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3ª Edição da FGR em Revista - Fundação Guimarães Rosa

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<strong>em</strong> revista<br />

Publicação <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> · Ano 2 · Nº 03 · junho de 2008<br />

Educação é uma<br />

responsabili<strong>da</strong>de<br />

de todos.<br />

Centenário de nascimento<br />

de João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

“Muito mais que to<strong>da</strong>s as línguas, ele<br />

aprendeu a falar ao coração <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de,<br />

a ler e a desven<strong>da</strong>r os corações e mistérios<br />

dos homens.”<br />

Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

“Os projetos do presente são suportes para<br />

os projetos e programas do amanhã.”


A sAúde dA<br />

suA fAmíliA<br />

<strong>em</strong> primeiro lugAr.<br />

A Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> fez uma aliança com a Unimed-BH para oferecer a todos os<br />

integrantes do Sist<strong>em</strong>a de Defesa Social de Minas Gerais um Plano de Saúde moderno,<br />

de baixo custo e ampla cobertura, o UNIPART. Com ele, você garante o b<strong>em</strong>-estar dos<br />

dependentes que já perderam a cobertura do IPSM e netos com mais de um ano.<br />

Se você, policial ou bombeiro militar, também t<strong>em</strong> interesse <strong>em</strong> contratar um<br />

Plano de Saúde eficiente, entre <strong>em</strong> contato.<br />

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capa<br />

Educação: uma<br />

responsabili<strong>da</strong>de de<br />

todos<br />

editorial<br />

Álvaro Antônio Nicolau<br />

educação e cultura<br />

Escola <strong>da</strong> Paz<br />

A esperança para o século XXI<br />

A <strong>FGR</strong> e a Inclusão Digital<br />

Uma possibili<strong>da</strong>de de Inserção Social<br />

A orali<strong>da</strong>de negra na formação<br />

nacional e valorização <strong>da</strong><br />

SEPPIR<br />

Kelly Cardozo<br />

homenag<strong>em</strong><br />

João; um encantado<br />

Petrônio Souza Gonçalves<br />

especial<br />

Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

com<strong>em</strong>ora 6 anos<br />

Visibili<strong>da</strong>de, profissionalismo e equi<strong>da</strong>de<br />

nas ações<br />

Seis Anos de Excelência<br />

João Bosco de Castro<br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />

7<br />

4<br />

10<br />

13<br />

15<br />

18<br />

Caminhos <strong>da</strong> Soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de 28<br />

Andrea Neves <strong>da</strong> Cunha<br />

24<br />

26<br />

terceiro setor<br />

Valores e Resultados: um<br />

referencial de avaliação no<br />

Terceiro Setor<br />

Eloísa Helena de Souza Cabral<br />

O Terceiro Setor e o controle<br />

<strong>da</strong> Gestão Pública Municipal:<br />

lições a partir do caso de<br />

Bogotá<br />

Armindo dos Santos de Souza Teodósio<br />

defesa social<br />

A evolução <strong>da</strong> Educação na<br />

Polícia Militar de Minas Gerais<br />

Ten-Cel PM Márcio Antônio Macêdo Assunção<br />

Justiça Militar de Minas Gerais<br />

Setenta anos de existência<br />

Juiz Cel PM Rúbio Paulino Coelho<br />

Notas sobre organizações e<br />

servidores policiais<br />

Jésus Trin<strong>da</strong>de Barreto Júnior<br />

Segurança Ci<strong>da</strong>dã: qual<br />

controle?<br />

Ellen Márcia L. S. de Carvalho<br />

Corpo de Bombeiros Militar<br />

de Minas Gerais - Atuação <strong>em</strong><br />

prol <strong>da</strong> Segurança Pública<br />

José Honorato Ameno<br />

Segurança Pública no Brasil<br />

t<strong>em</strong> jeito!<br />

Luis Flavio Sapori<br />

Cultura de Paz pelo<br />

Desenvolvimento Humano:<br />

uma forma de combater a<br />

criminali<strong>da</strong>de e a violência na<br />

cont<strong>em</strong>poranei<strong>da</strong>de<br />

Álvaro Antônio Nicolau<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

sumário<br />

30<br />

33<br />

35<br />

40<br />

42<br />

46<br />

48<br />

51<br />

54<br />

3


editorial<br />

Álvaro Antônio Nicolau<br />

Superintendente-Geral <strong>da</strong> <strong>FGR</strong><br />

4 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

“<strong>FGR</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>” retoma<br />

o estímulo ao debate<br />

entre seus leitores<br />

Iniciar um projeto editorial é um trabalho árduo, mas, com muito<br />

profissionalismo, a Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> começou esse<br />

processo <strong>em</strong> sua primeira revista, <strong>em</strong> 2003. Tão penoso é esse<br />

trabalho que, somente <strong>em</strong> 2007 tiv<strong>em</strong>os fôlego para a retoma<strong>da</strong>!<br />

A <strong>FGR</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, já <strong>em</strong> 2007, retoma<br />

o estímulo ao debate franco entre seus<br />

leitores, amigos e colaboradores, com a<br />

perspectiva de troca de idéias <strong>em</strong> busca<br />

de uma reflexão saudável para a melhoria<br />

<strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas. A<br />

“<strong>FGR</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>” t<strong>em</strong> o propósito de colocar<br />

<strong>em</strong> discussão questões vincula<strong>da</strong>s à<br />

Segurança, para que a socie<strong>da</strong>de, incentiva<strong>da</strong><br />

pelo conhecimento dos profissionais<br />

<strong>da</strong> área do Sist<strong>em</strong>a de Defesa Social<br />

e estudiosos do assunto, possa se envolver<br />

e estabelecer um diálogo construtivo,<br />

e, ao final, conjugar com uma agen<strong>da</strong> positiva<br />

para a Segurança Pública, especialmente<br />

<strong>em</strong> Minas Gerais.<br />

Nesse sentido, a Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>, como to<strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de de divulgação<br />

cultural, assim como outros modelos s<strong>em</strong><br />

fins lucrativos, depende de pessoas conscientes<br />

e identifica<strong>da</strong>s com sua razão de<br />

existir, cujo senso de atenção esteja voltado<br />

e centrado nos objetivos norteadores<br />

<strong>da</strong> revista, s<strong>em</strong> descui<strong>da</strong>r dos assuntos<br />

de Polícia Ostensiva (Polícia Militar),<br />

de Polícia Investigativa (Polícia Civil), de<br />

Ações de Bombeiros (Corpo de Bombeiros<br />

Militar), de Guar<strong>da</strong>s Municipais, de<br />

qualquer outra ativi<strong>da</strong>de do Sist<strong>em</strong>a de<br />

Defesa Social ou que se associam ao Sist<strong>em</strong>a<br />

<strong>em</strong> vista à melhoria <strong>da</strong> Quali<strong>da</strong>de<br />

de Vi<strong>da</strong> do Mineiro e, por extensão, do<br />

povo de todo o Brasil.<br />

Por oportuno, registra-se, para nosso<br />

gáudio, o apoio e compreensão, porquanto<br />

não nos t<strong>em</strong> faltado de parte dos nossos<br />

colaboradores, grupo composto pelas<br />

Instituições do Sist<strong>em</strong>a de Defesa Social<br />

do Estado de Minas Gerais e Socie<strong>da</strong>de<br />

Mineira como um todo, o apoio necessário<br />

ao desenvolvimento. Ao mesmo t<strong>em</strong>po,<br />

é de se observar que o despertar, nesta<br />

linha de editoração, t<strong>em</strong> crescido de<br />

forma gradual e constante, e já adquiriu<br />

um patamar de equilíbrio e maturi<strong>da</strong>de,<br />

oportunizando tranqüili<strong>da</strong>de e segurança<br />

para continuarmos nessa caminha<strong>da</strong>, <strong>em</strong><br />

vista cumprir uma proposta de transformação<br />

sociocultural, mesmo porque, se<br />

lança<strong>da</strong> <strong>em</strong> 2003, num momento singular<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> pública brasileira no campo<br />

<strong>da</strong> Segurança Pública, hoje, esta singulari<strong>da</strong>de<br />

continua presente, s<strong>em</strong> perder de<br />

vista a missão institucional.<br />

Certamente, a partir <strong>da</strong>s matérias que a<br />

Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> divulga por<br />

este instrumento de comunicação, pretende-se,<br />

com o t<strong>em</strong>po, mais que somar,<br />

multiplicar a formação doutrinária no<br />

campo <strong>da</strong> Defesa Social, aliás, como normalmente<br />

acontece <strong>em</strong> qualquer área do<br />

conhecimento humano, quando se busca<br />

a exteriorização de conhecimentos como<br />

forma de crescimento cultural e institucional.<br />

Nesse sentido, não é exagero afirmar<br />

que a “<strong>FGR</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>”, pelo perfil


editorial que apresenta, ocupa posição<br />

ímpar no Estado de Minas Gerais<br />

e se prepara para crescer no contexto<br />

de nosso País. Neste mister, cumprimos<br />

nosso objetivo institucional.<br />

Nessa concepção, é de se fazer registro<br />

que esta enti<strong>da</strong>de, ao longo de seis<br />

anos de existência, conseguiu criar<br />

uma consciência institucional própria;<br />

conseguiu estabelecer sua identi<strong>da</strong>de,<br />

ao mesmo t<strong>em</strong>po perfeitamente sintoniza<strong>da</strong><br />

com os misteres <strong>da</strong> Defesa<br />

Social, <strong>em</strong> todos os seus matizes, especialmente<br />

Polícia Militar de Minas<br />

Gerais, s<strong>em</strong>, no entanto, perder a independência<br />

como órgão de divulgação<br />

e de prospecção do sentido de serno-mundo<br />

<strong>da</strong>s pessoas. Compreender<br />

para explicitar, esse t<strong>em</strong> sido o nosso<br />

caminho na inter-relação com todos os<br />

meios. Isso <strong>em</strong> muito se deve à persistência<br />

<strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

<strong>em</strong> manter-se nos seus limites estatutários<br />

e editoriais, s<strong>em</strong> imiscuir-se <strong>em</strong><br />

questões estranhas ou que não sejam<br />

puramente profissionais na relação<br />

com as questões de Defesa Social, porquanto<br />

t<strong>em</strong> o significado de um Sist<strong>em</strong>a<br />

ain<strong>da</strong> <strong>em</strong> construção. Aí está, talvez,<br />

um dos grandes motivos <strong>da</strong> nossa<br />

pretensa longevi<strong>da</strong>de.<br />

Nesta edição, como de costume, mostrar<strong>em</strong>os<br />

aos nossos estimados leitores<br />

um conjunto de t<strong>em</strong>as b<strong>em</strong> atuais,<br />

todos focados nas Questões Sociais e<br />

na Segurança Pública. Abor<strong>da</strong>r<strong>em</strong>os as<br />

seguintes questões sociais: “Valores e<br />

Rua Paraíba, 1441 - 8º an<strong>da</strong>r<br />

Funcionários - CEP 30130-141<br />

Belo Horizonte - MG<br />

Tel. (31) 3263-1600<br />

Endereço eletrônico<br />

www.fgr.org.br - fgr@fgr.org.br<br />

Superintendente-Geral<br />

Álvaro Antônio Nicolau<br />

<strong>em</strong> revista<br />

Resultados: um referencial de avaliação<br />

no Terceiro Setor” - Doutora Eloísa Helena<br />

de Souza Cabral; “A <strong>FGR</strong> e a Inclusão<br />

Digital: uma possibili<strong>da</strong>de de Inserção<br />

Social” - Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>;<br />

“Escola <strong>da</strong> Paz - A esperança para o século<br />

XXI” - Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>;<br />

“João; um encantado...,” de autoria do<br />

jornalista e escritor Petrônio Souza Gonçalves;<br />

“Caminhos <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de” -<br />

Sra. Andréa Neves <strong>da</strong> Cunha, Presidente<br />

do Servas. Compondo o arcabouço <strong>da</strong><br />

discussão <strong>da</strong>s questões vincula<strong>da</strong>s ao<br />

sist<strong>em</strong>a de Defesa Social, apresentar<strong>em</strong>os:<br />

“A Atuação do Corpo de Bombeiros<br />

Militar de Minas Gerais <strong>em</strong> prol <strong>da</strong><br />

Segurança Pública” - Coronel BM José<br />

Honorato Ameno, Coman<strong>da</strong>nte do Corpo<br />

de Bombeiros de Minas Gerais; “A<br />

Evolução <strong>da</strong> Educação na Polícia Militar<br />

de Minas Gerais” - Tenente-Coronel PM<br />

de Minas Gerais, Márcio Antônio Macêdo<br />

Assunção; “Segurança Pública no<br />

Brasil t<strong>em</strong> Jeito!” - Professor Luis Flavio<br />

Sapori, Coordenador do Curso de Ciências<br />

Sociais <strong>da</strong> PUC Minas e pesquisador<br />

<strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção João Pinheiro; “Segurança<br />

Ci<strong>da</strong>dã: qual Controle?”, por Ellen Márcia<br />

L. S. de Carvalho, Coordenadora do<br />

Programa de Mediação de Conflitos <strong>em</strong><br />

Belo Horizonte, MG; “O Terceiro Setor e<br />

o controle <strong>da</strong> Gestão Pública Municipal:<br />

lições a partir do caso de Bogotá” - Armindo<br />

dos Santos de Sousa Teodósio; “A<br />

Justiça Militar de Minas Gerais: setenta<br />

anos de existência” - Juiz Cel PM Rúbio<br />

Paulino Coelho; “Notas sobre organizações<br />

e servidores policiais”, de autoria<br />

Superintendente Operacional<br />

Pedro Seixas <strong>da</strong> Silva<br />

Superintendente de Administração<br />

e Finanças<br />

José Antônio Gonçalves<br />

Setor de Comunicação, Cultura e Lazer<br />

Juliana Leonel Peixoto<br />

Jornalista Responsável<br />

Stefania Cavedoni - DRT/Mtb/MG 2129<br />

Projeto Gráfico, <strong>Edição</strong> e Diagramação<br />

Jota Campelo Comunicação<br />

Tirag<strong>em</strong><br />

3 mil ex<strong>em</strong>plares<br />

editorial<br />

do Dr. Jésus Barreto Júnior, Delegado<br />

Geral <strong>da</strong> Polícia Civil de Minas Gerais;<br />

“Cultura <strong>da</strong> Paz para o Desenvolvimento<br />

Humano: uma forma de combater a<br />

criminali<strong>da</strong>de e a violência na cont<strong>em</strong>poranei<strong>da</strong>de”,<br />

de Álvaro Antônio Nicolau,<br />

Cel PM QOR - Superintendente-<br />

Geral <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> e<br />

Diretor de Segurança <strong>da</strong> FUNDAMIG<br />

(Fun<strong>da</strong>ção Mineira de Fun<strong>da</strong>ções de<br />

Direito Privado), além <strong>da</strong> entrevista realiza<strong>da</strong><br />

pela Historiadora Kelly Cardozo<br />

com a equipe <strong>da</strong> Assessoria de Comunicação<br />

<strong>da</strong> SEPPIR (Secretaria Especial<br />

Políticas de Promoção <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong>de Racial<br />

<strong>da</strong> Presidência <strong>da</strong> República) sobre<br />

“Orali<strong>da</strong>de negra na formação nacional<br />

e valorização <strong>da</strong> SEPPIR”.<br />

Nossos leitores perceberão que, neste<br />

conjunto, os articulistas fornec<strong>em</strong> um<br />

trabalho compreensivo, que nos permitirá<br />

conhecer melhor o fenômeno social e<br />

<strong>da</strong> Segurança Pública, e para o qual serão<br />

b<strong>em</strong>-vin<strong>da</strong>s to<strong>da</strong>s as colaborações e<br />

sugestões que nos ajud<strong>em</strong> a tornar ca<strong>da</strong><br />

vez melhor a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas.<br />

Quer<strong>em</strong>os a “<strong>FGR</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>” como<br />

um canal s<strong>em</strong>pre aberto para a participação,<br />

a colaboração e as suas mensagens.<br />

Somos Parte de um Todo que<br />

necessita de d<strong>em</strong>ocracia, diálogo, transparência,<br />

acesso à comunicação e à informação.<br />

Nosso estímulo é o “pensar<br />

simples”, é o “ter atitude” para confirmar<br />

a simplici<strong>da</strong>de nas ações e obter<br />

os resultados esperados.<br />

Fotos<br />

Vera Godoy / Arquivo Colaboradores <strong>FGR</strong> / BM5<br />

CBMMG / TJM<br />

Impressão<br />

Gráfica e Editora 101<br />

A Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> não se responsabiliza<br />

por conceitos <strong>em</strong>itidos <strong>em</strong> artigos assinados.<br />

É permiti<strong>da</strong> a divulgação <strong>da</strong>s informações desde<br />

que cita<strong>da</strong> a fonte.<br />

Foto de Capa<br />

Andrew Souza Moreira (Programa Escola <strong>da</strong> Paz<br />

e Projeto Portas Abertas) - Foto: Vera Godoy<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

5


espAço de eventos veredAs<br />

dA fundAção guimArães rosA<br />

Um lugar perfeito para pequenas reuniões ou grandes eventos.<br />

• 14 mil m² de área de lazer<br />

• auditório para 200 pessoas<br />

• refeitório<br />

• salas de jogos<br />

• piscinas para adultos e crianças<br />

• suítes para casal e solteiros<br />

• apartamentos coletivos com banheiro<br />

• quadras esportivas<br />

• área arboriza<strong>da</strong><br />

venha conhecer o novo <strong>em</strong>preendimento <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção guimarães rosa: espaço de eventos vere<strong>da</strong>s. ambiente<br />

rústico e aconchegante <strong>em</strong> meio à natureza, com infra-estrutura para a realização <strong>da</strong> sua reunião de negócios,<br />

grandes eventos corporativos ou sociais, ativi<strong>da</strong>des esportivas e de lazer ou simplesmente para relaxar no final de<br />

s<strong>em</strong>ana. tudo isso <strong>em</strong> bh, na região de ven<strong>da</strong> nova. Melhor impossível.<br />

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(31) 3263-1644 • (31) 3263-1610 • (31) 3263-1609 • (31) 3456-6855<br />

zilton@fgr.org.br • vere<strong>da</strong>sfgr@fgr.org.br


educação e cultura<br />

Educação: uma<br />

responsabili<strong>da</strong>de de todos<br />

“Na<strong>da</strong> é mais importante hoje do que a capacitação dos brasileiros para que possamos<br />

construir uma riqueza nacional mais sóli<strong>da</strong> e firmar uma presença ca<strong>da</strong> vez mais soberana<br />

no mundo. Isso só pode se <strong>da</strong>r pela melhoria na abrangência e na quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Educação<br />

do nosso País.” (Discurso do Presidente <strong>da</strong> República, Luiz Inácio Lula <strong>da</strong> Silva, no lançamento do PDE - Plano de<br />

Desenvolvimento <strong>da</strong> Educação - 24 de abril de 2007).<br />

O t<strong>em</strong>a Educação v<strong>em</strong> sendo exaustivamente<br />

debatido por organismos<br />

nacionais e internacionais, personali<strong>da</strong>des,<br />

educadores, governos e a socie<strong>da</strong>de.<br />

Em seu discurso na soleni<strong>da</strong>de<br />

de lançamento do PDE - Plano de Desenvolvimento<br />

<strong>da</strong> Educação, <strong>em</strong> abril<br />

de 2007, o Presidente Lula foi claro<br />

quando afirmou que “nenhum t<strong>em</strong>a é<br />

tão positivo, tão mobilizador e capaz<br />

de unir tanto o País quanto a Educação.<br />

Mas só transformar<strong>em</strong>os esta<br />

<strong>em</strong>oção física <strong>em</strong> reali<strong>da</strong>de quando<br />

houver uma profun<strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça de atitude<br />

dos governos, <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil<br />

e, muito especialmente, <strong>da</strong> família.”<br />

Mas, afinal, o que é Educação? É uma<br />

responsabili<strong>da</strong>de de todos. Ca<strong>da</strong> setor<br />

<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de deve ter um papel ativo no<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de física,<br />

moral e intelectual do ser humano.<br />

Educar não é apenas ensinar, é também<br />

aprender para a vi<strong>da</strong>.<br />

“A educação afirma valores e ações<br />

que contribu<strong>em</strong> para a formação<br />

humana, social e para a preservação<br />

ambiental. Ela estimula a formação<br />

de socie<strong>da</strong>des socialmente justas e<br />

ecologicamente equilibra<strong>da</strong>s, que<br />

conservam entre si relações de interdependência<br />

e diversi<strong>da</strong>de.” Diante<br />

de tal afirmativa, muito se discutiu<br />

sobre as bases para a integração <strong>da</strong><br />

responsabili<strong>da</strong>de individual e coletiva,<br />

assim como os princípios <strong>da</strong> educação<br />

para a construção de socie<strong>da</strong>des<br />

sustentáveis, durante “5º S<strong>em</strong>inário<br />

Nacional: Educação para uma Socie<strong>da</strong>de<br />

Sustentável”, evento simultâneo<br />

à Ecolatina - 7ª Conferência Latino-<br />

Americana sobre Meio Ambiente e<br />

Responsabili<strong>da</strong>de Social, realiza<strong>da</strong> <strong>em</strong><br />

Belo Horizonte de 16 a 19 de outubro<br />

de 2007 (www.ecolatina.com.br).<br />

O Brasil ain<strong>da</strong> está<br />

longe do ideal<br />

Apesar de todo o esforço do governo<br />

e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, um estudo recente <strong>da</strong><br />

UNESCO (Organização <strong>da</strong>s Nações<br />

Uni<strong>da</strong>s para a Educação, a Ciência<br />

e a Cultura) mostra que o Brasil<br />

está entre os 53 países que ain<strong>da</strong><br />

não atingiram, ou estão longe de<br />

atingir, até 2015, as metas do EPT<br />

(Educação para Todos): compromisso<br />

firmado por diversas nações durante<br />

a Conferência Mundial de Educação,<br />

realiza<strong>da</strong> <strong>em</strong> 2000, <strong>em</strong> Dacar, no<br />

Senegal. Entre as principais dificul<strong>da</strong>des<br />

que o País enfrenta estão as<br />

desigual<strong>da</strong>des educacionais e raciais,<br />

a situação econômica dos estu<strong>da</strong>ntes<br />

e a localização geográfica.<br />

De acordo com esse importante diagnóstico<br />

sobre a reali<strong>da</strong>de educacional<br />

brasileira, as dispari<strong>da</strong>des são mais<br />

evidentes no it<strong>em</strong> ren<strong>da</strong> familiar:<br />

“entre os jovens mais pobres, 25%<br />

estão na escola, ou seja, metade <strong>da</strong><br />

taxa apresenta<strong>da</strong> pelos jovens mais<br />

ricos; porém, menos de 1% encontrase<br />

no ensino superior, taxa que, para<br />

os mais ricos, é de 40,4%”. Também<br />

são acentua<strong>da</strong>s as desigual<strong>da</strong>des<br />

raciais, principalmente entre brancos<br />

e negros. O trabalho, denominado<br />

“Relatório de Monitoramento de EPT<br />

Brasil 2008”, foi lançado pela UNESCO<br />

<strong>em</strong> soleni<strong>da</strong>de no MEC (Ministério <strong>da</strong><br />

Educação), <strong>em</strong> Brasília, no dia 30 de<br />

abril de 2008, com presença do Ministro<br />

<strong>da</strong> Educação, Fernando Had<strong>da</strong>d,<br />

dirigentes do CONSED (Conselho<br />

Nacional de Secretários de Educação)<br />

e UNDIME (União Nacional dos<br />

Dirigentes Municipais de Educação).<br />

O evento fez parte <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des<br />

<strong>da</strong> S<strong>em</strong>ana de Ação Mundial, que<br />

<strong>em</strong> abril de 2008 abordou o t<strong>em</strong>a<br />

“Educação de Quali<strong>da</strong>de para Todos:<br />

Fim <strong>da</strong> Exclusão Já!” (UNESCO, Brasília,<br />

30/04/2008).<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

7


O que falta para o Brasil na Educação?<br />

Para o Presidente Lula, “o fortalecimento<br />

<strong>da</strong> Educação só pode se <strong>da</strong>r<br />

se houver uma mu<strong>da</strong>nça profun<strong>da</strong><br />

na quali<strong>da</strong>de e na filosofia do ensino<br />

e, para isso, é indispensável debater<br />

o ensino, a relação do Estado com o<br />

ensino e a relação <strong>da</strong> família com a<br />

Educação.” É o que se pretende com<br />

o desenvolvimento de projetos nos<br />

vários níveis educacionais, <strong>da</strong> creche<br />

ao pós-doutorado, levando-se <strong>em</strong><br />

conta fatores como alfabetização,<br />

rendimento dos alunos, taxa de<br />

repetência e evasão escolar, educação<br />

profissional, tecnologia, melhoria <strong>da</strong><br />

quali<strong>da</strong>de do ensino, aperfeiçoamento<br />

de professores e outros.<br />

O compromisso de<br />

Minas com a Educação<br />

O Estado de Minas Gerais ocupa<br />

hoje o quarto lugar no ranking <strong>da</strong><br />

Educação no Brasil, atrás somente do<br />

Distrito Federal, Rio Grande do Sul e<br />

Paraná. Em números, esta é a situação<br />

de Minas, de acordo com <strong>da</strong>dos <strong>da</strong><br />

Secretaria Estadual de Educação.<br />

• Minas Gerais possui a segun<strong>da</strong><br />

maior rede de ensino básico do País.<br />

• É o único Estado brasileiro que<br />

oferece ensino fun<strong>da</strong>mental de nove<br />

anos nas escolas públicas estaduais e<br />

municipais <strong>em</strong> 100% dos municípios.<br />

• Conta com 4,9 milhões de<br />

alunos, sendo 4,4 milhões<br />

na rede pública (90,5%).<br />

Destes, 58% estu<strong>da</strong>m na Rede<br />

Estadual.<br />

• Em 26 municípios mineiros<br />

não exist<strong>em</strong> escolas que ofereçam<br />

Ensino Médio, isso representa 2,9%<br />

do total e 1,5% <strong>da</strong> Região Sudeste.<br />

• Menos <strong>da</strong> metade dos jovens entre<br />

15 e 17 anos chegam ao Ensino Médio.<br />

8 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

• No ranking do ENEM (Exame<br />

Nacional do Ensino Médio), Belo<br />

Horizonte aparece com a melhor<br />

média entre as escolas classifica<strong>da</strong>s,<br />

com um total de 72,8 pontos. Ao<br />

mesmo t<strong>em</strong>po, apresenta a terceira<br />

pior classificação entre as escolas<br />

públicas de capitais do País, com um<br />

total de 27,4 pontos.<br />

• A capaci<strong>da</strong>de de leitura dos<br />

alunos do segundo ano do Ensino<br />

Fun<strong>da</strong>mental cresceu 6,8%, <strong>em</strong><br />

relação ao ano passado.<br />

A elevação dos níveis de aprendizag<strong>em</strong><br />

dos alunos <strong>da</strong>s escolas estaduais<br />

faz parte <strong>da</strong>s priori<strong>da</strong>des para 2008<br />

na área <strong>da</strong> Educação, além disso, é<br />

compromisso do Governo de Minas<br />

Gerais que to<strong>da</strong>s as crianças <strong>da</strong> rede<br />

pública estejam alfabetiza<strong>da</strong>s até os 8<br />

anos de i<strong>da</strong>de.<br />

educação e cultura<br />

Durante a homenag<strong>em</strong> que recebeu<br />

<strong>da</strong> Acad<strong>em</strong>ia Brasileira de Letras, no<br />

Rio de Janeiro, <strong>em</strong> dez<strong>em</strong>bro de 2007,<br />

o Governador do Estado, Aécio Neves,<br />

d<strong>em</strong>onstrou seu otimismo quanto aos<br />

resultados alcançados nos últimos anos<br />

e ressaltou os investimentos nas áreas<br />

de Educação e Cultura: “Viv<strong>em</strong>os um<br />

novo t<strong>em</strong>po e uma nova esperança <strong>em</strong><br />

Minas. Estamos orgulhosos dos resultados<br />

que nossas crianças alcançaram<br />

nos exames de avaliação independente<br />

existentes no Brasil. Voltamos a liderar<br />

<strong>em</strong> várias matérias, disputando com<br />

estados que não possu<strong>em</strong> os desníveis<br />

sociais de Minas. Continuar<strong>em</strong>os<br />

insistindo, investindo e inovando nessas<br />

áreas, porque sab<strong>em</strong>os que não há<br />

outro caminho para o desenvolvimento.”<br />

(Gazeta do Triângulo, 12 de dez<strong>em</strong>bro<br />

de 2007).<br />

Esse caminho foi aberto <strong>em</strong> outubro de<br />

2007, quando o Governador Aécio


educação e cultura<br />

implantou o PEP (Programa de Educação<br />

Profissional) e assinou decreto<br />

criando a Rede Mineira de Formação<br />

Profissional, com intuito de oferecer<br />

educação de quali<strong>da</strong>de e oportuni<strong>da</strong>des<br />

reais de trabalho para os mineiros.<br />

Em seu pronunciamento por ocasião do<br />

lançamento do programa, no Palácio<br />

<strong>da</strong> Liber<strong>da</strong>de, <strong>em</strong> Belo Horizonte, ele foi<br />

conclusivo: “Já se foi o t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que<br />

a busca devia ser por um canudo, por<br />

um diploma universitário. Isso é importante<br />

e, certamente, as oportuni<strong>da</strong>des<br />

para o acesso ao terceiro grau e ao<br />

ensino universitário também continuarão<br />

a ser amplia<strong>da</strong>s <strong>em</strong> Minas, mas o<br />

que estamos fazendo é permitindo que<br />

esses jovens se form<strong>em</strong> e se prepar<strong>em</strong><br />

e que tenham, imediatamente, condições<br />

de contribuir na sua região para<br />

o desenvolvimento de sua comuni<strong>da</strong>de<br />

e, obviamente, para o seu progresso<br />

pessoal.” (Governo do Estado)<br />

A Educação também é<br />

priori<strong>da</strong>de na Fun<strong>da</strong>ção<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

Educar os mineiros a partir <strong>da</strong> transformação<br />

e <strong>da</strong> inclusão social de crianças<br />

e adolescentes, <strong>da</strong> profissionalização<br />

de jovens e adultos, <strong>da</strong> capacitação,<br />

do treinamento e <strong>da</strong> expansão do<br />

conhecimento. Talvez esta seja uma <strong>da</strong>s<br />

estratégias que defin<strong>em</strong> com mais clareza<br />

os anseios <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> de ser reconheci<strong>da</strong> como a melhor<br />

solução de apoio aos órgãos públicos e<br />

organizações de modo geral.<br />

Nos últimos anos, a <strong>FGR</strong> v<strong>em</strong> d<strong>em</strong>onstrando<br />

seu know how na área <strong>da</strong> Educação,<br />

prioritariamente naqueles projetos<br />

que contribu<strong>em</strong> para a melhoria<br />

e o crescimento <strong>da</strong> Defesa Social <strong>em</strong><br />

Minas Gerais. O Superintendente-Geral<br />

<strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção, Álvaro Antônio Nicolau,<br />

analisou o ambiente no qual a instituição<br />

está inseri<strong>da</strong>: “Minas Gerais se destaca<br />

no cenário econômico nacional,<br />

certamente por vivenciar um período<br />

virtuoso que combina crescimento econômico,<br />

ajuste fiscal e reordenação<br />

institucional. Nesse ambiente de negócios,<br />

o Estado promove importantes<br />

inversões <strong>em</strong> projetos não só de infraestrutura,<br />

mas também de preparação<br />

de seu pessoal, no treinamento, cursos,<br />

além de concursos para compl<strong>em</strong>entação<br />

de seus quadros, mormente <strong>da</strong><br />

Defesa Social. Esse ambiente propiciou<br />

à Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, com sua<br />

expertise <strong>em</strong> cursos, concursos, treinamentos<br />

e consultorias, participar <strong>da</strong>s<br />

diversas concorrências públicas, tendo<br />

participação no processo.”(Relatório<br />

Anual 2007).<br />

Nesse cenário, vale enfatizar o alto padrão<br />

na organização de concursos para<br />

atender aos setores <strong>da</strong> administração<br />

pública <strong>em</strong> Minas, especificamente <strong>da</strong><br />

Guar<strong>da</strong> Municipal <strong>da</strong> Capital e de ci<strong>da</strong>des<br />

como Juiz de Fora, Pitangui, Contag<strong>em</strong>,<br />

Alfenas, Varginha, Sabará e Três<br />

Pontas. Além dos concursos púbicos<br />

para os cargos de nível médio e superior<br />

dos quadros permanentes <strong>da</strong>s prefeituras,<br />

e para agente de segurança<br />

penitenciária de vários municípios.<br />

Por outro lado, a parceria com a SEDS<br />

(Secretaria de Estado <strong>da</strong> Defesa Social),<br />

PMMG (Polícia Militar de Minas Gerais),<br />

Polícia Civil, Guar<strong>da</strong> Municipal e Corpo<br />

de Bombeiros Militar permite à <strong>FGR</strong><br />

criar alternativas de aperfeiçoamento,<br />

b<strong>em</strong> como promover a valorização dos<br />

profissionais de segurança pública, visando<br />

à melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de dos serviços<br />

prestados à população. Em 2007,<br />

a relação de cursos incluiu desde a capacitação<br />

dos alunos <strong>da</strong> Guar<strong>da</strong> Municipal<br />

selecionados <strong>em</strong> concurso, passando<br />

por s<strong>em</strong>inários de ação comunitária,<br />

com envolvimento dos moradores; s<strong>em</strong>inários<br />

de avaliação do Comando de<br />

Policiamento <strong>da</strong> Capital; curso de segurança<br />

preventiva orienta<strong>da</strong> ao turismo,<br />

principalmente para o circuito <strong>da</strong><br />

Estra<strong>da</strong> Real; até os treinamentos do<br />

PROERD (Programa Educacional de Resistência<br />

às Drogas e à Violência).<br />

Em 2008, a <strong>FGR</strong> lançou os cursos<br />

livres de curta duração <strong>em</strong> diversas<br />

áreas do conhecimento. O programa<br />

educacional e informativo é aberto<br />

ao público e as aulas, ministra<strong>da</strong>s por<br />

profissionais reconhecidos no mercado,<br />

acontec<strong>em</strong> na própria instituição, entre<br />

eles: “Linux - Sist<strong>em</strong>a Operacional e<br />

Pacote de Escritório”; “Contratos e<br />

Licitações”; “Mediação de Conflito”;<br />

“Existir com Sexuali<strong>da</strong>de”; e “Auditoria”.<br />

No primeiro s<strong>em</strong>estre de 2008,<br />

a <strong>FGR</strong> capacitou 120 profissionais.<br />

Importante mencionar, ain<strong>da</strong>, as diferentes<br />

formas de transmitir conceitos,<br />

conhecimentos e produtos que a <strong>FGR</strong><br />

v<strong>em</strong> adotando com êxito <strong>em</strong> conjunto<br />

com enti<strong>da</strong>des de destaca<strong>da</strong> atuação<br />

<strong>em</strong> Minas Gerais e <strong>em</strong> outros estados.<br />

Diferent<strong>em</strong>ente dos cursos de curta duração,<br />

os s<strong>em</strong>inários, workshops, palestras<br />

e fóruns atra<strong>em</strong> interessados <strong>em</strong><br />

conhecer a atuação <strong>da</strong> instituição <strong>em</strong><br />

áreas como Segurança Pública, Desenvolvimento<br />

Sustentável, Psicologia e<br />

Sociologia. Entre os principais: CISED -<br />

Ciclo de Segurança <strong>em</strong> Debate, cuja primeira<br />

palestra, no final de 2007, abordou<br />

o t<strong>em</strong>a “Desafios <strong>da</strong> Segurança<br />

Pública no Século XXI”; II S<strong>em</strong>inário de<br />

Responsabili<strong>da</strong>de Socioambiental, <strong>em</strong><br />

5 de junho de 2008; e o I Simpósio de<br />

Psicoterapia Existencial, com previsão<br />

para acontecer <strong>em</strong> set<strong>em</strong>bro de 2008.<br />

Porém, os objetivos institucionais <strong>da</strong><br />

Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> vão além e<br />

compreend<strong>em</strong> ações sociais, comunitárias,<br />

voluntariado, pesquisa e desenvolvimento<br />

institucional. Desde o início<br />

de sua trajetória, há seis anos, é marcante<br />

o trabalho <strong>em</strong> favor <strong>da</strong>s crianças,<br />

adolescentes e idosos que viv<strong>em</strong><br />

nas comuni<strong>da</strong>des carentes, sendo reconhecido<br />

por organismos formados por<br />

representantes do governo e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

civil. Ex<strong>em</strong>plos de uma atuação<br />

socioeducativa e cultural de sucesso<br />

pod<strong>em</strong> ser conferidos nesta edição do<br />

“<strong>FGR</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>”: “Escola <strong>da</strong> Paz” e<br />

“Inclusão Digital”.<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

9


Escola <strong>da</strong> Paz<br />

O século XX foi considerado o mais<br />

violento e sangrento <strong>da</strong> história.<br />

Nesse século, o mundo assistiu a<br />

duas guerras mundiais; a explosão de<br />

bombas atômicas; as crises ambientais<br />

globais; a diversos conflitos territoriais,<br />

sociais e culturais; a guerra fria; a acumulação<br />

de armas de destruição <strong>em</strong><br />

massa e o surgimento do terrorismo<br />

internacional. Atualmente, a humani<strong>da</strong>de<br />

encontra-se <strong>em</strong> um momento de<br />

transição histórica, no qual o hom<strong>em</strong><br />

é convi<strong>da</strong>do a desvencilhar-se de<br />

práticas, atitudes e comportamentos<br />

que ger<strong>em</strong> violência e a construir um<br />

mundo de paz.<br />

A construção de um mundo de paz se<br />

torna pr<strong>em</strong>ente por causa do risco <strong>da</strong><br />

autodestruição e <strong>da</strong> diss<strong>em</strong>inação <strong>da</strong><br />

violência <strong>em</strong> todos os segmentos <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de. E esse fenômeno é global.<br />

