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A COMPETITIVIDADE DA CADEIA PRODUTIVA DA ... - SOBER

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A <strong>COMPETITIVI<strong>DA</strong>DE</strong> <strong>DA</strong> <strong>CADEIA</strong> <strong>PRODUTIVA</strong> <strong>DA</strong> CARNE BOVINA <strong>DA</strong><br />

REGIÃO DE GUARAPUAVA, PR<br />

JOELSIO JOSÉ LAZZAROTTO<br />

Pesquisador da Embrapa Soja e doutorando em Economia<br />

Aplicada na Universidade Federal de Viçosa.<br />

Endereço: Rua Olívia de Castro Almeida, nº295, aptº401.<br />

Bairro Clélia Bernardes. CEP: 36.570-000. Viçosa, MG.<br />

Fone: (31) 3885-2391.<br />

E-mail: joelsio@cnpso.embrapa.br.<br />

RICARDO SCHMITT<br />

Médico Veterinário pela Universidade Estadual do Centro-<br />

Oeste do Paraná. Endereço: Rua Julio de Castilhos, nº1315.<br />

CEP: 85.040-170. Guarapuava, PR. Fone: (42) 624-7494.<br />

E-mail: rpschmitt@hotmail.com.<br />

ANTÔNIO CARLOS ROESSING<br />

Doutor em Economia Rural e pesquisador da Embrapa Soja.<br />

Endereço: Rod. Carlos João Strass. Caixa Postal 231. CEP:<br />

86.001-970. Londrina, PR. Fone: (43) 3371-6265.<br />

E-mail: acr@cnpso.embrapa.br.<br />

Área Temática: Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais<br />

Forma de Apresentação: Com presidente da sessão e sem a presença de debatedor


A <strong>COMPETITIVI<strong>DA</strong>DE</strong> <strong>DA</strong> <strong>CADEIA</strong> <strong>PRODUTIVA</strong> <strong>DA</strong> CARNE BOVINA <strong>DA</strong><br />

REGIÃO DE GUARAPUAVA, PR<br />

RESUMO<br />

Neste trabalho, buscou-se atingir três objetivos principais: 1) ampliar o conhecimento a<br />

respeito das cadeias produtivas; 2) identificar os principais pontos fortes e fracos no ambiente<br />

interno dos três grandes macrossegmentos da cadeia da carne bovina da região de<br />

Guarapuava, PR: produção, industrialização e comercialização; e 3) identificar oportunidades<br />

e ameaças externas ao seu desenvolvimento. Para tanto, utilizou-se da pesquisa qualitativa. O<br />

material de análise foi formado por informações obtidas em entrevistas realizadas com<br />

agentes envolvidos com a cadeia. Para a análise, utilizou-se o modelo proposto por Michael<br />

Porter (modelo das cinco forças competitivas). Dentre os resultados, destacam-se: 1) no<br />

contexto global da cadeia, existem grandes problemas e limitações, que prejudicam, em<br />

muito, a sua competitividade e o seu desenvolvimento; 2) nas inter-relações entre os<br />

macrossegmentos, constatou-se que existe grande distanciamento entre eles; e 3), com base<br />

nos resultados do estudo, verificou-se a necessidade de implantação de políticas de<br />

intervenção que, abrangendo a cadeia de forma global ou determinados macrossegmentos de<br />

forma específica, busquem aumentar a competitividade da cadeia como um todo.<br />

Palavras-chave: produção; industrialização; comercialização<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

O estudo das cadeias de produção agroindustrial, pelo fato de abranger vários<br />

segmentos organizacionais, representa uma abordagem de grande aplicabilidade para a<br />

elaboração e a proposição de viáveis e adequadas políticas de intervenção regionais. Mediante<br />

essas políticas, pode-se, em especial, desenvolver ou aumentar a competitividade de qualquer<br />

região, que tem sua economia dependente, direta ou indiretamente, de atividades<br />

agroindustriais. Isso porque qualquer organização que faz parte de uma cadeia produtiva se<br />

confronta e sofre fortes influências de complexos sistemas (comercial, financeiro, infraestrutura,<br />

tecnologia, e outros), de cadeias agroalimentares multinacionais, esquemas<br />

institucionais e de organizações sociais (Brandão e Medeiros, 1998).<br />

Seguindo esses pressupostos, foi realizado este trabalho de pesquisa. Com o emprego<br />

de uma pesquisa de cunho qualitativo, foram estudadas organizações que formam três grandes<br />

macrossegmentos da cadeia produtiva da carne bovina da região de Guarapuava, PR:<br />

produção (estabelecimentos agropecuários), industrialização (abatedores) e comercialização<br />

