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Acta Ped Vol 42 N 4 - Sociedade Portuguesa de Pediatria

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<strong>Vol</strong>. <strong>42</strong>, n.º 4<br />

Julho / Agosto 2011<br />

EDITORIAL<br />

SOBRE A IMPORTÂNCIA DO CONSELHO CIENTÍFICO E O PROCESSO EDITORIAL DA APP EM TEMPO DE MUDANÇA<br />

António Gomes, João M. Vi<strong>de</strong>ira Amaral<br />

LIX<br />

NOTA EDITORIAL<br />

A PEDIATRIA DO NEURODESENVOLVIMENTO, O QUE É?<br />

Guiomar Oliveira<br />

LXI<br />

ARTIGOS ORIGINAIS<br />

CEFALEIAS NUMA POPULAÇÃO PEDIÁTRICA PORTUGUESA EM CONTEXTO DE URGÊNCIA<br />

Conceição Alves, Teresa Campos, Ana Paula Fernan<strong>de</strong>s 137<br />

USO (OU ABUSO) DE FÁRMACOS NA IDADE PEDIÁTRICA<br />

Raquel Maia, Catarina Luís, Marta Moura, Rui Ribeiro, Helena Almeida, Maria João Brito 144<br />

OPINIÃO<br />

QUANDO A CRIANÇA MORRE…<br />

Ângela Sofia Lopes Simões 149<br />

CASOS CLÍNICOS<br />

ENFISEMA LOBAR CONGÉNITO: UMA APRESENTAÇÃO MULTILOBAR<br />

Ana Moutinho, Graça Seves, Maurílio Gaspar, Rui <strong>de</strong> Carvalho Alves, Henrique Sá Couto, José Oliveira Santos 154<br />

SARCOIDOSE EM IDADE PEDIÁTRICA<br />

Sofia Águeda, Rita Jorge, Susana Soares, Carla Rego, Ana Maia, Inês Azevedo 157<br />

HEMORRAGIA INTRACRANIANA ESPONTÂNEA EM PACIENTE COM AFIBRINOGENEMIA CONGÊNITA<br />

Elisa C. dos Reis, Jaime Lin, Mirella M. Peruchi, Marcelo R. Masruha, Maria Z. Bal<strong>de</strong>ssar 161<br />

ACTUALIZAÇÃO<br />

NOVAS ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO DA TOSSE CONVULSA<br />

Cláudio D’Elia, <strong>Ped</strong>ro Men<strong>de</strong>s, Anaxore Casimiro 164<br />

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA GASTRENTERITE AGUDA – AS PERSPECTIVAS DA ESPGHAN-ESPID E DA SLAGHNP<br />

Sofia Martins, Andreia Lopes, Cristiana Couto, Eunice Trinda<strong>de</strong>, Marta Tavares, Jorge Amil Dias 172<br />

PERTURBAÇÕES PSIQUIÁTRICAS DO PÓS PARTO: IMPLICAÇÕES NA AMAMENTAÇÃO<br />

Cassilda Costa, Constança Hipólito Reis 177<br />

IMAGENS EM PEDIATRIA<br />

INGESTÃO DE IBUPROFENO PELA PRIMEIRA VEZ<br />

Vera Rodrigues, João Farela Neves, Maria João Rocha Pinto 182<br />

SOCIEDADE PORTUGUESA DE PNEUMOLOGIA PEDIÁTRICA - CONSENSOS E RECOMENDAÇÕES<br />

RONCOPATIA – RECOMENDAÇÕES DE ABORDAGEM<br />

Rosário Ferreira, Maria Helena Estevão 184<br />

CARTAS AO DIRECTOR<br />

PROJECTO DE SAÚDE DE BANDIM NA GUINÉ-BISSAU:<br />

CRIANÇAS GUINEENSES OU GUINEA-KIDS - A GUINÉ-BISSAU E A TRISTEZA DO COSTUME<br />

Peter Aaby, Amabélia Rodrigues, Cesário Martins, Benn Stabell Christine 187<br />

SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ EM IDADE PEDIÁTRICA. PROTOCOLO DE ACTUAÇÃO<br />

Ana Leça 192<br />

NOTÍCIAS<br />

LXV<br />

NORMAS DE PUBLICAÇÃO<br />

LXVIII<br />

ISSN 0873-9781


CONSELHO EDITORIAL<br />

Director<br />

João M. Vi<strong>de</strong>ira Amaral - Lisboa<br />

Editores Associados<br />

Guiomar Oliveira - Coimbra<br />

Jorge Amil Dias - Porto<br />

Luís Pereira-da-Silva - Lisboa<br />

Coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> Edição<br />

António Gomes - Almada<br />

Secretariado<br />

Maria Júlia Brito - SPP<br />

ACTA PEDIÁTRICA PORTUGUESA<br />

<strong>Vol</strong> <strong>42</strong> Nº 4 Julho – Agosto 2011<br />

(Orgão Oficial da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria)<br />

www.spp.pt<br />

app@spp.pt<br />

Fundador<br />

Carlos Salazar <strong>de</strong> Sousa<br />

Conselho Científico<br />

Alberto Caldas Afonso<br />

Almerinda Barroso Pereira<br />

Ana Ca<strong>de</strong>te<br />

Astrid Vicente<br />

Deolinda Barata<br />

Elisa Leão Teles Silva<br />

Fernando Pereira<br />

Filomena Pereira<br />

Guiomar Oliveira<br />

João Gomes-<strong>Ped</strong>ro<br />

Jorge Correia Pinto<br />

José Frias Bulhosa<br />

Laura Marques<br />

Leonor Sassetti<br />

Libério Ribeiro<br />

Lur<strong>de</strong>s Lisboa<br />

Manuel Salgado<br />

Manuela Carmona<br />

Maria Ana Sampaio Nunes<br />

Mário Marcelo da Fonseca<br />

Miguel Coutinho<br />

Miguel Félix<br />

Óscar Tellechea<br />

Paula Fonseca<br />

Teresa Temudo<br />

Editores Correspon<strong>de</strong>ntes (Países <strong>de</strong> Língua Oficial <strong>Portuguesa</strong>)<br />

Luís Bernardino - Angola<br />

Paula Vaz - Moçambique<br />

Renato Procianoy - Brasil<br />

Directores ex-officio<br />

(Revista <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria e Puericultura, Revista <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria e <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong>)<br />

Carlos Salazar <strong>de</strong> Sousa<br />

Jaime Salazar <strong>de</strong> Sousa<br />

Mário Cor<strong>de</strong>iro<br />

António Marques Valido<br />

Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Levy<br />

João Gomes-<strong>Ped</strong>ro<br />

Presi<strong>de</strong>nte da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

António Guerra<br />

(Secção <strong>de</strong> Nefrologia)<br />

(Secção <strong>de</strong> Neonatologia)<br />

(Secção <strong>de</strong> Reabilitação <strong>Ped</strong>iátrica da SPMFR)<br />

(<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> Genética Humana)<br />

(Secção <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria Social)<br />

(<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> D. Metabólicas)<br />

(Secção <strong>de</strong> Gastrenterologia e Nutrição)<br />

(Secção <strong>de</strong> Hematologia e Oncologia)<br />

(Secção <strong>de</strong> Neuro<strong>de</strong>senvolvimento)<br />

(Secção <strong>de</strong> Educação Médica)<br />

(<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> Cirurgia <strong>Ped</strong>iátrica)<br />

(Or<strong>de</strong>m dos Médicos Dentistas)<br />

(<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Infecciologia <strong>Ped</strong>iátrica)<br />

(Secção <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria Ambulatória)<br />

(Secção <strong>de</strong> Imuno-Alergologia)<br />

(Secção <strong>de</strong> Cuidados Intensivos)<br />

(Secção <strong>de</strong> Reumatologia)<br />

(Grupo Port. <strong>de</strong> Oftalmologia <strong>Ped</strong>. e Estrabismo)<br />

(<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Cardiologia <strong>Ped</strong>iátrica)<br />

(Secção <strong>de</strong> Endocrinologia)<br />

(Subcomissão <strong>de</strong> ORL <strong>Ped</strong>iátrica da SPORL)<br />

(Secção <strong>de</strong> Pneumologia)<br />

(<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Port. <strong>de</strong> Dermatologia e Venereologia)<br />

(Secção <strong>de</strong> Medicina do Adolescente)<br />

(<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> Neuropediatria)<br />

Missão da APP: A APP, sucessora da Revista <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria, é uma revista científica funcionando na modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> revisão prévia dos textos submetidos<br />

ao corpo editorial por colegas peritos em anonimato mútuo (peer review). É dirigida essencialmente a pediatras (vertentes médico-cirúrgica) e a médicos em<br />

formação pós-graduada para obtenção das respectivas especialida<strong>de</strong>s no pressuposto <strong>de</strong> que os conteúdos interessam a outros médicos e profissionais interessados<br />

na saú<strong>de</strong> da criança e adolescente inseridos no respectivo meio familiar e social. A APP preten<strong>de</strong> abarcar um vasto leque <strong>de</strong> questões sobre investigação, educação<br />

médica, pediatria social, prática clínica, temas controversos, <strong>de</strong>bate <strong>de</strong> opiniões, normas <strong>de</strong> actuação, actualização <strong>de</strong> temas, etc. São adoptadas diversas modalida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> divulgação: editoriais, espaços <strong>de</strong> discussão, artigos originais, artigos sobre avanços em pediatria, resumos <strong>de</strong> estudos divulgados em eventos científicos,<br />

notícias sobre eventos científicos e organismos estatais e não estatais <strong>de</strong>votados à criança e adolescente.<br />

A revista científica <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong> (APP) (ISSN 0873-9781) é proprieda<strong>de</strong> da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria, com responsabilida<strong>de</strong> administrativa<br />

da respectiva Direcção. A publicação é bimestral com todos os direitos reservados. A coor<strong>de</strong>nação dos conteúdos científicos é da responsabilida<strong>de</strong> do<br />

corpo editorial da APP (Director e Director Adjunto, Editores Associados, Coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> Edição e Conselho Editorial). A responsabilida<strong>de</strong> dos textos científicos<br />

publicados pertence aos respectivos autores, não reflectindo necessariamente a política da SPP.<br />

Administração: <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria – Rua Amilcar Cabral, 15, r/c I – 1750-018 Lisboa – Telef.: 217 574 680 – Fax: 217 577 617 • Secretariado<br />

e Publicida<strong>de</strong>: Júlia Brito – Rua Amilcar Cabral, 15, r/c I – 1750-018 Lisboa – Telef.: 217 574 680 – Fax: 217 577 617 • Redacção: <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Ped</strong>iatria – Rua Amilcar Cabral, 15, r/c I – 1750-018 Lisboa – Telef.: 217 574 680 – Fax: 217 577 617 • Condições <strong>de</strong> Assinatura: 1 Ano, Continente e Ilhas:<br />

24,94 Euros, Estrangeiro US$40 • Nº Avulso 7,48 Euros • Distribuição Gratuita aos Sócios da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria • Composição e Impressão:<br />

Quadricor - artes gráficas, lda. Rua Comandante Oliveira e Carmo, 18-C, Cova da Pieda<strong>de</strong>, 2805-212 Almada – Telef.: 212 744 607 – Fax: 212 743 190 –<br />

e-mail: prepress@quadricor.pt • Tiragem: 3000 Exemplares • Correspondência: <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria – RuaAmilcar Cabral, 15, r/c I – 1750-018 Lisboa<br />

Parcerias: Danone • Merck Sharp & Dohme • Milupa <strong>Portuguesa</strong> • Nestlé Portugal • Schering-Plough<br />

LV


A <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong> está in<strong>de</strong>xada/listada em:


ÍNDICE<br />

ACTA PEDIÁTRICA PORTUGUESA<br />

EDITORIAL<br />

Sobre a importância do Conselho Científico e o processo editorial da APP em tempo <strong>de</strong> mudança<br />

António Gomes, João M. Vi<strong>de</strong>ira Amaral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .<br />

NOTA EDITORIAL<br />

A <strong>Ped</strong>iatria do Neuro<strong>de</strong>senvolvimento, o que é?<br />

Guiomar Oliveira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .<br />

LIX<br />

LXI<br />

ARTIGOS ORIGINAIS<br />

Cefaleias numa população pediátrica portuguesa em contexto <strong>de</strong> urgência<br />

Conceição Alves, Teresa Campos, Ana Paula Fernan<strong>de</strong>s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137<br />

Uso (ou abuso) <strong>de</strong> fármacos na ida<strong>de</strong> pediátrica<br />

Raquel Maia, Catarina Luís, Marta Moura, Rui Ribeiro, Helena Almeida, Maria João Brito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144<br />

OPINIÃO<br />

Quando a criança morre…<br />

Ângela Sofia Lopes Simões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149<br />

CASOS CLÍNICOS<br />

Enfisema lobar congénito: uma apresentação multilobar<br />

Ana Moutinho, Graça Seves, Maurílio Gaspar, Rui <strong>de</strong> Carvalho Alves, Henrique Sá Couto, José Oliveira Santos. . . . . . . . . . 154<br />

Sarcoidose em ida<strong>de</strong> pediátrica<br />

Sofia Águeda, Rita Jorge, Susana Soares, Carla Rego, Ana Maia, Inês Azevedo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157<br />

Hemorragia intracraniana espontânea em paciente com afibrinogenemia congênita<br />

Elisa C. dos Reis, Jaime Lin, Mirella M. Peruchi, Marcelo R. Masruha, Maria Z. Bal<strong>de</strong>ssar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161<br />

ACTUALIZAÇÃO<br />

Novas estratégias <strong>de</strong> prevenção da tosse convulsa<br />

Cláudio D’Elia, <strong>Ped</strong>ro Men<strong>de</strong>s, Anaxore Casimiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164<br />

Diagnóstico e tratamento da Gastrenterite Aguda – as perspectivas da ESPGHAN-ESPID e da SLAGHNP<br />

Sofia Martins, Andreia Lopes, Cristiana Couto, Eunice Trinda<strong>de</strong>, Marta Tavares, Jorge Amil Dias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 172<br />

Perturbações psiquiátricas do pós parto: implicações na amamentação<br />

Cassilda Costa, Constança Hipólito Reis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177<br />

IMAGENS EM PEDIATRIA<br />

Ingestão <strong>de</strong> ibuprofeno pela primeira vez<br />

Vera Rodrigues, João Farela Neves, Maria João Rocha Brito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 182<br />

SOCIEDADE PORTUGUESA DE PEDIATRIA – CONSENSOS E RECOMENDAÇÕES<br />

Roncopatia – Recomendações <strong>de</strong> Abordagem<br />

Rosário Ferreira, Maria Helena Estevão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 184<br />

CARTAS AO DIRECTOR<br />

Projecto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bandim na Guiné-Bissau:<br />

crianças guineenses ou Guinea-kids - A Guiné-Bissau e a tristeza do costume<br />

Peter Aaby, Amabélia Rodrigues, Cesário Martins, Benn Stabell Christine . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187<br />

Síndrome <strong>de</strong> Guillain-Barré em ida<strong>de</strong> pediátrica. Protocolo <strong>de</strong> actuação<br />

Ana Leça. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 192<br />

NOTÍCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .<br />

NORMAS DE PUBLICAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .<br />

LXV<br />

LXVIII<br />

LVII


CONTENTS<br />

ACTA PEDIÁTRICA PORTUGUESA<br />

EDITORIAL<br />

On the importance of the Scientific Board and the editorial process in times of change<br />

António Gomes, João M. Vi<strong>de</strong>ira Amaral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .<br />

EDITORIAL NOTE<br />

What is Neuro<strong>de</strong>velopmental Paediatrics?<br />

Guiomar Oliveira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .<br />

LIX<br />

LXI<br />

ORIGINAL ARTICLES<br />

Headaches in a Portuguese paediatric population in a emergency context<br />

Conceição Alves, Teresa Campos, Ana Paula Fernan<strong>de</strong>s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137<br />

Use (or miuse) of drugs in pediatrics<br />

Raquel Maia, Catarina Luís, Marta Moura, Rui Ribeiro, Helena Almeida, Maria João Brito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144<br />

OPINION<br />

When a child dies…<br />

Ângela Sofia Lopes Simões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149<br />

CASE REPORTS<br />

Congenital lobar emphysema: a multilobar presentation<br />

Ana Moutinho, Graça Seves, Maurílio Gaspar, Rui <strong>de</strong> Carvalho Alves, Henrique Sá Couto, José Oliveira Santos. . . . . . . . . . 154<br />

Sarcoidosis in a child<br />

Sofia Águeda, Rita Jorge, Susana Soares, Carla Rego, Ana Maia, Inês Azevedo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157<br />

Spontaneous intracranial hemorrhage in a patient with congenital afibrinogenemia<br />

Elisa C. dos Reis, Jaime Lin, Mirella M. Peruchi, Marcelo R. Masruha, Maria Z. Bal<strong>de</strong>ssar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161<br />

REVIEW<br />

Strategies for prevenion of pertussis<br />

Cláudio D’Elia, <strong>Ped</strong>ro Men<strong>de</strong>s, Anaxore Casimiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164<br />

Diagnosis and treatment of acute gastroenteritis – ESPHAN-ESPID and SLAGHNP<br />

Sofia Martins, Andreia Lopes, Cristiana Couto, Eunice Trinda<strong>de</strong>, Marta Tavares, Jorge Amil Dias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 172<br />

Postpartum psychiatric disor<strong>de</strong>rs: repercussions on breastfeeding<br />

Cassilda Costa, Constança Hipólito Reis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177<br />

IMAGES IN PAEDIATRICS<br />

Ingestion of ibuprofen for the first time<br />

Vera Rodrigues, João Farela Neves, Maria João Rocha Brito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 182<br />

PORTUGUESE PAEDIATRIC SOCIETY – CONSENSUS AND GUIDELINES<br />

Snoring – Recommendations for Management<br />

Rosário Ferreira, Maria Helena Estevão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 184<br />

LETTERS TO THE DIRECTOR<br />

Bandim Health Project in Guinea-Bissau:<br />

Guinea-Bissau children or Guinea-kids - The Guinea-Bissau and the usual sadness<br />

Peter, Aaby, Amabélia Rodrigues, Cesário Martins, Benn Stabell Christine . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187<br />

Gui<strong>de</strong>lines in Guillain-Barre syndrome in pediatric age<br />

Ana Leça. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 192<br />

NEWS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .<br />

GUIDELINES FOR THE AUTHORS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .<br />

LXV<br />

LXVIII<br />

LVIII


0873-9781/11/<strong>42</strong>-4/LIX<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

EDITORIAL<br />

Sobre a importância do Conselho Científico e o processo editorial da APP<br />

em tempo <strong>de</strong> mudança<br />

Realizou-se no dia 07 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 2011, em Albufeira,<br />

durante o Congresso Nacional <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria, uma reunião conjunta<br />

dos Conselhos Editorial (CE) e Científico (CC) da <strong>Acta</strong><br />

<strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong> (APP).<br />

A reunião, convocada por iniciativa do CE, teve como principais<br />

objectivos dar informações sobre a evolução operada<br />

quanto a aspectos organizativos, assim como reflectir conjuntamente<br />

sobre a importância da colaboração <strong>de</strong>sejável do CC,<br />

<strong>de</strong>signadamente no respeitante ao papel crucial do mesmo no<br />

recrutamento <strong>de</strong> revisores <strong>de</strong> manuscritos/peer reviewing e na<br />

publicação <strong>de</strong> recomendações e consensos.<br />

Virá então a propósito informar sucintamente os leitores,<br />

assim como os potenciais autores e revisores sobre a agenda<br />

da referida reunião, ou seja, as principais mudanças já efectuadas<br />

ou em curso, relacionadas com o processo editorial.<br />

1- Na reunião anteriormente mencionada foram apresentados<br />

os aspectos estratégicos consi<strong>de</strong>rados fundamentais numa primeira<br />

fase tendo em vista mo<strong>de</strong>rnização da revista: ampliação<br />

da sua visibilida<strong>de</strong>, através da publicação on-line em sítio<br />

electrónico autonomizado da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Ped</strong>iatria, com funcionalida<strong>de</strong>s actualmente inexistentes; utilização<br />

do inglês na edição na internet da revista (para além<br />

do português); inclusão da APP em índices, bases e repositórios<br />

internacionais <strong>de</strong> revistas científicas do foro biomédico.<br />

Nesta perspectiva, admitimos que se criem condições para<br />

angariação <strong>de</strong> maior número <strong>de</strong> manuscritos candidatos,<br />

incluindo os internacionais, o que po<strong>de</strong>rá contribuir para a<br />

melhoria da qualida<strong>de</strong> e maior diversida<strong>de</strong> dos conteúdos.<br />

2 - Actualmente, todo o ciclo editorial é efectuado através <strong>de</strong><br />

correio electrónico, sendo a sua gestão partilhada pelo coor<strong>de</strong>nador<br />

editorial e pela secretária da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria (SPP). A referida secretária (que acumula funções<br />

com as <strong>de</strong> secretariado geral da SPP) estabelece ligação<br />

com os autores, revisores e editores, gere a publicida<strong>de</strong>,<br />

assim como trata <strong>de</strong> todos os restantes aspectos relacionados<br />

com a revista.<br />

Em 2009-2010, foi possível <strong>de</strong>senvolver e concretizar uma<br />

aplicação para a gestão <strong>de</strong> todo ciclo editorial e publicação<br />

on-line da revista, contando com a colaboração <strong>de</strong> uma<br />

empresa <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e alojamento <strong>de</strong> páginas Web.<br />

Embora este processo tivesse sido concluído, por dificulda<strong>de</strong>s<br />

várias <strong>de</strong> articulação entre todas as partes envolvida, o mesmo<br />

acabou por ficar suspenso.<br />

Em Maio <strong>de</strong> 2011, foi efectuada uma candidatura ao<br />

RCAAP/SARC (Repositório Científico <strong>de</strong> Acesso Aberto <strong>de</strong><br />

Portugal/Serviço <strong>de</strong> Alojamento <strong>de</strong> Revistas Científicas)<br />

tendo a APP sido seleccionada para integrar o portal respectivo.<br />

Assim, o processo <strong>de</strong> execução <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> todo ciclo<br />

editorial e publicação on-line da revista, em sítio autonomizado,<br />

já está em curso, sendo provável o início <strong>de</strong> funcionamento<br />

em Janeiro <strong>de</strong> 2012.<br />

Várias são as vantagens da adopção <strong>de</strong> tal sistema, salientando-se<br />

a maior rapi<strong>de</strong>z do processo editorial, a maior visibilida<strong>de</strong><br />

da revista e dos seus conteúdos assim como a transparência<br />

<strong>de</strong> todo o processo. Contudo, uma maior transparência<br />

do mesmo acarreta concomitantemente um maior <strong>de</strong>safio para<br />

o futuro, <strong>de</strong>vido à exposição acrescida <strong>de</strong> todos os intervenientes,<br />

incluindo os revisores externos (pares).<br />

3 - Foi efectuado um esforço para inclusão da APP em índices e<br />

repositórios <strong>de</strong> revistas científicas, nacionais e internacionais,<br />

estando actualmente a APP listada/in<strong>de</strong>xada em vários índices e<br />

repositórios, tais como: DOAJ (Directory of Open Access Journals<br />

(http://www.doaj.org/), Latin<strong>de</strong>x (http://www.latin<strong>de</strong>x.unam.mx/),<br />

Scielo (http://www.scielo.oces.mctes.pt/), emedicaljournals<br />

(http://www.freemedicaljournals.com/), Scirus<br />

(http://www.scirus.com/), Socolar (http://www.socolar.com/?ver=en),<br />

Ín<strong>de</strong>x <strong>de</strong> revistas médicas portuguesas<br />

(http://www.in<strong>de</strong>xrmp.com/homepage.aspx?mc1=<strong>42</strong>), Sherpa<br />

romeo (http://www.sherpa.ac.uk/romeo/), Directório Luso-Brasileiro<br />

<strong>de</strong> Repositórios e Revistas <strong>de</strong> Acesso Aberto, (http://directorio.rcaap.pt/).<br />

Noutros foram efectuados registos e aguarda-se<br />

uma <strong>de</strong>cisão, ou <strong>de</strong>correm processos <strong>de</strong> avaliação (Siic salud,<br />

Journal seek, Scopus, Open J, Medical journals.com, Embase,<br />

Electronic Journals Library, GoogleScholar).<br />

4 - Para permitir o registo nalguns <strong>de</strong>stes índices e repositórios<br />

foi necessário proce<strong>de</strong>r a alterações nos direitos <strong>de</strong> autor<br />

e <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> editorial pelo que a APP, a partir <strong>de</strong> 2011,<br />

passou a oferecer acesso livre (open access) a todo o seu conteúdo<br />

sob uma licença Creative Commons 3.0 BY-NC-SA<br />

(ver Nota Editorial na APP <strong>42</strong> (2) <strong>de</strong> 2011).<br />

Correspondência:<br />

app@spp.pt<br />

LIX


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):LIX-LX<br />

Gomes A et al. – Processo editorial da APP em tempo <strong>de</strong> mudança<br />

5- Recentemente foi feito um contrato com um tradutor, <strong>de</strong><br />

nacionalida<strong>de</strong> britânica e experiência <strong>de</strong> tradução <strong>de</strong> literatura<br />

médica, o qual <strong>de</strong>verá iniciar funções brevemente.<br />

Espera-se, assim que numa primeira fase, e a curto prazo,<br />

estejam disponíveis resumos dos artigos publicados em<br />

inglês (validados por um filólogo cre<strong>de</strong>nciado) no mo<strong>de</strong>lo<br />

actual da APP em papel e na edição on line, contando a<br />

médio prazo, a totalida<strong>de</strong> dos conteúdos em inglês, apenas<br />

numa futura edição electrónica.<br />

6 - Claro que, para se obter este <strong>de</strong>si<strong>de</strong>rato, torna-se fundamental<br />

obter a garantia do reforço do secretariado, sem o qual será inviável<br />

obter um perfil mínimo <strong>de</strong> profissionalização para a logística<br />

da APP, i<strong>de</strong>ia implícita em todas as queixas que chegam ao CE.<br />

Após um período <strong>de</strong> pon<strong>de</strong>ração e negociação com a Direcção da<br />

SPP (<strong>de</strong> quem a APP <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> administrativa e financeiramente)<br />

foi obtida autorização para contratar uma funcionária (a tempo<br />

parcial) com a tarefa específica <strong>de</strong> apoio e gestão do processo<br />

editorial da revista. Já foi seleccionada uma pessoa para <strong>de</strong>sempenhar<br />

este cargo, aguardando-se apenas a concretização formal<br />

<strong>de</strong> um contrato exigido pela Direcção da SPP.<br />

7 - Sobre a questão da publicida<strong>de</strong> (embora não se tratando <strong>de</strong><br />

uma competência do CE da APP), foi achado conveniente tentar<br />

dinamizar tal pelouro como estratégia para incremento das<br />

receitas que permitam viabilizar financeiramente a nova<br />

estrutura em <strong>de</strong>senvolvimento. Para tal foi obtida a colaboração<br />

<strong>de</strong> uma profissional do sector, que sem encargos para a<br />

SPP (trabalhando à comissão) irá proactivamente angariar<br />

publicida<strong>de</strong>, ao invés do que tem acontecido.<br />

Em suma, todos estes passos procuram contribuir para a<br />

mo<strong>de</strong>rnização e “profissionalização” da APP através da criação<br />

<strong>de</strong> uma equipa mais alargada e diferenciada, assim como<br />

do recurso a meios mais expeditos e eficazes. Pelo meio surgirão<br />

constrangimentos e dificulda<strong>de</strong>s na relação com autores,<br />

revisores e leitores, pelo que pedimos a compreensão e colaboração<br />

<strong>de</strong> todos. Esperemos que o resultado final justifique<br />

as dificulda<strong>de</strong>s e os problemas do processo.<br />

António Gomes<br />

(Coor<strong>de</strong>nador Editorial)<br />

João M Vi<strong>de</strong>ira Amaral<br />

(Director)<br />

LX


0873-9781/11/<strong>42</strong>-4/LXI<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

NOTA EDITORIAL<br />

A <strong>Ped</strong>iatria do Neuro<strong>de</strong>senvolvimento, o que é?<br />

Guiomar Oliveira<br />

Editora Associada da <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

Presi<strong>de</strong>nte da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria do Neuro<strong>de</strong>senvolvimento da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

A <strong>Ped</strong>iatria do Neuro<strong>de</strong>senvolvimento, o que é?<br />

Abordar este tema numa nota editorial da nossa revista pediátrica<br />

não carece <strong>de</strong> motivos especiais. A elevada frequência<br />

com que os problemas do comportamento e do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

psicomotor ocorrem ao <strong>Ped</strong>iatra geral já bastava. No<br />

entanto a premência <strong>de</strong> o fazer, presentemente, <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> dois<br />

factos na actualida<strong>de</strong> da nossa comunida<strong>de</strong> pediátrica. E tendo<br />

em conta que o futuro é o resultado das <strong>de</strong>cisões que tomamos<br />

hoje, vamos então esclarecer alguns pontos <strong>de</strong>sta temática.<br />

O primeiro facto <strong>de</strong>ve-se à criação e respectiva abertura do<br />

Ciclo <strong>de</strong> Estudos Especiais (CEE) em <strong>Ped</strong>iatria do Neuro<strong>de</strong>senvolvimento<br />

(PND), divulgada em Diário da República nos<br />

avisos nºs 13221/2009 e 10530/2011.<br />

Logo, apesar <strong>de</strong> já estar organizada e autorizada a formação<br />

<strong>de</strong>sta área <strong>de</strong> diferenciação pediátrica, a sua tenra ida<strong>de</strong> torna<br />

previsível que alguns a <strong>de</strong>sconheçam, sendo por isso aconselhado<br />

que se apresente o assunto.<br />

O Segundo pren<strong>de</strong>-se com a revisão do actual Programa <strong>de</strong><br />

Formação do Internato Complementar <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria, que já vai<br />

com 15 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> (portaria nº 616/96), se bem que os dois<br />

últimos regulamentos dos internatos médicos (portarias nºs<br />

183/2006 e 251/2011, artigos nºs 25 e 28 respectivamente) a<br />

prevejam <strong>de</strong> 5 em 5. É portanto urgente concluir esta discussão<br />

que já vem amadurecendo há um ano em reuniões dos<br />

<strong>Ped</strong>iatras portugueses, timonados pelo seu Colégio. E neste<br />

âmbito, também importa realçar a importância da reforma do<br />

programa formativo para o <strong>de</strong>senvolvimento, o comportamento<br />

e as patologias do neuro<strong>de</strong>senvolvimento, que no programa<br />

<strong>de</strong> 1996, <strong>de</strong> um modo estruturado, contava apenas nos<br />

estágios opcionais.<br />

A <strong>Ped</strong>iatria é uma das 46 especialida<strong>de</strong>s reconhecidas pela<br />

Or<strong>de</strong>m dos Médicos e autorizada pelo Ministério da Saú<strong>de</strong>,<br />

como enumerado no recém-publicado Regulamento do<br />

Internato Médico (portaria n.º 251/2011). É por <strong>de</strong>mais<br />

conhecido entre nós o seu campo <strong>de</strong> acção, tendo como objectivo<br />

geral a optimização da saú<strong>de</strong> física, emocional e social<br />

das crianças e adolescentes até se completarem os 18 anos. Os<br />

pediatras são então treinados para a prevenção, a <strong>de</strong>tecção<br />

atempada, e orientação dos problemas físicos e sociais que<br />

afectam as crianças, incluindo neste leque os <strong>de</strong>svios comportamentais<br />

e do <strong>de</strong>senvolvimento. Pertence-lhes também promover<br />

estilos <strong>de</strong> vida saudáveis e facilitar a vida diária aos<br />

que sofrem <strong>de</strong> doenças crónicas. É ainda característica dos<br />

cuidados prestados pelo <strong>Ped</strong>iatra a eficaz comunicação com<br />

os seus utentes, as famílias e outros profissionais, nomeadamente<br />

da área educativa e social, tornando-o assim um elemento<br />

chave <strong>de</strong>sta gran<strong>de</strong> família 1 . É talvez por isso que, no<br />

âmbito das especialida<strong>de</strong>s, a <strong>Ped</strong>iatria é das que maior satisfação<br />

profissional proporciona 2 , apesar dos <strong>de</strong>safios actuais, e<br />

<strong>de</strong> os médicos clamarem novos estilos <strong>de</strong> vida 3 .<br />

Na verda<strong>de</strong>, apesar da melhoria franca dos cuidados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

pediátricos que <strong>de</strong>correram da evolução do conhecimento, da<br />

organização dos cuidados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, dos avanços do diagnóstico<br />

e dos apoios tecnológicos, com a consequente redução da<br />

mortalida<strong>de</strong> infantil, a procura dos serviços <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria vem<br />

aumentando 1 . As razões são várias. Entre elas conta-se a do<br />

aumento do número <strong>de</strong> sobreviventes <strong>de</strong> quadros patológicos<br />

<strong>de</strong> enorme complexida<strong>de</strong> médica, que pela fragilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> que carregam, carecem <strong>de</strong> apoio permanente 4 .<br />

Outra, em parte <strong>de</strong>correndo da anterior, é o aumento progressivo<br />

das patologias do neuro<strong>de</strong>senvolvimento que atingem, na<br />

população pediátrica dos países <strong>de</strong>senvolvidos, uma prevalência<br />

<strong>de</strong> 10 a 20% 5 . Representam os novos casos <strong>de</strong>sta área as<br />

crianças consi<strong>de</strong>radas <strong>de</strong> risco biológico para estas perturbações,<br />

como sejam os gran<strong>de</strong>s prematuros, as síndromes polimalformativas,<br />

as complexas doenças neurometabólicas e<br />

endócrinas e os sobreviventes <strong>de</strong> doenças oncológicas.<br />

Somam-se a estes, os quadros classicamente consi<strong>de</strong>rados<br />

graves, com critérios <strong>de</strong> diagnóstico bem <strong>de</strong>finidos, como a<br />

<strong>de</strong>ficiência intelectual, o autismo, a paralisia cerebral e os<br />

défices sensoriais profundos, na maioria congénitos, <strong>de</strong> causa<br />

<strong>de</strong>sconhecida, não sendo portanto passíveis <strong>de</strong> prevenção. Há<br />

ainda a acrescentar outros problemas do <strong>de</strong>senvolvimento e<br />

Recebido: 99.99.9999<br />

Aceite: 99.99.9999<br />

Correspondência:<br />

Guiomar Oliveira<br />

guiomar@chc.min-sau<strong>de</strong>.pt<br />

LXI


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):LXI-III<br />

Oliveira G – <strong>Ped</strong>iatria do Neuro<strong>de</strong>senvolvimento<br />

do comportamento, que embora <strong>de</strong> muito menor gravida<strong>de</strong><br />

relativamente aos enumerados, por serem muito frequentes e<br />

terem implicações negativas na aprendizagem e na adaptação<br />

social, requerem o cuidado <strong>de</strong> profissionais com formação<br />

específica nesta área. Contam-se entre estes as perturbações<br />

específicas da linguagem, as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem<br />

escolar, as perturbações <strong>de</strong> défice <strong>de</strong> atenção e hiperactivida<strong>de</strong><br />

e outros comportamentos disruptivos como os <strong>de</strong> oposição<br />

e da conduta. Não bastando, neste grupo, as situações <strong>de</strong><br />

índole marcadamente disfuncional do sistema nervoso central<br />

ou sensorial que se acabou <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver, mais problemas<br />

comportamentais e <strong>de</strong> aprendizagem se fomentam ainda nas<br />

socieda<strong>de</strong>s evoluídas. Advêm estes do facto dos grupos<br />

sociais mo<strong>de</strong>rnos se pautarem pela padronização <strong>de</strong> tudo,<br />

nomeadamente dos seus habitantes. Nos nossos dias, preten<strong>de</strong>-se<br />

que todas as crianças aprendam, e se comportem,<br />

segundo uma média programática, com base no sucesso académico.<br />

Ora como no crescimento, também o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

psicomotor apresenta variabilida<strong>de</strong>. Quando neste contexto<br />

as queixas surgem, e são causa <strong>de</strong> consulta ao <strong>Ped</strong>iatra,<br />

apenas tem que se <strong>de</strong>monstrar que aquela criança, naquela<br />

aptidão, está abaixo da média do seu grupo. Tem então que se<br />

a<strong>de</strong>quar o programa e a metodologia à criança, e não o<br />

inverso. E <strong>de</strong>pois tudo se afeiçoa. De outro modo, o comportamento<br />

disruptivo, <strong>de</strong> quem tem uma tarefa para cumprir e<br />

não é capaz, surgirá certamente. Aqui o <strong>Ped</strong>iatra, sobretudo se<br />

tiver um bom nível <strong>de</strong> conhecimento e <strong>de</strong> experiência no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e comportamento infantil, tem um papel<br />

único na <strong>de</strong>fesa da criança, moldando as expectativas e<br />

projecções <strong>de</strong> todos.<br />

É neste ponto que se <strong>de</strong>ve então esclarecer, o que é, e porque<br />

surgiu, a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria do “neuro<strong>de</strong>senvolvimento”<br />

substituindo a anterior <strong>de</strong> apenas “<strong>de</strong>senvolvimento”.<br />

Esta mudança impôs-se, <strong>de</strong> um modo natural, pela evolução<br />

do conhecimento e da socieda<strong>de</strong>; esta, se por um lado resolve<br />

problemas, pelo outro, levanta novas questões que exigem<br />

resposta. O grupo heterogéneo <strong>de</strong> patologias acima referido,<br />

que se caracteriza pela cronicida<strong>de</strong> e por limitar a autonomia<br />

social dos seus portadores, tem por base, na quase totalida<strong>de</strong><br />

dos casos, uma disfunção neurológica permanente. Sendo verda<strong>de</strong><br />

que um dos maiores avanços na área da investigação<br />

científica se reporta às neurociências, o cérebro mantém-se<br />

ainda dos órgãos mais <strong>de</strong>sconhecidos em termos funcionais.<br />

De tal modo que, não estão ainda disponíveis marcadores biológicos<br />

para as disfunções (doenças) do cérebro. A <strong>de</strong>finição<br />

do diagnóstico é exclusivamente baseada na clínica do neuro<strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Se até aqui os <strong>de</strong>safios já exigiam uma<br />

subespecialização ao <strong>Ped</strong>iatra, outros se vêm acrescentando.<br />

Nos últimos 40 anos a evolução no conhecimento e na complexida<strong>de</strong><br />

e heterogeneida<strong>de</strong> da etiologia <strong>de</strong>stes sindromas<br />

clínicos, foi ascen<strong>de</strong>nte. Juntaram-se às causas ambientais as<br />

anomalias estruturais dos cromossomas, as doenças monogénicas<br />

e neurometabólicas <strong>de</strong> entre outras, permanecendo a<br />

gran<strong>de</strong> maioria <strong>de</strong> causa <strong>de</strong>sconhecida e imprevisível.<br />

Actualmente as novas técnicas da biologia molecular (genomic<br />

copy number microarrays ou cytogenetic microarrays ou chromosomal<br />

microarrays) permitem o estudo do genoma humano<br />

com um po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> resolução incomparavelmente superior ao da<br />

citogenética. Na realida<strong>de</strong>, com esta inovação técnica é possível<br />

<strong>de</strong>tectar perdas (loss – <strong>de</strong>lection) ou ganhos (gain - duplication)<br />

<strong>de</strong> segmentos <strong>de</strong> DNA com um comprimento até pelo<br />

menos <strong>de</strong> 1 Kilobase - Kb (1000 pares <strong>de</strong> bases) apelidados <strong>de</strong><br />

copy number variant (CNV). Verificou-se também que estes<br />

CNV são muito frequentes e estão “espalhados” por todo o<br />

genoma humano. Algumas <strong>de</strong>stas variações são polimorfismos<br />

presentes na população saudável e outras estão associadas à<br />

doença, sendo portanto consi<strong>de</strong>radas patogénicas.<br />

Esta tecnologia tem permitido resolver casos, até então <strong>de</strong><br />

causa <strong>de</strong>sconhecida, com relevante implicação clínica e <strong>de</strong><br />

aconselhamento genético. Mas também vem levantar questões<br />

relativamente à interpretação dos resultados. Verificou-se<br />

nalguns que a anomalia genómica do probando também<br />

estava presente em familiares aparentemente sem doença.<br />

A generalização <strong>de</strong>sta tecnologia a laboratórios clínicos <strong>de</strong>ve<br />

passar ainda por validação e regulamentação 6,7 .<br />

Certamente que a interpretação dos resultados exige a participação<br />

activa do <strong>Ped</strong>iatra do Neuro<strong>de</strong>senvolvimento. Mais do<br />

que nunca a semiologia e a observação clínica, minuciosa, do<br />

doente é fundamental. O diálogo estreito entre os clínicos e os<br />

técnicos e investigadores do laboratório, partilhando uma linguagem<br />

que <strong>de</strong>ve passar a ser comum, é uma exigência actual,<br />

e o exemplo da biologia molecular, foi apenas um <strong>de</strong> muitos<br />

outros. É a fase <strong>de</strong> interpretação e da correlação entre o genótipo<br />

e o fenótipo. Outras variáveis, para além dos genes,<br />

nomeadamente ambientais, epigenéticas e <strong>de</strong> interacção entre<br />

genes virão a explicar estas doenças pediátricas.<br />

Foi neste enca<strong>de</strong>amento que um grupo <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatras com muitos<br />

anos <strong>de</strong> contacto com estas patologias percebeu as suas limitações<br />

e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensinar e apren<strong>de</strong>r mais, <strong>de</strong> um modo<br />

estruturado. O regime jurídico da formação médica <strong>de</strong> 2004<br />

(DL nº 203/2004) no artigo 27º prevê a criação <strong>de</strong> ciclo <strong>de</strong> estudos<br />

especiais “Como processo suplementar <strong>de</strong> formação, em<br />

or<strong>de</strong>m ao aperfeiçoamento ou diferenciação técnica em áreas<br />

específicas <strong>de</strong> activida<strong>de</strong> não constituídas em áreas profissionais<br />

especializada”, que foi regulamentado em 2007 (portaria<br />

n.º 227/2007). Esta conjuntura veio permitir a sua formalização.<br />

Como já se tem vindo a <strong>de</strong>monstrar para respon<strong>de</strong>r às múltiplas<br />

necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sta população é necessário um trabalho<br />

conjunto <strong>de</strong> diferentes disciplinas (hospitalares, da comunida<strong>de</strong><br />

e laboratoriais), nunca esquecendo como centro a família.<br />

Nesta perspectiva, ser <strong>Ped</strong>iatra tornou-se uma exigência<br />

para o ingresso nesta área <strong>de</strong> especialização. Devendo acrescentar-se<br />

a esta base, preparação e aperfeiçoamento em neurologia<br />

pediátrica, em genética, nas doenças hereditárias do<br />

metabolismo, na pedopsiquiatria, na psicologia, na intervenção<br />

educativa, na reabilitação, nas neurociências e na biologia<br />

e bioquímica molecular, <strong>de</strong> entre outras. Pareceu então mais<br />

a<strong>de</strong>quado, pela abrangência, o nome <strong>de</strong> Neuro<strong>de</strong>senvolvimento<br />

nesta diferenciação da <strong>Ped</strong>iatria que versará toda esta<br />

matéria num período formativo <strong>de</strong> dois anos.<br />

A mudança do nome da Secção <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria do Desenvolvimento<br />

da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria, formada em<br />

LXII


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):LXI-III<br />

Oliveira G – <strong>Ped</strong>iatria do Neuro<strong>de</strong>senvolvimento<br />

1987, por um grupo <strong>de</strong> neuropediatras e pediatras a quem se<br />

<strong>de</strong>ve a Escola neste domínio, para <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria do<br />

Neuro<strong>de</strong>senvolvimento teve as mesmas razões.<br />

A <strong>Ped</strong>iatria do Neuro<strong>de</strong>senvolvimento tem na sua filosofia, e<br />

nesta concepção também nunca a per<strong>de</strong>u <strong>de</strong> vista, o papel que<br />

os cuidados primários <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenham neste grupo <strong>de</strong><br />

problemas.<br />

Tal como recomendado pela Comissão Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da<br />

Criança e Adolescente na Carta Hospitalar <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria, com<br />

a concordância <strong>de</strong>sta <strong>Socieda<strong>de</strong></strong>, o neuro<strong>de</strong>senvolvimento no<br />

sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e na re<strong>de</strong> <strong>de</strong> referência materno-infantil <strong>de</strong>ve<br />

localizar-se a três níveis <strong>de</strong> diferenciação.<br />

Aos cuidados primários <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (nível I) pertence a vigilância<br />

das aquisições do neuro<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> todas as<br />

crianças nas consultas <strong>de</strong> rotina, bem como o rastreio e a<br />

orientação imediata dos seus <strong>de</strong>svios para o nível seguinte <strong>de</strong><br />

diferenciação, como também preconizado pela Aca<strong>de</strong>mia<br />

Americana <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria 8 .<br />

Nos hospitais com serviços <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria geral <strong>de</strong> nível II <strong>de</strong>verão<br />

existir unida<strong>de</strong>s ou consultas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento cujas<br />

competências incluem a activida<strong>de</strong> assistencial e formativa na<br />

preparação básica em neuro<strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Aos Centros <strong>de</strong> Desenvolvimento, se<strong>de</strong>ados em Hospitais <strong>de</strong><br />

apoio perinatal diferenciado ou em Serviços <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

especializados <strong>de</strong> nível III, compete a resposta assistencial <strong>de</strong><br />

nível II da sua área <strong>de</strong> residência, e <strong>de</strong> nível III <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong><br />

patologias específicos, bem como a responsabilida<strong>de</strong> pela formação<br />

pré e pós graduada e ainda pela investigação.<br />

Entramos então no segundo facto que <strong>de</strong>u mote a esta nota<br />

editorial: a revisão do programa do internato complementar <strong>de</strong><br />

<strong>Ped</strong>iatria. O que existe <strong>de</strong> 1996 mereceu elogios <strong>de</strong> todos, e os<br />

seus méritos têm sido <strong>de</strong>stacados. Contudo, nós, como <strong>Socieda<strong>de</strong></strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria do Neuro<strong>de</strong>senvolvimento, consi<strong>de</strong>ramos<br />

que o próximo <strong>de</strong>ve integrar no seu tronco comum um período<br />

<strong>de</strong> três meses (ou <strong>42</strong>0 horas) <strong>de</strong> formação obrigatória e estruturada<br />

nesta área facultada por serviços ou unida<strong>de</strong>s com idoneida<strong>de</strong><br />

formativa <strong>de</strong> Hospitais <strong>de</strong> nível II e III. Deve ter como<br />

objectivos <strong>de</strong> conhecimento e <strong>de</strong>sempenho que os médicos no<br />

final dos três anos do tronco comum <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria sejam capazes<br />

<strong>de</strong> promover a optimização do <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor<br />

e do comportamento; vigiar, rastrear e orientar os seus <strong>de</strong>svios<br />

para os serviços a<strong>de</strong>quados hospitalares e da comunida<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>vendo ainda adquirir um nível básico <strong>de</strong> conhecimento nas<br />

condições patológicas crónicas mais frequentes.<br />

O <strong>Ped</strong>iatra, mais do que nunca, tem que se preparar e adaptar<br />

para um futuro cujas tendências <strong>de</strong> mudança já se equacionam.<br />

A Aca<strong>de</strong>mia Americana <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria já há três anos criou uma<br />

Task force para avaliar as correntes e tendências da socieda<strong>de</strong><br />

actual que irão influenciar a profissão da <strong>Ped</strong>iatria nos próximos<br />

10 a 15 anos. Estão a ser <strong>de</strong>lineadas recomendações <strong>de</strong><br />

como se <strong>de</strong>vem preparar os seus membros para respon<strong>de</strong>r a<br />

estas mudanças 9 . Foram <strong>de</strong>finidas oito megatendências. No<br />

âmbito <strong>de</strong>ste tema realço a terceira: Advances in medical<br />

knowledge, technology, diagnostics, and treatment. E, nesta<br />

sequência, consi<strong>de</strong>rando que se integra bem no conceito que<br />

se preten<strong>de</strong> passar aos leitores <strong>de</strong>ste texto, <strong>de</strong>ixa-se transcrito<br />

um dos conselhos <strong>de</strong>ssa Visão da <strong>Ped</strong>iatria 2020: Drive the<br />

vision and strategy to bring the profession together on “bench<br />

to bedsi<strong>de</strong> to community” translational research.<br />

Referências<br />

1. American Aca<strong>de</strong>my of <strong>Ped</strong>iatrics. <strong>Ped</strong>iatrics 101: A Resource Gui<strong>de</strong><br />

from the American Aca<strong>de</strong>my of <strong>Ped</strong>iatrics. Disponível em<br />

http://www.aap.org/profed/<strong>Ped</strong>s101book.pdf.<br />

2. Leigh JP, Tancredi DJ, Kravitz RL. Physician career satisfaction<br />

within specialties. BMC Health Serv Res 2009; 9:166.<br />

3. Shugerman R, Linzer M, Nelson K, Douglas J, Williams R, Konrad R;<br />

Career Satisfaction Study Group. <strong>Ped</strong>iatric generalists and subspecialists:<br />

<strong>de</strong>terminants of career satisfaction. <strong>Ped</strong>iatrics 2001;108:e 40.<br />

4. Goodman DC; Committee on <strong>Ped</strong>iatric Workforce. The pediatrician workforce:<br />

current status and future prospects. <strong>Ped</strong>iatrics 2005;116:e156-e73.<br />

5. Capute AJ, Accardo JP. Neuro<strong>de</strong>velopmental Disabilities in Infancy<br />

and Childhood. 3rd ed. Brookes Publishing 2008.<br />

6. Kearney HM, Thorland EC, Brown KK, Quintero-Rivera F, South ST;<br />

Working Group of the American College of Medical Genetics standards<br />

and gui<strong>de</strong>lines for interpretation and reporting of postnatal<br />

constitutional copy number variants. Genet Med 2011;13(7):680-5.<br />

7. Kearney HM, South ST, Wolff DJ, Lamb A, Hamosh A, Rao KW;<br />

Working Group of the American College of Medical Genetics.<br />

American College of Medical Genetics recommendations for the<br />

<strong>de</strong>sign and performance expectations for clinical genomic copy number<br />

microarrays inten<strong>de</strong>d for use in the postnatal setting for <strong>de</strong>tection<br />

of constitutional abnormalities. Genet Med 2011;13(7):676-9.<br />

8. Council on Children With Disabilities; Section on Developmental<br />

Behavioral <strong>Ped</strong>iatrics; Bright Futures Steering Committee; Medical<br />

Home Initiatives for Children With Special Needs Project Advisory<br />

Committee. I<strong>de</strong>ntifying infants and young children with <strong>de</strong>velopmental<br />

disor<strong>de</strong>rs in the medical home: an algorithm for <strong>de</strong>velopmental<br />

surveillance and screening. <strong>Ped</strong>iatrics 2006;118(1):405-20.<br />

9. American Aca<strong>de</strong>my of <strong>Ped</strong>iatrics. Task Force on Vision of <strong>Ped</strong>iatrics<br />

2020. Vision of <strong>Ped</strong>iatrics2020. Acessível em http:// www<br />

aap.org/visionofpediatrics.<br />

LXIII


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<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

ARTIGO ORIGINAL<br />

Cefaleias numa população pediátrica portuguesa em contexto <strong>de</strong> urgência<br />

Conceição Alves 1 , Teresa Campos 2 , Ana Paula Fernan<strong>de</strong>s 2<br />

1. Escola <strong>de</strong> Ciências da Saú<strong>de</strong> da Universida<strong>de</strong> do Minho<br />

2. Centro Hospitalar do Alto Ave, Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Guimarães<br />

Resumo<br />

Introdução: As cefaleias são muito frequentes em <strong>Ped</strong>iatria,<br />

po<strong>de</strong>ndo ser manifestação duma patologia grave que exija<br />

intervenção urgente. A investigação das cefaleias em contexto<br />

urgente é um <strong>de</strong>safio. Foi objectivo <strong>de</strong>screver o espectro diagnóstico<br />

e a abordagem das cefaleias numa urgência pediátrica<br />

e associar dados clínicos aos casos mais graves <strong>de</strong> cefaleias.<br />

Metodologia: Estudo prospectivo histórico baseado na revisão<br />

casuística da população pediátrica admitida, durante um<br />

ano, no serviço <strong>de</strong> urgência <strong>de</strong> um hospital distrital português<br />

em que a queixa principal era cefaleias.<br />

Resultados: As cefaleias representaram 0,95% das admissões na<br />

urgência. Analisaram-se 179 crianças com ida<strong>de</strong> entre os dois e<br />

catorze anos. O espectro diagnóstico foi <strong>de</strong> 70,4% cefaleias secundárias<br />

(46,8% infecções respiratórias), 16,2% primárias (41,4%<br />

enxaquecas) e 13,4% inclassificáveis. Houve três casos patológicos<br />

graves, todos com alterações no exame neurológico. Em 51,7% das<br />

cefaleias primárias realizaram-se exames complementares (neuroimagem<br />

em 26,7%). O paracetamol foi o fármaco <strong>de</strong> primeira linha.<br />

Em 81,0% dos casos houve alta para o exterior. Em 31,0% das<br />

cefaleias primárias existiu nova recorrência ao serviço <strong>de</strong> urgência.<br />

Discussão: As cefaleias como queixa principal são um motivo<br />

incomum <strong>de</strong> recurso à urgência, sendo na maioria secundárias a<br />

infecções, predominantemente do sistema respiratório. O recurso<br />

a exames complementares, nomeadamente <strong>de</strong> neuroimagem, foi<br />

excessivo. A investigação da localização e qualida<strong>de</strong> da cefaleia<br />

e dos antece<strong>de</strong>ntes familiares, bem como um exame neurológico<br />

completo, po<strong>de</strong>m melhorar a abordagem diagnóstica e terapêutica.<br />

As recorrências à urgência nas cefaleias primárias evi<strong>de</strong>nciam<br />

a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhorar o acompanhamento, bem como<br />

as medidas terapêuticas e profiláticas para o ambulatório.<br />

Conclusões: A maioria das cefaleias em contexto <strong>de</strong> urgência na<br />

população pediátrica é benigna. Um exame neurológico minucioso<br />

sem alterações é primordial na exclusão <strong>de</strong> patologia grave<br />

e remete para segundo plano o recurso urgente à neuroimagem.<br />

Palavras-chave: Cefaleia; criança; urgência<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011;<strong>42</strong>(4):137-43<br />

Headaches in a Portuguese paediatric population<br />

in an emergency context<br />

Abstract<br />

Background: Headaches are very common in paediatric patients,<br />

and can be secondary to a serious disor<strong>de</strong>r that requires urgent<br />

care. Headache management in an emergency context is challenging.<br />

The aims of the study are to <strong>de</strong>scribe spectrum and assessment<br />

in a paediatric emergency <strong>de</strong>partment and to associate clinical<br />

data with the most severe headaches.<br />

Methodology: One year retrospective study of a paediatric population<br />

in a emergency <strong>de</strong>partment of a district hospital with a chief<br />

complaint of headache.<br />

Results: Headaches accounted for 0,95% of admissions to the emergency<br />

<strong>de</strong>partment. One hundred and seventeen nine children between<br />

two and fourteen years old were analysed. Diagnoses inclu<strong>de</strong>d 70,4%<br />

secondary headaches (46,8% respiratory infections), 16,2% primary<br />

headaches (41,4% migraine) and 13,4% unclassifiable. There were<br />

three serious pathological cases, all with abnormal neurological<br />

examination. Complementary studies were required in 51,7% of primary<br />

headaches (neuroimaging in 26,7%). Paracetamol was the firstline<br />

drug. Discharge from the emergency room occurred in 81,0%<br />

cases and readmissions in 31,0% of primary headaches.<br />

Discussion: Headache as the chief complaint is an uncommon reason<br />

to attend to the emergency <strong>de</strong>partment. Most of them are secondary<br />

toinfections,mainlyfromtherespiratorysystem.Therewasanexcessive<br />

request of diagnostic tests, particularly neuroimaging. Assessment<br />

of headache localization, quality and family history, as well as a<br />

complete neurological examination, can allow a better diagnostic and<br />

therapeutic management. Recurrences to the emergency <strong>de</strong>partment<br />

in primary headaches highlight the need for improving follow-up, as<br />

well as outpatient therapeutic and prophylactic measures.<br />

Conclusions: Most headaches in paediatric patients in an emergency<br />

context are benign.Anormal neurological examination is essential to<br />

exclu<strong>de</strong> serious disor<strong>de</strong>rs and to lessen urgent neuroimaging tests.<br />