Mais do que <strong>em</strong> qualquer outro<br />

momento histórico, um clamor por<br />

mu<strong>da</strong>nças eclode no nosso t<strong>em</strong>po.<br />

Em todo o mundo, as pessoas têm<br />

sido confronta<strong>da</strong>s pela intolerância;<br />

pela violência; pela derroca<strong>da</strong> dos<br />

valores; pelo desrespeito aos direitos<br />

humanos. E isso t<strong>em</strong> contribuído para<br />

a reinstalação <strong>da</strong> barbárie, porque<br />

as pessoas estão usando a força e o<br />

derramamento de sangue para atingir<br />

interesses particulares. Para reverter<br />

esse rumo, é preciso construir uma<br />

cultura de paz, é preciso ter e viver<br />

num mundo de paz. Nessa construção,<br />

a Escola é chama<strong>da</strong> a des<strong>em</strong>penhar<br />

um papel fun<strong>da</strong>mental. Para isso,<br />

precisa estabelecer um clima dialógico<br />

e implantar uma Educação para a Paz<br />

no Século XXI.<br />

A consoli<strong>da</strong>ção desse mundo de paz<br />

requer uma Educação para ou pela<br />

Paz. A paz não é somente a resolução<br />

de guerras ou conflitos<br />

beligerantes, mas, também,<br />

a resolução de conflitos<br />

e injustiças entre as<br />

pessoas por meio do<br />

diálogo. Nesse sentido,<br />

a Escola pode contribuir<br />

para a construção de<br />

um mundo melhor ao<br />

implantar uma Educação<br />

para a Paz e promover um<br />

clima dialógico. Na medi<strong>da</strong><br />

<strong>em</strong> que o ambiente<br />

escolar favorecer a paz<br />

(e, por conseguinte, o<br />

diálogo), estará abrindo<br />

caminho para que os<br />

estu<strong>da</strong>ntes de hoje sejam<br />

os ci<strong>da</strong>dãos responsáveis<br />

e educados de amanhã. Seres<br />

humanos aptos a perpetuar a<br />

história <strong>da</strong> própria espécie e a<br />

preservar a história <strong>da</strong>s d<strong>em</strong>ais<br />

espécies e do planeta Terra.<br />

“Escola <strong>da</strong> Paz” na<br />

construção de um<br />

mudo melhor<br />

O Programa “Escola <strong>da</strong> Paz” se inscreve<br />

no esforço <strong>da</strong> construção de um<br />

mundo de paz, no qual a Educação é<br />

alicerce, coluna e viga de sustentação.<br />

Esse programa surgiu <strong>em</strong> 2007, depois<br />

que os participantes do projeto<br />

“Portas Abertas”, que eram, e muitos<br />

ain<strong>da</strong> são, alunos <strong>da</strong> Escola Estadual<br />

educação e cultura<br />

A esperança para o século XXI<br />

10 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

Henrique Diniz, divulgaram<br />

o trabalho desenvolvido<br />

pela Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> com crianças e adolescentes. Esse<br />

fato encorajou a diretora Tereza Cristina<br />

Queiroga de Morais e muitos professores<br />

<strong>da</strong> escola a formar uma parceria<br />

com a Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>.<br />

Após a realização dos primeiros contatos,<br />

a psicóloga Flávia Mônico, gestora<br />

psicossocial dos projetos sociais


educação e cultura<br />

<strong>da</strong> <strong>FGR</strong>, passou a visitar a escola e pôde<br />

constatar a existência de uma cultura<br />

de violência que conseguia desestabilizar<br />

o ambiente escolar, reproduzindo<br />

as graves dificul<strong>da</strong>des <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

brasileira. A violência gera<strong>da</strong> pela manifestação<br />

dos probl<strong>em</strong>as sociais na<br />

escola se amplificava pela falta de<br />

uma orientação educacional <strong>em</strong> favor<br />

<strong>da</strong> formação<br />

de<br />

valores civilizatórios. Diante disso, a<br />

parceria concretiza<strong>da</strong> entre a <strong>FGR</strong> e<br />

a Escola Estadual Henrique Diniz permitiu<br />

transformar as ações, atitudes<br />

e comportamentos impregnados pela<br />

cultura <strong>da</strong> violência <strong>em</strong> ações e valores<br />

de uma Educação <strong>da</strong> Paz.<br />

A Educação <strong>da</strong> Paz não busca a extinção<br />

do conflito, mas sua resolução e a mitigação<br />

<strong>da</strong>s injustiças entre as pessoas.<br />

Nesse sentido, a Educação <strong>da</strong> Paz é uma<br />

construção coletiva. Além disso, repõe<br />

ou propõe o diálogo e a negociação. Esses<br />

termos, por sua vez, implicam <strong>em</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong> e relacionamento. Desses<br />

quatro termos, <strong>em</strong>erg<strong>em</strong> os eixos norteadores<br />

do Programa “Escola <strong>da</strong> Paz”.<br />

Esses guar<strong>da</strong>m conexão com os quatro<br />

pilares - aprender a conhecer, aprender<br />

a fazer, aprender a viver juntos, aprender<br />

a ser - <strong>da</strong> Educação para o Futuro,<br />

apontados no Relatório<br />

para a UNESCO (Organização<br />

<strong>da</strong>s Nações<br />

Uni<strong>da</strong>s para a<br />

Educação, a Ciência<br />

e a Cultura) <strong>da</strong><br />

Comissão Internacional<br />

sobre Educação<br />

para o Século<br />

XXI. O eixo “diálogo”<br />

corresponde a<br />

aprender a viver<br />

juntos. O eixo “negociação”,aprender<br />

a fazer (produzir<br />

por meio de<br />

determina<strong>da</strong> ação,<br />

realizar). O eixo “aprendizag<strong>em</strong>”,<br />

a aprender a<br />

conhecer. E o eixo “relacionamento”<br />

corresponde a<br />

aprender a ser.<br />

Os eixos norteadores do Programa<br />

“Escola <strong>da</strong> Paz” estruturam as três<br />

dimensões <strong>da</strong> atuação educacional<br />

do programa: trabalho interdisciplinar<br />

com conteúdos substantivos sobre valores<br />

e paz, a valorização dos “Heróis<br />

<strong>da</strong> Paz” e a abertura <strong>da</strong> escola nos<br />

finais de s<strong>em</strong>ana.<br />

O trabalho interdisciplinar com os conteúdos<br />

substantivos busca a internalização<br />

de conhecimentos e as práticas<br />

promotoras <strong>da</strong> paz e v<strong>em</strong> sendo realizado<br />

de acordo com programação t<strong>em</strong>ática<br />

apropria<strong>da</strong> a ca<strong>da</strong> momento<br />

educacional. O trabalho interdisciplinar<br />

com conteúdos substantivos<br />

parte <strong>da</strong>s representações dos alunos,<br />

s<strong>em</strong> se fechar nelas, procurando estabelecer<br />

um ponto de entra<strong>da</strong> no sist<strong>em</strong>a<br />

cognitivo que permita a desestabilização<br />

dessas representações, além<br />

de sua organização ou reorganização<br />

com os conhecimentos abor<strong>da</strong>dos <strong>em</strong><br />

sala de aula.<br />

A valorização dos “Heróis <strong>da</strong> Paz”<br />

privilegia ações de diversos ícones pacifistas<br />

como referência para se viver e<br />

praticar a paz. Nesse trabalho, a escola<br />

cria um banco de ícones <strong>da</strong> paz e submete<br />

os estu<strong>da</strong>ntes a uma escolha do<br />

“Herói <strong>da</strong> Paz” <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> ano letivo. O<br />

herói eleito não poderá concorrer nos<br />

próximos pleitos até que todo o banco<br />

de ícones seja visto (a vi<strong>da</strong> e obra do<br />

herói serão trabalha<strong>da</strong>s nas diversas<br />

disciplinas). O exercício t<strong>em</strong> seu ponto<br />

alto no dia 21 de set<strong>em</strong>bro, “Dia Internacional<br />

<strong>da</strong> Paz”. Os alunos também<br />

poderão atuar como protagonistas<br />

<strong>da</strong> paz, inscrevendo-se nos diversos<br />

concursos culturais (poesia, re<strong>da</strong>ção,<br />

teatro, entre outros) durante o ano do<br />

“Herói <strong>da</strong> Paz”. A apresentação e pr<strong>em</strong>iação<br />

dos trabalhos vencedores ocorrerão<br />

durante a “S<strong>em</strong>ana Internacional<br />

<strong>da</strong> Paz”: uma festa cívica que celebra<br />

as ações pacifistas <strong>em</strong> âmbito local,<br />

nacional e internacional. Anualmente,<br />

as ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s na “S<strong>em</strong>ana<br />

Internacional <strong>da</strong> Paz” farão parte do<br />

“Festival Escola <strong>da</strong> Paz”. E to<strong>da</strong>s as<br />

ativi<strong>da</strong>des serão avalia<strong>da</strong>s no “Fórum<br />

<strong>da</strong> Paz”, a ser realizado no final do ano,<br />

quando os alunos poderão se inscrever<br />

para participar <strong>da</strong> programação.<br />

A professora Luciamar Rosse Reis<br />

Ferreira, <strong>da</strong> 1ª série <strong>da</strong> Escola Estadual<br />

Henrique Diniz, fala <strong>da</strong> eleição<br />

do “Herói <strong>da</strong> Paz” na turma: “Com<br />

certeza, as crianças d<strong>em</strong>onstraram<br />

entusiasmo com a eleição do representante<br />

de turma e do personag<strong>em</strong>,<br />

que foi o ‘Piu-Piu’. Tudo na minha sala<br />

t<strong>em</strong> o ‘Piu-Piu’. Da lixeirinha ao lápis<br />

e ao caderno. Tudo deles também t<strong>em</strong><br />

o personag<strong>em</strong>. A turminha do ‘Piu-Piu’<br />

deixa recadinhos para os meninos do<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

11


Ensino Médio, <strong>da</strong> manhã e <strong>da</strong> noite,<br />

e troca bilhetinhos pedindo para que<br />

eles não rasgu<strong>em</strong> a nossa mascote.<br />

As crianças participam junto comigo e<br />

isso está repercutindo na escola inteira.<br />

Na minha sala eu, como professora de<br />

primeira série, estou amando, acho<br />

que não deve acabar nunca.”<br />

A abertura <strong>da</strong> escola nos fins de<br />

s<strong>em</strong>ana se efetivará com a realização<br />

de oficinas que proporcion<strong>em</strong> lazer, esportes<br />

e cultura, mas também espaços<br />

para a convivência comunitária e o<br />

protagonismo juvenil. Essa dimensão<br />

se espelha no Programa “Abrindo<br />

Espaços - Escolas de Paz”, promovido<br />

desde 2000 pela UNESCO <strong>em</strong> parceria<br />

com o Governo Estadual do Rio de<br />

Janeiro. Abrir a escola para a comuni<strong>da</strong>de<br />

nos finais de s<strong>em</strong>ana, além<br />

do acesso ao lazer, <strong>da</strong>rá aos jovens a<br />

oportuni<strong>da</strong>de de vivenciar ações de<br />

educação para valores e para a paz.<br />

As três dimensões do trabalho educacional<br />

do Programa “Escola <strong>da</strong> Paz”<br />

buscam, essencialmente, a transformação<br />

<strong>da</strong>s ações, atitudes e comportamentos<br />

impregnados pela cultura<br />

<strong>da</strong> violência que se verifica na escola<br />

<strong>em</strong> ações e valores de uma Educação<br />

<strong>da</strong> Paz. Além <strong>da</strong> operacionalização<br />

dos seus objetivos, o Programa “Escola<br />

<strong>da</strong> Paz” pretende atingir as seguintes<br />

metas: diminuir a ocorrência de fatos<br />

violentos na escola; diminuir o insucesso<br />

escolar (notas) e a ocorrência de<br />

comportamento inadequado (qualquer<br />

ação que atente contra a estruturação<br />

<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des escolares); aumentar a<br />

participação <strong>da</strong> família do estu<strong>da</strong>nte<br />

na escola; estimular o aluno a internalizar<br />

e promover a cultura <strong>da</strong> paz; implantar<br />

a educação <strong>da</strong> paz e o ”Festival<br />

Escola <strong>da</strong> Paz”; incentivar o aluno a valorizar<br />

o diálogo, a negociação e o relacionamento;<br />

estimular o aluno a valorizar<br />

a escola e o conhecimento.<br />

12 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

O conjunto de ações proposto pelo Programa<br />

“Escola <strong>da</strong> Paz” é ousado. Sua<br />

execução requer cui<strong>da</strong>do, planejamento<br />

e esforço integrado. A primeira ação<br />

do programa na escola foi de conscientização<br />

sobre a paz com a turma 261<br />

(primeira turma de 6ª série do 2º turno<br />

escolar), no ano letivo de 2007. Esse<br />

trabalho, realizado no segundo s<strong>em</strong>estre,<br />

consistiu <strong>em</strong> uma pequena introdução<br />

<strong>da</strong> nobre tarefa de construir a<br />

Escola <strong>da</strong> Paz para o Século XXI. Feita<br />

a apresentação, foi preciso impl<strong>em</strong>entar<br />

um trabalho de maior envergadura<br />

na escola. Como o programa é muito<br />

amplo, os parceiros decidiram aplicar<br />

um teste-piloto com os 231 alunos do<br />

nível introdutório até a 4ª série e realizar<br />

uma pesquisa de clima escolar com<br />

os d<strong>em</strong>ais alunos e com todos os professores<br />

e funcionários <strong>da</strong> Escola Estadual<br />

Henrique Diniz.<br />

O teste-piloto foi iniciado <strong>em</strong> 2008<br />

com eventos de sensibilização e treinamento<br />

dos professores para a promoção<br />

<strong>da</strong> cultura de paz e <strong>da</strong> educação<br />

para a paz com os alunos do nível<br />

introdutório e de 1ª a 4ª séries. Em fevereiro,<br />

aconteceu a palestra “Vivendo<br />

Valores na Escola” com o fim de<br />

sensibilizar e motivar os professores<br />

a realizar<strong>em</strong> dinâmicas e reflexões.<br />

Simultaneamente, foram treinados<br />

18 professores para trabalhar com o<br />

material didático elaborado por uma<br />

equipe de profissionais <strong>da</strong> <strong>FGR</strong>. Esse<br />

material é composto por cadernos de<br />

ativi<strong>da</strong>des dos alunos e de orientações<br />

para os professores. O conteúdo do<br />

caderno de ativi<strong>da</strong>des enfatiza valores<br />

como convívio social, tolerância, soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de,<br />

responsabili<strong>da</strong>de, proteção<br />

à natureza, companheirismo, amor e<br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. Enfim, o teste-piloto pretende<br />

avaliar a execução <strong>da</strong>s três dimensões<br />

do trabalho educacional do<br />

Programa Escola <strong>da</strong> Paz com os alunos<br />

do introdutório e de 1ª a 4ª séries<br />

durante o ano de 2008.<br />

educação e cultura<br />

A vice-diretora <strong>da</strong> Escola Estadual<br />

Henrique Diniz, Mag<strong>da</strong> Simaria Simões,<br />

avalia os resultados dessa megaoperação<br />

<strong>em</strong> favor <strong>da</strong> paz: “Ain<strong>da</strong><br />

não t<strong>em</strong>os uma definição de tamanha<br />

grandiosi<strong>da</strong>de. Porém, já começamos<br />

a perceber mu<strong>da</strong>nças nos meninos,<br />

seu comportamento dentro de sala de<br />

aula, a relação entre os colegas e entre<br />

os professores. Então, a gente começa<br />

a ter mu<strong>da</strong>nças <strong>em</strong> relação aos procedimentos,<br />

ao resgate de valores diss<strong>em</strong>inados<br />

pela ‘Escola <strong>da</strong> Paz’.”<br />

Na pesquisa de clima escolar, será<br />

feito o diagnóstico <strong>da</strong> escola, o mapeamento<br />

<strong>da</strong>s idéias dos alunos sobre<br />

a violência escolar e a percepção que<br />

eles têm sobre o conjunto de ações<br />

do Programa “Escola <strong>da</strong> Paz”. Os<br />

primeiros passos para a construção de<br />

uma paz duradoura foram <strong>da</strong>dos. Cabe,<br />

agora, a todos os agentes envolvidos<br />

no Programa “Escola <strong>da</strong> Paz” regar e<br />

s<strong>em</strong>ear os frutos <strong>da</strong> paz.<br />

A Sra. Roselita Imacula<strong>da</strong> de Medeiros<br />

Brito, mãe de dois alunos <strong>da</strong> escola,<br />

um na <strong>3ª</strong> série e outro no Introdutório,<br />

já percebe os resultados do Programa<br />

“Escola <strong>da</strong> Paz” <strong>em</strong> casa: “Meus meninos<br />

mu<strong>da</strong>ram muito, eles não brigam<br />

mais e comentam sobre os livrinhos<br />

de ativi<strong>da</strong>des: eles gostam muito. O<br />

projeto é importante, principalmente<br />

para os meninos mais levados. Meus<br />

filhos levam to<strong>da</strong>s as novi<strong>da</strong>des e<br />

contam tudo sobre o que aprenderam<br />

na escola.”<br />

Hoje, 219 crianças são assisti<strong>da</strong>s<br />

pelo Programa “Escola <strong>da</strong> Paz”, com<br />

o total de 200 famílias beneficia<strong>da</strong>s<br />

indiretamente. Ao todo, a <strong>FGR</strong> investe<br />

R$ 2.300,00/mês <strong>em</strong> ações de transformação<br />

de atitudes e comportamentos<br />

impregnados de violência <strong>em</strong> <strong>em</strong>preendimentos<br />

de saudável convivência<br />

e de promoção contínua <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.<br />

(Foto: Projetos Escola <strong>da</strong> Paz e Portas<br />

Abertas.)


educação e cultura<br />

A parceria entre a tecnologia e os<br />

métodos pe<strong>da</strong>gógicos tradicionais facilita<br />

a integração <strong>da</strong> educação com o<br />

mercado de trabalho e a formação de<br />

crianças e adolescentes <strong>em</strong> situação<br />

de vulnerabili<strong>da</strong>de social. Da mesma<br />

forma, a Inclusão Digital, caracteriza<strong>da</strong><br />

pela efetiva d<strong>em</strong>ocratização do<br />

acesso às tecnologias digitais, t<strong>em</strong><br />

auxiliado no processo de manuseio<br />

de ferramentas <strong>da</strong> comunicação e<br />

modernas técnicas para atender o<br />

ci<strong>da</strong>dão que depende de novos meios<br />

de sobrevivência.<br />

O termo Inclusão Digital surge a partir<br />

do avanço <strong>da</strong> globalização e significa<br />

melhorar as condições de vi<strong>da</strong> de uma<br />

determina<strong>da</strong> região ou comuni<strong>da</strong>de<br />

com a aju<strong>da</strong> <strong>da</strong> tecnologia. Incluir<br />

digitalmente não é apenas “alfabetizar”<br />

digitalmente, mas melhorar<br />

A <strong>FGR</strong> e a Inclusão Digital:<br />

uma possibili<strong>da</strong>de<br />

de Inserção Social<br />

quadros sociais a partir do uso dos<br />

computadores. A Inclusão Digital é<br />

representa<strong>da</strong> por grande número de<br />

pessoas com acesso às mais diversas<br />

tecnologias <strong>da</strong> informação, à Internet<br />

e aos serviços que ela oferece.<br />

Segundo <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Getúlio<br />

Vargas e IBGE (Instituto Brasileiro de<br />

Geografia e Estatística) aproxima<strong>da</strong>mente<br />

12% dos brasileiros têm computador<br />

<strong>em</strong> suas residências e pouco<br />

mais de 8% encontram-se conectados<br />

à Internet. Esses <strong>da</strong>dos retratam<br />

como a população brasileira t<strong>em</strong> sido<br />

priva<strong>da</strong> do acesso à tecnologia.<br />

Será necessária uma política ampla<br />

que trabalhe com as particulari<strong>da</strong>des<br />

de ca<strong>da</strong> região e para que o acesso à<br />

tecnologia faça parte efetivamente <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> desses grupos sociais, atendendo<br />

Aula de Tecnologia Linux para os participantes do Projeto Portas Abertas.<br />

as necessi<strong>da</strong>des específicas de ca<strong>da</strong><br />

um deles. Dessa forma, a informação<br />

poderá ser difundi<strong>da</strong> localmente e<br />

compartilha<strong>da</strong> entre eles.<br />

Tendo <strong>em</strong> vista a importância de<br />

se promover a Inclusão Digital, a<br />

Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> investe<br />

na produção e diss<strong>em</strong>inação de conhecimento<br />

digital nas comuni<strong>da</strong>des<br />

carentes que, por falta de recursos,<br />

são excluí<strong>da</strong>s <strong>da</strong> tecnologia. A possibili<strong>da</strong>de<br />

de desenvolvimento pessoal e<br />

de vínculo social para as comuni<strong>da</strong>des<br />

está ca<strong>da</strong> vez mais próxima, com as<br />

ações promovi<strong>da</strong>s pela <strong>FGR</strong>. O Projeto<br />

“Inclusão Digital: uma possibili<strong>da</strong>de<br />

de Inserção Social”, criado <strong>em</strong> 2006,<br />

t<strong>em</strong> o objetivo de desenvolver estratégias<br />

para promover a inclusão social<br />

de comuni<strong>da</strong>des menos favoreci<strong>da</strong>s,<br />

utilizando-se de ferramentas <strong>da</strong><br />

tecnologia e <strong>da</strong> comunicação como<br />

instrumento para construção, crescimento<br />

e exercício <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.<br />

Para realizar as ativi<strong>da</strong>des do Projeto<br />

“Inclusão Digital”, a Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> dispõe de um laboratório<br />

de informática (Telecentro) com<br />

estrutura de Internet ban<strong>da</strong> larga, um<br />

computador por aluno, <strong>em</strong> turmas<br />

com dez alunos e apoio capacitado de<br />

monitoria e recursos de equipamentos<br />

multimídia. Os cursos de informática<br />

são aplicados por profissionais<br />

<strong>da</strong> área de Tecnologia <strong>da</strong> Informação<br />

com habili<strong>da</strong>des pe<strong>da</strong>gógicas, o<br />

que facilita a aprendizag<strong>em</strong> dos alunos.<br />

A metodologia do projeto prevê<br />

a aplicação de um curso básico de informática<br />

(Linux, BrOffice e Internet),<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

13


com carga horária de 56 horas, dividido<br />

nos turnos manhã e tarde.<br />

A participação de integrantes dos<br />

Programas e Projetos Sociais <strong>da</strong> <strong>FGR</strong><br />

é constante no Projeto “Inclusão<br />

Digital”. Adolescentes e jovens, entre<br />

12 e 24 anos completos, já matriculados<br />

<strong>em</strong> algum programa ou projeto,<br />

são beneficiados com os cursos de<br />

informática. Os alunos que passam<br />

pelo Projeto “Inclusão Digital”<br />

receb<strong>em</strong> conhecimento e prática para<br />

desenvolver uma consciência ci<strong>da</strong>dã<br />

e de transformação social, além de<br />

qualificação que facilita a inserção no<br />

mercado de trabalho.<br />

Número de atendidos<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

Participantes por Projeto<br />

Projeto Portas<br />

Abertas<br />

Projeto JOIA<br />

Crianças e Adolescentes assistidos pelo<br />

projeto <strong>da</strong> <strong>FGR</strong> “Inclusão Digital”, <strong>em</strong><br />

2007<br />

Com a finali<strong>da</strong>de de maximizar o uso<br />

do Telecentro <strong>FGR</strong>, gerando ren<strong>da</strong><br />

para auto-investimento, a participação<br />

do público externo também<br />

é destaque. A <strong>FGR</strong> oferece curso básico<br />

de Informática (Linux, BrOffice e<br />

Internet) e curso de Windows (Word,<br />

Excel e PowerPoint) a baixo custo<br />

para a comuni<strong>da</strong>de <strong>em</strong> geral. O projeto<br />

ain<strong>da</strong> inclui a capacitação dos colaboradores<br />

<strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>, além de professores <strong>da</strong> rede pública<br />

estadual. É o conhecimento gerador<br />

de quali<strong>da</strong>de na prestação de<br />

14 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

Número de atendidos<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Outros Segmentos<br />

Colaboradores <strong>FGR</strong> Público Externo<br />

Outros Segmentos Atendidos pelo “Inclusão<br />

Digital” <strong>em</strong> 2007<br />

serviços para a comuni<strong>da</strong>de. O IBGE<br />

(Instituto Brasileiro de Geografia e<br />

Estatística) publicou, <strong>em</strong> 2006, uma<br />

pesquisa que d<strong>em</strong>onstrava a participação<br />

dos municípios nas políticas de<br />

inclusão digital. O levantamento identificou<br />

que, <strong>em</strong> metade dos municípios<br />

(52,9%), a iniciativa foi adota<strong>da</strong>.<br />

Entre as regiões, a Sul aparece <strong>em</strong> primeiro<br />

lugar (59,4%) e a Sudeste <strong>em</strong><br />

segundo lugar, com 57,9%, na iniciativa<br />

de promover a inclusão digital.<br />

Em 2007/2008, a Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> já faz parte desta estatística.<br />

O Projeto “Inclusão Digital” foi levado<br />

para outras locali<strong>da</strong>des. A Escola Estadual<br />

Henrique Diniz recebeu a aju<strong>da</strong><br />

dos técnicos <strong>da</strong> <strong>FGR</strong> para montag<strong>em</strong> do<br />

laboratório de informática, capacitação<br />

de professores para manuseio do Sist<strong>em</strong>a<br />

de Tecnologia Linux, além de facilitar<br />

a formatura <strong>da</strong> primeira turma de<br />

“Inclusão Digital” dos alunos do Ensino<br />

Fun<strong>da</strong>mental e Médio. “Eu sou capaz<br />

de fazer! Existe um mundo informatizado<br />

e eu faço parte dele!”, é assim que<br />

a diretora Tereza Cristina Queiroga de<br />

Morais, <strong>da</strong> Escola Estadual Henrique Diniz,<br />

fala sobre a importância <strong>da</strong> inclusão<br />

digital para alunos <strong>da</strong> rede pública<br />

de ensino. “Hoje, a reali<strong>da</strong>de impõe<br />

educação e cultura<br />

esta tecnologia, que é importante e necessária<br />

no âmbito do Estado”, declara<br />

a diretora.<br />

De sonho à reali<strong>da</strong>de<br />

de um futuro melhor.<br />

O sonho de se tornar um profissional<br />

excelente e construir algo para<br />

si e para sua família estão ca<strong>da</strong> vez<br />

mais presentes na mente de um adolescente.<br />

E é isso que a <strong>FGR</strong> busca,<br />

além de proporcionar desenvolvimento<br />

pessoal e social por meio <strong>da</strong> Inclusão<br />

Digital: levar o ci<strong>da</strong>dão a entender a<br />

importância do conhecimento para<br />

vencer no mercado de trabalho.<br />

O jov<strong>em</strong> Luan Alves <strong>da</strong> Conceição,<br />

ex-participante do Projeto “Portas<br />

Abertas”, é um bom ex<strong>em</strong>plo de<br />

como a inclusão digital pode intervir<br />

de forma positiva no crescimento<br />

profissional do indivíduo. “Com a<br />

aju<strong>da</strong> do Projeto, já comecei a ter<br />

visão do que queria. Ajudou na minha<br />

formação do dia-a-dia.” Ele participou<br />

do Projeto “Inclusão Digital”<br />

e dos cursos de tecnologia Linux I e<br />

III. “Aprendi muito e me ajudou no<br />

trabalho que eu faço”. Tanto que o<br />

rapaz já foi contratado pela <strong>FGR</strong> para<br />

trabalhar no Departamento de Ensino<br />

e Pesquisa e diz que o curso é um<br />

diferencial: “A maioria <strong>da</strong>s <strong>em</strong>presas<br />

hoje utiliza essa tecnologia.”<br />

“A possibili<strong>da</strong>de<br />

de proporcionar<br />

desenvolvimento pessoal<br />

e vínculo social para a<br />

comuni<strong>da</strong>de está agora<br />

mais próxima, com as<br />

ações promovi<strong>da</strong>s pela<br />

Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”<br />

Fonte: IBGE, Disponível <strong>em</strong>:<br />

(http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1006&id_<br />

pagina=1). Acesso <strong>em</strong> 28 de abril de 2008.


educação e cultura<br />

A orali<strong>da</strong>de negra na formação<br />

nacional e valorização <strong>da</strong> SEPPIR<br />

Kelly Cardozo<br />

Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>: A SEPPIR<br />

(Secretaria Especial Políticas de<br />

Promoção <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong>de Racial<br />

<strong>da</strong> Presidência <strong>da</strong> República),<br />

<strong>em</strong> linhas gerais, foi cria<strong>da</strong> para<br />

o “reconhecimento <strong>da</strong>s lutas<br />

históricas do Movimento Negro e<br />

ampliou sua atuação para outros<br />

segmentos étnicos discriminados”.<br />

Perceb<strong>em</strong>os <strong>em</strong> algumas articulações<br />

realiza<strong>da</strong>s pela Fun<strong>da</strong>ção<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, que envolv<strong>em</strong><br />

assuntos relacionados à SEPPIR<br />

<strong>em</strong> meios públicos e privados,<br />

um desconhecimento <strong>da</strong> maioria<br />

desses mesmos setores sobre<br />

suas ações. Você poderia explicar<br />

melhor a atuação <strong>da</strong> SEPPIR e sua<br />

divulgação na socie<strong>da</strong>de?<br />

Assessoria de Comunicação <strong>da</strong><br />

SEPPIR / Presidência <strong>da</strong> República:<br />

A SEPPIR foi cria<strong>da</strong> <strong>em</strong> 2003 com a<br />

missão de coordenar as políticas públicas<br />

e ações afirmativas para a proteção<br />

dos direitos sociais de indivíduos<br />

<strong>em</strong> grupos raciais e étnicos, com ênfase<br />

na população negra e povos etnicamente<br />

discriminados, como judeus, palestinos,<br />

indígenas e ciganos. A SEPPIR<br />

é resultado <strong>da</strong> histórica luta do Movimento<br />

Negro no Brasil, b<strong>em</strong> como do<br />

reconhecimento <strong>da</strong> enorme dívi<strong>da</strong> social<br />

para com o povo negro. T<strong>em</strong> por<br />

missão acompanhar e coordenar políticas<br />

de promoção <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong>de Racial,<br />

executa<strong>da</strong>s por diferentes ministérios<br />

e outros órgãos do governo brasileiro.<br />

Além de articular, formular, promover<br />

e acompanhar a execução de diversos<br />

programas de cooperação com organismos<br />

públicos e privados, nacionais<br />

e internacionais, e, ain<strong>da</strong>, acompanhar<br />

e promover o cumprimento de acordos<br />

e convenções internacionais assinados<br />

pelo Brasil que digam respeito à promoção<br />

<strong>da</strong> Igual<strong>da</strong>de Racial e ao combate<br />

ao racismo.<br />

A Política Nacional de Promoção <strong>da</strong><br />

Igual<strong>da</strong>de Racial foi instituí<strong>da</strong> no<br />

mesmo ano, tratando de ações viáveis<br />

<strong>em</strong> longo, médio e curto prazos, primando<br />

pela defesa dos direitos, pela<br />

afirmação do caráter pluriétnico <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de brasileira, pela preservação<br />

e proteção <strong>da</strong>s terras de comuni<strong>da</strong>des<br />

r<strong>em</strong>anescentes de quilombos, pelo<br />

cumprimento <strong>da</strong> criminalização do<br />

racismo, mediante ações afirmativas e<br />

transversali<strong>da</strong>de entre a questão racial<br />

e outros fatores de vulnerabili<strong>da</strong>de.<br />

A falta de conhecimento mais amplo<br />

<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de a respeito <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des<br />

<strong>da</strong> SEPPIR talvez se explique<br />

por ser a promoção <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong>de Racial<br />

um t<strong>em</strong>a relativamente recente<br />

na agen<strong>da</strong> do Estado brasileiro; por<br />

não existir, <strong>em</strong> nenhuma outra parte<br />

do mundo, órgão governamental<br />

congênere; pela famigera<strong>da</strong> inaptidão<br />

dos veículos brasileiros de comunicação<br />

no trato com as questões<br />

raciais, o que reforça no imaginário<br />

popular o mito <strong>da</strong> d<strong>em</strong>ocracia racial<br />

brasileira; e por não ser a SEPPIR a<br />

executora final <strong>da</strong>s ações e políticas<br />

que formula e articula.<br />

<strong>FGR</strong>: O sist<strong>em</strong>a brasileiro, <strong>em</strong> geral,<br />

ain<strong>da</strong> encontra dificul<strong>da</strong>des na<br />

inserção <strong>da</strong> política de reparação<br />

<strong>da</strong> “História e Cultura Africana<br />

e Afro-Brasileira” na Educação,<br />

por intermédio <strong>da</strong> Lei Federal nº<br />

10.639, sanciona<strong>da</strong> <strong>em</strong> 2003, pois<br />

longo é o caminho <strong>da</strong> valorização<br />

cultural dessa matriz. Quais são os<br />

programas e <strong>em</strong> que áreas a SEPPIR<br />

atua? Qual é o direcionamento e<br />

como são disponibiliza<strong>da</strong>s essas<br />

ações para a socie<strong>da</strong>de?<br />

SEPPIR: O desafio <strong>da</strong> SEPPIR é fazer<br />

com que todos os agentes sociais incorpor<strong>em</strong><br />

a Política Nacional de Promoção<br />

<strong>da</strong> Igual<strong>da</strong>de Racial, seja por<br />

meio <strong>da</strong> ação direta, direcionando os<br />

programas do Governo Federal ou estimulando<br />

os estados e municípios,<br />

<strong>em</strong>presas e organizações não-governamentais,<br />

por meio de incentivos,<br />

convênios e parcerias, a adotar<strong>em</strong> programas<br />

de promoção <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong>de Racial.<br />

A mesma situação se verifica <strong>em</strong><br />

relação à adoção e cumprimento <strong>da</strong> Lei<br />

nº 10.639/03, que institui o ensino de<br />

História <strong>da</strong> África e História dos Negros<br />

no Brasil na grade curricular de to<strong>da</strong>s<br />

as escolas brasileiras de nível fun<strong>da</strong>mental<br />

e médio, sejam elas públicas<br />

ou priva<strong>da</strong>s. A Lei nº 10.639/03 altera a<br />

LDB (Lei de Diretrizes e Bases <strong>da</strong> Educação).<br />

Como a implantação <strong>da</strong> Lei é<br />

de responsabili<strong>da</strong>de dos sist<strong>em</strong>as de<br />

ensino, a atuação <strong>da</strong> SEPPIR fica restrita<br />

à transversali<strong>da</strong>de, seja com o Ministério<br />

<strong>da</strong> Educação, seja com os governos<br />

estaduais e municipais.<br />

No entanto, há poucos organismos<br />

similares à SEPPIR no Brasil,<br />

<strong>em</strong> âmbito estadual ou municipal.<br />

Não existe marco legal ou jurídico<br />

que envolva os órgãos públicos <strong>em</strong><br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

15


geral para tratar de políticas públicas<br />

volta<strong>da</strong>s para a redução <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des<br />

raciais. Para alterar esse<br />

quadro é necessário que os gestores<br />

locais assumam a responsabili<strong>da</strong>de<br />

institucional na impl<strong>em</strong>entação <strong>da</strong>s<br />

políticas de promoção de Igual<strong>da</strong>de<br />

Racial. Nesse sentido, fortalecendo<br />

o diálogo com estados e municípios,<br />

a SEPPIR constituiu o FIPIR (Fórum<br />

Intergovernamental de Promoção <strong>da</strong><br />

Igual<strong>da</strong>de Racial), que promove uma<br />

ação continua<strong>da</strong> entre as três esferas<br />

de governo (federal, estaduais e<br />

municipais) com a finali<strong>da</strong>de de articular,<br />

capacitar, planejar, executar<br />

e monitorar ações de promoção <strong>da</strong><br />

Igual<strong>da</strong>de Racial. Conseguimos avanços<br />

e o governo de alguns estados,<br />

como o Rio de Janeiro, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

já estão se preparando para adotar<br />

integralmente a medi<strong>da</strong>.<br />

Compreend<strong>em</strong>os, ain<strong>da</strong>, que a d<strong>em</strong>ora<br />

na adoção <strong>da</strong> Lei nº 10.639/03 se deve<br />

ao pequeno quantitativo de educadores<br />

capacitados para o ensino <strong>da</strong>s disciplinas<br />

<strong>em</strong> questão. Neste sentido, a<br />

SEPPIR - <strong>em</strong> parceria com a Petrobras, o<br />

Centro Brasileiro de Identi<strong>da</strong>de e Documentação<br />

do Artista Negro, a TV Globo<br />

e a Fun<strong>da</strong>ção Roberto Marinho - formulou<br />

e estu<strong>da</strong> a ampliação do Projeto<br />

“A Cor <strong>da</strong> Cultura”, que prevê a criação<br />

de conteúdos audiovisuais e impressos<br />

sobre a cultura afro-brasileira. Esse<br />

material está sendo diss<strong>em</strong>inado por<br />

meio <strong>da</strong> TV e também <strong>em</strong> duas mil escolas<br />

públicas de ensino fun<strong>da</strong>mental<br />

de vários estados do País. Para isso, os<br />

professores estão sendo capacitados<br />

para utilizá-lo <strong>em</strong> sala de aula, sendo<br />

acompanhados nessa impl<strong>em</strong>entação.<br />

Além disso, os conteúdos serão disponibilizados<br />

<strong>em</strong> uma página na Internet,<br />

que aprofun<strong>da</strong>rá os t<strong>em</strong>as tratados por<br />

meio de artigos e biografias.<br />

<strong>FGR</strong>: Ain<strong>da</strong> na questão <strong>da</strong> Educação,<br />

<strong>em</strong> março de 2008 foram altera<strong>da</strong>s<br />

a Lei nº 9.394, de Diretrizes e Bases,<br />

e a Lei nº 10.639, “Introdução<br />

16 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

<strong>da</strong> História e Cultura Africana, Afro-<br />

Brasileira”, para a Lei nº 11.645,<br />

“Introdução <strong>da</strong> História e Cultura<br />

Africana, Afro-Brasileira e Indígena”.<br />

A SEPPIR t<strong>em</strong> condições de<br />

se adequar à t<strong>em</strong>ática indígena no<br />

exercício do presente ano?<br />

SEPPIR: A comuni<strong>da</strong>de indígena é<br />

integrante do Conselho <strong>da</strong> SEPPIR.<br />

Quanto à nova Lei, foi realiza<strong>da</strong> uma<br />

reunião com os professores indígenas<br />

durante a I Conferência Nacional<br />

de Educação Básica, promovi<strong>da</strong> pelo<br />

MEC, no último mês de abril, <strong>em</strong> Brasília.<br />

Na ocasião, foi deliberado que o<br />

Comitê Nacional de Educação Escolar<br />

Indígena, vinculado ao MEC, irá debater<br />

a questão para obter uma posição<br />

sobre a melhor conduta a ser adota<strong>da</strong><br />

quanto à t<strong>em</strong>ática. Cabe destacar que<br />

a educação escolar indígena t<strong>em</strong> uma<br />

longa trajetória de construção, bastante<br />

diferencia<strong>da</strong> dos d<strong>em</strong>ais sist<strong>em</strong>as de<br />

ensino. Resta agora à SEPPIR aguar<strong>da</strong>r<br />

as diretrizes do Conselho Nacional de<br />

Educação, órgão do MEC que determina<br />

as diretrizes para a educação nacional<br />

e as decisões do próprio Comitê.<br />

<strong>FGR</strong>: Sobre o Patrimônio, o IPHAN<br />

(Instituto do Patrimônio Histórico<br />

e Artístico Nacional) sancionou o<br />

Decreto n° 3.551, de 4 de agosto<br />

de 2000: “No registro de bens culturais<br />

de natureza imaterial e preservação<br />

do patrimônio, focados<br />

no ser humano de forma inclusiva e<br />

d<strong>em</strong>ocrática”; e a UNESCO adotou<br />

a Convenção para a Salvaguar<strong>da</strong> do<br />

Patrimônio Cultural Intangível <strong>em</strong><br />

2003. No caso <strong>da</strong> SEPPIR, qual é o<br />

posicionamento <strong>em</strong> relação a esse<br />

t<strong>em</strong>a? A instituição possui departamentos<br />

específicos na t<strong>em</strong>ática<br />

<strong>da</strong> Orali<strong>da</strong>de e/ou Imateriali<strong>da</strong>de?<br />

