Sistemas agroflorestais tradicionais e nÃveis de ... - Embrapa
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“<strong>Sistemas</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>tradicionais</strong> e níveis <strong>de</strong> biodiversida<strong>de</strong>”<br />
Jean C.L. Dubois<br />
REBRAF – Re<strong>de</strong> Brasileira Agroflorestal<br />
jean@rebraf.org.br
O documento caracteriza sistemas <strong>agroflorestais</strong><br />
e sistemas afins praticados em relativamente<br />
gran<strong>de</strong> escala e que apresentam altos níveis <strong>de</strong><br />
biodiversida<strong>de</strong> interna.<br />
Esses sistemas ocorrem em terras ocupadas por<br />
comunida<strong>de</strong>s <strong>tradicionais</strong>, sejam elas indígenas<br />
ou não indígenas. Os exemplos foram<br />
selecionados na Amazônia e no Bioma Mata<br />
Atlântica
Os altos níveis <strong>de</strong> biodiversida<strong>de</strong> interna<br />
(a) conferem uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “autoregulação”<br />
que explica os baixos níveis ali<br />
encontra-dos <strong>de</strong> doenças ou ataques <strong>de</strong><br />
insetos.<br />
(b) oferecem uma mais ampla gama <strong>de</strong><br />
produtos tanto para auto-consumo como para<br />
comercialização renda e, nesse sentido, maior<br />
resiliência às flutuações <strong>de</strong> preços praticados<br />
no mercado.<br />
(c) po<strong>de</strong>m gerar maiores serviços ambientais.
Na gran<strong>de</strong> maioria dos SAFs praticados nas<br />
comunida<strong>de</strong>s não <strong>tradicionais</strong>, os níveis <strong>de</strong><br />
biodiversida<strong>de</strong> interna são baixos: o agricultor,<br />
quando tem dinheiro, continua aplicando<br />
agrotóxicos ou <strong>de</strong>ve se contentar com uma<br />
renda reduzida.<br />
Os conhecimentos acumulados nos sistemas<br />
biodiversificados <strong>de</strong>vem ser repassados aos<br />
agricultores das comunida<strong>de</strong>s não <strong>tradicionais</strong>.
SAF com baixo nível <strong>de</strong> biodiversida<strong>de</strong><br />
Café com bracatinga (Espírito Santo)<br />
Foto JDubois
SAF com baixo nível <strong>de</strong> biodiversida<strong>de</strong><br />
Projeto RECA na fase inicial do projeto, Rondônia<br />
Foto JDubois
As comunida<strong>de</strong>s <strong>tradicionais</strong> envolvidas na abordagem<br />
do nosso tema abrangem povos indígenas e nãoindígenas<br />
com características culturais próprias:<br />
ribeirinhos, seringueiros, caiçaras que vivem em<br />
harmonia com os ecossistemas no seu entorno. Essas<br />
comunida<strong>de</strong>s <strong>tradicionais</strong> acumularam um gran<strong>de</strong><br />
volume <strong>de</strong> conhecimentos que se referem não<br />
somente a espécies vegetais <strong>de</strong> interesse econômico<br />
ou ecobiológico mas também ao uso <strong>de</strong> espécies<br />
animais, consi<strong>de</strong>rando, entre outros exemplos, as<br />
abelhas sem ferrão, o uso <strong>de</strong> formigas do gênero<br />
Azteca para controle biológico das formigas saúvas, do<br />
gênero Atta.
Os sistemas <strong>agroflorestais</strong> <strong>de</strong>vem conter em si pelo menos<br />
uma espécie florestal consorciada aos componentes agrícolas<br />
ou haver tido como ponto <strong>de</strong> partida uma roça agrícola<br />
temporária, como é o caso dos castanhais silvestres ou do<br />
sistema taungya. Os seringais silvestres serão comentados<br />
no presente documento não obstante o fato <strong>de</strong> não<br />
comportar nenhuma espécie tipicamente agrícola e –que<br />
saibamos- não tiveram como ponto <strong>de</strong> partida uma roça<br />
agrícola. O sistema cabruca é amplamente consi<strong>de</strong>rado<br />
“agroflorestal” apesar do cacau (Theobroma cação) ser<br />
uma espécie nativa florestal do sub-bosque e o sistema<br />
cabruca tradicional não ter evoluído a partir <strong>de</strong> uma roça<br />
agrícola. Não obstante isso, consi<strong>de</strong>rando seus níveis <strong>de</strong><br />
biodiversida<strong>de</strong> e sua importância social no universo das<br />
comunida<strong>de</strong>s <strong>tradicionais</strong>, os seringais silvestres e o<br />
sistema cabruca serão tratados neste documento como<br />
“sistemas biodiversificados afins”.
Na América Latina, as comunida<strong>de</strong>s indígenas praticavam<br />
um sistema capaz <strong>de</strong> restaurar a fertilida<strong>de</strong> natural das<br />
terras cultivadas mediante a manutenção <strong>de</strong> longos<br />
períodos <strong>de</strong> pousio florestal (capoeiras <strong>de</strong> longa duração).<br />
As ativida<strong>de</strong>s agrícolas são <strong>de</strong>senvolvidas em roças abertas<br />
na floresta. Nas suas fases iniciais <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, as<br />
capoeiras não apresentam níveis muito elevados <strong>de</strong><br />
biodiversida<strong>de</strong>, porém ao madurecerem, apresentam uma<br />
composição cada vez mais semelhante à da floresta original<br />
e, portanto, rica em espécies, tanto no que se refere à flora<br />
como à fauna. Esse processo <strong>de</strong> restauração e a<br />
recuperação <strong>de</strong> altos níveis <strong>de</strong> biodiversida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vem-se ao<br />
fato das roças indígenas sempre ficarem cercadas por<br />
matas nativas, atuando como fonte <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong><br />
espécies florestais.
