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Revista Volume 15 Número 2 2007 - Unifesp

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<strong>Revista</strong><br />

Neurociências<br />

ISSN 0104-3579<br />

Artigos<br />

<strong>Volume</strong> <strong>15</strong> Número 2 <strong>2007</strong><br />

Velocidade de marcha, força muscular e atividade mioelétrica em<br />

portadores de Esclerose Múltipla<br />

Os efeitos do treino de equilíbrio em crianças com paralisia cerebral<br />

diparética espástica<br />

Perfil do atendimento fisioterapêutico na Síndrome de Down em<br />

algumas instituições do município do Rio de Janeiro<br />

Avaliação funcional da marcha do rato após estimulação elétrica do<br />

músculo gastrocnêmio desnervado<br />

Hidroterapia na aquisição da funcionalidade de crianças com Paralisia<br />

Cerebral<br />

Os efeitos da hidroterapia na hipertensão arterial e freqüência cardíaca<br />

em pacientes com AVC<br />

Epilepsia em remissão: estudo da prevalência e do perfil clínicoepidemiológico<br />

Doença de Parkinson e exercício físico<br />

Acupuntura na Doença de Parkinson: revisão de estudos experimentais<br />

e clínicos<br />

Principais instrumentos para a análise da marcha de pacientes com<br />

distrofia muscular de Duchenne<br />

Abordagem fisioterapêutica na minimização dos efeitos da ataxia em<br />

indivíduos com esclerose múltipla<br />

Efeitos da fisioterapia em paciente portador de Mucopolissacaridose<br />

www.revistaneurociencias.com.br


UNITER-SONO<br />

Distúrbios de Sono em Crianças, Adolescentes e Adultos<br />

Neurologia e Psicologia<br />

Equipe Clínica: Dr. Gilmar Fernandes do Prado; Dra. Lucila<br />

B.F. Prado; Dr. Luis Fabiano Marin; Dr. William A.C. Santos;<br />

Dra. Luciane B. Coin de Carvalho; Dr. Afonso Carlos Neves; Dr. João Eduardo C. Carvalho<br />

Rua Cláudio Rossi, 394. São Paulo-SP. Fone/Fax: (11) 5081.6629<br />

E-mail: uniter_sono@yahoo.com.br<br />

Neuro-Sono<br />

Setor da Disciplina de Neurologia da <strong>Unifesp</strong><br />

Laboratório de Sono Hospital São Paulo<br />

Distúrbios de sono em crianças, adolescentes e adultos<br />

Coordenador: Prof. Dr. Gilmar Fernandes do Prado<br />

Equipe interdisciplinar: neurologia, pediatria, otorrinolaringologia, cardiologia, neuropediatria,<br />

odontologia, psicologia, fonoaudiologia, nutrição, fisioterapia, educação física, terapia ocupacional.<br />

Rua Napoleão de Barros, 737. São Paulo-SP. Fone: (11) 3487.9532<br />

E-mail: neuro.sono.unifesp@gmail.com<br />

Policlínica AMEGE Assistência Médica Geral<br />

Medicina do Sono: Dr. Cesar O. de Oliveira, Dr. Edilson Zancanella<br />

Rua dos Pintassilgos, 75. Vinhedo/SP, tel. (19) 3876-6465<br />

OTOS – Centro Diagnóstico em Otorrinolaringologia<br />

Rua Tuiuti, 521. Indaiatuba/SP, tel. (19) 3875-5599/(19) 3875-3793<br />

www.otoscentro.com.br


REVISTA NEUROCIÊNCIAS<br />

Editor Chefe / Editor in chief<br />

Gilmar Fernandes do Prado, MD, PhD<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP.<br />

Editora Executiva / Executive Editor<br />

Luciane Bizari Coin de Carvalho, PhD<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Editor Administrativo / Managing Editor<br />

Marco Antonio Cardoso Machado, PhD<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Co-editor / Co-editor<br />

José Osmar Cardeal, MD, PhD<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Editores Associados / Associated Editors<br />

Alberto Alain Gabbai, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Esper Abrão Cavalheiro, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Sergio Cavalheiro, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Indexações / Indexations<br />

1. Latindex – Sistema Regional de Información en Línea para <strong>Revista</strong>s Científicas de américa Latina, el<br />

Caribe, España y Portugal, www.latindex.org, desde 2006.<br />

2. Psicodoc, desde <strong>2007</strong>.<br />

Indexada no Latindex — Sistema Regional de Información en Línea para <strong>Revista</strong>s Cientificas<br />

de América Latina, el Caribe, España y Portugal. www.latindex.org<br />

Citação: Rev Neurocienc<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2<br />

96


Data de efetiva circulação deste número / Actual date of circulation of the present number<br />

Junho de <strong>2007</strong><br />

Publicações da <strong>Revista</strong> Neurociências<br />

1993, 1: 1 e 2<br />

1994, 2: 1, 2 e 3<br />

1995, 3: 1, 2 e 3<br />

1996, 4: 1, 2 e 3<br />

1997, 5: 1, 2 e 3<br />

1998, 6: 1, 2 e 3<br />

1999, 7: 1, 2 e 3<br />

2000, 8: 1, 2 e 3<br />

2001, 9: 1, 2 e 3<br />

2002, 10: 1, 2 e 3<br />

2003, 11: 1<br />

2004, 12: 1, 2 , 3 e 4<br />

2005, 13: 1, 2, 3, 4 e suplemento (versão eletrônica exclusiva)<br />

2006, 14: 1, 2, 3, 4 e suplemento (versão eletrônica exclusiva)<br />

<strong>2007</strong>, <strong>15</strong>: 1, 2 -<br />

<strong>Revista</strong> Neurociências — vol <strong>15</strong>, n.2 (<strong>2007</strong>) — São Paulo: Grámmata Publicações e Edições<br />

Ltda, 2004–<br />

Quadrimestral até 2003. Trimestral a partir de 2004.<br />

ISSN 0104–3579<br />

1. Neurociências;<br />

97 Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2


Editores Fundadores / Founder Editors<br />

José Geraldo de Carmargo Lima, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP.<br />

Editores Científicos / Scientific Editores<br />

1993-1995: José Geraldo de Camargo Lima, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP.<br />

1996-1997: Luiz Augusto Franco de Andrade, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

e Dr. Eliova Zukerman, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

1998-2003: José Osmar Cardeal, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

2004- : Gilmar Fernandes do Prado, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Assinaturas / Subscription<br />

<strong>Revista</strong> trimestral, assinatura anual. Preços e informações disponíveis em http://www.revistaneurociencias.com.br<br />

Fone/fax: 11 34879532<br />

Versão online dos artigos completos / Version of the complete articles<br />

http://www.revistaneurociencias.com.br<br />

Correspondências / Letters<br />

Todas as correspondências devem ser encaminhadas ao Editor Chefe da <strong>Revista</strong> Neurociências A/C Gilmar Fernandes do<br />

Prado – Rua Claudio Rossi, 394 – Jd. Da Glória, São Paulo-SP, CEP 0<strong>15</strong>47-000. Fone/fax 11 34879532<br />

E-mail: revistaneurociencias@yahoo.com<br />

http://www.revistaneurociencias.com.br<br />

Tiragem / Circulção<br />

3000 exemplares.<br />

Editoração, Publicação / Editorial, Publication<br />

Grámmata Publicações e Edições Ltda.<br />

grammata@grammata.com.br<br />

http://www.grammata.com.br<br />

Jornalista Responsável / Journalist in Charge<br />

Fausto Piedade, Mtb 12.375<br />

Entidade Mantenedora / Financial Support<br />

Associação Neuro-Sono<br />

Revisão técnica / Technical review<br />

<strong>Revista</strong> Neurociências – Corpo Editorial<br />

Apoio / Sponsorship<br />

Associação Neuro-Sono, UNIFESP<br />

A <strong>Revista</strong> Neurociências (ISSN 0104-3579) é um periódico com volumes anuais e números trimestrais, publicados em<br />

março, junho, setembro e dezembro. É o Jornal Oficial do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da UNIFESP e<br />

foi fundada em 1993 pelo Prof. Dr. José Geraldo de Camargo Lima; tem como Editor Chefe o Prof. Dr. Gilmar Fernandes<br />

do Prado, desde 2004, e é administrada pela Associação Neuro-Sono. Publica artigos de interesse científico e tecnológico,<br />

voltada à Neurologia e às ciências afins, realizados por profissionais dessas áreas, resultantes de estudos clínicos ou com<br />

ênfase em temas de cunho prático, específicos ou interdisciplinares. Todos os artigos são revisados por pares (peer review)<br />

e pelo Corpo Editorial. Os artigos aprovados são publicados na versão impressa em papel e na versão eletrônica. A linha<br />

editorial da revista publica preferencialmente artigos de pesquisas originais (inclusive Revisões Sistemáticas), mas também<br />

são aceitos para publicação artigos de Revisão de Literatura, Atualização, Relato de Caso, Resenha, Ensaio, Texto de<br />

Opinião e Carta ao Editor, desde que aprovado pelo Corpo Editorial. Trabalhos apresentados em Congressos ou Reuniões<br />

Científicas de áreas afins poderão constituir-se de anais em números ou suplementos especiais da <strong>Revista</strong> Neurociências.<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2<br />

98


Editor Chefe / Editor in Chief<br />

Gilmar F Prado, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Editora Executiva / Executive Editor<br />

Luciane BC Carvalho, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Editor Administrativo / Manager Editor<br />

Marco AC Machado, SSD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Co-Editor / Co-Editor<br />

José O Cardeal, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Editores Associados / Associate Editors<br />

Alberto A Gabbai, MD, PhD,<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Esper A Cavalheiro, MD, PhD,<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Sergio Cavalheiro, MD, PhD,<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Corpo Editorial / Editorial Board<br />

Desordens do Movimento / Movement<br />

Disorders<br />

Henrique B Ferraz, MD, PhD,<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Francisco Cardoso, MD, PhD,<br />

UFMG, MG<br />

Sônia MCA Silva, MD, PhD, HSPE, SP<br />

Egberto R Barbosa, MD, PhD,<br />

FMUSP, SP<br />

Maria SG Rocha, MD, PhD, CSSM, SP<br />

Vanderci Borges, MD, PhD,<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Roberto CP Prado, MD, PhD,<br />

UFC-CE/ UFS-SE<br />

Epilepsia / Epilepsy<br />

Elza MT Yacubian, MD, PhD,<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Américo C Sakamoto, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Carlos JR Campos, MD, PhD,<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Luiz OSF Caboclo, MD, PhD,<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Alexandre V Silva, MD, PhD,<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Margareth R Priel, MD, PhD, CUSC, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Henrique Carrete Jr, MD, PhD,<br />

IAMSP, SP<br />

Neurofisilogia/Neurophysiology<br />

João AM Nóbrega, MD, PhD,<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Nádia IO Braga, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

José F Leopoldino, MD, UFS, SE<br />

José MG Yacozzill, MD,<br />

USP Ribeirão Preto, SP<br />

Francisco JC Luccas, MD, HSC, SP<br />

Gilberto M Manzano, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Carmelinda C Campos, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Reabilitação / Rehabilitation<br />

Sissy V Fontes, PhD, UMESP, SP<br />

Jefferson R Cardoso, PhD, UFPR, PR<br />

Márcia CB Cunha, PhD, UNIB, SP<br />

Ana LML Chiappetta, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Carla G Matas, PhD, USP, SP<br />

Fátima A Shelton, MD, PhD, UOCH, USA<br />

Luci F Teixeira-Salmela, PhD, UFMG, MG<br />

Fátima VRP Goulart, PhD, UFMG, MG<br />

Patricia Driusso, PhD, UFSCar, SP<br />

Distúrbios do Sono / Sleep Disorders<br />

Lucila BF Prado, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Maria Ligia Juliano, SSD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Flávio Aloe, MD, USP, SP<br />

Stela Tavares, MD, HIAE, SP<br />

Dalva Poyares MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Ademir B Silva, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Alice H Masuko, MD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Maria Carmen Viana, MD, PhD, EMESCAM, ES<br />

Virna G Teixeira, MD, PhD, FMUSP, SP<br />

Geraldo Rizzo, MD, HMV, RS<br />

Rosana C Alves, MD, PhD, USP, SP<br />

Robert Skomro, MD, FRPC, Canadá<br />

Sílvio Francisco, MD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Doenças Cerebrovasculares/<br />

Cerebrovascular Disease<br />

Ayrton Massaro, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Aroldo Bacelar, MD, PhD, UFBA, BA<br />

Alexandre Longo, MD, PhD,<br />

UNIVILLE, SC<br />

Carla HC Moro, MD, PhD, UNIVILLE, SC<br />

Cesar Raffin, MD, PhD, UNESP, SP<br />

Charles Andre, MD, PhD, UFRJ, RJ<br />

Gabriel Freitas, MD, PhD, UFRJ, RJ<br />

Jamary Oliveira Filho, MD, PhD,<br />

UFBA, BA<br />

Jefferson G Fernandes, MD, PhD, RS<br />

Jorge AK Noujain, MD, PhD, RJ<br />

Márcia M Fukujima, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Mauricio Friedrish, MD, PhD, RS<br />

Rubens J Gagliardi, MD, PhD, SP<br />

Soraia RC Fabio, MD, PhD,<br />

USP Ribeirão Preto, SP<br />

Viviane HF Zétola, MD, PhD, UFPR, PR<br />

Oncologia / Oncology<br />

Suzana MF Mallheiros, MD, PhD,<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Carlos Carlotti Jr, MD, PhD, FMUSP, SP<br />

Fernando AP Ferraz, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Guilherme C Ribas, MD, PhD, Unicamp, SP<br />

João N Stavale, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Doenças Neuromusculares / Neuromuscular<br />

disease<br />

Acary SB Oliveira, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Edimar Zanoteli, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Helga CA Silva, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Leandro C Calia, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Luciana S Moura, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Laboratório e Neurociência Básica /<br />

Laboratory and Basic Neuroscience<br />

Maria GN Mazzacoratti, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Beatriz H Kyomoto, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Célia H Tengan, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Maria JS Fernandes, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Mariz Vainzof, PhD, USP, SP<br />

Iscia L Cendes, PhD, Unicamp, SP<br />

Débora A Scerni, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

João P Leite, MD, PhD,<br />

USP Ribeirão Preto, SP<br />

Luiz EAM Mello, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Líquidos Cerebroespinhal / Cerebrospinal<br />

Fluid<br />

João B Reis Filho, MD, PhD, FMUSP, SP<br />

Leopoldo A Pires, MD, PhD, UFJF, MG<br />

Sandro LA Matas, MD, PhD, UNIBAN, SP<br />

José EP Silva, PhD, UF Santa Maria, RS<br />

Ana Maria Souza, PhD,<br />

USP Ribeirão Preto, SP<br />

Neurologia do Comportamento / Behavioral<br />

Neurology<br />

Paulo HF Bertolucci, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Ivan Okamoto, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Thais Minetti, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Rodrigo Schultz, MD, PhD, UNISA, SP<br />

Sônia D Brucki, MD, PhD, FMUSP, SP<br />

Neurocirurgia / Neurosurgery<br />

Mirto N Prandini, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Antonio PF Bonatelli, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Oswaldo I Tella Júnior, MD, PhD,<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Orestes P Lanzoni, MD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Ítalo C Suriano, MD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Samuel T Zymberg, MD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Neuroimunologia / Neuroimmunology<br />

Enedina M Lobato, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Nilton A Souza, MD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Dor, Cefaléia e Funções Autonômicas /<br />

Pain, Headache, and Autonomic Function<br />

Deusvenir S Carvalho, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Angelo AV Paola, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Fátima D Cintra, MD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Paulo H Monzillo, MD, HSCM, SP<br />

José C Marino, MD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Marcelo K Hisatugo, MD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Interdisciplinaridade e história da<br />

Neurociência / Interdisciplinarity and<br />

History of Neuroscience<br />

Afonso C Neves, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

João EC Carvalho, PhD, UNIP, SP<br />

Flávio RB Marques, MD, INCOR, SP<br />

Vinícius F Blum, MD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Rubens Baptista Jr, MD, UNICAMP, SP<br />

Márcia RB Silva, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Eleida P Camargo, FOC, SP<br />

Dante MC Gallian, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Neuropediatria / Neuropediatrics<br />

Luiz CP Vilanova, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Marcelo Gomes, SP<br />

Os pontos de vista, as visões e as opiniões políticas aqui emitidas, tanto pelos autores, quanto pelos anunciantes, são de responsabilidade única e exclusiva de seus proponentes.<br />

99 Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2


<strong>Revista</strong> Neurociências <strong>2007</strong><br />

volume <strong>15</strong>, número 2<br />

índice<br />

editorial<br />

Epilepsia em remissão: estudo da prevalência e do perfil clínico-epidemiológico 101<br />

Epilepsy in remission: study of prevalence and clinicoepidemiological profile<br />

Maria Durce Costa Gomes<br />

originais<br />

Velocidade de marcha, força muscular e atividade mioelétrica em portadores de Esclerose Múltipla 102<br />

Gait speed, muscle strength, and myoelectric activity in individuals with Multiple Sclerosis<br />

Amanda Del Cistia, Ana Carolina Souza Moura da Silva, Camila Torriani, Fabio Navarro Cyrillo, Susi Fernandes, Isabella Costa Nova<br />

Os efeitos do treino de equilíbrio em crianças com paralisia cerebral diparética espástica 108<br />

The effects of balance training in children with spastic diparetic cerebral palsy<br />

Kátia Maria Gonçalves Allegretti, Mirna Sayuri Kanashiro, Vanessa Costa Monteiro, Heloise Casangi Borges, Sissy Veloso Fontes<br />

Perfil do atendimento fisioterapêutico na Síndrome de Down em algumas instituições do município do Rio de Janeiro 114<br />

Physical therapy profile in Down Syndrome at some institutions of the City of Rio de Janeiro<br />

Carla Trevisan M Ribeiro, Márcia G Ribeiro, Alexandra PQC Araújo, Maysa N Torres, Marco Antonio O Neves<br />

Avaliação funcional da marcha do rato após estimulação elétrica do músculo gastrocnêmio desnervado 120<br />

Functional evaluation from rat’s ambulation after electrical stimulation of the gastrocnemius muscle denervated<br />

Tiago Souza dos Santos, Édison Sanfelice André<br />

Hidroterapia na aquisição da funcionalidade de crianças com Paralisia Cerebral 125<br />

Hydrotherapy in the acquisition of the functionality of children with Cerebral Palsy<br />

Lívia Maria Marques Bonomo, Vanessa Chamma Castro, Denise Maciel Ferreira, Samira Tatiyama Miyamoto<br />

Os efeitos da hidroterapia na hipertensão arterial e freqüência cardíaca em pacientes com AVC 131<br />

The effect of hydrotherapy in high blood pressure and heart rate in patients with stroke<br />

Maryana Therumy Kabuki, Tatiana Sacchelli de Sá<br />

Epilepsia em remissão: estudo da prevalência e do perfil clínico-epidemiológico 135<br />

Epilepsy in remission: study of prevalence and clinicoepidemiological profile<br />

Michel Ferreira Machado, Ozéas Galeno da Rocha Neto, Jaime Roberto Seráfico de Assis Carvalho<br />

revisão<br />

Doença de Parkinson e exercício físico 141<br />

Parkinson’s Disease and physical exercise<br />

Vanessa de Araújo Rubert, Diogo Cunha dos Reis, Audrey Cristine Esteves<br />

Acupuntura na Doença de Parkinson: revisão de estudos experimentais e clínicos 147<br />

Acupuncture in Parkinson Disease: experimental and clinical trials review<br />

Fernando Cesar Iwamoto Marcucci<br />

Principais instrumentos para a análise da marcha de pacientes com distrofia muscular de Duchenne <strong>15</strong>3<br />

Main instruments for the gait analysis used in patients with muscular dystrophy of Duchenne<br />

Melina Suemi Tanaka, Andréa Luppi, Edgard Morya, Francis Meire Fávero, Sissy Veloso Fontes, Acary Souza Bulle Oliveira<br />

Abordagem fisioterapêutica na minimização dos efeitos da ataxia em indivíduos com esclerose múltipla 160<br />

Physiotherapy approaches for reduction of ataxic effects in multiple sclerosis<br />

Marco Antonio O Neves, Mariana P de Mello, Carlos Henrique Dumard, Reny de Souza Antonioli, Jhon P Botelho,<br />

Osvaldo JM Nascimento, Marcos RG de Freitas<br />

estudo de caso<br />

Efeitos da fisioterapia em paciente portador de Mucopolissacaridose 166<br />

Effects of physical therapy in Mucopolysaccharidoses patients<br />

Caio Imaizumi, Isabella Costa Nova, Andréia de O Joaquim<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2<br />

100


editorial<br />

Epilepsia em remissão: estudo da<br />

prevalência e do perfil clínico-epidemiológico<br />

A abordagem do indivíduo com epilepsia é sempre um desafio mesmo ao especialista mais experiente. Frente a um paciente<br />

com crises epilépticas, o médico-assistente inevitavelmente depara-se com questões essenciais quanto ao diagnóstico e classificação, bem<br />

como ao tratamento indicado e, finalmente, quanto à evolução. Estas questões nem sempre são respondidas no primeiro momento. Fatores<br />

individuais e sociais interferem na evolução e prognóstico e o conhecimento de alguns destes fatores tem contribuído para a “possível<br />

previsibilidade” da evolução de muitos casos. Entretanto, ainda nos perguntamos: É a epilepsia curável? Qual indivíduo ficará livre<br />

das crises? E por que? Tais questionamentos são ainda maiores quando aplicados ao paciente recém-diagnosticado. Algumas respostas<br />

podem hoje ser afirmadas e utilizadas na prática clínica. O tempo de epilepsia ativa interfere negativamente no prognóstico, provavelmente<br />

em decorrência dos fenômenos de epileptogênese secundária que contribuem para aumentar a chance de recorrência de crises,<br />

além dos efeitos desfavoráveis sobre as funções cognitivas e comportamentais. A gravidade da epilepsia no momento da apresentação<br />

ou precocemente, representada pelo número de crises e tipo(s) desta(s), associa-se a um pior prognóstico em virtude da persistência de<br />

atividade epileptiforme contínua ou frequente e por estar relacionada a etiologias potencialmente menos tratáveis. As anormalidades<br />

eletrográficas, também relacionadas aos aspectos anteriormente citados, têm-se mostrado preditivas com relação à evolução. Os padrões<br />

de comportamento da epilepsia em termos temporais também são prognósticos, observando-se melhores evoluções nas epilepsias que<br />

apresentam remissão precoce (no primeiro ano após a primeira crise), e graves naqueles casos de não remissão precoce, ou em outros<br />

que estabelecem uma padrão de remissão-recidiva ao longo do tempo; muitos podem evoluir para a refratariedade. A tendência atual<br />

tem sido identificar fatores genéticos envolvidos na farmaco-resistência e refratariedade.<br />

Dentro do contexto exposto, o que é possível dizer sobre epilepsia? Há chance de remissão? São conhecidos índices de remissão<br />

espontânea em populações e estudos de casos de 46% até 50% em pacientes epilépticos sem tratamento adequado, mas não há estudos<br />

populacionais suficientemente longos e abrangentes para avaliar a remissão espontânea. Os números de remissão com tratamento, entretanto,<br />

podem ser maiores. Em indivíduos com epilepsia recém-diagnosticada o prognóstico tem-se mostrado favorável, com taxas de<br />

remissão de 66 até 86%, as maiores encontradas nos países com<br />

excelentes condições de saúde e informação. Estes achados permitem sugerir que a epilepsia é um distúrbio potencialmente<br />

curável. Mas quem ficará curado e por que? As evidências têm sugerido melhores prognósticos para os indivíduos com menor número<br />

de crises, especialmente nos primeiros 6 meses de instalação dos sintomas; epilepsias idiopáticas; padrões eletrográficos não relacionados<br />

a etiologias desfavoráveis; funções cognitivas preservadas e menor recidivas de crises precoce ou tardiamente.<br />

A análise da literatura revela uma lacuna importante pela falta de estudos sobre a remissão da epilepsia em países não-desenvolvidos,<br />

incluindo o nosso. Autores envolvidos com o tema têm sugerido a importância destes países, uma vez que, problemas como o<br />

acesso à medicação e a adesão ao tratamento podem fornecer informações adicionais ao entendimento da história natural da epilepsia,<br />

pela análise da remissão espontânea, especialmente nas etiologias não estruturais.<br />

Neste panorama, entra em cena o trabalho apresentado pelo grupo da Universidade do Pará, que propõe sua contribuição<br />

apresentando dados de importância clínica e epidemiológica. Os autores, utilizando uma metodologia simples, abordam indivíduos<br />

de uma unidade geral de neurologia, evitando o viés de referência inerente aos centros especializados no tratamento de epilepsia,<br />

e, portanto, mais próximos da realidade cotidiana do neurologista clínico. Além disso, a metodologia empregada apresenta<br />

fácil reprodutibilidade e confiabilidade. Finalmente, a contribuição para o conhecimento de quantos e quais “dos nossos” pacientes<br />

possivelmente terão remissão é de valor apreciável. Os autores apresentam menores valores em relação aos da literatura e apontam<br />

algumas possíveis causas, o que instiga à execução de novos trabalhos dentro deste enfoque para analisar suas proposições. Obviamente,<br />

as etiologias sintomáticas estruturais apresentam maior expressão nos países subdesenvolvidos e isto pode afetar a taxa de remissão;<br />

achado que por si, tem valor clínico e científico relevante. O estudo de Machado e colaboradores, introduz assim, uma importante e<br />

necessária linha de pesquisa em nosso país, cooperando para o desenvolvimento da ciência no campo da epilepsia e para a saúde de<br />

nossos pacientes epilépticos.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

1. Shorvon S, Luciano AL. Prognosis of chronic and newly diagnosed<br />

epilepsy: revisiting temporal aspects. Curr Opin Neurol. <strong>2007</strong><br />

Apr;20(2):208-12.<br />

2. Mohanraj R, Brodie MJ. Outcomes of newly diagnosed idiopathic<br />

generalized epilepsy syndromes in a non-pediatric setting. Acta Neurol<br />

Scand. <strong>2007</strong> Mar;1<strong>15</strong>(3):204-8.<br />

Dra. Maria Durce Costa Gomes<br />

Neurologista Infantil do Hospital Universitário Oswaldo Cruz e<br />

Hospital da Restauração – Recife – PE<br />

Neurologista Infantil e Neurofisiologista Clínica do Instituto Materno-<br />

Infantil de Pernambuco (IMIP)<br />

Membro da Liga Brasileira de Epilepsia<br />

101<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:101


Velocidade de marcha, força muscular e<br />

atividade mioelétrica em portadores de<br />

Esclerose Múltipla<br />

original<br />

Gait speed, muscle strength, and myoelectric activity in individuals with Multiple Sclerosis<br />

Amanda Del Cistia 1 , Ana Carolina Souza Moura da Silva 1 , Camila Torriani 2 ,<br />

Fabio Navarro Cyrillo 3 , Susi Fernandes 4 , Isabella Costa Nova 5<br />

RESUMO<br />

Introdução. A Esclerose Múltipla (ME) é uma desordem neurológica<br />

progressiva degenerativa da bainha de mielina, que compromete a<br />

substância branca do Sistema Nervoso Central, afetando o controle<br />

motor, principalmente a marcha. O objetivo deste trabalho foi avaliar<br />

pacientes portadores de EM a fim de estabelecer a correlação entre<br />

o recrutamento muscular, força e a velocidade de marcha, comparado<br />

a um grupo controle. Método. Para o grupo experimental foram<br />

selecionados 7 indivíduos portadores de EM, e o grupo controle<br />

formado de 7 indivíduos saudáveis. Foi utilizada uma plataforma de<br />

10m, mensurada a velocidade de marcha, além do recrutamento do<br />

músculo tibial anterior durante a mesma. Resultados. Observou-se<br />

redução importante na velocidade de marcha auto-selecionada e<br />

acelerada (p=0,017 e 0,009) e aumento significativo no recrutamento<br />

muscular durante a marcha auto-selecionada e acelerada (p


original<br />

INTRODUÇÃO<br />

Esclerose Múltipla (EM) é uma desordem neurológica<br />

progressiva, caracterizada por exacerbação<br />

e remissões, podendo afetar o movimento, sensibilidade,<br />

cognição e percepção. Devido à desmielinização<br />

há a formação de placas escleróticas nos hemisférios<br />

cerebrais, medula espinal e cerebelo. A EM<br />

é uma doença inflamatória caracterizada por lesões<br />

discretas desmielinizantes em placas distribuídas no<br />

Sistema Nervoso Central (SNC) 1 . É a forma de desordem<br />

neurológica mais freqüente entre os adultos<br />

jovens, a hipótese etiológica mais descrita é de uma<br />

alteração auto-imune que causa a destruição da bainha<br />

de mielina, oligodendrócitos e axônios 2-5 .<br />

Em conseqüência de tal desmielinização desordens<br />

no movimento e distúrbio de marcha são comuns<br />

em indivíduos com EM . A maioria dos portadores<br />

de EM apresenta dificuldade de marcha, cuja<br />

causa pode ser a fraqueza, espasticidade, alteração<br />

sensorial ou ataxia, bem como a combinação desses<br />

fatores.<br />

A falta de funcionalidade em indivíduos com<br />

EM tais como dificuldade de marcha, alteração de<br />

equilíbrio, fraqueza muscular e fadiga, tipicamente<br />

resultam de degeneração axonal e bloqueio de condução.<br />

Esses e outros sintomas reduzem a habilidade<br />

individual para performance das atividades de vida<br />

diária (AVDs) 3,4 .<br />

O músculo tibial anterior tem uma grande<br />

participação nas reações posturais o qual tem sido<br />

mostrado danificado em pacientes com EM. O padrão<br />

de movimento articular no plano sagital indica<br />

diferenças significantes nos pacientes com EM comparados<br />

com um grupo controle para o movimento<br />

de quadril, joelho, e tornozelo 5 . O padrão de marcha<br />

entre os sujeitos com EM foi caracterizado pelo aumento<br />

da flexão de quadril, flexão de joelho e plantiflexão<br />

do tornozelo no apoio de calcâneo seguido<br />

pela redução da extensão do quadril e joelho na fase<br />

de retirada dos dedos comparado com o grupo controle.<br />

Durante a fase de balanço há uma redução da<br />

plantiflexão e aumento da flexão de quadril. Como<br />

conseqüência, a escala geral de movimento no plano<br />

sagital foi aumentada pelo quadril, enquanto na articulação<br />

do tornozelo foi encontrada uma redução<br />

consistente nos sujeitos com EM comparado com o<br />

grupo controle 6 .<br />

Desta forma, é importante estabelecer correlação<br />

entre os fatores que influenciam os distúrbios<br />

de marcha de tais pacientes, inclusive considerando<br />

a velocidade. A fim de determinar quais alterações<br />

são e estão diretamente relacionadas aos distúrbios<br />

da marcha no paciente com EM.<br />

O objetivo desse estudo foi avaliar pacientes<br />

portadores de EM a fim de estabelecer a correlação<br />

entre o recrutamento muscular, força muscular e a<br />

velocidade de marcha, comparado a um grupo controle.<br />

MÉTODO<br />

Local<br />

O estudo foi desenvolvido no Centro Universitário<br />

das Faculdades Metropolitanas Unidas —<br />

FMU, no laboratório de Eletromiografia de superfície<br />

(EMG’s) e Biofeedback. O estudo foi aprovado<br />

por Comitê Ético interno da Instituição, sendo que<br />

foram respeitados os aspectos éticos concernentes a<br />

Resolução de nº 196 de 10 de outubro de 1996, que<br />

delimitam diretrizes e normas regulamentadoras de<br />

pesquisas envolvendo seres humanos. A coleta de<br />

dados iniciou-se após assinatura de termo de Consentimento<br />

Livre e esclarecido contendo explicações<br />

detalhadas sobre o estudo e sua finalidade.<br />

Tipo de Estudo<br />

Foi realizado um estudo transversal.<br />

Sujeitos<br />

Foram selecionadas 7 sujeitos do sexo feminino,<br />

com diagnóstico de EM da forma clínica remitente-recorrente<br />

(RR), com idade média de 35±8<br />

anos, portadores de EM com tempo médio de diagnóstico<br />

de 8±13 anos, segundo os seguintes critérios<br />

de inclusão: marcha independente, sem restrição de<br />

uso de órtese e que aceitaram participar do estudo<br />

mediante assinatura de termo de consentimento livre<br />

e esclarecido. Foram estabelecidos como critério<br />

de exclusão: portadores de EM sem deambulação ou<br />

que apresentassem alteração cognitiva. Para o grupo<br />

controle foram selecionados 7 indivíduos saudáveis<br />

do sexo feminino sem alterações de marcha em função<br />

de comprometimento ortopédico ou reumatológico,<br />

com idade média de 35±5 anos.<br />

Equipamentos<br />

Para avaliação do recrutamento muscular foi<br />

utilizado um eletromiógrafo de superfície da marca<br />

Miotec ® com quatro canais, eletrodos pré-geldados,<br />

circulares, de cloreto de prata da marca Medtrace ® ,<br />

com distância de 2,5 cm entre eles.<br />

A estrutura física do eletromiógrafo possui<br />

largura de 140mm, comprimento de 136mm, altura<br />

103<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:102–107


de 49mm, peso de 800g. O modelo utilizado foi o<br />

Miotool400 USB, com 14 bits de resolução, ruído <<br />

2 LSB, possui quatro canais analógicos de entrada,<br />

a taxa de aquisição por canal é de 2000 amostras/<br />

segundo, todos os canais possuem ganho ajustáveis<br />

individualmente por software. Rejeição de modo comum<br />

de 110db. Isolamento 3000 volts, o software<br />

permite aplicação de filtros digitais passa baixa, passa<br />

alta, passa banda e notch com 4 pólos. O sensor<br />

EMG ativo permite ganho fixo de 100x. Filtro: Butterworth<br />

passa alta 1 pólo de 0,1 Hz + Butterworth<br />

passa baixa 2 pólos de 500 Hz. A Impedância de<br />

Entrada é de 10¹ºΩ||2pF e o espaçamento entre os<br />

eletrodos é de 30mm.<br />

Procedimento<br />

A medida de tempo-distância da performance<br />

da marcha, tais como velocidade e comprimento do<br />

passo têm sido úteis para obtenção de informações<br />

quantitativas da performance da marcha. Na avaliação<br />

de marcha a mensuração por tempo e distância é<br />

clinicamente viável, apresentando muitas vantagens,<br />

pois trata-se de um sistema acessível, fácil de aprender<br />

e demora pouco tempo para executá-lo, motivo<br />

pelo qual será utilizado nesse estudo 7,8 .<br />

São relatados valores normativos para velocidades<br />

de andar auto-selecionada (confortável) e<br />

acelerada (rápida), baseado nos dados de 230 indivíduos<br />

saudáveis. Os valores específicos do gênero e<br />

da idade (por décadas) incluem a velocidade real do<br />

andar (cm/s) e a velocidade do andar normalizada<br />

de acordo com a altura (velocidade real do andar<br />

|cm/s| dividida pela altura |cm|). As normas retiradas<br />

deste estudo (convertidas para m/min) estão<br />

apresentadas na Tabela 1. Além disso, o método<br />

comum calcula a velocidade medida em 10m, em<br />

ambientes fechados 8 .<br />

Tabela 1. Valores de referência para velocidade do andar. Velocidade<br />

de marcha confortável versus acelerada por década, idade e sexo.<br />

Confortável (m/mim.)<br />

Acelerada (m/min.)<br />

Sexo Homens Mulheres Homens Mulheres<br />

Década<br />

20 anos 83,6 84,4 <strong>15</strong>1,9 148,0<br />

30 anos 87,5 84,9 147,4 140,5<br />

40 anos 88,1 83,5 147,7 127,4<br />

50 anos 83,6 83,7 124,1 120,6<br />

60 anos 81,5 77,8 1<strong>15</strong>,9 106,4<br />

70 anos 79,8 76,3 124,7 104,9<br />

original<br />

A colocação dos eletrodos foi feita no músculo<br />

tibial anterior, de acordo com Cram 9 , na região de<br />

maior proeminência do ventre muscular, baseandose<br />

nas normas e procedimentos do SENIAM. Antes<br />

da avaliação eletromiográfica, foi realizado o teste<br />

de força manual no músculo tibial anterior bilateralmente<br />

de acordo com o Medical Research Council<br />

(MRC) 10 . Em seguida, foi feita a avaliação eletromiográfica<br />

durante a Contração Isométrica Máxima Voluntária<br />

(CIMV), de acordo com o posicionamento<br />

do teste de força muscular normatizado por Kendal 10 ,<br />

com o sujeito em posição sentada, em 3 séries de 5<br />

segundos, com intervalo de 5 segundos entre elas. A<br />

resistência fornecida para mensuração da CIMV foi<br />

feita por meio de uma faixa inelástica fixada a fim de<br />

fornecer a resistência de maneira uniforme durante<br />

a contração. Depois, o recrutamento muscular do tibial<br />

anterior foi avaliado durante a marcha, por 10<br />

metros, realizada em velocidade confortável, seguida<br />

de marcha acelerada, sendo também cronometrado<br />

o tempo de execução da marcha, a fim de obter-se a<br />

velocidade média.<br />

Análise Estatística<br />

Neste trabalho foi feito o uso do teste não paramétrico<br />

de Wilcoxon e para complementar a análise<br />

descritiva, utilizou-se também a técnica de Intervalo<br />

de Confiança. Por fim, realizou-se uma análise<br />

por meio do teste de Correlação de Pearson.<br />

Definiu-se para um nível de significância de<br />

0,05 (5%) e todos os intervalos de confiança construídos<br />

ao longo do trabalho foram de 95%.<br />

RESULTADOS<br />

Iniciou-se os resultados mostrando a comparação<br />

do Músculo Tibial anterior direito versus o<br />

Esquerdo em cada uma das posições.<br />

Em nenhuma das análises, existe diferença<br />

média entre Músculo Tibial anterior direito e esquerdo<br />

que possa ser considerada estatisticamente<br />

significante, portanto os dois membros foram considerados<br />

juntos nas análises subseqüentes.<br />

Foi observada correlação de CIMV com<br />

marcha confortável e rápida no grupo experimental<br />

(p


original<br />

Tabela 2. Correlação do grupo experimental entre força muscular, CIMV, recrutamento muscular na marcha confortável, recrutamento muscular na<br />

marcha rápida, Vm (Velocidade Média) confortável, Vm rápida, idade.<br />

Correlação<br />

Grupo experimental<br />

Força Muscular 0,123<br />

Idade Força Muscular CIMV<br />

CIMV 0,442 0,311<br />

Recrutamento muscular<br />

Marcha confortável<br />

Recrutamento muscular<br />

Marcha Rápida<br />

0,540 0,190


dade mioelétrica para se manter na velocidade de<br />

marcha confortável e rápida.<br />

Ressalta-se que antes da análise dos resultados,<br />

como a doença apresenta várias formas de manifestações<br />

e os sinais e sintomas produzem quadros<br />

motores diferentes em cada paciente, a topografia da<br />

lesão, tempo e idade dos pacientes, podem ter sido<br />

variáveis que interferiram nos resultados obtidos.<br />

Notou-se que quanto maior a idade ou o tempo de<br />

lesão, maior as dificuldades motoras do paciente, alterando<br />

a Vm confortável e rápida.<br />

Os dados mostram que os valores de tempo e<br />

distância indicados para sujeitos com EM são claramente<br />

diferente dos indicados para os sujeitos saudáveis,<br />

até mesmo em sujeitos que atingiram a independência<br />

funcional.<br />

No presente estudo, a velocidade na marcha<br />

livre (auto-selecionada) foi diminuída comparada ao<br />

grupo controle. Estes dados podem ser comparados<br />

ao estudo que visou verificar as anormalidades da<br />

marcha em pacientes com a mínima alteração da<br />

EM, comparando 10 sujeitos no grupo controle e 7<br />

sujeitos no grupo de EM. Concluiu-se que há reduções<br />

no comprimento do passo e na cadência (passos<br />

por minuto), o que resulta em menor velocidade,<br />

corroborando com os achados de nosso estudo. Além<br />

disso, o ciclo da marcha foi mais longo e a relação da<br />

fase de balanço e apoio foi aumentada com a fase<br />

de apoio duplo prolongada. Em muitos dos casos, a<br />

marcha arrítmica foi evidente entre o grupo de EM<br />

bem como a duração da fase de apoio direita foi significativamente<br />

diferente da fase de apoio esquerda.<br />

Corroborando novamente os resultados obtidos em<br />

nosso estudo 10 .<br />

A maioria dos pacientes tem um ou mais<br />

achados que indicam alteração no recrutamento<br />

muscular mensurado pelos sinais da EMG. As características<br />

mais consistentes foram sustentadas pela<br />

atividade do músculo tibial anterior durante a primeira<br />

parte da fase de apoio e um início mais adiantado<br />

da atividade elétrica do músculo gastrocnêmio<br />

medial durante a fase de apoio. Além disso, a fase de<br />

recrutamento do tibial anterior tende a ocorrer mais<br />

cedo na transição da fase de apoio para a fase de balanço,<br />

sendo ativo durante o atraso na fase de duplo<br />

apoio na maioria dos pacientes. Aparentemente, o<br />

não recrutamento do tibial anterior tende a ocorrer<br />

mais tarde na transição da fase de balanço para a<br />

fase de apoio o que resulta nos sujeitos com EM a<br />

entrada na fase de apoio de um único membro com<br />

um padrão geralmente não observado nos sujeitos<br />

original<br />

do grupo controle durante uma velocidade de marcha<br />

relativamente baixa. Além disso, observaram na<br />

EMG anormalidades que sugerem ativação dos padrões<br />

específicos relacionando-se à alteração da biomecânica<br />

da marcha. Sendo que tais anormalidades<br />

não parecem estar correlacionadas com a classificação<br />

clínica da severidade da disfunção. Desta forma,<br />

sugerimos continuidade do estudo analisando a atividade<br />

mioelétrica em relação à análise cinemática<br />

da marcha 10-12 .<br />

Deve-se levar em consideração a manifestação<br />

de flutuação da doença em cada paciente individualmente<br />

que pode variar em relação aos sintomas<br />

de EM, influenciando na avaliação. Na descrição do<br />

estudo foi notado que um aumento na EDSS (Expanded<br />

Disability Status Scale) de pelo menos um<br />

ponto, pode ser considerado como uma deterioração<br />

significante da função. Sendo assim, sendo este um<br />

fator decisivo na indicação de um tratamento mais<br />

extensivo medicamentoso, visando padronizar as coletas.<br />

É discutido também sobre a variabilidade na<br />

distância máxima individual e a dificuldade andando<br />

no tempo máximo para o indivíduo com EM, visto<br />

que a média de velocidade de marcha representa um<br />

parâmetro relativo constante e alto desvio padrão.<br />

Sugere-se, portanto, que para novos estudos sejam<br />

analisados também o horário da coleta, a temperatura<br />

ambiente e a fadiga 11,13,14 .<br />

A fim de complementar e confrontar os dados<br />

obtidos neste estudo sugere-se analisar outros parâmetros<br />

tais como, tônus muscular, goniometria eletrônica<br />

e momento de ação do músculo tibial anterior, bem<br />

como dos demais músculos sinergistas da marcha.<br />

Conclui-se que há redução significativa da velocidade<br />

de marcha de pacientes portadores de EM<br />

quando comparada a um grupo controle.<br />

A principal diferença notada entre os grupos<br />

controle e experimental foi na comparação da atividade<br />

muscular durante a marcha e a velocidade<br />

média na marcha auto-selecionada e acelerada. Os<br />

valores estatisticamente significantes sugerem que<br />

a atividade muscular na marcha dos pacientes com<br />

EM encontra-se aumentada (indicando alto esforço<br />

muscular e energético), ao passo que a velocidade<br />

auto-selecionada e acelerada encontra-se bastante<br />

diminuída em relação ao grupo controle.<br />

Há a necessidade de aumentar a amostra para<br />

confirmar os dados obtidos, porém sugere-se que a<br />

atividade muscular de tibial anterior é um fator que<br />

possa interferir na velocidade de marcha de pacientes<br />

portadores de EM.<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:102–107 106


original<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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de la Marcha em um grupo de pacientes com esclerósis múltiple, sometidos<br />

a um programa de neuroreabilitación. Med Reabil 2004;23:46-48.<br />

2. Frzovic D, Morris ME, Vowels L. Clinical tests of standing balance: performance<br />

of persons with multiple sclerosis. Arch Phys Med Rehabil 2000;81:2<strong>15</strong>-221.<br />