Quais são os projetos? Ressalte os<br />

que têm cunho afrodescendente.<br />

SEPPIR: A SEPPIR atua, também, nos<br />

processos de identificação e preservação<br />

dos bens culturais de nossa<br />

educação e cultura<br />

população, colaborando com a Fun<strong>da</strong>ção<br />

Palmares, o IPHAN (Instituto<br />

do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)<br />

e outros órgãos. Um ex<strong>em</strong>plo<br />

recente foi a titulação do samba carioca<br />

como patrimônio. Em março de<br />

2008, <strong>em</strong> s<strong>em</strong>inário no Rio de Janeiro<br />

que celebrou um ano dessa titulação,<br />

começamos a discutir o programa de<br />

salvaguar<strong>da</strong> com ações volta<strong>da</strong>s para<br />

registro, recuperação e preservação<br />

dessas manifestações.<br />

<strong>FGR</strong>: Na promoção de Políticas<br />

Públicas, a SEPPIR produz materiais<br />

didático-pe<strong>da</strong>gógicos e culturais<br />

de educação patrimonial<br />

nas áreas de Patrimônio Material<br />

e Imaterial Afro?<br />

SEPPIR: A SEPPIR t<strong>em</strong> função de articular<br />

as políticas públicas volta<strong>da</strong>s para<br />

os segmentos populacionais que ain<strong>da</strong><br />

viv<strong>em</strong> sob situação de desigual<strong>da</strong>de.<br />

Dessa forma, muito de nosso esforço<br />

concentra-se <strong>em</strong> estimular entes federativos<br />

- órgãos do Governo Federal, prefeituras,<br />

governos estaduais e suas autarquias<br />

- a executar ações e a adotar<br />

políticas. Inúmeras publicações com este<br />

enfoque foram apoia<strong>da</strong>s pela SEPPIR.<br />

<strong>FGR</strong>: Explique qual procedimento<br />

as Enti<strong>da</strong>des (priva<strong>da</strong>s) que investigam<br />

o Patrimônio Material e Imaterial<br />

dev<strong>em</strong> seguir para estreitar<br />

laços e melhorar a articulação com<br />

a SEPPIR?<br />

SEPPIR: A SEPPIR está s<strong>em</strong>pre aberta<br />

e muitíssimo interessa<strong>da</strong> <strong>em</strong> estreitar<br />

laços com a socie<strong>da</strong>de civil que já manifesta<br />

suas preocupações com o patrimônio<br />

imaterial. Este tipo de parceria<br />

geralmente produz benefícios significativos.<br />

Em nossa página na Internet<br />

está publicado o Manual de Convênios<br />

que pode ser um caminho.<br />

Kelly Cardozo - Especialista <strong>em</strong> Cultura Africana<br />

e Afro-brasileira e gradua<strong>da</strong> <strong>em</strong> História.<br />

Gestora e Historiadora do Programa de Valorização<br />

<strong>da</strong> Cultura Negra <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> - <strong>FGR</strong> - Site: www.fgr.org.br


educação e cultura<br />

A cultura negra e afro-brasileira preserva<strong>da</strong><br />

<strong>em</strong> Bom Despacho<br />

“Não tenho a letra, só tenho a palavra!” Dona Fiota<br />

Na Tabatinga, comuni<strong>da</strong>de de afrodescendentes e bairro pobre de Bom Despacho (MG), ninguém conhece<br />

Dona Fiota pelo seu nome de batismo. Pode ser Fiota ou Fiotinha, mas, raramente, Maria Joaquina <strong>da</strong> Silva,<br />

a velha senhora de quase 80 anos que domina a Língua <strong>da</strong> Tabatinga: gíria de orig<strong>em</strong> banto e espécie de<br />

código secreto para conversação e troca de informações entre os moradores <strong>da</strong> locali<strong>da</strong>de. Pois há pouco<br />

t<strong>em</strong>po, a Dona Fiota resolveu que era hora de mostrar e ensinar a Língua <strong>da</strong> Tabatinga para os mais jovens,<br />

preservando, assim, a m<strong>em</strong>ória dos negros e a cultura oral de sua gente. Dessa forma, surgiu o Projeto “Dona<br />

Fiota”, como parte de um projeto maior - “Afro-Brasileiro: (Re) Criando Nossas Raízes” - desenvolvido <strong>em</strong><br />

Bom Despacho pela Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>. Um ex<strong>em</strong>plo de como as instituições, sejam elas públicas ou<br />

priva<strong>da</strong>s, pod<strong>em</strong> contribuir para a recuperação, preservação e diss<strong>em</strong>inação dos bens culturais de natureza<br />

imaterial do patrimônio brasileiro nas escolas e nos d<strong>em</strong>ais municípios mineiros.<br />

Desde 2006, a Historiadora e Especialista <strong>em</strong> Estudos Africanos e Afro-Brasileiros, Kelly Cardozo, e a Assistente de<br />

Pesquisa, Rosângela Melo Gontijo, se dedicam ao trabalho de coleta de documentos, informações e depoimentos<br />

para a elaboração de 12 cartilhas didático-pe<strong>da</strong>gógicas “Contando Saberes: Histórias <strong>da</strong> Dona Fiota”, que enfatizam<br />

t<strong>em</strong>as como história <strong>da</strong> África, vocabulário e cultura, além dos conceitos de família, plurali<strong>da</strong>de, ancestrali<strong>da</strong>de,<br />

preconceito racial e outros. Esta é uma coleção única e pioneira <strong>em</strong> que a própria Dona Fiota e uma<br />

turminha de alunos <strong>da</strong> Escola Estadual Matinho Fidelis (Bom Despacho) contam, de maneira lúdica e prazerosa,<br />

muitas histórias sobre a vin<strong>da</strong> dos negros escravos ao Brasil e como influenciaram nas tradições, costumes e valores<br />

do povo brasileiro. E mais, como a Língua <strong>da</strong> Tabatinga chegou a Bom Despacho, como foi ensina<strong>da</strong> a Dona<br />

Fiota e repassa<strong>da</strong> para os moradores <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, l<strong>em</strong>brando s<strong>em</strong>pre que a orali<strong>da</strong>de t<strong>em</strong> papel relevante<br />

na manutenção dos valores histórico-culturais do negro no Brasil. Dessas 12 cartilhas, sete já foram distribuí<strong>da</strong>s<br />

para as crianças do Ensino Fun<strong>da</strong>mental.<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

17


João; um encantado...<br />

Nasceu: rosa no sertão infindo, João<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, filho de Seu Fulô -<br />

Florduardo Pinto <strong>Rosa</strong>, e de Dona<br />

Chiquitinha - Francisca <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>, a 27 de junho de 1908. Era<br />

no signo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> um enluado, via-se<br />

b<strong>em</strong> no rosto e no olhar. Herdou no<br />

coração um burgo inteiro, uma ci<strong>da</strong>de<br />

povoa<strong>da</strong> pelas histórias mineiras que<br />

não poderia ter outro nome, senão<br />

Cordisburgo. Batizado foi de forma<br />

singular, numa pia batismal talha<strong>da</strong><br />

<strong>em</strong> milenar pedra calcária - uma<br />

estalagmite arranca<strong>da</strong> <strong>da</strong> Gruta de<br />

Maquiné. Assim, como no batismo<br />

glorificamos a nossa alma a Deus,<br />

o Encantado glorificou sua alma às<br />

coisas <strong>da</strong> sua terra, entranha<strong>da</strong>s no<br />

fundo do coração do povo, enterra<strong>da</strong>s<br />

<strong>em</strong> mistérios e transcendências, os<br />

fundos e abismos <strong>da</strong> alma, os mistérios<br />

<strong>da</strong>s grutas escuras do pensamento e<br />

sentimento humanos.<br />

Era o primeiro dos seis filhos de Dona<br />

Chiquitinha. O pai era caçador de<br />

onça e contador de história. O filho,<br />

caçou a vi<strong>da</strong> inteira as histórias <strong>da</strong>s<br />

onças que não foram caça<strong>da</strong>s, <strong>da</strong>s<br />

onças que viviam e rugiam dentro<br />

dele, para todo s<strong>em</strong>pre. Na vendinha<br />

que o pai tinha à casa g<strong>em</strong>ina<strong>da</strong>, o<br />

menino Joãzito, atento, no <strong>em</strong>bornal<br />

<strong>da</strong> m<strong>em</strong>ória, colecionava histórias dos<br />

que por ali passavam. Gente sertaneja,<br />

vaqueiros que conduziam boia<strong>da</strong>s<br />

a Cordisburgo, para <strong>em</strong>barque nos<br />

trens <strong>da</strong> Central do Brasil com destino<br />

a Belo Horizonte, Rio de Janeiro e<br />

São Paulo. O pai, com o filho ralhava:<br />

“Conversa de adulto não é para menino!”<br />

Mas Joãzito sabia muito b<strong>em</strong><br />

18 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

Petrônio Souza Gonçalves<br />

do tesouro mágico que aos seus olhos<br />

e ouvidos ali se desfral<strong>da</strong>va. Um dia,<br />

declarou: “O que eu gostava mesmo<br />

era fechar-me num quarto e trancar a<br />

porta. Deitar no chão e imaginar estórias,<br />

po<strong>em</strong>as, romances, botando todo<br />

mundo conhecido como personag<strong>em</strong>,<br />

misturando as melhores coisas vistas<br />

e ouvi<strong>da</strong>s.” Quando se fechava <strong>em</strong><br />

seu quarto, Joãzito libertava o pensamento<br />

e, montado no cavalo alado <strong>da</strong><br />

imaginação, desven<strong>da</strong>va o sertão que<br />

só conhecia pelas histórias ouvi<strong>da</strong>s na<br />

vendinha do pai.<br />

O menino Joãzito já gostava de ler,<br />

e, sentadinho no chão frio - à Bu<strong>da</strong>,<br />

se curvava diante do universo lúdico<br />

<strong>da</strong>s palavras. Assim ficava horas a fio.<br />

Certo dia, recebendo a vista do Dr.<br />

José Loureço, amigo <strong>da</strong> família, foi<br />

analisado pelo médico que estranhou<br />

o jeito do meninozinho ler, de forma<br />

tão curva<strong>da</strong>, com os olhos s<strong>em</strong>icerrados.<br />

Era miopia - vista curta - que<br />

o tornava cego para as coisas desprovi<strong>da</strong>s<br />

de translucidez, de algo além do<br />

mundo táctil normal. Via mais com os<br />

olhos do coração. Aprendeu a sentir<br />

o mundo que o cercava. Só aos nove<br />

anos de i<strong>da</strong>de, <strong>em</strong> Belo Horizonte,<br />

passou a usar óculos.<br />

Já aos sete anos, Joãzito começou<br />

sozinho, ou melhor, com os seus,<br />

a estu<strong>da</strong>r francês. Com o Frei Canísio<br />

Zoetmulder, frade franciscano<br />

holandês, iniciou-se no holandês e<br />

deu prosseguimento aos estudos de<br />

francês, que iniciara antes. Aos nove<br />

anos incompletos, foi morar com<br />

os avós na capital <strong>da</strong>s Gerais, onde<br />

terminou o curso primário no Grupo<br />

Escolar Afonso Pena. Na terra natal,<br />

foi aluno <strong>da</strong> Escola Mestre Candinho.<br />

Estudou ain<strong>da</strong> o curso secundário no<br />

Colégio Santo Antônio, <strong>em</strong> São João<br />

del Rei, por pouco t<strong>em</strong>po, retornando<br />

a Belo Horizonte e matriculando-se<br />

no Colégio Arnaldo, onde aprendeu<br />

al<strong>em</strong>ão com os padres al<strong>em</strong>ães.<br />

Algum t<strong>em</strong>po depois, definiu:<br />

homenag<strong>em</strong><br />

“Falo português, al<strong>em</strong>ão, francês,<br />

inglês, espanhol, italiano,<br />

esperanto, um pouco de russo;<br />

leio sueco, holandês, latim e grego<br />

(mas com o dicionário agarrado);<br />

entendo alguns dialetos al<strong>em</strong>ães;<br />

estudei a gramática: do húngaro,<br />

do árabe, do sânscrito, do lituânio,<br />

do polonês, do tupi, do hebraico,<br />

do japonês, do tcheco, do finlandês,<br />

do dinamarquês; bisbilhotei um<br />

pouco a respeito de outras. Mas<br />

tudo mal. E acho que estu<strong>da</strong>r o<br />

espírito e o mecanismo de outras<br />

línguas aju<strong>da</strong> muito à compreensão<br />

mais profun<strong>da</strong> do idioma nacional.<br />

Principalmente, porém, estu<strong>da</strong>ndose<br />

por divertimento, gosto e<br />

distração.”<br />

Muito mais que to<strong>da</strong>s as línguas,<br />

aprendeu a falar ao coração <strong>da</strong><br />

humani<strong>da</strong>de, a ler e a desven<strong>da</strong>r os<br />

corações e mistérios dos homens.<br />

Em 1925, matricula-se na Facul<strong>da</strong>de<br />

de Medicina <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />

de Minas Gerais, aos 16 anos. Em<br />

1929, ain<strong>da</strong> estu<strong>da</strong>nte de medicina,<br />

João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> estreou no


homenag<strong>em</strong><br />

mundo surdo <strong>da</strong>s palavras. Escreveu<br />

quatro contos: Caçador de Camurças,<br />

Chronos Kai Anagke (título grego, significando<br />

t<strong>em</strong>po e destino), O mistério<br />

de Highmore Hall e Makiné, para um<br />

concurso promovido pela revista “O<br />

Cruzeiro”. Visava mais os prêmios<br />

(c<strong>em</strong> mil réis o conto) do que propriamente<br />

a experiência literária. Todos os<br />

contos foram pr<strong>em</strong>iados e publicados<br />

com ilustrações <strong>em</strong> 1929 e 1930. Anos<br />

depois, <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> confessaria<br />

que nessa época escrevia friamente,<br />

s<strong>em</strong> paixão, preso a moldes alheios -<br />

era como se garimpasse <strong>em</strong> erra<strong>da</strong><br />

lavra. Seguindo o veio <strong>da</strong> sua vocação<br />

natural, <strong>em</strong> Tutaméia revelou o que<br />

com ele se passou: “Tudo se finge, primeiro;<br />

germina autêntico é depois.”<br />

Nele não apenas germinou, cresceu,<br />

floresceu, deu frutos e s<strong>em</strong>entes que<br />

são planta<strong>da</strong>s diariamente nos solos<br />

férteis <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> humana.<br />

Em 27 de junho de 1930, ao completar<br />

22 anos, casou-se com Lígia Cabral<br />

Penna, de apenas 16 anos. O casal<br />

teve duas filhas: Vilma e Agnes. No<br />

mesmo ano, formou-se <strong>em</strong> Medicina<br />

pela U.M.G. e, pela aclamação dos<br />

35 colegas, torna-se orador oficial <strong>da</strong><br />

turma. Seu discurso foi publicado no<br />

jornal “Minas Gerais” de 22 e 23 de<br />

dez<strong>em</strong>bro de 1930. Nele, o Encantado<br />

já perfilava o seu conhecimento lingüístico<br />

e a cultura literária clássica.<br />

Na parte final do discurso, referese<br />

à “Oração” do “illuminado<br />

Moysés Maimonides”:<br />

“Senhor, enche a minha<br />

alma de amor pela arte<br />

e por to<strong>da</strong>s as creaturas.<br />

Sustenta a força do<br />

meu coração, para que<br />

esteja s<strong>em</strong>pre prompto<br />

a servir ao pobre e<br />

ao rico, ao amigo e ao<br />

inimigo, ao bondoso e ao<br />

malvado. E faça com que<br />

eu não veja sinão o humano,<br />

naquelle que soffre!”<br />

Depois de formado, <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

foi exercer a profissão <strong>em</strong> Itaguara,<br />

então município de Itaúna (MG),<br />

onde permaneceria por cerca de dois<br />

anos. Lá, o doutor facultado, como<br />

na oração, vai conviver com a gente<br />

simples do lugar. Tornou-se amigo de<br />

Manoel Rodrigues de Carvalho,<br />

o Seu Nequinha, que morava<br />

num grotão enfurnado<br />

entre morros, conhecido<br />

por Sarandi. Seu Nequinha<br />

era adepto do<br />

espiritismo e parece ter<br />

inspirado a figura do<br />

Compadre Quel<strong>em</strong>ém,<br />

personag<strong>em</strong> de Grande<br />

Sertão: Vere<strong>da</strong>s.<br />

Ain<strong>da</strong> <strong>em</strong> Itaguara,<br />

nasceria sua primeira<br />

filha, Vilma, que, na<br />

ausência do farmacêutico<br />

oficial, fez ele mesmo o parto<br />

<strong>da</strong> primogênita. Quando saiu de<br />

Itaguara, <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> foi servir<br />

como médico voluntário <strong>da</strong> Força<br />

Pública, durante a Revolução Constitucionalista<br />

de 1932, indo parar no<br />

setor do Túnel. Posteriormente, entra<br />

para o quadro <strong>da</strong> Força Pública, por<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

19


concurso. Em 1933, vai para Barbacena<br />

na quali<strong>da</strong>de de Oficial-Médico<br />

do 9º Batalhão de Infantaria.<br />

De Barbacena, <strong>Guimarães</strong> prestou<br />

concurso para o Itamarati, obtendo<br />

o segundo lugar. Nessa época, <strong>Rosa</strong><br />

confidenciou ao seu colega, Dr. Pedro<br />

Moreira Barbosa, <strong>em</strong> carta <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> de<br />

20 de março de 1934, a sua desilusão<br />

com a medicina:<br />

“Não nasci para isso, penso. Não<br />

é esta, digo como dizia Don Juan,<br />

s<strong>em</strong>pre ‘après avoir couché avec...’<br />

Primeiramente, repugna-me<br />

qualquer trabalho material – só<br />

posso agir satisfeito no terreno <strong>da</strong>s<br />

teorias, dos textos, do raciocínio<br />

puro, dos subjetivismos. Sou um<br />

jogador de xadrez – nunca pude,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, com o bilhar ou com<br />

o futebol.”<br />

O Encantado queria mesmo era curar<br />

os homens por dentro, na sua alma,<br />

no seu coração. Por isso, com o título<br />

de doutor dos homens não foi apenas<br />

o médico-doutor, foi muito mais, foi<br />

o doutor-escritor que, com as mãos<br />

unta<strong>da</strong>s de poesia, curou muitos dos<br />

males que faz<strong>em</strong> dos homens o ser<br />

humano normal. Ele buscava o lado<br />

encantado-humano, o lado que só<br />

cabe no sentimento e derrama nas<br />

palavras... Sendo assim, anos depois,<br />

abandonou a medicina para plantar<br />

no coração de muitos um canteiro<br />

inteiro de ervas e palavras, to<strong>da</strong>s<br />

agua<strong>da</strong>s pela fonte <strong>da</strong> poesia, do<br />

etéreo, do lúdico, <strong>da</strong>s coisas que estão<br />

muito além de nós.<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> concorreu <strong>em</strong> 1936<br />

com um livro de versos intitulado<br />

Magma, ao prêmio de poesia <strong>da</strong><br />

Acad<strong>em</strong>ia Brasileira de Letras.<br />

Ganhou com louvor o primeiro lugar,<br />

encantando com seus versos o modernista<br />

Guilherme de Almei<strong>da</strong>. Anos<br />

depois, <strong>Rosa</strong> falaria sobre a sua inicial<br />

produção poética:<br />

20 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

“Meu começo, foram poesias (...)<br />

escrevi um volume na<strong>da</strong> pequeno<br />

de poesias que foram até elogia<strong>da</strong>s,<br />

e que me proporcionaram louvor.<br />

Mas aí, eu, quase diria felizmente,<br />

comecei a ser absorvido pela minha<br />

profissão: eu viajei pelo mundo,<br />

conheci muita coisa, aprendi<br />

línguas, acolhi tudo isso <strong>em</strong> mim,<br />

mas não pude mais escrever.<br />

Assim se passaram 10 anos até<br />

eu poder dedicar-me de novo à<br />

literatura. E quando eu revi, então,<br />

meus exercícios líricos, achei-os<br />

na ver<strong>da</strong>de não ruins de todo,<br />

mas também não particularmente<br />

convincentes. Sobretudo, descobri<br />

que a poesia profissional que<br />

a gente t<strong>em</strong> de lançar mão nos<br />

po<strong>em</strong>as pode ser a morte <strong>da</strong><br />

ver<strong>da</strong>deira poesia. Por isso eu me<br />

voltei para a len<strong>da</strong> heróica, o conto<br />

fabuloso, a estória simples. Por que<br />

isso são coisas que a vi<strong>da</strong> escreve,<br />

não a legali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s chama<strong>da</strong>s<br />

regras poéticas. Então, eu me sentei<br />

e comecei a escrever Sagarana.”<br />

Em 1937, <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, com uma<br />

série de contos, os reuniu <strong>em</strong> um volume<br />

para concorrer, <strong>em</strong> dez<strong>em</strong>bro<br />

do mesmo ano, ao prêmio Humberto<br />

de Campos, criado pela Livraria José<br />

Olympio Editora. A comissão julgadora<br />

desse concurso foi composta por<br />

Graciliano Ramos, Marques Rebelo,<br />

Prudente de Morais Neto, Dias <strong>da</strong><br />

Costa e Peregrino Júnior. Com o pseudônimo<br />

de Viator - do latim: o passageiro,<br />

o vian<strong>da</strong>nte - o Encantado conquistou<br />

o segundo lugar no concurso,<br />

entre os 57 candi<strong>da</strong>tos.<br />

Em 1938, <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> é nomeado<br />

Cônsul Adjunto <strong>em</strong> Hamburgo. Já na<br />

Europa, conhece aquela que seria sua<br />

segun<strong>da</strong> esposa, Aracy Moebius de<br />

Carvalho, a Dona Ara. Junto à esposa,<br />

facilitou a migração de judeus al<strong>em</strong>ães<br />

para o Brasil no período <strong>da</strong> Al<strong>em</strong>anha<br />

nazista. Pela grandeza <strong>da</strong> alma, do<br />

coração <strong>em</strong> formato de rosa, João e<br />

homenag<strong>em</strong><br />

Ara tornaram-se nome de um bosque<br />

<strong>em</strong> Jerusalém, <strong>em</strong> 1985. Talvez, de<br />

uma forma figura<strong>da</strong>, para l<strong>em</strong>brar que<br />

no meio de tantos escombros e opressões,<br />

o encantamento se encontra<br />

abaixo dos homens, escondido, mas<br />

viceja num campo <strong>em</strong> flor.<br />

Quando o governo Vargas rompeu<br />

com a Al<strong>em</strong>anha <strong>em</strong> 1942, <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> foi internado <strong>em</strong> Baden-Baden,<br />

juntamente com outros compatriotas.<br />

Os brasileiros ficaram detidos durante<br />

quatro meses e foram libertados <strong>em</strong><br />

troca de diplomatas al<strong>em</strong>ães. Retornando<br />

ao Brasil, depois de uma rápi<strong>da</strong><br />

passag<strong>em</strong> pela capital federal, <strong>Rosa</strong><br />

segue para Bogotá, como Secretário<br />

<strong>da</strong> Embaixa<strong>da</strong>, ficando lá até 1944.<br />

Em 45, de volta ao Brasil, retoma os<br />

originais dos contos com os quais<br />

concorrera ao prêmio Humberto<br />

de Campos e, após uma reflexiva<br />

revisão, publica <strong>em</strong> 1946, pela Editora<br />

Universal, Sagarana, esgotando-se no<br />

mesmo ano duas edições. A palavra sagarana,<br />

uma formação híbri<strong>da</strong> cria<strong>da</strong><br />

pelo próprio autor, é a fusão de saga,<br />

substantivo comum de proveniência<br />

germânica, aplica<strong>da</strong> genericamente<br />

a narrativas históricas ou lendárias,<br />

e rana, adjetivo tupi que significa<br />

“parecido com, malfeito, tosco”. Um<br />

dia, <strong>Rosa</strong> definiu os enigmas do livro<br />

como sendo “uma série de histórias<br />

adultas <strong>da</strong> Carochinha”.<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> é nomeado <strong>em</strong> 1946<br />

Chefe de Gabinete do ministro João Neves<br />

<strong>da</strong> Fontoura e vai a Paris como m<strong>em</strong>bro<br />

<strong>da</strong> delegação à Conferência de Paz. Em<br />

nov<strong>em</strong>bro de 1947 publica no “Correio<br />

<strong>da</strong> Manhã” a reportag<strong>em</strong> poética com<br />

o Vaqueiro Mariano, resultado de uma<br />

viag<strong>em</strong> ao pantanal matogrossense que<br />

o deixou deslumbrado, a ponto de considerar<br />

a região “um ver<strong>da</strong>deiro paraíso<br />

terrestre, um Éden”.<br />

Como Secretário-Geral <strong>da</strong> delegação<br />

brasileira, <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> vai a Bogotá


homenag<strong>em</strong><br />

<strong>em</strong> 1948 à IX Conferência Inter-Americana.<br />

De 1948 a 1950, <strong>Rosa</strong> fica <strong>em</strong><br />

Paris, como 1º Secretário e Conselheiro<br />

<strong>da</strong> Embaixa<strong>da</strong>. Em 51, volta ao Brasil e<br />

é novamente nomeado Chefe de Gabinete<br />

de João Neves <strong>da</strong> Fontoura. Em 53,<br />

torna-se Chefe <strong>da</strong> Divisão de Orçamento<br />

e, <strong>em</strong> 58, é promovido Ministro de<br />

Primeira Classe (cargo correspondente a<br />

Embaixador). Em janeiro de 62, assume<br />

a chefia do Serviço de D<strong>em</strong>arcação de<br />

Fronteiras, tendo tomado parte decisiva<br />

<strong>em</strong> momentos-chaves com relação aos<br />

casos do Pico <strong>da</strong> Neblina e <strong>da</strong>s Sete<br />

Que<strong>da</strong>s. Em 1969, <strong>em</strong> homenag<strong>em</strong> ao<br />

seu des<strong>em</strong>penho como diplomata, seu<br />

nome é <strong>da</strong>do ao pico <strong>da</strong> Cordilheira<br />

Curupira, situado na fronteira Brasil/<br />

Venezuela. Já estava acima de nós, povoava<br />

os céus, o mundo leve enevoado.<br />

Em 52, depois de viajar o mundo, sentiu<br />

o peito desabitado pelas coisas que lhe<br />

eram mais baratas, caras e raras. Sentiu<br />

que estava despovoado do sertão que<br />

lhe era tudo, o princípio, o fim e o meio.<br />

De Três Marias, <strong>da</strong> lendária fazen<strong>da</strong><br />

Sirga, saiu ele junto de um grupo de<br />

vaqueiros para fazer uma viag<strong>em</strong><br />

para dentro dele mesmo, para os seus<br />

mistérios, suas crenças, o seu mundo<br />

escuro e desabitado. Na companhia<br />

de Manuelzão, redimensionou o seu<br />

coração vasto, <strong>em</strong>poeirado de glórias<br />

e histórias. Em comitiva, <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> percorreu 40 léguas de histórias<br />

abertas nos caminhos do seu peito,<br />

<strong>da</strong> sua alma, até chegar a Araçaí. No<br />

lombo do t<strong>em</strong>po, plantou nele mesmo<br />

uma s<strong>em</strong>ente que vingaria e <strong>da</strong>ria<br />

uma árvore imensa, frondosa, debaixo<br />

de onde descansaria e escreveria as<br />

histórias mágicas, colhi<strong>da</strong>s nas curvas<br />

<strong>da</strong>s estra<strong>da</strong>s, no sabor do vento.<br />

Em 1956, <strong>Rosa</strong> reaparece com as<br />

novelas de Corpo de Baile. A partir<br />

<strong>da</strong> <strong>3ª</strong> edição, o livro se desdobra <strong>em</strong><br />

três volumes: Manuelzão e Miguilim,<br />

No Urubùquaquá, no Pinhém e Noites<br />

do Sertão. Como o ano estava a favor<br />

do vento <strong>da</strong> história, <strong>Rosa</strong> lança a 4ª<br />

edição de Sagarana, com ilustrações<br />

de Poty e, para marcar de forma definitiva<br />

a literatura nacional, aparece<br />

ele com as flores do mês de maio, com<br />

o Grande Sertão: Vere<strong>da</strong>s, ou melhor,<br />

as vere<strong>da</strong>s do grande sertão, aquele<br />

que se esconde aos nossos olhos na<br />

linha do horizonte, aquele que não se<br />

mede na linha do t<strong>em</strong>po.<br />

Como tudo que está acima de nós não<br />

v<strong>em</strong>os completamente ao primeiro<br />

olhar, o sertão de <strong>Rosa</strong> ficou um pouco<br />

desabitado pelos leitores e, vendo<br />

o equívoco histórico que se sucedia,<br />

Afonso Arinos de Melo Franco soprou<br />

aos ouvidos mais atentos:<br />

“Cui<strong>da</strong>do com esse livro, pois Grande<br />

Sertão: Vere<strong>da</strong>s é como certos<br />

casarões velhos, certas igrejas cheias<br />

de sombras. No princípio a gente<br />

entra e não vê na<strong>da</strong>. Só contornos<br />

difusos, movimentos indecisos, planos<br />

atormentados. Mas aos poucos, não é<br />

luz nova que chega; é a visão que se<br />

habitua. E, com ela, a compreensão<br />

admirativa. O imprudente ou sai logo<br />

e perde o que não viu, ou resmunga<br />

contra a escuridão, pragueja, dá<br />

rabana<strong>da</strong>s e pontapés. Então arriscase<br />

a chocar inadverti<strong>da</strong>mente contra<br />

coisas que, depois, identificará como<br />

muito belas.”<br />

Depois, muitos, todos, mergulharam<br />

na catedral mágica do Sertão grandioso<br />

para rezar as histórias mágicas<br />

do Encantado, para comungar com<br />

o que é maior, com aquilo que não<br />

se toca, mas se sente no mais fundo<br />

<strong>da</strong> alma. Era uma <strong>Rosa</strong> nascendo<br />

no sertão infindo, definitivamente,<br />

ruminant<strong>em</strong>ente.<br />

O romance recebeu três prêmios: Machado<br />

de Assis, do Instituto Nacional<br />

do Livro; o Carm<strong>em</strong> Dolores Barbosa,<br />

de São Paulo; e o Paula Brito, <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong>de<br />

do Rio de Janeiro. Em 1985,<br />

o sertão roseano era levado ao ar pela<br />

Rede Globo de televisão, entre 18 de<br />

nov<strong>em</strong>bro e 20 de dez<strong>em</strong>bro, num<br />

total de 25 capítulos, com direção de<br />

Walter Avancini.<br />

João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> candi<strong>da</strong>ta-se<br />

pela primeira vez à Acad<strong>em</strong>ia Brasileira<br />

de Letras <strong>em</strong> 1957, mas obtém<br />

apenas 10 votos. Em 58, começa a<br />

sentir pesar o coração povoado pelas<br />

coisas impregna<strong>da</strong>s pelo t<strong>em</strong>po e é<br />

acometido por distúrbios cardiovasculares.<br />

Depois de ficar por um t<strong>em</strong>po<br />

cont<strong>em</strong>plando o sertão que descobrira<br />

dentro dele mesmo, <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

reapareceu <strong>em</strong> 1962 contando as suas<br />

Primeiras Estórias, numa coletânea de<br />

21 pequenos contos.<br />

Em maio de 63, candi<strong>da</strong>ta-se pela<br />

segun<strong>da</strong> vez à Acad<strong>em</strong>ia Brasileira<br />

de Letras, na vaga deixa<strong>da</strong> por João<br />

Neves <strong>da</strong> Fontoura. Na eleição realiza<strong>da</strong><br />

no dia 8 de agosto, o Encantado<br />

é eleito por unanimi<strong>da</strong>de. Mas sua<br />

posse só aconteceria anos mais tarde.<br />

Em janeiro de 65, <strong>Rosa</strong> participa<br />

do Congresso Latino-Americano de<br />

Escritores, <strong>em</strong> Gênova. Como resultado<br />

do Congresso ficou constituí<strong>da</strong><br />

a Primeira Socie<strong>da</strong>de de Escritores<br />

Latino-Americanos. Em 66, o conto<br />

A hora e vez de Augusto Matraga<br />

torna-se, por Roberto Santos, um<br />

filme admirável, que percorre vários<br />

festivais internacionais.<br />

Em abril de 1967, <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

vai ao México como representante<br />

do Brasil no I Congresso Latino-<br />

Americano de Escritores, no qual atua<br />

como vice-presidente. Publica nesse<br />

mesmo ano Tutaméia. Tutaméia foi o<br />

último livro publicado <strong>em</strong> vi<strong>da</strong> pelo<br />

autor. Foram publicados <strong>em</strong> 1969 e<br />

1970 os livros póstumos, Estas Estórias<br />

(contendo Meu Tio, o Iauaretê) e<br />

Ave, Palavra.<br />

No dia 16 de nov<strong>em</strong>bro de 1967, o<br />

escritor depois de muito se preparar,<br />

toma posse na Acad<strong>em</strong>ia Brasileira<br />

de Letras. Já havia levado o sertão<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

21


silencioso além fronteiras. Por seu<br />

trabalho reconhecido e reverenciado<br />

mundo afora, seria, nesse mesmo<br />

ano, indicado ao prêmio Nobel de<br />

Literatura. Três dias após sua posse<br />

na Acad<strong>em</strong>ia, João, tendo a certeza de<br />

que as pessoas não foram termina<strong>da</strong>s,<br />

resolveu continuar aprendendo e estu<strong>da</strong>ndo<br />

as línguas que não são fala<strong>da</strong>s<br />

aqui, pesquisar nomes <strong>da</strong>s coisas que<br />

não estão neste mundo, ver os sertões<br />

que estão por detrás do sertão que<br />

havia dentro e fora dele mesmo.<br />

100 anos de uma<br />

obra não termina<strong>da</strong>...<br />

Depois de ficar entre nós por um instantizinho<br />

enorme, 59 anos, João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> escolheu ser novamente<br />

o menino Joãzito. Queria agora ler livros<br />

sentadinho de pernas cruza<strong>da</strong>s<br />

na esteira do céu. E, deitadinho numa<br />

nuvenzinha viajeira, passou a observar<br />

lá de cima o sertão profundo, o<br />

principio de tudo, o começo, o meio,<br />

o todo. Era o Encantando, uma rosa<br />

homenag<strong>em</strong><br />

mística no céu do Brasil, nasci<strong>da</strong> e<br />

cresci<strong>da</strong> no coração dos homens que<br />

acreditam nas transcendências, que<br />

admit<strong>em</strong> e comungam com o mistério,<br />

com o inenarrável. Com uma caneta<br />

<strong>em</strong>presta<strong>da</strong> por um anjinho de<br />

asas de manuelzinho-<strong>da</strong>-crôa, escreveu<br />

quando mal o sol se punha e lhe<br />

dourava a face, na página <strong>da</strong> história<br />

do coração <strong>da</strong> gente: travessia... Era o<br />

começo de tudo...<br />

Petrônio Souza Gonçalves é jornalista<br />

e escritor. Blog:<br />

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Windows (Sist<strong>em</strong>a Operacional e pacote de escritório)<br />

*No primeiro s<strong>em</strong>estre de 2008, a <strong>FGR</strong> capacitou 120 profissionais.<br />

Esta é a maneira mais<br />

fácil de você acompanhar<br />

as rápi<strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças que<br />

acontec<strong>em</strong> no mercado global.<br />

44 horas/aula<br />

44 horas/aula<br />

Contratos e Licitações 20 horas/aula<br />

Mediação de Conflitos<br />

40 horas/aula<br />

Auditoria 20 horas/aula<br />

Pregão 12 horas/aula<br />

Segurança Patrimonial Ampla<br />

15 horas/aula<br />

Saúde <strong>da</strong> Criança 20 horas/aula<br />

Informações e inscrições: fgr@fgr.org.br ou tel. (31) 3263-1646


DEZEMBRO DE 2001<br />

Elaboração do primeiro<br />

Estatuto <strong>da</strong> <strong>FGR</strong> pelo Comando<br />

<strong>da</strong> PMMG<br />

Instituição <strong>da</strong> <strong>FGR</strong>, conforme<br />

Resolução do Ministério Público<br />

2002<br />

Ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> <strong>FGR</strong>: apoiar<br />

ações de Segurança Pública,<br />

Habitacionais, Saúde, Educação<br />

e Capacitação, Cultura e Lazer,<br />

Ação Comunitária e Assistência<br />

Social, Administração de<br />

Recursos Humanos e Pesquisa<br />

FEVEREIRO DE 2003<br />

Primeira edição do “Informativo<br />

<strong>FGR</strong>”<br />

ABRIL DE 2003<br />

Inauguração <strong>da</strong> Clínica de<br />

Fisioterapia, no Prado<br />

JULHO DE 2003<br />

Lançamento do primeiro<br />

número <strong>da</strong> “<strong>FGR</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>”<br />

<strong>FGR</strong> participa <strong>da</strong> <strong>3ª</strong> Conferência<br />

Executiva de Segurança Pública<br />

para a América Latina<br />

AGOSTO DE 2003<br />

Abertura do Laboratório de<br />

Análises Clínicas no HPM<br />

(Hospital de Polícia Militar)<br />

DEZEMBRO DE 2003<br />

Lançamento do Projeto “Artistas<br />

<strong>da</strong> Paz - Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e Segurança<br />

Também se Faz<strong>em</strong> com Música”<br />

especial<br />

Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> com<strong>em</strong>ora 6 anos<br />

Visibili<strong>da</strong>de, profissionalismo e equi<strong>da</strong>de nas ações<br />

“Os projetos do presente são suportes para os projetos e programas de amanhã, sobretudo<br />

na elaboração de um Plano Estratégico de Viabili<strong>da</strong>de.”<br />

(Álvaro Antônio Nicolau - Superintendente-Geral <strong>da</strong> <strong>FGR</strong>).<br />

Linha do T<strong>em</strong>po<br />

Para marcar a trajetória <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>,<br />

criamos uma “Linha do T<strong>em</strong>po” com os principais fatos e<br />

as ações realiza<strong>da</strong>s nesses seis anos.<br />

JULHO DE 2004<br />

Reestruturação do Estatuto<br />

<strong>da</strong> <strong>FGR</strong><br />

AGOSTO DE 2004<br />

Abertura <strong>da</strong> Livraria APM<br />

Implantação do Cartão de<br />

Identificação dos funcionários<br />

DEZEMBRO DE 2004<br />

<strong>FGR</strong> foi declara<strong>da</strong> Enti<strong>da</strong>de de<br />

Utili<strong>da</strong>de Pública Municipal<br />

2001 2002<br />

2003 2004


especial<br />

A Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> foi<br />

instituí<strong>da</strong> <strong>em</strong> 2001 com o objetivo de<br />

atuar nas áreas de ação comunitária,<br />

assistência social, trabalho voluntário,<br />

ensino e pesquisa, b<strong>em</strong> como no<br />

desenvolvimento institucional, mediante<br />

apoio, estímulo, planejamento<br />

e execução de programas, projetos<br />

e ativi<strong>da</strong>des inerentes à segurança<br />

pública; defesa social; defesa civil;<br />

conservação e preservação do meio<br />

2005<br />

Lançamento de programas e<br />

projetos socioeducativos:<br />

“Portas Abertas” <strong>em</strong> BH;<br />

“Saúde começa no Trabalho”<br />

Lançamento do 1º Fórum de<br />

Comunicação Ativa<br />

ABRIL DE 2005<br />

<strong>FGR</strong> declara<strong>da</strong> Instituição de<br />

Utili<strong>da</strong>de Pública Estadual<br />

JULHO DE 2005<br />

Concurso Público para Guar<strong>da</strong><br />

Municipal de BH bate recorde<br />

com mais de 30 mil candi<strong>da</strong>tos<br />

inscritos<br />

DEZEMBRO DE 2005<br />

Lançamento <strong>da</strong> Biblioteca Virtual<br />

2006<br />

Lançamento do “Meninos<br />

Pela Paz” e “Primeiros<br />

Passos: Educação para o<br />

Empreendedorismo”<br />

MARÇO DE 2006<br />

<strong>FGR</strong> declara<strong>da</strong> Instituição de<br />

Utili<strong>da</strong>de Pública Federal<br />

Lançamento do Projeto “Dona<br />

Fiota”, como parte do<br />

Programa “Afro-Brasileiro: (Re)<br />

Descobrindo Nossas Raízes”<br />

JUNHO DE 2006<br />

4º aniversário <strong>da</strong> <strong>FGR</strong><br />

Pr<strong>em</strong>iação do 1º Concurso de<br />

Prosa Literocientífica “João<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”<br />

