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Parto e Maternidade - Seminário Internacional Fazendo Gênero

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Essas mudanças de comportamento baseadas na vontade pessoal das mulheres-mães<br />

conferem a elas uma marca forte do que vem sendo entendido por maternidade na<br />

contemporaneidade. A abdicação de certos hábitos e a conquista de outros para o bem da prole é<br />

uma das características infundidas no suposto instinto materno.<br />

Nesse sentido, a própria educação para a saúde dos bebês sugere que a mulher-mãe<br />

incorpore certas atitudes ‘dignas da maternidade’. Entendo que ensinamentos como esse constituem<br />

o que é ser mãe em nossa cultura, além é claro de ensinar às mulheres-mães como estas devem<br />

exercer a sua maternidade de forma aceitável criando seres humanos saudáveis e equilibrados.<br />

Acredito que no PIM, mais especificamente no Guia da Gestante, o fato de a mulher<br />

carregar uma criança no seu ventre faz com que ela, automaticamente, esteja mais apta a cuidar e a<br />

dar carinho a este ser em desenvolvimento. Parece que o estado de gravidez proporciona uma<br />

relação de carinho entre “mãe e filho”, de modo que o homem, por estar fora desta comunidade<br />

mãe-filho, pouco se importa, sendo no maior das vezes ignorado pelo Guia.<br />

É importante que aprendas a te comunicar com teu filho. Os movimentos que<br />

ele faz dentro do útero, ou deixa de fazer, representam um sinal do que quer<br />

manifestar. É preciso que estejas atenta. Esta comunicação poderá trazer conforto e<br />

alegria a ti, e serenidade ao bebê (p.15).<br />

Nesse momento, a pessoa a que se dirige o ensinamento, bem como toda a cartilha, é a<br />

mulher-mãe. É claro que o homem-pai não tem condições de sentir todos os movimentos que o bebê<br />

faz dentro da mulher, porém em alguns outros momentos da cartilha é indicado que a mulher-mãe<br />

deve convidar o seu companheiro a participar de alguns momentos com o argumento de que esta<br />

prática une o casal (p.14). Se as mulheres-mães são incumbidas também de convidar seu<br />

companheiro a participar destes momentos é porque se pressupõe que os homens-pais não têm esse<br />

tipo de iniciativa.<br />

Carin Klein (2003) afirma que no Programa Bolsa-Escola não se ensina como os pais podem<br />

contribuir na educação, formação e cuidado dos filhos, bem como no gerenciamento da família. Em<br />

outra direção, o Guia da Gestante indica que, no período da gestação, os homens-pais devem<br />

compreender [junto com a mãe] a importância deste período para a saúde e o desenvolvimento do<br />

bebê e os “cuidados que ambos devem ter com a gestação de um modo geral” (RIO GRANDE DO<br />

SUL, 2003, p.7).<br />

O Programa ao construir estratégias discursivas que tratam de essencializar e universalizar<br />

uma forma de ser mãe e de ser pai ignora e suprime o caráter constitutivo e plural da maternidade e<br />

da paternidade. Também oblitera a multiplicidade existente a cerca das dimensões do cuidado e da<br />

educação de crianças dentro de diferentes grupos culturais.

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