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ANDREI TARKOVSKI - Instituto Moreira Salles

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<strong>ANDREI</strong> <strong>TARKOVSKI</strong><br />

<strong>Instituto</strong> <strong>Moreira</strong> <strong>Salles</strong> | CINEMA | 20 A 29 de agostO de 2010


1.<br />

Imaginemos (uma forma não visível, uma<br />

imagem acesa apenas na imaginação) que a<br />

arte se realize num espaço entre a razão e o<br />

sentimento e que neste espaço Andrei Roublev<br />

(1966) procure ocupar um ponto mais perto<br />

da emoção que do entendimento. Seu diretor,<br />

Andrei Tarkovski (URSS, 1932 - França<br />

1986) costumava dizer que este é o lugar natural<br />

do cinema. Para ele todo filme deve “trazer<br />

o mundo real para a tela, mostrar o mundo<br />

como ele realmente é, para o espectador projetar-se<br />

emocionalmente na imagem e sentir até<br />

mesmo a aridez ou a umidade do ar”.<br />

Nos produtos da indústria cinematográfica,<br />

“na maioria das vezes a natureza não existe. A<br />

plateia é convidada a acompanhar um enredo<br />

sem prestar atenção à artificialidade do cenário”.<br />

Na arte cinematográfica, no entanto, “a<br />

presença da natureza é fundamental. Na verdade,<br />

mais que um cenário por trás do enredo,<br />

ela estimula o espectador a estabelecer com<br />

o cinema uma relação estética imediata: é a<br />

realidade, uma realidade emocional que está<br />

ali. É assim que a plateia percebe o cinema,<br />

como uma segunda realidade”. Segunda, mas<br />

sentida como se fosse a primeira - durante a<br />

projeção “o espectador não deve se desligar do<br />

filme para perguntar por quê? para quê? ou o<br />

que significa?”. Perguntas, só depois que o filme<br />

acaba.<br />

O que ocorreu nas primeiras apresentações<br />

de A chegada de um trem à estação dos irmãos<br />

Lumière, lembra Tarkovski, resulta do fato de<br />

o cinema existir como uma realidade emocional:<br />

“Dura meio minuto. Mostra uma estação<br />

banhada pela luz do sol. Damas e cavalheiros<br />

caminham. O trem surge no fundo do quadro<br />

e avança na direção da câmera. Quando<br />

está bem próximo, instaura-se o pânico na sala<br />

de projeção. As pessoas saem correndo”. Para<br />

ele foi neste momento em que o trem pareceu<br />

querer saltar da tela para dentro da sala “que<br />

nasceu o cinema. O que surgiu então não foi<br />

apenas uma nova técnica, uma nova maneira<br />

de reproduzir o mundo, mas um novo princípio<br />

estético”, um princípio ao mesmo tempo<br />

longe e perto da tradição literária. “O cinema<br />

e a literatura se unem, acima de tudo, pela liberdade<br />

de que desfrutam escritores e diretores<br />

para escolher os elementos que desejam,<br />

em meio ao que lhes é oferecido pelo mundo<br />

real, e organizá-los numa determinada ordem.<br />

“Refém da eternidade,<br />

prisioneiro do tempo:<br />

nestes versos, Boris Pasternak<br />

definiu com precisão a verdadeira<br />

condição do artista”.