AGOSTO DE 2006<br />

Projeto “Afro-Brasili<strong>da</strong>de nas<br />

Trilhas <strong>da</strong> Cultura” aprovado<br />

pela Lei Rouanet de Incentivo<br />

à Cultura<br />

Lançamento do Programa<br />

“Inclusão Digital: Uma<br />

Possibili<strong>da</strong>de de Inserção Social”<br />

OUTUBRO DE 2006<br />

2º Fórum de Comunicação Ativa<br />

NOVEMBRO DE 2006<br />

Plano de Saúde <strong>FGR</strong><br />

Reestruturação dos projetos<br />

sociais<br />

ambiente; administração <strong>em</strong> geral;<br />

capacitação profissional; organização<br />

e execução de eventos e ativi<strong>da</strong>des<br />

conexas, para suporte de cursos de<br />

capacitação e treinamento; educação,<br />

cultura, lazer e turismo; direitos humanos<br />

e d<strong>em</strong>ocracia; gestão pública;<br />

saúde; habitação e moradia popular.<br />

Conforme Álvaro Antônio Nicolau,<br />

Superintendente-Geral, “na Fun<strong>da</strong>ção<br />

2007<br />

Programas e projetos sociais<br />

registrados nos Conselhos <strong>da</strong><br />

Criança e do Adolescente dos<br />

municípios<br />

Parceira entre <strong>FGR</strong> e Escola<br />

Estadual Henrique Diniz para<br />

viabilizar o Projeto “Escola <strong>da</strong> Paz”<br />

Inauguração <strong>da</strong> Clínica de<br />

Dermatologia no HPM<br />

MARÇO DE 2007<br />

Lançamento do I Concurso<br />

“Festas Natalinas”<br />

MAIO DE 2007<br />

Novo recorde: mais de 40 mil<br />

inscritos no concurso para<br />

Guar<strong>da</strong> Municipal de BH<br />

JUNHO DE 2007<br />

5º aniversário <strong>da</strong> <strong>FGR</strong><br />

2ª edição <strong>da</strong> “<strong>FGR</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>”<br />

Lançamento do Concurso<br />

Literário “Prêmio <strong>FGR</strong> - Coronel<br />

Alvino Alvim de Menezes”<br />

OUTUBRO DE 2007<br />

3º Fórum de Comunicação Ativa<br />

DEZEMBRO DE 2007<br />

1ª CISED - Ciclo de<br />

Segurança <strong>em</strong> Debate<br />

Captação de recursos para o<br />

“Bom na Escola, Bom de<br />

Bola” <strong>em</strong> Sete Lagoas e<br />

registro no Fundo <strong>da</strong> Infância<br />

e Adolescência<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> o pensamento de<br />

crescer passa pela equi<strong>da</strong>de nos<br />

diversos campos de atuação e no<br />

favorecimento de apresentação no<br />

sentido de Ser-vir. Pensamos que<br />

pouco, muito pouco, adianta crescer<br />

se não contribuirmos para as transformações<br />

sociais e culturais gera<strong>da</strong>s<br />

pelo trabalho conjunto com parceiros<br />

que nos apóiam, que nos envolv<strong>em</strong><br />

com energia pura e revigoradora.”<br />

2008<br />

Projetos e programas <strong>da</strong> <strong>FGR</strong><br />

aprovados pela Lei Rouanet de<br />

Incentivo à Cultura:<br />

“Afro-Brasili<strong>da</strong>de nas Trilhas<br />

de Minas”; Afro-Brasileiro:<br />

(Re)Descobrindo Nossas<br />

Raízes<br />

FEVEREIRO DE 2008<br />

Aquisição do novo Espaço de<br />

Eventos Vere<strong>da</strong>s<br />

Criação <strong>da</strong> Biblioteca<br />

Fantásticas Vere<strong>da</strong>s<br />

JUNHO DE 2008<br />

6º aniversário <strong>da</strong> <strong>FGR</strong><br />

Com<strong>em</strong>oração do centenário<br />

de nascimento de João<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, patrono<br />

<strong>da</strong> instituição<br />

2005 2006 2007 2008<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

25


Seis Anos de Excelência.<br />

João Bosco de Castro.<br />

No início de 2002, quando<br />

o então-Coman<strong>da</strong>nte-Geral <strong>da</strong><br />

Polícia Militar de Minas Gerais,<br />

Coronel Álvaro Antônio Nicolau,<br />

pediu-me síntese biográfica de um<br />

dos dois mineiros - ambos notáveis<br />

e consagrados! - finalistas do<br />

concurso adotado para a escolha<br />

de patrono de nascitura fun<strong>da</strong>ção,<br />

gesta<strong>da</strong> pela Ação F<strong>em</strong>inina de<br />

Assistência Social - AFAS -, para<br />

prestação de suporte humanístico<br />

de filosofia terceiro-setorista<br />

a quefazeres deontologicamente<br />

confiados ao Sist<strong>em</strong>a de Defesa<br />

Social de Minas Gerais, optei<br />

pelos primores de João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> - ficcionista, poeta, diplomata<br />

e Capitão-Médico <strong>da</strong>quela<br />

magnífica Força Pública Mineira<br />

dos Anos Trinta, nossa atual e esplêndi<strong>da</strong><br />

Polícia Militar. S<strong>em</strong> nenhuma<br />

dúvi<strong>da</strong> sobre seus densos<br />

predicados, o nome desse Capitão-Patriota<br />

(Oficial-Médico Voluntário)<br />

do Décimo Segundo Batalhão<br />

de Infantaria Provisório, o<br />

12º BIP, <strong>da</strong> Revolução Constitucionalista<br />

de 1932, nas cercanias <strong>da</strong><br />

Mantiqueira 1 , e, <strong>em</strong> 1933-34, Capitão-Médico<br />

do Nono Batalhão<br />

de Caçadores Mineiros sediado<br />

<strong>em</strong> Barbacena 2 , cujo quartel se<br />

assenta na Praça Capitão-Doutor<br />

João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, energizoume<br />

para a urdidura <strong>da</strong> solicita<strong>da</strong><br />

síntese biográfica. Não desconsiderei<br />

o outro Finalista <strong>da</strong>quele<br />

certame - também fulgente Oficial-Médico<br />

de nossa gloriosa Polícia<br />

Militar Mineira, alçado às glórias<br />

<strong>da</strong> política <strong>em</strong>preendedorista,<br />

26 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

como festejado Prefeito de Belo Horizonte,<br />

inesquecível Governador de<br />

Minas Gerais, insuperável Presidente<br />

<strong>da</strong> República e decente Senador desta<br />

Encantadora Pátria <strong>da</strong>s Palmeiras 3 -,<br />

mas bati o malhete <strong>em</strong> favor de qu<strong>em</strong>,<br />

entre os dois, melhor se combina com<br />

o significado altivo de POLÍCIA, do<br />

Latim Politia, Politiae, com base no<br />

Grego Politéia (πολιτέια = a Deusa<br />

<strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de), escrita por Platão, nos séculos<br />

V-IV a.C., traduzi<strong>da</strong> para o Latim<br />

como Res Publica e transposta para o<br />

Português como República): Coisa do<br />

Povo, Paz Social.<br />

Embora efêmero no serviço<br />

ativo <strong>da</strong> Polícia Militar de Minas Gerais<br />

- à qual se enfileirou s<strong>em</strong> preparo<br />

policiológico n<strong>em</strong> devoção às causas<br />

castrenses -, João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>,<br />

na condição de diplomata, ficcionista,<br />

poeta e médico, ostenta-se como sinônimo<br />

de Polícia: CIVILIZAÇÃO, melhoramento,<br />

progresso, avanço para<br />

o b<strong>em</strong>, diminuição do mal, desenvolvimento,<br />

subi<strong>da</strong>, evolução, limag<strong>em</strong>,<br />

polimento, educação, respeito, decência,<br />

conquista de novos e melhores<br />

horizontes, promoção, cultura,<br />

reforma, elegância, conserto, apuro,<br />

purificação, concerto, harmonia, equilíbrio,<br />

brunimento de caráter, organização,<br />

cui<strong>da</strong>do, esmero, proteção,<br />

consciência humanística, poder sinfrônico,<br />

raciocínio verbal, domínio<br />

estético, proativi<strong>da</strong>de, consideração,<br />

amor, aperfeiçoamento, compreensão<br />

do outro, consciência de utili<strong>da</strong>de social,<br />

transformação, HUMANIZAÇÃO,<br />

justiça, direitos humanos, comunitarismo,<br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, humil<strong>da</strong>de, crescimento<br />

eticomoral, hombri<strong>da</strong>de,<br />

especial<br />

valentia cortês, bravura respeitadora<br />

e respeitosa, bon<strong>da</strong>de, afeição, honorabili<strong>da</strong>de...<br />

Pouco depois de aprova<strong>da</strong> a<br />

pretendi<strong>da</strong> síntese biográfica escrita<br />

por mim, o vulto grandiloqüente<br />

desse Mineiro inigualável - desde<br />

21 de agosto de 1995, Patrono-<br />

Príncipe <strong>da</strong> única Acad<strong>em</strong>ia de Letras<br />

representativa de força militar,<br />

<strong>em</strong> domínios brasileiros, <strong>da</strong> qual<br />

tenho a honra de ser Presidente -<br />

passou a denominar, como Patrono<br />

Excelso, a ain<strong>da</strong>-nascitura Fun<strong>da</strong>ção<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>. Registrado o respectivo<br />

Estatuto, conheci-lhe o texto,<br />

por atenção do Coronel José Antônio<br />

Soares, seu primeiro Diretor-Geral<br />

(cargo chamado hoje de Superintendente-Geral),<br />

a cujos inteligentes<br />

esforços muito dev<strong>em</strong> o Sist<strong>em</strong>a de<br />

Defesa Social - mais explicitamente<br />

a Polícia Militar - de Minas Gerais, a<br />

prodigiosa Malha Terceiro-Setorista<br />

e a sofri<strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong>de Mineira. Os<br />

propósitos contidos <strong>em</strong> tal Estatuto<br />

coer<strong>em</strong> com a plurali<strong>da</strong>de ímpar do<br />

referido Patrono Excelso, cujas realizações<br />

estéticas (<strong>em</strong> po<strong>em</strong>as e<br />

formas varia<strong>da</strong>s e elegantes <strong>da</strong> prosa<br />

de ficção), diplomáticas e médicas<br />

elevam-no à estatura de Emérito Civilizador<br />

e Eficiente Humanizador,<br />

somente consentânea com os conteúdos<br />

eticomorais e teleodeontológicos<br />

de qu<strong>em</strong> pensa e edifica a Proteção<br />

Comunitária, a Felici<strong>da</strong>de do Povo e<br />

a Tranqüili<strong>da</strong>de Pública, entendi<strong>da</strong>s<br />

como Paz Social, competência majestática<br />

<strong>da</strong> Polícia Militar r<strong>em</strong>anescente<br />

do Alferes-Mor do Brasil: o Súpero oficial<br />

subalterno Joaquim José <strong>da</strong> Silva


especial<br />

Xavier, do Regimento Regular de Cavalaria<br />

<strong>da</strong> Capitania <strong>da</strong>s Minas Gerais,<br />

sediado, no último quartel do século<br />

XVIII, <strong>em</strong> Cachoeira do Campo de Vila<br />

Rica de Nossa Senhora do Pilar, <strong>em</strong><br />

proveito <strong>da</strong> Coisa do Povo, pensa<strong>da</strong><br />

e teci<strong>da</strong> pelo Gênio de Platão, nos<br />

séculos V e IV a.C., na monumentosa<br />

πολιτέια: Politéia, Deusa <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong>de,<br />

Protetora do Estado, matriz <strong>da</strong><br />

Paz Social, a indispensável Gestora do<br />

Sossego Público.<br />

Agora, no Centenário de Nascimento<br />

do Sublime Cordisburguense<br />

realizador de Magma, Sagarana,<br />

Grande Sertão: Vere<strong>da</strong>s e outros<br />

fantásticos Mimos <strong>da</strong> Literatura Brasileira,<br />

considero-me feliz por haver<br />

contribuído, <strong>em</strong> 2002, para a escolha<br />

do Patrono Excelso de Instituição autêntica<br />

e legitimamente comprometi<strong>da</strong><br />

com a Ética, Transparência, Justiça<br />

e Felici<strong>da</strong>de Pública, Socioeducação,<br />

Melhoramento dos Meios e Modos de<br />

Vi<strong>da</strong>, Confiança e Humanização, Autodigni<strong>da</strong>de,<br />

Autoestima, Autoaperfeiçoamento<br />

e Autorrealização, conforme<br />

aos Preceitos de Promoção Social.<br />

Tudo isso a Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> faz, com autori<strong>da</strong>de técnica,<br />

zelo jurídico e <strong>em</strong>presarial, consciência<br />

de utili<strong>da</strong>de social e dedicação<br />

às Pessoas, prioritariamente às dos<br />

Servidores do Sist<strong>em</strong>a de Defesa Social<br />

- particularmente dos Integrantes<br />

<strong>da</strong> Polícia Militar - de Minas Gerais e<br />

respectivos Dependentes.<br />

Como Colaborador Emérito<br />

dessa prestimosa e utilíssima Instituição<br />

- mais objetivamente como seu<br />

curador e provedor intelectual e acadêmico<br />

de prêmios literoculturais, e<br />

seu consultor de cenários de cultura -,<br />

repito meu juízo acerca <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>: Ela conquista respeito<br />

e credibili<strong>da</strong>de, solidez e renome<br />

de Enti<strong>da</strong>de Humanizante, por<br />

devotar-se aos melhores projetos<br />

socioeducativos revigorados na leitura<br />

sinfrônica, erudição, destreza<br />

intelectual, domínio de cosmovisão,<br />

amor à pesquisa, exercícios de debates<br />

inteligentes e propícios à<br />

autocrítica, afeição à Língua Portuguesa<br />

e ao Patrimônio Lusía<strong>da</strong>,<br />

desenvoltura lingüística e dialógica,<br />

sabedoria e habili<strong>da</strong>de para o pensamento<br />

lúcido, capaci<strong>da</strong>de para a<br />

comunicação e expressão verbal,<br />

oralmente e, acima de tudo, por<br />

meio dos engenhos mais cultos e<br />

elegantes <strong>da</strong> produção de texto,<br />

notável e densamente mediante os<br />

cânones e técnicas indispensáveis à<br />

re<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> prosa literocientífica.<br />

Graças a todo esse feliz<br />

sucesso, merec<strong>em</strong> louvores <strong>da</strong> Opinião<br />

Pública o Superintendente-Geral, Coronel<br />

Álvaro Antônio Nicolau, e sua diligente<br />

Equipe de Assessores, Técnicos<br />

e diversos outros Funcionários, por ter<br />

garantido à Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>,<br />

com o apoio de seus Conselhos Curador<br />

e Permanente, e <strong>da</strong>divosos Colaboradores,<br />

seis anos de excelência terceirosetorista,<br />

sob os auspícios do Mundializador<br />

João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>!<br />

João Bosco de Castro - Tenente-Coronel <strong>da</strong> PMMG; Presidente <strong>da</strong> Acad<strong>em</strong>ia de Letras “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”, <strong>da</strong> Polícia Militar de Minas Gerais, de cujo Conselho Superior é Presidente Emérito;<br />

Colaborador Emérito <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>; Prócere Magistral <strong>da</strong>s Ciências Militares <strong>da</strong><br />

Polícia Ostensiva; professor de Línguas Românicas e respectivas Literaturas; professor titular - ao<br />

nível de mestre, doutor e livre-docente - de Ciências Militares <strong>da</strong> Polícia Ostensiva e Disciplinas<br />

Policiológicas, na Acad<strong>em</strong>ia de Polícia Militar do Prado Mineiro.<br />

1- O Capitão-Médico Voluntário João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> serviu à Revolução de 1932, nas cercanias <strong>da</strong> Mantiqueira - não no Setor<br />

do Túnel [de Passa-Quatro], como o afirma Vilma <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> Quiney-Reeves, sua filha, <strong>em</strong> Rel<strong>em</strong>bramentos: João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>, meu pai (m<strong>em</strong>órias), 1ª ed.: Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1983, mas no Décimo Segundo Batalhão de Infantaria Provisório,<br />

instalado pelo então-Presidente do Estado Olegário Dias Maciel no eixo Ponte Nova-Barbacena-Viçosa, de acordo com importantes<br />

documentos encontrados, <strong>em</strong> 2004, pelo Coronel Antônio Fernando de Alcântara.<br />

2- Aprovado <strong>em</strong> concurso público, João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, <strong>em</strong> 1933, foi promovido ao posto de Capitão-Médico classificado no<br />

Nono Batalhão de Caçadores Mineiros - 9º BCM -, sediado <strong>em</strong> Barbacena, crista <strong>da</strong> Mantiqueira, onde serviu, até meados de<br />

1934, com o então-Tenente-Coronel Octávio Baptista Diniz, primeiro coman<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> Uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Força Pública do Estado<br />

de Minas Gerais.<br />

3- Em Tupi: Pindorama = Pindó (Palmeira) + Retama (Pátria).<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

27


Caminhos <strong>da</strong> Soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />

Andrea Neves <strong>da</strong> Cunha<br />

28 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

O SERVAS (Serviço Voluntário de Assistência<br />

Social) é uma enti<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong><br />

que articula ações que envolv<strong>em</strong><br />

uma grande rede de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de,<br />

enti<strong>da</strong>des sociais, enti<strong>da</strong>des de classe,<br />

<strong>em</strong>presas e ci<strong>da</strong>dãos <strong>em</strong> apoio ao poder<br />

publico estadual na promoção de<br />

assistência social <strong>em</strong> todo o Estado de<br />

Minas Gerais. Atua apoiando enti<strong>da</strong>des<br />

que promov<strong>em</strong> ações que buscam<br />

oferecer uma perspectiva de futuro<br />

para famílias que viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> situação<br />

de risco social.<br />

São essas ações de assistência social,<br />

voluntárias, nasci<strong>da</strong>s no encontro <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia com a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de que, estabelecendo<br />

novas formas de parceria<br />

entre pessoas, <strong>em</strong>presas e o Estado,<br />

<strong>em</strong> prol de causas comuns, aju<strong>da</strong>m<br />

a construir, cotidianamente, um<br />

modelo de Estado mais justo e<br />

participativo.<br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />

Os mineiros s<strong>em</strong>pre souberam que as<br />

ativi<strong>da</strong>des públicas não se confund<strong>em</strong><br />

e n<strong>em</strong> se limitam a ações de governo.<br />

A soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, presente nas nossas<br />

relações interpessoais e nas nossas<br />

redes de vizinhança, s<strong>em</strong>pre inspiraram<br />

a ação de movimentos voltados<br />

para a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong><br />

e defesa de direitos.<br />

Minas é o berço, no Brasil, desse<br />

espírito solidário capaz de apontar<br />

e construir novos caminhos. Aqui,<br />

s<strong>em</strong>pre se multiplicaram as iniciativas<br />

priva<strong>da</strong>s com fins públicos. T<strong>em</strong>os<br />

constituído, <strong>em</strong> Minas Gerais, uma<br />

extensa rede de enti<strong>da</strong>des sociais com<br />

competência reconheci<strong>da</strong> <strong>em</strong> todo o<br />

território nacional.<br />

O fortalecimento dessa rede t<strong>em</strong><br />

sido uma orientação estratégica de<br />

governo que reconhece a capaci<strong>da</strong>de<br />

destas enti<strong>da</strong>des <strong>em</strong> gerar projetos,<br />

<strong>em</strong>preender iniciativas, assumir responsabili<strong>da</strong>des<br />

e mobilizar recursos.<br />

O Governo de Minas t<strong>em</strong> reconhecido<br />

que essas enti<strong>da</strong>des aprenderam<br />

e acumularam conhecimentos,<br />

metodologias,<br />

experiências e recursos<br />

sobre formas inovadoras<br />

de enfrentamento <strong>da</strong>s questões<br />

sociais que as qualificam<br />

como interlocutores<br />

e parceiros <strong>da</strong>s políticas<br />

governamentais.<br />

Empenhamos-nos <strong>em</strong><br />

apoiar e construir, <strong>em</strong> Minas<br />

Gerais, uma socie<strong>da</strong>de mais


ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />

justa e solidária fun<strong>da</strong><strong>da</strong> na aliança<br />

entre conhecimento, desenvolvimento<br />

social e preservação ambiental; um<br />

modelo de desenvolvimento econômico<br />

sustentável onde economia e ética<br />

possam an<strong>da</strong>r juntas.<br />

É assim que estamos tornando Minas<br />

Gerais síntese socioeconômica do<br />

Brasil, no melhor Estado para se viver.<br />

Ex<strong>em</strong>plo dessa força solidária dos<br />

mineiros ocorreu <strong>em</strong> 2003, <strong>em</strong> uma<br />

<strong>da</strong>s maiores frentes de voluntariado<br />

<strong>da</strong> história de Minas.<br />

Ex<strong>em</strong>plo <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de transformadora<br />

<strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de dos mineiros foi<br />

a criação do Movimento Minas Solidária,<br />

sob a coordenação institucional<br />

do SERVAS, <strong>em</strong> apoio às ações do<br />

Governo do Estado através <strong>da</strong> CEDEC/<br />

MG (Coordenadoria de Defesa Civil)<br />

e Polícia Militar do Estado de Minas<br />

Gerais, reunindo as maiores enti<strong>da</strong>des<br />

de classe e sindicatos, numerosos veículos<br />

de comunicação, <strong>em</strong>presas, enti<strong>da</strong>des<br />

sociais e ci<strong>da</strong>dãos <strong>em</strong> defesa e<br />

apoio às famílias desabriga<strong>da</strong>s pelas<br />

fortes chuvas que se abateram sobre<br />

o Estado <strong>em</strong> 2003 e 2004.<br />

Na coordenação dessa grande ação solidária<br />

e voluntária de logística operacional,<br />

o SERVAS arrecadou e distribuiu,<br />

para 201 municípios, 756 tonela<strong>da</strong>s de<br />

alimentos, 23.256 colchões, 17.180 cobertores<br />

e, ain<strong>da</strong>, 1.196.836 peças de<br />

vestuário, amenizando o drama vivido<br />

por milhares de famílias.<br />

E o Movimento Minas Solidária foi<br />

além. Foram também construí<strong>da</strong>s e<br />

doa<strong>da</strong>s 953 novas moradias para as<br />

famílias que perderam suas casas <strong>em</strong><br />

60 municípios.<br />

Nos últimos anos, o SERVAS v<strong>em</strong> se<br />

dedicando a um conjunto de ações<br />

volta<strong>da</strong>s para a infância, a juventude<br />

e a população idosa, atuando <strong>em</strong> centenas<br />

de municípios de Minas, tendo<br />

como matéria-prima de seu trabalho<br />

a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de.<br />

Espaço de teatro e circo do Programa<br />

Valores de Minas.<br />

“É assim<br />

que estamos<br />

tornando Minas<br />

Gerais síntese<br />

socioeconômica<br />

do Brasil, no<br />

melhor Estado<br />

para se viver”<br />

Andrea Neves <strong>da</strong> Cunha nasceu <strong>em</strong> Belo<br />

Horizonte, é forma<strong>da</strong> <strong>em</strong> Jornalismo na PUC/<br />

RJ, trabalhou no Centro de Documentação<br />

e Pesquisa <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Getúlio Vargas e<br />

coordenou o projeto de implantação do M<strong>em</strong>orial<br />

Tancredo Neves <strong>em</strong> São João Del Rei.<br />

Foi Secretária Estadual Adjunta <strong>da</strong> Cultura no<br />

Governo Hélio Garcia. Atualmente, é diretora<br />

<strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Tancredo Neves e presidente do<br />

SERVAS - Serviço Voluntário de Assistência<br />

Social, onde coordena diversos programas<br />

sociais.Também coordenou a edição de dois<br />

livros :” São João Del Rei” e “Tancredo Neves,<br />

um hom<strong>em</strong> para o Brasil”.<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

29


Valores e Resultados<br />

A avaliação <strong>da</strong>s iniciativas sociais<br />

desenvolvi<strong>da</strong>s por organizações no<br />

Terceiro Setor (TS) apresenta a peculiari<strong>da</strong>de<br />

de ter por objeto não apenas<br />

os resultados destas iniciativas, mas<br />

também o fato de considerar, necessariamente,<br />

os valores reproduzidos<br />

nestes resultados, valores estes a<br />

partir dos quais os atores sociais envolvidos<br />

abor<strong>da</strong>m as questões sociais<br />

que motivam aquelas iniciativas. As<br />

realizações no TS se apresentam, portanto,<br />

duplamente, como projeções<br />

sociais de valores e como resultados<br />

que pretend<strong>em</strong> afetar materialmente<br />

indivíduos <strong>em</strong> socie<strong>da</strong>de, sugerindo<br />

que a reprodução de valores e a confirmação<br />

de mu<strong>da</strong>nças devam estar<br />

vincula<strong>da</strong>s. Requer-se, neste sentido,<br />

que a avaliação deva investigar os<br />

resultados como objetos susceptíveis<br />

à mensuração e apreender na medi<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> efetivi<strong>da</strong>de ou impacto deles, os indicativos<br />

de sucesso que identifiqu<strong>em</strong><br />

os valores transmitidos. Isto significa<br />

reconhecer um vínculo essencial entre<br />

resultados almejados e os valores<br />

inerentes à concepção que os atores<br />

sociais apresentam sobre as assimetrias<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>em</strong> socie<strong>da</strong>de. Cabe à<br />

avaliação a tarefa de contribuir com<br />

a gestão para mensurar os resultados<br />

e explicitar os valores que lhes são<br />

inerent<strong>em</strong>ente vinculados.<br />

terceiro setor<br />

Um referencial de avaliação<br />

no Terceiro Setor Eloisa Helena de Souza Cabral<br />

A literatura apresenta esforços de<br />

construção de métodos, a<strong>da</strong>ptações<br />

de técnicas e roteiros ou manuais<br />

de desenvolvimento de processos de<br />

avaliação para o campo do TS, muitos<br />

dos quais de sucesso. Entretanto, na<br />

execução <strong>da</strong> avaliação e na comunicação<br />

de seus achados nos deparamos<br />

com o reconhecimento n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre<br />

satisfatório <strong>da</strong> natureza especial<br />

que envolve valores e resultados na<br />

gestão de iniciativas no TS. Embora os<br />

procedimentos de avaliação quantitativa,<br />

de investigação qualitativa, do<br />

impacto e <strong>da</strong> economici<strong>da</strong>de estejam<br />

estabelecidos, são comuns interrogações<br />

acerca <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de de visões<br />

dos participantes e beneficiários <strong>da</strong>s<br />

organizações; <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de interpretativa<br />

<strong>da</strong>s abor<strong>da</strong>gens, quantitativa<br />

ou qualitativa; <strong>da</strong> intangibili<strong>da</strong>de dos<br />

benefícios; <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des organizacionais<br />

de implantação de sist<strong>em</strong>as de<br />

controle e <strong>da</strong> ausência de grupos de<br />

tratamento e controle fidedignos; <strong>da</strong><br />

limitação de métodos a<strong>da</strong>ptados <strong>da</strong><br />

área mercantil e <strong>da</strong> área pública; dos<br />

interesses dos atores a qu<strong>em</strong> se destina<br />

a avaliação; e <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de de<br />

explicações quanto às conseqüências<br />

sociais <strong>da</strong> questão a ser abor<strong>da</strong><strong>da</strong>,<br />

dos resultados atingidos e <strong>da</strong>s externali<strong>da</strong>des<br />

consegui<strong>da</strong>s. É também<br />

comum observarmos a recomen<strong>da</strong>ção<br />

“As realizações no TS se apresentam como<br />

projeções sociais de valores e como resultados<br />

que pretend<strong>em</strong> afetar materialmente<br />

indivíduos <strong>em</strong> socie<strong>da</strong>de”<br />

30 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

de <strong>em</strong>penho para a aplicação de<br />

métodos lógicos de planejamento<br />

e de cui<strong>da</strong>dos metodológicos que<br />

permitam apartar consistent<strong>em</strong>ente<br />

as fases dos programas entre meios e<br />

fins, entre causas e efeitos. Aponta-se<br />

também, a insuficiência do exame<br />

formal dos indicadores e de sua<br />

mensuração para a interpretação do<br />

impacto <strong>da</strong>s ações, considera<strong>da</strong>s por<br />

vezes intangíveis.<br />

Estas in<strong>da</strong>gações conflu<strong>em</strong> para a<br />

questão <strong>da</strong> garantia dos valores pretendidos<br />

e a efetivi<strong>da</strong>de dos resultados<br />

e indicam a necessi<strong>da</strong>de metodológica<br />

de se enfatizar dois conceitos para a<br />

avaliação peculiar <strong>da</strong>s iniciativas no TS.<br />

Trata-se <strong>da</strong> constatação dos vínculos<br />

entre os valores e resultados, ambos,<br />

objeto de mensuração; e <strong>da</strong> relevância<br />

do conceito de públicos constituintes<br />

com necessi<strong>da</strong>des, capaci<strong>da</strong>des e interesses<br />

diversos, que projetam estes<br />

valores e pretend<strong>em</strong> estes resultados.<br />

Com o concurso destes conceitos é<br />

possível construir o referencial de<br />

avaliação que esclareça e explicite<br />

quais os valores e os objetos dotados<br />

de valor que pretend<strong>em</strong>os avaliar.<br />

No momento atual de revalorização<br />

<strong>da</strong>s iniciativas no TS, associa<strong>da</strong> ao desenvolvimento<br />

<strong>da</strong> profissionalização<br />

no setor, duas outras motivações, para<br />

o desenvolvimento de metodologias<br />

de avaliação, dev<strong>em</strong> ser considera<strong>da</strong>s.<br />

De um lado a solicitação de agentes<br />

financiadores que requer<strong>em</strong> certeza<br />

<strong>da</strong> economici<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des e<br />

sua sustentabili<strong>da</strong>de e de outro, a necessi<strong>da</strong>de<br />

política dessas organizações


terceiro setor<br />

construír<strong>em</strong> um instrumento acreditador<br />

<strong>da</strong> sua capaci<strong>da</strong>de de executar<br />

propostas de abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> <strong>da</strong> questão<br />

social, de modo que as organizações<br />

do TS (OTS) sejam identifica<strong>da</strong>s socialmente<br />

como organizações autônomas,<br />

distintas <strong>da</strong>s organizações estatais<br />

e mercantis. O primeiro motivo, de<br />

ord<strong>em</strong> prática e como solicitação de<br />

curto prazo, sugere que as organizações<br />

desenvolvam procedimentos de<br />

avaliação que acredit<strong>em</strong> sua sustentabili<strong>da</strong>de;<br />

mas é o segundo motivo<br />

que indica a necessi<strong>da</strong>de de se tomar<br />

a avaliação como avanço necessário<br />

à gestão social <strong>da</strong> produção de bens<br />

públicos e como instrumento identificador<br />

do TS como um espaço social de<br />

produção destes bens.<br />

“O Terceiro Setor é o<br />

espaço de realização<br />

de esforços privados<br />

projetados sobre a<br />

questão social”<br />

A denominação Terceiro Setor é usa<strong>da</strong><br />

como designativa de um campo de<br />

relações sociais onde ativi<strong>da</strong>des,<br />

ações, <strong>em</strong>preendimentos e organizações<br />

sociais priva<strong>da</strong>s envolvi<strong>da</strong>s por<br />

propósitos solidários, expressam suas<br />

missões e participam <strong>da</strong> produção de<br />

bens públicos de proteção e desenvolvimento<br />

sociais. Ele é um espaço<br />

relacional onde lógicas diversas,<br />

discursos e racionali<strong>da</strong>des <strong>em</strong>ergindo<br />

do Estado, do setor mercantil e <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong>de, são interconectados por<br />

um propósito comum de proteção<br />

e desenvolvimento sociais. Neste<br />

sentido, o TS é o espaço de realização<br />

de esforços privados projetados sobre<br />

a questão social.<br />

As organizações surg<strong>em</strong> como formas<br />

priva<strong>da</strong>s e circunscritas por determinados<br />

públicos que nelas interag<strong>em</strong>,<br />

que atuam neste espaço público<br />

para a realização de missões. Estas<br />

missões comunicam, ou publicizam<br />

uma interpretação <strong>da</strong> questão social<br />

através de valores que se pretende<br />

sejam reproduzidos para a garantia<br />

de uma determina<strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de<br />

vi<strong>da</strong> <strong>em</strong> socie<strong>da</strong>de.<br />

Este processo de publicização no espaço<br />

público permite identificar os interesses<br />

de grupos sociais, confluentes<br />

na organização e expressos pelo que<br />

denominamos públicos constituintes:<br />

instituidores, que correspond<strong>em</strong> ao<br />

grupo original que instalou a OTS,<br />

manifestou sua missão e propiciou os<br />

recursos materiais e ideológicos iniciais;<br />

funcionários, que correspond<strong>em</strong><br />

ao grupo de indivíduos que se vincularam<br />

legalmente como <strong>em</strong>pregados<br />

<strong>da</strong> organização e assumiram, ao<br />

longo do t<strong>em</strong>po, determinado grau<br />

de identi<strong>da</strong>de com os pressupostos<br />

<strong>da</strong> organização; voluntários, como um<br />

grupo relativamente transitório que se<br />

articula à organização de modo autônomo<br />

e realiza parcelas <strong>da</strong>s tarefas, ou<br />

contribui com trabalho, participação<br />

ideológica ou <strong>em</strong>penho pessoal,<br />

não r<strong>em</strong>unerado, com intensi<strong>da</strong>de<br />

e características diversas; doadores,<br />

correspondentes ao conjunto não<br />

necessariamente articulado de indivíduos,<br />

que contribui financeiramente<br />

para a manutenção <strong>da</strong> organização;<br />

e, finalmente o público-alvo, que<br />

constitui o grupo de beneficiários dos<br />

serviços prestados pela OTS. A estes<br />

públicos estão associados valores,<br />

perspectivas, interesses e expectativas<br />

diversas como expressão de seus<br />

valores acerca <strong>da</strong> organização.<br />

Designamos o local social de interação<br />

destes públicos através do conceito<br />

de espaço público não estatal<br />

para o qual converg<strong>em</strong> atributos específicos<br />

e que não se confunde com<br />

o poder público conferido ao Estado,<br />

com o interesse econômico do mercado<br />

ou com a opinião <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

civil, mas relaciona-se com estes entes<br />

de maneira intermediária. Estes atributos<br />

são: representativi<strong>da</strong>de de interesses<br />

coletivos; d<strong>em</strong>ocratização;<br />

quali<strong>da</strong>de; efetivi<strong>da</strong>de dos resultados:<br />

visibili<strong>da</strong>de social; cultura pública; universali<strong>da</strong>de;<br />

autonomia; controle social;<br />

e sustentabili<strong>da</strong>de.<br />

Este conceito de espaço público<br />

dialoga com a concepção do TS como<br />

um campo com condições fronteiriças<br />

com o Estado, o mercado e a<br />

comuni<strong>da</strong>de. Os atributos do espaço<br />

público quando aplicados ao lugar<br />

social onde os públicos constituintes<br />

<strong>em</strong> organização, operam as iniciativas<br />

localiza<strong>da</strong>s, permit<strong>em</strong> compreender o<br />

TS como região de fluxos e influências,<br />

tensões e interesses presentes na<br />

socie<strong>da</strong>de civil, que se explicitam sob<br />

modos cooperativos e solidários. Neste<br />

sentido, a presença dos atributos garante<br />

a publicização <strong>da</strong>s iniciativas e<br />

de sua pertinência ao espaço público<br />

de realização de valores e resultados.<br />

A gestão <strong>da</strong>s organizações e programas<br />

no TS é insta<strong>da</strong> a produzir<br />

os resultados, perseguindo a reprodução<br />

dos valores, que estão na<br />

orig<strong>em</strong> <strong>da</strong> representação <strong>da</strong> questão<br />

social assumi<strong>da</strong> pelos públicos constituintes.<br />

Em pesquisa recente mostramos<br />

que a gestão <strong>da</strong>s OTS relega<br />

o controle a um plano subalterno<br />

comparativamente às outras funções<br />

<strong>da</strong> gestão, direção, planejamento e<br />

organização, sendo aponta<strong>da</strong> pelos<br />

“A presença dos<br />

atributos garante<br />

a publicização <strong>da</strong>s<br />

iniciativas e de<br />

sua pertinência ao<br />

espaço público de<br />

realização de valores<br />

e resultados”<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

31


gestores pesquisados como a menos<br />

desenvolvi<strong>da</strong> e menos importante<br />

delas. Propus<strong>em</strong>os então que para<br />

incorporarmos visão dos diversos<br />

públicos constituintes e a condição<br />

intermediária do TS como espaço<br />

público deveria caber á avaliação,<br />

como ferramenta à disposição <strong>da</strong><br />

gestão social, considerar os valores<br />

do espaço de arregimentação destes<br />

esforços e sua reprodução como<br />

condição de verificação do cumprimento<br />

<strong>da</strong> missão.<br />

A construção de um referencial para<br />

a avaliação <strong>da</strong>s iniciativas desenvolvi<strong>da</strong>s<br />

no TS, que considere os seus<br />

públicos constituintes, requer que<br />

se examin<strong>em</strong> quais resultados encampam<br />

valores para estes públicos<br />

e quão valiosos são estes resultados.<br />

Estas questões procuram configurar<br />

as condições de realização <strong>da</strong><br />

missão enquanto perspectiva de<br />

desenvolvimento de uma iniciativa<br />

que agregue aqueles indivíduos.<br />

É nesse sentido que pod<strong>em</strong>os nos<br />

referir à avaliação do cumprimento<br />

<strong>da</strong> missão pela gestão social.<br />

Tecnicamente é preciso que sejam<br />

respondi<strong>da</strong>s algumas questões, por<br />

ex<strong>em</strong>plo: como medir valores e expectativas,<br />

projetados <strong>em</strong> fatos e resultados?<br />

Como atribuir uma escala de<br />

importância a estes resultados substantivos?<br />

Como verificar capaci<strong>da</strong>des,<br />

condições, representações relativas <strong>da</strong><br />

questão social, que permitam o florescimento<br />

<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de própria do TS e<br />

que seriam <strong>em</strong> primeira aproximação<br />

não necessariamente verificáveis, projetados<br />

sobre resultados que seriam<br />

por definição verificáveis?<br />

Da<strong>da</strong> a singulari<strong>da</strong>de do espaço público<br />

onde atuam as OTS, além dos<br />

resultados esperados do processo de<br />

avaliação, o avaliador é instado a refletir<br />

acerca dos propósitos do desenvolvimento<br />

humano; <strong>da</strong>s alternativas e<br />

processos de escolha viáveis para este<br />

32 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

desenvolvimento; <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de<br />

fruição dos bens públicos disponibilizados;<br />

<strong>da</strong> relevância <strong>da</strong>s ações apropria<strong>da</strong>s<br />

para a realização <strong>da</strong> missão;<br />

e <strong>da</strong> comunicação <strong>da</strong>s representações<br />

<strong>da</strong> questão social que os públicos<br />

constituintes realizam entre si.<br />

Estas questões não são ponderações<br />

abstratas para o avaliador, mas estão<br />

diretamente liga<strong>da</strong>s à contribuição<br />

que ele possa oferecer à gestão para<br />

o processo de decisão que envolve os<br />

vínculos entre os valores e resultados.<br />

Assim concebi<strong>da</strong>, como instrumento <strong>da</strong><br />

gestão social, a avaliação responde a<br />

uma d<strong>em</strong>an<strong>da</strong> estrutural do TS, de modo<br />

que a OTS que produz bens públicos <strong>em</strong><br />

um espaço público de proteção e desenvolvimento<br />

social, deve ser avalia<strong>da</strong><br />

para verificar se esses resultados são<br />

pertinentes a este espaço, corroborando<br />

a realização <strong>da</strong> missão institucional que<br />

publiciza os propósitos <strong>da</strong>queles públicos.<br />

Pod<strong>em</strong>os falar, portanto, <strong>em</strong> uma<br />

avaliação do cumprimento <strong>da</strong> missão,<br />

na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que os atributos do espaço<br />

público sejam reconhecidos como<br />

referencial dos resultados efetivamente<br />

alcançados. Encontrar no processo de<br />

avaliação uma considerável percepção<br />

de desenvolvimento dos atributos no<br />

impacto causado pelos benefícios é<br />

sinônimo de que a missão é exitosa <strong>em</strong><br />

conferir e transmitir os valores. Neste<br />

sentido, estes atributos se constitu<strong>em</strong><br />

<strong>em</strong> um referencial a ser considerado<br />

para a proposição de indicadores <strong>da</strong> verificação<br />

de publicização <strong>da</strong>s iniciativas<br />

e de sua pertinência ao espaço público.<br />

Ao realizarmos a avaliação de impacto,<br />

que pretende estabelecer quais mu<strong>da</strong>nças<br />

um programa induz no público<br />

terceiro setor<br />

atingido, ou a avaliação <strong>da</strong> economici<strong>da</strong>de,<br />

que estabelece a relação dos<br />

custos com o benefício monetarizado<br />

que foi alcançado, o referencial proposto<br />

permite examinar os achados <strong>da</strong><br />

avaliação sob uma nova ótica, a ótica<br />

dos públicos que interag<strong>em</strong> no programa<br />

e a finali<strong>da</strong>de do cumprimento<br />

<strong>da</strong> missão institucional. Daí decorre<br />

que os atributos do espaço público,<br />

que acreditarão a natureza pública dos<br />

resultados, constitu<strong>em</strong>-se <strong>em</strong> valores<br />

que se manifestarão nos fatos e dev<strong>em</strong><br />

assim ser apreciados, b<strong>em</strong> como deve<br />

ser mensura<strong>da</strong> sua pertinência a estes<br />

fatos. A percepção pelos públicos constituintes<br />

de que estes atributos estão<br />

vinculados aos resultados alcançados,<br />

confere evidências <strong>da</strong> comunicação e<br />

realização <strong>da</strong> missão.<br />

“Encontrar no<br />

processo de<br />

avaliação uma<br />

considerável<br />

percepção de<br />

desenvolvimento<br />

dos atributos no<br />

impacto causado<br />

pelos benefícios é<br />

sinônimo de que a<br />

missão é exitosa <strong>em</strong><br />

conferir e transmitir<br />

os valores”<br />

Eloisa Helena de Souza Cabral - Doutora <strong>em</strong> Ciências Sociais e mestre <strong>em</strong> Políticas Públicas<br />

pela Pontifícia Universi<strong>da</strong>de Católica de São Paulo. Especialista <strong>em</strong> Administração e Educação,<br />

