existing business (e.g., significant changes in the firm’s operating<br />

environment) of a firm with a single dominant logic TMT may require the TMT to<br />

make adjustments to its dominant logic in order for the firm to succeed. Further, TMTs<br />

may learn new dominant logics - adding to their existing dominant logic(s). The TMT of<br />

a single dominant logic firm may add an additional dominant logic(s) and become a<br />

multiple dominant logic TMT or the TMT of a multiple dominant logic firm may add an<br />

additional dominant logic(s). For example, when diversifying into a new product line or<br />

business, the TMT of a single dominant logic firm may adjust its dominant logic or add<br />

new ones depending on the relatedness of the diversification. If the new business is<br />

related or similar to the existing business, then the TMT may be able to manage it with<br />

Top management team international dominant logic: a new linkage in the international diversification..., Douglas E. Thomas, p. 51-64<br />

53


the same dominant logic with which it has managed the existing business. Adding a<br />

new but dissimilar business will require a single or multiple dominant logic TMT to learn<br />

a new dominant logic that meets the demands of the new business in order for the<br />

diversification to improve firm financial performance.<br />

Thus, the dominant logic is malleable. It is a learned, problem-solving behavior;<br />

adjustments can be made to existing logics and new ones can be learned. As it<br />

is mentioned above, Prahalad and Bettis’s (1986) work on the dominant logic is<br />

specifically concerned with the dominant logic construct in the context of product<br />

diversification. In other words, the effects of the firm’s diversification strategy on<br />

firm financial performance is determined in part by the TMT’s dominant logic -<br />

the problem-solving behavior with which it implements the strategy. At the same<br />

time, no such work has been done with respect to the construct of dominant logic<br />

and its international diversification strategy.<br />

The international dominant logic<br />

Building on the dominant logic construct developed by Prahalad and Bettis (1986)<br />

for product diversification, we can extend the construct to the firm’s international diversification<br />

portfolio. The TMT’s international dominant logic is the cognitive map by<br />

which it manages its portfolio of internationally diversified operations. The TMT has<br />

learned this problem solving behavior through the firm’s previous experience in the<br />

international arena, from the cognitive biases of the individual TMT members, and<br />

from the success or failures that it has experienced in conducting its firm’s operations<br />

internationally. Similar, to the dominant logic construct, a firm may have a single international<br />

dominant logic or multiple international dominant logics. The international<br />

dominant logic(s) of the TMT depend in part on the degree of similarity or relatedness<br />

of the markets in which it operates internationally; further, it depends on the nature of<br />

those operations (e.g., exports, wholly owned subsidiaries, etc.). This concept will be<br />

further developed later in this paper. However, first, previous literature that provides the<br />

foundation for the international dominant logic will be reviewed.<br />

Previous research that supports the international dominant logic<br />

concept<br />

Previous research in international business reveals that the idea that executives and<br />

managers of firms have general mind sets towards areas, cultures, and business environments<br />

foreign to their own which affects their implementation of firm strategy in<br />

the international arena is not new. [Mind set is understood here to be quite similar to<br />

the dominant logic; it is a cognitive orientation or attitude developed over time based<br />

on personal experience and biases.] Perlmutter (1969) developed a typology which<br />

identifies three different managerial mind sets that affect the way in which executives<br />

manage the firm’s international strategy and structure: ethnocentric, polycentric, and<br />

geocentric mind sets.<br />

54<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


An ethnocentric manager has a strong home-country culture mind set in conducting<br />

firm operations overseas; strategies, structures, and other decisions are likely to<br />

reflect such a mind set. The dominant management mindset resulting from the firm’s<br />

home-country environment dominates management of the firm’s international operations.<br />

According to the typology, a firm led by predominantly ethnocentric managers<br />

will likely have an ethnocentric orientation. This assertion accords with upper-echelon<br />

theory that posits that the firm is a reflection of its top managers (HAMBRICK; MASON,<br />

1984). A manager with a polycentric mind set recognizes that there are differences<br />

between the cultures, markets, and business environments in which it operates and<br />

manages firm operations in light of such operations; however, strategies and structures<br />

dominate in the home-country still dominate the corporate strategy, structure, and culture.<br />

The geocentric managerial mindset recognizes the importance of each culture,<br />

subsidiary, and area as integral parts of the firm’s global system of operations. The focus<br />

in such a corporation is on a global strategy, structure and culture where no homecountry<br />

managerial mindset dominates. Further, the geocentric managerial mindset<br />

recognizes the need for local adaptations. Corporate strategy, structure, and culture reflect<br />

the geocentric mindset of top management.<br />

The implicit assumption in this typology is that the three types of mind sets lie along<br />

a continuum, with ethnocentrism on one extreme and geocentrism on the other. Further,<br />

Perlmutter’s writings implicitly assume that geocentrism is positively associated<br />

with performance. He suggests that management of firms involved in international<br />

operations should develop a geocentric mindset. Thus, his typology is both descriptive<br />

of what reality is and prescriptive to what it should be like. The emphasis that I wish to<br />

draw from his work is that managers do have specific mindsets with respect to managing<br />

their portfolio of internationally diversified operations.<br />

More recently, other researchers have developed similar typologies. For example,<br />

Bartlett and Ghoshal (1989) observe three different types of firms - the international,<br />

multinational, and global firm - that reflect the executives of the firm and the strategies<br />

that they have implemented. The international, multinational, and global typology basically<br />

translates to the ethnocentric, polycentric, and geocentric typology developed<br />

by Perlmutter (1969). Bartlett and Ghoshal (1989) are prescriptive as Perlmutter in that<br />

they propose a particular “solution” to improving firm performance when managing an<br />

internationally diversified portfolio of operations: the transnational solution or transnational<br />

approach to management.<br />

Transnational management cuts across the typology; it includes elements of all<br />

three mindsets: international, multinational, and global. Transnational management is<br />

characterized by focusing on a both a global strategy and local responsiveness. Managers<br />

of such a firm recognize the need to integrate operations across borders within a<br />

global strategy. At the same time, their mindset is towards responding to the needs of<br />

individual, local markets. Operations around the world are part of an integrated whole.<br />

The firm’s culture, strategy and structure represent the transnational mindset of management.<br />

The location of headquarters or any other country or culture does not affect<br />

the mindset of the managers. An example of such a firm is Asea Brown Boveri (ABB)<br />

Top management team international dominant logic: a new linkage in the international diversification..., Douglas E. Thomas, p. 51-64<br />

55


which is highly diversified internationally and which purposely has top managers from<br />

various culturally diverse areas. Their stated reason for doing so, is the idea that greater<br />

diversity amongst top managers brings the mind set necessary for managing a firm<br />

that is globally competitive but locally responsive. Bartlett and Ghoshal (1989) point<br />

out that the firm’s administrative heritage (which is quite similar to the dominant logic)<br />

is highly correlated with management’s mindset with respect to conducting its international<br />

operations. For firms wishing to follow the prescription, they point out that one<br />

way for managers to develop such a transnational mindset is through international experience.<br />

They suggest that in the future firm performance will be dependent to a large<br />

degree on management’s ability to adopt the transnational mindset.<br />

Both Bartlett and Ghoshal (1989) and Perlmutter (1969) suggest prescriptions for<br />

managers of multinational firms; they suggest that management’s adoption of geocentric<br />

or transnational mindsets with respect to managing international operations will<br />

have positive effects on firm financial performance. The main points to be taken from<br />

the two approaches is that managers have mindsets with respect to their firm’s international<br />

operations and that certain mindsets may have positive effects on performance.<br />

More recently, other researchers have specifically focused on the top management<br />

team and its relationship with firm international diversification strategy (the focus of the<br />

aforementioned authors was not on the TMT per se). For example, Athanassiou (1995)<br />

argues that TMT’s develop firm specific international business tacit knowledge through<br />

engaging in foreign operations. As firms diversify internationally, individual top management<br />

team members acquire international business tacit knowledge. Tacit knowledge<br />

refers to know-how or process knowledge that can not be written down. The international<br />

business tacit knowledge of individual TMT members is integrated across<br />

other TMT members to create a TMT level international business tacit knowledge. This<br />

idea stems from upper-echelon theory and its focus on group processes (HAMBRICK;<br />

MASON, 1984). The degree to which international business tacit knowledge is assimilated<br />

among TMT members can affect firm performance. Top managers use their international<br />

business tacit knowledge to manager their firm’s international operations. The<br />

international business tacit knowledge concept is similar to the concept of the international<br />

dominant logic – both are learned, problem solving behaviors that management<br />

uses to manage the firm’s international operations.<br />

Unfortunately, empirical tests of the hypothesized relationship between management’s<br />

international mind sets and firm performance are scant (i.e., that geocentric or<br />

transnational managerial mind set is positively correlated with performance). Calof and<br />

Beamish (1994), found that a geocentric mindset is positively related to performance<br />

based on the results of a questionnaire sent to executives of thirty-eight Canadian firms.<br />

Kobrin (1994) has convincingly argued and shown, in a survey of international<br />

human resource executives, that a geocentric mind set is not related to any specific<br />

international strategy or structure. “A centralized firm that is global in scope could be<br />

managed either ethno- or geocentrically, and it is also quite possible that a geocentric<br />

mind set could be prevalent in a firm that decentralizes responsibility but relies on<br />

56<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


socialization of managers for control” (p. 496). He argues that “geographic scope, strategy<br />

and structure, and cognitive orientation are distinct concepts and that a geocentric<br />

managerial mind-set is not a necessary correlate of either a firm’s position on the strategic<br />

continuum or its organizational structure” (p. 496). However, he did find that geocentrism<br />

was positively associated with geographic scope which for the purposes of<br />

this paper is similar to international diversification (foreign sales/total sales, number of<br />

countries with manufacturing operations, and percent of employees abroad). (It should<br />

be noted that his main research concern was the sources of geocentrism; he wanted to<br />

find out whether or not certain strategies or structures led to certain mind sets). Thus,<br />

“geographic scope, [international] strategy and structure, and [international] cognitive<br />

orientation are distinct concepts” (p. 496).<br />

Thus, recent research suggests that the proposed relationship between mindsets<br />

as they have been hypothesized and operationalized to this point may not always<br />

hold. The attitudes and mind sets outlined by previous researchers then may<br />

not qualify under the domain of dominant which indicates that attitudes and mind<br />

sets are expressed in strategies and structures. One possible explanation for such<br />

a discrepancy is that it takes time for the effects of the dominant logic to effect<br />

strategies and structures. There also may be problems with the operationalization<br />

of the geocentric mind set. Because of the difficulties encountered in empirical<br />

tests of the aforementioned typologies and their hypotheses, I propose a broader<br />

construct – the international dominant logic. This broader construct matches<br />

TMT’s mind sets to their strategies and structures; although the matching process<br />

may take time. It is clear based on this review of the literature that managers of<br />

firms do develop specific mindset and attitudes with respect to their international<br />

operations. Further, the previously reviewed work has focused on management in<br />

general but has not appeared to upper echelon theory per se. Thus, I propose that<br />

the top management teams of firms develop and maintain dominant logics with<br />

respect to managing their internationally diversified operations.<br />

A TMTs international dominant logic is its mindset or towards its firm’s international<br />

operations. It is expressed in its way of conducting is foreign operations. It is its<br />

learned problem-solving behavior – the cognitive map by which it manages its international<br />

portfolio of operations. The firm’s international dominant logic is not necessarily<br />

evolving continually along a continuum from ethnocentric to geocentric as has<br />

been suggested previously (KOBRIN, 1994) also argues against the continuum concept);<br />

although some firms may follow such an evolution. Simply put, the international<br />

dominant logic of a top management team and its firm is its mind set towards its international<br />

operations which is also expressed in its international structure and strategy.<br />

Further, following Prahalad and Bettis (1986), the TMTs of firms may have multiple<br />

international dominant logics. For example, as was previously mentioned, Bartlett and<br />

Ghoshal (1989) identify the transnational mind set which represents elements of the<br />

other mindsets that they identify - multinational, international, and global. Managers<br />

with a transnational mindset simultaneously apply elements each of the three; in other<br />

words, they have learned and are using multiple international dominant logics to manage<br />

international operations.<br />

Top management team international dominant logic: a new linkage in the international diversification..., Douglas E. Thomas, p. 51-64<br />

57


The international dominant logic concept deals with how top management conceives<br />

of and subsequently manages its international operations. Management of a<br />

firm may have operations in 18 different countries, spread out over 3 different regions;<br />

12 in “developed” and 6 in “developing” countries. They may only source from some<br />

of these countries and export its product to others. In some they have wholly owned<br />

subsidiaries managed by local managers; in others their only contact is a third party<br />

who coordinates sales of the firm’s product to retailers. Management may have a dominant<br />

logic for managing in certain regions – one for its operations in Africa, another<br />

for operations in Europe. The difference for management in thinking about managing<br />

operations in the two regions may be based in cultural differences that it has learned<br />

through experience or from cognitive biases. When thinking of its goals for developed<br />

and developing countries it may use different dominant logics that it has learned over<br />

time. The separation of different dominant logics for managing the two different types<br />

of countries may be based in market characteristics, technological infrastructure, political<br />

riskiness, among other factors. Some of the country’s economies may be characterized<br />

as market-oriented and other more as centrally planned. Some of the countries in<br />

which it operates may be allies of the country in which the firm is legally incorporated<br />

(its physical, legal headquarters) and others as political enemies. Management likely has<br />

different dominant logics for managing such diversity in its international operations.<br />