A diferença básica é que a prosa e a poesia se<br />

servem de palavras, ao passo que o filme nasce<br />

da observação direta da vida. Isto é a base da<br />

poesia cinematográfica. A imagem cinematográfica<br />

é, por natureza, a observação de fenômenos<br />

que se desenrolam no tempo”.<br />

No cinema, portanto, pelo menos à primeira<br />

vista, temos um registro da vida, a realidade<br />

para ser vista uma segunda vez com emoção.<br />

Não uma cópia conforme do mundo, mas a realidade<br />

emocional. Ou, como dizia Eisenstein,<br />

a natureza não-indiferente, o mundo tal como<br />

ele é percebido pela natureza humana. Tarkovski<br />

parece estar de acordo com Eisenstein em<br />

um ponto – “a imagem cinematográfica é um<br />

conflito entre a realidade tal como ela aparece<br />

aos nossos olhos, e que queremos registrar<br />

no filme, e tal como temos consciência dela”<br />

– mas em total desacordo com a ideia de montagem<br />

tal como afirmada na década de 1920:<br />

“a imagem cinematográfica nasce durante a<br />

filmagem e só existe no interior do plano. Por<br />

isso dedico atenção especial ao passar do tempo<br />

dentro de cada plano de um filme, procuro<br />

fixar e reproduzir o tempo com toda precisão<br />

possível. A montagem apenas articula os planos,<br />

mas a vida de cada um deles, como a vida<br />

do organismo que eles formam, depende do<br />

tempo que corre dentro deles como veias que<br />

transportam o sangue de um corpo”.<br />

Andrei Roublev, por exemplo, “história do mais<br />

importante pintor russo do século XV contada<br />

de uma perspectiva contemporânea”, de<br />

acordo com o subtítulo do filme. Na aparência<br />

falta algo essencial para passar a sensação de<br />

estar diante do mundo como ele é. Falta algo<br />

que todo espectador espera encontrar quando<br />

o cinema promete contar a história de um<br />

pintor – falta o colorido. O filme é em preto e<br />

branco em parte porque Tarkovski considera a<br />

fotografia colorida menos real, “algo tão exótico<br />

e artificial quanto um retrato colorido de<br />

um parente”; e em parte porque para ser fiel à<br />

história de Roublev, “que viveu num mundo<br />

dominado pela brutalidade, é necessário dizer<br />

que em volta dele não existia espaço para a<br />

alegria das cores. O mundo em que Roublev<br />

viveu, podemos reconhecer hoje, era um mundo<br />

em preto e branco”. Cor, só mesmo na segunda<br />

realidade que ele criou em sua pintura.<br />

<strong>ANDREI</strong> <strong>TARKOVSKI</strong>


E ainda, as imagens são em preto e branco<br />

porque, de certo modo, partem de uma afirmação<br />

de Dostoievski guardada na memória<br />

do diretor. A verdadeira arte, anotou certa vez<br />

o escritor, não copia o mundo, cria um mundo<br />

que não existia antes dela. Cria uma realidade<br />

emocional, cria uma segunda realidade, cria uma<br />

natureza não-indiferente, uma paisagem em<br />

que as cores e as formas dão vida e inserem na<br />

natureza o mundo interior do artista: “Dizem<br />

que a arte precisa espelhar a vida. Absurdo! O<br />

escritor, o artista, cria a vida. Não reproduz,<br />

produz vida. Cria um mundo diferente do que<br />

existia até então”.<br />

2.<br />

O que faz do cinema uma arte realista, dizia<br />

Tarkovski, não é sua capacidade de reproduzir<br />

a aparência de pessoas e coisas em seus gestos<br />

e cores reais, mas a capacidade de fotografar o<br />

tempo, de “registrar o tempo em suas formas e<br />

manifestações reais”. Em A chegada de um trem<br />

à estação, “pela primeira vez na história das artes<br />

o homem conseguiu registrar uma impressão<br />

do tempo. Com o filme dos Lumière surge<br />

a possibilidade de reproduzir o tempo, de reproduzir<br />

e repetir o tempo, retornar a ele. Pela<br />

primeira vez o homem conseguia conquistar<br />

uma matriz do tempo real. Tornava-se possível<br />

registrar e conservar o tempo em caixas metálicas,<br />

teoricamente para sempre”.<br />

Talvez seja possível dizer que Andrei Roublev<br />

parta da estação de Lumière para uma viagem<br />

até a razão de ser da arte: “Por que fazemos filmes?<br />

Por que ver filmes? Quem precisa deles?<br />

Por que as pessoas entram numa sala escura<br />

em que durante duas horas ou pouco mais são<br />

projetadas sombras numa tela? Entram em<br />

busca de diversão? Para atender à necessidade<br />

de uma espécie de droga?” Para Tarkovski, “as<br />

pessoas que vão ao cinema buscam algo que<br />

está na essência da arte cinematográfica: o<br />

tempo, o tempo perdido, consumido ou ainda<br />

não encontrado”. Fazer cinema é uma questão<br />

de tempo. “Poderíamos dizer que o trabalho<br />

de um diretor de cinema consiste em esculpir<br />

o tempo. Assim como o escultor toma um<br />

bloco de mármore e, guiado pela visão interior<br />

de sua futura obra, elimina tudo que não faz<br />

parte dela, do mesmo modo, o cineasta, a partir<br />

de um bloco de tempo constituído por uma<br />

enorme e sólida quantidade de fatos vivos, rejeita<br />

tudo aquilo de que não necessita, deixa<br />

“Tolstoi escreveu em seu diário, em março de 1858,<br />

que a política não é compatível com a arte, pois para provar seus<br />

argumentos a política precisa ser unilateral.<br />

A arte não pode ser unilateral. Para ser verdadeira,<br />

deve unir em si mesma fenômenos dialeticamente contraditórios”.


