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José Albano, Um Grande Poeta do Brasil e Filho do Ceará, jaz ...

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JOSÉ ALBANO, UM GRANDE POETA DO BRAS!L E FILHO DO<br />

CEARA, JAZ ESQUECIDO NUM LONGINQUO E TRISTE<br />

CEMITÉRIO DE FRANÇA<br />

REMEMORANDO SUA VIDA E SUA OBRA<br />

UM GNIO ATRIBULADO PELA OBCESSÃO DO PERFEITO, EM LUTA<br />

CONTRA A VIDA E SUAS CONTINGNCIAS<br />

<strong>Um</strong>a reportagem que nasce a propósito da edição das obras<br />

completas <strong>do</strong> autor de "Ode á Língua Portuguesa" - <strong>Albano</strong> -<br />

o peregrino da beleza - "Giobe-trottes" em peregrinações pelo<br />

mun<strong>do</strong> na ânsia <strong>do</strong> saber - Viagem à Palestina - Vernaculista<br />

emérito e poliglota incomparável - Esqueci<strong>do</strong> por muitos e<br />

ama<strong>do</strong> e louva<strong>do</strong> por poucos<br />

Reportagem de Otacílio COLARES<br />

Num túmulo modesto de um cemitério triste da França,<br />

entre nomes desconheci<strong>do</strong>s e ciprestes melancólicos, <strong>jaz</strong> um<br />

grande poeta <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, mais ainda, um grande nome <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>.<br />

<strong>Poeta</strong> como se querem os verdadeiros, os eternos estran­<br />

geiros no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s homens, os desloca<strong>do</strong>s, os sem pátria,<br />

assim foi <strong>José</strong> <strong>Albano</strong>, <strong>José</strong> d'Abreu <strong>Albano</strong>, um quinhentista<br />

em pleno século XX, um esteta à velha moda, atormenta<strong>do</strong> pelo<br />

acicate de um ideal de perfeição que jamais julgou atingi<strong>do</strong>,<br />

imagem rediviva <strong>do</strong> Prometeu da legenda, agrilhoa<strong>do</strong> às con­<br />

tingências terrenas mas sempre lutan<strong>do</strong> por librar as asas po­<br />

tentes em busca <strong>do</strong> imponderável mistério da beleza suprema<br />

e imortal.<br />

As novas gerações que se sucedem, desde a sua morte,<br />

quase que ignoram a sua passagem pela vida, culpa <strong>do</strong> eterno<br />

121


descaso que no <strong>Brasil</strong> se tem pelo que de sério e imorre<strong>do</strong>uro<br />

se procura criar.<br />

As antologias, que devem ser o receptáculo das jóias que<br />

a imaginação e a sensibilidade criaram nos grandes momentos<br />

de emoção, estas, salvo exceções raríssimas, o esqueceram ou<br />

como que se arrecearam de tratar material de tão fino lavor<br />

como a sua obra .<br />

E <strong>José</strong> <strong>Albano</strong>, puro como só pode ser um poeta, nobre<br />

como um mártir ou como um santo, peregrino incansa<strong>do</strong> em<br />

busca da suprema harmonia, apenas ficou viven<strong>do</strong> na lem­<br />

brança de uma meia dúzia, para uns como objeto de museu,<br />

como raridade; para outros como um desajusta<strong>do</strong>, pitoresco<br />

EJ curioso, um louco de gênio e só por muito poucos louva<strong>do</strong><br />

e venera<strong>do</strong> como um astro sublime a serviço da beleza.<br />

Mas tu<strong>do</strong> que é bom e é belo ressurge um dia e um dia se<br />

renova. E é esse milagre que agora se opera, para alegria <strong>do</strong>s<br />

que aprenderam a amar o grande bar<strong>do</strong> e para orgulho das<br />

futuras gerações .<br />

ENFEIXADAS NUM VOLUME AS OBRAS DO<br />

GRANDE POETA<br />

A crítica nacional, através de uma pequena crônica de <strong>José</strong><br />

Uns <strong>do</strong> Rego, publicada nos "Diários Associa<strong>do</strong>s'', já começou<br />

a pronunciar-se a respeito <strong>do</strong> aparecimento em volume das<br />

obras selecionadas de <strong>José</strong> <strong>Albano</strong>, coligidas, revistas e prefa­<br />

ciadas pelo poeta Manuel Bandeira.<br />

A família <strong>do</strong> grande e imortal verseja<strong>do</strong>r, satisfazen<strong>do</strong> a<br />

um velho anseio <strong>do</strong> poeta de ''A Cinza das Horas", entregou­<br />

-lhe o precioso material, já muito raro, que o poeta deixara<br />

disperso em edições diminutas ou esparso nos arquivos pouco<br />

organiza<strong>do</strong>s.<br />

Foi trabalho consciencioso, beneditino, aquele a que se<br />

entregou Manuel Bandeira, para nos apresentar em alenta<strong>do</strong> vo­<br />

lume as melhores composições de <strong>Albano</strong>, edita<strong>do</strong> o livro pela<br />