3. Debolt LS, McCubbin JA. The effects of home-based resistance<br />

exercise on balance, power, and mobility in adults with multiple sclerosis.<br />

Arch Phys Med Rehabil 2004;85:290-297.<br />

4. White LJ, McCoy SC, Castelanno V, Gutierrez G, Stevens JE, Walter<br />

GA, et al. Resistence Training Improves Strength and Functional Capacity<br />

in Persons With Multiple Sclerosis. Multiple Sclerosis 2004;668-674.<br />

5. McConvey J, Bennett SE. Reliability of the dynamic gait index in individuals<br />

with multiple sclerosis. Arch Phys Med Rehabil 2005;86:130-133.<br />

6. Morris ME, Cantwell C, Vowels L, Dodd K. Changes in gait and<br />

fatigue from morning to afternoon in people with multiple sclerosis. J<br />

Neurol Neurosurg Psychiatr 2002;72:361-365.<br />

7. Madonna MG, Holland NJ, Levison PW. The value of physical therapy<br />

in improving gait in multiple sclerosis: A research desing. Rehabil<br />

Nurs 1985; 77:32-34.<br />

8. Shumway-Cook A, Woollacott MH. Controle motor: teoria e aplicações<br />

práticas. São Paulo: Ed Manole, 2003, 592p.<br />

9. Benedetti MG, Piperno R, Simoncino L, Bonato P, Tonini A, Giannini<br />

S. Gait abnormalities in minimally impaired multiple sclerosis patients.<br />

Multiple Sclerosis 1999;5:363-368.<br />

10. Holden MK, Gill KM, Magliozzi MR. Gait Assessment for Neurologically<br />

Impaired Pacients. Standards for Outcome Assessment. Phys<br />

Ther 1986;66:<strong>15</strong>30-<strong>15</strong>39.<br />

11. Bohannon RW. Comfortable and maximum walking speed of adults<br />

aged 20 to 79 years: reference values and determinants. Age Ageing<br />

1997;26:<strong>15</strong>-19.<br />

12. Cram JR, Kasman GS. Introduction to Surface Electromyography.<br />

Gaithersburg: Ed. Aspen Publicaton, 1998, 408p.<br />

13. Kendall EM, Provance PG. Músculos Provas e Funções. 4ª edição,<br />

São Paulo: Ed Manole, 1995; p.200-202.<br />

14. Albrecht H, Wotzel C, Erasmus LP, Kleinpeter M, Koing N, Pollmann<br />

W. Day-to-day of Maximum Walking Distance in MS Patients can<br />

Mislead to relevant changes in the Expanded Disability Scale (EDSS):<br />

averge walkin speed in a more constant parameter. Multiple Sclerosis.<br />

2001; 7:107-109.<br />

ABRASPI<br />

Associação Brasileira da Síndrome das Pernas Inquietas<br />

A Associação Brasileira da Síndrome das Pernas Inquietas – ABRASPI, é uma associação<br />

sem fins lucrativos criada para dar suporte a pacientes e promover pesquisa<br />

e treinamento sobre a Síndrome das Pernas Inquietas (SPI). Criada desde 2005,<br />

a ABRASPI tem recebido correspondências de pacientes, familiares e médicos do<br />

Brasil todo e de Portugal, que procuram tirar dúvidas sobre a doença, tratamento e<br />

indicações de médicos.<br />

Fone: (11) 5081–6629.<br />

E-mail: sindromedaspernasinquietas@gmail.com<br />

www.sindromedaspernasinquietas.com.br<br />

107<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:102–107


Os efeitos do treino de equilíbrio em<br />

crianças com paralisia cerebral<br />

diparética espástica<br />

The effects of balance training in children with spastic diparetic cerebral palsy<br />

original<br />

Kátia Maria Gonçalves Allegretti 1 , Mirna Sayuri Kanashiro 2 , Vanessa Costa<br />

Monteiro 1 , Heloise Casangi Borges 3 , Sissy Veloso Fontes 4<br />

RESUMO<br />

Objetivo. Verificar os efeitos do treino de equilíbrio, como conduta<br />

fisioterapêutica, no ajuste postural e nas atividades funcionais<br />

de crianças com PC diparética espástica, utilizando o teste de<br />

equilíbrio de Berg e da Gross Motor Function Measure (GMFM).<br />

Método. Participaram do estudo 4 crianças, 1 menina e 3 meninos,<br />

com idade entre 7 e 8 anos. Foi utilizado um programa de<br />

treino de equilíbrio, contendo 7 atividades em diferentes superfícies<br />

(estáveis e instáveis) e a utilização de diferentes demandas<br />

sensoriais (olhos abertos e fechados). O tratamento foi realizado<br />

por um período de 3 meses consecutivos, 1 vez por semana, em<br />

sessões com duração de 60 minutos cada. Resultados. Os resultados<br />

sugerem que há possibilidade de melhora do equilíbrio funcional<br />

em crianças com PC diparética espástica com idade entre<br />

7 e 8 anos, devido à variabilidade da prática, utilizando nas terapias<br />

diferentes atividades funcionais e promovendo a estimulação<br />

do sistema sensorial multimodal em diversos ambientes. Todas as<br />

crianças mostraram melhora no ajuste postural funcional pelo<br />

teste de equilíbrio de Berg e pelo GMFM.<br />

Unitermos: Paralisia Cerebral. Diplegia Espástica. Equilíbrio.<br />

Citação: Allegretti KMG, Kanashiro MS, Monteiro VC, Borges HC,<br />

Fontes SV. Os efeitos do treino de equilíbrio em crianças com paralisia<br />

cerebral diparética espástica.<br />

SUMMARY<br />

Objective. The objective of this study was to verify the effects<br />

of balance training and functional orthostatic activities in children<br />

with spastic diparetic cerebral palsy, using the balance<br />

tests of Berg and GMFM. Method. Four children participated<br />

in this study, 1 girl and 3 boys, aging 7 to 8 years. A protocol<br />

for balance training consisting of 7 activities based on training<br />

on different types of surfaces (stable and unstable) and using<br />

different sensorial demands (eyes open and eyes closed). The<br />

treatment was performed during a period of 3 months, once<br />

a week, with sessions lasting 60 minutes each. Results. The results<br />

suggest that improvements in functional balance in children<br />

aging 7 and 8 with cerebral palsy can occur because of<br />

the various forms of applying the treatment, using functional<br />

activities and promoting stimulation of the multimodal sensorial<br />

system in a number of environments during the different<br />

therapies. All the children showed improvements in the adjustment<br />

of functional balance after performing the Berg balance<br />

test and the GMFM.<br />

Keywords: Cerebral Palsy. Balance.<br />

Citation: Allegretti KMG, Kanashiro MS, Monteiro VC, Borges HC,<br />

Fontes SV. The effects of balance training in children with spastic diparetic<br />

cerebral palsy.<br />

Trabalho realizado no Centro de Reabilitação Lar Escola São<br />

Francisco (LESF)<br />

1. Fisioterapeuta do LESF e Preceptora do Módulo de Neuro-infantil<br />

do Curso de Especialização em Fisioterapia Hospitalar e Ambulatorial<br />

aplicada à Neurologia – UNIFESP. Especialista em Fisioterapia Motora<br />

Hospitalar e Ambulatorial aplicada à Neurologia – UNIFESP.<br />

2. Fisioterapeuta do LESF. Especialista em Fisioterapia Motora Hospitalar<br />

e Ambulatorial aplicada à Neurologia – UNIFESP.<br />

3. Fisioterapeuta do LESF e Preceptora do Módulo de Neuro-adulto<br />

do Curso de Especialização em Fisioterapia Hospitalar e Ambulatorial<br />

aplicada à Neurologia – UNIFESP. Especialista em Fisioterapia Motora<br />

Hospitalar e Ambulatorial aplicada à Neurologia – UNIFESP.<br />

4. Fisioterapeuta, Doutora em Ciências da Saúde pela UNIFESP.<br />

Endereço para correspondência:<br />

Kátia Maria Gonçalves Allegretti<br />

Rua José Bonifácio de Andrade e Silva,<strong>15</strong>0/41<br />

São Roque-SP, CEP: 18130-003<br />

e-mail: katiaallegretti@hotmail.com<br />

Recebido em: 08/08/06<br />

Revisão: 09/08/06 a 27/03/07<br />

Aceito em: 28/03/07<br />

Conflito de interesses: não<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:108–113 108


original<br />

INTRODUÇÃO<br />

A paralisia cerebral (PC) ou encefalopatia<br />

crônica não progressiva é um grupo não progressivo,<br />

mas freqüentemente mutável de distúrbio motor<br />

(tônus e postura), secundário a lesão do cérebro em<br />

desenvolvimento. O evento lesivo pode ocorrer no<br />

período pré, peri ou pós-natal 1 .<br />

A incidência da PC no Brasil é de 2 a 3 por<br />

1000 nascidos vivos, e a forma espástica é de maior<br />

prevalência 2 . Em média surgem 17.000 novos casos<br />

de PC ao ano e isso se deve também aos avanços<br />

tecnológicos e cuidados neonatais a partir dos anos<br />

80, acarretando em aumento da sobrevivência de<br />

prematuros de muito baixo peso ao nascer, com aumento<br />

da prevalência de PC 3,4 .<br />

Uma imensa variedade de problemas pode<br />

contribuir para a falta de controle postural do paciente<br />

com PC diparética espástica. O comprometimento<br />

do controle motor, incluindo alterações dos<br />

mecanismos antecipatórios (feedforward), de retroalimentação<br />

(feedback) e, algumas disfunções músculoesqueléticas<br />

afetam as reações de equilíbrio da criança<br />

diparética espástica 5,6 .<br />

O treino de equilíbrio, baseado na desestabilização<br />

do paciente para que este recorra ao ajuste<br />

postural permite a utilização de estratégias de movimento<br />

postural, que são usadas, como feedback e feedforward,<br />

a fim de manter o equilíbrio em diversas<br />

circunstâncias 6-8 . Essas estratégias de movimento são<br />

impostas tanto no plano sagital (ântero-posterior),<br />

como no plano frontal (médio lateral). As estratégias<br />

utilizadas no plano sagital são: estratégias de<br />

tornozelo, quadril e passo e estas são ativadas pelo<br />

recrutamento de determinados músculos, ocorrendo<br />

a sinergia destes de acordo com a tarefa a ser realizada.<br />

Já, no plano frontal as estratégias ocorrem principalmente<br />

no quadril, tronco e, no tornozelo ocorre<br />

apenas se a superfície é estreita 9-11 .<br />

O treino de equilíbrio proporciona ao paciente<br />

com PC, o aumento do recrutamento muscular<br />

para a manutenção da postura em pé, promovendo,<br />

assim melhor ajuste postural 10,12,13 . A seleção dessas<br />

estratégias dependerá da superfície em que o paciente<br />

se encontra, da velocidade de desestabilização e<br />

também das aferências periféricas disponíveis. Portanto,<br />

o treino de equilíbrio em várias tarefas e situações<br />

permitirá a utilização das informações somatossensoriais,<br />

visuais e vestibulares, como também a<br />

utilização de diferentes estratégias motoras 13 .<br />

Estudos realizados por diversos pesquisadores<br />

7,14-17 observaram que crianças com PC diparética<br />

espástica apresentam déficits na adaptação sensorial<br />

e também apresentam uma maior dependência do<br />

retorno visual para a manutenção da postura correta.<br />

Por isso, a importância de se trabalhar o equilíbrio<br />

em diferentes ambientes sensoriais.<br />

Desafios adicionais que encorajam o uso da<br />

informação vestibular remanescente podem ser introduzidos<br />

pela disponibilização gradual da informação<br />

visual mais acurada, como uma referência de<br />

orientação. Isto pode ser adquirido pela utilização<br />

de superfícies diferentes. Primeiro uma superfície<br />

firme que encoraje o paciente a utilizar mais as informações<br />

somatossensoriais. Depois uma superfície<br />

de espuma, que é menos acurada e a criança utiliza<br />

a informação visual e vestibular. Já, se a informação<br />

visual for retirada o paciente terá que utilizar a<br />

informação vestibular para o restabelecimento do<br />

equilíbrio 16-18 .<br />

Os efeitos da experiência em relação ao treino<br />

de equilíbrio com respostas automáticas da postura<br />

observou-se que o treinamento repetitivo do equilíbrio<br />

pode modificar os ajustes posturais devido a<br />

maturação e experiência motora, sugerindo que os<br />

ajustes posturais podem ser aprendidos 19 .<br />

Por isso, os treinamentos de equilíbrio que<br />

exigem repetição e modificação do ambiente são<br />

importantes para a prática e promovem melhora no<br />

desempenho do controle postural de crianças com<br />

PC 13,20 .<br />

A prática e a experiência levam a mudanças<br />

relativamente permanentes na capacidade de produzir<br />

uma ação hábil. Além disso, a aprendizagem<br />

motora envolve a aquisição de novas estratégias para<br />

movimentar como também a busca de solução para<br />

uma tarefa que surge da interação entre o indivíduo,<br />

a tarefa e o ambiente 13,21,22 .<br />

Essa aprendizagem motora e a habilidade em<br />

recuperar a estabilidade após perturbações podem<br />

também causar implicações clínicas importantes<br />

em crianças com idade de 7-12 anos de idade. Pois<br />

sabe-se que as crianças com desenvolvimento normal<br />

devem ter atingido os padrões de um adulto no<br />

equilíbrio e na estabilidade por volta dos 7 aos 10<br />

anos de idade e, as crianças com PC são atrasadas<br />

neste aspecto 21 .<br />

Em estudos realizados com crianças com PC,<br />

mesmo com idade acima de 7 anos, observa-se que<br />

são hábeis para fazerem modificações nos ajustes<br />

posturais 21 . Por isso, a idade das crianças foi um critério<br />

importante, assim como também a escassez de<br />

estudos de treino de equilíbrio em crianças com PC.<br />

109<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:108–113


O objetivo deste estudo foi verificar os efeito<br />

do treino de equilíbrio como conduta fisioterapêutica,<br />

no ajuste postural e nas atividades funcionais<br />

em ortostatismo de crianças com PC diparética espástica.<br />

MÉTODO<br />

Neste estudo de casos participaram 4 pacientes,<br />

sendo considerados critérios de inclusão: diagnóstico<br />

clínico de PC diparética espástica, em intervenção<br />

fisioterapêutica no Centro de Reabilitação Lar<br />

Escola São Francisco (LESF); idade entre 7-12 anos;<br />

espasticidade leve a moderada (grau 1-2) em MMII,<br />

de acordo com a Escala Modificada de Ashworth;<br />

realizar marcha independente com ou sem um dispositivo<br />

de auxílio; ortostatismo independente por<br />

pelo menos 30 segundos; concordância e assinatura<br />

do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido<br />

dos pais ou responsáveis das crianças envolvidas na<br />

pesquisa. Os critérios de exclusão foram: presença<br />

de deformidades osteo-articulares estruturadas em<br />

quadril, joelho e tornozelos; realização de cirurgia<br />

ou bloqueio químico neuromuscular há menos de 6<br />

meses; pacientes com alterações nas funções cognitivas<br />

que impedissem a colaboração e compreensão<br />

nas atividades propostas.<br />

No período pré e pós intervenção, foram realizadas<br />

as avaliações iniciais e finais respectivamente,<br />

sendo compostas pela avaliação do equilíbrio<br />

funcional com o teste de Equilíbrio de Berg, e pela<br />

avaliação da função motora através do Gross Motor<br />

Function Measure (GMFM), contendo as dimensões<br />

D (em pé) e E (andar, correr, pular).<br />

O teste de equilíbrio de Berg avalia o desempenho<br />

do equilíbrio funcional em 14 itens comuns<br />

à vida diária. A pontuação máxima é de 56 e cada<br />

item possui uma escala ordinal de cinco alternativas<br />

que variam de 0 a 4 pontos. Os pontos são baseados<br />

no tempo em que uma posição pode ser mantida,<br />

na distância em que o membro superior é capaz de<br />

alcançar à frente do corpo e no tempo para completar<br />

uma tarefa. Este teste leva aproximadamente<br />

<strong>15</strong> minutos para ser executado 23-26 .A escala atende a<br />

várias propostas: descrição quantitativa da habilidade,<br />

acompanhamento do progresso dos pacientes e<br />

avaliação da efetividade das intervenções na prática<br />

clínica e em pesquisas 23 .<br />

Neste trabalho foram avaliados os 14 itens do<br />

teste de equilíbrio de Berg.<br />

Após a avaliação da escala de equilíbrio de<br />

Berg avaliou-se a função motora grossa através do<br />

original<br />

GMFM que é um instrumento de observação padronizado,<br />

criado e aprovado para quantificar e mensurar<br />

a função motora grossa que ocorre com o passar<br />

do tempo nas crianças com paralisia cerebral.<br />

O teste de GMFM inclui 88 itens que avaliam<br />

a função motora em cinco dimensões: (A) deitar e<br />

rolar; (B) sentar; (C) engatinhar e ajoelhar; (D) ficar<br />

em pé; e (E) andar, correr e pular 27,28 .<br />

Os itens são agrupados de acordo com a seqüência<br />

do desenvolvimento motor normal. Para fins<br />

de pontuação, os itens são agregados para representar<br />

cinco áreas separadas da função motora.<br />

Neste estudo foram aplicadas as dimensões D<br />

e E do GMFM que compreendem as atividade de<br />

ficar em pé, de andar, correr e pular. O item D é<br />

composto de 13 itens numerados de 52 a 64. O item<br />

E é composto por 24 itens numerados de 65 a 88.<br />

Cada item pode ser pontuado de 0 a 3, que correspondem<br />

respectivamente a: 0 não consegue realizar<br />

a atividade; 1 inicia a atividade (< 10%da tarefa); 2<br />

completa parcialmente (10 a


original<br />

2- Paciente em pé em uma superfície estável<br />

com uma base estreita e o terapeuta realiza a desestabilização<br />

unidirecional e bidirecional com intensidade<br />

leve no início e depois evoluindo com uma<br />

intensidade maior. Primeiramente realiza-se com os<br />

olhos abertos e em seguida com os olhos fechados.<br />

3- Paciente em pé em uma superfície estável<br />

são realizadas tarefas funcionais com MMSS de<br />

acordo com a capacidade funcional de cada criança.<br />

Por exemplo, jogar bola.<br />

4- Paciente em pé sobre uma superfície de espuma<br />

de densidade média, com os pés paralelos e ligeiramente<br />

afastados. O terapeuta realiza movimentos<br />

no sentido ântero-posterior e latero-lateral, com<br />

os olhos abertos e fechados para promover o ajuste<br />

postural. A desestabilização é iniciada com leve intensidade<br />

e aumentada progressivamente.<br />

5- Paciente em pé no mini-tramp são realizadas<br />

atividades com MMSS, como, por exemplo, jogar<br />

bola, exigindo o ajuste postural da criança.<br />

6- Paciente em pé na plataforma de equilíbrio,<br />

com os pés paralelos e ligeiramente afastados,<br />

com um espelho à frente. O terapeuta realiza movimentos<br />

no sentido ântero-posterior para promover<br />

o ajuste postural. A desestabilização é iniciada com<br />

leve intensidade e aumentada progressivamente.<br />

7- Paciente em pé na plataforma de equilíbrio,<br />

com os pés paralelos e ligeiramente afastados, com<br />

um espelho à frente. O terapeuta realiza movimentos<br />

no sentido látero-lateral para promover o ajuste<br />

postural. A desestabilização é iniciada com leve intensidade<br />

e aumentada progressivamente.<br />

RESULTADOS<br />

De acordo com a pontuação no teste de equilíbrio<br />

de Berg, verificou-se a melhora de todos os<br />

pacientes, sendo a variação da pontuação de 4 a 7<br />

pontos (Tabela 1).<br />

Na mensuração do GMFM, todos os pacientes<br />

apresentaram melhora, sendo a variação de porcentagem<br />

de 3.5% a 10% (Tabela 2).<br />

Tabela 1. Variação da pontuação inicial e final no Teste de Equilíbrio<br />

de Berg.<br />

Pacientes<br />

Avaliação<br />

Inicial<br />

Avaliação<br />

Final<br />

Variação da pontuação<br />

da escala de Berg entre a<br />

avaliação inicial e final<br />

Paciente 1 46 pontos 53 pontos 7 pontos<br />

Paciente 2 44 pontos 51 pontos 7 pontos<br />

Paciente 3 44 pontos 49 pontos 5 pontos<br />

Paciente 4 49 pontos 53 pontos 4 pontos<br />

Tabela 2. Variação da porcentagem do escore meta da mensuração<br />

da avaliação inicial e final do GMFM.<br />

Pacientes Avaliação Inicial Avaliação Final<br />

Variação da<br />

porcentagem<br />

Paciente 1 86,5% 92% 5,5%<br />

Paciente 2 73,5% 79,5% 6%<br />

Paciente 3 73% 83% 10%<br />

Paciente 4 80,5% 84% 3,5%<br />

DISCUSSÃO<br />

Os resultados obtidos neste estudo são compatíveis<br />

com os dados de trabalhos semelhantes a este<br />

realizados em crianças com PC diparética espástica<br />

18,21 .<br />

Na variação da pontuação do Teste de Equilíbrio<br />

de Berg, observou-se uma variação mínima de 4<br />

pontos e a máxima de 7 pontos. E na pontuação do<br />

GMFM foi observada uma mudança que variou de<br />

3.5% a 10% da avaliação inicial e final. Nestas duas<br />

escalas foram considerados que qualquer variação<br />

na pontuação da avaliação inicial e final é indicativo<br />

de melhora. Sendo assim, sugere-se a melhora do<br />

equilíbrio e atividades funcionais em ortostatismo de<br />

crianças com PC diparética espástica participantes<br />

deste estudo.<br />

Como a proposta do estudo foi mensurar o<br />

ajuste postural em ortostatismo, foi realizada apenas<br />

as avaliações das dimensões D e E do GMFM , encontradas<br />

também em outros estudos 21 .<br />

Neste estudo, observou-se que o treino de<br />

equilíbrio promoveu a melhora do ajuste postural<br />

em ortostatismo, como também a melhora funcional<br />

do equilíbrio. Assim, pode-se sugerir que é possível<br />

observar modificações nas crianças com faixa etária<br />

mais avançada. Portanto, a continuidade da prática<br />

é relevante na recuperação do equilíbrio e da estabilidade.<br />

Com base nos dados já observados, alguns<br />

autores sugerem implicações clínicas importantes na<br />

habilidade em recuperar a estabilidade após perturbações,<br />

sendo modificáveis em crianças com faixa<br />

etária entre 7-12 anos 21,29 .<br />

Estudo realizado por Shumway-Cook et al 21<br />

obteve melhora na pontuação do GMFM, através do<br />

treino intenso na plataforma de força. Os achados<br />

destes estudos concordam com estudos de Russel et<br />

al 28 , Trahan et al 30 que também verificaram uma melhora<br />

na porcentagem da pontuação do GMFM, em<br />

crianças com PC.<br />

111<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:108–113


original<br />

Baseado nos resultados pode-se sugerir que<br />

a especificidade do treinamento deste estudo, através<br />

da vivência do equilíbrio estático e dinâmico em<br />

diversas superfícies, com diferentes estratégias sensoriais,<br />

ambientais, promove assim uma melhora do<br />

ajuste postural.<br />

Na abordagem sistemática, a análise do desenvolvimento<br />

motor considera a contribuição de todos<br />

os elementos dentro do sistema nervoso em harmonia<br />

com a contribuição de outros subsistemas, como<br />

o sistema muscular e esquelético 19,31 . Esta abordagem<br />

também considera a informação do meio ambiente<br />

como sendo crítica na contribuição para o controle<br />

postural da criança.<br />

Portanto, o tratamento baseado na promoção<br />

da resposta muscular, antecipação, adaptação motora<br />

e sensorial, a variabilidade do ambiente como<br />

também o aprendizado motor proporcionam a melhora<br />

do ajuste postural e um melhor equilíbrio durante<br />

atividades funcionais.<br />

Achados bibliográficos observados nos estudos<br />

práticos de Carr et al 13 revelam que a flexibilidade<br />

de condições ambientais e temporais do ambiente<br />

faz com que ocorra, também a flexibilidade<br />

no desempenho motor e postural. Os exercícios que<br />

promovem deslocamentos de massa corporal, maior<br />

velocidade e maior complexidade (diferentes atividades)<br />

aumentarão a confiança, a eficiência e segurança<br />

durante atividades que exijam um controle postural<br />

eficiente 7,<strong>15</strong>,32,33 . Portanto, neste estudo, os fatores<br />

ambientais que correspondem as diferentes superfícies<br />

e estimulação sensorial multimodal podem ter<br />

influenciado na melhora do ajuste postural.<br />

Os dados observados nos estudos de Ayres 17 ,<br />

Valade et al 12 , Horak et al 18 revelam que o treino de<br />

equilíbrio fornece e controla a entrada de estímulos<br />

sensoriais, de tal forma que a criança espontaneamente<br />

forma as respostas adaptativas que integram<br />

todas as sensações. Estes estímulos sensoriais em todas<br />

as articulações, pele e músculos da criança, irão<br />

gerar respostas motoras e sensoriais para o restabelecimento<br />

do equilíbrio. Conforme as crianças gradualmente<br />

dominam estas sensações e respostas, o seu<br />

cérebro aprende a modular a atividade sensorial e<br />

forma uma percepção corporal mais precisa.<br />

Portanto, o tratamento de equilíbrio utilizando<br />

diferentes superfícies e materiais que estimulam<br />

as informações sensoriais irá promover melhora da<br />

resposta do ajuste postural em pé.<br />

A prática é essencial para o aprendizado efetivo<br />

de tarefas complexas e também para a melhora<br />

da função motora 19,22 . Esses dados concordam com<br />

os resultados obtidos neste estudo, pois observou-se<br />

na avaliação do GMFM a melhora da função motora<br />

grossa através do treinamento de equilíbrio realizado<br />

durante três meses.<br />

As crianças com PC diparética espástica necessitam<br />

da oportunidade de praticar o ajuste postural<br />

sob uma variedade de situações relevantes,<br />

fazendo com que ocorra o desenvolvimento da habilidade<br />

11,13 .<br />

Portanto, é importante que na intervenção fisioterapêutica<br />

baseada na melhora do equilíbrio em<br />

ortostatismo de crianças com PC diparética espástica<br />

seja enfatizada a estimulação sensorial multimodal,<br />

pelo treino em diferentes superfícies e estratégias<br />

sensoriais e pela variabilidade da prática.<br />

CONCLUSÃO<br />

A fisioterapia com ênfase no treino de equilíbrio<br />

melhorou o ajuste postural em ortostatismo e<br />

as atividades funcionais de pacientes com paralisia<br />

cerebral diparética espástica deste estudo.<br />

Porém, algumas limitações foram encontradas<br />

no decorrer do estudo. Algumas em decorrência da<br />

falta de métodos fidedignos, devido ao alto custo,<br />

para a mensuração do equilíbrio, como por exemplo<br />

a plataforma de força e a eletromiografia, utilizados<br />

em alguns estudos para avaliar a resposta motora e<br />

sensorial de crianças com PC para o restabelecimento<br />

do equilíbrio.<br />

Finalmente, devido ao número pequeno de 4<br />

pacientes neste estudo, coloca-se a necessidade de<br />

aumentar a amostra de sujeitos para averiguar valores<br />

mais significativos através de uma análise estatística.<br />

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113<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:108–113


original<br />

Perfil do atendimento fisioterapêutico<br />

na Síndrome de Down em algumas<br />

instituições do município do Rio de Janeiro<br />

Physical therapy profile in Down Syndrome at some institutions of the City of Rio de Janeiro<br />

Carla Trevisan M Ribeiro 1 , Márcia G Ribeiro 2 , Alexandra PQC Araújo 3 ,<br />

Maysa N Torres 4 , Marco Antonio O Neves 5<br />

RESUMO<br />

Objetivo. Verificar o conhecimento referente ao tratamento de fisioterapia<br />

motora (FM), como parte da estimulação precoce, para<br />

crianças portadoras de Síndrome de Down (SD) nas principais<br />

instituições do Município do Rio de Janeiro. Método. Estudo observacional<br />

transversal. Foi aplicado questionário estruturado a<br />

fisioterapeutas de 4 das 11 instituições mapeadas, contendo dados<br />

referentes ao atendimento fisioterapêutico. Resultados. Em relação<br />

a FM, 3 instituições utilizaram método de tratamento neuroevolutivo<br />

e uma utilizou Glenn Doman. Duas instituições determinaram<br />

idade mínima de 3 meses para o início do tratamento<br />

e somente uma realizou trabalho de estimulação com voluntários<br />

treinados, sem presença do fisioterapeuta. O atendimento em grupo<br />

foi observazdo em 3 instituições, com média de tempo de FM<br />

de <strong>15</strong> min e 30 min na outra instituição. A instituição com atendimento<br />

individual apresentou maior duração da sessão, 35 min.<br />

Em 3 instituições, a freqüência de atendimento foi 2 vezes por<br />

semana e na outra instituição foi 5 vezes por semana. Os responsáveis<br />

pelos pacientes foram orientados em todas as instituições,<br />

porém somente duas delas permitiram participação nas sessões.<br />

Todas apresentaram como critério de alta a marcha independente..<br />

Três instituições encaminharam a criança para outros locais<br />

após alta. Conclusão. Freqüência, método e idade de atendimento,<br />

além de orientação e encaminhamento pós-alta estão condizentes<br />

à prática de FM para esta população.<br />

Unitermos: Síndrome de Down. Estimulação Precoce.<br />

Fisioterapia.<br />

Citação: Ribeiro CTM, Ribeiro MG, Araújo APQC, Torres MN. Perfil<br />

do atendimento fisioterapêutico na Síndrome de Down em algumas<br />

instituições do município do Rio de Janeiro.<br />

SUMMARY<br />

Objective. The aim of this study is to verify the treatment<br />

with Motor Physical Therapy (MPT), as part of early stimulation<br />

for children with Down Syndrome (SD) in the main institutions<br />

of the Rio de Janeiro City. Method. It is an observational<br />

and cross-sectional study with application of structural<br />

questionnaire to physical therapists. Results. Four institutions<br />

from eleven were visited. Three institutions used a Neuroevolutive<br />

Treatment Method and one used Glenn Doman fot<br />

MPT. Two institutions determined 3 months as minimum age<br />

for the beginning of treatment, and only one did stimulation<br />

work with trained volunteers without a Physical Therapist<br />

present. Group appointment was presented in three institutions<br />

and had an average time of <strong>15</strong> minutes and in the other<br />

one, 30 minutes for MPT. The Institution with individual appointments<br />

had longer sessions, 35 minutes. In three institutions<br />

the frequency of appointments was twice a week, and<br />

in the other one was five times a week. The responsible for<br />

the children were well oriented in all institutions, although<br />

only two institutions allowed them to participate during the<br />

appointments. All Institutions had independent gait as dismissal<br />

criterion. Three institutions referred children to other<br />

facilities. Conclusion: Frequency, methods, and age as well as<br />

orientation and referral after dismissal were in agreement to<br />

MPT for this population.<br />

Keywords: Down Syndrome. Early Intervention. Physical<br />

Therapy.<br />

Citation: Ribeiro CTM, Ribeiro MG, Araújo APQC, Torres MN. Physical<br />

therapy profile in Down Syndrome at some institutions of the City<br />

of Rio de Janeiro.<br />

Trabalho realizado na Universidade Federal do Rio de<br />

Janeiro, Departamento de Pediatria, Instituto de Pediatria<br />

Martagão Gesteira<br />

1. Fisioterapeuta, Mestre em ciência – Área de saúde da Criança e<br />

Adolescente, UFRJ.<br />

2. Geneticista, Doutora em Genética, Professora Adjunta da Faculdade<br />

de Medicina da UFRJ, Chefe do Serviço de Genética Clínica.<br />

3. Neurologista, Doutora em Medicina (Neurologia), Professora Adjunta<br />

da Faculdade de Medicina da UFRJ.<br />

4. Aluna do Programa Iniciação Científica do Curso de Fisioterapia da<br />

Faculdade de Medicina da UFRJ.<br />

5. Doutorando em neurociência – UFF (Serviço de Neurologia).<br />

Endereço para correspondência:<br />

Carla Trevisan M Ribeiro<br />

R Valparaíso, 80/501<br />

Rio de Janeiro-RJ, CEP: 20261-130<br />

E-mail: carlatrevisan@ig.com.br<br />

Recebido em: 18/10/06<br />

Revisão: 19/10/06 a 13/04/07<br />

Aceito em: 14/04/07<br />

Conflito de interesses: não<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:114–119 114


original<br />

INTRODUÇÃO<br />

A síndrome de Down é uma anomalia cromossômica<br />

mais freqüente, devido principalmente a trissomia<br />

do cromossomo 21 e tem como características<br />

essenciais retardo mental, dismorfias (braquicefalia,<br />

inclinação palpebral superior, epicanto, achatamento<br />

de base nasal, protrusão da língua, prega única<br />

plamar, dentre outras), e hipotonia muscular, de intensidade<br />

variável, que pode afetar de diversas maneiras<br />

o desenvolvimento neuropsicomotor de seus<br />

portadores 1,2 . Indivíduos portadores desta síndrome<br />

podem, ainda, apresentar alterações neuromusculares<br />

(diminuição de força e das reações posturais), e<br />

osteo-articulares (frouxidão ligamentar, hipermobilidade<br />

articular e deformidades), além de alterações<br />

no sistema nervoso (pequeno peso encefálico, pobre<br />

mielinização do sistema nervoso, e numero reduzidos<br />

de neurônios e conexões nervosas) acarretando<br />

em atraso do desenvolvimento motor da criança 3-5 .<br />

Diversas pesquisas vêm demonstrando a necessidade<br />

da inserção do portador da síndrome de<br />

Down em programa de estimulação precoce, composto<br />

inicialmente, de fisioterapia, terapia ocupacional<br />

e fonoaudiologia 4,6-10 . De acordo com a SOPERJ<br />

(Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro),<br />

toda criança com síndrome de Down deve ser<br />

encaminhada, no primeiro ano de vida, à estimulação<br />

precoce, realizada por equipe multiprofissional,<br />

apresentando ou não atraso psicomotor até a data do<br />

encaminhamento 11 . Mas o que este termo significa<br />

essencialmente? Como esta atividade surgiu? Que<br />

proporções ela vem alcançando para os portadores<br />

da síndrome de Down? E como é realizado o atendimento<br />

de fisioterapia motora dentro da estimulação<br />

precoce?<br />

A terminologia “estimulação precoce” é definida<br />

como uma técnica terapêutica que pretende<br />

abordar, de forma elaborada, diversos estímulos que<br />

podem intervir na maturação da criança, com a finalidade<br />

de estimular e facilitar posturas que favoreçam<br />

o desenvolvimento motor e cognitivo de crianças<br />

com alguma deficiência 9,12 . Esta terminologia é<br />

discutida na literatura, pois alguns autores acham<br />

que o termo mais correto para a tradução de “early<br />

estimulation” seria o termo “intervenção precoce” 13 ,<br />

outros defendem que intervenção precoce e estimulação<br />

precoce são denominações diferentes 14 . No<br />

entanto, com base na bibliografia consultada 3,9,12 , a<br />

grande parte dos autores não faz distinção entre esses<br />

termos e por este motivo esta pesquisa utilizou o<br />

termo estimulação precoce.<br />

Este tipo de intervenção foi aceito como um<br />

caminho apropriado para potencializar o desenvolvimento<br />

sensório-motor de crianças portadoras da<br />

síndrome de Down na década de 70, com a criação,<br />

em 1972, de um programa interdisciplinar específico<br />

para um determinado grupo de crianças portadoras<br />

da síndrome de Down no Child Developmet Center<br />

(CDC) na Universidade do Tenessee, nos Estados<br />

Unidos. Este programa era baseado no conceito de<br />

que o desenvolvimento motor poderia ser estimulado<br />

através de uma estimulação motora e sensorial<br />

precoce, e que a participação dos pais neste processo<br />

era fundamenta l8 .<br />

O Brasil acompanhou os programas de reabilitação<br />

infantil, iniciados nos anos 50 e 60 <strong>15</strong> , sendo<br />

fundada em 1954 a Associação de Pais Amigos dos<br />

Excepcionais (APAE), mas somente em 1975 foi criado<br />

o setor de estimulação precoce, para atendimento<br />

inicial de crianças portadoras de retardo mental16.<br />

Atualmente, esta instituição é referência de reabilitação<br />

para os portadores de síndrome de Down no<br />

Município do Rio de Janeiro.<br />

Com a criação de programas de estimulação<br />

precoce específicos para portadores da síndrome de<br />

Down, vários trabalhos foram publicados na literatura<br />

científica internacional, e posteriormente alguns<br />

em nível nacional, a fim de relatar a efetividade<br />

deste tipo de intervenção sobre o desenvolvimento<br />

das habilidades motoras 6,7,9,17-19 .<br />

Sabe-se que o potencial de desenvolvimento<br />

motor das crianças portadoras da síndrome de Down<br />

pode ser aumentado com um trabalho de estimulação<br />

precoce específico 6 . Mais que isso, uma série<br />

de estudos relata que os portadores de síndrome de<br />

Down parecem ter um potencial de desenvolvimento<br />

neuropsicomotor muito maior do que se podia supor<br />

até alguns anos atrás 5,7-9 .<br />

É imprescindível, portanto, que os pediatras<br />

acompanhem a evolução destes indivíduos e detectem<br />

alterações no seu desenvolvimento neuropsicomotor,<br />

encaminhando-as o mais cedo possível para<br />

estimulação precoce 20 .<br />

A estimulação precoce não é puramente uma<br />

técnica fisioterapêutica. No entanto, a fisioterapia<br />

parece ser primordial nas patologias em que o acometimento<br />

é preferencialmente motor 12 e também<br />

no acompanhamento de crianças com deficiência<br />

menta l4 , como no caso da síndrome de Down.<br />

Os objetivos da fisioterapia motora para crianças<br />

portadoras da síndrome de Down são: diminuir<br />

os atrasos da motricidade grossa e fina, facilitando e<br />

1<strong>15</strong><br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:114–119