A firm that is headquartered in the United States and whose foreign operations consist<br />

of exports to Canada and to England may successfully manage operations with a<br />

single dominant logic. Thus, the concept differs from the ideas developed by Perlmutter<br />

and Bartlett and Ghoshal in that they prescribe certain mindsets for management and<br />

they identify a typology of specific mindsets. For example, Bartlett and Ghoshal suggest<br />

that the transnational solution may be a universal solution that top management of all<br />

firms engaged in international business may need to adopt. The concept of the international<br />

dominant logic does not prescribe geocentrism, transnationalism, or any other<br />

specific solution for all firms. For the firm just mentioned a geocentric or transnational<br />

mind set may be inappropriate. Indeed, Perlmutter, for example, may well classify the<br />

management of this firm to be ethnocentric which according to his hypothesis would<br />

not be positively related to firm performance. Instead, the international dominant logic<br />

recognizes that firms likely have multiple international dominant logics that do not necessarily<br />

fit into a three-category typology.<br />

Sources of the international dominant logic<br />

Prahalad and Bettis (1986) suggest four sources of a firm’s international dominant<br />

logic: operant conditioning (positive reinforcement), pattern recognition process, and<br />

cognitive biases and personal experience. With respect to the international dominant<br />

logic it appears that these origins also apply. For example, top management team member<br />

international experience has been identified as an indicator of international mind<br />

set (PERLMUTTER, 1969; ATHANASSIOU, 1995). One researcher recently operationalized<br />

a top management team member’s international mindset by using the length of<br />

time he or she had spent in international experience (SAMBHARYA, 1996). International<br />

58<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


experience, according to Sambharya (1996), represents three important issues for the<br />

firm. “First, international experience is a proxy for the reduction of uncertainty. Second,<br />

it is a surrogate for accumulating cultural knowledge. Third, international experience<br />

represents the response of firms to internationalize their TMT’s to the forces of an expanding<br />

global economy and markets.” (p. 741). International experience is likely an important<br />

source of the dominant logic of a firm’s top management team.<br />

Top management team members gain international experience in varied ways:<br />

overseas assignments, study abroad as part of higher education, living in foreign countries.<br />

Sambharya (1996) operationalized international experience as number of years<br />

spent abroad on assignment and/or higher education or spent in the international division.<br />

For the purposes of this paper, I suggest that international experience can come<br />

in varied ways. Managers develop their international mind set through direct experience<br />

but also through more indirect experience, including learning foreign languages,<br />

international travel (but not living abroad), studying international topics in college (e.g.,<br />

majoring in international relations). For example, the CEO of a major corporation may<br />

not have ever lived in a foreign country; however, because of the high degree of international<br />

diversification of his or her company and frequent travel to foreign subsidiaries,<br />

he or she develops more international experience. This experience, though indirect,<br />

contributes to his or her individual international dominant logic and thus, to that of the<br />

firm. Further, there is evidence that top managers of a firm learn from the international<br />

experience of other top managers. For example, Athanassiou (1995) suggests that TMTs<br />

develop team-level international business tacit knowledge through individual members’<br />

involvement in the firm’s overseas operations.<br />

International dominant logic: a crucial link in the international<br />

diversification – firm performance relationship<br />

Research in strategic management has also focused on the effects of international<br />

diversification strategies on firm financial performance. Most previous work has<br />

hypothesized a direct relationship between international diversification strategies<br />

and performance (GRANT, 1987; DANIELS; BRACKER, 1989; COLLINS, 1990; BUHNER,<br />

1987). Also, as has previously been noted, the work on managerial mindsets towards<br />

firm international operations has focused on direct effects on performance. Empirical<br />

tests of the relationship between international diversification and firm performance<br />

have found mixed results (Hit et al., 1997). Positive (e.g., GRANT, 1987; DAN-<br />

IELS; BRACKER, 1989), negative (e.g., COLLINS, 1990) and intermediate (e.g., BUHNER,<br />

1987) relationships have been found; other researchers (GERINGER; BEAMISH; DA-<br />

COSTA, 1989; HITT et al., 1997) have found an inverted U relationship between international<br />

diversification and firm performance. The latter authors point out that as<br />

firms diversify internationally there is first a positive effect on performance but then<br />

a threshold is reached and performance begins to decline. Their findings suggest<br />

that international diversification only has positive effects up to a certain point when<br />

it actually begins to have a negative effect. Generally, it has been pointed out that<br />

as international diversification increases, so do the complexities that top managers<br />

Top management team international dominant logic: a new linkage in the international diversification..., Douglas E. Thomas, p. 51-64<br />

59


have to manage. Coordination costs and control help explain such a relationship<br />

(HITT et al., 1997). What is important for my argument, is that how management<br />

manages the firm’s overseas operations is a key link in the relationship between its<br />

internationally diversified portfolio of operations.<br />

The idea that management plays a crucial role in the success of international operations<br />

is not new. Researchers have previously suggested that one of the most important<br />

constraints facing internationally diversified firms is the lack of international experience<br />

of managers (BARTLETT; GHOSHAL, 1992). Athanassiou (1995) argues that the degree<br />

to which individual top management team members assimilate international business<br />

knowledge tacit knowledge within the TMT will affect firm international performance.<br />

Barkema, Shenkar, Vermeulen, and Bell (1997) argue that as firms expand internationally<br />

they must “unlearn practices typical of their home countries” in order to have success<br />

in international joint ventures (p. 427). Finally, Hitt et al. (1997) note the “critical importance<br />

of the ability to manage…diversification” to firm performance (p. 793).<br />

Thus, following Prahalad and Bettis’ framework (reviewed earlier in paper) the<br />

outcome (firm performance) of firm strategy (diversification) depends on the dominant<br />

logic by which managers manage diversity. Thus, managing international diversity<br />

also depends on the TMTs international dominant logic. Prahalad and Bettis<br />

focus on the relatedness/unrelatedness or similarity/dissimilarity of the diversified<br />

businesses that the firms operates. The relatedness or similarity of international diversification<br />

can also be explored (as was previously noted in this paper). Similarity<br />

for international diversification may be in terms of culture, language, political regime,<br />

market orientation, economic development, among others. The management of a<br />

firm that’s international operations are diversified into foreign areas that are quite<br />

similar along these lines may be classified as a single international dominant logic<br />

TMT. Top management of firms that expand into dissimilar foreign areas along any of<br />

the aforementioned dimensions may need to learn an additional, new international<br />

dominant logic. Management of firms already operating in areas that are dissimilar<br />

along these lines that expand into new areas that are dissimilar to any of their firm’s<br />

own portfolio also may need to learn a new international dominant logic. Thus, as<br />

was previously suggested, TMTs of firms may have an international dominant logic<br />

for managing operations in developed countries and another for developing countries.<br />

The extension can also be to the other dimensions mentioned here.<br />

Another dimension that may affect the TMT’s international dominant logic is the<br />

mode of entry or method of operations in foreign countries. Firms enter foreign markets<br />

through exports, licensing agreements, managerial contracts, joint ventures, strategic<br />

alliances, wholly owned subsidiaries, etc. Firms may have different international<br />

dominant logics depending on the mode of entry. For example, they may manage exports<br />

with one international dominant logic and wholly owned subsidiaries with another.<br />

Further, interactions between the mode of entry dimension and the previously<br />

mentioned dimensions also may be important for managing international operations.<br />

For example, managers may use one dominant logic when managing exports to developed<br />

countries and another for managing exports to developing countries.<br />

60<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


Thus, the international dominant logic is determining the effects of international<br />

diversification on firm performance. Managing dissimilar international diversification<br />

with a single international dominant logic may have negative effects on performance.<br />

For example, a single dominant logic firm that diversifies along dissimilar international<br />

dimensions and does not learn a new international dominant logic may not succeed<br />

(i.e., negative performance).<br />

Further insights from product diversification<br />

Hitt et al. (1997) studied the relationship between product diversification, international<br />

diversification and performance (see inserted figure; note it does not have Figure<br />

1 – Appendix - or anything at the top it is a photocopy from Hitt et al’s paper). They<br />

found that product diversification moderates the relationship between international<br />

diversification. In other words, for highly product-diversified firms, as international diversification<br />

increases so does performance. The concept of the dominant logic and<br />

the international dominant logic may shed light on this relationship. It may be the case<br />

that performance is highest for firms that are highly diversified along international and<br />

product dimensions because their top management has developed the capability to<br />

learn to be flexible – to learn, develop, and add new dominant and international dominant<br />

logics as they expand. Higher levels of diversification along both dimensions has<br />

a positive effect on performance because the TMT recognizes the need to learn new<br />

dominant logics and also because the TMT recognizes when existing dominant and international<br />

dominant logics are appropriate for managing diversification. For example,<br />

a well known, highly diversified (product and international) firm is Proctor & Gamble<br />

(P&G). Imagine that Proctor and Gamble decides to launch one of its existing products<br />

into a new market – say Vietnam. Firm performance may be enhanced by the TMTs ability<br />

to successfully recognize whether an existing international dominant logic is appropriate<br />

for managing this expansion or whether a new one needs to be developed. P&G,<br />

by virtue of the fact that it has learned and developed multiple dominant and international<br />

dominant logic(s) may have the capability to recognize this and act accordingly.<br />

A methodological issue for future research in this area<br />

One problem with the research studying the effects of international diversification<br />

strategies (or degree of internationalization) on firm financial performance is the frequent<br />

operationalization of international diversification with foreign sales/total sales (FSTS) (SUL-<br />

LIVAN, 1994). This is important for the theories being proposed in this paper, because future<br />

research may test their hypotheses using a similar operationalization. Sullivan (1994) in an<br />

exhaustive review of seventeen empirical studies of international diversification and firm<br />

performance found that all had relied on some measure of foreign sales/total sales as the<br />

proxy for international diversification. Six found positive a relationship, six an intermediate,<br />

and seven a negative relationship between international diversification and performance.<br />

(HITT, et al.’s (1997) study, which was published after Sullivan’s review also used a measure<br />

of foreign sales to total sales (an entropy measure) for international diversification).<br />

Top management team international dominant logic: a new linkage in the international diversification..., Douglas E. Thomas, p. 51-64<br />

61


Sullivan concluded that researchers’ consistency in using FSTS makes it impossible<br />

“to state with certainty that international diversification will improve the financial<br />

performance of a firm” (p.330). He proposes an index measure that includes three<br />

components of international diversification: performance, structural, and attitudinal.<br />

Performance measures include FSTS, Research and Development Intensity, Advertising<br />

Intensity, export sales/total sales, and foreign profits/total profits. He proposes two<br />

structural measures: foreign assets/total assets and number of foreign subsidiaries/total<br />

subsidiaries. The attitudinal components that he proposes are top managers’ international<br />

experience and psychic dispersion of operations (which is similar to cultural<br />

distance). Sullivan concludes that in his study he has established content validity for<br />

his measure of degree of internationalization while construct validity issues were left<br />

for future researchers. The main conclusion that can be made from this research is that<br />

foreign sales/total sales as a measure of international diversification likely is a very crude<br />

measure; this calls into question results obtained by previous studies of the international<br />

diversification – firm performance relationship 2 . Thus, in reality, little can be said<br />

conclusively about the relationship between the two. Any future tests of the theorized<br />

relationships included in this paper should take into account this methodological issue.<br />

Conclusion<br />

This paper contributes to the strategic management literature by (1) building on previous<br />

research in strategic management and international business to propose a new<br />

construct: the international dominant logic (2) proposing that the TMT’s international<br />

dominant logic is a crucial link in the relationship between international diversification<br />

and firm performance. More generally, this concepts explored in this paper provide a<br />

framework for better understanding the management of internationally diversified<br />

portfolio of operations. Empirical tests suggest that international diversification may<br />

or may not have positive effects on performance; thus, a better understanding of the<br />

role of the TMT in this process will help both academic and practical research. Future<br />

research on the international dominant logic should focus on developing propositions<br />

and hypotheses that can be tested. It is likely that in such tests alternative measures<br />

of the degree of international diversification (similar to those suggested by Sullivan<br />

(1994)) should be used.<br />

62<br />

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64<br />

International<br />

Diversication<br />

Strategy<br />

Appendix – Figure 1<br />

TMT International<br />

Dominant Logic<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011<br />

International<br />

Performance and<br />

Overall Firm<br />

Performance


O Balanced Scorecard como instrumento<br />

da gestão do desempenho nas<br />

organizações do terceiro setor<br />

Resumo: Este trabalho aborda a aplicabilidade<br />

do Balanced Scorecard nas instituições<br />

do Terceiro Setor. O Balanced Scorecard<br />

desenvolvido por Kaplan e Norton<br />

surgiu como uma ferramenta para mensurar,<br />

descrever e traduzir recursos intangíveis<br />

em real valor para a organização. A<br />

estratégia da instituição se reflete nas medidas<br />

de desempenho vinculadas entre si<br />

e demonstradas através de quatro perspectivas:<br />

financeira, cliente, processos<br />

internos, aprendizagem e crescimento. A<br />

gestão das organizações do Terceiro Setor<br />

objetivando um crescimento mais estruturado<br />

e efetivo buscam ferramentas que<br />

adaptadas às suas finalidades e especificidades<br />

contribuam para a melhoria da<br />

gestão. O objetivo do estudo é apresentar<br />

constatação teórica e prática da utilização<br />

do Balanced Scorecard na gestão do desempenho<br />

nas organizações do Terceiro<br />

Setor. Para isso foi constituído um referencial<br />

teórico sobre o Terceiro Setor, Gestão<br />

Social, Balanced Scorecard e realizado estudo<br />

de caso. Através da pesquisa realizada<br />

constata-se a viabilidade da utilização<br />

desse instrumento nas instituições do Terceiro<br />

Setor.<br />

Palavras-chave: Gestão do desempenho.<br />

Terceiro setor. Balanced Scorecard.<br />

Organização da sociedade civil.<br />

Igor Vovchenco Cabral *<br />

Abstract: This work studies the applicability<br />

of the Balanced Scorecard in<br />

Third Sector institutions. The Balanced<br />

Scorecard developed by Kaplan and<br />

Norton has emerged as a tool to measure,<br />

describe and translate intangible<br />

resources into real value for the organization.<br />

The strategy of the institution<br />

is reflected in performance measures<br />

related to each other and is demonstrated<br />

through four perspectives: financial,<br />

customer, internal processes,<br />

learning and growth. The management<br />

of the Third Sector organizations, aiming<br />

at a more structured and effective<br />

growth, seeks tools to suit its purposes<br />

and specific features contributing to<br />

the improvement of management. The<br />

objective of this study is to present theoretical<br />

and practical Balanced Scorecard<br />

utilization in performance management<br />

in Third Sector organizations.<br />

A theoretical reference has been drawn<br />

from Third Sector, Social Management,<br />

Balanced Scorecard and a performed<br />

case study. Through this research it is<br />

concluded the feasibility of using this<br />

instrument in Third Sector institutions.<br />

Keywords: Performance Management.<br />

Third sector. Balanced scorecard. Civil<br />

society organization.<br />

* Este artigo tem por base a monografia apresentada à FAAP-MBA Executivo, como parte dos requisitos para a<br />

aprovação no Curso MBA Executivo, sob orientação da Profa. Dra. Eloisa Helena de Souza Cabral. E-mail do autor:<br />

igorvcabral@hotmail.com.<br />

O Balanced Scorecard como instrumento da gestão do desempenho nas organizações do terceiro setor , Igor V. Cabral, p. 65-88<br />