(supermercados e açougues). Para isso, foi definido como problema de pesquisa que o<br />

aumento da competitividade e o desenvolvimento dessa cadeia dependem, em grande parte,<br />

da identificação e da análise dos seus pontos fortes e fracos e das oportunidades e ameaças no<br />

seu contexto externo.<br />

Em termos de objetivos, buscou-se atingir três principais: 1) ampliar o conhecimento<br />

científico a respeito das cadeias produtivas agroindustriais; 2) identificar os principais pontos<br />

fortes e fracos no ambiente interno dos três macrossegmentos da cadeia produtiva analisada; e<br />

3) identificar oportunidades e ameaças externas ao seu desenvolvimento.<br />

Para atingir os objetivos deste trabalho, foram elaboradas, além desta seção<br />

introdutória, outras quatro seções. Na seção dois é apresentado o referencial teórico que<br />

norteou a realização deste estudo. Com relação aos procedimentos metodológicos empregados<br />

na pesquisa, foi elaborada a seção três. As análises e as discussões referentes à cadeia<br />

produtiva da carne bovina da região de Guarapuava estão apresentadas na seção quatro. Por<br />

fim, as considerações finais deste trabalho encontram-se na seção cinco.


2. FUN<strong>DA</strong>MENTAÇÃO TEÓRICA<br />

Nos dias atuais são constantes e intensas as mudanças que afetam toda a sociedade.<br />

Essas mudanças, no âmbito das organizações, acabam por exercer grandes influências sobre<br />

todo o planejamento delas, haja vista que são verificadas ampliações dos seus conceitos de<br />

ambiente, das suas áreas de negócios e das dimensões e extensões de mercados (Belmiro et<br />

al., 1997). Em função desse cenário, e levando em consideração que a competitividade de<br />

determinada região está na dependência da competitividade das suas empresas, é fundamental<br />

que estas elaborem estratégias concorrenciais que permitam, ao longo do tempo, determinar<br />

uma posição sustentável no mercado (Coutinho e Ferraz, 1994).<br />

Diante disso, pode-se afirmar que o estudo das cadeias de produção agroindustrial, por<br />

abranger vários segmentos e/ou grupos de organizações, constitui ferramenta de grande<br />

relevância quando se tem por objetivo aumentar a competitividade e o desenvolvimento<br />

regionais. Essa afirmação é assinalada por Montandon et al. (1998), pois, de acordo com esses<br />

autores, a promoção do desenvolvimento regional dificilmente pode ser alcançada no bojo de<br />

programas que não incluam critérios específicos de diferenciação regional.<br />

Partindo desses aspectos teóricos iniciais, nesta seção apresenta-se o referencial que<br />

norteou a realização desta investigação científica. Para tanto, o referencial está dividido em<br />

duas partes principais. Na primeira, são apresentados fundamentos relacionados à abordagem<br />

e à análise das cadeias produtivas agroindustriais. Na segunda parte, discorre-se sobre<br />

importantes aspectos referentes à competitividade empresarial, dando ênfase especial ao<br />

modelo competitivo proposto por Michael Porter.<br />

2.1. As cadeias produtivas agroindustriais<br />

A noção de cadeia agroindustrial implica em uma abordagem integrada dos processos<br />

que ocorrem desde a produção, passando pela transformação e comercialização, até chegar ao<br />

consumidor final. Essa abordagem é válida por três razões principais: 1) possibilita constatar a<br />

forte interação entre os processos de produção, comercialização, industrialização e consumo;<br />