Andrei Roublev<br />

<strong>ANDREI</strong> <strong>TARKOVSKI</strong>


apenas o que se mostra como um elemento<br />

do futuro filme, um componente essencial da<br />

imagem cinematográfica”.<br />

Para Tarkovski o cinema registra o tempo<br />

na forma de um acontecimento concreto.<br />

“O acontecimento pode ser um gesto, uma<br />

cena, até mesmo um objeto imóvel, contanto<br />

que esta imobilidade exista no curso real<br />

do tempo. Aí se encontra o específico da arte<br />

cinematográfica. Pode-se dizer que estes procedimentos<br />

são comuns a outras formas de<br />

arte. Pode-se dizer que o tempo é igualmente<br />

fundamental na música. É verdade. Mas o<br />

princípio é outro: a materialidade da vida só se<br />

encontra na música no limite de seu completo<br />

desaparecimento. A força do cinema, ao contrário,<br />

está na relação necessária e inseparável<br />

do filme com a matéria da realidade que nos<br />

cerca a cada instante”.<br />

Estas questões se encontram na origem de Andrei<br />

Roublev assim como este filme se encontra<br />

na origem do cinema que Tarkovski realizou<br />

depois dele. Por que a arte existe? - a pergunta<br />

formulada aqui repete-se nos filmes seguintes<br />

e a resposta esboçada aqui se estende pelos filmes<br />

seguintes, todos eles reafirmações de que<br />

a arte existe para revelar o sentido da vida. E<br />

mais, o personagem central do filme, o monge<br />

“que olha o mundo com olhos infantis, indefesos,<br />

e prega o amor e a bondade em meio<br />

às mais brutais e devastadoras formas de violência”,<br />

é um prenúncio dos personagens centrais<br />

de Solaris, Stalker, Nostalgia e O sacrifício,<br />

todos eles “pessoas incapazes de se adaptar à<br />

vida em termos práticos”. Andrei, na verdade,<br />

é um primeiro movimento em direção aos<br />

não-heróis dos filmes que Tarkovski realizou<br />

em seguida. Neles, personagens que “parecem<br />

crianças com motivações de adultos, adultoscrianças<br />

capazes de sacrificar-se em nome de<br />

um ideal nobre, de assumir a responsabilidade<br />

de outros”.<br />

Chris Kelvin (o astronauta na nave em órbita<br />

do planeta Solaris); Stalker (o guia do escritor<br />

e do cientista no passeio pela pantanosa<br />

e escura zona proibida); Andrei Gonchakov<br />

(o poeta que em Nostalgia protege a pequena<br />

vela como como quem paga uma promessa)<br />

ou Domenico (que, também em Nostalgia,<br />

tranca a família em casa para protegê-la do<br />

mundo) e Alexander (que em O sacrifício faz<br />

um voto de silêncio semelhante ao de Roublev<br />

e oferece sua casa em sacrifício para salvar o<br />

mundo) – todos eles, são adultos-crianças que<br />

“omo Como disse certa vez Dostoievski: ostoievski:<br />

A arte não espelha a vida.<br />

O artista não reproduz, produz.<br />

Cria a vida tal como ela não<br />

existia antes dele”.