"Pongetti", em tiragem a nosso ver muito limitada de mil exem­<br />

plares apenas.<br />

122


Agora, pois, só agora, quan<strong>do</strong> em matéria de Poesia o<br />

bom deixou de ser apenas o chama<strong>do</strong> "moderno" para ser o<br />

que existe de verdadeira e essencialmente poético, agora a<br />

reedição de <strong>José</strong> <strong>Albano</strong> vale como uma grande, a maior ho­<br />

menagem a quem por pouco não passou "pela vida em branca<br />

nuvem", tão pouco se dedicava ao culto e ao alarde <strong>do</strong> seu<br />

próprio valor.<br />

A RAZÃO pESTA REPORTAGEM<br />

Foi da reedição, no Rio, das obras de <strong>José</strong> <strong>Albano</strong> que,<br />

aqui, no <strong>Ceará</strong>, surgiu a idéia desta reportagem, a qual visa,<br />

antes de tu<strong>do</strong>, mostrar aos intelectuais cearenses excessiva­<br />

mente descuida<strong>do</strong>s, por "modernos" demais, ou excessivamen­<br />

e deslembra<strong>do</strong>s, por velhos em demasia o que foi a vida tor­<br />

turada e assim mesmo eivada <strong>do</strong>s sinais da beleza e de gênio<br />

que viveu esse autêntico bafejário das musas, que tanto criou<br />

para perpetuação <strong>do</strong> seu nome em tão curtos e agita<strong>do</strong>s qua­<br />

renta e um anos de existência.<br />

Talvez muitos <strong>do</strong>s que, agora, chegarem a ler a obra poé­<br />

tica de <strong>José</strong> <strong>Albano</strong> ignorem que o grande poeta ainda tem<br />

esposa em vida, tão remota e quase legendária deverá ser para<br />

esses a figura <strong>do</strong> imortal cria<strong>do</strong>r de "Ode á Lingua Portuguesa".<br />

Mas a memória de <strong>Albano</strong> ainda está bem viva. No recesso<br />

<strong>do</strong> lar a que ele dedicou amor imenso, uma nobre dama e filhas<br />

zelosas conservam, como relíquias de inestimável valor, reta­<br />

lhos preciosos de lembranças deixadas pelo poeta na sua aci­<br />

dentada vida de "globe-trotter" em procura de novos climas,<br />

na sua existência vivida demais para a conformação com o lugar<br />

comum.<br />

VENERAÇÃO DE FILHA E AMOR DE ES POSA<br />

Coincidiram para o bom termo da presente reportagem a<br />

verdadeira e profunda admiração mantida pelo repórter para<br />

com o poeta, descoberta ainda <strong>do</strong>s verdes anos da juventude,<br />

e o amor e a saudade que da parte <strong>do</strong>s seus existe, crian<strong>do</strong> em<br />

torno <strong>do</strong> nome ilustre a atmosfera ideal de sintonia em que são<br />

trocadas as impressões sem limitações protocolares, no clima<br />

123


areja<strong>do</strong> das confidências despreocupadas, santificadas pelo<br />

halo angélico da candura.<br />

<strong>Um</strong>a simples telefonada para a senhora Jorge Moreira da<br />

Rocha serviu de cartão de apresentação para o repórter. O.<br />

Maria <strong>José</strong> <strong>Albano</strong> da Rocha é uma das mais legítimas repre­<br />

sentantes da inteligência e cultura femininas de nossa terra e<br />

sabe ter pela obra literária de seu pai o juízo certo que a faz<br />

justamente orgulhosa e o mais perfeito conhecimento crítico,<br />

que torna a sua palavra um veículo ideal para o jornalista.<br />

Mas a filha não bastaria, só ela, para satisfzer à curiosi­<br />

dade <strong>do</strong> repórter, acerca de <strong>José</strong> <strong>Albano</strong>. E a viúva extremosa,<br />

D. Gabriela da Rocha <strong>Albano</strong>, foi convocada para o depoi­<br />

mento sentimental em torno da estranha e marcante persona­<br />

lidade que se faz objeto desta reportagem. Ninguém melhor<br />

<strong>do</strong> que ela poderia dizer da existência original desse grande<br />

cearense.<br />

E os momentos passa<strong>do</strong>s em cantata com lembranças tão<br />

amorosamente reve ladas deram ao homem de imprensa o la<strong>do</strong><br />

sentimental de que ele necessitava para poder ver em <strong>José</strong><br />

<strong>Albano</strong> as duas facetas que, juntas, justificariam a sua vida e<br />

a sua obra, ambas originais .<br />

O AMOROSO IM PENITENTE<br />

Depois que D. Maria <strong>José</strong> nos revela fotografias raras <strong>do</strong><br />