2) permite identificar os efeitos determinantes de uns sobre os outros segmentos (elos) da<br />

cadeia; e 3) possibilita diagnosticar os principais pontos de estrangulamento e apreender a<br />

ação estratégica de cada elo de determinada cadeia (Batalha, 1997; Mello, 1998).<br />

Mediante essas considerações teóricas, pode-se, também, inferir que, para analisar a<br />

competitividade de determinada cadeia agroindustrial, é relevante considerar as diferentes<br />

estratégias de seus elos, bem como suas inter-relações, pois o sucesso competitivo da cadeia,<br />

segundo Castro et al. (1999), está relacionado ao seu desempenho global. Essa análise, de<br />

acordo com Batalha (1997), pode ser efetivada por meio do estudo das organizações<br />

enquadradas em três grandes macrossegmentos: produção, industrialização e comercialização.<br />

O macrossegmento produção é formado pelas empresas que produzem os produtos<br />

agropecuários. Esses produtos passam, então, para o macrossegmento industrialização, que é<br />

constituído por empresas responsáveis pela transformação das matérias-primas em produtos<br />

destinados ao consumidor final. Após essa transformação, os produtos agroindustriais são<br />

direcionados para o macrossegmento comercialização, que é representado pelas empresas que<br />

estão em contato direto com o cliente final da cadeia, viabilizando, assim, o consumo e o<br />

comércio efetivos dos produtos finais.<br />

2.2. O ambiente competitivo das empresas<br />

Toda empresa relaciona-se com o seu ambiente externo de duas maneiras distintas. A<br />

primeira ocorre por meio do comportamento competitivo (ou operacional), com o qual a<br />

organização, mediante processo de troca, procura obter lucro do ambiente. Isso pode ser<br />

alcançado ao se tentar produzir da maneira mais eficiente possível e garantir o maior<br />

segmento do mercado e os melhores preços. A segunda maneira é baseada no comportamento<br />

empreendedor (ou estratégico), onde a empresa procura substituir os produtos e os mercados<br />

obsoletos por novos, que oferecem maior potencial de lucros futuros. Ela pode conseguir isso<br />

mediante a identificação de novas áreas de demanda, o desenvolvimento de novos produtos


aceitáveis, a adoção de novas técnicas de produção e de marketing, o teste de potenciais<br />

mercados e a introdução de novos produtos nesses mercados (Ansoff et al., 1981).<br />

Mesmo havendo duas formas para a empresa se relacionar com o seu ambiente<br />

externo, na definição de suas estratégias é fundamental a análise criteriosa e prévia do<br />

ambiente competitivo que a cerca. Isso porque, em qualquer setor da economia, a competição<br />

empresarial é determinada, basicamente, pela ocorrência de cinco importantes forças<br />

competitivas de caráter estrutural, que, em conjunto, determinam a intensidade da<br />

concorrência setorial e a rentabilidade das empresas, especialmente no longo prazo: rivalidade<br />

entre as empresas do setor; ameaça de novos concorrentes; ameaça de produtos substitutos;<br />

poder de negociação dos clientes; e poder de negociação dos fornecedores (Figura 1).<br />

Concorrentes<br />

potenciais<br />

Poder de<br />

barganha<br />

Poder de<br />

barganha<br />

Ameaça<br />

Ameaça<br />

Concorrentes<br />

setoriais<br />

Fornecedores<br />

Compradores<br />

Intensidade da<br />

rivalidade<br />

Substitutos<br />

potenciais<br />

FIGURA 1 - As cinco forças competitivas organizacionais. Fonte: Adaptado de Porter (1985).<br />

2.2.1. A intensidade da rivalidade entre as empresas do setor<br />

Essa é a dinâmica competitiva que, de forma mais marcada, apresenta as empresas do<br />

setor como entidades interdependentes. A rivalidade é expressa nas tentativas de melhoria de<br />

posição por parte das empresas no seio do setor. Essa procura de posição reveste,<br />

normalmente, a forma de competição pelos preços, pelas campanhas publicitárias, pela<br />

introdução de novos produtos, pelos serviços pós-venda e outros. A intensidade da rivalidade<br />

resulta da interação de vários fatores, que ao longo do tempo podem sofrer modificações:<br />

