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pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

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absoluto pode transformar Schreber em mulher. Não qual<strong>que</strong>r uma, mas A Mulher <strong>que</strong><br />

recriaria uma nova humani<strong>da</strong>de com Deus.<br />

Seu corpo passa então a sofrer invasões de todo tipo para sua transformação em<br />

mulher, culminando num de <strong>se</strong>us delírios, <strong>se</strong>r A Mulher de Deus. É um corpo <strong>que</strong> passa a<br />

<strong>se</strong>r receptáculo de uma transformação divina. To<strong>da</strong> a constituição do delírio de Schreber <strong>se</strong><br />

dá devido à ausência do significante paterno <strong>que</strong> diante <strong>da</strong>s <strong>que</strong>stões <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> fornece ao<br />

sujeito uma resposta fálica, isto é, uma articulação simbólica. Ao <strong>se</strong>r nomeado, então, para<br />

exercer o lugar de juiz do tribunal de apelação, tem uma cri<strong>se</strong> e é internado. O sujeito só<br />

pôde responder com <strong>se</strong>u próprio <strong>se</strong>r diante do vazio de significação. Nas palavras de Lacan<br />

(1955-56/2008, p.185), “é preciso já ter o material significante para fazer significar <strong>se</strong>ja o<br />

<strong>que</strong> for”.<br />

É des<strong>se</strong> modo <strong>que</strong> a metáfora delirante surge como tentativa de suturar a ausência<br />

do Nome-do-Pai, consistindo num trabalho de reestruturação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de <strong>que</strong> <strong>se</strong> rompeu.<br />

A metáfora delirante consiste num trabalho com a palavra, isto é, é uma tentativa pela via<br />

simbólica, mesmo <strong>que</strong> delirante. Diferente <strong>da</strong> passagem ao ato, <strong>que</strong> <strong>se</strong>m mediação o sujeito<br />

pode desferir um golpe no outro a fim de escavar uma falta no Real. De todo modo, não <strong>se</strong><br />

trata apenas disso, mas de <strong>que</strong> a metáfora delirante consiste numa produção subjetiva,<br />

enquanto <strong>que</strong> a passagem ao ato é mais <strong>da</strong> invasão direta do Outro.<br />

A metáfora delirante coloca a possibili<strong>da</strong>de de estabelecer uma simbolização, haja<br />

vista, <strong>se</strong> tratar de um trabalho com o significante, localizando o gozo no lugar do Outro.<br />

Difere, portanto, <strong>da</strong> passagem ao ato por <strong>se</strong>r uma operação de linguagem e não uma<br />

extração no Real.<br />

Ao abor<strong>da</strong>r a passagem ao ato e a metáfora delirante como formas de estabilização<br />

na <strong>psico<strong>se</strong></strong>, resta falar <strong>da</strong> escrita como possibili<strong>da</strong>de de uma suplência <strong>que</strong>, diferente <strong>da</strong>s<br />

outras duas, trata-<strong>se</strong> de um trabalho do sujeito <strong>que</strong> tem estatuto de criação e possibilita<br />

estabelecer algum laço social. É válido ressaltar <strong>que</strong> mesmo <strong>que</strong> <strong>se</strong> produza algum tipo de<br />

escrita essa também pode vir acompanha<strong>da</strong> por um delírio.<br />

A escrita <strong>que</strong> está <strong>se</strong>ndo considera<strong>da</strong> neste trabalho não é apenas a escrita textual,<br />

mas as produções <strong>que</strong> inscrevem um sujeito pela amarração singular do Real, Simbólico e<br />

Imaginário. Essa ideia veio a partir <strong>da</strong> leitura <strong>da</strong> te<strong>se</strong> de doutorado de Guerra (2007) A<br />

estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência, na qual a autora<br />

abor<strong>da</strong> as diversas estratégias de estabilização, podendo culminar numa suplência, na<br />

<strong>psico<strong>se</strong></strong>.

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