estimulando as reações posturais necessárias para o<br />

desempenho das etapas de desenvolvimento normal;<br />

e a prevenção das instabilidades articulares e de deformidades<br />

ósseas 3 .<br />

A importância da fisioterapia na estimulação<br />

precoce e a eficiência da utilização de técnicas do<br />

método neuroevolutivo são importantes para promover<br />

aptidão motora em crianças portadoras da<br />

síndrome de Down 4,5 . A participação dos pais durante<br />

o tratamento fisioterapêutico e acompanhamento<br />

individualizado da criança também são apontados<br />

como fatores primordiais para o sucesso da terapêutica<br />

8,21-23 .<br />

As atividades motoras são de extrema importância<br />

para o desenvolvimento global da criança<br />

portadora da síndrome de Down, pois é descobrindo<br />

o mundo através de seu corpo que elas desenvolvem<br />

seus potenciais motores e cognitivos 18 .<br />

No entanto, pouco conhecimento se tem sobre<br />

como são realizados a estimulação precoce e o tratamento<br />

fisioterapêutico, no Brasil, em função do baixo<br />

número de estudos no assunto. Com a criação do<br />

Programa de Atenção à Saúde da Pessoa Portadora<br />

de Deficiência do Ministério da Saúde (1993), houve<br />

um apoio governamental para o desenvolvimento<br />

de pesquisas e estudos que buscam o diagnóstico da<br />

situação dos serviços e o levantamento das necessidades<br />

da clientela 24 . O conhecimento do panorama<br />

do tratamento de fisioterapia motora para portadores<br />

de síndrome de Down no Município do Rio de<br />

Janeiro pode fornecer um “feedback” para as esferas<br />

governamentais e os terapeutas a fim de melhorar a<br />

assistência a esta população.<br />

O objetivo deste estudo foi aumentar o conhecimento<br />

sobre a situação de parte do atendimento<br />

fisioterapêutico oferecido à população de portadores<br />

da síndrome de Down, como elemento da estimulação<br />

precoce, no Município do Rio de Janeiro e verificar<br />

o tipo de tratamento fisioterapêutico oferecido<br />

a essas crianças.<br />

MÉTODO<br />

Estudo observacional transversal, realizado<br />

nas principais instituições do Município do Rio de<br />

Janeiro que oferecem atendimento de fisioterapia<br />

motora, como parte da estimulação precoce, para<br />

portadores de síndrome de Down.<br />

O instrumento de coleta de dados foi um<br />

questionário estruturado semi-aberto constituído de<br />

variáveis relacionadas à prática da fisioterapia motora,<br />

aplicado a um fisioterapeuta ou outro profissional<br />

original<br />

competente (coordenador do serviço) que pertencesse<br />

à instituição. As variáveis do estudo, pertinentes<br />

ao instrumento de coleta de dados, podem ser vistas<br />

na Tabela 1, e foram analisadas através do programa<br />

Epi-info 2000, de maneira descritiva com medidas<br />

de tendência central.<br />

Foram mapeadas 11 instituições que oferecessem<br />

atendimento de fisioterapia motora, como parte<br />

da estimulação precoce, para crianças portadoras de<br />

síndrome de Down, no Município do Rio e Janeiro.<br />

Foram sorteadas aleatoriamente oito instituições.<br />

Apenas quatro instituições foram visitadas e aplicado<br />

o questionário de coletas de dados pela pesquisadora,<br />

pois duas se recusaram a participar do estudo,<br />

uma fechou durante a coleta de dados e na restante<br />

houve incompatibilidade de horário e dificuldade de<br />

visita devido à distância. Dentre as quatro visitadas,<br />

duas localizam-se na zona norte e duas na zona sul,<br />

e todas concordaram em participar do projeto por<br />

meio de um termo de consentimento livre e esclarecido.<br />

Esta pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética<br />

e pesquisa do Instituto de Puericultura Martagão<br />

Gesteira /UFRJ em outubro de 2005.<br />

Tabela 1. Descrição das variáveis.<br />

Variável<br />

Idade mínima para o início<br />

da fisioterapia motora<br />

Número de profissionais<br />

Tipo de atendimento<br />

Freqüência da sessão<br />

Duração da sessão<br />

Participação dos responsáveis<br />

Orientação fornecida<br />

Metodologia de trabalho<br />

Idade máxima<br />

Critério de alta<br />

Encaminhamento<br />

Terapias oferecidas<br />

Carência<br />

Definição<br />

Idade na qual o portador da SD deve<br />

ter para iniciar a FM na instituição<br />

Número de fisioterapeutas na<br />

instituição<br />

Tipo de atendimento oferecido ao<br />

portador nas instituições: Individual<br />

ou grupo<br />

Quantas vezes na semana a criança<br />

faz Fisioterapia Motora<br />

Tempo de permanência do portador<br />

na fisioterapia motora<br />

Participação de um responsável<br />

durante a realização da sessão<br />

Sugestões que o fisioterapeuta fornece<br />

aos pais quanto ao manuseio da<br />

criança em casa<br />

Metodologia de terapia utilizada<br />

Idade máxima de permanência da<br />

criança na instituição<br />

Condições para a criança ganhar alta<br />

do tratamento<br />

Recebe encaminhamento para<br />

outro local após o afastamento da<br />

instituição<br />

Tipos de terapias oferecidas pela<br />

instituição<br />

Necessidades observadas nas instituições<br />

e relatadas pelos profissionais<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:114–119 116


original<br />

RESULTADOS<br />

Dentre as instituições visitadas, duas apresentavam<br />

uma alta prevalência de atendimento, sendo<br />

uma delas referência para o atendimento de crianças<br />

portadoras da SD no município do Rio de Janeiro,<br />

onde mais de 90% dos atendimentos eram de portadores<br />

desta síndrome. As outras duas instituições tinham<br />

uma prevalência de atendimento para síndrome<br />

de Down em <strong>15</strong>%, no momento da entrevista.<br />

Quanto ao método fisioterapêutico utilizado,<br />

três instituições utilizaram métodos neuroevolutivos<br />

(sem especificação do tipo), e uma instituição utilizou<br />

método Glenn Doman.<br />

O número de fisioterapeutas que fazia parte<br />

da equipe de estimulação precoce variou de um a<br />

quatro nas instituições analisadas (Figura 1). Em todas<br />

as instituições o fisioterapeuta era o responsável<br />

pelo atendimento, exceto na instituição que trabalha<br />

com o método Glenn Doman, em que o único<br />

fisioterapeuta participa apenas da triagem, sendo o<br />

tratamento realizado por voluntários especializados<br />

no método específico utilizado.<br />

Número de<br />

fisioterapeutas<br />

A B C D<br />

Figura 1. Distribuição do número de fisioterapeutas nas instituições.<br />

Apenas duas instituições determinavam idade<br />

mínima de 3 meses para início do tratamento.<br />

Em relação ao atendimento, três instituições realizavam<br />

trabalho em grupo, e uma individual. Das<br />

três instituições que agrupam as crianças, os critérios<br />

para a formação dos grupos foram patologia,<br />

idade, e função cognitiva das crianças. A freqüência<br />

de atendimento variou entre 2 a 5 vezes por semana<br />

e o tempo de duração das sessões entre <strong>15</strong> e 35<br />

minutos (Tabela 2).<br />

Duas instituições permitiram a participação<br />

dos responsáveis pelas crianças nas sessões, e em todas<br />

os profissionais forneciam orientações domiciliares.<br />

Todas as instituições apresentavam critério para<br />

alta a marcha independentecomo o fator mais relevante.<br />

Após a alta, apenas uma instituição não encaminhou<br />

a criança para outro local, e as outras três<br />

encaminharam para escola e/ou atividade física.<br />

Além da fisioterapia, todas as instituições<br />

ofereciam outras formas de tratamento, incluindo<br />

psicomotricidade, hidroterapia, psicologia, terapia<br />

ocupacional e fonoaudiologia. Os fisioterapeutas entrevistados<br />

também declararam carências e necessidades<br />

em seus serviços, como espaço físico, escassez<br />

de materiais e de profissionais, verbas para a instituição<br />

e pequeno envolvimento de todos os membros<br />

das famílias no tratamento.<br />

Tabela 2. Distribuição das instituições em relação ao tipo de atendimento,<br />

critérios de agrupamento, duração e freqüência das sessões.<br />

Instituição<br />

Tipo de<br />

atendimento<br />

Critério de<br />

agrupamento<br />

Duração<br />

Freqüência<br />

A Grupo Idade <strong>15</strong> min.# 5x/semana<br />

B<br />

C<br />

Grupo<br />

Grupo<br />

Patologia e<br />

idade<br />

Estrutura<br />

mental<br />

<strong>15</strong> min. 2x/semana<br />

30 min. 2x/semana<br />

D Individual — 35 min. 2x/semana<br />

# Esta instituição oferece um programa de estimulação global, sendo considerado como tempo<br />

de fisioterapia somente o tempo de manipulação específica da técnica utilizada (Glenn Doman).<br />

DISCUSSÃO<br />

As instituições entrevistadas incluíam a fisioterapia<br />

motora na estimulação precoce da criança com<br />

síndrome de Down como forma de potencializar o<br />

desenvolvimento sensório-motor. O papel do fisioterapeuta<br />

como membro da equipe da estimulação<br />

precoce é particularmente importante no trabalho<br />

com crianças portadoras de deficiência mental, como<br />

no caso da síndrome de Down a fim de direcionar a<br />

facilitação das atividades motoras apropriada para<br />

cada criança, conforme a idade cronológica 4 .<br />

Não foram encontradas referências bibliográficas<br />

em que se estudasse o número ideal de fisioterapeutas<br />

em uma instituição. O Conselho Nacional<br />

de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO)<br />

também não estipula um número máximo diário<br />

de pacientes atendidos, em ambulatório, por fisioterapeuta<br />

25 , o que torna difícil a análise da proporção<br />

fisioterapeuta/paciente, para predizermos se o<br />

número de profissionais é suficiente à demanda de<br />

crianças atendidas.<br />

Quanto a freqüência e a duração das sessões<br />

de fisioterapia não há um consenso entre os autores.<br />

Na literatura consultada observou-se que a freqüência<br />

de terapia varia de uma a três vezes por semana<br />

e que a duração das sessões têm um tempo médio<br />

de 60 minutos 4,5,10 . Portanto, as instituições pesquisadas<br />

que oferecem uma terapia de <strong>15</strong> minutos encontram-se<br />

muito abaixo do tempo descrito na literatu-<br />

117<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:114–119


original<br />

ra. Contudo, a freqüência semanal de atendimento<br />

está aparentemente dentro do esperado.<br />

O método fisioterapêutico de maior utilização<br />

foi o neuroevolutivo, o que está de acordo com<br />

a literatura 4,5 , para promover aptidão motora em<br />

crianças portadoras da síndrome de Down. Não só<br />

a estimulação neuroevolutiva como também a integração<br />

sensorial e a estimulação vestibular podem<br />

ser utilizadas nos programas de estimulação precoce,<br />

de forma separada ou conjunta, de acordo com a<br />

necessidade individual de cada criança, de forma a<br />

potencializar o desenvolvimento motor 5 .<br />

Outro método observado, Glenn Doman,<br />

nunca foi apoiado pela comunidade médica ou fisioterapêutica,<br />

principalmente nos tempos atuais, pois<br />

se baseia na teoria do neurologista Temple Fay, que<br />

utiliza o critério filogenético empregando os padrões<br />

residuais e os reflexos patológicos para orientar o tratamento.<br />

Este conhecimento se mostra ultrapassado,<br />

nos tempos atuais, de acordo com as diversas pesquisas<br />

referentes ao controle motor e aprendizagem<br />

motora 26,27 .<br />

O modo de terapia (individual ou em grupo),<br />

mais observado no estudo foi a terapia em grupo.<br />

Há também pouca discussão sobre este tema na literatura,<br />

porém alguns autores defendem a terapia<br />

individual 21,22 . O tratamento individual e com maior<br />

freqüência semanal possível seriam alguns dos princípios<br />

de um bom programa de estimulação precoce 21 .<br />

Os programas de estimulação devam ser individualizados<br />

a fim de suprir as necessidades individuais da<br />

criança 23 .<br />

Quanto ao tratamento “fisioterapêutico”, intitulado<br />

pela instituição de estimulação, realizado por<br />

voluntários treinados, este não está de acordo com o<br />

código de ética profissional do fisioterapeuta, que diz<br />

que uma atividade de reabilitação deva ser realizada<br />

por profissionais graduados 25 .<br />

A idade mínima para iniciar o tratamento em<br />

duas instituições foi de 3 meses, sendo que as outras<br />

não estipulam idade mínima para o início da fisioterapia.<br />

Este início precoce de reabilitação está de<br />

acordo com a literatura 6,8,19,21,22 . A entrada de pacientes<br />

antes dos seis meses de vida leva a um melhor<br />

potencial do desenvolvimento motor 8 . A entrada<br />

precoce dos pacientes em programas de estimulação<br />

precoce deve ser um dos princípios básicos da estimulação<br />

precoce 21 .<br />

A influência positiva de um programa de estimulação<br />

para crianças portadoras de síndrome de<br />

Down apareceu inicialmente nos trabalhos de Connolly<br />

e Russe l8 , em 1976, que estudaram 40 crianças<br />

e ressaltaram que este tipo de terapia ajudou a aquisição<br />

precoce de etapas do desenvolvimento motor.<br />

Estes dois primeiros autores, juntamente com<br />

Richardson e Morgan 7 , em 1980, continuaram seus<br />

estudos com 20 crianças portadoras de síndrome de<br />

Down que participaram de um programa de estimulação<br />

precoce e compararam-nas com outro grupo<br />

de 53 crianças, portadoras da mesma síndrome, que<br />

não participaram deste tipo de intervenção. Observaram<br />

com isso que os resultados eram coerentes<br />

com a hipótese de que a estimulação durante a infância<br />

tem efeitos benéficos no desenvolvimento das<br />

habilidades intelectuais e adaptativas. Além disso,<br />

segundo os autores, a estimulação precoce pode facilitar<br />

aquisições prematuras das habilidades motoras.<br />

Uma pesquisa mais recente de Jaruratanasirikul et<br />

al. 19 , confirmou a premissa dos autores anteriores<br />

ao estudar o tratamento fisioterapêutico e de terapia<br />

ocupacional precoce em 256 crianças de síndrome<br />

de Down e concluir que a estimulação iniciada no<br />

primeiro ano de vida pode acelerar o desenvolvimento<br />

destas crianças.<br />

Duas instituições permitiam a presença dos<br />

responsáveis nas sessões, e as quatro tinham a preocupação<br />

em orientar os responsáveis, o que é essencial,<br />

uma vez que a criança passa a maior parte<br />

do seu tempo fora da clínica e necessita de cuidados<br />

especiais na vida diária. Isso condiz com o descrito<br />

na literatura 6,8,21-23 , em que o sucesso de qualquer<br />

terapia depende da colaboração dos pais, já que a<br />

estimulação não se limita às sessões de terapia.<br />

No presente estudo foi demonstrado que<br />

100% das instituições trabalhavam com outras terapias<br />

além da fisioterapia motora, o que é de extrema<br />

importância para o desenvolvimento motor<br />

e cognitivo das crianças portadoras de síndrome<br />

de Down 5,8,9 . Estes autores ratificam a importância<br />

dos processos interdisciplinares, os quais ajudariam<br />

a aquisição precoce das etapas do desenvolvimento<br />

motor, uma vez que uma terapia vem a complementar<br />

a outra. O portador da síndrome de Down tem<br />

deficiência não só no sistema motor, como também<br />

nos sistemas congnitivo, sensorial e vestibular o que<br />

torna essencial um tratamento multidisciplinar 1,3 .<br />

A relevância do fato de que 75% das instituições<br />

encaminhavam suas crianças para escolas normais<br />

e/ou especializadas, atividades físicas e acompanhamento<br />

médico está em conformidade com a<br />

literatura 6,28 que apresenta a funcionalidade de um<br />

grupo de crianças que, após terem participado de<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:114–119 118


original<br />

um programa de intervenção precoce, continuaram<br />

no meio educacional. Como resultado observaram<br />

a importância do encaminhamento para educação<br />

continuada das crianças após a alta da estimulação<br />

precoce, já que estas obtiveram fundação sólida para<br />

o desenvolvimento e aprendizado subseqüente com<br />

a estimulação precoce e apresentaram melhoras nas<br />

habilidades deficientes avaliadas.<br />

As carências e/ou necessidades relatadas pelos<br />

profissionais revelaram a necessidade de maior<br />

investimento neste setor e o interesse em oferecer um<br />

bom atendimento para as crianças em questão.<br />

CONCLUSÃO<br />

A fisioterapia motora tem grande representatividade<br />

dentro da estimulação precoce para criança<br />

portadora de síndrome de Down 4 , que além do retardo<br />

mental apresentam um importante atraso no<br />

desenvolvimento motor 1 . Esta estimulação é o primeiro<br />

passo no longo percurso de programas educacionais<br />

para este tipo de criança 28 , uma vez que as<br />

crianças portadoras de síndrome de Down apresentam<br />

potencial para se tornarem adultos independentes<br />

em suas atividades de vida diária e se integrarem<br />

à sociedade.<br />

Esse estudo buscou verificar a visão acerca do<br />

atendimento da fisioterapia motora, como parte da<br />

estimulação precoce, para as crianças portadoras de<br />

síndrome de Down. Não foi possível traçar um completo<br />

perfil do atendimento fisioterapêutico, uma vez<br />

que este trabalho ficou restrito a poucas instituições.<br />

Contudo, foram observados que o serviço prestado<br />

por algumas instituições mostraram-se dentro do<br />

esperado, de acordo com a literatura, com relação<br />

a freqüência, método de trabalho, idade de atendimento,<br />

orientações fornecidas e encaminhamento<br />

pós alta. Porém foram constatadas algumas carências<br />

neste tipo de atendimento, como, por exemplo,<br />

o tempo de estimulação e as outras necessidades<br />

apontadas pelos próprios profissionais.<br />

Este trabalho se mostrou bastante relevante<br />

na prática assistencial uma vez que apontou o panorama<br />

de uma parte do atendimento fisioterapêutico<br />

prestado a portadores de síndrome de Down e revelou<br />

suas necessidades. Espera-se que outras pesquisas<br />

sejam realizadas nesta na área a fim de melhorarmos<br />

o atendimento prestado aos portadores da síndrome<br />

de Down.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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G. Doenças Genéticas em Pediatria. 2 ed. Rio de Janeiro:<br />

Guanabara Koogan, 2001, p111–119.<br />

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Syndrome. Am Fam Physic 1999;<strong>15</strong>:381-396.<br />

3. Bertoti DB. Retardo Mental: Foco na síndrome de Down. In: Tecklin<br />

JS. Fisioterapia pediátrica. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. p236-256.<br />

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119<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:114–119


original<br />

Avaliação funcional da marcha do rato<br />

após estimulação elétrica do músculo<br />

gastrocnêmio desnervado<br />

Functional evaluation from rat’s ambulation after electrical stimulation of the<br />

gastrocnemius muscle denervated<br />

Tiago Souza dos Santos 1 , Édison Sanfelice André 2<br />

RESUMO<br />

Objetivos. Avaliar algumas das características funcionais da<br />

marcha do rato após a estimulação elétrica (EE) do músculo<br />

gastrocnêmio desnervado. Métodos: 30 animais foram divididos<br />

aleatoriamente em três grupos de dez – cinco experimentais<br />

(GE) e cinco controle (GC) e submetidos ao mesmo protocolo de<br />

estimulação (GC, aparelho desligado). Os três grupos diferiram<br />

entre si somente quanto ao momento de tratamento após a lesão<br />

nervosa: o grupo 1 (G1), do 1° ao 7° dia; G2, do 8° ao 14° e o<br />

G3, do <strong>15</strong>° ao 21°. Resultados. A EE prejudicou a regeneração<br />

do nervo ciático dos animais tratados durante a segunda e a terceira<br />

semana após a lesão nervosa; enquanto, nos animais tratados<br />

na primeira semana, a evolução funcional foi semelhante à<br />

apresentada pelos animais falso tratados. Conclusão. Os efeitos<br />

funcionais da EE do músculo desnervado do rato dependem do<br />

momento de tratamento pós-lesão. A EE quando aplicada tardiamente,<br />

após sete dias, mostrou-se prejudicial à regeneração<br />

do nervo ciático, enquanto, quando aplicada agudamente, 24<br />

após a lesão nervosa, não provocou efeitos negativos, todavia,<br />

a evolução positiva dos dados dos animais tratados não foi diferente<br />

da demonstrada pelos animais falso tratados, talvez, por<br />

necessitar de um período maior de tratamento.<br />

Unitermos: Avaliação, Regeneração Nervosa, Nervo Ciático.<br />

Citação: Santos TS, André ES. Avaliação funcional da marcha do rato<br />

após estimulação elétrica do músculo gastrocnêmio desnervado.<br />

SUMMARY<br />

Objective. To evaluate some functional characteristics from rat’s<br />

ambulation after electrical stimulation (ES) of the denervated<br />

gastrocnemius. Method. Animals (n-30) were randomically divided<br />

in three groups of ten – five experimental and five controls.<br />

They were submitted to the same protocol, although on the<br />

control group the equipment was turned off. The groups were<br />

different only at the timing that the protocol has started, group<br />

1 (G1), from 1st to 7th day; G2, from 8th to 14th, and G3, from<br />

<strong>15</strong>th to 21st. Results. ES harmed the regeneration of the sciatic<br />

nerve of the animals treated during the 2nd and 3rd week after<br />

the nervous injury; whereas the animals treated in the 1st week,<br />

the functional evolution was similar to the presented one by the<br />

animals false treated. Conclusion. The functional effect of the<br />

ES of the denervated muscle of rats depends on the treatment<br />

moment after-injury. The ES when delayed applied, after seven<br />

days, revealed itself harmful to the regeneration of the sciatic<br />

nerve. While when applied acutely 24 hours after the nervous<br />

injury did not provoke negative effect, however, the positive evolution<br />

of the data of the treated animals was not different of<br />

the demonstrated one by the animals false treated, perhaps, for<br />

needing a bigger period of treatment.<br />

Keywords: Evaluation, Nerve Regeneration, Sciatic Nerve.<br />

Citation: Santos TS, André ES. Functional evaluation from rat’s ambulation<br />

after electrical stimulation of the gastrocnemius muscle denervated.<br />

Trabalho realizado no Laboratório de Fisioterapia Neurológica<br />

Experimental da Universidade Regional de Blumenau<br />

– FURB.<br />

1.Fisioterapeuta, mestrando em Neurociências pela Universidade<br />

Federal de Santa Catarina.<br />

2.Fisioterapeuta, Doutor em Neurociências pela UNIFESP, Professor<br />

do Curso de Fisioterapia, FURB.<br />

Endereço para correspondência:<br />

Tiago Souza dos Santos<br />

Rua Dep Antônio Edu Vieira, 1822<br />

Florianópolis-SC, CEP 88040-000<br />

E-mail: santos.ts@hotmail.com<br />

Recebido em: 22/11/06<br />

Revisão: 23/11/06 a 28/05/07<br />

Aceito em: 29/05/07<br />

Conflito de interesses: não<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:120–124 120


original<br />

INTRODUÇÃO<br />

A necessidade constante de aprimoramento<br />

humano e tecnológico inerente ao tratamento das lesões<br />

do nervo periférico, fomenta a busca de milhares<br />

de pesquisadores a respostas esclarecedoras e a<br />

novas perspectivas quanto à recuperação satisfatória<br />

do paciente.<br />

A resposta neuronal e regeneração axonal<br />

implicam em interações complexas entre diversos tipos<br />

celulares e mudanças na expressão de diferentes<br />

tipos de moléculas. Muitos modelos experimentais<br />

têm sido usados para conjugar conhecimentos sobre<br />

regeneração nervosa e o desenvolvimento de estratégias<br />

que promovam a recuperação 1,2 .<br />

Particularmente, às pesquisas referentes ao<br />

uso da estimulação elétrica (EE), um considerável<br />

número de estudos concerne à estimulação por corrente<br />

elétrica direta ao nervo lesado, seja através de<br />

eletrodos percutâneos 3 , ou então com dispositivos<br />

geradores de corrente elétrica implantáveis 4,5 , tendo<br />

como objetivo principal, encontrar na própria fibra<br />

nervosa respostas à sua recuperação.<br />

Pelo fato de muitas pesquisas apontarem que<br />

as mudanças degenerativas do músculo desnervado<br />

resultam das cessações dos padrões normais de uso<br />

da célula muscular, e na dependência da célula nervosa<br />

lesada ao novo padrão de atividade pós-lesão, a<br />

EE do músculo desnervado para aumentar a atividade<br />

muscular, tem sido examinada nos estudos clínicos<br />

e laboratoriais para determinar se tal ativação<br />

pode prevenir ou retardar os efeitos degradativos da<br />

desnervação.<br />

MÉTODO<br />

A amostra foi composta por 30 ratos Wistar<br />

adultos machos (pesando entre 300 e 400g), fornecidos<br />

pelo biotério central da Universidade Regional de<br />

Blumenau (FURB) e alojados em gaiolas individuais<br />

colocadas em ambiente com temperatura controlada<br />

(~ 22º C), ciclo claro-escuro de 12h (07h00-19h00<br />

– claro sob luz artificial) e receberam água e alimentação<br />

(ração para roedores Purina ® ) livremente.<br />

Os animais foram submetidos ao treino na<br />

pista de caminhada, nos dez dias antecedentes ao<br />

procedimento cirúrgico, de modo acostumar os animais<br />

à pista e facilitar a aquisição dos dados.<br />

O procedimento cirúrgico foi conduzido no<br />

intuito de produzir uma lesão nervosa por esmagamento<br />

do nervo ciático através do uso de uma pinça<br />

hemostática por 30 segundos6, e respeitou os preceitos<br />

éticos postulados pelo COBEA 7 e o protocolo<br />

utilizado foi aprovado junto ao Comitê de Ética em<br />

Experimentação Animal da FURB (CEEA/FURB)<br />

sob o n° 004/06.<br />

Os animais foram divididos aleatoriamente<br />

em três grupos de dez animais (G1, G2, G3), cada<br />

um com cinco ratos no grupo experimental (GE) e<br />

cinco no grupo controle (GC). Os três grupos diferenciaram-se<br />

somente quanto à semana específica<br />

em que foram submetidos à EE: o G1 do 1° ao 7°<br />

dia, o G2 do 8° ao 14° e o G3 do <strong>15</strong>° ao 21° após a<br />

desnervação. Os grupos foram tratados diariamente<br />

entre as 14h00min e as 17h00min; tratou-se de seguir<br />

uma seqüência de estimulação entre os animais<br />

(animal 1, 2, 3, 4 e 5) de modo a padronizar o horário<br />

diário em que cada animal foi estimulado.<br />

Os animais foram sedados com o emprego de<br />

0,05ml/100g de Diazepan ® , e depois de detectado o<br />

nível de sedação desejada foram contidos através de<br />

dispositivo contensor 8 ; a pata experimental foi amarrada<br />

com um atilho a uma das extremidades da base,<br />

de modo a evitar que o animal a retirasse em reação<br />

ao estímulo elétrico.<br />

A EE foi realizada com o aparelho Neurograph<br />

(nome comercial), da marca KLD Biossistemas,<br />

liberando uma corrente direta monofásica quadrática,<br />

com 1s de duração de pulso e 2s de repouso<br />

ao decorrer de <strong>15</strong> minutos diariamente durante sete<br />

dias. A amplitude da corrente oscilou entre 2 e 3<br />

miliâmperes variando conforme a resposta de cada<br />

animal, mas de modo a produzir uma contração<br />

muscular semelhante em todos. Os animais do GC<br />

foram submetidos a todos os procedimentos empregados<br />

no GE, entretanto o aparelho encontrava-se<br />

desligado.<br />

Coleta e Análise dos dados<br />

Os animais foram avaliados por meio de uma<br />

pista de caminhada (42 x 8,5 x 9,0 cm), com uma<br />

câmara escura ao final, onde foram estimulados a<br />

caminhar e filmados.<br />

A digitalização da deambulação dos animais<br />

foi obtida através do posicionamento de uma filmadora<br />

da marca Minolta ® acoplada a um microcomputador<br />

a um metro de distância da pista. As filmagens<br />

continham imagens da deambulação dos ratos<br />

na pista, em perfil e através de um espelho colocado<br />

embaixo da pista num ângulo em 45º de inclinação<br />

para a obtenção das imagens da face plantar<br />

da pata do animal. As aquisições dessas imagens<br />

foram realizadas 24h, 7, 14 e 21 dias após a lesão<br />

nervosa.<br />

121<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:120–124


Posteriormente através do programa “Pinacle<br />

Studio” (versão 9.0), as filmagens foram armazenadas<br />

e escrutinadas, de onde foram isolados diversos<br />

quadros contento o momento necessário para a análise<br />

dos dados. Estes dados continham a imagem<br />

da face plantar da pata do animal no momento do<br />

apoio intermediário, tanto da pata esquerda quanto<br />

da pata direita traseiras em seu percurso na pista.<br />

Os quadros de interesse foram exportados para<br />

o programa “Image j” (versão 1.30, National Institute<br />

of Health, 2003) de onde foram feitas as mensurações<br />

das variáveis para o cálculo de índice funcional<br />

do ciático (IFC)9-11 que quantifica o nível de recuperação<br />

funcional. Tratando-se de uma fórmula matemática<br />

[SFI= -38.3 (EPL – NPL/NPL)+109,5.5<br />

(ETS–NTS/NTS)+13.3 (EIT–NIT/NIT) – 8,8]<br />

que analisa comparativamente a pata normal com<br />

a pata que sofre o experimento. O resultado do cálculo<br />

é o índice de função do ciático, que é expresso<br />

em porcentagem de déficit funcional. Assim, valores<br />

próximos e acima de zero são indicadores de valores<br />

próximos do normal. Valores mais distantes de zero,<br />

indicam perdas funcionais proporcionais.<br />

Desta forma os quadros de imagens selecionados<br />

nas filmagens forneceram os valores de comprimento<br />

da pata normal ou NPL, comprimento da<br />

pata experimental ou EPL; largura da pata (espalhamento<br />

do 1º ao 5º artelho) normal ou NTS e da pata<br />

experimental ou EPS; largura intermediaria (espalhamento<br />

do 2º ao 4º artelho) tanto da pata normal<br />

NIT como da pata experimental EIT.<br />

A análise estatística dos dados foi processada<br />

através da ANOVA (análise de variância) de uma via,<br />

para a obtenção dos dados estatísticos do IFC. Foi utilizado<br />

o programa Statistica, versão 5.5 (Stasoft Inc.,<br />

1999), com o índice de significância de p


original<br />

IFC (%)<br />

-20<br />

-30<br />

-40<br />

-50<br />

-60<br />

-70<br />

-80<br />

-90<br />

-100<br />

-110<br />

Dia-1 Dia-7 Dia-14 Dia-21<br />

Tempo (dias)<br />

dp<br />

Controle<br />

Experimental<br />

Figura 3. Evolução do IFC dos animais estimulados na terceira<br />

semana (do 14° ao 21º dia) pós-axoniotmese do nervo ciático direito<br />

(p


les alcançados pelos animais falso tratados, evidenciando<br />

o caráter prejudicial da EE quando aplicada<br />

nestes momentos específicos. Isto denota que os efeitos<br />

da EE, são dependentes do momento pós-lesão<br />

nervosa em que ela é aplicada.<br />

Estudos em andamento do nosso laboratório investigam<br />

os efeitos funcionais da EE do músculo desnervado<br />

frente a protocolos de tratamento mais prolongados<br />

(14 e 21 dias), iniciados no dia seguinte a lesão nervosa.<br />

A reciprocidade entre as células pré e pós-sináptica<br />

foi estudada por Xie et al. 22 na junção neuromuscular<br />

(JNM) do Xenopus. Eles investigaram a<br />

expressão de neurotrofinas atividade-dependente na<br />

célula muscular e seu papel no desenvolvimento da<br />

JNM. A despolarização da membrana eliciada pela<br />

EE da fibra muscular rapidamente e especialmente<br />

aumentou os níveis de RNAm NT-3, ocasionado pelo<br />

aumento da expressão de ACh. A repetida estimulação<br />

aumentou os níveis de RNAm NT3 na cultura ao<br />

segundo e terceiro dia o que não aconteceu no sexto e<br />

no sétimo dia de estimulação, sugerindo que os efeitos<br />

da despolarização dependem do estágio do desenvolvimento<br />

em que se encontra a placa motora.<br />

O número de receptores de ACh na membrana<br />

da fibra pós-sinaptica afeta a eficiência da JNM.<br />

Seguinte a desnervação, o número desses receptores<br />

permanece normal na JNM do músculo sóleo do<br />

rato por 20 dias, então cai 50% e mais 30% do nível<br />

normal durante os próximos 10 e 40 dias, respectivamente.<br />

A inativação do músculo pelo tratamento<br />

nervoso por tetrodotoxina ou toxina botulínica causa<br />

queda similar 23 .<br />

A EE muscular, iniciada no dia da desnervação<br />

previne esta queda por até 60 dias, mas não têm<br />

efeito se começar depois de passados 10 dias da lesão<br />

nervosa 24 .<br />

CONCLUSÃO<br />

Os efeitos funcionais da EE do músculo desnervado<br />

do rato dependem do momento de tratamento<br />

pós-lesão. A EE quando aplicada tardiamente,<br />

após sete dias, mostrou-se prejudicial à regeneração<br />

do nervo ciático, enquanto, quando aplicada agudamente,<br />

24 após a lesão nervosa, não provocou efeitos<br />

negativos, todavia, a evolução positiva dos dados dos<br />

animais tratados não foi diferente da demonstrada<br />

pelos animais falso tratados, talvez, por necessitar de<br />

um período maior de tratamento.<br />

Agradecimentos<br />

A Daniel Doering, Jairo A Stiz e Grasiele Lana.<br />

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Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:120–124 124


original<br />

Hidroterapia na aquisição da<br />

funcionalidade de crianças com Paralisia<br />

Cerebral<br />

Hydrotherapy in the acquisition of the functionality of children with Cerebral Palsy<br />