poeta, versos esparsos, trechos de cartas escritas das mais di­<br />

versas procedências, ora da Grécia distante, ora da Inglaterra<br />

longínqua, e to<strong>do</strong> um rosário de lembranças milagrosamente<br />

guardadas por uma memória ainda criança. D. Gabriela chega<br />

e então o repórter se vê entre dua.s sensibilidades irmãs porém<br />

intimamente diferentes: a da filha que venera e da esposa que<br />

amou e não esquece .<br />

O jornalista aban<strong>do</strong>na a intenção primeira de catalogar<br />

datas e fatos e prefere trocar impressões, em decorrência das<br />

lembranças reavivadas. E é com verdadeira emoção que ouve<br />

<strong>do</strong>s lábios da viúva as referências sobre a delicadeza de sen­<br />

timentos <strong>do</strong> poeta, o seu temperamento ultra sensível, a retidão<br />

<strong>do</strong> seu caráter, que o fez aban<strong>do</strong>nar um cargo de consula<strong>do</strong> por<br />

não querer ganhar dinheiro sem nada fazer, e aquele amor à<br />

124


perfeição que o fazia emigrar para a Grécia, de inopino, a fim<br />

de poder aprender o grego moderno como o antigo na própria<br />

terra de Homero e ir à Palestina, com os filhos menores e a es<br />

posa dedicada, vencen<strong>do</strong> mil tropeços, em verdadeira "via<br />

crucia", só pelo amor de viver FISICAMENTE o grande drama<br />

<strong>do</strong> Calvário.<br />

DADOS BIOGRAFICOS<br />

<strong>José</strong> de Abreu <strong>Albano</strong> nasceu em Fortaleza, no dia 12 de<br />

abril de 1882, filho <strong>do</strong> negociante <strong>José</strong> <strong>Albano</strong> <strong>Filho</strong> e de D.<br />

IVIaria de Abreu <strong>Albano</strong>, descendente de tradicional família cea<br />

rense, pois era neto <strong>do</strong>s barões de Aratanha.<br />

Durante <strong>do</strong>is anos (1892 e 1893) estu<strong>do</strong>u no Seminário de<br />

Fortaleza, após o que foi manda<strong>do</strong> pelo pai a estudar na Euro<br />

pa, cujos principais centros de cultura percorreu, para comple<br />

ta r seu curso de humanidades.<br />

Assim foi que, entre 1893 e 1898, estu<strong>do</strong>u na Inglaterra<br />

(Stonyhurst College <strong>do</strong>s Jesuítas, em Blackburn), na Austria<br />

(Colegio Stella Matutina, <strong>do</strong>s jesuítas, em Feldkirch) e na Fran<br />

ça (Colegio <strong>do</strong>s Irmãos da Doutrina Cristã em Dreux) .<br />

Sem dúvida foi desse longo convfvio com as sisudas lições<br />

<strong>do</strong>s filhos de Santo Inácio que lhe advieram e acompanharam<br />

sua personalidade durante toda a vida aquela cultura sólida<br />

que ia sempre ter raízes no mais profun<strong>do</strong> <strong>do</strong> conhecimento e<br />

aquela misticidade que tão bem ia com o seu caráter de sonha<br />

<strong>do</strong>r insano.<br />

Finda essa peregrinação de estudante, regressou a Forta<br />

leza, onde, após trabalhar no comércio ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> pai, não con<br />

seguin<strong>do</strong> adaptarse à vida excessivamente rotineira da pro<br />

víncia, longe <strong>do</strong>s livros, fez ele os seus preparatórios no velho<br />

e tradicional Liceu <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> e, no ano de 1902, embarcava para<br />

o Rio de Janeiro, tentan<strong>do</strong> fazer o seu curso de leis. Interrom­<br />

peu porém em meio esse curso, regressan<strong>do</strong> à sua terra, onde<br />

teve oportunidade de, por espaço de um ano (1904) ensinar la<br />

tim no educandário que, havia pouco, acabava de deixar como<br />

aluno, sen<strong>do</strong> para isto necessário aumentar de <strong>do</strong>is anos a<br />

idade.<br />

125


NASCE O DIPLOMATA<br />

Espírito de escol por temperamento e por origem, a car­<br />

reira diplomática era indiscutivelmente a que melhor coadunava<br />

com o caráter e a cultura <strong>do</strong> poeta esta, àquele tempo, já poli­<br />

morfa. E foi assim que, em fins <strong>do</strong> ano de 1904, ele deman<strong>do</strong>u<br />

o Rio de Janeiro, in<strong>do</strong> trabalhar no Ministério das Relações<br />