a. concorrentes numerosos ou de semelhantes dimensões ou recursos - quando as empresas<br />

são numerosas, a probabilidade de acontecer movimentações competitivas aumenta. Além<br />

disso, mesmo quando o número de empresas é reduzido, se elas apresentarem equilíbrio<br />

em termos de dimensões ou de recursos, o nível de instabilidade aumenta, pois as<br />

empresas sentem a capacidade de atuar ou sustentar uma vigorosa retaliação. Se o setor é<br />

altamente concentrado, as posições no setor estão mais definidas e as empresas que o<br />

dominam podem facilmente disciplinar o setor ou procurar entendimentos, mais ou menos<br />

implícitos, entre elas;<br />

b. crescimento lento do setor - nesse contexto, as lutas pelas partes de mercado agudizam-se,<br />

sendo particularmente protagonizadas pelas empresas que procuram maior expansão;<br />

c. ausência de diferenciação de produto ou de custos de mudança - quando o produto é visto<br />

como indiferenciado, a escolha do cliente é baseada, fundamentalmente, nos preços e nos<br />

serviços. Dessa forma, gera-se intensa competição ao redor desses dois fatores e,<br />

conseqüentemente, reduz-se a rentabilidade do setor. Existindo níveis apreciáveis de


diferenciação nos produtos, as preferências e a fidelidade dos consumidores isolam certas<br />

empresas da batalha competitiva, reduzindo-se, assim, a intensidade da rivalidade. A<br />

existência de custos de mudança significativos exerce, nesse caso, o mesmo efeito da<br />

diferenciação de produto;<br />

d. custos fixos elevados - nessa situação, são geradas fortes pressões para que as empresas<br />

utilizem plenamente a capacidade produtiva, o que, em geral, conduz a uma escalada na<br />

baixa de preços, especialmente se houver excesso de capacidade instalada. É registrada<br />

situação análoga quando o produto é de difícil ou dispendiosa armazenagem;<br />

e. grandes aumentos na capacidade instalada (sobrecapacidade intermitente) - quando as<br />

exigências das economias de escala obrigam a grandes saltos de capacidade, são criadas<br />

condições potenciais para se romper o equilíbrio "procura/oferta" existente no setor, o que<br />

faz com que seja agudizada a guerra dos preços; e<br />

f. elevadas barreiras à saída - são representadas por um conjunto de fatores econômicos,<br />

estratégicos e emocionais, que mantém certas empresas, mesmo auferindo rendimentos<br />

baixos e, muitas vezes, até negativos em relação ao capital investido, concorrendo num<br />

determinado setor. Elevadas barreiras à saída sempre significam excesso de capacidade e<br />

rivalidade aguda. A rentabilidade setorial será permanentemente baixa. Na maioria das<br />

vezes, barreiras à entrada e à saída estão relacionadas. Por exemplo, a obtenção de<br />

economias de escala na produção (barreira à entrada) supõe equipamentos especializados<br />

(barreira à saída). As principais fontes de barreiras à saída são: ativos especializados, que<br />

correspondem a equipamentos altamente especializados e/ou certos tipos de imobilizados,<br />

que têm valores de liquidação muito baixos ou custos de conversão muito elevados; custos<br />

fixos de saída, que podem estar relacionados a acordos com trabalhadores, a manutenção<br />

de recursos produtivos, entre outros; inter-relações estratégicas, representadas pelas<br />

relações entre uma unidade de negócio e as outras de uma mesma empresa diversificada,<br />

que podem atribuir, por motivos de imagem ou de acesso ao crédito e aos mercados<br />

financeiros, entre outros aspectos, alto valor estratégico à permanência da empresa no<br />

setor; barreiras emocionais, onde as decisões de saída podem ser restringidas pelo fato de<br />

existir forte identificação da empresa com o negócio, pela fidelidade face aos empregados,<br />

por razões de orgulho e por outros fatores; e restrições sociais e governamentais, onde a<br />

saída, economicamente justificada, pode ser refreada por motivos de manutenção de<br />

postos de trabalho, de desenvolvimento regional, ou outros aspectos análogos.<br />