Lívia Maria Marques Bonomo 1 , Vanessa Chamma Castro 1 , Denise Maciel<br />

Ferreira 2 , Samira Tatiyama Miyamoto 3<br />

RESUMO<br />

Objetivos. Verificar o efeito do tratamento hidroterapêutico na<br />

funcionalidade e tono de crianças com tetraparesia espástica.<br />

Métodos. Foram incluídas seis crianças com tetraparesia espástica<br />

e idade entre 2 e 6 anos, e realizada a avaliação do tono pela<br />

escala de Ashworth Modificada e da funcionalidade pela aplicação<br />

do Pediatric Evaluation of Disability Inventory (PEDI). Os<br />

pacientes foram submetidos a 20 sessões de tratamento hidroterapêutico,<br />

entre fevereiro e junho de 2006, e após estes foram<br />

reavaliados pelos mesmos procedimentos. Para testar a significância<br />

antes e após o tratamento foi utilizado o teste não paramétrico<br />

de Wilcoxon. Resultados. Não houve diferença dos valores<br />

na avaliação do tono pela Escala de Ashworth Modificada<br />

antes e após o tratamento hidroterapêutico. Na avaliação através<br />

da aplicação do PEDI, ao serem analisados os valores do escore<br />

bruto nas três áreas de função, verificou-se diferença estatisticamente<br />

significante após o tratamento. Conclusão. Os resultados<br />

mostram que a hidroterapia, como tratamento, promove melhora<br />

funcional significativa para pacientes com paralisia cerebral e<br />

tetraparéticas espásticas na faixa etária estudada.<br />

Unitermos: Paralisia Cerebral.Espasticidade. Hidroterapia.<br />

Citação: Bonono LMM, Castro VC, Ferreira DM, Miyamoto ST.<br />

Hidroterapia na aquisição da funcionalidade de crianças com Paralisia<br />

Cerebral.<br />

SUMMARY<br />

Objectives. It was to verify the effect of the hydrotherapeutic treatment<br />

in the functionality and tonus of children with spastic tetraparetic.<br />

Methods. Six children with spastic tetraparetic and age<br />

between 2 and 6 years had been enclosed, and carried through the<br />

evaluation of tonus for the Ashworth Scale of Modified and of the<br />

functionality for the application of PEDI. The patients had been<br />

submitted to 20 sessions of hydrotherapeutic treatment, between<br />

February and June of 2006, and after these had been reevaluated<br />

by the same procedures. Descriptive analysis of the data was<br />

made, through tables with averages, shunting line standard and<br />

medium for you prop up them rude of the dominions. To test the<br />

significance before and after the treatment was used the Unpaired<br />

t test Wilcoxon. Results. The values in the evaluation of tonus for<br />

Ashworth Scale Modified have not changed before and after the<br />

hydrotherapeutic treatment. In the evaluation through the application<br />

of PEDI, when being analyzed the values of brute score in<br />

the three areas of function verified significant difference statistical<br />

before and after the treatment. Conclusion. The results show that<br />

the hydrotherapy, as treatment, promotes significant functional<br />

improvement for patients with spastic tetraparetic cerebral palsy<br />

with ages between 2 and 6 years.<br />

Keywords: Cerebral Palsy. Muscle Spasticity. Hydrotherapy.<br />

Citation: Bonono LMM, Castro VC, Ferreira DM, Miyamoto ST. Hydrotherapy<br />

in the acquisition of the functionality of children with Cerebral<br />

Palsy.<br />

Trabalho realizado na Faculdade Salesiana de Vitória.<br />

1. Graduandas de Fisioterapia da Faculdade Salesiana de Vitória.<br />

2. Fisioterapeuta, Mestre em Engenharia Biomédica, Professora do Estágio<br />

Supervisionado em Fisioterapia Pediátrica da Faculdade Salesiana<br />

de Vitória.<br />

3. Fisioterapeuta, Mestre em Reabilitação, Professora de Hidroterapia<br />

da Faculdade Salesiana de Vitória.<br />

Endereço para correspondência:<br />

Denise Maciel Ferreira<br />

Av. Vitória, 905<br />

Vitória-ES, Caixa Postal 26, CEP 29017-950<br />

Tel: (27)3331-8500 – Fax (27) 3222-3829<br />

E-mail: dferreira@salesiano.com.br<br />

Recebido em: 11/12/06<br />

Revisão: 12/12/06 a 13/04/07<br />

Aceito em: 14/04/07<br />

Conflito de interesses: não<br />

125<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:125–130


INTRODUÇÃO<br />

A Paralisia Cerebral (PC) é definida como<br />

“uma desordem do movimento e da postura devido<br />

a um defeito ou lesão do cérebro imaturo” 1 . Atualmente,<br />

foram encontrados diversos fatores de risco<br />

que interagem entre si, sugerindo que a PC seja uma<br />

doença multifatorial 2 . São eles: infecções, hipoxemia<br />

cerebral e distúrbios do metabolismo, hemorragias<br />

cerebrais por trauma do parto, hipóxia e fatores obstétricos,<br />

icterícia grave não tratada no momento certo,<br />

meningoencefalites bacterianas, encefalopatias<br />

desmielinizantes pós-infecciosas e pós-vacinais, traumatismos<br />

cranioencefálicos e convulsões neonatais 3 .<br />

A lesão cerebral não é progressiva e provoca debilitação<br />

variável na coordenação da ação muscular, com<br />

resultante incapacidade da criança em manter posturas<br />

e realizar movimentos normais. Essa deficiência<br />

motora central está freqüentemente associada a<br />

problemas da fala, visão e audição, com vários tipos<br />

de distúrbio da percepção, variados graus de retardo<br />

mental e/ou epilepsia 4 .<br />

Pode ser classificada em: espástica (características<br />

de lesão do primeiro neurônio motor - hiperreflexia,<br />

fraqueza muscular, padrões motores anormais,<br />

diminuição da destreza); atetósica (sinais de<br />

comprometimento do sistema extrapiramidal, presença<br />

de movimentos involuntários, distonia, ataxia<br />

e rigidez muscular); hipotônica (grave depressão da<br />

função motora e fraqueza muscular); atáxica (sinais<br />

de comprometimento do cerebelo). Existem formas<br />

mistas nas quais se combinam as características das<br />

formas espástica, atetóide e atáxica 5 .<br />

A incidência está entre 1,2 e 2,3 por 1000 nascidos<br />

vivos nos países desenvolvidos; mas há relatos de<br />

incidência geral, incluindo todas as formas de 7:1000.<br />

Nestes países, calcula-se que em relação a crianças em<br />

idade escolar freqüentando centros de reabilitação, a<br />

prevalência seja de 2/1000. No Brasil não há estudos<br />

conclusivos a respeito e a incidência depende do critério<br />

diagnóstico de cada estudo, sendo assim, presumese<br />

uma incidência elevada devido aos poucos cuidados<br />

com as gestantes e aos recém-natos 6 .<br />

O tratamento envolve profissionais de várias<br />

áreas e a família. A paralisia cerebral não tem cura,<br />

mas seus efeitos podem ser minimizados. O objetivo<br />

deve promover o maior grau de independência<br />

possível, inclui o tratamento medicamentoso; o tratamento<br />

cirúrgico; denervação química; o uso de órteses;<br />

adaptações e fisioterapia 7 .<br />

A fisioterapia tem como objetivo a inibição da<br />

atividade reflexa anormal para normalizar o tono<br />

original<br />

muscular e facilitar o movimento normal, com isso<br />

haverá uma melhora da força, da flexibilidade, da<br />

amplitude de movimento, dos padrões de movimento<br />

e das capacidades motoras básicas para a mobilidade<br />

funcional 8,9 .<br />

A hidroterapia vem crescendo como modalidade<br />

de fisioterapia. As técnicas desse modelo de<br />

tratamento baseiam-se em conceitos de fisiologia<br />

e biomecânica. Utilizam as propriedades físicas da<br />

água como o empuxo, a pressão hidrostática, a turbulência<br />

e a densidade substancialmente distinta da<br />

densidade do ar 10 .<br />

A eficácia da hidroterapia na reabilitação<br />

de pacientes neurológicos é plena quando a água é<br />

aquecida a uma temperatura agradável ao paciente,<br />

na faixa de 32 a 33°C. O calor da água propicia a<br />

redução do tono, temporariamente, permitindo assim,<br />

o manuseio adequado para educação motora e<br />

habilitação funcional 11 . Apesar das evidências clínicas,<br />

há uma falta substancial da pesquisa baseada em<br />

evidência que avalie os efeitos específicos de intervenções<br />

aquáticas na paralisia cerebral 12-14 .<br />

Dessa forma, o presente estudo, tem o objetivo de<br />

verificar o efeito do tratamento hidroterapêutico na funcionalidade<br />

e tono de crianças tetraparéticas espásticas.<br />

MÉTODO<br />

Este ensaio clínico não controlado foi realizado<br />

entre fevereiro e agosto do ano de 2006, na Faculdade<br />

Salesiana de Vitória.<br />

Inicialmente foram selecionados para o estudo<br />

sete pacientes, através de fichas de cadastro da<br />

Clínica Escola de Fisioterapia da Instituição, tendo<br />

como critério de inclusão: portador de Paralisia<br />

Cerebral, tetraparético espástico e idade entre 2 e 6<br />

anos; e como critério de exclusão: criança portadora<br />

de PC coréica, atáxica ou distônica; idade menor<br />

que 2 anos e maior que 6 anos; crianças com denervação<br />

química; recebimento de tratamento fisioterapêutico<br />

adicional durante o estudo; e não adesão<br />

ao tratamento hidroterapêutico. Diante disso, uma<br />

criança foi excluída do estudo pela não adesão ao<br />

tratamento, e a amostra final foi, então, composta<br />

por seis indivíduos.<br />

Os pacientes foram avaliados pela escala de<br />

Ashworth Modificada <strong>15</strong> e pela Parte I do teste PEDI<br />

(Pediatric Evaluation of Disability Inventory), aplicado<br />

por uma entrevista com a mãe ou cuidador.<br />

Esse teste informa sobre as habilidades funcionais<br />

da criança entre 6 meses e 7 anos e meio para realizar<br />

atividades e tarefas de seu cotidiano, nas três<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:125–130 126


original<br />

áreas de função: auto-cuidado (73 itens ou atividades<br />

funcionais incluindo tarefas de alimentação, higiene<br />

pessoal, banho, vestir, uso do toalete e controle esfincteriano),<br />

mobilidade (59 itens agrupados nas atividade<br />

de transferências, locomoção em ambiente<br />

interno, locomoção em ambiente externo e uso de<br />

escadas) e função social (65 itens agrupados em compreensão<br />

funcional, expressão funcional, resolução<br />

de problemas, brincar, auto-informação, orientação<br />

temporal, participação na rotina doméstica/comunidade<br />

e noções de auto-proteção). Cada item é avaliado<br />

com escore zero se a criança não for capaz de<br />

desempenhar a atividade ou um se ela for capaz de<br />

desempenhar a atividade ou a mesma já fizer parte<br />

do seu repertório funcional. Cada escala do teste fornece<br />

um escore total que é o resultado da pontuação<br />

dos itens da mesma 16 . Após a avaliação, os pacientes<br />

foram submetidos a tratamento hidroterapêutico,<br />

utilizando um protocolo que consiste em: 5 minutos<br />

de relaxamento com o método Bad Ragaz passivo;<br />

5 minutos de mobilização articular das articulações<br />

mais acometidas pela espasticidade, de acordo com<br />

cada paciente; 10 minutos de dissociação de cinturas<br />

e mobilização ativa funcional de tronco, membros<br />

superiores e mãos; <strong>15</strong> minutos de marcha lateral e<br />

frontal, com o auxílio de caneleira de peso; 5 minutos<br />

de alongamento dos músculos mais retraídos, de<br />

acordo com cada paciente.<br />

Ao todo foram realizadas 20 sessões, 2 vezes por<br />

semana, com duração de 40 minutos cada sessão, em<br />

piscina aquecida a 33-34 °C. Foram utilizados como<br />

materiais: estepes, caneleira de peso de 500 gramas,<br />

prancha flutuadora, brinquedos flutuadores e bolas.<br />

Ao término das 20 sessões, os pacientes foram reavaliados<br />

através dos mesmos instrumentos já descritos.<br />

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética<br />

da Faculdade Salesiana de Vitória. Iniciou-se o tratamento<br />

após essa aprovação e a assinatura de um Termo<br />

de Consentimento Livre e Esclarecido assinado<br />

pelos responsáveis da criança incluída no estudo.<br />

Para testar a significância dos escores antes e<br />

após o tratamento foi utilizado o teste não paramétrico<br />

de Wilcoxon. O nível de significância adotado foi<br />

de 5%. O Pacote estatístico SPSS 14 – Social Package<br />

Statistical Science – foi utilizado nesta análise 17 .<br />

RESULTADOS<br />

O grupo estudado foi composto por 7 crianças,<br />

sendo 4 do sexo feminino e 3 do sexo masculino. Uma<br />

criança do sexo masculino foi excluída do estudo pela desistência<br />

ao tratamento, e a amostra final foi, então, composta<br />

por 6 indivíduos. A idade das crianças variou entre 2<br />

anos e 6 anos, com média de 3,97 anos ± 47,64 meses.<br />

Na avaliação inicial do tono muscular pela Escala<br />

de Ashworth Modificada, 4 pacientes apresentaram<br />

escala 3 de Ashworth; um paciente apresentou escala 2<br />

e um paciente apresentou escala 1. Não houve mudança<br />

desses valores na avaliação após o tratamento hidroterapêutico,<br />

não sendo estatisticamente significante.<br />

Os valores da mediana de cada domínio avaliado<br />

pelo PEDI (figuras 1, 2 e 3) antes e depois do<br />

tratamento hidroterapêutico, mostraram diferença<br />

significativa ao serem analisadas (p


original<br />

retomarem o controle de padrões de movimentos recíprocos<br />

rápidos e possibilitando mobilidade de forma<br />

mais independente o que gera motivação e autoconfiança<br />

10,11 . As propriedades físicas e conforto da água<br />

quente permitem que os pacientes com espasticidade<br />

se movam livremente de um modo que seria doloroso<br />

e difícil em solo 20 . Desta forma a fisioterapia pode<br />

prover condições que facilitem o controle do tono permitindo<br />

a postura adequada para o movimento funcional,<br />

facilitando assim o aprendizado motor 21-23 .<br />

Kesiktas et al. 24 estudaram 20 pacientes, com<br />

variados graus de espasticidade, divididos em dois<br />

grupos, sendo que o grupo controle recebia exercícios<br />

de movimento em extensão passivo duas vezes<br />

por dia e baclofen oral por 10 semanas; e o grupo<br />

em estudo recebia o mesmo tratamento do grupo<br />

controle além de 20 minutos de exercícios subaquáticos,<br />

3 vezes por semana. Foi avaliado o tono desses<br />

pacientes pela escala de Ashworth e os autores concluíram<br />

que não houve diferença estatisticamente<br />

significativa antes e após o tratamento, tanto no grupo<br />

controle, quanto no grupo tratado, como também<br />

observado no presente estudo.<br />

Uma criança seja com desenvolvimento normal<br />

ou com desvios, só pode utilizar o que já tenha<br />

experimentado antes. A criança normal usará e modificará<br />

seus padrões motores normais através da<br />

prática, repetição e adaptação. A criança com PC<br />

continuará a usar e, por repetição, reforçar os padrões<br />

motores anormais. Ela construirá novos padrões<br />

compensatórios anormais baseados em seus<br />

primeiros padrões alterados 25 .<br />

Portanto, a criança com PC possui duas grandes<br />

desvantagens: faculdades insuficientes, com as<br />

quais irá desenvolver habilidades funcionais; e experiência<br />

sensório-motora alteradas, na qual irá basear<br />

o desenvolvimento futuro 6 .<br />

A PC ocorre no período em que a criança<br />

apresenta ritmo acelerado de desenvolvimento, o que<br />

compromete o processo de aquisição das habilidades<br />

motoras fundamentais. Tal comprometimento pode<br />

interferir na função, dificultando o desempenho de<br />

atividades frequentemente realizadas por crianças<br />

com desenvolvimento motor típico 26 .<br />

O impacto da PC no repertório de atividades<br />

diárias dessas crianças e faz com que elas tendam a ser<br />

mais dependente dos pais, desempenham menor variedade<br />

de atividades diárias com menor participação<br />

em atividades sociais e de recreação 27 . A associação<br />

entre as características da locomoção e a realização de<br />

atividades da rotina diária em crianças com PC, mostra<br />

que as habilidades de locomoção estão associados<br />

com a realização de atividades diárias e sociais 28 .<br />

Há um consenso sobre os benefícios do ambiente<br />

aquático no tratamento de pacientes com disfunções<br />

cerebrais, mas existem discordâncias quanto<br />

à abordagem terapêutica específica a ser utilizada e<br />

seu embasamento científico. Alguns defendem a reabilitação<br />

aquática para o tratamento de problemas<br />

associados com lesões cerebrais, mas não defendem<br />

o treinamento de atividade funcional na água, pois<br />

consideram que o ambiente aquático deixa de fornecer<br />

estabilidade adequada, levando à facilitação<br />

de reações associadas, que interferem no movimento<br />

desejado 12,13 . Entretanto, outros acreditam que o<br />

ambiente aquático, se adequadamente usado, é capaz<br />

de fornecer um ambiente estável para a participação<br />

ativa do paciente na melhora da habilidade<br />

funcional 11,12,14 .<br />

Nesse estudo foi observado que após o tratamento<br />

hidroterapêutico, a amostra apresentou<br />

melhora nas três áreas de função. Na área de autocuidado,<br />

em que foram avaliadas habilidades da<br />

alimentação, cuidado pessoal, vestir, banho e uso de<br />

toalete 16 , a mediana do escore bruto foi de 22,5 antes<br />

e 33,5 após o tratamento (p


Mobilidade<br />

original<br />

<strong>15</strong><br />

12<br />

Figura 2. Distribuição do escore bruto da mobilidade antes e após<br />

o tratamento dos pacientes. A linha branca central do box indica a<br />

mediana dos escores.<br />

50<br />

9<br />

6<br />

3<br />

0<br />

Antes do tratamento<br />

Depois do tratamento<br />

e cognitiva, tanto no grupo controle quanto no tratado<br />

24 . Porém, o grupo tratado com a hidroterapia<br />

obteve uma significância maior nessa melhora, o que<br />

mostra que a hidroterapia promove um relaxamento<br />

do corpo, levando a uma maior independência e favorecendo<br />

uma melhora dos movimentos funcionais,<br />

como visto nesse estudo.<br />

CONCLUSÃO<br />

Os dados obtidos neste estudo nos permitem<br />

observar que a hidroterapia, como instrumento terapêutico<br />

pode ser eficaz na aquisição e melhora da capacidade<br />

funcional de crianças com PC tetraparéticas<br />

espásticas, no entanto, sem modificações no grau<br />

da espasticidade avaliado pela Escala de Ashworth<br />

Modificada. Assim, deve ser considerada entre as<br />

opções de tratamento da ECNPI.<br />

Devido à amostra pequena, novas pesquisas<br />

são necessárias para confirmação desses achados.<br />

Função Social<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Antes do tratamento<br />

Depois do tratamento<br />

Figura 3. Distribuição do escore bruto da função social antes e após<br />

o tratamento dos pacientes. A linha branca central do box indica a<br />

mediana dos escores.<br />

Portanto, as crianças apresentaram melhora<br />

funcional após tratamento hidroterapêutico. Isso<br />

mostra que o ambiente aquático tépido pode favorecer<br />

o aprendizado de habilidades funcionais corretas.<br />

À sustentação atribui a produção de relaxamento<br />

e com isso, a redução do esforço necessário<br />

para executar movimento contra um músculo antagonista<br />

hipertônico 10,11,13,14 . Assim, as crianças com<br />

PC da amostra puderam praticar padrões motores<br />

mais próximos do normal, e através da repetição e<br />

adaptação melhorar sua capacidade funcional.<br />

A avaliação da funcionalidade, através do escore<br />

FIM (Functional Independence Measure) que<br />

engloba, assim como o PEDI, áreas de auto-cuidado,<br />

mobilidade e função social,tiveram como resultado<br />

uma melhora significativa na categoria motora<br />

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Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:125–130 130


original<br />

Os efeitos da hidroterapia na hipertensão<br />

arterial e freqüência cardíaca em<br />

pacientes com AVC<br />

The effect of hydrotherapy in high blood pressure and heart rate in patients with stroke<br />

Maryana Therumy Kabuki 1 , Tatiana Sacchelli de Sá 2<br />

RESUMO<br />

A hipertensão arterial sistêmica é uma das causas relacionadas ao<br />

surgimento dos acidentes cerebrovasculares. A hidroterapia, em água<br />

aquecida associada com a atividade física atua na pressão arterial e<br />

na freqüência cardíaca, alterando seus valores. Objetivo. Verificar os<br />

efeitos da hidroterapia na pressão arterial e na freqüência cardíaca,<br />

em pacientes portadores de acidente cerebrovascular. Método. Participaram<br />

dessa pesquisa dois pacientes, sendo um sexo feminino e<br />

outro do sexo masculino, ambos com 65 anos de idade, com diagnóstico<br />

de acidente cerebrovascular há um ano, e que nunca haviam<br />

realizado qualquer tipo de tratamento fisioterapêutico. Foram realizadas<br />

24 sessões de hidroterapia, em água aquecida a 34 graus centígrados,<br />

no qual foram analisadas a freqüência cardíaca e a pressão<br />

arterial antes e após cada sessão. A terapia foi baseada em exercícios<br />

de alongamento global, exercícios ativo-livres, exercícios passivos e de<br />

condicionamento cárdio-respiratório. Resultados. Os pacientes apresentaram<br />

pressão alta antes do início de cada sessão e após o término<br />

de cada terapia, apresentaram diminuição tanto na pressão sistólica,<br />

quanto na diastólica. A freqüência cardíaca teve seu valor aumentado<br />

após as sessões, porém durante os treinos cárdio-respiratorios com<br />

a imersão de face, houve uma diminuição da freqüência cardíaca.<br />

Discussão. Os pacientes avaliados apresentaram uma diminuição da<br />

pressão sistólica em 4,1% e da pressão diastólica em 10,1%, após as<br />

terapias. A freqüência cardíaca teve um aumento de <strong>15</strong>,3% após as<br />

sessões, e durante uma queda de 1%. Conclusão. Verificou-se que a<br />

hidroterapia e a atividade física, quando associadas, atuam tanto na<br />

pressão arterial , quanto na freqüência cardíaca.<br />

Unitermos: Acidente Cerebrovascular. Pressão Arterial.<br />

Freqüência Cardíaca. Hidroterapia.<br />

Citação: Kabuki MT, Sá TS. Os efeitos da hidroterapia na hipertensão<br />

arterial e freqüência cardíaca em pacientes com AVC..<br />

SUMMARY<br />

The systemic arterial hypertension is one of the causes related to<br />

the sprouting of cereborvascular accident. The hidrotherapy in<br />

warm water has a principle, the reduction of the arterial pressure<br />

in patients victim of cerebrovascular accident. The physical activity,<br />

associate with the rise of water temperature, may increase the<br />

cardiac frequency. Objective. To verify the effect of hydrotherapy<br />

on arterial pressure and the cardiac frequency in patients carrying<br />

of stroke. Method. Two patients participated in this research, one<br />

male and one female, both with 65 years old, with history of cerebrovascular<br />

accident, they had never done any type of treatment.<br />

They did 24 sessions of hydrotherapy, in warn water 34 degrees<br />

centigrade, the cardiac frequency and the arterial pressure were<br />

analyzed before and after each session. The therapy was based on<br />

exercises of stretching, active exercises, passive exercises and cardio-respiratory<br />

conditioning. Results. The patients presented high<br />

arterial blood pressure at the beginning of each session and in<br />

the end of each therapy, they presented a reduction both systolic<br />

and diastolic pressure (4.1% and 10.1% respectively). The cardiac<br />

frequency also increased after sessions and during the cardio-respiratory<br />

training using face immersion of face. They it had a reduction<br />

of cardiac frequency. Discussion. The patients presented<br />

a reduction of systolic pressure of 4.1% and pressure diastolic of<br />

10.1%, after all sessions. Cardiac frequency had an increased of<br />

<strong>15</strong>.3% after the sessions and during a fall of 1%. Conclusion. It<br />

was verified that hydrotherapy can bring benefits for both arterial<br />

pressure and cardiac frequency.<br />

Keywords: Cerebrovascular Accident. Blood Pressure. Heart<br />

Rate. Hydrotherapy.<br />

Citation: Kabuki MT, Sá TS. The effect of hydrotherapy in high blood<br />

pressure and heart rate in patients with stroke.<br />

Trabalho realizado na Universidade Metodista de São Paulo,<br />

UMESP.<br />

1.Pós-graduanda em fisioterapia neurológica, UMESP.<br />

2.Mestre em ciência do movimento, Professora de estágio da Universidade<br />

Metodista de São Paulo - UMESP.<br />

Endereço para correspondência:<br />

Tatiana Sacchelli<br />

R Sete de Outubro, <strong>15</strong>6/204<br />

São Paulo-SP, CEP 03407040<br />

Fone: (011) 43665644, ramal: 5931.<br />

e-mail: tatiana.sa@metodista.br<br />

Recebido em: 11/01/<strong>2007</strong><br />

Revisão: 12/01/<strong>2007</strong> a 23/07/<strong>2007</strong><br />

Aceito em: 24/07/<strong>2007</strong><br />

Conflito de interesses: não<br />

131<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:131–134


INTRODUÇÃO<br />

O acidente vascular cerebral (AVC) é a doença<br />

neurológica que mais afeta o sistema nervoso e<br />

é a principal causa de incapacidades físicas e mentais.<br />

Ocorre devido a interrupção do fluxo sanguíneo<br />

para o cérebro, que pode ser por uma obstrução de<br />

uma artéria que o supre, caracterizando o AVC isquêmico<br />

ou por ruptura de um vaso, caracterizando<br />

o AVC hemorrágico 1 .<br />

Os fatores de risco para o acidente vascular<br />

cerebral incluem hipertensão arterial sistólica ou<br />

diastólica, hipercolesterolemia, tabagismo, diabetes<br />

mellitus, consumo elevado de álcool, sedentarismo,<br />

stress e uso de anticoncepcionais orais. A hipertensão<br />

é o mais forte fator de risco para acidentes vasculares<br />

cerebrais, depois da idade. O risco de AVC aumenta<br />

proporcionalmente com o aumento da pressão arterial<br />

1,2 .<br />

A pressão arterial é a força com a qual o coração<br />

bombeia sangue pelos vasos. É determinada<br />

pelo volume de sangue que sai do coração e a resistência<br />

que ele encontra para circular no corpo 3 .<br />

A pressão arterial é uma variável fisiológica<br />

contínua e que sofre constantes modificações dependendo<br />

de estímulos externos tais como: exercício físico,<br />

uso de tabaco, ruídos e estresses 4 .<br />

A hipertensão arterial acomete homens e mulheres,<br />

de todas as idades e todas as raças. O aumento<br />

da pressão arterial (PA) implica em risco crescente<br />

para acidente vascular cerebral (AVC), este risco se<br />

inicia a partir dos valores normais de PA, sendo esta<br />

de 120 x 80 mmHg. A hipertensão arterial é um fator<br />

de risco para todos os tipos de AVC e demais doenças<br />

cardiovascular 5 .<br />

A freqüência cardíaca é caracterizada pelo número<br />

de vezes que o coração se contrai e relaxa, ou seja,<br />

o número de vezes que o coração bate por minuto 6 .<br />

A zona-alvo da freqüência cardíaca é um nível<br />

percentual do Fc máx (Fc máx = o número mais alto<br />

de batimentos cardíacos por minuto (bpm) durante o<br />

esforço físico máximo). Para saber qual a zona-alvo<br />

da freqüência cardíaca, pode-se utilizar a fórmula de<br />

idade, Fc máx = 220 - idade 7 .<br />

A freqüência cardíaca aumenta com a elevação<br />

da temperatura e como resultado do exercício, o<br />

aumento é proporcional à temperatura da água e a<br />

severidade do exercício 5 .<br />

Os exercícios terapêuticos e a água aquecida<br />

atuam em diversos sistemas do corpo humano seja o<br />

sistema cardíaco, muscular, respiratório, endócrino<br />

entre outros, levando a alterações fisiológicas 5,6 .<br />

original<br />

No sistema cárdio vascular há um conjunto<br />

de respostas à imersão, incluindo bradicardia, vasoconstrição<br />

periférica (período inicial), vasodilatação<br />

(após alguns minutos imersos), e desvio de sangue<br />

para as áreas vitais, influenciam na pressão arterial<br />

corpórea em imersão 4 .<br />

MÉTODO<br />

Foram levantados os dados de todos os pacientes<br />

da Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade<br />

Metodista de São Paulo — UMESP. Como<br />

critério de inclusão do estudo, todos os participantes<br />

obrigatoriamente tinham que ter história de um ano<br />

de lesão e, durante este período, não terem realizado<br />

qualquer tipo de tratamento fisioterapêutico. Foram<br />

excluídos todos os pacientes que durante um ano<br />

de lesão tiveram acompanhamento fisioterapêutico.<br />

Dois pacientes portadores de acidente vascular cerebral<br />

foram elegidos para o estudo, sendo um do sexo<br />

masculino e outro de sexo feminino, ambos com 65<br />

anos de idade. Os pacientes faziam uso de medicações<br />

para hipertensão, à noite antes de dormir.<br />

Primeiramente, os pacientes passaram por<br />

uma anamnese (ficha de avaliação), assinaram termo<br />

de livre consentimento esclarecido, e posteriormente<br />

foi realizado uma avaliação física. Os equipamentos<br />

utilizados para a avaliação da pressão arterial foram:<br />

estetoscópio da marca Premium, esfigmomanômetro<br />

da marca Premium de 300 mmHg e para a verificação<br />

da freqüência cardíaca ,o frequêncímetro da<br />

marca Polar.<br />

O estudo foi realizado na piscina, da Clínica<br />

Escola de Fisioterapia da UMESP. A piscina utilizada<br />

possuía 12 m de comprimento, 6 m de largura, 1.12<br />

m de profundidade, com barras paralelas e escada, a<br />

uma temperatura da água de 34 graus centígrados.<br />

As terapias foram realizadas no período de Agosto a<br />

Outubro de 2006, com uma freqüência de três vezes<br />

por semana, totalizando vinte e quatro sessões. Cada<br />

terapia teve um tempo estimado de uma hora.<br />

Antes do início e no término de cada sessão de<br />

fisioterapia aquática foi aferida a pressão arterial de<br />

cada paciente no braço esquerdo dos avaliados, com<br />

a utilização de estetoscópio e do esfigmomanômetro.<br />

A freqüência cardíaca foi verificada, antes da entrada<br />

de cada paciente na piscina, pelo frequêncímetro,<br />

na região infra-mamária.<br />

Durante a sessão de fisioterapia aquática, os<br />

pacientes permaneceram com o frequêncímetro<br />

para a mensuração da freqüência cardíaca, durante<br />

a atividade física em água. Os exercícios foram base-<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:131–134 132


original<br />

ados em alongamentos de membros inferiores, superiores<br />

e de tronco de forma passiva, exercícios ativos<br />

livres para membros inferiores e superiores, os quais<br />

eram dificultados a cada sessão com a utilização de<br />

caneleiras em membros inferiores e de braçadeiras<br />

em membros superiores. Foram realizados também<br />

exercícios cárdio-respiratórios, com a imersão de<br />

face na água, na qual o paciente realizava inspiração<br />

máxima fora da água e expirava dentro da água.<br />

Após a saída dos pacientes da piscina, foram novamente<br />

aferidas as PA e FC.<br />

RESULTADOS<br />

Os resultados obtidos com a aferição da PA<br />

após cada sessão realizada estão demonstradas nas<br />

Figuras 1 e 2. Observa-se uma queda significativa da<br />

PA em função das sessões realizadas.<br />

Observou-se uma diminuição significativa da<br />

pressão sistólica, após as sessões de fisioterapia aquática,<br />

com um desvio padrão de 4,1% em relação ao<br />

seu valor inicial (Figura 1). Em relação à pressão<br />

diastólica, notou-se uma diminuição após a atividade<br />

física em água aquecida, num valor de 10, 1%<br />

(Figura 2). Já na freqüência cardíaca, observou-se<br />

uma elevação de <strong>15</strong>,3% com os exercícios na piscina<br />

(Figura 3). Durante o treino cárdio-respiratório em<br />

água, com a imersão de face houve uma queda da<br />

freqüência cardíaca em 1% (Figura 4).<br />

Pressão Sistólica (mmHg)<br />

Figura 1. Pressão Sistólica apresentada pela paciente do sexo feminino,<br />

no início e no final das terapias realizadas.<br />

Pressão Diastólica (mmHg)<br />

inicial<br />

final<br />

inicial<br />

final<br />

Figura 2. Pressão Diastólica apresentada pelo paciente do sexo masculino,<br />

no início e no final das terapias realizadas.<br />

Freqüência Cardíaca (bpm)<br />

Figura 3. Freqüência Cardíaca apresentada pelo paciente do sexo<br />

masculino, no início e no final das terapias.<br />

Durante %<br />

inicial<br />

final<br />

Figura 4. Freqüência cardíaca durante a imersão em água, apresentada<br />

pelo paciente do sexo masculino.<br />

DISCUSSÃO<br />

Pessoas portadoras de acidente vascular cerebral,<br />

podem apresentar distúrbios autonômicos, entre<br />

eles o aumento da pressão arterial 6 . Foi verificado<br />

que todos os pacientes, que participaram dessa pesquisa,<br />

apresentavam um aumento significativo nas<br />

pressões arteriais.<br />

Durante a imersão em água, as arteríolas dilatam-se,<br />

produzindo uma redução na resistência<br />

periférica e por essa razão uma queda na pressão<br />

arterial 7 . Neste estudo, dois pacientes que realizaram<br />

fisioterapia aquática apresentaram uma diminuição<br />

tanto na pressão arterial sistólica quanto na diastólica,<br />

após a sessão de reabilitação aquática.<br />

A pressão sistólica teve uma diminuição no<br />

seu valor de 4,1% em relação ao seu valor inicial.<br />

A pressão diastólica, também apresentou uma diminuição<br />

de 10,1%, em relação ao valor apresentado<br />

inicialmente. A atividade física produz diminuição<br />

nas pressões arteriais sistólica e diastólica, além de<br />

prevenirem complicações de desordens cardio-vasculares<br />

8 .<br />

Com a elevação da temperatura da água e<br />

com a execução de atividade física, a freqüência<br />

cardíaca sofre um aumento no seu valor 5 . Com a<br />

execução de atividade física há um aumento na freqüência<br />

cardíaca à medida que o débito cardíaco<br />

aumenta, de seu nível de repouso 5,5 l/mim para<br />

30 l/min 9 . Verificou-se que, durante o tratamento de<br />

133<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:131–134


pacientes com acidente vascular encefálico em água<br />

quente, a 34 graus centígrados, ocorreu um aumento<br />

significativo no valor da freqüência cardíaca de até<br />

<strong>15</strong>,3%, em relação ao seu valor inicial. A elevação<br />

da temperatura da água, acarreta alterações no sistema<br />

cardiovascular, incluindo aumento da freqüência<br />

cardíaca 10 .<br />

A imersão de face e imersão de corpo inteiro<br />

leva a uma bradicardia apnéica 4 . Durante os treinos<br />

cárdio-respiratorios, em água com imersão de face,<br />

foi observado uma diminuição da freqüência cardíaca<br />

em até 1%, nos pacientes avaliados, pois quando<br />

há uma expiração máxima no interior da água, os<br />

pacientes acabavam realizando uma PEEP (pressão<br />

positiva expiratória final), a qual tem como efeito a<br />

melhora da oxigenação, levando a uma diminuição<br />

do débito cardíaca e aumento da pressão intra-torácica<br />

11 .<br />

CONCLUSÃO<br />

A hipertensão arterial ocasiona um risco crescente<br />

para os acidentes vasculares cerebrais, sendo<br />

necessárias medidas para se evitar o aumento das<br />

pressões arteriais no organismo humano. Foi verificado<br />

que a reabilitação aquática, em água aquecida<br />

tem um papel importante na diminuição das pressões<br />

sistólica e diastólica, evitando que dessa forma,<br />

original<br />

os pacientes tenham um aumento crescente desses<br />

valores. Observou-se que a reabilitação aquática associada<br />

à atividade física, trás alterações na pressão<br />

arterial e na a freqüência cardíaca.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

1. Lewis RM. Tratado de Neurologia. 10º edição, Rio de Janeiro: Guanabara<br />

Koogan, 2000, 460p.<br />

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São Paulo: Artmed, 2005,170 p.<br />

3. Foss ML, Keteyian SJ. Bases Fisiológicas do Exercício e do Esporte.<br />

6º edição, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, 460p.<br />

4. Ruoti RG, Morris DM, Cole AJ. Reabilitação Aquática. São Paulo:<br />

Manole, 2000, 463p.<br />

5. Souza SEM. Tratamento das doenças neurológicas. Rio de Janeiro:<br />

Guanabara Koogan, 2000, 960p.<br />

6. Ekman LL. Neurociência fundamentos para a reabilitação. 2º edição.<br />

Rio de Janeiro: 2004, 477p.<br />

7. Skinner AT, Thomson AM. Duffiled: Exercícios na água. São Paulo:<br />

Manole, 1985, 210p.<br />

8. Campane RZ, Gonçalves A. Atividade física no controle da hipertensão<br />

arterial.Rev bras med 2002;59(8):561-567.<br />

9. Guyton AC, Hall JE. Tratado de Fisiologia Médica. 100 edição. Rio<br />

de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, 973p.<br />

10. Campion MR Hidroterapia princípios e prática. São Paulo: Manole,<br />

2000, 332p.<br />

11. Klemm M, Alvarenga J, Fantoni DT, Silva LCLC, Auler JO. Estudo<br />

comparativo dos efeitos da ventilação mecânica controlada (VMC) com<br />

ou sem o emprego da pressão positiva no final da expiração (PEEP) sobre<br />

variação da pressão interpleural em anestesia eqüina. Braz J Vet Res<br />

Anim Sci 1998;35(6):260-265.<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:131–134 134


original<br />

Epilepsia em remissão: estudo da<br />

prevalência e do perfil clínico-epidemiológico<br />

Epilepsy in remission: study of prevalence and clinicoepidemiological profile<br />

Michel Ferreira Machado 1 , Ozéas Galeno da Rocha Neto 1 , Jaime Roberto<br />

Seráfico de Assis Carvalho 2<br />

RESUMO<br />

Objetivo. Investigar a prevalência e o perfil clínico-epidemiológico<br />

de pacientes portadores de epilepsia em remissão. Método.<br />

Realizou-se um estudo envolvendo 29 pacientes acima de <strong>15</strong> anos,<br />

portadores de epilepsia em remissão, atendidos no ambulatório<br />

de neurologia clínica do Hospital Ofir Loyola, de setembro/2004<br />

a setembro/2005. A pesquisa foi conduzida através da avaliação<br />

dos prontuários, com atenção às seguintes variáveis: sexo; tipo de<br />

epilepsia e crise convulsiva; idade de início; tempo até iniciar o tratamento;<br />

tempo sem crises; tempo de tratamento; monoterapia ou<br />

politerapia; drogas anti-epilépticas utilizadas e eletroencefalograma<br />

(EEG). Os dados obtidos foram submetidos à análise estatística<br />

pelo teste qui-quadrado. Resultados. Encontravam-se em remissão<br />

14,21% dos pacientes. A maioria eram homens (55,17%)<br />

entre <strong>15</strong>-29 anos (58,62%), tinham epilepsia idiopática (72,41%)<br />

tônico-clônica (46,88%), usavam monoterapia (79,31%), principalmente<br />

carbamazepina (44,83%) e apresentavam EEG normal<br />

(48,28%). A idade do início das crises, tempo decorrido até começar<br />

o tratamento, tempo livre de crises e tempo de tratamento<br />

mais prevalentes foram, respectivamente, 10-19 anos (62,07%), 0-<br />

2 anos (65,52%), 3-4 anos (37,93%) e 4-6 anos (37,93%). Conclusão.<br />

A prevalência de remissão foi baixa, sendo mais freqüente entre<br />

adultos jovens e naqueles portadores de epilepsia idiopática.<br />

Unitermos: Epilepsia. Remissão Espontânea. Perfil Epidemiológico.<br />

Citação: Machado MF, Rocha-Neto OG, Carvalho JRSA. Epilepsia em<br />

remissão: estudo da prevalência e do perfil clínico-epidemiológico.<br />

SUMMARY<br />

Objective. It is to establish the prevalence and the epidemiological<br />

profile of epileptic patients in remission. Method. The<br />

study involved 29 patients over <strong>15</strong> years old with epilepsy in<br />

remission registered at Ofir Loyola Hospital, from September/2004<br />

to September/2005, in order to determine the features<br />

of patients in this condition, such as gender, epileptic<br />

etiology, type of seizure, age of the first seizure, lost time, treatment<br />

duration, period of time without seizures, monotherapy<br />

or polytherapy treatment, antiepileptic drug utilized, and electroencephalographic<br />

findings. The data were analyzed by the<br />

Chi-Square test. Results. The results showed that 14.21% of the<br />

patients were in remission. Most of them were men (55.17%),<br />

from <strong>15</strong> to 29 years old (58.62%), with idiopathic epilepsy<br />