65


Introdução<br />

O aumento de organizações da sociedade civil com atuação na área social acirra<br />

a concorrência por contribuições, recursos financeiros ou parcerias necessárias<br />

para a sustentabilidade das ações sociais dessas instituições. A concessão de recursos<br />

financeiros por parte das fontes financiadoras tem ocorrido atualmente<br />

sob critérios mais exigentes do que no passado (FISCHER; FALCONER, 1998). Além<br />

disso, a Lei Nº 9.790 de 23/03/1999 (BRASIL, 1999) que qualifica as organizações<br />

do Terceiro Setor (TS) como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público<br />

(OSCIPs) define que uma das cláusulas essenciais do termo de parceria com o Estado<br />

é a previsão expressa dos critérios objetivos de avaliação de desempenho a<br />

serem utilizados, mediante indicadores de resultado.<br />

Dessa forma, é necessária a utilização de instrumentos de medição de desempenho<br />

que possibilitem aumentar a concentração na missão e geração de valor/impacto social,<br />

a responsabilidade por resultados, a prestação de contas aos seus financiadores e<br />

o alinhamento dos recursos humanos e financeiros em relação aos objetivos globais.<br />

Uma das ferramentas existentes para avaliação de desempenho e resultados<br />

é o Balanced Scorecard (BSC) desenvolvido por Robert Kaplan e David Norton. Ela<br />

permite a mensuração do desempenho organizacional, traduzindo a missão em<br />

objetivos estratégicos e indicadores de acompanhamento.<br />

Segundo os autores, mesmo tendo sido o setor privado o foco inicial do desenvolvimento<br />

do BSC, esse instrumento pode ser utilizado em instituições integrantes<br />

do Terceiro Setor (KAPLAN; NORTON, 1997). Apesar de não ter como razão<br />

essencial de existir os objetivos financeiros, o BSC das organizações do Terceiro<br />

Setor tem na sua missão o principal objetivo de esforço de medição (NIVEN, 2005).<br />

Nesse sentido, este artigo visa demonstrar a viabilidade e importância do uso<br />

do Balanced Scorecard como ferramenta de mensuração do desempenho a ser utilizada<br />

pelos executivos e gestores do Terceiro Setor.<br />

1 O terceiro setor<br />

O termo Terceiro Setor foi utilizado pela primeira vez nos Estados Unidos na década<br />

de 1970 e pelos europeus na década de 1980, sendo que:<br />

66<br />

[...] expressa uma alternativa para as desvantagens tanto do mercado, associadas à maximização<br />

do lucro, quanto do governo, com sua burocracia inoperante. Combina a flexibilidade e<br />

a eficiência do mercado com a equidade e a previsibilidade da burocracia pública (COELHO,<br />

2000, p. 58).<br />

As organizações do TS não fazem parte do Estado, porém se dedicam a causas e<br />

problemas que estão afetas a políticas públicas e apesar de serem sociedades civis pri-<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


vadas, não tem como objetivo o lucro destinado a remunerar o capital investido e sim o<br />

atendimento das necessidades da sociedade (TENORIO, 2000).<br />

Uma tentativa de definição do setor é apresentada por Salamon e Anheier<br />

(1997), que avaliam cinco características estruturais-operacionais das organizações<br />

desse setor, quais sejam:<br />

a) Formais/Estruturadas: possuem certo nível de formalização de regras e procedimentos,<br />

ou algum grau de organização permanente. São, portanto, excluídas<br />

as organizações sociais que não apresentem uma estrutura interna formal;<br />

b) Privadas: não têm nenhuma relação institucional com governos, embora<br />

possam dele receber recursos;<br />

c) Não distribuidoras de lucros: nenhum lucro gerado pode ser distribuído<br />

entre seus proprietários ou dirigentes. Quando existente, os lucros devem<br />

ser investidos na missão da instituição;<br />

d) Autônomas: possuem os meios para controlar sua própria gestão e independência<br />

para tomada de decisão;<br />

e) Voluntárias: envolvem a participação voluntária (trabalho não remunerado).<br />

A participação de voluntários pode variar entre organizações e de<br />

acordo com a natureza da atividade por ela desenvolvida.<br />

Rodrigues (1998) também procura definir o setor, porém através da sua finalidade,<br />

dividindo-o em dois grupos:<br />

1. Organizações constituídas para atender os interesses de seus membros: sindicatos,<br />

associações profissionais, associações de bairro, associações empresarias;<br />

2. Organizações de interesse público e/ou coletivo: instituições de caridade,<br />

organismos de proteção ao meio-ambiente, entidades que apoiam portadores<br />

de determinadas doenças ou deficiência física etc.<br />

Fernandes define o Terceiro Setor, como sendo<br />

[...] composto de organizações sem fins lucrativos, criadas e mantidas pela ênfase na participação<br />

voluntária, num âmbito não-governamental, dando continuidade às práticas<br />

tradicionais da caridade, da filantropia e do mecenato e expandindo o seu sentido para<br />

outros domínios, graças, sobretudo, à incorporação do conceito de cidadania e de suas<br />

múltiplas manifestações na sociedade civil (FERNANDES, 1997, p. 27).<br />

O Balanced Scorecard como instrumento da gestão do desempenho nas organizações do terceiro setor , Igor V. Cabral, p. 65-88<br />

67


68<br />

Para Cabral (2008), a designação<br />

[...] Terceiro Setor engloba um conjunto de organizações privadas, baseadas no trabalho associativo<br />

e voluntário, cuja orientação é determinada por valores expressos em uma missão e<br />

com atuação voltada ao atendimento de necessidades ou reivindicações sociais. Estas organizações<br />

relacionam-se com o Estado através de uma regulamentação própria, pois respondem<br />

por iniciativas privadas em áreas nas quais o Estado atua através de políticas públicas (CABRAL,<br />

2008, p. 1).<br />

São então organizações cujo lucro obtido é aplicado em suas próprias atividades, não<br />

sendo, portanto, destinado à apropriação privada de proprietários e acionistas, agindo<br />

sob uma lógica diferente da do capital, investindo não pelo retorno financeiro, mas pela<br />

transformação da realidade social alvo de sua ação (benefício social). Da mesma forma,<br />

não estão no governo e não se confundem com o poder do Estado mesmo que atuando<br />

em espaço público e produzindo bens públicos, uma vez que são constituídas por iniciativa<br />

própria da sociedade e com missão voltada a ações com fins públicos.<br />

1.1 Surgimento do Terceiro Setor<br />

É após a Segunda Guerra Mundial, principalmente nos países europeus que se firma<br />

a ideia da responsabilidade do Estado na garantia de acesso ao direito universal da proteção<br />

social para os cidadãos (CABRAL, 2003). O período de 1950 até a metade dos anos<br />

1970 é marcado pelos investimentos em programas sociais que garantissem retorno<br />

social e manutenção do bem-estar social. O Estado de Bem Estar Social (Welfare State)<br />

assume o provimento da proteção social, exercendo papel regulador na economia e na<br />

sociedade, provendo saúde, educação, segurança, assistência e seguridade social a todos,<br />

através de forte aparato burocrático centralizado.<br />

Em meados da década de 1970, contudo, esse Estado intervencionista e centralizado<br />

começou a dar sinais de esgotamento devido à crise do petróleo nos anos 1970<br />

e a recessão dos anos 1980, requerendo do Estado redução de gastos. Surge o ideal<br />

neoliberal criticando o Estado do Bem Estar Social, questionando a intervenção pública<br />

na economia e pregando o livre mercado como condição ideal para uma economia<br />

competitiva e saudável.<br />

A crise do modelo de Welfare State pode ser destacada como uma das razões<br />

que proporcionaram o crescimento das Organizações do Terceiro Setor, já que abria<br />

espaços para movimentos e associações da sociedade civil no sentido de atender às<br />

necessidades sociais.<br />

Um dos motivos para que o crescimento do Terceiro Setor ocorra se deve à falência do<br />

Estado de Bem-Estar Social. O Welfare State, que surgiu após a II Guerra Mundial na Europa<br />

Ocidental com a finalidade de garantir condições de vida dignas a todos os seus cidadãos,<br />

sucumbiu nos anos 80 após uma crise que o impossibilitou de sustentar a sua ação social<br />

(COSTA JÚNIOR, 1998).<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


1.2 O Terceiro Setor no Brasil<br />

As organizações que compõem o Terceiro Setor não são novas. Do período colonial<br />

até 1930 a presença do poder público na área social era pontual e restringia-se a atendimentos<br />

emergenciais às camadas mais carentes da população. Pode-se mencionar<br />

as Santas Casas de Misericórdia portuguesas como as primeiras formas de intervenção<br />

social (filantropia e caridade).<br />

Na década de 1930 foi promulgada a lei que declarou de utilidade pública as entidades<br />

sociais (1935) e a criação do Conselho Nacional de Serviço Social (1938), que tornou<br />

as instituições sociais aptas a receberem subsídios governamentais.<br />

Mais recentemente as organizações do Terceiro setor resultantes dos movimentos<br />

sociais que emergiram contra o regime autoritário da ditadura militar entre os anos<br />

1960 e 1980 e que tinham na terminologia – não governamental clara postura de oposição<br />

ao governo vigente, nos anos 1990 tornam-se parceiras do poder político para<br />

que o Estado, através de políticas neoliberais, exerça presença mínima (Estado mínimo)<br />

passando ao papel de regulamentador. Gohn (1997) afirma que<br />

Duas outras tendências se fortaleceram no cenário social brasileiro nos anos 90 [...]: o crescimento<br />

das ONGs e as políticas de parcerias implementadas pelo poder público [...]. Trata-se<br />

de novas orientações voltadas para a desregulamentação do papel do Estado na economia,<br />

e na sociedade como um todo, transferindo responsabilidades do Estado para as comunidades<br />

organizadas, com a intermediação das ONGs, em trabalhos de parceria entre o público<br />

estatal e o público não-estatal [...] (GOHN, 1997, p. 309-310).<br />

Neste cenário é que as organizações sem fins lucrativos ganham espaço na cena<br />

política, constituindo uma alternativa de eficácia à gestão das políticas sociais. As organizações<br />

da sociedade civil passam a assumir, em parceria com o Estado, ações sociais<br />

que possibilitam oferecer à população melhores condições de vida.<br />

Segundo Rodrigues (1999), são as seguintes as principais categorias do Terceiro Setor<br />

no Brasil:<br />

1. Associações: baseadas em contratos estabelecidos livremente entre os indivíduos<br />

para exercerem atividades comuns ou defenderem interesses mútuos.<br />

Voltadas principalmente às necessidades dos próprios participantes, compreendendo<br />

atividades recreativas, esportivas, culturais, artísticas, comunitárias e<br />

profissionais;<br />

2. Organizações filantrópicas, beneficentes e de caridade: voltadas para a promoção<br />

de assistência social e de serviços sociais nas áreas de saúde e educação;<br />

3. Organizações não governamentais (ONGs): comprometida com a sociedade<br />

civil, com movimentos sociais e com a transformação social. Orientam-se para<br />

objetivos externos, não exercendo caridade;<br />

O Balanced Scorecard como instrumento da gestão do desempenho nas organizações do terceiro setor , Igor V. Cabral, p. 65-88<br />

69


70<br />

4. Fundações privadas: de conotação essencialmente jurídica. A criação de uma<br />

fundação se dá, segundo o Código Civil, pelo instituidor, que, através de uma escritura<br />

ou testamento, destina bens livres, especificando o fim a ser alcançado;<br />

5. Organizações sociais (OS): organização pública não estatal destinada a absorver<br />

atividades nas áreas de educação, saúde, cultura, meio ambiente e pesquisa<br />

científica, constituída pelas associações civis sem fins lucrativos orientadas para<br />

o atendimento do interesse público.<br />

Segundo levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística<br />

(IBGE) sobre as Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos (FASFIL), 338 mil<br />

Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos existiam oficialmente no Brasil,<br />

em 2005, representando 5,6% do total de 6 milhões de entidades públicas e privadas,<br />

lucrativas e não-lucrativas, que compunham o Cadastro Central de Empresas – CEMPRE<br />

daquele mesmo ano. Essas organizações sem fins lucrativos empregavam nesse período<br />

1,7 milhão de pessoas, ou seja, 5,3% dos trabalhadores brasileiros (IBGE, 2005).<br />

A pesquisa também identificou que a idade média das FASFIL, em 2005, era de 12,3<br />

anos, sendo que 41,5% delas foram criadas na década de 1990, devido ao fortalecimento<br />

da democracia e da participação da sociedade civil na vida nacional. Observa-se pela<br />

Tabela 1 que apesar do crescimento até o ano 2000, os dados de 2001 a 2005 podem sinalizar<br />

uma desaceleração no crescimento das organizações sem fins lucrativos no país.<br />

Tabela 1 - Distribuição das Fundações Privadas e Associações<br />

sem Fins Lucrativos segundo faixas de ano de fundação<br />

Ano de Fundação Quantidade %<br />

Até 1970 10.939 3,2%<br />

De 1971 a 1980 33.408 9,9%<br />

De 1981 a 1990 64.388 19,1%<br />

De 1991 a 2000 140.261 41,5%<br />

De 2001 a 2002 38.007 11,2%<br />

De 2003 a 2004 35.840 10,6%<br />

2005 15.319 4,5%<br />

Total 338.162 100%<br />

Fonte: IBGE (2005)<br />

1.3 Gestão do desempenho no Terceiro Setor<br />

Segundo Drücker (1989), as organizações sem fins lucrativos consideravam a<br />

gestão como algo não pertinente ao seu negócio. As mudanças no cenário econômico<br />

e mundial levaram essas organizações a considerar que as boas intenções<br />

não são substitutas para organização, liderança, responsabilidade, desempenho e<br />

resultado, resultantes da gestão e que tem início com o desenvolvimento da missão<br />

da organização. Drücker (1994) afirmou que<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


