14.11.2013 Views

Sociologia

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Antonio Carlos Banzato A. Santos<br />

Rafael Lopes Sousa<br />

<strong>Sociologia</strong><br />

Revisada por Rafael Lopes Sousa (setembro/2012)


APRESENTAÇÃO<br />

É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de <strong>Sociologia</strong>, parte integrante<br />

de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinâmico e autônomo que a<br />

educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às) alunos(as) uma apresentação<br />

do conteúdo básico da disciplina.<br />

A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidisciplinares,<br />

como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail.<br />

Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br,<br />

a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso,<br />

bem como acesso a redes de informação e documentação.<br />

Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suplemento<br />

que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para<br />

uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal.<br />

A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar!<br />

Unisa Digital


SUMÁRIO<br />

INTRODUÇÃO................................................................................................................................................ 5<br />

1 INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA...................................................................................................... 7<br />

1.1 O Nascimento da <strong>Sociologia</strong>........................................................................................................................................8<br />

1.2 O Contexto do Pensamento Positivista....................................................................................................................8<br />

1.3 Os Fundamentos do Positivismo................................................................................................................................9<br />

1.4 Estratificação da Sociedade Positivista....................................................................................................................9<br />

1.5 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................11<br />

1.6 Atividades Propostas....................................................................................................................................................11<br />

2 A SOCIOLOGIA DE DURKHEIM................................................................................................... 13<br />

2.1 A Objetividade do Fato Social...................................................................................................................................14<br />

2.2 A Consciência Coletiva................................................................................................................................................14<br />

2.3 A Escola de Frankfurt....................................................................................................................................................15<br />

2.4 A Indústria Cultural.......................................................................................................................................................15<br />

2.5 Cultura de Massa............................................................................................................................................................16<br />

2.6 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................18<br />

2.7 Atividades Propostas....................................................................................................................................................18<br />

3 ESCOLAS SOCIOLÓGICAS.............................................................................................................. 19<br />

3.1 Escola Sociológica Europeia......................................................................................................................................19<br />

3.2 <strong>Sociologia</strong> Alemã: a Contribuição de Max Weber.............................................................................................21<br />

3.3 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................22<br />

3.4 Atividades Propostas....................................................................................................................................................22<br />

4 A SOCIEDADE SOB UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA................................................... 23<br />

4.1 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................24<br />

4.2 Atividades Propostas....................................................................................................................................................24<br />

5 KARL MARX E A HISTÓRIA DA EXPLORAÇÃO DO HOMEM.................................... 25<br />

5.1 O Método do Pensamento Marxista......................................................................................................................26<br />

5.2 A Práxis..............................................................................................................................................................................26<br />

5.3 A Mais-Valia......................................................................................................................................................................27<br />

5.4 Modos de Produção.....................................................................................................................................................28<br />

5.5 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................30<br />

5.6 Atividades Propostas....................................................................................................................................................30<br />

6 CONCEITOS DE SOCIOLOGIA....................................................................................................... 31<br />

6.1 Estrutura Social...............................................................................................................................................................31<br />

6.2 Status e Papéis................................................................................................................................................................32<br />

6.3 Relações Sociais.............................................................................................................................................................32<br />

6.4 Grupos...............................................................................................................................................................................33<br />

6.5 Fenômenos Sociais.......................................................................................................................................................34


6.6 Relações Sociais.............................................................................................................................................................35<br />

6.7 Fim ou Objetivos da <strong>Sociologia</strong>...............................................................................................................................35<br />

6.8 Teoria Sociológica Geral..............................................................................................................................................36<br />

6.9 Teorias Sociológicas Especiais..................................................................................................................................38<br />

6.10 Pesquisas Sociológicas Concretas........................................................................................................................38<br />

6.11 Leis Sociais.....................................................................................................................................................................39<br />

6.12 Processo Social.............................................................................................................................................................40<br />

6.13 Teoria do Indivíduo Social........................................................................................................................................41<br />

6.14 Fato Social......................................................................................................................................................................41<br />

6.15 Ideologia.........................................................................................................................................................................42<br />

6.16 Alienação........................................................................................................................................................................43<br />

6.17 Resumo do Capítulo..................................................................................................................................................45<br />

6.18 Atividades Propostas.................................................................................................................................................45<br />

7 GLOBALIZAÇÃO.................................................................................................................................... 47<br />

7.1 Histórico............................................................................................................................................................................47<br />

7.2 Globalização e/ou Mundialização...........................................................................................................................48<br />

7.3 Meio Ambiente...............................................................................................................................................................50<br />

7.4 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................52<br />

7.5 Atividades Propostas....................................................................................................................................................52<br />

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................................ 53<br />

RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS...................................... 55<br />

REFERÊNCIAS.............................................................................................................................................. 57


INTRODUÇÃO<br />

Caro(a) aluno(a),<br />

Bem-vindo(a) a esta nova modalidade de aprendizado.<br />

A <strong>Sociologia</strong> possui uma quantidade enorme de pensadores. O objetivo geral de nosso estudo é<br />

problematizar e confrontar as ideias, conceitos e teorias de alguns importantes pensadores que contribuíram<br />

para a afirmação da Ciência Sociológica. Esperamos, dessa maneira, fornecer a você um panorama<br />

do pensamento sociológico desde o seu surgimento até os nossos dias.<br />

Esta apostila e a disciplina, como um todo, buscam detalhar o contexto em que surgiu a disciplina<br />

<strong>Sociologia</strong> e o legado que ela deixou para o mundo contemporâneo, repercutida na obra de seus principais<br />

teóricos: Comte, Durkheim, Weber e Marx. Em seguida, analisaremos o desdobramento dos conceitos<br />

das obras de cada um desses pensadores. A importância, a influência e que tipo de interferência<br />

exerceu no modo de ser, pensar e agir do homem contemporâneo.<br />

Nesse sentido, a apostila está organizada de forma a promover sempre um debate sobre, e com, os<br />

autores, além de mostrar as transformações metodológicas e teóricas que as mesmas sofreram ao longo<br />

do tempo. O assunto por ela abordado tem, assim, uma relevante importância para a compressão das relações<br />

humanas em diferentes momentos históricos. Desde o século XIX, quando o projeto de sociedade<br />

burguesa estava sendo engendrado, até o início do século XXI, quando esse projeto foi definitivamente<br />

consolidado, nós temos o auxílio teórico dos mais diferentes segmentos da sociologia para pensar relações<br />

e o convívio do homem em sociedade. Nesse percurso, as contribuições de Augusto Comte, buscando<br />

fundamentar a importância da técnica e da ciência nos primórdios do mundo urbano-industrial,<br />

foram fundamentais. Em seguida, as análises críticas que Karl Marx faz desse mundo urbano-industrial<br />

apontam para uma nova conformação social: a hegemonia burguesa. Max Weber é outro importante<br />

autor que procura também estender o alcance das análises sobre o mundo burguês. Introduz, assim, no<br />

campo sociológico uma análise inovadora que relaciona o desenvolvimento do capitalismo à religião<br />

protestante. Émile Durkheim é outro importante autor que, com suas análises sobre os fenômenos dos<br />

fatos sociais, lançou luz também para uma melhor compreensão das relações do homem em sociedade.<br />

O estudo aprofundado desses autores subsidiará as nossas investigações sobre os temas mais urgentes<br />

do mundo contemporâneo, como, por exemplo, o neoliberalismo e suas consequências humanas<br />

e econômicas.<br />

Será um prazer acompanhá-lo(a) ao longo deste percurso. Esperamos que, ao final dele, você seja<br />

um cidadão mais pleno de seus direitos e mais consciente de seus deveres, só assim construiremos uma<br />

sociedade mais plural e democrática onde a diversidade e as diferenças sociais, étnicas, culturais e religiosas<br />

serão respeitadas.<br />

Antonio Carlos Banzato A. Santos<br />

Rafael Lopes de Sousa<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

5


1<br />

INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA<br />

Caro(a) aluno(a),<br />

Neste capítulo abordaremos o tema do<br />

positivismo e a sua importância para as ciências<br />

humanas. Esperamos que ao final dele você compreenda<br />

a importância desse sistema de pensamento<br />

para a afirmação das ciências humanas e<br />

a influência que exerceu sobre a organização das<br />

sociedades ocidentais. Vejamos então as suas<br />

principais contribuições.<br />

A <strong>Sociologia</strong> é uma ciência da observação.<br />

Durante milhares de anos, os homens vêm refletindo<br />

e tentando compreender o comportamento<br />

de seus semelhantes. As primeiras tentativas<br />

de compreender a ação humana esbarraram-se,<br />

todavia, em interpretações teológicas, mitológicas<br />

e muitas vezes fantasiosas. Assim, para os<br />

gregos, os fenômenos “sociais” tinham uma base<br />

de explicação mitológica, isto é, Zeus, senhor dos<br />

homens e dos deuses, era quem mantinha a ordem<br />

do mundo moral e físico. Na Idade Média,<br />

os acontecimentos sociais estavam, por sua vez,<br />

relacionados a um princípio teológico que cingia<br />

a liberdade do indivíduo, visto que as explicações<br />

para todas as mazelas sociais estavam fundamentadas<br />

no discurso da vontade “divina”. Obviamente,<br />

o homem sempre buscou escapar desses pensamentos<br />

totalizantes. Foi essa inquietação, aliás,<br />

que fez o homem avançar no caminho da ciência.<br />

De tal sorte que no século XVIII, aproveitando-se<br />

do capital cultural das gerações anteriores, o homem<br />

inaugura uma nova fase do pensamento crítico<br />

e estabelece novos parâmetros para explicar<br />

os fenômenos sociais.<br />

Nessa nova conjuntura, merece destaque<br />

Giambattista Vico, que escreve a obra: A Nova<br />

Ciência. Nessa obra, Vico afirma que a sociedade<br />

subordina-se a leis definidas, que podem ser descobertas<br />

pelo estudo e pela observação objetiva.<br />

Entre outras contribuições, afirma: “o mundo social<br />

é obra do homem”. Podemos entrever nessa<br />

afirmação certo distanciamento das questões<br />

mitológicas e o aprofundamento das reflexões<br />

contra a interferência divina sobre a vida e o cotidiano<br />

do homem. Tempos depois, Jean-Jacques<br />

Rousseau reconhece que a sociedade tem uma<br />

influência decisiva sobre a vida do indivíduo. Em<br />

sua obra O Contrato Social afirma: “O homem nasce<br />

puro, a sociedade é que o corrompe”. Em outras<br />

palavras, Rousseau estabelece que o homem<br />

é um ser social.<br />

Conforme você pode perceber, as bases<br />

para a constituição do pensamento sociológico<br />

estavam, portanto, dadas. O fundamental agora<br />

era organizar para, em seguida, oferecer um status<br />

científico para essa nova maneira de pensar as<br />

relações humanas. Essa preocupação intensificar-<br />

-se-ia no século XIX, quando autores, como Augusto<br />

Comte, Émile Durkheim, Max Weber e Karl<br />

Marx, estabelecem critérios mais objetivos para<br />

investigar os fenômenos sociais, emprestando a<br />

estes um caráter verdadeiramente científico. Esses<br />

quatro pensadores são considerados os principais<br />

representantes da <strong>Sociologia</strong> Clássica. O<br />

objetivo deste curso é oferecer ao aluno elementos<br />

para a compreensão de alguns dos conceitos<br />

criados por esses autores. Em seguida, pretendemos<br />

verificar os desdobramentos desses conceitos<br />

e a interferência que eles exercem na organização<br />

da sociedade contemporânea.<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

7


Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />

1.1 O Nascimento da <strong>Sociologia</strong><br />

Você verá, agora, como teve início a <strong>Sociologia</strong>.<br />

Preparado(a)? Então, ao trabalho!<br />

Pode-se dizer que o positivismo foi nas<br />

ciências humanas a primeira tentativa verdadeiramente<br />

sistematizada de conhecer a realidade<br />

social. Seus métodos pretendiam substituir as<br />

explicações metafísicas e as crenças do senso comum<br />

por meio das quais o homem buscava, até<br />

então, explicar a realidade social.<br />

O principal representante do positivismo<br />

foi Augusto Comte (1798-1857). Comte nasceu<br />

na França, numa família católica e monarquista,<br />

talvez esteja aí uma das explicações para sua concepção<br />

de mundo. Estudou em Paris, na Escola<br />

Politécnica, e testemunhou os turbulentos tempos<br />

da era napoleônica. Tornou-se discípulo de<br />

Saint-Simon, de quem sofreu enorme influência.<br />

Devotou seus estudos à filosofia positivista, considerada<br />

por ele uma religião, da qual era o seu<br />

principal pregador. De acordo com sua filosofia<br />

política, a história da humanidade era composta<br />

por três estados: um teológico, outro metafísico<br />

e finalmente o positivo. Este último representava<br />

o apogeu do progresso da humanidade. Para<br />

Comte, a sociologia era a ciência mais profunda e<br />

a que mais contribuições poderia oferecer para a<br />

humanidade.<br />

1.2 O Contexto do Pensamento Positivista<br />

O século XVIII havia consagrado o poder da<br />

burguesia, que impôs o uso da ciência e da técnica<br />

como metas para a nova sociedade, provocando,<br />

assim, modificações sociais, políticas e econômicas<br />

jamais vistas. A consagração desse novo<br />

saber, isto é, da ciência e da técnica, leva para um<br />

novo entendimento das questões humanas, que<br />

passam, agora, pela concepção do cientificismo,<br />

ou seja, a ciência é o único conhecimento possível<br />

para a humanidade.<br />

O idealismo, pensamento predominante<br />

até a primeira metade do século XIX, passa a ser<br />

combatido e o positivismo é que primeiro leva<br />

esse combate adiante. O positivismo representa,<br />

então, uma reação contra o idealismo. Veja a diferença<br />

fundamental entre idealismo e positivismo:<br />

o primeiro procura uma interpretação, uma<br />

unificação da experiência mediante a razão; o segundo,<br />

ao contrário, quer limitar-se à experiência<br />

imediata. Além de ser uma reação contra o idealismo,<br />

o positivismo é ainda tributário do grande<br />

progresso das ciências naturais, particularmente<br />

das biológicas e fisiológicas do século XIX.<br />

Saiba mais<br />

Para os idealistas, a filosofia é o estudo dos processos<br />

pelos qual a realidade deriva dos princípios constitutivos<br />

do espírito, sendo o mundo o produto de um movimento<br />

do pensamento. Entre os principais idealistas<br />

podemos destacar: Schelling e Hegel.<br />

Pode-se dizer que a filosofia de Comte defende<br />

alguns princípios consagrados da sociedade,<br />

como a propriedade, a família, o trabalho e a<br />

religião. Com esses princípios rigidamente seguidos,<br />

a sociedade alcançaria, segundo Comte, o<br />

progresso e a ordem. A ideia de ordem está, neste<br />

caso, associada à ideia de hierarquia, que gera<br />

consequentemente uma disciplina para a sociedade.<br />

É importante dizer que, para Comte ou para<br />

o positivismo, o entendimento da história se dá<br />

por meio de documentos oficiais, isto é, a história<br />

só se explica e se justifica com a visão predominante<br />

de sua época.<br />

8<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br


<strong>Sociologia</strong><br />

1.3 Os Fundamentos do Positivismo<br />

Observe de que forma Comte estabelece no<br />

livro Curso de Filosofia Positiva os três princípios<br />

básicos do estado positivista. De acordo com esse<br />

princípio, a vida da humanidade compreende em<br />

três estágios, sendo o atual, isto é, aquele no qual<br />

vivia Comte, o principal deles. O primeiro estágio<br />

está relacionado à maneira de a humanidade<br />

explicar o mundo, uma explicação que sempre<br />

provinha dos mitos e das crenças religiosas. Esse<br />

estágio é chamado de teológico e Comte assim o<br />

descreve:<br />

No estágio teológico, o espírito humano<br />

dirige essencialmente suas investigações<br />

para a natureza intima dos seres, as causas<br />

primeiras e finais de todos os efeitos que<br />

o tocam, numa palavra para o conhecimento<br />

absoluto; apresenta os fenômenos<br />

como ação direta e contínua de agentes<br />

sobrenaturais. (COMTE, 1973, p. 9).<br />

O segundo estágio, dito metafísico, uma<br />

cresça em Deus, mas sem fundamentação científica,<br />

é assim descrito: “No fundo nada mais é que<br />

a modificação geral do primeiro, os agentes sobrenaturais<br />

são substituídos por forças abstratas,<br />

concebidas como capazes de engendrar por elas<br />

próprias todos os fenômenos observados”. Final-<br />

mente o estado positivo é o terceiro estágio e é<br />

marcado pelo triunfo da ciência. A vida da humanidade<br />

passa agora a ser explicada pela razão em<br />

contraponto às explicações mitológicas e religiosas<br />

das fases anteriores.<br />

No estado positivo, o espírito humano, reconhecendo<br />

a impossibilidade de obter<br />

noções absolutas, renuncia de procurar a<br />

origem e o destino do universo, [...] para<br />

preocupar-se unicamente em descobrir,<br />

graças ao uso bem combinado do raciocínio<br />

e da observação, suas leis efetivas<br />

que regem a vida humana”. O positivismo<br />

representa, então, o real frente ao quimérico,<br />

o útil frente ao inútil, a segurança<br />

frente à insegurança, o preciso frente ao<br />

vago, o relativo frente ao absoluto. (RIBEI-<br />

RO JR., 1987, p. 18).<br />

Saiba que o positivismo combate também a<br />

sociedade individualista e liberal, divulgando que<br />

o homem como individualidade não existe; aliás,<br />

para esse pensamento, o homem só pode existir<br />

como membro de outros grupos, desde o familiar,<br />

que é núcleo fundador de toda sociedade, até outros<br />

grupos mais complexos, como, por exemplo,<br />

o político.<br />

1.4 Estratificação da Sociedade Positivista<br />

Dicionário<br />

Estratificação: é o processo social que leva à superposição<br />

de camadas sociais, isto é, à formação de<br />

um sistema social mais ou menos fixo e rígido, de<br />

estados, classes ou castas.<br />

Perceba que para o positivismo, a humanidade<br />

é formada só de homens. Nessa ordem social,<br />

as mulheres estão condenadas à inferioridade,<br />

é claro, pelas leis irrevogáveis da natureza.<br />

Na sociedade positivista, a classe dos sacerdotes<br />

é a mais importante. Ela está dividida em<br />

três classes, a saber:<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

9


Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />

a) Os aspirantes: estes precisam ter ao<br />

menos 28 anos, pois só com essa idade<br />

alcançam a cultura enciclopédica exigida<br />

pelo estado positivista;<br />

b) Os vigários: estes precisam ter ao menos<br />

35 anos e exercem a função superior<br />

de ensinar;<br />

c) Os sacerdotes: precisam ter uma idade<br />

superior aos 42 anos; são os maiores sacerdotes<br />

da humanidade, uma espécie<br />

de conselheiros para arbitrar as causas<br />

do estado positivista.<br />

O patriciado é a classe detentora do poder<br />

temporal. Essa classe é composta pelos segmentos<br />

que controlam os meios de produção:<br />

banqueiros, fabricantes, comerciantes; sempre<br />

colocados em escala hierárquica. Os banqueiros,<br />

portanto, nessa sociedade, são investidos de<br />

maior autoridade.<br />

Ao se apresentar como a religião da humanidade,<br />

o positivismo defende a existência de<br />

nove sacramentos para os membros de sua sociedade.<br />

Vejamos alguns deles:<br />

a) Apresentação, quando a família apresenta<br />

o recém-nascido;<br />

b) Iniciação, quando a criança, com catorze<br />

anos, passa da educação materna à<br />

instrução sacerdotal;<br />

c) Admissão, aos vinte e um anos, quando<br />

está pronto para servir a humanidade,<br />

retribuindo tudo que recebeu dela;<br />

d) Destinação, momento em que recebe<br />

dos sacerdotes o seu ofício;<br />

e) Casamento, sacramento obrigatório, já<br />

que no estado positivista o celibato é<br />

condenado.<br />

Você sabia que no Brasil, o positivismo teve<br />

uma importância decisiva no Império e na instalação<br />

da República, influenciando a ideologia da<br />

nova sociedade? Suas primeiras manifestações<br />

em território nacional acorreram em 1844 na academia,<br />

isto é, na Faculdade de Medicina da Bahia.<br />

Contudo, sua primeira manifestação social acontece<br />

anos mais tarde. Inicialmente, o positivismo<br />

brasileiro é composto por dois grupos: um defendendo,<br />

como proposto por Comte, o positivismo<br />

como religião da humanidade; havia, por outro<br />

lado, um grupo que desprezava o movimento da<br />

religião da humanidade e defendia apenas a metodologia<br />

científica de observação, experimentação<br />

e comparação proposta por Comte.<br />

Esse segundo grupo constituirá a base do<br />

movimento republicano aglutinado em torno do<br />

jovem oficial Benjamin Constant. O positivismo<br />

enfrenta, porém, a resistência de um grupo de<br />

republicanos que, diferentemente dos princípios<br />

rígidos do positivismo, defendiam os preceitos<br />

democráticos do liberalismo constitucional norte-americano.<br />

De qualquer forma, perpetuou suas<br />

marcas na vida e no cotidiano do homem brasileiro,<br />

sendo que a principal dessas marcas está registrada<br />

em nosso símbolo maior. Ou seja, a nossa<br />

bandeira, com seu Ordem e Progresso, mostra de<br />

maneira inquestionável o quanto a doutrina positivista<br />

influenciou os nossos republicanos 1 .<br />

Finalmente é preciso insistir que para o positivismo<br />

aquilo que não pode ser verificado como<br />

“algo dado” é metafísica estéril. Daí a importância<br />

dada ao documento escrito, sobretudo aos documentos<br />

oficiais, como prova histórica de determinado<br />

fato. Assim, para os positivistas, apreender<br />

o real seria conhecer os fatos e conhecer os fatos<br />

significa acesso a documentos, que são, na perspectiva<br />

positivista, quase sempre, institucionais.<br />

Reflita, agora, sobre o positivismo e posicione-se<br />

em relação a essa filosofia.<br />

1<br />

Mais elementos sobre essa discussão ver Ribeiro Jr. (1987).<br />

10<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br


<strong>Sociologia</strong><br />

1.5 Resumo do Capítulo<br />

Caro(a) aluno(a), neste capítulo observamos que a <strong>Sociologia</strong> é observação, reflexão a fim de compreender<br />

o comportamento de seus semelhantes. Giambattista Vico afirma que a sociedade subordina-<br />