é professora convi<strong>da</strong><strong>da</strong> de cursos de pós-graduação <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Getúlio Vargas, <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção<br />

Armando Álvares Penteado, dos Centros Universitários Facul<strong>da</strong>des Metropolitanas Uni<strong>da</strong>s, Centro<br />

Universitário Radial e Anh<strong>em</strong>bi Morumbi <strong>em</strong> São Paulo. É m<strong>em</strong>bro do International Society for<br />

Third Sector Research, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Johns Hopkins de Baltimore, USA e pesquisadora visitante<br />

do Centro de Estudos Sociais <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Economia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Coimbra, Portugal. É<br />

professora titular <strong>da</strong> Cadeira de Sociologia <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Armando Álvares Penteado - SP. Publicou<br />

o livro Terceiro Setor: gestão e controle social, editado pela Editora Saraiva.


terceiro setor<br />

O Terceiro Setor e o controle<br />

<strong>da</strong> Gestão Pública Municipal:<br />

lições a partir do caso de Bogotá<br />

Armindo dos Santos de Sousa Teodósio<br />

A Colômbia é conheci<strong>da</strong> no mundo pela excelência de seu<br />

café e também pela quali<strong>da</strong>de de outras substâncias ilícitas<br />

que os abastados teimam <strong>em</strong> injetar continuamente <strong>em</strong> suas<br />

veias. Há dez anos atrás, Bogotá, capital colombiana, era uma<br />

ci<strong>da</strong>de martiriza<strong>da</strong> pelas chagas <strong>da</strong> criminali<strong>da</strong>de, degra<strong>da</strong>ção<br />

dos espaços públicos, políticas públicas insuficientes e ineficientes<br />

e grande descrença de seus moradores quanto a viver<br />

e conviver nesse espaço urbano. Sua imag<strong>em</strong> internacional,<br />

assim como Cáli e outras ci<strong>da</strong>des colombianas, era de refúgio<br />

seguro de traficantes que encurralavam o governo, deixando<br />

aberto o espaço público para a criminali<strong>da</strong>de. Hoje, a ci<strong>da</strong>de<br />

exporta experiências de gestão pública e envolvimento dos<br />

ci<strong>da</strong>dãos nas discussões sobre o futuro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Espaços<br />

públicos foram reconquistados pela socie<strong>da</strong>de, que encurrala<br />

a criminali<strong>da</strong>de, mostrando ao mundo e a vários municípios<br />

brasileiros que se pode reduzir significativamente a violência<br />

<strong>em</strong> paralelo à expansão do respeito aos direitos humanos e<br />

a participação dos ci<strong>da</strong>dãos no controle <strong>da</strong> gestão pública.<br />

Várias ci<strong>da</strong>des brasileiras têm se articulado para<br />

caminhar <strong>em</strong> direção ao que se produz e reproduz<br />

atualmente <strong>em</strong> Bogotá. Não apenas municípios de<br />

grande porte como São Paulo e Rio de Janeiro já<br />

apresentam grupos e movimentos articulados para<br />

monitorar políticas públicas desenvolvi<strong>da</strong>s pelas<br />

prefeituras, mas também ci<strong>da</strong>des de menor porte,<br />

como Teresópolis no território fluminense, impl<strong>em</strong>entaram<br />

iniciativas s<strong>em</strong>elhantes. Belo Horizonte,<br />

na esteira dessas iniciativas, já começa a se articular<br />

e as perspectivas são bastante promissoras. O que<br />

acontecerá com Belo Horizonte? Novamente vai se<br />

perder o bonde <strong>da</strong> história de sonhos e realizações na<br />

construção de uma ci<strong>da</strong>de melhor?<br />

O controle social <strong>da</strong> administração pública desenvolvido<br />

pelos bogotanos envolve a sist<strong>em</strong>atização<br />

e produção de uma série de indicadores (14<br />

atualmente) sobre diferentes áreas <strong>da</strong>s<br />

políticas públicas que se desenvolv<strong>em</strong> na<br />

ci<strong>da</strong>de. Meio ambiente, saúde, segurança,<br />

educação, transporte e outros t<strong>em</strong>as são<br />

monitorados a partir de bases de <strong>da</strong>dos<br />

confiáveis e capazes de revelar detalhes positivos e negativos<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de que, muitas vezes, são imperceptíveis ou<br />

malcompreendidos pelos moradores, absorvidos por suas<br />

preocupações cotidianas. Tanto <strong>em</strong> Bogotá, quanto <strong>em</strong> São<br />

Paulo, além <strong>da</strong> sist<strong>em</strong>atização de indicadores e a sua publicização<br />

através de uma extensa rede de comunicação, são<br />

feitas pesquisas regulares sobre a percepção <strong>da</strong>queles que<br />

viv<strong>em</strong> e trabalham nessas ci<strong>da</strong>des acerca do que pensam e<br />

sent<strong>em</strong> com relação ao seu município.<br />

Bogotá deixou de ser<br />

uma ci<strong>da</strong>de marginaliza<strong>da</strong><br />

para se transformar<br />

<strong>em</strong> referência no Terceiro<br />

Setor<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

33


Em Bogotá, depois de uma déca<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> experiência, grupos sociais se<br />

articularam e se tornou letra de lei<br />

a obrigatorie<strong>da</strong>de de depósito dos<br />

programas dos candi<strong>da</strong>tos à prefeitura,<br />

se comprometendo diretamente<br />

<strong>em</strong> trabalhar pela melhoria desses<br />

indicadores. São Paulo também t<strong>em</strong><br />

conquistado avanços e já foi aprovado<br />

projeto de lei que determina o mesmo<br />

compromisso dos candi<strong>da</strong>tos com a<br />

melhoria dos indicadores.<br />

Um aspecto importante dessas iniciativas<br />

é que não part<strong>em</strong> do poder<br />

público, mas são uma conquista dos<br />

grupos organizados <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

civil, inclusive com forte participação<br />

<strong>em</strong>presarial nos casos de Bogotá e<br />

São Paulo. Além disso, não há conotação<br />

político-partidária e não se<br />

constitu<strong>em</strong> <strong>em</strong> espaço de manobra do<br />

candi<strong>da</strong>to X ou Y à prefeitura. Indicadores<br />

reduz<strong>em</strong> a perspectiva de inferências<br />

politiqueiras e partidárias na<br />

discussão <strong>da</strong> gestão pública, apesar<br />

de nunca ser<strong>em</strong> completamente<br />

isentos por definição, pois não existe<br />

neutrali<strong>da</strong>de científica total e por reproduzir<strong>em</strong><br />

valores e desejos quanto<br />

à ci<strong>da</strong>de que se idealiza adequa<strong>da</strong><br />

para viver.<br />

O papel <strong>da</strong> mídia também é central<br />

nessa iniciativa, não só através dos<br />

grandes canais de comunicação, mas<br />

também via uma rede de inúmeros jornais<br />

e rádios comunitários e de bairro.<br />

Em Bogotá, o periódico mais lido <strong>em</strong><br />

to<strong>da</strong> a Colômbia, “El Ti<strong>em</strong>po”, divulga<br />

sist<strong>em</strong>aticamente os indicadores <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>de. Em São Paulo, a comparação<br />

desses indicadores foi capaz de revelar<br />

o fato de que bairros como Pinheiros,<br />

de eleva<strong>da</strong> ren<strong>da</strong> per capita, receb<strong>em</strong><br />

até vinte vezes mais recursos <strong>da</strong> prefeitura<br />

do que regiões periféricas e<br />

pobres como Parelheiros. A desculpa<br />

dos gestores públicos é que há mais<br />

equipamentos públicos nesses bairros.<br />

No entanto, isso revela não apenas<br />

os equívocos de um determinado<br />

34 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

man<strong>da</strong>to, mas de déca<strong>da</strong>s de governos<br />

focalizando, propositalmente ou não,<br />

os mais abastados, <strong>em</strong> detrimento <strong>da</strong>queles<br />

que mais depend<strong>em</strong> <strong>da</strong> oferta<br />

de serviços públicos.<br />

Mas n<strong>em</strong> tudo são flores, há muitos<br />

desafios na construção de projetos<br />

como esses. Na<strong>da</strong> adianta produzir<br />

indicadores se a socie<strong>da</strong>de civil não<br />

os incorpora à sua discussão e percepção<br />

do que pensa sobre a ci<strong>da</strong>de.<br />

Sobretudo nas instâncias de gestão<br />

participativa dos municípios, como é<br />

o caso dos conselhos municipais que<br />

têm se instalado nas áreas de saúde,<br />

educação, infância e adolescência,<br />

meio ambiente e segurança pública,<br />

esses indicadores pod<strong>em</strong> servir para<br />

dotar os ci<strong>da</strong>dãos de maior poder<br />

de debate e negociação frente aos<br />

técnicos de governo. Por outro lado,<br />

indicadores pod<strong>em</strong> também se tornar<br />

refúgio para o pensamento tecnicista,<br />

que monopolizaria o poder através de<br />

seu conhecimento formal. Para tanto,<br />

projetos educacionais precisam se desenvolver<br />

a partir desses indicadores,<br />

fazendo com que pessoas com baixa<br />

escolari<strong>da</strong>de e sobretudo os jovens,<br />

possam voltar a se interessar pela política,<br />

tão <strong>em</strong> descrédito atualmente.<br />

Expressões culturais desenvolvi<strong>da</strong>s<br />

pelas comuni<strong>da</strong>des são essenciais<br />

para <strong>da</strong>r visibili<strong>da</strong>de e novas roupagens<br />

aos indicadores, aproximandoos<br />

dos grupos periféricos e excluídos<br />

<strong>da</strong>s decisões governamentais monopoliza<strong>da</strong>s<br />

por aqueles dotados de<br />

grande poder político e econômico<br />

<strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des.<br />

Belo Horizonte t<strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as possibili<strong>da</strong>des<br />

para avançar <strong>em</strong> direção a<br />

um maior envolvimento de seus ci<strong>da</strong>dãos<br />

no futuro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Inúmeras<br />

pesquisas sobre o município estão<br />

terceiro setor<br />

disponíveis, mas poucas delas reuni<strong>da</strong>s<br />

e sist<strong>em</strong>atiza<strong>da</strong>s para oferecer<br />

uma visão integra<strong>da</strong> e estrutura<strong>da</strong><br />

sobre a ci<strong>da</strong>de. Grupos sociais e indivíduos<br />

comprometidos com a melhoria<br />

<strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de dos serviços públicos já<br />

atuam intensamente <strong>em</strong> vários conselhos<br />

e espaços de gestão participativa<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Resta articular e organizar<br />

esses grupos e indivíduos. Diferentes<br />

canais de comunicação, como os jornais<br />

e rádios locais, já ating<strong>em</strong> o ci<strong>da</strong>dão<br />

<strong>em</strong> seu cotidiano.<br />

Permanece assim uma pergunta que<br />

não quer calar: os ci<strong>da</strong>dãos e organizações<br />

do Terceiro Setor de Belo<br />

Horizonte estão dispostos a construir<br />

esse projeto de ci<strong>da</strong>de ou prefer<strong>em</strong> o<br />

espaço cômodo <strong>da</strong> crítica ou do elogio,<br />

s<strong>em</strong> fun<strong>da</strong>mento maior, sobre o que<br />

se faz na gestão municipal? Quando,<br />

no futuro, os novos moradores<br />

perguntar<strong>em</strong> “Belo Horizonte, como<br />

vamos?” O que responder<strong>em</strong>os? As<br />

respostas pod<strong>em</strong> se <strong>da</strong>r na perspectiva<br />

virtuosa colombiana ou pod<strong>em</strong> ser no<br />

estilo politiqueiro de s<strong>em</strong>pre. Quais<br />

respostas construir<strong>em</strong>os?<br />

“Na<strong>da</strong> adianta<br />

produzir indicadores<br />

se a socie<strong>da</strong>de civil<br />

não os incorpora<br />

à sua discussão<br />

e percepção do<br />

que pensa sobre a<br />

ci<strong>da</strong>de”<br />

Armindo dos Santos de Sousa Teodósio - Professor <strong>da</strong> PUC Minas, Doutorando <strong>em</strong> Administração<br />

de Empresas pela EAESP-FGV, Mestre <strong>em</strong> Ciências Sociais pela PUC Minas e Economista pela<br />

UFMG. Líder-parceiro <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção AVINA, desenvolve estudos sobre Organizações <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de<br />

Civil, Políticas Sociais, Responsabili<strong>da</strong>de Social Empresarial e Desenvolvimento Sustentável.


defesa social<br />

A evolução <strong>da</strong> Educação na<br />

Polícia Militar de Minas Gerais<br />

Ten-Cel. PM Márcio Antônio Macêdo Assunção<br />

O referencial t<strong>em</strong>poral e o aperfeiçoamento são atributos do processo evolutivo. Por isso,<br />

o discurso sobre a evolução <strong>da</strong> Educação de Polícia Militar de Minas Gerais suscita a<br />

propensão para a narração de r<strong>em</strong>iniscências, as quais são resgata<strong>da</strong>s de forma a ressaltar<br />

episódios importantes decorrentes <strong>da</strong> marcha imposta pelos fatos componentes <strong>da</strong> relação<br />

bilateral causa e efeito. Este artigo furta-se a essa praxe, porquanto não enfatiza a crônica<br />

<strong>da</strong> educação na PMMG - <strong>em</strong>bora a ela, superficialmente, recorra -, mas ressalta aspectos<br />

de quali<strong>da</strong>de que potencializam seus valores morais, ratificam sua deontologia, vinculam<br />

sua eficácia à efetivi<strong>da</strong>de dos serviços prestados pela Corporação e inser<strong>em</strong>-na no cenário<br />

acadêmico nacional.<br />

Considerações<br />

conceituais<br />

A educação é o processo de interações<br />

sociais por meio <strong>da</strong>s quais as pessoas<br />

procuram modificar o comportamento,<br />

as disposições comportamentais e as<br />

Aula de educação física dos alunos do CTSP (Curso<br />

Técnico <strong>em</strong> Segurança Pública) no pátio principal <strong>da</strong><br />

APM (Acad<strong>em</strong>ia de Polícia Militar), <strong>em</strong> Belo Horizonte.<br />

características de personali<strong>da</strong>de de<br />

outras pessoas para alcançar uma<br />

meta. Essa meta integra etapas préfixa<strong>da</strong>s<br />

para que sejam alcançados<br />

objetivos estabelecidos pelo educador,<br />

ou pelo grupo por eles interessado,<br />

<strong>em</strong> função de valores e normas que<br />

consideram de especial importância.<br />

A Educação de Polícia Militar está<br />

defini<strong>da</strong> no artigo 1º <strong>da</strong> Resolução<br />

3.836, de 22 de janeiro de 2006 1 :<br />

“A Educação de Polícia Militar<br />

(EPM) é um processo formativo<br />

desenvolvido por meio do ensino,<br />

treinamento, pesquisa e extensão,<br />

integrados entre si, que permite<br />

ao militar adquirir competências<br />

que o habilit<strong>em</strong> ao exercício <strong>da</strong><br />

profissão.”<br />

É impossível dissociar o militarismo<br />

de um processo formativo. Para Santos<br />

(1999, p.17, apud BERTOCCHI,<br />

2006, p.21-35) 2 , os primeiros sinais do<br />

uso <strong>da</strong> ord<strong>em</strong>-uni<strong>da</strong> <strong>em</strong> combate foram<br />

encontrados nas ci<strong>da</strong>des-estado<br />

gregas, que, por ser<strong>em</strong> os sol<strong>da</strong>dos de<br />

seus exércitos também agricultores,<br />

não dispunham de t<strong>em</strong>po para extensas<br />

batalhas, porquanto a economia<br />

<strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des, também, dependia<br />

1 Aprova as Diretrizes de Educação <strong>da</strong> Polícia Militar (DEPMs);<br />

2 BERTOCCHI, Marcelo Martins. Marchar para Coman<strong>da</strong>r.<br />

2006. (Monografia do Curso de Formação de Oficiais) –<br />

Centro de Ensino de Graduação, Acad<strong>em</strong>ia de Polícia Militar,<br />

Belo Horizonte, 2006.<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

35


desses mesmos homens. A questão<br />

é: como <strong>em</strong>pregar ord<strong>em</strong>-uni<strong>da</strong> <strong>em</strong><br />

combate, s<strong>em</strong> que os sol<strong>da</strong>dos foss<strong>em</strong><br />

ensinados e treinados?<br />

Interessante é a correlação que se<br />

pode fazer entre a s<strong>em</strong>ântica de determina<strong>da</strong>s<br />

palavras para se chegar ao<br />

vínculo <strong>da</strong> educação com a ativi<strong>da</strong>de<br />

militar. As organizações militares, conforme<br />

Santos (1999, p. 16, apud BER-<br />

TOCCHI, 2006, p. 21-35) têm, como<br />

princípios essenciais, a hierarquia, a<br />

disciplina e a tradição. Com a ord<strong>em</strong>uni<strong>da</strong><br />

surgiram e desenvolveram-se a<br />

hierarquia e a disciplina. Ao fazer <strong>da</strong><br />

palavra “disciplina” objeto de abstração,<br />

vislumbrou-se a conveniência<br />

de recorrer à sua orig<strong>em</strong> etimológica:<br />

“lat. disciplína,ae ‘ação de<br />

se instruir, educação, ciência,<br />

disciplina, ord<strong>em</strong>, sist<strong>em</strong>a,<br />

princípios de moral’, cog. de<br />

discipulus; ver disc-” (HOUAISS,<br />

2001) 3 .<br />

Como sugere o autor, resta buscar o<br />

significado de disc:<br />

“el<strong>em</strong>ento de composição:<br />

antepositivo, do v.lat.<br />

disco,is,didìci,discère (s<strong>em</strong> supn.,<br />

n<strong>em</strong> part.pas.) ‘aprender’ [p.opos.<br />

a docèo ‘fazer aprender, ensinar’,<br />

ver doc(t)-]; (...); principais der.:<br />

discipùlus,i ‘aluno, discípulo’<br />

(p.opos. a magister); discipùla,ae<br />

(mais raro), condiscipùlus<br />

(antigo e usual); disciplina,ae<br />

‘ensino, educação, disciplina’ e<br />

esp. ‘disciplina militar’, sentido<br />

concreto ‘ensinamento, matéria<br />

ensina<strong>da</strong>’; (...) qualquer que seja<br />

o étimo de discipùlus, os antigos<br />

romanos não o separavam de<br />

disco, ao qual o sentido se liga<br />

estreitamente; der. prefixais de<br />

disco: (...); edisco ‘aprender a fundo<br />

ou de cor’; perdisco ‘aprender de<br />

3 DISCIPLINA. In: HOUAISS, Antônio. Dicionário Eletrônico Houaiss<br />

<strong>da</strong> Língua Portuguesa, versão 1.0. Objetiva Lt<strong>da</strong>. 2001 4 DISC. Ibid.<br />

36 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

cabo a rabo’; praedisco ‘aprender<br />

por antecipação’; disco é mal<br />

representado nas línguas român.,<br />

que recorr<strong>em</strong> a apprehendère<br />

(HOUAISS, 2001) 4 .<br />

Essa afini<strong>da</strong>de entre educação e militarismo<br />

é interessante, mas não é surpreendente,<br />

porquanto as forças militares<br />

do ocidente muito her<strong>da</strong>ram do modelo<br />

espartano. Santos (1999, p. 19 apud<br />

BERTOCCHI, 2006, p. 21-35) assevera<br />

que, <strong>em</strong> Esparta, a função militar era<br />

mais aperfeiçoa<strong>da</strong>. Os escravos mantinham<br />

a classe dominante e a deixavam<br />

dedicar-se inteiramente ao exército. Dos<br />

sete aos trinta anos, o espartano, aquartelado,<br />

preparava-se, no dia-a-dia,<br />

para a guerra. Era comum realizar<strong>em</strong><br />

operações militares de extermínio de<br />

escravos que fugiam, ou <strong>da</strong>vam outros<br />

probl<strong>em</strong>as, como forma de treinamento<br />

para os jovens.<br />

Evidenciam-se, aí, duas ativi<strong>da</strong>des<br />

específicas de educação: a preparação,<br />

assim subentendi<strong>da</strong> a idéia<br />

de ensino e treinamento; e o próprio<br />

treinamento, como aplicação prática<br />

dos conhecimentos adquiridos com a<br />

ativi<strong>da</strong>de de ensino.<br />

A PMMG não se furta a esse fenômeno,<br />

no qual se aliam, nas origens dela, o<br />

militarismo e o processo formativo. A<br />

conjuntura político-cultural de suas origens,<br />

no século XVIII, permite, inclusive,<br />

especular que, por ser a Instituição germe<br />

do iluminismo, seu modelo educacional<br />

não era tacanho. A impl<strong>em</strong>entação do<br />

ensino e do treinamento, naquela época,<br />

é fato inquestionável, e a realização de<br />

pesquisa - respeita<strong>da</strong>s as diferenças metodológicas<br />

- é fato provável, pois, sob<br />

a influência do racionalismo, a ver<strong>da</strong>de<br />

passou a ser busca<strong>da</strong>, <strong>em</strong> contraposição<br />

ao <strong>em</strong>pirismo e ao misticismo, para a<br />

solução de probl<strong>em</strong>as diversos.<br />

Constata-se que o processo formativo<br />

na PMMG evoluiu-se até os t<strong>em</strong>pos<br />

defesa social<br />

hodiernos, e culminou com a inclusão<br />

de novas ativi<strong>da</strong>des educacionais,<br />

b<strong>em</strong> como na sua sist<strong>em</strong>atização.<br />

A duali<strong>da</strong>de ensino-treinamento tornou-se<br />

ineficiente aos propósitos <strong>da</strong><br />

PMMG. Adotou-se a quatrinca ensino,<br />

treinamento, pesquisa e extensão, por<br />

configurar a educação universitária,<br />

hoje, a de melhor quali<strong>da</strong>de no País -<br />

quali<strong>da</strong>de deve ser corolário e atributo<br />

<strong>da</strong> educação.<br />

O ensino de polícia militar são as ativi<strong>da</strong>des<br />

e experiências que permit<strong>em</strong><br />

ao militar adquirir e desenvolver<br />

competências relaciona<strong>da</strong>s com a polícia<br />

ostensiva, preservação <strong>da</strong> ord<strong>em</strong><br />

pública e ativi<strong>da</strong>des administrativas.<br />

Seus cursos são desenvolvidos no<br />

afã de viabilizar-lhe a ascensão na<br />

carreira. Está o ensino vinculado ao<br />

passado, porquanto é instrumento de<br />

transmissão de conhecimentos.<br />

A pesquisa de polícia militar se constitui<br />

na busca, geração e divulgação<br />

de conhecimentos necessários ao desenvolvimento<br />

<strong>da</strong>s ciências militares,<br />

especificamente na área de defesa<br />

social. Essa ativi<strong>da</strong>de educacional se<br />

vincula ao futuro, pois buscará conhecimentos,<br />

ain<strong>da</strong>, inexistentes.<br />

A extensão de polícia militar consiste<br />

na aplicação de conhecimentos transmitidos<br />

na ativi<strong>da</strong>de de ensino ou adquiridos<br />

com a ativi<strong>da</strong>de de pesquisa,<br />

para o b<strong>em</strong>-estar e o desenvolvimento<br />

sociocultural <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de onde se<br />

insere a Acad<strong>em</strong>ia de Polícia Militar,<br />

já reconheci<strong>da</strong> como Instituição de<br />

Educação Superior pelo Conselho<br />

Estadual de Educação. Por isso, essa<br />

ativi<strong>da</strong>de vincula-se ao presente.<br />

O treinamento de polícia militar é a ativi<strong>da</strong>de<br />

de educação continua<strong>da</strong> que visa a<br />

atualizar e modificar o comportamento dos<br />

militares, no mister de melhor capacitá-los<br />

para exercer sua função policial-militar.<br />

Nele não há vínculo t<strong>em</strong>poral, mas há<br />

um comprometimento do presente com


defesa social<br />

o futuro. Seus cursos não têm o objetivo<br />

específico de viabilizar a ascensão na<br />

carreira do militar, <strong>em</strong>bora com isso possa<br />

contribuir. O treinamento de polícia militar<br />

constitui o diferencial <strong>da</strong> EPM.<br />

Essas ativi<strong>da</strong>des educacionais desenvolv<strong>em</strong>-se<br />

<strong>em</strong> dois níveis e quatro<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des diferentes de educação.<br />

No nível técnico <strong>da</strong> Educação de<br />

Polícia Militar, desenvolv<strong>em</strong>-se o<br />

ensino para formação <strong>da</strong>s praças; o<br />

treinamento que não exige o nível<br />

superior como quesito para matrícula;<br />

a pesquisa s<strong>em</strong> rigor metodológico;<br />

e a extensão, sob qualquer forma de<br />

manifestação. No nível superior <strong>da</strong><br />

EPM, desenvolv<strong>em</strong>-se o ensino para<br />

formação dos oficiais <strong>em</strong> Curso de<br />

Bacharelado <strong>em</strong> Ciências Militares,<br />

na área de Defesa Social; o Curso<br />

Superior de Tecnologia <strong>em</strong> Ciências<br />

Militares, na área de Defesa Social; e<br />

para especialização de oficiais, dois<br />

cursos de pós-graduação lato sensu:<br />

o de Especialização <strong>em</strong> Segurança Pública<br />

e o de Especialização <strong>em</strong> Gestão<br />

Estratégica de Segurança Pública.<br />

As mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des indicam que a EPM<br />

pode se apresentar, nos dias de hoje,<br />

sob a forma de educação profissional<br />

(formato original e essencial),<br />

Biblioteca Capitão PM Walter Geraldo <strong>da</strong> Cunha<br />

(APM/CPP - Centro de Pesquisa e Pós-Graduação).<br />

presencial, s<strong>em</strong>ipresencial, à distância<br />

e continua<strong>da</strong>. Neste azo, convém<br />

mencionar a educação corporativa,<br />

espécie de educação profissional, cujo<br />

objetivo é a qualificação do talento<br />

humano para que ele melhor se alinhe<br />

às estratégias de sua <strong>em</strong>presa, responsável<br />

pelo seu desenvolvimento.<br />

Na PMMG, o objetivo primordial <strong>da</strong><br />

EPM é, exatamente, esse.<br />

As regras que normalizam a EPM<br />

baseiam-se, além de outros nove, <strong>em</strong><br />

quatro princípios tonificantes <strong>da</strong> deontologia<br />

policial-militar: a disciplina,<br />

a hierárquica, os direitos humanos e<br />

a polícia comunitária. Fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong><br />

nesses princípios, a EPM qualifica um<br />

militar mais d<strong>em</strong>ocrática e altruísta,<br />

s<strong>em</strong> o olvido de seus pilares e tradições<br />

institucionais.<br />

Embora o conteúdo programático policial<br />

dos cursos de ensino e treinamento<br />

de polícia militar tenha suplantado<br />

o militar, há de se admitir que uma<br />

<strong>da</strong>s funções desses princípios <strong>da</strong> EPM<br />

consiste <strong>em</strong> servir-se como instrumento<br />

para manter o equilíbrio e a atuação<br />

judiciosa <strong>da</strong> Corporação como polícia<br />

de defesa do ci<strong>da</strong>dão e polícia de defesa<br />

do Estado. Polícia de defesa do ci<strong>da</strong>dão,<br />

enquanto deno<strong>da</strong><strong>da</strong> defensora dos<br />

“A pesquisa de<br />

polícia militar se<br />

constitui na busca,<br />

geração e divulgação<br />

de conhecimentos<br />

necessários ao<br />

desenvolvimento <strong>da</strong>s<br />

ciências militares,<br />

especificamente na<br />

área de defesa social”<br />

direitos e garantias individuais prescritos<br />

no artigo 5º <strong>da</strong> Constituição Federal<br />

vigente; e polícia de defesa do Estado,<br />

enquanto força auxiliar e reserva do<br />

Exército Brasileiro para o cumprimento<br />

de missões de interesse <strong>da</strong> defesa<br />

nacional, sobretudo com o exercício de<br />

ativi<strong>da</strong>des de defesa interna, conforme<br />

prescrição conti<strong>da</strong> no parágrafo 6º do<br />

artigo 144 <strong>da</strong> mesma Carta Magna.<br />

O conteúdo programático constituise<br />

<strong>da</strong> relação de assuntos, por disciplina,<br />

que será ministra<strong>da</strong> no curso,<br />

para desenvolver as competências do<br />

discente. A definição científica do conteúdo<br />

programático dos cursos retrata<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

37


outro aspecto <strong>da</strong> evolução <strong>da</strong> EPM.<br />

Esquivou-se do <strong>em</strong>pirismo com a concepção<br />

e a adoção do mapeamento de<br />

competências do profissional de segurança<br />

pública. Com ele, foram lista<strong>da</strong>s<br />

to<strong>da</strong>s as dimensões dessas competências:<br />

do conhecimento, <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des<br />

e <strong>da</strong>s atitudes. Assim, para o<br />

des<strong>em</strong>penho <strong>da</strong> função policial-militar,<br />

não basta o militar saber; ele t<strong>em</strong><br />

de saber fazer e de ser.<br />

Embora seja uma referência de valor<br />

inefável, o mapeamento de competências,<br />

ao delinear as ativi<strong>da</strong>des para o<br />

profissional de segurança pública, coloca<br />

a qualificação do talento humano<br />

<strong>da</strong> Corporação numa condição reducionista,<br />

porquanto não mapeou as competências<br />

relaciona<strong>da</strong>s às ativi<strong>da</strong>des de<br />

Defesa Interna. Esta é uma reali<strong>da</strong>de:<br />

enquanto estiver prescrito na Constituição<br />

<strong>da</strong> República Federativa do<br />

Brasil, a PMMG é uma Organização Militar,<br />

reserva e auxiliar do Exército Brasileiro.<br />

Nesse contexto, necessário se<br />

faz r<strong>em</strong><strong>em</strong>orar o incomensurável ensinamento<br />

do <strong>em</strong>bl<strong>em</strong>ático Czar Pedro, o<br />

Grande: “Enquanto a lei existir, deve<br />

ser cumpri<strong>da</strong>. Se estiver erra<strong>da</strong>,<br />

todo esforço deve ser envi<strong>da</strong>do<br />

para modificá-la ou substituí-la.”<br />

A legitimi<strong>da</strong>de e<br />

a legali<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

Educação de Polícia<br />

Militar<br />

No artigo 205 <strong>da</strong> Carta Magna, o<br />

constituinte introduziu a Educação<br />

Nacional ao prescrever que, apesar de<br />

ser dever do Estado, ela deve ser promovi<strong>da</strong><br />

com a colaboração <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

para o total desenvolvimento <strong>da</strong><br />

pessoa, o pleno gozo de seus direitos<br />

como ci<strong>da</strong>dão e para sua qualificação<br />

para o trabalho.<br />

A Polícia Militar do Estado de Minas<br />

Gerais, por integrar-se ao meio social,<br />

recebe, com a prescrição retromenciona<strong>da</strong>,<br />

a primeira impressão sobre suas<br />

obrigações para com o processo educacional.<br />

Essas obrigações são percebi<strong>da</strong>s<br />

pela Organização Militar Estadual<br />

sob dois aspectos: um endógeno,<br />

porém com a finali<strong>da</strong>de última volta<strong>da</strong><br />

para a consoli<strong>da</strong>ção do caráter do público<br />

externo, conforme pretende a filosofia<br />

dos direitos humanos - o policialmilitar<br />

é um educador!; outro exógeno,<br />

to<strong>da</strong>via necessário à qualificação de<br />

seu talento humano.<br />

Sala de aula do CHO - Curso de Habilitação de Oficiais (APM/CEG -<br />

Centro de Ensino de Graduação <strong>da</strong> Acad<strong>em</strong>ia de Polícia Militar).<br />

38 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

defesa social<br />

Para que as prescrições constitucionais<br />

foss<strong>em</strong> atendi<strong>da</strong>s, foi promulga<strong>da</strong> a<br />

Lei de Diretrizes e Bases <strong>da</strong> Educação<br />

Nacional (LDBEN), cognomina<strong>da</strong> de<br />

LDB. Ela é o instrumento que regula<br />

a educação nacional. Em razão do<br />

aspecto exógeno <strong>da</strong> participação<br />

<strong>da</strong> PMMG no processo educacional,<br />

as ativi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s para<br />

esse fim acolh<strong>em</strong> os auspícios desse<br />

dispositivo legal.<br />

Conforme prevê o caput do artigo 1º<br />

<strong>da</strong> LDB, a educação transpõe os umbrais<br />

<strong>da</strong> família e <strong>da</strong> escola, e alcança<br />

o âmbito <strong>da</strong> profissão. O parágrafo<br />

segundo do mesmo artigo arr<strong>em</strong>ata a<br />

duali<strong>da</strong>de educação-trabalho ao estabelecer<br />

que ela deverá vincular-se ao<br />

mundo laboral e à prática social, o que<br />

dá supedâneo legal aos investimentos<br />

<strong>da</strong> PMMG nessa área de atuação.<br />

A finali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> educação, segundo a<br />

LDB, que reitera a prescrição constitucional,<br />

é o pleno desenvolvimento do<br />

educando, seu preparo para o exercício<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e sua qualificação para<br />

o trabalho. Infere-se, com isso, que a<br />

PMMG, ao <strong>em</strong>penhar-se nesse setor <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> social, não comete nenhuma usurpação<br />

de função, tão somente cumpre<br />

um dever constitucional e mantém sua<br />

tradição de colocar-se na vanguar<strong>da</strong><br />

com a impl<strong>em</strong>entação de iniciativas.<br />

A LDB, ao regular a educação nacional,<br />

estabelece os princípios que a reg<strong>em</strong><br />

(artigo 3º); prescreve diversos dispositivos<br />

e, de forma particular, define a educação<br />

profissional (artigo 39 a 42).<br />

De acordo com a LDB, a educação<br />

profissional conduz ao permanente<br />

desenvolvimento de aptidões para a<br />

vi<strong>da</strong> produtiva (artigo 39). A vi<strong>da</strong> produtiva<br />

com a qual PMMG se ocupa<br />

consiste no des<strong>em</strong>penho <strong>da</strong> função<br />

policial-militar para a preservação<br />

<strong>da</strong> ord<strong>em</strong> pública e polícia ostensiva,<br />

sintetiza<strong>da</strong>s, na identi<strong>da</strong>de organizacional,<br />

como paz social; e na execução


defesa social<br />

de missões peculiares à Defesa Interna,<br />

como força reserva e auxiliar do<br />

Exército Brasileiro.<br />

Especificamente, é no artigo 83 <strong>da</strong><br />

LDB que as organizações militares obtiveram<br />

a aquiescência para legislar<br />

sobre seus sist<strong>em</strong>as de ensino:<br />

“Art. 83. O ensino militar é regulado<br />

<strong>em</strong> lei específica, admiti<strong>da</strong> a<br />

equivalência de estudos, de acordo<br />

com as normas fixa<strong>da</strong>s pelos<br />

sist<strong>em</strong>as de ensino.” (BRASIL, 1996).<br />

A lei de ensino <strong>da</strong> PMMG 5 é obsoleta,<br />

no entanto é o instituto vigente que<br />

regulamenta a Educação de Polícia Militar.<br />

Para modernizá-la, o Coman<strong>da</strong>nte<br />

<strong>da</strong> Acad<strong>em</strong>ia de Polícia Militar encaminhou<br />

à Chefia do Estado-Maior <strong>da</strong><br />

Corporação proposta de projeto <strong>da</strong> lei<br />

já intitula<strong>da</strong> “Lei de Educação <strong>da</strong> Polícia<br />