As instituições sem fins lucrativos existem por causa da sua missão (DRÜCKER, 1994, p. 33).<br />

Seu produto é um ser humano mudado. As instituições sem fins lucrativos são agentes de<br />

mudança humana. [...] isto é, toda uma vida transformada (DRÜCKER, 1994, p. XIX).<br />

Para o Terceiro Setor, a necessidade de explicitar a missão da organização é uma prioridade<br />

indispensável, uma vez que cabe à organização esclarecer para os financiadores<br />

e outros participantes o que está sendo feito com os recursos por eles disponibilizados.<br />

O crescimento do setor, a concorrência com demais organizações para obtenção de<br />

recursos, recrutar voluntários e contratar pessoal para gerir de forma competente a organização,<br />

as parcerias com os demais setores e a consequente maior exposição pública<br />

corroboram para a necessidade de uma gestão mais profissional, utilizando técnicas<br />

de planejamento estratégico, de gestão de recursos humanos, de controle de gestão,<br />

de planejamento e gestão de projetos.<br />

Para Cabral (2003), o controle de gestão não deve ser exclusivamente competência<br />

da gerência, mas responsabilidade de toda a organização, realizada de forma permanente,<br />

observando-se a cultura organizacional, sendo um instrumento de aperfeiçoamento<br />

dos resultados da instituição.<br />

Para Fischer et al. (2003) há uma dificuldade por parte das Organizações do Terceiro<br />

Setor (OTS) em estabelecer indicadores para mensuração dos processos, resultados e<br />

impactos dos seus projetos sociais. Dificuldade essa intensificada pela falta de experiência<br />

dessas instituições em trabalhar com indicadores e pela inexistência de ferramentas<br />

adequadas para um tipo de gestão que difere daquela praticada pelo mercado.<br />

2 Balanced Scorecard<br />

O controle de gestão é ferramenta essencial para o desenvolvimento de qualquer<br />

organização, permitindo a análise contínua dos resultados esperados, possibilitando<br />

aos gestores conhecer a realidade da instituição.<br />

Para Gomes e Salas (1997) a estruturação do controle de gestão reside na arquitetura<br />

do sistema de informações e na determinação de indicadores de desempenho.<br />

O processo consiste na definição de objetivos e no planejamento para cada área ou<br />

unidade, na execução desse plano e na avaliação e análise dos resultados. Os objetivos<br />

devem estar ligados a indicadores que permitam a medição. Fernandes e Berton (2005,<br />

p. 181) afirmam que<br />

[...] o desenvolvimento de um sistema de medição, de forma consistente com os objetivos<br />

estratégicos, deverá contribuir de maneira decisiva para a efetiva implementação e consolidação<br />

de estratégias de melhoria do desempenho organizacional, impulsionando as necessárias<br />

mudanças, inclusive promovendo uma mudança crítica da cultura organizacional,<br />

quando for o caso.<br />

O Balanced Scorecard como instrumento da gestão do desempenho nas organizações do terceiro setor , Igor V. Cabral, p. 65-88<br />

71


Uma das ferramentas de gestão existentes é o Balanced Scorecard. O seu desenvolvimento<br />

remonta a 1990 quando o Instituto Nolan Norton patrocinou um estudo entre<br />

diversas empresas privadas com o objetivo de desenvolver um novo modelo de medição<br />

de desempenho. Liderado por David Norton e tendo como consultor acadêmico<br />

Robert Kaplan, os participantes do estudo acreditavam que depender de medidas de<br />

desempenho baseadas em indicadores contábeis e financeiros estava prejudicando a<br />

capacidade dessas organizações de criar valor econômico para o futuro.<br />

Para Kaplan e Norton (1997), as medidas financeiras, adequadas para empresas privadas<br />

da era industrial, contam a história de acontecimentos passados, tornando-se<br />

inadequadas para orientar organizações da era da informação, que buscam gerar valor<br />

futuro investindo em clientes, fornecedores, funcionários, processos, tecnologia e<br />

inovação. As discussões levaram ao BSC organizado em quatro perspectivas distintas:<br />

financeira, do cliente, interna e de inovação e aprendizado.<br />

Para esses autores o Balanced Scorecard traduz a missão e a estratégia das empresas<br />

num conjunto abrangente de medidas de desempenho que serve de base para um<br />

sistema de medição e gestão estratégica.<br />

O BSC esclarece e traduz a missão e a estratégia; comunica e associa objetivos e medidas<br />

estratégicas; permite planejar, estabelecer metas e alinhar iniciativas estratégicas;<br />

melhora o feedback e o aprendizado estratégico, conforme Figura 1.<br />

Kaplan e Norton (2000) observam cinco princípios comuns nas organizações bem-<br />

-sucedidas com a utilização do BSC na consecução do foco e do alinhamento estratégico:<br />

Princípio 1 - Traduzir a estratégia em termos operacionais: a estratégia não pode<br />

ser executada se sua compreensão não for possível, e não pode ser compreendida se<br />

não for possível descrevê-la. É importante que cada colaborador da organização compreenda<br />

as consequências das suas decisões e ações na formação dos indicadores. A<br />

descrição da estratégia através do mapa estratégico, indicadores balanceados, metas<br />

e iniciativas, fornecem um referencial para comunicar a estratégia de forma coerente,<br />

criando um ponto de referência comum e compreensível para todas as unidades do<br />

negócio e empregados. Os mapas de estratégia e os Balanced Scorecard constituem a<br />

tecnologia de mensuração utilizada pela gerência na economia baseada no conhecimento.<br />

(KAPLAN; NORTON, 2004, p. 21).<br />

Princípio 2 – Alinhar a organização com a estratégia: as organizações são compostas<br />

de vários setores, unidades de negócios e departamentos e cada um deles possuem<br />

sua estratégia particular. As instituições focadas na estratégia utilizam o BSC para extinguir<br />

esta dificuldade de integração, substituindo as estruturas formais de informação<br />

por assuntos e prioridades estratégicas, criando a sinergia necessária para a geração de<br />

valor aos stakeholders.<br />

Princípio 3 – Transformar a estratégia em tarefa de todos: qualquer organização<br />

precisa que todos os funcionários se envolvam com a estratégia e administrem suas<br />

72<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


tarefas diárias de modo a contribuir para o seu êxito. As instituições bem sucedidas com<br />

o BSC utilizaram a ferramenta para comunicar, capacitar e esclarecer os objetivos e vincularam<br />

sistemas de incentivos e recompensas relacionando o desempenho pessoal e<br />

da equipe com a organização.<br />

Princípio 4 – Transformar a estratégia num processo contínuo: para administrar a<br />

estratégia, o BSC integra a gestão tática (orçamentos financeiros e revisões mensais) e a<br />

gestão estratégica em um processo uniforme e sucessivo. Através de reuniões de gestão<br />

e análise de resultados é possível avaliar a estratégia e adaptá-la, caso seja necessário,<br />

resguardando as iniciativas de longo prazo da pressão por um bom desempenho<br />

financeiro no curto prazo.<br />

Princípio 5 – Mobilizar a mudança através da liderança executiva: qualquer processo<br />

de implementação de estratégia exige mudanças significativas dentro da organização,<br />

e para isso, é necessário trabalho em equipe e este trabalho deve ser iniciado<br />

pelos líderes, que integram suas atividades cotidianas para definir e fortalecer os novos<br />

valores culturais da organização e exigir o rompimento da estrutura tradicional.<br />

Figura 1 - O Balanced Scorecard como estrutura para ação estratégica<br />

Comunicando e<br />

estabelecendo vinculações<br />

• Comunicando e educando<br />

• Estabelecendo metas<br />

• Vinculando recompensas a<br />

medidas de desempenho<br />

Fonte: Kaplan e Norton (2000, p. 12).<br />

Esclarecendo e traduzindo a<br />

missão e estratégia<br />

• Esclarecendo a visão<br />

• Estabelecendo o consenso<br />

Balanced<br />

Scorecard<br />

Planejamento e<br />

estabelecimento de metas<br />

• Estabelecendo metas<br />

• Alinhando iniciativas<br />

• Alocando recursos<br />

• Estabelecendo marcos de<br />

referência<br />

Feedback e aprendizado<br />

estratégico<br />

• Articulando a visão<br />

compartilhada<br />

• Fornecendo feedback<br />

estratégico<br />

• Facilitando a revisão e o<br />

aprendizado estratégico<br />

O Balanced Scorecard como instrumento da gestão do desempenho nas organizações do terceiro setor , Igor V. Cabral, p. 65-88<br />

73


A partir da visão, missão e estratégia da organização, estabelece-se uma relação entre<br />

os objetivos estratégicos, seus indicadores (medidas), suas metas e suas iniciativas.<br />

O desenvolvimento das quatro perspectivas: financeira, do cliente, dos processos internos<br />

e perspectiva do aprendizado e crescimento, deve refletir e operacionalizar a<br />

missão e a estratégia da organização ou unidade de negócio em objetivos e medidas<br />

tangíveis em longo prazo.<br />

O Balanced Scorecard gera uma série de indicadores que servem como parâmetros<br />

para ações corretivas e preventivas. Mostra as estratégias assertivas e onde se encontram<br />

seus principais gargalos.<br />

A Figura 2 mostra a estrutura necessária para a tradução da estratégia em termos<br />

operacionais.<br />

CLIENTES<br />

"Para alcançar nossa visão, como<br />

como deveríamos ser vistos pelos nossos clientes?"<br />

Objetivos Medidas Metas Iniciativas<br />

74<br />

Figura 2 - O BSC fornece a estrutura necessária para<br />

a tradução da estratégia em termos operacionais<br />

Fonte: Adaptado de Kaplan e Norton (1997, p. 12).<br />

2.1 Perspectiva financeira<br />

FINANCEIRA<br />

"Para sermos nanceiramente bem sucedidos,<br />

como deveremos ser vistos pelos nossos acionistas?"<br />

Objetivos Medidas Metas Iniciativas<br />

Missão,<br />

Visão e<br />

Estratégia<br />

APRENDIZAGEM E CRESCIMENTO<br />

"Para alcançar nossa visão, como deveremos<br />

sustentar nossa capacidade de mudar e melhorar?"<br />

Objetivos Medidas Metas Iniciativas<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011<br />

PROCESSOS INTERNOS<br />

"Para satisfazer nossos acionistas e clientes,<br />

que processos são necessários?"<br />

Objetivos Medidas Metas Iniciativas<br />

Os principais indicadores e metas estabelecidos nessa perspectiva dizem respeito<br />

ao crescimento e mix de receita, à redução de custos e melhoria de produtividade, à<br />

utilização dos ativos e estratégia de investimento. Os objetivos financeiros servem de<br />

foco para os objetivos e medidas das outras perspectivas, em uma cadeia de relação de<br />

causa e efeito que culminam com a melhoria do desempenho financeiro.<br />

Kaplan e Norton (1997) sugerem que seja utilizada a pergunta a seguir para<br />

nortear o processo de montagem da perspectiva financeira: ”para sermos bem sucedidos<br />

financeiramente, como deveríamos ser vistos pelos nossos acionistas“?


Medidas genéricas para essa perspectiva são o retorno sobre o investimento e o<br />

valor econômico agregado.<br />

2.2 Perspectiva do cliente<br />

Para nortear o processo de montagem da perspectiva do cliente, Kaplan e Norton<br />

(1997) sugerem a utilização da seguinte pergunta: ”para alcançarmos nossa visão, como<br />

deveríamos ser vistos pelos nossos clientes“?<br />

Os indicadores (medidas de resultados) dessa perspectiva representam metas para<br />

as operações, logística, marketing e desenvolvimento de produtos e serviços das organizações.<br />

Para Kaplan e Norton (1997), os indicadores essenciais de resultados dessa<br />

perspectiva são:<br />

• Participação de mercado: proporção de negócios em um determinado<br />

mercado;<br />

• Captação de clientes: intensidade com que novos clientes ou negócios<br />

são conquistados;<br />

• Retenção de clientes: intensidade com que uma unidade de negócios mantém<br />

relacionamentos contínuos com seus clientes;<br />

• Satisfação dos clientes: nível de satisfação dos clientes de acordo com critérios<br />

específicos de desempenho dentro da proposta de valor;<br />

• Lucratividade dos clientes: lucro líquido de cliente ou segmento, depois de<br />

deduzidas as despesas específicas para sustentar esses clientes.<br />

2.3 Perspectiva dos processos internos<br />

A pergunta sugerida por Kaplan e Norton (1997) para nortear o processo de montagem<br />

da perspectiva dos processos internos é: ”para satisfazermos nossos acionistas e<br />

clientes, em que processo de negócios devemos alcançar a excelência”?<br />

Indicadores genéricos para esse processo são a qualidade, tempo de resposta, custo<br />

e lançamentos de novos produtos.<br />

No processo de inovação pesquisam-se as necessidades dos clientes para criação de<br />

novos produtos e serviços. Esses novos produtos e serviços são criados e oferecidos aos<br />

clientes no processo de operações. O último estágio da cadeia de valor é o serviço ao<br />

cliente após a venda ou entrega do produto ou serviço.<br />

O Balanced Scorecard como instrumento da gestão do desempenho nas organizações do terceiro setor , Igor V. Cabral, p. 65-88<br />

75


2.4 Perspectiva do aprendizado e crescimento<br />

Quanto à perspectiva do aprendizado e crescimento, a pergunta sugerida por Kaplan<br />

e Norton (1997) é: ”para alcançarmos nossa visão, como sustentaremos nossa capacidade<br />

de mudar e melhorar“?<br />

Os objetivos estabelecidos nas demais perspectivas revelam onde a organização<br />

deve se destacar para obter um desempenho excepcional. Os objetivos dessa perspectiva<br />

identificam a infraestrutura que deve ser construída para gerar crescimento e melhoria<br />

no longo prazo, sustentando e criando condições para a realização dos objetivos<br />

das demais perspectivas.<br />

76<br />

Devem ser vistos três eixos nessa perspectiva:<br />

Eixo 1. Capacidades dos funcionários: mudança e inovação estão atreladas ao conhecimento<br />

dos colaboradores que formam uma organização.<br />

O trabalhador do conhecimento, como elemento central para o contínuo processo<br />

de inovação na organização empresarial, é estimulado a participar e agregar com sua<br />

criatividade no processo decisório. Investir, gerenciar e explorar o conhecimento do colaborador<br />

passou a ser fator crítico de sucesso para as organizações (KAPLAN; NORTON,<br />

