violência material e simbólica. ST 49 Cristina ... - Fazendo Gênero
violência material e simbólica. ST 49 Cristina ... - Fazendo Gênero
violência material e simbólica. ST 49 Cristina ... - Fazendo Gênero
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
analisada como "human malaise" por Dorothy Dinnerstein, constitui a tese central do livro The<br />
mermaid and the minotaur. Dinnerstein nos apresenta rica e brilhante argumentação para a<br />
desconstrução do fato universal de que a responsabilidade básica com o cuidado da criança cabe<br />
à mãe, alertando também para os perigos dessa tradicional forma de parentalidade:<br />
Uma base para a ambivalência fundamental de nossa espécie em relação às mulheres está no fato de<br />
que a mãe tradicional, representação monolítica da natureza, é fonte, como a natureza, de prazer e dor<br />
extremos .... A criança ama seu toque, calor, forma, sabor, som, movimento. ... E ele a odeia porque,<br />
como a natureza, ela não o protege nem supre suas necessidades completamente. ... A aparente<br />
onipotência da mãe tradicional então, seu papel ambivalente de fonte primordial do bem e do mal, é a<br />
origem da doença do ser humano: nossa difícil, instável posição com relação à natureza e nossos<br />
arranjos sexuais instáveis, são aspectos inseparáveis dessa doença. (DINNER<strong>ST</strong>EIN, 1977: 95-100)<br />
Ela argumenta ainda que a aceitação da autoridade patriarcal (inclusive pela mulher) tem<br />
origem no temor - embora inconsciente - que a criança tem do poder da mãe; a mãe estaria<br />
portanto na posição de ser o objeto do medo e das fantasias sobre poder e autoridade, com todas<br />
as suas complexas implicações. Na teoria da sexualidade construída por Freud, a mãe é o objeto<br />
sexual mais desejado - uma figura universalmente idealizada e temida. O corpo da mãe é o bode<br />
expiatório para os temores da carne, da mortalidade; ao mesmo tempo, é o ídolo no qual<br />
tentamos recriar nossa união perdida com a mãe-carne. Com Moisés e o Monoteismo, Freud<br />
retoma um dos pontos centrais de sua teoria: o processo pelo qual a criança abandona sua mãe e<br />
volta-se para o pai - o que para ele representa uma vitória do espírito sobre o corpo, o primeiro<br />
passo de superação da simples percepção pelos sentidos em direção a processos mentais mais<br />
elaborados, ao desenvolvimento do intelecto e à cultura. Entretanto, ao enfatizar na sua teoria a<br />
fase edipiana, Freud perigosamente negligencia a fase pré-edipana, para ele, inatingivelmente<br />
reprimida. A psicanalista Karen Horney não teve sua formação influenciada pelo<br />
determinismo/biologismo do século XIX como Freud, de quem se distancia radicalmente; ela<br />
incorporou valores morais, estéticos e espirituais na sua metodologia de investigação e prática<br />
em psicanálise. Na sua visão holística da psique, Horney incorpora a contribuição da<br />
antropologia na análise da função primordial da mulher em sociedades matriarcais primitivas.<br />
Trabalhando com a problemática (para ela ainda não satisfatoriamente compreendida) da<br />
dependência primordial da criança em relação à mãe, Horney - ela própria mãe de três filhos -<br />
reflete sobre uma possível conseqüência da injustamente ignorada superioridade fisiológica da<br />
mulher. Horney imagina que talvez mecanismos tenham sido defensivamente desenvolvidos<br />
como forma de tentar compensar, ou mesmo negar, essa dependência. Para ela, Freud ignorou a<br />
importância da maternidade, bem como o significado da inveja - por parte do homem - da<br />
2