Key-Words: Headache; child; emergency room<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011;<strong>42</strong>(4):137-43<br />

Recebido: 22.12.2008<br />

Aceite: 19.10.2011<br />

Correspondência:<br />

Conceição Alves<br />

Rua Central, nº 102<br />

4495-019 Aguçadoura<br />

sao.alves@gmail.com<br />

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<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):137-43<br />

Alves C et al. – Cefaleias numa urgência pediátrica<br />

ABREVIATURAS<br />

CID Classificação Internacional <strong>de</strong> Doenças<br />

ECD Exames Complementares <strong>de</strong> Diagnóstico<br />

IC Intervalo <strong>de</strong> Confiança<br />

IHS <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Internacional <strong>de</strong> Cefaleias<br />

PL Punção Lombar<br />

SNC Sistema Nervoso Central<br />

SU Serviço <strong>de</strong> Urgência<br />

SUP Serviço <strong>de</strong> Urgência <strong>Ped</strong>iátrico<br />

TCE Traumatismo Cranioencefálico<br />

VAS Vias Aéreas Superiores<br />

Introdução<br />

A cefaleia é uma queixa muito frequente na população pediátrica<br />

1 , ocupando gran<strong>de</strong> parte da prática clínica <strong>de</strong> pediatras e<br />

neuropediatras 2 . A sua frequência é variável, <strong>de</strong>vido à heterogeneida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> classificação e <strong>de</strong> métodos <strong>de</strong> diagnóstico<br />

2 . É um problema comum durante a infância, tornando-se<br />

ainda mais frequente na adolescência 3 . No estudo pioneiro <strong>de</strong><br />

Bille 4 , envolvendo 9000 crianças, estimou-se que um terço das<br />

crianças até aos sete anos e meta<strong>de</strong> das crianças até aos quinze<br />

anos já teria sofrido <strong>de</strong> cefaleia. Em estudos epi<strong>de</strong>miológicos<br />

mais recentes 5,6 , a incidência distribuiu-se da seguinte forma:<br />

aos três anos 3 a 8%; aos cinco anos, 19,5%; aos sete anos,<br />

entre 37% e 51,5%; dos sete aos 15 anos, entre 57% e 82%.<br />

Segundo dados da Direcção-Geral da Saú<strong>de</strong>, a cefaleia, como<br />

queixa principal, representa 2% dos motivos <strong>de</strong> ida ao serviço<br />

<strong>de</strong> urgência (SU) e 1,5 a 16% das consultas urgentes, embora<br />

esteja documentado que apenas um pequeno número necessite<br />

realmente <strong>de</strong> observação urgente 7 . Este sintoma causa gran<strong>de</strong><br />

ansieda<strong>de</strong> nos pais e é também uma fonte <strong>de</strong> preocupação do<br />

médico. Por um lado, apesar da maioria das cefaleias ser<br />

benigna e auto-limitada 1 , em contexto <strong>de</strong> urgência, é essencial<br />

a exclusão <strong>de</strong> doenças com importante morbimortalida<strong>de</strong> que<br />

lhes possam estar associadas, como patologia tumoral ou<br />

infecção grave do sistema nervoso central (SNC), hidrocefalia,<br />

pseudotumor cerebral ou hemorragia intracraniana 8 . Por<br />

outro lado, é necessário orientar a<strong>de</strong>quadamente os casos não<br />

graves, evitando o recurso repetido ao SU pediátrico (SUP)<br />

pela mesma queixa e, sobretudo, contribuindo para uma<br />

melhoria significativa da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da criança.<br />

A ferramenta isolada mais importante no diagnóstico, classificação<br />

e orientação da criança com cefaleia é uma anamnese<br />

cuidada, complementada pelo exame físico geral e avaliação<br />

neurológica <strong>de</strong>talhada 9 . Os exames complementares <strong>de</strong> diagnóstico<br />

(ECD) estão indicados apenas na suspeita <strong>de</strong> causa<br />

orgânica subjacente 8 . Os médicos <strong>de</strong> medicina geral e familiar,<br />

pediatras e neurologistas têm vindo a constatar o valor<br />

limitado da neuroimagem na avaliação <strong>de</strong> crianças com cefaleia,<br />

reservando a sua realização sobretudo nos casos em que<br />

se verifiquem alterações <strong>de</strong> novo no exame neurológico 10,11 .<br />

Embora existam vários estudos epi<strong>de</strong>miológicos da frequência<br />

<strong>de</strong> cefaleias na população escolar a nível <strong>de</strong> Cuidados <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong> Primários ou clínicas pediátricas 4-6,12,13 , poucos são<br />

<strong>de</strong>senvolvidos sobre a cefaleia como queixa principal <strong>de</strong> ida<br />

ao SU 14-18 . A maioria da informação sobre a avaliação das cefaleias<br />

nas crianças foi extrapolada <strong>de</strong> estudos realizados em<br />

ambulatório 19 . A investigação é também insuficiente quanto às<br />

características das cefaleias mais frequentemente associadas a<br />

doenças ameaçadoras da vida no SUP 14 . Salienta-se ainda a<br />

carência <strong>de</strong> estudos controlados sobre o tratamento e profilaxia<br />

das cefaleias primárias em crianças e adolescentes,<br />

nomeadamente em contexto <strong>de</strong> SU 19 .<br />

Todas estas razões, aliadas à inexistência <strong>de</strong> um estudo português<br />

publicado nesta área, fundamentaram a realização <strong>de</strong>ste<br />

projecto, através do qual se reviram os processos dos casos <strong>de</strong><br />

cefaleias que surgiram no SUP <strong>de</strong> um hospital distrital português,<br />

no período <strong>de</strong> um ano, tendo sido também analisada a<br />

sua abordagem e orientação.<br />

Objectivos<br />

1) Descrever clinicamente a população pediátrica que recorreu<br />

ao SUP <strong>de</strong> um hospital distrital português com queixa<br />

principal <strong>de</strong> cefaleias, assim como o espectro diagnóstico e a<br />

evolução das cefaleias nessa população; 2) investigar o<br />

recurso a ECD e tratamento das cefaleias primárias; 3) associar<br />

dados clínicos aos casos mais graves <strong>de</strong> cefaleias.<br />

Metodologia<br />

Realizou-se um estudo prospectivo histórico baseado na revisão<br />

casuística da população <strong>de</strong> utentes com menos <strong>de</strong> quinze<br />

anos que foram admitidos no SUP <strong>de</strong> um hospital distrital português,<br />

no período <strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> Janeiro a 31 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2005,<br />

tendo como queixa principal cefaleias. Nesse período, registaram-se<br />

25438 admissões no SUP. I<strong>de</strong>ntificaram-se, por meio<br />

informático, 2<strong>42</strong> admissões por queixa principal <strong>de</strong> cefaleias.<br />

Estes dados permitiram calcular a frequência <strong>de</strong> cefaleias<br />

como queixa principal no recurso ao SUP.<br />

Pelo número do processo da admissão, consultou-se o respectivo<br />

episódio <strong>de</strong> urgência no ALERT ® EDIS (ALERT Life<br />

Sciences Computing, S.A., Porto), programa que permite o<br />

registo clínico electrónico e interactivo <strong>de</strong> cada utente admitido<br />

no SUP. Ace<strong>de</strong>u-se apenas a 222 admissões por impossibilida<strong>de</strong><br />

informática <strong>de</strong> obtenção do número do processo.<br />

Excluíram-se seis casos por insuficiência <strong>de</strong> dados, oito por<br />

abandono do SUP após ser efectuada a triagem <strong>de</strong> Manchester<br />

e dois por ida<strong>de</strong> igual ou superior a quinze anos. A amostra<br />

<strong>de</strong>ste estudo ficou assim constituída pelas 179 crianças que<br />

motivaram 206 admissões no período supracitado.<br />

Para cada criança, pesquisou-se no ALERT ® EDIS novas<br />

recorrências ao SUP pela mesma queixa nos doze meses<br />

seguintes ao episódio <strong>de</strong> urgência inicial. Os processos dos<br />

utentes encaminhados para consulta externa ou internamento<br />

foram também consultados na aplicação informática interactiva<br />

<strong>de</strong> apoio à activida<strong>de</strong> clínica SAM ® , versão para<br />

Cuidados <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Diferenciados (IGIS/ACSS, Lisboa).<br />

Determinaram-se como variáveis e parâmetros a analisar: i)sexo;<br />

ii)ida<strong>de</strong>; iii)classificação diagnóstica da cefaleia <strong>de</strong> acordo com<br />

os critérios da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Internacional <strong>de</strong> Cefaleias (IHS) e das<br />

adaptações à população pediátrica 20,21 [modificou-se o conteúdo<br />

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<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):137-43<br />

Alves C et al. – Cefaleias numa urgência pediátrica<br />

da categoria “Infecções”, passando esta também a integrar as<br />

infecções intracranianas bacterianas e víricas, infecções sistémicas<br />

e infecções <strong>de</strong> estruturas cranianas, pescoço, olhos, ouvidos,<br />

seios perinasais, <strong>de</strong>ntes, boca ou outras estruturas faciais ou cranianas;<br />

as cefaleias secundárias a infecções foram posteriormente<br />

distribuídas pelo local afectado, <strong>de</strong> acordo com os grupos<br />

<strong>de</strong>finidos pela Classificação Internacional <strong>de</strong> Doenças<br />

(CID10) 22 ]; iv)localização, qualida<strong>de</strong> (pulsátil, não pulsátil, ou<br />

incapacida<strong>de</strong> do utente <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver), impacto nas activida<strong>de</strong>s<br />

diárias e padrão temporal das cefaleias (a intensida<strong>de</strong> não foi<br />

abrangida por ausência <strong>de</strong> registos objectivos) 14,19,23 ;<br />

v)antece<strong>de</strong>ntes familiares <strong>de</strong> cefaleia primária, antece<strong>de</strong>ntes pessoais<br />

e acompanhamento prévio em consulta <strong>de</strong> Neurologia ou<br />

<strong>Ped</strong>iatria por cefaleia; vi)presença <strong>de</strong> sinais <strong>de</strong> alarme para a<br />

realização <strong>de</strong> neuroimagem [a)alterações do exame neurológico<br />

objectivamente observadas; b)outros sinais <strong>de</strong> alarme: cefaleia<br />

intensa, com início agudo ou com pouco tempo <strong>de</strong> evolução<br />

(menos <strong>de</strong> seis meses); padrão crónico progressivo; existência <strong>de</strong><br />

shunt ventriculoperitoneal; síndrome neurocutâneo; ida<strong>de</strong> inferior<br />

a três anos; cefaleia que repetidamente acorda a criança;<br />

cefaleia ou vómitos matinais; vómitos persistentes (intolerância<br />

alimentar); unilateralida<strong>de</strong> não alternante da cefaleia; localização<br />

occipital persistente; associação a manobras <strong>de</strong> Valsalva; ausência<br />

<strong>de</strong> resposta a analgésicos comuns; aura atípica; aumento <strong>de</strong>sproporcional<br />

do perímetro cefálico (até aos três anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>);<br />

atraso estaturo-pon<strong>de</strong>ral 7,11 ]; vii)ECD realizados e resultado dos<br />

exames <strong>de</strong> neuroimagem [a)sem alterações; b)alterações minor,<br />

se alterações inci<strong>de</strong>ntais sem implicação directa na cefaleia;<br />

c)alterações patológicas, se alterações do SNC que foram causa<br />

do quadro clínico]; viii)gravida<strong>de</strong> da cefaleia (grave quando exigiu<br />

intervenção rápida no SUP e/ou quando foi secundária a distúrbio<br />

com envolvimento orgânico ou estrutural do SNC; contemplou-se<br />

meningite vírica, apesar da evolução benigna, por<br />

exigir internamento, vigilância e pela intensida<strong>de</strong> e morbilida<strong>de</strong><br />

da cefaleia; excluiu-se enxaqueca 19 ); ix)tratamento sintomático<br />

das cefaleias primárias; x)encaminhamento após primeiro episódio<br />

<strong>de</strong> urgência; xi)recorrência dos utentes com cefaleias primárias<br />

nos doze meses seguintes ao primeiro episódio (recorrência<br />

precoce se até 72h 19 ).<br />

A cada utente foi atribuído um número, <strong>de</strong> forma a manter o<br />

anonimato e permitir a correspondência da informação na<br />

base <strong>de</strong> dados, criada no programa <strong>de</strong> análise estatística SPSS<br />

16.0 for Windows ® (SPSS Inc., Chicago, Illinois, EUA). Proce<strong>de</strong>u-se<br />

à análise <strong>de</strong>scritiva <strong>de</strong> todas as variáveis através do<br />

cálculo do número total <strong>de</strong> casos, frequências absolutas e frequências<br />

relativas para os casos válidos. Para a variável ida<strong>de</strong>,<br />

calculou-se a média e valor mínimo e máximo.<br />

Compararam-se os resultados com os do estudo <strong>de</strong> Burton et<br />

al 15 . Calcularam-se os intervalos <strong>de</strong> confiança (IC) para cada<br />

frequência das variáveis <strong>de</strong> Burton et al a analisar, admitindo-se<br />

um erro máximo <strong>de</strong> 5%, através da fórmula:<br />

,em que p correspon<strong>de</strong> à percentagem<br />

observada no estudo e N correspon<strong>de</strong> à dimensão da amostra.<br />

Admitiu-se, com um grau <strong>de</strong> confiança <strong>de</strong> 95%, não existirem<br />

diferenças estatisticamente significativas quando a frequência<br />

estudada <strong>de</strong>ste estudo se situou no IC correspon<strong>de</strong>nte do<br />

estudo <strong>de</strong> Burton et al 15 .<br />

Resultados<br />

No período <strong>de</strong> tempo analisado, as cefaleias como queixa<br />

principal representaram 0,95% dos episódios <strong>de</strong> urgência.<br />

Admitiram-se 179 crianças, 105 do sexo masculino (58,7%),<br />

com ida<strong>de</strong>s compreendidas entre os dois e os catorze anos<br />

(média <strong>de</strong> 8 anos DP 3). A maioria encontrava-se em ida<strong>de</strong><br />

escolar (n=101) (Figura 1).<br />

Figura 1 – Distribuição das cefaleias por sexo e grupo etário.<br />

O espectro diagnóstico foi <strong>de</strong> 70,4% cefaleias secundárias,<br />

16,2% primárias e 13,4% inclassificáveis (Quadros I e II).<br />

Quanto às cefaleias secundárias, a maioria foi atribuída a<br />

infecção respiratória (n=59; 46,8%), sendo as infecções respiratórias<br />

das vias aéreas superiores (VAS) as mais frequentes<br />

(n=44). Observaram-se oito cefaleias agudas pós-traumáticas<br />

atribuídas a TCE, três meningites (uma bacteriana e duas víricas)<br />

e três cefaleias pós-ictais em crianças com epilepsia.<br />

Quadro I – Etiologia das cefaleias no Serviço <strong>de</strong> Urgência pediátrico.<br />

Diagnósticos n = 179 %<br />

Cefaleias primárias 29 16,2<br />

Enxaqueca 12 6,7<br />

Não especificadas 17 9,5<br />

Cefaleias secundárias 126 70,4<br />

TCE* ou traumatismo do pescoço 8 4,5<br />

Distúrbio intracraniano não vascular 5 2,8<br />

Abuso ou abstinência <strong>de</strong> substâncias 1 0,6<br />

Infecção 104 58,1<br />

Distúrbio <strong>de</strong> estruturas faciais,<br />

cranianas ou do pescoço<br />

6 3,4<br />

Distúrbio psiquiátrico 1 0,6<br />

Outras cefaleias, nevralgias cranianas<br />

ou dores faciais centrais ou primárias<br />

1 0,6<br />

Cefaleias inclassificáveis 24 13,4<br />

*TCE, traumatismo cranioencefálico<br />

Quadro II – Local afectado nas cefaleias atribuídas a infecção.<br />

Local n=104 %<br />

Geral e inespecífico 35 33,7<br />

Sistema nervoso 3 2,9<br />

Sistema respiratório 59 56,7<br />

Sistema digestivo 1 1,0<br />

Olhos e anexos 1 1,0<br />

Ouvidos e apófise mastói<strong>de</strong> 5 4,8<br />

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<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):137-43<br />

Alves C et al. – Cefaleias numa urgência pediátrica<br />

Das 29 crianças com cefaleias primárias, doze tinham enxaqueca<br />

(41,4%). Em 75,9% (n=22), os antece<strong>de</strong>ntes pessoais<br />

eram irrelevantes. Os antece<strong>de</strong>ntes familiares não foram<br />

registados em 20 casos (69,0%); em seis crianças havia história<br />

<strong>de</strong> cefaleias primárias em familiares <strong>de</strong> primeiro grau e nas<br />

restantes três os antece<strong>de</strong>ntes familiares eram irrelevantes.<br />

Nas cefaleias inclassificáveis, os antece<strong>de</strong>ntes familiares não<br />

foram registados em 87,5% das crianças.<br />

Quanto às características das cefaleias observadas, só houve<br />

registos médicos da qualida<strong>de</strong> em 8,4% e do impacto nas activida<strong>de</strong>s<br />

diárias em 15,6%, pelo que esses dados não foram<br />

comparados posteriormente. A localização das cefaleias<br />

(Quadro III) foi registada em apenas 53,6% dos casos (n=96),<br />

sendo a mais frequente a frontal quer nas cefaleias primárias<br />

(52,2%), quer nas secundárias (63,8%). A significância estatística<br />

não foi comprovada por insuficiência <strong>de</strong> dados.<br />

Quadro III – Localização da cefaleia segundo a sua etiologia.<br />

Etiologia das cefaleias<br />

Localização (n=96)<br />

Primária Secundária Inclassificável<br />

n (%) n (%) n (%)<br />

Frontal 12 (52,2) 37 (63,8) 11 (73,3)<br />

Occipital 1 (4,3) 10 (17,2) 2 (13,3)<br />

Parietal 2 (8,7) 4 (6,9) 0 (0,0)<br />

Hemicraniana 4 (17,4) 2 (3,4) 1 (6,7)<br />

Global 4 (17,4) 5 (8,6) 1 (6,7)<br />

Total 23 (100,0) 58 (100,0) 15 (100,0)<br />

De acordo com o padrão temporal, as cefaleias agudas representaram<br />

83,2% (n=149) <strong>de</strong> todos os casos. Houve um caso <strong>de</strong><br />

cefaleia crónica progressiva, sendo as restantes cefaleias agudas<br />

recorrentes (n=29; 16,2%).<br />

Nas cefaleias primárias, o padrão agudo recorrente foi o mais<br />

frequente (65,5%), pelo contrário, as cefaleias secundárias<br />

foram maioritariamente agudas (93,7%). A significância estatística<br />

não foi comprovada por insuficiência <strong>de</strong> dados. O<br />

Quadro IV representa a distribuição do padrão temporal <strong>de</strong><br />

acordo com a etiologia das cefaleias.<br />

Quadro IV – Padrão temporal da cefaleia segundo a sua etiologia.<br />

Etiologia das cefaleias<br />

Padrão temporal Primária Secundária Inclassificável<br />

(n=179) n (%) n (%) n (%)<br />

Aguda 9 (31,0) 118 (93,7) 22 (83,7)<br />

Aguda recorrente 19 (65,5) 8 (27,6) 2 (6,9)<br />

Crónica progressiva 1 (3,4) 0 (0,0) 0 (0,0)<br />

Total 29 (100,0) 126 (100,0) 24 (100,0)<br />

De todas as crianças com cefaleias, 17 (9,5%) apresentavam<br />

pelo menos um sinal <strong>de</strong> alarme para a realização <strong>de</strong> neuroimagem,<br />

<strong>de</strong>stacando-se alterações neurológicas (três casos com<br />

rigi<strong>de</strong>z da nuca, dois com crises convulsivas e três com síncope),<br />

agravamento progressivo da cefaleia (n=5), vómitos<br />

persistentes (n=5), ausência <strong>de</strong> resposta a analgésicos comuns<br />

(n=3), unilateralida<strong>de</strong> não alternante da cefaleia (n=1) e localização<br />

occipital persistente (n=1). Doze crianças foram submetidas<br />

a neuroimagem e três a punção lombar (PL). Uma<br />

criança, acompanhada em consulta externa, que apresentava<br />

cefaleia com localização occipital persistente, não foi sujeita<br />

a qualquer tipo <strong>de</strong> ECD, tendo sido encaminhada para o exterior,<br />

medicada com paracetamol. À outra criança com vómitos<br />

persistentes não foram solicitados nem exame neuroimagiológico<br />

nem PL, porém foi <strong>de</strong>cidido o internamento, do<br />

qual teve alta com o diagnóstico final <strong>de</strong> cefaleia atribuída a<br />

infecção geral e inespecífica.<br />

A neuroimagem foi requisitada em 8,9% dos casos (n=16) e<br />

em 25,0% (n=4) não havia sinais <strong>de</strong> alarme para a sua realização.<br />

Nenhum resultado foi patológico, porém 37,5% (n=6)<br />

revelaram alterações minor, como sinusite, formação quística<br />

no hipotálamo, quisto aracnoi<strong>de</strong>u, megacisterna magna ou<br />

assimetria dos ventrículos laterais, sem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualquer<br />

tipo <strong>de</strong> intervenção urgente.<br />

O encaminhamento das crianças com cefaleias foi em 81,0%<br />

(n=145) para o exterior. Foram internadas onze crianças,<br />

tendo-se verificado três casos graves <strong>de</strong> cefaleias atribuídas a<br />

infecção do SNC (duas meningites víricas e uma bacteriana)<br />

com média <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> 7,7 anos. As três cefaleias eram agudas<br />

e acompanharam-se <strong>de</strong> alterações neurológicas persistentes<br />

ao exame físico (rigi<strong>de</strong>z da nuca), o que não se verificou<br />

nos casos não graves. A localização da cefaleia diferiu consoante<br />

o caso (frontal, global e não <strong>de</strong>scrita) e não existiu<br />

registo médico da qualida<strong>de</strong> da cefaleia, impacto nas activida<strong>de</strong>s<br />

diárias ou antece<strong>de</strong>ntes familiares. Não surgiu nenhum<br />

caso <strong>de</strong> tumor cerebral, hidrocefalia ou disfunção <strong>de</strong> shunt<br />

ventriculoperitoneal. Não foi possível estabelecer uma associação<br />

estatística entre dados clínicos e a gravida<strong>de</strong> das cefaleias<br />

pelo número reduzido <strong>de</strong> casos.<br />

No que diz respeito à abordagem das cefaleias primárias no<br />

SUP, requisitaram-se ECD em quinze das 29 crianças (51,7%).<br />

Registou-se a história familiar <strong>de</strong> cefaleia primária em sete<br />

casos: positiva em cinco e irrelevante em dois. Em 46,8%<br />

(n=7) realizou-se, pelo menos, estudo analítico. O ECD mais<br />

pedido isoladamente foi a pesquisa <strong>de</strong> glicemia capilar e/ou<br />

tira teste <strong>de</strong> urina (40,0%; n=6). Em 26,7% (n=4) dos casos<br />

fez-se estudo neuroimagiológico por presença <strong>de</strong> pelo menos<br />

um sinal <strong>de</strong> alarme, não neurológico. O tratamento sintomático<br />

foi registado em 69,0% dos casos. O paracetamol foi o fármaco<br />

<strong>de</strong> primeira linha (60,0%). O ibuprofeno prescreveu-se<br />

em 35,0% dos casos e a hidroxizina em 5,0%. Das 29 crianças<br />

com cefaleias primárias, quinze (51,7%) tiveram alta para o<br />

exterior, três das quais eram acompanhadas em consulta<br />

externa, e catorze (48,3%) foram encaminhadas para consulta<br />

<strong>de</strong> Neurologia ou <strong>Ped</strong>iatria. Nove crianças (31,0%) foram<br />

readmitidas no SUP, sendo que cinco tinham sido encaminhadas<br />

ou eram já seguidas em consulta. Em 88,9% das visitas<br />

repetidas ao SUP o motivo foi por recorrência precoce das<br />

queixas ou novo episódio <strong>de</strong> cefaleia semelhante.<br />

Discussão<br />

O Quadro V apresenta os principais resultados <strong>de</strong> estudos da<br />

cefaleia como queixa principal no recurso ao SUP. A percenta-<br />

140


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):137-43<br />

Alves C et al. – Cefaleias numa urgência pediátrica<br />

Quadro V – Estudos da cefaleia como queixa principal no recurso ao serviço <strong>de</strong> urgência pediátrico.<br />

Burton et al 15 Kan et al 17 León-Díaz et al 18 Alves et al<br />

(1997) (2000) (2004) (2011)<br />

Local do SUP*<br />

Divisão<br />

Hospital pediátrico <strong>de</strong> neurologia (Espanha) Hospital distrital<br />

urbano (EUA † ) pediátrica <strong>de</strong> um (Portugal)<br />

hospital pediátrico (EUA † )<br />

Período <strong>de</strong> tempo 1 ano 1 ano 6 meses não contíguos 1 ano<br />

N.º <strong>de</strong> crianças 288 130 185 179<br />

Frequência <strong>de</strong> consulta no SU ‡ por cefaleia (%) 1,3 0,7 0,58 0,95<br />

Ida<strong>de</strong> 2-18 anos < 18 anos 2-15 anos 2-14 anos<br />

Etiologia (%)<br />

Infecção não craniana 60,4 28,5 49,2 56,4<br />

Cefaleias primárias 20 10 23,8 16,2<br />

(%enxaqueca/total) (15,6) (8,5) (14,6) (6,7)<br />

TCE § 6,6 20 8,1 4,5<br />

Meningite vírica 5,2 2,3 1 1,1<br />

Tumor cerebral 0,3 - 1,6 -<br />

Hidrocefalia/shunt 0,7 11,5 0,5 -<br />

Inclassificáveis 7,7 11,5 10,8 13,4<br />

Neuroimagem (%) 7,3 40,8 9,7 8,9<br />

*SUP, serviço <strong>de</strong> urgência pediátrico; † EUA, Estados Unidos da América; ‡ SU, serviço <strong>de</strong> urgência; § TCE, traumatismo cranioencefálico.<br />

gem <strong>de</strong> episódios <strong>de</strong> urgência por cefaleias neste estudo<br />

(0,95%) situou-se entre as frequências <strong>de</strong>scritas na literatura<br />

(0,58 – 1,30%) 15,17,18 . No SUP, verificou-se um padrão temporal<br />

da cefaleia predominantemente agudo, com um gran<strong>de</strong> espectro<br />

etiológico, o que contrasta com a predominância <strong>de</strong> cefaleias<br />

recorrentes e crónicas (cefaleias <strong>de</strong> tensão e enxaquecas)<br />

das consultas externas <strong>de</strong> pediatria/neuropediatria 18 . Houve um<br />

caso <strong>de</strong> cefaleia crónica progressiva que, apesar <strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>r<br />

ao padrão mais preocupante por po<strong>de</strong>r indicar aumento da<br />

pressão intracraniana 11 , revelou ser uma cefaleia primária.<br />

As cefaleias mais frequentes foram secundárias a infecções<br />

não cranianas (56,4%), predominando as infecções do aparelho<br />

respiratório (33,0%), o que é também <strong>de</strong>scrito noutros<br />

estudos 14,15 .<br />

As cefaleias primárias foram também a segunda etiologia<br />

mais comum (IC: [15,0-25,0%]). Contudo, a enxaqueca<br />

esteve significativamente menos representada (IC: [11,4-<br />

19,8%]), o que se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ver à <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> dos registos<br />

médicos na subclassificação das cefaleias e à exclusão dos<br />

utentes entre quinze e 18 anos.<br />

Apesar da percentagem da neuroimagem estar <strong>de</strong>ntro dos<br />

valores esperados (IC: [4,3-10,3]), em 25,0% dos casos foi<br />

realizada sem a presença <strong>de</strong> sinais <strong>de</strong> alarme. Seria <strong>de</strong> esperar<br />

uma requisição mais criteriosa <strong>de</strong>stes exames imagiológicos,<br />

dada a existência <strong>de</strong> indicações prioritárias para o estudo neuroimagiológico<br />

3,10,11 . Particularizando a abordagem das cefaleias<br />

primárias, observou-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> requisitar ECD,<br />

o que reforça a dificulda<strong>de</strong> do diagnóstico diferencial da cefaleia<br />

em contexto urgente e a importância fulcral da história e<br />

exame físico, particularmente o neurológico, na abordagem<br />

diagnóstica e na evicção do recurso ina<strong>de</strong>quado a ECD.<br />

A inexistência <strong>de</strong> registo médico da terapêutica em 31,0% dos<br />

casos das cefaleias primárias introduz um viés nos resultados,<br />

porque esse valor po<strong>de</strong>r-se-á <strong>de</strong>ver à falta <strong>de</strong> registo ou à atitu<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> não medicar a criança. Nas crianças medicadas, a utilização<br />

preferencial <strong>de</strong> paracetamol ou ibuprofeno está <strong>de</strong><br />

acordo com as recomendações do tratamento das cefaleias<br />

primárias em urgência, nomeadamente das enxaquecas na<br />

infância 24,25 . Contudo, em nenhum caso se recorreu à classe<br />

dos triptanos, como o sumatriptano nasal, aceite como efectivo<br />

no tratamento agudo das enxaquecas em crianças e adolescentes<br />

26 , e que, pela sua formulação, po<strong>de</strong>ria ser utilizado<br />

em ambulatório e tolerado na presença <strong>de</strong> náuseas, evitando o<br />

gasto em recursos humanos hospitalares e administrações<br />

endovenosas <strong>de</strong> fármacos. As visitas repetidas ao SUP por<br />

quase um terço das crianças com cefaleias primárias corroboram<br />

a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhorar o seu acompanhamento em<br />

ambulatório, bem como as medidas terapêuticas e profiláticas,<br />

quer farmacológicas, quer comportamentais, procurando<br />

sobretudo impedir a recorrência da cefaleia, que está <strong>de</strong>scrita<br />

ser comum nas 24 a 72h após a alta clínica 19 .<br />

Para além <strong>de</strong> estar reportado que a maioria das cefaleias<br />

urgentes é benigna, o número reduzido <strong>de</strong> casos graves<br />

(1,7%), nomeadamente disfunção <strong>de</strong> shunt ventriculoperitoneal<br />

e consequente hidrocefalia, po<strong>de</strong>r-se-á <strong>de</strong>ver ao facto<br />

<strong>de</strong>ste hospital distrital não ter especialida<strong>de</strong> neurocirúrgica e,<br />

portanto, o acompanhamento <strong>de</strong>stas patologias <strong>de</strong>correr em<br />

hospitais com cuidados terciários. Por outro lado, não surgiu<br />

nenhum tumor cerebral, o que po<strong>de</strong> ser reflexo da baixa incidência<br />

anual <strong>de</strong>sta patologia (3/100.000) 27 .<br />

O objectivo <strong>de</strong> associar dados clínicos à gravida<strong>de</strong> das cefaleias<br />

não foi assim atingido pela insuficiência <strong>de</strong> casos graves<br />

que alcançassem significância estatística, além da falta <strong>de</strong><br />

registos <strong>de</strong> características possivelmente relacionáveis. No<br />

entanto, é <strong>de</strong> realçar que, comparativamente aos casos não<br />

graves, as infecções do SNC foram as únicas a apresentar alterações<br />

neurológicas persistentes (rigi<strong>de</strong>z da nuca) ao exame<br />

objectivo. Em estudos com possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> associar os dados<br />

clínicos à gravida<strong>de</strong> foi <strong>de</strong>monstrado que as crianças com<br />

141


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):137-43<br />

Alves C et al. – Cefaleias numa urgência pediátrica<br />

cefaleias secundárias a patologias graves têm alterações neurológicas<br />

evi<strong>de</strong>ntes, nomeadamente alteração do estado <strong>de</strong><br />

consciência, rigi<strong>de</strong>z da nuca, papile<strong>de</strong>ma, movimentos oculares<br />

anormais, ataxia ou hemiparesia 14-18 .<br />

Nas crianças que apresentaram outro tipo <strong>de</strong> sinais <strong>de</strong> alarme<br />

que não alterações neurológicas persistentes, o estudo neuroimagiológico<br />

não foi patológico. Porém, em 37,5% <strong>de</strong>screveram-se<br />

alterações minor que não alteraram a abordagem terapêutica.<br />

Estes resultados são semelhantes aos encontrados<br />

noutros estudos 28,29 , que revelaram que, em crianças com cefaleias,<br />

sem alterações do exame neurológico, se <strong>de</strong>tectaram na<br />

neuroimagem alterações “benignas”, que não conduziram 28 ,<br />

ou conduziram numa minoria (1,2% <strong>de</strong> 681 crianças 29 ), a<br />

modificações da conduta clínica.<br />

Deste estudo, <strong>de</strong>staca-se ainda a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhorar os<br />

registos médicos no SUP, nomeadamente na <strong>de</strong>scrição da<br />

localização e qualida<strong>de</strong> da cefaleia e na investigação <strong>de</strong> antece<strong>de</strong>ntes<br />

familiares <strong>de</strong> cefaleias primárias. Estas informações<br />

são <strong>de</strong> extrema importância, visto que a localização occipital<br />

persistente e a incapacida<strong>de</strong> da criança <strong>de</strong>screver a dor estiveram<br />

fortemente associadas a patologia intracraniana 14 . A realização<br />

<strong>de</strong> neuroimagem torna-se também prioritária se a cefaleia<br />

for súbita e intensa, sobretudo na ausência <strong>de</strong> história<br />

familiar <strong>de</strong> enxaqueca 10 . Uma história familiar positiva po<strong>de</strong><br />

assim pesar na <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> não se recorrer a ECD.<br />

De referir, por último, que este estudo apresenta diversas limitações.<br />

Sendo um estudo prospectivo histórico, só foi possível<br />

colher os dados existentes e não estudar outros <strong>de</strong> possível<br />

interesse e daí as limitações na análise <strong>de</strong> algumas variáveis já<br />

referidas. Houve dificulda<strong>de</strong> em vários casos na classificação<br />

diagnóstica das cefaleias pelo facto da classificação aquando<br />

da alta no SUP ser diferente da utilizada no estudo. Procurouse<br />

diminuir o viés associado ao observador, estabelecendo critérios<br />

o mais uniformes possível e discutindo os casos mais<br />

ambíguos com pediatras mais vocacionadas nesta área. Sendo<br />

a amostra obtida uma amostra <strong>de</strong> conveniência, o que se justificou<br />

pela percentagem pequena do fenómeno estudado, não<br />

é representativa da população pediátrica abrangida pelo hospital<br />

e, <strong>de</strong>ste modo, não se po<strong>de</strong>m extrapolar dados. Esperase,<br />

contudo, que este projecto tenha contribuído para aumentar<br />

o conhecimento <strong>de</strong>sta área na literatura portuguesa.<br />

Conclusão<br />

Embora as cefaleias sejam uma queixa frequente em crianças<br />

e adolescentes, como queixa principal são uma causa incomum<br />

<strong>de</strong> recurso ao SUP. O espectro diagnóstico das cefaleias<br />

é <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da proveniência da amostra. Em contexto<br />

urgente, a maioria das cefaleias na população pediátrica é<br />

benigna, atribuindo-se sobretudo a infecções respiratórias das<br />

VAS. No entanto, urge sempre impedir a mortalida<strong>de</strong>,<br />

excluindo patologias que façam perigar a vida, e prevenir a<br />

morbilida<strong>de</strong>, controlando a dor e encaminhando a<strong>de</strong>quadamente<br />

cada criança que recorre ao SUP por cefaleias.<br />

A requisição ina<strong>de</strong>quada a ECD po<strong>de</strong> ser minorada pela elaboração<br />

<strong>de</strong> uma história clínica e exame objectivo cuidados.<br />

A ausência <strong>de</strong> alterações permanentes no exame neurológico<br />

remete para segundo plano o recurso urgente à neuroimagem.<br />

De facto, o exame neurológico tem uma alta sensibilida<strong>de</strong><br />

para patologia intracraniana e, neste estudo, comprovou-se<br />

que a sua normalida<strong>de</strong> é primordial na exclusão <strong>de</strong> patologia<br />

grave. São necessários mais estudos prospectivos sobre sinais<br />

<strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> das cefaleias, em crianças que recorrem ao SU,<br />

e tratamento das cefaleias primárias.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Ao Prof. <strong>Ped</strong>ro Oliveira e à Dr.ª Cristina Oliveira (Escola <strong>de</strong><br />

Ciências da Saú<strong>de</strong> da Universida<strong>de</strong> do Minho) pelo apoio na análise<br />

estatística.. A todo o Serviço <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria (Centro Hospitalar<br />

do Alto Ave, Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Guimarães), na pessoa do Dr. <strong>Ped</strong>ro<br />

Freitas pela abertura <strong>de</strong>monstrada na realização <strong>de</strong>ste estudo.<br />

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1<strong>42</strong>


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):137-43<br />

Alves C et al. – Cefaleias numa urgência pediátrica<br />

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0873-9781/11/<strong>42</strong>-4/144<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

ARTIGO ORIGINAL<br />

Uso (ou abuso) <strong>de</strong> fármacos na ida<strong>de</strong> pediátrica<br />

Raquel Maia 1 , Catarina Luís 2 , Marta Moura 2 , Rui Ribeiro 2 , Helena Almeida 2 , Maria João Brito 1,2<br />

1 - Área da <strong>Ped</strong>iatria Médica, Hospital Dona Estefânia - Centro Hospitalar <strong>de</strong> Lisboa Central, Lisboa<br />

2 – Departamento <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria, Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, Lisboa<br />

Resumo<br />

Introdução e Objectivos: A exposição a fármacos na ida<strong>de</strong><br />

pediátrica po<strong>de</strong> ser nociva. A utilização elevada <strong>de</strong> medicamentos<br />

não aprovados em <strong>Ped</strong>iatria, bem como o uso para sintomas<br />

em que a sua eficácia não foi comprovada, tem sido <strong>de</strong>scrita <strong>de</strong><br />

forma preocupante. Foi objectivo <strong>de</strong>ste estudo avaliar o padrão<br />

<strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> fármacos numa população pediátrica portuguesa.<br />

Métodos: Estudo transversal, com recrutamento prospectivo<br />

dos casos e amostra <strong>de</strong> conveniência; recolha <strong>de</strong> dados por<br />

inquérito; incluídas crianças, sem doença crónica, que recorreram<br />

ao serviço <strong>de</strong> urgência <strong>de</strong> um hospital na área da Gran<strong>de</strong><br />

Lisboa, num período <strong>de</strong> dois meses.<br />

Resultados: Foram incluídas 189 crianças com ida<strong>de</strong> média <strong>de</strong><br />

5,8 anos. A proporção <strong>de</strong> crianças com consumo <strong>de</strong> fármacos, nos<br />

três meses prece<strong>de</strong>ntes, foi <strong>de</strong> 120/189 (63,5%) – superior entre os<br />

seis e 24 meses (74% vs 58,5%; p=0,038). Os fármacos mais prescritos<br />

foram os analgésicos/antipiréticos e anti-inflamatórios<br />

(83/202, 41,1%), os antibióticos (52/202, 25,8%) e os anti-histamínicos<br />

(14/202, 7%). Em 96/202 casos (47,5%) eram medicamentos<br />

não sujeitos a receita médica e em 33/174 (19,1%) “automedicações”.<br />

Verificou-se utilização <strong>de</strong> anti-histamínicos,<br />

expectorantes, analgésicos e anti-inflamatórios não recomendados<br />

para a faixa etária. O consumo <strong>de</strong> antibióticos foi mais elevado<br />

entre os seis e 24 meses (36% vs 18,5%; p=0,012), com predomínio<br />

da associação amoxicilina/ácido clavulânico (21/52, 40,4%).<br />

Em seis casos foram relatados possíveis efeitos secundários.<br />

Conclusões: De acordo com o nosso conhecimento este é o primeiro<br />

estudo em Portugal a avaliar o padrão <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong> fármacos<br />

em <strong>Ped</strong>iatria. Este consumo foi elevado, sobretudo na<br />

infância precoce, evi<strong>de</strong>nciando a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vigilância e<br />

regulamentação a<strong>de</strong>quadas. Os medicamentos não sujeitos a<br />

receita médica, amplamente utilizados, po<strong>de</strong>rão associar-se a<br />

riscos acrescidos, pela facilida<strong>de</strong> no seu acesso. O uso frequente<br />

<strong>de</strong> antibióticos, sobretudo <strong>de</strong> largo espectro, po<strong>de</strong>rá vir a associar-se<br />

ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> resistências.<br />

Palavras-chave: pediatria, medicamentos, consumo<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011;<strong>42</strong>(4):144-8<br />

Use (or misuse) of drugs in pediatrics<br />

Abstract<br />

Introduction and Aims: Exposure to drugs in childhood may<br />

be harmful. The high use of unlicensed drugs in pediatrics, as<br />

well as their use in situations of doubtful clinical value, has<br />

been <strong>de</strong>scribed worryingly. This study aimed to assess the pattern<br />

of drug use in a Portuguese pediatric population.<br />

Methods: Cross-sectional study with prospective recruitment<br />

of cases and convenience sample; data collection by survey;<br />

inclu<strong>de</strong>d children without chronic illness that resorted to the<br />

emergency ward of a hospital in Lisbon´s area, over a period<br />

of two months.<br />

Results: 189 children were inclu<strong>de</strong>d with a mean age of 5.8<br />

years. The proportion of children with consumption of drugs, in<br />

the previous three months, was 120/189 (63.5%) – superior<br />

between six and 24 months (74% vs 58.5%, p = 0.038). The most<br />

prescribed drugs were analgesics/antipyretics and anti-inflammatory<br />

drugs (83/202, 41.1%), antibiotics (52/202, 25.8%) and antihistamines<br />

(14/202, 7%). Non-prescription medications were<br />

used in 96/202 cases (47.5%). “Self-medication” occurred in<br />

33/174 (19.1%). The use of antihistamines, expectorants, analgesics<br />

and antihistamines not recommen<strong>de</strong>d for the age group<br />

was found. The utilization of antibiotics was highest between six<br />

and 24 months of age (36% vs 18.5%, p = 0.012), predominantly<br />

the combination of amoxicillin and clavulanic acid (21/52,<br />

40.4%). Possible si<strong>de</strong> effects were reported in six cases.<br />

Conclusions: According to our knowledge this is the first<br />

study in Portugal to assess the pattern of drug use in pediatrics.<br />

This utilization was consi<strong>de</strong>rable, especially in early<br />

infancy, highlighting the need for surveillance and regulation.<br />

Over-the-counter medications, wi<strong>de</strong>ly used, can be associated<br />

with increased risks due to an easy access. Frequent use of<br />

antibiotics, particularly broad-spectrum, can be associated<br />

with the <strong>de</strong>velopment of resistance.<br />

Keywords: paediatrics, child, drug use<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011;<strong>42</strong>(4):144-8<br />

Recebido: 28.03.2011<br />

Aceite: 11.10.2011<br />

Correspondência:<br />

Raquel Dias Batista Maia<br />

Área da <strong>Ped</strong>iatria Médica do Hospital Dona Estefânia<br />

Centro Hospitalar <strong>de</strong> Lisboa Central, EPE, Lisboa<br />

Rua Jacinta Marto<br />

1169-045 Lisboa, Portugal<br />

rakelmaia@gmail.com<br />

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<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):144-8<br />

Maia R et al. – Uso (ou abuso) <strong>de</strong> fármacos em <strong>Ped</strong>iatria<br />

Introdução<br />

A exposição a um elevado número <strong>de</strong> fármacos em ida<strong>de</strong><br />

precoce po<strong>de</strong> associar-se a um maior risco <strong>de</strong> intoxicações e<br />

<strong>de</strong> utilização abusiva na adolescência e na ida<strong>de</strong> adulta 1-2 .<br />

Por outro lado, o conhecimento relativo aos efeitos adversos,<br />

impacto no crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento e na<br />

comunida<strong>de</strong>, como a emergência <strong>de</strong> resistências bacterianas,<br />

é ainda reduzido. São poucos os fármacos especificamente<br />

autorizados para utilização na ida<strong>de</strong> pediátrica e nesta faixa<br />

etária os medicamentos são muitas vezes usados em situações<br />

autolimitadas e para sintomas em que a sua eficácia não<br />

foi comprovada 2-4 .<br />

Estudos realizados nos Estados Unidos da América e na<br />

Europa <strong>de</strong>monstraram que o consumo na ida<strong>de</strong> pediátrica é<br />

elevado e que a maioria das crianças toma múltiplos medicamentos<br />

nos primeiros anos <strong>de</strong> vida 1-3,5-8 .<br />

De acordo com o nosso conhecimento nenhum estudo avaliou<br />

o padrão <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong> fármacos numa população<br />

pediátrica em Portugal.<br />

O presente estudo teve como objectivo caracterizar este consumo<br />

numa população pediátrica da área da gran<strong>de</strong> Lisboa,<br />

através da <strong>de</strong>terminação do número e tipo <strong>de</strong> fármacos utilizados,<br />

dos motivos que <strong>de</strong>terminaram a sua prescrição e da<br />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> eventuais diferenças entre as crianças com<br />

e sem consumo <strong>de</strong> fármacos.<br />

Metodologia<br />

Foi <strong>de</strong>senhado um estudo epi<strong>de</strong>miológico transversal, com<br />

recrutamento prospectivo dos casos e recolha <strong>de</strong> dados através<br />

<strong>de</strong> inquérito.<br />

A população estudada consistiu em crianças que recorreram<br />

ao serviço <strong>de</strong> urgência pediátrica <strong>de</strong> um hospital na área da<br />

Gran<strong>de</strong> Lisboa, entre quinze <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 2008 e quinze <strong>de</strong><br />

Outubro <strong>de</strong> 2008 (dois meses). Foi critério <strong>de</strong> exclusão a<br />

doença crónica confirmada.<br />

Foi utilizada uma amostra <strong>de</strong> conveniência e aplicado, pelos<br />

médicos, um questionário aos pais das crianças e adolescentes<br />

que incluía a seguinte informação: dados sócio-<strong>de</strong>mográficos<br />

(ida<strong>de</strong>, em anos; sexo; raça; nacionalida<strong>de</strong> – criança e<br />

pais; habilitações literárias dos pais; seguro <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>); dados<br />

<strong>de</strong> acompanhamento médico (seguimento por médico <strong>de</strong><br />

medicina geral e familiar, por pediatra ou em consulta hospitalar);<br />

consumo <strong>de</strong> fármacos nos três meses anteriores<br />

(número; <strong>de</strong>signação do fármaco; motivo <strong>de</strong> prescrição; dias<br />

<strong>de</strong> terapêutica; prescritor; efeitos secundários).<br />

A análise estatística foi realizada com recurso ao programa<br />

Statistical Package for the Social Sciences (SPSS®,<br />

Chicago, IL, EUA), versão 16.0 para Microsoft Windows®.<br />

A análise comparativa foi realizada pelo teste exacto <strong>de</strong><br />

Fisher para as variáveis categóricas e teste <strong>de</strong> Mann-<br />

Whitney para as variáveis contínuas <strong>de</strong> distribuição não-<br />

Normal. Aceitaram-se valores significativos <strong>de</strong> p, quando<br />

este foi inferior a 0,05.<br />

Resultados<br />

Foram incluídas 189 crianças com ida<strong>de</strong> média <strong>de</strong> 5,8 anos<br />

(entre dois meses e 16,9 anos). Observou-se um discreto predomínio<br />

do sexo masculino (103/189, 54,5%), sendo a maioria<br />

<strong>de</strong> raça caucasiana (1<strong>42</strong>/189, 75,1%) e <strong>de</strong> nacionalida<strong>de</strong><br />

portuguesa (135/147, 91,8%).<br />

Relativamente aos pais, a nacionalida<strong>de</strong> portuguesa foi predominante<br />

(pai: 93/147, 63,7%; mãe: 102/147, 69,4%), seguida<br />

dos Países Africanos <strong>de</strong> Língua Oficial <strong>Portuguesa</strong> (pai:<br />

36/147, 24,5%; mãe: 28/147, 19%) e 112/170 (65,9%) tinham<br />

pelo menos o 9º ano <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>.<br />

A maioria das crianças (138/183, 75,4%) tinha seguimento<br />

por médico <strong>de</strong> medicina geral e familiar, 59/188 (31,4%) por<br />

pediatra. Apenas 21/135 (15,6%) tinham seguro <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Verificou-se que 120/189 (63,5%) tinham tomado pelo menos<br />

um fármaco nos três meses anteriores à entrevista.<br />

“Grupo consumidor” vs “Grupo não consumidor”<br />

O grupo <strong>de</strong> crianças com consumo <strong>de</strong> fármacos nos três<br />

meses prece<strong>de</strong>ntes à entrevista (“grupo consumidor”) e o<br />

grupo <strong>de</strong> crianças sem consumo <strong>de</strong> medicamentos no<br />

período estudado (“grupo não consumidor”) não diferiram<br />

significativamente quanto ao género, raça e nacionalida<strong>de</strong><br />

da criança, às habilitações literárias e nacionalida<strong>de</strong> dos pais<br />

e seguimento regular por médico <strong>de</strong> medicina geral e familiar<br />

e pediatra (Quadro I). No que diz respeito à ida<strong>de</strong>, apesar<br />

<strong>de</strong> não existir uma diferença estatisticamente significativa,<br />

observou-se em termos medianos que o “grupo<br />

consumidor” apresentava ida<strong>de</strong> inferior ao “grupo não consumidor”<br />

(mediana: 3,2 vs 6,1 anos; p=0,106). Após estratificação<br />

por grupos etários verificou-se que as crianças com<br />

ida<strong>de</strong> entre os seis e 24 meses apresentaram uma proporção<br />

<strong>de</strong> consumo superior e estatisticamente significativa (74%<br />

vs 58,5%; p=0,038).<br />

Quadro I – Características seleccionadas do “Grupo consumidor” e<br />

“Grupo não consumidor”. As percentagens apresentadas dizem respeito<br />

a cada variável (linha) para cada grupo. (N=189; teste exacto<br />

<strong>de</strong> Fisher)<br />

“Grupo ”Grupo não<br />

consumidor” consumidor” p<br />

n (%) n (%)<br />

Ida<strong>de</strong> 6 - 24 meses 37 (32,7%) 13 (19,4%) 0,038<br />

Sexo masculino 60 (50%) 43 (50%) 0,128<br />

Raça caucasiana 91 (76,5%) 51 (73,9%) 0,727<br />

NP 84 (91,7%) 51 (92,7%) 1,000<br />

NP (mãe) 64 (69,6%) 38 (69,1%) 1,000<br />

NP (pai) 56 (61,5%) 37 (67,3%) 0,595<br />

HL (mãe) ≤ 9º ano 40 (33,9%) 24 (38,1%) 0,626<br />

HL (pai) ≤ 9º ano 38 (34,9%) 20 (32,8%) 0,867<br />

Seguimento por médico<br />

<strong>de</strong> MGF<br />

92 (78%) 46 (70,8%) 0,288<br />

Seguimento por <strong>Ped</strong>iatra 38 (31,9%) 21 (30,4%) 0,872<br />

Legenda: NP – Naturalida<strong>de</strong> portuguesa; HL – Habilitações literárias; MGF<br />

– Medicina Geral e Familiar<br />

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<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):144-8<br />

Maia R et al. – Uso (ou abuso) <strong>de</strong> fármacos em <strong>Ped</strong>iatria<br />

Fármacos consumidos e motivos <strong>de</strong> prescrição<br />

O “grupo consumidor” utilizou um total <strong>de</strong> 202 fármacos<br />

(média: 1,7 fármacos por criança; mínimo: um; máximo: três).<br />

Os mais usados foram os analgésicos/antipiréticos e anti-inflamatórios<br />

não esterói<strong>de</strong>s (83/202, 41,1%), com utilização quase<br />

exclusiva do paracetamol e ibuprofeno. Outros grupos incluíram<br />

os antibióticos sistémicos (52/202, 25,8%), anti-histamínicos<br />

(14/202, 6,9%), broncodilatadores (7/202, 3,5%) e os<br />

anti-tússicos/expectorantes (6/202, 6,9%) (Quadro II).<br />

Quadro II – Fármacos consumidos <strong>de</strong> acordo com os grupos<br />

farmacoterapêuticos utilizados pelo Infarmed.<br />

Grupo 1 – Medicamentos Anti-infecciosos<br />

n<br />

1.1. Antibacterianos (<strong>de</strong>talhado na figura 1) 52<br />

1.2. Antifungicos (nistatina) 3<br />

1.4.2. Antimaláricos (mefloquina) 1<br />

Grupo 2 – Sistema Nervoso Central<br />

2.1. Analgésicos e antipiréticos (paracetamol; clonixina) 50; 1<br />

2.9.1. Ansiolíticos (valeriana) 1<br />

2.9.2. Anti-psicóticos (risperidona) 1<br />

Grupo 5 – Aparelho Respiratório<br />

5.1. Antiasmáticos e broncodilatadores (brometo <strong>de</strong> 1; 1<br />

ipratrópio; cetotifeno; bu<strong>de</strong>sonido; salbutamol) 1; 5<br />

5.2.2. Antitússicos e expectorantes (cloridrato <strong>de</strong> bromexina) 6<br />

Grupo 6 – Aparelho Digestivo<br />

6.3.2.1. Laxantes e catárticos (bisacodilo; lactulose) 1; 4<br />

6.3.2.2. Antidiarreicos (racecadotril) 3<br />

6.6. Suplementos enzimáticos, bacilos lácteos<br />

e análogos (Sacharomyces boulardii)<br />

2<br />

Grupo 8 – Hormonas e Medicamentos Usados<br />

no Tratamento <strong>de</strong> Doenças Endócrinas<br />

8.2. Corticosterói<strong>de</strong>s (<strong>de</strong>flazacorte) 1<br />

8.5.1.2. Anticoncepcionais 1<br />

Grupo 9 – Aparelho Locomotor<br />

9.1. Anti-inflamatórios não esterói<strong>de</strong>s (ibuprofeno) 33<br />

9.5. Enzimas anti-inflamatórias (alfa-amilase) 5<br />

Grupo 11 – Medicação antialérgica<br />

10.1. Anti-histamínicos (cetirizina; <strong>de</strong>sloratadina;<br />

hidroxizina; outros)<br />

4; 4; 4; 2<br />

Grupo 11 – Nutrição<br />

11.3. Vitaminas e sais minerais 5<br />

Grupo 13 – Medicamentos usados em Afecções Cutâneas<br />

13.5. Corticosterói<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aplicação tópica (hidrocortisona) 2<br />

13.6. Associações <strong>de</strong> antibacterianos, anti-fúngicos<br />

e corticói<strong>de</strong>s (Betametasona+Ác. Fusídico)<br />

1<br />

Grupo 14 – Medicamentos utilizados<br />

em Afecções Otorrinolaringológicas<br />

14.1.2. Corticosterói<strong>de</strong>s (mometasona) 2<br />

Grupo 15 – Medicamentos Usados em Afecções Oculares<br />

15.1. Anti-infecciosos tópicos (cloranfenicol colírio e pomada) 2<br />

Grupo 18 – Vacinas e Imunoglobulinas<br />

18.2. Lisados polibacterianos 3<br />

De acordo com informação fornecida pelos pais os principais<br />

motivos para o consumo <strong>de</strong> analgésicos e anti-piréticos foram a<br />

febre (33/83, 39,7%), amigdalite (7/83, 8,5%) e otite (6/83,<br />

7,3%); para os antibióticos sistémicos, a otite (19/52, 36,5%),<br />

amigdalite (9/52, 17,3%) e “infecção respiratória” (6/52, 11,5%);<br />

para os anti-histamínicos, o “exantema/alergia” (7/14, 50%) e a<br />

“tosse/infecção respiratória” (5/14, 35,7%).<br />

Após consulta do Resumo <strong>de</strong> Características do<br />

Medicamento (RCM) aprovado pelo Infarmed, verificámos<br />

a utilização fora da faixa etária recomendada da hidroxizina<br />

e cetirizina em duas crianças, bem como da clonixina (não<br />

autorizada na ida<strong>de</strong> pediátrica). De realçar, ainda, a utilização<br />

<strong>de</strong> cloridrato <strong>de</strong> bromexina em três crianças com ida<strong>de</strong><br />

inferior a dois anos.<br />

Os fármacos não sujeitos a receita médica correspon<strong>de</strong>ram a<br />

