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EVASÃO ESCOLAR: UMA EXPRESSÃO DA QUESTÃO ... - Unifra

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EVASÃO <strong>ESCOLAR</strong>: <strong>UMA</strong> EXPRESSÃO <strong>DA</strong> QUESTÃO SOCIAL NO CONTEXTO<br />

<strong>DA</strong> ESCOLA 1<br />

KAEFER, Carin Otília 2 ; LEAL, Francine Ziegler 3 .<br />

1 Resultado de projeto de extensão do Curso de Serviço Social da UNIFRA.<br />

2 Orientadora/ Professora do Curso de Serviço Social do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA),<br />

Santa Maria, RS, Brasil.<br />

3 Acadêmica/ Bolsista PROBEX Curso de Serviço Social do Centro Universitário Franciscano<br />

(UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil.<br />

E-mail: carin@unifra.br; francineziegler@bol.com.br<br />

RESUMO<br />

O presente artigo objetiva abordar reflexões sobre a evasão escolar a partir da experiência<br />

vivenciada no projeto de extensão “O trabalho Interdisciplinar na prevenção e enfrentamento da<br />

violência na Região Oeste de Santa Maria do Curso de Serviço Social da UNIFRA. O presente tema<br />

partiu de observações assistemáticas, pesquisa documental e bibliográfica. A reflexão direcionada a<br />

evasão escolar envolve contextualizar as situações de ordem social e requer repensar ações que<br />

possibilitem articulações e maior nível de conscientização dos atores sociais.<br />

Palavras-chave: Comunidade escolar, Questão Social, Serviço Social.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Através do projeto de extensão “O trabalho Interdisciplinar na prevenção e<br />

enfrentamento da violência na Região Oeste de Santa Maria”, o Serviço Social a partir de<br />

aproximações com a realidade local verificou que a evasão escolar é uma das expressões<br />

da questão social que está presente no cotidiano da comunidade local.<br />

A comunidade localizada na região Oeste de Santa Maria pode ser retratada como<br />

uma comunidade vulnerável socialmente, que vem sofrendo com a falta de acesso as<br />

políticas de proteção básica, ou seja, um retrato das injustiças que assolam a sociedade<br />

brasileira. Desta maneira, a evasão escolar é um reflexo de problemas sociais que afetam<br />

diretamente no desenvolvimento da escola, professores, alunos e família.<br />

A partir de atuações no ambiente escolar o Serviço Social buscou desenvolver ações<br />

de encontro as necessidades da escola e comunidade local com o intuito de minimizar de<br />

viabilizar os direitos sociais e prevenir as situações de violência acometida com crianças e<br />

adolescentes.


2. A EVASÃO <strong>ESCOLAR</strong> COMO EXPRESSÃO <strong>DA</strong> QUESTÃO SOCIAL<br />

A escola é uma instituição com significativa influência na vida dos indivíduos e da<br />

sociedade. As crianças, desde a mais tenra idade, os adolescentes e jovens permanecem<br />

um largo período de suas vidas no interior de uma instituição escolar, para onde levam as<br />

suas expectativas, as suas dificuldades e suas esperanças. Com efeito, pode-se afirmar que<br />

a escola é um espaço social caracterizado pela presença de situações diversas provocadas<br />

pelo modo de vida em sociedade, que se conflituam no cotidiano escolar.<br />

A evasão escolar historicamente permeia as discussões, as reflexões e os debates<br />

no âmbito da educação, uma vez que, até os dias de hoje, essa temática tem sido notória<br />

como uma manifestação da questão social na sociedade capitalista brasileira. Em virtude<br />

disso, debates a respeito dos rumos que a evasão tem tomado estão se pautando no dever<br />

da família, da escola e do Estado para a permanência do aluno, como estabelece a Lei de<br />

Diretrizes e Bases – LDB:<br />

Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios<br />

de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o<br />

pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da<br />

cidadania e sua qualificação para o trabalho.<br />

Em face disso, destaca-se que, a educação não tem sido plena para todos os<br />

cidadãos, dos quais a grande maioria, por diversos motivos/fatores não concretizam o<br />

acesso ao direito de concluir os níveis básicos de escolaridade, caracterizando, portanto, os<br />

significantes índices de evasão e repetência escolar. A evasão escolar como uma<br />

importante expressão da questão social, pois a interrupção do aluno na sua trajetória<br />

escolar gera uma série de prejuízos tanto para sociedade civil como para si mesmo, pois se<br />

tornará um trabalhador sem qualificação, mal remunerado e sempre a mercê do<br />

desemprego. Dessa forma reproduz esse modelo em um ciclo vicioso passando de geração<br />

para geração.<br />

De acordo com Nascimento (2009, online):<br />

O impacto negativo ocorre nos planos pessoal, político, social e econômico.<br />