Militar de Minas Gerais”. Vislumbrase,<br />

com a substituição <strong>da</strong> designação<br />

reducionista “ensino” pela designação<br />

abrangente e precisa “educação”, novo<br />

efeito evolutivo <strong>da</strong> EPM.<br />

Esse efeito prossegue, de forma dispersa<br />

e progressiva, com a vigência sucessiva<br />

de novas leis e normas internas. Cria-se<br />

o Instituto de Educação de Segurança<br />

Pública (IESP) para imprimir quali<strong>da</strong>de<br />

à habilitação e capacitação dos discentes,<br />

inclusive, com vistas à realização<br />

<strong>da</strong> pesquisa para o desenvolvimento<br />

técnico-científico. Resgata-se o nome<br />

<strong>da</strong> Acad<strong>em</strong>ia de Polícia Militar, <strong>em</strong> prol<br />

<strong>da</strong> tradição, porquanto, como escola de<br />

coman<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> Corporação, o novo<br />

designativo não conquistou a simpatia<br />

deles para sua perduração, sob o argumento<br />

de que nele na<strong>da</strong> indicava ser o<br />

educandário um órgão <strong>da</strong> PMMG.<br />

Publicam-se as Diretrizes para a<br />

Educação de Segurança Pública, que<br />

aprimoram o Sist<strong>em</strong>a de Educação<br />

de Segurança Pública, b<strong>em</strong> como<br />

sua dinâmica; no entanto, logo são<br />

5 Lei nº. 6 260, de 13 de dez<strong>em</strong>bro de 1973.<br />

substituí<strong>da</strong>s pelas Diretrizes para<br />

Educação de Polícia Militar, principalmente<br />

porque a segurança pública não<br />

esgota a missão <strong>da</strong> PMMG, por ser,<br />

apenas, uma <strong>da</strong>s vertentes <strong>da</strong> ord<strong>em</strong><br />

pública, missão constitucional maior<br />

atribuí<strong>da</strong> às polícias militares pela<br />

Constituição Federal. Essa medi<strong>da</strong><br />

foi judiciosa sob o enfoque filosófico,<br />

pois, se para ca<strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de<br />

corresponde uma autori<strong>da</strong>de, seria<br />

um ônus para a Instituição responsabilizar-se<br />

perante a Carta Magna por<br />

uma atribuição-maior e ter autori<strong>da</strong>de<br />

de gestão, apenas, de parte dela.<br />

Quanto mais a Educação de Polícia<br />

Militar se aprimorar, melhor a PMMG<br />

promoverá o b<strong>em</strong>-estar social, pois<br />

<strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> qualificação de<br />

seus talentos humanos depende a<br />

preservação <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> pública e a<br />

polícia ostensiva. Por esse motivo, a<br />

revisão de suas normas não cessa,<br />

quer seja para corrigir, pontualmente,<br />

aspectos inadequados, quer seja para<br />

impl<strong>em</strong>entar medi<strong>da</strong>s oriun<strong>da</strong>s de<br />

novos conceitos.<br />

Considerações finais<br />

A Educação de Polícia Militar se<br />

aperfeiçoa paulatinamente, pois<br />

volta<strong>da</strong>, <strong>em</strong> última análise, para o<br />

atendimento <strong>da</strong>s d<strong>em</strong>an<strong>da</strong>s sociais<br />

por segurança, à evolução <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

deve acompanhar.<br />

Essa a<strong>da</strong>ptação contínua <strong>da</strong> EPM aos<br />

t<strong>em</strong>pos hodiernos constitui-se <strong>em</strong><br />

complexo desafio. Como desaguadouro<br />

dos anseios e receios do ci<strong>da</strong>dão,<br />

também a PMMG sofre as conseqüências<br />

<strong>da</strong> era pós-moderna. A<br />

veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s transformações sociais<br />

decorrentes do desenvolvimento<br />

desenfreado <strong>da</strong> tecnologia imprime<br />

um ritmo descomunal à dinâmica do<br />

processo educacional na Corporação.<br />

Daí a importância <strong>da</strong> sua evolução.<br />

No entanto, essa evolução não se<br />

limita a esse mister. É necessário<br />

trazer à baila que ela é condição sine<br />

qua non para a valorização do talento<br />

humano <strong>da</strong> Instituição. É preciso, com<br />

ela, fazer contraponto às histórias de<br />

mau gosto envergonhadoras e r<strong>em</strong><strong>em</strong>ora<strong>da</strong>s,<br />

até mesmo, no seio <strong>da</strong> tropa,<br />

sobre civis que eram “apanhados<br />

a laço”, no interior do Estado, para<br />

ingressar nos quadros <strong>da</strong> Corporação.<br />

Esses infelizes “factoides” - se é que<br />

isso aconteceu - eram utilizados para<br />

justificar a existência de analfabetos<br />

na Instituição.<br />

A mesma corag<strong>em</strong> utiliza<strong>da</strong> para aventar<br />

essa infeliz épica deve ser busca<strong>da</strong><br />

para fazer <strong>da</strong> evolução <strong>da</strong> Educação<br />

de Polícia Militar um forte argumento<br />

para se requerer melhores condições de<br />

trabalho e justa r<strong>em</strong>uneração do talento<br />

humano <strong>da</strong> Corporação.<br />

“Quanto mais<br />

a Educação de<br />

Polícia Militar<br />

se aprimorar,<br />

melhor a PMMG<br />

promoverá o<br />

b<strong>em</strong>-estar social”<br />

Márcio Antônio Macêdo Assunção - Promovido ao Posto de Tenente-Coronel PM <strong>em</strong> 9 de Junho<br />

de 1998, especializou-se <strong>em</strong> Gestão Estratégica de Segurança Pública. Chefiou o Centro de<br />

Pesquisa e Pós-graduação <strong>da</strong> PMMG e, atualmente, é o Subcoman<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> APM. Integra o rol<br />

de orientadores e avaliadores de monografia de discentes do Curso de Bacharelado <strong>em</strong> Ciências<br />

Militares, com ênfase <strong>em</strong> Defesa Social; Curso de Especialização <strong>em</strong> Segurança Pública; e Curso<br />

de Especialização <strong>em</strong> Gestão Estratégica de Segurança Pública.<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

39


Justiça Militar de Minas Gerais<br />

Setenta anos de existência<br />

Juiz Cel PM Rúbio Paulino Coelho<br />

“A Justiça Militar, organismo integrante dos quadros do Poder Judiciário do Estado é, s<strong>em</strong> dúvi<strong>da</strong>,<br />

um dos pontos mais altos na formação e na estrutura <strong>da</strong> nossa organização política. Esta casa t<strong>em</strong><br />

uma tradição de austeri<strong>da</strong>de, de cultura e integri<strong>da</strong>de. Desde a sua organização até os dias de hoje,<br />

são decênios de notável contribuição ao aprimoramento <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> jurídica, social e humana de nosso<br />

Estado.” (Tancredo Neves, 1984)<br />

“Poucos ci<strong>da</strong>dãos conhec<strong>em</strong> o papel e a relevância social <strong>da</strong> Justiça Militar de Minas Gerais, que<br />

com<strong>em</strong>ora 70 anos de bons serviços prestados à coletivi<strong>da</strong>de mineira. Creio que a melhor homenag<strong>em</strong><br />

que posso prestar a este Tribunal de Justiça Militar e a todos aqueles que aqui trabalham é revelar a<br />

Minas que grande parte do mérito pelo elevado conceito que a Polícia Militar mineira conquistou <strong>em</strong><br />

todo o Brasil se deve à eficiência deste Tribunal. Setenta anos de história, de aplicação <strong>da</strong>s leis e de<br />

rigoroso cumprimento do dever, faz<strong>em</strong> <strong>da</strong> Justiça Militar um ex<strong>em</strong>plo e um modelo.” (Aécio Neves, 2007)<br />

Desde os t<strong>em</strong>pos do Império Romano<br />

(século XIII), já era reconheci<strong>da</strong> a<br />

necessi<strong>da</strong>de de uma jurisdição especial<br />

para os militares <strong>em</strong> ativi<strong>da</strong>de,<br />

existindo a intitula<strong>da</strong> Justiça Militar<br />

Romana, que tinha como objetivo primordial<br />

a tutela jurídica dos preceitos<br />

relativos à manutenção <strong>da</strong> hierarquia<br />

e disciplina, sustentáculos fun<strong>da</strong>mentais<br />

na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s instituições militares.<br />

No Brasil, copiando um modelo adotado<br />

<strong>em</strong> Portugal, os crimes militares<br />

foram reconhecidos, processados e<br />

julgados, através de uma Justiça Militar<br />

especializa<strong>da</strong>, a partir do ano de<br />

1808, quando D. João VI baixou um<br />

Alvará, determinando a formação de<br />

um Conselho de Guerra.<br />

Fun<strong>da</strong>mentalmente, antes de 1808,<br />

o Judiciário brasileiro compunha-se<br />

de Tribunais de Relação sediados na<br />

Bahia, no Rio de Janeiro, <strong>em</strong> Pernambuco<br />

e no Maranhão. Somente <strong>em</strong><br />

maio <strong>da</strong>quele ano, com a elevação <strong>da</strong><br />

40 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

Relação do Rio de Janeiro à condição<br />

de Casa <strong>da</strong> Suplicação, os recursos<br />

não mais seguiriam para Portugal.<br />

A última instância, cuja sede era <strong>em</strong><br />

Lisboa, passaria a funcionar no Brasil.<br />

Com a criação <strong>da</strong>s instituições<br />

militares <strong>em</strong> vários níveis do poder<br />

público nacional, tornou-se necessária<br />

a existência de um ordenamento<br />

jurídico especial, diferente <strong>da</strong>quele do<br />

ci<strong>da</strong>dão comum, que deu orig<strong>em</strong>, nos<br />

dias atuais, ao Código Penal Militar e<br />

ao Código de Processo Penal Militar,<br />

b<strong>em</strong> como a leis, regulamentos e<br />

estatutos próprios, alicerçados <strong>em</strong><br />

conformi<strong>da</strong>de com o que prescreve a<br />

Constituição Federal.<br />

Até 1934, nenhuma <strong>da</strong>s constituições<br />

brasileiras fazia referência à Justiça<br />

Militar dos Estados. A Carta de 34,<br />

<strong>em</strong>bora não dispusesse expressamente<br />

sobre a Justiça Militar, conferiu<br />

à União, com base <strong>em</strong> seu artigo 84,<br />

a competência privativa para legislar<br />

defesa social<br />

sobre a organização, instrução, justiça<br />

e garantias <strong>da</strong>s forças policiais dos<br />

Estados, b<strong>em</strong> como as condições<br />

gerais de sua utilização <strong>em</strong> caso de<br />

mobilização ou de guerra.<br />

Em vista de tal dispositivo constitucional,<br />

a Lei Federal nº 192, de 17 de janeiro<br />

de 1936, autorizou a organização<br />

<strong>da</strong> Justiça Militar nos Estados. Em decorrência<br />

dessa lei, foi cria<strong>da</strong> a Justiça<br />

Militar do Estado de Minas Gerais, no<br />

dia 9 de nov<strong>em</strong>bro de 1937, através <strong>da</strong><br />

Lei nº 226, completando, assim, a Justiça<br />

Castrense, 70 anos de existência.<br />

Sua estrutura inicial contava apenas com<br />

um juiz auditor e os conselhos especiais<br />

ou permanentes. Esses conselhos funcionavam<br />

como a primeira instância. A<br />

segun<strong>da</strong> instância ain<strong>da</strong> não havia sido<br />

cria<strong>da</strong>. Os recursos eram julgados pela<br />

Câmara Criminal <strong>da</strong> Corte de Apelação,<br />

órgão que equivaleria hoje ao Tribunal<br />

de Justiça do Estado.


defesa social<br />

A primeira modificação substancial<br />

aconteceu <strong>em</strong> 1946, quando a Constituição<br />

Federal posicionou a Justiça<br />

Militar como um órgão do Poder<br />

Judiciário dos Estados, orientação<br />

esta segui<strong>da</strong> pelas constituições<br />

posteriores que previu a criação de<br />

órgãos de segun<strong>da</strong> instância, que hoje<br />

são os Tribunais de Justiça Militar.<br />

Em 1946, através do Decreto-Lei nº<br />

1.630, a Justiça Militar mineira foi<br />

reestrutura<strong>da</strong>, tendo sido criado o<br />

então chamado Tribunal Superior de<br />

Justiça Militar, com sede <strong>em</strong> Belo Horizonte,<br />

como órgão de segundo grau<br />

de jurisdição. Era composto por três<br />

juízes, sendo um civil e dois militares,<br />

todos nomeados pelo governador do<br />

Estado. Mesmo permanecendo uma<br />

só auditoria, o número de conselhos<br />

de justiça passou para três: o especial,<br />

o permanente e o de corpo.<br />

Oito anos se passaram até que a Lei<br />

nº 1.098/1954 trouxesse <strong>em</strong> seu texto<br />

uma nova mu<strong>da</strong>nça: o número de<br />

juízes passaria para cinco, sendo três<br />

militares e dois civis. Esse número foi<br />

mantido até que, <strong>em</strong> 1975, a Resolução<br />

nº 61 do Tribunal de Justiça de<br />

Minas Gerais aumentou o número de<br />

auditorias que passaria a ser três.<br />

Manti<strong>da</strong> <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as constituições,<br />

desde 1934, a Justiça Militar consolidou<br />

no Estado D<strong>em</strong>ocrático de Direito<br />

a sua competência especializa<strong>da</strong>,<br />

através <strong>da</strong> efetiva prestação<br />

jurisdicional, com celeri<strong>da</strong>de e independência.<br />

Protege os bens jurídicos<br />

tutelados pela lei penal militar, zelando<br />

pelos direitos e garantias fun<strong>da</strong>mentais<br />

dos militares estaduais.<br />

A Constituição ci<strong>da</strong>dã de 1988<br />

consagrou de forma definitiva a<br />

Justiça Militar estadual como parte<br />

constitutiva do Poder Judiciário e<br />

passou a dispor sobre a competência<br />

e a criação dos Tribunais de Justiça<br />

Militar nos Estados.<br />

Com a Emen<strong>da</strong> Constitucional nº 45,<br />

ocorreu a ampliação <strong>da</strong> competência<br />

<strong>da</strong> Justiça Militar, que passou a<br />

processar e julgar os crimes militares<br />

previstos no Código Penal Militar,<br />

além <strong>da</strong>s ações judiciais contra atos<br />

disciplinares, antes direciona<strong>da</strong>s para<br />

a Vara <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> Pública e Autarquias<br />

<strong>da</strong> Justiça comum. Deu nomenclatura<br />

adequa<strong>da</strong> ao antigo cargo de juiz<br />

auditor que passou a se chamar juiz<br />

de direito do juízo militar.<br />

Com essa <strong>em</strong>en<strong>da</strong>, o Pleno do Tribunal<br />

de Justiça Militar de Minas Gerais inovou,<br />

através <strong>da</strong> Resolução nº 54/2006,<br />

ao decidir criar as Câmaras Cível e<br />

Criminal, trazendo mais celeri<strong>da</strong>de e<br />

especialização no julgamento dos processos.<br />

Esta decisão possibilitou aos<br />

julgadores a oportuni<strong>da</strong>de de realizar<br />

julgamentos mais coerentes e aprofun<strong>da</strong>dos.<br />

Foi manti<strong>da</strong> a competência exclusiva<br />

do Pleno para conhecer e julgar<br />

os feitos de competência originária,<br />

b<strong>em</strong> como os recursos contra as decisões<br />

<strong>da</strong>s Câmaras, como é o caso, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, dos <strong>em</strong>bargos infringentes.<br />

Em 28 de dez<strong>em</strong>bro de 2005, a<br />

Lei Compl<strong>em</strong>entar nº 85 alterou a<br />

composição do Tribunal para sete<br />

juízes, sendo três oficiais <strong>da</strong> ativa<br />

do mais alto posto <strong>da</strong> Polícia Militar,<br />

um do mais alto posto do Corpo de<br />

Bombeiros Militar, um do Ministério<br />

Público, um <strong>da</strong> OAB e o último sendo<br />

promovido dentre os juízes de direito<br />

do juízo militar <strong>da</strong> primeira instância.<br />

No tocante às auditorias, também houve<br />

ampliação. As três auditorias sedia<strong>da</strong>s na<br />

Capital contam hoje com três juízes de direito<br />

titulares e três juízes substitutos concursados.<br />

A Lei nº 16.646, de 5 de janeiro<br />

de 2007, criou novos cargos para fazer<br />

face ao crescente número de processos<br />

encaminhados à Justiça Castrense, um<br />

reflexo <strong>da</strong> Emen<strong>da</strong> Constitucional nº 45.<br />

A Justiça Militar mineira t<strong>em</strong> a sua<br />

organização ampara<strong>da</strong> hoje pela Lei<br />

de Organização e Divisão Judiciárias,<br />

de iniciativa e competência exclusiva<br />

do Tribunal de Justiça do Estado de<br />

Minas Gerais, que a classificou como<br />

Justiça Especial. Está prevista no artigo<br />

125, § 3º, <strong>da</strong> Constituição Federal de<br />

1988, sendo importante segmento do<br />

Poder Judiciário do Estado de Minas<br />

Gerais, tendo como jurisdicionados os<br />

68 mil militares estaduais <strong>da</strong> ativa, <strong>da</strong><br />

reserva e os reformados.<br />

Em sua busca incessante pela modernização,<br />

a Justiça Militar do Estado de<br />

Minas Gerais conquistou recent<strong>em</strong>ente<br />

o seu sonho de uma nova sede, que<br />

reunirá a primeira e a segun<strong>da</strong> instância<br />

<strong>em</strong> um mesmo complexo, na Aveni<strong>da</strong><br />

Prudente de Morais, nº 1671, bairro<br />

Santo Antônio, nessa Capital. Com<br />

a nova edificação, a Justiça Militar mineira<br />

terá mais espaço, poderá concentrar<br />

to<strong>da</strong> a sua prestação jurisdicional,<br />

acompanhará as mu<strong>da</strong>nças no cenário<br />

jurídico nacional com o mesmo compromisso<br />

de seus antepassados de atender<br />

aos anseios <strong>da</strong> população mineira, s<strong>em</strong>pre<br />

merecedora de serviços de excelência,<br />

na luta por um ideal de justiça.<br />

Juiz Cel PM Rúbio Paulino Coelho - Presidente do Tribunal de Justiça Militar de MG, biênio<br />

2008/09. É bacharel <strong>em</strong> Direito pela PUC-MG, e formado <strong>em</strong> Educação Física pelo Exército Brasileiro.<br />

Mestre <strong>em</strong> Segurança Pública. Participou do Curso Internacional de Alta Especialização para<br />

Forças de Polícia, <strong>em</strong> Roma, e do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia <strong>da</strong> Escola Superior<br />

de Guerra, no RJ. Foi Chefe do Gabinete Militar e Coordenador Estadual de Defesa Civil de MG.<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

41


Notas sobre organizações<br />

e servidores policiais<br />

Jésus Trin<strong>da</strong>de Barreto Júnior<br />

O foco deste ensaio se projeta na<br />

questão dos recursos humanos <strong>da</strong>s<br />

organizações policiais, buscando<br />

transitar mais propriamente pelo eixo<br />

dos dil<strong>em</strong>as, para finalmente cogitar<br />

de algumas pistas sobre perspectivas<br />

de um novo paradigma, o que, vou<br />

defender, está associado ao desenho<br />

<strong>da</strong>s estruturas organizacionais <strong>da</strong>s<br />

polícias. Não pretendo sugerir modelos,<br />

mas sim lançar referenciais que<br />

suponho úteis para a construção do<br />

novo, para a superação de entraves<br />

clássicos ao labor policial. Recorro<br />

primeiramente a uma afirmação que<br />

fiz noutro lugar e que, agora, recupero<br />

como pr<strong>em</strong>issa <strong>da</strong> presente argumentação.<br />

Eu dizia que a tarefa deste<br />

instante político é a de promover os<br />

profissionais de polícia enquanto pessoas<br />

que se dedicam ao incr<strong>em</strong>ento<br />

dos padrões <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia brasileira,<br />

CIAD (Centro Integrado de<br />

Atendimento e Despacho).<br />

42 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

tal como ela v<strong>em</strong> sendo construí<strong>da</strong><br />

dentro do processo d<strong>em</strong>ocrático.<br />

Concluí que isto seria uma resposta<br />

aos ardentes apelos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de <strong>em</strong><br />

geral e de amplos setores responsáveis<br />

<strong>da</strong> própria comuni<strong>da</strong>de policial<br />

brasileira. E terminei <strong>em</strong>en<strong>da</strong>ndo que<br />

tudo se resumiria, pois, num convite à<br />

mu<strong>da</strong>nça do sist<strong>em</strong>a ou, digamos, um<br />

ataque à sua fragmentação.<br />

Isto porque uma <strong>da</strong>s questões que<br />

se destacam na prática e que acaba<br />

percebi<strong>da</strong> no imaginário popular -<br />

como, também, do profissional de<br />

polícia - é a baixa densi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />

enunciações técnico-científicas do<br />

fazer policial e a pouca visibili<strong>da</strong>de<br />

pública de seu compromisso ético<br />

como gestor de ações pela solução<br />

pacífica dos conflitos. Estas deficiências,<br />

<strong>em</strong> termos gerais, se revelam<br />

defesa social<br />

pelo anacronismo dos paradigmas<br />

doutrinários e operativos <strong>da</strong>s polícias;<br />

vale dizer, pela assimetria de valores e<br />

procedimentos que ca<strong>da</strong> qual pratica,<br />

oficial e oficiosamente. Partindo-se<br />

<strong>da</strong>í, surge o imperativo político <strong>da</strong> requalificação<br />

<strong>da</strong>s estruturas orgânicas<br />

e procedimentais <strong>da</strong>s instituições<br />

policiais e seus servidores, de modo<br />

a que se possa pensar, como política<br />

pública, num sist<strong>em</strong>a homogêneo, do<br />

ponto de vista <strong>da</strong> eficiência e eficácia<br />

do conjunto profissionais-instituições.<br />

Infere-se, então, que a consoli<strong>da</strong>ção<br />

do conhecimento policial (doutrina e<br />

prática) seja o fun<strong>da</strong>mento de uma<br />

integração estrutural entre os órgãos<br />

policiais e o ponto de parti<strong>da</strong> para<br />

a definitiva imersão do aparelho de<br />

polícia no projeto de aperfeiçoamento<br />

d<strong>em</strong>ocrático, naquilo que se refere a<br />

novos padrões de enfrentamento <strong>da</strong><br />

violência e criminali<strong>da</strong>de.<br />

Assim considerado, o anacronismo e<br />

a assimetria <strong>em</strong> destaque se revelam<br />

por distorções históricas que poderiam<br />

ser assim enfeixa<strong>da</strong>s: 1. inexistência<br />

de uma definição paradigmática do<br />

ciclo completo <strong>da</strong> ação policial (polícia<br />

ostensiva e polícia de investigações),<br />

cont<strong>em</strong>plando-se aí o papel de outros<br />

atores públicos e privados; e, como<br />

conseqüência, 2. a inexistência de<br />

protocolos de interação sistêmica<br />

entre as polícias, nas complexas fases<br />

do ciclo <strong>em</strong> questão.<br />

Daí, o pensar <strong>em</strong> formação de recursos<br />

humanos nas organizações policiais,<br />

isto é, numa estratégia para a construção<br />

e atualização permanente <strong>da</strong>


defesa social<br />

cultura policial esbarra, de plano, na<br />

ausência do cogitado projeto integralizador,<br />

na ausência de uma política<br />

sist<strong>em</strong>ática para a ação policial no<br />

País. Com efeito, ain<strong>da</strong> que a Constituição<br />

Federal de 1988 tenha sido<br />

explícita com o inovador capítulo sobre<br />

a segurança pública, dentro do título<br />

<strong>da</strong> defesa do Estado e <strong>da</strong>s instituições<br />

d<strong>em</strong>ocráticas, tudo ficou na dependência<br />

<strong>da</strong> regulamentação que ela<br />

mesma previu no parágrafo 7º do artigo<br />

144. Em outras palavras, a nação<br />

ficou priva<strong>da</strong> <strong>da</strong> norma jurídica infraconstitucional<br />

que definiria o caráter<br />

sistêmico <strong>da</strong> ação policial, integrando<br />

formal e pontualmente os papéis que<br />

ela genericamente distribuiu às polícias<br />

estaduais e às federais, vale dizer,<br />

àquelas que têm a missão do trabalho<br />

ostensivo e as que têm a missão do<br />

trabalho investigativo. Seria de se esperar<br />

que tal norma erigisse conceitos<br />

alinhados sobre os dois grandes ramos<br />

do fazer policial, vale repetir, o ostensivo<br />

e o de investigação, definindo aí,<br />

<strong>em</strong> termos metodológicos de índole<br />

técnica e científica, o denominado ciclo<br />

completo <strong>da</strong> ação policial.<br />

Evito delibera<strong>da</strong>mente explorar o<br />

t<strong>em</strong>a <strong>da</strong> unificação, entendendo<br />

que os objetivos <strong>da</strong> concepção que<br />

ora defendo pod<strong>em</strong> se concretizar<br />

independent<strong>em</strong>ente dela, <strong>em</strong>bora se<br />

deva admitir, com ótimas razões, que<br />

esta é uma hipótese admissível num<br />

processo sério de discussões.<br />

Esta visão exige que vincul<strong>em</strong>os o<br />

hom<strong>em</strong> (o operador) e a organização<br />

(a máquina produtiva), na busca<br />

de sentido para a inserção <strong>da</strong>quele<br />

nos domínios desta. Exige, pois, que<br />

coloqu<strong>em</strong>os frente à frente estas<br />

duas quali<strong>da</strong>des, concebendo-as <strong>em</strong><br />

conjunção. Vale perguntar: será que a<br />

mera reconstrução e incr<strong>em</strong>ento dos<br />

currículos <strong>da</strong>s escolas de polícia, por<br />

si só, pode pretender-se medi<strong>da</strong> suficiente<br />

para o fortalecimento de uma<br />

cultura policial d<strong>em</strong>ocrática? Será que<br />

esta tarefa depende exclusivamente<br />

<strong>da</strong> transformação do hom<strong>em</strong>? De<br />

outro modo, buscando respostas,<br />

construo duas in<strong>da</strong>gações, ca<strong>da</strong> qual<br />

desdobra<strong>da</strong> assim:<br />

1- Qu<strong>em</strong> é o ci<strong>da</strong>dão, hom<strong>em</strong> ou<br />

mulher, que se apresenta ao recrutamento<br />

<strong>da</strong>s organizações policiais?<br />

1.1- O que constitui o imaginário deste<br />

sujeito no ato de ingressar nestas<br />

organizações?<br />

1.2- Que expectativas ideológicas ele<br />

t<strong>em</strong> a respeito do seu papel como<br />

autori<strong>da</strong>de pública?<br />

1.3- Quais são as aptidões e conhecimentos<br />

prévios que traz consigo?<br />

E como associar tal bagag<strong>em</strong> de<br />

forma aplica<strong>da</strong> às quali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> ação<br />

policial?<br />

1.4- Quais são os valores (plano <strong>da</strong><br />

ética) que deve assimilar enquanto<br />

sujeito que livr<strong>em</strong>ente decide se investir<br />

no poder de execução <strong>da</strong> força<br />

legítima, manifesta<strong>da</strong>, in extr<strong>em</strong>is, pela<br />

capaci<strong>da</strong>de letal?<br />

1.5- Quais os conhecimentos (plano <strong>da</strong><br />

técnica) que deve incorporar à respectiva<br />

formação, integrando o seu patrimônio<br />

ético e técnico ao patrimônio<br />

deontológico e técnico-operativo <strong>da</strong><br />

organização onde aporta?<br />

2- Que horizontes as organizações policiais<br />

descortinam para este sujeito,<br />

conferindo-lhe com clareza o respectivo<br />

papel, primeiro, enquanto agente<br />

de um man<strong>da</strong>do público de alta exigência<br />

ética e sociológica; segundo,<br />

enquanto executor de uma técnica<br />

rigorosamente adstrita a protocolos e<br />

rotinas científicas?<br />

2.1- Que modelo estrutural do<br />

aparato de polícia lhe é apresentado<br />

como visão de microcosmo, enfim,<br />

como canal de potencialização deste<br />

man<strong>da</strong>to?<br />

2.2- Que evidências há <strong>da</strong> consistência<br />

e coerência técnica dentro de ca<strong>da</strong><br />

ramo, o ostensivo e o investigativo?<br />

2.3- Que evidências exist<strong>em</strong> de que<br />

o ciclo completo <strong>da</strong> ação policial é<br />

praticado sob padrões culturais e operacionais<br />

solidários; ou seja, a prática<br />

articula<strong>da</strong> entre ação ostensiva e ação<br />

investigativa é um fato que anima a<br />

perfeição do mesmo man<strong>da</strong>to?<br />

Tais questões, que afinal não apresentam<br />

quaisquer novi<strong>da</strong>des <strong>em</strong><br />

si mesmas, são prejudica<strong>da</strong>s pela<br />

fragmentação estrutural do aparelho<br />

de polícia.<br />

O que se aponta como sinal disto é a<br />

ausência de uma teoria geral <strong>da</strong> ação<br />

<strong>da</strong> polícia brasileira, teoria sobre a qual<br />

estariam monta<strong>da</strong>s as bases tanto do<br />

universo ético quanto do universo<br />

técnico dos serviços policiais. Neste<br />

sentido, a construção de marcos seria<br />

condição fun<strong>da</strong>mental para o êxito de<br />

qualquer pretensão inovadora. Esta<br />

tarefa, contudo, depende de respostas<br />

a probl<strong>em</strong>as tópicos complexos como,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, entre muitos outros:<br />

Qual é a exata d<strong>em</strong>arcação entre as<br />

ações <strong>da</strong> polícia ostensiva e as <strong>da</strong><br />

polícia de investigação, isto é, os dois<br />

grandes ramos do trabalho policial?<br />

Quais são as “áreas de produção” de<br />

ca<strong>da</strong> qual?<br />

Qual é a lógica <strong>da</strong> necessária interseção<br />

entre os ramos e as áreas, tanto<br />

no âmbito interno de ca<strong>da</strong> uma destas,<br />

quanto entre aqueles, <strong>em</strong> si mesmos?<br />

Qual é o modelo orgânico que melhor<br />

capacita o des<strong>em</strong>penho de ca<strong>da</strong> ramo<br />

e áreas?<br />

Quais são, tecnicamente, os procedimentos<br />

operativos de ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s<br />

polícias?<br />

Qual é o grau de imbricação técnica<br />

entre os respectivos procedimentos<br />

operativos?<br />

Qual é a concepção de hierarquia que<br />

lhes fun<strong>da</strong> o controle disciplinar?<br />

Qual é a racionali<strong>da</strong>de que norteia<br />

a composição de carreiras, cargos,<br />

postos e patentes policiais dentro de<br />

ca<strong>da</strong> ramo?<br />

Qual é a visão administrativa de controle<br />

interno?<br />

Qual é o valor ético fun<strong>da</strong>mental que<br />

instrui as ações policiais?<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

43


Quais são as correspondências entre os<br />

respectivos estamentos hierárquicos e<br />

o sincronismo entre os papéis de ca<strong>da</strong><br />

qual?<br />

Qual é o compromisso de mútuo progresso<br />

que incorporam às respectivas<br />

práticas enquanto agentes de defesa<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia?<br />

Qual o nível de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de que ca<strong>da</strong><br />

qual assume frente ao outro?<br />

Qual a forma <strong>da</strong> participação comunitária<br />

junto ao aparelho de polícia no<br />

processo de construção <strong>da</strong> segurança<br />

pública?<br />

Quais os parâmetros de funcionamento<br />

frente aos outros atores públicos que<br />

atuam no sist<strong>em</strong>a de justiça criminal?<br />

A ausência de respostas institucionais<br />

para estas e outras questões adjacentes,<br />

apontam para a fragili<strong>da</strong>de<br />

dos princípios e práticas, para a ausência<br />

de sist<strong>em</strong>atização, para o assincronismo<br />

de procedimentos, enfim,<br />

indicam o vácuo de uma grande política<br />

pública que, no plano interno<br />

do aparato policial, privilegiasse o<br />

intercâmbio de saberes/práticas oficializa<strong>da</strong>s<br />

e homologa<strong>da</strong>s por instâncias<br />

formais que se fund<strong>em</strong> no ethos<br />

d<strong>em</strong>ocrático e na práxis científica.<br />

Uma modelag<strong>em</strong> que conseguisse<br />

homogenei<strong>da</strong>de entre as cúpulas e as<br />

bases, superando conflitos na caracterização<br />

de poderes internos. Enfim, um<br />

organismo interinstitucional capaz de<br />

reconstruir a identi<strong>da</strong>de e o papel <strong>da</strong><br />

tarefa policial, perdi<strong>da</strong> no t<strong>em</strong>po e <strong>em</strong><br />

nossas melhores intenções.<br />

Entendo que este vazio não se explica<br />

apenas pelos regimes autoritários <strong>da</strong><br />

nossa história, mas também por outros<br />

cenários políticos e to<strong>da</strong> uma tradição<br />

<strong>da</strong> cultura brasileira, onde se constata<br />

a negligência, para se dizer o mínimo,<br />

<strong>da</strong>s elites na construção de políticas<br />

sistêmicas para o setor. Não me refiro<br />

aqui somente às elites <strong>em</strong> posição de<br />

governo, mas também às de oposição e<br />

o encolhimento dos movimentos sociais<br />

com força para deflagrar processos<br />

44 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

de transformação no instrumental de<br />

estado, situação que v<strong>em</strong> se revertendo<br />

a partir dos anos 2000.<br />

Assim, o aparelho de polícia s<strong>em</strong>pre<br />

foi mantido como ativi<strong>da</strong>de menor,<br />

puramente edificado numa visão beligerante,<br />

criado para funcionar como<br />

mero aparato de resistência física,<br />

note-se b<strong>em</strong>, resistência física ao<br />

crime. Ain<strong>da</strong> que o mundo cont<strong>em</strong>porâneo<br />

tenha ativado o processo de<br />

profissionalização <strong>da</strong>s instituições policiais,<br />

a improvisação e práticas <strong>em</strong>píricas<br />

e, sobretudo a subserviência à<br />

política menor ain<strong>da</strong> é fator de amadorismo<br />

e permeabili<strong>da</strong>de a práticas<br />

ilegais ou ineficazes. No caso brasileiro,<br />

há o fenômeno do sério antagonismo<br />

entre uma concepção de inspiração<br />

militarista e outra de inspiração<br />

juridicista. Não aponto qualquer desvalor,<br />

<strong>em</strong> si mesmo, aos conceitos de<br />

um e outro, mas sim ao confronto,<br />

digamos, passional, que se verifica<br />

entre eles. Ao desacordo entre essas<br />

culturas. E no boicote espontâneo que<br />

esta oposição provoca contra a busca<br />

de uma cosmovisão própria do aparelho<br />

policial como um todo. Por isto,<br />

a larga tradição de dependência dos<br />

serviços policiais é página típica de<br />

uma mentali<strong>da</strong>de social, e particularmente<br />

governamental, restritiva <strong>da</strong><br />

<strong>em</strong>ancipação dos respectivos órgãos<br />

e seus servidores. Resulta <strong>da</strong>í, descontados<br />

alguns bons programas governamentais,<br />

o incr<strong>em</strong>ento <strong>da</strong> pesquisa<br />

científica sobre o campo policial e a<br />

militância de certos movimentos sociais,<br />

uma polícia ain<strong>da</strong> sujeita a certo<br />

aprisionamento institucional, desampara<strong>da</strong><br />

de um arcabouço normativo<br />

que lhe coloque <strong>em</strong> situação de promotora<br />

de liber<strong>da</strong>des públicas e protagonista<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. É provavelmente<br />

por conta deste desamparo<br />

que as subculturas do universo policial<br />

se mantém, ganham força e ca<strong>em</strong><br />

na subjetivi<strong>da</strong>de casuística: muitos<br />

agentes - e subsist<strong>em</strong>as inteiros, às<br />

vezes - se val<strong>em</strong> desta situação para<br />

defesa social<br />

a tutela de interesses personalistas<br />

(campo <strong>da</strong> projeção pessoal e “privatização”<br />

dos serviços) e até criminosos<br />

(campo <strong>da</strong> corrupção e violência).<br />

Isto condicionou a existência<br />

de “grupos” internos, ver<strong>da</strong>deiras instâncias<br />

informais de poder, que se revezam<br />

no controle deste ou <strong>da</strong>quele<br />

espaço <strong>da</strong> organização – e, por extensão,<br />

do espaço público - sufocando<br />

o sentido técnico-profissional<br />

<strong>da</strong> missão policial.<br />

Polícia dependente é, portanto, o<br />

contrário de polícia prepara<strong>da</strong> para o<br />

des<strong>em</strong>penho deste complexo man<strong>da</strong>to<br />

público, que é o de dispor, legitimamente,<br />

<strong>da</strong> violência legal, a violência<br />

racionalmente concebi<strong>da</strong> como necessária<br />

para a manutenção dos padrões<br />

civilizados de convivência. Perceba-se<br />

aqui a quali<strong>da</strong>de dos paradigmas.<br />

De um lado, um paradigma restritivo<br />

<strong>da</strong>s potenciali<strong>da</strong>des dos ci<strong>da</strong>dãos<br />

que executam as funções policiais;<br />

de outro, um paradigma <strong>da</strong> profissionalização<br />

dos homens, que prioriza<br />

os investimentos numa mentali<strong>da</strong>de<br />

institucional basea<strong>da</strong> no método<br />

científico e nos valores próprios do<br />

estado d<strong>em</strong>ocrático de direito.<br />

É nesta linha, o do baixo investimento<br />

na edificação, manutenção e difusão<br />

de uma cultura ética e técnica própria<br />

do conjunto dos órgãos policiais, que<br />

nos acostumamos aos discursos <strong>em</strong><br />

que, in<strong>da</strong>gados sobre o como atuar<br />

pelo aperfeiçoamento <strong>da</strong> ação policial,<br />

governantes pouco escapam do lugar<br />

comum: comprar armas, automóveis,<br />

coletes e aumentar efetivos. Na<strong>da</strong><br />

mal que se pense no equipamento<br />

material dos órgãos policiais, mas<br />

ocorre que não se t<strong>em</strong> a dimensão do<br />

investimento no equipamento doutrinário,<br />

procedimental dos agentes e<br />

<strong>da</strong>s instituições policiais, se assim se<br />

puder dizer. Com efeito, o uso racional<br />

do equipamento material depende<br />

dos valores <strong>da</strong>s organizações que os<br />

mantém, vale dizer, depende de uma


defesa social<br />

CIAD (Centro Integrado de<br />

Atendimento e Despacho).<br />

clara sintonia com o plano normativo<br />

interno, onde se tenha o substrato<br />

técnico-científico <strong>da</strong>s múltiplas variáveis<br />

do ciclo completo <strong>da</strong> ação policial<br />

e, claro, abertura para o diálogo com a<br />

socie<strong>da</strong>de. Isto nos leva a concluir que<br />

antes de ser uma tarefa de números,<br />

vale dizer, grandes efetivos, grande<br />

potencial de armamentos, grande <strong>em</strong>prego<br />

de tecnologias, o fazer policial<br />

é uma tarefa de ordenação metodológica,<br />

ou seja, de compreensão profun<strong>da</strong><br />

do fenômeno <strong>da</strong> criminali<strong>da</strong>de,<br />

de técnicas de relacionamento entre<br />

os órgãos policiais, de parâmetros de<br />

relacionamento entre os órgãos policiais<br />

e outros órgãos governamentais<br />

e, de todos estes, com os atores <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de civil organiza<strong>da</strong>. Em outras<br />

palavras: fazer polícia depende <strong>da</strong><br />

alta profissionalização do servidor e<br />

<strong>da</strong> sua inserção dentro de um sist<strong>em</strong>a<br />

rigi<strong>da</strong>mente regulado por valores<br />

éticos e técnicos.<br />

Estes valores éticos diz<strong>em</strong> respeito<br />

ao compromisso profissional dos<br />

policiais com a ord<strong>em</strong> d<strong>em</strong>ocrática,<br />

com os valores de proteção à pessoa<br />

humana e com a completa abstenção<br />

do uso de métodos ilegais <strong>em</strong> suas<br />

missões. Diz<strong>em</strong> respeito ao pano de<br />

fundo <strong>da</strong> ação policial, à constituição<br />

moral dos agentes de polícia, sejam<br />

de que graus hierárquicos for<strong>em</strong>.<br />

Implicam, pois, estes valores, na<br />

lineari<strong>da</strong>de <strong>da</strong> conduta policial, na<br />

efetiva consciência que ca<strong>da</strong> hom<strong>em</strong><br />

e mulher, <strong>em</strong>pregados nas diversas<br />

carreiras policiais, têm de seu papel<br />

como servidores públicos de elite, ou<br />

seja, de seu papel pe<strong>da</strong>gógico na li<strong>da</strong><br />

cotidiana com o conflito.<br />

Por outro lado, os valores técnicos<br />

integram, <strong>em</strong> tese, todo o plano<br />

normativo operacional dos órgãos,<br />

dizendo respeito à execução <strong>em</strong><br />

espécie <strong>da</strong>s rotinas de trabalho,<br />

do uso normalizado dos inúmeros<br />

procedimentos possíveis no campo <strong>da</strong><br />

prevenção e <strong>da</strong> repressão ao delito.<br />

Conquanto tenhamos um consagrado<br />

arcabouço de leis penais, substantivas<br />

e adjetivas, a ver<strong>da</strong>de é que, no nível<br />

estritamente policial, os respectivos<br />

protocolos de execução <strong>da</strong>s funções<br />

finalísticas, sejam as de polícia ostensiva,<br />

sejam as de polícia investigativa<br />

(judiciária), acontec<strong>em</strong> s<strong>em</strong> uma<br />

teoria geral de <strong>em</strong>prego, capaz de<br />

aglutinar todos os passos do sist<strong>em</strong>a<br />

policial, integrando, imbricando os<br />

ramos ostensivo e investigativo, nos<br />

seus complexos itinerários.<br />

É neste sentido, <strong>da</strong> ausência de uma<br />

teoria geral <strong>da</strong> ação policial, assumi<strong>da</strong><br />

como valor uniformizante e, pois, como<br />

projeto político de uma nação que<br />

precisa de serviços policiais praticados<br />

no binômio energia-promoção dos<br />

direitos humanos, que agora se<br />

descortina o cenário de reforma <strong>da</strong>s<br />

respectivas instituições. E é neste<br />

cenário que se pode buscar respostas<br />

para aquelas in<strong>da</strong>gações que formulei<br />

atrás, sobre o sentido <strong>da</strong> relação<br />

hom<strong>em</strong>/instituições policiais.<br />

Assim, se o nosso t<strong>em</strong>a é a formação<br />

de recursos humanos e se a nossa impressão<br />

é a de que esta formação precisa<br />

se compatibilizar com um modelo<br />

efetivamente produtivo e integrador, que<br />

represente com clareza as concepções<br />

de uma teoria geral <strong>da</strong> ação policial,<br />

a idéia é reconceituar antigas funções<br />

de ambos os segmentos - ostensivo e<br />

investigativo - realinhando-os de modo<br />

a alcançar<strong>em</strong> coerência e capaci<strong>da</strong>de<br />

de difusão de princípios e métodos,<br />

vale repetir, conceber e manter a ética<br />

e técnica policial de modo uniforme.<br />

Aqui, é oportuno refutar-se uma visão<br />

muito enraiza<strong>da</strong>, que apresenta os dois<br />

ramos sob um alinhamento meramente<br />

positivo, que os articula <strong>em</strong> dois t<strong>em</strong>pos<br />

distintos e subseqüentes, que se mov<strong>em</strong><br />

por lógicas próprias, pouco dizendo<br />

uma à outra. Na ver<strong>da</strong>de, entendo<br />

que os ramos se articulam por uma<br />

dialética <strong>da</strong> compl<strong>em</strong>entari<strong>da</strong>de, onde<br />

se pode trabalhar organicamente com<br />

os fluxos e refluxos <strong>da</strong>s ações ostensiva<br />

e investigativa. Isto se justifica mais<br />

ain<strong>da</strong> quando se pensa no campo <strong>da</strong><br />

doutrina e, especialmente, no campo<br />

<strong>da</strong> constituição de informações policiais<br />

e de segurança pública, facilitando, na<br />

reta final, o monitoramento <strong>da</strong>s ações<br />

de ponta.<br />

A meu juízo, as bases principiológicas<br />

do processo de integração praticado <strong>em</strong><br />

Minas Gerais a partir de 2003 têm esta<br />

dimensão e, portanto, constitu<strong>em</strong> uma<br />

promessa de <strong>em</strong>ancipação <strong>da</strong>s pessoas<br />

e instituições policiais mineiras.<br />

Jésus Trin<strong>da</strong>de Barreto Júnior - Delegado Geral de Polícia Civil de Minas Gerais; Mestrando <strong>em</strong><br />