96/202 casos (47,5%), representados maioritariamente<br />

(83/96, 86,5%) pelo grupo dos analgésicos e antipiréticos.<br />

A proporção <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> antibióticos foi <strong>de</strong> 52/189 crianças<br />

(27,5%), sendo o mais usado a associação <strong>de</strong> amoxicilina<br />

e ácido clavulânico (21/52, 40,4%) (Figura 1). A utilização<br />

foi significativamente mais elevada nas crianças com<br />

ida<strong>de</strong> entre os seis e os 24 meses (36% vs 18,5%; p=0,012).<br />

O grupo <strong>de</strong> crianças com consumo <strong>de</strong> antibióticos não apresentou<br />

diferenças significativas relativamente ao género<br />

(masculino: 48,8% vs 56%; p=0,47) e à escolarida<strong>de</strong><br />

materna (< 9º ano: 34,8% vs 37,5%).<br />

Nº Absoluto<br />

25<br />

21<br />

18<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5 4<br />

5<br />

3 1<br />

0<br />

Amoxicilina/clavulânico Penicilinas Não especificado Cefalosporinas Macrólidos Sulfunamidas<br />

Figura 1 – Consumo <strong>de</strong> antibióticos sistémicos (n=52).<br />

O principal motivo <strong>de</strong> prescrição dos antibióticos sistémicos<br />

foi a otite média aguda (19/52 dos antibióticos consumidos,<br />

36,5%), seguido da amigdalite e “infecção respiratória”.<br />

Apenas 6/19 das crianças com o diagnóstico <strong>de</strong> otite (31,6%)<br />

foram medicados com amoxicilina. Nos restantes casos foram<br />

utilizadas as cefalosporinas e a associação <strong>de</strong> amoxicilina e<br />

ácido clavulânico. A utilização predominante <strong>de</strong>sta associação<br />

em <strong>de</strong>trimento da amoxicilina também se verificou nas crianças<br />

medicadas por “infecção respiratória”, todas com ida<strong>de</strong><br />

superior a seis meses.<br />

Em 173 dos fármacos consumidos (202) foi possível apurar<br />

quem tinha sido o prescritor. Em 57/173 casos (31,8%) os fármacos<br />

foram prescritos pelo médico <strong>de</strong> medicina geral e familiar<br />

e em 51/173 (29,5%) no serviço <strong>de</strong> urgência do hospital<br />

em que <strong>de</strong>correu este estudo. Nos restantes casos a terapêutica<br />

foi prescrita pelo pediatra assistente, outro especialista ou no<br />

serviço <strong>de</strong> urgência <strong>de</strong> outro hospital.<br />

As “auto-medicações” (pais, próprio e ama) foram <strong>de</strong>tectadas<br />

em 33/173 dos casos (19,1%) e 4/173 medicamentos (2,3%)<br />

foram recomendados na farmácia. Estas “auto-medicações”<br />

ocorreram quase exclusivamente com anti-piréticos e analgésicos<br />

não sujeitos a receita médica, mas em nove casos foram<br />

usados fármacos sujeitos a receita médica: anti-histamínicos,<br />

enzimas anti-inflamatórias, analgésico (clonidina) e ansiolítico<br />

(valeriana).<br />

Foram relatados possíveis efeitos secundários em seis crianças,<br />

maioritariamente gastrointestinais e em associação com<br />

consumo <strong>de</strong> antibióticos, que conduziram à suspensão da terapêutica<br />

por parte dos pais.<br />

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<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):144-8<br />

Maia R et al. – Uso (ou abuso) <strong>de</strong> fármacos em <strong>Ped</strong>iatria<br />

Discussão<br />

O consumo <strong>de</strong> fármacos foi consi<strong>de</strong>rável em todas as ida<strong>de</strong>s,<br />

apesar <strong>de</strong> ter sido avaliado apenas durante três meses e incluir<br />

o período verão. Foi mais elevado na infância precoce, o que<br />

po<strong>de</strong> estar relacionado com a maior predisposição para patologia<br />

infecciosa nos primeiros dois anos <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>vido à imaturida<strong>de</strong><br />

do sistema imunitário 1-2,5,8 .<br />

Thrane et al, Madsen et al e Schrim et al, avaliaram uma população<br />

pediátrica dinamarquesa e holan<strong>de</strong>sa durante um ano e<br />

encontraram uma proporção <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> fármacos entre 50,6<br />

e 60% 2,6 . No entanto, não é possível uma comparação directa<br />

com o nosso estudo <strong>de</strong>vido às diferenças na metodologia.<br />

A maioria dos estudos publicados incidiu sobre fármacos sujeitos<br />

a receita médica, o que po<strong>de</strong> subvalorizar a verda<strong>de</strong>ira<br />

prevalência dos consumos 1-3,5-6,8 . Neste estudo foi evi<strong>de</strong>nte a<br />

importância dos fármacos não sujeitos a receita médica, representados<br />

maioritariamente por analgésicos e anti-piréticos e<br />

frequentemente em regime <strong>de</strong> “auto-medicação”. Apesar da utilização<br />

elevada <strong>de</strong>stes fármacos ser expectável <strong>de</strong>vido à frequência<br />

da patologia infecciosa <strong>de</strong> etiologia viral nesta faixa<br />

etária, estes resultados alertam para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />

maior monitorização. Pelo facto <strong>de</strong> serem medicamentes <strong>de</strong> uso<br />

comum e não estarem sujeitos a receita médica o seu consumo<br />

po<strong>de</strong> ser banalizado, condicionando riscos acrescidos.<br />

A utilização <strong>de</strong> medicamentos contra-indicados ou não especificamente<br />

autorizados para a ida<strong>de</strong> pediátrica, bem como a<br />

utilização diferente da preconizada relativamente à faixa etária,<br />

dose e posologia ou indicação terapêutica (off-labbel) tem<br />

sido i<strong>de</strong>ntificada <strong>de</strong> forma alarmante 9-13 . No estudo apresentado<br />

esta situação verificou-se apenas num número reduzido<br />

<strong>de</strong> crianças, sobressaindo a utilização <strong>de</strong> um fármaco com<br />

acção no sistema nervoso central.<br />

Por outro lado, estudos previamente realizados <strong>de</strong>monstraram<br />

que os fármacos são muitas vezes utilizados em situações<br />

auto-limitadas ou para sintomas em que a sua eficácia não foi<br />

comprovada. Destacando-se o uso dos expectorantes, anti-tússicos,<br />

anti-histaminicos e <strong>de</strong>scongestionantes nasais na terapêutica<br />

da tosse e infecção respiratória alta 7,14-18 . Apesar da<br />

metodologia utilizada ter limitado uma avaliação rigorosa da<br />

a<strong>de</strong>quação dos fármacos consumidos, a utilização <strong>de</strong> bromexina<br />

em três crianças com ida<strong>de</strong> inferior a dois anos e <strong>de</strong> antihistamínicos<br />

em crianças com ida<strong>de</strong> inferior a dois anos para<br />

terapêutica da tosse <strong>de</strong>verá levantar a discussão sobre a prescrição<br />

<strong>de</strong>stes agentes farmacológicos no nosso país.<br />

Os antibióticos sistémicos foram o segundo grupo <strong>de</strong> fármacos<br />

mais usado e o consumo foi particularmente importante<br />

nos primeiros dois anos <strong>de</strong> vida. Esta utilização elevada já<br />

tinha sido evi<strong>de</strong>nciada em outros estudos, com proporções<br />

anuais <strong>de</strong> consumo variando entre os 21 e 49% 1-3,5,7-8,19 .<br />

Estudos prévios apontam também para uma utilização excessiva<br />

<strong>de</strong>ste grupo <strong>de</strong> fármacos em situações <strong>de</strong> infecção respiratória<br />

potencialmente auto-limitada em possível relação com<br />

um diagnóstico incorrecto, receio do médico <strong>de</strong> não medicar<br />

uma infecção bacteriana grave e dificulda<strong>de</strong> no seguimento.<br />

Esta atitu<strong>de</strong> foi por vezes associada à formação específica do<br />

médico prescritor 3,20-24 . Proporções <strong>de</strong> consumo mais elevadas<br />

foram, ainda, associadas a famílias com menor po<strong>de</strong>r económico<br />

e mães com menos habilitações em possível relação com<br />

um maior número <strong>de</strong> infecções neste grupo, mas também com<br />

a atitu<strong>de</strong> do prescritor perante diferentes famílias 25 . Neste<br />

estudo não foi confirmada esta associação, não se po<strong>de</strong>ndo<br />

excluir o efeito da dimensão da amostra.<br />

Em populações nórdicas e espanholas, os antibióticos mais utilizados<br />

são as penicilinas <strong>de</strong> curto-espectro como a penicilina<br />

V oral, não disponível no nosso país, e as penicilinas <strong>de</strong> espectro-alargado<br />

como a amoxicilina 2,5-7,26 . No presente estudo não<br />

é possível uma correcta avaliação da a<strong>de</strong>quação dos regimes<br />

utilizados. No entanto, o uso da associação <strong>de</strong> uma penicilina<br />

com um inibidor das beta-lactamases foi elevado, nomeadamente<br />

na terapêutica da otite, o que está em <strong>de</strong>sacordo com as<br />

recomendações internacionais, tendo em conta os agentes mais<br />

frequentes nesta faixa etária, e representa um risco acrescido<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> resistências 20,27-29 . A utilização crescente<br />

<strong>de</strong>sta associação na terapêutica da otite nos Estados Unidos foi<br />

associada a factores sócio-<strong>de</strong>mográficos e não <strong>de</strong>terminada<br />

por factores <strong>de</strong> risco para infecção grave 30 .<br />

O facto <strong>de</strong> este estudo ter <strong>de</strong>corrido no período do verão,<br />

po<strong>de</strong>rá justificar a baixa prevalência do uso dos broncodilatadores<br />

comparativamente a outros estudos 2-3,5 . Este mesmo<br />

facto po<strong>de</strong>rá, também, ter contribuído para uma subvalorização<br />

do consumo global <strong>de</strong> fármacos.<br />

O presente estudo tem como principais limitações a dimensão<br />

e método <strong>de</strong> selecção da amostra, inerentes a facto <strong>de</strong> se tratar<br />

<strong>de</strong> um estudo por método <strong>de</strong> entrevista e em contexto <strong>de</strong><br />

urgência hospitalar. A utilização da entrevista limitou, o apuramento<br />

fi<strong>de</strong>digno dos diagnósticos e consequentemente a<br />

a<strong>de</strong>quação da terapêutica prescrita. No entanto, o facto dos<br />

dados terem sido obtidos através <strong>de</strong> inquérito directo e não<br />

pelo registo <strong>de</strong> prescrições médicas permite uma avaliação<br />

mais “realista”, nomeadamente no que se refere aos medicamentos<br />

não sujeitos a receita médica.<br />

Conclusões<br />

Em consonância com os estudos realizados noutros países, o<br />

consumo <strong>de</strong> fármacos foi elevado em todas as ida<strong>de</strong>s, sobretudo<br />

na infância precoce, evi<strong>de</strong>nciando a importância das<br />

recomendações e <strong>de</strong> uma melhor regulamentação da terapêutica<br />

farmacológica na ida<strong>de</strong> pediátrica.<br />

Os medicamentos não sujeitos a receita médica pela facilida<strong>de</strong><br />

no seu acesso, po<strong>de</strong>rão associar-se a riscos acrescidos,<br />

merecendo uma melhor monitorização.<br />

O elevado consumo <strong>de</strong> antibióticos e, sobretudo, o uso preferencial<br />

da associação <strong>de</strong> uma penicilina a um inibidor das beta-lactamases<br />

po<strong>de</strong>rá associar-se a um aumento das resistências. A<br />

utilização frequente <strong>de</strong>sta associação merece uma reflexão e<br />

evi<strong>de</strong>ncia a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> avaliar factores que <strong>de</strong>terminam esta<br />

prescrição, tendo em conta as recomendações internacionais.<br />

O conhecimento do padrão <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> medicamentos é<br />

fundamental para melhorar a qualida<strong>de</strong> da prescrição, sendo,<br />

neste sentido, essencial a realização <strong>de</strong> estudos mais alargados<br />

em Portugal.<br />

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<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):144-8<br />

Maia R et al. – Uso (ou abuso) <strong>de</strong> fármacos em <strong>Ped</strong>iatria<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Os autores agra<strong>de</strong>cem a todos os médicos do Serviço <strong>de</strong><br />

Urgência <strong>Ped</strong>iátrica do Hospital Professor Doutor Fernando<br />

Fonseca que colaboraram na recolha <strong>de</strong> dados.<br />

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148


0873-9781/11/<strong>42</strong>-4/149<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

OPINIÃO<br />

Quando a criança morre…<br />

Ângela Sofia Lopes Simões<br />

Serviço <strong>de</strong> Cirurgia Mulheres, Unida<strong>de</strong> Local <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Castelo Branco, Hospital Amato Lusitano<br />

Resumo<br />

A morte continua a ser um tabu na nossa socieda<strong>de</strong> actual.<br />

Falar <strong>de</strong> morte é importante porque trata-se, talvez, da única<br />

certeza humana, e <strong>de</strong>smistifica-la é urgente.<br />

Quando se fala na morte <strong>de</strong> uma criança, o “incomodo” é<br />

maior ainda, porque <strong>de</strong>safia as leis <strong>de</strong> justiça humana. Neste<br />

artigo exploram-se as dificulda<strong>de</strong>s associadas com a morte <strong>de</strong><br />

uma criança e as estratégias para lidar com o luto dos pais,<br />

profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e das próprias crianças encontrados<br />

através <strong>de</strong> uma revisão da literatura.<br />

Palavras-chave: morte; criança<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011;<strong>42</strong>(4):149-53<br />

When a child dies…<br />

Abstract<br />

Death remains a taboo in our society. Talking about <strong>de</strong>ath is<br />

important because it is perhaps the only human security, and<br />

<strong>de</strong>mystifies it is urgent.<br />

When referring to the <strong>de</strong>ath of a child, the "discomfort” is even<br />

greater because it <strong>de</strong>fies the laws of human justice. This article<br />

explores the difficulties associated with the <strong>de</strong>ath of a child and<br />

strategies to <strong>de</strong>al with the grief of parents, health professionals<br />

and children themselves found through a literature review.<br />

Keywords: <strong>de</strong>ath; child<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011;<strong>42</strong>(4):149-53<br />

A morte atinge-nos visceralmente, e toca a totalida<strong>de</strong> do nosso<br />

ser. Diante da morte, a vida torna-se pergunta. A morte atesta<br />

a impossibilida<strong>de</strong> do controlo humano sobre a vida.<br />

Os mitólogos explicaram-na numa linguagem fantasiosa e que<br />

foge ao espírito cientifico. Os teólogos, numa dimensão <strong>de</strong> fé,<br />

encontraram na bíblia os argumentos a favor da imortalida<strong>de</strong>.<br />

Hei<strong>de</strong>gger 1 <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que somos seres para a morte e o sentido<br />

da nossa existência é viver o tempo circular, passado, presente<br />

e futuro, em harmonia. Morin 2 diz que é impossível conhecer<br />

o homem sem lhe estudar a morte, porque, talvez mais do que<br />

na vida, é na morte que o homem se revela. Ariès 3 <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que<br />

a morte <strong>de</strong>ve ser apenas uma saída discreta, mas digna, <strong>de</strong> um<br />

ser vivo apaziguado sem angústia. Seja como for, a verda<strong>de</strong> é<br />

que o ser vivo nasce para a vida <strong>de</strong>spontando para a morte.<br />

Morte e vida <strong>de</strong> jovens e velhos representam duas faces da<br />

mesma realida<strong>de</strong> do ser-no-mundo. Só o homem tem consciência<br />

<strong>de</strong> ser-para-a-morte, <strong>de</strong>sse inevitável <strong>de</strong>stino do<br />

túmulo que o aguarda…sufocante, solitário, silencioso,<br />

escuro e húmido. Esta é a tragédia para o homem que tem<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si mesmo, uma ânsia incontida <strong>de</strong> se perpetuar no<br />

tempo, uma se<strong>de</strong> irresistível <strong>de</strong> não morrer. É difícil morrer e<br />

continuará sendo mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> aceitarmos a morte como<br />

parte integrante da vida, porque morrer significa renunciar à<br />

vida <strong>de</strong>ste mundo. 4<br />

Estas reflexões, tentativas <strong>de</strong> explicação, parecem ocas, num<br />

primeiro instante, quando vemos associados os termos morte<br />

e criança. Palavras que parecem contraditórias, como se a<br />

morte não se ocupasse da vida na infância. Uma das mortes<br />

mais difíceis <strong>de</strong> aceitar é a <strong>de</strong> uma criança…é um ru<strong>de</strong> lembrete:<br />

a morte não segue um esquema previsível, ela escolhe<br />

o seu próprio tempo e lugar. 4<br />

Normalmente, evita-se que as crianças participem da morte e<br />

do morrer, pensando que as protegemos <strong>de</strong> um mal maior.<br />

Mas é claro que as estamos a prejudicar ao privá-las <strong>de</strong>sta<br />

experiência. 4 Ao não falar, o adulto crê que protege a criança,<br />

como se essa protecção aliviasse a dor e mudasse magicamente<br />

a realida<strong>de</strong>. O que ocorre é que a criança se sente confusa<br />

e <strong>de</strong>samparada sem ter com quem conversar. 5<br />

Quando alguém próximo morre, ainda que se tente escon<strong>de</strong>r<br />

ou negar o facto, a criança mais cedo ou mais tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrirá<br />

por si, através das atitu<strong>de</strong>s transformadas dos familiares em<br />

Este artigo foi elaborado durante a I Pós Graduação em Cuidados Paliativos da Escola Superior <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Dr. Lopes Dias<br />

Recebido: 12.01.2011<br />

Aceite: 29.09.2011<br />

Correspondência:<br />

Ângela Sofia Lopes Simões<br />

Avenida <strong>de</strong> Espanha lote 36, 6º Esq.<br />

6000-078 Castelo Branco<br />

angela.simoes@gmail.com<br />

149


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):149-53<br />

Simões ASL – Quando a criança morre…<br />

redor. Assim que a criança tiver ida<strong>de</strong> suficiente para se vincular,<br />

po<strong>de</strong> ter consciência da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r a pessoa<br />

amada. 6,7 A criança, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> pequena, tem consciência da existência<br />

da morte, embora essa consciência possa não ser i<strong>de</strong>ntificada<br />

pelos adultos, pois é expressa com os recursos disponíveis<br />

da criança. 8 Os pais po<strong>de</strong>m não ter a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

enten<strong>de</strong>r a complexida<strong>de</strong> das questões ou ter dificulda<strong>de</strong> em<br />

respon<strong>de</strong>r. O que o adulto não sabe, é que as crianças questionam<br />

sem angústia a respeito da morte até cerca dos 7 anos. 6 A<br />

criança não imagina o horror da <strong>de</strong>struição, o frio do túmulo,<br />

o aterrador do nada sem fim que o adulto suporta tão mal. 9<br />

A criança que morre<br />

A morte para a criança é vivenciada como perda <strong>de</strong> controle,<br />

como um último e irremediável abandono 10 , no entanto a sua<br />

reacção diante da morte, a exemplo da sua reacção diante da<br />

doença, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da etapa do <strong>de</strong>senvolvimento em que se<br />

encontra. A <strong>de</strong>pressão melancólica po<strong>de</strong> inundar a vida psíquica<br />

da criança interferindo com as suas capacida<strong>de</strong>s intelectuais,<br />

<strong>de</strong> maneira que o <strong>de</strong>ficit cognitivo que acompanha a<br />

<strong>de</strong>pressão torna difícil <strong>de</strong>limitar as fronteiras entre a fantasia<br />

e a realida<strong>de</strong>. Aberastury, na sua experiência clínica, i<strong>de</strong>ntificou<br />

que as crianças terminais não só percebem que vão morrer,<br />

mas, se encontram alguma receptivida<strong>de</strong> nos adultos que<br />

as cercam, <strong>de</strong>monstram esta percepção verbalmente, graficamente<br />

ou através dos seus jogos. Relata uma tocante situação<br />

na qual uma criança leucémica, no seu período terminal, costumava<br />

jogar damas com a sua psicóloga. As regras do jogo<br />

eram modificadas a cada dia, pela criança, <strong>de</strong> tal forma que<br />

com ele ficavam cada dia menos damas. Até que 24 horas<br />

antes da sua morte “per<strong>de</strong>u” a última dama, e verbalizou: “o<br />

jogo terminou” 8 Uma criança em fase terminal apercebe-se<br />

da proximida<strong>de</strong> da morte através <strong>de</strong> informação directa ou<br />

por <strong>de</strong>dução cognitiva. Os pais ao percepcionarem esta <strong>de</strong>scoberta<br />

e a necessida<strong>de</strong> da criança falar sobre o assunto<br />

optam por fazê-lo ou não. No estudo realizado por<br />

Kreicbergs et al nenhum dos pais que discutiu com o seu<br />

filho a iminência da sua morte se arrepen<strong>de</strong>u <strong>de</strong> o ter feito,<br />

enquanto que um terço dos pais que não o fizeram arrepen<strong>de</strong>m-se<br />

profundamente disso. 11<br />

Ajuriaguerra e Marcelli, propuseram quatro fases no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

infantil directamente relacionadas com a compreensão<br />

da morte: fase <strong>de</strong> incompreensão total (0-2anos);<br />

fase abstracta <strong>de</strong> percepção mítica da morte (2-6 anos); fase<br />

concreta <strong>de</strong> realismo e <strong>de</strong> personificação (até 9 anos); fase<br />

abstracta <strong>de</strong> acesso à angústia existencial (após 12 anos) 12 A<br />

criança que se aproxima da morte po<strong>de</strong>, apresentar diferentes<br />

reacções: ficar contente por morrer porque terá férias da<br />

escola, mas voltará no próximo ano lectivo; apresentar sintomas<br />

<strong>de</strong> medo excessivo a uma figura imaginária que o levará<br />

para um local medonho; perceber que ao morrer separar-se-á<br />

<strong>de</strong>finitivamente <strong>de</strong> tudo e todos e mergulhar numa <strong>de</strong>pressão,<br />

normal nas fases <strong>de</strong> aproximação à morte.<br />

A criança pequena não consegue distinguir a diferença entre<br />

<strong>de</strong>sejo e realida<strong>de</strong>. Se alguma vez sentiu ou ouviu que a morte<br />

seria o castigo justo para alguma tropelia cometida, ao passar<br />

por uma situação maligna, assumirá toda a culpa <strong>de</strong>ssa situação,<br />

como se a tivesse provocado. 13 Além disso não sabe lidar<br />

com o pensamento concreto, a imagem da vida e morte em<br />

que acredita é exibida nos <strong>de</strong>senhos animados, em que enormes<br />

tragédias acontecem com as personagens e elas regressam<br />

sobrevivendo a tudo. 14 A criança, não raro, vê a morte<br />

como algo não-permanente, quase não a distinguindo <strong>de</strong> um<br />

divórcio em que continuará a ver os pais. 13 A utilização <strong>de</strong> filmes<br />

que <strong>de</strong>monstram que a morte é <strong>de</strong>finitiva po<strong>de</strong> ser importante<br />

nesta fase, como o Bambi e o Rei Leão. 14 Corrobora esta<br />

i<strong>de</strong>ia Vendruscolo, com o exemplo <strong>de</strong> uma criança, <strong>de</strong> apenas<br />

3 anos, que acompanhou no processo <strong>de</strong> luto pela irmã <strong>de</strong> 15<br />

anos. Relata que conseguiu aproximar-se <strong>de</strong>sta criança através<br />

da utilização <strong>de</strong> contos infantis como o Rei Leão. Na 8ª sessão<br />

<strong>de</strong> acompanhamento surge este diálogo esclarecedor:<br />

“Quanta gente e bicho morreu, não é Gabriela? e que a<br />

menina <strong>de</strong> 3 anos respon<strong>de</strong>, “A Isabela não vem…ela não<br />

vem, também morreu.” 15<br />

Para a criança entre os 2 e os 6 anos a morte não é permanente,<br />

é tão temporária como o plantar uma semente e esperar<br />

que a flor nasça na próxima primavera significa um sono temporário<br />

16 . Por meio <strong>de</strong> produções gráficas, nível e conteúdo do<br />

brinquedo e dramatização, as crianças expressam as suas<br />

vivências <strong>de</strong> morte como separação e abandono. A morte po<strong>de</strong><br />

também ser vista como uma personagem maléfica que vem<br />

buscar as pessoas que se portaram menos bem. Ainda atribui<br />

a morte a uma intervenção externa, habitualmente personificada<br />

por um anjo, um fantasma, um carro preto 16 . Por volta<br />

dos <strong>de</strong>z, doze anos surge a concepção realista, isto é, a morte<br />

como um processo biológico permanente. No adolescente as<br />

i<strong>de</strong>ias são semelhantes às do adulto, tendo atenção à fase difícil<br />

do ciclo vital que é a adolescência. 13,16,17<br />

O adulto vê a criança frágil, pela sua imaturida<strong>de</strong>, e protegea<br />

<strong>de</strong> diferentes modos, enquanto esta vê o adulto forte e possante<br />

e presta-se à sua protecção 18 , por isso, é perturbado 4 .É<br />

importante saber comunicar <strong>de</strong> outra forma, através dos <strong>de</strong>senhos<br />

que não se presta a atenção <strong>de</strong>vida, das frases soltas que<br />

não se exploram, através dos sentimentos e atitu<strong>de</strong>s da criança<br />

que necessita <strong>de</strong> falar sobre a sua situação 19 .<br />

Na preparação para a morte <strong>de</strong> uma criança, o profissional <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> terá que trabalhar <strong>de</strong> forma criativa, ajustando a sua linguagem<br />

à da criança e <strong>de</strong>scobrindo formas explicativas acessíveis<br />

à sua percepção. Os elementos lúdicos, por fazerem<br />

parte do universo infantil servem como elo <strong>de</strong> uma comunicação<br />

mais clara entre adultos e crianças. A ludoterapia provou<br />

ser eficaz na expressão do mundo interior on<strong>de</strong> os brinquedos<br />

passam a ser o doente e a criança doente passa a ser o adulto<br />

que com ela comunica. 19,20 A estratégia dos “6Es” preten<strong>de</strong><br />

estabelecer uma comunicação satisfatória com a criança em<br />

fase terminal e família: Estabelecer uma relação <strong>de</strong> equipa<br />

entre criança, família e profissionais: Engajar com a criança<br />

no tempo certo; Explorar o que a criança já sabe ou <strong>de</strong>duz;<br />

Explicar o que a criança quer saber; Empatizar com as reacções<br />

emocionais da criança; Encorajar a criança a expressarse<br />

assegurando-lhe que estaremos ali para a ouvir 11 .<br />

A comunicação empática reveste-se <strong>de</strong> especial importância<br />

quando o nosso doente é uma criança. Falar sobre morte não<br />

é impossível, mas sim necessário. As crianças percebem a<br />

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<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):149-53<br />

Simões ASL – Quando a criança morre…<br />

<strong>de</strong>terioração que a doença provoca, pois estão em contacto<br />

íntimo com o próprio corpo. Po<strong>de</strong>m chegar a fazer perguntas,<br />

porém procuram a confirmação <strong>de</strong> algo que já sabem. Além<br />

disso a percepção do agravamento favorece a criança a integrar-se<br />

com mais facilida<strong>de</strong> ao processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida 5 .<br />

O luto da família<br />

A morte <strong>de</strong> um filho constitui uma perda aflitiva, quiçá a mais<br />

dolorosa experiência da vida 18 . Quando, por alguma razão,<br />

ocorre a morte <strong>de</strong> uma criança, o luto que se observa é <strong>de</strong>masiado<br />

complexo e com frequência <strong>de</strong>senvolvem-se manifestações<br />

anormais <strong>de</strong> pesar. O luto dos pais, caracteriza-se pela<br />

elevada intensida<strong>de</strong> com que é vivido e pela temporalida<strong>de</strong><br />

em que <strong>de</strong>corre, po<strong>de</strong>ndo permanecer durante toda a vida com<br />

sentimentos que nunca chegam a <strong>de</strong>saparecer 18 .<br />

Os laços <strong>de</strong> vinculação dos pais com os filhos são normalmente<br />

bastante intensos. As crianças constituem para os progenitores<br />

o “seu” futuro em aberto. Durante a fase <strong>de</strong> doença<br />

maligna, a família da criança passará pelas mesmas fases <strong>de</strong>scritas<br />

por Elisabeth Kubbler-Ross para o doente terminal, mas<br />

o período da fase final, quando o paciente se <strong>de</strong>spren<strong>de</strong> paulatinamente<br />

do seu mundo, inclusive da família, talvez seja o<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sgosto mais profundo 13 , por isso o acompanhamento no<br />

luto <strong>de</strong>verá iniciar-se antes da morte 19,22 .<br />

Cada um dos progenitores cria e vive os seus vínculos afectivos<br />

com a criança e forma também vínculos familiares<br />

comuns. No início do luto po<strong>de</strong> surgir alguma agressivida<strong>de</strong><br />

porque a perda da criança traz ao <strong>de</strong> cima todos os pequenos<br />

problemas, as outroras insignificantes divergências, agitando-as,<br />

agora 18 . Quem acompanha o luto dos pais <strong>de</strong>verá<br />

estar atento a situações <strong>de</strong> <strong>de</strong>sorganização familiar, on<strong>de</strong> as<br />

acusações se suce<strong>de</strong>m e a <strong>de</strong>teriorização sentimental do casal<br />

se torna evi<strong>de</strong>nte, porque quando se verifica a morte <strong>de</strong> uma<br />

criança, interrompe-se a circulação dos afectos, tombam os<br />

<strong>de</strong>sejos e ruem as expectativas 18 . Isto po<strong>de</strong> fazer com que os<br />

pais se afastem <strong>de</strong>finitivamente, dissolvendo o próprio casamento,<br />

ou unir mais do que nunca o casal, porque após a<br />

perda encontram um no outro o apoio sólido que necessitam.<br />

É necessário estimular atitu<strong>de</strong>s e comportamentos que<br />

aumentem e <strong>de</strong>senvolvam a resiliência individual e familiar<br />

<strong>de</strong> forma a estabelecer uma auto-estima positiva. A resiliência<br />

não é sinónimo <strong>de</strong> invencibilida<strong>de</strong> nem <strong>de</strong> insensibilida<strong>de</strong>,<br />

mas remete, pelo contrário para a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> flexibilida<strong>de</strong><br />

e adaptação 23 . O processo terapêutico baseia-se na <strong>de</strong>scoberta<br />

<strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> força dos membros da família e os recursos<br />

manifestos e latentes disponíveis para a superação da crise,<br />

com o objectivo <strong>de</strong> redireccionar investimentos afectivos e<br />

<strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> novas fontes <strong>de</strong> gratificação que não substituem<br />

no mesmo nível <strong>de</strong> importância mas dão sentido e continuida<strong>de</strong><br />

evolutiva 24 .<br />

A primeira reunião <strong>de</strong> acompanhamento do luto <strong>de</strong> pais, não<br />

<strong>de</strong>verá ser imediata à morte pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tempo para<br />

reflexão individual, no entanto não <strong>de</strong>verá ser <strong>de</strong>masiado<br />

adiada pela sensação <strong>de</strong> abandono que po<strong>de</strong>ria provocar 22 .<br />

Também o local on<strong>de</strong> <strong>de</strong>correrão as reuniões é <strong>de</strong> fundamental<br />

importância. Para muitas famílias regressar ao local on<strong>de</strong><br />

a criança morreu po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>masiado traumático, enquanto<br />

que para outras, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> visitar o local é <strong>de</strong> vital<br />

importância, para interiorização da morte “real” 22 . É importante,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, dizer que é normal sentirem-se tristes,<br />

culpados, agressivos, ansiosos. É normal pensarem na<br />

criança o tempo todo. É normal ela não estar presente nas<br />

suas vidas 25,26 .<br />

Os irmãos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da ida<strong>de</strong> que apresentem, representarão<br />

a morte <strong>de</strong> distintas formas, tal como foi <strong>de</strong>scrito para a<br />

criança que se aproxima da morte. Po<strong>de</strong>m oscilar entre a<br />

calma e a alegria porque vão ter os brinquedos todos só para<br />

eles até o irmão voltar, colocar secretamente comida para o<br />

irmão comer durante a viagem imaginária, escon<strong>de</strong>r-se para<br />

que a “figura mitológica malvada” não a venha buscar a ela<br />

também, ou chorar compulsivamente pela perda que enten<strong>de</strong><br />

como <strong>de</strong>finitiva 13 . As crianças perante a morte <strong>de</strong> um irmão,<br />

normalmente, têm imensa dificulda<strong>de</strong> em lidar com o <strong>de</strong>sconforto<br />

que outras pessoas lhe <strong>de</strong>monstram perante a ocorrência<br />

13 , po<strong>de</strong>ndo sentir-se culpados pelo facto <strong>de</strong> quererem brincar,<br />

rir, falar alto...<br />

Muitos pais, na tentativa <strong>de</strong> dar a melhor resposta, associam a<br />

morte a algo que a criança conheça como o dormir, fazer uma<br />

viagem gran<strong>de</strong>, etc. A criança como tem uma experiência <strong>de</strong><br />

vida limitada enten<strong>de</strong> todas estas activida<strong>de</strong>s como temporárias.<br />

À medida que o tempo passa e o irmão nunca mais<br />

“acorda” ou nunca mais “regressa da viagem”, surgem transtornos<br />

mais ou menos graves por associação entre a activida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scrita e a morte, como se o sono e as viagens fossem<br />

algo terrível 7,14,19 . As famílias ao proporcionarem momentos <strong>de</strong><br />

comunicação aberta e honesta dão um passo <strong>de</strong>cisivo para que<br />

a criança possa falar dos seus sentimentos e receios e entenda<br />

a morte como um processo natural na vida <strong>de</strong> qualquer ser<br />

vivo. A conclusão <strong>de</strong> uma conversa franca sobre a morte, sem<br />

medo, tem sempre aspectos positivos, só pelo simples facto <strong>de</strong><br />

estar perto, ouvir e respeitar a sua forma <strong>de</strong> superar o<br />

momento da morte 6,7 .<br />

Os pais, com outros filhos pequenos, se não forem acompanhados<br />

durante este processo penoso, po<strong>de</strong>rão adoptar comportamentos<br />

prejudiciais que afectarão o indivíduo durante<br />

toda a sua vida. Po<strong>de</strong>rão, numa primeira fase, negligenciá-los<br />

<strong>de</strong>vido ao esgotamento físico e mental a que estão sujeitos,<br />

por isso é importante que os restantes familiares e amigos<br />

auxiliem o casal no início do luto a manter as activida<strong>de</strong>s diárias<br />

dos restantes filhos. Numa fase posterior, po<strong>de</strong>rá surgir<br />

uma vigilância constante e intensa a todos os movimentos dos<br />

filhos como forma <strong>de</strong> os resguardar do sofrimento e controlar<br />

o medo <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r outro filho 18,27 . Frequentemente, os pais ten<strong>de</strong>m<br />

a mentir aos filhos sobre o real significado da morte do<br />

irmão. Outro fenómeno mais complicado caracteriza-se pela<br />

tentativa <strong>de</strong> substituição do filho falecido por um dos filhos<br />

sobreviventes, quer através da substituição física, quer através<br />

da substituição psicológica. A negação da perda torna-se<br />

assim obstinada.<br />

Os restantes familiares, também eles em luto, em maior ou<br />

menor grau, consoante o vinculo afectivo estabelecido,<br />

po<strong>de</strong>m ter dificulda<strong>de</strong> em respon<strong>de</strong>r às exigências da nova<br />

relação com a família em luto, sentindo dificulda<strong>de</strong>s em<br />

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<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):149-53<br />

Simões ASL – Quando a criança morre…<br />

encontrar formas <strong>de</strong> apoio ajustados à nova realida<strong>de</strong> 18 .<br />

Também estas pessoas <strong>de</strong>vem ser ajudadas neste esforço <strong>de</strong><br />

aproximação, porque o tempo será um factor <strong>de</strong>sfavorável<br />

para estas relações familiares e sociais e com frequência este<br />

afastamento torna-se irreversível.<br />

O acompanhamento no luto <strong>de</strong>ve ser sempre preventivo<br />

dando especial atenção a datas festivas e dias especiais 26 . O<br />

primeiro dia <strong>de</strong> escola ou até simples eventos como o melhor<br />

amigo do filho falecido per<strong>de</strong>r um <strong>de</strong>nte <strong>de</strong> leite, po<strong>de</strong>m provocar<br />

uma emoção extrema 25 . O luto não serve para esquecer<br />

a criança, mas para encontrar formas <strong>de</strong> a lembrar. Recordar<br />

faz parte do processo <strong>de</strong> reapren<strong>de</strong>r a viver. Alguns pais<br />

po<strong>de</strong>m não saber como o fazer. The Child Bareavement Trust<br />

propõe formas simples, mas únicas, <strong>de</strong> o fazer: personalização<br />

do funeral, visitar o cemitério, criar uma caixa <strong>de</strong> memórias,<br />

um livro <strong>de</strong> memória, um diário do processo do luto, artes<br />

<strong>de</strong>corativas, criar uma fundação, plantar uma árvore ou simplesmente<br />

acen<strong>de</strong>r uma vela 28 .<br />

A terapia <strong>de</strong> acompanhamento ao luto tem <strong>de</strong>monstrado gran<strong>de</strong>s<br />

benefícios nas famílias enlutadas através <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong><br />

informações úteis acerca do processo <strong>de</strong> crise que atravessam,<br />

conhecimento <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> superação bem sucedidas,<br />

obtenção <strong>de</strong> apoio e aceitação social, partilha <strong>de</strong> sentimentos<br />

intensos e ambíguos, planeamento <strong>de</strong> novas metas e novos<br />

significados além <strong>de</strong> diminuir a solidão <strong>de</strong>corrente do sofrimento<br />

em que mergulharam 24<br />

O luto dos profissionais<br />

A morte <strong>de</strong> um paciente é duramente vivenciada por todos os<br />

técnicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> 29 , porque a formação actual dos profissionais<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> explora muito pouco a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transmitir<br />

más noticias, a conjunção dos cuidados curativos com cuidados<br />

paliativos e o reconhecimento da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acompanhamento<br />

no luto. Na área da pediatria a formação nestas<br />

áreas é ainda mais escassa ou inexistente 30,3 . A insuficiência <strong>de</strong><br />

treino dos profissionais é responsável pela sua sensação <strong>de</strong><br />

incompetência, <strong>de</strong>sa<strong>de</strong>quação e <strong>de</strong>sconforto perante a criança<br />

e família. Os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>vem ser estimulados a<br />

reconhecer os seus medos, angústias e frustrações 16 já que frequentemente<br />

adoptam comportamentos <strong>de</strong> distanciamento<br />

emocional ou <strong>de</strong>spersonalização dos cuidados. Os profissionais<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> são “obrigados” a colocar <strong>de</strong> lado o seu sofrimento<br />

e o seu luto pessoal e regressar <strong>de</strong> imediato ao trabalho.<br />

A falta <strong>de</strong> suporte emocional aos profissionais levará a<br />

<strong>de</strong>pressões e sentimentos <strong>de</strong> burnout. 16,31 A equipa hospitalar<br />

po<strong>de</strong> apresentar três tipos <strong>de</strong> reacções perante a criança em<br />

fase terminal: negação, tecnicismo ou hiper-i<strong>de</strong>ntificação com<br />

a criança. 16 A recusa mo<strong>de</strong>rna do luto, acarreta efeitos psicológicos<br />

terríveis e <strong>de</strong> consequências imprevisíveis; não<br />

expressando os seus sentimentos exteriormente, o indivíduo<br />

tem <strong>de</strong> os «armazenar» em si. E todos somos constrangidos a<br />

envergar uma mascara opressora. É este também, o comportamento<br />

profissional dos médicos e enfermeiros num hospital 32 .<br />

Trabalhar com crianças terminais é uma experiência única,<br />

inigualável. É viver cada momento como se fosse o último. É<br />

estar junto, sempre. É sorrir, brincar, sofrer, apren<strong>de</strong>r…<br />

Conclusão<br />

Trabalhar com crianças em fase terminal <strong>de</strong> vida é difícil.<br />

Mais difícil que qualquer dificulda<strong>de</strong> na nossa vida profissional.<br />

Com o dito no não dito as crianças ensinam-nos o que é<br />

morrer sem medo e angústia.<br />

As dificulda<strong>de</strong>s pren<strong>de</strong>m-se com o incomodo em relação à<br />

morte na socieda<strong>de</strong> actual agravado pela falta <strong>de</strong> formação<br />

e treino e pelo facto <strong>de</strong> contactarmos com alguém que se<br />

<strong>de</strong>spe<strong>de</strong>, com recursos diferentes, mas com a mesma<br />

intensida<strong>de</strong>.<br />

É fundamental que os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> encontrem locais<br />

<strong>de</strong> partilha e troca <strong>de</strong> experiências no seio da sua equipa, que<br />

melhorem a sua formação em relação à morte e ao morrer e<br />

acompanhamento da criança em fase final <strong>de</strong> vida e implementar<br />

verda<strong>de</strong>iros planos <strong>de</strong> acompanhamento no luto que<br />

por todo o mundo provam a sua eficácia na resposta às necessida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> amigos e familiares,<br />

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<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

CASO CLÍNICO<br />

Enfisema lobar congénito: uma apresentação multilobar<br />

Ana Moutinho 1 , Graça Seves 1 , Maurílio Gaspar 1 , Rui <strong>de</strong> Carvalho Alves 2 , Henrique Sá Couto 2 , José Oliveira Santos 3<br />

1. Serviço <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria, Unida<strong>de</strong> Local <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Baixo Alentejo, Beja<br />

2. Serviço <strong>de</strong> Cirurgia <strong>Ped</strong>iátrica, Hospital D. Estefânia, Lisboa<br />

3. Departamento <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria, Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pneumologia, Hospital D. Estefânia, Lisboa<br />

Resumo<br />

O enfisema lobar congénito é uma malformação rara do tracto respiratório<br />

inferior <strong>de</strong>tectada habitualmente nos primeiros meses <strong>de</strong><br />

vida. Apresenta-se o caso <strong>de</strong> um lactente, do sexo masculino, <strong>de</strong><br />

dois meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, internado por suspeita <strong>de</strong> pneumonia, no qual<br />

a segunda radiografia <strong>de</strong> tórax revelou hipertransparência arredondada<br />

no lobo inferior esquerdo, sugestiva <strong>de</strong> enfisema lobar congénito.<br />

A tomografia computorizada torácica mostrou uma imagem<br />

quística, multilobar, e a broncoscopia excluiu obstrução brônquica.<br />

Foi programada cirurgia para os seis meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, mas aos três<br />

meses foi submetido a intervenção cirúrgica urgente por pneumotórax<br />

hipertensivo. O exame anatomo-patológico da peça operatória<br />

permitiu o diagnóstico <strong>de</strong> enfisema lobar congénito. Destaca-se<br />

a apresentação multilobar e a complicação por pneumotórax.<br />

Palavras-chave: enfisema, congénito, lactente<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011;<strong>42</strong>(4):154-6<br />

Congenital lobar emphysema: a multilobar<br />

presentation<br />

Abstract<br />

Congenital lobar emphysema is a rare congenital malformation of<br />

the lower respiratory tract usually <strong>de</strong>tected in the first months of<br />

life. We report the case of an two-month old male infant admitted<br />

for suspect of pneumonia. Thorax radiography was repeated and<br />

revealed a roun<strong>de</strong>d hiperlucency on the left lower lobe. The chest<br />

computed tomography showed a multilobar cystic image and the<br />

bronchoscopy exclu<strong>de</strong>d bronchial obstruction. Surgery was programmed<br />

to six months of age, but at three months un<strong>de</strong>rwent<br />

urgent surgery due to hypertensive pneumothorax. A pathologic<br />

examination of surgical specimen allowed the diagnosis of congenital<br />

lobar emphysema. We highlight the multilobar presentation<br />

of this congenital lobar emphysema and its complication with<br />

pneumothorax.<br />

Key-words: emphysema, congenital, infant<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011;<strong>42</strong>(4):154-6<br />

Introdução<br />

O enfisema lobar congénito é uma anomalia do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

do tracto respiratório inferior caracterizada pela insuflação<br />

<strong>de</strong> um ou mais lobos pulmonares. Trata-se <strong>de</strong> uma malformação<br />

rara, com prevalência estimada entre 1: 20000-30000 e<br />

mais frequente no sexo masculino, numa razão <strong>de</strong> 3:1.<br />

Etiopatogenicamente, a hiperinsuflação lobar progressiva<br />

parece ser o resultado final <strong>de</strong> uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> disrupções<br />

no <strong>de</strong>senvolvimento bronco-pulmonar que advêm <strong>de</strong> interacções<br />

anormais entre os componentes endodérmicos e mesodérmicos<br />

embrionários do pulmão. Estes distúrbios po<strong>de</strong>m<br />

provocar alterações no número ou dimensões das vias aéreas<br />

ou alvéolos.<br />

A causa mais frequentemente i<strong>de</strong>ntificada <strong>de</strong> enfisema<br />

lobar congénito é a obstrução da via aérea em <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

o que ocorre em 25% dos casos. 1 É mais frequentemente<br />

intrínseca, a maioria das vezes por <strong>de</strong>feitos da pare<strong>de</strong><br />

brônquica como a <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> cartilagem brônquica. A<br />

obstrução intra-luminal causada por mecónio ou rolhões<br />

mucosos, granulomas ou pregas <strong>de</strong> mucosa po<strong>de</strong> causar<br />

obstrução parcial.<br />

A compressão extrínseca po<strong>de</strong> ser causada por anomalias vasculares<br />

como cavalgamento da artéria pulmonar, retorno<br />

venoso pulmonar anómalo ou massas intra-torácicas como os<br />

quistos do intestino anterior ou os teratomas. Adicionalmente<br />

a atrésia brônquica tem sido um achado comum em pacientes<br />

com enfisema lobar congénito e outras malformações pulmonares<br />

quísticas. 2 Contudo, não é possível i<strong>de</strong>ntificar a causa<br />

em aproximadamente 50% dos casos. 3<br />

Apresentamos o caso <strong>de</strong> um lactente com o diagnóstico <strong>de</strong><br />

enfisema lobar congénito <strong>de</strong> apresentação multilobar.<br />

Relato <strong>de</strong> caso<br />

Lactente, <strong>de</strong> dois meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, sexo masculino, nascido <strong>de</strong><br />

gestação não vigiada, com antece<strong>de</strong>ntes familiares e pessoais<br />

Recebido: 05.04.2010<br />

Aceite: 19.10.2011<br />

Correspondência:<br />

Ana Sofia Moutinho<br />

Serviço <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

Hospital José Joaquim Fernan<strong>de</strong>s<br />

Unida<strong>de</strong> Local <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Baixo Alentejo<br />

7800-454 Beja<br />

asm@meo.pt<br />

154


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):154-6<br />

Moutinho A et al. – Enfisema lobar congénito multilobar<br />

irrelevantes. Iniciara tosse produtiva e rinorreia uma semana<br />

antes do internamento, e por agravamento do estado clínico<br />

com febre e recusa alimentar, foi levado ao serviço <strong>de</strong> urgência,<br />

on<strong>de</strong> lhe foi efectuada radiografia <strong>de</strong> tórax que revelou<br />

hipotransparência no terço médio do pulmão esquerdo.<br />

Foi internado por suspeita <strong>de</strong> pneumonia e iniciado tratamento<br />

com cefuroxime 100 mg/Kg. Os exames laboratoriais mostraram<br />

leucocitose com neutrofilia, trombocitose e proteína C<br />

reactiva elevada. A investigação etiológica foi negativa.<br />

Ao terceiro dia <strong>de</strong> internamento, por resposta incompleta ao<br />

tratamento, repetiu-se radiografia <strong>de</strong> tórax (Figura 1) que<br />

revelou hipertransparência arredondada na meta<strong>de</strong> superior<br />

do hemitórax esquerdo, tendo-se colocado a hipótese <strong>de</strong> enfisema<br />

lobar congénito.<br />

Figura 2 – Enfisema lobar congénito. Radiografia <strong>de</strong> tórax: hipertransparência<br />

em toda a extensão do hemitórax esquerdo com compressão<br />

do parênquima e <strong>de</strong>svio contralateral do mediastino compatível<br />

com pneumotórax hipertensivo<br />

Efectuou-se tomografia computorizada (TC) torácica que<br />

revelou imagem hipertransparente <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s regulares e<br />

espessadas, compatível com quisto aéreo ocupando o segmento<br />

apical do lobo pulmonar inferior e ápico-posterior do<br />

lobo superior à esquerda, sugestivo <strong>de</strong> malformação a<strong>de</strong>nomatói<strong>de</strong><br />

quística/ enfisema lobar congénito. A broncoscopia<br />

excluiu obstrução brônquica.<br />

Por se encontrar clinicamente estável, foi programada cirurgia<br />

para os seis meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, mas aos três meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> foi<br />

<strong>de</strong> novo internado por infeção, com agravamento progressivo<br />

da dificulda<strong>de</strong> respiratória e abolição do murmúrio vesicular<br />

no hemitórax esquerdo. Realizou-se radiografia <strong>de</strong> tórax que<br />

mostrou hipertransparência em toda a extensão do hemitórax<br />

esquerdo com compressão do parênquima pulmonar e <strong>de</strong>svio<br />

contralateral do mediastino, aspectos diagnósticos <strong>de</strong> pneumotórax<br />

hipertensivo (Figura 2).<br />

Foi submetido a cirurgia <strong>de</strong> urgência que consistiu em segmentectomia<br />

atípica dos lobos pulmonares superior e inferior esquerdos,<br />

com remoção <strong>de</strong> formação macroscopicamente sugestiva <strong>de</strong><br />

quisto broncogénico. O exame anatomo-patológico da peça operatória<br />

fez o diagnóstico <strong>de</strong> enfisema lobar congénito. Actualmente<br />

com um ano <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, tem-se mantido assintomático.<br />

Figura 1 – Radiografia <strong>de</strong> tórax: hipertransparência na meta<strong>de</strong> superior<br />

do hemitórax esquerdo, suspeita <strong>de</strong> enfisema lobar congénito<br />

Discussão<br />

No enfisema lobar congénito é mais comum a apresentação unilobar<br />

6 , com atingimento mais frequente do lobo pulmonar superior<br />

esquerdo, em cerca <strong>de</strong> 40-50% dos casos, seguido do médio<br />

direito, superior direito e inferiores esquerdo e direito 1 . No caso<br />

<strong>de</strong>scrito a apresentação foi atípica, com atingimento multilobar.<br />

As crianças afectadas são habitualmente sintomáticas no<br />

período neonatal (25-33% ao nascimento e 50% no final do<br />

primeiro mês <strong>de</strong> vida). Quase todos apresentam sintomas até<br />

aos seis meses <strong>de</strong> vida. 1<br />

A apresentação clínica típica ocorre frequentemente em lactentes<br />

e é caracterizada por sinais <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> respiratória<br />

associados a broncospasmo. 1 Po<strong>de</strong> ainda apresentar-se sob a<br />

forma <strong>de</strong> recusa alimentar com má progressão pon<strong>de</strong>ral ou<br />

pneumonias recorrentes.<br />

No caso <strong>de</strong>scrito, o diagnóstico foi feito aos dois meses <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong>, na sequência <strong>de</strong> infeção respiratória.<br />

A progressão é muito variável <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a instalação rápida e progressiva<br />

<strong>de</strong> insuficiência respiratória 1 à ausência <strong>de</strong> sintomas<br />

durante anos 4,5 Destacamos a evolução singular <strong>de</strong>ste caso, em<br />

que se verificou expansão rápida do tecido enfisematoso, com<br />

rotura para a pleura e consequente instalação <strong>de</strong> pneumotórax<br />

hipertensivo.<br />

Está <strong>de</strong>scrita a associação a outras anomalias congénitas: cardiovasculares<br />

(14%) 1 , renais, gastrointestinais, musculo-esqueléticas<br />

e cutâneas. No nosso paciente não foram <strong>de</strong>tectadas<br />

outras anomalias congénitas.<br />

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<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):154-6<br />

Moutinho A et al. – Enfisema lobar congénito multilobar<br />

O diagnóstico é feito com base na aparência radiológica<br />

característica <strong>de</strong> distensão do lobo afectado e <strong>de</strong>svio do<br />

mediastino, com compressão e atelectasia do pulmão contralateral.<br />

A TC torácica po<strong>de</strong> ser útil no diagnóstico <strong>de</strong> casos atípicos<br />

e <strong>de</strong>monstrar a causa extrínseca ou intrínseca da obstrução<br />

da via aérea. 6,7<br />

Por vezes, o enfisema lobar congénito é <strong>de</strong>tectado na ecografia<br />

pré-natal. Ao longo da gravi<strong>de</strong>z po<strong>de</strong> verificar-se diminuição<br />

do tamanho das lesões 8 , as quais po<strong>de</strong>m tornar-se novamente<br />

aparentes após o nascimento. 9 Neste caso e tratando-se<br />

<strong>de</strong> uma gravi<strong>de</strong>z não vigiada, não existem dados do período<br />

pré-natal.<br />

O diagnóstico diferencial coloca-se com outras lesões ocupando<br />

espaço no tórax como a malformação congénita a<strong>de</strong>nomatói<strong>de</strong><br />

quística, o quisto broncogénico e a hérnia diafragmática<br />

congénita.<br />

O tratamento apropriado <strong>de</strong> recém-nascidos com enfisema lobar<br />

congénito e clínica <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> respiratória é a resseção cirúrgica<br />

do lobo afectado. 10 Avanços recentes na toracoscopia minimamente<br />

invasiva têm resultado na diminuição da morbilida<strong>de</strong><br />

associada a esta intervenção. 11 Todavia, existe controvérsia<br />

quanto ao tratamento <strong>de</strong> crianças assintomáticas. Segundo<br />

alguns autores, a atitu<strong>de</strong> conservadora é aceitável em lactentes e<br />

crianças mais velhas assintomáticas ou com sintomas ligeiros. 12<br />

A importância do enfisema lobar congénito resi<strong>de</strong> no facto <strong>de</strong><br />

constituir uma causa <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> respiratória grave no<br />

recém-nascido e pequeno lactente com possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resolução<br />

cirúrgica <strong>de</strong>finitiva.<br />

Salientamos a dificulda<strong>de</strong> diagnóstica que se verificou no<br />

caso apresentado, colocando diagnóstico diferencial com malformação<br />

a<strong>de</strong>nomatói<strong>de</strong> quística ou quisto broncogénico. O<br />

diagnóstico <strong>de</strong>finitivo foi feito apenas pela histologia.<br />

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0873-9781/11/<strong>42</strong>-4/157<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

CASO CLÍNICO<br />

Sarcoidose em ida<strong>de</strong> pediátrica<br />

Sofia Águeda 1 , Rita Jorge 1 , Susana Soares 1 , Carla Rego 1,2 , Ana Maia 1 , Inês Azevedo 1,2<br />

1. Serviço <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria, UAG-MC, Hospital <strong>de</strong> São João, Porto<br />

2. Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> do Porto<br />

Resumo<br />

A sarcoidose é uma doença granulomatosa multissistémica <strong>de</strong><br />

etiologia <strong>de</strong>sconhecida, cujo diagnóstico é baseado na elevada<br />

suspeição clínica e biópsia conclusiva. Apresentamos o caso <strong>de</strong><br />

uma criança <strong>de</strong> onze anos internada para estudo <strong>de</strong> anorexia,<br />

astenia, dispneia e perda pon<strong>de</strong>ral. A radiografia <strong>de</strong> tórax mostrava<br />

um padrão alvéolo-intersticial difuso, e as provas tuberculínica<br />

e <strong>de</strong> reacção em ca<strong>de</strong>ia da polimerase para Mycobacterium<br />

tuberculosis eram negativas. Constatou-se elevação da<br />

enzima conversora da angiotensina. A tomografia computorizada<br />

torácica revelou padrão intersticial difuso e no lavado bronco-<br />

-alveolar verificou-se relação CD4 + /CD8 + elevada. O diagnóstico<br />

<strong>de</strong> sarcoidose foi confirmado por biópsia <strong>de</strong> a<strong>de</strong>nomegalia cervical,<br />

que revelou linfa<strong>de</strong>nopatia granulomatosa não caseosa. O<br />

caso é apresentado para relembrar este diagnóstico e assim contribuir<br />

para elevar o índice <strong>de</strong> suspeição em casos similares.<br />

Palavras-chave: sarcoidose, padrão miliar, granuloma<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011;<strong>42</strong>(4):157-60<br />

