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Corpo, gênero e sexualidade em travestis de ... - Fazendo Gênero

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importante <strong>de</strong>stacar que para a autora não existe uma relação necessária entre práticas <strong>travestis</strong> e<br />

subversão. O <strong>gênero</strong> para Butler (1999) é performativo e estes atos performativos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser entendidos<br />

a partir do conceito <strong>de</strong> citacionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Derrida. Desta forma, a performativida<strong>de</strong> não <strong>de</strong>ve ser<br />

entendida como um “ato <strong>de</strong>liberativo” do sujeito, n<strong>em</strong> “teatralizada”, mas como <strong>de</strong>staca Butler (1999)<br />

uma “prática reiterativa e citacional pela qual o discurso produz efeitos que nomeia”(p. 152).<br />

Nesta leitura discorrida por Butler o sujeito é <strong>de</strong>s<strong>de</strong> s<strong>em</strong>pre coibido e os atos são s<strong>em</strong>pre<br />

citações <strong>de</strong> convenções, assim o fato do sujeito aparecer como autor é um ato performativo da<br />

linguag<strong>em</strong>, uma presentificação, que oculta as convenções das quais ele é repetição, a sua historicida<strong>de</strong>.<br />

O aspecto teatral da performativida<strong>de</strong> é possível pois estes atos ocultam a história da qual faz<strong>em</strong> parte,<br />

e tornam impossível uma plena revelação <strong>de</strong> sua historicida<strong>de</strong> pois são ditos como “naturais”. Assim,<br />

na proposta <strong>de</strong> Butler (1999), a performativida<strong>de</strong> é um ato s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong>rivativo, uma citação das<br />

convenções que produz<strong>em</strong> quais “bodies that matter” 3 . Na medida <strong>em</strong> que as normas do sexo são<br />

citadas, esta citação ou “i<strong>de</strong>ntificação/sujeição” prece<strong>de</strong> e possibilita a formação do sujeito, tornando-o<br />

capaz <strong>de</strong> viver no reino da inteligibilida<strong>de</strong> cultural. Assim, sexo é: “uma das normas pelas quais o<br />

‘alguém’ simplesmente se torna viável, é aquilo que qualifica um corpo para a vida no interior do<br />

domínio da inteligibilida<strong>de</strong>” (BUTLER, 1999, p.153)<br />

Porém, no processo citacional e <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> sujeitos inteligíveis há s<strong>em</strong>pre instabilida<strong>de</strong>s<br />

com a produção <strong>de</strong> seres “incoerentes”, os abjetos, seres não-humanos. Como <strong>de</strong>staca Derrida <strong>em</strong> seu<br />

conceito diferrance 4 , a escritura nunca copia exatamente a fala, há s<strong>em</strong>pre um supl<strong>em</strong>ento, algo que<br />

escapa, e <strong>de</strong>ste modo o signo nunca se fixa a um <strong>de</strong>terminado significado. Visto a partir <strong>de</strong>stes<br />

questionamentos a materialização do “sexo” nunca é totalmente completa e a reiteração das normas <strong>de</strong><br />

<strong>gênero</strong> e <strong>sexualida<strong>de</strong></strong> é constant<strong>em</strong>ente necessária, <strong>de</strong> forma que a diferença <strong>em</strong> relação aos abjetos seja<br />

constant<strong>em</strong>ente d<strong>em</strong>arcada. Esta reiteração forçosa das normas <strong>de</strong> <strong>gênero</strong> e <strong>sexualida<strong>de</strong></strong> aponta que os<br />

corpos nunca se conformam completamente às normas, s<strong>em</strong>pre há possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos<br />

abertos pelo processo citacional, rupturas.<br />

A partir <strong>de</strong>sta reflexão da performativida<strong>de</strong> enquanto citacionalida<strong>de</strong> pod<strong>em</strong>os pensar que nas<br />

práticas performativas po<strong>de</strong> ocorrer tanto uma <strong>de</strong>snaturalização das práticas regulatórias, como também<br />

uma reiteração das normas heterossexuais polarizadas <strong>de</strong> <strong>gênero</strong>. Como já apontado, a teoria da<br />

performativida<strong>de</strong> não se propõe a ser uma teoria <strong>de</strong>liberativa e voluntarista do sujeito, <strong>de</strong>ste modo, se a<br />

relação entre travesti e subversão fosse certa estaríamos enten<strong>de</strong>ndo que o sujeito - constituído <strong>de</strong> uma<br />

vonta<strong>de</strong> individual -pu<strong>de</strong>sse mudar a realida<strong>de</strong> sua social e histórica por um projeto individual e<br />

voluntário. Bento (2007) e Fernandéz(2000) afirmam esta questão <strong>em</strong> suas pesquisa, ao afirmar que<br />

não seria possível imputarmos a estes sujeitos o caráter <strong>de</strong> subversivos, pois estes sujeitos abjetos<br />

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