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Santa da Ladeira - Fazendo Gênero - UFSC

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Exército Branco, organizou uma estrutura de apoio logístico aos peregrinos, a idosos carentes e às<br />

crianças sem lar remetendo à <strong>Ladeira</strong> a responsabili<strong>da</strong>de de se auto-promover. Além de promover o<br />

culto fora e de participar regularmente dos rituais na <strong>Ladeira</strong>, os crentes expressam a devoção a mãe<br />

através <strong>da</strong> doação de ofertas votivas diferencia<strong>da</strong>s - em vez de flores, objetos de cera, velas, placas<br />

votivas como é comum em outros santuários portugueses, oferta-se principalmente recursos que<br />

auxiliam na sobrevivência <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de que reside no Santuário como comi<strong>da</strong>, roupa, dinheiro,<br />

objetos para leiloar, título de proprie<strong>da</strong>de, materiais de construção e outros (Perdigão, 1998).<br />

Comparando os movimentos devocionais portugueses, Rito (1992) afirma que o sentimento<br />

de comuni<strong>da</strong>de é o que diferencia a <strong>Ladeira</strong> de outros movimentos como de <strong>Santa</strong> Maria Adelaide,<br />

Padre Miguel ou Sousa Martins. “Nestes, os crentes organizam, autónoma e individualmente, as<br />

suas peregrinações, cumprem as suas promessas e fazem as suas orações quando e como desejam.<br />

Em conjunto, celebram, apenas, <strong>da</strong>tas comemorativas do seu nascimento e ou morte. Na <strong>Ladeira</strong>,<br />

porém, foram surgindo rituais que, embora com carácter espontâneo, no inicio, adquiriram uma<br />

forma organiza<strong>da</strong> e habitual de se celebrarem em <strong>da</strong>tas fixas. São os rituais do primeiro domingo de<br />

ca<strong>da</strong> mês, a i<strong>da</strong> ao mar, as alianças e o banho de Santo António” (idem:214/5). Carvalho (1980)<br />

reforça esta idéia afirmando que a <strong>Ladeira</strong> permite uma participação efetiva <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de no<br />

movimento devocional: podem ter contato direto com Maria <strong>da</strong> Conceição e conversar sobre seus<br />

problemas, assistir (e testemunhar) os constantes êxtases e acontecimentos anormais, participar <strong>da</strong>s<br />

orações e rituais públicas. A <strong>Ladeira</strong> do Pinheiro tornou-se um centro de misticismo vivo, atuante e<br />

influente na vi<strong>da</strong> dos portugueses e estrangeiros. Não é um centro encerrado e institucionalizado,<br />

mas fonte de emoções e sensações constantes.<br />

Em 1977 ocorreu a legitimação do Santuário e <strong>da</strong> <strong>Santa</strong> <strong>da</strong> <strong>Ladeira</strong> por parte <strong>da</strong> Igreja<br />

Ortodoxa, que encontrou nas proibições do culto na <strong>Ladeira</strong> a possibili<strong>da</strong>de para alicerçar uma<br />

doutrina sem tradição em Portugal. Segundo Rito (1992), os objetivos <strong>da</strong> Igreja Católica Ortodoxa<br />

não eram diferentes de outra instituição religiosa e pretendiam “domesticar o culto <strong>da</strong> <strong>Ladeira</strong>,<br />

impor sua doutrina e sua visão etnocêntrica <strong>da</strong> religião. Seu discurso é feito de proibições e<br />

imposições de uma doutrina considera<strong>da</strong> única a seguir, a nobre, a pura e a ver<strong>da</strong>deira em oposição<br />

à <strong>da</strong> Igreja Romana, a herética” (Idem:247). A partir <strong>da</strong> instalação <strong>da</strong> Igreja Ortodoxa dentro do<br />

Santuário e <strong>da</strong> teologia orienta<strong>da</strong> por uma hierarquia essencialmente masculina, Maria <strong>da</strong><br />

Conceição e grande parte dos crentes ingressam oficialmente nesta e passam a praticar os rituais<br />

ortodoxos. No entanto, não deixam de praticar os rituais e crenças próprias <strong>da</strong> <strong>Ladeira</strong>, crer e<br />

subordinar-se ao poder <strong>da</strong> mãe Maria. Assim, observou-se uma coexistência simultânea de uma<br />

Igreja instituí<strong>da</strong> e um fenômeno religioso espontâneo centrado na Mãe vivencia<strong>da</strong> inclusive por<br />

parte <strong>da</strong> hierarquia ortodoxa.

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