(72.41%) and tonic-clonic seizures (46.88%), treated with one<br />

drug therapy (79.31%), mainly carbamazepine (44.83%). The<br />

electroencephalography findings were normal in the majority<br />

of the patients (48.28%). The age of the first seizure, lost time,<br />

period of time without seizures, and treatment duration were<br />

respectively, 10-19 years (62.07%); 0-2 years (65.52%); 3-4 years<br />

(37.93%); and 4-6 years (37.93%). Conclusion. The prevalence<br />

of patients in remission was low, being more frequent in<br />

young adults with idiopathic epilepsy.<br />

Keywords: Epilepsy. Remission Spontaneous. Epidemiological<br />

Profile.<br />

Citation: Machado MF, Rocha-Neto OG, Carvalho JRSA. Epilepsy in remission:<br />

study of prevalence and clinicoepidemiological profile..<br />

Estudo realizado no Hospital do Servidor Público Estadual<br />

Ofir Loyola, Divisão de Neurologia, Belém-PA, Brasil.<br />

1. Médicos formados pela Universidade do Estado do Pará.<br />

2. Neurologista, Professor Adjunto da Disciplina de Neurologia da<br />

Universidade do Estado do Pará.<br />

Endereço para correspondência:<br />

Jaime Roberto Seráfico de Assis Carvalho<br />

Trav Barão do Triunfo, 3380/<strong>15</strong>02<br />

Belém-PA, CEP 66095050<br />

Tel: (91) 3226-9228 ou (91) 3228-1455<br />

E-mail: serafico@oi.com.br<br />

Recebido em: 29/01/07<br />

Revisão: 30/01/07 a 07/05/07<br />

Aceito em: 08/05/07<br />

Conflito de interesses: não<br />

135<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:135–140


INTRODUÇÃO<br />

A epilepsia é uma das mais comuns desordens<br />

do cérebro, afetando cerca de 50 milhões de pessoas<br />

no mundo 1 . No Brasil, segundo estimativas do Ministério<br />

da Saúde, cerca de <strong>15</strong>7.070 casos novos são<br />

diagnosticados a cada ano (100/100.000), com uma<br />

prevalência de 11,9/1000 a 16,5/1000 de formas<br />

ativas da doença 2 .<br />

A maioria dos pacientes tem um prognóstico<br />

bom a longo prazo 2 . De acordo com a OMS (2006) 3 ,<br />

70% dos casos recém diagnosticados podem alcançar<br />

a remissão com as drogas anti-epilépticas (DAE)<br />

e após dois a cinco anos de tratamento sem crises, esses<br />

medicamentos podem ser retirados em 70% das<br />

crianças e 60% dos adultos.<br />

Esse prognóstico, todavia, depende de fatores<br />

etários, etiológicos, estruturais, tipos de crises e padrões<br />

eletroencefalográficos 2 .<br />

Dessa forma, inquéritos epidemiológicos que<br />

visam a demonstrar essas variáveis são importantes<br />

não apenas para o reconhecimento prognóstico, mas<br />

também, para fornecer dados que permitam ao médico<br />

esclarecer ao paciente e à família sobre sua condição<br />

crônica, mas não intratável, pois isso favorece<br />

a adesão ao tratamento e contribui para eliminar os<br />

aspectos do preconceito existentes com relação às<br />

epilepsias.<br />

Tendo em vista a precariedade de registros acerca<br />

dessas informações, objetivou-se demonstrar a prevalência<br />

e alguns aspectos do perfil clínico-epidemiológico<br />

de pacientes portadores de epilepsia em remissão.<br />

MÉTODO<br />

Desenvolveu-se um estudo envolvendo 204<br />

pacientes incluídos na faixa etária acima de <strong>15</strong> anos,<br />

portadores de epilepsia, atendidos no ambulatório de<br />

neurologia clínica do Hospital Ofir Loyola (HOL),<br />

no período de setembro/2004 a setembro/2005.<br />

Considerou-se como caso de epilepsia o paciente<br />

que tivesse apresentado duas ou mais crises<br />

epilépticas, não provocadas por causa imediata,<br />

identificada em um período mínimo de 24 horas 4 .<br />

Seguindo o preconizado pela International<br />

League Against Epilepsy (ILAE, 1989) 5 , definiu-se<br />

como epilepsia em remissão com tratamento, o período<br />

em que o paciente permanecia sem crises durante<br />

um intervalo igual ou superior a dois anos.<br />

De posse dessas informações, pôde-se<br />

estabelecer a proporção dos doentes em remissão<br />

frente ao número total de portadores da patologia,<br />

totalizando um grupo de 29 pacientes, o que<br />

original<br />

permitiu a mensuração, no período estudado, de sua<br />

prevalência e a demonstração de alguns aspectos do<br />

seu perfil clínico-epidemiológico.<br />

Com base, então, nesse grupo de pacientes, realizou-se<br />

uma busca ativa dos seus respectivos prontuários<br />

no Departamento de Arquivo Médico e Estatístico<br />

do HOL almejando-se, com isso, obter acesso<br />

às seguintes informações clínico-epidemiológicas:<br />

a) Sexo;<br />

b) Tempo de doença até iniciar o tratamento<br />

(“Lost Time”). Foi considerado como o período<br />

compreendido entre o relato da crise inicial e a instituição<br />

da primeira terapêutica com DAE;<br />

c) Idade de início das crises;<br />

d) Idade atual;<br />

e) Tempo de tratamento. Referiu-se ao período<br />

compreendido entre a instituição da primeira DAE<br />

até o esquema medicamentoso utilizado nos dias<br />

atuais, sendo que, naturalmente, o tempo mínimo de<br />

tratamento era de dois anos, pois, caso contrário, os<br />

pacientes não poderiam ser considerados como em<br />

remissão de acordo com os critérios adotados para<br />

tal no presente estudo;<br />

f) Período livre de crises ou tempo sem crises.<br />

É o espaço de tempo compreendido entre a última<br />

crise apresentada pelo paciente já em tratamento medicamentoso<br />

até o momento da coleta dos dados;<br />

g) Tipo de epilepsia e tipo de crises. Foram<br />

classificados seguindo a nomenclatura determinada<br />

segundo a ILAE (1989) 5 : Tipo de epilepsia: Idiopática,<br />

Criptogenética, Secundária. Tipo de crises<br />

convulsivas: Parciais ou focais, Simples (CPS),<br />

Complexas (CPC), Secundariamente generalizadas;<br />

Generalizadas: Tônico-clônica (CTCG), Ausência,<br />

Ausência atípica; Mioclônicas, Tônicas, Clônicas,<br />

Atônicas; Não classificáveis;<br />

h) Esquema terapêutico e tipo de DAE em<br />

uso. Corresponderam ao(s) último(s) utilizado(s),<br />

após os quais, as crises foram controladas. Em vista<br />

disso, para a primeira variável definiram-se duas<br />

possibilidades: mono ou politerapia; para a segunda,<br />

especificou-se, por extenso, a(s) DAE empregada(s).<br />

Ambas variáveis levaram em consideração a nomenclatura<br />

e a padronização na conduta terapêutica utilizada<br />

pelo Consenso Brasileiro dos Especialistas em<br />

Epilepsia (2003) 6 ;<br />

i) Padrões EEG: para a caracterização dos<br />

EEG’s, utilizou-se o resultado do único exame do<br />

paciente ou, se possuísse vários, aquele no qual se<br />

observava, segundo a ILAE (1989) 5 , alterações específicas<br />

dos respectivos tipos de crise. Caso houvesse<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:135–140 136


original<br />

mais de uma alteração específica, registrava-se aquela<br />

com maior potencial localizatório anatômico. A<br />

partir daí, os EEG’s foram subclassificados em: 1)<br />

anormalidades da atividade de base (AAB): anormalidades<br />

presentes na maior parte do registro, de<br />

forma contínua ou quase-contínua, não ocorrendo<br />

de forma transitória; 2) anormalidades paroxísticas<br />

inespecíficas (APIn): grafo-elementos em forma de<br />

surtos de ondas lentas focais ou difusas (theta ou delta),<br />

períodos mais ou menos prolongados de atenuação<br />

focal ou difusa da atividade elétrica cerebral,<br />

paroxismos 14-6 , etc, que não podem ser consideradas<br />

definidamente “epileptiformes” ou “epilépticas”,<br />

podendo, portanto, ocorrer em circunstâncias outras<br />

que não a epilepsia; 3) anormalidades paroxísticas irritativas<br />

(APIrr): são os surtos de espículas ou pontas,<br />

ondas agudas, complexos ponta-onda(P-O) a 3 Hz,<br />

poliponta-onda (PP-O), Onda aguda-onda lenta,<br />

etc; 4) anormalidades mistas (AM): ocorrem anormalidades<br />

de mais de um tipo dos descritos acima,<br />

tanto da atividade de base(AAB) como APIn e APIrr<br />

no mesmo registro; 5) normal.<br />

Os dados obtidos foram submetidos à análise<br />

estatística pelo teste qui-quadrado adotando-se como<br />

nível de significância 5%.<br />

O estudo foi realizado após aprovação de anteprojeto<br />

pelo Comitê de Ética da Universidade do<br />

Estado do Pará e aceite voluntário dos pacientes,<br />

através de termo de consentimento livre e esclarecido<br />

assinado pelos mesmos.<br />

RESULTADOS<br />

Dos 204 portadores de epilepsia em acompanhamento<br />

no HOL, encontrou-se um total de 29 pacientes<br />

(14,22%) com a doença em remissão no período<br />

do estudo. Destes, 16 eram do sexo masculino (55,17%)<br />

e 13 feminino (44,83%), sem diferença estatística.<br />

Analisando o tempo de doença até início do<br />

tratamento (lost time), a maioria dos pacientes encontrava-se<br />

no intervalo de 0-2 anos (19; 65,52%;),<br />

com p=0,0000 (Tabela 1).<br />

Tabela 1. Distribuição por tempo de doença até início de tratamento<br />

de pacientes portadores de epilepsia em remissão.<br />

Tempo de doença<br />

até o tratamento<br />

Número de Pacientes %<br />

0 a 2 19* 65.52<br />

>2 a 4 2 6.90<br />

>4 a 6 1 3.45<br />

>6 7 24.14<br />

TOTAL 29 100.00<br />

*p


Em relação à idade atual, mais da metade da<br />

casuística (58,62%) encontrava-se na faixa etária entre<br />

<strong>15</strong> a 29 anos, com p=0,0002 (Tabela 2). Proporção<br />

semelhante foi notada no que tange à idade de<br />

início das crises, onde 62,07% dos pacientes iniciaram<br />

o quadro da doença entre 10 a 19 anos, sendo<br />

p=0,0000 (Tabela 3).<br />

O tempo de tratamento dos pacientes em<br />

remissão concentrou-se no período de 4 a 6 anos<br />

(11;37,93%), seguido pelo período de 2 a 4 anos<br />

(6;20,96%), 6 a 8 anos (6;20,96%), 8 a 10 anos (1;<br />

3,45%) e acima de 10 anos (5; 17,24%). Notou-se<br />

um número mais expressivo de pacientes à medida<br />

que se aumentava o tempo de tratamento, sem, no<br />

entanto, ter sido demonstrada diferença estatística.<br />

No que diz respeito ao tempo sem crises, verificou-se<br />

a seguinte distribuição: até 2 anos – 1 paciente<br />

(3,45%); de 2 a 3 anos – 10 pacientes (34,48%); de<br />

3 a 4 anos – 11 pacientes (37,93%); acima de 4 anos<br />

– 7 pacientes (24,14%). Não se observou diferença<br />

estatística entre os intervalos.<br />

Mais de 2/3 dos pacientes apresentavam epilepsia<br />

idiopática (21; 72,41%), contra um percentual<br />

inferior de criptogenéticas (7;24,14%) e secundárias<br />

(1; 3,45%), havendo significância estatística<br />

(p=0,0000).<br />

No que tange ao tipo de crise (Tabela 4), a mais<br />

comumente encontrada nos pacientes em remissão<br />

foi a do tipo generalizada tônico-clônico (46,88%),<br />

com p significante (p=0,0000).<br />

Abordando a terapêutica empregada, 23 pacientes<br />

(79,31%) utilizavam o esquema de monoterapia.<br />

A DAE mais utilizada foi a carbamazepina<br />

(Tabela 5).<br />

Após análise dos padrões eletroencefalográficos,<br />

verificou-se que a maioria dos EEG’s (48,28%),<br />

apresentava traçado normal, com significância estatística<br />

(p=0,0035). Os demais pacientes tinham alterações<br />

assim distribuídas: 17,24% (5), AM; 17,24%<br />

(5), APIrr; 10,34% (3), APIn; e 6,9% (2),AAB.<br />

DISCUSSÃO<br />

Os dados de prevalência das epilepsias são<br />

muito variáveis, especialmente daquelas em remissão.<br />

Essas variações são explicadas tanto pelas dificuldades<br />

metodológicas, que vão desde as definições<br />

adotadas para a doença até a fonte de obtenção dos<br />

dados, quanto pelas características individuais dos<br />

pacientes estudados 4 . No presente estudo, encontrou-se<br />

um percentual baixo de pacientes em remissão<br />

quando comparado com estatísticas de outros<br />

original<br />

serviços, como a publicada em 1984, onde ao final<br />

de dois anos de tratamento, 35% dos pacientes encontravam-se<br />

em remissão 7 .<br />

Tal diferença, analisada isoladamente, pode<br />

dever-se ao contexto sócio-econômico e cultural<br />

divergentes, já que nos países em desenvolvimento,<br />

como é o caso do Brasil, o pouco acesso às informações<br />

aliado ao baixo nível de escolaridade de uma<br />

significativa parcela da sociedade, além da inoperância<br />

dos setores governamentais, ajudam a comprometer<br />

o adequado tratamento, seja por desleixo dos<br />

pacientes em utilizar a posologia correta dos medicamentos,<br />

seja pela escassez e/ou má distribuição dos<br />

mesmos no sistema público de saúde.<br />

Os estudos de Rochester, padrão de vários ensaios<br />

neuroepidemiológicos, apontam para a tendência<br />

masculina de apresentar epilepsias sintomáticas,<br />

criptogenéticas e idiopáticas 2 . Apesar disso, essa variável<br />

não é significante quando se fala de recorrência<br />

de crises e remissão 8 .<br />

A presente casuística também verificou que<br />

não houve diferença significante entre os sexos, logo<br />

o gênero do paciente não foi determinante para se<br />

alcançar a remissão.<br />

No que diz respeito ao tempo de doença até<br />

iniciar o tratamento, sua importância reside no fato<br />

de que, quanto maior o tempo transcorrido desde a<br />

primeira crise até a instituição do tratamento, menor<br />

será a chance de remissão 8 . Em média, 70% dos<br />

pacientes com diagnóstico e tratamento recentes, encontram-se<br />

com crises controladas 9 . Paralelamente a<br />

isso, o presente estudo demonstrou que, a maioria<br />

dos pacientes em remissão começou sua terapêutica,<br />

após a crise inicial, num intervalo de tempo inferior<br />

a dois anos.<br />

Considera-se que contribua para este achado<br />

a teoria do Kindling ou “Abrasamento” 10 , uma vez<br />

que quanto mais precoce se inicia o tratamento, menor<br />

deve ser o número de crises e, portanto, menor<br />

a possibilidade de estimulação elétrica repetida em<br />

diferentes regiões cerebrais, aumentando assim, a<br />

chance de remissão.<br />

Com relação à idade do início das crises,<br />

sabe-se que a mesma constitui um importante fator<br />

prognóstico 11,12 . Além disso, dependendo da etiologia<br />

e do tipo de crises convulsivas, a probabilidade<br />

de remissão é maior nos indivíduos que manifestam<br />

epilepsia entre os quatro e 12 anos de idade 8 , enquanto<br />

que ter iniciado a doença com idade média<br />

de 26,44 anos, relaciona-se com um maior tempo<br />

livre de crises 9 .<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:135–140 138


original<br />

Verificou-se que na população observada<br />

houve uma maior prevalência de remissão, estatisticamente<br />

significante, nos indivíduos com crises iniciadas<br />

entre dez e 19 anos. Supõe-se, portanto, que<br />

os mesmos provavelmente não devem ser portadores<br />

de desordens genéticas, mal formações congênitas<br />

ou patologias cerebrais adquiridas, uma vez que<br />

essas condições desencadeariam, mais comumente,<br />

crises na lactância ou senilidade, cursando com um<br />

pior prognóstico. Dessa forma, por terem “adoecido”<br />

fora desses extremos de idade e considerando a<br />

possibilidade de um tratamento e controle precoce,<br />

os mesmos apresentaram maiores taxas de remissão.<br />

Talvez por isso, a idade atual da maioria dos<br />

pacientes da presente casuística está compreendida<br />

entre <strong>15</strong> e 29 anos, contribuindo assim, para reforçar<br />

a máxima de que quanto menor o número de crises,<br />

maior a chance de remissão 8 .<br />

Quanto maior o tempo de tratamento maior<br />

a chance de se alcançar a remissão: 35% em 2 anos;<br />

57% em 3 anos, 73% em 4 anos; 79% em 5 anos; e<br />

82% em 8 anos 7 . No presente estudo a maioria dos<br />

pacientes encontrava-se em tratamento com DAE<br />

por um período entre quatro e seis anos.<br />

É possível que isso seja o reflexo da população<br />

estudada, a qual em geral é jovem, com uma etiologia<br />

favorável e com diagnóstico e início de tratamento<br />

precoces, por isso necessitando de um menor<br />

tempo de terapia para alcançar a remissão.<br />

Um maior intervalo livre de crises implica em<br />

uma menor recorrência após a retirada das DAE 8 :<br />

a probabilidade de controle completo das crises diminui<br />

pela metade quando as mesmas permanecem<br />

por mais de dois anos após o início do tratamento 7 ; e<br />

para 33%, se a remissão não for alcançada em cinco<br />

anos 11 .<br />

Em função disso, pode-se sugerir que, no presente<br />

trabalho, onde a maioria dos pacientes em remissão<br />

apresentava-se há mais de três anos livre de<br />

crises, deverá haver com a retirada das DAE, uma<br />

chance menor dos mesmos em apresentar recidiva.<br />

O prognóstico depende principalmente da<br />

etiologia. Sabe-se, por exemplo, que as idiopáticas,<br />

sejam generalizadas ou focais, têm melhor prognóstico<br />

com relação ao controle das crises 4,13 .<br />

De forma semelhante ao encontrado na literatura,<br />

foi constatado que a maior parte da presente<br />

casuística era composta por pacientes com epilepsia<br />

idiopática. Provavelmente esse percentual pode não<br />

refletir com exatidão a etiologia, uma vez que, alguns<br />

pacientes podem apresentar alterações corticais<br />

não detectáveis pelos métodos atuais, o que exigiria<br />

investigações mais sofisticadas e ainda não disponíveis<br />

para nossa realidade. É possível ainda que esses<br />

mesmos indivíduos tenham alterações genotípicas<br />

que determinariam crises primárias, fato que, se fosse<br />

comprovado, culminaria com a sua reclassificação<br />

como criptogenéticos.<br />

Em relação ao tipo de crises, sabe-se que as<br />

tônico-clônicas generalizadas têm um prognóstico<br />

relativamente melhor em relação às demais 12 . Isso<br />

pode ser facilmente compreendido partindo do princípio<br />

de que crises parciais, por exemplo, são mais<br />

frequentemente encontradas em associação a tumores<br />

e traumas cerebrais, fatores que reservam uma<br />

menor chance de remissão 13 .<br />

Levando-se em conta tais afirmações, e considerando<br />

que as mesmas possam estar reproduzidas<br />

na população estudada, notou-se que foi estatisticamente<br />

significante o percentual de pacientes com<br />

crises tônico-clônicas generalizadas em remissão.<br />

O esquema terapêutico utilizado também influencia<br />

o prognóstico. Quanto maior o número de<br />

drogas necessárias — e utilizadas — para controlar<br />

as crises, maior será a recidiva 14 . Assim, supõe-se<br />

que, a maior proporção de pacientes que se encontram<br />

em remissão devem pertencer ao grupo que faz<br />

uso de monoterapia.<br />

Da mesma forma, obteve-se na presente pesquisa<br />

um predomínio de pacientes em remissão fazendo<br />

uso de monoterapia, comprovando a tendência<br />

presumida anteriormente. É provável que essa<br />

relação seja decorrente da etiologia da epilepsia,<br />

uma vez que a politerapia costuma ser mais empregada,<br />

por exemplo, nas síndromes epiléticas graves e<br />

mal-formações congênitas cerebrais, condições que,<br />

provavelmente, poucos pacientes deste estudo apresentavam.<br />

Em monoterapia, a carbamazepina foi a DAE<br />

mais frequentemente utilizada pelos pacientes em<br />

remissão. De maneira simplista, isso seria esperado,<br />

haja vista que esse fármaco é considerado como uma<br />

das drogas de primeira linha para o tratamento de<br />

epilepsias idiopáticas, mais frequentes nesta casuística,<br />

além de ser distribuída gratuitamente pelo SUS,<br />

fato que, certamente, teve relevância na decisão da<br />

escolha da terapia, principalmente na população<br />

alvo deste estudo.<br />

Em aproximadamente 50% dos pacientes<br />

com epilepsia, um único EEG não irá mostrar anormalidade<br />

alguma e em 10% daqueles submetidos a<br />

múltipos exames, isso também será verdadeiro 1 .<br />

139<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:135–140


Apesar disso, este é um exame importante do<br />

ponto de vista prognóstico, uma vez que quando o<br />

mesmo encontra-se anormal antes do início do tratamento<br />

e não se altera até a retirada da droga, há<br />

uma maior probabilidade quanto à recidiva das crises,<br />

diminuindo, portanto, a chance de remissão 14 .<br />

Verificou-se, nesta pesquisa, que o número de<br />

pacientes em remissão com EEG normal era significante<br />

estatisticamente. Atribui-se a esse achado, o<br />

fato de que boa parte dos pacientes realizou apenas<br />

um EEG, geralmente em vigília ou sem estimulação<br />

adequada, deixando de se registrar, por isso, algumas<br />

anormalidades; ou simplesmente por a alteração não<br />

ser detectada pelo métodos de eletroencefalografia<br />

disponíveis atualmente nos centros de saúde que<br />

prestam serviço ao SUS.<br />

Em vista do apresentado, percebe-se que apesar<br />

dos estigmas e dos preconceitos que ainda castigam<br />

os pacientes portadores de epilepsia, trata-se de<br />

uma patologia potencialmente curável, com o tratamento<br />

adequado, desde que haja uma colaboração<br />

conjunta entre os pacientes, a família, o médico e<br />

as instituições, enfim, de todos aqueles que direta<br />

ou indiretamente estejam envolvidos no processo de<br />

saúde e doença.<br />

CONCLUSÃO<br />

A prevalência de pacientes em remissão foi<br />

baixa, quando comparada a serviços de referência,<br />

mas suficiente para demonstrar tratar-se de uma doença<br />

curável. Os pacientes iniciaram suas crises por<br />

volta da adolescência, sendo atualmente adultos jovens;<br />

Encontram-se em tratamento há mais de quatro<br />

anos, na grande maioria por epilesia idiopática com<br />

crises tônico-clônicas, estando em uso atualmente de<br />

original<br />

uma única droga, pricipalmente a carbamazepina e<br />

apresentando EEG normal. O início do tratamento,<br />

em geral, foi precoce, até dois anos após a primeira<br />

crise e, alcançaram até o momento, um tempo livre<br />

de crises superior a três anos.<br />

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British national general practice study of epilepsy, a prospective population-based<br />

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Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:135–140 140


evisão<br />

Doença de Parkinson e exercício físico<br />

Parkinson’s Disease and physical exercise<br />

Vanessa de Araújo Rubert 1 , Diogo Cunha dos Reis 2 , Audrey Cristine Esteves 3<br />

RESUMO<br />

A Doença de Parkinson (DP) é descrita como uma desordem<br />

neurodegenerativa que afeta a população idosa, a qual compromete<br />

os neurônios dopaminérgicos da substância negra, culminando<br />

no déficit de dopamina no corpo estriado influenciando<br />

na modulação do movimento. Entre os sintomas encontrados<br />

em pacientes com DP destacam-se: acinesia ou bradicinesia,<br />

rigidez, tremor de repouso, instabilidade postural, em alguns<br />

casos existe também comprometimento de ordem cognitiva,<br />

afetiva e autonômica. Sendo assim, pretende-se com este estudo<br />

verificar na literatura os benefícios do exercício físico (EF)<br />

para indivíduos com DP. Com este estudo, pôde-se observar que<br />

existem poucos trabalhos na literatura enfocando esta temática,<br />

mas parece haver uma tendência em acreditar que o exercício<br />

físico regular (aeróbico) é benéfico para pacientes com DP, pois<br />

reduz sintomas como a hipocinesia, bradicinesia, distúrbios da<br />

marcha, degeneração neuronal, sendo então reconhecido como<br />

uma ferramenta que auxilia a terapia medicamentosa.<br />

Unitermos: Doença de Parkinson. Exercício Físico. Transtornos<br />

Motores.<br />

Citação: Rubert VA, Reis DC, Esteves AC. Doença de Parkinson e<br />

exercício físico.<br />

SUMMARY<br />

The Parkinson’s disease (PD) is described as a neurodegenerative<br />

illness which affects the old aged population, which compromises<br />

the dopamine neurons of the substantia nigra, culminating<br />

in the dopamine deficit in the striated body - structures that are<br />

part of the Central Nervous System - influencing in the modulation<br />

of the movement. Among the symptoms found in the PD<br />

are distinguished: akinesia or bradikinesia, rigidity, rest tremor,<br />

postural instability, in some cases can also occur implication of<br />

cognitive order, affective and autonomic. In such case, it is intended<br />

with this study to verify in literature the benefits of the physical<br />

exercise (PE) for people with PD. With this study, it could<br />

be observed that there are few papers in the literature focusing<br />

this thematic, but it seems to have a trend in believing that the<br />

regular physical exercise (aerobic exercise) is well accepted for<br />

patients with DP and being recognized as an auxiliary mean to<br />

traditional therapies (withmedication).<br />

Keywords: Parkinson Disease. Exercise. Movement Disorders.<br />

Citation: Rubert VA, Reis DC, Esteves AC. Parkinson’s Disease andphysical<br />

exercise.<br />

Trabalho realizado no Centro de Desportos da Universidade<br />

Federal de Santa Catarina-UFSC.<br />

1. EducadoraFísica, Especialista em Cinesiologia, Pesquisadora do<br />

Laboratório de Biomecânica, – Centro de Desportos, UFSC.<br />

2. Educador Físico – Mestrando em Educação Física – Laboratório de<br />

Biomecânica – Centro de Desportos – UFSC.<br />

3. Educadora Física, Mestre em Ciência do Movimento Humano,<br />

Pesquisadora do Laboratório de Biomecânica, Centro de Desportos,<br />

UFSC.<br />

Endereço para correspondência:<br />

Diogo Cunha dos Reis<br />

Laboratório de Biomecânica – Centro de Desportos – Universidade<br />

Federal de Santa Catarina – Campus Universitário – Trindade – CEP<br />

88040-900 – Florianópolis – SC – Brasil.<br />

Fone: (48) 3721 8530<br />

E-mail: diogo.biomecanica@gmail.com<br />

Recebido em: 10/03/06<br />

Revisão: 11/03/06 a 05/09/06<br />

Aceito em: 06/09/06<br />

Conflito de interesses: não<br />

141<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:141–146


INTRODUÇÃO<br />

A doença de Parkinson (DP) é uma doença<br />

degenerativa do sistema nervoso central, com implicações<br />

profundas para o indivíduo, causando principalmente<br />

déficits nas funções motoras, mas também<br />

poderá ser responsável por outras manifestações sistêmicas<br />

associadas e nas funções autônomas 1,2 .<br />

A DP está entre as doenças neuro-degenerativas<br />

de maior incidência em pessoas idosas 3 . Aproximadamente,<br />

0,1% da população geral e 1% da<br />

população acima de 65 anos é acometida por essa<br />

síndrome, sendo deste apenas um pequeno número<br />

de pessoas sofrem de demências 4,5 .<br />

A DP foi descrita pela primeira vez em 1817,<br />

por James Parkinson. Através de observações e exames<br />

clínicos, Parkinson descreveu sintomas que são<br />

até a atualidade aceitos como as principais manifestações<br />

da DP: tremor, rigidez muscular, acinesia,<br />

anomalias posturais e anormalidades na marcha 1 .<br />

Conforme o autor citado, a etiologia do Parkinson<br />

tem sido controversa, associa-se à genética,<br />

ao estresse, exposição a ambientes tóxicos e infecciosos.<br />

Há uma tendência em acreditar que a morte do<br />

tecido neural é causada pelo estresse oxidativo, devido<br />

à redução de glutation, um sistema antioxidante<br />

importante capaz de neutralizar os radicais livres,<br />

mesmo assim, por enquanto não se tem uma causa<br />

definida para essa degeneração 6 .<br />

Em exames neurológicos podem ser observadas<br />

perdas extensas de células do mesencéfalo,<br />

conhecidas como substância negra pars compacta<br />

(SNc) 3,7 . Esta diminuição celular leva a crer que a<br />

DP é causada por um colapso na comunicação entre<br />

a SNc e o striatum, dessa sinapse resulta a liberação<br />

de dopamina 3 . A perda de neurônios da SNc causa<br />

um esgotamento de dopamina nos gânglios de base o<br />

que causa alterações na elaboração de acetilcolina 1,8 .<br />

A deficiência de dopamina produz um grave efeito<br />

no sistema extrapiramidal resultando em déficits na<br />

coordenação muscular e nas atividades musculares,<br />

com isso resultando em problemas na manutenção<br />

da postura, alterações na marcha, coordenação fina,<br />

enrijecimento muscular e outros 9-12 .<br />

Devido à progressão da DP, em 1967, Hoehn<br />

e Yahr classificaram-na em estágios, que representam<br />

o grau de dificuldade do paciente, variando de<br />

I a V. Estágio I: sinais e sintomas em um lado do<br />

corpo, leves e inconvenientes, porém não incapacitantes,<br />

usualmente presença de tremor em um membro;<br />

estágio II: sintomas bilaterais, disfunção mínima,<br />

comprometimento da postura e marcha; estágio<br />

revisão<br />

III: lentidão significativa dos movimentos corporais,<br />

disfunção do equilíbrio de marcha e ortostático, disfunção<br />

generalizada moderadamente grave, estágio<br />

IV e V: sintomas graves, locomove-se por uma distância<br />

limitada, rigidez e bradicinesia, perda total<br />

da independência, respostas imprecisas a levodopa e<br />

doenças neuropsiquiátricas 13 .<br />

A Levodopa é a principal droga utilizada para<br />

a DP, entretanto esse tratamento tem inúmeras desvantagens,<br />

pois ela não contém a progressão da doença,<br />

apenas ameniza os sintomas. No decorrer do<br />

tratamento a droga perde sua eficácia e muitos efeitos<br />

colaterais sérios podem ocorrer tal como a acinesia,<br />

sintomas de psicoses, aumento do tempo na fase<br />

sem medicamento, hipocinesia e outros sintomas.<br />

Considerando esses efeitos, pondera-se a hipótese<br />

que a prática regular de exercícios físicos (EF)<br />

poderá beneficiar as pessoas acometidas pelo Parkinson,<br />

se não responsável pela cura, mas tendo papel<br />

importante para amenizar ou retardar o aparecimento<br />

dos sintomas e garantir alguma independência<br />

para os parkinsonianos.<br />

Assim, pretende-se com este estudo verificar<br />

os efeitos do exercício físico para portadores de DP,<br />

por meio de revisão bibliográfica.<br />

MÉTODO<br />

As fontes de dados pesquisadas consistiram-se<br />

basicamente de artigos científicos publicados em periódicos<br />

internacionais disponíveis on-line no portal<br />

Periódicos da Capes (http://www.periodicos.capes.<br />

gov.br), no qual foram pesquisadas as seguintes palavras-chave:<br />

Doença de Parkinson e exercício físico.<br />

As consultas se limitaram à produção científica dos<br />

últimos dez anos, publicadas nos idiomas português<br />

e inglês.<br />

Os dados foram comparados com a intenção<br />

de verificar as tendências dos estudos bem como os<br />

resultados reportados por estes em relação à adoção<br />

de programas de exercícios físicos em pacientes com<br />

DP em diversos estágios.<br />

Procurou-se dar ênfase nas discussões sobre as<br />

alterações das respostas sintomáticas do quadro clínico<br />

do paciente durante o período de realização das<br />

atividades físicas bem como a melhoria da qualidade<br />

de vida do paciente.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Na Tabela 1 encontram-se especificados os artigos<br />

utilizados na discussão da dos efeitos do EF nos portadores<br />

da DP, acompanhados por uma breve descrição destes.<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:141–146 142


evisão<br />

Tabela 1. Descrição dos estudos encontrados que tratam dos efeitos dos exercícios físicos nos portadores da Doença de Parkinson.<br />

AUTOR, ANO NÚMERO DE PACIENTES DESCRIÇÃO DO ESTUDO CONCLUSÕES<br />

Canning et al, 1997 19<br />

Lökk, 2000 13<br />

Miyai et al, 2000 <strong>15</strong><br />

Miyai et al, 2002 16<br />

Hirsch et al, 2003 18<br />

Pohl et al, 2003 17<br />

Smith e Zigmond,<br />

200314.<br />

Sutoo e Akiyama,<br />

200320.<br />

13 homens e 3 mulheres<br />

portadores da DP.<br />

11 homens e 8 mulheres<br />

portadores da DP.<br />

5 homens e 5 mulheres portadores<br />

da DP.<br />

12 homens e 12 mulheres<br />

portadores da DP.<br />

<strong>15</strong> portadores da DP.<br />

12 homens e 5 mulheres<br />

portadores da DP.<br />

Revisão.<br />

Revisão.<br />

Avaliação do Vo2 máximo, função respiratória<br />

e marcha em portadores da DP<br />

moderadamente ativos e sedentários.<br />

Efeitos de uma semana de caminhada<br />

em terreno montanhoso nas capacidades<br />

funcionais.<br />

4 semanas de treinamento de marcha<br />

em esteira, apoiando frações progressivas<br />

do peso corporal.<br />

Comparação dos efeitos da fisioterapia<br />

tradicional com um método de treinamento<br />

da marcha em esteira, apoiando<br />

frações progressivas do peso corporal,<br />

após um mês de intervenção.<br />

Comparação dos efeitos de um programa<br />

de treinamento de equilíbrio e um<br />

programa combinando equilíbrio e resistência<br />

muscular de membros inferiores,<br />

após 10 semanas de intervenção.<br />

Comparação dos efeitos de um treinamento<br />

de marcha em esteira com<br />

apoio progressivo do peso do corpo com<br />

o método de reabilitação da marcha<br />

através da facilitação neuromuscular<br />

proprioceptiva, após 4 dias de intervenção<br />

controlada.<br />

Revisão de estudos sobre os resultados<br />

dos exercícios físicos sobre a recuperação<br />

funcional do cérebro.<br />

Revisão de estudos sobre os efeitos dos<br />

exercícios físicos nos sintomas da DP.<br />

Portadores da DP sedentários apresentaram níveis<br />

de Vo2 máximo abaixo dos moderadamente<br />

ativos e dos não portadores, demonstrando<br />

que em indivíduos com leve a moderada DP os<br />

exercícios aeróbicos regulares mantém normal<br />

sua capacidade cardiovascular apesar do déficit<br />

neurológico.<br />

São registradas melhoras gerais nos pacientes<br />

ao fim da semana de treinamento, porém estas<br />

não são mantidas após 18 semanas.<br />

Observaram-se melhorias significativas para a<br />

performance motora, para a deambulação e<br />

para as atividades da vida diária (AVD). Resultados<br />

melhores que os da fisioterapia comum.<br />

O treinamento da marcha apresentou efeitos<br />

maiores e mais duradouros (se estendendo por<br />

até três meses após a interrupção das intervenções)<br />

para a velocidade da marcha e a cadência.<br />

Ambos os tipos de treinamento melhoraram<br />

o equilíbrio e aumentaram os níveis de força<br />

muscular localizada, porém os ganhos foram<br />

maiores para o programa combinado. Esses<br />

ganhos persistiram durante pelo menos 4<br />

semanas.<br />

Observou-se uma melhora significativa na<br />

velocidade e comprimento do passo depois do<br />

treinamento da marcha na esteira, mostrando<br />

uma redução relevante na fase de duplo apoio<br />

da marcha e nenhuma mudança significativa<br />

depois do FNP tradicional.<br />

A atividade física pode funcionar reduzindo<br />

a degeneração de neurônios dopaminérgicos<br />

e o desenvolvimento dos sintomas da DP nos<br />

pacientes.<br />

Alguns sintomas da DP podem ser melhorados<br />

através de exercícios físicos.<br />

Foram encontrados poucos estudos que façam<br />

uma relação direta entre o EF e a DP, contudo observou-se<br />

uma tendência em acreditar que o EF é capaz<br />

de amenizar os efeitos do desuso assim como alguns<br />

sintomas da doença (hipocinesia, bradicinesia, distúrbios<br />

da marcha, degeneração neuronal).<br />

No início do quadro de Parkinson a atividade<br />

física pode funcionar reduzindo a degeneração de<br />

neurônios dopaminérgicos e o desenvolvimento dos<br />

sintomas da DP nos pacientes 14 . Logo no inicio do desenvolvimento<br />

da doença, pacientes podem aprender<br />

a realizar estratégias de comportamento alternativas<br />

que irão conduzir para menor comprometimento do<br />

sistema motor, mudança essa que é freqüentemente observada<br />

em modelos animais, que ao serem forçados a<br />

utilizar o membro com características iniciais da doença,<br />

apresentaram evolução mais lenta dos sintomas.<br />

Em um estudo, foram testados 10 pacientes<br />

com DP por quatro semanas com o objetivo de<br />

comparar os efeitos da fisioterapia convencional<br />

com um treinamento de caminhada apoiando frações<br />

progressivas (treadmill) do peso do corpo <strong>15</strong> . Os<br />

autores sugerem que seções de 45 minutos três vezes<br />

por semana de caminhadas com a sustentação<br />

parcial do peso do corpo, além de ser um trabalho<br />

aeróbico para essas pessoas, apresentam melhoras<br />

significativas para a amplitude e velocidade da passada,<br />

qualidades essas que agem na melhoria e estabilidade<br />

da marcha. Assim, para pessoas com DP o<br />

treinamento de passadas com apoio parcial do peso<br />

do corpo, produz mais melhorias significativas para<br />

a performance motora, para a deambulação e para<br />

as atividades da vida diária (AVD) que a fisioterapia<br />

comum.<br />

143<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:141–146


Em outro, comparando a fisioterapia tradicional<br />

com este outro método, foi verificado que esse<br />

tipo de atividade tem um efeito duradouro na marcha<br />

dos pacientes com Parkinson agindo principalmente<br />

sobre o arrastar dos pés característicos desses<br />

pacientes e no número de passos 16 . Os autores ainda<br />

sugerem que essa prática aumenta o tempo de ação<br />

do medicamento.<br />

O treadmill tem sido uma promissora terapia no<br />

processo de reabilitação de pacientes com anomalias<br />

na marcha e mais recentemente tem sido utilizado<br />

em pacientes com DP e resultando em melhoras nos<br />

parâmetros de marcha maiores que as terapias convencionais<br />

17 .<br />

Os autores citam ainda que técnicas recentes<br />

de reabilitação de problemas neurológicos começam<br />

a incluir exercícios aeróbios e circuit training no tratamento<br />

dessas pessoas. A prática de atividades físicas<br />

tem ocasionado alguns benefícios motores para indivíduos<br />

com DP, embora seja percebida um pouco<br />

mais devagar que em indivíduos saudáveis 17 .<br />

Em um estudo com 17 pacientes portadores<br />

da DP, comparam os efeitos do treadmill com apoio<br />

progressivo do peso do corpo com o método convencional<br />

de tratamento de distúrbios da marcha através<br />

de facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP)<br />

e uma intervenção controle 17 . Neste estudo é comprovada<br />

uma melhora significativa na velocidade e<br />

comprimento do passo depois do treadmill, mostrando<br />

uma redução relevante na fase de duplo apoio<br />

da marcha e nenhuma mudança significativa depois<br />

do FNP tradicional ou no grupo controle. Demonstrando<br />

com isso que esta atividade física pode ser um<br />

fator importante para evolução da marcha.<br />

Em um trabalho com <strong>15</strong> pessoas com Doença<br />

de Parkinson, foram averiguados os efeitos de um<br />

treinamento com sobrecarga no equilíbrio e na resistência<br />

muscular, encontram efeitos positivos, destacando<br />

aumento da latência antes da queda em <strong>15</strong>%,<br />

redução em 20% a incidência de quedas, efeitos<br />

esses que permaneceram inalterados por ao menos<br />

4 semanas depois do término do treinamento 18 . O<br />

treinamento ainda melhorou a capacidade de manter<br />

o equilíbrio durante condições de instabilidade.<br />

A resistência muscular dos ísquios tibiais, quadríceps<br />

e gastrocnêmico aumentou, sendo este último o que<br />

mais apresentaram melhoras, esses músculos se mantiveram<br />

mais vigorosos que no início do treinamento,<br />

mesmo que os participantes não tendo se mantido<br />

em treinamento 18 . Os autores ainda destacam que<br />

revisão<br />

esses ganhos são importantes para conservar a capacidade<br />

funcional e prevenir lesões por quedas.<br />

Um estudo onde se submete pacientes de Parkinson<br />

a caminhadas diárias nas montanhas, registrou-se<br />

melhoras gerais nestes pacientes, portanto a<br />

integração de pacientes em programas de exercício<br />

de baixa a moderada intensidade é uma intervenção<br />

efetiva para reduzir o declínio das capacidades<br />

funcionais 13 . Este autor acredita que a recuperação<br />

da performance física e as capacidades orgânicas<br />

fortalecidas aumentam a autoconfiança e auto-suficiência<br />

do paciente ajudando na reintegração dele à<br />

sociedade.<br />

Em um estudo com indivíduos portadores<br />

da DP classificados como moderadamente ativos e<br />

sedentários, foi observado que os sedentários apresentavam<br />

níveis de VO2 máximo menores que indivíduos<br />

saudáveis da mesma faixa etária, enquanto<br />

que os moderadamente ativos alcançaram níveis<br />

de VO2 acima dos valores esperados como normal<br />

para pessoas com DP, mesmo assim continuavam<br />

apresentando a típica marcha do Parkinson (comprimento<br />

de passo reduzido e cadência elevada) 19 . Estes<br />

resultados, segundo os autores sugerem que aqueles<br />

indivíduos com leve a moderada DP se desempenhar<br />

exercícios aeróbicos regularmente mantém normal<br />

sua capacidade cardiovascular apesar do déficit neurológico,<br />

o que se torna importante visto que o principal<br />

para as pessoas com DP é a manutenção da<br />

qualidade de vida (QV).<br />

Outro ganho referido por pacientes com Parkinson,<br />

participantes de um programa de EF regular<br />

foi uma melhora significativa na memória recente,<br />

diminuição de náuseas e menor incontinência<br />

urinária e retenção de líquidos 20 .<br />

Exercícios modificam o funcionamento do cérebro,<br />

mas os mecanismos de como isso acontece ainda<br />

são desconhecidos, estudos sugerem que isso ocorre<br />

porque o EF intenso disponibiliza cerca de 7 a 18% a<br />

mais que o grupo controle (sem exercício), íons cálcio<br />

(Ca 2+ ) para o cérebro, essa oferta de Ca 2+ estimula a<br />

síntese de dopamina 20 . O nível de dopamina no neostriatum<br />

e núcleo caudado, em ratos submetidos a EF<br />

intenso por 120 minutos, estiveram respectivamente<br />

31% e 28% mais elevado que no grupo controle. A<br />

perda dopaminérgica no striatum é um dos maiores<br />

sintomas da DP e o tratamento mais freqüente é a<br />

reposição através do L-DOPA, o percussor imediato<br />

da dopamina. Assim sendo, alguns sintomas da DP<br />

podem ser retificados pelo EF 20 .<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:141–146 144


evisão<br />

Foram encontrados mais efeitos benéficos na<br />

combinação de EF e o programa de medicamentos<br />

do que com a terapia medicamentosa unicamente. E<br />

também aponta a AF como uma tendência de adaptação<br />

para tratamentos convencionais 13 .<br />

Observaram que o EF intenso provoca um pequeno,<br />

no entanto significativo aumento do GDNF<br />

no striatum, hormônio esse que tem sido especulado<br />

como “fator de sobrevivência”, ou seja, tem papel<br />

protetor contra substâncias danosas aos neurônios<br />

dopaminérgicos 14 . Na presença dele os neurônios<br />

dopaminérgicos aumentam de tamanho e apresentam<br />

processos mais longos formando uma rede mais<br />

densa de dendritos e axônios que células não expostas<br />

ao fator.<br />

O treinamento e a reabilitação com o uso de<br />

sobrecarga podem estimular uma plasticidade no<br />

cérebro e na medula espinhal e até mesmo a neurogêneses,<br />

melhorando os resultados do comportamento,<br />

assim como, o treinamento sensório motor<br />

intenso parece funcionar de maneira “neuroprotetora”,<br />

durante o processo de degeneração lenta dos<br />

neurônios da SNc 18 .<br />

As evidências sugerem que reparos a danos<br />

no cérebro podem ser promovidos através de uma<br />

variedade de experiências incluindo a atividade<br />

motora 14 .<br />

Pessoas com DP deveriam ser encorajadas<br />

a manterem-se ativas, principalmente para o desempenho<br />

de atividades aeróbicas buscando assegurar<br />

a capacidade de realizar algumas tarefas 19 .<br />

Estes mesmos autores observam que os indivíduos<br />

com DP decrescem seu nível de AF significativamente<br />

mais rápido do que pessoas não doentes da<br />

mesma idade, provavelmente em virtude dos problemas<br />

motores como a acinesia e as dificuldades<br />

na marcha e outros, no entanto os que se mantém<br />

fisicamente ativos permanecem por mais tempo independentes.<br />

De maneira geral pode-se dizer que o EF não<br />

cura o paciente com Parkinson, mas evita o agravamento<br />

de uma série de sintomas que dificultam a sua<br />

vida, como: diminuição do torque articular, através<br />

da redução do tônus e da resistência muscular; redução<br />

da incapacidade de realizar algumas tarefas<br />

devido a rigidez muscular e a acinesia podendo melhorar<br />

a coordenação motora afetada pelo tremor<br />

parkinsoniano; recuperação muscular; amenizar disfunções<br />

na marcha e no equilíbrio; aliviar os efeitos<br />

da bradicinesia; manter a independência funcional<br />

do indivíduo e reintegrá-lo a sociedade.<br />

Devido a escassez de estudos enfocando os<br />

efeitos dos EF na DP há a necessidade de realização<br />

de outros estudos enfocando os efeitos dos diferentes<br />

tipos de exercícios físicos (aeróbicos e anaeróbicos),<br />

na busca da ampliação dos conhecimentos a respeito<br />

de medidas terapêuticas opcionais aos indivíduos<br />

que desejam amenizar os efeitos/sintomas da DP.<br />

CONCLUSÕES<br />

Parece haver uma tendência em acreditar que<br />

o exercício físico regular, principalmente o aeróbico,<br />

é benéfico para pacientes com DP, pois reduz sintomas<br />

como a hipocinesia, bradicinesia, distúrbios da<br />

marcha, degeneração neuronal, sendo então reconhecido<br />

como um meio auxiliar às terapias tradicionais<br />

(medicamentosa).<br />

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145<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:141–146