Exteriores. Estava iniciada a sua vida aventureira.<br />

CASA-SE O POETA<br />

Após seis anos de amizade com aquela que elegera em seu<br />

coração de pureza adamantina como um verdadeiro nume tu­<br />

telar, o que nos deixa revela<strong>do</strong> um pequeno e amareleci<strong>do</strong> diá­<br />

rio íntimo <strong>do</strong> então jovem <strong>José</strong> <strong>Albano</strong>, casava-se o poeta, no<br />

ano de 1906, com D. Gabriela da Rocha, de cujo consórcio teve<br />

cinco filhos: <strong>José</strong> Maria, Teófilo, Maria <strong>José</strong>, Justina e Ângelo,<br />

os <strong>do</strong>is primeiros mortos, ainda crianças.<br />

MADRIGALESCO COMO UM JOGRAL DE ANTIGAS ERAS<br />

Reportan<strong>do</strong>-se ao seu casamento com o poeta, D. Gabriela,<br />

com a ternura das grandes almas, lembra a sua figura fidalga,<br />

e auréola de romantismo e nobreza de que ele cercava a sua<br />

amizade, num amor à moda antiga em que uma flor singela,<br />

entregue com mão trêmula a uma outra mão medrosa e furtiva,<br />

a varanda, na hora <strong>do</strong> espera<strong>do</strong> encontro, valia como um poema<br />

para os <strong>do</strong>is e merecia as honras de um diário íntimo, em que<br />

o nome de Deus era trecho de cada anotação, revelan<strong>do</strong>-nos,<br />

no texto, desde os primeiros anos de vida, a inelutável tendên­<br />

cia para as regiões <strong>do</strong> misticismo, clima ideal para a Poesia.<br />

AS VIAGENS DO PEREGRINO DA BELEZA<br />

Até o ano de 1912, <strong>José</strong> <strong>Albano</strong> dedicou-se à carreira di­<br />

plomática, ten<strong>do</strong>, de 1908 até aquele ano, servi<strong>do</strong> no consula<strong>do</strong><br />

brasileiro em Londres. Por essa época, renascen<strong>do</strong>-lhe no es­<br />

pírito a velha chama peregrina e ten<strong>do</strong> atingi<strong>do</strong> ao clímax a<br />

sua ânsia de novos horizontes, viajou durante um ano inteiro<br />

quase to<strong>do</strong> o velho mun<strong>do</strong>: Portugal, Espanha, França, Bélgica,<br />

Holanda, Alemanha, Hungria, Suíça, Itália, Romênia, Turquia,<br />

Palestina e Egito .<br />

126


Relembran<strong>do</strong> passagens dessa viagem cheia de mil peri­<br />

pécias, D. Gabriela se demora longamente, descreven<strong>do</strong> ao<br />

vivo a peregrinação que ela e o poeta, com os filhos pequenos,<br />

fizeram pela Terra Santa.<br />

<strong>José</strong> <strong>Albano</strong>, com a sua verdadeira mania pelas emoções<br />

totais e perfeitas, tratava, em cada lugar a que chegava, de ves­<br />

tir-se à moda <strong>do</strong> mesmo e com as suas barbas de Nazareno e<br />

sua longa e bela cabeleira, saía-se muito bem naquelas cida­<br />

des tradicionais <strong>do</strong> oriente, com albarnozes, turbantes e mantos<br />

vistosos, na Palestina e, no Egito, com o clássico "fez", o que<br />

lhe valia de to<strong>do</strong>s os nativos, por onde quer que passasse, as<br />

zumbaias mais amistosas, às quais ele correspondia muito<br />

compenetra<strong>do</strong>, falan<strong>do</strong> a língua em que era sauda<strong>do</strong>.<br />

Com a memória fenomena l que possuía e com a agudeza<br />

de inteligência que nunca lhe foi negada, era de causar espanto<br />

a facilidade com que ele, mal chega<strong>do</strong> a um determina<strong>do</strong> país,<br />

<strong>do</strong>minava a língua <strong>do</strong> seu povo. E é sua esposa quem nos<br />

revela que, chega<strong>do</strong>s à Hungria, com menos de um mês, o nosso<br />

imortal poeta já <strong>do</strong>minava perfeitamente o húngaro, como <strong>do</strong>­<br />

minava tantos outros idiomas, assim lhe desse na cabeça.<br />

O ESPíRITO DA AVENTURA<br />

Quem já leu até a esta altura a presente reportagem está<br />

prepara<strong>do</strong> para novas originalidades <strong>do</strong> poeta <strong>José</strong> <strong>Albano</strong> e<br />

não se admirará de ouvir o que a sua esposa, com o riso que<br />

justifica o ente ama<strong>do</strong> e prantea<strong>do</strong>, nos contou e que se resu­<br />

me no seguinte: em meio a essa viagem de um ano que o poeta<br />

empreendeu com a família, a estada na Palestina foi a mais<br />

cheia de perigos e de sucessos emocionais. Foi lá que ele, a<br />

esposa e os filhos menores passaram maus boca<strong>do</strong>s no porto<br />

de Jaffa, às voltas com o perigo da peste que ali então gras­<br />

sava, o que os obrigou, a eles como aos demais passageiros<br />

<strong>do</strong> transporte em que viajavam, a muitas horas de quarentena<br />

num lazareto horrível, em meio a uma gente estranha e pouco<br />

<strong>do</strong>tada <strong>do</strong>s clássicos princípios de higiene.<br />