Fisionomia <strong>de</strong> florestas com castanheiras<br />
dominantes ou emergentes.<br />
Nascidos em roças temporárias (sementes<br />
plantadas pelos índios e pela cutia)<br />
Técnica observada em terra dos índios<br />
Kokama (Tefé, AM; H.dos Santos 1994)<br />
O castanhal <strong>de</strong> Araras (Mun.<strong>de</strong> S. Miguel do<br />
Araguaia, PA; J. Dubois 1992).
Foto: M. Jardim
Os caiçaras da mata: extrativismo <strong>de</strong> recursos<br />
florestais; bananais na sombra da floresta<br />
(sistema ± “cabruca”)<br />
O renascimento do sistema silvibananeiro<br />
tradicional numa comunida<strong>de</strong> caiçara no Vale<br />
do Ribeira (Sete Barras,SP; J. Dubois, 2004).<br />
Técnica <strong>de</strong> conversão <strong>de</strong> baixo custo.
Distribuição geográfica.<br />
Como nasceram.<br />
Evolução do preço do vinho <strong>de</strong> açaí<br />
Perda <strong>de</strong> nível <strong>de</strong> biodiversida<strong>de</strong><br />
Re-biodiversificação: palha da palmeira buçu<br />
(Manicaria saccifera)e manejo dos recursos<br />
florestais ma<strong>de</strong>ireiros e não ma<strong>de</strong>ireiros: mel<br />
<strong>de</strong> abelhas sem ferrão, jacitara (Desmoncus<br />
spp.), cipó-titica (Hetereopsis sp.)
A palavra “cabruca”, <strong>de</strong>rivada do termo “brocar” ou<br />
cabrocar, é uma <strong>de</strong>nominação regional do Sul da Bahia<br />
para o plantio <strong>de</strong> cacau sob a mata nativa raleada.<br />
Este sistema está presente no Sul da Bahia há mais <strong>de</strong><br />
260 anos, e possui inúmeras vantagens do ponto <strong>de</strong><br />
vista da conservação da biodiversida<strong>de</strong>, solos e água.<br />
<br />
Muitas áreas <strong>de</strong> cabruca foram convertidas em<br />
pastagens, monocultivo <strong>de</strong> Café ou se seringueira.<br />
Felizmente hoje diversas comunida<strong>de</strong>s estão voltando a<br />
praticar a produção do cacau obe<strong>de</strong>cendo aos<br />
princípios do sistema cabruca tradicional
Sistema Cabruca: Serra das Lontras, BA<br />
Foto: Patrícia Ruggiero
Evolução da renda familiar nas<br />
colocações: biodiversificação dos<br />
produtos comercializados<br />
Borracha = 10% <strong>de</strong> renda familiar<br />
Produtos florestais não ma<strong>de</strong>ireiros<br />
Produtos florestais ma<strong>de</strong>ireiros<br />
Boa infraestrutura <strong>de</strong> beneficiamento no<br />
Acre: preservativos, móveis, ma<strong>de</strong>ira<br />
serrada, artesanato
Artesanato amazônico <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira:<br />
qualida<strong>de</strong> exportação
Variabilida<strong>de</strong> dos níveis <strong>de</strong> biodiversida<strong>de</strong> nos<br />
quintais <strong>agroflorestais</strong><br />
Em geral, na Amazônia, os quintais apresentam<br />
baixos níveis <strong>de</strong> biodiversida<strong>de</strong> (8 a 10 spp.):<br />
por quê ???<br />
Diversida<strong>de</strong> acumulativa <strong>de</strong> composição,<br />
consi<strong>de</strong>rando o conjunto dos quintais <strong>de</strong> uma<br />
<strong>de</strong>terminada região (até 62 spp.)<br />
Promover o intercâmbio <strong>de</strong> germoplasma com<br />
participação ativa das mulheres e adolescentes
Resgatar os conhecimentos <strong>tradicionais</strong>: no Acre já<br />
existe repasse <strong>de</strong> conhecimentos dos índios para<br />
agricultores familiares e seringueiros.<br />
Resgatar os conhecimentos dos agricultores “bons<br />
pesquisadores<br />
No conjunto Amazônia + Mata Atlântica, temos pelo<br />
menos 25 milhões <strong>de</strong> hectares para se incorporar mais<br />
ativamente nos planos nacionais <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
social e econômico (castanhais silvestres, seringais<br />
silvestres, açaizais silvestres, bananais dos caiçaras,<br />
RESEX. Paes, RDS). Canalizar maiores investimentos<br />
nessas áreas (pesquisa; extensão; capacitação)
A Escola Saberes da Floresta - YORENKã<br />
ATAME - localizada no município <strong>de</strong><br />
Marechal Taumaturgo (Cruzeiro do Sul,<br />
AC): o objetivo é ensinar índios e<br />
brancos, práticas como o manejo<br />
florestal, <strong>de</strong> animais, coleta <strong>de</strong> sementes,<br />
artesanato e outros. Um curso <strong>de</strong> Agente<br />
Agroflorestal já foi ministrado para cerca<br />
<strong>de</strong> 100 seringueiros e ribeirinhos da<br />
região por Benki Ashaninka, que<br />
<strong>de</strong>senvolve manejo agroflorestal na<br />
al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 90
MUITO OBRIGADO PELA ATENÇÃO<br />
<br />
jean@rebraf.org.br