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Ruídos na Representação da Mulher ... - Fazendo Gênero

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uma briga no bastidores, e o camelô arreme<strong>da</strong> um discurso de valentia, enunciando-o juntamente<br />

com a sua <strong>na</strong>turali<strong>da</strong>de: Num baiano decidido, ninguém bota a mão: vai tudo virar mungunzá. O<br />

que se segue é o citado camelô fugindo à luta. Enquanto ele arrota valentia, ela, discreta, é quem é<br />

valente e bastante dura com ele, aplicando-lhe safanões quando ele tenta assediar as corista <strong>da</strong><br />

buate. Tem-se aqui ain<strong>da</strong> um ato curioso: a auto-identificação não vem associa<strong>da</strong> a uma autoestereotipação<br />

positiva, mas, sim, com uma inversão, que aponta para uma covardia...de um baiano.<br />

A valorização de uma valentia, que seria típica de uma <strong>na</strong>turali<strong>da</strong>de, está presente também em um<br />

outro filme com Nancy Wanderley. Em Quem Roubou meu Samba ?, essa atriz cearense é a<br />

enfermeira Iolan<strong>da</strong>, eter<strong>na</strong> noiva de um atrapalhado agente artístico, interpretado por Ankito. Ela se<br />

envolve em um briga com seqüestradores de um compositor, saindo-se bem <strong>na</strong> empreita<strong>da</strong>. Ao ser<br />

elogia<strong>da</strong> em sua performance pugilística por um de seus colegas com êta,baia<strong>na</strong>!, ela prontamente<br />

lhe responde: Baia<strong>na</strong>, vírgula. Eu sou é per<strong>na</strong>mbuca<strong>na</strong>.<br />

Em No Mundo <strong>da</strong> Lua, Nancy faz parte de uma quadrilha que põe um agricultor potiguar<br />

(interpretado pelo gaúcho Walter D'Ávila) no lugar de um sósia seu, o proprietário de uma fábrica<br />

de cimento. Esse nordestino está vindo ao Rio de Janeiro em busca de uma mulher, que conhece<br />

ape<strong>na</strong>s por correspondência, sendo acompanhado <strong>na</strong> viagem por um sanfoneiro (o fluminense<br />

Regi<strong>na</strong>ldo Faria). A função de Nancy no bando é estratégica, mas suas falas buscam realçar uma<br />

propensão à grossura e a uma proposta de truculência física, como se tem nesses trechos: Guarde<br />

essa valentia aí, ô, palhaço! (para um comparsa); "e não grita comigo, não, ô, careca, se não vai<br />

acabar conhecendo o gostinho de chumbo quente (para o violento chefe). Em um outro momento <strong>da</strong><br />

<strong>na</strong>rrativa, ela defen<strong>da</strong> a tortura do seqüestrado. Nesse filme, como em muitos outros, Nancy é a vilã<br />

e caracteriza<strong>da</strong> como per<strong>na</strong>mbuca<strong>na</strong>, mas, em nenhum dos outros, ela aparece como seqüestradora e<br />

torturadora. A grossura <strong>da</strong> perso<strong>na</strong>gem interpreta<strong>da</strong> por Nancy<br />

para a qual chamamos a atenção em No Mundo <strong>da</strong> Lua reaparece em Eu Sou o Tal. Aqui, ela divide<br />

a virulência com Chico Anysio. Ela se identifica como a psiquiatra Honori<strong>na</strong> Camucim. Seu<br />

parceiro no consultório é Republicano Nepomuceno de Aragão. Ambos atendem um inocente<br />

paciente (Vagareza) aos berros, impedindo grosseiramente que ele se manifeste. Eles ain<strong>da</strong> brigam<br />

à frente do paciente, batem nele e empurram-no tanto que esse se manifesta apreensivo em localizar<br />

um ortopedista. Aqui, novamente, Nancy é caracteriza<strong>da</strong> mais uma vez como enérgica, tensa e rude,<br />

mas a estereotipagem que se destaca não é mais a de uma essencial valentia <strong>da</strong> mulher<br />

per<strong>na</strong>mbuca<strong>na</strong>, tipo que ela eternizou <strong>na</strong>s chancha<strong>da</strong>s, mas a formação do deboche a propósito do<br />

ensino universitário no Nordeste.<br />

Além <strong>da</strong>s "paraíbas" ou ferozes per<strong>na</strong>mbuca<strong>na</strong>s que consagraram Nancy Wanderley, há pelo menos<br />

mais uma fora do seu currículo e, curiosamente, interpreta<strong>da</strong> pela carioca Sônia Mamede em<br />

Garotas e Samba (RJ, 1957). Duas amigas de um ponto indefinido do Nordeste (Mamede e<br />

Adelaide Chiozzo) sonham em fazer sucesso no rádio e <strong>na</strong>s buates do Rio de Janeiro. A trama se

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