Educação na UFMG.<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

45


Segurança Ci<strong>da</strong>dã: qual controle?<br />

Ellen Márcia L. S. de Carvalho<br />

As instituições policiais são capazes de exercer controles formais e informais, e à<br />

proporção que se fortalece o vínculo que se estabelece entre a polícia e a comuni<strong>da</strong>de,<br />

maior será a possibili<strong>da</strong>de de se construir uma segurança ci<strong>da</strong>dã. A Mediação de<br />

Conflitos e os recursos metodológicos de que se serve auxiliarão a polícia e a comuni<strong>da</strong>de<br />

no convívio com os contextos de desavenças, discórdias, controvérsias e violência. Tratase<br />

de uma forma eficaz que viabiliza o acesso a soluções rápi<strong>da</strong>s e criativas, sendo,<br />

portanto, um el<strong>em</strong>ento essencial para a concretização do Estado D<strong>em</strong>ocrático de Direito.<br />

Palavras-chaves: Segurança Ci<strong>da</strong>dã - Controle Social - Polícia Comunitária - Mediação de Conflitos<br />

Exist<strong>em</strong> controles formais e informais,<br />

sendo a polícia capaz de realizar estes<br />

dois tipos, uma vez que é responsável<br />

pelo cumprimento <strong>da</strong> lei e exerce ao<br />

mesmo t<strong>em</strong>po uma função social. O<br />

controle formal é constituído pelas<br />

normatizações, regras, leis, códigos,<br />

padronizações que são impostas<br />

ao ci<strong>da</strong>dão. O controle informal é<br />

exercido de forma proporcional ao<br />

vínculo vigente entre o sujeito e a<br />

A mediadora de conflitos atua para a<br />

<strong>em</strong>ancipação ci<strong>da</strong>dã.<br />

46 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

socie<strong>da</strong>de, sendo este fortalecido por<br />

uma relação social constituí<strong>da</strong>.<br />

Os mecanismos de controles formais<br />

se utilizam de agentes fiscalizadores,<br />

de meios legais e judiciais para agir<strong>em</strong>.<br />

O controle formal é fun<strong>da</strong>mentado,<br />

teórico, igualitário e impessoal. O controle<br />

informal é fun<strong>da</strong>dor, dinâmico,<br />

moral e reflexivo, ele é o poder que o<br />

meio, as relações familiares e sociais<br />

defesa social<br />

possu<strong>em</strong> para controlar as atitudes<br />

e comportamentos <strong>da</strong>s pessoas. A<br />

polícia t<strong>em</strong> função institucional de<br />

fazer controle formal, entretanto<br />

deve dimensionar o alcance social<br />

que atinge, para cumprir sua função<br />

informal e pe<strong>da</strong>gógica.<br />

A polícia ideal é aquela que t<strong>em</strong> pessoas<br />

b<strong>em</strong> capacita<strong>da</strong>s e motiva<strong>da</strong>s<br />

para servir a socie<strong>da</strong>de. As instituições<br />

policiais dev<strong>em</strong> oferecer uma boa organização<br />

do trabalho, que se preocupa<br />

com a saúde mental de seus servidores,<br />

que valoriza e estimula o policial.<br />

A polícia é capaz de evoluir, de se<br />

a<strong>da</strong>ptar às novas d<strong>em</strong>an<strong>da</strong>s <strong>da</strong><br />

função policial, de agir de forma sistêmica<br />

com a socie<strong>da</strong>de. Diante de tais<br />

pressupostos é inegável a importância<br />

<strong>da</strong> adoção de novas políticas institucionais<br />

com o enfoque na prevenção<br />

criminal, não deixando de lado a sua<br />

função repressora, porém exercendo<br />

esta, de forma legal e qualifica<strong>da</strong>. E é<br />

neste contexto que atua a Polícia Comunitária,<br />

que trabalha <strong>em</strong> conjunto<br />

com a socie<strong>da</strong>de que se serve, agindo<br />

de forma articula<strong>da</strong>, exercendo um


defesa social<br />

sentimento de pertencimento de sua<br />

comuni<strong>da</strong>de, fomentando a construção<br />

de uma segurança ci<strong>da</strong>dã,<br />

onde todos têm a responsabili<strong>da</strong>de de<br />

promover a paz social.<br />

A prática de Polícia Comunitária está<br />

fun<strong>da</strong><strong>da</strong> nos princípios do policial sujeito,<br />

reflexivo, que sabe ser ci<strong>da</strong>dão,<br />

e respeita a pessoa humana. Também<br />

é capaz de fazer uma leitura <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong><br />

sociológica do crime, uma vez<br />

que observa o contexto que envolve o<br />

fenômeno criminal, a forma sistêmica<br />

e histórica que se desencadeiam os<br />

conflitos sociais. Ele é agente de uma<br />

prática preventiva, que possibilita o<br />

estreitamento <strong>da</strong>s forças policiais e a<br />

comuni<strong>da</strong>de.<br />

Espera-se de um Policial Comunitário<br />

saber agir de forma a atender b<strong>em</strong><br />

a d<strong>em</strong>an<strong>da</strong> trazi<strong>da</strong> pela comuni<strong>da</strong>de,<br />

realizar encaminhamentos adequados<br />

para outras instâncias governamentais,<br />

saber trabalhar <strong>em</strong> rede, desenvolver<br />

estratégias de ação social,<br />

mobilizar a comuni<strong>da</strong>de <strong>em</strong> que está<br />

inserido para a maior autonomia e autogestão<br />

de seus conflitos e carências.<br />

A Mediação de Conflitos é um novo<br />

campo de ação social a ser utiliza<strong>da</strong><br />

pela Polícia Comunitária. Sua metodologia<br />

propõe a resolução pacífica dos<br />

conflitos por meio do diálogo e <strong>da</strong> intercessão<br />

do terceiro no dualismo do<br />

conflito. Este terceiro é um mediador<br />

ci<strong>da</strong>dão ou um técnico capacitado<br />

para li<strong>da</strong>r com as controvérsias e percepções<br />

que ca<strong>da</strong> parte envolvi<strong>da</strong> traz<br />

consigo. A mediação é utiliza<strong>da</strong> como<br />

intervenção de natureza preventiva e<br />

de controle social, ao buscar soluções<br />

“A Mediação de<br />

Conflitos é um novo<br />

campo de ação social<br />

a ser utiliza<strong>da</strong> pela<br />

Polícia Comunitária”<br />

para os probl<strong>em</strong>as que deterioram a<br />

quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des<br />

locais e ao envolver os ci<strong>da</strong>dãos nesse<br />

processo, a comuni<strong>da</strong>de poderia, com<br />

a cooperação de outros órgãos, contribuir<br />

para reforçar laços sociais, favorecer<br />

a população a gerir os seus<br />

próprios probl<strong>em</strong>as e por extensão,<br />

prevenir crimes, efetivando uma cultura<br />

de paz.<br />

A mediação de conflitos objetiva, acima<br />

de tudo, a prevenção criminal, e t<strong>em</strong><br />

como foco de trabalho as pessoas envolvi<strong>da</strong>s<br />

<strong>em</strong> crimes de menor potencial<br />

ofensivo, ou fatos atípicos. Tais conflitos<br />

correspond<strong>em</strong> a um grande montante<br />

de expedientes instaurados <strong>em</strong> uma<br />

delegacia, sendo fatos recorrentes que<br />

tend<strong>em</strong> a se agravar. Ao fortalecer a<br />

comuni<strong>da</strong>de, <strong>da</strong>ndo poder ao ci<strong>da</strong>dão,<br />

promove-se a constituição de capital social,<br />

que desencadeia desenvolvimento<br />

social, prevenção de crimes, por <strong>em</strong>ancipação,<br />

satisfação social na reali<strong>da</strong>de<br />

que se vive.<br />

A Polícia Ci<strong>da</strong>dã, que promove a autonomia<br />

<strong>da</strong>s partes envolvi<strong>da</strong>s <strong>em</strong> um<br />

conflito, que permite a <strong>em</strong>ancipação<br />

<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de que se serve, uma<br />

vez que permite as apropriações de<br />

direitos, é aquela capaz de desconstruir<br />

uma triste história de autoritarismo e<br />

violência. Fortalece a d<strong>em</strong>ocracia e<br />

os direitos humanos, construindo de<br />

forma perseverante uma instituição<br />

capaz de promover a justiça e a paz<br />

social. Para que isso ocorra se faz<strong>em</strong><br />

necessários mecanismos de controles<br />

sociais adequados para a preservação<br />

<strong>da</strong> digni<strong>da</strong>de humana, manutenção<br />

de direitos sociais, civis e políticos. O<br />

ci<strong>da</strong>dão precisa ter a presença do Estado<br />

nas garantias sociais e civis, para<br />

que não seja excluído de direitos e<br />

participações sociais e incluído apenas<br />

no momento de ser penalizado.<br />

Referências<br />

BOFF, Leonardo. Ética e moral: a busca dos<br />

fun<strong>da</strong>mentos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.<br />

CATHALA, Fernand. Polícia: Mito ou Reali<strong>da</strong>de.<br />

São Paulo: Mestre Jou. 1973. p. 86.<br />

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O mito <strong>da</strong> não-violência in Simulacro<br />

e poder: Uma análise <strong>da</strong> mídia. São Paulo,<br />

Editora Perseu Abramo, p. 115 - 142.<br />

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Tratado <strong>da</strong>s Grandes Virtudes. São Paulo,<br />

Editora Martins Fontes, 1999.<br />

CORRÊA, J. Anchieta. Texto: Questões<br />

Éticas. Belo Horizonte.<br />

GUSTIN, Miracy B. S. Das necessi<strong>da</strong>des humanas<br />

aos direitos: Ensaio de Sociologia<br />

e Filosofia do Direito. Belo Horizonte: Del<br />

Rey, 2006.<br />

HRYNIEWICZ, Severo. Para Filosofar. Rio<br />

de Janeiro, Editora Lumen Juris, 2006.<br />

PAIXÃO, Antonio Luiz, 1982: A Organização<br />

Policial numa Área Metropolitana. Dados:<br />

<strong>Revista</strong> de Ciências Sociais, Rio de Janeiro,<br />

v.25, p.63-85<br />

SALES, Lília Maia de Morais, Mediação de<br />

Conflitos, Edit.Conceito, 2006<br />

SCHIMIDT DE OLIVEIRA, Ana Sofia. A Polícia<br />

e o Mito <strong>da</strong> Paz. Folha de São Paulo.<br />

27 dez. 1997, p. 03.<br />

SIX, Jean-François, Dinâmica <strong>da</strong> Mediação,<br />

Belo Horizonte: Edit. Del Rey, 2001.<br />

VEZZULLA, Carlos Juan, Teoria e prática <strong>da</strong><br />

mediação, Curitiba, Editado pelo Instituto<br />

de Mediação, 1995.<br />

Ellen Márcia L. S. de Carvalho - Psicóloga, gradua<strong>da</strong> na Universi<strong>da</strong>de Federal de Minas Gerais,<br />

Pós-gradua<strong>da</strong> <strong>em</strong> Segurança Pública e Direitos Humanos pela Escola Superior Dom Helder<br />

Câmara, Mediadora de Conflitos, capacita<strong>da</strong> pelo Programa Pólos de Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de<br />

de Direito <strong>da</strong> UFMG.<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

47


Corpo de Bombeiros<br />

Militar de Minas Gerais<br />

Atuação <strong>em</strong> prol <strong>da</strong> Segurança Pública<br />

R<strong>em</strong>onta aos t<strong>em</strong>pos <strong>da</strong> construção<br />

<strong>da</strong> Capital a orig<strong>em</strong> do Corpo de Bombeiros<br />

Militar do Estado de Minas Gerais,<br />

que nasceu de uma simples Seção<br />

de Bombeiros Profissionais, no ano de<br />

1911, mais precisamente no dia 31 de<br />

agosto, quando o Presidente do Estado<br />

de Minas Gerais era Júlio Bueno<br />

Brandão. O efetivo para estruturar essa<br />

Seção de Bombeiros, composto por 54<br />

homens, foi retirado <strong>da</strong> Guar<strong>da</strong> Civil<br />

e incorporado à Força Pública. Sua<br />

formação foi conduzi<strong>da</strong> por um oficial<br />

instrutor do Corpo de Bombeiros do<br />

Rio de Janeiro, então Distrito Federal, e<br />

teve como primeiro coman<strong>da</strong>nte o Capitão<br />

Antônio Augusto de Oliveira. Até<br />

o ano de 1920, a Seção de Bombeiros<br />

ocupou as dependências do Quartel do<br />

1º Batalhão <strong>da</strong> Força Pública, sediado<br />

na Praça Floriano Peixoto, no Bairro<br />

Santa Efigênia, ano <strong>em</strong> que sua sede<br />

foi transferi<strong>da</strong> para a esquina <strong>da</strong> Rua<br />

Acidente com caminhão<br />

(Uberlândia/MG).<br />

48 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

Aimorés com Rio Grande do Norte.<br />

Em 4 de janeiro de 1934, a Seção de<br />

Bombeiros foi desliga<strong>da</strong> do quadro do<br />

pessoal <strong>da</strong> Força Pública, <strong>em</strong> cumprimento<br />

ao previsto no Decreto-Lei assinado<br />

pelo então Interventor Federal,<br />

Benedito Vala<strong>da</strong>res Ribeiro. Foi dessa<br />

norma que surgiu o nome: Corpo de<br />

Bombeiros de Minas Gerais. Porém,<br />

no dia 25 de agosto de 1966, o Corpo<br />

de Bombeiros foi reintegrado à PMMG<br />

(Polícia Militar de Minas Gerais) por intermédio<br />

de uma lei estadual, que deu<br />

também nova estrutura ao Corpo de<br />

Bombeiros e criou seus três primeiros<br />

batalhões.<br />

Após quase 33 anos, o Corpo de Bombeiros<br />

foi desvinculado novamente <strong>da</strong><br />

PMMG e recebeu o nome que hoje<br />

ostenta: Corpo de Bombeiros Militar<br />

de Minas Gerais, ou simplesmente<br />

CBMMG. Esse feito ocorreu com a<br />

José Honorato Ameno<br />

defesa social<br />

“O CBMMG desponta<br />

no cenário nacional<br />

não apenas pelas<br />

próprias ações, mas<br />

também graças ao<br />

trabalho conjunto do<br />

Poder Executivo<br />

e Legislativo”<br />

promulgação <strong>da</strong> Emen<strong>da</strong> à Constituição<br />

nº 39, de 2 de junho de 1999,<br />

que atribuiu à Corporação a competência<br />

de coordenar e executar ações<br />

de defesa civil, perícias de incêndio<br />

e estabelecimento de normas relativas<br />

à segurança contra incêndios<br />

ou qualquer tipo de catástrofe, além<br />

de executar as d<strong>em</strong>ais ativi<strong>da</strong>des de<br />

prevenção e combate a incêndios e<br />

busca e salvamento. O primeiro Coman<strong>da</strong>nte-Geral<br />

dessa nova fase do<br />

CBMMG foi o Coronel BM José Maria<br />

Gomes, <strong>em</strong>possado pelo Governador<br />

Itamar Augusto Cautiero Franco, <strong>em</strong><br />

ato solene realizado no Palácio <strong>da</strong><br />

Liber<strong>da</strong>de.<br />

A novi<strong>da</strong>de estabeleci<strong>da</strong> na Constituição<br />

Mineira trouxe a necessi<strong>da</strong>de<br />

de um novo espeque jurídico infraconstitucional,<br />

que propiciou nova<br />

estrutura à recém-nasci<strong>da</strong> Instituição,<br />

<strong>da</strong>ndo a ela o Comando Operacional<br />

<strong>da</strong>s Diretorias de Recursos Humanos,<br />

de Ativi<strong>da</strong>des Técnicas, de Apoio Logístico<br />

e de Contabili<strong>da</strong>de e Finanças.<br />

Criou também a Assessoria de Assistência<br />

à Saúde, b<strong>em</strong> como os Centros


defesa social<br />

de Ensino de Bombeiros, de Operações<br />

de Bombeiros, e o de Suprimento<br />

e Manutenção. Enfim, foi cria<strong>da</strong> to<strong>da</strong><br />

essa estrutura a fim de que o CBMMG<br />

pudesse enfrentar as reali<strong>da</strong>des e a<br />

d<strong>em</strong>an<strong>da</strong>s sociais ca<strong>da</strong> vez maiores.<br />

Conforme se pode observar com<br />

clareza, os avanços conquistados pelo<br />

Corpo de Bombeiros s<strong>em</strong>pre contaram<br />

com a efetiva e indispensável<br />

participação do Governo do Estado e<br />

<strong>da</strong> Ass<strong>em</strong>bléia Legislativa, o que possibilitou<br />

dentro de pequeno espaço<br />

de t<strong>em</strong>po um moderno ordenamento<br />

jurídico voltado para as ativi<strong>da</strong>des<br />

des<strong>em</strong>penha<strong>da</strong>s pelo CBMMG.<br />

Dentro desse novo ordenamento voltado<br />

para a reorganização <strong>da</strong> Instituição,<br />

destacamos algumas leis que<br />

foram fun<strong>da</strong>mentais para a estruturação,<br />

a melhoria e o avanço na<br />

quali<strong>da</strong>de e quanti<strong>da</strong>de dos serviços<br />

prestados pelo CBMMG. Nesse arcabouço<br />

jurídico, pod<strong>em</strong>os destacar<br />

as seguintes leis: Lei Compl<strong>em</strong>entar<br />

nº 54/99, que estabeleceu a Organização<br />

Básica do Corpo de Bombeiros;<br />

a Lei nº 16.307/06, que trouxe a nova<br />

previsão do efetivo para a Corporação;<br />

a Lei nº 14.130/01, que proporcionou<br />

modernas normas de prevenção<br />

ao povo mineiro; e a Lei nº<br />

14.938/03, que criou no Estado a Taxa<br />

de Incêndio. To<strong>da</strong>via, destaque especial<br />

deve ser <strong>da</strong>do para a Lei de Prevenção<br />

contra Incêndio e Pânico do<br />

Estado e também para a Lei <strong>da</strong> Taxa<br />

de Incêndio. A primeira, s<strong>em</strong> falsa modéstia,<br />

é hoje a mais moderna do País,<br />

e a segun<strong>da</strong> deu a redenção ao Corpo<br />

de Bombeiros, possibilitando a aquisição<br />

dos equipamentos mais específicos<br />

e viaturas mais modernas, que<br />

até esse momento ficavam limitados<br />

apenas aos sonhos dos “Sol<strong>da</strong>dos<br />

<strong>da</strong> Vi<strong>da</strong>”. Além destas quali<strong>da</strong>des, a<br />

Lei <strong>da</strong> Taxa proporcionou os recursos<br />

necessários para a manutenção adequa<strong>da</strong><br />

destes equipamentos, imóveis<br />

e viaturas. A partir <strong>da</strong> sanção destas<br />

Ação do CBMMG durante<br />

explosão de gás (Uberaba/MG).<br />

duas leis, a Instituição passou a receber<br />

dos Corpos de Bombeiros de<br />

outros Estados-m<strong>em</strong>bros constantes<br />

in<strong>da</strong>gações sobre o conteúdo estabelecido<br />

nessas normas, com a finali<strong>da</strong>de<br />

de levar para seus Estados essas<br />

novi<strong>da</strong>des. Assim é que o CBMMG<br />

desponta no cenário nacional não<br />

apenas pelas próprias ações, mas<br />

também graças ao trabalho conjunto<br />

do Poder Executivo e Legislativo.<br />

São inúmeras as conquistas <strong>da</strong> Instituição<br />

nesses quase nove anos <strong>da</strong><br />

desvinculação <strong>da</strong> PMMG e pod<strong>em</strong> ser<br />

destaca<strong>da</strong>s, dentre elas, a aquisição<br />

de um local para as instalações do<br />

Centro de Treinamento do Corpo de<br />

Bombeiros, um outro para as instalações<br />

do Centro de Suprimento e Manutenção<br />

e a instalação de 13 frações<br />

BM. Com a instalação dessas novas<br />

frações, o CBMMG passou a contar<br />

com Uni<strong>da</strong>des Operacionais <strong>em</strong> 58<br />

municípios, que correspond<strong>em</strong> a quase<br />

7% dos 853 municípios mineiros.<br />

Mas de todos os benefícios proporcionados<br />

pela desvinculação, s<strong>em</strong> dúvi<strong>da</strong><br />

alguma, o maior deles foi alcançado<br />

com as mu<strong>da</strong>nças no ensino e no<br />

treinamento dos talentos humanos. A<br />

formação, a instrução e o aperfeiçoamento<br />

dos oficiais e praças, que antes<br />

cont<strong>em</strong>plavam uma grande quanti<strong>da</strong>de<br />

de assuntos, passaram a se limitar ao<br />

conteúdo próprio <strong>da</strong> Proteção Pública,<br />

propiciando a especialização dos Bombeiros.<br />

Com essa mu<strong>da</strong>nça, o CBMMG<br />

passou a contar com profissionais mais<br />

especializados, e a população atendi<strong>da</strong>,<br />

a receber melhores resultados nas mais<br />

diversas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de ocorrências<br />

típicas para o atendimento dos “Sol<strong>da</strong>dos<br />

<strong>da</strong> Vi<strong>da</strong>”.<br />

Por outro lado, a Corporação v<strong>em</strong> se<br />

equipando ca<strong>da</strong> vez mais e melhor<br />

com viaturas e equipamentos para<br />

melhor socorrer e proteger os ci<strong>da</strong>dãos<br />

mineiros. Destaque especial<br />

pode ser <strong>da</strong>do nesse sentido com a<br />

aquisição de equipamentos mais especializados<br />

como é o caso <strong>da</strong> autobomba-plataforma-esca<strong>da</strong><br />

(ABPE) e<br />

“A Corporação v<strong>em</strong><br />

se equipando ca<strong>da</strong><br />

vez mais e melhor<br />

com viaturas e<br />

equipamentos para<br />

melhor socorrer e<br />

proteger os ci<strong>da</strong>dãos<br />

mineiros”<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

49


Treinamento no Rio <strong>da</strong>s Velhas<br />

(Belo Horizonte/MG).<br />

dois helicópteros, que foram adquiridos<br />

no ano de 2007. Estes dois tipos<br />

de equipamentos são utilizados tanto<br />

no salvamento de pessoas e bens<br />

quanto no combate a incêndios. Esta<br />

ABPE possui 54 metros de comprimento<br />

e pode alcançar uma altura<br />

correspondente a 19 pavimentos de<br />

edificações, possibilitando a retira<strong>da</strong><br />

de pessoas que porventura estejam<br />

necessitando de socorro e propicia,<br />

ain<strong>da</strong>, o lançamento de jatos de água<br />

para o combate a incêndios urbanos,<br />

<strong>em</strong> alturas mais eleva<strong>da</strong>s. Além desse<br />

<strong>em</strong>prego <strong>em</strong> alturas, o veículo pode<br />

trabalhar <strong>em</strong> situações que costumamos<br />

chamar de negativas, ou seja,<br />

abaixo do nível do solo, que no caso<br />

deste equipamento, atinge até 15<br />

metros. Os dois helicópteros também<br />

estão equipados para o seu <strong>em</strong>prego<br />

multifuncional e pod<strong>em</strong> ser usados<br />

tanto no combate a incêndios urbanos<br />

e rurais, quanto no salvamento. O seu<br />

maior <strong>em</strong>prego ocorre principalmente<br />

no transporte aeromédico, com resultados<br />

incomparáveis a outros tipos<br />

de transporte. Conforme já se sabe, o<br />

Bombeiro constant<strong>em</strong>ente corre contra<br />

o t<strong>em</strong>po no seu dia-a-dia operacional,<br />

quer seja no salvamento, quer<br />

seja no combate a incêndio. E a aeronave<br />

nos dá uma grande vantag<strong>em</strong>,<br />

principalmente por causa <strong>da</strong> rapidez e<br />

50 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

<strong>da</strong> segurança. Mas, além destas, não<br />

se pode olvi<strong>da</strong>r que a comodi<strong>da</strong>de e<br />

a estabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> aeronave também<br />

são el<strong>em</strong>entos fun<strong>da</strong>mentais para o<br />

sucesso do salvamento.<br />

Além do que já foi citado, referente à<br />

sua missão, os componentes do Corpo<br />

de Bombeiros participam de diversos<br />

programas sociais, quais sejam:<br />

Projeto Golfinho, Bombeiro Amigo do<br />

Peito, Programa de Natação, Apoio<br />

aos Portadores de Necessi<strong>da</strong>de Especiais,<br />

Cinoterapia e Bombeiro-Mirim.<br />

A tônica desses programas é levar ao<br />

público participante informações básicas<br />

de prevenção contra sinistros de<br />

modo geral, por termos <strong>em</strong> mente que<br />

os acidentes, por menor que seja sua<br />

gravi<strong>da</strong>de, somente ocorr<strong>em</strong> quando<br />

as medi<strong>da</strong>s de prevenção deixam de<br />

ser observa<strong>da</strong>s. A Instituição não está<br />

fazendo ain<strong>da</strong> tudo o que é de sua<br />

competência por falta <strong>da</strong>s condições<br />

ideais, mas, v<strong>em</strong> se desdobrando ao<br />

máximo para alcançar sua plenitude<br />

<strong>em</strong> todo o território mineiro.<br />

É gratificante saber que nos últimos<br />

seis anos o Corpo de Bombeiros v<strong>em</strong><br />

ocupando o primeiro lugar no índice<br />

de credibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> população quando<br />

comparado com os d<strong>em</strong>ais órgãos e<br />

instituições. No corrente ano, não foi<br />

defesa social<br />

diferente, e o percentual de aprovação<br />

dos serviços dos Bombeiros foi de<br />

97%. Estes <strong>da</strong>dos por um lado nos<br />

traz<strong>em</strong> a satisfação do reconhecimento<br />

do público, mas ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po aumentam a nossa responsabili<strong>da</strong>de<br />

e o nosso compromisso de<br />

manter pelo menos o elevado índice<br />

alcançado. Sab<strong>em</strong>os que manter esses<br />

níveis de confiança é mais difícil do<br />

que conquistá-los. Sab<strong>em</strong>os que essa<br />

conquista não é somente dos que<br />

estão conosco na ativa, mas também<br />

muito existe dos BM que muito lutaram<br />

e agora foram transferidos para<br />

a reserva ou reformaram. Sab<strong>em</strong>os<br />

ain<strong>da</strong> mais, que a confiança e a credibili<strong>da</strong>de<br />

não são conquistas feitas<br />

isola<strong>da</strong>mente, resultam de um ato<br />

continuado, exercido no quotidiano<br />

com muita luta e perseverança, e que<br />

estes são fatores fun<strong>da</strong>mentais para<br />

o alcance <strong>da</strong> excelência profissional.<br />

E este é o l<strong>em</strong>a que nos mantém<br />

prontos para atuar com diligência na<br />

segurança pública no seu sentido lato,<br />

a fim de que continu<strong>em</strong>os por todo o<br />

s<strong>em</strong>pre, a ser: “O amigo certo nas<br />

horas incertas”.<br />

“Nos últimos seis<br />

anos o Corpo de<br />

Bombeiros v<strong>em</strong><br />

ocupando o primeiro<br />

lugar no índice de<br />

credibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

população”<br />

Cel BM José Honorato Ameno - Coman<strong>da</strong>nte-Geral<br />

do CBMMG desde 28 de set<strong>em</strong>bro<br />

de 2005. Nasceu <strong>em</strong> Pequi/MG, ingressou<br />

no CFO <strong>em</strong> 1978, é formado <strong>em</strong><br />

Direito, e, entre os cargos que exerceu na<br />

Corporação, destacam-se: Cmt do 1º Batalhão,<br />

Diretor de Recursos Humanos, de Contabili<strong>da</strong>de<br />

e Finanças, de Apoio Logístico,<br />

Cmt Operacional, Corregedor.


defesa social<br />

É possível, <strong>da</strong><strong>da</strong>s as atuais condições<br />

sociais e institucionais <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

brasileira, reduzir a incidência <strong>da</strong><br />

criminali<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> violência para<br />

patamares mais razoáveis. A pobreza<br />

absoluta que vitimiza parcela expressiva<br />

<strong>da</strong> população como também o<br />

baixo grau de severi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> punição<br />

característica <strong>da</strong> legislação penal brasileira<br />

não são fatores suficientes para<br />

explicar os elevados níveis de roubos<br />

e homicídios que caracterizam nosso<br />

cotidiano.<br />

Uma parcela importante do<br />

probl<strong>em</strong>a reside na ausência<br />

de políticas públicas de controle<br />

<strong>da</strong> criminali<strong>da</strong>de consistentes,<br />

nos âmbitos<br />

federal, estadual e municipal.<br />

A elite política<br />

brasileira, salvo honrosas<br />

exceções, ain<strong>da</strong><br />

não compreendeu a<br />

especifici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> política<br />

de segurança pública<br />

<strong>em</strong> relação às<br />

políticas sociais<br />

convencionais<br />

e às políticas<br />

penais basea<strong>da</strong>s<br />

no código<br />

criminal. Ain<strong>da</strong><br />

persiste a crença<br />

de que o probl<strong>em</strong>a<br />

será minimizado com<br />

a massificação de programas<br />

de distribuição<br />

de ren<strong>da</strong>, de <strong>em</strong>prego ou<br />

mesmo com a aplicação<br />

estrita do Código Penal.<br />

Segurança Pública<br />

no Brasil t<strong>em</strong> jeito!<br />

Uma característica comum perpassa<br />

as políticas federal e estadual de segurança<br />

pública na socie<strong>da</strong>de brasileira<br />

nos últimos 20 anos: a prevalência do<br />

gerenciamento de crises. A ausência<br />

de uma racionali<strong>da</strong>de<br />

gerencial mais<br />

sist<strong>em</strong>ática neste<br />

Luis Flavio Sapori<br />

âmbito <strong>da</strong>s políticas públicas é fator<br />

decisivo de ineficiência <strong>da</strong> atuação<br />

governamental e consequent<strong>em</strong>ente<br />

constitui-se <strong>em</strong> fator que potencializa<br />

o fenômeno <strong>da</strong> criminali<strong>da</strong>de.