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Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:141–146 146


evisão<br />

Acupuntura na Doença de Parkinson:<br />

revisão de estudos experimentais e clínicos<br />

Acupuncture in Parkinson Disease: experimental and clinical trials review<br />

Fernando Cesar Iwamoto Marcucci 1<br />

RESUMO<br />

Introdução. A Doença de Parkinson (DP) é uma das doenças neurodegenerativas<br />

mais comuns na população adulta. Os tratamentos<br />

baseados na medicina ocidental, apesar de progredirem muito<br />

nos últimos anos, não são capazes de impedir seu avanço e seus<br />

sintomas. Recentemente houve um maior interesse pela Medicina<br />

Tradicional Chinesa (MTC) no meio científico e na população em<br />

geral, e especula-se que ela possa ter propriedades terapêuticas<br />

nas doenças neurodegenerativas. Objetivo. descrever resultados<br />

clínicos e experimentais de estudos que analisaram os efeitos da<br />

acupuntura na DP. Método. revisão literária narrativa. Discussão.<br />

Estudos experimentais indicam efeitos benéficos da acupuntura<br />

na DP, como neuroproteção, estímulo neurotrófico, proteção imunológica<br />

e modulação da função de neurotransmissores. Estudos<br />

clínicos indicam potenciais benefícios da acupuntura principalmente<br />

na motricidade, no sono, na qualidade de vida e nos efeitos<br />

colaterais dos medicamentos. Conclusão. apesar de faltar dados<br />

conclusivos sobre a efetividade da acupuntura na DP, e principalmente<br />

sobre os mecanismos fisiológicos subjacentes aos seus<br />

efeitos terapêuticos, sua utilização pode ser considerada na complementação<br />

do tratamento ocidental.<br />

Unitermos: Terapia por Acupuntura. Doença de Parkinson.<br />

Doenças Neurodegenerativas.<br />

Citação: Marcucci FCI. Acupuntura na Doença de Parkinson: revisão<br />

de estudos experimentais e clínicos.<br />

SUMMARY<br />

Introduction. Parkinson’s Disease (PD) is one of the most common<br />

neurodegenerative diseases. Although clinical treatments<br />

based in western medicine have advanced in the last years, they<br />

are not capable to avoid the disease progression and its symptons.<br />

Recently, the interest in Traditional Chinese Medicine<br />

(TCM) has increased in scientific field and in general population,<br />

and it is cogitated that TCM has therapeutic properties in neurodegenerative<br />

diseases. Objective. To describe the main results<br />

of clinical and experimental trial which have analyzed the effects<br />

of acupuncture in PD. Method. Narrative literature review. Discussion.<br />

Experimental trials have indicated benefic effects of<br />

acupuncture in PD, like neuroprotection, neurotrofic stimulation,<br />

immunologic protection and neurotransmitters function<br />

modulation. Clinical trials have indicated potential benefits in<br />

motricity, sleep, quality of life and medication side effects. Conclusions.<br />

There is a lack of conclusive data about the acupuncture<br />

effectivity in PD, mainly about its physiologic mechanism<br />

under therapeutic effects. The use of acupuncture in PD can be<br />

considered as a complement in western treatment.<br />

Keywords: Acupuncture Therapy. Parkinson Disease. Neurodegenerative<br />

Diseases.<br />

Citation: Marcucci FCI Acupuncture in Parkinson Disease: experimental<br />

and clinical trials review.<br />

Endereço para correspondência:<br />

Fernando Cesar Iwamoto Marcucci<br />

Rua Javari, 116<br />

Londrina-PR,CEP 86025-500<br />

E-mail: fcim@msn.com<br />

Trabalho realizado na Universidade Estadual de Londrina.<br />

1. Especialista em Acupuntura, Mestrando em Ciências da Saúde pela<br />

Universidade Estadual de Londrina.<br />

Recebido em: 23/07/06<br />

Revisão: 24/07/03 a 22/10/06<br />

Aceito em: 23/10/06<br />

Conflito de interesses: não<br />

147<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:147–<strong>15</strong>2


INTRODUÇÃO<br />

A Doença de Parkinson (DP) é a segunda<br />

desordem neurodegenerativa mais comum na<br />

população adulta, atrás somente da Doença de<br />

Alzheimer, e afeta de 1 a 2% da população acima<br />

de 65 anos 1,2 . Sua patogenia provém da degeneração<br />

progressiva de neurônios dopaminérgicos,<br />

principalmente da Substância Nigra (SN), caracterizada<br />

clinicamente por diversos sintomas e sinais<br />

motores como tremor em repouso, diminuição<br />

de reflexos posturais, bradicinesia (lentidão<br />

de movimentos) e rigidez muscular 3,4 .<br />

Apesar dos avanços no conhecimento dos<br />

mecanismos fisiopatológicos da doença, o tratamento<br />

clínico ainda é limitado. Ainda não é possível<br />

impedir a evolução da doença, e os tratamentos<br />

medicamentosos são passíveis de efeitos<br />

colaterais que afetam a qualidade de vida dos pacientes,<br />

principalmente nas fases mais avançadas<br />

da doença.<br />

Nas últimas décadas houve um aumento<br />

no interesse pela Medicina Tradicional Chinesa<br />

(MTC) tanto nos meios científicos quanto<br />

na população em geral. Isto se deve, em parte,<br />

aos resultados de estudos sobre resultados clínicos<br />

dessa abordagem para diversas doenças, mas<br />

também devido às impossibilidades, e mesmo<br />

descontentamentos para com a medicina ocidental,<br />

caracterizada por um atendimento pouco<br />

individualizado e altamente fragmentado em<br />

diversas especialidades. Apesar das dificuldades<br />

de provar o seu valor terapêutico com suficiente<br />

rigor científico, o crescimento da demanda e<br />

da oferta de terapias alternativas (inclusive pelos<br />

serviços públicos) implica uma certa legitimação<br />

científica dessas práticas 5 .<br />

Nos Estados Unidos, cerca de 40% (n=201)<br />

dos pacientes com DP utilizam algum tipo de terapia<br />

alternativa, e 10% destes utilizaram a acupuntura<br />

e 58% não consultaram o médico responsável<br />

para iniciar o uso destas terapias 6 . Em<br />

Singapura, 61% de pacientes com DP (n=<strong>15</strong>9)<br />

utilizavam algum tipo de terapia complementar,<br />

sendo que 49% destes utilizavam acupuntura e<br />

somente 16% informaram ao médico responsável<br />

o uso de outra terapia 7 .<br />

Assim, como há poucas fontes literárias na<br />

língua portuguesa que concentram os dados relativos<br />

à DP, principalmente sob a ótica da MTC,<br />

objetivou-se com este estudo revisar os resultados<br />

de pesquisas experimentais e clínicas.<br />

revisão<br />

MÉTODO<br />

Realizou-se uma pesquisa literária, nas línguas<br />

portuguesa, espanhola e inglesa, durante o período<br />

entre janeiro a maio de 2005. Foram considerados<br />

como idôneos os trabalhos publicados em revistas<br />

indexadas existentes nos bancos de dados: Portal<br />

PERIÓDICOS da CAPES, MEDLine, LILACS,<br />

Biblioteca Cochrane e PEDro.<br />

Doença de Parkinson sob a perspectiva da<br />

Medicina Tradicional Chinesa<br />

Para relacionar uma doença específica diagnosticada<br />

por meio de conceitos ocidentais com uma<br />

disfunção análoga na MTC é necessário transpor<br />

alguns significados semânticos e conceituais que<br />

influenciam no tratamento. Enquanto na medicina<br />

ocidental busca-se uma causa para os sinais e sintomas,<br />

e o tratamento consiste em atuar na causa e<br />

nos sintomas, na MTC a doença é conseqüências de<br />

uma desarmonia interna ao indivíduo, entre o indivíduo<br />

e a natureza e entre o indivíduo e a sociedade,<br />

e busca-se o re-equilíbrio orgânico ao ambiente 8 .<br />

Nas sociedades ocidentais a acupuntura é<br />

tida como uma forma de medicina alternativa ou<br />

complementar. Estas terapias são definidas como intervenções<br />

que não são tradicionalmente ensinadas<br />

ou não são totalmente aceitas em locais de atenção<br />

à saúde. A acupuntura é uma terapia que envolve<br />

a estimulação de locais anatômicos específicos por<br />

agulhas metálicas, manipuladas manualmente ou<br />

eletricamente, ou outros métodos de estimulação,<br />

que incluem o moxabustão, a digitopressão, o laser<br />

ou eletrodos 9 .<br />

RESULTADOS<br />

Resultados clínicos da acupuntura na Doença<br />

de Parkinson<br />

Alguns estudos investigaram se há algum potencial<br />

benefício da acupuntura na DP. Os métodos<br />

de investigação destes estudos variam bastante, bem<br />

como os resultados. Shulman et al 10 realizaram um<br />

estudo não-controlado sobre os efeitos e tolerabilidade<br />

da acupuntura em 20 pacientes com DP. Os pacientes<br />

receberam entre 10 e 16 sessões durante 5 a<br />

8 semanas. Os pontos utilizados foram: IG4 (Hegu),<br />

VB34 (Yanglingquan), E36 (Zusanli), R3 (Taixi), R7<br />

(Fuliu), BP6 (Sanyinjiao), ID3 (Houxi), TA5 (Waiguan),<br />

acupuntura craniana na área da coréia-tremor.<br />

Não foram observados melhoras na deambulação,<br />

mobilidade e comportamento emocional. Em<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:147–<strong>15</strong>2 148


evisão<br />

contraste, 85% dos pacientes relataram alguma melhora<br />

subjetiva em pelo menos um dos seguintes sintomas:<br />

sono e descanso, tremor, escrita, depressão e<br />

bradicinesia. Aparentemente os pacientes que estiveram<br />

piores nas avaliações iniciais foram os que mais<br />

se beneficiaram da acupuntura. Não foram relatados<br />

efeitos colaterais.<br />

Em outro estudo, conduzido por Seki et al 11 ,<br />

verificou-se a influência da acupuntura num teste que<br />

avalia o risco de quedas e Índice de Barthel em idosos<br />

(n=27) com várias patologias, entre elas, acidente<br />

vascular encefálico (6) e Doença de Parkinson (3).<br />

Foram utilizados os pontos E36 (Zusanli), R3 (Taixi)<br />

e B23 (Shenshu). Após uma hora da terapia foi observada<br />

uma diminuição significativa do tempo no<br />

teste de risco de quedas, diferença não vista no grupo<br />

controle. Estes pacientes foram seguidos por um<br />

ano, sendo que o grupo de tratamento recebeu acupuntura<br />

uma vez por semana e o controle somente<br />

o tratamento padrão, sendo que após este período o<br />

grupo de intervenção manteve os índices no teste de<br />

risco de quedas, enquanto no grupo controle houve<br />

uma pequena piora no tempo de teste. No Índice de<br />

Barthel foi observada uma diminuição nos escores<br />

do grupo controle, e no grupo tratado por acupuntura<br />

foi constatado um aumento no escore.<br />

Cristian et al 12 realizaram um estudo piloto e<br />

randomizado em dois grupos, com 14 pacientes com<br />

DP. O grupo tratado recebeu cinco sessões de acupuntura<br />

nos pontos B60 (Kunlun), F3 (Taichong),<br />

E41 (Jiexi), E36 (Zusanli), VB-34 (Yanglingquan),<br />

pontos Bafeng, IG4 (Hegu), PC6 (Neiguan), VG20<br />

(Baihui) e eleroacupuntura com 4Hz por 20 minutos<br />

entre R3 (Taixi) e R10 (Yingu). O grupo controle recebeu<br />

agulhas inseridas logo abaixo da epiderme em<br />

locais onde não se localizam pontos de acupuntura,<br />

com estimulação elétrica semelhante nos pontos próximos<br />

aos estimulados no grupo de tratamento. O<br />

pesquisador que realizou a avaliação pós-tratamento<br />

não foi informado sobre quais grupos os pacientes<br />

pertenciam. Como resultados, não foram encontradas<br />

diferenças estatisticamente significantes nos<br />

escores de escalas de funcionalidade e motricidade.<br />

Os dados indicaram uma melhora nas atividades de<br />

vida diária, qualidade de vida, diminuição da náusea<br />

e diminuição de problemas com o sono no grupo tratado<br />

com acupuntura. Os autores referem com limitação<br />

do estudo o limitado número de participantes<br />

e a falta de individualização do tratamento. Apesar<br />

destes autores classificarem esta pesquisa como um<br />

estudo duplo-cego, esta classificação não é justificada<br />

já que aqueles que aplicavam a terapia por acupuntura<br />

eram terapeutas cientes da aplicação placebo.<br />

Ressalta-se que estudos com delineamento duplocego<br />

em acupuntura é de difícil aplicação, já que a<br />

colocação de agulhas por profissionais não treinados<br />

traz implicações éticas.<br />

Alguns estudos observacionais têm sido reportados<br />

na literatura chinesa, sugerindo melhora<br />

na progressão da doença e influenciando na<br />

ingestão e efeitos da medicação. Zhuang et al 13<br />

compararam dois grupos, sendo que um recebeu<br />

medicação padrão (levodopa) e outra medicação<br />

e acupuntura diária por três meses. Os resultados<br />

demonstraram redução na quantidade de medicamentos<br />

utilizados e redução dos efeitos colaterais<br />

como insônia, boca seca, constipação, distensão<br />

abdominal e transpiração. Lee et al 14 , realizaram<br />

um revisão sistemática de estudos controlados sobre<br />

os efeitos anti-náusea e anti-eméticos da estimulação<br />

do ponto Pe-6 (Neiguan) no período<br />

pós-operatório. Constatou-se uma redução significante<br />

dos riscos de náusea, vômito e da necessidade<br />

de medicação anti-emética, com mínimos efeitos<br />

colaterais decorrente da acupuntura. Apesar<br />

deste efeito anti-emético do ponto Pe-6 ser bem<br />

descrito na literatura, ainda é necessário investigar<br />

seus resultados específicos para pacientes com DP,<br />

já que o centro medular de vômito localizado na<br />

formação reticular do bulbo, não é protegido pela<br />

barreira hemato-encefálica o que o torna susceptível<br />

a atuação da levodopa, causando náuseas e<br />

vômitos. Atualmente o uso da carbidopa impede a<br />

conversão da levodopa em dopamina nesta região,<br />

diminuindo os efeitos colaterais <strong>15</strong> .<br />

Apesar de alguns estudos demonstrarem um<br />

possível benefício terapêutico, ainda não ficou evidente<br />

o quando de resultados clínicos podem ser<br />

esperados através da acupuntura. Para obter um<br />

maior fator de evidência os estudos devem incorporar<br />

metodologias mais rígidas e utilizar-se de<br />

uma amostra mais numerosa para adquirir poder<br />

estatístico. Para viabilizar a inserção da acupuntura<br />

no tratamento de pacientes com DP, os estudos<br />

também deveriam fazer a análise do custo-benefício<br />

envolvido neste processo.<br />

Uma das dificuldades de realizar estudos sobre<br />

os efeitos da acupuntura é a sua abordagem<br />

individualizada, o que impede comparações mais<br />

aprofundadas. Para isso, devem-se utilizar métodos<br />

de avaliação, clínica e laboratorial, padronizados<br />

para que os dados possam ser comparáveis.<br />

149<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:147–<strong>15</strong>2


Hipóteses de funcionamento da acupuntura na<br />

Doença de Parkinson<br />

A explicação dos benefícios da acupuntura nos<br />

pacientes com DP é buscada por vários estudos experimentais<br />

mais controlados. Yansong et al 16 avaliaram<br />

mudanças dos receptores de dopamina D2 em<br />

ratos com lesão estereotáxica unilateral na SN. Num<br />

grupo foram realizadas 7 sessões diárias de 30 minutos<br />

utilizando os pontos F3 (Taichong), BP6 (Sanyinjiao),<br />

E36 (Zusanli), VB34 (Yanglingquan) do lado<br />

lesionado, comparando-os com ratos lesionados sem<br />

tratamento. Analisando os dados de auto-radiografia<br />

para receptores tipo D2 e dos níveis de dopamina e<br />

seus metabólitos, verificou-se no grupo tratado a elevação<br />

da sensibilidade dos receptores de dopamina<br />

foi menor, e os níveis de dopamina e seus metabólitos<br />

foram maiores. Tais dados sugerem que a eletroacupuntura<br />

pode, experimentalmente, aumentar<br />

o conteúdo de dopamina e prevenir a sensibilização<br />

compensatória dos receptores tipo D2 na SN lesionada.<br />

Zhu et al 17 também encontraram aumentos<br />

na concentração de dopamina no núcleo caudado<br />

em ratos com DP experimental induzido por MPTP<br />

(1-metil-4-fenil-1,2,3,6-tetrahidropiridina) tratados<br />

com acupuntura, ervas chinesas e levodopa.<br />

Alguns estudos demonstram que a estimulação<br />

por acupuntura estimula a função cerebral, aumentando<br />

a circulação sanguínea de áreas específicas<br />

ou através de neurotransmissores. Chang et al 18<br />

verificaram a atividade locomotora em ratos normais<br />

antes e após a acupuntura do ponto VG-20 (Baihui),<br />

sem eletroestimulação. Esses observaram que após<br />

60 minutos de estimulação os ratos aumentaram a<br />

atividade motora em relação ao grupo placebo. Neste<br />

estudo verificou-se que ratos tratados previamente<br />

com α-metil-p-tirosina (AMPT) não tiveram o mesmo<br />

aumento da atividade motora. A AMPT inibe a<br />

enzima tirosina hidroxilase, diminuindo o conteúdo<br />

endógeno de catecolaminas, como a noraepinefrina<br />

e a dopamina. No entanto, ratos tratados previamente<br />

com deprenil tiveram um aumento significante<br />

na ação da acupuntura, sendo que o deprenil<br />

inibe a monoaminooxidade B, esta responsável pela<br />

degradação da dopamina. Sugerindo que a acupuntura<br />

pode ter um efeito benéfico nas doenças com<br />

comprometimento motor, atuando através de amina<br />

endógenas.<br />

Yano et al 19 observaram alterações os níveis de<br />

monoaminas cerebrais em ratos induzidos ao estresse<br />

por restrição. Em geral, a dopamina está diminuída<br />

nos núcleos da base nos momentos de distresse.<br />

revisão<br />

Neste estudo constatou-se que o uso de moxabustão<br />

e eletroterapia em pontos da lombar e posteriores da<br />

perna aumentou os níveis de dopamina na SN.<br />

Ma et al 20 investigaram os efeitos da eletroacupuntura<br />

(EAc) sobre o estresse oxidativo em 40 ratos<br />

lesionados unilateralmente com injeção de 6-hidroxidopamina<br />

na SN. Foi constatado que os ratos tratados<br />

melhoraram na função motora avaliada pela<br />

contagem rotações por minuto, de 10,44+1,01 para<br />

8,22+1,3 (p


evisão<br />

maior quantidade de neurônios vivos quando comparados<br />

com o grupo de baixa freqüência (2 Hz) e<br />

o controle. Liu et al 23 analisaram o efeito da EAc<br />

em ratos com DP induzida por axotomia estereotáxicas<br />

das vias aferentes dopaminérgicas nigroestriatais.<br />

Comparou-se o grupo controle lesionado sem<br />

intervenção com o grupo lesionado que recebeu<br />

EAc de 100 Hz por 30 minutos nos pontos DU-14<br />

(Dazhui) e DU-21 (Baihui) a partir do segundo dia<br />

pós-lesão. Uma parte dos grupos foi investigada com<br />

14 dias pós-lesão e outra com 28 dias. Os resultados<br />

demonstraram uma contagem significantemente<br />

maior de neurônios dopaminérgicos na SN no grupo<br />

de EAc, uma menor ativação da microglia com diminuição<br />

de 47% de células com atividade citofágica<br />

e diminuição significante da concentração mRNA<br />

para TNF-α (fator de necrose tumoral alfa) e IL-1<br />

(interleucina 1) na microglia do grupo tratado em<br />

comparação com os controles. Tais dados indicam<br />

uma possível capacidade antiinflamatória da EAc,<br />

possivelmente mediada por dinorfina, que seria benéfico<br />

para as doenças neurodegenerativas.<br />

Num estudo realizado por Luo et al 24 , verificou-se<br />

subpopulações de linfócitos T em modelos de<br />

DP causada por injeção de 6-OHDA, e verificaram<br />

uma diminuição nas porcentagens de células CD3,<br />

CD4 e CD8. Em grupos tratados com acupuntura,<br />

com medopa e combinados destas duas terapias<br />

constatou-se um aumento na porcentagem de células<br />

CD3 e CD8, sugerindo uma possível regulação<br />

na taxa de alguns subtipos celulares de linfócitos T.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

O acometimento dos neurônios dopaminérgicos,<br />

principalmente da SN, têm sido alvo de intensa<br />

investigação, entretanto, dentro da abrangência da<br />

medicina ocidental, ainda não é possível impedir a<br />

evolução da doença, e os tratamentos disponíveis são<br />

voltados para o controle dos sinais e dos sintomas<br />

característicos dos pacientes com DP. A utilização de<br />

métodos complementares para o tratamento da DP<br />

tem crescido muito, e são freqüentemente incorporadas<br />

ao tratamento padrão, tanto por profissionais da<br />

saúde quanto pelos próprios pacientes e cuidadores.<br />

Os benefícios terapêuticos constatados em alguns<br />

estudos indicam uma melhora dos sinais motores,<br />

a melhora do sono, a diminuição da dose medicamentosa<br />

e nos efeitos colaterais desta. No entanto,<br />

ainda faltam dados conclusivos sobre a efetividade<br />

da acupuntura na DP, e principalmente sobre os<br />

mecanismos fisiológicos subjacentes aos seus efeitos<br />

terapêuticos. Muitos dos estudos utilizaram número<br />

limitado de amostras ou foram realizados de forma<br />

experimental. E ainda não é possível verificar se os<br />

resultados encontrados nos estudos experimentais<br />

em animais são reprodutíveis em humanos.<br />

Apesar de haver poucos dados que possam<br />

estabelecer o uso sistemático da acupuntura no tratamento<br />

da DP, estes estudos indicam uma necessidade<br />

de esclarecer os mecanismos pelos quais uma<br />

estimulação periférica específica pode influenciar os<br />

comportamentos neuronais em doenças neurodegenerativas.<br />

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<strong>15</strong>1<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:147–<strong>15</strong>2


21. Park HIJ, Lim S, Joo WS, Yin CS, Lee HS, Lee HJ, et al. Acupuncture<br />

prevents 6-hydroxydopamine-induced neuronal death in the<br />

nigrostriatal dopaminergic system in the rat Parkinson’s disease model.<br />

Exp Neurol 2003;180(1):148–<strong>15</strong>7.<br />

22. Liang XB, Liu XY, Li FQ, Luo Y, Lu J, Zhang WM, et al. Longterm<br />

high-frequency electro-acupuncture stimulation prevents neuronal<br />

degeneration and up-regulates BDNF mRNA in the substantia nigra<br />

and ventral tegmental area following medial forebrain bundle axotomy.<br />

Mol Brain Res 2002;108(1-2):51-59.<br />

revisão<br />

23. Liu XY, Zhou HF, Pan YL, Liang XB, Niu DB, Xue B, et al. Electro-acupuncture<br />

stimulation protects dopaminergic neurons from inflammation-mediated<br />

damage in medial forebrain bundle-transected<br />

rats. Exp Neurol 2004;189(1):189-196.<br />

24. Luo ZD, Yin LH, Chen XH, Tang CZ, Lin JQ. Effect of acupuncture<br />

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disease. Chin J Clin Rehabil 2004;8(10):1904-1905.<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:147–<strong>15</strong>2 <strong>15</strong>2


evisão<br />

Principais instrumentos para a análise<br />

da marcha de pacientes com distrofia<br />

muscular de Duchenne<br />

Main instruments for the gait analysis used in patients with muscular dystrophy<br />

of Duchenne<br />

Melina Suemi Tanaka 1 , Andréa Luppi 1 , Edgard Morya 2 , Francis Meire Fávero 3 ,<br />

Sissy Veloso Fontes 4 , Acary Souza Bulle Oliveira 5<br />

RESUMO<br />

Introdução. Dentre as diversas doenças que comprometem a<br />

marcha, as neuromusculares são uma das principais, sendo a<br />

locomoção bastante acometida no grupo das distrofias musculares.<br />

Os pacientes com Distrofia Muscular de Duchenne (DMD)<br />

apresentam diversos comprometimentos motores, dentre eles alterações<br />

na marcha. Sendo assim, avaliar a marcha de maneira<br />

precisa é importante para analisar os efeitos reais das intervenções<br />

fisioterapêuticas aplicadas aos pacientes com DMD. Objetivo.<br />

O objetivo desse trabalho é identificar e caracterizar os<br />

principais instrumentos para a análise da marcha utilizados em<br />

pacientes com DMD. Método. Pesquisamos nas seguintes bases<br />

de dados MEDLINE, LILACS, SCIELO, PUBMED, SCIRUS,<br />

EMBASE e DEDALUS. Os termos utilizados na língua portuguesa<br />

foram marcha, locomoção, análise e distrofia muscular de<br />

Duchenne, e na língua inglesa foram: gait, walking, locomotion,<br />

analysis e Duchenne muscular dystrophy. Para a seleção dos artigos<br />

foram utilizados critérios de inclusão e exclusão. Resultados.<br />

Os resultados encontrados foram tabulados segundo número<br />

de pacientes, objetivos, instrumentos e recursos. Conclusão. Os<br />

14 instrumentos de análise da marcha encontrados são, em sua<br />

totalidade, caracterizados como cinemáticos, existindo apenas<br />

recursos que forneçam dados cinéticos.<br />

Unitermos: Marcha. Distrofia Muscular de Duchenne.<br />

Fisioterapia.<br />

Citação: Tanaka MS, Luppi A, Morya E, Fávero FM, Fontes SV,<br />

Oliveira ASB. Principais instrumentos para a análise da marcha de<br />

pacientes com distrofia muscular de Duchenne.<br />

SUMMARY<br />

Introduction. Among the several diseases that commit the gait,<br />

the neuromuscular are one of the main ones, being the locomotion<br />

plenty assault in the group of the muscular dystrofhy.<br />

The patients with muscular dystrophy of Duchenne (DMD)<br />

present several motor compromising, among them alterations<br />

in the gait. Being like this, to evaluate the gait in a necessary<br />

way is important to analyze the real effects of the physiotherapic<br />

interventions applied to the patients with DMD. Objective.<br />

The objective of that work is to identify and to characterize<br />

the main instruments for the gait analysis used in patients with<br />

DMD. Method. We researched in the following bases of data<br />

MEDLINE, LILACS, SCIELO, PUBMED, SCIRUS, BASE<br />

and DEDALUS. The terms used in the Portuguese language<br />

were marcha, locomoção, análise and distrofia muscular de<br />

Duchenne, and in the English language they were gait, walking,<br />

locomotion, analysis and Duchenne muscular dystrophy. For<br />

the selection of the goods inclusion criteria and exclusion were<br />

used. Results. The found results were tabulated according to<br />

amount of patients, objectives, instruments, and resources.<br />

Conclusion. The 14 instruments of gait analysis found are, in<br />

his totality, characterized as cinematic, resources that supply<br />

kinetic data just existing.<br />

Keywords: Gait. Muscular Dystrophy Duchenne. Physical<br />

Therapy.<br />

Citation: Tanaka MS, Luppi A, Morya E, Fávero FM, Fontes SV, Oliveira<br />

ASB. Main instruments for the gait analysis used in patients with muscular<br />

dystrophy of Duchenne.<br />

Trabalho realizado na Universidade Federal de São Paulo<br />

– UNIFESP.<br />

1. Fisioterapeuta, Especialista em Intervenção Fisioterapêutica em<br />

Doenças Neuromusculares pela UNIFESP.<br />

2. Fisioterapeuta, Doutor em Neurofisiologia pela USP.<br />

3. Fisioterapeuta, Mestre em Neurociências, Docente da UNIBAN.<br />

4. Fisioterapeuta da Disciplina de Neurologia da UNIFESP, Educadora<br />

Física, Doutora em Ciências pela UNIFESP, Docente da UMESP.<br />

5. Neurologista, Professor filiado da Disciplina de Neurologia do Departamento<br />

de Neurologia e Neurocirurgia da UNIFESP.<br />

Endereço para correspondência:<br />

Sissy Veloso Fontes<br />

R. Francisco Tapajós, 513/122<br />

São Paulo-SP, CEP 04<strong>15</strong>3-001<br />

E-mail: sissyfontes@gmail.com<br />

Recebido em: 09/08/2006<br />

Revisão: de 10/08/2006 a 19/09/2006<br />

Aceito em: 20/09/2006<br />

Conflito de interesses: não<br />

<strong>15</strong>3<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:<strong>15</strong>3–<strong>15</strong>9


INTRODUÇÃO<br />

Locomoção (do latim locus: lugar, e movere: mover)<br />

é uma habilidade inata e fundamental na vida<br />

do ser humano, pois possibilita autonomia e independência,<br />

viabilizando ao indivíduo atingir o seu<br />

objetivo 1-5 . Para tal, existem formas de locomoção<br />

como engatinhar, rastejar, mover-se com cadeira de<br />

rodas e deambular 1-5 . A marcha é um estilo ou maneira<br />

de deambulação, que utiliza um padrão cíclico<br />

de movimentos corporais para frente do corpo ereto,<br />

usando as extremidades inferiores, em um padrão<br />

bípede, para a propulsão que se repete indefinidamente<br />

a cada passo 1,3, 6-8 . Descrita como a função<br />

mais desejada do ser humano e a gloria máxima da<br />

locomoção 9 .<br />

Em 384-322 AC Aristóteles realizou o primeiro<br />

registro sobre a análise do movimento utilizando<br />

uma pena na cabeça do indivíduo e uma marcação<br />

na parede 10 . Nos Estados Unidos, Eadweard Muybridge,<br />

em 1887 realizou fotos seqüenciais para<br />

a análise da marcha humana em adultos, crianças<br />

e animais 11 , e Otto Fischer e Wilhelm Braune, em<br />

1900 estabeleceram uma base científica da cinética e<br />

da cinemática da marcha, por meio dos cálculos das<br />

trajetórias, velocidades, acelerações, forças e torques<br />

das articulações e segmentos do corpo em 31 fases<br />

do ciclo da marcha 4 .<br />

Com os avanços da tecnologia o ortopedista<br />

Verne T. Inman juntamente com o engenheiro Howard<br />

Eberhart utilizaram seus conhecimentos no<br />

intuito de criar um laboratório em São Francisco/<br />

Berckley que investigaria a cinemática envolvida na<br />

marcha. Suas conclusões foram resumidas e publicadas<br />

na primeira edição de “Human Walking” 12 . David<br />

H. Sutherland descreveu a maturação da marcha<br />

e Jacquelin Perry a ação muscular da locomoção por<br />

meio da eletromiografia, que é muito utilizada até os<br />

dias de hoje devido à disseminação de laboratórios e<br />

aparatados com câmeras digitais e infravermelhas,<br />

marcadores anatômicos, eletromiografia dinâmica,<br />

placas de força e computadores de última geração,<br />

além de parâmetros para a análise observacional 10-12 .<br />

Um princípio da ciência é a necessidade da compreensão<br />

de um fenômeno normal para o entendimento<br />

de um patológico 12 . Entretanto, somente nos últimos<br />

anos a funcionalidade da marcha vem sendo freqüentemente<br />

analisada por pesquisadores 13 .<br />

Atualmente a análise biomecânica da marcha<br />

humana têm sido utilizada como instrumento mais<br />

preciso de diagnóstico em processos de recuperação<br />

de pessoas com distúrbios, deficiências, anomalias ou<br />

revisão<br />

limitações 3 . Essa análise pode ser dividida em cinética<br />

(utilizadas para determinar as forças envolvidas<br />

e suas variáveis) e cinemática (utilizadas para descrever<br />

padrões de movimento, sem considerar as forças<br />

envolvidas na produção do movimento), sendo está<br />

última subdividida em quantitativa e qualitativa 5 .<br />

As principais técnicas qualitativas para análise<br />

da marcha devido à confiabilidade e/ou validade<br />

são: FAP – Functional Ambulation Profile (perfil de<br />

deambulação funcional) 14 , GARS – Gait Abnormality<br />

Rating Scale (escala estimativa de anormalidades<br />

da marcha) <strong>15</strong> , escala de equilíbrio de Berg, Índice dinâmico<br />

da marcha 10 , entre outros. E das quantitativas<br />

são: variáveis de tempo e distância (teste de marcha<br />

de 3 e 6 minutos), cadência e velocidade (passarela<br />

eletricamente condutora), analisador de passadas,<br />

EMG, análise de movimentos 3D (dimensões) 5 .<br />

A análise cinética da marcha que é dirigida<br />

para avaliação de forças de reação do solo, centro de<br />

massa, energia mecânica, movimentos de força, potência,<br />

momentos de suporte e trabalho, utiliza-se de<br />

placas de força, medidores de tensão, transdutores<br />

de carga, entre outras 4,5 . Dentre as diversas doenças<br />

que comprometem a marcha, as neuromusculares<br />

são uma das principais, sendo a locomoção bastante<br />

acometida no grupo das distrofias musculares.<br />

A distrofia muscular de Duchenne (DMD) é<br />

a mais freqüente entre as doenças neuromusculares.<br />

De caráter hereditário ligado ao X apresenta rápida<br />

progressão com início dos sintomas por volta dos 2-3<br />

anos de idade. A criança apresenta várias alterações<br />

motoras, tais como dificuldade em levantar-se e ficar<br />

em pé, dificuldade na marcha e quedas freqüentes.<br />

O acometimento motor é de caráter simétrico e proximal<br />

e, ocorre por degeneração das fibras musculares.<br />

As alterações da marcha, quando não tratadas<br />

ocorrem entre 8 e 12 anos de idade e, pode acentuar<br />

alterações posturais como as escolioses e deformidades<br />

em tornozelos. As escolioses podem propiciar alterações<br />

da dinâmica da caixa torácica interferindo<br />

na capacidade respiratória predispondo a infecções<br />

pulmonares podendo ocasionar o óbito 16-20 .<br />

A transição entre o estado ambulatório e uma<br />

dependência da cadeira de rodas é seguida, em muitos<br />

casos, por um rápido aumento de encurtamentos<br />

musculares. Pode ocorrer ganho de peso excessivo,<br />

aumento progressivo de escoliose, depressão e dependência<br />

psicológica após cessar a marcha independente<br />

18 . Sendo assim, torna-se importante avaliar a<br />

marcha o mais precisamente possível a fim de intervir<br />

de maneira mais eficaz no paciente com DMD. Para<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:<strong>15</strong>3–<strong>15</strong>9 <strong>15</strong>4


evisão<br />

isto, os instrumentos de análise da marcha devem ser<br />

identificados, analisados e selecionados adequadamente<br />

para posterior aplicação. Devemos, também<br />

uniformizar os procedimentos e linguagem utilizada,<br />

a fim de facilitarmos o intercâmbio de informações<br />

entre os profissionais da saúde que assistem esses pacientes<br />

11 .<br />

O objetivo desse trabalho é identificar, caracterizar<br />

e classificar os principais instrumentos e escalas<br />

para a análise da marcha, utilizados em pacientes<br />

com distrofia muscular de Duchenne.<br />

MÉTODO<br />

Este estudo trata-se de uma revisão bibliográfica<br />

analítica de artigos científicos que, se subdividiu<br />

em quatro etapas: coleta, seleção, tabulação dos dados<br />

e a caracterização dos instrumentos de avaliação.<br />

Na primeira etapa, foram coletados artigos<br />

científicos publicados entre os anos de 1966 e 2006,<br />

utilizando como fonte de consulta as bases de dados:<br />

MEDLINE, LILACS, SCIELO, PUBMED, SCI-<br />

RUS, EMBASE e DEDALUS. Foram utilizados descritores<br />

na língua portuguesa (marcha, locomoção,<br />

análise, distrofia muscular de Duchenne) e inglesa<br />

(gait, walking, locomotion, analysis, Duchenne muscular dystrophy),<br />

e que apresentavam algum instrumento de<br />

avaliação e por busca manual das referencias citadas<br />

nos artigos encontrados.<br />

A estratégia de busca na MEDLINE, LILACS<br />

E SCIELO, foi baseada na utilização da combinação<br />

dos seguintes termos: descritor de assunto=<br />

“MARCHA“ AND “ANÁLISE” AND “DISTRO-<br />

FIA MUSCULAR DE DUCHENNE” AND<br />

Espécie=Humanos, em um segundo momento a palavra<br />

marcha foi trocada por locomoção, descritor de<br />

assunto= “GAIT“ AND “ANALYSIS” AND “DU-<br />

CHENNE MUSCULAR DYSTROPHY” AND<br />

Espécie=Humanos, posteriormente à palavra gait foi<br />

trocada por walking e depois locomotion, na PUBMED:<br />

gait and analysis and Duchenne muscular dystrophy<br />

e limits: humans, posteriormente a palavra gait foi<br />

trocada por walking e depois locomotion, no SCIRUS:<br />

Duchenne muscular dystrophy AND gait AND<br />

analysis in article title OR keywords AND date 1966<br />

and 2006, na EMBASE: “gait” OR “walking” OR<br />

“locomotion” AND Duchenne muscular dystrophy<br />

AND analysis AND [humans] / lim 1966 – 2005<br />

e no DEDALUS: gait OR walking OR locomotion<br />

AND Duchenne muscular dystrophy AND analysis<br />

NOT animal.<br />

Na segunda etapa foram selecionamos os artigos<br />

coletados segundo critérios de inclusão e exclusão.<br />

Os critérios de inclusão foram: artigos onde a<br />

combinação dos termos apareceu nas palavras-chave,<br />

título e/ou resumo dos artigos; artigos de ensaio<br />

clínico; artigos em português, inglês, francês e espanhol.<br />

Os critérios de exclusão adotados foram: artigos<br />

em que a amostra não era de seres humanos;<br />

amostra não Duchenne; sem especificação do método<br />

de análise utilizado; revisões bibliográficas.<br />

Na terceira etapa os estudos foram tabulados<br />

em relação ao objetivo, características dos pacientes,<br />

escalas e/ou instrumentos e na quarta etapa as escalas<br />

foram caracterizadas.<br />

RESULTADOS<br />

Foi encontrado um total de 52 artigos onde 32<br />

foram excluídos porque 1 tratava-se de uma apresentação<br />

de protótipo e 31 não especificaram o método,<br />

instrumento ou recurso de análise da marcha. Sendo<br />

assim, 20 artigos foram incluídos, porém apenas 19<br />

foram utilizados, devido ao fato de 1 artigo ter sido<br />

publicado em 2 revistas distintas (duplicação). Desses,<br />

12 utilizaram análise observacional (Tabela 1)<br />

e 7 apresentavam análise computadorizada (Tabela<br />

2). Nas tabelas 1 e 2 estão relacionados instrumentos<br />

e/ou instrumentos e recursos de análise da marcha<br />

encontrados.<br />

De acordo com os resultados obtidos pode-se<br />

identificar 14 instrumentos (escala Vignos, Hammersmith<br />

locomotor ability scale, System of Zitter<br />

e Allsop modified, Protocolo Italiano de análise<br />

funcional, Escala funcional adaptada por Swinyard<br />

e Deaver, Protocolo de Avaliação WeeFIM, Classificação<br />

de Sutherland, Root mean square error<br />

(RMSE), Walking times over 28 and <strong>15</strong>0 ft, PCI (Índice<br />

de custo energético), Timed performance test,<br />

Timed test of walking, Wak time e Timed functional<br />

test) de análise da marcha observacional.<br />

A Escala Vignos 21,22 é uma escala de classificação<br />

específica dos indivíduos com DMD que gradua<br />

em 10 pontos a capacidade funcional dos membros<br />

inferiores 7 , deste modo é um instrumento de caráter<br />

cinemático qualitativo que avalia padrões de movimento,<br />

desvios da postura e ângulos articulares, sem<br />

considerar as forças envolvidas na produção do movimento.<br />

A Avaliação física descrita por Scott et al 23,24<br />

é um protocolo de avaliação que inclui dois itens<br />

relevantes para a análise da marcha, o Hammersmith<br />

Locomotor Ability Scale 23-27 que possui 20 tarefas<br />

<strong>15</strong>5<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:<strong>15</strong>3–<strong>15</strong>9