Sarcoidosis in a child<br />

Abstract<br />

Sarcoidosis is a multisystemic granulomatous disease of<br />

unknown etiology and its diagnosis is based on high clinical<br />

suspicion plus biopsy. We present the case of an eleven years<br />

old child, admitted for study of anorexia, asthenia, weight loss<br />

and dyspnea. The chest X-ray showed an alveolo-intersticial<br />

diffuse pattern. The tuberculin test and the polymerase<br />

chain reaction for Mycobacterium tuberculosis were negative.<br />

There was elevation of the angiotensin converting enzyme<br />

level and the chest computed tomography showed diffuse<br />

interstitial pattern. The CD4 + /CD8 + relation at bronchoalveolar<br />

lavage was increased. The biopsy of a cervical lymph no<strong>de</strong><br />

revealed noncaseating granulomas, confirming the diagnosis<br />

of sarcoidosis. We present this case to remember the diagnosis<br />

and so help to raise the level of suspicion in such cases.<br />

Keywords: sarcoidosis, miliary nodules, granuloma<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011;<strong>42</strong>(4):157-60<br />

Introdução<br />

A sarcoidose é uma doença multissistémica enigmática, com<br />

manifestações clínicas muito diversas, que ocorre em indivíduos<br />

geneticamente predispostos expostos a um estímulo antigénico<br />

externo até hoje <strong>de</strong>sconhecido. Caracteriza-se patologicamente<br />

pela presença <strong>de</strong> granulomas não caseosos nos<br />

órgãos envolvidos 1 . Surge tipicamente em adultos jovens,<br />

apresentando-se como linfa<strong>de</strong>nopatia hilar e infiltrados pulmonares,<br />

bem como com lesões cutâneas e oculares 2 . Quando<br />

se apresenta sob a forma <strong>de</strong> sintomas constitucionais inespecíficos<br />

representa um <strong>de</strong>safio diagnóstico, pela miría<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

doenças a eles associados.<br />

Na criança é muito rara, mas a sua real prevalência é <strong>de</strong>sconhecida<br />

<strong>de</strong>vido ao número reduzido <strong>de</strong> casos relatados, para o que<br />

contribui a falha na <strong>de</strong>tecção e os casos subclínicos existentes.<br />

Num estudo europeu recente foi <strong>de</strong>scrita uma incidência anual<br />

<strong>de</strong> 0,22-0,27/100.000 em menores <strong>de</strong> quinze anos 3 . Os casos<br />

pediátricos relatados ocorrem predominantemente dos doze aos<br />

quinze anos e na raça negra, sem diferenças entre os sexos 4 .<br />

Descrevemos o caso <strong>de</strong> uma criança, com o objectivo <strong>de</strong><br />

relembrar este diagnóstico em ida<strong>de</strong> pediátrica e assim contribuir<br />

para elevar o índice <strong>de</strong> suspeição em casos similares.<br />

Relato <strong>de</strong> Caso<br />

Criança do sexo feminino, onze anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, caucasiana,<br />

natural e resi<strong>de</strong>nte em Vila Nova <strong>de</strong> Gaia, referenciada pela<br />

pediatra assistente para estudo <strong>de</strong> anorexia, astenia, dispneia<br />

para médios esforços e perda pon<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 11%, com <strong>de</strong>z<br />

meses <strong>de</strong> evolução e <strong>de</strong> agravamento progressivo nas semanas<br />

anteriores. Negava contacto com conviventes doentes ou<br />

exposição ambiental a agentes potencialmente nocivos. Nos<br />

antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>stacava-se meningite vírica aos sete anos <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong> e cefaleias recorrentes. Estava medicada com valproato<br />

<strong>de</strong> sódio por alterações electroencefalográficas inespecíficas<br />

<strong>de</strong>tectadas durante avaliação das cefaleias, muito embora não<br />

existisse história <strong>de</strong> convulsões. Ao exame objectivo na<br />

entrada apresentava-se apirética, sem sinais <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong><br />

Recebido: 28.09.2010<br />

Aceite: 08.09.2011<br />

Correspondência:<br />

Sofia Águeda<br />

Hospital São João, E.P.E.<br />

Alameda Prof. Hernâni Monteiro<br />

<strong>42</strong>00 Porto<br />

sofiamsa@gmail.com<br />

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<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):157-60<br />

Águeda S et al. – Sarcoidose em ida<strong>de</strong> pediátrica<br />

respiratória, com sinais vitais normais, aspecto emagrecido,<br />

olhos encovados e pali<strong>de</strong>z cutânea. Não apresentava exantemas.<br />

Foram constatadas raras a<strong>de</strong>nomegalias cervicais bilaterais<br />

infra-centimétricas, sem outras a<strong>de</strong>nomegalias palpáveis.<br />

À auscultação cardio-pulmonar não existiam alterações e a<br />

palpação abdominal não revelava organomegalias. O sistema<br />

osteoarticular era normal.<br />

A radiografia <strong>de</strong> tórax realizada em ambulatório mostrava<br />

padrão alvéolo-intersticial difuso, sem alargamento mediastínico<br />

(Figura 1).<br />

Figura 2 – Sarcoidose em ida<strong>de</strong> pedátrica. Tomografia computorizada<br />

torácica : padrão alvéolo-intersticial difuso, com áreas em vidro <strong>de</strong>spolido.<br />

Figura 1 – Sarcoidose em ida<strong>de</strong> pediátrica. Radiografia <strong>de</strong> tórax mostrando<br />

padrão miliar pulmonar.<br />

Pela apresentação indolente, foi internada com diagnóstico<br />

provável <strong>de</strong> tuberculose pulmonar, apesar da ausência <strong>de</strong> contacto<br />

conhecido com casos <strong>de</strong> doença. Durante os primeiros<br />

dias <strong>de</strong> internamento, objectivou-se gradual alteração na auscultação<br />

pulmonar, com aparecimento <strong>de</strong> crepitações <strong>de</strong> predomínio<br />

inspiratórios ao nível das bases pulmonares. No<br />

estudo complementar inicial (Quadro) <strong>de</strong>stacava-se ausência<br />

<strong>de</strong> anemia e velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sedimentação (VS) normal, prova<br />

tuberculínica e quantiferão negativos, exames directo, cultural<br />

e reacção em ca<strong>de</strong>ia da polimerase (PCR) para Mycobacterium<br />

tuberculosis negativos, pelo que se prosseguiu o estudo<br />

complementar. A tomografia computorizada (TC) torácica<br />

(Figura 2) confirmou a presença <strong>de</strong> padrão alvéolo-intersticial<br />

difuso, com predomínio do componente intersticial e sem gradiente<br />

regional bilateral nem apicobasal, <strong>de</strong> carácter inespecífico,<br />

com algumas áreas em vidro <strong>de</strong>spolido e ténues bronquiectasias<br />

cilíndricas, e mostrou discretas a<strong>de</strong>nomegalias<br />

pré-carinais. No estudo funcional respiratório documentou-se<br />

síndrome ventilatório restritivo com diminuição da difusão do<br />

monóxido <strong>de</strong> carbono. Para esclarecimento <strong>de</strong> síndrome<br />

intersticial foram realizados estudos complementares, <strong>de</strong>scritos<br />

no Quadro, <strong>de</strong>stacando-se elevação da enzima conversora<br />

da angiotensina (ECA), normocalcemia e normocalciúria.<br />

Foram efectuados broncofibroscopia e lavado bronco-alveolar<br />

(LBA); os estudos virulógico, bacteriológico, micológico,<br />

micobacteriológico, por técnicas clássicas e <strong>de</strong> PCR foram<br />

negativos e documentou-se alveolite linfocítica com relação<br />

CD4 + /CD8 + muito aumentada, que é um padrão sugestivo <strong>de</strong><br />

sarcoidose. Para confirmação histológica foi efectuada biópsia<br />

excisional <strong>de</strong> pequena a<strong>de</strong>nomegalia cervical <strong>de</strong> 5 mm <strong>de</strong> eixo<br />

curto, sem critérios <strong>de</strong> suspeição clínica ou ecográfica, que<br />

revelou linfa<strong>de</strong>nopatia granulomatosa e necrosante, não<br />

caseosa, com estudo histoquímico por método Ziehl-Neelsen<br />

e PCR para Mycobacterium tuberculosis negativos. A observação<br />

oftalmológica complementar excluiu uveíte ou iridociclite.<br />

O exame cardiovascular com ecocardiograma bidimensional<br />

codificado com doppler e o electrocardiograma foram<br />

normais. A TC cerebral não mostrava alterações.<br />

Após diagnóstico <strong>de</strong>finitivo <strong>de</strong> sarcoidose com atingimento<br />

pulmonar grave e atingimento do estado geral foi iniciada<br />

terapêutica com prednisolona oral na dose <strong>de</strong> 1mg/Kg/dia,<br />

que se manteve durante 4 semanas, seguida <strong>de</strong> redução gradual.<br />

Verificou-se rápida melhoria clínica, tendo alta ao 18º<br />

dia <strong>de</strong> internamento. Mantém-se seguimento em consulta<br />

multidisciplinar, tendo sido verificado, menos <strong>de</strong> seis meses<br />

após a alta clínica, regressão total da sintomatologia.<br />

Após suspensão da corticoterapia manteve-se com evolução<br />

estaturo-pon<strong>de</strong>ral no canal <strong>de</strong> percentil prévio à doença, e<br />

assintomática, à excepção <strong>de</strong> episódio isolado <strong>de</strong> cefaleias <strong>de</strong><br />

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<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):157-60<br />

Águeda S et al. – Sarcoidose em ida<strong>de</strong> pediátrica<br />

Quadro – Estudo laboratorial inicial e estudo complementar em caso <strong>de</strong> sarcoidose na ida<strong>de</strong> pedátrica<br />

Hemograma Hemoglobina (g/dL)/ VG (%) 15,2/ 43,3<br />

Leucócitos (/uL)/ Plaquetas (/uL) 6560 (26,2%N 52,6%L)/ 237000<br />

VS (mm/1ª hora) 6<br />

Bioquímica Proteínas totais/ Albumina (g/L) 73/ 39,3<br />

AST/ ALT/ G-GT/ FA (U/L) 37/ 12/ 15/ 85<br />

Bilirrubina total/ directa (mg/L) 5,1/ 2,1<br />

CK (U/L)/ Glicose(g/L) 39/ 0,67<br />

Ureia (g/L)/Creatinina (mg/L) 0,26/ 6,7<br />

Na + / K + / Cl - (mEq/L) 146/ 4,0/ 108<br />

Ca 2+ (mEq/L)/ Mg 2+ (mEq/L)/ P (mg/dL) 4,9/ 1,3/ 43,3<br />

Ferritina (ng/ml)/ Transferrina (mg/L) 55,3/ 1,58<br />

Proteína C reactiva (mg/L) 1,0<br />

ECA (U/L) 126<br />

Cálcio urinário (mEq/L) 26,4<br />

Estudo imunológico C3c/ C4c (mg/dL) 110/ 23<br />

Activida<strong>de</strong> hemolítica (UA) 113<br />

Imunoglobulinas: G/ A/ M/ D(mg/dL) 1300/ 206/ 124/ 7<br />

Auto-imunida<strong>de</strong> ANA / Anticorpos anti-membrana basal Negativo/ Negativos<br />

Anticorpos anti Ds-DNA (UI/ml) 3,4<br />

ANCA (U/ml) < 20<br />

Anticorpos anti-tiroi<strong>de</strong>us (UI/ml) 27,8<br />

Imunocomplexos circulantes (ug/mL) 1,0<br />

Quantiferão<br />

Negativo<br />

Serologias e marcadores víricos HIV negativo; CMV e EBV IgG +/IgM -<br />

LBA Linfocitose <strong>de</strong> 51,8% com predomínio franco <strong>de</strong> CD4 + (78,3%); Relação CD4 + /CD8 + 21,7<br />

Citologia negativa para células malignas<br />

Exames virulógico, bacteriológico e micobacteriológico negativos<br />

Bíópsia excisional <strong>de</strong> gânglio cervica Processo inflamatório granulomatoso e necrosante, não caseoso<br />

Estudo histoquímico por Ziehl-Neelsen negativo<br />

PCR para Mycobacterium tuberculosis negativo<br />

duração inferior a uma semana. Na altura foi realizada ressonância<br />

magnética nuclear (RMN) cerebral, que não mostrou<br />

alterações. A radiografia <strong>de</strong> tórax e as provas funcionais respiratórias<br />

normalizaram. Cerca <strong>de</strong> um ano após o internamento,<br />

surgiu escotoma no olho direito confirmado por<br />

microperimetria; apresenta alterações pigmentares foveais <strong>de</strong><br />

novo no olho direito.<br />

Discussão e comentários<br />

A sarcoidose, como qualquer patologia multissistémica, apresenta<br />

gran<strong>de</strong> heterogeneida<strong>de</strong> clínica e mimetiza frequentemente<br />

outras doenças. Em ida<strong>de</strong> pediátrica as suas manifestações<br />

clínicas diferem consoante a faixa etária 6 . Enquanto no<br />

adolescente se manifesta sobretudo por sintomas constitucionais<br />

e infiltrado pulmonar com a<strong>de</strong>nopatias hilares bilaterais<br />

ou paratraqueais direitas, à semelhança do adulto, na criança<br />

pequena surge tipicamente antes dos quatro anos e a tríada <strong>de</strong><br />

exantema cutâneo papular, artrite e uveíte é a apresentação<br />

mais característica 5 , po<strong>de</strong>ndo o prognóstico ser menos favorável<br />

2 . É possível que alguns dos casos precoces relatados na<br />

literatura correspondam a Síndrome <strong>de</strong> Blau não diagnosticado,<br />

por não ter sido investigada a mutação NOD2 5 .<br />

Na maioria dos casos <strong>de</strong>scritos a sintomatologia constitucional<br />

acompanha a restante clínica 7 , pelo que é importante termos<br />

em conta este diagnóstico sempre que nos <strong>de</strong>paramos com este<br />

tipo <strong>de</strong> sintomas. As alterações laboratoriais são inespecíficas,<br />

sendo as mais frequentes a elevação da VS, hiperproteinemia,<br />

hipercalcemia, hipercalciúria e elevação das transaminases,<br />

nenhuma das quais <strong>de</strong>tectada no nosso caso.<br />

A anergia na prova tuberculínica e a elevação da ECA corroboram<br />

a hipótese <strong>de</strong> sarcoidose, mas é preciso ter em conta que<br />

na criança os níveis normais <strong>de</strong>sta enzima po<strong>de</strong>m ser 40 a 50%<br />

superiores aos do adulto e que, mesmo nestes, o seu uso como<br />

marcador <strong>de</strong> prognóstico tem sido questionado 8 . No nosso caso<br />

a primeira hipótese colocada foi a <strong>de</strong> tuberculose pulmonar,<br />

face à elevada incidência <strong>de</strong>sta entre nós, mas a ausência <strong>de</strong><br />

história <strong>de</strong> contacto com casos <strong>de</strong> tuberculose e a anergia da<br />

prova tuberculínica, embora não nos permitissem eliminar por<br />

completo este diagnóstico, pôs-nos na senda <strong>de</strong> diagnósticos<br />

alternativos com compromisso sistémico e pulmonar.<br />

A radiografia <strong>de</strong> tórax permite classificar a doença pulmonar<br />

em diferentes estadios 9 . Nesta doente a radiografia do tórax<br />

permitiu-nos a classificação no estadio III, muito embora na<br />

TC torácica se encontrassem pequenas a<strong>de</strong>nomegalias hilares<br />

que a colocariam no estadio II.<br />

No adulto o LBA po<strong>de</strong> ser relevante no diagnóstico <strong>de</strong> sarcoidose<br />

com atingimento pulmonar, dado <strong>de</strong>tectar alveolite linfocítica,<br />

um sinal inicial <strong>de</strong> doença, e revelar um predomínio<br />

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<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):157-60<br />

Águeda S et al. – Sarcoidose em ida<strong>de</strong> pediátrica<br />

característico <strong>de</strong> linfócitos T CD4 + . Este achado foi encontrado<br />

na doente mas, na criança, o número escasso <strong>de</strong> casos<br />

relatados não permite confirmar nem infirmar esta alteração 5 .<br />

O diagnóstico <strong>de</strong>finitivo é feito através da <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong><br />

granulomas não caseosos em biópsia <strong>de</strong> um órgão acessível,<br />

tal como gânglio linfático, glândula salivar, lesão cutânea ou<br />

fígado, embora a biópsia pulmonar seja por vezes necessária 10 .<br />

Na doente optámos por biopsar um pequeno gânglio cervical<br />

apesar <strong>de</strong> as características ecográficas não serem sugestivas<br />

<strong>de</strong> doença, dado a alternativa ser a biopsia <strong>de</strong> gânglios<br />

mediastínicos, muito mais invasiva.<br />

A doente tinha antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> cefaleias recorrentes e tinha<br />

sido medicada anteriormente com valproato <strong>de</strong> sódio, por irritabilida<strong>de</strong><br />

sem carácter paroxístico em electroencefalograma<br />

efectuado neste contexto, apesar <strong>de</strong> nunca ter tido convulsões;<br />

tinha sido ainda documentada linfocitose no liquido cefalorraquidiano,<br />

interpretada à data como manifestação <strong>de</strong> meningite<br />

vírica. No adulto o atingimento neurológico ocorre em cerca<br />

<strong>de</strong> cinco a 10% dos casos e manifesta-se na maioria dos casos<br />

por paralisia dos pares cranianos, sobretudo do nervo facial 11 .<br />

A neurossarcoidose é menos estudada na criança, mas uma<br />

revisão <strong>de</strong> 29 casos mostrou que em ida<strong>de</strong>s pré-púberes são<br />

mais frequentes outras manifestações, sobretudo as resultantes<br />

<strong>de</strong> lesões ocupando espaço como convulsões, cefaleias ou<br />

disfunção hipotalámica. Dado não existirem gran<strong>de</strong>s séries<br />

pediátricas, é possível que exista um viés <strong>de</strong> publicação que<br />

exagere a frequência <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> atingimento neurológico 12 .<br />

Por estarmos cientes da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> neurossarcoidose,<br />

mesmo quando a TC cerebral é normal, foi efectuada RMN<br />

cerebral. Nas séries publicadas o aspecto mais característico é<br />

o <strong>de</strong> lesões punctiformes que se evi<strong>de</strong>nciam sobretudo com<br />

gadolínio, mas neste caso o estudo foi inteiramente normal,<br />

pelo que não foi possível confirmar nem infirmar o diagnóstico<br />

<strong>de</strong> neurossarcoidose. O <strong>de</strong>saparecimento das cefaleias<br />

após remissão da doença aponta para esta possibilida<strong>de</strong>.<br />

Muito recentemente foram <strong>de</strong>tectadas pela primeira vez<br />

lesões foveais na fundoscopia que são inespecíficas mas, no<br />

contexto da doença, po<strong>de</strong>rão correspon<strong>de</strong>r a sequelas <strong>de</strong><br />

nevrite óptica. A doente está a ser monitorizada <strong>de</strong> perto dado<br />

que na sarcoidose po<strong>de</strong>rão ocorrer lesões oculares, mais frequentemente<br />

uveíte ou iridociclite mas também neuropatias.<br />

Na sarcoidose pediátrica permanece a dúvida quanto à melhor<br />

estratégia terapêutica dado que mais <strong>de</strong> 90% das crianças têm<br />

evolução clínica favorável, com ou sem uso <strong>de</strong> corticoterapia.<br />

Contudo, esta é a arma terapêutica consensualmente apontada<br />

como primeira escolha nos casos <strong>de</strong> sarcoidose com atingimento<br />

multissistémico ou pulmonar extenso 13 . A sua duração<br />

i<strong>de</strong>al ainda carece <strong>de</strong> esclarecimento, embora em geral seja<br />

usado um esquema inicial <strong>de</strong> 1-2mg/Kg/dia durante 4-8 semanas,<br />

com manutenção até resolução da sintomatologia. Um<br />

prognóstico mais <strong>de</strong>sfavorável é associado a ida<strong>de</strong> mais jovem,<br />

casos com atingimento do sistema nervoso central e presença<br />

<strong>de</strong> infiltrados bilaterais na radiografia <strong>de</strong> tórax 14 . Este caso<br />

enquadra-se numa sarcoidose com atingimento sistémico e pulmonar<br />

estadio III, <strong>de</strong>tectado numa fase precoce, que teve evolução<br />

clínica favorável sob tratamento, obtendo-se normalização<br />

radiológica e da função pulmonar.<br />

Em casos futuros pensamos ser útil manter este alto nível <strong>de</strong><br />

suspeição diagnóstica perante uma criança com sintomatologia<br />

constitucional e pulmonar arrastada, que apresenta radiografia<br />

torácica alterada. Seria essencial a concentração <strong>de</strong> todos os<br />

casos pediátricos diagnosticados a nível nacional para uma<br />

melhor caracterização <strong>de</strong>sta doença e da sua evolução.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Dra. Helena Barroca, Serviço <strong>de</strong> Anatomia Patológica do<br />

Hospital São João, Porto, pelo exame histológico da biópsia<br />

ganglionar<br />

Serviço <strong>de</strong> Radiologia do Hospital São João, Porto, pela disponibilização<br />

das imagens radiológicas<br />

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0873-9781/11/<strong>42</strong>-4/161<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

CASO CLÍNICO<br />

Hemorragia intracraniana espontânea em paciente com afibrinogenemia<br />

congênita<br />

Elisa C. dos Reis 1 , Jaime Lin 1 , Mirella M. Peruchi 2 , Marcelo R. Masruha 3 , Maria Z. Bal<strong>de</strong>ssar 1<br />

1. Universida<strong>de</strong> do Sul <strong>de</strong> Santa Catarina (UNISUL), Tubarão, Santa Catarina, Brasil<br />

2. Hospital São João Batista, Criciúma, Santa Catarina, Brasil<br />

3. Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Paulo (UNIFESP), São Paulo, Brasil<br />

Resumo<br />

Paciente com afibrinogenemia congênita, diagnosticada aos<br />

quatro meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, permaneceu assintomática até os quatro<br />

anos. Nessa ocasião, foi admitida no setor <strong>de</strong> emergência e<br />

diagnosticada inicialmente com enxaqueca, sendo posteriormente<br />

diagnosticado o episódio <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte vascular hemorrágico.<br />

A paciente recebeu tratamento com crioprecipitado, evoluindo<br />

com melhora do quadro clínico e reabsorção do<br />

hematoma subdural nas imagens <strong>de</strong> controle. Hemorragia intracerebral<br />

espontânea <strong>de</strong>ve fazer parte do diagnóstico diferencial<br />

em pacientes com afibrinogenemia diagnosticada, pois a conduta<br />

terapêutica correta, e em tempo hábil, po<strong>de</strong> impedir que<br />

complicações neurológicas reversíveis se tornem permanentes.<br />

Palavras-chave: Afibrinogenemia, fibrinogênio, hemorragia<br />

cerebral<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011;<strong>42</strong>(4):161-3<br />

Spontaneous intracranial hemorrhage in a<br />

patient with congenital afibrinogenemia<br />

Abstract<br />

Patient with congenital afibrinogenemia diagnosed at four<br />

months old, remained asymptomatic until age four. At that<br />

time, she was admitted to the emergency room, initially<br />

diagnosed as migraine and subsequently diagnosed as an<br />

episo<strong>de</strong> of hemorrhagic stroke. The patient was treated with<br />

cryoprecipitate, with clinical improvement and resorption of<br />

subdural hematoma in the control images. Spontaneous<br />

intracerebral hemorrhage should be part of differential<br />

diagnosis in patients with afibrinogenemia, because correct<br />

and timely management can prevent reversible neurological<br />

complications and sequelae.<br />

Keywords: afibrinogenemia, fibrinogen, cerebral hemorrhage<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011;<strong>42</strong>(4):161-3<br />

Introdução<br />

Afibrinogenemia congênita é uma rara doença <strong>de</strong> coagulação<br />

sanguínea, cuja herança é autossômica recessiva. Deficiência<br />

parcial <strong>de</strong> fibrinogênio é chamada hipofibrinogenemia e é um<br />

distúrbio menos grave. Afibrinogenemia ocorre em homozigose,<br />

enquanto hipofibrinogenemia ocorre em heterozigose.A<br />

ausência congênita <strong>de</strong> fibrinogênio (afibrinonegemia) foi <strong>de</strong>scrita<br />

pela primeira vez em 1920 e tem uma incidência estimada<br />

em 1:1-2.000.000, sendo a maioria dos pacientes <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes<br />

<strong>de</strong> casamentos consangüíneos¹. A mutação se dá em<br />

qualquer um dos três genes que codificam as três ca<strong>de</strong>ias polipeptídicas<br />

do fibrinogênio (α,β,γ), localizadas no braço longo<br />

do cromossomo quatro (região 50 kb do 4q31.3). Essas mutações<br />

afetam a síntese, união, processamento intracelular, estabilida<strong>de</strong><br />

ou secreção <strong>de</strong> fibrinogênio². O fibrinogênio possui<br />

um papel importante na formação <strong>de</strong> coágulos através da conversão<br />

<strong>de</strong> fibrina pela ação da trombina. Também é importante<br />

na hemostasia primária, já que contribui para a agregação<br />

plaquetária pela ligação da glicoproteína IIb/IIIa na<br />

superfície <strong>de</strong> plaquetas ativadas 3,4 .<br />

As manifestações clínicas variam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sangramentos pequenos<br />

até hemorragias graves, espontâneas ou relacionadas a<br />

traumas. Geralmente, o primeiro episódio hemorrágico nos<br />

pacientes com afibrinogenemia se dá ao nascimento, através<br />

<strong>de</strong> hemorragia no cordão umbilical 3 ; ou então hemorragia<br />

intracraniana e nas mucosas no período neonatal 5 . Entre as<br />

manifestações mais comuns estão a hemorragia do cordão<br />

umbilical e das superfícies mucosas, particularmente menorragia,<br />

epistaxe e hemorragia na cavida<strong>de</strong> oral. Hemorragia do<br />

trato urinário e gastrointestinal é menos freqüente e hemorragia<br />

intracraneal é rara. Entretanto, episódios recorrentes <strong>de</strong><br />

hemorragia intracranial foram relatados¹. Em estudo realizado<br />

com 55 pacientes portadores <strong>de</strong> afibrinogenemia congênita,<br />

a hemorragia intracraniana foi reportada em três pacientes<br />

(7%) 4 . A tendência à hemorragia é altamente variável na<br />

afibrinogenemia (variando <strong>de</strong> poucos até graves episó-<br />

Recebido: 12.11.2010<br />

Aceite: 08.09.2011<br />

Correspondência:<br />

Elisa Casanova dos Reis<br />

Rua Vigário José Poggel, n. 555, apto 202. Bairro Dehon.<br />

Tubarão – SC. CEP 88704-240, Brasil<br />

elisacdosreis@hotmail.com<br />

161


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):161-3<br />

Reis EC et al. – Afibrinogenemia congênita<br />

dios/ano) mesmo entre pacientes com a mesma mutação.<br />

Juntamente com hemorragia espontânea, sangramentos após<br />

traumas pequenos e hemorragia excessiva durante procedimentos<br />

intervencionistas são outras principais manifestações<br />

da afibrinogenemia¹.<br />

Relatamos o caso <strong>de</strong> uma paciente portadora <strong>de</strong> afibrinogenemia<br />

congênita apresentando episódio <strong>de</strong> hemorragia intracraniana<br />

espontânea, relacionada a trauma, ocorrendo hematoma<br />

subgaleal quando se <strong>de</strong>u o diagnóstico, e posteriormente não<br />

relacionada a trauma, quando ocorreu aci<strong>de</strong>nte vascular<br />

hemorrágico espontâneo.<br />

Relato <strong>de</strong> caso<br />

Paciente do sexo feminino <strong>de</strong> onze anos, nascida a termo, sem<br />

intercorrências gestacionais ou <strong>de</strong> parto, e sem história familiar<br />

<strong>de</strong> doenças neurológicas. Portadora <strong>de</strong> afibrinogenemia<br />

congênita cujo diagnóstico foi realizado aos quatro meses <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong>, por ocasião <strong>de</strong> um trauma craniano leve, que resultou<br />

em volumoso hematoma subgaleal.<br />

A paciente permaneceu assintomática até os quatro anos <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong> quando foi admitida no setor <strong>de</strong> emergência com história<br />

aguda <strong>de</strong> hemiparesia à direita, acompanhada <strong>de</strong> confusão<br />

mental e cefaléia frontal que se iniciou cerca <strong>de</strong> quinze dias<br />

antes. Inicialmente foi diagnosticada como enxaqueca, sendo<br />

posteriormente diagnosticado o episódio <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte vascular<br />

hemorrágico (AVCh). O exame neurológico evi<strong>de</strong>nciava<br />

força grau quatro em dimídio direito, com hiperreflexia no<br />

membro inferior parético. Esse inci<strong>de</strong>nte não foi relacionado<br />

a trauma, caracterizando um episódio <strong>de</strong> hemorragia intracraniana<br />

espontâneo.<br />

Na ocasião, apresentava exames laboratoriais cujos resultados<br />

evi<strong>de</strong>nciavam: ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> protrombina (AP) e tempo <strong>de</strong><br />

tromboplastina parcial ativado (TTPA) extremamente longo<br />

(não coagula), dosagens <strong>de</strong> Fator V: 78%; Fator: VIII 65%;<br />

Fator IX: 70% e Fator I (fibrinogênio): zero %; confirmando<br />

o diagnóstico <strong>de</strong> afibrinogenemia congênita.<br />

Foi realizada ressonância magnética (RM) <strong>de</strong> crânio, evi<strong>de</strong>nciando-se<br />

coleções extra-axiais subdurais subagudas nas<br />

regiões têmporo-occipital à direita, e fronto-parietal à<br />

esquerda, caracterizadas por alto sinal em T1 e baixo sinal<br />

em T2. No giro frontal superior esquerdo há <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong><br />

hemossi<strong>de</strong>rina, caracterizado por marcado hipossinal em<br />

T2, compatível com hemorragia intraparenquimatosa crônica<br />

(Figura).<br />

Imediatamente a paciente recebeu tratamento com crioprecipitado,<br />

evoluindo com melhora do quadro clínico, bem como<br />

evidência <strong>de</strong> reabsorção do hematoma subdural nas imagens<br />

<strong>de</strong> controle.<br />

Discussão<br />

A afibrinogenemia congênita é uma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m rara da hemostasia<br />

caracterizada por <strong>de</strong>feitos quantitativos ou qualitativos na<br />

síntese do fibrinogênio. Hemorragias espontâneas, associadas<br />

à afibrinogenemia congênita, são eventos ainda mais raros,<br />

Figura – Ressonância Magnética: imagens <strong>de</strong> crânio pesadas em T1 no<br />

plano axial (A e B) e no plano sagital (C) e pesadas em T2 no plano axial<br />

(D e E) evi<strong>de</strong>nciam hematomas subdurais subagudos fronto-parietal à<br />

esquerda e têmporo-occipital à direita, caracterizados por hipersinal em<br />

T1 e hipossinal em T2. A imagem (E) pesada em T2 no plano axial mostra<br />

ainda hematoma intraparenquimatoso crônico no giro frontal superior<br />

esquerdo, caracterizado por marcado hipossinal (seta). A imagem <strong>de</strong><br />

angiorressonância (F) <strong>de</strong>monstra as coleções subdurais pré-<strong>de</strong>scritas.<br />

po<strong>de</strong>ndo ocorrer sangramentos na pele, no trato gastrointestinal,<br />

no trato genito-urinário ou no sistema nervoso central 1 .<br />

Nossa paciente apresentou período neonatal sem intercorrências,<br />

sendo o seu diagnóstico realizado aos quatro meses <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong>, por ocasião <strong>de</strong> um traumatismo craniano leve, que resultou<br />

em hematoma subgaleal. Após o diagnóstico, a paciente<br />

permaneceu assintomática até os quatro anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, quando<br />

apresentou evento súbito e espontâneo <strong>de</strong> AVCh.<br />

Apesar <strong>de</strong> extremamente raro, o risco <strong>de</strong> sangramentos intracranianos<br />

espontâneos existe, sendo que essa possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ve sempre ser aventada em pacientes com diagnóstico <strong>de</strong><br />

afibrinogenemia congênita ou qualquer outro <strong>de</strong>feito congênito<br />

<strong>de</strong> coagulação, especialmente quando acompanhado por<br />

alterações no exame neurológico, mesmo na ausência <strong>de</strong> história<br />

clínica <strong>de</strong> trauma. Nesses casos, exames <strong>de</strong> neuroimagem<br />

sempre <strong>de</strong>vem ser solicitados, sendo a tomografia computadorizada<br />

e a ressonância magnética <strong>de</strong> crânio, consi<strong>de</strong>rados os<br />

métodos <strong>de</strong> escolha.<br />

Deve-se atentar ao fato <strong>de</strong> que nos casos <strong>de</strong> distúrbios da coagulação,<br />

po<strong>de</strong>m ocorrer alterações na formação dos coágulos,<br />

resultando em hemorragias intracranianas agudas com aparência<br />

relativamente iso<strong>de</strong>nsas nos exames <strong>de</strong> imagem,<br />

po<strong>de</strong>ndo se confundir com a normalida<strong>de</strong>¹.<br />

Como esta é uma doença em que falta o substrato final para a<br />

formação <strong>de</strong> coágulo, o resultado <strong>de</strong> todos os testes <strong>de</strong> triagem,<br />

como tempo <strong>de</strong> coagulação, ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prototrombina<br />

e tempo <strong>de</strong> tromboplastina parcial ativado são anormais. As<br />

funções plaquetárias, como tempo <strong>de</strong> sangramento, a<strong>de</strong>são e<br />

agregação também po<strong>de</strong>m ser anormais.<br />

Pacientes afibrinogenemicos tem níveis <strong>de</strong> fibrinogenio in<strong>de</strong>tectáveis<br />

ou quase (


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):161-3<br />

Reis EC et al. – Afibrinogenemia congênita<br />

lopatia <strong>de</strong>strutiva tuberculosa, um nível não mensurável <strong>de</strong><br />

fibrinogênio é diagnóstico para a condição 6 . Sintomas hemorrágicos<br />

na <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> fibrinogênio são mais significantes<br />

quando os níveis plasmáticos são menores que 50 mg/dL 6 .<br />

Episódios <strong>de</strong> hemorragia aguda po<strong>de</strong>m ser tratados tanto com<br />

plasma fresco congelado quanto com crioprecipitado <strong>de</strong> fibrinogênio.<br />

Cada bolsa <strong>de</strong> crioprecipitado contem 100 a 150 mg <strong>de</strong><br />

fibrinogênio, e terapia com 100 mg/kg <strong>de</strong> fibrinogênio proporciona<br />

um nível plasmático hemostático.Ameia-vida do fibrinogênio<br />

é dois a quatro dias e infusões freqüentes normalmente não<br />

são necessárias. Recomendações em relação aos níveis-alvo para<br />

tratamento <strong>de</strong> hemorragia variam <strong>de</strong> 30-50 mg/dL até 100mg/dL 6 .<br />

A quantida<strong>de</strong> requerida <strong>de</strong> fibrinogênio po<strong>de</strong> ser calculada da<br />

seguinte maneira:<br />

Dose (g)= 0.07 * incremento <strong>de</strong>sejado (g/L) * (1-hematócrito)<br />

*Peso do paciente (kg). 6<br />

O tratamento <strong>de</strong>ve ser administrado diariamente ou baseado na<br />

indicação, resposta, potencial consumo <strong>de</strong> fibrinogênio e monitoramento<br />

da ativida<strong>de</strong> do fibrinogênio 6 . Uma vez que a meia<br />

vida do fibrinogênio é dois a quatro dias, administração em dias<br />

alternados <strong>de</strong>ve ser suficiente na ausência <strong>de</strong> consumo. Para<br />

hemorragia espontânea, a faixa recomendada nos níveis <strong>de</strong><br />

fibrinogênio é > 1g/L até alcançar hemostasia e > 0.5 g/L até a<br />

superfície hemorrágica estar completamente restabelecida.<br />

Nossa paciente recebeu tratamento com infusão <strong>de</strong> crioprecipitado,<br />

sendo posteriormente acompanhada sem tratamento<br />

profilático.<br />

De acordo com as orientações atuais, tratamento <strong>de</strong> profilaxia<br />

secundária <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado após hemorragia que ameaçou<br />

a vida (Por exemplo, hemorragia intracranial) com um<br />

nível <strong>de</strong> fibrinogênio <strong>de</strong> 0.5 g/L. Infusão profilática primária<br />

não é recomendada <strong>de</strong>vido ao risco <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> doenças<br />

infecciosas e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> inibidores, reações alérgicas<br />

e complicações trombóticas. Injeções intramusculares<br />

<strong>de</strong>vem ser evitadas em pacientes com afibrinogenemia 6 .<br />

Referências<br />

1. Hariharan G, Ramachandran S, Parapurath R. Congenital Afibrinogenemia<br />

presenting as antenatal intracranial bleed: a case report. Ital<br />

J <strong>Ped</strong>iatr 2010; 36:1.<br />

2. Parameswaran R, Dickinson JP, De Lord S, Keeling DM, Colvin BT.<br />

Spontaneous intracranial bleeding in two patients with congenital<br />

afibrinogenaemia and the role of replacement therapy. Haemophilia<br />

2000;6:705-8.<br />

3. Lak M, Keihani M, Elahi F, Peyvandi F, Mannucci PM. Bleeding and<br />

thrombosis in 55 patients with inherited afibrinogenaemia. Br J<br />

Haematol 1999;107:204-6.<br />

4. Montgomery R, Natelson ES. Afibrinogenemia with intracerebral<br />

hematoma: report of a successfully treated case. Am J Dis Child 1977;<br />

131:555-6.<br />

5. Baglin T. Disseminated intravascular coagulation: diagnosis and treatment.<br />

BMJ 1996;312:683-7.<br />

6. Neerman-Arbez M. The molecular basis of inherited afibrinogenaemia.<br />

Thromb Haemost. 2001;86:154–63.<br />

163


0873-9781/11/<strong>42</strong>-4/164<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

ACTUALIZAÇÃO<br />

Novas estratégias <strong>de</strong> prevenção da tosse convulsa<br />

Cláudio D´Elia 1 , <strong>Ped</strong>ro Men<strong>de</strong>s 1 , Anaxore Casimiro 2<br />

1. Centro Hospitalar <strong>de</strong> Setúbal, Hospital São Bernardo<br />

2. Hospital Dona Estefânia, Lisboa<br />

Resumo<br />

Introdução: Nos últimos 30 anos, em vários países, tem sido<br />

relatado um aumento da incidência <strong>de</strong> tosse convulsa, sobretudo<br />

em adolescentes e adultos, apesar das altas taxas <strong>de</strong> cobertura<br />

<strong>de</strong> imunização primária.<br />

Objectivos: Rever aspectos da epi<strong>de</strong>miologia da tosse convulsa,<br />

<strong>de</strong>screver algumas estratégias <strong>de</strong> controlo, com ênfase nas que<br />

incluem a utilização <strong>de</strong> vacinas com menores quantida<strong>de</strong>s do<br />

toxói<strong>de</strong> diftérico e <strong>de</strong> alguns componentes pertussis (dTpa), e a<br />

avaliação da eficácia e efectivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stas vacinas.<br />

Métodos: Selecção <strong>de</strong> artigos relevantes, através da base <strong>de</strong><br />

dados PubMed e sítios <strong>de</strong> acesso livre da internet, publicados<br />

entre 1991 e 2011.<br />

Resultados: As alterações do padrão epi<strong>de</strong>miológico são atribuídas,<br />

principalmente, à diminuição da imunida<strong>de</strong> ao longo<br />

dos anos, após a vacinação ou infecção natural. Os adolescentes<br />

e adultos foram i<strong>de</strong>ntificados como importantes fontes <strong>de</strong> transmissão<br />

da doença para lactentes muito jovens que, uma vez não<br />

imunizados ou parcialmente imunizados, são mais vulneráveis<br />

às complicações relacionadas com a doença e apresentam maior<br />

mortalida<strong>de</strong>. A vacina (dTpa), formulada para o uso em adolescentes<br />

e adultos é segura e eficaz. A sua utilização também<br />

reduz a transmissão da tosse convulsa para os grupos etários<br />

com alto risco <strong>de</strong> complicações.<br />

Conclusão: A disponibilida<strong>de</strong> da dTpa oferece novas oportunida<strong>de</strong>s<br />

para reduzir o impacto da tosse convulsa. A modificação<br />

das estratégias preventivas po<strong>de</strong> levar a um melhor controlo global<br />

da doença.<br />

Palavras-chave: tosse convulsa, epi<strong>de</strong>miologia, imunogenicida<strong>de</strong>,<br />

vacinas pertussis, estratégias <strong>de</strong> vacinação, vacinas acelulares<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011;<strong>42</strong>(4):164-71<br />

Strategies for prevention of pertussis<br />

Abstract<br />

Background: In many countries, over the past 30 years, an<br />

increased inci<strong>de</strong>nce of pertussis has been reported in all age<br />

groups, especially in adolescents and adults. This apparent<br />

resurgence is observed <strong>de</strong>spite high rates of primary immunization<br />

coverage.<br />

Aims: To review actual epi<strong>de</strong>miological characteristics of<br />

pertussis, <strong>de</strong>scribe some control strategies, highlighting those<br />

that inclu<strong>de</strong> the use of vaccines with lesser amounts of<br />

diphtheria toxoid and some pertussis components (dTap), and<br />

assessment of their efficacy and effectiveness.<br />

Methods: Selection of relevant articles through the PubMed<br />

database and open-access websites, published between 1991<br />

and 2011.<br />

Results: The changing of the epi<strong>de</strong>miological pattern is<br />

largely attributed to waning immunity that occurs over the<br />

years, after vaccination or natural infection. Adolescents and<br />

adults were i<strong>de</strong>ntified as important sources of disease<br />

transmission to unvaccinated or incompletely vaccinated<br />

young infants, who are at greatest risk for morbidity and mortality.<br />

The booster vaccine (dTpa), formulated for use in<br />

adolescents and adults, is safe and effective. Its use provi<strong>de</strong>s<br />

protection for adolescents and adults and also reduces the<br />

transmission of pertussis to groups at higher risk of<br />

complications.<br />

Conclusion: The availability of dTpa provi<strong>de</strong>s a new window<br />

of opportunity to reduce the health bur<strong>de</strong>n of pertussis.<br />

Immunization schedule changing can lead to better overall<br />

control of the disease.<br />

Keywords: pertussis, whooping cough, epi<strong>de</strong>miology,<br />

immunogenicity, pertussis vaccine, vaccination strategies,<br />

acellular vaccine.<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011;<strong>42</strong>(4):164-71<br />

Introdução<br />

A erradicação <strong>de</strong> doenças infecciosas evitáveis continua a ser<br />

uma priorida<strong>de</strong>. Antes da vacinação infantil ser introduzida em<br />

1940, a tosse convulsa era uma das principais causas <strong>de</strong> morte<br />

na população infantil 1 . A vacinação universal <strong>de</strong> crianças resul-<br />

Recebido: 12.01.2011<br />

Aceite: 17.09.2011<br />

Correspondência:<br />

Cláudio D´Elia<br />

Serviço <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

Centro Hospitalar <strong>de</strong> Setúbal, Hospital <strong>de</strong> São Bernardo<br />

Rua Camilo Castelo Branco<br />

2910-446 Setúbal<br />

claudio_<strong>de</strong>lia@sapo.pt<br />

164


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):164-71<br />

D’Elia C et al. – Prevenção da tosse convulsa<br />

tou na redução significativa da sua morbilida<strong>de</strong> e mortalida<strong>de</strong>.<br />

A partir da década <strong>de</strong> 90, tem sido observado um aumento <strong>de</strong><br />

notificações <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> tosse convulsa em vários países. Esta<br />

tornou-se a doença prevenível mais prevalente nos países<br />

industrializados 1 . Este aparente ressurgimento da doença constitui,<br />

portanto, uma preocupação a nível <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública.<br />

A principal explicação proposta para tal aumento na incidência<br />

é a perda <strong>de</strong> imunida<strong>de</strong>, que ocorre após a infecção natural<br />

e vacinação. O impacto epi<strong>de</strong>miológico <strong>de</strong>ste facto<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> essencialmente da durabilida<strong>de</strong> da protecção na<br />

população, que continua a ser notoriamente difícil <strong>de</strong> estimar.<br />

O ressurgimento da tosse convulsa tem sido também atribuído a<br />

vários outros factores, <strong>de</strong>ntre os quais a maior suspeição clínica<br />

da doença, a melhoria dos métodos <strong>de</strong> diagnóstico e dos serviços<br />

<strong>de</strong> vigilância epi<strong>de</strong>miológica, a menor cobertura <strong>de</strong> vacinação, a<br />

adopção <strong>de</strong> vacinas menos eficazes e a adaptação da bactéria 1 .<br />

A contribuição relativa <strong>de</strong> cada um dos factores po<strong>de</strong> diferir entre<br />

os países. A adaptação do patogéneo é apoiada por várias observações.<br />

Tem sido <strong>de</strong>monstrado que ocorrem divergências antigénicas<br />

entre estirpes vacinais e isolados clínicos em relação à<br />

superfície <strong>de</strong> proteínas que conferem imunida<strong>de</strong> protectora:<br />

toxina pertussis (PT), pertactina (PRN) e fímbrias 1 . A eficácia da<br />

vacina também po<strong>de</strong>ria estar condicionada às estratégias vacinais,<br />

como sugerem alguns estudos epi<strong>de</strong>miológicos e mo<strong>de</strong>los<br />

experimentais 2 . Contudo, publicações recentes acerca da genética<br />

da Bor<strong>de</strong>tella pertussis em diferentes países da Europa, no Japão,<br />

no Canadá e nos EUA, ressaltam que, apesar das modificações<br />

no perfil genético das estirpes circulantes, estas não parecem ser<br />

<strong>de</strong>terminantes para o aumento da incidência da tosse convulsa 3,4 .<br />

Para comprovar a hipótese <strong>de</strong> que as mudanças observadas nas<br />

estirpes <strong>de</strong> B. pertussis afectam a eficácia da vacina em humanos<br />

seria necessário pelo menos um ensaio clínico com duas vacinas,<br />

uma <strong>de</strong> estirpes antigas e outra com as actuais.<br />

Embora a tosse convulsa resulte apenas em tosse prolongada<br />

nas crianças mais velhas e nos adultos que, em muitos casos,<br />

manifestam apenas um ligeiro incómodo, a sua presença na<br />

comunida<strong>de</strong> origina, inevitavelmente, infecções em lactentes<br />

não imunizados, que são sujeitos a riscos <strong>de</strong> complicações<br />

graves e <strong>de</strong> morte 5 .<br />

O Grupo <strong>de</strong> Iniciativa Global para o combate à tosse convulsa<br />

(Global Pertussis Initiative, ou GPI) foi organizado em 2001,<br />

para avaliar toda a extensão do problema actual e estabelecer<br />

estratégias prioritárias <strong>de</strong> controlo. O grupo, composto na sua<br />

maioria por representantes dos EUA e da Europa e, como<br />

representação internacional, da Austrália, Japão, Argentina e<br />

Brasil, recomendou que os países consi<strong>de</strong>rassem a expansão<br />

<strong>de</strong> estratégias vacinais existentes para incluir a adição universal<br />

<strong>de</strong> doses <strong>de</strong> reforço a crianças em ida<strong>de</strong>s pré-escolar (4-6<br />

anos), o que já é feito em Portugal, a adolescentes e, também,<br />

a adultos com risco acrescido <strong>de</strong> transmitir a doença a lactentes<br />

vulneráveis, nomeadamente pessoal <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e outros<br />

prestadores <strong>de</strong> cuidados a estas crianças 6,7 .<br />

Países europeus como o Luxemburgo, a Bélgica, a Áustria, a<br />

Finlândia, a Itália, a Suécia, a França e a Alemanha, introduziram<br />

recentemente um reforço da vacina, com conteúdo<br />

reduzido dos componentes pertussis e toxói<strong>de</strong> diftérico<br />

(dTpa), na adolescência. Nestes dois últimos países, há recomendação<br />

para vacinação <strong>de</strong> adultos a cada <strong>de</strong>z anos. Existem<br />

diferenças em relação à ida<strong>de</strong> para o reforço em adolescentes,<br />

sendo realizada, nestes países, entre os nove e os 17 anos. Nos<br />

EUA, em 2006, o Advisory Committee on Immunization Practices<br />

recomendou que, no esquema <strong>de</strong> vacinação para os adolescentes<br />

entre onze a 18 anos, a vacina Td fosse substituída<br />

pela dTpa 8-9 . Actualmente, também é recomendada, neste país,<br />

a substituição das doses <strong>de</strong> reforço, a cada <strong>de</strong>z anos, da Td<br />

pela dTpa 9 . O grupo responsável pelo Consensus on Pertussis<br />

Booster Vaccination in Europe (C.O.P.E) apresentou recentemente<br />

recomendações que reforçam a importância <strong>de</strong>stas<br />

estratégias para o controlo da doença 10 .<br />

Dada a importância do tema, os autores propõem-se <strong>de</strong>screver<br />

estas novas estratégias <strong>de</strong> controlo e as bases científicas que<br />

justificam estas recomendações, em outros países, para a vacinação<br />

<strong>de</strong> adolescentes e adultos com a dTpa, com dados sobre<br />

a epi<strong>de</strong>miologia da doença e a avaliação da segurança, eficácia<br />

e efectivida<strong>de</strong> das vacinas utilizadas.<br />

Epi<strong>de</strong>miologia da infecção pela Bor<strong>de</strong>tella pertussis<br />

A tosse convulsa é uma infecção bacteriana endémica, altamente<br />

contagiosa, com picos epidémicos que ten<strong>de</strong>m a ocorrer<br />

a cada 3 a 5 anos, com relatos <strong>de</strong> intervalos mais longos entre<br />

os picos, no Canadá, e até <strong>de</strong> <strong>de</strong>saparecimento dos ciclos, no<br />

Reino Unido 11 . A chave para o entendimento da tosse convulsa<br />

é reconhecer que a epi<strong>de</strong>miologia dos casos notificados difere<br />

da epi<strong>de</strong>miologia da infecção pela Bor<strong>de</strong>tella pertussis.<br />

Especificamente, picos <strong>de</strong> notificação ocorrem ciclicamente,<br />

enquanto a infecção é endémica, com transmissão regular entre<br />

adolescentes e adultos 12 . É importante salientar que o aumento<br />

do número <strong>de</strong> casos po<strong>de</strong> resultar da maior vigilância e, consequentemente,<br />

maior ocorrência <strong>de</strong> diagnósticos pela busca<br />

activa <strong>de</strong> casos por motivo <strong>de</strong> pesquisa científica 3 . Existem<br />

gran<strong>de</strong>s discrepâncias na comunicação das taxas <strong>de</strong> incidência<br />

entre os países. Estas não são <strong>de</strong>vidas a características geográficas<br />

particulares, mas sim a diferenças na legislação nacional,<br />

<strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> vigilância, <strong>de</strong> <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> caso e <strong>de</strong> práticas<br />

laboratoriais que po<strong>de</strong>m resultar em subdiagnóstico e subnotificação<br />

da doença 4 . Outras explicações possíveis estão relacionadas<br />

com a bioevolução do patogéneo em circulação e a diferentes<br />

estratégias <strong>de</strong> imunização 2 . O consenso geral é que os<br />

relatos das incidências são consi<strong>de</strong>ravelmente menores do que<br />

a incidência real, sendo comum a subnotificação 11 .<br />

O grupo responsável pelo C.O.P.E. propôs uma padronização<br />

mais extensa dos sistemas <strong>de</strong> vigilância na Europa como a<br />

adopção <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>finição única <strong>de</strong> casos, utilização <strong>de</strong> técnicas<br />

laboratoriais semelhantes e vigilância da população geral<br />

e não apenas <strong>de</strong> grupos selecionados 13 .<br />

A B. pertussis infecta apenas o ser humano. Em crianças, as<br />

fontes <strong>de</strong> infecção por B. pertussis são quase sempre atribuídas<br />

aos membros da família, frequentemente os pais ou<br />

irmãos mais velhos 14 . Nas regiões com elevada cobertura <strong>de</strong><br />

vacinação, são os adolescentes e os adultos o principal reservatório<br />

da bactéria. Porém, nos locais on<strong>de</strong> a cobertura é<br />

baixa, são as crianças as principais fontes <strong>de</strong> transmissão da<br />

165


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):164-71<br />

D’Elia C et al. – Prevenção da tosse convulsa<br />

doença. A tipagem molecular da B. pertussis, <strong>de</strong> crianças e<br />

seus contactos domiciliares, confirmou que estirpes idênticas<br />

po<strong>de</strong>m causar doença típica em crianças e infecção assintomática<br />

em adultos e adolescentes 15 .<br />

O contágio ocorre pelo contacto com gotículas respiratórias<br />

geradas por tosse ou espirro <strong>de</strong> pessoas doentes, especialmente<br />

na fase catarral e início da fase paroxística. Isto facilita a transmissão,<br />

pois o diagnóstico, em geral, só é suspeito posteriormente,<br />

quando a tosse já dura mais <strong>de</strong> 21 dias. As taxas <strong>de</strong><br />

transmissão em contactantes, não imunes, na escola e no domicílio<br />

têm variado entre 50-80% e 30-87%, respectivamente 16 .<br />

Globalmente, estima-se que, ocorram 20 a 40 milhões <strong>de</strong> casos<br />

a cada ano, dos quais, 90% em países em <strong>de</strong>senvolvimento e 200<br />

a 400 mil mortes, principalmente em lactentes jovens 17 . A taxa<br />

<strong>de</strong> óbitos, nos países em <strong>de</strong>senvolvimento, po<strong>de</strong> chegar a 15% 14 .<br />

Estima-se que apenas 5% a 25% dos casos são relatados,<br />

<strong>de</strong>vido às dificulda<strong>de</strong>s associadas à confirmação laboratorial<br />

ou à não especificida<strong>de</strong> das manifestações 11 . A tosse prolongada<br />

po<strong>de</strong> ser a única característica clínica em adolescentes<br />

ou adultos, que po<strong>de</strong>m não procurar assistência médica ou ser<br />

avaliados tardiamente, o que dificulta a confirmação laboratorial<br />

18 . Quando são observados, a sua condição muitas vezes<br />

não é diagnosticada, porque, em parte, os médicos continuam<br />

a consi<strong>de</strong>rar a tosse convulsa como uma doença da infância.<br />

Os resultados <strong>de</strong> estudos epi<strong>de</strong>miológicos indicam que 13% a<br />

20% dos casos <strong>de</strong> tosse prolongada em adultos e adolescentes<br />

são <strong>de</strong>vidos à infecção pela B. pertussis 4 . Num ensaio multicêntrico,<br />

prospectivo, aleatório, duplo-cego <strong>de</strong> uma vacina<br />

pertussis acelular, 63% dos indivíduos, entre os 15 e os 65<br />

anos, apresentaram, a cada ano, tosse prolongada, com uma<br />

duração média <strong>de</strong> 24,4 dias. Este sintoma po<strong>de</strong> ter várias causas,<br />

mas verificou-se que a B. pertussis foi responsável por<br />

0,7% a 5,7% dos episódios, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da duração da tosse 19 .<br />

A tosse convulsa po<strong>de</strong> ocorrer em qualquer ida<strong>de</strong>, mas a maioria<br />

dos casos é notificada e, provavelmente, reconhecida em<br />

crianças com ida<strong>de</strong> inferior a 5 anos 17 . Não se tem <strong>de</strong>monstrada<br />

suficiente protecção materna por passagem transplacentária <strong>de</strong><br />

anticorpos e os lactentes são susceptíveis <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as primeiras<br />

semanas <strong>de</strong> vida.<br />

Em Portugal, entre 2000 e 2006, a taxa média anual <strong>de</strong> internamento<br />

hospitalar, com diagnóstico, por critérios clínicos, <strong>de</strong> tosse<br />

convulsa na região Norte, <strong>de</strong> crianças com menos <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong> foi <strong>de</strong> 114,0 casos por 100 mil 20 . Estas taxas, no mesmo grupo<br />

etário, são superiores às verificadas nas comunicações <strong>de</strong> dados<br />

nacionais <strong>de</strong> outros países como a Argentina (0,27/100.000) 10 ,<br />