que o poeta pairava muito acima dessas tristes contin­<br />

gências terrenas e sabia encontrar o pitoresco onde os demais<br />

achavam apenas o incómo<strong>do</strong>.<br />

127


Mas isto não quer dizer que ele, indiscutivelmente um tem­<br />

peramental, não tivesse, súbito, certas transformações de gê­<br />

nio e é ainda a esposa quem nos conta que, certa feita, na<br />

Palestina, depois de haver compra<strong>do</strong> a um livreiro, por um<br />

preço exorbitante, uma bfblia em hebráico, estan<strong>do</strong> enleva<strong>do</strong><br />

a lê-la, no transporte em que viajava, teve de emprestá-la por<br />

alguns momentos a um judeu seu vizinho. Quan<strong>do</strong> o precioso<br />

objeto lhe foi devolvi<strong>do</strong>, quem foi que viu querer o poeta tocá-lo<br />

novamente?<br />

Era assim <strong>José</strong> <strong>Albano</strong>, poeta demais para ser explica<strong>do</strong>,<br />

poeta demais para ser compreendi<strong>do</strong>. Mas, hoje, passa<strong>do</strong>s tan­<br />

tos anos de sua morte, e ao cantata com a sua obra monu­<br />

mental e tão rica de sentimento, o que ressalta na sua perso­<br />

nalidade é isto: a organização de um homem sincero, uma sen­<br />

sibilidade à flor da pele, capaz de sentir asco em frente a um<br />

maltrapilho mas capaz de dizer à bem-amada, no <strong>do</strong>rso da pai­<br />

sagem de um leque perfuma<strong>do</strong>, na hora de maior ternura, este<br />

madrigal, suave como um afago e forte como um pensamento<br />

amadureci<strong>do</strong>: "Quan<strong>do</strong> a palavra foge da mulher ou quan<strong>do</strong> a<br />

mulher esquece a palavra, toda a alma está na pupila que bri­<br />

lha, to<strong>do</strong> o coração no lábio que suspira". Ou estes versos em<br />

que vai, como numa bênção to<strong>do</strong> o carinho de um coração de<br />

pai:<br />

128<br />

"Na tua fronte<br />

lngênua e pura<br />

Surja e desponte<br />

Doce ventura.<br />

Seja a tua alma<br />

Meiga, inocente,<br />

Suave e calma<br />

Eternamente<br />

E em sorte amiga<br />

E benfaseja<br />

Deus te bendiga<br />

E te proteja".


O CAMINHO PARA A MORTE<br />

Depois da verdadeira peregrinação que empreendeu pelos<br />

grandes centros <strong>do</strong> Velho Mun<strong>do</strong>, <strong>José</strong> <strong>Albano</strong> e a família re­<br />

gressaram a Londres .<br />

Mas os prenúncios da primeira grande guerra mundial se<br />

adensavam no horizonte e o poeta teve que ver-se aparta<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>s seus, que empreenderam viagem, rumo ao <strong>Brasil</strong>.<br />

A solidão, a falta daquela atmosfera de cuida<strong>do</strong>s que o<br />

temperamento delica<strong>do</strong> <strong>do</strong> poeta não podia dispensar, o zelo<br />

da esposa que lhe adivinhava os pensamentos e conseguia equi­<br />

librar com o bom senso e o senti<strong>do</strong> prático das coisas, aqueles<br />

arrebatamentos que o empolgavam e o obcecavam, fazen<strong>do</strong>-o<br />

perder a noção <strong>do</strong> viável e <strong>do</strong> inviável, tu<strong>do</strong> isto resumi<strong>do</strong>, trans­<br />

formou a existência de <strong>Albano</strong>, exila<strong>do</strong> na fria cidade de Lon­<br />

dres, um lento caminhar para a morte.<br />

AINDA UM ALENTO<br />

E foi assim que, no ano de 1914, quan<strong>do</strong> os canhões co­<br />

meçavam a vomitar das bocas a sua mensagem de morte, de<br />

destruição, o poeta cândi<strong>do</strong>, a grande ave de paz e de concór­<br />

dia, a<strong>do</strong>ecia gravemente, a razão abalada seriamente, por for­<br />

ça de uma existência atribulada espiritualmente, naufraga <strong>do</strong><br />

próprio oceano de idéias luminosas que criara para si.<br />

Fazen<strong>do</strong>-se de viagem para o <strong>Ceará</strong>, aqui, durante três<br />

anos, o milagre da terra acolhe<strong>do</strong>ra e o aconchego <strong>do</strong>s seus,<br />

fizeram que o poeta recuperasse, pelo menos aparentemente,<br />

o <strong>do</strong>mrnio de suas energias.<br />

Restabeleci<strong>do</strong>, o Rio de Janeiro o atraiu e lá foi encon­<br />

trá-lo o ano de 1917, quan<strong>do</strong> o seu nome granjeou notoriedade,<br />

já pelo valor <strong>do</strong> grande poeta e vernaculista que ele era -<br />