2.2.2. A ameaça de novos concorrentes<br />

A entrada de novos concorrentes em determinado setor induz a maior capacidade de<br />

produção e a novo dinamismo na luta pelas partes do mercado. Em geral, o principal resultado<br />

é a tendência de redução dos preços de venda e, conseqüentemente, da rentabilidade. A<br />

relevância da ameaça de novos concorrentes depende de amplo conjunto de fatores,<br />

relacionados a três aspectos principais: barreiras à entrada, expectativas de reação e preço<br />

dissuasivo. Em relação às barreiras à entrada, merecem atenção especial:<br />

a. economias de escala, que se referem, sobretudo, à redução dos custos unitários de um<br />

produto devido à utilização de níveis mais elevados de capacidade de produção por<br />

unidade de tempo. Tradicionalmente, têm sido tratadas como principais barreiras à<br />

entrada. A existência de economias de escala detém os potenciais novos concorrentes,<br />

pois os obrigam a iniciar a atividade com níveis elevados de produção e, desse modo,<br />

podem enfrentar fortes reações das empresas instaladas ou, então, entrar com baixos<br />

níveis de produção, aceitando uma evidente desvantagem nos custos de produção. As<br />

economias de escala são alcançáveis em quase todas as funções de uma empresa:<br />

produção, compras, marketing, força de vendas, distribuição e outras. As empresas<br />

diversificadas podem obter economias similares às de escala por partilhar certas operações<br />

ou funções, sujeitas a economias de escala, com várias divisões da empresa. Desse modo,<br />

o potencial novo concorrente pode ser forçado, também, a diversificar atividades ou


confrontar-se com desvantagens de custos. Ainda relacionado com essa questão, outro tipo<br />

de barreira à entrada acontece quando, dada a estrutura do setor, o novo concorrente deve<br />

entrar verticalmente integrado por motivos de custos e de mercados. Essa exigência,<br />

certamente, elevará os riscos de retaliação por parte das empresas instaladas. Existem,<br />

contudo, alguns limites inerentes às economias de escala como barreiras à entrada: 1) as<br />

grandes escalas e os correspondentes baixos custos podem envolver certas situações<br />

conflitantes com outros tipos de barreiras à entrada, tais como a diferenciação de produto<br />

e o desenvolvimento de tecnologia própria; 2) a mudança tecnológica pode penalizar mais<br />

diretamente as empresas baseadas em grandes escalas de produção, pois, caso sejam mais<br />

especializadas e menos flexíveis, terão menor capacidade de adaptação às novas<br />

tecnologias; e 3) o próprio empenho na captação de economias de escala, por meio da<br />

tecnologia existente, pode obscurecer a percepção de novas possibilidades tecnológicas ou<br />

mesmo de novos modos de competir, que não sejam muito dependentes da escala;<br />

b. exigência de capital, uma vez que o elevado nível de investimento necessário para a<br />

entrada e o sucesso em determinado setor, naturalmente, pode criar importante barreira;<br />

c. vantagens de custos independentes da escala, tendo em vista que as empresas<br />

estabelecidas podem contar com situações geradoras de vantagens de custos, que não<br />

podem ser transferidas para os novos concorrentes. As principais vantagens referidas<br />

podem ser atribuídas a alguns fatores, como: melhor acesso às matérias-primas,<br />

localizações mais favoráveis e subsídios governamentais;<br />

d. custos de mudança, que correspondem aos custos que os clientes incorrem por mudar de<br />

fornecedor. Esses custos podem incluir: aquisição de novos equipamentos periféricos,<br />

gastos com reciclagem da mão-de-obra, custos e tempo para testar e qualificar o novo<br />

fornecedor, negociação de novos contratos, desenho do produto e outros. Quando os<br />

custos de mudança são elevados, os novos concorrentes potenciais devem oferecer<br />

maiores vantagens aos clientes, de forma a induzi-los a mudarem;<br />

e. diferenciação de produto, que constitui tipo de barreira que significa que as empresas<br />

instaladas possuem forte imagem de marca e fidelidade junto aos consumidores. A<br />

diferenciação pode ser derivada, dentre outros aspectos, da publicidade realizada, das<br />