1997).<br />

As medidas essenciais para os funcionários podem ser resumidas em: satisfação dos<br />

funcionários, retenção de funcionários e produtividade dos funcionários.<br />

Eixo 2. Capacidades dos sistemas de informação: o atual ambiente competitivo<br />

exige que os funcionários tenham informações sobre seus clientes, processos internos<br />

e as consequências financeiras de suas decisões.<br />

Eixo 3. Motivação, empowerment e alinhamento: o clima organizacional deve contribuir<br />

para motivação e iniciativa dos funcionários.<br />

Segundo Herrero Filho (2005, p. 156), ӎ a perspectiva de aprendizado e crescimento<br />

que torna possível a integração dos ativos intangíveis da organização com os ativos<br />

financeiros, que, em conjunto, são as atividades criadoras de valor da empresa“.<br />

2.5 Mapa estratégico e indicadores de desempenho<br />

O mapa estratégico, segundo Kaplan e Norton (2004) representa o elo perdido entre<br />

a formulação e a execução da estratégia. A visualização gráfica das relações de causa e<br />

efeito entre os objetivos estratégicos dispostos ao longo das quatro perspectivas fornece<br />

uma maneira simples, objetiva, uniforme e consistente de descrever a estratégia, facilitando<br />

a definição e o gerenciamento dos objetivos e indicadores, conforme Figura 3.<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


Figura 3 - Mapa estratégico genérico<br />

Estratégia de crescimento<br />

Estratégia de produtividade<br />

Valor a longo prazo<br />

para os acionistas<br />

Perspectiva<br />

Financeira<br />

Aumentar o valor<br />

para os clientes<br />

Expandir a oportunidade<br />

de receitas<br />

Aumentar a utilização<br />

de ativos<br />

Melhorar a estrutura<br />

de custos<br />

Proposição de valor para o cliente<br />

Seleção Funcionalidade Serviços Parceria Marca<br />

Qualidade Disponibilidade<br />

Preços<br />

Perspectiva<br />

do cliente<br />

Processos de gestão operacional Processos de gestão de clientes Processos de inovação Processos regulatórios e sociais<br />

Meio ambiente<br />

Segurança e saúde<br />

Emprego<br />

Comunidade<br />

Identicaçnao de oportunidades<br />

Portfólio de P&D<br />

Projeto/Desenvolvimento<br />

Lançamento<br />

Seleção<br />

Conquista<br />

Retenção<br />

Crescimento<br />

Abastecimento<br />

Produção<br />

Distribuição<br />

Gerenciamento de riscos<br />

Perspectiva<br />

interna<br />

O Balanced Scorecard como instrumento da gestão do desempenho nas organizações do terceiro setor , Igor V. Cabral, p. 65-88<br />

Capital humano<br />

Capital da informação<br />

Perspectiva de<br />

aprendizado<br />

e crescimento<br />

Capital<br />

Cultura Liderança Alinhamento Trabalho em equipe<br />

organizacional<br />

Fonte: Kaplan e Norton (2004, p. 11).<br />

77


2.6 O Balanced Scorecard no Terceiro Setor<br />

Mesmo tendo sido o foco inicial do desenvolvimento do BSC o setor privado, essa<br />

ferramenta pode ser utilizada nas organizações do TS (KAPLAN; NORTON, 1997).<br />

Apesar de não ter como razão de existir os objetivos financeiros, o Balanced<br />

Scorecard das organizações do Terceiro Setor tem na sua missão o principal objetivo<br />

de esforço de medição, seguido pelas perspectivas do cliente, processos internos,<br />

financeiros e crescimento do funcionário (NIVEN, 2005, p. 374).<br />

No Terceiro Setor, ”o desempenho precisa ser planejado e controlado, e isso<br />

começa com a missão, pois ela define os resultados pretendidos“. (CABRAL, 2003,<br />

p. 29). DRÜCKER (1989) esclarece que<br />

78<br />

[...] as organizações sem fins lucrativos não estabelecem sua estratégia no dinheiro,<br />

nem fazem dele o centro dos seus planos [...] _o planejamento [...] começa com o desempenho<br />

da sua missão‘ (DRÜCKER, 1989, p. 89, tradução nossa).<br />

Kaplan (2001) destaca que para uma organização sem fins lucrativos, a missão<br />

representa a prestação de contas para a sociedade – a razão da sua existência. Sem<br />

poder mensurar o sucesso ou fracasso da sua missão, essas organizações não conseguem<br />

avaliar a continuidade, expansão ou mesmo finalização de um programa/<br />

atividade, nem aprender com erros ou acertos, inviabilizando seu autoconhecimento<br />

e comparação com concorrentes.<br />

Dessa forma, a missão de uma organização sem fins lucrativos deve ser destacada<br />

e avaliada no nível mais alto do BSC, uma vez que os indicadores financeiros<br />

não demonstram se a organização está ou não cumprindo sua missão (KAPLAN;<br />

NORTON, 2000). A missão reflete o objetivo de longo prazo da instituição. Logo em<br />

seguida, as organizações podem inserir a perspectiva do doador e a perspectiva<br />

do beneficiário, uma vez que os doadores fornecem recursos financeiros enquanto<br />

outro grupo, os constituintes, recebe o serviço.<br />

Pode-se comparar pela Figura 4, a diferença na criação de valor e consequente<br />

mapa estratégico entre as organizações do setor privado e organizações do setor<br />

público e entidades sem fins lucrativos. Nestas, o critério de sucesso é o desempenho<br />

no cumprimento da missão, atendendo as necessidades dos clientes-alvo<br />

através do desempenho dos processos internos e apoio dos seus ativos intangíveis<br />

(aprendizado e crescimento). A perspectiva fiduciária reflete os objetivos dos<br />

contribuintes ou doadores que fornecem os recursos financeiros.<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


Figura 4 - Mapas estratégicos: o modelo simples de criação de valor<br />

Organizações do setor privado<br />

ESTRATÉGIA<br />

Perspectiva nanceira<br />

"Se formos bem-sucedidos<br />

como seremos percebidos<br />

pelos nossos acionistas?"<br />

Perspectiva do cliente<br />

"Para realizar a visão,<br />

como devemos cuidar<br />

de nossos clientes?"<br />

Perspectiva interna<br />

"Para satisfazer os clientes,<br />

em que processos devemos<br />

ser excelentes?"<br />

Perspectiva de aprendizado<br />

e crescimento<br />

"Para realizar nossa visão,<br />

como a organização deve<br />

aprender e melhorar?"<br />

Fonte: Kaplan e Norton (2004, p. 8).<br />

Perspectiva duciária<br />

"Se formos bem-sucedidos,<br />

como cuidaremos dos<br />

contribuintes<br />

(ou doadores)?"<br />

Organizações do setor público<br />

e entidades sem ns lucrativos<br />

MISSÃO<br />

Perspectiva interna<br />

"Para satisfazer os clientes e<br />

doadores, em que processos<br />

de negócios devemos<br />

ser excelentes?"<br />

Perspectiva de<br />

aprendizado e crescimento<br />

"Para realizar nossa visão,<br />

como a organização deve<br />

aprender e melhorar?"<br />

Perspectiva do cliente<br />

"Para realizar a visão, como<br />

devemos cuidar de<br />

nossos clientes?"<br />

Nas organizações sem fins lucrativos, os doadores fornecem os recursos – eles pagam<br />

pelos serviços – enquanto que outro grupo recebe os serviços. Assim, as organizações<br />

definem objetivos estratégicos para os dois tipos de clientes, o que recebe<br />

o serviço (usuário ou beneficiário) e o que paga por eles (doadores, mantenedores).<br />

(SECAF, 2003, p. 2).<br />

3 Estudo de caso: ESPRO - Ensino Social Profissionalizante<br />

A instituição analisada é o ESPRO – Associação de Ensino Social Profissionalizante,<br />

associação sem fins lucrativos fundada em 1979 por seis Rotary Clubes (São Paulo, Leste,<br />

Liberdade, Cambuci, Aclimação e República).<br />

Tem como missão promover a inclusão social de jovens por meio de ações educativas<br />

e inserção no mercado de trabalho através de duas frentes de atuação:<br />

O Balanced Scorecard como instrumento da gestão do desempenho nas organizações do terceiro setor , Igor V. Cabral, p. 65-88<br />

79


80<br />

• Capacitação Básica para o Trabalho: principal ação de inclusão social, oferece<br />

preparação técnica através de cursos gratuitos, visando a formação<br />

de jovens oriundos de famílias que recebam até três salários mínimos. Tem<br />

como objetivo capacitar jovens para participação nos processos seletivos<br />

em organizações na condição de aprendiz;<br />

• Programas de Aprendizagem: com base na Lei 10.097/00, Decreto Lei n°<br />

5598/2005 e Portaria 1.003/2008, o ESPRO estabelece parcerias com organizações<br />

(empresas parceiras) a fim de formar jovens com idades entre 14 e 24<br />

anos, matriculados ou concluintes em unidades da rede pública de ensino e<br />

de família cuja renda não ultrapasse a marca de três salários mínimos mensais.<br />

Capacita anualmente em torno de 12.000 jovens e conta hoje com cerca de 500 empresas<br />

parceiras em todo o Brasil. A sustentabilidade da instituição provem das parcerias<br />

em diversas regiões do país com organizações privadas e estatais através dos Contratos<br />

de Aprendizagem para capacitação de jovens nos Programas de Aprendizagem.<br />

Além da sua sede na cidade de São Paulo, possui filiais nas cidades do Rio de Janeiro,<br />

Belo Horizonte, Curitiba, Recife, Campo Grande, Brasília, Campinas e 56 pólos<br />

regionais que atendem cidades que estão no raio de 100 quilômetros de sua localização.<br />

Sua capilaridade atual garante atendimento em mais de 900 municípios.<br />

É entidade certificada pela ISO 9001:2008 (escopo Gestão do Vínculo Empregatício<br />

dos Aprendizes que atuam na cidade de São Paulo) e NGO Benchmarking que<br />

atesta as melhores práticas em governança e padrões internacionais de gestão no<br />

Terceiro Setor.<br />

Desde sua fundação em 1979 mais de 69.000 jovens foram atendidos nas regiões<br />

onde atua.<br />

3.1 Missão, visão e valores<br />

Em 2008, o ESPRO começou a descrever sua missão, visão e valores. Apesar de<br />

vivenciados no seu dia a dia, a descrição e alinhamento entre Conselho Diretivo e<br />

colaboradores foi o marco inicial para o delineamento da sua política da qualidade<br />

e desenvolvimento do Balanced Scorecard.<br />

• Missão: Promover a inclusão social de jovens por meio de ações educativas<br />

e inserção no mercado de trabalho.<br />

• Visão: Ser uma instituição do Terceiro Setor reconhecida pela liderança, excelência,<br />

inovação e impacto social através de ações educativas.<br />

• Valores: ética, excelência, transparência e responsabilidade social.<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


3.2 O Balanced Scorecard do ESPRO<br />

Em 2009, com o apoio de uma consultoria especializada, o ESPRO envolveu<br />

seus gestores para iniciar o desenho do mapa estratégico da organização e desenvolvimento<br />

do BSC.<br />

A primeira etapa foi a análise SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats),<br />

ou seja, análise das Forças, Fraquezas, Oportunidades, Ameaças, envolvendo<br />

os colaboradores da instituição, avaliando o ambiente externo quanto as ameaças<br />

e oportunidades, e criando consciência das forças e fraquezas (ambiente interno)<br />

da organização. A partir desse mapeamento, as perguntas que nortearam as definições<br />

dos desempenhos a serem mensurados foram:<br />

• Perspectiva dos clientes: para alcançar nossa visão, como devemos ser vistos<br />

por nossos clientes?<br />

• Perspectiva do aprendizado e crescimento: como podemos melhorar ou<br />

criar valor?<br />

• Perspectivas dos processos internos: em que temos que ser excelentes?<br />

• Perspectiva financeira: quais ações serão adotadas para manutenção da<br />

sustentabilidade?<br />

Para a definição das perspectivas do BSC do ESPRO, foram levadas em consideração<br />

as especificidades do TS. A perspectiva financeira deixa de ser utilizada<br />

como referencial para as demais perspectivas (como ocorreria em uma organização<br />

com lucro destinado á apropriação privada) estando a perspectiva do cliente<br />

no patamar.<br />

Dessa forma, os recursos financeiros obtidos através dos contratos de parcerias<br />

com as organizações privadas e estatais são utilizados para manutenção da Capacitação<br />

Básica para o Trabalho, dos Programas de Aprendizagem e operacionalização<br />

da missão através do seu quadro de colaboradores, processos e infraestrutura.<br />

O Mapa Estratégico 2009-2010 (Figura 5) possibilita uma melhor visualização<br />

dos objetivos estratégicos e das relações de causa e efeito existentes entre os objetivos<br />

das diferentes perspectivas, estando a missão da instituição dentro da perspectiva<br />

dos clientes, inter-relacionada com demais perspectivas. A disposição das<br />

perspectivas foi alinhada de forma que na base estivesse a perspectiva financeira<br />

e no topo a do cliente (jovem e empresa parceira).<br />

O Balanced Scorecard como instrumento da gestão do desempenho nas organizações do terceiro setor , Igor V. Cabral, p. 65-88<br />

81


Figura 5 - Mapa estratégico ESPRO (2009-2010)<br />

82<br />

A descrição dos objetivos de uma cada das quatro perspectivas do BSC:<br />

Perspectiva Financeira:<br />

• Reduzir custos da operação;<br />

• Aumentar faturamento global (aumentar faturamento de novas empresas parceiras<br />

e aumentar faturamento total em empresas parceiras).<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011<br />

Fonte: ESPRO (2010).