Brasil (


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):164-71<br />

D’Elia C et al. – Prevenção da tosse convulsa<br />

Após a sua introdução, foram observados efeitos adversos<br />

locais e sistémicos, <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> variável, nomeadamente,<br />

febre alta, choro persistente por mais <strong>de</strong> 3 horas, episódios<br />

hipotónicos hiporresponsivos, convulsões com e sem febre<br />

e, em casos raros, encefalopatia aguda, o que resultou na<br />

<strong>de</strong>cisão, do governo japonês, <strong>de</strong> suspen<strong>de</strong>r a vacinação<br />

contra a tosse convulsa em 1974. A vacina foi reintroduzida<br />

no início <strong>de</strong> 1975, <strong>de</strong>cidindo o governo iniciar a<br />

vacinação em crianças a partir dos 2 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. O<br />

resultado directo <strong>de</strong>sta política foi um surto <strong>de</strong> tosse convulsa<br />

no Japão. A epi<strong>de</strong>mia estimulou o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> uma vacina purificada (acelular), menos reactogénica,<br />

que foi aprovada no Japão, em 1981, numa vacina combinada<br />

DTaP 33 .<br />

Nos últimos anos, as vacinas acelulares foram incorporadas<br />

nos calendários <strong>de</strong> vacinação <strong>de</strong> vários países <strong>de</strong>senvolvidos,<br />

gradualmente a substituir as vacinas <strong>de</strong> células inteiras. Os<br />

esquemas <strong>de</strong> administração variam entre os países, embora a<br />

vacinação primária com três doses da vacina pertussis nos primeiros<br />

seis meses <strong>de</strong> vida exista na maioria dos países europeus<br />

(Figura). Em 2006, proce<strong>de</strong>u-se, em Portugal, à substituição<br />

da vacina contra a tosse convulsa do tipo célula inteira<br />

por uma vacina pertussis acelular 20 .<br />

A vacina acelular contém vários antigénios da B. pertussis que<br />

foram extensamente avaliados na última década. Em comparação<br />

com as vacinas <strong>de</strong> células inteiras, verificou-se, nos estudos<br />

<strong>de</strong> imunogenicida<strong>de</strong> e reactogenicida<strong>de</strong>, que as vacinas<br />

acelulares são imunogénicas, no que diz respeito ao seu conteúdo<br />

antigénico específico, e encontram-se associadas a reacções<br />

adversas menos graves e menos frequentes. A avaliação<br />

da relação custo-benefício da mudança da vacina <strong>de</strong> células<br />

inteiras para vacinas acelulares <strong>de</strong>monstrou-se favorável 34-36 .<br />

O efeito protector da vacinação com o toxói<strong>de</strong> pertussis é<br />

indirecto, protegendo as células fagocíticas pulmonares contra<br />

a inactivação exercida pela toxina pertussis. A protecção<br />

contra a tosse convulsa parece ser multifactorial, envolvendo<br />

a imunida<strong>de</strong> humoral, celular e <strong>de</strong> mucosa 14 .<br />

Os lactentes recebem a vacina a partir <strong>de</strong> dois meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />

e a vacinação não confere protecção completa até que os bebés<br />

tenham pelo menos seis meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. A duração da imunida<strong>de</strong><br />

fornecida pela vacina <strong>de</strong> células inteiras é sobreponível à<br />

da vacina acelular, variando entre os quatro e os doze anos 37 .<br />

O programa <strong>de</strong> vacinação da maioria dos países europeus,<br />

inclusive Portugal, inclui cinco doses antes dos sete anos<br />

(série primária e dois reforços) (Figura).<br />

Figura – Vacinação contra tosse convulsa em países europeus<br />

(Fonte: http://www.euvac.net/graphics/euvac/vaccination/pertussis.html)<br />

167


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):164-71<br />

D’Elia C et al. – Prevenção da tosse convulsa<br />

Novas estratégias <strong>de</strong> controlo da tosse convulsa<br />

A administração rotineira da vacina pertussis acelular, em<br />

adolescentes e adultos, tem como objectivo aumentar a protecção<br />

e reduzir a transmissão às crianças susceptíveis, alterando<br />

a carga global da doença.<br />

As vacinas acelulares (dTpa) para uso em adolescentes e adultos<br />

foram licenciadas em diversos países com base em estudos<br />

<strong>de</strong> segurança e imunogenicida<strong>de</strong>. Essas vacinas diferem relativamente<br />

à quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> toxói<strong>de</strong> diftérico e <strong>de</strong> componentes<br />

pertussis (Quadro). Apesar <strong>de</strong> conter menores quantida<strong>de</strong>s do<br />

componente antigénico, a imunogenicida<strong>de</strong> é semelhante às<br />

vacinas utilizadas para a imunização primária 13 . Actualmente<br />

existem duas formulações, licenciadas nos EUA, para uso em<br />

pessoas com mais <strong>de</strong> 10 anos (Boostrix® e Adacel®), uma<br />

com três e outra com cinco componentes da bactéria (Quadro).<br />

Embora as vacinas tenham formulações ligeiramente diferentes,<br />

consi<strong>de</strong>ra-se que tenham segurança, imunogenicida<strong>de</strong> e<br />

eficácia protectora equivalentes. Foram <strong>de</strong>monstradas altas<br />

taxas <strong>de</strong> seroprotecção contra difteria e tétano após administração<br />

da Boostrix® e Adacel® num gran<strong>de</strong> estudo randomizado<br />

em adultos 38 e persistência, <strong>de</strong> até 5 anos, da seroprotecção 39 .<br />

Quadro – Comparação dos componentes e indicações das vacinas pertussis acelulares a<br />

Vacina Tripedia® Daptacel® Adacel® Infanrix® Boostrix®<br />

Fabricante Sanofi Pasteur Sanofi Pasteur Sanofi Pasteur GlaxoSmithKline GlaxoSmithKline<br />

Ida<strong>de</strong> indicada 6sem–7a 6sem–7a 11–64a 6sem–7a 10–64a<br />

Componentes antigénicos<br />

PT (µg) 23.4 10 2.5 25 8<br />

FHA (µg) 23.4 5 5 25 8<br />

PRN (µg) 3 3 8 2.5<br />

FIM 2 + 3 (µg) 5 5<br />

Difteria(Lf) 6.7 15 2 25 2.5<br />

Tétano (Lf) 5 5 5 10 5<br />

FHA = hemaglutinina filamentosa; FIM 2 + 3 = fimbrias 2 + 3; Lf = limites <strong>de</strong> floculação; PRN = pertactina; PT = toxina pertussis; sem = semanas; a = anos<br />

a<br />

- nomes comerciais <strong>de</strong> vacinas licenciadas nos EUA, po<strong>de</strong> ter nomes diferentes em outros países<br />

Adaptado <strong>de</strong> Yeh SH & Mink CM. Drugs 2006;66:731-41<br />

Uma única dose <strong>de</strong> dTpa é altamente imunogénica em adolescentes<br />

e adultos 40 , com resposta <strong>de</strong> anticorpos para B. pertussis<br />

significativamente maior nos adultos do que a observada em<br />

crianças aos sete meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, após três doses da série primária.<br />

Como parte dos objectivos do Adult Pertussis Trial<br />

(APERT), patrocinado pelo National Institutes of Health (NIH),<br />

nos EUA, a eficácia protectora da vacina verificada em 2.781<br />

indivíduos, com ida<strong>de</strong>s entre os 15 e os 65 anos, incluídos num<br />

estudo multicêntrico, aleatório, duplo-cego foi 92% (IC 95% <strong>de</strong><br />

32-99%) contudo foram verificados apenas nove casos no<br />

grupo controlo e um caso no grupo vacinado em 2,5 anos 41 .<br />

Os resultados do perfil <strong>de</strong> segurança foram confirmados, após<br />

a vigilância <strong>de</strong> 13.<strong>42</strong>7 adolescentes, entre 10 a 18 anos, que<br />

receberam a vacina dTpa. Os indivíduos foram avaliados,<br />

através da análise <strong>de</strong> auto-controlo, comparando os períodos<br />

entre 0-29 e 30-59 dias após a vacinação, em relação aos<br />

eventos neurológicos, hematológicos e reacções alérgicas.<br />

Também foi avaliada a taxa <strong>de</strong> aparecimento <strong>de</strong> novas doenças<br />

crónicas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> 6 meses após a vacinação, em relação<br />

a controlos, que receberam a Td, pareados por ida<strong>de</strong>, estação<br />

do ano, sexo e área geográfica <strong>42</strong> .<br />

Actualmente, algumas estratégias, <strong>de</strong> vacinação <strong>de</strong> reforço com<br />

dTpa, estão sendo recomendadas <strong>de</strong> forma isolada ou combinada.<br />

Estas estratégias incluem (1) uma dose <strong>de</strong> reforço com<br />

dTpa em crianças <strong>de</strong> 7 a 10 anos com imunização prévia<br />

incompleta; (2) uma dose <strong>de</strong> reforço <strong>de</strong> rotina para pré-adolescentes<br />

e adolescentes; (3) uma dose <strong>de</strong> reforço <strong>de</strong> rotina, a cada<br />

10 anos, para todos os adultos com ida<strong>de</strong>s abaixo <strong>de</strong> 65 anos;<br />

(4) vacinar adultos, com 65 ou mais anos, que têm ou terão contacto<br />

com lactentes (apesar das vacinas não estarem licenciadas<br />

para uso neste grupo etário); (5) o uso <strong>de</strong> dTpa em vez <strong>de</strong> dT<br />

para doentes com feridas; (6) a imunização <strong>de</strong> trabalhadores <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>, e (7) o cocoon que é uma abordagem para evitar a tosse<br />

convulsa em bebés muito jovens para serem imunizados<br />

(cocooning é a vacinação da mãe imediatamente após o parto<br />

ou a futura mãe no segundo ou terceiro trimestre <strong>de</strong> gestação e<br />

<strong>de</strong> outros membros da família ou prestadores <strong>de</strong> cuidados que<br />

terão contacto íntimo com o bebé após o nascimento) 4,9 .<br />

Não existem estudos observacionais que avaliem a<strong>de</strong>quadamente<br />

o efeito <strong>de</strong>stas estratégias. Em relação ao reforço em<br />

adolescentes, dois mo<strong>de</strong>los matemáticos prevêem uma diminuição<br />

da incidência da doença <strong>de</strong> 64 e 37%, nesta população,<br />

e <strong>de</strong> 22 e 18%, na população infantil 43 . Ambos os estudos são<br />

baseados no mesmo mo<strong>de</strong>lo e as diferenças dos resultados<br />

po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>vidas principalmente às diferenças nas coberturas<br />

vacinais consi<strong>de</strong>radas. Em França, a introdução <strong>de</strong> uma dose<br />

<strong>de</strong> reforço em adolescentes resultou em mo<strong>de</strong>sta redução da<br />

incidência da doença nessa população, provavelmente <strong>de</strong>vido<br />

às baixas coberturas vacinais (17,4%) 44 . Com a diminuição do<br />

reservatório <strong>de</strong> infecção, representado por este grupo, a principal<br />

fonte <strong>de</strong> infecção da criança foi <strong>de</strong>slocada para os indivíduos<br />

mais velhos 44 . A cobertura vacinal em adolescentes, nos<br />

EUA, também é consi<strong>de</strong>rada insuficiente (cerca <strong>de</strong> 40%) 45 . A<br />

introdução do reforço (dTpa) em adolescentes com 14 a 16<br />

anos no Canadá, em 2001, resultou em significativa redução da<br />

incidência da tosse convulsa em todos os grupos etários 46 .<br />

Baseado nestes dados, nas análises farmacoeconómicas e nas<br />

simulações matemáticas do efeito, o C.O.P.E. recomenda que<br />

todos os adolescentes, entre 10 e 17 anos, recebam a dTpa ao<br />

invés da dT, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do esquema <strong>de</strong> vacinação<br />

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<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):164-71<br />

D’Elia C et al. – Prevenção da tosse convulsa<br />

prévio, do tipo <strong>de</strong> vacina administrada ou antece<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> tosse<br />

convulsa 13 . A dTpa é bem tolerada por adolescentes que receberam<br />

a dT nos últimos 2 a 10 anos 47 . A Aca<strong>de</strong>mia Americana<br />

<strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria e o CDC recentemente retiraram a recomendação<br />

prévia <strong>de</strong> um intervalo mínimo <strong>de</strong> 2 anos, para o reforço com<br />

a dTap, após a administração da dT 9 .<br />

Claramente, o cocconing (ou seja, vacinar os contactos próximos<br />

<strong>de</strong> recém-nascidos) continuará a ser necessário, até<br />

que a cobertura vacinal em adultos seja suficiente para a protecção<br />

<strong>de</strong> grupo (herd immunity). Numa revisão das mortes<br />

por tosse convulsa nos EUA, encontrou-se uma fonte <strong>de</strong><br />

infecção <strong>de</strong>ntro dos contactos domiciliários em menos <strong>de</strong><br />

meta<strong>de</strong> dos casos 48 . Assim, mesmo com altas coberturas <strong>de</strong><br />

revacinação selectiva <strong>de</strong> adultos, através da abordagem do<br />

cocooning, uma proporção significativa <strong>de</strong> casos em recémnascidos,<br />

não adquiridos a partir <strong>de</strong> seus contactos domiciliares,<br />

po<strong>de</strong>rá persistir.<br />

Embora se estime que a segurança e a imunogenicida<strong>de</strong> da<br />

dTpa seja semelhante em mulheres grávidas e não grávidas,<br />

estão disponíveis poucos dados sobre a segurança da dTpa<br />

para as mulheres grávidas e fetos e não há informações disponíveis<br />

sobre a imunogenicida<strong>de</strong> da dTpa em gestantes. A vacinação<br />

<strong>de</strong> mulheres grávidas com uma única dose da dTpa<br />

po<strong>de</strong> fornecer um grau <strong>de</strong> protecção para o bebé no início da<br />

vida pela transferência transplacentária <strong>de</strong> anticorpos maternos<br />

mas ainda faltam evidências a favor <strong>de</strong>ssa hipótese 49 . A<br />

administração <strong>de</strong> dT para a vacinação <strong>de</strong> reforço é recomendada<br />

durante a gravi<strong>de</strong>z, se 10 ou mais anos se passaram<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o último reforço. Em mulheres que receberam a dT nos<br />

últimos 10 anos e que não receberam dTpa anteriormente,<br />

incluindo aquelas que estão a amamentar, uma dose <strong>de</strong> dTpa<br />

no pós-parto po<strong>de</strong> ser dada antes da alta da maternida<strong>de</strong> 49 .<br />

A vacinação <strong>de</strong> recém-nascidos, com uma dose da DTwP<br />

(células inteiras) após o nascimento, para fornecer protecção<br />

precoce já havia sido investigada há mais <strong>de</strong> 45 anos 50 . A vacinação<br />

<strong>de</strong> recém-nascidos resultou na chamada “tolerância<br />

imunológica”, na qual a resposta <strong>de</strong> anticorpos após vacinação<br />

primária e <strong>de</strong> reforço foi persistentemente reduzida em<br />

comparação à obtida em crianças que começaram seu<br />

esquema <strong>de</strong> vacinação posteriormente. Como resultado, a<br />

estratégia <strong>de</strong> imunização <strong>de</strong> recém-nascidos, com esta vacina,<br />

foi abandonada 50 . Os resultados <strong>de</strong> estudos que avaliaram a<br />

imunogenicida<strong>de</strong> após vacinação <strong>de</strong> recém-nascidos com<br />

diferentes vacinas triplas acelulares foram díspares. Quando<br />

vacinados com uma vacina DTaP com três componentes pertussis<br />

- PRN, FHA e PT geneticamente inactivada (Acelluvax,<br />

Biocine), verificou-se evidências <strong>de</strong> imunização precoce, sem<br />

indução <strong>de</strong> maior resposta <strong>de</strong> anticorpos ao final da série primária,<br />

em relação aos controlos 51 . Em contraste, quando uma<br />

vacina DTaP com cinco componentes foi administrada concomitantemente<br />

ao nascimento com o VHB, as respostas <strong>de</strong><br />

anticorpos para o PT, fímbrias e PRN foram significativamente<br />

menores após a vacinação primária e reforço, <strong>de</strong> forma<br />

semelhante aos estudos anteriores que avaliaram a DTwP 52 .<br />

Um estudo recente avaliou a vacinação <strong>de</strong> recém-nascidos,<br />

distribuídos aleatoriamente (1:1) para receber aP (3- componentes)<br />

ou a vacina da hepatite B (controlos), entre 2 e 5 dias<br />

<strong>de</strong> vida, seguida <strong>de</strong> vacinação com DTaP-HBV-IPV/Hib aos 2,<br />

4 e 6 meses. Foi <strong>de</strong>monstrado que a vacina aP, em recém-nascidos,<br />

é segura e resultou em resposta imunológica acelerada a<br />

todos os antigénios da vacina aos 3 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> 53 . Após o<br />

reforço no segundo ano <strong>de</strong> vida, confirmou-se a ausência <strong>de</strong><br />

indução <strong>de</strong> tolerância imunológica aos antigénios da tosse convulsa<br />

54 . As respostas imunes <strong>de</strong> anticorpos e mediada por células<br />

contra os antigénios amadureceram ao longo do tempo e<br />

foram maiores quando a aP foi administrada ao nascimento do<br />

que quando a primeira dose da vacina pertussis foi administrada<br />

aos 2 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. No entanto, a vacinação <strong>de</strong> recémnascidos<br />

parece atenuar as respostas às vacinas contra Hib,<br />

Difteria e VHB (bystan<strong>de</strong>r interference) 53-54 .<br />

O custo das novas estratégias vacinais, recomendadas em<br />

outros países, <strong>de</strong>ve ser avaliado em relação ao custo das doenças<br />

para as famílias e a socieda<strong>de</strong>. Avaliações económicas<br />

dirigidas à estratégia <strong>de</strong> reforço em adolescentes têm<br />

importantes limitações <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. Factores tais como a<br />

imunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> grupo e o efeito das subnotificações são ignorados<br />

por alguns dos estudos, enquanto outros assumem, <strong>de</strong><br />

forma pouco realista, altas taxas <strong>de</strong> cobertura vacinal na população.<br />

Consi<strong>de</strong>ra-se que conclusões válidas acerca do custoefectivida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> estratégias vacinais só po<strong>de</strong>m ser obtidas através<br />

<strong>de</strong> análises baseadas em mo<strong>de</strong>los dinâmicos e métodos<br />

estatísticos para a correcção da subnotificação. Pesquisas adicionais<br />

são necessárias para esclarecer as incertezas relacionadas<br />

ao custo-efectivida<strong>de</strong> do reforço da dTpa em adultos e<br />

adolescentes 55 .<br />

Conclusões<br />

A B. Pertussis é um patogéneo importante nos países em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e é consi<strong>de</strong>rado um problema reemergente<br />

nos países <strong>de</strong>senvolvidos. Os dados disponíveis para esta<br />

questão complexa ressaltam a necessida<strong>de</strong> urgente <strong>de</strong> esforços<br />

coor<strong>de</strong>nados para estudar o impacto da doença e <strong>de</strong>senvolver<br />

novas estratégias para o seu controlo.<br />

O aumento da incidência da doença em adolescentes e adultos<br />

resulta em maior número <strong>de</strong> casos numa fase precoce da vida<br />

e apoia a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investigar estratégias mais efectivas<br />

<strong>de</strong> proteger os bebés mais cedo do que as obtidas com os programas<br />

<strong>de</strong> imunização que têm sido implementados.<br />

Apesar das novas estratégias po<strong>de</strong>rem ser implementadas<br />

individualmente, <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>radas complementares e a<br />

adopção <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> uma abordagem <strong>de</strong> vacinação <strong>de</strong> reforço<br />

em adolescentes e adultos provavelmente resultaria em maior<br />

protecção <strong>de</strong> grupo.<br />

A simples substituição da vacinação <strong>de</strong> reforço contra difteria-tétano<br />

na adolescência por uma contendo também a vacina<br />

pertussis acelular com doses reduzidas, po<strong>de</strong>rá não ser suficiente<br />

em países com baixas coberturas <strong>de</strong> reforço com a dT.<br />

Um elevado grau <strong>de</strong> imunização contra o tétano foi verificado<br />

em Portugal pela “Avaliação do Programa Nacional <strong>de</strong><br />

Vacinação – 2º Inquérito serológico Nacional – Portugal<br />

Continental 2001-2002”. Esta alta taxa <strong>de</strong> cobertura vacinal<br />

<strong>de</strong> adultos, no nosso país, sugere que a imunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> grupo<br />

po<strong>de</strong>rá ser alcançada.<br />

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<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):164-71<br />

D’Elia C et al. – Prevenção da tosse convulsa<br />

Ainda não se tem a certeza <strong>de</strong> que o intervalo <strong>de</strong> 10 anos entre<br />

as doses <strong>de</strong> reforço será o i<strong>de</strong>al para manter a imunida<strong>de</strong> contra<br />

a B. pertussis. Sem a garantia da a<strong>de</strong>quada imunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

grupo com a vacinação universal dos adultos, a proposta do<br />

cocooning também parece atraente.<br />

Na maioria dos países, a vigilância da tosse convulsa é insuficiente<br />

para estimar com precisão os números <strong>de</strong> casos ou<br />

óbitos. São necessárias estimativas precisas para auxiliar na<br />

<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s para os programas nacionais <strong>de</strong> vacinação.<br />

A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> doses adicionais <strong>de</strong> reforço <strong>de</strong> dTpa<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da situação epi<strong>de</strong>miológica do país e medidas para<br />

intensificar a vigilância <strong>de</strong>vem ser adoptadas.<br />

A vacinação universal <strong>de</strong> adolescentes e adultos assim como<br />

a vacinação materna, na gestação ou no pós-parto imediato, e<br />

dos adultos que terão contacto íntimo com o RN são meios<br />

potenciais para a protecção individual e interrupção da transmissão<br />

para lactentes susceptíveis, com consequente redução<br />

da morbilida<strong>de</strong> e mortalida<strong>de</strong>.<br />

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171


0873-9781/11/<strong>42</strong>-4/172<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

ACTUALIZAÇÃO<br />

Diagnóstico e tratamento da Gastrenterite Aguda – as perspectivas da<br />

ESPGHAN-ESPID e da SLAGHNP<br />

Sofia Martins 1 , Andreia Lopes 1 , Cristiana Couto 2 , Eunice Trinda<strong>de</strong> 1 , Marta Tavares 1 , Jorge Amil Dias 1<br />

1. Serviço <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria, UAG da Mulher e da Criança, Hospital <strong>de</strong> São João<br />

2. Centro Hospitalar do Alto Ave<br />

Resumo<br />

A gastrenterite aguda (GEA) continua a ser uma das patologias<br />

mais frequentes em ida<strong>de</strong> pediátrica, associada a morbi-mortalida<strong>de</strong><br />

importante. Nos últimos anos foram <strong>de</strong>senvolvidas<br />

orientações clínicas pela <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Europeia <strong>de</strong> Gastrenterologia,<br />

Hepatologia e Nutrição <strong>Ped</strong>iátrica/<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Europeia<br />

<strong>de</strong> Doenças Infecciosas <strong>Ped</strong>iátricas e pela <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Latinoamericana<br />

<strong>de</strong> Gastrenterologia <strong>Ped</strong>iátrica, Nutrição e Hepatologia<br />

para a abordagem e tratamento da GEA em ida<strong>de</strong> pediátrica.<br />

Avaliamos as recomendações <strong>de</strong> ambos os grupos e <strong>de</strong>stacamos<br />

as principais semelhanças e diferenças.<br />

Analisaram-se as orientações publicadas em 2008 e 2009 e<br />

avaliaram-se os seguintes parâmetros: metodologia <strong>de</strong> investigação,<br />

<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> GEA, epi<strong>de</strong>miologia, factores <strong>de</strong> risco<br />

para doença grave, avaliação diagnóstica, critérios <strong>de</strong> internamento<br />

e alta, orientação terapêutica e prevenção.<br />

Verificou-se que para os dois grupos, embora utilizando metodologia<br />

distinta, a re-hidratação oral constitui a base da terapêutica,<br />

com clara preferência pelas soluções <strong>de</strong> osmolarida<strong>de</strong> reduzida e<br />

hipotónicas. Ambas recomendam o aleitamento materno e a realimentação<br />

precoce. Há alguma evidência <strong>de</strong> benefício com o<br />

uso <strong>de</strong> probióticos (Lactobacillus GG e Saccharomyces boulardii),<br />

racecadotril e esmectita. Não está recomendado o uso indiscriminado<br />

<strong>de</strong> anti-eméticos, antiperistálticos ou antimicrobianos.<br />

As principais diferenças <strong>de</strong>tectadas incluíram: a indicação para o<br />

recurso aos cuidados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, o uso <strong>de</strong> anti-eméticos e <strong>de</strong> zinco.<br />

A presente análise permite concluir que as principais recomendações<br />

para a abordagem terapêutica da diarreia aguda<br />

infantil são comuns para os países <strong>de</strong>senvolvidos e em <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

apesar dos diferentes cenários epi<strong>de</strong>miológicos<br />

que caracterizam cada grupo. As diferenças encontradas estão<br />

relacionadas com características físicas, socioeconómicas e<br />

culturais da população alvo.<br />

Palavras-chave: Gastrenterite, criança pré-escolar, recomendações,<br />

soluções <strong>de</strong> re-hidratação<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011;<strong>42</strong>(4):172-6<br />

Diagnosis and treatment of acute gastroenteritis<br />

– ESPHAN-ESPID and SLAGHNP perspectives<br />

Abstract<br />

Acute gastroenteritis (AGE) is still one of the most frequent diseases<br />

in children, with important morbidity and mortality. In<br />

recent years clinical gui<strong>de</strong>lines were <strong>de</strong>veloped by the European<br />

Society for Paediatric of Gastroenterology, Hepatology and<br />

Nutrition/European Society for Paediatric Infectious Diseases<br />

and the Latinamerican Society of <strong>Ped</strong>iatric Gastroenterology,<br />

Hepatology and Nutrition, for the management of pediatric<br />

AGE. We aimed to evaluate the recommendations of both<br />

groups and highlight the main similarities and differences.<br />

We analyzed the published gui<strong>de</strong>lines in 2008 and 2009 and<br />

evaluated the following parameters: investigation methodology,<br />

<strong>de</strong>finition of AGE, epi<strong>de</strong>miology, risk factors for severe<br />

disease, diagnostic evaluation, criteria for admission and discharge,<br />

therapy and prevention.<br />

Although using different methodology, it was found that for both<br />

groups oral rehydration constitutes the main therapy, with a clear<br />

preference for hypotonic solutions. Both recommend breastfeeding<br />

and early refeeding. There is some evi<strong>de</strong>nce of benefit with<br />

use of probiotics (Lactobacillus GG and Saccharomyces<br />

boulardii), smectite and racecadotril. The indiscriminate use of<br />

antiemetics, antimicrobial or antiperistaltic drugs is not recommen<strong>de</strong>d.<br />

The main differences i<strong>de</strong>ntified inclu<strong>de</strong>d: the indication<br />

for a medical visit, the use of antiemetics and zinc.<br />

This analysis suggests that the main recommendations for<br />

management of acute diarrhea in children are common<br />

between <strong>de</strong>veloped and <strong>de</strong>veloping countries, <strong>de</strong>spite different<br />

epi<strong>de</strong>miological scenarios that characterize each group.<br />

The differences are related to physical, socioeconomic and<br />

cultural characteristics of the target population.<br />

Key-words: Gastroenteritis, preschool child, gui<strong>de</strong>lines,<br />

rehydration solutions<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011;<strong>42</strong>(4):172-6<br />

Recebido: 05.04.2011<br />

Aceite: 19.10.2011<br />

Correspondência:<br />

Jorge Amil Dias<br />

Alameda Prof. Hernâni Monteiro<br />

<strong>42</strong>02-451 Porto<br />

jorge.amil@hsjoao.min-sau<strong>de</strong>.pt<br />

172


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):172-6<br />

Martins S et al. – Análise das recomendações da diarreia<br />

Introdução<br />

A gastrenterite aguda (GEA) continua associada a elevado<br />

número <strong>de</strong> admissões hospitalares e número não negligenciável<br />

<strong>de</strong> mortes. A facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocação das populações conduz à<br />

frequente observação <strong>de</strong> doentes provenientes <strong>de</strong> diversas nacionalida<strong>de</strong>s<br />

pelo que é importante conhecer as diferentes culturas,<br />

tradições e sistemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Em vários países praticam-se correntemente<br />

intervenções médicas na tentativa <strong>de</strong> reduzir a intensida<strong>de</strong><br />

e duração dos sintomas, o que nem sempre resulta em<br />

benefício clínico. As orientações clínicas emanadas pelas socieda<strong>de</strong>s<br />

cientificas po<strong>de</strong>rão contribuir <strong>de</strong> forma importante para a<br />

melhoria da qualida<strong>de</strong> dos cuidados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> prestados, com uniformização<br />

<strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s baseadas em evidência clínica sólida, evitando<br />

práticas incorrectas e erros sistemáticos. A <strong>Socieda<strong>de</strong></strong><br />

Europeia <strong>de</strong> Gastrenterologia, Hepatologia e Nutrição <strong>Ped</strong>iátrica<br />

em colaboração com a <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Europeia <strong>de</strong> Doenças Infecciosas<br />

<strong>Ped</strong>iátricas (ESPGHAN-ESPID), e a <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Latino-<br />

-americana <strong>de</strong> Gastrenterologia <strong>Ped</strong>iátrica, Nutrição e Hepatologia<br />

(SLAGHNP) <strong>de</strong>senvolveram separadamente orientações<br />

clínicas para o diagnóstico e tratamento da gastrenterite em ida<strong>de</strong><br />

pediátrica. Reconhecendo que seguramente haveria gran<strong>de</strong> coincidência<br />

nas principais conclusões, era previsível que analisassem<br />

as respectivas realida<strong>de</strong>s epi<strong>de</strong>miológicas a culturais.<br />

Portugal, embora inserido na Europa, partilha certamente <strong>de</strong><br />

alguns factores relevantes da realida<strong>de</strong> latino-americana. Por esse<br />

motivo pareceu útil comparar ambos os documentos. Assim, os<br />

autores preten<strong>de</strong>m avaliar as recomendações <strong>de</strong>stas socieda<strong>de</strong>s e<br />

<strong>de</strong>stacar as principais semelhanças e diferenças, <strong>de</strong> forma a disponibilizar<br />

informação sistematizada no que respeita à avaliação<br />

diagnóstica e orientação terapêutica.<br />

Material e métodos<br />

Foram analisadas as recomendações da ESPGHAN-ESPID e<br />

da SLAGHNP para abordagem da GEA publicadas em 2008 e<br />

2009, respectivamente 1,2 . Foram avaliados os seguintes parâmetros:<br />

<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> GEA, metodologia <strong>de</strong> investigação, epi<strong>de</strong>miologia,<br />

factores <strong>de</strong> risco para doença grave, avaliação<br />

diagnóstica, critérios <strong>de</strong> internamento e alta, prevenção e<br />

recomendações terapêuticas (solução <strong>de</strong> re-hidratação oral,<br />

alimentação, uso <strong>de</strong> fármacos).<br />

Resultados<br />

Ambos os documentos adoptaram a mesma <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />

GEA: diminuição da consistência das fezes e/ou aumento da<br />

frequência das evacuações (três ou mais <strong>de</strong>jecções em 24<br />

horas), associada ou não a febre ou vómitos. A diarreia apresenta<br />

tipicamente duração compreendida entre sete e catorze<br />

dias. No entanto, a alteração da consistência das fezes é mais<br />

indicadora <strong>de</strong> diarreia do que o número <strong>de</strong> <strong>de</strong>jecções, especialmente<br />

nos primeiros meses <strong>de</strong> vida.<br />

A metodologia <strong>de</strong> investigação utilizada pelos dois grupos foi<br />

distinta. A ESPGHAN-ESPID efectuou uma revisão sistemática<br />

da literatura com execução <strong>de</strong> tabelas <strong>de</strong> evidência efectuada<br />

por grupos <strong>de</strong> trabalho das respectivas socieda<strong>de</strong>s. Em<br />

contrapartida, a SLAGHNP fez a revisão sistemática da literatura<br />

e posteriormente gradação da evidência científica e<br />

análise das recomendações por peritos latino-americanos.<br />

A ESPGHAN-ESPID fez a revisão da epi<strong>de</strong>miologia, dos factores<br />

<strong>de</strong> risco, da avaliação da gravida<strong>de</strong>, da presença <strong>de</strong> <strong>de</strong>sidratação<br />

e diagnóstica da GEA, que representa uma incidência <strong>de</strong> 0,5-<br />

1,9 episódios por criança por ano em menores <strong>de</strong> três anos <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong> na Europa. O Rotavírus é o agente mais frequente e, <strong>de</strong>ntre<br />

as bactérias, Campylobacter e Salmonella, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do país.<br />

São consi<strong>de</strong>rados factores <strong>de</strong> risco para doença persistente e/ou<br />

grave: grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>sidratação; presença <strong>de</strong> vómitos, anorexia, febre<br />

e fezes com muco; ida<strong>de</strong> inferior a seis meses; baixo nível socioeconómico;<br />

frequência <strong>de</strong> infantário e presença <strong>de</strong> imuno<strong>de</strong>ficiência.<br />

Os principais microrganismos isolados em crianças com diarreia<br />

persistente são Rotavírus, Noravírus, Astrovírus, Escherichia<br />

coli enteroagregativa e Escherichia coli atípica. A presença <strong>de</strong><br />

febre elevada (superior a 40ºC), fezes com sangue, dor abdominal<br />

ou envolvimento do sistema nervoso central sugerem infecção<br />

bacteriana. A etiologia vírica é mais provável quando a criança<br />

apresenta vómitos e sintomas respiratórios. No entanto, não existe<br />

evidência <strong>de</strong> que a combinação <strong>de</strong> características clínicas possa<br />

predizer etiologia bacteriana ou vírica. Os doentes com infecção<br />

por Rotavírus geralmente apresentam maior gravida<strong>de</strong> clínica,<br />

com vómitos e <strong>de</strong>sidratação mais severos. Os exames culturais <strong>de</strong><br />

fezes não <strong>de</strong>vem ser efectuados por rotina, e estão indicados apenas<br />

quando se vai iniciar antibioterapia perante a suspeita <strong>de</strong> surto<br />

ou <strong>de</strong> doença inflamatória intestinal. Não há indicação para realização<br />

<strong>de</strong> endoscopia, excepto em casos seleccionados (suspeita <strong>de</strong><br />

colite infecciosa, doença inflamatória intestinal ou patologia cirúrgica).<br />

A <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> electrólitos séricos <strong>de</strong>ve ser efectuada<br />

nos doentes com <strong>de</strong>sidratação mo<strong>de</strong>rada ou grave, naqueles cujo<br />

exame objectivo não é consistente com a história clínica e nos que<br />

vão iniciar fluidoterapia endovenosa. O melhor indicador <strong>de</strong> <strong>de</strong>sidratação<br />

é a perda <strong>de</strong> peso corporal. A classificação em subgrupos<br />

(não <strong>de</strong>sidratado, <strong>de</strong>sidratação ligeira, mo<strong>de</strong>rada ou grave) é<br />

essencial para a terapêutica apropriada. Embora tenham sido propostos<br />

vários sistemas <strong>de</strong> pontuação para classificação da <strong>de</strong>sidratação,<br />

não existe nenhum validado para utilização clínica. Os<br />

sinais clínicos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sidratação são imprecisos e os melhores indicadores<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sidratação são o tempo <strong>de</strong> preenchimento capilar,<br />

turgescência cutânea e padrão respiratório.<br />

Ambos os documentos <strong>de</strong>finem recomendações sobre as indicações<br />

para recurso aos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, com diferenças no<br />

seu conteúdo (quadro I).<br />

Em ambas as recomendações são consi<strong>de</strong>rados critérios <strong>de</strong><br />

internamento: a presença <strong>de</strong> choque, <strong>de</strong>sidratação grave<br />

(perda pon<strong>de</strong>ral estimada superior a 9%), alterações neurológicas<br />

(letargia, convulsões), vómitos biliares ou persistentes,<br />

falha da re-hidratação oral e suspeita <strong>de</strong> patologia cirúrgica.<br />

Os critérios <strong>de</strong> alta do Serviço <strong>de</strong> Urgência são referidos apenas<br />

pela ESPGHAN-ESPID, sendo recomendada a alta hospitalar<br />

quando se alcança a re-hidratação suficiente confirmada<br />

pelo ganho <strong>de</strong> peso e/ou estado clínico, não são necessários<br />

fluidos por via entérica ou endovenosa, a ingestão oral é igual<br />

ou exce<strong>de</strong> as perdas, existe garantia <strong>de</strong> tratamento a<strong>de</strong>quado<br />

pelos pais e é assegurado seguimento médico.<br />

Após comparação da abordagem terapêutica proposta pelos dois<br />

relatórios (quadros II, III, IV e V), verificou-se que a re-hidrata-<br />

173


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):172-6<br />

Martins S et al. – Análise das recomendações da diarreia<br />

Quadro I – Orientação clínica dos doentes com gastrenterite aguda.<br />

ESPGHAN-ESPID<br />

SLAGHNP<br />

Recorrer Dejecções <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> volume (>8/dia), Suspeita <strong>de</strong> <strong>de</strong>sidratação, quando a frequência<br />

ao médico vómitos persistentes, doença subjacente ou quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>jecções ou vómitos seja<br />

grave, < 2 meses.<br />

superior àre-hidratação oral tolerada.<br />

Internamento<br />

Choque, <strong>de</strong>sidratação grave, alterações neurológicas, vómitos persistentes ou biliares, falha da<br />

re-hidratação oral, suspeita <strong>de</strong> doença cirúrgica.<br />

Alta<br />

Re-hidratação suficiente, a ingestão oral é<br />

igual ou exce<strong>de</strong> as perdas, follow-up médico.<br />

ESPGHAN-ESPID - <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Europeia <strong>de</strong> Gastrenterologia, Hepatologia e Nutrição <strong>Ped</strong>iátrica/<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Europeia <strong>de</strong> Doenças Infecciosas <strong>Ped</strong>iátricas;<br />

SLAGHNP - <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Latino-americana <strong>de</strong> Gastrenterologia <strong>Ped</strong>iátrica, Nutrição e Hepatologia<br />

Quadro II – Abordagem terapêutica da gastrenterite aguda: soluções <strong>de</strong> re-hidratação oral.<br />

Tratamento ESPGHAN-ESPID SLAGHNP<br />

Soluções <strong>de</strong> re-hidratação oral<br />

Terapêutica <strong>de</strong> 1ª linha.<br />

(SRO)<br />

As soluções <strong>de</strong> osmolarida<strong>de</strong> reduzida e hipotónicas são preferidas.<br />

SRO com base <strong>de</strong> arroz<br />

SRO com outros substratos<br />

Não está recomendada em doentes com diarreia não colérica.<br />

Terapêutica alternativa na cólera.<br />

Não estão recomendadas (evidência insuficiente)<br />

Quadro III – Abordagem terapêutica da gastrenterite aguda: alimentação.<br />

Tratamento ESPGHAN-ESPID SLAGHNP<br />

Alimentação precoce vs tardia<br />

Alimentação precoce<br />

Amamentação<br />

Deve manter-se a amamentação<br />

Fórmulas diluídas e <strong>de</strong> soja<br />

Sem evidência científica<br />

Fórmulas sem lactose<br />

A maioria das crianças não<br />

necessita <strong>de</strong> fórmula sem lactose<br />

Sem evidência científica<br />

Dietas restritivas/bebidas com<br />

elevado conteúdo <strong>de</strong> açúcar<br />

Não estão recomendadas<br />

Quadro IV – Abordagem terapêutica da GEA: terapêutica farmacológica<br />

Tratamento ESPGHAN-ESPID SLAGHNP<br />

Não se recomenda o uso <strong>de</strong> rotina.<br />

Anti-eméticos<br />

Não se recomenda o uso <strong>de</strong> rotina<br />

Consi<strong>de</strong>rado o uso <strong>de</strong> ondansetron em<br />

doentes <strong>de</strong>sidratados em risco <strong>de</strong> falha<br />

terapêutica <strong>de</strong> re-hidratação oral<br />

Fármacos anti-motilida<strong>de</strong> ou A loperamida não <strong>de</strong>ve ser usada<br />

anti-peristálticos<br />

para o tratamento da GEA<br />

Não <strong>de</strong>ve ser usada loperamida em 6 meses<br />

Não está recomendado o uso por rotina<br />

174


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):172-6<br />

Martins S et al. – Análise das recomendações da diarreia<br />

ção oral é a pedra angular do tratamento da GEA, sendo preferíveis<br />

as soluções <strong>de</strong> osmolarida<strong>de</strong> reduzida (Na=75 mmol/L) e<br />

hipotónicas (Na=60 mmol/L). Os doentes com GEA tratados<br />

com as soluções <strong>de</strong> osmolarida<strong>de</strong> reduzida e hipotónica apresentam<br />

diminuição da excreção fecal, dos vómitos e da necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> fluidoterapia endovenosa, sem risco acrescido <strong>de</strong> hiponatremia,<br />

quando comparados com as crianças tratadas com solução<br />

<strong>de</strong> re-hidratação oral padrão (Na=90 mmol/L). Entretanto, com<br />

base na evidência <strong>de</strong> eficácia e segurança a OMS já modificou<br />

a sua recomendação com redução do teor <strong>de</strong> sódio para<br />

75mmol/L e consequente diminuição da osmolarida<strong>de</strong> 3 . Nos<br />

doentes admitidos por cólera, as soluções <strong>de</strong> osmolarida<strong>de</strong> reduzida<br />

estão associadas a hiponatremia quando comparadas com a<br />

solução padrão, embora tenham benefícios similares. Quando a<br />

re-hidratação oral não é tolerada, <strong>de</strong>ve iniciar-se re-hidratação<br />

entérica por sonda oro ou nasogástrica, visto ser tão eficaz como<br />

a via endovenosa, ter menos efeitos adversos e permitir internamentos<br />

mais curtos. Não está recomendada a utilização <strong>de</strong> soluções<br />

<strong>de</strong> re-hidratação oral com outros substratos por falta <strong>de</strong> evidência<br />

científica. No entanto, a solução <strong>de</strong> re-hidratação oral à<br />

base <strong>de</strong> arroz po<strong>de</strong> ser utilizada como terapêutica alternativa em<br />

crianças com GEA secundária a cólera, visto que é eficaz na<br />

redução da excreção fecal nas primeiras 24 horas <strong>de</strong> tratamento.<br />

Ambos os documentos recomendam a manutenção do aleitamento<br />

materno e a alimentação precoce após a re-hidratação<br />

durante o episódio <strong>de</strong> GEA. Alguns estudos <strong>de</strong>monstraram que<br />

a alimentação precoce reduz significativamente a duração da<br />

diarreia. Não existe evidência científica que suporte a utilização<br />

<strong>de</strong> fórmulas diluídas nem o uso por rotina <strong>de</strong> fórmulas sem<br />

lactose ou <strong>de</strong> soja. Não está recomendada a alimentação com<br />

dietas restritivas como a dieta BRAT (acrónimo <strong>de</strong> Bread, Rice,<br />

Apple, Toast - pão, arroz e maçã) nem a ingestão <strong>de</strong> bebidas<br />

com elevado conteúdo <strong>de</strong> açúcar. A SLAGHNP salienta que o<br />

uso <strong>de</strong> infusões ou <strong>de</strong> soluções <strong>de</strong> re-hidratação usadas por <strong>de</strong>sportistas<br />

apresentam elevado conteúdo <strong>de</strong> glicose e, portanto,<br />

são inapropriadas para a utilização em crianças com GEA.<br />

Em relação à terapêutica farmacológica, a ESPGHAN-ESPID<br />

e a SLAGHNP não recomendam o uso por rotina <strong>de</strong> anti-eméticos,<br />

por serem questionáveis os seus beneficios e terem potenciais<br />

efeitos laterais. Porém, a SLAGHNP consi<strong>de</strong>ra o uso no<br />

Serviço <strong>de</strong> Urgência <strong>de</strong> ondasentron em doentes <strong>de</strong>sidratados<br />

com risco <strong>de</strong> falha terapêutica da re-hidratação oral. Os fármacos<br />

anti-motilida<strong>de</strong> ou anti-peristálticos não estão indicados no<br />

tratamento da GEA em crianças. Alguns estudos clínicos<br />

<strong>de</strong>monstram eficácia da loperamida na redução da duração da<br />

diarreia mas este fármaco está associado a efeitos laterais graves.<br />

A esmectita (não disponivel em Portugal) po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada<br />

como adjuvante da terapêutica, pois está associada a<br />

redução da duração da diarreia. Ambas as recomendações <strong>de</strong>saconselham<br />

<strong>de</strong> caolino-pectina ou <strong>de</strong> subsalicilato <strong>de</strong> bismuto. O<br />

racecadotril po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado no tratamento da GEA,<br />

havendo evidência <strong>de</strong> que reduz a duração da diarreia, a excreção<br />

fecal e o número <strong>de</strong> <strong>de</strong>jecções, sem estar associado a efeitos<br />

adversos significativos. No entanto, <strong>de</strong>verão ser efectuados<br />

mais estudos prospectivos para avaliação da eficácia e segurança<br />

em crianças tratadas em ambulatório.<br />

Os probióticos po<strong>de</strong>m ser adjuvantes eficazes da terapêutica da<br />

diarreia, mas apenas existe benefício comprovado em estudos<br />

científicos <strong>de</strong> Lactobacillus GG e Saccharomyces boulardii.<br />

Não existe evidência da eficácia para a maioria das preparações,<br />

pelo que apenas está recomendado o uso <strong>de</strong> probióticos<br />

com eficácia provada nas doses apropriadas, como adjuvantes<br />

da re-hidratação oral. Existem poucos estudos <strong>de</strong> metodologia<br />

robusta que avaliem a utilização <strong>de</strong> prebióticos, pelo que o seu<br />

uso não está indicado no tratamento da GEA em crianças.<br />

Segundo a ESPGHAN-ESPID, a suplementação com zinco<br />

não apresenta benefício para crianças europeias com GEA. No<br />

entanto, a SLAGHNP recomenda a administração <strong>de</strong> zinco<br />

como adjuvante eficaz e seguro no tratamento <strong>de</strong> crianças com<br />

GEA (20 mg/dia em maiores <strong>de</strong> seis meses). A sua utilização é<br />

suportada pela Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> nos países em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, mas alguns estudos não <strong>de</strong>monstram benefícios<br />

na população com ida<strong>de</strong> inferior a 6 meses, pelo que a<br />

sua recomendação <strong>de</strong>ve ser criteriosa neste grupo etário (<strong>de</strong><br />

acordo com a experiência do médico). A ESPGHAN-ESPID<br />

não recomenda a utilização <strong>de</strong> ácido fólico, glutamina ou nitazoxani<strong>de</strong><br />

para o tratamento <strong>de</strong> crianças com GEA. Segundo a<br />

SLAGHNP não <strong>de</strong>ve ser usada vitamina A por rotina, mas<br />

po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> acordo com as condições socioeconómicas<br />

e em doentes com <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> vitamina A.<br />

Ambas as socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>saconselham o uso generalizado <strong>de</strong><br />

antimicrobianos ou antiparasitários. Porém, apenas a<br />

ESPGHAN-ESPID faz a revisão das indicações para o uso <strong>de</strong><br />

antimicrobianos no tratamento da GEA. Está recomendada<br />

antibioterapia quando existe suspeita <strong>de</strong> infecção por Shigella<br />

ou quando o exame cultural <strong>de</strong> fezes é positivo. Actualmente,<br />

está indicada terapêutica com cefalosporinas <strong>de</strong> terceira geração,<br />

azitromicina, ácido nalidixico e fluoroquinolonas. Não<br />

<strong>de</strong>vem ser usados antibióticos no tratamento <strong>de</strong> crianças saudáveis<br />

com gastrenterite por Salmonella, visto que po<strong>de</strong>m induzir<br />

o estado <strong>de</strong> portador. Apenas está indicada antibioterapia para<br />

lactentes com ida<strong>de</strong> inferior a três meses, imuno<strong>de</strong>ficiência,<br />

asplenia, sob corticoterapia ou terapêutica imunossupressora,<br />

doença inflamatória intestinal ou acloridria. Na GEA por<br />

Campylobacter está indicada antibioterapia para a forma disentérica<br />

e para diminuir a transmissão em infantários e instituições.<br />

Quando é instituída nos primeiros três dias <strong>de</strong> doença<br />

po<strong>de</strong> reduzir a duração dos sintomas. O tratamento antibiótico<br />

<strong>de</strong> diarreia induzida por Escherichia coli entero-hemorrágica<br />

não interfere significativamente com o curso clínico ou duração<br />

da excreção fecal do patogénio. A antibioterapia para tratamento<br />

da gastrenterite causada por Escherichia coli enterotoxigénica<br />

ou enteropatogénica está associada a diminuição da<br />

duração da diarreia e da excreção fecal do patogénio. A doxiciclina<br />

é a terapêutica <strong>de</strong> eleição da cólera e está associada a redução<br />

significativa da duração da diarreia e eliminação fecal <strong>de</strong><br />

Vibrio cholerae. A diarreia associada a antibioterapia é geralmente<br />

causada pelo Clostridium difficile e ocorre remissão<br />

imediata dos sintomas após a suspensão da terapêutica antibiótica.<br />

No entanto, nos casos <strong>de</strong> doença mo<strong>de</strong>rada a grave o<br />

metronidazole constitui a terapêutica <strong>de</strong> primeira linha, ficando<br />

a vancomicina reservada para as estirpes resistentes.<br />

Na maioria dos casos <strong>de</strong> GEA esporádica o agente <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ante<br />

não é conhecido na apresentação da doença. Po<strong>de</strong>rá ser<br />

consi<strong>de</strong>rada a antibioterapia empírica para o tratamento <strong>de</strong><br />

diarreia invasiva grave, cujas causas mais comuns são<br />

175


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):172-6<br />

Martins S et al. – Análise das recomendações da diarreia<br />

Shigella spp, Campylobacter spp e Salmonella entérica. É<br />

importante o tratamento <strong>de</strong> crianças hospitalizadas e daquelas<br />

que frequentam o infantário para diminuir a transmissão da<br />

Shigella e do Campylobacter. Na diarreia aquosa a antiboterapia<br />

não está recomendada, excepto se o doente viajou recentemente<br />

ou se esteve exposto a cólera. Não <strong>de</strong>vem ser utilizados<br />

antibióticos perante quadros clínicos que cursam com<br />

diarreia sanguinolenta e febre baixa ou sem febre.<br />

Está indicada a utilização <strong>de</strong> antibioterapia parentérica quando a<br />

medicação oral não é tolerada, em lactentes com ida<strong>de</strong> inferior<br />

a três meses e febre, em doentes com imuno<strong>de</strong>ficiência que<br />

apresentam febre, toxemia grave ou suspeita <strong>de</strong> bacteriemia.<br />

Ocasionalmente, os agentes bacterianos entéricos po<strong>de</strong>m<br />

causar infecção extraintestinal, cujo tratamento <strong>de</strong>verá ser<br />

efectuado com antibióticos parentéricos. No entanto, não<br />

existem dados que suportem a eficácia da antibioterapia nestas<br />

crianças.<br />

Cryptosporidium e Giardia constituem os principais parasitas<br />

que cursam com diarreia. Po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada a terapêutica<br />

com nitazoxani<strong>de</strong> para crianças <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> superior a doze<br />

meses com criptosporidiose. Não está recomendado o tratamento<br />

<strong>de</strong> portadores <strong>de</strong> Giardia assintomáticos mas naqueles<br />

com sintomas persistentes po<strong>de</strong>rá ser pon<strong>de</strong>rada a terapêutica<br />

com metronidazole, tinidazole ou nitazoxani<strong>de</strong>.<br />

Apenas a ESPGHAN-ESPID fez a revisão das indicações<br />

para a prevenção. Actualmente, estão disponíveis duas vacinas<br />

anti-rotavírus, mas não existem outras para causas<br />

comuns <strong>de</strong> GEA. Embora exista evidência do efeito benéfico<br />

da prevenção passiva por imunoglobulina ou colostro hiperimune,<br />

o seu uso por rotina não está recomendado. A quimioprofilaxia<br />

po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada em situações específicas<br />

(crianças imunocomprometidas ou para controlo <strong>de</strong> surtos).<br />

Discussão<br />

A GEA permanece uma das causas mais comuns <strong>de</strong> morbimortalida<strong>de</strong><br />

nos países em <strong>de</strong>senvolvimento. A revisão das<br />

orientações publicadas recentemente pela ESPGHAN-ESPID<br />

e pela SLAGHNP <strong>de</strong>monstrou que, embora tenham sido utilizadas<br />

metodologias diferentes, as principais recomendações<br />

para a abordagem da GEA são idênticas na Europa e nos países<br />

em <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

As orientações publicadas pela ESPGHAN-ESPID apresentam<br />

a revisão da epi<strong>de</strong>miologia, factores <strong>de</strong> risco para doença<br />

persistente e/ou grave, avaliação clínica e gravida<strong>de</strong> da<br />

doença, da <strong>de</strong>sidratação, avaliação diagnóstica assim como<br />

dos critérios <strong>de</strong> alta hospitalar. As indicações das duas socieda<strong>de</strong>s<br />

para recurso aos serviços médicos também apresentam<br />

pequenas diferenças, essencialmente relacionadas com os respectivos<br />

contextos socioeconómicos. No entanto, foram adoptados<br />

pelos dois grupos os mesmos critérios <strong>de</strong> internamento.<br />

As principais diferenças em relação às recomendações terapêuticas<br />

referem-se à utilização <strong>de</strong> antieméticos: a SLAGHNP<br />

pon<strong>de</strong>ra o uso <strong>de</strong> ondasentron em doentes <strong>de</strong>sidratados no<br />

Serviço <strong>de</strong> Urgência. A suplementação com zinco parece ter<br />

mais utilida<strong>de</strong> em crianças <strong>de</strong>snutridas e é recomendada pela<br />

SLAGHNP como co-adjuvante da terapêutica em maiores <strong>de</strong><br />

seis meses. Embora ambas as socieda<strong>de</strong>s não recomen<strong>de</strong>m o<br />

uso por rotina <strong>de</strong> antimicrobianos ou antiparasitários, apenas a<br />

ESPGHAN-ESPID faz uma revisão das possíveis indicações <strong>de</strong><br />

antibioterapia no tratamento da GEA assim como da prevenção.<br />

As diferenças presentes nas orientações das duas socieda<strong>de</strong>s<br />

estão relacionadas sobretudo com o método que presidiu à elaboração<br />

dos respectivos documentos e com os diferentes contextos<br />

epi<strong>de</strong>miológicos. O relatório da SLAGHNP baseia-se na<br />

votação dos peritos, pelo que se alicerça mais em experiência<br />

clínica acumulada pelo painel após selecção criteriosa dos estudos<br />

publicados. É pois, compreensível que a importância da<br />

realida<strong>de</strong> epi<strong>de</strong>miológica da região com maior incidência <strong>de</strong><br />

diarreias secretoras e as condições <strong>de</strong> recurso a cuidados médicos<br />

tenham pesado em algumas recomendações. Nas orientações<br />

da SLAGHNP está recomendada intervenção terapêutica<br />

mais precoce, o que po<strong>de</strong>rá estar relacionado com o contexto<br />

socioeconómico e cultural, visto que a população, por vezes,<br />

não tem facilmente acesso aos cuidados médicos. O documento<br />

preparado pela ESPGHAN-ESPID seguiu um método<br />

que incluiu análise <strong>de</strong> todos os estudos diponíveis, por um painel<br />

<strong>de</strong> epi<strong>de</strong>miologistas, com exclusão <strong>de</strong> todos os trabalhos<br />

que não tivessem segura robustez metodológica. O painel <strong>de</strong><br />

peritos só interveio numa fase subsequente. Por esse motivo, o<br />

peso da realida<strong>de</strong> epi<strong>de</strong>miológica regional é menos evi<strong>de</strong>nte.<br />

Conclusão<br />

As principais recomendações para a avaliação clínica e orientação<br />

da GEA são comuns para os países em <strong>de</strong>senvolvimento<br />

e para os países <strong>de</strong>senvolvidos, diferindo em orientações relacionadas<br />

com características físicas, socioeconómicas e culturais<br />

da população alvo.<br />

Referências<br />

1. Guarino A, Albano F, Ashkenazi S, Gendrel D, Hoekstra JH, Shamir R, et<br />

al. European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepatology, and<br />