"guarda civil da lfngua portuguesa", como o chamou Bilac -<br />

já pelas excentricidades <strong>do</strong> seu to<strong>do</strong> e das suas idéias, que,<br />

como as suas produções, tinham o cunho, <strong>do</strong>s moldes clássi­<br />

cos, o que lhe dava aquele ar estranho de museismo, bem como<br />

a aparência de "snob" que para não poucos chegava a assu­<br />

mir, com seus trajes originais, sua bengala de junco, seu cha-<br />

129


péu, ora de abas largas à moda portuguesa, ora pequenlssimo a<br />

equilibrar-se sobre a cabeça, em contraste com a basta cabe·<br />

leira, para não citar o monóculo retangular sobre o olho direi·<br />

to, de mirada penetrante e, sobretu<strong>do</strong>, os seus conceitos, as<br />

suas criticas.<br />

Estas eram sempre mordazes e não despidas de uma certa<br />

ironia superior e <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>ra, ten<strong>do</strong> feito época, nas rodinhas<br />

que àquele tempo formavam, à porta da Garnier, Bilac, Alberto<br />

de Oliveira, Guimarães Passos, Pardal Mallet, Mário de Alencar<br />

e tantos outros esplritos ilustres nas letras nacionais.<br />

O APELO DE PARIS<br />

Mas nem mesmo o Rio de Janeiro satisfazia ao poeta que,<br />

como o Jacinto cria<strong>do</strong> por Eça de Queiroz, tinha em Paris e só<br />

em Paris o clima ideal para a sua alma. E Paris, na sua vora­<br />

gem, tragou o poeta.<br />

Lá, o grande cérebro, ansioso por uma afirmação, por um<br />

sonho a ser realiza<strong>do</strong> em sua arte, o coração sangran<strong>do</strong> entre<br />

os impulsos <strong>do</strong> espirita liberto demais para as contingências<br />

humanas, e a nostalgia <strong>do</strong> ex!lio, longe <strong>do</strong>s seus, com aquela<br />

pureza de alma que era o completo esquecimento de conforto,<br />

de prosperidade, de "self-centroll", lá, na Paris deslumbrante,<br />

o grande pássaro começou a sentir faltarem-lhe as forças.<br />

Durante cinco anos, longe da terra de berço, viven<strong>do</strong> o exl­<br />

lio da alma e o <strong>do</strong> coração, <strong>José</strong> <strong>Albano</strong> fin<strong>do</strong>u os seus dias.<br />

Sozinho, anónimo, num leito de hospital, em Montauban,<br />

na Haute Garone, transfuga de si mesmo, na consecução afinal<br />

da suprema poesia que não prescinde <strong>do</strong>s arrebatamentos vizi­<br />

nhos da loucura, o grande bar<strong>do</strong> cerrou os olhos.<br />

Na mesma cova que guarda as cinzas <strong>do</strong> poeta, um <strong>do</strong>s<br />

maiores da Hngua portuguesa, filho <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, repousam os<br />

ossos de uma velhinha de 73 anos.<br />

Longe, na terra distante que o recolheu, o poeta não está<br />

só. Ele que abraçou to<strong>do</strong> um mun<strong>do</strong> com seu vôo de gigante,<br />

que falou a linguagem sem fronteiras da fraternidade poética,<br />

descansa em grande paz, ao la<strong>do</strong> de cinzas que são bem um<br />

slmbolo <strong>do</strong> tempo na sua mais poética expressão - a velhice.<br />

130


Que a França que ele tanto amou respeite a paz que afinal<br />

foi encontrar em seu solo fecun<strong>do</strong>, rega<strong>do</strong> tantas vezes pelo<br />

sangue <strong>do</strong>s santos e <strong>do</strong>s mártires . Que os bons fa<strong>do</strong>s ainda<br />

resguardem <strong>do</strong> tempo que tu<strong>do</strong> destrói a sepultura singela em<br />

que ele foi inuma<strong>do</strong> a 13 de julho de 1923 .<br />

TRAPEZE J. N9 202, eis a sua referência, na necrópole lon­<br />

ginqua de Montauban, último informe dali envia<strong>do</strong> por seu ir­<br />

mão Joaquim <strong>Albano</strong>, que morreu na Europa, sem ter podi<strong>do</strong><br />

concretizar o sonho de enviar para o <strong>Ceará</strong>, os restos mortais<br />