assumem a responsabilidade dos outros. “Personagens<br />

que, movidas por uma força anterior,<br />

agem com total liberdade, embora cercadas<br />

por outros que não se movem porque não<br />

contam com liberdade interior”, eles são um<br />

modo de concentrar num personagem a questão<br />

de Andrei Roublev. São, talvez, um modo<br />

de representar a arte numa persona, – processo<br />

análogo àquele usado para fixar o tempo num<br />

acontecimento concreto. São uma resposta ou<br />

pelo menos um convite a perguntar de novo<br />

a questão de Andrei e de Andrei (de Roublev<br />

e de Tarkovski) entre a destruição de Vladimir<br />

e o sino de Boriska: “A arte é necessária?<br />

Quem precisa dela? Na verdade, alguém precisa<br />

dela?”<br />

3.<br />

Talvez seja possivel identificar em dois episódios<br />

de Andrei Roublev a origem, ou um dos<br />

pontos de origem, dos adultos-crianças da segunda<br />

realidade dos filmes Tarkovski: O assalto<br />

e O sino. Os outros episódios do filme (que se<br />

compõe de um prólogo, sete episódios e um<br />

epílogo) são igualmente significativos, mas estes<br />

dois se destacam. E o segundo, um canto<br />

à criatividade, parece vir em resposta ao primeiro,<br />

um lamento diante de uma ação destruidora.<br />

Em O assalto, tártaros massacram a<br />

população da cidade de Vladimir. Em O sino,<br />

um jovem constrói um grande sino com uma<br />

técnica que ele mesmo inventou, mas atribuiu<br />

a seu pai para ser aceito pelos líderes da aldeia.<br />

Não são poucos os planos que retratam diretamente<br />

a violência do assalto à população de<br />

Vladimir. Não são poucos os planos que documentam<br />

a técnica usada pelo jovem Boriska<br />

para construir o sino. Mas a câmera, nestes<br />

momentos, não exatamente descreve o que os<br />

personagens fazem. Não age como a câmera<br />

de um documentário nem como a de uma ficção<br />

naturalista: ela registra mais a atmosfera<br />

em torno do acontecimento (sua aridez, sua<br />

umidade) do que o acontecimento propriamente<br />

dito. Assim, a violência do massacre é<br />

contada em imagens dos rostos dos agressores<br />

e a construção do sino, em imagens da tensão<br />

resultante do esforço para criar alguma coisa,<br />

do risco de assumir uma tarefa aparentemente<br />

irrealizável por um jovem de pouca experiência.<br />

Para contar uma história do século XV de<br />

uma perspectiva contemporânea, para man-<br />

<strong>ANDREI</strong> <strong>TARKOVSKI</strong>


ter-se fiel à vocação realista do cinema, o narrador<br />

comporta-se aqui como um observador<br />

discreto e quase invisível no meio da ação.<br />

Nenhuma solução especialmente marcante da<br />

fotografia, da montagem ou da interpretação<br />

desloca a atenção de dentro da cena para o<br />

recurso formal usado para construí-la. É assim<br />

todo o tempo, menos em dois breves (mas<br />

fundamentais) instantes destes dois episódios:<br />

a conversa de Roublev com o grego Teófanes<br />

depois do massacre, na igreja de Vladimir, e a<br />

conversa de Roublev com Boriska, depois da<br />

festa de inauguração do sino. Roublev e Teófanes<br />

se encontram numa outra dimensão.<br />

Aparentemente vemos um pesadelo de Andrei:<br />

temos uma diferente movimentação da<br />

câmera e dos personagens. Os desaparecimentos<br />

e reaparecimentos de Teófanes na imagem<br />

confundem a noção de espaço do espectador.<br />

Ele está à direita, sai da imagem porque a<br />

câmera se move em torno de seu eixo numa<br />

panorâmica, e logo retorna à imagem pela<br />

esquerda, como se tivesse se deslocado mais<br />

rápido que a câmera, por cima ou por trás<br />

dela. O que eles dizem igualmente confunde<br />

a noção de espaço do espectador, pois Roublev,<br />

surpreendido ao ver Teófanes com vida,<br />

conversa com ele como se estivesse diante de<br />

um fantasma, como se estivesse ele também,<br />

Andrei, morto, ou numa outra dimensão em<br />

que espaço e tempo obedecem a uma outra lógica.<br />

É também numa possível outra dimensão<br />

que se realiza o diálogo entre Roublev e<br />

Boriska. Não aquele mesmo outro-lugar em<br />

que se encontraram Roublev e Teófanes, não<br />

propriamente naquela espécie de limbo que se<br />

segue à destruição de Vladimir. Com Roublev<br />

e Boriska estamos num equivalente à segunda<br />

realidade da arte, o que é possível perceber menos<br />

no que os personagens dizem do que na<br />

composição das imagens. Elas sublinham os<br />

diálogos de modo a que eles soem como algo<br />

mais que uma conversa entre dois personagens<br />

quaisquer. Ali, como num sonho, o sonhador<br />

se divide em duas, três ou mais figuras, temos<br />

uma quase direta representação do realizador,<br />

uma espécie de autorretrato divido em dois.<br />

Na realidade, Boriska, Teófanes e Roublev parecem<br />

compor um autorretrato tripartido de<br />

Tarkovski.<br />

Em O assalto Teófanes diz a Roublev que a<br />

humanidade é má em si mesma e que aos artistas,<br />

dentro dela mas numa segunda realidade,<br />

resta a tarefa de retratar o mundo tal como ele<br />

é. Atacar a violência não tem sentido, é como<br />

“É errado dizer que o artista procura o seu tema.<br />

O tema amadurece dentro dele como um fruto e começa a exigir uma<br />

forma de expressão. É como um parto.<br />

O poeta não é senhor da obra que produz, mas um escravo dela”.