Nutrition/European Society for Paediatric Infectious Diseases Evi<strong>de</strong>ncebased<br />

Gui<strong>de</strong>lines for the Management of Acute Gastroenteritis in Children<br />

in Europe. J <strong>Ped</strong>iatr Gastroenterol Nutr 2008; 46 Suppl 2: S81-122.<br />

2. Castrellón PG, Allué IP, Lindo ES. Manejo <strong>de</strong> la gastroenteritis aguda<br />

en menores <strong>de</strong> 5 años: un enfoque basado en la evi<strong>de</strong>ncia. An <strong>Ped</strong>iatr<br />

2009; 10: 1-17.<br />

3. World Health Organization. The treatment of diarrhoea, a manual for<br />

physicians and other senior health workers. WHO/FCH/CAH/03.7.<br />

Geneva: World Health Organization, 2005. Acessível em:<br />

http://www.who.int/child_adolescent_health/documents/9241593180<br />

/en/in<strong>de</strong>x.html<br />

176


0873-9781/11/<strong>42</strong>-4/177<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

ACTUALIZAÇÃO<br />

Perturbações psiquiátricas do pós parto: implicações na amamentação<br />

Cassilda Costa, Constança Hipólito Reis<br />

Serviço <strong>de</strong> Psiquiatria, Hospital <strong>de</strong> São João, Porto<br />

Resumo<br />

O período do pós parto é, em regra, um período <strong>de</strong> alegria e<br />

<strong>de</strong> comemoração. Por outro lado, é também, um período <strong>de</strong><br />

marcada vulnerabilida<strong>de</strong> para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> perturbações<br />

psiquiátricas. Estas, são mais comuns do que se imagina,<br />

e muitos casos são ainda subdiagnosticados. A ausência <strong>de</strong><br />

diagnóstico e tratamento a<strong>de</strong>quado das perturbações psiquiátricas<br />

no pós parto tem implicações não apenas na saú<strong>de</strong> da<br />

mulher, mas também na do bebé e no estabelecimento <strong>de</strong> uma<br />

relação sadia entre os dois, indispensável para o crescimento<br />

saudável <strong>de</strong> uma criança.<br />

São os obstetras, os pediatras e os médicos <strong>de</strong> medicina geral<br />

e familiar, a contactar primariamente com estas mulheres e<br />

com os seus bebés, e a estabelecer uma relação terapêutica. O<br />

tratamento é por vezes complexo, e associa-se à necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> toma <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões difíceis. Dever-se-á sempre levar em consi<strong>de</strong>ração<br />

a relação risco/benefício, sendo o bom senso do<br />

médico um aliado importante quanto ao estabelecimento terapêutico<br />

nestes casos. A consulta entre o pediatra, o obstetra e<br />

o psiquiatra é útil e <strong>de</strong>sejável sempre que possível.<br />

A i<strong>de</strong>ntificação precoce <strong>de</strong>stes quadros e a abordagem conjunta<br />

e concertada, permitirá estabelecer um plano <strong>de</strong> tratamento<br />

a<strong>de</strong>quado e individualizado a cada caso, contribuindo<br />

para uma melhoria dos cuidados e do prognóstico, quer para<br />

a mãe, quer para o seu bebé.<br />

Palavras-Chave: Perturbações psiquiátricas, pós parto, diagnóstico,<br />

tratamento, amamentação.<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011;<strong>42</strong>(4):177-81<br />

Postpartum Psychiatric Disor<strong>de</strong>rs: Repercussions<br />

on Breastfeeding<br />

Abstract<br />

In the majority of cases, the post partum is a period of joy and<br />

celebration. However, it’s also a period of great vulnerability to<br />

the <strong>de</strong>velopment of psychiatric disor<strong>de</strong>rs. They are more common<br />

than we imagine and are still being un<strong>de</strong>rdiagnosed. The<br />

absence of correct diagnoses and treatment has implications not<br />

only on the health of the mother but also on the baby and on their<br />

relationship, essential to the healthy <strong>de</strong>velopment of a child.<br />

The first ones to contact to these women and their babies are the<br />

obstetrician, the paediatrician and the general doctors. The treatment<br />

is complex and difficult <strong>de</strong>cisions may be necessary. In<br />

every <strong>de</strong>cision taken it’s important to be aware of the risk and<br />

benefit, being the good sense of the medical doctor an important<br />

allied. The join approach between obstetrician, paediatrician<br />

and psychiatrist is useful and <strong>de</strong>sirable whenever possible.<br />

The early i<strong>de</strong>ntification and multidisciplinary approach, will<br />

allowed the establishment of an individualized therapeutic<br />

plan, un<strong>de</strong>rlying an improvement of care and prognosis, for<br />

the mother and her baby.<br />

Key-words: Psychiatric disor<strong>de</strong>rs, post partum, diagnosis,<br />

treatment, breastfeeding.<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011;<strong>42</strong>(4):177-81<br />

Introdução<br />

O período do pós parto é consi<strong>de</strong>rado como um período <strong>de</strong> alto<br />

risco para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> perturbações psiquiátricas para<br />

todas as mulheres, e em particular, para aquelas com doença<br />

psiquiátrica pré existente. Entre 5% a 20% <strong>de</strong> todas as mulheres<br />

<strong>de</strong>senvolvem uma perturbação <strong>de</strong>pressiva no pós parto nos primeiros<br />

seis meses, e entre 0,1% a 0,2% uma psicose pós parto.<br />

Em mulheres com doença bipolar, o risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>scompensação<br />

no pós parto tem sido estimado entre 40 a 70%. 1,2<br />

As perturbações psiquiátricas associadas ao período do pós<br />

parto têm sido incluídas nos sistemas <strong>de</strong> classificação internacionais.<br />

A CID-10 (Classificação Internacional <strong>de</strong> Doenças, 10ª<br />

Revisão) inclui-as no capítulo das perturbações do comportamento<br />

associadas a perturbações fisiológicas e factores físicos<br />

(F50-F59) e abrange qualquer perturbação com início até à<br />

sexta semana após o parto. Po<strong>de</strong>m ainda ser classificadas como<br />

doenças mentais ou doenças do sistema nervoso central que<br />

compliquem o puerpério (O99.3). 3 No DSM-IV (Manual Diagnóstico<br />

e Estatístico <strong>de</strong> Transtornos Mentais), o especificador<br />

Recebido: 30.07.2009<br />

Aceite: 03.10.2011<br />

Correspondência:<br />

Cassilda Costa<br />

Praça Almeida Garrett, nº282, 6º FQ<br />

4490-436 A-ver-o-Mar, Póvoa <strong>de</strong> Varzim<br />

cassildacosta123@sapo.pt<br />

177


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):177-81<br />

Costa C et al. – Perturbações Psiquiátricas do Pós Parto<br />

“com início no pós parto” foi incluído no capítulo das perturbações<br />

do humor e utiliza-se para caracterizar qualquer episódio<br />

que tenha início até à quarta semana após o parto, sendo usado<br />

também para especificar as perturbações psicóticas breves. 4<br />

Sob o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> apresentação sintomatológica, as perturbações<br />

mentais que ocorrem no pós parto, tanto psicóticas<br />

como <strong>de</strong>pressivas e da ansieda<strong>de</strong>, não se diferenciam daquelas<br />

que não ocorrem no período pós parto. 1<br />

São caracteristicamente classificadas como: tristeza do pós parto<br />

ou maternity blues, <strong>de</strong>pressão pós parto e psicose pós parto.<br />

Maternity Blues<br />

A “tristeza do pós parto”, ou maternity blues, é consi<strong>de</strong>rada a<br />

mais leve e frequente das alterações do humor do pós parto,<br />

ocorrendo em 26% a 85% das mulheres, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo dos critérios<br />

diagnósticos utilizados. 1,2<br />

Tem sido <strong>de</strong>finida por alguns autores como uma síndrome <strong>de</strong><br />

hipersensibilida<strong>de</strong> emocional da mulher. Habitualmente manifesta-se<br />

nos primeiros dias após o nascimento do bebé, atingindo<br />

um pico no quarto ou quinto dia após o parto e <strong>de</strong>saparecendo<br />

por volta do décimo dia. São frequentemente <strong>de</strong>scritos episódios<br />

<strong>de</strong> choro, apesar <strong>de</strong> nem sempre estarem associados a humor<br />

<strong>de</strong>pressivo. A labilida<strong>de</strong> emocional, com alternância <strong>de</strong> sentimentos<br />

<strong>de</strong> alegria, irritabilida<strong>de</strong> e tristeza ao longo <strong>de</strong> um mesmo<br />

dia, é também frequente bem como os sintomas <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> e<br />

alterações cognitivas, como as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atenção, concentração<br />

e memorização. Os sintomas <strong>de</strong> elação do humor po<strong>de</strong>m<br />

ser intensos, próximos <strong>de</strong> um quadro hipomaníaco. Estes<br />

sintomas po<strong>de</strong>rão estar relacionados com as alterações hormonais<br />

que ocorrem neste período, provavelmente como resposta<br />

anormal às variações normais das hormonas da tirói<strong>de</strong>, do eixo<br />

hipotalamo-pituitário-adrenal e da cascata serotoninérgica. 1<br />

Em regra, estes quadros, não necessitam <strong>de</strong> intervenção farmacológica,<br />

sendo a abordagem feita no sentido <strong>de</strong> manter o<br />

suporte emocional, a compreensão e o auxílio à mãe nos cuidados<br />

ao bebé. 2<br />

A maior parte das situações resolve entre o décimo segundo e<br />

o décimo quinto dia sem <strong>de</strong>ixar sequelas, no entanto, em cerca<br />

<strong>de</strong> 20% dos casos, po<strong>de</strong> evoluir para um quadro <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão<br />

pós parto. A persistência dos sintomas po<strong>de</strong>rá ser um indício<br />

do início <strong>de</strong> uma perturbação do humor mais grave, pelo que<br />

a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> factores <strong>de</strong> risco associados, como a presença<br />

<strong>de</strong> antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> disforia durante a gravi<strong>de</strong>z, a existência<br />

<strong>de</strong> episódios <strong>de</strong>pressivos anteriores, neuroticismo e<br />

<strong>de</strong>pressão pré menstrual, po<strong>de</strong>m auxiliar o diagnóstico <strong>de</strong><br />

modo a ser efectuado o mais precocemente possível, minorando<br />

o impacto na mãe, no bebé e no meio familiar. 1,2<br />

Em 50% dos casos a <strong>de</strong>pressão pós parto tem início na primeira<br />

semana após o parto, no entanto, em cerca <strong>de</strong> 80% dos<br />

casos o diagnóstico é apenas efectuado entre o terceiro e o<br />

nono mês após o parto. 5 O risco estimado <strong>de</strong> recaída no pós<br />

parto, em mulheres com antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão major, é<br />

<strong>de</strong> aproximadamente 25%. 6<br />

Como factores <strong>de</strong> risco, têm sido i<strong>de</strong>ntificados, ida<strong>de</strong> inferior<br />

a 16 anos, antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> perturbação psiquiátrica, gravi<strong>de</strong>z<br />

não planeada, situação <strong>de</strong> perda ou luto, conflitos conjugais,<br />

companheiro abandónico, ser solteira ou divorciada, estar<br />

<strong>de</strong>sempregada e apresentar fraco suporte social. Antece<strong>de</strong>ntes<br />

<strong>de</strong> diagnóstico <strong>de</strong> perturbação disfórica pré-menstrual, presença<br />

<strong>de</strong> sintomas <strong>de</strong>pressivos no segundo ou quarto dia do<br />

pós parto e história <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> aumentada ao uso <strong>de</strong> anticonceptivos<br />

orais têm sido i<strong>de</strong>ntificados como factores <strong>de</strong><br />

vulnerabilida<strong>de</strong> a perturbações do humor no pós parto. 2<br />

A etiologia da <strong>de</strong>pressão puerperal ainda não está completamente<br />

estabelecida, mas acredita-se que, além dos factores <strong>de</strong><br />

risco i<strong>de</strong>ntificados, factores hormonais e hereditários também<br />

possam estar envolvidos. Durante a gravi<strong>de</strong>z, os níveis <strong>de</strong> estrogéneo<br />

e <strong>de</strong> progesterona são superiores aos encontrados nas<br />

mulheres fora do período gestacional po<strong>de</strong>ndo ser este, o factor<br />

envolvido nas alterações do humor que ocorrem nesta fase. 2<br />

A perturbação <strong>de</strong>pressiva no pós parto apresenta o mesmo quadro<br />

clínico característico da <strong>de</strong>pressão noutro momento <strong>de</strong> vida<br />

da mulher, com especificida<strong>de</strong>s relativas à maternida<strong>de</strong> em si e<br />

ao <strong>de</strong>sempenho do papel <strong>de</strong> mãe. A presença <strong>de</strong> sentimentos<br />

negativos, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinteresse pelo bebé e <strong>de</strong> culpabilida<strong>de</strong> por não<br />

conseguir cuidar <strong>de</strong>le são frequentes, resultando no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

insatisfatório da interacção mãe-bebé. O afastamento ou<br />

separação da criança, pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que seja cuidada por<br />

outrem, po<strong>de</strong> dificultar ainda mais o estabelecimento <strong>de</strong> vínculos<br />

afectivos e fortalecer a sensação <strong>de</strong> ina<strong>de</strong>quação materna. 1<br />

Algumas particularida<strong>de</strong>s clínicas têm sido <strong>de</strong>scritas na<br />

<strong>de</strong>pressão pós parto. Apresenta com frequência, curso flutuante,<br />

maior instabilida<strong>de</strong> do humor e sintomas intensos <strong>de</strong><br />

ansieda<strong>de</strong>, incluindo ataques <strong>de</strong> pânico. Estudos efectuados<br />

sobre pensamentos obsessivos em mulheres <strong>de</strong>primidas têm<br />

i<strong>de</strong>ntificado mais pensamentos <strong>de</strong> agressivida<strong>de</strong> contra os<br />

filhos em mulheres com <strong>de</strong>pressão pós parto comparativamente<br />

com mulheres <strong>de</strong>primidas fora do período pós parto,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da gravida<strong>de</strong> do quadro. 1,2<br />

Sintomas neurovegetativos, como insónia e perda <strong>de</strong> apetite,<br />

são também frequentemente <strong>de</strong>scritos. No entanto, alguns sintomas<br />

somáticos po<strong>de</strong>m ser confundidos com situações normais<br />

<strong>de</strong>ste período. Assim, sintomas como hipersónia, aumento<br />

do apetite, fatigabilida<strong>de</strong> fácil, diminuição do <strong>de</strong>sejo sexual e<br />

queixas <strong>de</strong> dor e <strong>de</strong>sconforto em diferentes sistemas são <strong>de</strong><br />

pouca utilida<strong>de</strong> para o diagnóstico <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão nesta fase.<br />

Depressão Pós Parto<br />

A ocorrência <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão no pós parto tem sido estimada<br />

entre 10% a 15% em países <strong>de</strong>senvolvidos oci<strong>de</strong>ntais. Apesar<br />

<strong>de</strong> a maioria dos casos resolver espontaneamente em três a seis<br />

meses, o tratamento <strong>de</strong>verá ser preconizado <strong>de</strong> modo a abreviar<br />

o sofrimento materno e a minimizar o impacto familiar. 1<br />

Psicose Pós Parto<br />

Os quadros <strong>de</strong> psicose pós parto ocorrem raramente (estimase<br />

um caso em quinhentos a mil nascimentos) e têm início nos<br />

primeiros dias após o parto. Po<strong>de</strong>m apresentar-se como episódios<br />

<strong>de</strong>pressivos ou maníacos com sintomas psicóticos, recorrentes<br />

ou não, e como episódios psicóticos transitórios. Têm,<br />

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<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):177-81<br />

Costa C et al. – Perturbações Psiquiátricas do Pós Parto<br />

habitualmente, início abrupto, verificando-se que em dois terços<br />

das mulheres com psicose puerperal, o início da sintomatologia<br />

ocorre nas primeiras duas semanas após o parto. 1,2<br />

O quadro clínico po<strong>de</strong> englobar labilida<strong>de</strong> emocional, <strong>de</strong>spersonalização,<br />

confusão mental, <strong>de</strong>sorientação, agitação, comportamento<br />

bizarro, alterações graves do sono, activida<strong>de</strong> <strong>de</strong>lirante<br />

e alucinatória e estado confusional que parece ser peculiar<br />

nestes casos. Não está estabelecida nenhuma apresentação<br />

típica, no entanto, estas mulheres costumam apresentar comportamentos<br />

<strong>de</strong>sorganizados e activida<strong>de</strong> <strong>de</strong>lirante que envolve<br />

os seus filhos, com pensamentos <strong>de</strong> agressão à criança. Apesar<br />

<strong>de</strong> o suicídio ser raro no período puerperal, a sua incidência em<br />

doentes com perturbações psicóticas neste período é alta, sendo<br />

necessário muitas vezes o internamento hospitalar. Sintomas<br />

<strong>de</strong>pressivos, mais do que maníacos, têm sido associados aos<br />

quadros em que ocorrem suicídio ou infanticídio. O risco <strong>de</strong><br />

infanticídio nestes casos é elevado e está geralmente associado<br />

a activida<strong>de</strong> alucinatório auditivo verbal <strong>de</strong> comando, com referência<br />

na literatura à ocorrência <strong>de</strong> um infanticídio por cada<br />

cinquenta mil casos <strong>de</strong> psicose pós parto. 1,2<br />

Têm sido i<strong>de</strong>ntificados como factores <strong>de</strong> risco para psicose no<br />

pós parto a existência <strong>de</strong> antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> manifestações <strong>de</strong><br />

perturbações <strong>de</strong> humor, nomeadamente, <strong>de</strong>pressão, bem como,<br />

a presença <strong>de</strong> sintomas <strong>de</strong>pressivos na gravi<strong>de</strong>z e antece<strong>de</strong>ntes<br />

familiares <strong>de</strong> perturbações do humor e da ansieda<strong>de</strong>. Os dados<br />

da literatura têm sido consistentes em i<strong>de</strong>ntificar risco aumentado<br />

<strong>de</strong> psicose puerperal em mulheres com perturbação afectiva<br />

bipolar (260/1000) quando comparadas com mulheres<br />

saudáveis que apresentam um a dois casos <strong>de</strong> psicose pós parto<br />

em cada mil puerperas. O risco <strong>de</strong> recorrência <strong>de</strong> psicose a<br />

cada parto subsequente tem sido estimado entre 30% a 50%. A<br />

perturbação bipolar é das perturbações psiquiátricas que<br />

melhor tem sido associada a psicose pós parto. Alguns investigadores<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que a psicose pós-parto é uma variante da<br />

perturbação bipolar, sugerindo que a psicose pós parto possa<br />

ser uma forma <strong>de</strong> apresentação da perturbação bipolar. 1,2,7<br />

Outros factores <strong>de</strong> risco psicossociais evi<strong>de</strong>nciados, incluem,<br />

eventos adversos durante a gravi<strong>de</strong>z e o parto, ausência <strong>de</strong><br />

suporte social e/ou familiar, relacionamento conjugal <strong>de</strong>ficiente<br />

ou tempestuoso, ausência <strong>de</strong> parceiro, gravi<strong>de</strong>z in<strong>de</strong>sejada,<br />

relacionamento parental conturbado na infância, dificulda<strong>de</strong>s<br />

no <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> papeis maternos por falta <strong>de</strong> experiência<br />

prévia ou por experiências interpessoais negativas com a própria<br />

mãe, instabilida<strong>de</strong> financeira ou ocupacional, entre outros. 1<br />

Tratamento<br />

A primeira linha <strong>de</strong> tratamento das perturbações do humor no<br />

pós parto é a prevenção. Intervenções antes do parto e no pós<br />

parto imediato, reduzem o número <strong>de</strong> mulheres em risco <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolverem perturbações do humor neste período.<br />

Nos estudos efectuados em relação ao uso <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> tratamento<br />

psicofarmacológico, psicossocial, psicoterápico, tratamentos<br />

hormonais e electroconvulsivoterapia, no tratamento<br />

das perturbações psiquiátricas no pós parto, as intervenções<br />

psicossociais e hormonais têm-se mostrado pouco eficientes.<br />

No entanto, resultados <strong>de</strong> estudos focados sobre a psicoterapia<br />

interpessoal, estratégias cognitivos comportamentais e intervenções<br />

farmacológicas têm-se mostrado eficazes. 2<br />

Psicoterapia<br />

De entres as abordagens psicoterápicas estudadas na redução da<br />

sintomatologia em mulheres no pós parto, verificaram-se duas<br />

modalida<strong>de</strong>s como mais efectivas: a psicoterapia interpessoal,<br />

que foca o seu trabalho nos sintomas <strong>de</strong>pressivos da doente e no<br />

seu relacionamento com o mundo, e a terapia cognitivo comportamental<br />

que tem como objectivo ajudar a doente a solucionar os<br />

seus comportamentos e cognições disfuncionais através da<br />

aprendizagem e da reestruturação cognitiva. No caso <strong>de</strong> mulheres<br />

que apresentam <strong>de</strong>pressão pós parto, é extremamente comum<br />

apresentarem pensamentos e sentimentos relacionados a questões<br />

referentes aos cuidados do bebé e à sua situação actual. A<br />

actuação da terapia cognitiva comportamental visa avaliar e reestruturar<br />

tais cognições que se reflectem no seu comportamento. 2<br />

Tratamento Psicofarmacológico<br />

A literatura tem sido consistente em constatar que as mulheres<br />

em tratamento farmacológico <strong>de</strong> doenças crónicas (epilepsia)<br />

iniciam a amamentação menos frequentemente do que as<br />

mulheres da população em geral, e quando a iniciam, interrompem<br />

a amamentação mais precocemente.<br />

As directrizes existentes referem que a interrupção da amamentação<br />

durante o uso <strong>de</strong> medicamentos só <strong>de</strong>verá justificarse<br />

quando o fármaco em questão for contra-indicado nesse<br />

período. Mas, geralmente, são <strong>de</strong>scritos outros factores utilizados<br />

para a interrupção da amamentação na vigência do uso<br />

<strong>de</strong> medicamentos pela mãe. De entre os mais frequentemente<br />

enumerados <strong>de</strong>staca-se: o <strong>de</strong>sconhecimento dos profissionais<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> sobre o tema, as informações não i<strong>de</strong>ntificadas em<br />

bulas <strong>de</strong> medicamentos, a escassez <strong>de</strong> informações na literatura<br />

sobre a segurança do fármaco na amamentação e o receio<br />

materno <strong>de</strong> usar medicamentos neste período.<br />

Os estudos existentes que procuram <strong>de</strong>terminar a segurança dos<br />

medicamentos para uso durante a amamentação são realizados<br />

com pequenas séries <strong>de</strong> casos ou relatos <strong>de</strong> casos individuais,<br />

dificultando a generalização dos resultados. Com o que se sabe<br />

actualmente sobre os riscos para o recém-nascido da exposição<br />

aos psicofármacos através do leite materno, médicos e doentes,<br />

frequentemente optam pela suspensão da amamentação. A boa<br />

prática diz-nos que esta <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>ve ser sempre efectuada após<br />

avaliação em termos <strong>de</strong> risco benefício (diminuição da autoestima,<br />

autoconfiança materna, prejuízo potencial para a día<strong>de</strong><br />

mãe-filho). Felizmente, dados sobre o uso <strong>de</strong> psicotrópicos em<br />

mulheres que amamentam estão a aumentar a confiança na sua<br />

prescrição. 8 A <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> instituir terapêutica com psicofármacos<br />

à mulher que está a amamentar <strong>de</strong>verá ser discutida com a<br />

mesma, com o companheiro e com o pediatra (para facilitar a<br />

monitorização <strong>de</strong> toxicida<strong>de</strong> no recém-nascido).<br />

A passagem dos psicofármacos para o leite materno <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vários factores, nomeadamente, o peso molecular, a lipossolubilida<strong>de</strong>,<br />

a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ligação às proteínas, o grau <strong>de</strong><br />

ionização, a semi-vida <strong>de</strong> eliminação, a biodisponibilida<strong>de</strong> e a<br />

concentração plasmática materna. Quase todos os psicofármacos<br />

são excretados no leite materno, pois são moléculas<br />

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<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):177-81<br />

Costa C et al. – Perturbações Psiquiátricas do Pós Parto<br />

pequenas e lipossolúveis. A quantida<strong>de</strong> do fármaco que passa,<br />

via leite, para o bebé é usualmente pequena (10% do nível<br />

plasmático materno), po<strong>de</strong>ndo a exposição do bebé ser minimizada.<br />

Os psicofármacos são mais concentrados no leite sete<br />

a <strong>de</strong>z horas após a toma materna, pelo que, <strong>de</strong>sperdiçando-se<br />

essa porção minimiza-se a exposição. 9<br />

Hale (2002) <strong>de</strong>senvolveu um sistema <strong>de</strong> graus <strong>de</strong> segurança<br />

<strong>de</strong> fármacos durante a amamentação. Os <strong>de</strong> nível um (L1) são<br />

os mais seguros, enquanto os <strong>de</strong> nível cinco (L5) estão contraindicados.<br />

Os níveis dois (L2), três (L3) e quatro (L4) são<br />

consi<strong>de</strong>rados, respectivamente, seguros, mo<strong>de</strong>radamente<br />

seguros e possivelmente perigosos. 10<br />

Anti<strong>de</strong>pressivos<br />

Actualmente muitos anti<strong>de</strong>pressivos estão a ser estudados em<br />

relação ao seu uso durante a amamentação, tendo os SSRIs<br />

(Selective Serotonin Reuptake Inhibitors) sido i<strong>de</strong>ntificados como<br />

aqueles encontrados em menor concentração no leite materno.<br />

Os SSRIs são excretados no leite materno em quantida<strong>de</strong>s<br />

mínimas e são consi<strong>de</strong>rados seguros durante a amamentação. A<br />

maioria dos estudos relatam concentrações inferiores a 10% da<br />

dose terapêutica materna em crianças amamentadas por mães<br />

medicadas com fluoxetina, não tendo esta quantida<strong>de</strong> sido<br />

associada a efeitos adversos. 2,11 Porém, existem estudos que<br />

encontraram doses séricas elevadas, alertando para o potencial<br />

teórico <strong>de</strong> acumulação do fármaco, aten<strong>de</strong>ndo à sua semi-vida<br />

longa. Neste estudo, foram relatados efeitos colaterais como<br />

cólica, irritabilida<strong>de</strong>, diarreia, vómitos e diminuição do sono. 11<br />

De entre os SSRIs, a sertralina e a paroxetina parecem ser as<br />

melhores alternativas na amamentação. 2 Em relação à sertralina,<br />

os achados indicam níveis muito baixos <strong>de</strong>sta e do seu metabólito,<br />

a <strong>de</strong>smetilsertralina, no sangue do lactente. Nenhum efeito<br />

adverso na criança foi relatado, sendo as evidências actuais<br />

favoráveis ao uso <strong>de</strong> sertralina, <strong>de</strong>vido à sua baixa concentração<br />

no leite materno. Os horários <strong>de</strong> amamentação po<strong>de</strong>m ainda, ser<br />

adaptados para minimizar a exposição do lactente ao fármaco. O<br />

uso <strong>de</strong> citalopram na amamentação foi avaliado num estudo<br />

prospectivo em que não foram evi<strong>de</strong>nciadas complicações. A<br />

concentração do metabólito do citalopram foi duas a três vezes<br />

superior no leite materno, mas a concentração plasmática no lactente<br />

foi muito baixa ou in<strong>de</strong>tectável. 12<br />

Têm também sido consi<strong>de</strong>rados seguros (<strong>de</strong> baixo risco) a sulpirida,<br />

a maioria dos tricíclicos, o triptofano e a moclebemida.<br />

Os tricíclicos não têm sido <strong>de</strong>tectados em doses altas no soro <strong>de</strong><br />

lactentes <strong>de</strong> mães que usam amitriptilina, nortriptilina e clomipramina.<br />

Poucos casos foram relatados <strong>de</strong> lactentes expostos a<br />

estes fármacos, mas nenhum efeito colateral foi <strong>de</strong>tectado. Em<br />

relação aos novos anti<strong>de</strong>pressivos ainda existem poucos estudos<br />

para que possam ser utilizados com segurança. 2<br />

Estabilizadores <strong>de</strong> Humor<br />

Quanto ao uso <strong>de</strong> lítio durante a amamentação, a maioria dos<br />

médicos segue as recomendações da “American Aca<strong>de</strong>my of<br />

<strong>Ped</strong>iatrics Commitee on Drugs” que contra-indica a amamentação.<br />

Esta postura é <strong>de</strong>corrente da diminuição do clearance renal<br />

até ao quinto mês <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e ao facto <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 40% da concentração<br />

sérica do lítio materno passar para o leite. A amamentação<br />

em vigência do uso <strong>de</strong> lítio po<strong>de</strong> facilitar disfunção da tirói<strong>de</strong>,<br />

cianose, flaci<strong>de</strong>z e alterações no electrocardiograma do bebé. 12,13<br />

Não existem evidências <strong>de</strong> que a carbamazepina cause malefício<br />

durante a amamentação, apesar <strong>de</strong> passar para o leite materno<br />

em baixa dose. Estão <strong>de</strong>scritos dois relatos <strong>de</strong> caso on<strong>de</strong> os lactentes<br />

<strong>de</strong>senvolveram hepatite colestática, hiperbilirrubinémia e<br />

aumento da gama glutamiltranspeptídase. Estas alterações foram<br />

transitórias e cessaram com a interrupção da amamentação.<br />

Acompanhada <strong>de</strong> monitorização do lactente, a carbamazepina<br />

po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada um anticonvulsivante <strong>de</strong> escolha para uso<br />

durante a amamentação. O uso <strong>de</strong> valproato <strong>de</strong> sódio durante a<br />

amamentação é também permitido pela “American Aca<strong>de</strong>my of<br />

<strong>Ped</strong>iatrics”. É excretado em baixa concentração no leite materno<br />

e não parece causar prejuízo ao bebé. 12,13<br />

Não existe literatura suficiente e bem <strong>de</strong>finida sobre a exposição<br />

dos lactentes à gabapentina e ao topiramato, o que preconiza<br />

cuidados sobre a sua utilização durante a amamentação.<br />

Benzodiazepinas<br />

Os estudos com benzodiazepinas na amamentação são escassos.<br />

Para evitar os riscos potenciais, <strong>de</strong>vem ser utilizadas,<br />

aquelas com registos <strong>de</strong> segurança mais consistentes e longos,<br />

<strong>de</strong>vendo ser prescritas em monoterapia, na dose efectiva mais<br />

baixa e pela mínima duração possível. O seu uso durante a<br />

amamentação po<strong>de</strong> conduzir a apneia, cianose, hipotonia e<br />

<strong>de</strong>pressão do sistema nervoso central.<br />

Antipsicóticos<br />

Poucos relatos <strong>de</strong> caso estão disponíveis para assegurar o uso<br />

<strong>de</strong> antipsicóticos pela mãe enquanto amamenta. Há relatos <strong>de</strong><br />

casos com o uso <strong>de</strong> cloropromazina na amamentação que<br />

encontraram baixos níveis no leite, estando <strong>de</strong>scritos casos <strong>de</strong><br />

letargia, sugerindo-se a monitorização dos efeitos colaterais<br />

em lactentes expostos.<br />

Existem, também, poucos estudos sobre o uso do haloperidol na<br />

amamentação e sobre a sua excreção no leite materno. Há relatos<br />

<strong>de</strong> caso em que as crianças não tiveram efeitos adversos. 14<br />

Os antipsicóticos <strong>de</strong> última geração têm ainda poucos estudos,<br />

não <strong>de</strong>vendo ser utilizados pela mãe que está a amamentar.<br />

A clozapina está presente em altas concentrações no leite<br />

materno <strong>de</strong>vido às suas proprieda<strong>de</strong>s lipofílicas. A amamentação<br />

<strong>de</strong>verá ser <strong>de</strong>sencorajada durante o seu uso, estando associada<br />

a sedação, dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sucção, irritabilida<strong>de</strong>, convulsões<br />

e instabilida<strong>de</strong> cardiovascular. O uso da olanzapina e<br />

da risperidona <strong>de</strong>ve, também, ser <strong>de</strong>sencorajada durante a<br />

amamentação. Em relação à quetiapina não existem dados<br />

suficientes sobre o seu uso neste período. 2,15<br />

Regras Gerais <strong>de</strong> Uso <strong>de</strong> Psicofármacos<br />

na Amamentação:<br />

• Avaliar a necessida<strong>de</strong> da farmacoterapia. A consulta entre<br />

o pediatra, o obstetra e o psiquiatra é muito útil e <strong>de</strong>sejável<br />

sempre que possível. O fármaco prescrito <strong>de</strong>ve ter um<br />

benefício reconhecido para a condição para o qual está<br />

indicado.<br />

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<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):177-81<br />

Costa C et al. – Perturbações Psiquiátricas do Pós Parto<br />

• Dever-se-à preferir um fármaco já estudado, seguro para a<br />

criança e pouco excretado no leite materno.<br />

• Evitar fármacos <strong>de</strong> acção prolongada pela maior dificulda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> excreção pelo lactente.<br />

• Programar o horário <strong>de</strong> administração do fármaco à mãe <strong>de</strong><br />

modo a evitar que o pico do medicamento no sangue e no<br />

leite materno coincida com o horário <strong>de</strong> amamentação. Em<br />

geral, a exposição da criança ao fármaco po<strong>de</strong> ser diminuída,<br />

prescrevendo-o para a mãe imediatamente antes ou<br />

logo após a mamada. Outra opção é ministrar o medicamento<br />

antes do maior período <strong>de</strong> sono da criança.<br />

• Escolher medicamentos que alcancem níveis mínimos no<br />

leite. A sertralina e a paroxetina possuem níveis bem mais<br />

baixos do que a fluoxetina.<br />

• Sempre que possível, dosear o fármaco na corrente sanguínea<br />

do lactente se houver risco para a criança, como nos<br />

tratamentos maternos prolongados.<br />

• Preferir a monoterapia, evitando associações.<br />

• Orientar a mãe para observar a criança em relação aos possíveis<br />

efeitos colaterais, tais como alterações do padrão alimentar,<br />

hábitos do sono, agitação, tonus muscular, perturbações<br />

gastrointestinais.<br />

Conclusão<br />

As perturbações psiquiátricas no pós parto são comuns e frequentemente<br />

subdiagnosticadas. Têm impacto não apenas na<br />

saú<strong>de</strong> da mãe, mas também na saú<strong>de</strong> do bebé. Costumam acometer<br />

doentes com antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> perturbação psiquiátrica,<br />

logo, uma boa medida <strong>de</strong> prevenção é o diagnóstico precoce<br />

e o tratamento a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong>stes episódios. Elas são tratáveis,<br />

<strong>de</strong>vendo ser reduzido o sofrimento das doentes e minimizado<br />

o impacto sobre o bebé e os outros membros da família.<br />

Face à dinâmica do conhecimento e do surgimento <strong>de</strong> novos<br />

fármacos, as informações necessitam ser actualizadas constantemente<br />

para proporcionar maior segurança ao psiquiatra, obstetra<br />

e pediatra. Existe uma necessida<strong>de</strong> urgente para uma maior<br />

investigação nesta área <strong>de</strong> modo a fornecer informação em relação<br />

ao uso dos psicofármacos na amamentação. Apesar dos<br />

estudos recentes documentarem a relativa segurança <strong>de</strong>stes fármacos,<br />

mantêm-se níveis elevados <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> entre doentes e<br />

médicos em relação à sua segurança em mulheres que amamentam.<br />

O conhecimento farmacológico permitirá ao profissional<br />

propiciar um tratamento a<strong>de</strong>quado à mãe, além <strong>de</strong> contribuir<br />

para a manutenção da amamentação permitindo compatibilizar<br />

o tratamento farmacológico com a amamentação.<br />

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0873-9781/11/<strong>42</strong>-4/182<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

IMAGENS EM PEDIATRIA<br />

Ingestão <strong>de</strong> ibuprofeno pela primeira vez<br />

Vera Rodrigues, João Farela Neves, Maria João Rocha Brito<br />

Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Infecciologia, Área <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria Médica, Hospital <strong>de</strong> Dona Estefânia – Centro Hospital <strong>de</strong> Lisboa Central, Lisboa<br />

Figura 1 – Síndrome <strong>de</strong> Stevens-Johnson: criança com erosões da<br />

mucosa oral, estomatite, e<strong>de</strong>ma e eritema dos lábios e lesões <strong>de</strong> necrose<br />

Descrevemos o caso <strong>de</strong> uma criança <strong>de</strong> três anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>,<br />

previamente saudável, internada por febre alta, exantema<br />

papulovesicular generalizado com predomínio no tronco,<br />

dorso e face, acompanhado <strong>de</strong> e<strong>de</strong>ma palpebral, fotofobia,<br />

hiperémia conjuntival com exsudado e sem lesões da córnea.<br />

Apresentava ainda enantema, erosões da mucosa oral, e<strong>de</strong>ma<br />

e eritema dos lábios e períneo e balanite. Posteriormente<br />

houve coalescência das lesões cutâneas e evolução para<br />

necrose e <strong>de</strong>scamação (Figuras 1 e 2). Duas semanas antes<br />

tinha sido medicado com ibuprofeno pela primeira vez e na<br />

Figura 2 – Síndrome <strong>de</strong> Stevens-Johnson : criança com coalescência<br />

das lesões cutâneas com evolução para <strong>de</strong>scamação<br />

admissão hospitalar foi efectuada segunda administração do<br />

fármaco com agravamento das lesões nos primeiros dias <strong>de</strong><br />

internamento. Foi diagnosticado síndrome <strong>de</strong> Stevens-<br />

Johnson. Esta é uma doença rara que ocorre na sequência <strong>de</strong><br />

uma reacção <strong>de</strong> hipersensibilida<strong>de</strong> mediada por imunocomplexos.<br />

1-3 Po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada por agentes infecciosos, mas<br />

na maior parte dos casos o factor <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ante é a exposição<br />

a fármacos. 1,2,4 O diagnóstico é clínico e em caso <strong>de</strong> dúvida<br />

apoiado pela histologia. 2,3 A ingestão <strong>de</strong> ibuprofeno pela primeira<br />

vez com agravamento após a reexposição ao fármaco<br />

Recebido: 24.09.2011<br />

Aceite: 10.10.2011<br />

Correspondência:<br />

Vera Rodrigues<br />

veralarodrigues@gmail.com<br />

182


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):182-3<br />

Rodrigues V et al. – Ingestão <strong>de</strong> ibuprofeno<br />

leva-nos a suspeitar ser esta a etiologia mais provável. Foi<br />

interrompida a administração <strong>de</strong> ibuprofeno e realizada terapêutica<br />

<strong>de</strong> suporte com melhoria clínica progressiva.<br />

Palavras-chave: Síndrome <strong>de</strong> Stevens-Johnson, ibuprofeno<br />

Referências<br />

1. Levi N, Bastuji-Garin S, Mockenhaupt M, Roujeau JC, Flahault A,<br />

Kelly JP et al. Medications as risk factors of Stevens-Johnson syndrome<br />

and toxic epi<strong>de</strong>rmal necrolysis in children: a pooled analysis.<br />

<strong>Ped</strong>iatrics 2009;123:e297-304.<br />

2. Harr T, French LE. Toxic epi<strong>de</strong>rmal necrolysis and Stevens-Johnson<br />

syndrome. Orphanet J Rare Dis 2010;5:39.<br />

3. Torres MJ, Mayorga C, Blanca M. Nonimmediate allergic reactions<br />

induced by drugs: pathogenesis and diagnostic tests. J Investig Allergol<br />

Clin Immunol 2009;19:80-90.<br />

4. French LE. Toxic epi<strong>de</strong>rmal necrolysis and Stevens Johnson syndrome:<br />

our current un<strong>de</strong>rstanding. Allergol Int 2006;55:9-16.<br />

183


0873-9781/11/<strong>42</strong>-4/184<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

SOCIEDADE PORTUGUESA DE PEDIATRIA<br />

CONSENSOS E RECOMENDAÇÕES<br />

Roncopatia – Recomendações <strong>de</strong> Abordagem<br />

Rosário Ferreira 1 , Maria Helena Estevão 2<br />

Em representação da Secção <strong>de</strong> Pneumologia <strong>Ped</strong>iátrica da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

1- Centro <strong>Ped</strong>iátrico <strong>de</strong> Estudos da Função Respiratória, Sono e Ventilação, Departamento da Criança e da Família, Hospital <strong>de</strong><br />

Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte<br />

2- Laboratório <strong>de</strong> Sono e Ventilação, Hospital <strong>Ped</strong>iátrico <strong>de</strong> Coimbra, Centro Hospitalar <strong>de</strong> Coimbra<br />

Introdução<br />

O ressonar é o sintoma mais comum da perturbação respiratória<br />

do sono (PRS) e consiste num ruído inspiratório produzido<br />

pela vibração dos tecidos moles da orofaringe, que<br />

ocorre quando se preten<strong>de</strong> respirar contra um aumento da<br />

resistência das vias aéreas durante o sono 1,2 . A obstrução da<br />

naso e da orofaringe, condicionada habitualmente pela hipertrofia<br />

a<strong>de</strong>noamigdalina, e a hipotonia dos músculos da via<br />

aérea superior que ocorrem durante o sono são os dois mecanismos<br />

básicos na génese <strong>de</strong>ste ruído. As malformações craniofaciais,<br />

as doenças neuromusculares, a obesida<strong>de</strong>, a laringomalácia<br />

e o refluxo gastroesofágico são os factores <strong>de</strong> risco<br />

mais frequentemente relacionados com esta patologia 3 .<br />

Epi<strong>de</strong>miologia<br />

A roncopatia tem uma prevalência <strong>de</strong> 3 a 12% em ida<strong>de</strong> pediátrica<br />

e frequentemente não é valorizada pelos pais, pelo que<br />

<strong>de</strong>ve ser activamente pesquisada nas consultas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> infantil<br />

4 . Ocorre mais frequentemente na ida<strong>de</strong> pré-escolar e escolar,<br />

altura em que se regista o maior crescimento <strong>de</strong> a<strong>de</strong>nói<strong>de</strong>s<br />

e amígdalas - a causa mais frequente <strong>de</strong> obstrução da via aérea<br />

superior. No final da infância torna-se menos frequente<br />

<strong>de</strong>vido ao crescimento das vias aéreas e da estrutura óssea; no<br />

entanto, ultimamente esta diminuição da prevalência com a<br />

ida<strong>de</strong> não é tão notória, o que está relacionado com o aumento<br />

da obesida<strong>de</strong> que constitui um risco acrescido para a roncopatia<br />

também na criança.<br />

Clínica<br />

A PRS apresenta um espectro clínico que se esten<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

ressonar primário (RP) num extremo, passando pela síndrome<br />

<strong>de</strong> resistência das vias aéreas superiores (SRVAS) e hipoventilação<br />

obstrutiva (HO), até à apneia obstrutiva do sono<br />

(AOS) no outro extremo (Figura 1).<br />

RP SRVAS SHO SAOS<br />

RP – ressonar primário; SRVAS – síndrome <strong>de</strong> resistência das vias aéreas superiores;<br />

SHO – síndrome <strong>de</strong> hipoventilação obstrutiva; SAOS – síndrome apneia obstrutiva do sono<br />

Figura 1 – Perturbação respiratória do sono<br />

O RP é uma situação em que não se registam apneias, hipopneias<br />

ou <strong>de</strong>ssaturação. Inicialmente consi<strong>de</strong>rada uma situação<br />

benigna tem vindo actualmente a ser mais valorizada, aten<strong>de</strong>ndo<br />

a que alterações subtis da microestrutura do sono têm<br />

sido responsabilizadas por alterações comportamentais 5 . Na<br />

SRVAS, anomalias respiratórias durante o sono, como um<br />

aumento do esforço respiratório, <strong>de</strong>terminam a ocorrência <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>spertares e <strong>de</strong> sintomas diurnos, como sonolência ou hiperactivida<strong>de</strong>,<br />

por sua vez associados a perturbações do neuro<strong>de</strong>senvolvimento<br />

2 . A hipoventilação obstrutiva caracteriza-se por uma<br />

obstrução parcial do fluxo <strong>de</strong> ar, que po<strong>de</strong> estar associada a elevação<br />

do CO 2 sérico. Na AOS existem apneias, hipopneias,<br />

alterações da SpO 2 e perturbação do sono, com <strong>de</strong>spertares frequentes<br />

3 . Objectivamente, as crianças po<strong>de</strong>m apresentar sudorese<br />

excessiva, agitação, posturas bizarras como hiperextensão<br />

do pescoço, esforço respiratório (por vezes, respiração paradoxal)<br />

com respiração oral e/ou a<strong>de</strong>jo nasal durante o sono.<br />

Nas crianças com PRS está ainda <strong>de</strong>scrita uma maior frequência<br />

<strong>de</strong> enurese nocturna e <strong>de</strong> parassónias (terrores nocturnos,<br />

sonambulismo e pesa<strong>de</strong>los) 6 .<br />

Exame objectivo<br />

No exame objectivo é frequente encontrar respiração oral<br />

associada ou não a uma face longa e palato alto, com hipertrofia<br />

a<strong>de</strong>noamigdalina. A presença <strong>de</strong> malformações craniofaciais,<br />

incluindo micro/retrognatismo e hipoplasia do andar<br />

médio da face <strong>de</strong>vem ser valorizadas, bem como a existência<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>formações torácicas (pectus escavatum, retracção das<br />

costelas inferiores…). Po<strong>de</strong>m ser evi<strong>de</strong>ntes sinais <strong>de</strong> patolo-<br />

Recebido: 29.08.2011<br />

Aceite: 13.10.2011<br />

Correspondência:<br />

Rosário Ferreira<br />

Departamento da Criança e da Família<br />

Hospital <strong>de</strong> Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte<br />

Av. Professor Egas Moniz<br />

1649-035 Lisboa<br />

rosariotferreira@sapo.pt<br />

184


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):184-6<br />

Ferreira R et al. – Roncopatia - abordagem<br />

gia alérgica, como a prega nasal, hipertrofia dos cornetos<br />

nasais e pele seca. A avaliação do peso (incluindo índice <strong>de</strong><br />

massa corporal), tensão arterial e a oximetria <strong>de</strong> pulso<br />

(embora este valor seja habitualmente normal durante a vigília)<br />

<strong>de</strong>vem ser registados. Um exame objectivo normal não<br />

exclui a existência <strong>de</strong> PRS 4 .<br />

Complicações<br />

Foram i<strong>de</strong>ntificadas complicações da PRS em ida<strong>de</strong> pediátrica<br />

ao nível comportamental, neurocognitivo, metabólico e<br />

cardiovascular 4 . A sonolência diurna não é tão frequente como<br />

no adulto, mas po<strong>de</strong> tornar-se evi<strong>de</strong>nte no final da infância e<br />

na adolescência. Na criança mais pequena, a hiperactivida<strong>de</strong><br />

e défice <strong>de</strong> atenção são mais frequentes, registando-se melhoria<br />

após resolução do quadro respiratório 8,9 . A ocorrência <strong>de</strong><br />

síndrome metabólica na PRS pediátrica é ainda alvo <strong>de</strong> controvérsia:<br />

nas crianças mais pequenas, a resistência à insulina<br />

e a dislipidémia parecem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da obesida<strong>de</strong> e não da perturbação<br />

respiratória do sono 10 , enquanto que nos adolescentes<br />

a associação <strong>de</strong> AOS à obesida<strong>de</strong> aumenta consi<strong>de</strong>ravelmente<br />

a incidência das alterações metabólicas 11 . Em<br />

algumas crianças com AOS existe um atraso na progressão<br />

pon<strong>de</strong>ral, explicado por alterações na secreção do insulin-like<br />

growth factor (IGF-1), por diminuição do apetite relacionado<br />

com a respiração oral e por aumento do consumo energético,<br />

condicionado pelo esforço respiratório 1 . Tal como no adulto,<br />

tem sido <strong>de</strong>scrita a ocorrência <strong>de</strong> hipertensão arterial (HTA)<br />

em crianças com PRS, parecendo correlacionar-se com a gravida<strong>de</strong><br />

da doença 12-14 .<br />

Diagnóstico<br />

A história e o exame objectivo são fundamentais na avaliação<br />

<strong>de</strong> crianças com roncopatia mas não discriminam a gravida<strong>de</strong><br />

da doença 15 . A radiografia lateral do pescoço po<strong>de</strong> ajudar no<br />

diagnóstico <strong>de</strong> hipertrofia do tecido linfói<strong>de</strong> da orofaringe.<br />

Estudos mais sofisticados, incluindo tomografia computorizada<br />

e ressonância magnética nuclear, são apenas utilizados<br />

em situações complexas <strong>de</strong> malformação craniofacial. Os<br />

questionários <strong>de</strong> sono po<strong>de</strong>m ser utilizados mas não distinguem<br />

com rigor o RP da AOS 16 . Os registos ví<strong>de</strong>o e audio<br />

po<strong>de</strong>m ajudar no diagnóstico, mas têm baixa especificida<strong>de</strong>.<br />

A oximetria <strong>de</strong> pulso nocturna tem sido usada como método<br />

<strong>de</strong> rastreio mas a ocorrência <strong>de</strong> artefactos e a incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

registar eventos <strong>de</strong> SRVAS limita a sua utilização, <strong>de</strong>vendo<br />

ser avaliada criteriosamente. Perante um resultado negativo<br />

com uma história sugestiva, <strong>de</strong>ve ser utilizado outro meio <strong>de</strong><br />

diagnóstico 17 . Os estudos poligráficos no domicílio têm sido<br />

crescentemente utilizados no adulto, mas a sua aplicabilida<strong>de</strong><br />

na criança, na prática clínica, ainda não está <strong>de</strong>finida 18 . O<br />

estudo poligráfico do sono no laboratório é o método <strong>de</strong> eleição<br />

para o diagnóstico <strong>de</strong> PRS 4 mas a escassez <strong>de</strong> laboratórios<br />

<strong>de</strong> sono pediátricos implica a referenciação criteriosa <strong>de</strong><br />

doentes. Para além do registo <strong>de</strong> eventos respiratórios, este<br />

exame permite o estadiamento neurofisiológico do sono e a<br />

sua relação com aqueles, aumentando a acuida<strong>de</strong> diagnóstica<br />

em situações mais subtis.<br />

Terapêutica<br />

A hipertrofia <strong>de</strong> a<strong>de</strong>nói<strong>de</strong>s e amígdalas é a principal causa <strong>de</strong><br />

PRS pediátrica, pelo que a abordagem terapêutica mais frequente<br />

é a a<strong>de</strong>noamigdalectomia. A intervenção cirúrgica<br />

também po<strong>de</strong> estar indicada em situações <strong>de</strong> malformações<br />

craniofaciais. Os corticosteroi<strong>de</strong>s nasais <strong>de</strong>monstraram<br />

alguma eficácia na redução do tecido linfói<strong>de</strong> 19,20 , bem como<br />

os antagonistas dos leucotrienos 21 . A terapêutica da rinite alérgica<br />

é fundamental nos doentes atópicos. Nas situações sem<br />

indicação cirúrgica, naquelas em que esta não foi completamente<br />

eficaz ou enquanto é aguardado o momento óptimo<br />

para cirurgia, a terapêutica com ventilação por pressão positiva<br />

tem <strong>de</strong>monstrado boa aceitabilida<strong>de</strong> e eficácia. A implementação<br />

<strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> higiene <strong>de</strong> sono assim como o controlo<br />

<strong>de</strong> peso e programas <strong>de</strong> exercício nos doentes obesos são<br />

medidas essenciais na abordagem inicial <strong>de</strong>stes doentes.<br />

V<br />

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g<br />

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n<br />

c<br />

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a<br />

Não<br />

Fluxograma <strong>de</strong> Abordagem <strong>de</strong> Roncopatia<br />

Outra clínica associada<br />

(Quadro II)<br />

Sim<br />

Ressonar Habitual<br />

≥ 3 vezes por semana<br />

Sim<br />

Sim<br />

HAA<br />

ORL<br />

AAT<br />

Melhoria<br />

Não<br />

VNI e/ou outro tratamento<br />

(ortodôntico, maxilofacial, dietético)<br />

Não<br />

Se factores <strong>de</strong> agravamento, tratar<br />

(Quadro I)<br />

Não<br />

Não<br />

Sim<br />

HAA<br />

ORL<br />

AAT<br />

Factores <strong>de</strong> risco<br />

(Quadro III)<br />

Consulta especialida<strong>de</strong><br />

Pneumologia /Sono<br />

Sim<br />

Oximetria /<br />

EPS<br />

3 meses<br />

<strong>de</strong>pois<br />

Melhoria<br />

EPS*<br />

alterado<br />

Sim<br />

Não<br />

* Se EPS indisponível, realizar oximetria. Se oximetria negativa ou duvidosa <strong>de</strong>ve fazer EPS<br />

HAA: hipertrofia a<strong>de</strong>noi<strong>de</strong>s e/ou amígdalas; ORL: otorrinolaringologia; AAT:<br />

a<strong>de</strong>noamigdalectomia; EPS: estudo poligráfico do sono; VNI: ventilação não invasiva<br />

V<br />

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i<br />

l<br />

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n<br />

c<br />

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a<br />

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<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):184-6<br />

Ferreira R et al. – Roncopatia - abordagem<br />

Quadro I – Factores <strong>de</strong> agravamento <strong>de</strong> roncopatia<br />

Factores <strong>de</strong> Agravamento<br />

Rinite alérgica<br />

Excesso <strong>de</strong> peso<br />

Refluxo gastro-esofágico<br />

Fumo <strong>de</strong> tabaco<br />

Quadro II – Outra clínica associada<br />

Aprovado em 16 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 2011<br />

Rosário Ferreira<br />

Centro <strong>Ped</strong>iátrico <strong>de</strong> Estudos da Função Respiratória, Sono e<br />

Ventilação, Departamento da Criança e da Família, Hospital<br />

<strong>de</strong> Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte<br />

Maria Helena Estevão<br />

Laboratório <strong>de</strong> Sono e Ventilação, Hospital <strong>Ped</strong>iátrico <strong>de</strong><br />

Coimbra, Centro Hospitalar <strong>de</strong> Coimbra Serviço <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

Em representação da Secção <strong>de</strong> Pneumologia <strong>Ped</strong>iátrica da<br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

Referências<br />

Tratamento<br />

Antihistamínicos, corticói<strong>de</strong>s<br />

tópicos, antagonistas<br />

dos leucotrienos<br />

Exercício físico, hábitos<br />

alimentares saudáveis<br />

Medidas antirrefluxo, procinéticos<br />

Evicção <strong>de</strong> fumo tabaco<br />

no ambiente<br />

Apneias com estertor<br />

Postura anómala durante o sono / sono agitado<br />

Sudorese excessiva durante o sono<br />

Esforço respiratório<br />

Respiração <strong>de</strong> predomínio oral<br />

Hipersonolência<br />

Hiperactivida<strong>de</strong><br />

Dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem<br />

Quadro III – Factores <strong>de</strong> risco<br />

Obesida<strong>de</strong><br />

Malformações craniofaciais<br />

(incluindo microretrognatia)<br />

Doenças sindromáticas<br />

Doenças neuromusculares<br />

Ida<strong>de</strong>


0873-9781/11/<strong>42</strong>-4/187<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