É um impacto profundo na condição de sujeito desses jovens. Cada um<br />

deve ser sujeito de sua vida, e a falta de acesso à educação empobrece os<br />

horizontes.<br />

Entende-se que a evasão escolar nada mais é do que um reflexo nitidamente<br />

insuperável que ainda perpetua na realidade escolar. Há muitos estudos sobre o assunto,<br />

contribuições e avanços. Todavia, é uma realidade ainda muito presente.<br />

A evasão escolar se dá com o afastamento do aluno a escola e este acontece por<br />

vários motivos, sendo alguns deles: a situação econômica da família; falta de vagas nas


escolas; distância da escola; dificuldades de relacionamento entre professor e aluno;<br />

gravidez precoce; falta de interesse e de incentivo da família entre outros. Através de<br />

observações assistemáticas na escola municipal localizada na região do Alto da Boa Vista<br />

verificou-se que a evasão escolar é mais comum no turno da noite, pois muitos<br />

adolescentes trabalham durante o período da manhã e tarde e o estudo acaba ficando como<br />

segundo plano.<br />

Acredita-se que ao evitar a evasão escolar se está prevenindo situações de violência<br />

acometida a criança e ao adolescente, pois ao desvincularem-se da escola ficam mais<br />

vulneráveis socialmente. Cabe ressaltar a definição do autor Calazans (2006) em que fica<br />

clara a concepção adotada neste artigo:<br />

A vulnerabilidade social vem sendo avaliada pelo acesso a informação,<br />

recursos destinados a saúde, qualidade de serviços, nível geral de<br />

população com base em comportamento de indicadores de saúde como por<br />

exemplo o coeficiente de mortalidade infantil, aspectos sócio políticos, grau<br />

de liberdade de pensamento e expressão, grau de prioridade política dada a<br />

saúde, condições de bem estar social, moradia, escola, acesso a bens de<br />

consumo, entre outros.<br />

A vulnerabilidade social é entendida como um reflexo de determinações próprias do<br />

sistema capitalista, onde<br />

cresce o problema central do mundo contemporâneo, sob o domínio do<br />

grande capital financeiro em relação ao capital produtivo: o desemprego e a<br />

crescente exclusão de contingentes expressivos de trabalhadores da<br />

possibilidade de inserção ou reinserção no mercado de trabalho, que se<br />

torna estreito em relação á oferta de força de trabalho disponível<br />

(Iamamoto, p.87)<br />

Sendo assim, não há um diagnóstico preciso, mas é evidente a vulnerabilidade social<br />

no contexto das famílias presentes na comunidade escolar. A comunidade escolar é<br />

representada por atores sociais, ou seja, professores, gestores, mas também crianças,<br />

adolescentes e suas famílias, são concebidas através das relações sociais.<br />

Em consonância com Santos,<br />

o simples nascer investe o indivíduo de uma soma inalienável de direitos,<br />

apenas pelo fato de ingressar na sociedade humana. Viver, tornar-se um<br />

ser no mundo, é assumir com os demais uma herança moral que faz de<br />

cada qual um portador de prerrogativas sociais. Direito a um teto, à comida,<br />

à educação, à saúde, à proteção contra o frio, à chuva, às intempéries;<br />

direito ao trabalho, à justiça, à liberdade e a uma existência digna. (Santos,<br />