-se a leis definidas e que: “o mundo social é obra do homem.” Pode-se dizer que o positivismo foi nas<br />

ciências humanas a primeira tentativa verdadeiramente sistematizada de conhecer a realidade social.<br />

Seus métodos pretendiam substituir as explicações metafísicas e as crenças do senso comum, por meio<br />

das quais o homem buscava, até então, explicar a realidade social. No Brasil, o positivismo teve uma importância<br />

decisiva no Império e na instalação da República, influenciando a ideologia da nova sociedade.<br />

1.6 Atividades Propostas<br />

1. Quais as diferenças fundamentais entre o idealismo e o positivismo?<br />

2. Cite e comente dois sacramentos do positivismo.<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

11


2<br />

A SOCIOLOGIA DE DURKHEIM<br />

Você entrará em contato com um autor que<br />

contribuiu para que a sociologia se estabelecesse<br />

como ciência autônoma.<br />

David Émile Durkheim presenciou em sua<br />

juventude uma série de acontecimentos que<br />

marcou decisivamente a sua vida e sua obra. Na<br />

década de 1880, a França aprovou a chamada Lei<br />

Naquet, que instituiu o divórcio em seu território.<br />

Nessa mesma época, o ensino público tornou-<br />

-se gratuito e obrigatório para todos dos 6 aos<br />

13 anos; além disso, ficava proibido formalmente<br />

o ensino da religião. O vazio correspondente à<br />

ausência do ensino de religião na escola pública<br />

tenta-se preencher com uma pregação patriótica<br />

representada pela que ficou conhecida como<br />

“Instrução Moral e Cívica”.<br />

Ao mesmo tempo que essas questões políticas<br />

e sociais balizavam o seu tempo, as contradições<br />

do trabalho traziam também preocupações<br />

continuadas para sua militância intelectual. Uma<br />

repercussão decisiva dessas contradições ficou<br />

conhecida como questão social, ou seja, as disputas<br />

e conflitos decorrentes da oposição entre o<br />

capital e o trabalho, vale dizer, entre patrão e empregado,<br />

entre burguesia e proletariado, seriam<br />

doravante objetos de intervenção dos estudos<br />

sociológicos.<br />

No final do século XIX, Durkheim reuniu um<br />

grupo de colaboradores que se esforçaram para<br />

emancipar a sociologia das demais teorias sobre<br />

a sociedade e constituí-la como disciplina rigorosamente<br />

científica. Buscou sempre definir com<br />

precisão o objeto, o método e as aplicações dessa<br />

nova ciência. Respondendo, assim, as preocupações<br />

da sociedade e da <strong>Sociologia</strong> de sua época,<br />

elegeu os fatos sociais como o principal objeto da<br />

sociologia.<br />

De acordo com suas análises, o fato social<br />

é experimentado pelo indivíduo como uma realidade<br />

independente dele, que ele não criou e<br />

não pode rejeitar, como as regras morais, as leis,<br />

os costumes, os rituais e as práticas burocráticas,<br />

por exemplo.<br />

É importante você saber que para Durkheim,<br />

os fatos sociais são atravessados por três<br />

características fundamentais. A primeira delas é a<br />

coerção social, ou seja, a força que os fatos exercem<br />

sobre os indivíduos, levando-os a aceitar as<br />

regras da sociedade em que vivem, independentemente<br />

da sua vontade e escolha. Essa força manifesta-se,<br />

por exemplo, quando o indivíduo adota<br />

determinado idioma, ou quando se submete a<br />

um código de leis.<br />

A segunda característica dos fatos sociais<br />

é que eles existem e atuam sobre os indivíduos<br />

independentemente de sua vontade ou de sua<br />

adesão consciente, ou seja, são exteriores aos indivíduos<br />

e existem antes da chegada do indivíduo<br />

na sociedade.<br />

A terceira característica apontada por Durkheim<br />

é a generalidade, isto é, aquilo que se repete<br />

em todos os indivíduos, o ritual do banho, por<br />

exemplo. Portanto, nem tudo que uma pessoa faz<br />

é um fato social, para ser um fato social tem de<br />

atender a três características: generalidade, exterioridade<br />

e coercitividade. Isto é, o que as pessoas<br />

sentem, pensam ou fazem, independentemente<br />

de suas vontades individuais, é um comportamento<br />

estabelecido pela sociedade. Não é algo<br />

que seja imposto especificamente a alguém, é<br />

algo que já estava lá antes e que continua depois<br />

e que não dá margem a escolhas 2 .<br />

2<br />

Mais elementos sobre as características do fato social ver Costa (1997).<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

13


Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />

Assim, você pode observar que, com essa<br />

caracterização feita por Durkheim dos fatos sociais,<br />

encontramos elementos para compreendermos<br />

melhor os grupos sociais que estão distribuídos<br />

na sociedade. Da infância até a maturidade, o<br />

indivíduo participa de vários grupos sociais, pois<br />

em cada fase ou etapa de sua vida ele busca apoio<br />

de um determinado grupo. Temos assim, o grupo<br />

familial (família); o grupo educativo (escola) e o<br />

grupo religioso (igreja). O primeiro pode ser definido<br />

como grupo primário, pois é aquele onde os<br />

contatos pessoais são mais constantes, como a família<br />

e os vizinhos; o segundo grupo é chamado<br />

de secundário e manifesta-se na igreja e no trabalho<br />

e é geralmente constituído por uma rede<br />

de relações mais complexa em que os contatos<br />

são mais formais, sem a intimidade verificada no<br />

primeiro; o terceiro grupo, também chamado de<br />

intermediário, combina elementos do primeiro e<br />

do segundo grupo e cria outros rituais de pertencimento<br />

para sua identidade social. Um exemplo<br />

são as coletividades juvenis.<br />

2.1 A Objetividade do Fato Social<br />

Você verá, agora, como Durkheim definiu o<br />

método de conhecimento da <strong>Sociologia</strong>. Segundo<br />

Durkheim, o sociólogo precisa deixar de lado<br />

seus valores e sentimentos pessoais em relação<br />

ao acontecimento a ser estudado, pois só assim<br />

alcançaria a objetividade de sua análise.<br />

Procurando garantir à <strong>Sociologia</strong> um método<br />

tão eficiente quanto o desenvolvido pelas<br />

ciências naturais, Durkheim desenvolve métodos<br />

para fugir do “senso comum”, que analisava de<br />

maneira superficial a realidade social. Sentenciava,<br />

assim, que para compreender os fatos sociais<br />

o cientista precisa ter visão ampla e identificar os<br />

acontecimentos que apresentavam características<br />

exteriores comuns na sociedade. O suicídio,<br />

por exemplo, apesar de ser resultado de razões<br />

particulares, apresenta em todas as sociedades<br />

características comuns e certa regularidade e, por<br />

isso, é um fato social.<br />

Saiba mais<br />

Chamamos senso comum ao conhecimento adquirido<br />

por tradição, herdado dos antepassados e ao qual<br />

acrescentamos os resultados da experiência vivida na<br />

coletividade a que pertencemos. Trata-se de um conjunto<br />

de ideias que nos permite interpretar a realidade,<br />

bem como um corpo de valores que nos ajuda a avaliar,<br />

julgar e, portanto, agir.<br />

2.2 A Consciência Coletiva<br />

Observe como se pode entender a ideia de<br />

consciência coletiva. A consciência coletiva está<br />

espalhada pela sociedade e, em certo sentido, revela<br />

o “tipo psíquico da sociedade”, definindo, por<br />

exemplo, o que numa sociedade é considerado<br />

“imoral”, “reprovável” ou “criminoso”. A consciência<br />

coletiva inibe e controla os impulsos do indivíduo<br />

na sociedade, padronizando o comportamento.<br />

Mas a consciência coletiva pode servir também<br />

de máscara para o indivíduo esconder sua perso-<br />

nalidade no jogo do teatro social. Por exemplo, ao<br />

tripudiar sobre um juiz no estádio de futebol, o<br />

indivíduo só o faz porque está protegido por uma<br />

consciência coletiva, que o impede de ser prontamente<br />

identificado, ou seja, responsabilizado.<br />

Quando sai do estádio e vai embora sozinho para<br />

sua casa sem a proteção do grupo, isto é, da consciência<br />

coletiva, ele adota uma outra postura, pois<br />

agora ele responde sozinho por seus atos.<br />

14<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br


<strong>Sociologia</strong><br />

Entre os muitos desdobramentos que as reflexões<br />

de Durkheim abriram para os estudos sociológicos,<br />

merecem destaque aqueles derivados<br />

da escola de Frankfurt, os quais trouxeram contribuições<br />

para se pensar os caminhos da sociedade<br />

contemporânea. É sobre essa escola que você refletirá<br />

a seguir.<br />

2.3 A Escola de Frankfurt<br />

Denominada teoria crítica apresentou-se<br />

como um contraponto às simplificações que determinadas<br />

correntes sociológicas vinham fazendo<br />

dos estudos da sociedade. Os principais investigadores<br />

da Escola de Frankfurt – Adorno, Walter<br />

Benjamim, Marcuse e Horkheimer, entre outros<br />

– caracterizavam-se por serem mais acadêmicos,<br />

envolvidos com uma concepção teórica global da<br />

sociedade e nitidamente influenciados por Marx<br />

e Freud.<br />

A identidade da Teoria Crítica liga-se à utilização<br />

dos pressupostos marxistas e de alguns<br />

elementos da psicanálise, na análise das temáticas<br />

novas que as dinâmicas sociais da época configuravam<br />

– o totalitarismo, a indústria cultural,<br />

entre outros – numa preocupação com a superestrutura<br />

ideológica e a cultura. Assim, não pense<br />

que o tema dessa corrente seja apenas os meios<br />

de comunicação de massa, mas que, entre os vários<br />

assuntos abordados por essa Escola, os mais<br />

próximos a este tema seriam aqueles relativos à<br />

indústria cultural – marcados pelo enfoque da<br />

manipulação do agente social.<br />

Você também não pode perder de vista<br />

todo o contexto histórico no qual os estudos de<br />

Frankfurt se desenvolvem. A Alemanha vivendo a<br />

crise do pós-guerra, a Revolução Russa vitoriosa,<br />

o movimento operário alemão rechaçado, e o nazismo,<br />

que começava a se firmar. Tudo isso incidia<br />

de forma decisiva nas ideias dos jovens judeus<br />

marxistas Adorno, Marcuse e Horkheimer.<br />

2.4 A Indústria Cultural<br />

Conforme você pode observar, com o avanço<br />

tecnológico e industrial, mais o crescimento<br />

econômico e urbanístico, sobretudo a partir das<br />

primeiras décadas do século XX, os meios de comunicação<br />

reorganizaram sua produção artística<br />

e cultural, sob o ponto de vista mercadológico,<br />

utilizando as novas linguagens do marketing. Em<br />

meio a esse processo, surge um grupo de teóricos<br />

em Frankfurt na Alemanha. Preocupados com a<br />

postura e interferência dos meios de comunicação<br />

na sociedade, esses teóricos começaram a<br />

analisar de forma crítica o que eles denominaram<br />

de “Indústria Cultural”. Impulsionada pelo incessante<br />

desenvolvimento da tecnologia e a inevitável<br />

popularização dos aparelhos eletroeletrônicos,<br />

a indústria cultural ampliou a participação e<br />

a interferência do indivíduo – principalmente dos<br />

jovens – no meio circundante. Edgar Morin (1969)<br />

chama esse fenômeno de Terceira Cultura.<br />

Saiba mais<br />

Para Morin, a Terceira Cultura é decorrência do boom<br />

tecnológico que o mundo viveu depois da Segunda<br />

Guerra Mundial e que levou a uma popularização do<br />

cinema, da imprensa, do rádio, da televisão etc.<br />

Pode-se dizer, então, que o século XX trouxe<br />

novos meios de sociabilidade e integração social<br />

– o rádio, o cinema, a indústria fonográfica etc. –,<br />

tornando decisivas suas influências sobre a vida<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

15


Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />

da juventude. Essas novas técnicas logo serão incorporadas<br />

pelos jovens como forma mais cotidiana<br />

de interferência em um mundo social para<br />

eles amplificado. A juventude deixa, assim, de ser<br />

apenas receptora de cultura; suas manifestações<br />

ganham notoriedade, e, de receptora, ela passa a<br />

criadora de uma nova maneira de ser e viver.<br />

Saiba que essa nova configuração cultural<br />

da juventude ganha vulto, de maneira mais específica<br />

no pós-guerra devido ao aquecimento<br />

ocorrido no setor industrial; ele possibilitou um<br />

aumento da demanda de empregos e, concomitantemente,<br />

levou mais recursos financeiros para<br />

um número cada vez maior de famílias, que passam<br />

a investir seu tempo livre em diversão e lazer.<br />

Edgar Morin, ao analisar essas novas características<br />

da sociedade moderna, pondera que a<br />

ampliação do tempo de lazer, combinada com a<br />

popularização das novas técnicas de integração<br />

social, possibilitou o surgimento de uma cultura<br />

de massas na sociedade moderna.<br />

Você pode perceber, portanto, que foi no<br />

compasso dessa terceira cultura que o fulcro do<br />

que era uma subcultura juvenil cede espaço para<br />

o surgimento de uma ampla cultura juvenil, que<br />

no decorrer dos anos 50 articula-se em torno de<br />

novos referenciais (principalmente cinema e música<br />

rock’n roll) para granjear uma posição de destaque<br />

na sociedade.<br />

Temos aí uma nova problematização no cenário<br />

juvenil, que, estimulado pelo aumento do<br />

poder aquisitivo e pelo tempo livre, cria espaços<br />

específicos para suas reuniões. As praças já não<br />

lhes são suficientes; agora eles querem o cinema,<br />

as lanchonetes, enfim, eles querem visibilidade<br />

e atenção. Morin, ao analisar os problemas comportamentais<br />

dos jovens numa sociedade pautada<br />

pela massificação cultural, alerta que:<br />

O desenvolvimento dessa cultura está<br />

ligado a uma conquista da autonomia<br />

dos adolescentes no seio da família e da<br />

sociedade. A aquisição de relativa autonomia<br />

monetária (dinheiro para o gasto<br />

diário dado pelos pais nas sociedades<br />

avançadas e, alhures, dinheiro para o<br />

diário conservado pelos adolescentes<br />

que ganham a vida e entregam o que ganham<br />

aos pais) e de relativa liberdade no<br />

seio da família (o que nos conduz ao problema<br />

da liberalização aqui, da desestruturação<br />

acolá, da família) permitem aos<br />

adolescentes adquirir material que lhes<br />

insuflará sua cultura (transistor, toca-discos<br />

e mesmo violão), que lhes dá sua liberdade<br />

de fuga e de encontro (bicicleta,<br />

motocicleta, automóvel) e lhes permitirá<br />

viver sua vida autônoma no lazer e pelo<br />

lazer. Essa cultura, essa vida, aceleram em<br />

contrapartida as reivindicações dos adolescentes<br />

que não se satisfazem com a<br />

semi-liberdade adquirida e fazem crescer<br />

sua contestação a propósito de um mundo<br />

adulto cada vez menos semelhante ao<br />

deles. (MORIN, 1969, p. 140).<br />

2.5 Cultura de Massa<br />

Você sabe o que é cultura de massa? Certamente,<br />

já ouviu falar disso. Então, convido você a<br />

refletir um pouco e tentar estabelecer algumas<br />

hipóteses que a definam.<br />

O termo ‘Indústria Cultural’ foi utilizado pela<br />

primeira vez em 1947, por Theodor Adorno, para<br />

substituir a expressão “Cultura de Massa”, pois<br />

esta induz ao engodo de que são satisfeitos os interesses<br />

dos detentores dos veículos de comunicação<br />

de massa. Os defensores da cultura de massa<br />

acreditam que esta surge espontaneamente<br />

das próprias massas em ressonância com a arte<br />

popular, enquanto a indústria cultural diferencia-<br />

-se totalmente, pois vem atribuída de vários elementos,<br />

conceituando um novo estilo e qualidade.<br />

“A indústria cultural é a integração deliberada,<br />

a partir do alto, de seus consumidores” (ADORNO,<br />

1977, p. 287).<br />

16<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br


<strong>Sociologia</strong><br />

A prioridade da Indústria Cultural é explorar<br />

o gosto popular, e não os anseios do povo; por<br />

isso, seu objetivo não está voltado para a educação<br />

e a cultura em si, mas para a obtenção de lucro.<br />

Waldenyr Caldas, em seu livro, O que todo<br />

cidadão precisa saber sobre cultura, conceitua a<br />

cultura de massa dessa forma:<br />

A cultura de massa consiste na produção<br />

industrial de um universo muito grande<br />

de produtos que abrangem setores como<br />

moda, o lazer no sentido mais amplo, incluindo<br />

os esportes, o cinema, a imprensa<br />

escrita e falada, a música, a literatura,<br />

enfim... tudo o que envolve a vida do<br />

homem contemporâneo [...]. (CALDAS,<br />

1986, p. 83).<br />

A cultura de massa, portanto, não tem a ver<br />

com a cultura popular, pois a cultura de massa<br />

tem por meta a fantasia e o consumo compulsivo.<br />

Ela apropria-se dos meios de comunicação – sobretudo<br />

do rádio, por este ser um veículo de grande<br />

influência e penetração na classe trabalhadora<br />

periférica. Além de destacar outros locais com<br />

penetração restrita, como: casas noturnas, shows,<br />

boates, circos, festivais, de música regional, que<br />

são realizados nos bairros da periferia das grandes<br />

cidades.<br />

A espetacularização dos produtos culturais<br />

não se encontra apenas nos conteúdos ou nos<br />

meios de comunicação, está presente também na<br />

recepção. O consumidor da cultura de massa faz<br />

a leitura, decodifica a mensagem de acordo com<br />

seu interesse, sua vivência, sua expectativa. Não<br />

há, portanto, uma dominação e um controle rígido<br />

por parte dos meios de comunicação, pois as<br />

produções culturais de massa, de elite ou popular,<br />

apesar de serem produtos culturais de natureza<br />

diferente, ocupam os mesmos espaços.<br />

A cultura popular, então, é produzida a partir<br />

das manifestações das classes populares, que<br />

recebem influências das culturas de massa e de<br />

elite, e pode até ser difundida nos espaços típicos<br />

dos segmentos da cultura de massa. Em se tratando<br />

da música popular, esta toma conta praticamente<br />

de todo o mercado, pois abrange desde as<br />

manifestações folclóricas até as manifestações de<br />

contexto urbano.<br />

Certamente, você deve concordar com o<br />

fato de que os meios de comunicação de massa<br />

têm um forte poder a curto prazo para construir<br />

ou destruir a imagem de um ídolo popular, seja na<br />

política, seja em qualquer outra atividade profissional.<br />

Em se tratando da persuasão de consumo,<br />

presenciaram-se nos últimos anos, aqui no Brasil,<br />

vários fenômenos criados pela indústria cultural.<br />

No campo da música foram reinventados: a lambada,<br />

o “axé music”, a música sertaneja, o samba<br />

e o pagode, o funk carioca, o forró eletrônico, o<br />

“calypso” paraense e, inclusive, músicas religiosas,<br />

como a “Aeróbica do Senhor”, bastante difundida<br />

pelo padre Marcelo Rossi.<br />

Diante disso, podemos destacar dois aspectos<br />

importantes da cultura de massa:<br />

a) Saber a quem são dirigidos seus produtos;<br />

b) Identificar quais as repercussões sociais<br />

desse consumo e as informações ideológicas<br />

e políticas da cultura de massa.<br />

A cultura de massa é conservadora, pois<br />

jamais abre questões, apenas vulgariza<br />

ou repete conceitos estabelecidos nas camadas<br />

superiores da sociedade, fazendo<br />

valer os conceitos e o poder da ideologia<br />

dominante. (CALDAS, 1999, p. 56).<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