<strong>do</strong> grande filho.<br />

A OBRA DO GRANDE POETA<br />

Mas o leitor que não tenha entra<strong>do</strong> em cantata com a vas­<br />

ta e maravilhosa bagagem poetica que se conseguiu colher da<br />

vida de <strong>José</strong> <strong>Albano</strong> poderá espantar-se se não dissermos algo<br />

de mais concreto para caracterizar a alta linhagem da sua men­<br />

sagem artística.<br />

E como esta reportagem, queria, antes mostrar <strong>José</strong> Alba­<br />

no através da vida que ele viveu, uma da esfera intelectual<br />

propriamente dita, tentaremos dar uma idéia daquilo que o<br />

poeta legou, para a posteridade - poesia e tão-só poesia,<br />

como acontece às abelhas que só sabem dar mel, para empre­<br />

garmos a imagem de um poeta .<br />

Segun<strong>do</strong> escreve Manuel Bandeira, organiza<strong>do</strong>r da coletâ­<br />

nea que vem de ser publicada com as principais composições<br />

<strong>do</strong> poeta, era sonho de <strong>José</strong> <strong>Albano</strong> reunir em volume de luxo<br />

as suas obras já então esgotadas. Mas a morte sobreveio antes<br />

que ele pudesse realizar o anseio.<br />

Agora, o livro surge e nele estão conti<strong>do</strong>s os versos que<br />

se constituiam pequenos volumes publica<strong>do</strong>s pelo autor: RE­<br />

DONDILHAS (oficinas de Fidel Giró, Barcelona); ALEGORIA<br />

(Oficinas de Fidel Giró, Barcelona), CANÇÃO A CAMõES e<br />

ODE À UNGUA PORTUGUESA (Oficinas de Fidel Giró), (Bar­<br />

celona); SONNETS BY JOSEPH ALBANO WITH PORTUGUESE<br />

FRASE TRANSLATION (Ex-Typografia Hodierna Fortalixiae);<br />

ANTOLOGIA POÉTICA DE JOSÉ ALBANO (Ex Typis Assis Be­<br />

zerra, Fortalixae); COMÉDIA ANGÉLICA de <strong>José</strong> <strong>Albano</strong> (Tipo­<br />

grafia Moderna, Fortaleza).<br />

131


Esta a obra poética de <strong>Albano</strong>, editada em sua vida. Na cole•<br />

tânea organizada por Bandeira, aparecem outras produções,<br />

deixadas em papel datilografa<strong>do</strong>: poesias em alemão e em por­<br />

tu,guês, escritas entre os anos de 1895 e 1897, várias poesias<br />

escritas entre 900 e 902 e inúmeros sonetos, dez <strong>do</strong>s quais pre­<br />

feri<strong>do</strong>s pelo autor.<br />

Ai está, em resumo, a obra poética de <strong>José</strong> <strong>Albano</strong>. Obra<br />

magnifica, da mais pura linhagem poética, despreocupada das<br />

contingências excessivamente humanas, sempre uma fuga para<br />

regiões inefáveis.<br />

Poesia límpida como o cristal, na idéia, apesar de um<br />

certo requintamento que, hoje em dia, nos surge não como um<br />

carrancismo, um capricho <strong>do</strong> autor, mas um méto<strong>do</strong> de proteção<br />

para a posteridade e que ele empregou envolven<strong>do</strong> as suas pro­<br />

duções, tornan<strong>do</strong>-as resistentes na forma, de molde a suportar<br />

as intempéries <strong>do</strong> mudar de escolas sobre escolas, até encon­<br />

trar o dia da aparição em plena resplendência <strong>do</strong> estro alevan­<br />

ta<strong>do</strong> que as gerara.<br />

O DOMINIO DE TODOS OS RITMOS<br />

Conhece<strong>do</strong>r perfeito de to<strong>do</strong>s os artifícios que fazem a dife­<br />

renciação entre a poesia poética e a prosa poética, <strong>José</strong> <strong>Albano</strong><br />

<strong>do</strong>minava to<strong>do</strong>s os ritmos e fazia desde o vilancete ao soneto<br />

de linhas puras como um vaso antigo, desde a ode clássica até<br />

ao drama poético.<br />

No vilancete, nada melhor foi escrito <strong>do</strong> que essa jóia que<br />

abaixo transcrevemos, de leveza de canto e suavidade de água<br />

de regato:<br />

132<br />

"Com lembranças de meu bem<br />

Sózinho estive a chorar<br />

Entre o sol posto e o luar.<br />

VOLTAS<br />

Na hora mais triste eu sei<br />

Das horas que vêm e vão,<br />

Sau<strong>do</strong>samente espalhei<br />

Suspiros <strong>do</strong> coração;


Pois que me nascia, então,<br />

<strong>Um</strong>a mágoa singular<br />

Entre o sol-posto e o luar.<br />

E eu dizia: "O sol morreu,<br />

"Não me vê gemen<strong>do</strong> assim,<br />

"A lua oculta no céu<br />

''Não sente pena de mim.<br />

"O dia teve o seu fim<br />

"E a noite está por chegar<br />

"Entre o sol-posto e o luar.<br />

"Já chorei muito e sofri<br />

"Saudades longe de ti,<br />

''Porém nunca em desprazer<br />

"Senti o que sinto aqui"<br />

E destarte conheci<br />

Quanto é mais triste - chorar<br />

Entre o sol-posto e o luar".<br />

OS SONETOS<br />

Fosse intento nosso fazer fugir esta reportagem ao fim co­<br />

lima<strong>do</strong>, e facilmente poderíamos transformá-la em um reposi­<br />

torio de dezenas de composições de <strong>José</strong> <strong>Albano</strong>, todas elas<br />

de altíssima contestura, capazes de figurar nas antologias como<br />

joias das mais raras da língua portuguesa.<br />

Mas - já ficou dito - não é este, antes de tu<strong>do</strong>, o nosso<br />

intento. To<strong>do</strong> o cearense culto deve procurar conhecer <strong>José</strong><br />

