pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...
pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...
pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
20<br />
vazio de <strong>se</strong>ntido e não <strong>se</strong> restringe ao significado. Este não dá conta do significante <strong>que</strong><br />
pode deslizar por vários <strong>se</strong>ntidos e ain<strong>da</strong> assim é livre, não <strong>se</strong> encontra fixado a nenhum<br />
significado. “O <strong>que</strong> caracteriza, no nível <strong>da</strong> distinção significante/significado [...] é<br />
propriamente <strong>que</strong> o significado rateia.” (LACAN, 1972-73/2008, p.26-27). O significado<br />
falha, pois não pode abarcar com uma denominação o <strong>que</strong> é o sujeito.<br />
A relação <strong>que</strong> <strong>se</strong> estabelece para a psicanáli<strong>se</strong> com a linguística é entre<br />
significantes. O sujeito é, portanto, efeito <strong>da</strong> relação entre dois significantes, designados de<br />
S1 e S2, aparece no intervalo entre um significante e outro.<br />
Lacan (1966/1998, p.833) apre<strong>se</strong>nta o <strong>se</strong>guinte teorema: “o significante repre<strong>se</strong>nta<br />
o sujeito para outro significante”. Mas, o <strong>que</strong> significa, o <strong>que</strong> diz do sujeito? Lacan afirma<br />
<strong>que</strong> o significante sozinho não significa na<strong>da</strong>. É preciso <strong>que</strong> ele <strong>se</strong> encadeie com outros<br />
para advir alguma significação. Es<strong>se</strong> significante <strong>que</strong> repre<strong>se</strong>nta o sujeito é vazio de<br />
significação, <strong>se</strong>ndo aí <strong>que</strong> reside <strong>se</strong>u valor de significante. É o <strong>que</strong> Lacan (1972-73, p.27)<br />
assinala ao fazer referência ao significante quando fala dos anjos: “Não <strong>que</strong> eu não creia<br />
nos anjos [...] simplesmente não creio <strong>que</strong> eles tragam a mínima mensagem, e é no <strong>que</strong> eles<br />
são ver<strong>da</strong>deiramente significantes”. Apesar disso, é possível aos sujeitos atribuir<br />
significações aos significantes em sua vi<strong>da</strong>: “[...] o significante cria o significado, e é a<br />
partir do <strong>se</strong>m <strong>se</strong>ntido do significante <strong>que</strong> <strong>se</strong> engendra a significação” (MILLER, 1987,<br />
p.21).<br />
Os significantes não estão colados aos significados, o <strong>que</strong> permite engendrar<br />
diversos <strong>se</strong>ntidos. São desprovidos de uso e ao mesmo tempo <strong>se</strong> prestam a todo uso <strong>que</strong> o<br />
sujeito pode fazer a partir <strong>da</strong> linguagem. “[...] como bem <strong>se</strong> vê no fato de <strong>que</strong> os objetos <strong>da</strong><br />
troca simbólica – vasos feitos para ficar vazios, escudos pesados demais para carregar,<br />
feixes <strong>que</strong> <strong>se</strong> res<strong>se</strong>carão, lanças enterra<strong>da</strong>s no solo – são desprovidos de uso [...].”<br />
(LACAN, 1956/1998, p.273).<br />
“Tudo surge <strong>da</strong> estrutura do significante” (LACAN, 1964/1979, p. 196). O sujeito<br />
quando fala não é <strong>se</strong>nhor de suas palavras, é atravessado pelo dito <strong>que</strong> vem do Outro 3 ,<br />
tesouro de todos os significantes. “Se o sujeito é o <strong>que</strong> lhe ensino, a saber, o sujeito<br />
determinado pela linguagem e pela fala, isto <strong>que</strong>r dizer <strong>que</strong> o sujeito, in initio, começa no<br />
lugar do Outro, no <strong>que</strong> é lá <strong>que</strong> surge o primeiro significante.” (LACAN, 1964/1979,<br />
p.187).<br />
3<br />
Outro com maiúscula vem <strong>da</strong> palavra francesa autre (outro), diferenciando-o do outro com minúscula,<br />
a<strong>que</strong>le ao qual a criança estabelece uma relação especular, imaginária. Trata-<strong>se</strong>, portanto, do Outro enquanto<br />
linguagem, ou <strong>se</strong>ja, tesouro dos significantes ao qual todo sujeito está submetido as suas leis.