Tabela 1. Artigos que utilizaram análise observacional da marcha.<br />

Referência<br />

Cohen 1984 39<br />

Edwards 1987 19<br />

Heckmatt 1988 22<br />

Taktak 1995 26<br />

Thompson 1995 23<br />

Número de<br />

pacientes<br />

<strong>15</strong> DMD<br />

335 NL<br />

22 DMD<br />

20 DMD<br />

26 DMD<br />

NC<br />

Objetivo<br />

Descrever a análise da velocidade de marcha rápida<br />

em indivíduos saudáveis e com DMD<br />

Analisar a variabilidade das avaliações de função<br />

muscular em pacientes com DMD<br />

Verificar os efeitos terapêuticos do Isaxonine em<br />

pacientes com DMD<br />

Desenhar e construir um sistema modular da órtese<br />

joelho-tornozelo-pé (KAFOs) para DMD<br />

Manuseio da marcha patológica em pacientes com<br />

DMD através do uso da órtese AFOs<br />

Escalas e Instrumentos<br />

Cronômetro, pista de 10.79m.<br />

revisão<br />

Escala Vignos, Avaliação de força descrita por<br />

Edwards e col. e, Hosking e col., eletrodinamômetro<br />

(transdutores de Penny e Giles).<br />

Avaliação física descrita por Scott e col. (Walking times<br />

over 28 and <strong>15</strong>0 ft, Hammersmith Locomotor Ability Scale,<br />

Escala %MRC), Miômetro eletrônico (Penny & Giles<br />

Transducers)<br />

PCI (Índice de custo energético). Biosig Telepulse,<br />

Pista de 4 m, miômetro<br />

Hammersmith Locomotor Ability Scale, Timed performance<br />

test, Escala MRC<br />

Thompson 1995 27 NC ARTIGO DUPLICADO Thompson 1995 DUPLICADO Thompson 1995<br />

Vignos 1996 20 144 DMD<br />

Bonifati 2000 28<br />

Larson 2000 29<br />

Hyde 2000 24<br />

Bakker 2002 30<br />

Dubowitz 2002 25<br />

Yilmaz 2004 31<br />

18 DMD<br />

41 DMD<br />

27 DMD<br />

53 DMD<br />

2 DMD<br />

66 DMD<br />

22 DMD<br />

controle<br />

Avaliar o valor da intervenção fisioterapêutica a longo<br />

prazo em pacientes com DMD<br />

Comparar os efeitos do deflazacort com prednisona<br />

em pacientes com DMD<br />

Avaliar a densidade do osso de meninos com DMD,<br />

relação entre ambulação e densidade do osso<br />

Estabelecer um perfil da característica física dos meninos<br />

com DMD escandinavos<br />

Identificar o paciente padrão e as características do<br />

tratamento que podem predizer a dependência na<br />

cadeira de rodas por 2 anos<br />

Analisar os sinais de remissão clínica em estágio inicial<br />

do paciente com DMD com terapia de baixa dosagem<br />

de predinisolona<br />

Investigar o efeito a longo prazo da predinisolona no<br />

DMD, particularmente na força muscular, contratura<br />

muscular e escoliose<br />

DMD- distrofia muscular de Duchenne; NL - normal; NC- Não consta; MRC- Medical Research Council.<br />

Timed Test of Walking, Pista de 7m, Escala Vignos,<br />

ADM passiva (técnica da American Academy of<br />

Orthopaedic Surgeons), Goniômetro, System of de Ziter<br />

e Allsop modified<br />

Escala MRC, Protocolo italiano de análise funcional,<br />

Pista de 10m<br />

Escala funcional adaptada por Swinyard and Deaver<br />

Escala MRC, Hammersmith Locomotor Ability Scale, Walk<br />

time. Pista de 10m, Miômetro<br />

Protocolo de avaliação de WeeFIM, Protocolo de<br />

Brooke e col. Modificado (Escala MRC modificada)<br />

Hammersmith Locomotor Ability Scale<br />

Manual Lovett’s, Timed functional test, goniômetro,<br />

pista de 10 metros<br />

baseadas no desenvolvimento normal de aquisição<br />

locomotora, que podem receber pontos de 0-2 e é<br />

específico para a análise de marcha dos indivíduos<br />

com DMD 27 , é um instrumento de caráter cinemático<br />

qualitativo; e o Walking times over 28 and <strong>15</strong>0 ft que<br />

é um teste de caminhada cronometrada em duas pistas<br />

padronizadas de 8.5344m e 45.72m, que verifica<br />

o tempo de marcha, instrumento de caráter cinemático<br />

quantitativo.<br />

O PCI (Índice de custo energético) 28 é um<br />

instrumento de caráter cinemático quantitativo que<br />

analisa as variáveis: número de batimentos cardíacos<br />

por metro andado.<br />

O Timed performance test 25,29 é um teste em que<br />

se avalia à distância percorrida e o tempo que se leva<br />

para percorrer este percurso, instrumento de caráter<br />

cinemático quantitativo.<br />

O Timed test of walking 22 é um teste em que se<br />

cronometra o tempo de marcha em um percurso de 7<br />

metros, sendo caracterizado como instrumento cinemático<br />

quantitativo, pois analisa as variáveis tempo e<br />

distância, assim como os padrões de mobilidade.<br />

O System of Zitter e Allsop modified 22 classifica o<br />

indivíduo em 3 classes distintas, de acordo com as<br />

tarefas funcionais capazes de realizar em um tempo<br />

pré-determinado, instrumento de caráter cinemático<br />

qualitativo e quantitativo, pois além de incluir a<br />

descrição do deslocamento (padrões de movimento),<br />

considera a variável tempo.<br />

O Protocolo Italiano de análise funcional 30 é<br />

constituído de 4 tarefas funcionais cronometradas, sendo<br />

a marcha uma destas tarefas. A marcha recebe uma classificação<br />

de 1-7, escala de caráter cinemático qualitativo<br />

(padrão de movimento) quantitativo (variável tempo).<br />

A Escala funcional adaptada por Swinyard e<br />

Deaver 31 classifica a mobilidade funcional em 8 pontos,<br />

de caráter cinemático qualitativo (padrão de movimento,<br />

deslocamento).<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:<strong>15</strong>3–<strong>15</strong>9 <strong>15</strong>6


evisão<br />

Tabela 2. Artigos que utilizaram análise computadorizada da marcha.<br />

Referência<br />

Sutherland 1981 16<br />

Khodadadeh 1986 40<br />

Barret 1988 21<br />

Patte 2000 33<br />

Rennie 2000 34<br />

Armand 2005 32<br />

McDonald 2005 36<br />

Número de<br />

pacientes<br />

21 DMD<br />

7 DMD<br />

21 NL<br />

37 NL<br />

61 DMD<br />

9 DMD<br />

7 PC<br />

1 DMD<br />

2 SAMII<br />

2 DMD<br />

16 DMD<br />

20 NL<br />

CONTROLE<br />

Objetivo<br />

Investigar a biomecânica da marcha patológica do<br />

paciente com Duchenne<br />

Análise biomecânica dos movimentos gerados pelo<br />

joelho na marcha de indivíduos normais e com<br />

DMD<br />

Verificar as alterações no equilíbrio postural e<br />

centro de gravidade do paciente com DMD<br />

Determinar as desordens da marcha em meninos<br />

com DMD<br />

Avaliar o uso de vestimenta com lycra para o uso<br />

de membros inferiores em pacientes com DMD<br />

Analisar e comparar os padrões de marcha da<br />

SMAII e do DMD para explicar as diferenças<br />

existentes entre os dois padrões de marcha<br />

Avaliar a utilidade do SAM como uma avaliação<br />

quantitativa, investigar padrões de atividade em<br />

DMD ambulantes e, correlacionar o passo com as<br />

avaliações da composição corporal e força<br />

Escalas e Instrumentos<br />

Sistema Óptico (4 câmeras analisadoras do movimento<br />

– 16 mm), Eletrônico (eletrodos de superfície para<br />

controle do movimento, osciloscópio Tektronix, oscilógrafo<br />

Soltec e uma câmera Hycam) e computadorizado<br />

(computador eletrônico do processador 118, Vanguard<br />

Motion Analyzer + Science Accessories Graf + Pen<br />

Sonic Digitizer<br />

Plataforma de força Kistler + Vídeo gerador de vetor<br />

ORLAU, microcomputador Commodore 4032<br />

Avaliação física descrita por Scott e col. (Escala MRC,<br />

Hammersmith Locomotor Ability Scale, Walking times over<br />

28 and <strong>15</strong>0 ft), Eletromiômetro, Plataforma de força<br />

(Hewellet-Packard model 3045DL data logger + computador<br />

HP85, Calculadoras automáticas e eletrônicas<br />

Ltd, Watfords Herts, UK)<br />

Escala MRC, Diagrama de Todd et al, Classificação<br />

de Sutherland et al, Sistema Vicon ® (5 vídeo-câmeras<br />

infra-vermelho + 2 plataformas de força + sistema de<br />

registro eletromiográfico), pista de 10m<br />

Root Mean Square Error (RMSE), Sistema de análise<br />

de movimento 6 câmeras (Elite, BTS Milan) modelo<br />

100Hz, Protocolo de Davis, pista de 12m<br />

Escala MRC. Sistema de análise de movimento 5<br />

câmeras (Vicon ® ) frequência de 50Hz + 2 plataformas<br />

de força (AMTI ® ) freqüência de 1000Hz, Sistema<br />

EMG de 10 canais (MA-100 Motion-Lab ® ) frequência<br />

de 1000Hz + eletrodos de superfície de 10Hz-30kHz,<br />

Protocolo de Davis, Vicon Clinical Manager (Vicon ® )<br />

Dinamômetro multi-articular LIDO + software LIDO,<br />

SAM (StepWatch Activity Monitor)<br />

DMD- distrofia muscular de Duchenne; NL- normal ; PC- paralisia cerebral; MRC- Medical Research Council; SAMII- amiotrofia espinhal do tipo II.<br />

O Walk time 27,32 é um teste cronometrado em<br />

que se requisita ao indivíduo que ande o mais rápido<br />

possível em uma pista padronizada de 10 metros,<br />

de caráter cinemático quantitativo (variáveis tempo<br />

e distância).<br />

O Protocolo de Avaliação WeeFIM 33 é uma<br />

escala de medida de independência para crianças<br />

que possui 18 itens organizados em 6 categorias,<br />

uma dessas categorias é a locomoção que recebe<br />

uma pontuação de 1 a 7 funcional, de caráter cinemático<br />

qualitativo.<br />

O Timed functional test 34 , teste funcional que<br />

inclui marcha num percurso de 10 metros, registrado<br />

em segundos. Instrumento de caráter cinemático<br />

qualitativo (variável tempo, distância pré-determinada).<br />

A Classificação de Sutherland 35 que classifica<br />

o DMD em 3 estágios distintos, de acordo com o<br />

valor de L(x), que é obtido com a seguinte fórmula<br />

L(x) = -0,252 + 0,032 x Cadência x 0,132 x inclinação<br />

pélvica (= ângulo de anteversão do quadril em<br />

graus) + 0,147 x dorsiflexão (amplitude em graus da<br />

dorsiflexão do tornozelo na fase de balanço), escala<br />

de caráter cinemático qualitativo e quantitativo.<br />

O Root mean square error (RMSE) 36 é utilizado<br />

para mensurar o grau de estabilidade, calculando<br />

a variabilidade sobre o número total de testes de<br />

marcha, escala de caráter cinemático quantitativo.<br />

DISCUSSÃO<br />

De acordo com os resultados obtidos, não observamos<br />

trabalhos que descrevessem ou citassem um<br />

critério para escolha do instrumento e/ou escala de<br />

análise da marcha no DMD, levantando a hipótese<br />

de que não existe uma padronização para a escolha,<br />

sendo que um mesmo instrumento e/ou escala foi<br />

utilizado para analisar diferentes estágios da DMD,<br />

doenças diversas, além de indivíduos “normais”.<br />

Saad et al 37 cita que a falta de sistemas e protocolos<br />

<strong>15</strong>7<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:<strong>15</strong>3–<strong>15</strong>9


validados e confiáveis faz com que seja necessária à<br />

observância de cuidados com a adoção de metodologias<br />

pré-definidas.<br />

Observa-se grande variabilidade na nomenclatura<br />

utilizada para descrever as fases da marcha,<br />

dificultando a real compreensão, o pode-se observar<br />

inclusive em alguns livros texto e artigos coletados 1,4-<br />

8,10-12,16,17<br />

.<br />

Dos trabalhos incluídos, 12 utilizaram análise<br />

observacional a qual é considerada por muitos<br />

pesquisadores como subjetiva 8,12,37 . Andriacchi et<br />

al 38 e Saad et al 37 relatam que o olho humano não<br />

é capaz de observar eventos de alta velocidade, não<br />

permite o registro dos dados e depende da habilidade<br />

e do conhecimento do observador, levantando<br />

a hipótese de que essa análise apresenta grande<br />

variabilidade e pequena precisão, não podendo ser<br />

considerada como fidedigna e não garantindo o<br />

mesmo resultado se houver uma reprodução do trabalho.<br />

Apesar das restrições apresentadas na análise<br />

observacional, ela possui vantagens, tais como,<br />

execução fácil, rápida, simples e de baixo custo se<br />

comparada com os métodos de análise computadorizada<br />

37,39 , enfatizando a praticidade do método<br />

observacional.<br />

Em contrapartida encontramos 7 trabalhos<br />

utilizando instrumentos computadorizados. Saad et<br />

al 37 e Adams et al 40 relatam que os registros gráficos<br />

por computador, que permitem cálculos precisos<br />

de parâmetros, são a base do exame, apresentando<br />

dessa mesma forma maior quantidade de dados e<br />

possibilitando uma análise fidedigna das variáveis.<br />

Um dos problemas da análise computadorizada é<br />

a necessidade de um técnico especializado. Por ser<br />

um método mais preciso, torna-se necessário à utilização<br />

da análise computadorizada para atingir de<br />

forma fidedigna o parâmetro a serem analisados diminuindo<br />

assim a margem de erro. Porém, nos dois<br />

tipos de análise não esta excluída a possibilidade do<br />

erro humano sendo apenas mais evidente na análise<br />

observacional.<br />

Assim, como a maioria dos trabalhos incluídos<br />

utiliza um método observacional não tão<br />

fidedigno quanto ao computadorizado, deve-se<br />

questionar sobre quais seriam as vantagens da utilização<br />

desse método. Outra sugestão foi à ênfase<br />

que os trabalhos deram ao desfecho marcha, 3 de<br />

12 artigos utilizando análise observacional tinham<br />

o objetivo de analisar a marcha enquanto 9 utilizaram<br />

a análise da marcha apenas como um item<br />

para o trabalho. Em contrapartida, 6 de 7 artigos<br />

revisão<br />

utilizando análise computadorizada tinham o objetivo<br />

primário de analisar a marcha. Desta forma<br />

totalizando 9 trabalhos cujo objetivo eram a análise<br />

da marcha , 6 utilizaram o método computadorizado.<br />

Uma explicação para tal fato é a questão do<br />

custo beneficio, que se torna secundário quando o<br />

objetivo do trabalho é a análise da marcha, deixando<br />

claro que essa relação de custo benefício entre<br />

os dois métodos de análise determina prioridades<br />

para a seleção do método e escolha do melhor instrumento<br />

e/ou escala a serem utilizados.<br />

CONCLUSÃO<br />

Os 14 instrumentos [escala Vignos, Hammersmith<br />

locomotor ability scale, System of Zitter e Allsop modified,<br />

Protocolo Italiano de análise funcional, Escala<br />

funcional adaptada por Swinyard e Deaver, Protocolo<br />

de Avaliação WeeFIM, Classificação de Sutherland,<br />

Root mean square error (RMSE), Walking times over<br />

28 and <strong>15</strong>0 ft, PCI (Índice de custo energético), Timed<br />

performance test, Timed test of walking, Wak time e Timed<br />

functional test] de análise da marcha observacional são<br />

em sua totalidade caracterizados como cinemáticos,<br />

existindo apenas recursos que forneçam dados cinéticos,<br />

contudo é escassa a quantidade de artigos que<br />

especificam o tipo de instrumento e recurso utilizado<br />

para a análise da marcha, sendo necessários mais<br />

estudos com o intuito de verificar quais os melhores<br />

instrumentos de análise da marcha em indivíduos<br />

com DMD, uma vez que não há grande quantidade<br />

de instrumentos específicos para está análise.<br />

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<strong>15</strong>9<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:<strong>15</strong>3–<strong>15</strong>9


Abordagem fisioterapêutica na<br />

minimização dos efeitos da ataxia em<br />

indivíduos com esclerose múltipla<br />

revisão<br />

Physiotherapy approaches for reduction of ataxic effects in multiple sclerosis<br />

Marco Antonio Orsini Neves 1 , Mariana Pimentel de Mello 2 , Carlos Henrique<br />

Dumard 2 , Reny de Souza Antonioli 2 , Jhon Petter Botelho 2 , Osvaldo JM<br />

Nascimento 3 , Marcos RG de Freitas 4<br />

RESUMO<br />

A esclerose múltipla é uma doença desmielinizante caracterizada<br />

por múltiplas áreas de inflamação da substância branca, desmielinização<br />

e cicatrização glial. É considerada uma importante<br />

causa de incapacidade neurológica em adultos jovens. A gravidade<br />

e a progressão dos sintomas são variadas e imprevisíveis.<br />

Dentre as incapacidades geradas pela doença os distúrbios da<br />

marcha são freqüentes e resultam do comprometimento de diversas<br />

estruturas, especialmente do cerebelo. Um dos achados mais<br />

comuns na lesão cerebelar é a ataxia ebriosa, na qual além das<br />

alterações da marcha, estão presentes distúrbios do equilíbrio,<br />

postura, incoordenação e tremor. Esse estudo de atualização tem<br />

como finalidade identificar possíveis estratégias de intervenção<br />

para melhora das deficiências e incapacidades decorrentes da<br />

mobilidade deficiente, e maximizar a independência funcional e<br />

qualidade de vida destes indivíduos.<br />

Unitermos: Esclerose Múltipla. Marcha. Fisioterapia.<br />

Citação: Neves MAO, Mello MP, Dumard CH, Antonioli RS, Botelho<br />

JP, Nascimento OJM, Freitas MRG. Abordagem fisioterapêutica na minimização<br />

dos efeitos da ataxia em indivíduos com esclerose múltipla.<br />

SUMMARY<br />

The multiple sclerosis is a demyelinating disease characterized<br />

by multiple areas of inflammation of white substance, demyelination<br />

and glial healing. It’s considered an important cause of<br />

neurological incapacity in young adults. The gravity and progression<br />

of the symptoms are varied and unexpected. Among<br />

the incapacity generated, the riots of gait are frequent and<br />

result of impairment of diverse structures, especially of the<br />

cerebellum. One of the most common findings in cerebellar<br />

injury is the ataxia, in which beyond the alterations of gait,<br />

occur riots of balance, position, incoordination and tremor.<br />

This review has as purpose identifying possible strategies of<br />

intervention for improvement of deficiencies and incapacity of<br />

deficient mobility, and maximizes the functional independence<br />

and quality of life of these people.<br />

Keywords: Multiple Sclerosis. Gait. Physical Therapy.<br />

Citation: Neves MAO, Mello MP, Dumard CH, Antonioli RS, Botelho JP,<br />

Nascimento OJM, Freitas MRG. Physiotherapy approaches for reduction<br />

of ataxic effects in multiple sclerosis.<br />

Trabalho realizado no Serviço de Neurologia da Universidade<br />

Federal Fluminense.<br />

1. Professor Adjunto de Neurologia Clínica, UNIFESO e Doutorando<br />

em Neurociências na Universidade Federal Fluminense – UFF.<br />

2. Graduandos em Fisioterapia e Estagiários do Serviço de Reabilitação<br />

Neurológica, UNIFESO.<br />

3. Professor Titular de Neurologia e Coordenador da Pós-Graduação<br />

em Neurociências, UFF.<br />

4. Professor Titular e Chefe do Serviço de Neurologia, UFF.<br />

Endereço para correspondência:<br />

Marco Orsini<br />

Rua Professor Miguel Couto, 322/1001<br />

Niterói-RJ, CEP: 24230240.<br />

E-mail: orsini@predialnet.com.br<br />

Recebido em: 24/08/06<br />

Revisão: 25/08/06 a 17/09/06<br />

Aceito em: 18/09/06<br />

Conflito de interesses: não<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:160–165 160


evisão<br />

INTRODUÇÃO<br />

A esclerose múltipla (EM) é uma patologia<br />

crônica e inflamatória do sistema nervoso central<br />

(SNC), que atinge predominantemente a substância<br />

branca, através de lesões que promovem a destruição<br />

da mielina, oligodendrócitos e axônios. A desmielinização<br />

leva a uma lentificação da velocidade<br />

de condução nervosa, sendo a principal responsável<br />

pelas anormalidades características da doença. Ainda<br />

que a etiologia da EM permaneça desconhecida,<br />

algumas teorias têm sido propostas para explicar o<br />

surgimento da doença, que provavelmente resultaria<br />

da interação entre fatores imunológicos, genéticos,<br />

ambientais e infecciosos 1-2 .<br />

Caracteriza-se por diversos sinais e sintomas<br />

neurológicos, com períodos de exarcebação e remissão.<br />

No início pode ocorrer recuperação parcial ou<br />

completa das manifestações, porém com a progressão<br />

as remissões tendem a serem incompletas levando<br />

a um aumento das deficiências e incapacidades 1-3 .<br />

Apesar de apresentar um curso variável e imprevisível,<br />

foram definidas quatro categorias para descrever<br />

a evolução da EM: remitente-recorrente, progressiva<br />

primária, progressiva secundária e progressiva recidivante<br />

4 .<br />

A prevalência da EM na América do Sul é considerada<br />

baixa, com menos de 5 casos por 100.000<br />

habitantes 5 . Em estudo realizado em Pernambuco<br />

foi encontrada uma prevalência de 1,36/100.000 6 .<br />

Resultados obtidos de estudos realizados na região<br />

Sudeste, indicam que esta é uma região de média<br />

prevalência. Em São Paulo, por exemplo, foi encontrada<br />

uma prevalência de 17/100.000, enquanto<br />

em Minas Gerais de 18/100.000 7,8 . A EM é mais<br />

prevalente em brancos, constituindo aproximadamente<br />

90% dos casos. A incidência é maior no sexo<br />

feminino, com uma proporção de 2:1. A média de<br />

idade de início da doença é de 29,6 anos. A forma<br />

de apresentação encontrada mais freqüentemente é<br />

a remitente-recorrente 9,10 .<br />

As principais áreas do SNC acometidas pela<br />

EM são as áreas periventriculares do cérebro, formações<br />

ópticas, cerebelo, tronco encefálico, medula<br />

espinhal. As manifestações clínicas são variadas e<br />

determinadas pela localização das lesões, e incluem<br />

paresia, espasticidade, distúrbios da marcha, tremor<br />

intencional, distúrbios visuais, fadiga, distúrbios vesicais<br />

e intestinais, distúrbios sensitivos, ataxia sensorial<br />

e/ou ebriosa, nistagmo e distúrbios cognitivos 1-3 .<br />

Apesar dos distúrbios da marcha estarem presentes<br />

e provocarem deficiências motoras em aproximadamente<br />

87% dos casos após a confirmação da<br />

doença, cerca de 65% dos pacientes ainda mantém<br />

a capacidade de deambular 20 anos após o diagnóstico<br />

11,12 . A marcha atáxica freqüentemente encontrada<br />

nos pacientes, é caracterizada pelo aumento<br />

da base de sustentação, redução no comprimento<br />

e na velocidade dos passos, ritmo comprometido e<br />

levantamento excessivo dos pés 13 . É importante ressaltar<br />

que a espasticidade, paresia, incoordenação,<br />

distúrbios de equilíbrio, fadiga, distúrbios sensoriais,<br />

e distúrbios visuais, também provocam prejuízos no<br />

padrão de deambulação 14,<strong>15</strong> .<br />

Não há tratamento eficaz para os sintomas<br />

decorrentes do comprometimento cerebelar na EM.<br />

As drogas mais utilizadas são imunomoduladores e<br />

imunossupressores, que são capazes de retardar, mas<br />

não interromper a progressão da doença, entretanto<br />

possuem efeitos limitados sobre a ataxia 16,17 . Estudos<br />

apontam a cinesioterapia como uma abordagem de<br />

tratamento que promove efeitos na capacidade funcional<br />

em indivíduos acometidos pela EM. As estratégias<br />

de reabilitação têm como objetivos: melhorar<br />

a força e a resistência muscular, diminuir a fadiga,<br />

melhorar a mobilidade e o controle postural, diminuir<br />

a dor e evitar complicações decorrentes dos efeitos<br />

progressivos da doença 14,18,19 . Assim, o presente<br />

estudo tem como objetivo analisar as principais estratégias<br />

utilizadas pela fisioterapia para minimizar<br />

os efeitos da ataxia nos indivíduos com EM.<br />

REVISÃO DE LITERATURA<br />

Função cerebelar no controle dos movimentos<br />

A função do cerebelo é predominantemente<br />

motora, estando envolvido no controle e regulação<br />

do tônus muscular, coordenação e planejamento<br />

dos movimentos, controle da postura, equilíbrio e<br />

no aprendizado motor. Através da entrada de estímulos<br />

aferentes o cerebelo age como regulador do<br />

movimento, facilitando os sinais motores gerados<br />

nos centros motores corticais e do tronco encefálico,<br />

adequando o tônus muscular durante os movimentos.<br />

Atua também como um comparador entre os estímulos<br />

recebidos do córtex motor e os movimentos<br />

executados. Após computar e analisar os sinais internos<br />

e externos possuí a capacidade de corrigir os<br />

movimentos quando eles desviam-se do trajeto pretendido.<br />

Outra função é a sua participação na modificação<br />

dos programas motores centrais, de modo<br />

que os movimentos subseqüentes possam atingir seus<br />

alvos com menos erros 20-21 .<br />

161<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:160–165


Comprometimento Cerebelar na Esclerose<br />

Múltipla<br />

As lesões desmielinizantes no cerebelo e nos<br />

trato cerebelares são freqüentes, especialmente nas<br />

fases tardias da doença, e estão associadas a um pior<br />

prognóstico, especialmente quando presentes na fase<br />

inicial 22-23 . Um estudo realizado com 302 pacientes<br />

mostrou que os sintomas cerebelares estavam presentes<br />

em apenas 5,9% dos casos no início da doença,<br />

entretanto com a progressão, o comprometimento<br />

cerebelar tornou-se freqüente, sendo encontrado em<br />

33,4% da população estudada. Sintomas cerebelares<br />

são evidenciados principalmente nas formas progressivas,<br />

quando comparada à remitente-recorrente<br />

9 . Em geral os sinais cerebelares estão associados<br />

a outros sinais e sintomas sensitivos e/ou motores.<br />

As manifestações clínicas mais comuns da lesão cerebelar<br />

incluem ataxia ebriosa, tremor ao movimento,<br />

dismetria, nistagmo, decomposição de movimentos,<br />

assinergia, disdiadococinesia e disartria 24-27 .<br />

A disartria é resultado da incoordenação cerebelar<br />

dos músculos palatinos e labiais, associada à<br />

uma disatria de origem corticobulbar. Já o nistagmo<br />

ocorre especialmente quando o lobo flóculo nodular<br />

é acometido, sendo acompanhado de perda de<br />

equilíbrio devido à disfunção das vias cerebelares. O<br />

tremor, definido como um movimento involuntário<br />

oscilatório rítmico, ocorre em 75% dos pacientes,<br />

podendo ser classificado como postural e/ou intencional<br />

18,28-30 .<br />

A ataxia e/ou dismetria podem ser decorrentes<br />

de lesões nos feixes espinocerebelares, uma vez<br />

que as informações originadas nos receptores periféricos<br />

são essenciais para o controle do movimento.<br />

As formas mais graves de ataxia cerebelar são observadas<br />

na EM, e a lesão responsável provavelmente<br />

se encontra no tegmento do mesencéfalo e envolve<br />

o trato denteado- rubro- talâmico e estruturas adjacentes.<br />

Pode estar combinada a ataxia sensorial,<br />

devido ao envolvimento das colunas posteriores da<br />

medula espinhal ou dos lemniscos mediais no tronco<br />

encefálico 20 .<br />

Ataxia na Esclerose Múltipla<br />

A gravidade da ataxia está diretamente relacionada<br />

ao nível de limitação e dependência causado<br />

pela EM 23 . A ataxia de tronco, que interfere no<br />

equilíbrio em pé e sentado, também é profundamente<br />

limitante, tornando o paciente algumas vezes totalmente<br />

dependente na execução de tarefas básicas<br />

e instrumentais da vida diária 1,16 .<br />

revisão<br />

A ataxia sensorial é devida ao comprometimento<br />

da sensibilidade proprioceptiva, o que resulta<br />

em um padrão de marcha caracterizado por levantamento<br />

excessivo dos membros inferiores, aumento da<br />

base de suporte, comprimento irregular dos passos, e<br />

necessidade de informações visuais ou auditivas 20,31 .<br />

A ataxia ebriosa é definida como a combinação de<br />

dismetria, dissinergia, disdiadococinesia, disritmia e<br />

tremor intencional. Caracteriza-se pela presença de<br />

fala escandida, instabilidade rítmica da cabeça e do<br />

tronco, tremor intencional, e incoordenação dos movimentos<br />

voluntários e da marcha 13 .<br />

Os distúrbios da marcha são provocados especialmente<br />

por paresia, distúrbios sensoriais, espasticidade<br />

e ataxia. A ataxia da marcha é resultado da<br />

combinação do comprometimento das vias cerebelares<br />

e da sensibilidade profunda 18,32 . Alterações na<br />

marcha podem estar presentes mesmo em pacientes<br />

com deterioração mínima da função motora e sem<br />

qualquer limitação funcional. Algumas anormalidades<br />

encontradas precocemente no padrão de marcha<br />

são: redução da velocidade de progressão, passos<br />

mais curtos e fase de apoio duplo prolongada 33 .<br />

O desequilíbrio e a oscilação de tronco tornam-se<br />

mais evidentes quando o paciente levantase<br />

ou vira-se rapidamente enquanto caminha. Distúrbios<br />

da marcha também decorrem de erros na<br />

programação da força da contração muscular (dismetria).<br />

A regulação postural inadequada contribui<br />

para diminuir a eficiência e suavidade da marcha.<br />

Os pacientes com ataxia não são capazes de realizar<br />

movimentos que necessitem de uma ação conjunta<br />

de diversos grupos musculares em diferentes graus<br />

de contração 14,20,34 .<br />

Abordagem fisioterapêutica<br />

Os pacientes normalmente são encaminhados<br />

para a fisioterapia quando perdem a capacidade de<br />

realizar atividades funcionais, em um ponto em que<br />

a doença já provocou danos irreversíveis ao SNC e<br />

uma limitação persistente. Embora a reabilitação<br />

não elimine o dano neurológico, ela pode atuar no<br />

tratamento de sintomas específicos favorecendo a<br />

funcionalidade. A terapia deve ser adaptada continuamente,<br />

de acordo com os déficits do paciente, e<br />

a combinação de técnicas pode ser efetiva, devendo<br />

ser experimentada para o tratamento de sintomas<br />

mais resistentes como a ataxia 14,16,17,32 .<br />

Um programa de exercícios direcionados<br />

para a funcionalização/adequação do tônus associado<br />

a alongamento/fortalecimento de grupamentos<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:160–165 162


evisão<br />

musculares pode melhorar a marcha e as reações<br />

de equilíbrio. As atividades voltadas para a deambulação<br />

devem salientar segurança, transferência<br />

adequada de peso com rotação de tronco, uma base<br />

de apoio estável e progressão controlada. O fisioterapeuta<br />

deve procurar neutralizar os ajustes posturais<br />

e de movimento feitos pelo paciente atáxico, para incentivar<br />

a estabilidade postural e o desvio dinâmico<br />

de peso, aumentando consequentemente a coordenação<br />

dos movimentos 14,32,35 .<br />

Um estudo envolvendo 26 pacientes com ataxia<br />

decorrente da EM avaliou o efeito do uso de órteses<br />

de membro inferior associadas à reabilitação<br />

neuromuscular, que consistia da associação entre<br />

técnicas específicas de facilitação neuromuscular<br />

proprioceptiva (PNF) e exercícios de Frenkel. Após<br />

o tratamento ocorreu uma melhora substancial nos<br />

padrões de marcha, equilíbrio, disdiadococinesia e<br />

movimentos pendulares, além de uma redução média<br />

de 0,5 pontos na Expanded Disability Status Scale<br />

(EDSS) 32 .<br />

A estabilidade postural pode ser ampliada focando<br />

o controle estático em diversas posturas antigravitárias<br />

de sustentação de peso. A progressão através<br />

de uma série de posturas compreende a variação<br />

da base de apoio, elevação do centro de gravidade<br />

e aumento do número de segmentos que precisam<br />

ser controlados. Técnicas específicas para promover<br />

estabilidade incluem, por exemplo, a aproximação<br />

articular aplicada em articulações proximais, obtida<br />

muitas vezes com através das técnicas de facilitação<br />

neuromuscular proprioceptiva 35 .<br />

Pacientes com EM podem precisar de dispositivos<br />

de assistência, embora não exista consenso<br />

quanto ao uso de órteses nos membros inferiores. Os<br />

dispositivos auxiliares da marcha reduzem a necessidade<br />

de sustentação de peso na fase de apoio, enquanto<br />

proporcionam pelo menos dois pontos (um<br />

membro superior e um membro inferior) de apoio<br />

em todas as fases da marcha. A estabilidade pode ser<br />

conseguida através da adição de uma órtese tornozelo-pé<br />

(AFO) 35,36 . O uso de pesos e andadores pode<br />

diminuir os movimentos atáxicos, por proverem carga<br />

proprioceptiva adicional, entretanto podem aumentar<br />

o gasto energético e a fadiga 34,37 . O controle<br />

de movimentos dismétricos dos membros pode ser<br />

obtido através do uso de padrões de PNF, aplicando-se<br />

uma resistência leve para modular a força e as<br />

ações recíprocas dos músculos 35 .<br />

Lord et al 38 avaliaram os efeitos de dois métodos<br />

terapêuticos nos distúrbios da marcha de pacientes<br />

com EM, que consistiam em uma abordagem de<br />

facilitação e em uma abordagem funcional baseada<br />

nas incapacidades apresentadas. Após um período<br />

de 5 a 7 semanas de reabilitação, ambos os grupos<br />

apresentaram melhoras significativas nos padrões<br />

de marcha. Os resultados mostraram que ambas as<br />

técnicas estipuladas são efetivas para a melhora da<br />

mobilidade.<br />

A diminuição da força muscular é um problema<br />

comum nesses indivíduos. Seu impacto abrange<br />

a locomoção e a execução das atividades de vida diária<br />

interferindo na manutenção de um estilo de vida<br />

independente. É causada tanto pelas lesões no SNC<br />

quanto pelas alterações musculares decorrentes do<br />

desuso 17,39,40 . O déficit de força em pacientes com<br />

EM ocorre de forma mais acentuada nos músculos<br />

de membros inferiores 41,42 . Há uma correlação entre<br />

a diminuição da força e prejuízos na marcha, independente<br />

da forma clínica da doença. Essa relação é<br />

especialmente alta com os músculos do jarrete, mas<br />

pode depender do nível de incapacidade e da forma<br />

clínica 43 .<br />

Pacientes submetidos a um programa de treinamento<br />

resistido progressivo para membros inferiores<br />

durante oito semanas apresentaram aumento<br />

na força isométrica de extensão de joelho (7,4%) e<br />

flexão plantar (54%), além da melhora de 8,7% no<br />

desempenho na execução de 3 minutos de subida e<br />

descida de degrau. O auto-relato de fadiga reduziu<br />

significativamente em 24% dos estudados, havendo<br />

também uma tendência para redução da incapacidade<br />

(EDSS de 3,7 para 3,2). Os autores atribuíram<br />

os ganhos de força a mudanças no tipo de fibras<br />

ou à melhora na eficiência contrátil dos músculos,<br />

sugerindo que o treinamento de força seja uma intervenção<br />

bem tolerada para melhora da força e locomoção,<br />

além de auxiliar na redução da fadiga e<br />

capacidade funcional 44 .<br />

Um estudo envolvendo pacientes com incapacidade<br />

leve a moderada avaliou o impacto de 26 semanas<br />

de exercícios resistidos e aeróbios na marcha,<br />

força, resistência muscular e destreza de membros<br />

inferiores, consumo de oxigênio e equilíbrio estático.<br />

Os exercícios de força foram desenvolvidos de 3 a 4<br />

vezes por semana com faixas elásticas com diferentes<br />

graduações. Sugeriu-se que os participantes executassem<br />

atividades aquáticas, uma vez por semana<br />

como exercício aeróbio. Foram observadas melhoras<br />

significativas após 6 meses de treinamento nos testes<br />

de caminhada de 7,62 metros (12%) e 500 metros<br />

(6%), além de melhora na resistência muscular loca-<br />

163<br />

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lizada nos membros superiores. A melhora na locomoção,<br />