17


Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />

2.6 Resumo do Capítulo<br />

Caro(a) aluno(a), notamos que, no final do século XIX, Durkheim procurou emancipar a sociologia<br />

das demais teorias e constituí-la como disciplina científica; elegeu os fatos sociais como o principal objeto<br />

da sociologia. Os fatos sociais são atravessados por três características fundamentais. A primeira delas é<br />

a coerção social, ou seja, a força que os fatos exercem sobre os indivíduos. A segunda característica dos<br />

fatos sociais é que eles existem e atuam sobre os indivíduos independentemente de sua vontade, ou<br />

seja, são exteriores aos indivíduos e existem antes da chegada do indivíduo na sociedade. A terceira é a<br />

generalidade, aquilo que se repete em todos os indivíduos, como tomar banho. Durkheim levantou a<br />

ideia da consciência coletiva que busca revelar o “tipo psíquico da sociedade”, definindo, por exemplo, o<br />

que numa sociedade é considerado “imoral”, “reprovável” ou “criminoso”. O mesmo trouxe contribuições<br />

da escola de Frankfurt, no sentido de pensar os caminhos da sociedade contemporânea. Os teóricos em<br />

Frankfurt, preocupados com a interferência dos meios de comunicação na sociedade, começaram a analisar<br />

de forma crítica o que eles denominaram de “Indústria Cultural”.<br />

2.7 Atividades Propostas<br />

1. Na perspectiva de Durkheim, como o fato social participa da vida do indivíduo?<br />

2. Faça um breve comentário do contexto histórico em que foi criada a Escola de Frankfurt.<br />

18<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br


3<br />

ESCOLAS SOCIOLÓGICAS<br />

3.1 Escola Sociológica Europeia<br />

Na década de 1960, surge na Itália e na<br />

França um grupo de pesquisadores que penetraram<br />

nos estudos de comunicação de massa pelo<br />

viés da mensagem, utilizando a técnica da análise<br />

de conteúdo. Tratava-se de um grupo de estruturalistas,<br />

formado por Umberto Eco, Edgar Morin,<br />

Roland Barthes, Jean Baudrillard, entre outros.<br />

Seus estudos estavam centrados no entorno dos<br />

meios acadêmicos, artísticos, em peças publicitárias,<br />

histórias em quadrinhos e “estrelas de cinema<br />

pela pop art” (SANTOS, 2003, p. 93).<br />

Os produtos culturais veiculados pelos<br />

meios de comunicação de massa passaram, no<br />

início da década de 1960, a receber atenção da<br />

intelectualidade, por meio de estudos feitos em<br />

centros universitários ou por obras de artistas,<br />

como Andy Warhol, Roy Lichtennstein e Richard<br />

Hamilton (próceres do movimento da Pop Art,<br />

que sacralizaram, em seus trabalhos artísticos, peças<br />

publicitárias, histórias em quadrinhos e estrelas<br />

de cinema). Suas obras exploraram o potencial<br />

formal dos signos da cultura de massa, transformando-os<br />

em ícones da arte.<br />

Nesse contexto, diversos teóricos europeus<br />

lançaram-se a estudar e analisar o conteúdo das<br />

mensagens da cultura de massa. Esses intelectuais<br />

tinham em comum uma postura crítica – mas não<br />

preconceituosa – em relação a esses produtos<br />

culturais, utilizavam os princípios da semiologia e<br />

aplicavam a análise estrutural em seus trabalhos.<br />

Todos divergiam tanto das posturas funcionalistas<br />

quanto das frankfurtianas.<br />

Assim, você pode observar que essa visão<br />

da comunicação e da cultura de massa era compartilhada<br />

por intelectuais franceses ou que desenvolviam<br />

suas pesquisas na França, como Roland<br />

Barthes, Edgar Morin, Jean Baudrillard, Julia<br />

Kristeva, Chistian Metz, entre outros, e pelo italiano<br />

Umberto Eco. “Seus trabalhos teóricos passaram<br />

a ser publicados a partir de 1968 na revista<br />

Communnications e editados pelo Centro de estudos<br />

da comunicação de Massa (CECMAS), criado<br />

em 1960 no interior da Escola Prática de Altos Estudos<br />

e dirigido Por Georges Friedman.” (SANTOS,<br />

2003, p. 94).<br />

Em consequência disso, em Apocalípticos e<br />

Integrados 3 , Umberto Eco faz críticas aos “integrados”<br />

(funcionalistas) pela passividade com que se<br />

colocavam “diante das questões relativas à cultura<br />

de massa”. Quanto à teoria crítica de Frankfurt,<br />

a crítica de Eco estava centrada no “pessimismo<br />

diante da sociedade de massa por negar a cultura<br />

de massa sem realmente analisá-la”. Dessa<br />

maneira, Eco apontava a utilização de “conceitos-<br />

-fetiche (massa, indústria cultural)”, por parte das<br />

duas teorias, para fazer proposições de maneira<br />

genérica sobre “um fenômeno complexo como a<br />

cultura de massa”.<br />

3<br />

Principal obra publicada por Umberto Eco. Faz crítica ao modelo funcionalista – Escola norte-americana e aos Frankfurtianos<br />

– Escola Alemã.<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

19


Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />

Umberto Eco parte do pressuposto de que<br />

a cultura de massa é a cultura do homem contemporâneo<br />

e aponta o momento histórico de seu<br />

aparecimento “no momento em que a presença<br />

das massas, na vida associada, se torna o fenômeno<br />

mais evidente de um contexto histórico” (ECO<br />

apud SANTOS, 2003, p. 94). Assim, Eco manifesta<br />

seu pensamento e afirma que nem mesmo os<br />

frankfurtianos como críticos da cultura de massa<br />

poderiam estar fora da abrangência dela. Ainda,<br />

nessa abordagem, Eco complementa que a cultura<br />

de massa passa a ser “uma definição de ordem”.<br />

Os meios de comunicação de massa, na<br />

visão de Umberto Eco, ajustam o gosto<br />

e a linguagem dos produtos culturais<br />

que veiculam as capacidades receptivas<br />

da média do público. Para ele, as características<br />

fundamentais dos produtos da<br />

cultura de massa são a efemeridade e a<br />

reprodutibilidade em série. Seu conteúdo<br />

é produzido para agradar o público,<br />

constituindo-se em material de evasão,<br />

mas pode também informar e educar.<br />

(SANTOS, 2003, p. 94).<br />

Saiba que outro expoente dessa Escola é<br />

Edgar Morin, que identificou dois métodos de<br />

estudar a cultura na sociedade: o da “totalidade<br />

que encerra o fenômeno em suas interdependências<br />

e inclui o próprio pesquisador no sistema<br />

de relações” (SANTOS, 1992, p. 18); e o método<br />

“autocrítico – em que o pesquisador despe-se de<br />

preconceitos, acompanhando e apreciando seu<br />

objeto de estudos”. A cultura, para ele, é um sistema<br />

constituído de valores, símbolos, imagens e<br />

mitos, que dizem respeito à vida prática e ao imaginário<br />

coletivo, compondo uma dimensão simbólica<br />

que permite aos indivíduos se localizarem<br />

no grupo. A sociedade não pode ser conhecida a<br />

partir de indivíduos e grupos isolados. É necessário<br />

juntar as partes ao todo e o todo às partes.<br />

Desde então, Morin elaborou outras ideias<br />

desse modo: a ideia de circularidade, que expõe o<br />

caráter retroativo do sistema; o efeito volta à causa<br />

e a causalidade circula em espiral, onde o efeito<br />

é, ao mesmo tempo, causa; os indivíduos produzem<br />

a sociedade, mas ela própria retroage sobre<br />

os indivíduos, com sua cultura e sua linguagem: o<br />

indivíduo é produto e produtor ao mesmo tempo<br />

(WOLF, 1999).<br />

Para Morin, a sociedade de consumo é um<br />

substrato da cultura de massa: é o novo público<br />

que consome. Assim, a cultura massificada pressupõe<br />

“o único terreno de troca e de comunicação<br />

para a classe [...] a nova camada de assalariados”<br />

(WOLF, 1999, p. 103), uma vez que esta vai adquirindo<br />

valores cada vez maiores da classe anterior.<br />

Dessa maneira, para além da diversidade<br />

de “prestígio, hierarquia, conversações etc.”, é demarcada<br />

uma zona comum, uma “identidade dos<br />

valores de consumo”. Nesse viés, esses valores da<br />

cultura de massa põem em comunicação os diferentes<br />

estratos sociais. Esse diálogo contém em<br />

seu interior a ética do consumo; a lei fundamental<br />

da cultura de massa é do mercado e sua dinâmica,<br />

produção e consumo. Sobre essa dinâmica ou<br />

continuidade dialógica entre o produtor e o consumidor,<br />

Edgar Morin assim a define:<br />

[...] um diálogo desigual. E, a priori, um<br />

diálogo entre o prolixo e um mudo. A<br />

produção (o jornal, o filme, a transmissão<br />

etc.) distribui relatos, histórias, exprime-<br />

-se através de uma linguagem. O consumidor<br />

– o espectador – responde apenas<br />

com reações pavlovianas, com um sim ou<br />

com um não, que determinam o sucesso<br />

ou o insucesso. (MORIN, 1962, p. 39 apud<br />

WOLF, 1999, p. 103).<br />

Outra de suas contribuições é quanto ao<br />

estudo dos paradigmas. Nesse viés moriniano,<br />

paradigmas são estruturas de pensamento que<br />

comandam nosso discurso de maneira inconsciente.<br />

O paradigma da separação, por exemplo,<br />

reina, sobretudo, desde a Renascença, no mundo<br />

ocidental (mágica/lógica, arte/ciência etc.). Separou-se<br />

o sujeito do conhecimento, do objeto do<br />

conhecimento e ficou cada vez mais difícil de se<br />

estabelecer ligações. Edgar Morin também destaca<br />

o valor da solidariedade para o equilíbrio e a<br />

sobrevivência de uma dada cultura:<br />

20<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br


<strong>Sociologia</strong><br />

A única maneira de salvaguardar a liberdade<br />

é que haja o sentimento vivido de<br />

comunidade e solidariedade, no interior<br />

de cada membro, e é isso que dá uma<br />

realidade de existência a uma sociedade<br />

complexa. A solidariedade é constituinte<br />

dessa sociedade. (MORIN, 1983, p. 22).<br />

E você, caro(a) aluno(a), o que pensa sobre a<br />

indústria cultural? Reflita e posicione-se.<br />

3.2 <strong>Sociologia</strong> Alemã: a Contribuição de Max Weber<br />

Weber é considerado, junto com Karl Marx<br />

e Émile Durkheim, um dos fundadores da <strong>Sociologia</strong><br />

e dos estudos comparados sobre cultura e<br />

religião, disciplinas às quais deu um impulso decisivo.<br />

A sua abordagem diferia da de Marx (que<br />

utilizou o materialismo dialético como método<br />

para explicar a evolução histórica das relações de<br />

produção e das forças produtivas). Contrastava<br />

igualmente com as propostas de Durkheim (que<br />

considerava ser a religião a chave para entender<br />

as relações entre o indivíduo e a sociedade). Para<br />

Weber, o núcleo da análise social consistia na interdependência<br />

entre religião, economia e sociedade.<br />

Max Weber (1864-1920) participou da comissão<br />

redatora da Constituição da República de<br />

Weimar. Sua maior influência nos ramos especializados<br />

da sociologia foi no estudo das religiões,<br />

estabelecendo relações entre formações políticas<br />

e crenças religiosas. Suas principais obras foram:<br />

Artigos Reunidos de Teoria da Ciência; Economia e<br />

Sociedade (obra póstuma) e A ética Protestante e o<br />

Espírito do Capitalismo.<br />

Saiba mais<br />

A República de Weimar foi instaurada na Alemanha<br />

logo após a Primeira Guerra Mundial, tendo como sistema<br />

de governo o modelo parlamentarista democrático.<br />

O Presidente da República nomeava um chanceler<br />

que seria responsável pelo Poder Executivo.<br />

Segundo Weber, cada indivíduo age levado<br />

por motivos que resultam da influência da tradição,<br />

dos interesses racionais e da emotividade.<br />

Cada formação social adquiriu, para Weber, especificidade<br />

e importância próprias. Mas o ponto<br />

de partida da sociologia de Weber não estava nas<br />

entidades coletivas, grupos ou instituições. Seu<br />

objeto de investigação é a ação social, a conduta<br />

humana dotada de sentido, isto é, de uma justificativa<br />

subjetivamente elaborada. Assim, o homem<br />

passou a ter, enquanto indivíduo, na teoria<br />

weberiana, significado e especificidade. É ele que<br />

dá sentido à sua ação social: estabelece a conexão<br />

entre o motivo da ação, a ação propriamente dita<br />

e seus efeitos.<br />

Você se lembra de que para a sociologia<br />

positivista, a ordem social submete os indivíduos<br />

como força exterior a eles? Entretanto, para Weber<br />

não existe oposição entre indivíduo e sociedade:<br />

as normas sociais só se tornam concretas quando<br />

se manifestam em cada indivíduo sob a forma de<br />

motivação. Assim, cada sujeito age levado por um<br />

motivo que é dado pela tradição.<br />

Nos séculos XVII e XVIII, A França e a Inglaterra<br />

contribuíram decisivamente para a consolidação<br />

do pensamento burguês. A Inglaterra foi<br />

a sede do desenvolvimento industrial; a França,<br />

por sua vez, difundiu para o mundo uma outra<br />

possibilidade de sistema político. Paralelamente a<br />

esses acontecimentos, o desenvolvimento da indústria<br />

e a expansão marítima e comercial colocaram<br />

esses países em contato com outras culturas<br />

e outras sociedades, obrigando seus pensadores<br />

a um esforço interpretativo da diversidade social.<br />

O sucesso alcançado pelas ciências físicas e biológicas,<br />

impulsionadas pela indústria e pelo desenvolvimento<br />

tecnológico, fizeram com que as<br />

primeiras escolas sociológicas fossem fortemente<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

21


Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />

influenciadas pela adaptação dos princípios e da<br />

metodologia dessas ciências à realidade social.<br />

Na Alemanha, em decorrência de sua descentralização<br />

política, o pensamento burguês<br />

organiza-se tardiamente, prejudicando o desenvolvimento<br />

e a modernização da sociedade, que<br />

só vai ser concretizada na etapa do capitalismo<br />

concorrencial, no século XIX. Por essa razão, as<br />

preocupações dos alemães com a sociedade fundamentam-se<br />

de modo diferente daquelas preocupações<br />

encontradas nas sociedades francesa e<br />

inglesa.<br />

3.3 Resumo do Capítulo<br />

Caro(a) aluno(a), nesse período, Weber, Karl Marx e Émile Durkheim são considerados os fundadores<br />

da <strong>Sociologia</strong> e dos estudos comparados sobre cultura e religião. Marx utilizou o materialismo dialético<br />

como método para explicar a evolução histórica das relações de produção e das forças produtivas.<br />

Durkheim considerava ser a religião a chave para entender as relações entre o indivíduo e a sociedade.<br />

Para Weber, o núcleo da análise social consistia na interdependência entre religião, economia e sociedade.<br />

Surge nesse momento na Itália e na França estudos referentes à análise de conteúdo dos meios de<br />

comunicação de massa, realizados por um grupo de estruturalistas, como Umberto Eco, Edgar Morin,<br />

Roland Barthes, Jean Baudrillard, entre outros. Para Morin, a sociedade de consumo é um substrato da<br />

cultura de massa: é o novo público que consome.<br />

3.4 Atividades Propostas<br />

1. Localize o campo de maior influência nos ramos especializados da sociologia de Max Weber.<br />

2. Por qual motivo o pensamento burguês organizou-se na Alemanha tardiamente?<br />

22<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br


4<br />

A SOCIEDADE SOB UMA PERSPECTIVA<br />

HISTÓRICA<br />

Conforme você estudou em capítulo anterior,<br />

para Weber, os indivíduos agem motivados<br />

por uma tradição; o resultado dessa ação permite<br />

estabelecer parâmetros para descobrir os sentidos<br />

da ação humana.<br />

Em seu conhecido ensaio A Ética Protestante<br />

e o Espírito do Capitalismo (1904-1905), Weber expunha<br />

porque haviam surgido no âmbito ocidental,<br />

e só aí, fenômenos culturais que iriam assumir<br />

um significado e uma validade universais. Para<br />

Weber, o protestantismo carregava uma proeminente<br />

tendência ao racionalismo econômico. Essa<br />

tendência estava, por sua vez, ausente no catolicismo.<br />

De acordo com seu raciocínio, a natureza<br />

ascética do catolicismo o distanciava do mundo,<br />

ao passo que o caráter obreiro do protestantismo<br />

deixava-o cada vez mais ligado aos problemas<br />

mundanos. Talvez por isso, nas famílias protestantes,<br />

os filhos eram criados para o ensino especializado<br />

e para o trabalho fabril, optando sempre por<br />

atividades mais adequadas à obtenção do lucro.<br />

Por isso o protestantismo, especialmente a sua<br />

vertente calvinista, é constantemente associado<br />

ao sucesso econômico e à racionalização da sociedade<br />

ocidental e do desenvolvimento do capitalismo.<br />

Saiba mais<br />

O racionalismo é a corrente filosófica que iniciou<br />

com a definição do raciocínio, que é a operação mental,<br />

discursiva e lógica. Este usa uma ou mais proposições<br />

para extrair conclusões se uma ou outra proposição<br />

é verdadeira, falsa ou provável. Essa era a ideia<br />

central comum ao conjunto de doutrinas conhecidas<br />

tradicionalmente como racionalismo.<br />

Para Weber, as investigações sociológicas<br />

só eram possíveis quando se utilizavam de uma<br />

multiplicidade de casos individuais. Assim, sua<br />

concepção de sociologia era abrangente e partia<br />

do conceito de conduta social, segundo o qual a<br />

Ciência devia explicar o fenômeno social a partir<br />

da investigação do comportamento subjetivo,<br />

que vincula o indivíduo a seus atos. Weber argumenta<br />

que a sociedade pode ser compreendida<br />

a partir do conjunto das ações individuais. Estas<br />

são todo tipo de ação que o indivíduo pratica,<br />

orientando-se pela ação de outros. Portanto, só<br />

existe ação social quando o indivíduo tenta estabelecer<br />

algum tipo de comunicação, a partir de<br />

suas ações com os demais.<br />

A partir desses pressupostos, Weber estabeleceu<br />

quatro tipos de ação social. Estes são conceitos<br />

que explicam a realidade social, mas não<br />

são a realidade social. Veja quais os quatro tipos<br />

de ação social:<br />

a) Ação tradicional: aquela determinada<br />

por um costume ou um hábito arraigado;<br />

b) Ação afetiva: aquela determinada por<br />

afetos ou estados sentimentais;<br />

c) Racional com relação a valores: determinada<br />

pela crença consciente num<br />

valor considerado importante, independentemente<br />

do êxito desse valor na<br />

realidade;<br />

d) Racional com relação a fins: determinada<br />

pelo cálculo racional que coloca<br />

fins e organiza os meios necessários.<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