Solaris<br />

<strong>ANDREI</strong> <strong>TARKOVSKI</strong>


voltar-se contra a essência da humanidade: a<br />

violência está dentro do homem. Roublev, depois<br />

do massacre, depois do assassinato de seus<br />

auxiliares, depois do encontro com Teófanes,<br />

se retira do mundo num voto de silêncio. Não<br />

pinta mais. Marca a parede branca preparada<br />

para um painel com uma mancha disforme e<br />

sofrida. Não fala mais. Só volta a dizer palavra<br />

depois de ver o sino construído pelo jovem<br />

Boriska. Roublev diz então que o esforço para<br />

criar o sino lhe devolvera a vontade de pintar<br />

e que ele e Boriska deveriam trabalhar juntos,<br />

fazendo sinos e pintando ícones.<br />

Ao episódio que conclui o filme, segue-se um<br />

epílogo, em cores, com reproduções de ícones<br />

pintados por Roublev. Um modo de “encaminhar<br />

a reflexão sobre algumas ideias jogadas<br />

através do filme”. Ideias sobre a relação<br />

do artista com o mundo e sobre a relação do<br />

homem com o mundo. Em verdade o artista<br />

parece apenas uma representação do homem<br />

comum ou de estados de espírito do narrador,<br />

que às vezes como Teófanes diz para si mesmo<br />

que os homens são crueis e a punição de<br />

Deus é natural, outras como Andrei protesta<br />

em silêncio porque não existem palavras para<br />

expressar o horror e sofrimento de massacres<br />

como o de Vladimir, outras ainda como Boriska<br />

empenhado na invenção de novos meios<br />

de fazer as coisas. Uma reflexão, esclareceu<br />

Tarkovski ao lançar seu filme, cercada de retratos<br />

de violência para não esquecer que “a<br />

realidade tem muito do absurdo do mundo de<br />

Kafka. Quando as pessoas têm medo, quando<br />

vivem oprimidas, deixam de condenar as<br />

forças que as esmagam para atribuir defeitos,<br />

vícios e falhas a si mesmas, para dizer, como<br />

Teófanes, que a humanidade é essencialmente<br />

má. Existe aí, bem certo, nos personagens de<br />

Andrei Roublev como em todos nós, um pedaço<br />

de tragédia à maneira de Kafka“.<br />

4.<br />

Em diferentes ocasiões Andrei Tarkovski citou<br />

um poema de Boris Pasternak que define<br />

o artista como um refém da eternidade e um<br />

prisioneiro do tempo. A citação é uma imagem<br />

que se refere simultaneamente à estratégia de<br />

composição do realizador, que via “no registro<br />

de fatos no tempo a essência do cinema”, e à<br />

condição do artista, tal como ele a imaginava.<br />

Em desacordo com a idéia de que a obra de<br />

arte é uma criação autônoma do artista, Tar-<br />

“No cinema o público é mais<br />

uma testemunha que um espectador.<br />

As pessoas vão ao cinema<br />

para testemunhar<br />

uma experiência viva”