Os governos d<strong>em</strong>ocráticos que sucederam<br />

os governos militares não lograram<br />

êxito na definição de uma<br />

agen<strong>da</strong> consistente de reformas institucionais<br />

e de avanços na gestão<br />

operacional do setor <strong>da</strong> segurança<br />

pública. Fatores diversos pod<strong>em</strong> explicar<br />

tal omissão e/ou incompetência<br />

dos governos d<strong>em</strong>ocráticos. A priori<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong> na agen<strong>da</strong> política nacional<br />

ao retorno <strong>da</strong>s forças arma<strong>da</strong>s<br />

aos limites de sua competência constitucional<br />

é um aspecto a ser considerado<br />

ou mesmo a inexistência de um<br />

paradigma alternativo que pudesse<br />

instrumentalizar os decision makers<br />

para além <strong>da</strong> subordinação <strong>da</strong>s agências<br />

de justiça criminal às exigências<br />

do ideário dos direitos humanos cristalizado<br />

na nova Constituição.<br />

Não é casual, portanto, que a intervenção<br />

pública na provisão deste b<strong>em</strong><br />

coletivo t<strong>em</strong> sido pauta<strong>da</strong> ao longo de<br />

todo este período pela improvisação e<br />

pela falta de sist<strong>em</strong>atici<strong>da</strong>de. Referirse<br />

a uma história <strong>da</strong>s políticas de segurança<br />

pública na socie<strong>da</strong>de brasileira<br />

nas duas últimas déca<strong>da</strong>s, sob este<br />

ponto de vista, significa explicitar uma<br />

série de intervenções governamentais<br />

espasmódicas, meramente reativas,<br />

direciona<strong>da</strong>s para a solução imediata<br />

de crises que assolam periodicamente<br />

a ord<strong>em</strong> pública. E deve-se reconhecer<br />

que os meios de comunicação de<br />

massa, <strong>em</strong> especial rádios, jornais<br />

e TVs, des<strong>em</strong>penham papel decisivo<br />

na definição do que venha a ser<br />

uma crise <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> pública como<br />

também <strong>da</strong> pauta política de priori<strong>da</strong>des<br />

<strong>em</strong> eventuais reformas legais e<br />

organizacionais.<br />

O controle eficaz <strong>da</strong> criminali<strong>da</strong>de, por<br />

sua vez, exige a adoção de medi<strong>da</strong>s<br />

que cont<strong>em</strong>pl<strong>em</strong> os fatores de risco<br />

do fenômeno e não propriamente as<br />

causas do fenômeno. Para tanto, a<br />

boa governança <strong>da</strong> política de segurança<br />

pública deve incluir ações que<br />

acentu<strong>em</strong> a operacionali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />

polícias, <strong>da</strong> justiça e do sist<strong>em</strong>a prisional.<br />

Inser<strong>em</strong>-se aqui desde a melhoria<br />

<strong>da</strong>s condições de trabalho dos<br />

policiais até a ampliação de vagas nas<br />

uni<strong>da</strong>des prisionais e a profissionalização<br />

de sua gestão. Paralelamente, é<br />

imprescindível impl<strong>em</strong>entar projetos<br />

sociais que viabiliz<strong>em</strong> a inserção social<br />

de jovens residentes nas periferias<br />

urbanas, através <strong>da</strong> qualificação profissional<br />

e <strong>da</strong> valorização de suas manifestações<br />

culturais, como é o caso<br />

do Hip-Hop. O rap, a street <strong>da</strong>nce,<br />

defesa social<br />

o grafite são dotados de um potencial<br />

de prevenção social <strong>da</strong> violência<br />

muito maior que se imagina.<br />

É possível alcançar resultados muito<br />

mais expressivos do que aqueles<br />

que estão sendo alcançados até<br />

o momento. Vontade política é um<br />

bom começo para reverter o quadro.<br />

Acresce-se a ela uma boa pita<strong>da</strong><br />

de investimentos, <strong>da</strong>queles <strong>em</strong> que<br />

o orçamentário se transforma <strong>em</strong><br />

financeiro, s<strong>em</strong> contingenciamentos.<br />

A partir <strong>da</strong>í deve prevalecer uma<br />

racionali<strong>da</strong>de gerencial que privilegie<br />

a conquista de resultados, otimizando<br />

o gasto dos recursos disponíveis.<br />

Por fim, aprendendo com a lição<br />

dos mineiros, não tratar prevenção<br />

e repressão como ‘escolha de Sofia’.<br />

A boa política de segurança pública<br />

deve ser rigorosa no combate à impuni<strong>da</strong>de<br />

e humanista na valorização<br />

<strong>da</strong> participação comunitária e na<br />

inserção social de jovens pobres <strong>da</strong>s<br />

periferias urbanas. De resto é contar<br />

com a colaboração <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil,<br />

que se encontra muito mais ativa e<br />

participativa do que governantes e<br />

gestores públicos imaginam.<br />

Luis Flavio Sapori - Coordenador do Curso de Ciências Sociais <strong>da</strong> PUC Minas; pesquisador<br />

<strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção João Pinheiro.<br />

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monitoramento de imagens, alarmes de alta tecnologia e, principalmente, pessoal<br />

treinado para exercer suas funções com quali<strong>da</strong>de superior. Tudo isso para garantir a<br />

segurança dos municípios, a proteção do patrimônio histórico e cultural, a tranqüili<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>s escolas e prédios públicos, com possibili<strong>da</strong>de de uso compartilhado pelas Polícias<br />

Civil e Militar, Guar<strong>da</strong>s Municipais e uni<strong>da</strong>des dos Bombeiros.<br />

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defesa social<br />

Cultura de Paz pelo Desenvolvimento Humano:<br />

uma forma de combater a<br />

criminali<strong>da</strong>de e a violência na<br />

cont<strong>em</strong>poranei<strong>da</strong>de<br />

No final do século XX e início do século<br />

XXI, era comum ouvir e ler previsões<br />

para a chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> nova era, a era<br />

<strong>da</strong> espirituali<strong>da</strong>de, do equilíbrio, <strong>da</strong><br />

paz, <strong>da</strong> harmonia. To<strong>da</strong>via, no Brasil,<br />

a violência, sobretudo a urbana, está<br />

na agen<strong>da</strong> do dia-a-dia e ocupa as<br />

manchetes dos jornais. Assim como a<br />

criminali<strong>da</strong>de, a violência é assunto de<br />

especiais para a televisão e, mais que<br />

tudo, assombra as consciências, sendo<br />

de tal forma ameaçadora, recorrente e<br />

geradora de um profundo sentimento<br />

de insegurança. Essa evolução é<br />

sintoma de uma desintegração social,<br />

de um mal-estar coletivo e de um desregramento<br />

<strong>da</strong>s instituições públicas.<br />

Há um debate cont<strong>em</strong>porâneo sobre<br />

a violência, mesmo porque hoje, mais<br />

que antes, ela é fato visto e sentido.<br />

Apesar dos inúmeros estudos sobre<br />

o assunto, alguns equívocos ain<strong>da</strong><br />

estão presentes na interpretação<br />

do cotidiano social. Em geral, estes<br />

equívocos surg<strong>em</strong> a partir de uma<br />

atitude reducionista frente à questão<br />

<strong>da</strong> violência. Um dos ex<strong>em</strong>plos que<br />

limitam a compreensão se refere ao<br />

fato de muitos situar<strong>em</strong>-na apenas no<br />

campo do crime.<br />

Os crimes, enquanto delitos cometidos<br />

contra a lei, concretamente revelam<br />

Álvaro Antônio Nicolau<br />

“Não se conseguirá muita coisa se a integração entre pessoas e organizações, para uma<br />

Segurança Pública coerente e visionaria, permanecer míope ou se tornar míope.”<br />

54 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

a existência <strong>da</strong> violência, uma vez<br />

que pod<strong>em</strong> comprometer a vi<strong>da</strong> de<br />

pessoas e de grupos, mas, por trás dos<br />

crimes, estão presentes outros tipos de<br />

violência que, necessariamente, não<br />

se articulam diretamente e que n<strong>em</strong><br />

s<strong>em</strong>pre são percebidos enquanto tais.<br />

Nos últimos anos, a violência, por causa<br />

de sua tendência ascendente, v<strong>em</strong><br />

sendo aponta<strong>da</strong> por diversos setores<br />

representativos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de como<br />

sério e importante probl<strong>em</strong>a que aflige<br />

muitos paises, e o Brasil <strong>em</strong> especial.<br />

Nessa cont<strong>em</strong>poranei<strong>da</strong>de, é lastimável<br />

o imperativo <strong>da</strong> insensatez. Mata-se na<br />

cotidiani<strong>da</strong>de por quase na<strong>da</strong>: mata-se<br />

por um par de chinelos ou por alguns<br />

poucos trocados. O crime, a criminali<strong>da</strong>de<br />

e a violência imperam vitoriosos<br />

nos contextos sociais.<br />

Estudos diversos nos revelam que a<br />

socie<strong>da</strong>de está doente. As pessoas<br />

estão afeta<strong>da</strong>s pela cotidiani<strong>da</strong>de.<br />

Viv<strong>em</strong>os muitas enfermi<strong>da</strong>des, sejam<br />

físicas, sejam psicológicas e, às vezes,<br />

algumas decorrentes de outras. Por<br />

isso mesmo, na pós-moderni<strong>da</strong>de, é<br />

comum o ser humano fazer uma avaliação<br />

de si e do mundo. Percebe-se<br />

que as pessoas buscam um sentido<br />

para a vi<strong>da</strong>, mesmo porque a falta<br />

desse sentido está inseri<strong>da</strong> num contexto<br />

de sintoma cont<strong>em</strong>porâneo, presentes<br />

os diversos cenários contidos<br />

na relação entre desenvolvimento tecnológico<br />

capitalista cont<strong>em</strong>porâneo e<br />

desenvolvimento humano, pois estão<br />

longe de an<strong>da</strong>r lado a lado.<br />

O século XX, <strong>em</strong>bora tenha sido um<br />

dos mais sangrentos e devastados<br />

pelas guerras <strong>em</strong> to<strong>da</strong> história, conforme<br />

<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> ONU (Organização<br />

<strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s), foi também<br />

aquele <strong>em</strong> que se obteve dramático<br />

progresso rumo ao estabelecimento<br />

de uma paz universal e duradoura.<br />

Tudo muito no nível do mundial. A<br />

mundialização como parte do contexto<br />

cont<strong>em</strong>porâneo.<br />

De certo, o desenvolvimento humano<br />

é ponto importante <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong>,<br />

tendo <strong>em</strong> vista buscar novas concepções<br />

para fazer o fortalecimento <strong>da</strong>s<br />

pessoas e seus relacionamentos na<br />

estrutura social. É nessa concepção<br />

do desenvolvimento humano que<br />

as Organizações dev<strong>em</strong> trabalhar,<br />

no sentido de tornar<strong>em</strong>-se ca<strong>da</strong> vez<br />

mais d<strong>em</strong>ocráticas e responsáveis<br />

na forma <strong>em</strong> que se organizam e<br />

operam, seja <strong>em</strong> nível local, regional,<br />

nacional ou internacional. Operar<br />

ver<strong>da</strong>deiramente e construtivamente


na ressignificação do sentido de serno-mundo.<br />

Trabalhar para tornar real<br />

a harmonia social <strong>em</strong> nossas comuni<strong>da</strong>des,<br />

fortalecendo o entendimento,<br />

o amor, a compaixão e o serviço ao<br />

próximo. Daí a necessária participação<br />

na mídia, na escola, no trabalho, na<br />

família e na esfera pública, que deve<br />

ser estimula<strong>da</strong> com o objetivo de<br />

fortalecer a concepção de uma paz<br />

social duradoura. Um apreço pela<br />

riqueza e importância <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de<br />

sociocultural e religiosa do mundo<br />

deve ser nutrido, pois contribui com<br />

a integração social, justiça e uni<strong>da</strong>de.<br />

“Existir na<br />

cont<strong>em</strong>poranei<strong>da</strong>de<br />

é um grande desafio<br />

para as pessoas, por<br />

isso mesmo elas<br />

dev<strong>em</strong> promover o<br />

encontro, ou fazer<br />

um encontro consigo<br />

mesmas para produzir<br />

o desenvolvimento<br />

humano“<br />

Nossa visão é de um mundo centrado<br />

no ser humano e genuinamente d<strong>em</strong>ocrático,<br />

onde as pessoas são participantes<br />

e determinam seus próprios<br />

destinos. Nessa situação, somos uma<br />

família humana, com to<strong>da</strong> sua diversi<strong>da</strong>de,<br />

vivendo <strong>em</strong> um lar comum, com<br />

desejo de dividir um mundo justo,<br />

sustentável e pacífico, guiado por<br />

princípios de d<strong>em</strong>ocracia, igual<strong>da</strong>de,<br />

inclusão, voluntarismo, não-discriminação<br />

e participação <strong>da</strong>s pessoas,<br />

sejam homens ou mulheres, jovens ou<br />

adultos, independente de raça, credo,<br />

deficiências, orientação sexual, etnia<br />

ou nacionali<strong>da</strong>de. Esse é um mundo<br />

onde a paz e a segurança humana,<br />

como enfoca<strong>da</strong>s nos princípios <strong>da</strong><br />

Carta <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s, tomam<br />

o lugar de armamentos, conflitos<br />

violentos e guerras, desencontros e divergências.<br />

É um mundo de pretensão,<br />

onde todos viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> um ambiente<br />

decente com distribuição justa dos<br />

recursos <strong>da</strong> terra. Nesse sentido, nós,<br />

ci<strong>da</strong>dãos do mundo, dev<strong>em</strong>os incluir<br />

<strong>em</strong> nossa agen<strong>da</strong> um papel especial<br />

para acolher e ser sensibilizado, ou<br />

tocado, pelo dinamismo dos jovens e<br />

pela experiência dos idosos, além de<br />

reafirmar a universali<strong>da</strong>de, indivisibili<strong>da</strong>de<br />

e interdependência dos direitos<br />

humanos (civil, político, econômico,<br />

social e cultural).<br />

Mas, pode ser um sonho, permeado<br />

pela reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des cont<strong>em</strong>porâneas.<br />

Antes disso, estamos<br />

tratando de necessi<strong>da</strong>des humanas<br />

e humanitárias. Mas a humani<strong>da</strong>de<br />

deve se encontrar com o humano<br />

como resultado <strong>da</strong>s vivencias no diaa-dia.<br />

Focar a existência.<br />

Existir na cont<strong>em</strong>poranei<strong>da</strong>de é um<br />

grande desafio para as pessoas, por<br />

isso mesmo elas dev<strong>em</strong> promover<br />

o encontro, ou fazer um encontro<br />

consigo mesmas para produzir o<br />

desenvolvimento humano.<br />

Tal desenvolvimento humano se encontra<br />

<strong>em</strong> uma conjuntura crítica na<br />

história, que clama por forte liderança<br />

moral e espiritual para aju<strong>da</strong>r a definir<br />

uma nova direção para a socie<strong>da</strong>de. É<br />

o caminho <strong>da</strong> ressignificação. Daí a<br />

necessi<strong>da</strong>de dos operadores <strong>da</strong> Segurança<br />

Pública reconhecer a especial<br />

responsabili<strong>da</strong>de para o b<strong>em</strong>-estar <strong>da</strong><br />

família humana e paz na Terra. Além<br />

disso, as lideranças políticas dev<strong>em</strong> se<br />

expressar pela necessi<strong>da</strong>de de guiar a<br />

humani<strong>da</strong>de, pelos contextos sociais,<br />

através <strong>da</strong> palavra e ação <strong>em</strong> um<br />

compromisso renovado por valores<br />

éticos e espirituais, os quais inclu<strong>em</strong><br />

um profundo senso de respeito pela,<br />

e por to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong>, como também pela<br />

digni<strong>da</strong>de inerente a ca<strong>da</strong> pessoa.<br />

defesa social<br />

Reafirma-se, aqui, o direito de viver<br />

<strong>em</strong> um mundo livre de violência.<br />

Violência de to<strong>da</strong> ord<strong>em</strong>. Também,<br />

despertar nos indivíduos e comuni<strong>da</strong>des<br />

um senso de responsabili<strong>da</strong>de<br />

compartilha<strong>da</strong> para o b<strong>em</strong>-estar <strong>da</strong><br />

família como um todo, e o reconhecimento<br />

de que todos os seres humanos<br />

têm o direito à educação, além <strong>da</strong><br />

oportuni<strong>da</strong>de de alcançar uma forma<br />

de vi<strong>da</strong> segura e sustentável.<br />

Dev<strong>em</strong>os proporcionar mu<strong>da</strong>nças nos<br />

conceitos que permeiam a socie<strong>da</strong>de.<br />

Sair de um contexto cartesiano por<br />

d<strong>em</strong>ais para um contexto de compartilhamento<br />

e envolvimento, de<br />

co-responsabili<strong>da</strong>de na transformação<br />

<strong>da</strong>s pessoas. Praticar e promover <strong>em</strong><br />

nossas comuni<strong>da</strong>des os valores de<br />

ver<strong>da</strong>deira dimensão de paz, incluindo,<br />

especialmente, estudo, oração, meditação,<br />

um senso de sagrado, humil<strong>da</strong>de,<br />

amor, compaixão, tolerância e espírito<br />

de serviço, que são fun<strong>da</strong>mentais para<br />

a criação de uma socie<strong>da</strong>de pacífica.<br />

Por que não...<br />

São necessários novos valores. Valores<br />

que deverão ser traduzidos e compartilhados<br />

<strong>em</strong> ações com base <strong>em</strong><br />

objetivos-chave. Estamos pensando e<br />

registrando questões como Paz, Segurança<br />

e Desarmamento, que dev<strong>em</strong> receber<br />

atribuições especiais. Assegurar<br />

o controle de armas e o desarmamento,<br />

b<strong>em</strong> como uma legislação humanitária<br />

e de direitos humanos, deve ser<br />

ponto de registro <strong>em</strong> nossa agen<strong>da</strong> do<br />

dia. Reforçar o respeito pelo cumprimento<br />

<strong>da</strong> lei, <strong>em</strong> todos os sentidos é<br />

outro ponto de fun<strong>da</strong>mentação.<br />

Penso que, nesse sentido, dev<strong>em</strong>os<br />

tornar as Organizações mais eficientes<br />

na manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança,<br />

<strong>da</strong>ndo a elas recursos e ferramentas<br />

para que elabor<strong>em</strong> adequa<strong>da</strong>mente a<br />

prevenção de conflitos, resolução pacífica<br />

de disputas, pois a construção e<br />

a manutenção <strong>da</strong> paz dev<strong>em</strong> ser fun<strong>da</strong>mentos<br />

de ação. Aí talvez o maior<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

55


defesa social<br />

desafio dos operadores de Segurança<br />

Pública na cont<strong>em</strong>poranei<strong>da</strong>de. Mas,<br />

na<strong>da</strong> funcionará se não for reforça<strong>da</strong><br />

a cooperação entre as organizações,<br />

quaisquer que sejam elas: publicas ou<br />

priva<strong>da</strong>s. Que o Estado, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

fortaleça a integração <strong>da</strong>s forças de<br />

Segurança. Isso não significa os partícipes<br />

<strong>da</strong>s forças an<strong>da</strong>r<strong>em</strong> de braços<br />

<strong>da</strong>dos pelas ruas afora, muito menos<br />

o órgão máximo se perder nas ações<br />

do dia-a-dia <strong>da</strong> estrutura de não-ação<br />

e <strong>em</strong>perrar a funcionali<strong>da</strong>de, se esquecendo<br />

de trabalhar o conceito estratégico<br />

<strong>da</strong> mobilização.<br />

Se aprofun<strong>da</strong>rmos um pouco mais,<br />

pod<strong>em</strong>os encontrar desde a incompetência<br />

<strong>da</strong> liderança <strong>em</strong> fazer o encontro,<br />

até mesmo <strong>da</strong> irracionali<strong>da</strong>de<br />

e <strong>da</strong> vai<strong>da</strong>de do exercício do poder<br />

pelo poder. Esse exercício do poder,<br />

pelo poder, é um erro estratégico dos<br />

piores e, aí se instalando, a Direção<br />

persevera na sua própria incompetência.<br />

Incompetência de fato, e<br />

de direito. Não se descura para o<br />

combate à criminali<strong>da</strong>de e à violência<br />

que, na cont<strong>em</strong>poranei<strong>da</strong>de, não se<br />

conseguirá avanços s<strong>em</strong> o compartilhamento<br />

entre Estado e Município,<br />

com as lideranças fixando o apego às<br />

decisões. Há que se ter atitude.<br />

Não se conseguirá muita coisa se a<br />

integração entre pessoas e organizações,<br />

para uma Segurança Pública<br />

coerente e visionaria, permanecer<br />

míope ou se tornar míope.<br />

A Gestão Estratégica de Segurança<br />

passa, inexoravelmente, pelo envolvimento<br />

do Município, com forte apego<br />

às decisões. Falo aqui <strong>da</strong> contribuição<br />

e envolvimento do Estado, no caso de<br />

Minas Gerais, pelo envolvimento <strong>da</strong><br />

Secretaria de Estado de Defesa Social,<br />

através <strong>da</strong> Polícia Militar principalmente,<br />

mas envolvendo o Corpo de<br />

Bombeiros, a Polícia Civil, o Sist<strong>em</strong>a<br />

Penitenciário, também o Ministério<br />

Público e o Judiciário, e os Municípios.<br />

56 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

É grande equivoco a mesquinhez de<br />

coibir a relação individualiza<strong>da</strong> dos<br />

gestores de segurança <strong>em</strong> aplacar<br />

a angústia dos ci<strong>da</strong>dãos. Em assim<br />

ocorrendo, ou seja, o afastar-se do<br />

Município levará automaticamente à<br />

fuga do ambiente onde ocorr<strong>em</strong> os<br />

probl<strong>em</strong>as de Segurança Pública.<br />

Dev<strong>em</strong>os levar <strong>em</strong> conta que os probl<strong>em</strong>as<br />

de Segurança Pública são locais<br />

e localmente dev<strong>em</strong> ser resolvidos.<br />

Ou seja, as táticas e técnicas de<br />

atuação de Polícia Ostensiva são adequa<strong>da</strong>s<br />

às concepções locais. A Polícia<br />

Militar, especialmente a de Minas Gerais,<br />

entende e age magistralmente<br />

nesse contexto. Não há, portanto, sentido<br />

<strong>em</strong> fazer o afastamento do Município.<br />

E n<strong>em</strong> t<strong>em</strong> sentido buscar padrão<br />

de funcionali<strong>da</strong>de na Europa ou<br />

<strong>em</strong> um país qualquer <strong>da</strong>s Américas,<br />

mesmo porque exist<strong>em</strong> competências<br />

suficientes no Brasil para <strong>da</strong>r vazão a<br />

tais ativi<strong>da</strong>des. Também não faz sentido<br />

a não-divulgação <strong>da</strong>s estatísticas<br />

para que os estudiosos possam se debruçar<br />

nos números e oferecer uma<br />

análise independente e fugaz para<br />

corroborar atitudes por parte dos segmentos<br />

de polícia. O professor Sapori<br />

já alertou, <strong>em</strong> seu blog, sobre a nãodivulgação<br />

<strong>da</strong>s estatísticas por parte<br />

de qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> o poder-dever de se pronunciar<br />

a respeito <strong>em</strong> Minas Gerais, e<br />

tomamos a liber<strong>da</strong>de para fazer coro<br />

nesse ponto de vista. Ressignificar faz<br />

sentido. Ser resiliente pode não <strong>da</strong>r o<br />

significado mais adequado.<br />

Destarte, é hora de redefinir o conceito<br />

de segurança de modo a abranger as<br />

necessi<strong>da</strong>des humanas e as reali<strong>da</strong>des<br />

ecológicas, afora o redirecionamento<br />

dos diversos fundos existentes, inclusive<br />

o de armamento, para segurança<br />

do ser humano e desenvolvimento<br />

sustentável. Isso não ocorrerá s<strong>em</strong> o<br />

compartilhamento entre as diversas<br />

forças do Sist<strong>em</strong>a de Defesa Social<br />

e s<strong>em</strong> o envolvimento do Município,<br />

que levará à construção de uma nova<br />

ord<strong>em</strong> social, estimulando a segurança<br />

coletiva global.<br />

“É hora de redefinir o<br />

conceito de segurança<br />

de modo a abranger<br />

as necessi<strong>da</strong>des<br />

humanas e as<br />

reali<strong>da</strong>des<br />

ecológicas”<br />

Buscar e atingir uma cultura de paz<br />

que leve o ci<strong>da</strong>dão a desenvolver<br />

uma consciência global, adquirir<br />

habili<strong>da</strong>des para resolver conflitos e<br />

lutar por justiça s<strong>em</strong> violência, além<br />

de viver por padrões internacionais<br />

de direitos humanos e igual<strong>da</strong>de,<br />

está no caminho do possível.<br />

Enfim, ter <strong>em</strong> mente e apreciar a<br />

diversi<strong>da</strong>de cultural. Tal cultura só<br />

pode ser alcança<strong>da</strong> com a educação<br />

sist<strong>em</strong>ática para a paz e a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.<br />

Quali<strong>da</strong>des como amor, tolerância,<br />

paciência, mentali<strong>da</strong>de comunitária e<br />

não-agressão dev<strong>em</strong> ser planeja<strong>da</strong>s e<br />

aplica<strong>da</strong>s <strong>em</strong> todos os níveis.<br />

Mas, ao enfrentarmos as questões <strong>da</strong><br />

criminali<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> violência, como<br />

também seu avanço, perceb<strong>em</strong>os que<br />

tal crescimento <strong>da</strong> violência urbana<br />

<strong>em</strong> suas múltiplas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des -<br />

crime comum, crime organizado, violência<br />

doméstica, violação de direitos<br />

humanos, corrupção e outros delitos -<br />

constitui-se uma <strong>da</strong>s maiores preocupações<br />

<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de brasileira<br />

cont<strong>em</strong>porânea nas duas últimas déca<strong>da</strong>s.<br />

O sentimento de medo e insegurança<br />

diante do crime exacerbouse<br />

entre os mais distintos grupos e<br />

classes sociais, como suger<strong>em</strong> não<br />

poucas son<strong>da</strong>gens de opinião pública.<br />

Trata-se de um probl<strong>em</strong>a social que,<br />

por um ângulo, promove ampla mobilização<br />

<strong>da</strong> opinião pública, o que<br />

se pode observar nas pesquisas de<br />

opinião, na insistente atenção que


lhe é conferi<strong>da</strong> pela mídia impressa<br />

e eletrônica e pela multiplicação de<br />

fóruns locais, regionais e nacionais;<br />

por outro, v<strong>em</strong> promovendo impacto<br />

sobre o sist<strong>em</strong>a de justiça criminal,<br />

influenciando a formulação e impl<strong>em</strong>entação<br />

de políticas públicas de segurança<br />

e justiça, também chama<strong>da</strong>s<br />

de políticas públicas penais. Nesse<br />

domínio, o sist<strong>em</strong>a de justiça criminal<br />

se mostra completamente ineficaz na<br />

contenção <strong>da</strong> violência no contexto<br />

do estado d<strong>em</strong>ocrático de direito. Probl<strong>em</strong>as<br />

relacionados à lei e à ord<strong>em</strong><br />

têm afetado a crença dos ci<strong>da</strong>dãos<br />

nas instituições de justiça, estimulando<br />

não raro soluções priva<strong>da</strong>s para<br />

conflitos nascidos nas relações sociais<br />

e nas relações intersubjetivas.<br />

É por isso que a Segurança Pública permeia<br />

as ro<strong>da</strong>s de discussões. Se, por um<br />

lado, a criminali<strong>da</strong>de entra <strong>em</strong> nossos<br />

lares pelos meios de comunicação, é<br />

senso comum que o crime e a violência<br />

estão <strong>em</strong> níveis assustadores. Ca<strong>da</strong><br />

vez mais, a delinqüência está ao nosso<br />

lado. Somos vítimas <strong>da</strong> falta de políticas<br />

públicas efetivas e continua<strong>da</strong>s,<br />

com parâmetros de sustentação para o<br />

vir-a-ser. É como se o crescer-crescendo<br />

cedesse lugar à estagnação, ao desespero<br />

do hom<strong>em</strong> para ter, que perdeu<br />

sentido, assim como o ver<strong>da</strong>deiro valor<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, <strong>em</strong> face <strong>da</strong> morte iminente,<br />

logo ali na esquina, como possibili<strong>da</strong>de<br />

nesse mundo de faltas.<br />

O relatório <strong>da</strong> ONU, divulgado <strong>em</strong> 1º<br />

de outubro de 2007, destaca o aumento<br />

<strong>da</strong> violência no Brasil por ação<br />

de facções criminosas. Embora tenha<br />

0,17% <strong>da</strong> população mundial, a ci<strong>da</strong>de<br />

de São Paulo t<strong>em</strong> 1% dos homicídios<br />

de todo o mundo. Juntamente com o<br />

Rio de Janeiro, representa metade dos<br />

crimes violentos do Brasil, um país<br />

onde morr<strong>em</strong> 100 pessoas por dia.<br />

No Brasil, há o envolvimento de<br />

jovens de até 25 anos <strong>em</strong> 2/3 dos<br />

crimes, sendo que já se registra a<br />

participação de crianças de seis anos<br />

<strong>em</strong> quadrilhas, como olheiros, mulas,<br />

enfim “os condutores <strong>da</strong>s drogas”.<br />

Esse particular é b<strong>em</strong> real <strong>em</strong> Minas<br />

Gerais, principalmente na “Guerra<br />

de Gangues” <strong>em</strong> algumas vilas e favelas.<br />

Como resultado, o Brasil t<strong>em</strong><br />

uma <strong>da</strong>s maiores taxas de homicídios<br />

praticados por jovens, com 32,5 casos<br />

por 100 mil habitantes, sendo que a liderança<br />

ain<strong>da</strong> é <strong>da</strong> Colômbia, com 84<br />

homicídios para ca<strong>da</strong> 100 habitantes.<br />

O custo <strong>da</strong> insegurança no Brasil consome<br />

aproxima<strong>da</strong>mente 11% do PIB.<br />

Nosso Estado de Minas Gerais não<br />

foge à regra. O crime e a violência<br />

ultrapassam os limites do considerado<br />

“normal” preconizado pelas<br />

autori<strong>da</strong>des. Nesse mister é comum<br />

a participação dos “Especialistas <strong>em</strong><br />

Segurança Pública”, que passaram a<br />

ditar as soluções simplistas para uma<br />

questão tão complexa. Mas o que é<br />

normal <strong>em</strong> Segurança Pública? É difícil<br />

estabelecer até porque estará na subjetivi<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>s pessoas o “termômetro”<br />

<strong>da</strong> avaliação, <strong>em</strong>bora exista definição<br />

de índices de aceitação. To<strong>da</strong>via,<br />

parece-nos adequa<strong>da</strong> a afirmativa de<br />

que: ”os padrões dos crimes mu<strong>da</strong>ram<br />

e as taxas de criminali<strong>da</strong>de parec<strong>em</strong><br />

ter se elevado consideravelmente <strong>em</strong><br />

Minas Gerais.”<br />

O Estado de Minas Gerais apresenta<br />

bons ex<strong>em</strong>plos de políticas públicas<br />

na área de Segurança Pública. Combater<br />

o crime e a criminali<strong>da</strong>de, e por<br />

derradeiro a violência, passou a ser<br />

ponto de consenso na estrutura <strong>da</strong>s<br />

políticas estabeleci<strong>da</strong>s pelo Governo<br />

do Estado. O caminho traçado, e <strong>em</strong><br />

implantação, passa pela integração<br />

<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de Segurança Pública.<br />

Embora se resuma na integração entre<br />

as Polícias Militar e Civil, de forma<br />

tími<strong>da</strong> o Estado de Minas Gerais deu<br />

um passo importante, um pouco atrasado<br />

é ver<strong>da</strong>de, já que ocorreu após<br />

diversos Estados Brasileiros ter<strong>em</strong><br />

experimentado a iniciativa.<br />

defesa social<br />

Em Minas Gerais, coube à Secretaria<br />

Estadual de Defesa Social sist<strong>em</strong>atizar<br />

as mu<strong>da</strong>nças no contexto <strong>da</strong><br />

Segurança Pública, inicialmente pela<br />

integração <strong>da</strong>s Polícias. Cria<strong>da</strong> no<br />

Governo Aécio Neves, foi um dos<br />

marcos <strong>da</strong> ação <strong>em</strong> benefício dos<br />

ci<strong>da</strong>dãos mineiros, mesmo não sendo<br />

algo novo, uma vez que já estava na<br />

agen<strong>da</strong>, principalmente <strong>da</strong> Polícia<br />

Militar, como pensamento estratégico.<br />

A defesa dessa iniciativa constava de<br />

pauta e discursos dos Coman<strong>da</strong>ntes-<br />

Gerais <strong>da</strong> ultima geração, principalmente<br />

porque não se podia mais viver<br />

o desconforto de se deslocar 30, 40<br />

ou até 80 km para registrar uma ocorrência<br />

policial, pois as delegacias de<br />

alguns municípios não funcionavam<br />

nos finais de s<strong>em</strong>ana. Não era adequa<strong>da</strong>,<br />

também, uma viatura <strong>da</strong> PM,<br />

<strong>em</strong>penha<strong>da</strong> <strong>em</strong> Ven<strong>da</strong> Nova (bairro<br />

de Belo Horizonte), deslocar-se até a<br />

Gameleira (bairro de Belo Horizonte)<br />

para registrar uma ocorrência de<br />

“drogas”, deixando desguarnecido<br />

seu setor de trabalho. Qu<strong>em</strong> perdia?<br />

Certamente o ci<strong>da</strong>dão, e a PM tinha<br />

consciência disso. Não se debita aqui<br />

qualquer responsabili<strong>da</strong>de a Polícia<br />

Civil, mesmo porque trabalhava <strong>em</strong><br />

estado de extr<strong>em</strong>a carência e fazia o<br />

que podia para minorar a situação. Era<br />

uma questão de Estado. Era questão<br />

de Política Pública que não existia<br />

neste País, neste Estado e muito<br />

menos nos Municípios.<br />

Certamente que os descalabros eram<br />

muitos e fazia-se necessário ter atitude<br />

para estabelecer as mu<strong>da</strong>nças no Sist<strong>em</strong>a<br />

de Segurança Pública <strong>em</strong> Minas<br />

Gerais. E o Governo Aécio teve essa<br />

atitude. Ninguém pode negar isso.<br />

Para fazer a integração <strong>da</strong>s ações de<br />

Polícia é necessário avançar no respeito<br />

<strong>da</strong> história de ca<strong>da</strong> instituição<br />

que compõe o sist<strong>em</strong>a de Defesa Social,<br />

perseverando na independência<br />

operacional, e deixar livres as ações<br />

pertinentes para o bom an<strong>da</strong>mento <strong>da</strong><br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

57


defesa social<br />

“Precisamos, <strong>em</strong> Minas<br />

Gerais, que se avance<br />

na inteligência policial,<br />

nas comunicações,<br />

<strong>em</strong> unir forças e<br />

competência para<br />

combater e, até<br />

mesmo, subjugar a<br />

criminali<strong>da</strong>de e a<br />

violência”<br />

Polícia Ostensiva ou Investigativa, ou<br />

de Bombeiros ou..., tendo <strong>em</strong> vista um<br />

bom des<strong>em</strong>penho <strong>da</strong>s Políticas de Segurança<br />

Pública, strictu sensu o que ca<strong>da</strong><br />

Instituição faz, que é diferente para o<br />

segmento que traça as estratégias <strong>da</strong><br />

Integração, pois estabelece as Políticas<br />

Públicas de Segurança. Precisamos, <strong>em</strong><br />

Minas Gerais, que se avance na inteligência<br />

policial, nas comunicações, <strong>em</strong><br />

unir forças e competência para combater<br />

e, até mesmo, subjugar a criminali<strong>da</strong>de<br />

e a violência. Isso é bom para<br />

a socie<strong>da</strong>de, é bom para todos.<br />

Certamente que Políticas Públicas na<br />

área de Segurança implicam no maior<br />

envolvimento do Estado por meio<br />

de Programas e Projetos com foco<br />

definido. A referência internacional<br />

do “Programa Fica Vivo” é um bom<br />

ex<strong>em</strong>plo para o Estado de como as<br />

coisas pod<strong>em</strong> acontecer e aconteciam<br />

mesmo antes do próprio Estado acor<strong>da</strong>r<br />

para a questão. Ouvi o ilustríssimo vicegovernador<br />

dizer <strong>em</strong> uma palestra que<br />

o “Programa Fica Vivo” foi reconhecido<br />

pela ONU como ex<strong>em</strong>plo de ação na<br />

área <strong>da</strong> Segurança Pública. É ótimo!<br />

Que bom que isto tenha acontecido,<br />

pois o “Fica Vivo” e o “Olho Vivo” são<br />

programas nascidos dentro <strong>da</strong> Polícia<br />

Militar de Minas Gerais.<br />

O bom é que, de um lado, há o determinismo<br />

do Estado de Minas Gerais<br />

<strong>em</strong> combater o crime, a criminali<strong>da</strong>de<br />

58 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

e a violência, por ação de suas polícias<br />

com base nas políticas desenha<strong>da</strong>s.<br />

De outro, clama por uma integração<br />

que resulte <strong>em</strong> uma efetivi<strong>da</strong>de e<br />

compromisso com a comuni<strong>da</strong>de.<br />

As notícias diárias de assaltos, roubos,<br />

furtos, homicídios, estelionatos e outros<br />

crimes agrid<strong>em</strong> nossos olhos e<br />

ouvidos no cotidiano. Agrid<strong>em</strong> mais<br />

ain<strong>da</strong> as notícias dos desvios praticados<br />

por deputados, senadores, prefeitos,<br />

vereadores: os “sanguessugas”,<br />

os “cuecões”, o escân<strong>da</strong>lo <strong>da</strong>s ambulâncias<br />

e tantos ouros crimes praticados<br />

pelos políticos, nossos representantes.<br />

T<strong>em</strong>os que nos indignar sim.<br />

T<strong>em</strong>os que nos manifestar, mas, sobretudo,<br />

dev<strong>em</strong>os colocar na agen<strong>da</strong> do<br />

dia uma pauta que nos conduza nos<br />

propósitos de “Associar-se para a Paz”.<br />

Estar junto dos Órgãos de Defesa<br />

Social. Interagir. Manifestar apoio.<br />

Compor com as autori<strong>da</strong>des momentos<br />

mágicos para debelar essa síndrome<br />

que vasta o Brasil e, <strong>em</strong> especial, nosso<br />

Estado de Minas Gerais. Eis a questão.<br />

Também que os ver<strong>da</strong>deiros operadores<br />

de Segurança Pública, os mestres<br />

<strong>em</strong> Polícia Ostensiva, muitos<br />

deles fora <strong>da</strong> ativa de suas corporações,<br />

possam cooperar com o dia-adia<br />

operacional ofertando estudos,<br />

ofertando experiências, pois, de outra<br />

forma, os analistas de segurança, figuras<br />

que hoje viraram mo<strong>da</strong>, continuarão<br />

apresentando soluções acadêmicas,<br />

muitas delas produzi<strong>da</strong>s por<br />

nós mesmos, de nossos trabalhos, de<br />

nossos esforços, e dev<strong>em</strong>os ser críticos<br />

quanto a isso.<br />

Até a reestruturação do Sist<strong>em</strong>a de<br />

Segurança Pública <strong>em</strong> Minas Gerais,<br />

a Polícia Militar recebia uma carga<br />

de responsabili<strong>da</strong>de acima dos contextos<br />

próprios do sist<strong>em</strong>a. A PMMG<br />

procurava resolver seus probl<strong>em</strong>as,<br />

os <strong>da</strong> Segurança Pública e outros não<br />

pertinentes a ela, mas a socie<strong>da</strong>de<br />

era pr<strong>em</strong>i<strong>da</strong> pela desorganização dos<br />

órgãos públicos. Havia o auspício <strong>da</strong><br />

falácia de que era a única instituição<br />

que funcionava. E poderia ser mesmo!<br />

Um dos pontos significativos no<br />

desenvolvimento <strong>da</strong>s ações <strong>da</strong> PM<br />

foi, s<strong>em</strong> dúvi<strong>da</strong>, desvencilhar-se<br />

<strong>da</strong> maioria desses encargos, cujos<br />

responsáveis se eximiam deles. É<br />

muito importante que se separe<br />

Polícia Militar de Segurança Pública,<br />

mesmo porque esta está conti<strong>da</strong><br />

naquela e passa pelo fortalecimento<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, pela participação ativa<br />

<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de na solução dos conflitos<br />

e pela correta percepção do papel <strong>da</strong>s<br />

diversas instituições coloca<strong>da</strong>s pelo<br />

Estado à sua disposição.<br />

Não obstante, precisamos estabelecer<br />

estratégias para uma redução significativa<br />

<strong>da</strong> violência e criminali<strong>da</strong>de<br />

<strong>em</strong> Minas Gerais. O mineiro está com<br />

medo. A violência está ca<strong>da</strong> vez mais<br />

próxima de ca<strong>da</strong> um de nós, t<strong>em</strong>os<br />

medo de sermos as próximas vitimas<br />

e de não sabermos como reagir.<br />

Finalmente, pod<strong>em</strong>os dizer que, <strong>em</strong>bora<br />

o controle do crime e <strong>da</strong> violência<br />

seja estatístico, está d<strong>em</strong>onstrado que<br />

o crime é um fenômeno causado por<br />

amplo número de fatores e estudos. As<br />

estatísticas disponíveis d<strong>em</strong>onstram<br />

que a vitimização, com sua alta taxa,<br />

além <strong>da</strong> prevalência <strong>da</strong> sensação de<br />

insegurança como fonte alimentadora<br />

<strong>da</strong> violência social, favorece ain<strong>da</strong> ao<br />

inusitado aparecimento e apoio de soluções<br />

populistas e ineficazes, muitas<br />

delas apresenta<strong>da</strong>s pelos “Especialistas<br />

de Segurança Pública”.<br />

Avaro Antônio Nicolau - Cel. QOR <strong>da</strong> PMMG,<br />

Especialista <strong>em</strong> Criminologia na Acad<strong>em</strong>ia de<br />

Polícia Civil/MG; Administração, com ênfase<br />

<strong>em</strong> Micro e Pequenas Empresas, com especialização<br />

na Universi<strong>da</strong>de Federal de Lavras/MG;<br />

Direito, pela Facul<strong>da</strong>de de Direito do Oeste de<br />

Minas Gerais - Divinópolis /MG; Psicologia,<br />

no Centro Universitário Newton de Paiva;<br />

Diretor de Segurança na Fun<strong>da</strong>mig e Parceiro<br />

Voluntário na Socie<strong>da</strong>de Cruz de Malta.


Nota Fiscal ElEtrôNica<br />

Uma solUção iNtEligENtE para a<br />

admiNistração pública<br />

NF- e<br />

As prefeituras de Minas Gerais já pod<strong>em</strong> contar com os serviços especializados <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> para implantação <strong>da</strong> Nota Fiscal Eletrônica: um sist<strong>em</strong>a ágil e moderno que substitui a nota fiscal<br />

<strong>em</strong> papel por um documento fiscal eletrônico com vali<strong>da</strong>de jurídica para todos os fins. Um avanço que vai<br />

facilitar a vi<strong>da</strong> do contribuinte, tornando to<strong>da</strong> a operação tributária mais econômica e confiável.<br />

A Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> garante segurança e atendimento à legislação na implantação <strong>da</strong> Nota Fiscal<br />

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