23


Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />

Nos conceitos de ação social e definição de<br />

seus diferentes tipos, Weber não analisa as regras<br />

e normas sociais como exteriores aos indivíduos.<br />

Para ele, as normas e regras sociais são o resultado<br />

do conjunto de ações individuais.<br />

Outra particularidade da sociologia de Weber<br />

é que ele rejeita a maioria das proposições<br />

positivistas. Weber argumenta que o cientista age<br />

influenciado pelo seu tempo, sendo, portanto,<br />

impossível ao cientista agir com total imparcialidade<br />

dos fatos como propunha Durkheim. Os fatos<br />

sociais não são coisas, eles estão carregados<br />

de sentimentos e emoções, o que contagia as intervenções<br />

do cientista. O estudo e a pesquisa devem,<br />

de qualquer maneira, ser conduzidos com<br />

objetividade em suas análises, impondo, assim,<br />

limites para as crenças e ideias pessoais, ou seja,<br />

evitando uma tomada de posição pessoal do pesquisador<br />

frente ao fato estudado. E você, o que<br />

pensa sobre essa questão? Será que o cientista<br />

consegue mesmo a total neutralidade diante dos<br />

fatos que analisa?<br />

Na busca de uma melhor adequação para<br />

as análises dos fatos sociais, Weber propôs um<br />

instrumento de análise denominado por ele de<br />

tipo ideal. Partindo de pressupostos do estudo<br />

das mais distintas manifestações culturais, o cientista<br />

constrói um modelo com os traços característicos<br />

dessa ou daquela manifestação e elege<br />

um tipo ideal para suas análises. Nesse sentido, o<br />

capitalismo ocidental constitui um tipo ideal de<br />

capitalismo por ser uma organização econômica<br />

racional voltada para o trabalho livre e para o lucro<br />

independentemente de sua localização.<br />

4.1 Resumo do Capítulo<br />

Caro(a) aluno(a), segundo Weber, os indivíduos agem motivados por uma tradição que nos permite<br />

estabelecer parâmetros para descobrir os sentidos da ação humana. Para Weber, o protestantismo carregava<br />

uma proeminente tendência ao racionalismo econômico. O autor argumenta ainda que a sociedade<br />

pode ser compreendida a partir do conjunto das ações individuais. Outra particularidade da sociologia<br />

de Weber é que ele rejeita a maioria das proposições positivistas. Weber argumenta que o cientista age<br />

influenciado pelo seu tempo, sendo, portanto, impossível ao cientista agir com total imparcialidade dos<br />

fatos, como propunha Durkheim.<br />

4.2 Atividades Propostas<br />

1. Quem escreveu e do que trata a obra A ética protestante e o espírito do capitalismo?<br />

2. Weber estabeleceu quatro tipos de ação social. Indique e explique dois.<br />

24<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br


5<br />

KARL MARX E A HISTÓRIA DA<br />

EXPLORAÇÃO DO HOMEM<br />

Você estudará agora um dos mais significativos<br />

nomes das ciências sociais: Karl Marx, de<br />

quem, possivelmente já ouviu falar. Pronto(a)? Então,<br />

vamos lá!<br />

Karl Marx (1818-1883) nasceu na cidade de<br />

Treves, na Alemanha. Em 1842, mudou-se para<br />

Paris, onde conheceu Friedrich Engels (1820-<br />

1895), seu companheiro de ideias. Em 1845, foi<br />

expulso da França, deslocando-se para Bruxelas e<br />

lá participando da recém-fundada liga dos comunistas.<br />

Em 1848, escreveu com Engels O manifesto<br />

do Partido Comunista. Estabeleceu-se em Londres<br />

a partir de 1848 e lá deu continuidade aos seus<br />

estudos. Suas principais obras são: O Manifesto do<br />

Partido Comunista, A ideologia Alemã e O capital.<br />

O marxismo surgiu com a sociedade moderna,<br />

com a grande indústria e com o proletariado<br />

industrial. Aparece como a concepção de mundo<br />

que expressa esse mundo moderno, suas contradições<br />

e seus problemas, para os quais aponta soluções<br />

racionais em contraposição às alternativas<br />

metafísicas.<br />

Com o objetivo de entender o capitalismo,<br />

Marx produziu obras de filosofia, economia e sociologia.<br />

Não se limitou, porém, em interpretar o<br />

mundo, queria antes de tudo transformá-lo. Podemos<br />

apontar algumas influências básicas no<br />

desenvolvimento do pensamento de Marx. Em<br />

primeiro lugar, coloca-se a leitura crítica da filosofia<br />

de Hegel, de quem Marx absorveu e aplicou<br />

de modo peculiar, o método dialético. Também<br />

significativo foi seu contato com o pensamento<br />

socialista francês e inglês do século XIX, sobretudo<br />

com Saint-Simon (1760-1825), Charles Fourier<br />

(1772-1837) e Robert Owen (1771-1858). Marx<br />

destacava o pioneirismo desses críticos da socie-<br />

dade burguesa, mas reprovava o “utopismo” de<br />

suas propostas de mudança social.<br />

Saiba mais<br />

‘Utopia’ tem como significado mais comum a ideia<br />

de civilização ideal. Pode referir-se a uma cidade ou a<br />

um mundo, sendo possível tanto no futuro quanto no<br />

presente. A palavra significa literalmente “não lugar” ou<br />

“lugar que não existe”. Foi inventada por Thomas More,<br />

servindo de título para uma de suas obras por volta de<br />

1516. O utopismo é um modo absurdamente otimista<br />

de ver as coisas do jeito que gostaríamos que elas<br />

fossem.<br />

Para Marx, as três teorias desenvolvidas tinham<br />

por traço comum o desejo de impor de uma<br />

só vez uma transformação social total, implantando,<br />

assim, o império da razão e da justiça eterna.<br />

Nos três sistemas elaborados, havia a eliminação<br />

do individualismo, da competição e da influência<br />

da propriedade privada. Tratava-se, por isso, de<br />

descobrir um sistema novo e perfeito de ordem<br />

social, vindo de fora, para implantá-lo na sociedade,<br />

por meio da propaganda e, sendo possível,<br />

com o exemplo, mediante experiências que servissem<br />

de modelo. Com essa formulação, os três<br />

desconsideravam a necessidade da luta política<br />

entre as classes sociais e o papel revolucionário<br />

do proletariado na realização dessa transição. Finalmente,<br />

há toda a crítica da obra dos economistas<br />

clássicos ingleses, em particular Adam Smith e<br />

David Ricardo. Esse trabalho tomou a atenção de<br />

Marx até o final da vida e resultou na maior parte<br />

de sua obra teórica. Essa trajetória é marcada<br />

pelo desenvolvimento de conceitos importantes,<br />

como alienação, ideologia valor, mercadoria, trabalho,<br />

mais-valia, infraestrutura e práxis.<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

25


Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />

5.1 O Método do Pensamento Marxista<br />

É um pensamento materialista, que parte do<br />

objetivo para o subjetivo. A realidade é o campo<br />

de ação do homem. A realidade social é, porém,<br />

obra dos próprios homens. A história é, pois, feita<br />

pelos homens, não a partir das condições que<br />

desejariam, mas a partir da herança deixada pelas<br />

gerações passadas. É um pensamento dialético,<br />

que busca nas intervenções humanas e em suas<br />

contradições as explicações para a sociedade.<br />

Pode-se dizer, então, que é um pensamento<br />

que não se limita a interpretar o mundo, mas<br />

busca também transformá-lo. Até o advento do<br />

marxismo, não havia nenhuma descrição nem explicação<br />

científica da divisão social que acompanhava<br />

a humanidade desde os primórdios.<br />

Perceba que para Marx, a sociedade estrutura-se<br />

em níveis. O primeiro é a infraestrutura,<br />

que é constituída pela base econômica, aliás, esse<br />

é, segundo Marx, o aspecto fundamental de toda<br />

sociedade, isto é, transformar matérias-primas e<br />

fontes de energia em riqueza. Assim, a infraestrutura<br />

engloba a relação do homem com a natureza,<br />

no esforço de produzir a própria existência.<br />

Condiciona, assim, as relações dos homens entre<br />

si e o desenvolvimento das forças produtivas.<br />

Assim, cada grande etapa do desenvolvimento<br />

das forças produtivas corresponde a uma<br />

forma diferente de organização da sociedade. Por<br />

exemplo, no século XVIII, os agentes daquela sociedade<br />

fizeram uma mudança na técnica: com<br />

as mesmas matérias-primas e ferramentas que<br />

usavam os artesãos individualmente, agruparam<br />

operários em grandes oficinas, onde cada grupo<br />

fazia uma parte da produção total, que até então<br />

era feita separadamente por cada artesão. Essa<br />

nova técnica ficou conhecida como manufatura e<br />

substituiu a fase doméstica da produção.<br />

O segundo nível é chamado de superestrutura<br />

e é constituído de uma base jurídico-política,<br />

que é representada pelo estado que repercute as<br />

ideias da classe dominante. É composto também<br />

por uma estrutura ideológica repercutida nas formas<br />

de consciência social, entre as quais se destacam:<br />

a religião, a educação, a arte e as leis. Por<br />

esses mecanismos, a classe dominada acaba sendo<br />

sujeitada ideologicamente e seus valores de<br />

vida passam a refletir as ideias e valores da classe<br />

dominante.<br />

Observe a força da ideologia na produção<br />

dos discursos sociais. O que você pensa sobre<br />

isso?<br />

5.2 A Práxis<br />

Para Marx não existe uma “natureza humana”<br />

idêntica em todo tempo e lugar. O existir<br />

humano decorre do agir, pois o homem se autoproduz<br />

à medida que transforma a natureza<br />

pelo trabalho. O trabalho é um projeto humano<br />

e como tal depende da consciência que antecipa<br />

a ação humana pelo pensamento. Marx chama<br />

essa ação humana, de transformar a realidade, de<br />

práxis.<br />

Atenção<br />

O conceito de práxis é muito anterior à filosofia<br />

marxista, com raízes no pensamento de Aristóteles,<br />

mas foi por intermédio do pensador alemão<br />

Karl Marx que tal conceito, progressivamente, se<br />

aprofundou, passando a ser o elemento central<br />

do materialismo histórico. Marx concebe a práxis<br />

como atividade humana prático-crítica, que<br />

nasce da relação entre o homem e a natureza.<br />

A natureza só adquire sentido para o homem à<br />

medida que é modificada por ele, para servir aos<br />

fins associados à satisfação das necessidades do<br />

gênero humano.<br />

26<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br


<strong>Sociologia</strong><br />

5.3 A Mais-Valia<br />

Você verá agora um conceito-chave do pensamento<br />

marxista: a questão da mais-valia.<br />

Para Marx, tudo no sistema capitalista está<br />

vinculado à produção de mercadoria. Mercadoria<br />

é tudo aquilo que é produzido não tendo em<br />

vista o valor de uso (por exemplo, o cachecol que<br />

a vovó faz para o próprio uso), mas que tem por<br />

objetivo o valor de troca, isto é, a comercialização<br />

do produto.<br />

Como o operário não detém os meios de<br />

produção nem é dono das matérias-primas, precisa<br />

necessariamente vender seu trabalho para<br />

sobreviver. O capitalista compra essa mercadoria,<br />

isto é, a força de trabalho do operário, que passa a<br />

trabalhar para o capitalista num regime de trabalho<br />

aparentemente livre. Como vendeu sua força<br />

de trabalho ao capitalista, todo produto por ele<br />

criado pertence ao capitalista, que o paga pelo<br />

trabalho realizado. Ocorre que o pagamento nunca<br />

corresponde ao tempo trabalhado, por exemplo,<br />

se o operário gastou quatro horas para fazer<br />

uma cadeira, o capitalista lhe paga apenas duas,<br />

as outras duas horas ficam para o capitalista. Chama-se<br />

mais-valia, portanto, aquilo que o operário<br />

cria além do valor de sua força de trabalho, e que<br />

é apropriado pelo capitalista.<br />

Analisando as consequências da mais-valia<br />

para a vida do trabalhador, Chauí (1984) argumenta:<br />

O preço da mercadoria no comércio é<br />

uma aparência, pois a determinação<br />

do valor dessa mercadoria depende do<br />

tempo de trabalho de sua produção e<br />

esse tempo o dos demais trabalhadores<br />

que tornaram possível a fabricação dessa<br />

mercadoria. (...) o produtor da mercadoria<br />

recebe um salário, que é o preço de seu<br />

tempo trabalho, pois este é também uma<br />

mercadoria. Suponhamos, então, que,<br />

para fabricar um metro de linho e para<br />

extrair um quilo de ferro, os trabalhadores<br />

precisem de 8 horas de trabalho. Suponhamos<br />

que o preço desses produtos<br />

no mercado seja de R$ 16,00. Diremos,<br />

então, que cada hora de trabalho equivale<br />

a R$ 2,00. Porém, quando vamos verificar<br />

qual é o salário desses trabalhadores,<br />

descobrimos que não recebem R$ 16,00,<br />

mas sim R$ 8,00. Há, portanto, 4 horas de<br />

trabalho que não foram pagas, apesar de<br />

estarem incluídas no preço final da mercadoria.<br />

Essas 4 horas de trabalho não<br />

pagas constituem a mais-valia, o lucro do<br />

proprietário da fábrica de linho. Formam<br />

seu capital. A origem do capital, portanto,<br />

é o trabalho não pago. Graças à mais-valia,<br />

a mercadoria não é um valor de uso e<br />

um valor de troca qualquer, mas um valor<br />

capitalista. (CHAUÍ, 1984, p. 50-51).<br />

Marx sistematizou essas reflexões em sua<br />

obra máxima, O capital, onde analisa detalhadamente<br />

o funcionamento do sistema capitalista e<br />

mostra como suas próprias contradições produziriam<br />

a sua crise estrutural.<br />

Através do conceito da mais-valia, Marx<br />

demonstrou que o capitalismo baseia-se na exploração<br />

do trabalho. Como verificamos anteriormente<br />

e que agora exemplificaremos com outra<br />

ordem de pensamento:<br />

O sistema capitalista se ocupa da produção<br />

de artigos para a venda, isto é, de<br />

mercadorias. O valor de uma mercadoria<br />

é determinado pelo tempo de trabalho<br />

socialmente encerrado na sua produção.<br />

O trabalhador não possui os meios de<br />

produção (terras, ferramentas, fábricas<br />

etc.), que pertencem ao capitalista. O valor<br />

de sua força de trabalho, como o de<br />

qualquer mercadoria, é o total necessário<br />

a sua reprodução – no caso, a soma necessária<br />

para mantê-lo vivo. Os salários<br />

que lhe são pagos, portanto, serão iguais<br />

apenas ao necessário a sua manutenção.<br />

Mas esse total que recebe o trabalhador<br />

pode produzir em parte de um dia de trabalho.<br />

Isso significa que apenas parte do<br />

dia de trabalho o trabalhador estará trabalhando<br />

para si. O resto do dia ele está<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

27


Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />

trabalhando para o patrão. A diferença<br />

entre o que o trabalhador recebe de salário<br />

e o valor da mercadoria que produz é a<br />

mais-valia. A mais-valia fica com o empregador<br />

- o dono dos meios de produção. É<br />

a fonte do lucro, dos juros, das rendas - as<br />

rendas das classes que são proprietárias.<br />

A mais-valia é também a medida da exploração<br />

do trabalhador no sistema capitalista.<br />

(HUBERMAN, 1972, p. 232-233).<br />

Ao patrão o que interessa é o aumento<br />

constante da mais-valia, porque assim seus lucros<br />

também aumentam. Para fazer isso, o capitalista<br />

usa algumas formas básicas: aumentando ao máximo<br />

a jornada de trabalho, mais-valia absoluta,<br />

de modo que depois de o operário ter produzido<br />

o valor equivalente ao de sua força de trabalho,<br />

possa continuar trabalhando muito tempo mais;<br />

essa forma de obter maior quantidade de mais-<br />

-valia é muito conveniente ao capitalista, porque<br />

ele não aumenta seus gastos nem em máquinas<br />

nem em locais, e consegue um rendimento muito<br />

maior da força de trabalho. Era o método mais<br />

utilizado no começo do capitalismo. Mas não se<br />

pode prolongar indefinidamente a jornada de<br />

trabalho. Existem limites para isso: limites físicos<br />

– porque se o operário trabalha durante muito<br />

tempo, não pode descansar o suficiente para refazer<br />

sua força de trabalho na forma devida, o que<br />

irá produzindo um esgotamento intensivo, logo,<br />

uma baixa no rendimento, o que não interessa<br />

ao patrão; limites históricos – porque, à medida<br />

que o capitalismo foi se desenvolvendo, a classe<br />

operária também se desenvolveu, se organizou<br />

e começou a lutar contra a exploração capitalista.<br />

Através de árduas lutas, a classe operária foi<br />

conseguindo reduzir a jornada de trabalho, obrigando<br />

o capitalista a buscar outras medidas para<br />

aumentar a mais-valia. Então, para isso, o patrão<br />

teve de lançar mão de outras formas para fazer<br />

com que o operário produzisse mais, reduzindo o<br />

tempo de trabalho necessário (mais-valia relativa)<br />

sem reduzir a jornada de trabalho: introduzindo<br />

máquinas mais modernas, incentivando a produtividade<br />

etc.<br />

Portanto, segundo Marx, a exploração do<br />

trabalhador não decorre do fato de o patrão ser<br />

bom ou mau, e sim da lógica do sistema: para o<br />

empresário vencer a concorrência entre os demais<br />

produtores e obter lucros para novos investimentos,<br />

ele utiliza-se da mais-valia, que constitui a<br />

verdadeira essência do capitalismo. Sem ela, este<br />

não existe. Mas a exploração do trabalho acabaria<br />

por levar, por efeito da tendência decrescente da<br />

taxa de lucro, ao colapso do sistema capitalista.<br />

5.4 Modos de Produção<br />

A mais-valia só existe no mundo do trabalho,<br />

sobretudo, do trabalho capitalista. Trabalho<br />

é toda atividade desenvolvida pelo homem, seja<br />

ela física ou mental, da qual resultam bens de<br />

consumo para a humanidade. Karl Marx afirmou<br />

alhures que foi o trabalho o primeiro responsável<br />

pela educação do homem. Trabalho aqui compreendido<br />

como a atividade manual e intelectual<br />

que visa produzir bens de serviços para o uso diário<br />

do homem. Há que se considerar, porém, que<br />

o peso de cada atividade é diferente. O trabalho<br />

do operário da construção civil é mais manual,<br />

apesar de exigir um mínimo de esforço mental.<br />

O trabalho do arquiteto e do engenheiro oferece<br />

a concepção de uma forma para o objeto que se<br />

quer produzir. Há ainda o trabalho que é feito por<br />

imitação, por exemplo, o trabalho de um feirante<br />

que vende frutas não exige aprendizagem anterior:<br />

ele é capaz de executá-lo por meio da imitação.<br />

Observe a esse respeito, a pergunta de Marx:<br />

o que diferencia o trabalho do mais brilhante arquiteto<br />

do trabalho da abelha? A diferença está,<br />

segundo ele, no projeto, ou seja, o arquiteto ao<br />

executar qualquer projeto o concebe antes em<br />

sua imaginação. A abelha, diferentemente, faz<br />

tudo pela intuição sem projeto concebido a priori.<br />

28<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br


<strong>Sociologia</strong><br />

Dicionário<br />

A priori, do latim, significa aquilo que vem antes. É<br />

uma expressão filosófica que designa uma etapa<br />

para se chegar ao conhecimento, que consiste no<br />

pensamento dedutivo. O conhecimento a priori se<br />

complementa com o conhecimento a posteriori,<br />

ou seja, o que vem depois como resultado da experiência.<br />

A humanidade passou por diversas fases de<br />

desenvolvimento de produção. Durante toda a<br />

sua história, o homem transformou e foi transformado<br />

pela natureza. A comunidade primitiva foi a<br />

primeira forma de organização humana. O modo<br />

de produção primitivo indica uma formação econômica<br />

ainda pouco estruturada. Tinha como<br />

característica a propriedade coletiva e não havia,<br />

portanto, a oposição proprietários e não proprietários,<br />

a terra era o principal meio de produção e<br />

não existia Estado.<br />

O modo de produção escravista predominou<br />

na Antiguidade, mas esteve presente também<br />

no Brasil e nos EUA durante o período colonial.<br />

Nas sociedades escravistas, todos os meios<br />

de produção, incluindo aí os escravos, eram<br />

propriedade do senhor. O escravo era considerado<br />

uma coisa, por isso, podia ser vendido como<br />

uma ferramenta ou um animal. As relações de<br />

produção na sociedade escravista eram relações<br />

de domínio e de oposição senhor versus escravo.<br />

Nesse modo de produção, já temos a presença do<br />

Estado, criado pelos senhores para defender seus<br />

interesses.<br />

O modo de produção asiático predominou<br />

no Egito antigo, na China e na Índia. Nesse modo<br />

de produção, as terras pertenciam ao Estado, que<br />

controlava a produção e a distribuía segundo<br />

seus interesses e conveniências. O Estado egípcio,<br />

dominado pelos Faraós, é um exemplo típico e<br />

mais conhecido desse modo de produção.<br />

O modo de produção feudal predominou<br />

na Europa Ocidental do século VI ao século XVI.<br />

A sociedade feudal estava baseada nas relações<br />

servis, isto é, senhores versus servos. Os servos<br />

estavam presos ao trabalho da terra. Eles cultivavam<br />

um pedaço de terra cedido pelo senhor<br />

e em troca pagavam impostos, cediam parte da<br />

produção para o senhor e ainda eram obrigados<br />

a trabalhar e cuidar das terras do senhor. Apesar<br />

disso, não eram escravos, pois o servo não era<br />

propriedade do senhor, portanto, não podia ser<br />

negociado como uma mercadoria, como ocorria<br />

com os escravos.<br />

O modo de produção capitalista institui o<br />

trabalho assalariado, suas relações de produção<br />

estão ancoradas na propriedade privada e no domínio<br />

dos meios de produção pela burguesia. A<br />

burguesia possui as fábricas, os meios de transporte,<br />

os bancos, as terras, os meios de comunicações<br />

e os dispositivos de controle social. Apesar<br />

disso, seus empregados não são escravos, nem<br />

servos. O trabalhador não é obrigado a ficar sempre<br />

no mesmo emprego; ele é livre para negociar<br />

com o capitalista o trabalho de seu interesse.<br />

Como os trabalhadores não são proprietários dos<br />

meios de produção, eles são obrigados a vender a<br />

força de trabalho para o capitalista, que paga pelos<br />

serviços prestados 4 . Essas duas classes, isto é, a<br />

burguesia e o proletariado, são rivais. A burguesia<br />

luta para conservar os privilégios e o proletariado<br />

para tomar o poder da burguesia.<br />

No modo de produção socialista, a finalidade<br />

da sociedade socialista é a satisfação completa<br />

das necessidades materiais e culturais da população.<br />

Nessa sociedade, não há separação entre<br />

proprietários (os donos dos meios de produção) e<br />

não proprietários (todos aqueles que têm apenas<br />

a força de trabalho para tirar o sustento de suas<br />

vidas). O Estado é quem administra e distribui a<br />

produção, e não há divisão de classes, isto é, não<br />

há separação entre ricos e pobres, proprietários e<br />

não proprietário, intelectuais e não intelectuais.<br />

Pode-se dizer, então, que um sentimento de<br />

igualdade permeia as relações socioculturais da<br />

sociedade socialista.<br />

4<br />

Obviamente que o capitalista se utiliza de todos os mecanismos para tornar o trabalhador cada vez mais dependente. Conferir<br />

a esse respeito os conceitos de alienação, ideologia e mais-valia da presente apostila.<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