kovski repetia que o artista é uma criação de<br />

seu tempo e das pessoas com quem ele convive:<br />

“se um artista consegue criar alguma coisa,<br />

isso só acontece porque é disso que os outros<br />

precisam, mesmo que não se dêem conta disso<br />

naquele momento”. Esta é a questão que alimenta<br />

Andrei Roublev.<br />

O jogo de tempo que o filme propõe, o século<br />

XV observado de uma perspectiva contemporânea,<br />

é possivelmente o ponto de partida não<br />

só para os filmes mas também para as reflexões<br />

sobre cinema que o diretor desenvolveu<br />

em seguida. Contar a história de Roublev, mas<br />

“não para criar uma obra de caráter histórico<br />

ou biográfico”. O importante era lidar com<br />

uma questão atemporal a partir do exemplo<br />

do monge e pintor: “explorar a questão da psicologia<br />

da criação artística”.<br />

Assim, “os fatos históricos, as pessoas e objetos<br />

não deveriam ser vistos como a origem de<br />

futuros monumentos, mas como algo vivo e<br />

de certo modo até corriqueiro. Não queríamos<br />

ver nada com olhos de historiador, arqueólogo<br />

ou etnólogo frente a peças de museu, e os<br />

atores deveriam representar os personagens<br />

com sentimentos de pessoas que vivem hoje”.<br />

Deste modo o filme poderia realizar melhor<br />

a verdadeira função da arte, explicar, primeiro<br />

para o próprio artista e depois para os que vivem<br />

em torno dele, para que vive o homem”.<br />

Explicar, ou pelo menos propor que se formule<br />

a questão.<br />

As citações de Andrei Tarkovski foram extraídas<br />

de folhetos de divulgação dos filmes Andrei Roublev,<br />

Stalker e Nostalgia e dos textos reunidos na<br />

coletânea Esculpir o tempo (publicada em 1985,<br />

inicialmente em alemão, em tradução de Hans J.<br />

Schlegel, Die versiegelte Zeit, e cinco anos mais<br />

tarde em português, pela Martins Fontes Editora,<br />

São Paulo). O diretor realizou dois filmes para<br />

televisão, Hoje não há saída livre (Segdnia uvolnenia<br />

ne budet, codireção de Alexander Gordon, 1959) e<br />

Tempo de viagem (Tempo di viaggio, codireção de<br />

Tonino Guerra, 1983). E oito filmes para cinema:<br />

O rolo compressor e o violino (Katok i skripka,<br />

1960, trabalho de conclusão do curso de direção<br />

cinematográfica com Mikhail Romm no <strong>Instituto</strong><br />

de Cinema de Moscou); A infância de Ivan<br />

(Ivanovo Detstvo, 1962); Andrei Roublev (Andrei<br />

Roublev, 1966); Solaris (Soliaris, 1972); O espelho<br />

(Zerkalo, 1974); Stalker (Stalker, 1979), Nostalgia<br />

(Nostalghia, 1983, realizado na Itália) e O sacrifício<br />

(Offret, 1986, realizado na Suécia). Em 1976, uma<br />

peça de teatro encenada em Moscou, Hamlet, de<br />

Shakespeare e, em 1983, uma ópera encenada em<br />

Londres, Boris Goudunov, de Mussorgski.<br />

<strong>ANDREI</strong> <strong>TARKOVSKI</strong>


“Não sou um profissional. Não permito que<br />

me chamem de cineasta profissional. Sou um<br />

amador, um amante da arte e um diretor de<br />

filmes”. As palavras muitas vezes usadas por<br />

Sergei Paradjanov (Geórgia, 1924 – Armênia,<br />

1990) para se apresentar parecem estranhas<br />

especialmente para quem se expressa por meio<br />

do cinema, para quem deve se relacionar com<br />

um processo de produção industrial sem lugar<br />

para não-profissionais. Dos quatro filmes do<br />

diretor reunidos neste programa – Os cavalos<br />

de fogo (1964), A cor da romã (1968), A lenda<br />

da fortaleza Suram (1984) e O trovador Kerib<br />

(1988) – talvez o primeiro, o mais divulgado<br />

de seus trabalhos, possa desvendar melhor o<br />

sentido das palavras de Paradjanov, exatamente<br />

porque as imagens deste filme parecem todas<br />

elas cobertas por uma venda.<br />

Entre a câmera e os personagens de Os cavalos<br />

de fogo existe todo o tempo uma espécie de<br />

véu ou filtro difusor que altera a forma natural<br />

das coisas e impede a visão dos contornos com<br />

nitidez. Os personagens são mostrados por<br />

trás de galhos de árvores, ou em meio a um<br />

denso nevoeiro, ou encobertos pela fumaça de<br />

uma fogueira próxima, ou através das frestas<br />

de uma cerca de madeira, ou ainda, refletidos<br />

nas águas de um rio ou por trás dos vidros embaçados<br />

de uma janela. Em alguns instantes o<br />

filme não toma de um objeto em cena para a<br />

função de um véu difusor mas procura obter<br />