a princípio não pode ser atribuída a ganhos<br />

de força em membros inferiores, uma vez que esses<br />

não foram estatisticamente significativos. No entanto<br />

os autores explicam que o tipo de exercício realizado<br />

durante o programa diferiu daquele realizado<br />

na avaliação, implicando em falta de especificidade<br />

entre as ações motoras e mascarando possíveis ganhos<br />

de força. Mesmo com a aparente ausência de<br />

ganhos de força muscular, esse programa apresentou-se<br />

como um método seguro e eficaz na melhora<br />

da locomoção de pacientes com EM 45 .<br />

A avaliação dos parâmetros cinéticos e cinemáticos<br />

da marcha em 18 pacientes submetidos somente<br />

a um programa de condicionamento aeróbico<br />

durante 6 meses revelou um aumento na amplitude<br />

de movimento na adução, abdução e rotação interna<br />

e externa do quadril. Porém a velocidade, cadência<br />

e o ângulo máximo de dorsiflexão apresentaram redução.<br />

Seis pacientes demonstraram declínio neurológico,<br />

o que pode ser devido ao período de treinamento<br />

relativamente longo. A ausência de melhora<br />

nos parâmetros da marcha foi provavelmente resultado<br />

da natureza não específica da intervenção 46 .<br />

CONCLUSÃO<br />

A ataxia é um dos sintomas mais resistentes ao<br />

tratamento na esclerose múltipla, contudo a utilização<br />

de diferentes técnicas pela fisioterapia possui um<br />

efeito positivo na melhora do equilíbrio, coordenação,<br />

força e mobilidade destes pacientes, resultando<br />

em uma melhora funcional do padrão de marcha e<br />

minimizando a deterioração funcional provocada<br />

pela progressão da doença. Os programas até agora<br />

desenvolvidos, mostraram-se eficazes. Entretanto<br />

a adoção de cuidados básicos referentes ao controle<br />

da fadiga e da espasticidade devem ser levados em<br />

consideração.<br />

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Efeitos da fisioterapia em paciente<br />

portador de Mucopolissacaridose<br />

estudo de caso<br />

Effects of physical therapy in Mucopolysaccharidoses patients<br />

Caio Imaizumi 1 , Isabella Costa Nova 2 , Andréia de O Joaquim 3<br />

RESUMO<br />

As mucopolissacaridoses são um grupo de doenças hereditárias<br />

que causam deformidades esqueléticas, sendo a compressão<br />

medular uma complicação importante, causando paraplegia<br />

espástica. Objetivo. Avaliar a efetividade da fisioterapia nas mucopolissacaridoses<br />

através de um estudo de caso. Relato de caso.<br />

participou deste estudo um paciente de 18 anos, sexo masculino,<br />

portador de mucopolissacaridose. O tratamento fisioterapêutico<br />

foi realizado na clinica de fisioterapia da Universidade Paulista,<br />

campus Anchieta, pelo período de 20 meses, sendo avaliado no<br />

inicio e no final do período estabelecido. Resultados. Verificouse<br />

hipertonia elástica grau 1 na escala de Ashworth modificada,<br />

tanto em membro superior esquerdo e em membros inferiores,<br />

melhora na mobilidade articular do tornozelo e maior facilidade<br />

nas mudanças de decúbito. Conclusão. A fisioterapia auxiliou na<br />

redução da hipertonia elástica adequando o tônus para o mais<br />

próximo do normal possível.<br />

Unitermos: Técnicas Fisioterápicas. Hidroterapia.<br />

Mucopolissacaridoses. Toxinas botulínicas.<br />

Citação: Imaizumi C, Nova IC, Joaquim AO. Efeitos da fisioterapia em<br />

paciente portador de Mucopolissacaridose.<br />

SUMMARY<br />

Mucopolysaccharidoses is a group of metabolic inherited illness<br />

that leads to skeletal deformities and spinal cord compression,<br />

causing muscle spasticity. Objective. To assess the efficiency of<br />

physiotherapy in cases of Mucopolysaccharidoses using a case<br />

study. Case study. An 18 year-old male patient suffering from<br />

Mucopolysaccharidoses was enrolled in this study. The physical<br />

therapy treatment took place in the Physical Therapy clinic of<br />

the Paulista University, Anchieta campus, for 20 months, and<br />

was evaluated at the beginning and the end of the pre-established<br />

period for the study. Results. The treatment disclosed an<br />

elastic hypertonia grade 1 in the modified Ashworth scale, in the<br />

left arm and both legs, an improvement in the articular mobility<br />

of the ankle and an increased easiness in changing lying positions.<br />

Conclusion. Physiotherapy helped to reduce elastic hypertonia,<br />

adjusting the tonus to close to normal.<br />

Keywords: Physical Therapy Modalities. Hydrotherapy.<br />

Mucopolysaccharidoses. Botulinum Toxins.<br />

Citation: Imaizumi C, Nova IC, Joaquim AO. Effects of pysical therapy in<br />

Mucopolysaccharidoses patients.<br />

Trabalho realizado na Faculdade de Fisioterapia da Universidade<br />

Paulista – UNIP.<br />

1.Fisioterapeuta, acupunturista – ETOSP, especialista em fisiologia<br />

humana pela Faculdade de Medicina do ABC – FMABC.<br />

2.Fisioterapeuta, mestre em Neurociências pela UNIFESP. Supervisora<br />

do estágio de neurologia do curso de fisioterapia da UNIP.<br />

3. Fisioterapeuta, especialista em Disfunção Músculo Esquelética pela<br />

Universidade Metodista de São Paulo – UMESP. Supervisora do estágio<br />

de hidroterapia e professora do curso de fisioterapia da UNIP.<br />

Endereço para correspondência:<br />

Caio Imaizumi<br />

Av. Liberdade, 113/1 o e 2 o andares<br />

São Paulo – SP, CEP 0<strong>15</strong>03-000<br />

E-mail: caio.imaizumi@uol.com.br / etosp@terra.com.br<br />

Recebido em: 07/02/06<br />

Revisão: 08/02/06 a 20/08/06<br />

Aceito em: 21/08/06<br />

Conflito de interesses: não<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:166–169 166


estudo de caso<br />

INTRODUÇÃO<br />

As mucopolissacaridoses constituem um grupo<br />

de doenças hereditárias, caracterizadas pela<br />

anormalidade do metabolismo de moléculas de hidratos<br />

de carbono de alto peso molecular, contendo<br />

glicosaminoglicanos, normalmente encontrados na<br />

matriz celular 1,2 , sendo responsáveis por 32% dos erros<br />

inatos do metabolismo 3 .<br />

Todas as entidades catalogadas como mucopolissacaridoses<br />

parecem estar associadas a uma mutação<br />

que, resultando numa diminuição da atividade<br />

enzimática lisossomal, leva ao conseqüente impedimento<br />

na degradação dos glicosaminoglicanos. Com<br />

exceção da moléstia de Hunter ou Mucopolissacaridose<br />

Tipo II, que está ligada ao sexo, todas as outras<br />

são do tipo autossômico recessivo 1,2 .<br />

É importante ressaltar que a criança é normal<br />

ao nascimento, mas paralelamente ao acúmulo de<br />

mucopolissacárides, surgem deformidades progressivas<br />

4 .<br />

A Mucopolissacaridose tipo IV (MPS IV) ou<br />

Síndrome de Mórquio é uma doença autossômica<br />

recessiva causada pela deficiência enzimática da N-<br />

acetil-galactosamina-6-sulfatase e galactose-6-sulfatase<br />

(tipo A) e deficiência enzimática da beta-galactosidade<br />

(tipo B). Ambos levam a alteração dos<br />

mucopolissacárides com excreção aumentada na urina<br />

de ceratan-sulfato, que é um glicosaminoglicano<br />

usualmente encontrado no tecido cartilagenoso 1,5-7 .<br />

Ocorre aproximadamente em 1 entre cada<br />

40.000 nascimentos 5 , sendo caracterizada por um<br />

nanismo extremo, com anormalidades esqueléticas<br />

diversas. Uma complicação importante da deformação<br />

esquelética é a compressão medular devido à<br />

aplasia ou hipoplasia odontóide e subluxação atlanto-axial.<br />

Isso poderá resultar em paraplegia espástica<br />

ou tetraplegia/paresia e paralisia respiratória. O<br />

desenvolvimento genital é normal e não há déficit<br />

menta l1,5-8 .<br />

O objetivo deste estudo é avaliar a efetividade<br />

da fisioterapia em um paciente portador de mucopolissacaridose.<br />

ESTUDO DE CASO<br />

Foi realizado estudo de caso do paciente<br />

SLBK, 18 anos, sexo masculino, portador de mucopolissacaridose,<br />

que até o presente momento não foi<br />

identificado o tipo, porém os achados clínicos sugerem<br />

que seja do tipo IV ou Síndrome de Mórquio.<br />

Aos 5 anos de idade, constatou-se deformação<br />

em garra dos dedos da mão, compressão do túnel<br />

carpal assintomático, diagnosticado através de eletroneuromiografia,<br />

e marcha de apoio positivo. Aos<br />

14 anos começou a apresentar as primeiras complicações<br />

músculo-esqueléticas, deambulando com<br />

auxílio, apresentando déficit importante no controle<br />

de tronco e membros inferiores (MMII) e evoluindo<br />

rapidamente para a cadeira de rodas. A ressonância<br />

magnética evidenciou compressão medular alta, ao<br />

nível das primeiras vértebras cervicais, e após 60 dias<br />

foi realizada cirurgia de descompressão medular e<br />

laminectomia entre C1 e C4.<br />

Em relação ao exame físico-funcional apresentava<br />

hiperreflexia bicipital à esquerda além de<br />

patelar e aquileu bilateralmente; sem alterações de<br />

sensibilidade e trofismo. Presença de hipertonia elástica<br />

grau 3 na escala de Ashworth modificada 9 no<br />

membro superior esquerdo (MSE), especialmente no<br />

músculo bíceps braquial, e grau 2 nos MMII, especialmente<br />

nos músculos isquiotibiais, clônus bilateralmente,<br />

e força muscular grau 2 nos dorsiflexores.<br />

Presença de encurtamentos importantes em MMII<br />

(isquiotibiais, adutores e tríceps sural) e MSE (peitoral<br />

maior, bíceps braquial, pronador redondo e<br />

flexores superficiais e profundos dos dedos), deformidade<br />

em garra na mão esquerda, espessamento<br />

ósseo da ulna, rotação externa de fêmur esquerdo, e<br />

pé eqüino bilateral. Realizou o rolar de supino para<br />

decúbito lateral (DL) e depois para prono, bilateralmente,<br />

sem dissociação. O rolar de prono para DL<br />

foi realizado somente com auxílio na pelve. Passou<br />

para a postura sentada a partir de prono usando<br />

apoio de membro superior direito (MSD) com pouca<br />

dissociação de cintura, mantendo-se sobre o sacro.<br />

Não conseguia adotar postura de gato, ajoelhado e<br />

semi-ajoelhado devido à fraqueza em musculaturas<br />

abdominais, quadrado lombar, e falta de seletividade<br />

no movimento pélvico e escapular. Manteve ortostase<br />

somente com apoio nas barras paralelas ou parapódium,<br />

apoiando-se sobre os membros superiores<br />

(MMSS), apresentando postura cifótica, semi-flexão<br />

de joelho, rotação externa de membro inferior esquerdo<br />

(MIE) e não deambulava. Apresentava opacidade<br />

corneana, maturidade intelectual compatível<br />

com a idade, 40 pontos no índice de Barthel 10 e fazia<br />

uso de Lioresal 2 comprimidos de 10 mg 3 vezes ao<br />

dia.<br />

PROCEDIMENTO<br />

O tratamento fisioterapêutico foi realizado<br />

na clínica de fisioterapia da Universidade Paulista<br />

(UNIP) campus Anchieta, num período de 20 meses,<br />

167<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:166–169


2 vezes por semana, sendo 2 terapias no solo com<br />

duração de 45 minutos e 1 na hidroterapia com duração<br />

de 35 minutos. Em outubro de 2003 fez a 1º<br />

aplicação de Toxina Botulínica nos músculos pronador<br />

redondo bilateral, flexor radial do carpo bilateral,<br />

palmar longo bilateral, peitoral maior esquerdo,<br />

gastrocnêmio medial e lateral bilateral e solear bilateral.<br />

Após a aplicação da toxina, a fisioterapia foi<br />

intensificada para 4 vezes por semana, sendo 4 terapias<br />

em solo, 2 na hidro e 1 aplicação de eletroestimulação<br />

funcional (FES).<br />

Nas terapias em solo foram enfatizadas a melhora<br />

da amplitude de movimento (ADM) de MSE e<br />

MMII, força muscular dos MMII, melhora do controle<br />

motor voluntário, melhora dos componentes da<br />

marcha e adequação do tônus através de mobilização<br />

da cintura escapular esquerda, alongamentos musculares<br />

de peitoral maior esquerdo, bíceps braquial<br />

esquerdo, cadeia flexora de antebraço, punho e mão,<br />

fortalecimento de cadeia muscular do MSE através<br />

das diagonais de Kabat, alongamento dos músculos<br />

da cadeia posterior dos MMII, mobilização passiva e<br />

ativa dos MMII, exercício passivo de dorsiflexão dos<br />

tornozelos, e estimulação da ortostase e mobilidade<br />

funcional de MMSS no parapódium. Na hidroterapia<br />

foram enfatizados o fortalecimento da musculatura<br />

abdominal dos MMII e dos MMSS e a estimulação<br />

da ortostase e da marcha através das técnicas<br />

de Halliwick 11,12 e de Bad Ragaz 11,12 enfatizando os<br />

padrões de MMSS e MMII, utilizando-se da piscina<br />

terapêutica aquecida a 34ºC.<br />

As aplicações de FES foram realizadas para<br />

estimular a inibição recíproca e aumentar a força<br />

muscular da musculatura extensora dos MMII com<br />

o aparelho Physiotonus Four – TENS & FES electrostimulator<br />

4 channel da marca Bioset nos músculos<br />

quadríceps e tibial anterior bilateralmente com<br />

os seguintes parâmetros : Ton 8seg., Toff 12seg.,<br />

Rise 3seg., Decay 2seg., F 80Hz e T 200μs.<br />

Ao final do período o paciente foi reavaliado<br />

verificando-se os reflexos profundos bicipital, tricipital,<br />

patelar e aquileu, tônus muscular de MMSS<br />

e MMII.<br />

RESULTADOS<br />

Após o período de tratamento verificou-se<br />

que o tônus, através de mobilização passiva, apresentava<br />

uma hipertonia elástica grau 1 na tabela<br />

Ashworth modificada 9 tanto em MSE quanto em<br />

MMII.<br />

estudo de caso<br />

Obtivemos uma melhora do posicionamento<br />

do pé, advindo do trabalho de fortalecimento e posicionamento,<br />

sendo que o pé esquerdo apresentou<br />

força muscular grau 4 e o pé direito grau 3 nos dorsiflexores.<br />

Em relação às atividades funcionais verificouse<br />

que ao rolar o paciente realizou com mais facilidade<br />

a passagem de supino para prono pelo lado<br />

esquerdo utilizando-se o MSD como apoio. A passagem<br />

de supino para sentado realizou-se com mais<br />

facilidade pelo lado esquerdo. A passagem de gato<br />

foi realizada de prono com auxílio do terapeuta pela<br />

cintura pélvica. Colocou-se um rolo sob o tronco e<br />

o paciente adotou a posição de gato, ficando assim<br />

por alguns instantes. O ajoelhar somente foi realizado<br />

com auxílio do terapeuta, através da posição de<br />

gato, limitada pela dor no joelho quando houve a<br />

descarga de peso. A posição de semi-ajoelhado não<br />

foi realizada devido à fraqueza abdominal, da região<br />

lombar e cintura pélvica e dos MMII. A ortostase foi<br />

conseguida somente com uso de parapódium e não<br />

foi realizada a marcha.<br />

DISCUSSÃO<br />

Este estudo demonstra os benefícios que a fisioterapia<br />

pode trazer para um paciente portador de<br />

mucopolissacaridose, porem sem atuar diretamente<br />

sobre a doença, pois trata-se de uma síndrome que<br />

acomete o sistema metabólico, atuando sobre os efeitos<br />

desta nos sistemas músculo-esquelético e neurológico<br />

1-8 .<br />

Dentre os achados clínicos deste paciente, encontramos<br />

alterações de tônus e espasticidade e as<br />

alterações das atividades funcionais, encontradas no<br />

exame físico, são decorrentes da espasticidade e hipertonia<br />

pois geram fraqueza muscular e diminuição<br />

do controle motor 13,14 .<br />

Nas terapias em solo foram utilizadas técnicas<br />

de cinesioterapia, com resistências manuais devido<br />

à sua facilidade na aplicação, pois na maioria das<br />

vezes os pacientes não possuem condições econômicas<br />

para adquirirem aparelhos e/ou equipamentos,<br />

além do fato da fácil aplicabilidade em quase toda<br />

situação e localidade, como na residência do paciente<br />

ou na clinica de fisioterapia. Como a clinica escola<br />

possui aparelhos de eletroterapia e uma piscina terapêutica,<br />

fizemos uso desses recursos.<br />

A Hidroterapia é um recurso excelente na<br />

reabilitação de pacientes neurológicos, pois através<br />

dos métodos de Halliwick e Bad Ragaz, além da própria<br />

ação da água aquecida, conseguem readequar<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:166–169 168


estudo de caso<br />

o tônus muscular, através do relaxamento das fibras<br />

musculares, e também melhoraram o fortalecimento<br />

muscular, promovendo uma melhor independência<br />

funcional 11,12,<strong>15</strong>,16 .<br />

O recurso eletroterapêutico, através do uso do<br />

aparelho de FES, foi utilizado para tentar melhorar<br />

o fortalecimento muscular e melhorar o mecanismo<br />

de inibição recíproca, pois através destes conseguimos<br />

melhorar o controle motor que por conseqüência<br />

melhora a independência funcional 17-19 .<br />

A toxina botulínica foi aplicada no paciente<br />

para tratar a espasticidade, melhorando o controle<br />

motor, prevenindo contraturas e inibindo posturas<br />

incapacitantes 13 . Após esta aplicação, a fisioterapia,<br />

foi intensificada para que se pudesse aproveitar e otimizar<br />

os efeitos positivos da toxina, e os resultados<br />

obtidos demonstram que a associação do uso de toxina<br />

botulínica com a fisioterapia é positiva para o<br />

tratamento da espasticidade.<br />

CONCLUSÃO<br />

Através deste trabalho podemos concluir<br />

que a cinesioterapia e a hidroterapia favorecem<br />

a reabilitação de pacientes portadores de mucopolissacaridose<br />

que apresentam espasticidade. É<br />

importante ressaltar que apenas um caso não é suficiente<br />

para demonstrar a eficácia da fisioterapia<br />

nesta doença, porém os resultados obtidos neste<br />

estudo sugerem que o tratamento fisioterapêutico<br />

pode ser útil no tratamento da mucopolissacaridose,<br />

e que a toxina botulínica pode ser um aliado na<br />

reabilitação desses pacientes.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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tipo VI. Radiol Bras 2002; 35(5): 311-4.<br />

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diagnosis of mucopolysaccharidoses. Genet Mol Biol 1998; 21(1):163-7.<br />

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endócrina de três casos. Arq Bras Endocrinol Metab 2003; 47(1): 87-94.<br />

5. Chaves AG, Tavares KB, Val JR, Matsuyama C, Riskalla PE. Síndrome<br />

de Morquio: relato de caso e revisão da literatura. Rev Bras Otorrinolaringol<br />

2003; 69(2): 267-71.<br />

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and histologic findings in Morquio’s syndrome. Arthroscopy 2005;21(2):233-7.<br />

7. Fitzgerald J, Verveniotis SJ. Morquio’s syndrome. A case report and<br />

review of clinical findings. N Y State Dent J 1998; 64(8):48-50.<br />

8. Gulati MS, Agin MA. Morquio syndrome: a rehabilitation perspective.<br />

J Spinal Cord Med. 1996; 19(1):12-6.<br />

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Ashworth Scale of muscle spasticity. Phys Ther 1986; 67: 206-7.<br />

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12. Campion MR. Hidroterapia Princípios e Prática. 1ª ed. bras. São<br />

Paulo: Manole, 2000, 334p.<br />

13. Teive HA, Zonta M, Kumagai Y. Treatment of spasticity: an update.<br />

Arq. Neuro-Psiquiatr 1998; 56(4):852-8.<br />

14. Peixoto ES, Mazzitelli C. Avaliação dos Principais Déficits e Proposta<br />

de Tratamento da Aquisição Motora Rolar na Paralisia Cerebral. Rev<br />

Neurocienc 2004; 12(1): 46-53.<br />

<strong>15</strong>. Fachardo GA, de Carvalho SCP, Vitorino DFM. Tratamento hidroterápico<br />

na Distrofia Muscular de Duchenne: Relato de um caso. Rev<br />

Neurocienc 2004; 12(4): 217-21.<br />

16. Castro TM, Leite JMRS, Vitorino DFM, Prado GF. Síndrome de<br />

Rett e Hidroterapia: Estudo de Caso. Rev Neurocienc 2004; 12(2):77-81.<br />

17. John L, Reed A. Eletroterapia explicada - princípios e prática. 3 a ed.<br />

São Paulo: Manole, 2001, pp. 57-<strong>15</strong>0.<br />

18. Kitchen S. Eletroterapia: Prática Baseada em Evidências. 11ª Ed. São Paulo:<br />

Manole, 2003, 360p.<br />

19. Martins FLM, Guimarães LHCT, Vitorino DFM, Souza LCF. Eficácia<br />

da eletroestimulação funcional na amplitude de movimento de dorsiflexão de<br />

hemiparéticos. Rev Neurocienc 2004; 12(2):103-9.<br />

169<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2:166–169


NORMAS DE PUBLICAÇÃO<br />

A <strong>Revista</strong> Neurociências é voltada à Neurologia e às ciências<br />

afins. Publica artigos de interesse científico e tecnológico, voltada<br />

à Neurologia e às ciências afins, realizados por profissionais<br />

dessas áreas, resultantes de estudos clínicos ou com ênfase em<br />

temas de cunho prático, específicos ou interdisciplinares. São<br />

aceitos artigos em inglês, português ou espanhol. Seus volumes<br />

são anuais e os números trimestrais, publicados em março, junho,<br />

setembro e dezembro. A linha editorial da revista publica<br />

preferencialmente Artigos de pesquisa Originais (inclusive Revisões<br />

sistemáticas), mas também são aceitos para publicação artigos<br />

de: Revisão de Literatura, de Atualização, Relato de Caso,<br />

Resenha, Ensaio, Texto de Opinião e Carta ao Editor, desde<br />

que aprovado pelo Corpo Editorial. Trabalhos apresentados<br />

em Congressos ou Reuniões Científicas de áreas afins poderão<br />

constituir-se de anais em números ou suplementos especiais da<br />

<strong>Revista</strong> Neurociências.<br />

Os artigos devem ser inéditos, isto é, não publicados em outros<br />

periódicos, exceto na forma de Resumos em Congressos e não<br />

devem ser submetidos a outros periódicos simultaneamente,<br />

com o quê se comprometem seus autores. Os artigos devem<br />

ser submetidos eletronicamente, via e-mail para o endereço:<br />

revistaneurociencias@yahoo.com. Recebido o manuscrito, o Corpo<br />

Editorial verifica se o mesmo encontra-se dentro dos propósitos do<br />

periódico e de acordo com as Normas de Publicação, recusando<br />

aqueles que não cumprirem essas condições. O Corpo Editorial<br />

emite Protocolo de Recebimento do Artigo e envia a Carta<br />

de Autorização, a ser assinada por todos os autores, mediante<br />

confirmação de que o artigo é inédito e compromisso de declarar<br />

eventuais Conflitos de Interesse pessoais, comerciais, políticos,<br />

acadêmicos ou financeiros de cada autor. O Corpo Editorial<br />

envia, então, o artigo para, pelo menos, dois revisores dentro da<br />

área do tema do artigo, no sistema de arbitragem por pares, que<br />

em até 60 dias devem avaliar o conteúdo e forma do texto. O<br />

Corpo Editorial analisa os pareceres e encaminha as sugestões<br />

para os autores, para aprimoramento do conteúdo, da estrutura,<br />

da redação e da clareza do texto. Os autores têm 30 dias para<br />

revisar o texto, incluir as modificações sugeridas, cabendo-lhes<br />

direito de resposta. O Corpo Editorial, quando os revisores<br />

sugerirem a adição de novos dados, e a depender do estudo,<br />

poderá prover tempo extra aos autores, para cumprimento<br />

das solicitações. O Corpo Editorial verifica as modificações<br />

realizadas no texto e se necessário, sugere correções adicionais. O<br />

Corpo Editorial aceita o artigo para publicação ou pode recusálo<br />

se for inadequado. Para publicação, será observada a ordem<br />

cronológica de aceitação dos artigos e distribuição regional. Os<br />

artigos aceitos estão sujeitos à adequações de gramática, clareza<br />

do texto e estilo da <strong>Revista</strong> Neurociências sem prejuízo ao seu<br />

conteúdo. Fica subentendido que os autores concordam com a<br />

exclusividade da publicação do artigo no periódico, transfere<br />

os direitos de cópia e permissões à publicadora. Provas são<br />

fornecidas em condições especiais. Separatas são impressas sob<br />

encomenda e os autores respondem por seus custos. Os artigos<br />

são de responsabilidade de seus autores.<br />

INSTRUÇÕES PARA OS AUTORES<br />

http://www.revistaneurociencias.com.br<br />

Submissão do artigo: os artigos devem ser encaminhados ao<br />

Editor Chefe via e-mail: revistaneurociencias@yahoo.com e poderão<br />

ser utilizados editores de texto, preferencialmente “Word”, no<br />

formato “doc”, espaço duplo, Times New Roman, fonte 12.<br />

Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2<br />

Categoria de artigos: Editorial, Originais, Revisão Sistemática,<br />

Revisão de Literatura, de Atualização, Relato de Caso, Resenha,<br />

Ensaio, Texto de Opinião e Carta ao Editor. O número de<br />

palavras inclui texto e referências bibliográficas (não devem ser<br />

considerados folha de rosto com título, autores, endereço de correspondência,<br />

resumo e summary e tabelas, figuras e gráficos).<br />

Adotar as recomendações abaixo.<br />

Editorial: a convite do Editor, sob ema específico, deve conter<br />

no máximo 2000 palavras.<br />

Artigos Originais, Revisões Sistemáticas, e Relato de<br />

Caso: resultado de pesquisa de natureza empírica, experimental<br />

ou conceitual (6000 palavras).<br />

Título: em inglês e em português ou espanhol, sintético e restrito<br />

ao conteúdo, mas contendo informação suficiente para catalogação,<br />

não excedendo 90 caracteres. A <strong>Revista</strong> prefere títulos<br />

informativos.<br />

Autor(es): referir nome(es) e sobrenome(s) por extenso. Referir<br />

a instituição em que foi feita a pesquisa que deu origem ao artigo.<br />

Referir formação acadêmica, títulação máxima e vínculo<br />

profissional de cada autor, ex.: 1- Neurologista, Livre Docente,<br />

Professor Adjunto da UNIFESP, 2- Neurologista, Pós-graduando<br />

na UNICAMP, 3- Neurologista, Residente no Hospital São<br />

Paulo - UNIFESP. Referir suporte financeiro. Identificar o autor<br />

e endereço para correspondência.<br />

Resumo e Summary: devem permitir uma visão panorâmica<br />

do trabalho. Para os Artigos Originais o resumo deve ser estruturado<br />

em objetivos, métodos, resultados e conclusões. Não exceder<br />

200 palavras.<br />

Unitermos e Keywords: Máximo de 6 (seis), referir após o<br />

Resumo e o Summary, respectivamente. Como guia, consulte<br />

descritores em ciências da saúde (http://decs.bireme.br).<br />

Corpo do Artigo: apresentar a matéria do artigo seqüencialmente:<br />

introdução e objetivo; método (sujeitos ou relato de caso,<br />

Comitê de Ética, Consentimento Informado, procedimento ou<br />

intervenção e análise estatística) com detalhes suficientes para a<br />

pesquisa poder ser duplicada, resultados (apresentados de forma<br />

clara e concisa), discussão (interpretação dos resultados comparados<br />

à literatura), conclusões, agradecimentos, referências<br />

bibliográficas. As abreviações devem vir acompanhadas do seu<br />

significados na primeira vez que aparecerem no texto. Nomes<br />

comerciais e marcas registradas devem ser utilizadas com parcimônia,<br />

devendo-se dar preferência aos nomes genéricos.<br />

Quadros, Gráficos e Tabelas: até 5, apresentadas em páginas<br />

separadas e no final do texto. Em cada uma, devem constar<br />

seu número de ordem, título e legenda.<br />

Figuras: até 2 ilustrações com tamanho não superior a 6 cm<br />

x 9 cm cada uma, com alta resolução. As fotos devem ser em<br />

preto e branco contrastadas com eventuais detalhes como setas,<br />

números ou letras. Identificar cada ilustração com seu número<br />

de ordem e legenda, devem ser encaminhadas em outro arquivo<br />

com nome do autor e do artigo. Ilustrações reproduzidas de<br />

textos já publicados devem ser acompanhadas de autorização de<br />

reprodução, tanto do autor como da publicadora.<br />

Ilustrações em cores podem ser publicadas; dado seu custo elevado,<br />

será de responsabilidade dos autores, assim como o custo por<br />

número de tabelas e ilustrações acima dos mencionados e desde<br />

que sua publicação seja autorizada pela editora. O material recebido<br />

não será devolvido aos autores. Manter os negativos destas.<br />

Referências: Até cerca de 30 (as Revisões Sistemáticas deverão<br />

solicitar o aumento do número de referências ao Editor, conforme<br />

a necessidade), restritas á bibliografia essencial ao conteúdo<br />

170


do artigo. Todos os autores e trabalhos citados no texto devem<br />

constar na listagem de referências bibliográficas. No texto, as<br />

citações devem seguir o sistema numérico, isto é, são numerados<br />

por ordem de sua citação no texto, utilizando-se números arábicos<br />

sobrescritos segundo o estilo Vancouver (www.icmje.org). Por<br />

exemplo: “....o horário de ir para a cama e a duração do sono na<br />

infância e adolescência 6-12,14,<strong>15</strong> .”<br />

As referências devem ser ordenadas consecutivamente na ordem<br />

na qual os autores são mencionados no texto. Mais de 6 autores,<br />

listar os 6 primeiros seguidos de “et al.”.<br />

a) Artigos: Autor(es). Título do artigo. Título do periódico<br />

(abreviados de acordo com o Index Medicus) ano; volume: página<br />

inicial – final.<br />

Ex.: Wagner ML, Walters AS, Fisher BC. Symptoms of attention-deficit/hyperactivity<br />

disorder in adults with restless legs<br />

syndrome. Sleep 2004;27:1499-504.<br />

b) Livros: Autor(es) ou editor(es). Título do livro. Edição, se não<br />

for a primeira. Tradutor(es), se for o caso. Local de publicação:<br />

editora, ano, total de páginas.<br />

Ex.: Ferber R, Kriger M. Principles and practice of sleep<br />

medicine in the child. Philadelphia: W.B. Saunders Company,<br />

1995, 253p.<br />

c) Capítulos de livros: Autor(es) do capítulo. Título do capítulo.<br />

In: Editor(es) do livro. Título do livro. Edição, se não for a<br />

primeira. Tradutor(es), se for o caso. Local de publicação: editora,<br />

ano, página inicial e página final.<br />

Ex.: Stepanski EJ. Behavioral Therapy for Insomnia. In: Kryger<br />

MH; Roth T, Dement WC (eds). Principles and practice of<br />

sleep medicine. 3rd ed. Philadelphia: W.B. Saunders Company,<br />

2000, p.647-56.<br />

d) Resumos: Autor(es). Título. Periódico ano; volume (suplemento<br />

e seu número, se for o caso): página(s). Quando não publicado<br />

em periódico: Título da publicação. Cidade em que foi<br />

publicada: editora, ano, página(s).<br />

Ex.: Carvalho LBC, Silva L, Almeida MM, et al. Cognitive<br />

dysfunction in sleep breathing disorders children. Sleep 2003;<br />

26(Suppl):A135.<br />

e) Comunicações pessoais só devem ser mencionadas no texto<br />

entre parênteses.<br />

f) Tese: Autor. Título da obra, seguido por (tese) ou (dissertação).<br />

Cidade: instituição, ano, número de páginas.<br />

Ex.: Fontes SV. Impacto da fisioterapia em grupo na qualidade<br />

de vida de pacientes por AVCi (Tese). São Paulo: UNIFESP,<br />

2004, 75p.<br />

g) Documento eletrônico: Título do documento (Endereço<br />

na Internet). Local: responsável (atualização mês/ano; citado<br />

em mês/ano). Disponível em: site.<br />

Ex.: The pre-history of cognitive science (endereço na<br />

Internet). Inglaterra: World Federation Neurology. (última<br />

atualização 12/2005; citado em 01/2006). Disponível em:<br />

http://www.wfneurology.org/index.htm.<br />

Artigos de Revisão de Literatura e Atualização: revisão crítica<br />

de literatura ou atualização relativo à neurociências, com<br />

ênfase em causa, diagnóstico, prognóstico, terapia ou prevenção<br />

(8000 palavras).<br />

Título: em inglês e em português ou espanhol, sintético e restrito<br />

ao conteúdo, mas contendo informação suficiente para catalogação,<br />

não excedendo 90 caracteres. A <strong>Revista</strong> prefere títulos<br />

informativos.<br />

Autor(es): referir nome(es) e sobrenome(s) por extenso. Referir<br />

a instituição em que foi feita a pesquisa que deu origem ao artigo.<br />

Referir formação acadêmica, títulação máxima e vínculo<br />

profissional de cada autor, ex.: 1- Neurologista, Livre Docente,<br />

Professor Adjunto da UNIFESP, 2- Neurologista, Pós-graduando<br />

na UNICAMP, 3- Neurologista, Residente no Hospital São<br />

Paulo - UNIFESP. Referir suporte financeiro. Identificar o autor<br />

e endereço para correspondência.<br />

Resumo e Summary: devem permitir uma visão panorâmica<br />

do trabalho. Para os Artigos Originais o resumo deve ser estruturado<br />

em objetivos, métodos, resultados e conclusões. Não exceder<br />

200 palavras.<br />

Unitermos e Keywords: Máximo de 6 (seis), referir após o<br />

Resumo e o Summary, respectivamente. Como guia, consulte<br />

descritores em ciências da saúde (http://decs.bireme.br).<br />

Corpo do Artigo: apresentar a matéria do artigo seqüencialmente:<br />

introdução, conclusão e referências bibliográficas.<br />

Referências: até 100 referências, seguindo o sistema numérico<br />

por ordem de sua citação no texto segundo o estilo Vancouver.<br />

Quadros e Tabelas: até 2, apresentadas em páginas separadas<br />

e no final do texto. Em cada uma, devem constar seu número de<br />

ordem, título e legenda.<br />

Artigos de Resenha: análise crítica de livros publicados, teses e<br />

dissertações dos últimos dois anos (3000 palavras).<br />

As Resenhas de livros, teses ou dissertações devem seguir os itens:<br />

título em inglês e em português ou espanhol, sintético e restrito<br />

ao conteúdo, mas contendo informação suficiente para catalogação,<br />

não excedendo 90 caracteres. A <strong>Revista</strong> prefere títulos<br />

informativos; nome do(s) revisor(es), com formação, titulação<br />

acadêmica e vínculo profissional, instituição onde o trabalho foi<br />

realizado, endereço para correspondência; referência completa<br />

da obra seguindo estilo Vancouver; corpo do texto contendo:<br />

tema, hipótese ou idéia central; argumentos; evidências científicas;<br />

avaliação pessoal quanto à organização da obra, pontos<br />

fortes e fracos, bibliografia utilizada, benefícios, trabalhos semelhantes;<br />

conclusão, críticas e comentários.<br />

Ensaios: pesquisas, análises e avaliações de tendência teórico-metodológicas<br />

e conceituais da área das neurociências<br />

(3000 palavras). Deverão conter: título em inglês e em português<br />

ou espanhol, sintético e restrito ao conteúdo, mas<br />

contendo informação suficiente para catalogação, não excedendo<br />

90 caracteres. A <strong>Revista</strong> prefere títulos informativos;<br />

nome do(s) autor(es), com formação, titulação acadêmica e<br />

vínculo profissional, instituição onde o trabalho foi realizado,<br />

endereço para correspondência; e no máximo 10 referências<br />

bibliográficas.<br />

Texto de Opinião e Carta ao Editor: devem conter opinião<br />

qualificada sobre um tema na área de neurociências, nota curta,<br />

crítica sobre artigo já publicado na <strong>Revista</strong> Neurociências ou<br />

relato de resultados parciais ou preliminares de pesquisa (1000<br />

palavras).<br />

Deverão conter: título em inglês e em português ou espanhol,<br />

sintético e restrito ao conteúdo, mas contendo informação suficiente<br />

para catalogação, não excedendo 90 caracteres. A <strong>Revista</strong><br />

prefere títulos informativos; nome do(s) autor(es), com formação,<br />

titulação acadêmica e vínculo profissional, instituição onde<br />

o trabalho foi realizado, endereço para correspondência; e no<br />

máximo 10 referências bibliográficas.<br />

Modelo de Carta de Autorização e Declaração de Conflito de<br />

Interesse: http://www.revistaneurociencias.com.br<br />

Instructions for authors: http://www.revistaneurociencias.com.br<br />

171 Rev Neurocienc <strong>2007</strong>;<strong>15</strong>/2

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