29


Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />

5.5 Resumo do Capítulo<br />

Caro(a) aluno(a), o marxismo surgiu como a concepção que expressa esse mundo moderno, surge<br />

com a indústria e com o proletariado industrial. O pensamento materialista, que parte do objetivo para<br />

o subjetivo, é um pensamento dialético, que busca nas intervenções humanas e em suas contradições as<br />

explicações para a sociedade. Para Marx não existe uma “natureza humana”, pois o homem se autoproduz<br />

à medida que transforma a natureza pelo trabalho. O trabalho é um projeto humano e como tal depende<br />

da consciência que antecipa a ação humana pelo pensamento. Para Marx, tudo no sistema capitalista<br />

está vinculado à produção de mercadoria; a mais-valia só existe no mundo do trabalho, sobretudo do trabalho<br />

capitalista. No modo de produção socialista, a finalidade é a satisfação completa das necessidades<br />

materiais e culturais da população.<br />

5.6 Atividades Propostas<br />

1. Para Marx, a sociedade estrutura-se em níveis. Explique o nível da infraestrutura.<br />

2. Caracterize o modo de produção feudal.<br />

30<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br


6<br />

CONCEITOS DE SOCIOLOGIA<br />

Você estudará os diferentes conceitos utilizados<br />

na <strong>Sociologia</strong>. Veja como alguns autores<br />

concebem esses objetos de estudo.<br />

Para Lakatos e Marconi (1999, p. 38), é “o estudo<br />

sistemático dos grupos e sociedades em que<br />

vivem os indivíduos, como são criadas e mantidas<br />

ou modificadas as estruturas sociais e as culturas<br />

e como estas afetam nosso comportamento.”<br />

Para Scuro (2004), é o estudo da realidade social,<br />

quanto à sua constituição, suas estruturas e seu<br />

funcionamento. Lemos Filho (2004) entendem<br />

que a <strong>Sociologia</strong> é a Ciência que estuda o desen-<br />

volvimento, a estrutura e a função da sociedade.<br />

Conforme alerta-nos Martins (1987),<br />

a <strong>Sociologia</strong> começa com a observação<br />

de que os humanos são criaturas imensamente<br />

sociais, tudo o que fazemos, desde<br />

fazer amor até fazer uma guerra, o fazemos<br />

em companhia de outros e é imperativo<br />

fazê-lo com os demais. Nunca um<br />

indivíduo solitário poderá realizar estas<br />

atividades. Estamos em constante construção<br />

e reconstrução de grupos, desde<br />

famílias e grupos em almoços ou em corporações<br />

multinacionais. (p. 9).<br />

6.1 Estrutura Social<br />

Numa escola trabalham o diretor, o coordenador<br />

pedagógico, os professores, o secretário e<br />

diversos funcionários, além dos alunos. Cada um<br />

desses elementos ocupa uma posição social, um<br />

status no grupo. Cada posição está relacionada<br />

com as demais, e todas elas, em conjunto, formam<br />

a estrutura da escola. Esse mesmo raciocínio<br />

pode ser aplicado a outras estruturas, como,<br />

por exemplo, a um clube de futebol, que tem o<br />

presidente, o técnico, o massagista, os jogadores,<br />

enfim, tem um conjunto humano que forma uma<br />

estrutura social.<br />

Observe, pois, que estrutura social é um<br />

conjunto ordenado de partes encadeadas que<br />

formam um todo. Dito de outro modo, a estrutura<br />

social integra os indivíduos dentro de uma ordem<br />

e aí define, por exemplo, o papel de cada um de<br />

seus membros. Assim, o diretor de escola e o professor<br />

sabem de suas funções sem a necessidade<br />

de orientações diárias. O mesmo pode ser dito da<br />

estrutura de uma empresa ou de um clube de futebol.<br />

Nessas organizações, o papel de cada um já<br />

está dado previamente de modo que eles podem<br />

compartilhar sem animosidade o mesmo espaço<br />

social.<br />

Estrutura social funciona também como<br />

uma orientação teórica, um sistema de crenças<br />

e interesses que medeia as relações sociais. Os<br />

membros de uma sociedade tendem geralmente<br />

a compartilhar a crença na importância dos<br />

valores definidos consensualmente. A religião, a<br />

liberdade política e a crença nas leis para mediar<br />

as relações humanas são, por exemplo, como valores<br />

intrínsecos e universais que permeiam as estruturas<br />

sociais.<br />

A estrutura social inclui grandes grupos,<br />

como as sociedades, comunidades, e pe-<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

31


Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />

quenos grupos, como as famílias e os amigos,<br />

mas o conceito de estrutura social<br />

inclui também os modelos ou padrões de<br />

interação social e relações sociais. Abarca<br />

fenômenos que são tangíveis ou visíveis,<br />

como o de quem se relaciona e com<br />

quem: idéias ou crenças e objetivos ou interesses;<br />

podem observar-se as relações<br />

sociais, as idéias que os indivíduos sustentam<br />

em comum e qualquer coisa que<br />

apreciem ou estimem, a estrutura não é<br />

estática, mas está em mudança constante.<br />

(LAKATOS; MARCONI, 1999, p. 83).<br />

Os elementos básicos da estrutura social<br />

são status e papéis, relações sociais, grupos e organizações.<br />

6.2 Status e Papéis<br />

Para Lakatos e Marconi (1999), status e papéis<br />

são elementos opostos e complementares,<br />

um não poderia existir sem o outro. Um papel é a<br />

coleção de direitos culturalmente definidos, obrigações<br />

e expectativas que acompanham um status<br />

num sistema social. Numa empresa, por exemplo,<br />

o patrão possui direitos, deveres e privilégios<br />

diferentes dos empregados. Numa escola, diretor<br />

e professor possuem direitos e deveres diferentes<br />

dos alunos. Num clube de futebol, o técnico possui<br />

também direitos e deveres diferenciados dos<br />

jogadores. O que estamos querendo demonstrar<br />

é que a posição ocupada pelo indivíduo no grupo<br />

social denomina-se status social. O status social<br />

indica, então, a posição do indivíduo no grupo<br />

social.<br />

O status pode ser atribuído ou adquirido.<br />

Status atribuído é aquele que não é escolhido voluntariamente<br />

pelo indivíduo e não depende de<br />

suas ações e qualidades. Por exemplo, o status de<br />

“primogênito” ou de “filho de operário”. Já o status<br />

adquirido é obtido de acordo com as qualidades<br />

pessoais do indivíduo. Esse status confere ao indivíduo<br />

uma posição de destaque entre os membros<br />

do grupo de pertencimento, pois seu status é<br />

fruto do reconhecimento de sua capacidade. Por<br />

exemplo, Pelé tem status adquirido pelas qualidades<br />

de seu futebol. O status adquirido está, então,<br />

associado à capacidade profissional, intelectual e<br />

de liderança do indivíduo na sociedade.<br />

Nas sociedades mais antigas, o status era<br />

quase sempre atribuído. Assim foi na Idade Média,<br />

com a Igreja atribuindo status religiosos para<br />

os indivíduos. Assim foi nas sociedades escravocratas,<br />

quando o status era também atribuído e<br />

assim permaneceu em algumas sociedades modernas,<br />

com o rei atribuindo status para seus súditos.<br />

Na sociedade contemporânea, predomina<br />

o status adquirido pelo destaque intelectual, liderança<br />

e habilidades pessoais.<br />

6.3 Relações Sociais<br />

Para Scuro (2004), os status e os papéis<br />

dão as bases para as relações sociais, as relações<br />

tomam muitas formas diferentes. Para Martins<br />

(1987), algumas são multifacetadas: duas pessoas<br />

que vivem no mesmo bairro, trabalham para<br />

a mesma companhia e têm os mesmos amigos.<br />

Outras são simples propósitos: o dono de um<br />

cachorro com o qual alguém se encontra quase<br />

todos os dias. Para Lakatos e Marconi (1999),<br />

cada interação social é uma situação em que o<br />

comportamento de um participante influi no do<br />

outro, os indivíduos definem, negociam suas relações,<br />

algumas envolvem a relação direta cara a<br />

cara, outras são indiretas.<br />

32<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br


<strong>Sociologia</strong><br />

6.4 Grupos<br />

Grupo social é a reunião de duas ou mais<br />

pessoas, associadas por interesses comuns. Ao<br />

longo da vida, o indivíduo participa de vários grupos<br />

sociais, entre os quais, destacamos:<br />

• Grupo Educativo – escola;<br />

• Grupo Religioso – igreja;<br />

• Grupo Familial – família;<br />

• Grupo Profissional – empresa;<br />

• Grupo Político – partidos políticos;<br />

• Grupo Sindical – sindicatos.<br />

Atenção<br />

Em sociologia, grupo é um sistema de relações<br />

sociais, de interações recorrentes entre pessoas.<br />

Também pode ser definido como uma coleção<br />

de várias pessoas que compartilham certas características,<br />

que interajam uns com os outros,<br />

aceitem direitos e obrigações como sócios do<br />

grupo e compartilhem uma identidade comum.<br />

Em cada fase da vida, um desses grupos estará<br />

presente na vida do indivíduo. Para melhor<br />

compreendê-los, podemos dividi-los em dois<br />

grupos:<br />

1. Grupo Primário: predominam os contatos<br />

pessoais, isto é, como a família e os<br />

vizinhos. Os contatos são estabelecidos<br />

mais diretamente, sem formalidade.<br />

2. Grupo Secundário: são grupos mais<br />

complexos, como a Igreja e o Estado.<br />

Os contatos aqui são mediados pela<br />

formalidade, respeitando-se a liturgia<br />

do cargo e da ocasião.<br />

Para Lakatos e Marconi (1999), há outros<br />

níveis da estrutura social que podem compartilhar<br />

certas características sociais. As pessoas que<br />

trabalham num consultório são um grupo social,<br />

veem-se frequentemente, o “trabalhar juntos”<br />

lhes dá um propósito e metas comuns e um sentido<br />

compartilhado de identidade. Além disso, suas<br />

interações são estruturadas por seus papéis e diferentes<br />

posições hierárquicas.<br />

Organizações Formais<br />

Para Scuro (2004), organização formal é um<br />

grupo planejado e criado para seguir suas metas<br />

e manter-se unido por regras explícitas e regulamentos.<br />

Diferenciam-se os grupos pelo equilíbrio,<br />

escala, estrutura e ênfase em fazer as coisas ou<br />

nas orientações de suas metas. Como coloca Martins<br />

(1987, p. 15):<br />

Instituições Sociais<br />

Em sua acepção original a palavra estrutura<br />

faz referência à construção de edifícios,<br />

mas no século XVI foi empregada<br />

para denotar as relações entre as partes<br />

de um todo. Era uma palavra utilizada<br />

normalmente nos estudos anatômicos<br />

que nesta época começavam a florescer.<br />

O passo do termo da anatomia à <strong>Sociologia</strong>,<br />

produziu-se vários séculos depois, foi<br />

uma conseqüência lógica das analogias<br />

orgânicas por parte dos pensadores políticos.<br />

Para Lakatos e Marconi (1999), o elemento<br />

estrutural mais importante dos elementos reunidos<br />

são as instituições sociais, conjuntos estáveis<br />

e perduráveis de normas e valores, status, papéis,<br />

grupos e organizações com uma estrutura para a<br />

conduta social numa área particular da vida.<br />

Todas as sociedades de grande escala têm<br />

cinco Instituições Sociais principais, segundo Scuro<br />

(2004):<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

33


Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />

1. A familiar, que é a responsável pelo<br />

crescimento e cuidado para com as<br />

crianças de modo a substituir os membros<br />

da sociedade que morreram ou se<br />

foram;<br />

2. A educacional, que assegura que as<br />

normas e valores culturais passem de<br />

uma geração à seguinte e que as pessoas<br />

jovens tenham conhecimento e<br />

habilidade para realizar papéis adultos;<br />

3. A religiosa, que reforça os valores, dá<br />

significado e propósito à vida;<br />

4. A política, que mantém a ordem social<br />

e protege os membros da sociedade<br />

das invasões, controla os delitos e desordens<br />

internas, resolve conflitos de<br />

interesse;<br />

5. A econômica, que organiza a produção<br />

e distribuição de bens e serviços.<br />

A ciência, as artes, o cuidado com a saúde, o<br />

sistema legal, o exercício e o tempo livre são elementos<br />

que também foram institucionalizados<br />

nas sociedades modernas.<br />

6.5 Fenômenos Sociais<br />

Para Lakatos e Marconi (1999), os grandes<br />

acontecimentos históricos não se produzem sem<br />

razão; determinadas causas sociais de caráter<br />

complexo precisam ocorrer e, muitas vezes, são<br />

previsíveis, para que esses acontecimentos ocorram.<br />

O mesmo se pode dizer dos fenômenos que<br />

se suscitaram com o decorrer dos tempos. A seguir,<br />

alguns de grande importância para a <strong>Sociologia</strong>,<br />

em Lakatos e Marconi (1999):<br />

1. A Revolução Francesa de 1789 e a Revolução<br />

Industrial produziram um desmoronamento<br />

das estruturas sociais de<br />

tal maneira que passaram a ser motivo<br />

de preocupação coletiva; o que ocorre<br />

na sociedade, o que provoca essas mudanças<br />

e como se podem solucionar<br />

essas desigualdades e desequilíbrios<br />

que se apresentam na sociedade;<br />

2. Os avanços científicos e tecnológicos;<br />

3. Desenvolvimento de uma nova economia<br />

industrial, já que ocorreu uma<br />

mudança na sociedade: deixou-se de<br />

produzir a terra (cultivável), abandonou-se<br />

a forma de produção artesanal<br />

e passou-se à produção em grandes<br />

fábricas, ao mesmo tempo que os trabalhadores<br />

deixaram de trabalhar em<br />

suas casas para trabalhar sob as ordens<br />

de um supervisor. Isso teve como consequência<br />

grandes mudanças na família,<br />

que deixou de consumir o que<br />

ela mesma produzia, de forma que se<br />

produziu uma dissociação: de um lado<br />

trabalhadores e de outro, consumidores,<br />

ao mesmo tempo que a família foi<br />

mudando seu sistema de valores;<br />

4. O crescimento das cidades: os camponeses<br />

abandonaram o campo,<br />

trasladando-se à cidade em busca de<br />

trabalho, de tal forma que os núcleos<br />

industriais converteram-se em grandes<br />

cidades, surgiu a emigração, o<br />

aglomerado da população, a pobreza,<br />

o desemprego, a criminalidade, sendo<br />

esses problemas frequentes nessas<br />

grandes cidades, o que deixou antever<br />

34<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br


<strong>Sociologia</strong><br />

o quanto esses são problemas de difícil<br />

solução;<br />

5. Mudanças políticas: o direito divino<br />

dos reis foi abandonado, de forma que<br />

a autoridade já não se legitimava por<br />

um caráter divino, nem a sociedade era<br />

produto de um plano guiado por Deus,<br />

e se começava a ver tanto a autoridade<br />

quanto a sociedade, um produto dos<br />

seres humanos, orientados a satisfazer<br />

suas necessidades e seus interesses;<br />

ressurgiu, então, o interesse pelo indivíduo<br />

e um reconhecimento de seus<br />

direitos por sua condição de pessoa<br />

humana.<br />

Esses cinco pontos formam o contexto que<br />

levou uma série de pensadores 5 a propor a questão<br />

da sociedade e, consequentemente, da <strong>Sociologia</strong>.<br />

De acordo com Scuro (2004), outros dos fenômenos<br />

sociais que se apresentaram com maior<br />

frequência em nossa moderna sociedade são: o<br />

delito, a violência, as drogas, o divórcio e a aculturação<br />

dos imigrantes.<br />

6.6 Relações Sociais<br />

Saiba que o conceito da relação deve entender-se<br />

como uma conduta plural pelo sentido<br />

que encerra: apresenta-se como reciprocamente<br />

referida ou orientando-se por essa reciprocidade.<br />

Consiste na probabilidade de comportamento<br />

social numa forma indicada, sendo indiferente<br />

àquilo em que a probabilidade prediz. À relação<br />

social temos que vincular o processo social (WE-<br />

BER, 1982).<br />

Segundo Scuro (2004, p. 107), “observando<br />

uma conduta plural, ou seja, conduta de vários<br />

atores que criam uma interação ao agir e, além<br />

disto, orientam sua conduta pela idéia da reciprocidade.”<br />

Para que a interação ocorra, é preciso pluralidade,<br />

no entanto, o conteúdo da relação pode<br />

ser, segundo Martins (1987):<br />

a) Relações Dissociativas:<br />

• inimizade;<br />

• conflito;<br />

• concorrência.<br />

b) Relações Associativas:<br />

• amor sexual;<br />

• amizade;<br />

• associação comercial.<br />

6.7 Fim ou Objetivos da <strong>Sociologia</strong><br />

Entenda que o objetivo da <strong>Sociologia</strong> é<br />

o estudo científico dos fatos sociais (LAKATOS;<br />

MARCONI, 1999). Seu objetivo principal inicial era<br />

descrever e quantificar os fatos; pelo contrário, se<br />

queria dar à <strong>Sociologia</strong> um papel explicativo, e<br />

houve um grande esforço em organizar um amplo<br />

aparelho conceitual (SCURO, 2004).<br />

Segundo Rodrigues (2003, p. 127):<br />

O objetivo da <strong>Sociologia</strong> na consciência<br />

coletiva, o da psicologia a consciência<br />

individual, e as diferenças entre ambas<br />

as ciências é o que estuda a <strong>Sociologia</strong>,<br />

é o fato social que tem caráter externo e<br />

5<br />

Entre os quais se destacam: Saint-Simon, Comte, Karl Marx, Durkheim e Max Weber.<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