o mesmo efeito pela tom da fotografia, pela<br />

angulação ou pelo movimento da câmera.<br />

Na cena em que Ivan é atingido na cabeça por<br />

um golpe de machado, por exemplo, o contraste<br />

e o colorido da imagem são alterados, a<br />

tela é tomada de um branco intenso com ligeiras<br />

manchas em tom sépia; noutras cenas, os<br />

galhos secos e entrelaçados da vegetação são<br />

artificialmente coloridos com um vermelho<br />

saturado, a aparência de pessoas e objetos são<br />

deformadas por meio de uma angulação especial<br />

da câmera, no topo de uma árvore que vai<br />

cair, debaixo das águas de um riacho, ou colada<br />

no tronco de uma árvore para registrar apenas<br />

o desenho abstrato de sua casca. A imagem,<br />

em resumo, procura ver assim como não vemos.<br />

Recusa os pontos de vista que possam<br />

sugerir que o narrador observa a cena com os<br />

olhos de uma pessoa comum. Ao contrário, o<br />

personagem invisível que nos conta a história<br />

de Os cavalos de fogo busca os ângulos mais rebuscados<br />

e mais inacessíveis ao olho humano.<br />

O que importa é uma visão que reinvente o<br />

mundo, que em lugar de torná-lo visível tal<br />

como ele é procura reinventá-lo poeticamen-<br />

“É sempre com prazer e com enorme gratidão que penso em Paradjanov.<br />

Temos todos uma dívida com ele. Sergei tem<br />

uma visão particular do mundo e sabe expressar o que pensa numa<br />

linguagem poética absolutamente livre”. | Andrei Tarkovski


A cor da romã<br />

A cor da romã<br />

Os cavalos de fogo<br />

O trovador Kerib<br />

SERGEI PARADJANOV


te. Mais que reproduzi-lo, mais que transformá-lo,<br />

procura inventar o mundo como se ele<br />

nunca tivesse de fato existido, ou como se ele<br />

existisse apenas para servir ao olhar – deste<br />

modo, em alguns momentos a câmera gira em<br />

torno de seu próprio eixo a uma velocidade<br />

que permite ver apenas manchas coloridas<br />

sem formas definidas. Não muito distante do<br />

tempo em que um artista pintou o Quadrado<br />

branco sobre um fundo branco, pintura absolutamente<br />

pura, sem qualquer outro assunto ou<br />

figura que não a cor branca, não muito distante<br />

do tempo e do espaço deste quadro de<br />

Malievitch, temos aqui, no filme de Sergei Paradjanov,<br />

um filme quase só formas coloridas<br />

sobre um fundo colorido.<br />

Pessoas e paisagem aparecem na tela como se<br />

fossem vistos pelos olhos de um pintor entre<br />

o impressionista e o abstrato, à procura de<br />

obter maior fidelidade às formas e volumes<br />

da natureza através do registro da atmosfera<br />

que circunda as coisas, pintura especialmente<br />

interessada em representar-se, em mostrar-se<br />

como tema do quadro: o assunto da pintura<br />

aqui é a pintura. Mais exatamente, o cinema<br />

pensado aqui como pintura em movimento<br />

pinta um autorretrato mesmo quando em<br />

quadro parece querer retratar outra questão<br />

ou pessoa. Retratar como se não conseguisse<br />

fazê-lo corretamente, como se mantivesse o<br />

retratado fora de foco ou encoberto por um<br />

qualquer tipo de véu. Na pintura em movimento,<br />

Ivan, Maritchka e Jovanka, aparecem<br />

os sinais de composição da imagem, os pequenos<br />

efeitos fotográficos usados para mostrar<br />

as cenas. E aparecem de forma tão ostensiva<br />

que, sem exagero, podemos dizer que o verdadeiro<br />

assunto do filme se encontra nesta meio<br />

transparente cortina difusora colocada entre a<br />

câmera e os personagens.<br />

Este mesmo princípio de composição pode<br />

ser observado se em lugar da aparência das<br />

imagem, analisamos o trabalho dos atores. A<br />

movimentação dos intérpretes não obedece à<br />

preocupação de representar com fidelidade o<br />

gesto natural das pessoas. O gesto comum de<br />

todo dia é apenas o ponto de partida para a<br />

invenção de uma espécie de bailado de gestos<br />

amplos e vistosos. Ao encontrar o corpo<br />

da mulher que se afogara, Ivan sofre não um<br />

sofrimento realista, mas um outro, tranformado<br />

em dança. Não corre diretamente para ela.<br />

Segue um caminho sinuoso, joga seu corpo<br />

para frente, sem rumo certo, o personagem<br />

Em lugar de mostrar o mundo<br />

tal como ele é, os filmes de<br />

Paradjanov procuram<br />

reinventá-lo poeticamente:<br />

mostram o mundo tal como ele<br />

não existia até então.