características específicas do produto, dos serviços oferecidos ao cliente ou simplesmente<br />

pelo fato de a empresa ser a pioneira no setor. A diferenciação cria barreira à entrada ao<br />

forçar os novos concorrentes a investirem fortemente para anular, principalmente, a<br />

fidelidade estabelecida da clientela. Essas iniciativas, contudo, geralmente envolvem<br />

prejuízos no início da atividade e são extremamente arriscadas, pois todo o investimento<br />

pode ser perdido se o processo de entrada falhar;<br />

f. acesso aos canais de distribuição, em que o novo concorrente necessita assegurar a<br />

distribuição do seu produto. Assim, a nova empresa potencial precisa fazer com que seu<br />

produto/serviço seja aceito mediante, por exemplo, redução dos preços, com os<br />

conseqüentes impactos negativos sobre a rentabilidade. Por vezes, essa barreira é tão<br />

difícil de ser superada que o novo concorrente precisa criar nova cadeia de distribuição;<br />

g. curva de experiência ou de aprendizagem, pois, em certos negócios, nota-se tendência de<br />

redução dos custos unitários à medida que as empresas acumulam experiências na<br />

produção. Com essas experiências, pode-se, dentre outras coisas, melhorar os métodos de<br />

trabalho, desenvolver equipamentos especializados e desenhar produtos que sejam de mais<br />

fácil produção. Como nas economias de escala, as reduções de custos decorrentes da<br />

experiência podem acontecer nas diversas operações individuais ou nas funções que<br />

constituem a empresa. Se os custos decrescem com a experiência, e esta permanece como<br />

atributo apenas de empresas já estabelecidas, criam-se significativas barreiras à entrada.<br />

Porém, existem limites da atuação da curva de experiência como barreira à entrada: 1) as<br />

inovações de produtos e de processos, que propõem novas tecnologias, criam novas<br />

curvas de experiência, que anulam as barreiras existentes; e 2) a persecução de baixos


custos por meio da experiência pode entrar em conflito com outras importantes barreiras,<br />

como a diferenciação de produto, devido à perda de imagem e do fulgor tecnológico;<br />

h. políticas governamentais, podem representar fontes de significativas barreiras à entrada.<br />

O governo pode dificultar ou impedir a entrada de novas empresas mediante a concessão<br />

ou não de licenças de instalação e de acesso a matérias-primas, o controle de poluição e<br />

outras normas técnicas; e<br />

i. direitos de propriedade intelectual, que estão relacionados com a detenção de patentes<br />

e/ou direitos autorais. Esse tipo de barreira está associado aos esforços de inovação<br />

tecnológica, que, atualmente, representam grandes barreiras à entrada.<br />

Com relação à ameaça de novos concorrentes por meio das expectativas de reação, ela<br />

corresponde às reações que as empresas instaladas podem ter frente às potenciais entrantes.<br />

Portanto, é um tipo de ameaça que pode se tornar expressiva em determinado setor. Os<br />

principais sinais de provável retaliação por parte das empresas já instaladas são os seguintes:<br />

1) antecedentes históricos de retaliação; 2) existência de empresas com substanciais recursos<br />

financeiros; 3) forte empenho dentro do setor, que possui elevado nível de capacidade<br />

instalada; e 4) fraco crescimento do setor, que limita drasticamente a capacidade deste em<br />

absorver novos concorrentes.<br />

Por fim, à ameaça de novos concorrentes por meio de preço dissuasivo, também<br />

designado preço limite, sintetiza as condições de entrada em determinado setor. Esse tipo de<br />

ameaça pode ser definido como a estrutura teórica de preços que faz igualar os rendimentos<br />

potenciais, previstos pelos novos concorrentes, aos custos esperados da ultrapassagem das<br />

barreiras à entrada e dos riscos de retaliação. Se o nível dos preços correntes é superior ao<br />

preço dissuasivo de entrada, os potenciais novos concorrentes concluirão pela vantagem de<br />

entrada no setor. Desse modo, a ameaça de entrada pode ser reduzida ou eliminada se as<br />

empresas instaladas fixarem os preços dos bens e/ou serviços abaixo dos preços dissuasivos.<br />