35


Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />

coercivo enquanto o fato psíquico é de<br />

natureza interna e de significado mimético.<br />

A <strong>Sociologia</strong> consiste no estudo dos processos<br />

sociais ou inter-humanos e deve se dividir em<br />

três grandes tarefas (LEMOS FILHO, 2004):<br />

1. Abstrair o social ou inter-humano do<br />

resto pertencente à vida humana;<br />

2. Constatar os efeitos do social e o modo<br />

como se produzem;<br />

3. Restituir o social ao conjunto da vida<br />

humana para fazer compreensíveis<br />

suas relações com esta.<br />

6.8 Teoria Sociológica Geral<br />

Você tem ideia do que seja a Teoria Sociológica<br />

Geral? É sobre isso que falaremos a seguir.<br />

Trata-se de uma teoria que pretende atribuir<br />

um valor explicativo à doutrina estrutural<br />

funcional, e que tem uma intenção consistente,<br />

não exatamente de destruir, negando veementemente<br />

a verdade das teorias sociológicas do passado,<br />

mas assinalando suas insuficiências, a partir<br />

dos pontos de vista teóricos e prático (LAKATOS;<br />

MARCONI, 1999).<br />

Segundo Martins (1987), essa corrente sociológica<br />

estimava que a <strong>Sociologia</strong> devesse abarcar<br />

todo o campo das ciências, de tal modo que a<br />

<strong>Sociologia</strong> seria uma espécie de enciclopédia do<br />

saber, de tal sorte que de alguma forma a <strong>Sociologia</strong><br />

estudaria o objeto das matemáticas, astronomia,<br />

física, química e, ao fazer isso, a <strong>Sociologia</strong> se<br />

converteria numa ciência de importância primordial.<br />

Martins (1987, p. 14) afirma ainda que,<br />

como muitas palavras excessivamente<br />

usadas, o termo ‘teoria sociológica’ ameaça<br />

ficar vazio de sentido. A mesma diversidade<br />

de coisas a que se aplica, a partir<br />

de pequenas hipóteses de trabalho,<br />

passando por especulações gerais mais<br />

vagas e desordenadas, até os sistemas<br />

axiomáticos do pensamento, o emprego<br />

da palavra com freqüência atrapalha o<br />

entendimento em vez de aclará-lo.<br />

O termo ‘teoria sociológica’ refere-se a grupos<br />

de proposições logicamente interconectadas,<br />

dos quais podem se derivar uniformidades<br />

empíricas. Constantemente é enfocado o que se<br />

denomina de “teorias de alcance intermediário”.<br />

Nos dizeres de Scuro (2004):<br />

[...] teorias intermediárias entre essas<br />

hipóteses de trabalhos menores, mas<br />

necessários, que se produzem abundantemente<br />

durante as rotinas diárias da<br />

pesquisa e dos esforços sistemáticos totalizadores<br />

para desenvolver uma teoria<br />

unificada, que explique todas as uniformidades<br />

observadas na conduta, na organização<br />

e nas mudanças sociais. (p. 73).<br />

A teoria intermediária é utilizada na <strong>Sociologia</strong><br />

principalmente para guiar a pesquisa empírica.<br />

É uma teoria intermediária às teorias gerais<br />

dos sistemas sociais, que estão demasiado distantes<br />

dos tipos particulares de conduta, de organização<br />

e de mudança sociais para levá-las em<br />

conta no que se observa e nas descrições ordenadamente<br />

detalhadas de particularidades que<br />

não estão ainda generalizadas. A teoria de alcance<br />

intermediário inclui abstrações, por óbvio, mas<br />

estão próximas o bastante dos dados observados<br />

para incorporá-las em proposições que permitam<br />

a prova empírica (LAKATOS; MARCONI, 1999).<br />

Martins (1987) explica que as teorias de<br />

alcance intermediário tratam dos aspectos delimitados<br />

dos fenômenos sociais, como o indicam<br />

seus próprios procedimentos. Fala-se de uma teoria<br />

dos grupos de referência, da mobilidade social<br />

ou de conflito de papéis e da formação de normas<br />

sociais, da mesma forma que se fala de uma teoria<br />

36<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br


<strong>Sociologia</strong><br />

dos preços, de uma teoria dos germes ou de uma<br />

doença, ou de uma teoria cinética dos gases.<br />

A busca de teorias de alcance intermediário<br />

exige do sociólogo um compromisso<br />

diferente que a busca de uma teoria totalizadora.<br />

As observações de cada aspecto<br />

da conduta, organização e mudanças<br />

sociais, encontram-se prefixadas, implicando<br />

no mesmo desafio e na mesma<br />

pequena promessa dos grandes sistemas<br />

filosóficos totalizadores que caíram em<br />

merecido desuso. (LEMOS FILHO, 2004, p.<br />

143).<br />

Nesse caso, segundo Martins (1987), a formulação<br />

de uma teoria sociológica geral, ampla<br />

o bastante para abarcar grandes quantidades de<br />

detalhes minuciosamente observados da conduta<br />

e organização sociais, não seria frutífera o<br />

bastante para chamar a atenção de milhares de<br />

pesquisadores para os problemas da pesquisa<br />

empírica.<br />

Para Martins (1987), um sentido histórico<br />

dos contextos intelectuais mutáveis da <strong>Sociologia</strong><br />

deve ser humilde o bastante para liberar aqueles<br />

otimistas desta esperança extravagante.<br />

Por um lado, alguns aspectos de nosso passado<br />

histórico ainda permanecem em grande<br />

parte conosco. Devemos recordar que primeiramente<br />

a <strong>Sociologia</strong> desenvolveu-se numa atmosfera<br />

intelectual na qual se introduziam por todos<br />

os lados sistemas filosóficos gerais. Qualquer filósofo<br />

do século XVIII e do início do século XIX que<br />

se prezasse tinha que desenvolver seu próprio sistema<br />

filosófico, sendo os mais conhecidos excepcionalmente:<br />

Kant, Fichte, Schelling e Hegel. Cada<br />

sistema era uma aposta pessoal pela concepção<br />

definitiva do universo, do material, da natureza e<br />

do homem. Essas tentativas dos filósofos em criar<br />

sistemas totais serviram de modelo aos primeiros<br />

sociólogos, e assim o século XIX foi um século de<br />

sistemas sociológicos. Tendo como pais fundadores<br />

Comte e Spencer (BENOIT, 1999).<br />

Nesse contexto, Benoit (1999) afirma que<br />

quase todos os pioneiros da <strong>Sociologia</strong> trataram<br />

de criar um modelo de seu próprio sistema. A<br />

multiplicidade de sistemas, cada um deles com<br />

pretensões de ser genuína <strong>Sociologia</strong>, levou,<br />

muito naturalmente, à formação de escolas, cada<br />

uma delas com seu grupo de mestres e discípulos.<br />

A sociologia não só se diferenciou de outras<br />

disciplinas, mas se diferenciou internamente. Essa<br />

diferenciação não era, no entanto, questão de especialização,<br />

como nas ciências; era mais, como<br />

em filosofia, questão de sistemas completos, tipicamente<br />

sustentados como mutuamente excludentes<br />

e díspares.<br />

Como observou Bertrand Russell (apud LE-<br />

MOS FILHO, 2004) a respeito da Filosofia, esta <strong>Sociologia</strong><br />

total não captou a vantagem, comparada<br />

com as sociologias dos construtores de sistemas,<br />

de ser capaz de resolver problemas, um de cada<br />

vez e ao mesmo tempo, em lugar de ter que inventar<br />

de uma só vez um bloco teórico de todo o<br />

universo sociológico. Nos dizeres de Lemos Filho<br />

(2004):<br />

os sociólogos intelectuais de sua disciplina<br />

tomaram seu protótipo de sistemas<br />

da teoria científica em lugar de sistemas<br />

filosóficos. Esta via também levou às vezes<br />

à tentativa de criar sistemas totais de<br />

<strong>Sociologia</strong>, meta que freqüentemente se<br />

baseia numa ou mais de três concepções<br />

básicas errôneas sobre seguiram outro<br />

caminho em seu desejo de estabelecer a<br />

legitimidade às ciências. (p. 147).<br />

Para Martins (1987), a primeira concepção<br />

errônea supõe que os sistemas de pensamento<br />

podem desenvolver-se efetivamente ante uma<br />

grande massa de observações básicas que se acumularam.<br />

De acordo com essa opinião, Einstein<br />

poderia ter seguido de imediato Kepler, sem necessidade<br />

dos séculos de pesquisa e pensamento<br />

sistemático a respeito dos resultados da pesquisa<br />

que foram necessários para preparar o terreno.<br />

Os sistemas de <strong>Sociologia</strong> que partem<br />

desta pressuposição tácita são muito parecidos<br />

aos introduzidos pelos criadores<br />

de sistemas em medicina num lapso de<br />

150 anos: os sistemas de Stahl, Boissier<br />

de Sauvages, Broussais, John Brown e<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

37


Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />

Benjamin Rush. Até meados do século<br />

XIX, personagens eminentes da medicina<br />

pensaram que era necessário desenvolver<br />

um sistema teórico da doença muito<br />

antes que a anterior pesquisa empírica se<br />

tivesse desenvolvido adequadamente.<br />

(MARTINS, 1987, p. 22).<br />

Esses caminhos já se fecharam na Medicina,<br />

mas esse tipo de esforço ainda ressurge na <strong>Sociologia</strong>.<br />

6.9 Teorias Sociológicas Especiais<br />

Caro(a) aluno(a), você verá agora as teorias<br />

sociológicas denominadas especiais.<br />

Para Martins (1987), essas teorias entendem<br />

que ideias, conceitos ou julgamentos provisórios<br />

a respeito da natureza da realidade ou a respeito<br />

do modo de se resolver um problema podem ser<br />

simples hipóteses, conceitos ou juízos aplicados a<br />

algum fenômeno específico e são as que a seguir<br />

se relacionam:<br />

• A teoria da Gemeinschaft;<br />

• A Gesellschaft;<br />

• A teoria da relatividade linguística;<br />

• A teoria do etnocentrismo;<br />

• A teoria da socialização;<br />

• A teoria do eu que se vê num espelho;<br />

• A teoria da conduta conformista.<br />

Tendem a agrupar-se em várias correntes<br />

teóricas principais ou perspectivas que vinculam<br />

uma ampla quantidade de conceitos hipóteses e<br />

teorias (LAKATOS; MARCONI, 1999).<br />

6.10 Pesquisas Sociológicas Concretas<br />

São orientações teóricas que dão ênfase à<br />

oposição ente os indivíduos, os grupos ou as estruturas<br />

sociais. Essa oposição é a existência da<br />

escassez ou limitações nos recursos para conseguir<br />

objetivos ou realizar os valores. Os recursos<br />

referem-se tanto aos fatores não materiais, como<br />

poder e prestígio, quanto a fatores utilizados para<br />

conseguir objetivos. A <strong>Sociologia</strong> considera a escassez<br />

como algo que é parcialmente um senso<br />

comum por parte da sociedade (WEBER, 2003).<br />

O Funcionalismo Estrutural é uma orientação<br />

teórica que acentua as funções ou contribuições<br />

feitas à sociedade pelas estruturas sociais<br />

existentes (SCURO, 2004):<br />

a) Etnometodologia;<br />

b) Teoria da mudança;<br />

c) Teoria do intercâmbio;<br />

d) Interacionismo simbólico;<br />

e) Teoria do conflito.<br />

38<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br


<strong>Sociologia</strong><br />

6.11 Leis Sociais<br />

Você sabe o que são leis sociais?<br />

Segundo Lemos Filho (2004), são os regulamentos<br />

que regem a conduta do indivíduo na<br />

sociedade, conforme o Direito.<br />

a) A LEI é uma norma de direito ditada, promulgada<br />

e sancionada pela autoridade<br />

pública, ainda sem o consentimento<br />

dos indivíduos, e que têm como fim regular<br />

a conduta externa dos homens.<br />

b) O COSTUME é a observância uniforme<br />

e constante de regras de conduta obrigatórias<br />

elaboradas por uma comunidade,<br />

é um uso implantado numa coletividade<br />

e considerado por esta como<br />

juridicamente obrigatória, é o direito<br />

costumário.<br />

c) A JURISPRUDÊNCIA é a correta interpretação<br />

da lei feita pelos Ministros da Suprema<br />

Corte de Justiça Plena ou pelos<br />

Magistrados dos Tribunais Colegiados.<br />

Havendo vários casos concretos, sem<br />

objeções, acaba por se converter em<br />

obrigatória, já que cobre as lacunas da<br />

lei.<br />

d) A DOUTRINA é o conjunto de estudos<br />

e opiniões que os tratadistas de direito<br />

emitem em suas obras. Estudos de<br />

caráter científico que os juristas fazem<br />

sobre temas de direito, munidos de propósitos<br />

teóricos sistematizados de seus<br />

preceitos, com a finalidade de interpretar<br />

suas normas e assinalar as regras de<br />

aplicação.<br />

e) OS PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO são<br />

os que determinam uma controvérsia<br />

judicial, como a equidade, a justiça, o<br />

bem comum.<br />

f) A EQUIDADE é considerada por alguns<br />

autores também como fonte formal do<br />

Direito.<br />

Assim, atente para a definição de lei: a Lei<br />

é o conjunto de normas jurídicas de observância<br />

geral por parte da população de um Estado num<br />

regime de direito e que é sua principal fonte. A Jurisprudência<br />

é realizada pelos grandes Jurisconsultos<br />

da Suprema Corte de Justiça da nação, que<br />

têm a faculdade de interpretação das normas jurídicas<br />

de um Estado, através de suas resoluções,<br />

que interpretam e uniformizam direito ao cobrir<br />

as lacunas da lei. O Costume, por sua vez, são<br />

normas de conduta criadas por uma comunidade<br />

e que vão sendo aceitas de forma obrigatória;<br />

surgem pela uniformidade do comportamento:<br />

“o costume se faz lei”. Por outro lado, a doutrina<br />

é constituída pelos estudos que realizam os pesquisadores<br />

do direito, sobre variados aspectos e,<br />

por último, os Princípios Gerais do Direito são os<br />

axiomas ditados pela razão, a sabedoria que serve<br />

de inspiração e fundamento ao direito positivo<br />

como frases doutrinárias com as quais se formam<br />

máximas de caráter axiomático como as que se<br />

seguem:<br />

1. Ninguém deve ser condenado somente<br />

por suspeitas;<br />

2. É preferível absolver um culpado a condenar<br />

um inocente;<br />

3. A boa-fé se presume, a má-fé se prova;<br />

4. Onde a lei não distingue, não é lícito<br />

distinguir.<br />

Sobre essas questões, Lemos Filho (2004)<br />

assinala:<br />

As fontes do direito são os procedimentos<br />

por meio dos quais se concretiza a<br />

norma jurídica e se assinala sua força<br />

obrigatória, já que a lei é a norma jurídica<br />

emanada do poder público. O Costume<br />

é o conjunto de hábitos que levam o homem<br />

a agir de maneira determinada ao<br />

qual a sociedade dá caráter obrigatório.<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

39


Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />

A Jurisprudência por sua vez, sustentada<br />

em sentenças ou decisões, dadas pela<br />

autoridade judicial federal, aplica o direito<br />

corretamente, cobre suas falhas e a faz<br />

obrigatória [...] a Doutrina é o conjunto de<br />

princípios que dão os juristas com o fim<br />

de interpretar e comentar o direito, mas<br />

suas conclusões não podem ser juridicamente<br />

obrigatórias, por provir de particulares<br />

[...] e os Princípios Gerais do Direito<br />

determinam uma controvérsia judicial, já<br />

que se decide a favor do que trate de evitar<br />

prejuízo, não do que pretenda obter<br />

um lucro, de conformidade com o Código<br />

Civil, já que, na falta da legislação escrita,<br />

se resolverá conforme estes princípios. (p.<br />

133).<br />

Sobre isso, Benoit (1999) hierarquiza as fontes<br />

formais do direito: em primeiro lugar a lei, em<br />

segundo lugar a jurisprudência, seguido pelos<br />

princípios gerais do direito, o costume e a equidade,<br />

pois nos indica que a lei, como norma de<br />

direito escrita, busca o bem comum da atividade<br />

social, enquanto a jurisprudência só interpreta<br />

a lei quando tem falhas e se faz obrigatória depois<br />

de alguns casos concretos. A doutrina, como<br />

conjunto de estudos e opiniões que os tratadistas<br />

do direito fazem, só pode tomar-se um ponto de<br />

referência, assim como os costumes pelos quais<br />

os princípios são obrigatórios, mais do que essas<br />

duas fontes.<br />

Segundo as análises de Lemos Filho (2004),<br />

e a tradição a reconhece como um meio<br />

de criação do direito (direito costumário).<br />

A Jurisprudência, como resoluções da<br />

suprema Corte de Justiça e os Tribunais<br />

Colegiados, tem como fim determinar o<br />

verdadeiro sentido e alcance das disposições<br />

existentes da lei, e a doutrina, como<br />

opiniões dos juristas, leva em conta a regulação<br />

normativa que fazem de diversos<br />

temas jurídicos, bem como os princípios<br />

gerais do direito que derivam do conteúdo<br />

das próprias normas como verdades<br />

fundamentais. Além disso, é preciso levar<br />

em consideração como outra fonte<br />

normal, os Tratados Internacionais, que<br />

de conformidade com a Constituição Federal,<br />

têm força de lei federal ordinária e<br />

fazem parte do Direito Positivo Brasileiro.<br />

(p. 135).<br />

O Costume é a mais antiga das fontes formais<br />

do direito, desde a época dos sistemas primitivos<br />

jurídicos. Na atualidade, perdeu seu papel<br />

transcendental, pois é considerado uma fonte<br />

secundária subordinada à legislação (MARTINS,<br />

1987). Lakatos e Marconi (1999, p. 109) explicam<br />

que: “Costume é direito ou foro que não é escrito,<br />

que foram usados pelos homens por um longo<br />

tempo, ajudando nas coisas ou nas razões sobre<br />

as quais usaram” e, por sua vez, Scuro (2004, p. 53)<br />

o definia como: “Uso existente num grupo social,<br />

que expressa um sentimento jurídico dos indivíduos<br />

que compõem este grupo.”<br />

o Costume, como repetição constante<br />

de uma conduta, conduz a um momento<br />

em que a sociedade a torna obrigatória<br />

6.12 Processo Social<br />

Entende-se por processo social um avanço,<br />

um caminhar adiante, um aproximar-se de uma<br />

meta considerada como socialmente valiosa.<br />

Também é considerado mudança ou movimento<br />

social na direção de um objeto reconhecido ou<br />

aprovado (SCURO, 2004).<br />

Martins (1987) explica que quando se quer<br />

determinar em que momento existe o processo<br />

social é preciso avaliar quais são os valores que<br />

se assentaram numa determinada sociedade, o<br />

progresso social consiste na realização de um determinado<br />

sistema de valores. O processo social<br />

do cristianismo, por exemplo, consistirá na rea-<br />

40<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br


<strong>Sociologia</strong><br />

lização dos valores postulados pela moral cristã,<br />

cujo principal pilar é o “valor supremo do amor”.<br />

O processo material será a realização de valores<br />

materiais, encarnados nos equipamentos como a<br />

indústria e o maquinário em geral, objetos representativos<br />

da civilização.<br />

Nem toda mudança social implica progresso,<br />

já que poderia dar-se uma mudança regressiva,<br />

um retrocesso. Para Scuro (2004), processo<br />

social é equivalente à interação.<br />

6.13 Teoria do Indivíduo Social<br />

Você já pensou que o homem utiliza sua<br />

inteligência para suas necessidades e o animal o<br />

faz intuitivamente? Em outras palavras, o homem<br />

produz seus próprios bens materiais e para isso é<br />

necessário associar-se a outros homens para conseguir<br />

sua subsistência. Mas não apenas produz<br />

bens materiais, como também seus modos de<br />

vida, que são um reflexo da produção dos bens<br />

materiais. O modo de vida dos povos coincide<br />

com sua produção, tanto com o que produzem<br />

quanto com o modo de produzir, o que também<br />

condiciona as relações entre uma comunidade e<br />

outra (WEBER, 1982).<br />

Marx e Engels (apud SCURO, 2004) assinalam<br />

que toda subsistência humana pressupõe<br />

condições para poder viver e, para sobreviver, é<br />

necessário haver comida e bebida, moradia, roupa<br />

etc. Por isso, como coloca Martins (1987), o primeiro<br />

fato histórico, a produção dos meios para<br />

satisfazer essas necessidades, ocorreu há milhares<br />

de anos e, ainda na atualidade, precisa se cumprir<br />

todos os dias como condição indispensável para<br />

a existência do ser humano.<br />

Dessa maneira, perceba que o homem, ao<br />

mesmo tempo que produz, também se reproduz;<br />

dessa forma, ao procriar, conserva a espécie humana.<br />

Tanto na procriação quanto na produção<br />

de bens para satisfazer suas necessidades, há<br />

uma dupla relação: uma natural e outra social<br />

(MARTINS,1987).<br />

A existência social implica uma cooperação,<br />

onde os meios de produção conformam<br />

a força produtiva, e a soma de<br />

relações das forças produtivas determina<br />

o modo de vida da sociedade. (WEBER,<br />

2003, p. 36).<br />

A partir do momento em que o homem<br />

existiu como tal, recorreu a outros para tentar<br />

seu alimento, suas vestes, sua moradia e também<br />

para reproduzir-se. Para produzir, além de relacionar-se<br />

com outros homens, cria instrumentos de<br />

trabalho que lhe permitem obter e elaborar com<br />

maior facilidade suas fontes de satisfação. O homem<br />

em sociedade vai incorporando cada vez<br />

mais conhecimentos, inventos e descobertas a<br />

seu trabalho, fazendo com que a sociedade avance<br />

constantemente.<br />

6.14 Fato Social<br />

São fatos realizados pelo homem na sociedade<br />

da qual faz parte. Incluem relações inter-humanas,<br />

situações de relação e influência recíproca<br />

entre os homens, processos sociais ou movimentos<br />

entre os homens, uns com relação aos outros,<br />

complexos, grupos ou formações (LAKATOS;<br />

MARCONI, 1999).<br />

Martins (1987, p. 31) salienta que<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