1987, p.07)<br />

É necessário compreender a criança dentro do contexto de ser um ser em<br />

desenvolvimento e as relações sociais que perpassam a sua vida. Para o Serviço Social o<br />

ambiente escolar passará a ser utilizado não só como uma área de aprendizado, mas


também como um instrumento para a conscientização e viabilização da garantia de direitos<br />

dos estudantes, pais e comunidade, pois, na medida em que os profissionais que atuam na<br />

escola se aproximam do estudante, automaticamente estreita-se o vínculo dos profissionais<br />

inseridos no ambiente escolar com a família dos estudantes.<br />

Para atender as necessidades da escola, a orientadora pedagógica encaminhou uma<br />

lista de alunos que estavam em situação de evasão escolar e assim, foi primeiramente<br />

proposto e logo organizado um grupo operativo com 15 adolescentes, destes 15<br />

adolescentes que estavam com situação de evasão escolar, 10 permaneceram no grupo,<br />

pois duas foram transferidas de escola e três passaram para o turno da noite. Segundo<br />

relato da professora/orientadora pedagógica da escola, os adolescentes não faltaram mais<br />

as aulas, reduzindo a zero a evasão escolar. Os adolescentes através do grupo<br />

compartilharam situações de seu cotidiano e desafios vividos no âmbito escolar e familiar.<br />

Houve uma interação entre o grupo de alunos e os bolsistas/facilitadores.<br />

3. METODOLOGIA<br />

O presente artigo é resultado do projeto de extensão “O trabalho interdisciplinar com<br />

crianças e adolescentes na prevenção e enfrentamento da violência na região oeste de<br />

Santa Maria”, que propõe a atividade de campo e a observação participante (Minayo, 2007),<br />

além da estratégia metodológica da pesquisa-ação (Gil, 2006), para a análise diagnóstica<br />

das expressões da questão social que compõem o contexto escolar. Disso resulta a<br />

priorização das situações a serem investigados e das possíveis intervenções a serem<br />

encaminhadas para as transformações das situações abordadas; o objeto em questão não<br />

se constitui em pessoas, mas em situações sociais resultantes das suas relações, nas quais<br />

levamos em conta as particularidades, historicidade e singularidade das crianças e<br />

adolescentes, voltado a um projeto ético-politico profissional.<br />

Para a elaboração e constituição deste artigo, além da obtenção dos resultados do<br />

projeto de extensão construídos no ano de 2011, e primeiro semestre de 2012, também foi<br />

utilizado como recurso metodológico a pesquisa bibliográfica e a documental.<br />

4. CONCLUSÃO<br />

A evasão escolar gera grandes preocupações, que perpassa na rotina dos<br />

professores, orientadores pedagógicos, gestores, profissionais da rede. Sabe-se que o<br />

primeiro passo é desvendar a evasão escolar, ou seja, identificar o que há por trás desta<br />

evasão.


A atuação do Serviço Social na comunidade escolar se caracteriza como um<br />

trabalho socioeducativo, uma vez que propõe a interação entre as crianças, adolescentes,<br />

suas famílias. Considerando que as redes primárias (família) e secundárias de socialização<br />

constituem na consolidação do ser enquanto cidadão e ser histórico, é necessário pensar<br />

em estratégias de fortalecimento dos sujeitos, assim como instrumentalizar a comunidade<br />

escolar nas questões que envolvem a evasão escolar, através de ações que possibilite<br />

evidenciar as potencialidades das crianças e adolescentes para romper com a evasão.<br />

Entende-se, no entanto que para atender a este objetivo se faz necessário uma<br />

análise conjuntural e uma capacidade para decifrar o contexto social em que as famílias<br />

estão inseridas. Contudo, não há como identificar a evasão escolar acometida com crianças<br />

e adolescentes nesta região do município, sem o reconhecimento territorial, pois, é neste<br />

espaço que ocorre a constituição social.<br />

A evasão escolar, portanto é uma expressão da questão social resultante das<br />

desigualdades sociais, ao mesmo tempo perpetua a desigualdade através da manutenção<br />

da exclusão impedindo que parte da sociedade tenha acesso ao conhecimento.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília.<br />

CALAZANS, GJ; SALETTI FILHO, HC; FRANÇAJUNIOR, I; AYRES, JRC. O conceito de<br />

vulnerabilidade. IN: PADOIN, SMM [et al](org). Experiências interdisciplinares em AIDS: interfaces de<br />

uma epidemia. Santa Maria: Ed. Da UFSM, 2006.<br />

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2006.<br />

IAMAMOTO, M. V. O serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional.<br />

7°edição. São Paulo: Editora Cortez, 2004.<br />

MINAYO M. C. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. Rio de Janeiro: Abrasco;<br />

2007.<br />

NASCIMENTO, Aniele. Evasão é causa de renda menor. 18/05/2009. Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 11 setembro de 2012.<br />

SANTOS, Milton Santos. O Espaço do Cidadão. São Paulo: Nobel, 1987.

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