Perspectiva do Aprendizado e Crescimento:<br />

• Desenvolver projetos de Ensino a Distância (EAD), Gestão da Marca e Impacto<br />

Social;<br />

• Fixar o DNA do ESPRO entre colaboradores, rede e parceiros;<br />

• Desenvolver projetos educacionais;<br />

• Capacitar colaboradores em gestão;<br />

• Capacitar colaboradores em processos;<br />

• Capacitar colaboradores em educação.<br />

Perspectiva dos Processos Internos:<br />

• Identificar novas demandas/necessidades do mercado;<br />

• Potencializar e/ou adequar produtos existentes;<br />

• Criar novos produtos customizados às demandas;<br />

• Processos operacionais críticos;<br />

• Avaliar desempenho dos aprendizes, empresas parceiras e rede.<br />

Perspectiva dos Clientes:<br />

• Aumentar satisfação das empresas parceiras;<br />

• Proporcionar crescimento profissional/educacional dos jovens/aprendizes;<br />

• Aumentar satisfação dos parceiros da rede;<br />

• Gerar impacto social através de ações educativas e inserção de jovens no mercado.<br />

A partir da definição do mapa estratégico, para cada uma das perspectivas, foi elaborado<br />

um painel do BSC, constando os objetivos de cada tema estratégico, indicadores<br />

de acompanhamento dos objetivos, a situação atual (métrica) desse indicador<br />

(quando existente), a meta a ser obtida dentro do prazo determinado e as iniciativas<br />

(plano de ação) necessários para alcançar o objetivo definido.<br />

Tendo como base o ano de 2009 como aprendizagem, ao final daquele ano a organização<br />

desenvolveu novo mapa estratégico, Figura 6, agora colocando no topo sua<br />

visão e missão e logo abaixo as perspectivas do BSC.<br />

O mapa estratégico do ESPRO comunica sua visão e missão e articula os objetivos e<br />

medidas (indicadores) em relação aos quais seu desempenho deve ser medido.<br />

3.3 Indicadores de desempenho<br />

Os indicadores foram criados tendo como base os objetivos estabelecidos no planejamento<br />

estratégico da instituição elaborado em 2009. Ao todo foram estabelecidos<br />

300 indicadores:<br />

• Perspectiva Financeira: 30 indicadores<br />

• Perspectiva do Aprendizado e Crescimento: 31 indicadores<br />

• Perspectiva dos Processos Internos: 97 indicadores<br />

• Perspectiva dos Clientes: 109 indicadores<br />

O Balanced Scorecard como instrumento da gestão do desempenho nas organizações do terceiro setor , Igor V. Cabral, p. 65-88<br />

83


Em maio de 2010 a instituição passou a realizar acompanhamento mensal dos indicadores<br />

através de reuniões coletivas. Ao invés de encontros individuais que a gerência<br />

fazia com as áreas, a conferência do desempenho passou a ser realizada por processos,<br />

alinhando ações necessárias com todos envolvidos pelo desempenho do indicador.<br />

Dentre os indicadores estabelecidos para o objetivo estratégico ”propiciar crescimento<br />

profissional e educacional aos jovens“ e para sua missão, destacam-se:<br />

número de jovens formados na Capacitação Básica, aproveitamento das prospecções<br />

feitas pela capacitação x contratações, número de jovens capacitados em<br />

cursos de aprimoramento profissional, índice de evasão na Capacitação Básica<br />

para o Trabalho, índice de assiduidade na aprendizagem teórica, aproveitamento<br />

dos jovens vindos da capacitação básica nas contratações nas empresas parceiras,<br />

índice de evasão do programa de aprendizagem.<br />

clientes<br />

processos<br />

aprendizado<br />

nanceira<br />

Fonte: ESPRO (2010).<br />

84<br />

Figura 6 - Mapa estratégico ESPRO (2010-2011)<br />

aumentar a<br />

satisfação das<br />

empresas<br />

parceiras<br />

identicar novas<br />

demandas e<br />

criar produtos<br />

customizados<br />

promover advocacy<br />

promover superavit<br />

desenhar,<br />

implementar<br />

e melhorar<br />

processos<br />

críticos<br />

desenvolver<br />

diversicação<br />

(proj. de<br />

impacto social)<br />

VISÃO<br />

MISSÃO<br />

aumentar o<br />

faturamento<br />

conquistando novas<br />

empresas parceiras<br />

proporcionar<br />

crescimento<br />

educacional e<br />

prossional<br />

aos jovens<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011<br />

implementar<br />

sistemas de<br />

informação que<br />

atendam os<br />

processos críticos<br />

desenvolver gestão<br />

da marca<br />

aumentar o<br />

faturamento<br />

global<br />

manter a<br />

satisfação dos<br />

jovens<br />

mensurar o<br />

desempenho<br />

dos jovens<br />

educar<br />

colaboradores:<br />

gestão de pessoas,<br />

processos<br />

e sistemas<br />

aumentar o<br />

faturamento<br />

total nas empresas<br />

parceiras


3.4 Análise dos dados<br />

A utilização do BSC no ESPRO auxiliou na solidificação, comunicação e esclarecimento<br />

da missão e visão da instituição, mais que isso, “possibilitou a união das<br />

ações de suas várias unidades em prol da sua missão”.<br />

A ferramenta permitiu integrar as ações da instituição, ligando a estratégia e a<br />

ação para cumprimento da sua missão. Além disso, propiciou mecanismo de mensuração<br />

de desempenho que desencadeia medidas de ajuste ou de mudança de<br />

curso de ação.<br />

Pode-se verificar no mapa estratégico da organização a relação de causa efeito<br />

entre as perspectivas e impacto em cadeia até a consecução da missão. Na base<br />

encontra-se a perspectiva financeira, necessária para manutenção das demais<br />

perspectivas que visam a execução da missão da instituição (no topo do mapa e<br />

que norteia as demais perspectivas). Na perspectiva financeira a intenção é além<br />

Na perspectiva do aprendizado e crescimento necessária nas OTS, a fim de manter<br />

o atendimento atual assim como ampliá-lo.<br />

Na perspectiva do aprendizado e crescimento, a capacitação dos colaboradores<br />

ganha destaque, tornando-se primordial para impactar de forma positiva e<br />

inovadora as demais perspectivas: processos internos e clientes. Os objetivos da<br />

perspectiva de aprendizado e crescimento oferecem a infraestrutura que possibilita<br />

a realização de objetivos ambicionados nas perspectivas a seguir.<br />

Os objetivos estabelecidos nas perspectivas processos internos e clientes revelam<br />

onde a organização deve se destacar para obter um desempenho excepcional.<br />

Dessa forma, o mapa estratégico do ESPRO vai ao encontro com Kaplan e Norton<br />

(2000) que destacam que a missão de uma organização sem fins lucrativos<br />

deve ser avaliada no nível mais alto do BSC. Também possui convergência com os<br />

autores Kaplan e Norton (2000), ao ter logo em seguida a perspectiva dos clientes<br />

(doador e beneficiário), uma vez que as empresas parceiras fornecem recursos financeiros<br />

enquanto os jovens recebem o serviço.<br />

Os resultados observados em relatório gerencial de indicadores do ESPRO<br />

(RG.01.21.02 – Monitoramento de Indicadores Consolidado) demonstram relação<br />

de causa e efeito entre os objetivos estratégicos, ou seja, o investimento em<br />

aprendizado e crescimento impacta positivamente nos indicadores da perspectiva<br />

processos internos e consequentemente na satisfação das empresas parceiras<br />

e jovens aprendizes.<br />

Nas reuniões coletivas para acompanhamento mensal dos indicadores participam<br />

os gestores da matriz e das filiais do ESPRO, possibilitando assim o alinhamento<br />

das ações em todas as unidades da organização. Cada gestor é responsável<br />

pela multiplicação da reunião e ações a sua equipe.<br />

O Balanced Scorecard como instrumento da gestão do desempenho nas organizações do terceiro setor , Igor V. Cabral, p. 65-88<br />

85


No entanto, ainda não existe um indicador que possibilite medir o resultado social<br />

da missão após o período de aprendizagem na empresa parceira. Os indicadores atuais,<br />

de controle e acompanhamento da realização dos objetivos da organização referem-se<br />

a um controle interno, não identificando os resultados qualitativos para a sociedade.<br />

Esse indicador deve ser elaborado e perseguido pelo ESPRO para mensurar o sucesso<br />

da sua missão.<br />

Considerações Finais<br />

A ferramenta Balanced Scorecard, propicia a gestão do desempenho de forma mais<br />

fácil e precisa, contribuindo para o sucesso da organização. Além de possibilitar a análise<br />

das estratégias e do consequente cumprimento da missão, possibilita a identificação<br />

da relação de causa e efeito entre os objetivos estratégicos.<br />

Apesar das limitações de generalização decorrentes da pesquisa qualitativa exploratória,<br />

depreende-se pelo estudo de caso que a aplicação dessa ferramenta de acompanhamento<br />

de gestão do desempenho traz um benefício real para as instituições do TS,<br />

possibilitando comunicar e traduzir a missão e visão em estratégias a serem implementadas<br />

em cada unidade dessas organizações. Além disso, norteia novos voluntários ou<br />

colaboradores, que através do mapa estratégico identificam os objetivos da instituição<br />

e indicadores pelos quais são responsáveis ou avaliados.<br />

Conclui-se dessa forma que o BSC possibilita o controle e acompanhamento de<br />

resultados das OTS, sendo um desafio para as instituições do TS a definição clara<br />

e mensurável de um ou mais indicadores que avaliem o cumprimento ou não da<br />

sua missão na sociedade.<br />

Para estudos futuros indica-se a análise da correlação dos objetivos estratégicos entre<br />

as diversas perspectivas do BSC nas OTS e seu impacto sobre sua missão.<br />

86<br />

Referências<br />

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privado, sem fins lucrativos, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, institui<br />

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88<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


Utilização de redes sociais na contratação<br />

de profissionais de nível gerencial *<br />

Alexandre Augusto Tayer Gonçalves **<br />

Deisi Domenech ***<br />

Resumo: Este estudo aprofundou o<br />

entendimento do uso das redes sociais<br />

para fins de contratação especialmente<br />

de nível gerencial. Para isto, foram<br />

estudadas as principais redes sociais<br />

do mercado e o processo de contratação<br />

em si. Com base neste estudo inicial<br />

foi então formulada a pesquisa que<br />

em análise revelou detalhes significativos<br />

sobre o uso das redes. Foram realizadas<br />

19 entrevistas com profissionais<br />

de RH, headhunters, advogados trabalhistas<br />

e psicólogos organizacionais. A<br />

importância de entender as redes do<br />

ponto de vista científico é fundamental<br />

para que seu potencial seja alcançado<br />

integralmente.<br />

Palavras-chave: Recrutamento. Redes<br />

Sociais. Seleção. Contratação. Internet.<br />

Abstract: This study focused on the understanding<br />

of the use of social networks<br />

for recruiting purposes, especially at management<br />

level. To accomplish this, an<br />

initial study of the main social networks<br />

available in the market as well as the recruiting<br />

process were the basis for formulating<br />

the research itself. The research<br />

revealed important facts on the use of social<br />

networks. During the process, 19 HR<br />

professionals, headhunters, labor lawyers<br />

and organizational psychologists were interviewed.<br />

It is important to study social<br />

networks from a scientific point of view<br />

in order to understand their full potential<br />

when using them and also to understand<br />

their relation to society.<br />

Keywords: Recruitment. Social Network.<br />

Selection. Hiring. Internet.<br />

* Este artigo tem por base o Trabalho de Conclusão de Curso intitulado “Uso das redes sociais na contratação de<br />

profissionais em nível gerencial” apresentado ao final do 1º. semestre de 2011 na Faculdade de Administração da<br />

Fundação Armando Alvares Penteado sob a orientação do Prof. Dr. Armando Terribili Filho. Autores do TCC: Alexandre<br />

Augusto Tayer Gonçalves; Deisi Domenech; Marcus Fabricius Botelho Fernandes; Rodrigo André Valério;<br />

Silvio Tadeu Agostinho Junior e Stefano Gatti Weigand de Andrade Lima.<br />

** Graduado em Administração de Empresas pela Faculdade de Administração da FAAP e Especialista em Marketing<br />

com Enfoque em Planejamento e Marketing Digital. E-mail: buzi.alex@gmail.com.<br />

*** Graduada em Administração de Empresas pela Faculdade de Administração da FAAP e Empreendedora Social.<br />

E-mail: deisidomenech@gmail.com.<br />

Utilização de redes sociais na contratação de profissionais de nível gerencial, Alexandre A. T. Gonçalves e Deisi Domenech, p. 89-98<br />

89


Introdução<br />

Como afirma Qualman (2010), já não existe para empresas a escolha de participar<br />

ou não das redes sociais, a escolha está no quão bem irão participar. Mesmo<br />

que uma empresa se negue a ser ativa no universo social da Internet, usuários<br />

farão isso por ela, tomarão propriedade de sua marca e o controle deixará de estar<br />

nas mãos da empresa.<br />

Organizações inteligentes e bem sucedidas enxergam no universo das redes sociais<br />

um conjunto de excelentes oportunidades a serem trabalhadas. Sabem que devem<br />

se manter em contato com todos os usuários que de alguma maneira lhe procuram.<br />

Seja para fazer negócios, para defender a bandeira e valores da marca, para<br />

indicar os serviços a alguém ou até para reclamar e apontar defeitos, usuários estão<br />

ativamente movimentando um conjunto de recursos tangíveis e intangíveis relacionado<br />

às empresas, e devem, portanto, ser atendidos.<br />

A atualização constante dos dados online é outro fator chave a ser destacado sobre<br />

este universo. Centrais de Call Center não precisam mais telefonar continuamente<br />

para pessoas cadastradas em seu banco de dados para atualizar os contatos, pois as<br />

próprias pessoas alteram suas informações diretamente em suas redes sociais. Usuários<br />

querem ser encontrados, buscam fazer parte de algo maior e deixam seus canais<br />

abertos para conviver neste universo dinâmico.<br />

Nesta era da informação e globalização, se torna também dinâmico o plano de<br />

carreira do profissional. As novas gerações, como aponta Terribili Filho (2011), têm<br />

menos comprometimento com empresas que não lhe oferecem bons horizontes de<br />

crescimento tanto dentro como fora do plano monetário. Empresas, por sua vez, têm<br />

a difícil tarefa de reter e atrair estes talentos, não podendo comprometer sua produtividade<br />

com profissionais mal contratados e nem investir demais em treinamento,<br />

gerando mão de obra especializada para uma concorrência cada vez mais feroz.<br />