41


Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />

os fatos sociais demandam o entendimento<br />

do sentido que estes têm: o entendimento<br />

destes é um elemento essencial<br />

e indispensável de seu estudo, também é<br />

a explicação pela qual os fatos humanos<br />

ainda que não façam sentido, não são puramente<br />

abstratos, mas realidades concretas<br />

no espaço e no tempo.<br />

Através das pesquisas em <strong>Sociologia</strong>, vai se<br />

definindo o fato social, bem como as reflexões<br />

que hão de ser conduzidas para realizar um tratamento<br />

científico para o que será feito (LAKATOS;<br />

MARCONI, 1999).<br />

• Como observar os fatos sociais;<br />

• Como distinguir os fatos normais daqueles<br />

outros que podem ter uma natureza<br />

patológica;<br />

• Como construir os tipos sociais;<br />

• Como explicar os fatos sociais;<br />

• Como estudar as provas.<br />

Tudo isso para conseguir a distinção entre a<br />

especulação filosófica e a especulação científica<br />

ou explicativa, de maneira que seja possível descobrir<br />

as regularidades ou uniformidades da conduta<br />

humana (SCURO, 2004).<br />

Como define Durkheim (2000, p. 41): “Os Fatos<br />

sociais consistem uma maneira de pensar, de<br />

fazer e de sentir, externas ao indivíduo e dotadas<br />

de um poder coercivo em cuja virtude se impõe.”<br />

O fato social o leva a distinguir entre consciência<br />

coletiva e consciência individual, que<br />

precisamente vai delimitar os campos da <strong>Sociologia</strong><br />

e da Psicologia; assim, a consciência coletiva<br />

refere-se a modos de pensar, sentir e fazer que<br />

constituem a herança comum de uma sociedade<br />

(DURKHEIM, 2000).<br />

Para Martins (1987, p. 29), isso será “[...] a<br />

cultura que atribui a cada sociedade seus traços<br />

distintivos, frente a esta consciência coletiva, situa-se<br />

a consciência individual, definida como o<br />

universo privado de cada um.”<br />

As sociedades vão variar em função do diferente<br />

grau de coerção que as consciências coletivas<br />

exercem sobre as consciências individuais,<br />

o que se traduz na possibilidade de que exista<br />

maior número de condutas desviadas (DUR-<br />

KHEIM, 2000).<br />

6.15 Ideologia<br />

A palavra ‘ideologia’ carrega vários significados<br />

e é usada para diferentes finalidades. “A ideologia<br />

é – de qualquer maneira – o processo pelo<br />

qual as ideias da classe dominante tornam-se<br />

ideias de todas as classes sociais, tornam-se ideias<br />

dominantes.” (CHAUÍ, 1984, p. 92).<br />

A ideologia tem, então, influência marcante<br />

na conformação social da sociedade capitalista,<br />

pois ajuda a ocultar suas contradições. Ela tem,<br />

pois, a função de apagar as diferenças, como as<br />

de classe, oferecendo referenciais universais para<br />

a unificação da sociedade. Nesse sentido, é interessante<br />

notar que a ideologia trabalha para a naturalização<br />

das contradições sociais, justificando e<br />

criando condições para a aceitação de determinadas<br />

situações aparentemente naturais, mas que<br />

na verdade são produtos da intervenção humana.<br />

Um exemplo disso é a ideia que está na divisão de<br />

classes da sociedade capitalista, isto é, de que o<br />

rico já nasceu rico e o pobre já nasceu pobre; ou a<br />

ideia criminalizante de que o pobre é inclinado à<br />

marginalidade.<br />

Segundo Chauí (1984), isso significa que:<br />

• as ideias da classe dominante, na sociedade<br />

capitalista, prevalecem sempre<br />

sobre as ideias das classes subalternas;<br />

• para tanto, os membros da sociedade<br />

não se percebem como categorias diferentes,<br />

ou seja, como classes sociais<br />

distintas;<br />

42<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br


<strong>Sociologia</strong><br />

• o mecanismo para unificação passa<br />

pelo discurso que a classe dominante<br />

cria e depois distribui para as classes<br />

subalternas por meio da educação, da<br />

arte e dos meios de comunicações;<br />

• essas ideias não exprimem a realidade<br />

real, contrariamente a isso, elas apenas<br />

representam a aparência social, ocultando<br />

dos indivíduos as contradições<br />

do mundo real.<br />

6.16 Alienação<br />

Dicionário<br />

Alienação: processo em que o ser humano se afasta<br />

de sua real natureza, tornando-se estranho a si<br />

mesmo na medida em que já não controla sua atividade<br />

essencial (o trabalho), pois os objetos que<br />

produz, as mercadorias, passam a adquirir existência<br />

independente do seu poder e antagônica aos<br />

seus interesses.<br />

Depois de conceituar mais-valia, Marx compreende<br />

que o trabalhador não poderia perceber<br />

a exploração da qual era vítima, pois se encontrava<br />

alienado. Alienado é o que está fora, o que<br />

não lhe pertence e a mercadoria que é produzida<br />

pelo operário no mundo capitalista não pertence<br />

a ele. Costuma-se afirmar que o poder do povo é<br />

inalienável, se ele é inalienável é porque ele não<br />

pode ser vendido. Por outro lado, costumam-se<br />

encontrar nas ruas da cidade placas com os seguintes<br />

dizeres: “Compro seu carro, mesmo alienado”.<br />

O que isso quer dizer? Simplesmente que<br />

o carro não pertence ao seu condutor e sim a alguma<br />

financiadora de que o indivíduo comprou<br />

o carro em 24, 36, ou em 48 prestações. Portanto,<br />

enquanto ele não acabar de pagar o carro, o carro<br />

estará alienado à financiadora.<br />

A alienação manifesta-se, então, na vida real<br />

do homem, sobretudo a partir da divisão do trabalho,<br />

pois quando isso acontece o produto de<br />

seu trabalho deixa de lhe pertencer. Na medida<br />

em que ele não tem mais domínio sobre aquilo<br />

que faz, ele está resolutamente alienado: não escolhe<br />

o salário, não escolhe o horário nem o ritmo<br />

do trabalho, sendo, portando, comandado de<br />

fora por forças exteriores a ele. Ocorre, então, o<br />

que Marx chama de fetichismo da mercadoria. O<br />

fetichismo leva a crer que a mercadoria tem vida<br />

própria, isto é, como se não houvesse nela a intervenção<br />

humana.<br />

Nos dizeres de Chauí (1984, p. 57),<br />

as coisas-mercadorias começam, pois, a<br />

se relacionar umas com as outras como<br />

se fossem sujeitos sociais dotados de vida<br />

própria (um apartamento estilo ‘mediterrâneo’<br />

vale um ‘modo de viver’, um cigarro<br />

vale ‘um estilo de vida’, um automóvel<br />

zero Km. vale ‘um jeito de viver’ uma bebida<br />

vale ‘a alegria de viver’, uma calça vale<br />

‘uma vida jovem’). E os homens-mercadorias<br />

aparecem como coisas (um nordestino<br />

vale R$ 20,00 à hora na construção<br />

civil, um médico vale R$ 2.000,00 à hora<br />

no seu consultório). A mercadoria passa<br />

a ter vida própria indo da fábrica à loja,<br />

da loja à casa, como se caminhasse sobre<br />

seus próprios pé.<br />

E continua sua argumentação.<br />

O primeiro momento do fetichismo é<br />

este: a mercadoria é um fetiche (no sentido<br />

religioso da palavra), uma coisa que<br />

existe em si e por si. O segundo momento<br />

do fetichismo, mais importante é o<br />

seguinte: assim como o fetiche religioso<br />

(deuses, objetos, símbolos, gestos) tem<br />

poder sobre seus crentes ou adoradores,<br />

os domina como uma força estranha, assim<br />

também a mercadoria. O mundo se<br />

transforma numa imensa fantasmagoria.<br />

(CHAUÍ, 1984, p. 56-57).<br />

A mercadoria adquire, portanto, na sociedade<br />

capitalista valor superior ao homem, pois<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

43


Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />

se privilegiam as relações entre coisas e são essas<br />

coisas que vão intermediar as relações entre as<br />

pessoas.<br />

Com o advento da Revolução Bochevique,<br />

a aceitação dos ideais marxistas ganhou impulso<br />

renovado; no século XX, difundiam-se pelos quatro<br />

continentes. Os ideais marxistas serviram de<br />

estímulo na luta pela independência que surgia<br />

nas colônias europeias da África e da Ásia, após<br />

a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, assim<br />

como a luta por soberania e autonomia, existente<br />

nos países latino-americanos.<br />

Em 1919, surgiram partidos comunistas<br />

na América do Norte, na China e no México. Em<br />

1920, no Uruguai; em 1922, no Brasil e no Chile;<br />

e, em 1925, em Cuba. O movimento revolucionário<br />

tornava-se mais forte à medida que os Estados<br />

Unidos e a URSS emergiam como potências<br />

mundiais e passavam a disputar sua influência<br />

no mundo. Várias revoluções, como a chinesa, a<br />

cubana, a vietnamita e a coreana, instauraram<br />

regimes operários, que, apesar das suas diferenças,<br />

organizavam um sistema político com algumas<br />

características comuns – forte centralização,<br />

economia altamente planejada, coletivização dos<br />

meios de produção, fiscalismo e uso intenso de<br />

propaganda ideológica e do culto ao dirigente.<br />

Intensificava-se, nos anos 50 e 60, a oposição<br />

entre os dois blocos mundiais – o capitalista,<br />

liderado pelos Estados Unidos, e o socialista, liderado<br />

pela URSS. A polarização política e ideológica<br />

é transferida para o conjunto do método e da<br />

teoria marxista, que passam a ser usados sob o<br />

peso da direção do stalinismo na URSS e dos partidos<br />

comunistas a ele filiados, como um corpo<br />

doutrinário fechado para legitimar a tese do “socialismo<br />

em um só país”, preconizada pela liderança<br />

soviética e da gestão burocrática dos estados<br />

socialistas. O marxismo deixou de ser um método<br />

de análise da realidade social para transformar-<br />

-se em ideologia, perdendo, assim, parte de sua<br />

capacidade de elucidar os homens em relação ao<br />

seu momento histórico e mobilizá-los para uma<br />

tomada consciente de posição.<br />

Entre 1989 e 1991, desfazia-se o bloco soviético<br />

após uma crise interna e externa bastante<br />

intensa – dificuldade em conciliar as diferenças<br />

regionais e étnicas, falta de recursos para manter<br />

um estado de permanente beligerância, atraso<br />

tecnológico, excesso de burocracia, baixa produtividade,<br />

escassez de produtos, inflação e corrupção,<br />

entre outros fatores. O fim da União Soviética<br />

provocou um abalo nos partidos de esquerda do<br />

mundo todo e o redimensionamento das forças<br />

internacionais.<br />

Toda essa explicação a respeito do marxismo<br />

faz-se necessária por diversas razões. Em<br />

primeiro lugar, porque a sociologia confundiu-se<br />

com socialismo em muitos países, em especial<br />

nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento<br />

– como são hoje chamados os países dependentes<br />

da América Latina e da Ásia, surgidos<br />

das antigas colônias europeias. Nesses países, intelectuais<br />

e líderes políticos associaram de maneira<br />

categórica o desenvolvimento da sociologia ao<br />

desenvolvimento da luta política e dos partidos<br />

marxistas.<br />

A repercussão do pensamento sociológico<br />

desses três autores influenciou decisivamente os<br />

rumos da sociedade contemporânea. Pode-se dizer<br />

mesmo que há para a organização social um<br />

antes e um depois, estabelecido a partir das reflexões<br />

desses autores.<br />

44<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br


<strong>Sociologia</strong><br />

6.17 Resumo do Capítulo<br />

Caro(a) aluno(a), a estrutura social é um conjunto ordenado que forma um todo e integra os indivíduos<br />

dentro de uma ordem que define o papel de cada um de seus membros, e funciona também como<br />

um sistema de crenças e interesses que media as relações sociais. Numa estrutura social, temos status e<br />

papéis que são elementos opostos e complementares, um não poderia existir sem o outro. Um papel é a<br />

coleção de direitos culturalmente definidos, obrigações e expectativas que acompanham um status num<br />

sistema social. O Status atribuído é aquele que não é escolhido voluntariamente pelo indivíduo e não depende<br />

de suas ações e qualidades. Por exemplo, o status de “primogênito”. O Status adquirido está, então,<br />

associado à capacidade profissional, intelectual e de liderança do indivíduo na sociedade, é fruto do reconhecimento<br />

de sua capacidade; por exemplo, Pelé tem status adquirido pelas qualidades de seu futebol.<br />

6.18 Atividades Propostas<br />

1. Caracterize o status atribuído e adquirido.<br />

2. Todas as sociedades de grande escala têm cinco Instituições Sociais principais. Indique e caracterize<br />

duas.<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

45


7<br />

GLOBALIZAÇÃO<br />

A parte final desta apostila analisa as mudanças<br />

ocor ridas nas últimas décadas do século<br />

XX, que alteraram subs tancialmente o panorama<br />

político, econômico e ideológico mundial. Essas<br />

mudanças ficaram conhecidas como globalização<br />

econômica, estendendo-se posteriormente<br />

para outras áreas de influência à cultura principalmente.<br />

Saiba mais<br />

Globalização é um dos processos de aprofundamento<br />

da integração econômica, social, cultural e política que<br />

teria sido impulsionado pelo barateamento dos meios<br />

de transporte e comunicação dos países do mundo<br />

no final do século XX e início do século XXI.<br />

7.1 Histórico<br />

Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo<br />

viveu um período conhecido como Guerra Fria.<br />

Os protagonistas dessa guerra foram EUA e URSS.<br />

Visando aumentar a influência e a participação<br />

nas decisões globais, essas potências formaram<br />

alianças com outros países e dividiram o mundo<br />

em dois blocos ideologicamente distintos. De um<br />

lado, estavam os países partidários da economia<br />

de mercado e da democracia política. Do outro,<br />

encontravam-se os países alinhados com a economia<br />

planificada e com a hegemonia de um partido<br />

único.<br />

Essa divisão do mundo em dois blocos ficou<br />

conhecida como período do Sistema Bipolar, isto<br />

é, Sistema de Estados, cujo núcleo é constituído<br />

por duas superpotências que coexistem em relativo<br />

equilíbrio de poder, sobretudo militar. O sistema<br />

da Guerra Fria, que durou de 1947 a 1989, é<br />

o exemplo clássico do equilíbrio bipolar.<br />

Vejamos algumas das principais consequências<br />

da Guerra Fria:<br />

• A Europa deixou de ser o centro das decisões<br />

internacionais, condição de que<br />

desfrutava desde o início dos tempos<br />

modernos. Esse status de centro operador<br />

das decisões internacionais foi assumido<br />

pelos EUA.<br />

• A Europa foi dividida em duas áreas de<br />

influência, a parte ocidental do continente<br />

aliou-se aos EUA e a parte oriental<br />

aliou-se à União Soviética.<br />

• A Alemanha foi dividida em duas nações.<br />

De um lado, ficou a República<br />

Federal da Alemanha (Alemanha Ocidental),<br />

com capital em Bonn, sob influência<br />

dos EUA; do outro ficou a República<br />

Democrática Alemã (Alemanha<br />

Oriental), com capital em Berlim, sob a<br />

influência da União Soviética.<br />

• Criação, em 1949, da Organização do<br />

Tratado do Atlântico Norte (OTAN). A<br />

OTAN foi uma aliança militar que os EUA<br />

fizeram com a Europa Ocidental. Em<br />

resposta a essa aliança, a União Sovié-<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

47


Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />

tica criou, em 1955, o Pacto de Varsóvia.<br />

Aliança militar com os países da Europa<br />

Oriental.<br />

Saiba mais<br />

Guerra Fria é a designação atribuída ao período histórico<br />

de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre<br />

os Estados Unidos e a União Soviética, compreendendo<br />

o período entre o final da Segunda Guerra Mundial<br />

(1945) e a extinção da União Soviética (1991). Em<br />

resumo, foi um conflito de ordem política, militar, tecnológica,<br />

econômica, social e ideológica entre as duas<br />

nações e suas zonas de influência.<br />

A Guerra Fria manifestou-se também na rivalidade<br />

técnico-científica entre EUA e União Soviética.<br />

A corrida espacial foi, possivelmente, o lance<br />

mais espetacular dessa disputa. A União Soviética<br />

saiu na frente, quando, em 1957, Yuri Gagarin<br />

tornou-se o primeiro astronauta a fazer o voo em<br />

torno da Terra, anunciando do espaço sideral: “A<br />

Terra é azul”. Em 1969, os EUA responderam a essa<br />

investida e criaram a missão Apollo 11. Nela, Neil<br />

Armstrong tornou-se o primeiro homem a pisar<br />

no solo lunar. Essa disputa foi vivenciada também<br />

em outros campos; nos esporte principalmente,<br />

nas Olimpíadas, quando os representantes desses<br />

dois blocos travavam uma ferrenha disputa para<br />

conquistar a hegemonia do quadro de medalhas.<br />

7.2 Globalização e/ou Mundialização<br />

A década de 1980 foi caracterizada por uma<br />

série de transformações na União Soviética. As<br />

transformações vivenciadas naquele território<br />

atingiram como um vendaval os países socialistas.<br />

Nessa década, Mikhail Gorbatchev implantou<br />

a Perestroika (reforma) e, logo em seguida, a<br />

Glasnost (transparência). Essas medidas visavam<br />

a promover uma reforma política e uma abertura<br />

econômica para a União Soviética. Os países alinhados<br />

com a União Soviética sentiram os efeitos<br />

desses acontecimentos. A queda do Muro de<br />

Berlim, em 1989, e a consequente unificação das<br />

duas Alemanhas simbolizam a importância que<br />

essas transformações tiveram para os países socialistas,<br />

além de marcar o fim da Guerra Fria.<br />

A globalização surge, ou melhor, intensifica-<br />

-se, na esteira desses acontecimentos. Assim, da<br />

competição militar passou-se para a competição<br />

econômica e cultural. A globalização caracteriza-<br />

-se por um conjunto de mudanças no processo<br />

de produção de riquezas, nas relações de trabalho,<br />

no papel do Estado e nas formas de dominação<br />

sociocultural. A partir da década de 1970, o<br />

capital começou a circular mais livremente e as<br />

empresas buscaram uma maior participação no<br />

mercado mundial. Uma das maiores transformações<br />

operadas pelo fenômeno da globalização<br />

foi a exportação dos hábitos de consumo e do<br />

modo de vida dos países desenvolvidos para os<br />

países subdesenvolvidos. Marcas mundialmente<br />

conhecidas, redes de fast food e grandes redes<br />

de supermercados passaram a fazer parte da vida<br />

cotidiana de todos.<br />

Se, por um lado, essa nova realidade trouxe<br />

acessibilidade a um número considerável de produtos<br />

e bens de consumo para o indivíduo, não<br />

podemos desconsiderar que, por outro, contribuiu<br />

para descaracterizar as culturas locais, como<br />

nos alerta Silva (2004).<br />

[...] é no decorrer do século XX que o<br />

movimento da mundialização forma-se<br />

completamente. No campo da cultura, tal<br />

movimento engendra ‘diásporas culturais’.<br />

Há uma produção de gostos, crenças<br />

e hábitos que transcendem as fronteiras<br />

nacionais. As feições culturais diaspóricas<br />

apresentam aspectos estandardizados,<br />

que são em larga medida fortalecidos<br />

pela manifestação midiática. Um exemplo<br />

emblemático é o que estudiosos começam<br />

a definir como internacionalização<br />

dos comportamentos alimentares.<br />

Esse processo traduz-se em dois pontos:<br />

primeiro, a pluralização dos produtos, ou<br />

48<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br


<strong>Sociologia</strong><br />

seja, uma área não se caracteriza mais por<br />

uma quantidade restrita de alimentos<br />

cultivados localmente; segundo, a transformação<br />

da cozinha tradicional (pratos<br />

típicos) para uma outra, industrializada,<br />

cujos alicerces estão na produção em alta<br />

escala. Isso não significa que pratos reconhecidos<br />

tradicionalmente deixem de<br />

existir; porém, assumem uma nova conotação.<br />

A sofisticação que requer uma verdadeira<br />

pizza italiana torna-se inadequada<br />

à valorização do tempo pelos vorazes<br />

consumidores que freqüentam Shopping<br />

Center. Na verdade, os alimentos perdem<br />

sua territorialidade e são deslocalizados<br />

em proporções globais. A esse respeito, é<br />

sugestivo a caso da empresa McDonald’s.<br />

(SILVIA, 2004, p. 594).<br />

A globalização pode, então, ser vista como<br />

o esvaziamento de culturas locais em benefício<br />

de culturas globais. Em outras palavras, comunidades<br />

locais, até então fechadas em suas próprias<br />

idiossincrasias, passam a receber influências de<br />

outras culturas, que vão dos hábitos alimentares,<br />

passando pelo uso da língua, para, finalmente,<br />

atingir e modificar as tradições e costumes das<br />

comunidades com menos poder de influência e<br />

comunicação. Nesse cenário, tornar-se “igual” ou<br />

“semelhante” à cultura hegemônica é uma meta a<br />

ser alcançada pelas culturas regionais.<br />

A cultura regional vai, assim, neste mundo<br />

globalizado, paulatinamente diminuindo a influência<br />

e a participação na vida dos indivíduos.<br />

Em outras palavras, as culturas com menos poder<br />

de participação e influência na vida das pessoas<br />

e no mercado mundial se descaracterizando e<br />

cedendo espaço para uma cultura cada vez mais<br />

estranha à realidade local, mas, apesar disso, vendável<br />

e lucrativa. É, por isso, exatamente por isso,<br />

que a história ou o mito do saci pererê, da mula<br />

sem cabeça e do currupira tem menos impacto<br />

na vida dos jovens do que o pastiche do halloween.<br />

Assim, em meio à mundialização 6 cultural,<br />

passa a existir uma ativação das relações sociais<br />

num circuito aberto, no qual as diferentes localidades<br />

aproximam-se e assemelham-se, moldadas<br />

por transformações sociais que ultrapassam as<br />

fronteiras de convivência regional.<br />

Conforme você pode observar, um exemplo<br />

emblemático dessa situação é a presença<br />

das multinacionais no mundo. Na visão do norte-<br />

-americano Behrman 7 (1984), as multinacionais<br />

são divididas em três tipos: as que buscam recursos<br />

em outros países, ou seja, companhias que<br />

buscam recursos naturais ou humanos em países<br />

hospedeiros; as que buscam mercados, isto é,<br />

companhias que investem no exterior, para servir<br />

ao mercado do país hospedeiro; e as que buscam<br />

eficiência, ou seja, dirigem investimentos externos<br />

a fim de criar a rede de produção mais eficiente<br />

para servir a múltiplos mercados padronizados<br />

mundialmente.<br />

Todos esses aspectos, além da presença das<br />

multinacionais nos países subdesenvolvidos, contribuíram<br />

para reordenar o modo de ser e viver do<br />

indivíduo nessas localidades. Portanto, no centro<br />

da vida cotidiana, que exige dos indivíduos novas<br />

e constantes identidades sociais, o encontro com<br />

a uniformização cultural é uma saída cômoda, já<br />

que permite ao indivíduo despir-se de sua cultura<br />

(considerada inferior) para associar-se a uma<br />

cultura (considerada superior), a de “todos”. O cultivo<br />

da língua inglesa em escala planetária é um<br />

exemplo que salta aos olhos, pois essa língua, e<br />

somente ela, é capaz de lhe conectar aos símbolos<br />

globalizados. A emergência da indústria cultural<br />

nos países do capitalismo central e popularização<br />

dos novos meios de comunicação e informação<br />

contribuíram decisivamente para a consolidação<br />

desse fenômeno, como defende Silva (2004).<br />

O modo de produção industrial retrabalhado<br />

no campo da cultura tem a capacidade<br />

de desenvolvê-la em escala<br />

6<br />

Mundialização é outra maneira que os franceses encontraram para definir a integração dos mercados econômicos. Assim, o<br />

que os ingleses chamam de globalização os franceses chamam de mundialização.<br />