CARTA AO DIRECTOR<br />

Projecto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bandim na Guiné-Bissau: crianças guineenses<br />

ou Guinea-kids - A Guiné-Bissau e a tristeza do costume<br />

Carta recebida a 24.05.2011<br />

Carta<br />

Intitular um comentário sobre a pesquisa do Projecto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Bandim (PSB) na Guiné-Bissau como “Guinea-kids” 1 e<br />

colocá-lo no contexto da instabilida<strong>de</strong> política aproveitada<br />

pelos traficantes <strong>de</strong> droga colombianos, é certamente injurioso,<br />

a não ser que seja indiscutivelmente documentado que o PSB<br />

vem explorando as crianças guineenses para fins científicos.<br />

Pelas suas próprias palavras, <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>-se que o Professor Mota<br />

não põe em dúvida que as crianças pequenas da Guiné-Bissau<br />

teriam beneficiado da cooperação no domínio da investigação.<br />

O que ele critica é a atitu<strong>de</strong> subjacente dos pesquisadores que,<br />

na sua opinião, tratam as crianças como cobaias.<br />

O Professor Mota construiu o seu caso na revisão <strong>de</strong> ensaios<br />

clínicos randomizados (RCTs) <strong>de</strong> suplementação neonatal <strong>de</strong><br />

vitamina A, (VAS) 2,3 e revacinação com BCG 4 . Infelizmente,<br />

o Professor não compreen<strong>de</strong>u completamente estes ensaios. A<br />

seguir corrigimos a sua má interpretação.<br />

Suplementação neonatal <strong>de</strong> vitamina A<br />

Antece<strong>de</strong>ntes: O PSB tem constantemente tentado encontrar<br />

formas <strong>de</strong> melhorar a sobrevivência infantil na Guiné-<br />

Bissau. Na sequência <strong>de</strong> relatos <strong>de</strong> reduções substanciais da<br />

mortalida<strong>de</strong> após administração <strong>de</strong> VAS no período neonatal<br />

na Indonésia e India 5,6 , <strong>de</strong>cidimos testar se a VAS neonatal<br />

também tem um efeito benéfico no contexto Africano. O<br />

nosso objectivo foi <strong>de</strong> testar a implementação da suplementação<br />

juntamente com as vacinas como tem sido praticado<br />

para crianças mais velhas 7 . Tendo em conta que a política <strong>de</strong><br />

vacinação é diferente para as crianças que nascem com um<br />

peso normal (NBW) e as crianças <strong>de</strong> baixo peso ao nascer<br />

(LBW), pois este último não recebe BCG ao nascer, organizámos<br />

dois ensaios: um para NBW e outro para crianças <strong>de</strong><br />

LBW 2,3 . Visto existirem relativamente poucas crianças <strong>de</strong><br />

LBW, os RCT para crianças LBW <strong>de</strong>moraram mais tempo a<br />

ser completados. Ambos os protocolos <strong>de</strong> pesquisa foram<br />

aprovados pelo Ministério da Saú<strong>de</strong> da Guiné-Bissau e pelo<br />

Comité Central <strong>de</strong> Ética Dinamarquês, que emite pareceres<br />

consultivos, em conformida<strong>de</strong> com as normas <strong>de</strong> ética em<br />

pesquisa na Dinamarca.<br />

Crítica: O Professor Mota sugere que nós iniciamos o<br />

segundo RCT nas crianças LBW mesmo sabendo que VAS<br />

neonatal tinha um efeito negativo para as meninas NBW, porque<br />

o ensaio <strong>de</strong> NBW tinha sido criticado por não incluir as<br />

crianças vulneráveis <strong>de</strong> LBW. Também é sugerido por ele que<br />

a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que uma dose <strong>de</strong> “Choque” <strong>de</strong> VAS teria um efeito<br />

benéfico é estranha e reflecte a “farmacolização” da Medicina,<br />

o que <strong>de</strong>ixaria as crianças <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong><br />

medicamentos e dos seus fornecedores quando os investigadores<br />

dinamarqueses tivessem partido 1 .<br />

Comentários: O Professor Henrique da Mota parece não ter<br />

compreendido o contexto da realização <strong>de</strong>stes ensaios e atrapalhou-se<br />

<strong>de</strong> várias maneiras.<br />

Primeiro, não iniciámos o segundo RCT entre as crianças<br />

<strong>de</strong> LBW como resposta à crítica do primeiro RCT entre<br />

crianças NBW 3 . Realizámos sim dois ensaios paralelos, porque<br />

a política <strong>de</strong> vacinação, como atrás referimos, é diferente<br />

para crianças NBW e LBW, tendo o ensaio LBW sido<br />

iniciado muito antes dos resultados do ensaio NBW se tornarem<br />

disponíveis.<br />

Segundo, os resultados do estudo NBW <strong>de</strong> forma alguma<br />

eram <strong>de</strong>finitivos. O efeito global negativo foi um aumento da<br />

mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 7% (intervalo <strong>de</strong> confiança 95%: -21 a 44%),<br />

e uma tendência não significativa (p = 0.10) para este efeito<br />

ser diferente para meninos e meninas 2 . Nenhum Conselho <strong>de</strong><br />

Acompanhamento e Segurança dos Dados (Data Safety &<br />

Monitoring Board) teria impedido o segundo ensaio com base<br />

em resultados tão insignificantes, e a maioria dos pesquisadores<br />

consi<strong>de</strong>raram que os resultados apenas reflectiam a<br />

variação aleatória. Foi somente porque realizámos dois<br />

ensaios que os efeitos negativos se tornaram claros para as<br />

meninas (a estimativa combinada dos dois ensaios mostrou<br />

um aumento <strong>de</strong> 41% [4-90%] na mortalida<strong>de</strong>).<br />

Apesar <strong>de</strong> termos anunciado esses efeitos negativos e verificado<br />

uma tendência semelhante no outro único estudo africano<br />

no Zimbabwe 8 , a OMS iniciou recentemente três mega-ensaios<br />

<strong>de</strong> VAS neonatal, incluindo mais <strong>de</strong> 100.000 recém-nascidos<br />

Recebido: 99.99.9999<br />

Aceite: 99.99.9999<br />

Correspondência:<br />

Projecto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bandim<br />

Instituto Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública<br />

p.aaby@bandim.org<br />

187


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):187-91<br />

Aaby P et al. – Projecto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bandim na Guiné-Bissau<br />

na Tanzânia, Gana e India 9-11 . Assim, se for o caso, o Professor<br />

Henrique da Mota <strong>de</strong>veria dirigir a sua crítica à OMS.<br />

Em terceiro lugar, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que uma dose <strong>de</strong> “Choque” <strong>de</strong><br />

VAS 1 pu<strong>de</strong>sse ter um efeito benéfico sobre a sobrevivência<br />

infantil não é “estranha”. Isto foi <strong>de</strong>monstrado várias vezes nos<br />

RCTs 12 iniciais que permitiram a adopção da política <strong>de</strong> administração<br />

<strong>de</strong> cápsulas <strong>de</strong> vitamina A <strong>de</strong> alta dosagem em cada<br />

4-6 meses para crianças <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> superior a 6 meses - política<br />

essa que é seguida actualmente em mais <strong>de</strong> 100 países <strong>de</strong> baixa<br />

renda. Como mencionado acima, vários ensaios asiáticos também<br />

mostraram esse efeito com VAS neonatal 5,6 . Portanto, o<br />

que é estranho é que um efeito benéfico não tenha sido encontrado<br />

nos dois RCTs na Guiné-Bissau 5,6 e no Zimbabwe 8 .<br />

Revacinação com BCG<br />

Antece<strong>de</strong>ntes: O PSB tem observado várias vezes tanto em<br />

estudos observacionais, como em RCTs que as vacinas <strong>de</strong> vírus<br />

vivos, tal como a vacina <strong>de</strong> BCG e a vacina contra o Sarampo<br />

(MV), têm efeitos benéficos “não-específicos” na sobrevivência<br />

das crianças e que não po<strong>de</strong>m ser explicados pela prevenção<br />

dirigida contra uma doença específica 13-16 . Estes efeitos são<br />

causados possivelmente por estimulação imunológica e po<strong>de</strong>m<br />

ter gran<strong>de</strong> impacto na sobrevivência infantil. Por exemplo,<br />

verificamos num RCT entre as crianças LBW que o BCG reduz<br />

a mortalida<strong>de</strong> neonatal em 45% (11-66%) 15 e noutro ensaio<br />

mostramos que uma dose adicional <strong>de</strong> MV aos 4.5 meses <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong>, reduziu a mortalida<strong>de</strong> global não <strong>de</strong>vido ao sarampo,<br />

entre os 4.5 e 36 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> em 45% (14-65%) comparada<br />

com a actual política <strong>de</strong> uma dose da MV aos 9 meses <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong> 16. Por outro lado, foi verificado que a vacina contra DTP<br />

inactivada tem tido um efeito negativo na sobrevivência global<br />

para as meninas 14,17 . É, portanto, potencialmente problemático<br />

para a sobrevivência da criança que doses <strong>de</strong> reforço <strong>de</strong> DTP<br />

tenham sido dadas, após MV, aos 18 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> 4. Por estas<br />

razões, testamos se uma revacinação com BCG aos 19 meses<br />

<strong>de</strong> ida<strong>de</strong> reduziria o efeito negativo do DTP.<br />

Critica: O Professor Henrique da Mota vê este estudo como o<br />

mais incompreensível. Em primeiro lugar, porque a OMS não<br />

recomenda a revacinação com BCG. Em segundo lugar, porque<br />

acha que esperar um gran<strong>de</strong> impacto na sobrevivência das<br />

crianças revacinadas com BCG seria uma abordagem <strong>de</strong> crenças<br />

sobrenaturais e uma vez mais as crianças pequenas teriam<br />

sido usadas como cobaias.<br />

Comentários: Que algo não seja recomendado pela OMS fosse<br />

tido como argumento suficiente para não testar os seus possíveis<br />

efeitos benéficos seria dificilmente aceite. Se se seguisse<br />

esse argumento, jamais seria possível melhorar as políticas <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>. O que o Professor Henrique da Mota não conseguiu<br />

explicar é por que se realizou o ensaio. Ele apenas faz referência<br />

à informação que um estudo da revacinação com BCG na<br />

Argélia em 1930-50s encontrou um efeito maior na sobrevivência<br />

das crianças - e não é clara a relação directa porque esse<br />

facto só por si <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>sencorajar novos ensaios da revacinação<br />

com BCG. Ele se esqueceu <strong>de</strong> mencionar os resultados, ou<br />

seja, que se revacinação com BCG foi dada após o reforço <strong>de</strong><br />

DTP, então a mortalida<strong>de</strong> infantil em geral entre 19 meses e 5<br />

anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> é significativamente reduzida em 3-vezes 4 . No<br />

entanto, algumas crianças não haviam recebido o reforço <strong>de</strong><br />

DTP antes <strong>de</strong> receberem a revacinação com BCG, mas tomaram<br />

DTP <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> BCG, e isto aumentou a mortalida<strong>de</strong> em<br />

78% (4-204%). Portanto, não houve efeito global na sobrevivência<br />

infantil da revacinação com BCG. No entanto, o ensaio<br />

foi favorável à “crença sobrenatural <strong>de</strong> que a revacinação com<br />

BCG po<strong>de</strong>ria reduzir muito a mortalida<strong>de</strong>” 4 . Além disso, este<br />

ensaio indicou mais uma vez que DTP po<strong>de</strong> ter efeitos negativos<br />

na sobrevivência da criança.<br />

Projecto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bandim<br />

O PSB é um sítio <strong>de</strong> vigilância sanitária e <strong>de</strong>mográfica, que foi<br />

criado na Guiné-Bissau em 1978. Encontra-se agora sob tutela<br />

do Instituto Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública da Guiné-Bissau, e<br />

serve como plataforma para seguir a saú<strong>de</strong> da população e<br />

monitorização dos efeitos reais <strong>de</strong> intervenções em saú<strong>de</strong>.<br />

Além disso, a investigação, formação e capacitação são partes<br />

integrantes do projecto.<br />

Figura – Mortalida<strong>de</strong> abaixo dos 5 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> na área do Projecto<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bandim, 1979-2007<br />

Tal como indicado no gráfico, a mortalida<strong>de</strong> dos menores <strong>de</strong><br />

5 anos foi <strong>de</strong> quase 500/1000 no período colonial e no início<br />

pós-colonial. Embora ainda alta, a mortalida<strong>de</strong> tem diminuído<br />

<strong>de</strong> forma importante no período em que o PSB tem<br />

seguido essa população. Por favor, note que quando foi lançado<br />

o Programa Alargado <strong>de</strong> Vacinação, patrocinado pela<br />

OMS, nos meados dos anos 1980s a mortalida<strong>de</strong> tendia a<br />

aumentar. Ao mesmo tempo, <strong>de</strong>scobrimos que uma nova MV<br />

introduzida pela OMS em 1989 foi associada a duas vezes<br />

maior mortalida<strong>de</strong> para as meninas do que a tradicional<br />

MV 14 . Estas observações levaram-nos a testar os efeitos<br />

importantes das intervenções na infância na sobrevivência<br />

das crianças em estudos observacionais e RCTs. Embora<br />

pareça lógico que as vacinas contra o sarampo, coqueluche,<br />

tuberculose e poliomielite, tenham um efeito benéfico na<br />

mortalida<strong>de</strong> geral, é preciso lembrar-se que essas vacinas não<br />

foram testadas para o seu efeito sobre a mortalida<strong>de</strong> antes <strong>de</strong><br />

serem implementadas. O Professor Henrique da Mota refere<br />

188


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):187-91<br />

Aaby P et al. – Projecto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bandim na Guiné-Bissau<br />

que nós temos uma reputação <strong>de</strong> “ <strong>de</strong>safiador <strong>de</strong> dogmas”.<br />

Isto é apenas porque nós temos realmente testado se as intervenções<br />

têm o efeito pretendido na mortalida<strong>de</strong> geral e <strong>de</strong><br />

termos encontrado muitas vezes que elas po<strong>de</strong>m ter efeitos<br />

muito melhor do que o esperado, mas também que algumas<br />

vacinas po<strong>de</strong>m ter efeitos negativos, o que acaba realmente<br />

por aumentar a mortalida<strong>de</strong> infantil. Para o bem das crianças<br />

da Guiné-Bissau e outros países <strong>de</strong> baixa renda estamos tentando<br />

testar os efeitos reais das intervenções comuns. Isto<br />

dificilmente po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado o tratamento das crianças<br />

como cobaias. As verda<strong>de</strong>iras “Guinea-kids” são as crianças<br />

que estão expostas a políticas que não são baseadas em<br />

quaisquer evidências 9-11 .<br />

Agra<strong>de</strong>cemos a preocupação do Professor Henrique da Mota<br />

para com as crianças guineenses, esperando, não obstante,<br />

ter esclarecido que a sua crítica não é só mal dirigida como<br />

também é claramente injuriosa para os pesquisadores da<br />

Dinamarca e da Guiné-Bissau que já trabalharam por mais<br />

<strong>de</strong> 30 anos, e continuam a trabalhar arduamente, contribuindo<br />

para a redução da mortalida<strong>de</strong> ainda intoleravelmente<br />

alta.<br />

Referências<br />

Prof. Doutor Peter Aaby<br />

Dra. Amabélia Rodrigues<br />

Dr. Cesário Martins<br />

Dr. Benn Stabell Christine<br />

1. da Mota HC. Guinea-kids. <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2010;41(5):LXXXI-III<br />

2. Benn CS, Diness BR, Roth A, Nante E, Fisker AB, Lisse IM, et al.<br />

Randomised trial of the effect on mortality of 50,000 IU vitamin A<br />

given with BCG vaccine to infants in Guinea-Bissau, West-Africa<br />

BMJ 2008; 336:1416-20.<br />

3. Benn CS, Fisker AB, Napirna BM, Roth A, Diness BR, Lausch KR,<br />

Ravn H, Yazdanbakhsh M, Rodrigues A, Whittle H, Aaby P. Vitamin<br />

A supplementation and BCG vaccination at birth in low birthweight<br />

neonates: two by two factorial randomised controlled trial. BMJ 2010;<br />

340:c1101. doi: 10.1136/bmj.c1101.<br />

4. Roth A, Benn CB, Ravn H, Rodrigues A, Lisse IM, Yazdanbakhsh M,<br />

Whittle H, Aaby P. A randomised trial of the effect of revaccination<br />

with BCG in early childhood and mortality. BMJ 2010;340:c809<br />

5. Humphrey JH, Agoestina T, Wu L, Usman A, Nurachim M, Subardja<br />

D, et al. Impact of neonatal vitamin A supplementation on infant morbidity<br />

and mortality. J <strong>Ped</strong>iatr 1996; 128:489-96.<br />

6. Rahmathullah L, Tielsch JM, Thulasiraj RD, Katz J, Coles C, Devi S,<br />

et al. Impact of supplementing newborn infants with vitamin A on<br />

early infant mortality: community based randomised trial in southern<br />

India. BMJ 2003; 327:254.<br />

7. Benn CS, Bale C, Sommerfelt H, Friis H, Aaby P. Vitamin A supplementation<br />

and childhood mortality: Amplification of the non-specific<br />

effects of vaccines? Int J Epi<strong>de</strong>miol 2003:32: 822-8<br />

8. Malaba LC, Iliff PJ, Nathoo KJ, Marinda E, Moulton LH, Zijenah LS,<br />

et al. Effect of postpartum maternal or neonatal vitamin A supplementation<br />

on infant mortality among infants born to HIV-negative mothers<br />

in Zimbabwe. Am J Clin Nutr 2005; 81: 454-60.<br />

9. EdmondK.AustralianNewZealandClinicalTrialsRegistryACTRN12610000582055;<br />

http://www.ANZCTR.org.au/ACTRN12610000582055.aspx.<br />

Accessed 12 October, 2010.<br />

10.FawziWA.Australian New Zealand ClinicalTrials RegistryACTRN12610000636055;<br />

http://www.ANZCTR.org.au/ACTRN12610000636055.aspx<br />

Accessed 12 October, 2010.<br />

11. Bhandari N. Clinical Trials Registry India CTRI/2010/091/000220;<br />

http://164.100.72.67/Clinicaltrials/ViewTrial.jsp?trialno=1834.<br />

Accessed 12 October, 2010.<br />

12. Fawzi WW, Chalmers TC, Herrera MG, Mosteller F. Vitamin A supplementation<br />

and child mortality. A meta-analysis. JAMA 1993;<br />

269:898-903.<br />

13. Aaby P, Samb B, Simondon F, Coll Seck AM, Knudsen K, Whittle H.<br />

Non-specific beneficial effect of measles immunisation: analysis of mortality<br />

studies from <strong>de</strong>veloping countries.Br Med J 1995;311:481-485<br />

14. Aaby P, Jensen H, Samb B, Cisse B, So<strong>de</strong>man M, Jakobsen M,<br />

Poulsen A, Rodrigues A, Lisse IM, Simondon F, Whittle H. Differences<br />

in female-male mortality after high-titre measles vaccine and<br />

association with subsequent vaccination with diphtheria-tetanus-pertussis<br />

and inactivated poliovirus: a re-analysis of the West African<br />

studies. Lancet 2003;361: 2183-88<br />

15. Aaby P, Roth A, Ravn H, Napirna BM, Rodrigues A, Lisse IM,<br />

Stensballe L, Diness BR, Lausch KR, Lund N, Biering-Sørensen S,<br />

Whittle H, Benn CS. Randomised trial of BCG vaccination at birth<br />

to low-birth-weight children: Beneficial non-specific effects in the<br />

neonatal period? JID (in press)<br />

16. Aaby P, Martins CL, Garly ML, Bale C, An<strong>de</strong>rsen A, Rodrigues A,<br />

Ravn H, Lisse IM, Benn CS, Whittle H. Non-specific effects of standard<br />

measles vaccine at 4.5 and 9 months of age on childhood mortality:<br />

Randomised controlled trial. BMJ 2010;341:c6495<br />

17. Aaby P, Jensen H, Gomes J, Fernan<strong>de</strong>s M, Lisse IM. The introduction<br />

of diphtheria-tetanus-pertussis vaccine and child mortality in<br />

rural Guinea-Bissau: An observational study. Int J Epi<strong>de</strong>miol<br />

2004,33:374-80.<br />

Resposta<br />

Guinea-Kids: a minha resposta<br />

Os autores reagiram à minha crítica consi<strong>de</strong>rando-a injuriosa,<br />

sugerindo “que eu não teria compreendido completamente<br />

estes ensaios” e <strong>de</strong>safiando-me a provar que “o PSB vem<br />

explorando as crianças guineenses para fins científicos”.<br />

Concordo que a crítica foi severa, como o sujeito impunha e o<br />

tema merecia, mas não a consi<strong>de</strong>ro injuriosa. Não é injúria afirmar<br />

que alguém realizou ensaios clínicos usando crianças <strong>de</strong><br />

forma criticável; <strong>de</strong>vem criticar-se objectivos e metodologias<br />

que se consi<strong>de</strong>rem <strong>de</strong>ontologicamente censuráveis – o que fiz.<br />

Os argumentos que expuseram não me levaram a rever a<br />

minha opinião que se dirige aos ensaios que envolveram (não<br />

usei o termo explorar) crianças a seu cargo e não à <strong>de</strong>dicação<br />

dos autores que não está em causa pelo apoio inestimável que<br />

vêm dando a essas crianças que tanto precisam e cujos resultados<br />

clínicos falam por si.<br />

Mas admito que eu não tenha compreendido completamente<br />

estes ensaios.<br />

1. “O Projecto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bandim na Guiné-Bissau (PSB) é<br />

um sítio <strong>de</strong> vigilância sanitária e <strong>de</strong>mográfica, que “... serve<br />

como plataforma para seguir a saú<strong>de</strong> da população e monitorização<br />

dos efeitos reais <strong>de</strong> intervenções em saú<strong>de</strong>. Além<br />

189


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):187-91<br />

Aaby P et al. – Projecto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bandim na Guiné-Bissau<br />

disso, a investigação, formação e capacitação são partes integrantes<br />

do projecto”.<br />

“Guinea-Bissau was classified as an area with subclinical<br />

vitamin A <strong>de</strong>ficiency by UNICEF - 31% das crianças <strong>de</strong> menos<br />

<strong>de</strong> 6 anos da Guiné-Bissau terão <strong>de</strong>ficiência sub-clínica 1 “but<br />

no surveys of vitamin A status have been conducted” 2 .<br />

Um simples estudo observacional teria mostrado indicadores<br />

<strong>de</strong> carência <strong>de</strong> vitamina A (RBP) em 32% às seis semanas <strong>de</strong><br />

vida e <strong>de</strong> 16% aos 4 meses 3 que serviria <strong>de</strong> base a uma estratégia<br />

a<strong>de</strong>quada às necessida<strong>de</strong>s concretas dos lactentes da<br />

comunida<strong>de</strong> a seu cargo.<br />

Em vez disso os autores optaram por outra alternativa; “Na<br />

sequência <strong>de</strong> relatos <strong>de</strong> reduções substanciais da mortalida<strong>de</strong><br />

após administração <strong>de</strong> VAS (vitamin A supplementation)<br />

no período neonatal na Indonésia e India, <strong>de</strong>cidimos<br />

testar se a VAS neonatal também tem um efeito benéfico no<br />

contexto Africano.”<br />

Parece-me claro que se tratou <strong>de</strong> replicar a metodologia <strong>de</strong><br />

trabalhos que outros realizaram noutro contexto e foram<br />

publicados em revistas <strong>de</strong> referência, sem terem ensaiado<br />

estratégias mais pru<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> suplementação com vitamina A<br />

nas crianças a seu cargo que <strong>de</strong> tal necessitassem.<br />

“The authors have a reputation for challenging dogma in<br />

relation to vaccine and micronutrient supplementation policies.”<br />

4 Foi essa pulsão que os terá levado a “testar se a VAS<br />

neonatal também tem um efeito benéfico no contexto<br />

Africano” para o que se serviram dos recém nascidos (RN) a<br />

seu cargo tidos como amostra do “contexto Africano”.<br />

Aqueles efeitos benéficos não foram confirmados. 5 Na base<br />

dos trabalhos referidos esteve uma “sugestão”. 6<br />

2. Não compreendo que tenham tentado avaliar a eficácia da<br />

administração neonatal <strong>de</strong> altas doses <strong>de</strong> vitamina A a todos<br />

os RN em vez <strong>de</strong> procurar fazê-lo em grupos com factores <strong>de</strong><br />

risco <strong>de</strong> carência.<br />

A UNICEF estima haver 31% das crianças <strong>de</strong> menos <strong>de</strong> seis anos<br />

com <strong>de</strong>ficiência sub-clínica <strong>de</strong> vitamina A na Guiné Bissau 1 ;a<br />

administração <strong>de</strong> altas doses <strong>de</strong> vitamina A a todos os RN levará<br />

necessariamente a sobrecarregar os saciados ou a inundar subitamente<br />

os RN carenciados com danos colaterais eventualmente<br />

muito mais graves. Os processo laboriosamente montados que<br />

permitiram que esses RN sobrevivessem em meio adverso, e que<br />

<strong>de</strong>morarão muito tempo a <strong>de</strong>smontar, serão dramaticamente tornados<br />

exce<strong>de</strong>ntários e eventualmente lesivos perante a súbita<br />

abundância, com efeitos eventualmente mais graves do que a<br />

própria carência que se pretendia impru<strong>de</strong>ntemente tratar ou prevenir.<br />

Efeitos imediatos como os verificados na correcção rápida<br />

da hipernatrémia ou tardios - programação <strong>de</strong> Barker. 7<br />

“Bólus” <strong>de</strong> vitamina A a todos os RN parece-me uma atitu<strong>de</strong><br />

empírica sem fundamento científico sólido, do tipo da do<br />

legado do Papa na cruzada contra os cátaros perante a dificulda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar os “hereges” – «Tuez-les tous, Dieu reconnaîtra<br />

les Siens.»<br />

Mas admito que, também aqui, eu não possa ter compreendido<br />

completamente.<br />

3. Seria muito mais sensato:<br />

a) Procurar saber a razão da estimada elevada taxa <strong>de</strong> carência<br />

numa zona on<strong>de</strong> as fontes <strong>de</strong> pró-vitamina são abundantes<br />

- porque razão estas rapariguitas guineenses (uma amostra <strong>de</strong><br />

conveniência, provavelmente não significativa) <strong>de</strong> palmas<br />

carotinémicas irão dar mães carentes? (Figura)<br />

Figura<br />

b) Entretanto, combater a carência <strong>de</strong> vitamina A com doses<br />

fisiólogicas <strong>de</strong> vitamina A a grupos <strong>de</strong> risco acrescido, em<br />

especial usando fontes locais <strong>de</strong> pró-vitamina A que abundam<br />

na região.<br />

“Experience in this region shows that promoting<br />

exclusive breast-feeding, a<strong>de</strong>quate complementary<br />

feeding for children, and improving diets and care for<br />

pregnant women and lactating mothers is possible<br />

through programs aimed at improving individual and<br />

family behaviours, and community norms.” 1<br />

c) Não seria preferível tentar evitar a carência dos RN cuidando<br />

das jovens e das mulheres, antes e durante a gestação e<br />

amamentação para tentar evitar ou minimizar a carência da<br />

díada mãe-(embrião-feto-RN)?<br />

Restringir a terapia ao RN implica ter <strong>de</strong> começar <strong>de</strong> novo a<br />

cada parto, numa tarefa <strong>de</strong> Sísifo.<br />

d) Os autores “started the trial procedures in the period from<br />

2 August to 12 November 2002. During this period, we randomised<br />

570 children to 25000 IU vitamin A or placebo… all<br />

children would receive a vitamin A supplement at age 12<br />

months.”<br />

The WHO’s recommendations for vitamin A supplementation<br />

after 6 months of age are not implemented<br />

in Guinea-Bissau. While this study was ongoing, two<br />

national vitamin A campaigns took place in November<br />

2003 and November 2004, during which children aged<br />

between 6 months and 5 years were offered vitamin A<br />

supplementation. 5<br />

Depreendo que as crianças envolvidas no estudo não<br />

tiveram outros suplementos <strong>de</strong> vitamina A até aos 12<br />

meses. Espero não ter compreendido bem.<br />

190


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):187-91<br />

Aaby P et al. – Projecto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bandim na Guiné-Bissau<br />

3. Quanto à revacinação com o BCG<br />

a) O que eu questionei foi a revacinação <strong>de</strong> que <strong>de</strong>sconheço<br />

bases científicas sólidas. “Until now, the little evi<strong>de</strong>nce available<br />

suggested that BCG revaccination confers very limited<br />

additional protection” 8 – os efeitos benéficos “não específicos”<br />

“por estimulação imunológica” não são argumentos válidos<br />

– e não a vacinação neonatal que os autores invocam na<br />

sua resposta: “verificamos num RCT entre as crianças LBW<br />

que o BCG reduz a mortalida<strong>de</strong> neonatal em 45% (11-66%)”<br />

escolhendo os resultados parciais. O objectivo do trabalho era<br />

avaliar o impacto do BCG neonatal na mortalida<strong>de</strong> infantil que<br />

não foi significativo; numa análise secundária encontraram<br />

uma redução da mortalida<strong>de</strong> neonatal e concluem que<br />

“Though early BCG did not reduce infant mortality significantly,<br />

it may have a beneficial effect in the neonatal period.” (9)<br />

Um exemplo <strong>de</strong> procurar resultados <strong>de</strong>sejados pelo método da<br />

pesca.<br />

b) “Por outro lado, foi verificado que a vacina contra DTP<br />

inactivada tem tido um efeito negativo na sobrevivência global<br />

para as meninas. É, portanto, potencialmente problemático<br />

para a sobrevivência da criança que doses <strong>de</strong> reforço <strong>de</strong><br />

DTP tenham sido dadas, após MV, aos 18 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Por<br />

estas razões, testamos se uma revacinação com BCG aos 19<br />

meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> reduziria o efeito negativo do DTP.”<br />

Um exemplo final da atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> usar as crianças guineenses<br />

para tentar provar uma hipótese em forma <strong>de</strong> argumento –<br />

saber se uma “revacinação com BCG aos 19 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />

reduziria o efeito negativo do DTP” – o que me parece eticamente<br />

discutível.<br />

Dado que estes ensaios tiveram o beneplácito <strong>de</strong> Comissões<br />

<strong>de</strong> Ética e foram publicados em revistas <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> indiscutível<br />

admito não ter compreendido totalmente; ficaria aliviado<br />

se estivesse enganado e <strong>de</strong> tudo se tratar <strong>de</strong> um mal entendido,<br />

cujo significado tenha ficado “lost in translation”.<br />

A investigação clínica é uma activida<strong>de</strong> nobre que tem riscos<br />

conhecidos em especial quando envolve crianças e, mais<br />

ainda, recém-nascidos. É indispensável que se tentem minimizar<br />

os riscos e se garanta a todos os intervenientes (grupo<br />

sujeito e testemunha) os melhores cuidados possíveis.<br />

Estou certo que estes foram assegurados excepto no que se<br />

refere a suplementos <strong>de</strong> vitamina A aos necessitados - numa<br />

amostra <strong>de</strong> crianças submetidas a este estudo, verificaram<br />

indicadores <strong>de</strong> carência <strong>de</strong> vitamina A (RBP) em 32% às seis<br />

semanas <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> 16% aos 4 meses. VAS was not associated<br />

with higher RBP concentrations. 3<br />

Para que o consentimento informado dos pais seja válido é indispensável<br />

ter em conta a relação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência/gratidão dos pais<br />

face ao prestígio médico e reconhecida <strong>de</strong>dicação do PSB.<br />

A trained field worker informed mothers about the trial and<br />

asked them if they wanted their child to participate. 5<br />

Assumo que os pais tenham compreendido melhor do que eu<br />

o que estava em causa.<br />

Se eu fosse avô <strong>de</strong> um <strong>de</strong>stes RN e me fosse pedido consentimento<br />

informado para participar nesse ensaio, teria perguntado<br />

se os resultados esperados com o bólus da suplementação<br />

à nascença não po<strong>de</strong>riam ser obtidos <strong>de</strong> uma forma menos<br />

agressiva. Se houvesse, como há, não teria aceitado participar.<br />

Quanto à revacinação BCG, se me fosse dito que o objectivo<br />

era verificar se a “revacinação com BCG aos 19 meses <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong> reduziria o efeito negativo do DTP” seguramente<br />

recusaria, tanto mais que “Until now, the little evi<strong>de</strong>nce available<br />

suggested that BCG revaccination confers very limited<br />

additional protection”. 8<br />

Repito, estou certo que o PSB assegurou bons cuidados médicos<br />

às crianças a seu cargo; creio até que, tanto melhores os<br />

cuidados tanto menos provável que a VAS neonatal viesse a<br />

revelar eventuais resultados positivos.<br />

Isso não atenua a minha crítica <strong>de</strong> base. Se um avô pediatra<br />

recusa a participação do neto num ensaio <strong>de</strong>stes com argumentos<br />

médicos é <strong>de</strong>scabido consi<strong>de</strong>rá-la injuriosa.<br />

Referências<br />

H. Carmona da Mota<br />

1. Vitamin and mineral <strong>de</strong>ficiency. New York: Unicef, 2004.<br />

(www.unicef.org/vi<strong>de</strong>oaudio/PDFs/africa_dar.pdf).<br />

2. World Health Organization. http://www.who.int/vaccines/global<br />

summary/immunization/countryprofileresult.cfm?<br />

3. Fisker AB, Lisse IM, Aaby P, Erhardt JG, Rodrigues A, Bibby BM, et<br />

al. Effect of vitamin A supplementation with BCG vaccine at birth on<br />

vitamin A status at 6 wk and 4 mo of age. Am J Clin Nutr 2007;86:<br />

1032-9.<br />

4. Andrew M Prentice. Vitamin A supplements and survival in children.<br />

BMJ 2010;340:c977<br />

5. Benn CS, Diness BR, Roth A, Nante E, Fisker AB, Lisse IM, et al.<br />

Effect of 50,000 IU vitamin A given with BCG vaccine on mortality<br />

in infants in Guinea-Bissau: randomised placebo controlled trial.<br />

BMJ. 2008;336:1416-20.<br />

6. Humphrey JH, Agoestina T, Wu L, Usman A, Nurachim M, Subardja<br />

D, et al. Impact of neonatal vitamin A supplementation on infant morbidity<br />

and mortality. J <strong>Ped</strong>iatr 1996; 128:489-96.<br />

7. Barker DJ, Osmond C, Kajantie E, Eriksson JG. Growth and chronic<br />

disease: findings in the Helsinki Birth Cohort. Ann Hum Biol.<br />

2009;36:445-58.<br />

8. Rodrigues LC, Pereira SM, Cunha SS, Genser B, Ichihara MY, <strong>de</strong><br />

Brito SC, et al.Effect of BCG revaccination on inci<strong>de</strong>nce of tuberculosis<br />

in school-aged children in Brazil: the BCG-REVAC cluster-randomised<br />

trial. Lancet 2005;366:1290-5.<br />

9. Aaby P, Roth A, Ravn H, Napirna BM, Rodrigues A, Lisse IM,<br />

Stensballe L, et al. Randomized trial of BCG vaccination at birth to<br />

low-birth-weight children: beneficial nonspecific effects in the neonatal<br />

period? J Infect Dis 2011;204:245-52.<br />

191


0873-9781/11/<strong>42</strong>-4/192<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

CARTA AO DIRECTOR<br />

Síndrome <strong>de</strong> Guillain-Barré em ida<strong>de</strong> pediátrica. Protocolo <strong>de</strong> actuação<br />

Carta recebida a 20.07.2011<br />

Carta<br />

Exmo. Senhor<br />

Editor da Revista <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

Na sequência da publicação “Síndrome <strong>de</strong> Guillain-Barré em<br />

ida<strong>de</strong> pediátrica. Protocolo <strong>de</strong> atuação” recomendado pela<br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> Neuropediatria (<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica<br />

<strong>Portuguesa</strong> 2011; <strong>42</strong>(1):33-<strong>42</strong>), contactámos o autor responsável<br />

pela correspondência solicitando a melhor atenção para<br />

importância <strong>de</strong> incluir, neste protocolo, requisitos do Programa<br />

<strong>de</strong> Erradicação da Poliomielite, aten<strong>de</strong>ndo a:<br />

1. A Iniciativa Global <strong>de</strong> Erradicação da Poliomielite, iniciada<br />

em 1988, levou à sua eliminação na Região Europeia em<br />

2002. No âmbito <strong>de</strong>sta iniciativa, Portugal comprometeu-se<br />

com o Programa <strong>de</strong> Erradicação da Poliomielite da<br />

Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (OMS) em 1995 1 , ano em que<br />

foi implementado o Programa a nível nacional, sendo revisto<br />

até à data duas vezes, em 1999 2 e em 2004 3 , estando atualmente<br />

em curso uma nova revisão a publicar brevemente.<br />

2. O Programa <strong>de</strong> Erradicação da Poliomielite, coor<strong>de</strong>nado<br />

pela Direcção-Geral da Saú<strong>de</strong> (DGS), está organizado em três<br />

componentes: a prevenção/controlo através <strong>de</strong> vacinação; a<br />

vigilância da paralisia flácida aguda (PFA) como indicador<br />

clínico <strong>de</strong> possíveis casos <strong>de</strong> paralisia por poliomielite e a<br />

componente laboratorial, da responsabilida<strong>de</strong> do Laboratório<br />

Nacional <strong>de</strong> Referência (INSA). Preten<strong>de</strong>-se emanar ainda um<br />

plano <strong>de</strong> contingência que possa permitir uma resposta célere<br />

e eficaz a eventualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> importação ou ocorrência <strong>de</strong> casos.<br />

3. A vigilância <strong>de</strong> PFA implica procedimentos no âmbito do<br />

protocolo “Síndrome <strong>de</strong> Guillain-Barré em ida<strong>de</strong> pediátrica.<br />

Protocolo <strong>de</strong> actuação” para que seja possível o envio. À<br />

OMS, da informação <strong>de</strong>talhada <strong>de</strong> todos os casos diagnosticados<br />

semanalmente a nível nacional. Par tal, é necessário que<br />

os responsáveis pelo Programa, a nível hospitalar (coor<strong>de</strong>nadores<br />

Hospitalares), notifiquem todos os casos diagnosticados,<br />

cumprindo o previsto na Circular Normativa<br />

nº 08DSPS <strong>de</strong> 04/05/2004, com as <strong>de</strong>vidas adaptações à realida<strong>de</strong><br />

actual dos serviços.<br />

4. O Programa Nacional é monitorizado, pelo menos uma vez<br />

por ano, pela Comissão Nacional <strong>de</strong> Certificação <strong>de</strong> Erradicação<br />

da Poliomielite 4 , pela Comissão Regional <strong>de</strong> Certificação<br />

da Eliminação da Poliomielite na Europa e pela OMS.<br />

5. Em 2010, a OMS e a Comissão Nacional <strong>de</strong> Certificação <strong>de</strong><br />

Erradicação da Poliomielite na Europa classificaram Portugal<br />

como país <strong>de</strong> risco intermédio d etransmissão em caso <strong>de</strong><br />

importação do vírus da poliomielite, <strong>de</strong>vido à pressuposta<br />

baixa qualida<strong>de</strong> da vigilância da PFA (<strong>de</strong> acordo com estimativas<br />

da OMS, o número <strong>de</strong> casos esperados <strong>de</strong> PFA em menores<br />

<strong>de</strong> 15 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, anualmente, em Portugal <strong>de</strong>ve ser, no<br />

mínimo, <strong>de</strong> 16 casos; nos últimos anos a DGS tem recebido<br />

apenas 5 a 8 notificações <strong>de</strong> PFA por ano) e às relações económicas<br />

e <strong>de</strong> migração com Angola (país com casos importados<br />

e transmissão ativa, atualmente).<br />

6. Por outro lado, a ocorrência, em 2010, <strong>de</strong> um surto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

dimensões (com 457 casos confirmados) no Taquijistão<br />

(Região Europeia da OMS) com casos exportados para vários<br />

países vizinhos, <strong>de</strong>monstram que o risco <strong>de</strong> importação <strong>de</strong> casos<br />

e <strong>de</strong> surtos nos países que eliminaram a doença se mantém, tornando<br />

<strong>de</strong>terminante e prioritário o reforço da vigilância da PFA<br />

em Portugal.<br />

Tratando-se <strong>de</strong> um protocolo muito bem elaborado não é<br />

<strong>de</strong>mais realçar a forma como as sugestões foram acolhidas,<br />

numa atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> cooperação interinstitucional, <strong>de</strong> serieda<strong>de</strong><br />

científica e <strong>de</strong> alinhamento <strong>de</strong> objectivos, em prol do superior<br />

interesse do doente e da Saú<strong>de</strong> Pública.<br />

Esperando que esta colaboração possa ter contimuida<strong>de</strong>, a<br />

Direcção Geral <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, a Coor<strong>de</strong>nação do Programa <strong>de</strong><br />

Erradicação da Poliomielite e a Comissão Nacional <strong>de</strong> Certificação<br />

da Erradicação da Poliomielite mantêm-se ao dispor<br />

para qualquer esclarecimento e apoio que seja necessário.<br />

Com os melhores cumprimentos,<br />

Ana Leça<br />

Directora <strong>de</strong> Serviços <strong>de</strong> Prevenção e Controlo da doença<br />

Direcção-Geral da Saú<strong>de</strong><br />

Recebido: 99.99.9999<br />

Aceite: 99.99.9999<br />

Correspondência:<br />

Dra. Ana Leça<br />

Direcção-Geral da Saú<strong>de</strong><br />

Alameda D. Afonso Henriques, 45<br />

1049-005 Lisboa<br />

geral@dgs.pt<br />

192


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):192-3<br />

Leça A – Síndrome <strong>de</strong> Guillain-Barré em ida<strong>de</strong> pediátrica. Protocolo <strong>de</strong> actuação<br />

Referências<br />

1. Circular Normativa nº5/DSSP <strong>de</strong> 03/10/1995, revogada<br />

2. Circular Normativa nº 7/DSPS <strong>de</strong> 08/06/1999, revogada<br />

3. Despacho nº1191/2004, DR nº 16- Série II, divulgado pela 1. Circular<br />

Normativa nº 08DSPS <strong>de</strong> 04/05/2004 – “Programa Nacional <strong>de</strong><br />

Erradicação da Poliomielite. Plano <strong>de</strong> Ação Pós Eliminação”, atualmente<br />

em vigor<br />

4. Comissão in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, composta pelos seguintes membros: Luís<br />

Almeida Santos (Presi<strong>de</strong>nte), António Sarmento, Graça Rocha,<br />

Laurinda Queirós, Paula Valente.<br />

193


0873-9781/11/<strong>42</strong>-4/LXV<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

NOTÍCIAS<br />

Calendário <strong>de</strong> Eventos Nacionais e Internacionais<br />

JULHO 2011<br />

• II Encontro <strong>de</strong> Neuro<strong>de</strong>senvolvimento da Cova da Beira.<br />

Covilhã, 1/7/11 (Liliana Brito, tel. 275330000, ext. 14500,<br />

neuro<strong>de</strong>senvolvimento@chcbeira.min-sau<strong>de</strong>.pt, www.neuro<strong>de</strong>senvolvimentochcb.wordpress.com)<br />

• APG - 7th Course in Practical Parenteral Nutrition in Paediatrics.<br />

Londres, Reino Unido, 14-15/7/11 (Kenes UK, tel. 02073838030,<br />

fax 02073838040, apg@kenes.com)<br />

• Curso <strong>de</strong> Verão 2011 da SPP. Luso, 15-17/7/11 (Maria Júlia Brito,<br />

SPP, tel. 217574680, fax 217577617, secretariado@spp.pt)<br />

SETEMBRO 2011<br />

• 1st International <strong>Ped</strong>iatric Conference of <strong>Ped</strong>iatric Cardiology.<br />

Alexandria, Egipto, 1-3/9/11 (www.pe<strong>de</strong>vent.com/ypt)<br />

• Hands-on course: <strong>Ped</strong>iatric Endoscopy. Braga, 8/9/11<br />

(henedinaantunes@gmail.com)<br />

• APG - Gastro Parents Study Day. Londres, Reino Unido, 10/9/11<br />

(Kenes UK, Tel. 02073838030, fax 02073838040, apg@kenes.com)<br />

• 4º Curso <strong>de</strong> Simulação Avançada em <strong>Ped</strong>iatria. Braga, 14/9/11<br />

(Miguel Fonte, tel. 93<strong>42</strong>51494, miguelfonte@gmail.com)<br />

• <strong>Ped</strong>iatric Cardiology. La Spezia, Itália, 15-17/9/11 (Prof.<br />

Stefano Parmigiani, tel. +393288187201, fax +39187533021,<br />

steparmi@inwind.it)<br />

• X Jornadas do Serviço <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria do Hospital <strong>de</strong> Faro. Faro,<br />

22-23/9/11 (Sílvia Prazeres, tel. 289001922, fax 289001924,<br />

pedfaro.jornadas2011@gmail.com)<br />

• III Curso <strong>de</strong> Imagiologia no SNC da Secção <strong>de</strong> Neonatologia<br />

da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria. Aveiro, 23-24/9/11 (Teresa<br />

Ribeira, tel. 213184101, seccao.neonatologia@gmail.com)<br />

• 14as Jornadas <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria - HPP Hospital <strong>de</strong> Cascais. Cascais,<br />

29-30/9/11 (Anabela Vicente, tel. 214653000, 963378804,<br />

anabela.coelho.vicente@hpphospital<strong>de</strong>cascais.pt)<br />

• 5º Curso <strong>de</strong> Formação em Neuropediatria - Paralisia Cerebral.<br />

Coimbra, 29/9/11 (secretariado.spnp@gmail.com)<br />

• APG - Practical Paediatric Gastroenterology Course. Londres, Reino<br />

Unido, 29-30/9/11 (www.a-p-g.org/courses/ppg/Pages/Registration.aspx#)<br />

• 1ª Reunião sobre Infecção Congénita por Citomegalovirus. Porto,<br />

30/9/11 (Alexandra Pereira e Elisabete Tavares, tel. 227868300,<br />

fax 227868399, prenatal@chvng.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• Seminário: Intervenção do Fisioterapeuta na (Dis)função<br />

Respiratória em <strong>Ped</strong>iatria. Porto, 30/9-1/10/11 (ama@estsp.ipp.pt,<br />

www.estsp.ipp.pt ou www.fisiotrimtrim.com)<br />

• Infecção VIH na Criança e no Adolescente. Coimbra, 30/9-1/10/11<br />

(ASIC, tel. 239482000, congressos@asic.pt, www.asic.pt)<br />

OUTUBRO 2011<br />

• Os Hábitos Alimentares da Criança e a Obesida<strong>de</strong>. Beja, 4/10/11<br />

(Ana Neto, tel. 925648628 e 284310228, ana.neto@ulsba.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• 12º Congresso Nacional <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria. Albufeira,<br />

6-8/10/11 (Muris Congressos, 12congresso-spp@muris.pt,<br />

http://12pediatria.congress.muris.pt/pt_PT/)<br />

• IPOKRaTES Clinical Seminar: Nutrition and Gastroenterology of the<br />

Newborn. Sorrento, Itália, 9-11/10/11 (IPOKRaTES, tel. +496214106134,<br />

fax +49621410680134, ipokrates@mcon-mannheim.<strong>de</strong>, www.ipokrates.info)<br />

• <strong>Ped</strong>iatric Allergy and Asthma Meeting. Barcelona, Espanha,<br />

13-15/10/11 (http://eaacipaam2011.aimit.se/home/5343/Page.aspx)<br />

• I Reunião Científica sobre Perturbações do Espectro do<br />

Autismo: Mais Questões, algumas Respostas. Porto, 14-15/10/11<br />

(1reuniaoaut-hsj@muris.pt)<br />

• 52nd Annual Meeting of the European Society for Paediatric Research<br />

(ESPR). Newcastle, Reino Unido, 14-17/10/11 (Kenes International,<br />

tel. +41229080488, fax +41229069140, espr2011@kenes.com)<br />

• IPOKRaTES Clinical Seminar: Neonatal Nursing Seminar. Ria<strong>de</strong>,<br />

Arábia Saudita, 14-17/10/11 (IPOKRaTES, tel. +496214106134,<br />

fax +49621410680134, ipokrates@mcon-mannheim.<strong>de</strong>, www.ipokrates.info)<br />

• Curso <strong>de</strong> Neuropediatria e Desenvolvimento - Do Diagnóstico<br />

à Intervenção. Almada, 19-21/10/11 (reunioes@cdc-hgo.com,<br />

neuroped@hgo.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• III Curso <strong>de</strong> Ventilação Mecânica <strong>Ped</strong>iátrica e Neonatal. Braga,<br />

19-22/10/11 (http://gruporespiratoriosecip.blogspot.com/)<br />

• APG - Paediatric Intestinal Pseudo-obstruction study day and<br />

introduction to the national service. Londres, Reino Unido, 21/10/11<br />

(Kenes UK, tel. 02073838030, fax 02073838040, apg@kenes.com)<br />

• 6ª Escola <strong>de</strong> Outono da Secção <strong>de</strong> Medicina do Adolescente<br />

da SPP. Sesimbra, 27-28/10/11 (Dr.ª Maria Filipe Barros,<br />

sma.spp@gmail.com)<br />

• XVI Curso Internacional <strong>de</strong> Nefrología <strong>Ped</strong>iàtrica. Barcelona,<br />

27-28/10/11 (Luis Enrique Lara, tel./fax 934893082 e 934893111,<br />

lelara@vhebron.net)<br />

• IV Curso <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria Comunitária. Mealhada, 28-29/10/11<br />

(ASIC, Tel. 239482000, congressos@asic.pt, www.asic.pt)<br />

• Patologia Pulmonar Recorrente na Ida<strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iátrica. Beja, 29/10/11<br />

(Ana Neto, tel. 925648628 e 284310228, ana.neto@ulsba.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

NOVEMBRO 2011<br />

• APG - Adolescent Study Day. Londres, Reino Unido, 3/11/11<br />

(Kenes UK, tel. 02073838030, fax 02073838040, apg@kenes.com)<br />

• VIII International Symposium SPDM e 1ª Reunião <strong>de</strong> Doenças<br />

Hereditárias do Metabolismo Luso-Brasileira e <strong>de</strong> Países<br />

<strong>de</strong> Língua <strong>Portuguesa</strong>. Porto, 3-4/11/11 (acorreia@ibmc.up.pt,<br />

www.ibmc.up.spdm2011/)<br />

• Nutrition and Gastroenterology of the Newborn. Atenas, Grécia,<br />

4-6/11/11 (Prof. Ariadne Malamitsi-Puchner, tel. +306944443815,<br />

amalpu@aretaieio.uoa.gr)<br />

• 22nd European Society of Paediatric and Neonatal Intensive<br />

Care (ESPNIC) Medical & Nursing Annual Congress. Hannover,<br />

Alemanha (Kenes International, tel. +41229080488,<br />

fax+41229069140, reg_espnic@kenes.com)<br />

• Encontro da Secção <strong>de</strong> Pneumologia <strong>Ped</strong>iátrica da SPP. Coimbra,<br />

10-11/11/11 (secretariado a anunciar brevemente)<br />

• VI Curso Advanced <strong>Ped</strong>iatric Life Support (APLS). Valencia,<br />

11-12/11/11 (Secretariado, tel. 629741818, fax +3496196<strong>42</strong>69,<br />

info@ivpediatria.org)<br />

• Reunião da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria do Neuro<strong>de</strong>senvolvimento. Évora,<br />

12/11/11 (Natália Prates e Teresa Ramos, neuroevora2011@gmail.com)<br />

• APG - Practical Management of Food Allergies in Children.<br />

Londres, Reino Unido, 3/11/11 (Kenes UK, tel. 02073838030,<br />

fax 02073838040, apg@kenes.com)<br />

• 7th World Congress of the World Society for <strong>Ped</strong>iatric Infectious<br />

Diseases. Melbourne, Austrália, 16-19/11/11 (Kenes International,<br />

tel. +41229080488, fax +41229069140, reg_wspid11@kenes.com)<br />

LXV


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):LXV-VII<br />

Notícias<br />

• 7º Curso <strong>de</strong> Ventilação Mecânica no Recém-nascido: “Ventilação<br />

sincronizada com pressão <strong>de</strong> suporte e volume garantido”. Lisboa,<br />

17-18/11/11 (Carla Oliveira, formacao.h<strong>de</strong>@chlc.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• XIX Jornadas <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria <strong>de</strong> Leiria e Caldas da Rainha.<br />

Óbidos, 17-18/11/11 (tel. 262830383, fax 262830396,<br />

sec.pediatria@chcrainha.min)<br />

• II Reunião do Centro Materno Infantil do Norte / XXIII Reunião<br />

do Hospital <strong>de</strong> Crianças Maria Pia. Porto, 20-25/11/11 (Secretariado,<br />

tel. 915676516, www.reuniaomariapia-cmin.com)<br />

• 5º Curso <strong>de</strong> Simulação Avançada em <strong>Ped</strong>iatria. Braga, 14/9/11<br />

(Miguel Fonte, tel. 93<strong>42</strong>51494, miguelfonte@gmail.com)<br />

• XVIII Jornadas <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria “<strong>Ped</strong>iatria da Adolescência ou<br />

Adolescência da <strong>Ped</strong>iatria?”. Lisboa, 23-26/11/11 (Margarida Vales,<br />

tel. 217805202, fax 217805623, margaridavales@hsm.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• 22th European Society of Paediatric and Neonatal Intensive<br />

Care (ESPNIC) Medicine and Nursing. Hannover, Alemanha<br />

(Kenes International, tel. +41229080488, fax +41229069140,<br />

espnic@kenes.com)<br />

• XVI Jornadas do Serviço <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria do Hospital do Espírito Santo<br />

<strong>de</strong> Évora. Évora, 17-18/5/12 (jornadas.pediatria2012@gmail.com)<br />

• The 2nd Global Congress for Consensus in <strong>Ped</strong>iatrics & Child<br />

Health. Moscovo, Rússia, 17-18/5/12 (Paragon Conventions,<br />

cip@cipediatrics.org, skrein@paragon-conventions.com)<br />

JUNHO 2012<br />

• XXIII European Congress of Perinatal Medicine. Paris, França,<br />

13-16/6/12 (MCA Events, tel. +390234934404, fax +390234934397,<br />

www.mcaevents.org)<br />

OUTUBRO 2012<br />

• 4th Congress of the European Aca<strong>de</strong>my of Paediatric<br />

Societies. Istambul, Turquia, 6-9/10/12 (Kenes International,<br />

paediatrics@kenes.com, www2.kenes.com/paediatrics/Pages/Home.aspx)<br />

DEZEMBRO 2011<br />

• Excellence in Paediatrics International Conference. Istambul,<br />

Turquia, 1-3/12/11 (C&C International Group of Companies,<br />

tel. +302106889130, fax +302106844777, eip-reg@candc-group.com,<br />

www.excellence-in-paediatrics.org)<br />

• Paediatric Radiation Oncology: 2nd edition of the<br />

ESTRO teaching course. Bruxelas, Bélgica, 1-3/12/11<br />

(www.estro-education.org/courses/Pages/Brussels2011Paediatrics.aspx)<br />

• International Conference on <strong>Ped</strong>iatrics & Gynecology.<br />

Filadélfia, USA, 6-8/12/11 (pediatrics2011@omicsonline.org,<br />

www.omicsonline.org/pediatrics2011/abstract.php)<br />

• XIV Reunião da Secção <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria Ambulatória da SPP. Lisboa,<br />

10/12/11 (secretariado a anunciar em breve)<br />

JANEIRO 2012<br />

• VII Congresso <strong>de</strong> Neuropediatria. Porto, 20-21/1/12<br />

(secretariado.spnp@gmail.com, www.neuropediatria.pt)<br />

• 7º Curso <strong>de</strong> Infecciologia <strong>Ped</strong>iátrica. Coimbra, 26-27/1/12<br />

(ASIC, tel. 239482000, congressos@asic.pt, www.asic.pt)<br />

FEVEREIRO 2012<br />

• 3as Jornadas <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria do Hospital CUF Porto. Porto, 3-4/2/12<br />

(Mónica Oliveira, pediatria.cufporto@jmellosau<strong>de</strong>.pt)<br />

• Encontro da Secção <strong>de</strong> Pneumologia <strong>Ped</strong>iátrica da SPP. Coimbra,<br />

9-10/2/12 (secretariado a anunciar brevemente)<br />

• 5ª Reunião <strong>Ped</strong>iátrica do Hospital CUF Descobertas. Lisboa,<br />

9-11/2/12 (secretariado a anunciar brevemente)<br />

• 21º Encontro <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria. Coimbra, 16-17/2/12 (ASIC,<br />

tel. 239482000, congressos@asic.pt, www.asic.pt)<br />

MARÇO 2012<br />

•1 st International Conference on Nutrition and Growth.<br />

Paris, França, 1-3/3/12 (Kenes International, tel. +41229080488,<br />

fax +41229069140, nutrition-growth@kenes.com)<br />

MAIO 2012<br />

• 30th Annual Meeting of the European Society for Paediatric<br />

Infectious Diseases (ESPID). Salónica, Grécia, 8-12/5/12 (Kenes<br />

International, tel. +41229080488, fax +41229069140, espid@kenes.com)<br />

Cursos <strong>de</strong> Formação Contínua em <strong>Ped</strong>iatria<br />

• Neuro<strong>de</strong>senvolvimento em <strong>Ped</strong>iatria: do Diagnóstico à Intervenção.<br />