A relação da empresa com seus colaboradores e sua rede de candidatos a eventuais<br />

vagas abertas passa por uma fase turbulenta. O trabalho do profissional de Recursos<br />

Humanos é transformado por mudanças comportamentais da nova sociedade.<br />

Profissionais concorrem em nível global por uma mesma vaga e o tempo para consolidarem<br />

suas especialidades é curtíssimo. O mercado, por sua vez, já está reprimindo<br />

o mau comportamento nas redes sociais, segundo Dreher (2011), um levantamento<br />

feito pela empresa Proofpoint em 2010 indicou que 7% das empresas já demitiram<br />

por causa do mau uso das redes e 20% advertiram seus colaboradores.<br />

Este quadro complexo do universo das redes sociais e de sua influência na sociedade<br />

gera questões a serem discutidas tanto para profissionais quanto para empresas:<br />

é vantajoso o uso de redes sociais para fins de contratação? Existem riscos<br />

e medidas que devem ser adotadas no processo? Quem sai ganhando e perdendo<br />

com isso no mercado de recursos humanos? Existem aspectos legais e éticos a serem<br />

considerados? Existem limites de privacidade a serem respeitados?<br />

90<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


Este artigo é baseado em um Trabalho de Conclusão de Curso de graduação<br />

que teve por objetivo responder a estas questões pertinentes a utilização das redes<br />

sociais, assim como, despertar e instigar aos demais pesquisadores e profissionais<br />

sobre formas inteligentes e produtivas de utilização no amplo e, aparentemente,<br />

“infinito” campo das redes sociais.<br />

1 Metodologia<br />

A metodologia utilizada foi constituída por várias etapas, as quais foram organizadas<br />

de um modo lógico, sequencial e dinâmico para garantir a qualidade na coleta de informações<br />

em campo. No início, houve uma fase exploratória, caracterizada pelo aprofundamento<br />

de conceitos e referenciais teóricos. Em sequencia, foi adotado o método<br />

de Pesquisa Explicativa com base nos guias de Hernández Sampieri, Collado e Lucio<br />

(2006). Segundos os autores (2006, p. 107), os estudos explicativos “vão além da descrição<br />

de conceitos ou fenômenos ou do estabelecimento de relações entre conceitos,<br />

estão destinados a responder as causas dos acontecimentos, fatos, fenômenos físicos<br />

ou sociais“. Portanto, a metodologia adotada foi ao encontro do objetivo proposto na<br />

busca para entender o crescimento da utilização das redes sociais como forma alternativa<br />

para a contratação de pessoal, inclusive em altos escalões, assim como, se há e<br />

como estas variáveis se relacionam.<br />

Para tratar de assuntos relativos à contratação de pessoal em um ambiente repleto<br />

de novas ferramentas virtuais e tecnológicas, foi necessário realizar uma sondagem de<br />

opiniões de especialistas no assunto. Assim, o enfoque dominante do processo de pesquisa<br />

foi do tipo qualitativo, e a delimitação da amostra foi direcionado a “Amostra de<br />

Especialistas”, seguindo as mesmas metodologias adotadas pelos autores Hernández<br />

Sampieri, Collado e Lucio (2006, p. 272).<br />

Após o desenvolvimento e organização para a geração de ideias, o qual se transformou<br />

na formulação do problema de pesquisa, foram realizados roteiros de entrevista<br />

com enfoque de “Entrevista Estruturada”. Segundo, Marconi e Lakatos (20063) tal enfoque<br />

se caracteriza pela possibilidade de o entrevistador seguir um roteiro previamente<br />

estabelecido, o qual é efetuado com pessoas selecionadas de acordo com um plano.<br />

Foram elaborados três diferentes roteiros de entrevistas, um foi direcionado aos Gerentes/Diretores<br />

de Recursos Humanos e Headhunter (recrutadores terceirizados) e os<br />

outros dois roteiros direcionados aos Advogados Trabalhistas e Psicólogos Organizacionais.<br />

O objetivo foi cobrir um espectro mais aberto da questão levantada como tema,<br />

coletando assim, informações relevantes sobre aspectos legais, éticos, psicológicos, de<br />

mecânica do processo de recrutamento e seleção, e da atuação das empresas e profissionais<br />

nas redes.<br />

No total foram entrevistados 19 profissionais de grandes empresas ou de grande<br />

atuação no mercado, com 7 a 14 anos de experiência. Vale destacar, que foi determinado<br />

manter o caráter confidencial das informações pessoais obtidas sobre os entrevistados,<br />

tais como nome do profissional e empresa. Na Figura 1, é detalhado o total da<br />

Utilização de redes sociais na contratação de profissionais de nível gerencial, Alexandre A. T. Gonçalves e Deisi Domenech, p. 89-98<br />

91


amostra de especialistas por área de atuação, tendo como prioridade os profissionais<br />

da área de Recursos Humanos (Gerentes e Headhunters). O processo de realização das<br />

entrevistas foi dinâmico, no qual o entrevistador seguiu um roteiro pré-determinado<br />

para criar com o respondente um ambiente propício para que o máximo de informações<br />

fossem reveladas.<br />

92<br />

Figura 1 – Quantitativo de participantes especialistas por área<br />

Fonte: Autores deste artigo.<br />

Durante a análise dos dados, para manter a qualidade, foi importante a organização<br />

e classificação do material coletado ordenado em critérios, como por<br />

exemplo: cronologicamente; por unidade de análise e perfil de indivíduos participantes;<br />

e por tema tratado. Ao fim da tarefa analítica, foram destacados quatro<br />

pontos-chave na coleta de informações: utilização de redes sociais; ética e confidencialidade;<br />

comportamento e produtividade; e contratação. Estes destaques se<br />

tornaram a premissa para todo o desenvolvimento e conclusão sobre a utilização<br />

das redes sociais em contratação de nível gerencial. Vale citar, que o termo “nível<br />

gerencial” utilizado na pesquisa compreende qualquer posição que tenha outra<br />

subordinada a si e com responsabilidade significativa.<br />

2 Redes Sociais<br />

Psicólogos Organizacionais<br />

Advogados Trabalhistas<br />

Headhunters<br />

Gerentes e/ou Diretores de<br />

Recursos Humanos<br />

As redes sociais estão evoluindo para serem centralizadoras de qualquer necessidade<br />

de uma pessoa navegando na Internet. Segundo o Kantar Group/TNS (2010), “o<br />

que começou como uma plataforma conectada a sua lista de amigos para envio e recebimento<br />

de mensagens se tornou um agregador de serviços: a parada única para<br />

qualquer necessidade de serviços online” . Hoje, a tecnologia de redes sociais converge<br />

com outras tecnologias e a rede se torna uma plataforma para uma gama muito grande<br />

de aplicativos diferentes: jogos, calendários, GPS, entre muitos outros.<br />

As redes, portanto, são classificadas por sua funcionalidade principal, dentre as de<br />

maior relevância no mercado: o YouTube é uma rede para transmissão de vídeo; o Twit-<br />

3<br />

3<br />

5<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011<br />

8


ter para “micro-notícias” (micro-blogging); o Facebook para relacionamento pessoal e o<br />

Linkedin para relacionamento profissional. Na Figura 2, é possível observar um comparativo<br />

entre as principais redes sociais e suas instigantes peculiaridades.<br />

Um dos aspectos mais relevantes sobre as redes sociais é que seus usuários recebem<br />

informações de canais escolhidos por eles. Isto acontece, porque um usuário está<br />

conectado com outro usuário diretamente, e esta conexão foi aceita por ambos. Desta<br />

maneira, usuários, através das redes, filtram as informações de seu interesse por selecionar<br />

suas conexões. Na rede Linkedin, por exemplo, usuários podem “seguir” empresas<br />

que lhe interessam, recebendo notícias e atualizações diretas destas empresas. Este<br />

contato direto também é interessante pois o valor de informações trocadas é maior, já<br />

que vem direto de sua fonte.<br />

Fonte: Adaptada de Melaragno (2009).<br />

Figura 2 – Comparativo entre redes sociais<br />

REDE TIPO VALOR NÚMEROS RELEVANTES PERFIL<br />

3 Resultados da pesquisa<br />

Vídeo Conteúdo Real 36 horas de vídeo por minuto<br />

3.1 Quanto à utilização de Redes Sociais<br />

A utilização das redes é um fator unânime entre os 19 respondentes. Seja para uso<br />

profissional ou pessoal, todos os entrevistados fazem uso delas. Do lado profissional,<br />

fazem uso para diversos fins, sendo um deles a contratação.<br />

Alguns dos respondentes destacaram o uso para prospecção de clientes, divulgação<br />

da empresa, e inclusive a busca por parcerias de negócios. Estas parcerias se estendem<br />

ao ponto de serem chamadas de intercâmbio comercial, e vão muito além da troca de<br />

contatos. Muitas são buscadas internacionalmente.<br />

Utilização de redes sociais na contratação de profissionais de nível gerencial, Alexandre A. T. Gonçalves e Deisi Domenech, p. 89-98<br />

Amador e<br />

Profissional<br />

Mural Integração 600 milhões de usuários Pessoal<br />

Microblog Notícias<br />

25 bilhões de postagens em<br />

2010<br />

Pessoal e<br />

Profissional<br />

Mural Integração 23 milhões de usuários no Brasil Pessoal<br />

Multimídia Personalização 300 mil bandas/músicos<br />

Mural Comprometimento<br />

Fortune 500 - Executivos de<br />

todas as empresas são membros<br />

Pessoal e<br />

Profissional<br />

Profissional<br />

93


Alguns respondentes, contudo, se apresentaram mais cautelosos, afirmando que<br />

o uso deve ser restrito a ser inteligente e produtivo ou para assuntos específicos<br />

pertinentes às atividades da empresa, que requerem o uso das redes sociais virtuais.<br />

A maioria dos respondentes afirmou que o uso é liberado para os colaboradores<br />

de sua empresa, e inclusive incentivado. Nenhum dos respondentes tem<br />

conhecimento sobre o uso feito por parte dos concorrentes. Neste ponto, as respostas<br />

foram objetivas, na maioria dos casos, um simples “não”.<br />

3.2 Quanto à Ética e Confidencialidade<br />

Os três profissionais da área de Direito que foram entrevistados, abordaram a<br />

questão com o “bom senso” entre indivíduos como elemento mais importante,<br />

quando o aspecto legal não oferece regras claras e específicas sobre os limites<br />

quanto ao uso e investigação das redes sociais. Não é proibido colher informações<br />

sobre um candidato através das redes sociais. O artigo 5 o da Constituição Federal<br />

de 1988 destaca a proibição quanto a violar a privacidade de correspondências,<br />

telefone e telégrafo, mas nada que se refira as redes sociais.<br />

3.3 Quanto ao Comportamento e Produtividade<br />

Os três entrevistados da área de Psicologia comentaram que é impossível traçar<br />

um perfil de personalidade e comportamento profissional apenas observando o<br />

uso das redes sociais por uma pessoa. Para criar um perfil de personalidade são necessárias<br />

técnicas específicas. O que seria possível é ter uma indicação da atuação<br />

ou comportamento de uma pessoa.<br />

Observando a ligação do indivíduo com a respectiva família e amigos é possível<br />

ter uma ideia de sua sociabilidade profissional. Observar também menções<br />

referentes ao trabalho é importante, uma pessoa que tem o hábito de reclamar<br />

constantemente, por exemplo, pode ser uma pessoa que tem dificuldades de se<br />

engajar positivamente com a empresa em que trabalha. Alguém que fala repetidas<br />

vezes sobre seu trabalho ou se vangloria de suas tarefas constantemente, e<br />

inclusive por isso passa mais do que o tempo necessário trabalhando, por outro<br />

lado, pode ser afetada mais tardiamente por não ter seus momentos pessoais satisfeitos,<br />

e isto afetar sua produtividade profissional.<br />

O que se deve observar? De acordo com os entrevistados, a frequência do uso,<br />

que pode afetar sua produtividade. A sua exposição em imagens, especialmente<br />

quando ligada ao uso exagerado de álcool ou até de drogas. Erros graves de escrita.<br />

Conteúdo de suas postagens, que podem ser agressivas, ou geradoras constantes<br />

de polêmicas, indicando um potencial criador de problemas. Perceber se a<br />

pessoa é verdadeira. Uma pessoa que transparece falsidade, não interessa.<br />

94<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


3.4 Quanto à Contratação<br />

O uso das redes para a contratação foi confirmado de forma unânime entre os<br />

respondentes. Alguns destacaram que preferem usar a rede de contatos particulares,<br />

seu network pessoal, mas mesmo estes afirmaram que fazem uso de redes<br />

sociais para conhecer maiores detalhes sobre seus candidatos em certos casos.<br />

A principal rede usada para fins de contratação é o LinkedIN, seguida do Twitter<br />

e Facebook. O uso do LinkedIN se justifica por ser uma rede criada para o uso profissional.<br />

Alguns respondentes reforçaram este aspecto defendendo que usuários<br />

devem estabelecer perfis diferenciados para cada rede e que o contexto muda<br />

de uma rede para outra. O Facebook foi mencionado como uma boa rede para<br />

conhecer o lado pessoal de candidatos.<br />

A frequência de contratações tendo o suporte das redes sociais é muito alta<br />

entre os respondentes. Apenas um caso apresentou uma taxa de 20% de contratações<br />

feitas diretamente por redes sociais. Os demais não deram números específicos,<br />

mas deixaram claro que sempre fazem o uso, mesmo em casos de investigações<br />

de candidato.<br />

O conteúdo que os recrutadores buscam sobre candidatos é principalmente<br />

o específico, ou seja, o que já é normal estar contido no currículo. A confirmação<br />

da veracidade de informações expostas por candidatos em currículo ou entrevista<br />