<strong>Albano</strong> em to<strong>do</strong> o esplen<strong>do</strong>r de sua obra volumosa e imortal e<br />

não apenas através de rápi<strong>do</strong>s juízos críticos de uma reporta­<br />

gem.<br />

Não nos furtamos porém a transcrever algo mais que carac­<br />

terize melhor o estro de <strong>Albano</strong>, qualquer coisa assim definitivo<br />

como expressão de sua arte requintada a serviço de um tem­<br />

peramento de verdadeiro poeta, misto de martir e de louco, tor­<br />

tura<strong>do</strong> por um ideal que êle mesmo muita vez não pode<br />

definir-se:<br />

133


"<strong>Poeta</strong> fui e <strong>do</strong> áspero destino<br />

Senti bem ce<strong>do</strong> a mão pesada e dura.<br />

Conheci mais tristeza que ventura<br />

E sempre andei errante e peregrino.<br />

Vivi sujeito ao <strong>do</strong>ce desatino<br />

Que, tanto engana mas tão pouco dura;<br />

E inda choro o rigor da sorte escura,<br />

Se nas horas passadas imagino.<br />

Porém, como me agora vejo isento<br />

Dos sonhos que sonhava noite e dia<br />

E só com saudades me atormento;<br />

Enten<strong>do</strong> que não tive outra alegria<br />

Nem nunca outro qualquer contentamnto,<br />

Senão de ter canta<strong>do</strong> o que sofria".<br />

Ou então um daqueles catorzetos luminosos em que o seu<br />

amor místico à divindade se deixava transbordar, crian<strong>do</strong> joias<br />

de pureza adamantina como este soneto:<br />

134<br />

"Eu não sabia que me amavas tanto,<br />

O' meu Deus, 6 meu Pai, bran<strong>do</strong> e bon<strong>do</strong>so,<br />

Senão quan<strong>do</strong> perdi ventura e gozo,<br />

Esperança, alegria, sonho e encanto.<br />

Então no meio de mortal quebranto,<br />

Sem achar um momento de repouso,<br />

Conheci quanto o amor é poderoso,<br />

Quanto é puro e profun<strong>do</strong>, meigo e santo.<br />

E se de castigar-me não desistes,<br />

E mandas que a tortura mais me aperte,<br />

Rogo-te que de to<strong>do</strong> me conquistes;<br />

Para, quan<strong>do</strong> a alma às <strong>do</strong>res se converte,<br />

Erguer ao claro céu os olhos tristes<br />

E com maior ternura bendizer-te".


Ao nosso ver nada melhor <strong>do</strong> que o que foi cita<strong>do</strong> para nos<br />

mostrar em <strong>José</strong> <strong>Albano</strong> a marca de um grande poeta. Que os<br />

críticos <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> leiam com cuida<strong>do</strong> a sua obra, só agora res­<br />

suscitada de sob as cinzas que injustamente sobre ela haviam<br />

caí<strong>do</strong>, por culpa <strong>do</strong> pouco zelo que temos pelas nossas coisas<br />

mais caras e destinadas a nos glorificar.<br />

UM APELO<br />

E não queremos encerrar esta reportagem sem fazer uma<br />

sugestão ao governo, aos senhores legisla<strong>do</strong>res, às nossas en­<br />

tidades culturais: reivindiquemos à França a honra de servir<br />

nossa terra de berço de repouso ao filho que nela teve o berço<br />

de nascimento. E o anonimato em que lá descansa o poeta<br />

será compensa<strong>do</strong> pela veneração que, aqui, nós lhe dedica­<br />

remos.<br />

Hoje em dia tu<strong>do</strong> se faz mais fácil, com o encurtamento<br />

das distâncias e o simples porte de um avião, em <strong>do</strong>is ou três<br />

dias, depois de um entendimento de legações, poderá resolver<br />

o que, outrora, requereria tanto tempo.<br />

<strong>José</strong> <strong>Albano</strong> precisa repousar em terra cearense, porque<br />

o <strong>Ceará</strong> precisa desses relicários, os últimos sinais da vida <strong>do</strong>s<br />

seus grandes filhos, que emigraram para glorificá-lo, lá longe,<br />

até onde pode chegar a predestinação da raça, de que falou<br />

Alencar.<br />

Reportagem publicada no jornal "Unitário" de Fortaleza,<br />

25 de dezembro de 1948.<br />

135


ESTUDOS

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