Organizado pelo Instituto <strong>de</strong> Ciências da Saú<strong>de</strong> da Universida<strong>de</strong> Católica<br />

<strong>Portuguesa</strong> e a Clínica Gerações. Lisboa, 21/1/2011 a 19/11/2011<br />

(tel. 217214147, sau<strong>de</strong>@ics.lisboa.ucp.pt, www.ics.lisboa.ucp.pt)<br />

• Curso <strong>de</strong> Formação Avançada em Alergologia <strong>Ped</strong>iátrica.<br />

Organizado pelo Instituto <strong>de</strong> Ciências da Saú<strong>de</strong> da Universida<strong>de</strong><br />

Católica <strong>Portuguesa</strong> em conjunto com a Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alergologia<br />

<strong>Ped</strong>iátrica do Departamento <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria do Hospital <strong>de</strong> Santa Maria.<br />

Lisboa, Outubro <strong>de</strong> 2011 a Maio <strong>de</strong> 2012; 8 módulos <strong>de</strong> periodicida<strong>de</strong><br />

mensal, 8 ECTS.<br />

• 7º Curso <strong>de</strong> Formação Contínua em <strong>Ped</strong>iatria: “Encontros<br />

à Sexta-feira”. Organizado pelo Departamento da Criança<br />

e do Adolescente, Centro Hospitalar do Porto. Porto,<br />

28/10/2011 a 25/05/2012 (Carolina Cortesão, tel. 915676516,<br />

encontro6feira@gmail.com, http://encontros6feira.no.sapo.pt<br />

• 1º Curso <strong>de</strong> Formação para Internos: 2011-2012. Organizado por<br />

Direcção do Internato, Comissão <strong>de</strong> Internos e Centro <strong>de</strong> Investigação<br />

e Formação Clínica do Hospital <strong>Ped</strong>iátrico <strong>de</strong> Coimbra. Coimbra,<br />

01/02/2011 a 27/11/2012 (Centro <strong>de</strong> Investigação e Formação Clínica<br />

Hospital <strong>Ped</strong>iátrico <strong>de</strong> Coimbra, secadm@chc.min-sau<strong>de</strong>,pt).<br />

• Mestrado em Saú<strong>de</strong> do Adolescente 2011/2012. Organizado<br />

pelo Instituto <strong>de</strong> Formação Avançada da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Medicina da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa. Candidaturas <strong>de</strong> 13/05/2011<br />

a 01/07/2011 (www.fm.ul.pt/IFA, formulário online em<br />

http://fm.aca<strong>de</strong>micos.ul.pt/cssnetfm/page).<br />

• Mestrado em Epi<strong>de</strong>miologia (5ª edição). Organizado pela<br />

Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia do Instituto <strong>de</strong> Medicina Preventiva da<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> Lisboa. Candidaturas até 15/09/2011<br />

(Tel: 217999<strong>42</strong>2 - ext 47090, mepi<strong>de</strong>miologia@fm.ul.pt).<br />

Bolsas e Prémios<br />

• Bolsa Pierre-Fabre da SPP. Atribuída pela <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Ped</strong>iatria, com o patrocínio dos laboratórios Pierre-Fabre - Trabalhos<br />

apresentados ou publicados no 2º semestre <strong>de</strong> 2011. Prazo limite <strong>de</strong><br />

candidaturas 31/12/2011 (webmaster@spp.pt, www.spp.pt)<br />

LXVI


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):LXV-VII<br />

Notícias<br />

• Bolsa S26 <strong>de</strong> Formação/Investigação para internos <strong>de</strong> pediatria.<br />

Patrocina estágio num Serviço com mérito internacional, para o melhor<br />

projecto científico e pessoal, <strong>de</strong> internos do 3º, 4º ou 5º anos do internato<br />

complementar <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria (webmaster@spp.pt, www.spp.pt)<br />

• Prémios S26 para Internos <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria. Para os dois dos melhores<br />

trabalhos científicos, por internos <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria, respectivamente nas<br />

áreas da Nutrição / Infecciologia <strong>Ped</strong>iátricas, ou <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria Geral<br />

(webmaster@spp.pt, www.spp.pt)<br />

• Bolsa S26 para <strong>Ped</strong>iatras. Protocolo entre a SPP e a Pfizer, A<br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria (SPP) proporciona patrocínio <strong>de</strong><br />

estágio numa Instituição estrangeira, a médicos especialistas <strong>de</strong> pediatria<br />

<strong>de</strong> Hospitais Portugueses (webmaster@spp.pt, www.spp.pt)<br />

• Prémio Nuno Viegas Nascimento 2011. Atribuído pela Fundação<br />

Bissaya Barreto, <strong>de</strong>stina-se a premiar o projecto individual ou<br />

institucional que <strong>de</strong>monstre, pelo impacto e benefícios da sua aplicação,<br />

ter promovido e cultivado valores sobre a inovação, a investigação,<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento humano, o amor às crianças, às famílias<br />

e/ou aos <strong>de</strong>sprotegidos. Prazo limite <strong>de</strong> candidaturas 30/06/2011<br />

(www.fbb.pt/premioNVN2011.php)<br />

• Prémio Dr. Nicolau da Fonseca <strong>de</strong> 2011. Atribuído pela Secção <strong>de</strong><br />

<strong>Ped</strong>iatria Ambulatória da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria, com<br />

o patrocínio dos laboratórios Milte, <strong>de</strong>stina-se a distinguir o melhor<br />

trabalho a apresentar na Reunião Anual da referida Secção<br />

(webmaster@spp.pt, www.spp.pt)<br />

LXVII


0873-9781/11/<strong>42</strong>-4/LXVIII<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

NORMAS DE PUBLICAÇÃO<br />

1. Indicações Gerais aos Autores<br />

A <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong> (APP) aceita artigos sobre qualquer tema<br />

pediátrico e materno-fetal, nas múltiplas dimensões científicas, sociais e<br />

culturais relacionadas com a saú<strong>de</strong> e educação da criança e do adolescente.<br />

Aceita também estudos experimentais com animais que contribuam<br />

para o melhor conhecimento da fisiologia e fisiopatologia infantil e fetal<br />

na espécie humana.<br />

São bem-vindos artigos provenientes <strong>de</strong> todos os Países <strong>de</strong> Língua Oficial<br />

<strong>Portuguesa</strong>. Po<strong>de</strong>m ser aceites, pela sua relevância, textos escritos noutras<br />

línguas, <strong>de</strong> reconhecida divulgação internacional.<br />

Os artigos propostos não po<strong>de</strong>m ter sido objecto <strong>de</strong> qualquer outro tipo <strong>de</strong><br />

publicação. Esta restrição não se aplica a notas <strong>de</strong> imprensa ou a resumos<br />

publicados no âmbito <strong>de</strong> reuniões científicas. Se houver publicações<br />

semelhantes à que é submetida ou se existirem dúvidas relativamente ao<br />

cumprimento dos critérios acima mencionados, estas <strong>de</strong>vem ser enviadas<br />

em anexo ao manuscrito em submissão.<br />

Os manuscritos submetidos <strong>de</strong>vem estar <strong>de</strong> acordo com os requisitos <strong>de</strong><br />

submissão <strong>de</strong> manuscritos a revistas biomédicas, elaborados pela Comissão<br />

Internacional <strong>de</strong> Editores <strong>de</strong> Revistas Médicas (Uniform Requirements<br />

for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals – URMSBJ), elaborados<br />

pela Comissão Internacional <strong>de</strong> Editores <strong>de</strong> Revistas Médicas<br />

(International Committee of Medical Journal Editors – ICMJE), disponível<br />

em URL: www.icmje.org e em N Engl J Med 1997;336:309-15 e, em<br />

recente versão portuguesa, em Rev Port Clin Geral 2007;27:778-98<br />

(http://www.apmcg.pt/files/54/documentos/20080304112450125029.pdf).<br />

Os manuscritos são inicialmente avaliados por membros da equipa editorial<br />

e os consi<strong>de</strong>rados a<strong>de</strong>quados são submetidos ao parecer técnico <strong>de</strong><br />

pelo menos dois revisores externos. A revisão é feita anonimamente,<br />

po<strong>de</strong>ndo os revisores propor a rejeição, aceitação sem modificações ou<br />

propor alterações <strong>de</strong> conteúdo ou <strong>de</strong> forma, condicionando a publicação<br />

do artigo às mesmas. Os pareceres da equipa editorial e dos revisores são<br />

comunicados ao(s) autor(es).<br />

Os artigos publicados na <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong> são disponibilizados<br />

<strong>de</strong> acordo com uma licença Creative Commons (Licença Creative<br />

Commons Atribuição – Uso Não Comercial – Partilha nos Termos da<br />

Mesma Licença 3.0), excepto on<strong>de</strong> indicado. Isto significa que os autores<br />

retêm os direitos autorais, mas permitem a cópia electrónica, a distribuição<br />

e a impressão dos artigos publicados para fins não comerciais, académicos<br />

ou individuais, por qualquer utilizador, sem permissão ou pagamento,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que seja referida a autoria e a fonte. É, igualmente, imposto<br />

o licenciamento <strong>de</strong> obras <strong>de</strong>rivadas nos mesmos termos.<br />

Apesar dos editores e dos revisores envidarem esforços para assegurar a<br />

qualida<strong>de</strong> técnica e científica dos manuscritos, a responsabilida<strong>de</strong> final do<br />

conteúdo é dos autores, aos quais pertence a proprieda<strong>de</strong> intelectual dos<br />

artigos.<br />

2. Tipos <strong>de</strong> artigos publicados na <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

A APP prevê a publicação <strong>de</strong> vários tipos <strong>de</strong> artigos:<br />

2.1. Artigos <strong>de</strong> investigação original.<br />

Contendo o resultado <strong>de</strong> investigação original, qualitativa ou quantitativa.<br />

O texto, organizado em introdução, métodos, resultados,<br />

discussão (e eventualmente conclusão), não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 3200<br />

palavras, excluindo referências e ilustrações, com um máximo <strong>de</strong><br />

seis ilustrações e até 30 referências. Devem incluir resumos estruturados,<br />

em português e em inglês, com um limite <strong>de</strong> 300 palavras.<br />

2.2. Publicações breves.<br />

Contendo resultados preliminares ou achados novos. O texto, organizado<br />

em introdução, métodos, resultados, discussão e conclusão,<br />

não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 1500 palavras, excluindo referências e ilustrações,<br />

com um máximo <strong>de</strong> duas ilustrações e até quinze referências.<br />

Devem incluir resumos estruturados em português e em inglês, com<br />

um limite <strong>de</strong> 250 palavras.<br />

2.3. Casos clínicos.<br />

Casos clínicos originais, <strong>de</strong>vidamente estudados e discutidos. O<br />

texto <strong>de</strong>ve incluir uma breve introdução, a <strong>de</strong>scrição do(s) caso(s),<br />

a discussão sucinta que terminará com uma conclusão sumária. O<br />

texto não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 1200 palavras, excluindo referências e ilustrações,<br />

com um máximo <strong>de</strong> duas ilustrações e até doze referências.<br />

Os casos clínicos <strong>de</strong>vem incluir resumos, em português e em inglês,<br />

com um limite <strong>de</strong> 120 palavras, estruturados em introdução, relato<br />

dos casos e discussão (eventualmente conclusão).<br />

2.4. Imagens em <strong>Ped</strong>iatria.<br />

Consiste na <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> um caso clínico <strong>de</strong> modo muito sucinto,<br />

incluindo os dados mais relevantes da anamnese, exame objectivo,<br />

eventuais resultados <strong>de</strong> exames laboratoriais, e uma a três imagens<br />

(fotográfica, radiográfica e ou ecográfica, histológica, cirúrgica,<br />

etc.) elucidativas, com implicações no diagnóstico e/ou na actuação<br />

prática. Deverá ter um título curto e apelativo (não mais que oito<br />

palavras, i<strong>de</strong>almente sem menção do diagnóstico <strong>de</strong>finitivo). Os<br />

nomes dos autores, até máximo <strong>de</strong> quatro, <strong>de</strong>vem ser acompanhados<br />

dareferência ao Serviço e Instituição (alínea 4.1.3 das Normas <strong>de</strong><br />

Publicação); As imagens, a cores ou a preto e branco <strong>de</strong>verão ser <strong>de</strong><br />

elevada qualida<strong>de</strong>, com valor didáctico. As dimensões <strong>de</strong>verão<br />

situar-se entre 12x17 cm e 18x24 cm, po<strong>de</strong>ndo ser colocadas setas<br />

ou outros símbolos numa das imagens. As legendas <strong>de</strong>verão ser<br />

sucintas e suficientemente informativas. O texto não <strong>de</strong>verá ultrapassar<br />

200 palavras, po<strong>de</strong>ndo ser incluídas até cinco referências<br />

bibliográficas em obediências às Normas <strong>de</strong> Publicação (alínea 4.5).<br />

2.5. Séries <strong>de</strong> casos (Casuísticas).<br />

Contendo a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> séries <strong>de</strong> casos, numa perspectiva <strong>de</strong> reflexão<br />

sobre uma experiência particular <strong>de</strong> diagnóstico, tratamento ou<br />

prognóstico. O texto, incluindo uma breve introdução, a <strong>de</strong>scrição dos<br />

casos, a discussão sucinta contendo uma conclusão, não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r<br />

2200 palavras, excluindo referências e ilustrações. O texto <strong>de</strong>ve estar<br />

organizado em introdução, métodos, resultados e discussão (eventualmente<br />

conclusão), com um máximo <strong>de</strong> três ilustrações e até trinta<br />

referências. As séries <strong>de</strong> casos <strong>de</strong>vem apresentar resumos estruturados,<br />

em português e em inglês, com um limite <strong>de</strong> 250 palavras.<br />

2.6. Artigos <strong>de</strong> revisão ou actualização.<br />

Artigos <strong>de</strong> revisão sobre temas das diferentes áreas da <strong>Ped</strong>iatria, com<br />

interesse prático para profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>dicados a crianças e<br />

adolescentes. Este tipo <strong>de</strong> artigos <strong>de</strong> revisão é geralmente solicitado<br />

pelos editores. Contudo, serão avaliados artigos <strong>de</strong> revisão submetidos<br />

sem solicitação prévia dos editores. As revisões sistemáticas ou quantitativas<br />

têm priorida<strong>de</strong> editorial sobre revisões cuja metodologia não<br />

é especificada. O texto não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 3400 palavras, excluindo<br />

referências e ilustrações, incluir um máximo <strong>de</strong> seis ilustrações e até<br />

60 referências. As revisões sistemáticas e quantitativas (metanálises,<br />

p.ex.) <strong>de</strong>vem ser organizadas em introdução, métodos, resultados e<br />

discussão (incluindo conclusões). Os artigos <strong>de</strong>vem incluir resumos,<br />

em português e em inglês, com um limite <strong>de</strong> 250 palavras, <strong>de</strong>vendo<br />

ser estruturados no caso <strong>de</strong> serem revisões quantitativas.<br />

2.7. Consensos e Recomendações.<br />

A submissão <strong>de</strong> consensos e recomendações emanadas por Secções<br />

da SPP ou socieda<strong>de</strong>s afins à SPP <strong>de</strong>verá ser feita pelos respectivos<br />

presi<strong>de</strong>ntes, ou seus representantes. A autoria será atribuída à<br />

Secção ou <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> em causa, <strong>de</strong>vendo constar no fim do texto a<br />

data da aprovação do documento, os nomes dos autores envolvidos<br />

na sua elaboração, respectiva filiação institucional, seguido expressamente<br />

da menção “em representação da Secção <strong>de</strong>... da SPP, ou<br />

da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong>...”. É recomendada a menção da data<br />

prevista para a revisão do Consenso ou Recomendação. O texto não<br />

<strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 3400 palavras, excluindo referências e ilustrações, e<br />

conter um máximo <strong>de</strong> 60 referências. Este tipo <strong>de</strong> manuscrito não é<br />

sujeito a processo <strong>de</strong> revisão externa, sendo apenas submetido a<br />

revisão editorial formal, sendo publicado na rubrica “<strong>Socieda<strong>de</strong></strong><br />

<strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria - Consensos e Recomendações”.<br />

LXVIII


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):LXVIII-LXXIII<br />

Normas <strong>de</strong> Publicação<br />

2.8. Artigos sobre Educação Médica.<br />

Artigos <strong>de</strong> revisão ou opinião sobre a formação médica contínua,<br />

geral ou pediátrica, dirigidos a profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>dicam<br />

a crianças e adolescentes, particularmente a responsáveis pela<br />

formação pré e pós-graduada. Este tipo <strong>de</strong> artigo po<strong>de</strong> ser submetido<br />

sem a solicitação prévia dos editores. O texto não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 2400<br />

palavras, excluindo referências e ilustrações, incluir um máximo <strong>de</strong><br />

três ilustrações e até 20 referências. Os artigos <strong>de</strong>vem incluir resumos,<br />

em português e em inglês, com um limite <strong>de</strong> 250 palavras,<br />

<strong>de</strong>vendo ser estruturados no caso <strong>de</strong> serem estudos originais.<br />

2.9. Artigos sobre Ética.<br />

Artigos <strong>de</strong> revisão ou <strong>de</strong> opinião sobre problemas éticos médicos, <strong>de</strong><br />

carácter geral ou pediátrico. Este tipo <strong>de</strong> artigo po<strong>de</strong> ser submetido<br />

sem a solicitação prévia dos editores. O texto não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 2400<br />

palavras, excluindo referências e ilustrações, incluir um máximo <strong>de</strong><br />

três ilustrações e até 30 referências. Os artigos <strong>de</strong>vem incluir resumos,<br />

em português e em inglês, com um limite <strong>de</strong> 250 palavras,<br />

<strong>de</strong>vendo ser estruturados no caso <strong>de</strong> serem estudos originais.<br />

2.10. Artigos sobre História da Medicina.<br />

Artigos <strong>de</strong> revisão sobre aspectos da História da Medicina, geral ou<br />

pediátrica. Este tipo <strong>de</strong> artigo po<strong>de</strong> ser submetido sem a solicitação<br />

prévia dos editores. O texto não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 2400 palavras,<br />

excluindo referências e ilustrações, incluir um máximo <strong>de</strong> três ilustrações<br />

e até 40 referências. Os artigos <strong>de</strong>vem incluir resumos, em<br />

português e em inglês, com um limite <strong>de</strong> 250 palavras.<br />

2.11. Críticas <strong>de</strong> livros, <strong>de</strong> publicações em versão electrónica, <strong>de</strong><br />

sítios da Internet ou <strong>de</strong> programas informáticos.<br />

O texto não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 600 palavras, excluindo referências e ilustrações,<br />

e incluir no máximo duas ilustrações e até seis referências<br />

bibliográficas, incluindo a referência bibliográfica completa do<br />

objecto da revisão. Estes artigos não <strong>de</strong>vem conter resumos.<br />

2.12. Artigos <strong>de</strong> opinião.<br />

Inci<strong>de</strong>m em comentários, ensaios filosóficos, análises críticas ou<br />

enunciados <strong>de</strong> posição, acerca <strong>de</strong> tópicos <strong>de</strong> interesse nas áreas da<br />

<strong>Ped</strong>iatria e Saú<strong>de</strong> Infantil, políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e educação médica. O<br />

texto não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 900 palavras, excluindo referências e ilustrações,<br />

e incluir no máximo uma ilustração e até cinco referências.<br />

Estes artigos não <strong>de</strong>vem conter resumos.<br />

2.13. Cartas ao Director.<br />

Comentários sucintos a artigos publicados na APP ou relatando <strong>de</strong><br />

forma muito breve e objectiva os resultados <strong>de</strong> observação clínica ou<br />

investigação original que não justifiquem publicação mais extensa.<br />

O texto não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 400 palavras, excluindo referências e ilustrações,<br />

e incluir no máximo uma ilustração e até seis referências.<br />

As cartas ao director não <strong>de</strong>vem conter resumos.<br />

3. Submissão <strong>de</strong> Manuscritos.<br />

Os manuscritos submetidos à APP <strong>de</strong>vem ser preparados <strong>de</strong> acordo com<br />

as recomendações abaixo indicadas e acompanhados <strong>de</strong> uma carta <strong>de</strong><br />

apresentação dirigida ao Director da <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong>.<br />

A carta <strong>de</strong> apresentação <strong>de</strong>ve incluir a seguinte informação:<br />

1) Título completo do manuscrito;<br />

2) Nomes dos autores com especificação do contributo <strong>de</strong> cada um<br />

para o manuscrito; justificação <strong>de</strong> número elevado <strong>de</strong> autores<br />

(mais <strong>de</strong> seis), se tal ocorrer;<br />

3) Especificação do tipo <strong>de</strong> artigo, <strong>de</strong> acordo com a classificação<br />

da APP;<br />

4) Fontes <strong>de</strong> financiamento, incluindo bolsas e patrocínios<br />

comerciais;<br />

5) Explicitação <strong>de</strong> conflitos <strong>de</strong> interesse ou da sua ausência;<br />

6) Declaração <strong>de</strong> que o manuscrito não foi ainda publicado, na<br />

íntegra ou em parte, e <strong>de</strong> que nenhuma versão do manuscrito<br />

está a ser avaliada por outra revista;<br />

7) Declaração <strong>de</strong> que todos os autores aprovaram a versão do<br />

manuscrito que está a ser submetida;<br />

8) Assinatura <strong>de</strong> todos os autores.<br />

É dada preferência à submissão dos manuscritos por e-mail (secretariado@spp.pt).<br />

O manuscrito e a carta <strong>de</strong> apresentação <strong>de</strong>vem ser enviados em<br />

ficheiros separados. Deve ser enviada por correio ou por fax (217 577 617)<br />

uma cópia da carta <strong>de</strong> apresentação assinada por todos os autores.<br />

Quando estiver disponível a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> submissão on-line, através<br />

das páginas electrónicas da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

(www.spp.pt), será esta a forma <strong>de</strong> submissão preferencial.<br />

Se não for possível efectuar a submissão por e-mail, esta po<strong>de</strong> ser efectuada<br />

por correio, com o envio do suporte digital, para o en<strong>de</strong>reço:<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

Rua Amílcar Cabral, 15, R/C I<br />

1750-018 Lisboa, PORTUGAL<br />

Os manuscritos rejeitados ou o material que os acompanha não serão<br />

<strong>de</strong>volvidos, excepto quando expressamente solicitado no momento da<br />

submissão.<br />

4. Formatação dos Manuscritos.<br />

A formatação dos artigos submetidos para publicação <strong>de</strong>ve seguir os<br />

URMSBJ - ICMJE (vi<strong>de</strong> “1. Indicações Gerais aos Autores”).<br />

Todo o manuscrito, incluindo referências, tabelas e legendas <strong>de</strong> Ilustrações,<br />

<strong>de</strong>ve ser redigido em coluna única, a dois espaços, com letra <strong>de</strong><br />

dimensão 12, e justificado à esquerda.<br />

Aconselha-se a utilização dos formatos <strong>de</strong> letra Times, Times New Roman,<br />

ou Arial; para caracteres especiais, aconselha-se a utilização do formato<br />

Symbol.<br />

Em todo o manuscrito as quatro margens <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong> 2,5 cm.<br />

Todas as páginas <strong>de</strong>vem ser numeradas, incluindo a página <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação<br />

do manuscrito.<br />

Devem ser inseridas quebras <strong>de</strong> página entre cada secção do manuscrito.<br />

Não <strong>de</strong>vem conter cabeçalhos nem rodapés.<br />

A publicação <strong>de</strong> citações, quadros ou ilustrações cuja origem esteja sujeita<br />

a direitos <strong>de</strong> autor, está <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da citação completa da fonte e/ou da<br />

autorização do <strong>de</strong>tentor dos direitos <strong>de</strong> autor.<br />

Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> medida - Devem ser utilizadas as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> medida do<br />

Sistema Internacional (SI), mas os editores po<strong>de</strong>m solicitar a apresentação<br />

<strong>de</strong> outras unida<strong>de</strong>s não pertencentes ao SI.<br />

Abreviaturas - Devem evitar-se acrónimos e abreviaturas no título e nos<br />

resumos. Quando for necessária a sua utilização, <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>finidos na<br />

primeira vez que são mencionados no texto. O seu significado <strong>de</strong>ve também<br />

ficar explícito no resumo, nos quadros e figuras, excepto no caso das unida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> medida. Quando usados mais do que seis acrónimos ou abreviaturas,<br />

recomenda-se a inclusão <strong>de</strong> um quadro com a lista completa dos mesmos.<br />

Nomes <strong>de</strong> doenças – Os nomes <strong>de</strong> doenças <strong>de</strong>vem ser escritos em minúscula,<br />

exceptuando-se apenas aqueles que contêm toponímicos ou antropónimos.<br />

Nomes <strong>de</strong> medicamentos - Deve ser preferida a utilização da Designação<br />

Comum Internacional (DCI) <strong>de</strong> fármacos, escrito em minúscula, em vez <strong>de</strong><br />

nomes comerciais <strong>de</strong> medicamentos. Quando forem utilizadas marcas registadas,<br />

po<strong>de</strong> ser mencionado o nome do medicamento, em maiúscula e seguido<br />

do símbolo ®, e o nome do fabricante e a sua se<strong>de</strong>, entre parêntesis.<br />

Nomes <strong>de</strong> instrumentos – Os instrumentos <strong>de</strong> medida, diagnóstico ou<br />

programas informáticos utilizados no estudo e mencionados no manuscrito<br />

<strong>de</strong>vem ser apresentados <strong>de</strong> forma genérica e através do seu nome<br />

comercial, seguido do símbolo ®, e o nome do fabricante e a sua se<strong>de</strong>,<br />

entre parêntesis.<br />

Local do estudo – A filiação institucional dos autores <strong>de</strong>ve ser referida na<br />

página do título. Não <strong>de</strong>ve ficar explícita, no texto ou no resumo, a i<strong>de</strong>ntificação<br />

da instituição on<strong>de</strong> <strong>de</strong>correu o estudo, <strong>de</strong> modo a manter o duplo<br />

anonimato da revisão. Se essa referência for importante para a compreensão<br />

do manuscrito, <strong>de</strong>ve ser feita em termos <strong>de</strong> caracterização genérica do<br />

LXIX


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):LXVIII-LXXIII<br />

Normas <strong>de</strong> Publicação<br />

nível <strong>de</strong> diferenciação e local geográfico da instituição (exº: “hospital universitário<br />

<strong>de</strong> nível III” ou “centro <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> em área rural”).<br />

Secções do manuscrito - O manuscrito <strong>de</strong>ve ser apresentado na seguinte<br />

or<strong>de</strong>m:<br />

1 - Título (em português e inglês) e título abreviado, autores, instituições,<br />

agra<strong>de</strong>cimentos, en<strong>de</strong>reço (e autor) para correspondência;<br />

2 - Resumos e Palavras-chave (em português e inglês);<br />

3 - Texto;<br />

4 - Referências;<br />

5 - Legendas;<br />

6 - Ilustrações:<br />

6.1 - Quadros;<br />

6.2 - Figuras.<br />

4.1. Página <strong>de</strong> I<strong>de</strong>ntificação.<br />

Na primeira página do manuscrito <strong>de</strong>vem constar:<br />

4.1.1. O título (conciso e <strong>de</strong>scritivo), na língua original do manuscrito<br />

e em inglês;<br />

4.1.2. Um título abreviado (com um máximo <strong>de</strong> 40 caracteres,<br />

incluindo espaços);<br />

4.1.3. Os nomes dos autores, incluindo o primeiro nome por<br />

extenso (não <strong>de</strong>vem incluir graus académicos ou profissionais<br />

ou títulos honoríficos);<br />

4.1.4. A filiação institucional <strong>de</strong> cada autor no momento em que o<br />

trabalho foi realizado (<strong>de</strong>ve figurar apenas na página do<br />

título; casos excepcionais <strong>de</strong>vem ser justificados);<br />

4.1.5. A contribuição <strong>de</strong> cada autor para o trabalho.<br />

Como referido nos URMSBJ - ICMJE, a autoria requer uma<br />

contribuição substancial em, pelo menos, uma das seguintes<br />

activida<strong>de</strong>s:<br />

– Concepção e <strong>de</strong>senho do estudo, ou obtenção<br />

dos dados, ou análise e interpretação dos dados;<br />

– Redacção do manuscrito ou revisão crítica do<br />

seu conteúdo intelectual;<br />

– Aprovação final da versão submetida para<br />

publicação.<br />

A obtenção <strong>de</strong> financiamento, a recolha <strong>de</strong> dados ou a supervisão<br />

geral do grupo <strong>de</strong> trabalho, por si só, não justificam autoria.<br />

É necessário especificar a contribuição <strong>de</strong> cada autor para o<br />

trabalho. Sugere-se a seguinte discriminação:<br />

(a) Desenho do estudo.<br />

(b) Recolha <strong>de</strong> dados.<br />

(c) Análise estatística.<br />

(d) Interpretação dos dados.<br />

(e) Preparação do manuscrito.<br />

(f) Pesquisa bibliográfica.<br />

(g) Recolha <strong>de</strong> fundos.<br />

Nos manuscritos assinados por mais <strong>de</strong> seis autores (três<br />

autores no caso das cartas ao editor), tem que ser explicitada<br />

a razão <strong>de</strong> uma autoria tão alargada. É necessária a aprovação<br />

<strong>de</strong> todos os autores, por escrito, <strong>de</strong> quaisquer modificações<br />

da autoria do artigo após a sua submissão.<br />

4.1.6. O nome e contactos do autor que <strong>de</strong>verá receber a correspondência,<br />

incluindo en<strong>de</strong>reço postal e telefone, fax ou e-mail;<br />

4.1.7. Os Agra<strong>de</strong>cimentos, mencionando colaboradores que não<br />

cumpram critérios para autoria mas que contribuíram substancialmente<br />

para o estudo ou manuscrito, especificando o<br />

seu contributo.<br />

4.1.8. Eventuais fontes <strong>de</strong> financiamento, como patrocínios ou bolsas.<br />

4.1.9. Declaração <strong>de</strong> Conflito <strong>de</strong> Interesses entre os autores e<br />

alguma eventual instituição ou empresa comercial ligada <strong>de</strong><br />

alguma forma ao âmbito do estudo ou manuscrito.<br />

4.1.10. Contagem <strong>de</strong> palavras, respectivamente, para cada resumo e<br />

para o texto principal (não incluindo referências e ilustrações).<br />

4.2. Resumo e Palavras-Chave.<br />

4.2.1. Resumo - Deve ser redigido na língua original do manuscrito<br />

e inglês, não ultrapassando os limites indicados na<br />

especificação dos tipos <strong>de</strong> manuscritos mas suficientemente<br />

informativo e elaborado segundo um formato estruturado<br />

contendo os seguintes itens:<br />

4.2.1.1. Os resumos <strong>de</strong> artigos <strong>de</strong> investigação original,<br />

publicações breves e revisões quantitativas <strong>de</strong>vem<br />

ser estruturados (introdução, métodos, resultados,<br />

discussão e conclusões) e apresentar conteúdo<br />

semelhante ao do manuscrito.<br />

4.2.1.2. Nos casos clínicos e séries <strong>de</strong> casos, <strong>de</strong>vem ser<br />

estruturados em introdução, relato do(s) caso(s),<br />

discussão (incluindo a conclusão); a conclusão<br />

<strong>de</strong>ve <strong>de</strong>stacar os aspectos que justificam a publicação<br />

do caso ou serie <strong>de</strong> casos.<br />

4.2.1.3. Os resumos <strong>de</strong> manuscritos referentes a revisões não<br />

sistemáticas e artigos <strong>de</strong> opinião não são estruturados<br />

segundo as secções referidas na alínea anterior.<br />

Nos resumos não <strong>de</strong>vem ser utilizadas referências e as abreviaturas<br />

<strong>de</strong>vem limitar-se ao mínimo.<br />

4.2.2. Palavras-chave - Devem ser indicadas logo a seguir ao resumo<br />

até seis palavras-chave, em português e em inglês, preferencialmente<br />

em concordância com o Medical Subject Headings<br />

(MeSH) utilizado no In<strong>de</strong>x Medicus. Para a selecção correcta<br />

das palavras-chave recomenda-se a consulta das listas <strong>de</strong> palavras<br />

usadas nos motores <strong>de</strong> busca: para português em<br />

http://www.bireme.br/php/<strong>de</strong>csws.php ou em http://<strong>de</strong>cs.bvs.br/<br />

e em inglês http://www.nlm.nih.gov/mesh/meshhome.html.<br />

Nos manuscritos que não incluem resumos, as palavras-chave<br />

<strong>de</strong>vem ser apresentadas no final do manuscrito.<br />

4.3. Texto.<br />

O texto po<strong>de</strong>rá ser apresentado em português ou inglês (po<strong>de</strong>rá ser<br />

excepcionalmente consi<strong>de</strong>rada a submissão <strong>de</strong> textos noutras línguas,<br />

<strong>de</strong> reconhecida divulgação internacional).<br />

Os números <strong>de</strong> um a quinze <strong>de</strong>vem ser escritos por extenso,<br />

excepto quando têm <strong>de</strong>cimais ou se seguidos <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

medida. Números superiores a quinze são escritos em algarismos,<br />

salvo no início <strong>de</strong> uma frase. As casas <strong>de</strong>cimais <strong>de</strong>vem assinalar-se<br />

com vírgulas.<br />

4.3.1. Introdução - Deve conter essencialmente os argumentos<br />

científicos que fundamentam a realização do estudo e justificam<br />

os objectivos. Po<strong>de</strong> concluir com o enunciado dos<br />

objectivos do estudo. Esta secção <strong>de</strong>ve apenas conter as<br />

referências bibliográficas indispensáveis para o fundamento<br />

e os objectivos do estudo.<br />

4.3.2. Objectivos - Os objectivos do estudo po<strong>de</strong>m ser apresentados<br />

no final da Introdução ou em secção própria, <strong>de</strong>vendo<br />

ser claros, explícitos e não conter elementos metodológicos<br />

no enunciado.<br />

4.3.3. Métodos – Esta secção po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>nominar-se, consoante a<br />

natureza do estudo, “Métodos”, “Material e Métodos”,<br />

“Amostra e Métodos”, “População e Métodos”, ou simplesmente<br />

“Metodologia”. Nesta secção <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>screver-se:<br />

4.3.3.1. A amostra ou a população em estudo (especificando<br />

a sua <strong>de</strong>finição e forma <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação, recrutamento<br />

ou selecção);<br />

4.3.3.2. A localização do estudo no tempo e no espaço;<br />

4.3.3.3. O <strong>de</strong>senho do estudo;<br />

4.3.3.4. Os métodos <strong>de</strong> recolha <strong>de</strong> dados;<br />

LXX


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):LXVIII-LXXIII<br />

Normas <strong>de</strong> Publicação<br />

4.3.3.5. Os métodos <strong>de</strong> análise dos dados: Os métodos estatísticos<br />

<strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>scritos com o <strong>de</strong>talhe suficiente<br />

<strong>de</strong> modo a possibilitar a reprodução dos<br />

resultados apresentados. Sempre que possível <strong>de</strong>ve<br />

ser quantificada a imprecisão das estimativas apresentadas,<br />

<strong>de</strong>signadamente através da apresentação<br />

<strong>de</strong> intervalos <strong>de</strong> confiança. Deve evitar-se uma utilização<br />

excessiva <strong>de</strong> testes <strong>de</strong> hipóteses, com o uso<br />

<strong>de</strong> valores <strong>de</strong> p, que não fornecem informação<br />

quantitativa importante. Deve ser mencionado o<br />

software utilizado na análise dos dados, referindo o<br />

seu fabricante e, se consi<strong>de</strong>rado necessário, inserindo<br />

a referência <strong>de</strong> citação.<br />

4.3.3.6. As consi<strong>de</strong>rações éticas <strong>de</strong>vem figurar no final<br />

<strong>de</strong>sta secção. Os autores <strong>de</strong>vem assegurar que todas<br />

as investigações envolvendo seres humanos foram<br />

aprovadas por comissões <strong>de</strong> ética das instituições<br />

em que a investigação foi realizada, <strong>de</strong> acordo com<br />

a Declaração <strong>de</strong> Helsínquia da Associação Médica<br />

Mundial . Nesta secção <strong>de</strong>ve ser mencionada esta<br />

aprovação e a obtenção <strong>de</strong> consentimento informado,<br />

se aplicável.<br />

4.3.4. Resultados - Os resultados <strong>de</strong>vem ser apresentados no texto,<br />

usando eventualmente Ilustrações (Quadros e Figuras), seguindo<br />

uma sequência lógica. Não <strong>de</strong>ve ser fornecida informação<br />

redundante, aparecendo em duplicado no texto e nas ilustrações,<br />

bastando <strong>de</strong>screver a principais observações referidas nas<br />

ilustrações. (vi<strong>de</strong> infra as recomendações sobre Ilustrações).<br />

4.3.5. Discussão - Na discussão não <strong>de</strong>ve ser repetida <strong>de</strong>talhadamente<br />

a informação fornecida na secção <strong>de</strong> Resultados. A<br />

discussão <strong>de</strong>ve incidir nas limitações do estudo, na relação<br />

dos resultados obtidos com o observado noutras investigações,<br />

<strong>de</strong>vem ser evi<strong>de</strong>nciados os aspectos inovadores do<br />

estudo e as conclusões que <strong>de</strong>les resultam. Nesta secção<br />

apenas <strong>de</strong>vem ser incluídas as referências indispensáveis<br />

para discutir os resultados do estudo.<br />

4.3.6. Conclusão – Esta secção po<strong>de</strong> surgir separada da Discussão<br />

ou incluída no final da mesma. É importante que as conclusões<br />

estejam <strong>de</strong> acordo com os objectivos do estudo, <strong>de</strong>vendo-se<br />

evitar afirmações e conclusões que não sejam completamente<br />

apoiadas pelos resultados da investigação realizada.<br />

4.4. Ilustrações.<br />

As Ilustrações <strong>de</strong>vem ser anexadas após as referências bibliográficas.<br />

As Figuras <strong>de</strong>vem ser anexas após os Quadros.<br />

Cada Quadro ou Figura <strong>de</strong>ve ser apresentada em páginas separadas,<br />

juntamente com os respectivos título e as notas explicativas.<br />

Os Quadros e Figuras <strong>de</strong>vem ser numeradas separadamente (numeração<br />

romana para Quadros e numeração árabe para Figuras) <strong>de</strong><br />

acordo com a or<strong>de</strong>m com que são apresentadas no texto.<br />

Devem ser mencionadas no texto todos os Quadros e Figuras.<br />

Cada Quadro ou Figura <strong>de</strong>ve ser acompanhado <strong>de</strong> um título e notas<br />

explicativas (ex. <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> abreviaturas) <strong>de</strong> modo a serem compreendidas<br />

e interpretadas sem recurso ao texto do manuscrito. Se<br />

a ilustração possui uma tabela ou gráfico que inclua o resultado da<br />

análise estatística, <strong>de</strong>vem ser referidos o teste estatístico usado e o<br />

seu nível <strong>de</strong> significância (no caso do cálculo do risco relativo ou<br />

do odds ratio, <strong>de</strong>vem ser incluídos os seus intervalos <strong>de</strong> confiança).<br />

O título <strong>de</strong> cada Quadro ou Figura <strong>de</strong>ve ter uma explicação sucinta<br />

do conteúdo, que chame a atenção do leitor para o seu aspecto mais<br />

importante e/ou que auxilie a sua compreensão.<br />

Nos Quadros, o título e notas explicativas encimam a tabela; nas<br />

Figuras, o título e notas explicativas colocam-se por baixo da ilustração.<br />

Para as notas explicativas dos Quadros ou Figuras <strong>de</strong>vem ser utilizados<br />

os seguintes símbolos, nesta mesma sequência: *, †, ‡, §, ||,<br />

, **, ††, ‡‡ .<br />

Nas tabelas <strong>de</strong>vem ser utilizadas apenas linhas <strong>de</strong> limite horizontais.<br />

As Figuras, incluindo gráficos, mapas, ilustrações, fotografias ou outros<br />

materiais, <strong>de</strong>vem ser formatadas em computador ou digitalizadas.<br />

Nos gráficos, as legendas dos eixos <strong>de</strong>vem ser preferencialmente<br />

escritas paralelamente aos eixos das or<strong>de</strong>nadas e das abcissas, indicando<br />

as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> medida. Esses eixos <strong>de</strong>vem ter marcas correspon<strong>de</strong>ntes<br />

aos valores.<br />

Quando digitalizadas, as legendas, símbolos, setas ou letras <strong>de</strong>vem<br />

ser inseridas no ficheiro da imagem das fotografias ou ilustrações<br />

correspon<strong>de</strong>ntes. Os símbolos, setas ou letras <strong>de</strong>vem contrastar<br />

suficientemente com o fundo <strong>de</strong> fotografias ou ilustrações.<br />

As ilustrações que incluam fotografias <strong>de</strong> doentes, <strong>de</strong>verão ser<br />

acompanhadas pela autorização do doente ou do seu responsável<br />

legal, permitindo a sua publicação, <strong>de</strong>vendo ter os olhos tapados ou<br />

<strong>de</strong>sfocados digitalmente, <strong>de</strong> modo a impedir a sua i<strong>de</strong>ntificação,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que isso não <strong>de</strong>svirtue a intenção da apresentação da imagem.<br />

A dimensão das ilustrações é habitualmente reduzida à largura <strong>de</strong><br />

uma coluna, pelo que as mesmas e o texto que as acompanha <strong>de</strong>vem<br />

ser facilmente legíveis após redução.<br />

A resolução <strong>de</strong> imagens a preto e branco <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong> pelo menos<br />

1200 dpi e a <strong>de</strong> imagens com tons <strong>de</strong> cinzento ou a cores <strong>de</strong>ve ser<br />

<strong>de</strong> pelo menos 300 dpi.<br />

Uma vez que a impressão final da APP é predominantemente a<br />

preto e branco ou em tons <strong>de</strong> cinzento, os gráficos não <strong>de</strong>verão conter<br />

cores. A submissão <strong>de</strong> imagens a cores <strong>de</strong>ve ser reduzida ao<br />

mínimo necessário, dado o número limitado <strong>de</strong> páginas a cores possível<br />

em cada número da APP. O excesso <strong>de</strong> imagens a cores po<strong>de</strong>rá<br />

atrasar a data <strong>de</strong> publicação até haver disponibilida<strong>de</strong> editorial.<br />

Na primeira submissão do manuscrito não <strong>de</strong>vem ser enviados originais<br />

<strong>de</strong> fotografias, ilustrações ou outros materiais, como películas<br />

<strong>de</strong> raios-X. As figuras criadas em computador ou convertidas<br />

em formato electrónico após digitalização <strong>de</strong>vem ser preferencialmente<br />

inseridas no ficheiro do manuscrito.<br />

Em caso <strong>de</strong> aceitação do manuscrito, serão solicitadas as Ilustrações<br />

nos formatos mais a<strong>de</strong>quados para a sua reprodução na revista.<br />

4.5. Referências.<br />

As referências <strong>de</strong>vem ser listadas após o texto principal, numeradas<br />

sequencialmente, pela or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> citação no texto e com o mesmo<br />

formato <strong>de</strong> letra com que figura no texto.<br />

No texto, os números das referências <strong>de</strong>vem ser apresentados em<br />

expoente, antes <strong>de</strong> vírgulas ou pontos finais (ex.: “segundo alguns autores<br />

3,5,7 ”). Referências sequenciais <strong>de</strong>vem ser feitas indicando apenas a<br />

primeira e a última, unidas por hífen (ex.: “segundo alguns autores 5-7 ”).<br />

Não <strong>de</strong>ve ser utilizado software para numeração automática das<br />

referências.<br />

Deve evitar-se a citação <strong>de</strong> referências secundárias (textos que<br />

fazem referência às publicações originais), resumos e comunicações<br />

pessoais (estas serão referidas no texto como tal).<br />

Os autores <strong>de</strong>vem verificar se todas as referências estão <strong>de</strong> acordo<br />

com os documentos originais.<br />

Devem ser utilizados os nomes abreviados das publicações, <strong>de</strong> acordo<br />

com o adoptado pelo In<strong>de</strong>x Medicus. Os nomes abreviados <strong>de</strong>vem ser<br />

escritos em itálico, sem pontuação. Em caso <strong>de</strong> dúvida sobre qual o nome<br />

abreviado correcto <strong>de</strong> publicações internacionais po<strong>de</strong> ser consultado<br />

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?cmd=search&db=journals.<br />

Uma <strong>de</strong>scrição pormenorizada do formato dos diferentes tipos <strong>de</strong> referências<br />

conforme as regras <strong>de</strong> URMSBJ – ICMJE, po<strong>de</strong> ser encontrada<br />

em http://www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html ou em<br />

http://www.icmje.org.<br />

Citam-se apenas alguns tipos <strong>de</strong> referenciação:<br />

4.5.1. Artigo <strong>de</strong> revista: Relação <strong>de</strong> todos os autores - apelido<br />

seguido das iniciais dos primeiros nomes, sem pontos (se<br />

mais <strong>de</strong> seis autores, constarão os seis primeiros, seguidos<br />

<strong>de</strong> “et al”, em itálico). Título do artigo. Nome da revista<br />

(abreviada e em itálico), ano <strong>de</strong> publicação seguido <strong>de</strong> ponto<br />

e vírgula, número do volume seguido <strong>de</strong> dois pontos, e<br />

LXXI


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):LXVIII-LXXIII<br />

Normas <strong>de</strong> Publicação<br />

primeira e última páginas (exemplo 1). Em muitas revistas,<br />

os artigos que não têm estrita natureza científica têm numeração<br />

romana (exemplo 2). Em casos excepcionais a paginação<br />

inicia-se em cada número do mesmo volume, nestes<br />

casos, o número <strong>de</strong>ve figurar entre parêntesis logo a seguir<br />

ao volume (exemplo 3); na maioria das revistas médicas a<br />

paginação é contínua ao longo <strong>de</strong> todo o volume e neste<br />

caso o número <strong>de</strong>ve ser omitido. Quando se trata <strong>de</strong> um<br />

suplemento <strong>de</strong>ve figurar logo a seguir ao volume, com indicação<br />

da numeração do suplemento se este for o caso<br />

(exemplo 4). No caso <strong>de</strong> carta ao editor ou resumo, <strong>de</strong>ve ser<br />

assinalado em parêntesis recto logo a seguir ao título do<br />

artigo (exemplo 5).<br />

Exemplos:<br />

E1 - Levy ML. Adolescência e adolescentes. <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr<br />

Port 1995;5:255-8.<br />

E2 - Chadwick R, Schuklenk U. The politics of ethical consensus<br />

finding. Bioethics 2002;16:iii-v.<br />

E3 - Diabetes Prevention Program Research Group. Hypertension,<br />

insulin, and proinsulin in participants with impaired<br />

glucose tolerance. <strong>Ped</strong>iatr Nurs Rev 2002;40(2):679-86.<br />

E4 - Geraud G, Spierings EL, Keywood C. Tolerability and<br />

safety of frovatriptan with short- and long-term use for<br />

treatment of migraine and in comparison with sumatriptan.<br />

Headache 2002;<strong>42</strong> Suppl 2:S93-9.<br />

E5 - Tor M, Turker H. International approaches to the prescription<br />

of long-term oxygen therapy [letter]. Eur Respir J<br />

2002;20:2<strong>42</strong>.<br />

4.5.2. Artigo em publicação electrónica:<br />

Exemplos:<br />

– Yu WM, Hawley TS, Hawley RG, Qu CK. Immortalization<br />

of yolk sac-<strong>de</strong>rived precursor cells. Blood 2002 Nov<br />

15;100(10):3828-31. Epub 2002 Jul 5.<br />

– Abood S. Quality improvement initiative in nursing<br />

homes: the ANA acts in an advisory role. Am J Nurs [serial<br />

on the Internet]. 2002 Jun [cited 2002 Aug 12];<br />

102(6):[about 3p.]. Acessível em: http://www.nursingworld.org/AJN/2002/june/Wawatch.htm<br />

4.5.3. Livro: Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros<br />

nomes do(s) autor(es). Título do livro em itálico e iniciais<br />

maiúsculas. Edição. Cida<strong>de</strong>: nome da casa editora; ano <strong>de</strong><br />

publicação.<br />

– Murray PR, Rosenthal KS, Kobayashi GS, Pfaller MA.<br />

Medical Microbiology. 4th ed. St. Louis: Mosby; 2002.<br />

4.5.4. Capítulo <strong>de</strong> livro: Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos<br />

primeiros nomes do(s) autor(es) do capítulo. Título do capítulo.<br />

In: Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros<br />

nomes do(s) editor(es), eds. Título do livro em itálico e iniciais<br />

maiúsculas. Número da edição. Cida<strong>de</strong>: nome da casa editora;<br />

ano <strong>de</strong> publicação. Número da primeira e última páginas.<br />

– Arvin AN. Infection control. In: Behrman RE, Kliegman<br />

RM, Arvin AM, editors. Nelson Textbook of <strong>Ped</strong>iatrics.<br />

15th ed. Phila<strong>de</strong>lphia: WB Saun<strong>de</strong>rs Company; 1996;<br />

1027-8.<br />

4.5.5. Comunicação em jornadas, congressos e similares:<br />

Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros nomes<br />

do(s) autor(es) da comunicação. Título da comunicação. In:<br />

Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros nomes<br />

do(s) editor(es), eds. Livro <strong>de</strong> publicação das comunicações;<br />

data e local da reunião. Cida<strong>de</strong> e nome da casa editora<br />

(se referido); ano <strong>de</strong> publicação. Número da primeira e<br />

última páginas.<br />

– Christensen S, Oppacher F. An analysis of Koza’s computational<br />

effort statistic for genetic programming. In:<br />

Foster JA, Lutton E, Miller J, Ryan C, Tettamanzi AG,<br />

eds. Genetic programming. EuroGP 2002: Proceedings of<br />

the 5th European Conference on Genetic Programming;<br />

2002 Apr 3-5; Kinsdale, Ireland. Berlin: Springer; 2002.<br />

p. 182-91.<br />

4.5.6. Página web:<br />

– Cancer-Pain.org [homepage on the Internet]. New York:<br />

Association of Cancer Online Resources, Inc.; c2000-01<br />

[updated 2002 May 16; cited 2002 Jul 9]. Acessível em:<br />

http://www.cancer-pain.org/.<br />

5. Autorizações.<br />

Antes <strong>de</strong> submeter um manuscrito à APP, os autores <strong>de</strong>vem ter em sua<br />

posse os seguintes documentos que po<strong>de</strong>rão ser solicitados pelo corpo<br />

editorial:<br />

– consentimento informado <strong>de</strong> cada participante;<br />

– consentimento informado relativamente a cada indivíduo presente<br />

em fotografias, mesmo após tentativa <strong>de</strong> ocultar a respectiva<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>;<br />

– transferência <strong>de</strong> direitos <strong>de</strong> autor <strong>de</strong> imagens ou ilustrações;<br />

– autorizações para utilização <strong>de</strong> material previamente publicado;<br />

– autorização dos colaboradores mencionados na secção <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimentos.<br />

6. Revisão <strong>de</strong> Manuscritos.<br />

No caso do artigo ser aceite condicionado a modificações, estas <strong>de</strong>vem ser<br />

realizadas pelos autores no prazo indicado pela APP. O reenvio <strong>de</strong> nova<br />

versão do manuscrito <strong>de</strong>ve acompanhar-se da resposta dos autores às<br />

sugestões feitas pelos revisores.<br />

No momento da aceitação, os autores serão informados se <strong>de</strong>vem ser<br />

enviadas as ilustrações num formato diferente àquele em que foram inicialmente<br />

enviadas.<br />

As provas tipográficas serão enviadas aos autores, contendo a indicação<br />

do prazo <strong>de</strong> revisão em função das necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> publicação da APP. A<br />

revisão <strong>de</strong>ve ser aprovada por todos os autores. Nesta fase aceitam-se apenas<br />

modificações que <strong>de</strong>corram da correcção <strong>de</strong> erros tipográficos. A correcção<br />

<strong>de</strong>ve ser efectuada em documento à parte, referindo a página, coluna,<br />

parágrafo e linha na qual se preten<strong>de</strong> que se proceda às correcções.<br />

O não respeito do prazo <strong>de</strong>sobriga a APP a aceitar a revisão pelos autores,<br />

po<strong>de</strong>ndo a revisão ser efectuada exclusivamente pelos serviços da APP.<br />

Juntamente com a correcção das provas tipográficas, <strong>de</strong>ve ser enviada<br />

uma <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> direitos <strong>de</strong> autor para APP, assinada<br />

por todos os autores (documento fornecido pela APP).<br />

7. Separatas.<br />

Po<strong>de</strong>rá ser solicitado ao Secretariado da APP o envio em formato PDF <strong>de</strong><br />

artigos publicados recentemente. No entanto, estes estão disponíveis em<br />

disponíveis na página electrónica da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

(www.spp.pt).<br />

LXXII


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2011:<strong>42</strong>(4):LXVIII-LXXIII<br />

Normas <strong>de</strong> Publicação<br />

Ficha <strong>de</strong> verificação para os autores<br />

Título: na língua original do manuscrito, em inglês e na versão abreviada<br />

Autores: os nomes, a filiação institucional, a contribuição <strong>de</strong> cada autor<br />

Contacto: nome e contactos do autor que <strong>de</strong>ve receber a correspondência<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Fontes <strong>de</strong> financiamento<br />

Declaração <strong>de</strong> Conflito <strong>de</strong> Interesses<br />

Contagem <strong>de</strong> palavras: para cada resumo e para o texto principal<br />

Resumo e Abstract: estruturado conforme a tipologia do manuscrito<br />

Palavras-chave: em concordância com o Medical Subject Headings (MeSH)<br />

Texto: estrutura, conteúdo, acrónimos e inserção <strong>de</strong> referências<br />

Ilustrações: formatação e numeração dos Quadros e Figuras; autorizações<br />

Referências: em concordância com as regras <strong>de</strong> URMSBJ – ICMJE<br />

Carta <strong>de</strong> Apresentação à APP<br />

Autorizações: autoria, agra<strong>de</strong>cimentos, utilização <strong>de</strong> imagens e material publicado<br />

Declaração <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> direitos <strong>de</strong> autor para APP<br />

Data: .…... / ....... / …….....<br />

Assinatura do autor principal: ……………………………………………………….......<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong>. <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria.<br />

Rua Amílcar Cabral, 15 r/c I, 1750-018 Lisboa. Tel.: 217547680. Fax.: 217577617. secretariado@spp.pt<br />

LXXIII


PROPOSTA DE NOVO SÓCIO<br />

ACTUALIZAÇÃO DE MORADA<br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

Nome:<br />

Morada:<br />

Cód. Postal - Telef.:<br />

Instituição:<br />

Telef.:<br />

e-mail:<br />

@<br />

Enviar a:<br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

Rua Amílcar Cabral, 15 r/c I, 1750-018 Lisboa<br />

Tel.: 217 574 680 – Fax: 217 577 617<br />

e-mail: secretariado@spp.pt<br />

Notas:<br />

• Esta proposta <strong>de</strong> novo sócio <strong>de</strong>verá ser acompanhada por um cheque <strong>de</strong> € 30,00 que se<br />

<strong>de</strong>stinará ao pagamento da primeira anualida<strong>de</strong>.<br />

• Em caso <strong>de</strong> preten<strong>de</strong>r mudança <strong>de</strong> morada <strong>de</strong>verá indicar-nos qual a antiga para que se<br />

processe a actualização da mesma.<br />


Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vigilância <strong>Ped</strong>iátrica<br />

da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

- Portuguese Paediatric Surveillance Unit -<br />

INSCRIÇÃO DE NOVO NOTIFICADOR<br />

OU ACTUALIZAÇÃO DE CONTACTOS<br />

Nome:<br />

Morada:<br />

- ,<br />

Instituição:<br />

Especialida<strong>de</strong>:<br />

Telefone:<br />

e-mail:<br />

@<br />

Enviar para:<br />

Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vigilância <strong>Ped</strong>iátrica da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

Rua Amílcar Cabral, 15 r/c I, 1750-018 Lisboa – Tel.: 217 547 680 – Fax: 217 577 617<br />

e-mail: uvp-ppsu@spp.pt<br />

Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vigilância <strong>Ped</strong>iátrica / Portuguese Paediatric Surveillance Unit. <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

Rua Amílcar Cabral, 15 r/c I, 1750-018 Lisboa – Tel.: 217 547 680 – Fax: 217 577 617 – e-mail: uvp-ppsu@spp.pt<br />

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