7<br />

Behrman – Professor Emérito da Cátedra Luther Hodges, da Escola de Pós-Graduação de Administração de Empresas da<br />

Universidade da Carolina do Norte, Estados Unidos.<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

49


Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />

mundial. As manifestações culturais, que<br />

antes se limitavam à esfera local, agora<br />

se espraiam globalmente. Um exemplo<br />

significativo desse movimento é o da indústria<br />

fonográfica. A característica central<br />

dessas empresas é a adoção de uma<br />

estratégia de ação mundial. [...] A indústria<br />

de publicidade também integra o<br />

processo de mundialização. Não é lícito<br />

asseverar que as indústrias fonográfica<br />

e publicitária já estejam, no alvorecer do<br />

século XX, definitivamente estruturadas.<br />

No entanto, elas constituem um esteio<br />

fundamental que possibilita intercâmbios<br />

culturais de proporções mundiais.<br />

Tais trocas seriam fortalecidas ainda mais<br />

com a difusão do rádio e da televisão.<br />

Se inicialmente esses aparelhos ganham<br />

força entre as nações ricas, num segundo<br />

momento pode-se notar sua presença<br />

nos países terceiro-mundistas. [...] É notória<br />

a influência do avanço tecnológico na<br />

globalização da cultura. Há toda uma estrutura<br />

material – computador, fax, satélites<br />

– que torna possível a comunicação<br />

à distância, entre partes afastadas. [...] O<br />

mundo tornou-se uma cadeia comunicacional<br />

em que os espaços estão interconectados.<br />

(SILVIA, 2004, p. 595).<br />

A indústria cultural teve, então, entre outros,<br />

o mérito de difundir para o mundo as inovações<br />

tecnológicas. Essas novas técnicas – o rádio, o cinema,<br />

a indústria fonográfica e a televisão – foram<br />

incorporadas pelos jovens como forma mais<br />

cotidiana de interferência em um mundo social<br />

para eles agora, cada vez mais, amplificado. Em<br />

outras palavras, dentro dessa indústria cultural, a<br />

publicidade fez emergir e proliferar um novo estilo<br />

de vida. Esse novo estilo de vida foi impulsionado<br />

pela música, pelos filmes e pela publicidade,<br />

sobretudo de língua inglesa. Há, em tudo isso,<br />

uma face legitimadora da cultura hegemônica,<br />

que consegue impor para os países periféricos a<br />

sua visão de mundo. Tendo uma infraestrutura de<br />

dependência, os países periféricos passam também<br />

a ter uma cultura dependente. Assim, pode<br />

ocorrer que, “através da propaganda de massa, o<br />

desprotegido homem do Terceiro Mundo caia na<br />

armadilha do consumismo e mude seu comportamento<br />

para adaptar-se aos propósitos e objetivos<br />

da indústria estrangeira.” (GUARESCHI, 1983,<br />

p. 65).<br />

7.3 Meio Ambiente<br />

Os problemas ambientais são antigos, mas<br />

foi somente nas últimas décadas do século XX<br />

que essa questão ganhou relevo. As atividades<br />

humanas começaram a causar maior impacto na<br />

natureza com o advento da Revolução Industrial,<br />

que iniciou a produção em massa e a substituição<br />

das fontes de energia limpas pelo carvão e pelo<br />

petróleo.<br />

A concentração da população nas áreas urbanas<br />

colaborou também para essa situação. A<br />

cidade é a expressão mais acabada da alteração<br />

do espaço natural. Rios canalizados, quando não<br />

desviados de seu curso natural, e impermeabilização<br />

dos solos, com o asfalto entre outras interferências<br />

humanas, colaboraram para o quadro de<br />

calamidade ambiental que estamos vivendo.<br />

Em 1972, em Estocolmo, na Suécia, representantes<br />

de 113 países reuniram-se para debater<br />

os problemas do meio ambiente. Nesse encontro,<br />

duas posições eram defendidas. A primeira,<br />

da qual o Brasil era signatário, defendia o crescimento<br />

a qualquer custo, isto é, não importava<br />

se a indústria poluía, o que importava eram os<br />

“benefícios” que ela possivelmente traria para o<br />

Brasil. A segunda posição alertava que o planeta<br />

poderia exaurir suas fontes de energia em apenas<br />

um século se mantivesse a tendência de aumento<br />

da produção, consumo e poluição. Essa proposta<br />

foi, ironicamente, batizada como política do crescimento<br />

zero, sendo amplamente rejeitada pela<br />

maioria dos países.<br />

A Conferência de Estocolmo foi de qualquer<br />

forma um marco na tomada de posição e cons-<br />

50<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br


<strong>Sociologia</strong><br />

ciência para o homem contemporâneo sobre as<br />

questões ambientais. Um ano depois da Conferência<br />

de Estocolmo foi lançada a ideia de Desenvolvimento<br />

Sustentável. A ideia básica desse<br />

conceito é que o atendimento às necessidades<br />

básicas das populações, no presente, não deve<br />

comprometer a vida das gerações futuras. Daí a<br />

consciência e necessidade de que os produtos<br />

podem e devem ser reaproveitados por meio da<br />

reciclagem.<br />

Em 1992, o Rio de Janeiro abrigou a Conferência<br />

das Nações Unidas sobre o Ambiente e o<br />

Desenvolvimento, também chamada de Eco-92.<br />

A novidade desse encontro foi a grande presença<br />

de Organizações não Governamentais (ONGs). Entre<br />

outros benefícios, essa conferência elaborou<br />

a Agenda 21, que se responsabilizou a fornecer<br />

recomendações de como alcançar o desenvolvimento<br />

sustentável no século XXI. Um dos pontos<br />

centrais desse documento está no princípio<br />

de que a conservação ambiental do planeta não<br />

pode ser alcançada sem a erradicação da pobreza<br />

e das desigualdades sociais. Essa conferência estabeleceu<br />

ainda a Convenção do Clima, que elaborou<br />

metas e estratégias de combate ao efeito<br />

estufa. Criou também a Declaração de Princípios<br />

sobre a Floresta, que garantiu aos Estados o direito<br />

soberano de aproveitar as florestas de acordo<br />

com suas necessidades de desenvolvimento, desde<br />

que isso ocorra de modo sustentável.<br />

Em 2002, ocorreu a Cúpula Mundial sobre<br />

Desenvolvimento Sustentável em Joanesburgo,<br />

capital da África do Sul, conhecida também como<br />

Rio +10. Uma das principais discussões dessa cúpula<br />

girou em torno da mudança da matriz energética<br />

do mundo (petróleo) por fontes de energia<br />

renováveis. Os EUA e a OPEP (Organização dos<br />

Países Exportadores de Petróleo) recusaram-se a<br />

assinar esse compromisso.<br />

Como se vê, a questão do meio ambiente<br />

está cercada de interesses comerciais, industriais<br />

e também regionais. Nesse clima de disputa,<br />

quem perde são os países subdesenvolvidos, que<br />

são constrangidos a acatar determinações que<br />

não são seguidas pelos países desenvolvidos. Um<br />

exemplo notório foi a recusa dos EUA em assinar<br />

o Protocolo de Kyoto, alegando que a ratificação<br />

desse documento travaria o desenvolvimento daquela<br />

sociedade.<br />

Saiba mais<br />

Concluído em 1997 em Kyoto, no Japão, o protocolo<br />

de Kyoto impõe a redução de seis gases causadores<br />

de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento do<br />

planeta. Entre esses gases, está o CO2 (dióxido de carbono<br />

ou gás carbônico) e o CH4 (metano).<br />

O fato é que o dióxido de carbono e o gás<br />

metano emitidos pelas fábricas e pelos veículos<br />

são os principais responsáveis pelo efeito estufa.<br />

Os EUA são os maiores produtores e têm a maior<br />

frota de veículos do mundo; ainda assim recusaram-se<br />

a assinar o Protocolo de Kyoto e tentaram,<br />

com isso, transferir responsabilidade pelo efeito<br />

estufa para os países subdesenvolvidos, alegando,<br />

entre outras coisas, que as queimadas das<br />

florestas tropicais emitem mais gás carbônico do<br />

que as fábricas e veículos.<br />

Frente a esse impasse, todos nós pagamos,<br />

pois somos obrigados a respirar um ar de baixa<br />

qualidade, beber água em condições duvidosas e<br />

ainda sofrer as consequências de um clima descontrolado.<br />

Por isso, impõe-se a todos nós a urgente<br />

necessidade de empunhar a bandeira do<br />

meio ambiente sob pena de legarmos aos nossos<br />

descendentes um planeta sem condições de ser<br />

habitado.<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

51


Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />

7.4 Resumo do Capítulo<br />

Caro(a) aluno(a), neste capítulo final, foi possível observar as mudanças ocor ridas nas últimas<br />

décadas do século XX, que ficaram conhecidas como globalização econômica. Após a Segunda Guerra<br />

Mundial, o mundo viveu um período conhecido como Guerra Fria. Durante essa guerra a rivalidade<br />

técnico-científica entre EUA e União Soviética ficou marcada pela corrida espacial. Já a década de 1980<br />

foi caracterizada por uma série de transformações na União Soviética, Mikhail Gorbatchev implantou a<br />

Perestroika (reforma) e, logo em seguida, a Glasnost (transparência). Essas medidas visavam a promover<br />

uma reforma política e uma abertura econômica para a União Soviética. A queda do Muro de Berlim, em<br />

1989, e a consequente unificação das duas Alemanhas simbolizam a importância que essas transformações<br />

tiveram para os países socialistas, além de marcar o fim da Guerra Fria.<br />

7.5 Atividades Propostas<br />

1. Explique o que é sistema bipolar.<br />

2. A Conferência de Estocolmo ocorrida em 1972, na Suécia, reuniu representantes de 113 países<br />

para debater os problemas do meio ambiente. Quais propostas resultaram desse encontro?<br />

52<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br


8<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Considerando o que você estudou nesta apostila, você pode perceber que as primeiras tentativas<br />

de compreender a ação humana esbarraram em interpretações teológicas, mitológicas e muitas vezes<br />

fantasiosas. Assim, para os gregos, os fenômenos “sociais” tinham uma base de explicação mitológica,<br />

isto é, Zeus, senhor dos homens e dos deuses, era quem mantinha a ordem do mundo moral e físico. Na<br />

Idade Média, os acontecimentos sociais estavam, por sua vez, relacionados a um princípio teológico que<br />

cingia a liberdade do indivíduo, visto que as explicações para todas as mazelas sociais estavam fundamentadas<br />

no discurso da vontade “divina”. Com toda essa transformação social que ocorreu no mundo,<br />

os problemas ambientais surgiram com intensidade e somente nas últimas décadas do século XX que<br />

essa questão ganhou relevo. A cidade é a expressão mais acabada da alteração do espaço natural. Rios<br />

canalizados, impermeabilização dos solos, com o asfalto, entre outras interferências humanas colaboraram<br />

para o quadro de calamidade ambiental que estamos vivendo. Para amenizar esses problemas, a<br />

Conferência de Estocolmo foi um marco na tomada de posição e consciência do homem contemporâneo<br />

sobre as questões ambientais.<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

53


RESPOSTAS COMENTADAS DAS<br />

ATIVIDADES PROPOSTAS<br />

Capítulo 1<br />

1. Conforme estudamos, o primeiro procura uma interpretação e o consequente entendimento<br />

dos fatos e dos fenômenos por meio da experiência e comprovação da razão; o segundo, ao<br />

contrário, limita-se à experiência imediata sem preocupações e comprovações empíricas.<br />

2. Espera-se que você tenha respondido algo semelhante ao que segue:<br />

a) Iniciação – quando a criança, com catorze anos, passa da educação materna à instrução<br />

sacerdotal.<br />

b) Admissão – quando o indivíduo aos vinte e um anos está preparado para servir à humanidade,<br />

retribuindo tudo que recebeu da sociedade.<br />

Capítulo 2<br />

1. Você deve ter respondido que ele é, segundo Durkheim, experimentado pelo indivíduo como<br />

uma realidade independente dele, que ele não criou e não pode rejeitar como as regras morais,<br />

as leis, os costumes, os rituais e as práticas burocráticas, por exemplo.<br />

2. Esperamos que você tenha percebido que foi logo após a Primeira Guerra Mundial, momento<br />

em que a Alemanha vivia uma grande crise econômica e convivia ainda com as retaliações do<br />

Tratado de Versalhes; em decorrência disso, o nazismo firmava-se como realidade. Concomitantemente<br />

a esses acontecimentos, a Revolução Russa acabara de triunfar e sinalizava para<br />

o mundo uma nova possibilidade de sociedade. Tudo isso incidia de forma decisiva nas ideias<br />

dos jovens judeus marxistas Adorno, Marcuse e Horkheimer.<br />

Capítulo 3<br />

1. Você deve ter respondido que foi no estudo das religiões, estabelecendo relações entre formações<br />

políticas e crenças religiosas.<br />

2. Conforme você estudou, isso aconteceu em decorrência de sua descentralização política.<br />

Capítulo 4<br />

1. Espera-se que você tenha respondido que foi escrita por Max Weber e sua temática versa sobre<br />

as contribuições da religião protestante para o desenvolvimento do capitalismo.<br />

2. Você deve ter identificado que a Ação afetiva é aquela determinada por afetos ou estados sentimentais;<br />

e Ação tradicional é aquela determinada por um costume ou um hábito arraigado.<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

55


Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />

Capítulo 5<br />

1. Conforme você estudou, o nível da infraestrutura é constituído pela base econômica, que é,<br />

segundo Marx, o aspecto fundamental de toda sociedade, isto é, transformar matérias-primas<br />

e fontes de energia em riqueza.<br />

2. Espera-se que sua resposta aponte que o modo de produção feudal predominou na Europa<br />

Ocidental do século VI ao século XVI. A sociedade feudal estava baseada nas relações servis,<br />

isto é, senhores versus servos. Os servos estavam presos ao trabalho da terra. Eles cultivavam<br />

um pedaço de terra cedido pelo senhor e em troca pagavam impostos, cedia parte da produção<br />

para o senhor e ainda eram obrigados a trabalhar e cuidar das terras do senhor. Apesar<br />

disso, não eram escravos, pois o servo não era propriedade do senhor, portanto não podia ser<br />

negociado como uma mercadoria, como ocorria com os escravos.<br />

Capítulo 6<br />

1. Você deve ter distinguido as duas formas de status, como segue: status atribuído é aquele que<br />

não é escolhido voluntariamente pelo indivíduo e não depende de suas ações e qualidades.<br />

Por exemplo, o status de “primogênito” ou de “filho de operário”. Já o status adquirido é obtido<br />

de acordo com as qualidades pessoais do indivíduo. Esse status confere ao indivíduo uma<br />

posição de destaque entre os membros do grupo de pertencimento, pois seu status é fruto do<br />

reconhecimento de sua capacidade.<br />

2. Espera-se que você aponte as diferenças que seguem:<br />

a) Religiosa – que reforça os valores; dá significado e propósito à vida;<br />

b) Econômica – que organiza a produção e distribuição de bens e serviços.<br />

Capítulo 7<br />

1. Segundo o que você estudou, esperamos que tenha pontuado em sua resposta que é um<br />

Sistema de Estados, cujo núcleo é constituído por duas superpotências que coexistem em<br />

relativo equilíbrio de poder, sobretudo militar.<br />

2. Você deve ter respondido que surgiram duas propostas, a primeira foi defendida pelo Brasil e<br />

defendia o crescimento a qualquer custo, isto é, não importava se a indústria poluía. A segunda<br />

posição, defendida por alguns ambientalistas, alertava que o planeta poderia exaurir suas<br />

fontes de energia em apenas um século se mantivesse a tendência de aumento da produção,<br />

consumo e poluição.<br />

56<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br


REFERÊNCIAS<br />

ADORNO, T. Indústria cultural. In: COHN, G. (Org.). Comunicação e indústria cultural. São Paulo:<br />

Nacional, 1977.<br />

BENOIT, L. O. <strong>Sociologia</strong> comteana. São Paulo: Discurso Editorial, 1999.<br />

CALDAS, W. O que todo cidadão precisa saber sobre cultura de massa. São Paulo: Global, 1999.<br />

CHAUÍ, M. O que é ideologia. 14. ed. São Paulo: Brasiliense, 1984.<br />

COMTE, A. Discurso sobre o espírito positivo. São Paulo: Martins Fontes, 1990.<br />

COSTA, C. <strong>Sociologia</strong> – Introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 1997.<br />

DURKHEIM, E. Lições de sociologia: a moral, o direito e o Estado. São Paulo: Martins Fontes, 2000.<br />

______. As regras do método sociológico. São Paulo: Martin Claret, 2004.<br />

GUARESCHI, P. A. Comunicação e poder: a presença e o papel dos meios de comunicação de massa<br />

estrangeiros na América Latina. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1983.<br />

HUBERMAN, L. História da riqueza do homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1972.<br />

LAKATOS, E. M; MARCONI, M. de A. <strong>Sociologia</strong> geral. São Paulo: Atlas, 1999.<br />

LEMOS FILHO, A. (Coord.). <strong>Sociologia</strong> geral e do direito. São Paulo: Alínea, 2004.<br />

MARTINS, C. B. O que é sociologia? São Paulo: Brasiliense, 1987.<br />

MORIN, E. Cultura de massa no século XX: neurose. Rio de Janeiro: Universitária, 1997.<br />

NETTO, J. P. O que é marxismo. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.<br />

RIBEIRO JR., J. O que é positivismo. 6. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.<br />

RODRIGUES, J. A. Durkheim. São Paulo: Ática, 2003.<br />

SANTOS, R. As teorias da comunicação: da fala à internet. São Paulo: Global, 2003.<br />

SCURO, P. <strong>Sociologia</strong>: ativa e didática. São Paulo: Saraiva, 2004.<br />

SILVA, J. M. da. A autonomia da escola pública: a re-humanização da escola. Campinas: Papirus, 2004.<br />

WEBER, M. Ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1982.<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

57


Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />

______. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Martin Claret, 2003.<br />

WOLF, M. Teorias da comunicação. Lisboa: Presença, 1987.<br />

58<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!