é também parte desta busca. Outro elemento destacado foi o número de contatos<br />

de um candidato na rede, um candidato com um grande número de contatos<br />

pode acrescentar valor para a empresa. Um dos cinco headhunters entrevistados,<br />

afirmou que seus clientes, muitas vezes, querem que seja feito o trabalho de investigação,<br />

que o headhunter atue como um verdadeiro detetive.<br />

Um dos aspectos chave foi a questão da indicação ou referencial de um candidato.<br />

Candidatos para cargos de nível gerencial normalmente são encontrados<br />

através de indicações. Mesmo após serem identificados, a questão das referências<br />

de cada candidato é fator relevante de análise.<br />

Um risco apontado no uso das redes foi o de obter informações falsas. Quem<br />

pesquisa sobre uma pessoa deve apurar seus resultados e validar a veracidade das<br />

informações disponibilizadas nas redes.<br />

Quanto à medição dos resultados obtidos com o uso das redes para contratação,<br />

apenas um dos respondentes utiliza um índice estatístico. Um segundo caso<br />

destaca o acompanhamento em números reais, sem um índice de correlação. A<br />

grande maioria não faz uso de métrica alguma.<br />

Utilização de redes sociais na contratação de profissionais de nível gerencial, Alexandre A. T. Gonçalves e Deisi Domenech, p. 89-98<br />

95


Considerações Finais<br />

Evidencia-se a predominância quanto ao uso de redes sociais pelos entrevistados.<br />

Facebook e LinkedIn foram apontados como os mais utilizados, e em destaque o LinkedIn<br />

apresentou uniformidade quanto a seu uso perante os headhunters, como pode ser<br />

observado em maiores detalhes na Figura 3.<br />

96<br />

Figura 3 – Utilização das redes sociais pelos respondentes<br />

Respondente Área Facebook Orkut LinkedIn Twitter Demais<br />

1 x x<br />

2 Psicologia x<br />

3 x x<br />

4 x x<br />

5 Direito x x<br />

6<br />

7 x x x x<br />

8 x x x<br />

9<br />

10 Recursos x x x x<br />

11 Humanos x x<br />

12 x x x x<br />

13 x x x x<br />

14<br />

15 x x x x<br />

16 x x<br />

17 Headhunter x x<br />

18 x<br />

19 x x<br />

Totais 13 5 12 8 3<br />

% uso 68% 26% 63% 42% 16%<br />

Fonte: Autores deste artigo.<br />

Mesmo diante de todas as evidências indicando o uso das redes sociais como<br />

pré-requisito, e não mais como um diferencial, empresas ainda lidam com esta<br />

atividade de maneira experimental e de certa forma insegura. Observa-se isto<br />

quando os dados coletados revelam que poucas empresas acompanham o uso<br />

por parte da concorrência e que apenas uma, citada nas entrevistas, tem um índice<br />

estatístico para fundamentar sua atuação.<br />

É importante que se crie a demanda por uma especialização nesta atividade<br />

por parte dos profissionais, assim como, promover a inovação e ser “evangelizadores”<br />

do uso como forma de ligação direta entre profissionais e empresas, mudando<br />

a cultura vigente. Tendo isto em vista, observa-se o ânimo nos respondentes ao<br />

mencionarem aspectos como a interatividade com seus candidatos via Internet; a<br />

oportunidade de fazer uma pré-seleção como apoio ao processo de contratação; o<br />

uso da rede como ferramenta de CRM (Customer Relationship Management), mantendo<br />

o contato vivo entre as partes e os casos de intercâmbio comercial.<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


A criação de aplicativos pelos recrutadores pode ser uma estratégia criativa e inovadora.<br />

Pode-se criar um aplicativo onde os candidatos entrem em um pequeno<br />

jogo de decisões, e que com uma simples resposta por dia, dentro de suas redes<br />

sociais, tomem decisões sobre um processo interno fictício criado para o jogo. Estas<br />

respostas levarão os candidatos a passarem por uma seleção natural, e na fase final<br />

a empresa entra e atua diretamente com os finalistas. Neste exemplo, a companhia<br />

não teria “reinventado a roda”, pelo contrário, teria aproveitado que seus candidatos<br />

estão diariamente nas redes e, assim como respondem a comentários de seus amigos,<br />

responderiam aos questionamentos deste jogo com um simples click por dia.<br />

Outra sugestão é a criação de um índice para o monitoramento dos resultados de<br />

ações na Internet voltadas à contratação. É importante que o uso seja otimizado para<br />

que o mercado profissional de contratação online não fique preso exclusivamente a<br />

ferramentas que cobram uma taxa de serviço de candidatos e de empresas, como<br />

por exemplo, a Catho (2011). Existem na Internet algumas ferramentas que realizam o<br />

acompanhamento da performance de marcas atuantes em redes sociais, como é o caso<br />

do IndexSocial (2011), que utiliza a mesma lógica das bolsas de valores. A criação de<br />

um índice para contratação talvez não seja tão simples quanto o IndexSocial, pois avaliaria<br />

um número maior de variáveis. Sua utilização, por outro lado, também seria muito<br />

maior. Portanto, tendo ao alcance um índice que guia a atuação, empresas podem fazer<br />

o trabalho de recrutamento por si mesmas, ou no mínimo ter mais controle do que estão<br />

fazendo e dos resultados de empresas terceirizadas que estão contratando.<br />

Pode-se afirmar que se está no caminho certo, rumo à eficácia no uso das redes<br />

sociais para identificação e contratação de profissionais para o alto escalão das<br />

organizações, mas ainda há a necessidade de quebra de paradigma para que a<br />

tecnologia seja aproveitada em todo seu potencial. Portanto, é preciso racionalizar<br />

o planejamento e análise de resultados no uso das redes, para que sejam utilizadas<br />

e aproveitadas de forma eficaz pela sociedade atual e pelas novas gerações.<br />

Referências<br />

CATHO. Disponível em: . Acesso em: 26 mar. 2011.<br />

DREHER, Felipe. Regras de conduta. Information week. Fevereiro de 2011, p. 53.<br />

HERNÁNDEZ SAMPIERI, Roberto; COLLADO, Carlos Fernández; LUCIO, Pilar Baptista. Metodologia de<br />

pesquisa. 3. ed. São Paulo: McGraw-Hill, 2006.<br />

INDEXSOCIAL. Disponível em: . Acesso em: 26 set. 2011.<br />

KANTAR. Discover digital life. Disponível em: . Acesso em: 28 dez. 2010.<br />

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006.<br />

Utilização de redes sociais na contratação de profissionais de nível gerencial, Alexandre A. T. Gonçalves e Deisi Domenech, p. 89-98<br />

97


MELARAGNO, Laura. Redes sociais como ferramentas de CRM: estudo comparativo entre São<br />

Paulo e Barcelona. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação). Faculdade de Administração da<br />

FAAP. São Paulo, 2009.<br />

QUALMAN, Erik. Socialnomics: how social media transforms the way we live and do business.<br />

New Jersey, 2010.<br />

TERRIBILI FILHO, Armando. Geração Y, geração X e baby boomers: sinergia ou cisão em projetos?<br />

Qualimetria. Janeiro, 2011, p. 86-87.<br />

98<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


Orientações para os autores e para a<br />

elaboração de artigos científicos<br />

1) Foco da <strong>Revista</strong><br />

A <strong>Revista</strong> <strong>Estratégica</strong> publica semestralmente artigos inéditos nas áreas de Estratégia,<br />

Administração, Gestão e temas afins, em português, espanhol e inglês, de<br />

autores brasileiros e do exterior e que foram devidamente aprovados pelo Conselho<br />

Editorial da <strong>Revista</strong>. Excepcionalmente, publica também artigos não inéditos,<br />

mas ainda não divulgados em português ou espanhol, e que a <strong>Revista</strong> considere<br />

importante para publicação nestas línguas, modificados ou não, conforme avaliação<br />

dos editores ou de membros do Conselho Editorial. Os artigos devem conter:<br />

resumo, abstract (e respectivas palavras-chave), introdução, desenvolvimento,<br />

considerações finais e referências. A escrita deve ser acessível ao público em geral.<br />

2) Formato dos Originais<br />

Os textos devem ser submetidos no formato de arquivo eletrônico, enviados<br />

por e-mail, no programa Word, em Fonte Arial, tamanho 10. Considerando os gráficos<br />

e tabelas, cada artigo deve conter de 8 a 25 páginas, tamanho A4, com espaço<br />

1,5 entre linhas. As tabelas e gráficos não preparados originalmente pelo autor<br />

e retirados de outras fontes não poderão ser colocados no artigo no formato de<br />

figuras, necessitando ser refeitos, e sempre escritos no mesmo idioma do texto em<br />

que estão inseridos.<br />

3) Remessa de Originais<br />

Para o e-mail estrategica@faap.br. Além do arquivo em Word deverão ser encaminhados<br />

os demais arquivos contendo gráficos e tabelas, a fim de facilitar a<br />

edição do artigo.<br />

4) Avaliação de Originais<br />

Os artigos serão submetidos aos pareceristas do Conselho Editorial, cujos nomes<br />

não serão informados aos autores.<br />

5) Exemplares para os autores<br />

Os autores recebem 3 (três) exemplares da revista.<br />

99


6) Assinaturas<br />

Informações sobre assinatura ou permuta da revista poderão ser obtidas pelo<br />

e-mail estrategica@faap.br<br />

7) Cabeçalho do Artigo<br />

100<br />

Título do artigo (fonte Arial, tamanho 20, negrito).<br />

Nome do autor (fonte Arial, tamanho 12, negrito).<br />

Indicar um breve currículo (até 6 linhas) indicando a titulação acadêmica, a<br />

ocupação atual e o e-mail para contato no rodapé da primeira página. Utilizar fonte<br />

Arial, tamanho 8.<br />

Cidade, UF, data completa (dia, mês e ano).<br />

8) Resumo<br />

Preferencialmente em uma única frase, apresentar o tema e o contexto em que<br />

o tema se encontra. Escrever sobre:<br />

• O que foi a pesquisa, o problema, as hipóteses, os objetivos.<br />

• Descrição do método adotado, ou seja, onde os dados foram coletados (local<br />

específico) e como (que instrumento foi utilizado para coletar os dados),<br />

quem são os dados (classe de pessoas) ou o que (classe de objetos, fenômenos<br />

naturais, conceitos extraídos de textos) e o tamanho da amostra<br />

em números ou percentuais, e informar o referencial teórico que norteou a<br />

análise dos dados.<br />

• Resultados encontrados.<br />

• Conclusão da pesquisa.<br />

Palavras-chave: apresentar de 3 a 5 palavras, separadas por “.” (ponto).<br />

Formatação: sem margem, com fonte Arial, tamanho 10 e espaçamento simples.<br />

9) Abstract<br />

Tradução do resumo para o inglês, inclusive com as palavras-chave.<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


10) Introdução<br />

Apresentar a pesquisa, contemplando os seguintes aspectos:<br />

a) Explicar por que foi escolhido o tema e apresentá-lo em determinado contexto<br />

(época, lugar) onde está inserido.<br />

b) Descrever o problema da pesquisa.<br />

c) Apresentar o(s) objetivo(s) que se espera atingir por meio da realização da<br />

pesquisa.<br />

d) Apresentar a(s) hipótese(s) que será(ão) confrontada(s) com os dados colhidos<br />

pela pesquisa.<br />

e) Fazer citações de trabalhos realizados por outros autores (conceitos, dados<br />

estatísticos gerados por outros pesquisadores, teorias). Tais citações devem<br />

ter conexão com o tema da pesquisa.<br />

11) Desenvolvimento<br />

Criar subtítulos do tipo: método adotado (descrever o método que foi adotado<br />

par atingir o objetivo da pesquisa).<br />

Informar em que região geográfica foi realizada a pesquisa, no caso de pesquisa<br />

de campo. Para uma pesquisa puramente bibliográfica, deve ser informado<br />

o que foi feito, a fim de elucidar questões que diversos teóricos tenham pensado<br />

sobre o tema. Descrever o período de tempo dedicado à coleta de dados e apresentar<br />

a amostra (participantes) que selecionou.<br />

Apresentar os dados que coletou, lembrando que um conceito expresso por<br />

algum teórico ou um pensamento colhido durante uma entrevista, são dados. Informar<br />

qual foi “a referência teórica” adotada para realizar a análise dos dados.<br />

Elaborar um debate entre uma amostra de pensamentos produzidos por teóricos<br />

(revisão de literatura, de onde retirou citações e os dados que colheu em<br />

determinada realidade).<br />

Uma pesquisa puramente bibliográfica indica que os dados são “conceitos” colhidos<br />

na literatura que serão igualmente comparados, de acordo com “o problema”<br />

da investigação.<br />

101


12) Conclusão<br />

Apresentar as descobertas de maneira lógica (ou seja, isso é consequência daquilo;<br />

isso causou aquilo), com vocabulário claro e conciso.<br />

Deve estar fundamentada nos resultados e na discussão anteriormente abordadas.<br />

Oferecer respostas sobre o problema investigado; informar se cada objetivo<br />

foi alcançado; se elaborou hipóteses, informar quais foram confirmadas e quais<br />

foram infirmadas (negativadas).<br />

Convém informar sobre as limitações encontradas e com as quais não foi possível<br />

lidar, entretanto, poderiam ser exploradas por outros pesquisadores, por outros<br />

trabalhos. Nenhuma citação de outros autores deve ser feita na fase de conclusão.<br />

A conclusão é do autor da pesquisa.<br />

13) Referências<br />

Devem aparecer pelo sobrenome do autor em ordem alfabética, seguido do restante<br />

do nome e não devem ser numeradas. Devem obedecer as normas da ABNT.<br />

102<br />

Todas as Referências citadas no texto devem constar ao final, na seção Referências.<br />

O título das obras usadas como Referências (das quais foram extraídas as citações)<br />

devem estar destacadas em negrito.<br />

14) Apêndices / Anexos<br />

Devem vir ao final do trabalho. Vale salientar que os apêndices e os anexos, ao<br />

serem inseridos, não são contados como páginas.<br />

AVISO IMPORTANTE<br />

A responsabilidade dos artigos publicados é dos autores,<br />

não expressando qualquer opinião ou posicionamento da revista.<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011


103


104<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.11</strong>(01), junho.2011

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