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A névoa que se instala é a mesma. Um vapor que turva os contornos entre nós e os outros, entre quem fomos e quem sentimos<br />

que somos ali, naquele momento de irrealidade tão estranho, no qual não nos reconhecemos o préstimo de rompermos a bolha<br />

isoladora em que estamos recolhidos.<br />

Depressão é sobre auto-estima derrotada. Sobre a insistência do nosso cérebro em produzir sistematicamente pensamentos negativos<br />

acerca da nossa capacidade de realização, da nossa competência de e<strong>star</strong> com os outros de forma adequada, da nossa aptidão<br />

para enfrentarmos novos desafios e sermos bem sucedidos. Na depressão deixamos de acreditar que somos capazes de conseguir<br />

coisas que já fizemos ou que estamos fartos de fazer, coisas que até são parte integrante da nossa identidade, tal como a conhecemos<br />

até então. A perceção sobre nós próprios, o mundo à nossa volta e o futuro alteram-se completamente e tudo nos parece<br />

redimensionado a uma escala em que nos sentimos sempre demasiado pequenos e insignificantes. Os outros assustam-nos porque<br />

nos devolvem um reflexo esquisito de alguém de peças desintegradas a tentar confusamente restabelecer conexões momentaneamente<br />

perdidas. Na maior parte dos casos, o humor deprimido permite que as pessoas se mantenham funcionais. Há quem relate quadros<br />

de sintomatologia distímica durante anos a fio sem nunca ter deixado de trabalhar, estudar, ter uma família. Há quem se recorde<br />

“daqueles anos” em que passou submerso num embotamento quase anestésico de pensamentos e emoções, do qual um dia se<br />

saiu porque a vida dá voltas e com elas as pessoas também. Abraham Lincoln e Winston Churchill, por exemplo, eram dois grandes<br />

depressivos que aprenderam a funcionar extremamente bem quando se encontravam massivamente deprimidos, contornando os<br />

seus momentos mais negros e os seus recorrentes pensamentos suicidas. O que revela que é possível desenvolver estratégias para<br />

lidar com as emoções negativas e os traços negativos da personalidade que herdámos geneticamente e/ou que desenvolvemos por<br />

questões contingenciais.<br />

Segundo Martin Seligman, professor há mais de 30 anos na Universidade da Pensilvânia e percursor da Psicologia Positiva, a verdade<br />

é que a Psiquiatria e a Psicologia Clínica já desistiram há muito de uma noção de cura para a depressão. Quer os fármacos, quer a<br />

terapia são actualmente orientados para a gestão de crises a curto prazo que apenas aliviam sintomas temporariamente. Mas é<br />

possível ir mais além e aprender a trabalhar competências específicas que fazem uma frente cerrada às perturbações do humor.<br />

Como ter mais emoções positivas? Como sentir mais envolvimento com a própria vida? Como sentir maior realização no que fazemos?<br />

Como dar mais sentido ao que fazemos? Como ter melhores relações com os outros? São as respostas a estas e outras questões<br />

que, gradualmente, com trabalho específico e empenho, começam a alterar significativamente o olhar das pessoas sobre si mesmas<br />

e o mundo que as rodeia.<br />

“Does it hurt when I do this?”<br />

“I was a very fragile kid.”<br />

“The x-rays indicate you are<br />

crying on the inside.”<br />

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