desorientado pela dor, o intérprete orientado<br />

pelo desejo de expressar a desarticulação do<br />

sofrimento por meio de um gesto que empurra<br />

ora para um lado ora para outro, tornando<br />

o caminho mais longo e sofrido. Os cavalos de<br />

fogo avança movido por um impulso que faz<br />

da linha sinuosa o caminho mais curto entre<br />

dois pontos. A fotografia e a interpretação revelam<br />

mais rapidamente que o filme, em lugar<br />

de uma abordagem direta, em tom naturalista,<br />

prefere um tratamento circular, uma narrativa<br />

mais próxima da poesia que do estilo de prosa<br />

tomado com maior frequência pelo cinema.<br />

A certa altura um letreiro anuncia a morte<br />

de um personagem, agredido, na imagem anterior,<br />

a golpes de machado. A imagem que<br />

surge após o cartão, no entanto, não descreve<br />

a morte deste personagem, não é uma sequência<br />

lógica da cena em que ele é agredido a<br />

machadadas. Mostra uma interpretação livre<br />

e poética da morte, feita com imagens de um<br />

homem que caminha entre troncos de árvores<br />

derrubadas e galhos coloridos da floresta<br />

ao encontro de uma mulher. Entre os planos,<br />

imagens de árvores e de um cervo, o que aparentemente<br />

não possui ligação lógica com a<br />

cena. As imagens não foram feitas para con-<br />

tar uma história depois de colocadas lado a<br />

lado. A rigor, o que se aproxima do processo<br />

narrativo tradicional do cinema se encontra na<br />

faixa sonora, onde rápidas referências em diálogos<br />

explicam o que se passa com os personagens<br />

ou resumem acontecimentos que não vemos.<br />

Em lugar da ação, da cena propriamente<br />

dita, o filme procura captar o que existe no ar,<br />

entre um personagem e outro, entre a câmera<br />

e os personagens em cena, entre o artista<br />

e os contornos da realidade. Os cavalos de fogo<br />

busca registrar uma dimensão da experiência<br />

humana que a descrição objetiva das formas<br />

do mundo real não consegue apreender. Deste<br />

modo, se o espectador procura descobrir o que<br />

existe por trás da cortina difusora que o filme<br />

constrói com nuvens, galhos de árvore ou<br />

manchas coloridas sobre as cenas, encontrará<br />

por trás da cortina uma outra cortina.<br />

Para quem procura uma história mais organizada<br />

pela razão que pela emoção, as imagens<br />

parecem compor uma confusa, emaranhada e<br />

na melhor das hipóteses ingênua narrativa de<br />

amor e morte – amor e morte tratados como<br />

divindades que determinam o destino dos homens,<br />

como forças controladoras de uma realidade<br />

que obedece às leis da tragédia.<br />

SERGEI PARADJANOV


As conclusões serão diferentes se deixarmos<br />

de ver nesta cortina uma dificuldade para<br />

compreender as ações e se, ao contrario, procuramos<br />

ver nela o próprio assunto do filme.<br />

Ivan, Maritchka e Jovanka aparecem, então,<br />

como figuras integradas a imagens que contam<br />

uma outra história superposta à que eles<br />

vivem em cena, a história de um narrador que<br />

se sente em meio a um trágico processo de<br />

desarticulação e que para discutir esta experiência<br />

recusa os modos de organizar e articular<br />

as coisas comandados por uma razão aparente<br />

– digamos, a do mundo profissional do cinema,<br />

– e recorre à razão verdadeira, a da poesia<br />

– digamos, a razão do mundo da expressão<br />

pessoal, do mundo de um amante da arte.<br />

O primeiro filme de Sergei Paradjanov foi realizado<br />

em 1954, Andriesch (63’). Em seguida, mais dez<br />

títulos: Um homem bom (Perwyi paren, 1958. 83’);<br />

Rapsódia ucraniana (Ukrainskaia rapsodia, 1961,<br />

83’); Flor de pedra (Zwetok na kamne, 1962. 74’); Os<br />

cavalos de fogo (Teni Zabutykh Predkiv, 1964.97”);<br />

Akop Ownatanjan (1965, 8’); Os afrescos de Kiew<br />

(Kiewskie freski, 1966. 13’); A cor da romã (Sayat<br />

Nowa, Zwet granata, 1968. 73’); A lenda da fortaleza<br />

Suram (Ambavi Suramis Tsikhitsa, 1984. 88’);<br />

Pirosmani (Arabeski na temu Pirosmani, 1986. 20’) e<br />

O trovador Kerib (Ashki Kerib, 1988, 73’).<br />

Sexta 20<br />

14h00 : A cor da romã (Sayat Nova, Zwet granata)<br />

de Sergei Paradjanov (URSS, 1968. 79’)<br />

16h30 : Stalker (Stalker)<br />

de Andrei Tarkovski (URSS, 1979. 163’)<br />

20h00 : A lenda da fortaleza Suram<br />

(Ambavi Suramis Tsikhitsa)<br />

de Sergei Paradjanov (URSS, 1984. 88’)<br />

Sábado 21<br />

14h00 : O sacrifício (Offret)<br />

de Andrei Tarkovski (Suécia, 1986. 149’)<br />

16h45 : Andrei Roublev (Andrei Roublev)<br />

de Andrei Tarkovski (URSS, 1966. 186’)<br />

20h00 : Nostalgia (Nostalghia)<br />

de Andrei Tarkovski (Itália, Suécia,1983. 125’)<br />

Domingo 22<br />

14h00 : Solaris (Soliaris)<br />

de Andrei Tarkovski (URSS, 1972. 165’) .<br />

17h00 : Cavalos de fogo<br />

(Tini Zabutykh Predkiv)<br />

de Sergei Paradjanov (URSS, 1964. 97’).<br />

19h00 : Stalker (Stalker)<br />

de Andrei Tarkovski (URSS, 1979. 163’)<br />

O programa de Cinema do <strong>Instituto</strong> <strong>Moreira</strong><br />

<strong>Salles</strong> tem o apoio da Cinemateca do MAM<br />

do Rio de Janeiro e a parceria da Videofilmes,<br />

Unibanco Arteplex, Cinédia, Cinemateca da<br />

Embaixada da França, Revista Cinética e da<br />

Associação Brasileira de Cineastas.<br />

Agradecimentos especiais: Liciane Mamede e<br />

Centro Cultural do Banco do Brasil de Brasília


Stalker<br />

Sexta 27<br />

14h00 : A lenda da fortaleza Suram<br />

(Ambavi Suramis Tsikhitsa)<br />

de Sergei Paradjanov (URSS, 1984. 88’)<br />

16h00 : Solaris (Soliaris)<br />

de Andrei Tarkovski (URSS, 1972. 165’) .<br />

Os cavalos de fogo<br />

20h00 : A cor da romã (Sayat Nova)<br />

de Sergei Paradjanov (URSS, 1968. 79’)<br />

Sábado 28<br />

14h00 : O trovador Kerib (Ashki Kerib)<br />

de Sergei Paradkjanov (URSS, 1988.73’)<br />

Quarta 25<br />

16h30 : Andrei Roublev (Andrei Roublev)<br />

de Andrei Tarkovski (URSS, 1966. 186’)<br />

20h00 : O trovador Kerib (Ashki Kerib)<br />

de Sergei Paradkjanov (URSS, 1988.73’)<br />

Quinta 26<br />

16h30 : Nostalgia (Nostalghia)<br />

de Andrei Tarkovski (Itália, Suécia,1983. 125’)<br />

19h00 : Andrei Roublev (Andrei Roublev)<br />

de Andrei Tarkovski (URSS, 1966. 186’)<br />

16h00 : Cavalos de fogo (Tini Zabutykh Predkiv)<br />

de Sergei Paradjanov (URSS, 1964. 97’).<br />

19h00 : Stalker (Stalker)<br />

de Andrei Tarkovski (URSS, 1979. 163’)<br />

Domingo 29<br />

14h00 : Nostalgia (Nostalghia)<br />

de Andrei Tarkovski (Itália, Suécia,1983. 125’)<br />

16h30 : O sacrifício (Offret)<br />

de Andrei Tarkovski (Suécia, 1986. 149’)<br />

19h30: Solaris (Soliaris)<br />

de Andrei Tarkovski (URSS, 1972. 165’) .<br />

<strong>ANDREI</strong> <strong>TARKOVSKI</strong> | SERGEI PARADJANOV

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