2.2.3. A ameaça de produtos substitutos<br />

Em geral, deve-se admitir que todas as empresas de determinado setor entram em<br />

concorrência com as de outros setores, que produzem produtos substitutos. Esses produtos são<br />

identificados por meio da sua capacidade em desempenhar a mesma função de outro produto.<br />

Assim, a ameaça de substitutos pode limitar a rentabilidade potencial do setor ao impor<br />

limites de preços que se devem respeitar. Quanto mais atraente for a relação preço/qualidade<br />

do produto substituto, menor será a margem de manobra das empresas do setor concorrente.<br />

Os produtos substitutos, que exigem análise mais detalhada por parte das empresas já<br />

instaladas em determinado setor, podem ser enquadrados em dois grupos. No primeiro estão<br />

os que têm grandes tendências e possibilidades de melhorar a sua relação preço/qualidade em<br />

comparação ao produto do setor. O segundo grupo refere-se aos produtos que são produzidos<br />

por setores altamente lucrativos, onde, devido a qualquer acréscimo da concorrência nesses<br />

setores, os preços poderão ser facilmente reduzidos e/ou os níveis de qualidade melhorados.<br />

2.2.4. O poder de negociação dos clientes<br />

Muitas vezes, os clientes exercem grande pressão competitiva sobre as empresas de<br />

determinado setor. Isso pode forçar a descida dos preços e/ou exigir melhorias na qualidade<br />

dos produtos e serviços. O poder de negociação dos clientes torna-se maior na ocorrência de<br />

uma ou mais das seguintes condições:<br />

a. grande peso das suas compras no volume total de vendas do setor, pois, na situação de<br />

concentração da demanda, o comportamento dos vários clientes passa a ser determinante<br />

fundamental dos resultados do setor, particularmente se ele for caracterizado por elevados<br />

custos fixos e, portanto, dependente da utilização plena da capacidade produtiva;<br />

b. o produto adquirido junto ao setor representa importante fração dos custos dos clientes, o<br />

que faz com que eles, pelo fato de serem muito sensíveis aos preços, prestem grande<br />

atenção às condições de venda para selecionar, com maior cuidado, os seus fornecedores;


c. reduzidos custos de mudança, onde os clientes não estão “aprisionados” nas malhas do<br />

fornecedor;<br />

d. maior nível de informação sobre fornecedores: preços, custos, opções de oferta e outros;<br />

e. reduzido impacto do produto do setor na qualidade dos produtos dos clientes;<br />

f. o produto do setor é relativamente estandardizado ou indiferenciado, aumentando, desse<br />

modo, as alternativas de fornecedores; e<br />

g. ocorrência de baixos lucros por parte dos clientes.<br />

Todas essas condições podem ser alteradas mediante atuações estratégicas. O poder de<br />

negociação dos clientes, por exemplo, pode ser afetada via diferenciação de produto do setor<br />

e/ou criação de custos de mudança.<br />

2.2.5. O poder de negociação dos fornecedores<br />

Os fornecedores de matérias-primas, equipamentos, capital e trabalho têm<br />

possibilidades de exercer poder de negociação sobre as empresas do setor ameaçando a subida<br />

de preços e/ou a diminuição da qualidade dos produtos transacionados. Como conseqüência, a<br />

rentabilidade das empresas abastecidas por determinados fornecedores pode ficar<br />

comprometida, especialmente se não conseguirem transmitir os aumentos de preços aos seus<br />

clientes. As condições principais que aumentam o poder dos fornecedores são:<br />

a. número relativamente baixo de empresas fornecedoras, o que pode dar maior capacidade<br />

de imposição de preços, prazos, qualidade e outros;<br />

b. ausência de produtos substitutos, conferindo ao fornecedor importante poder para<br />

negociar com seus clientes;<br />

c. pouca diferenciação de produto ou imposição de custos de mudança, que representam<br />

dois fatores que podem gerar grandes limitações nas opções para as empresas do setor;<br />

d. o valor das compras do setor no total das vendas dos fornecedores é alto; e<br />

e. grande importância dos produtos de determinados fornecedores no contexto do<br />

funcionamento das empresas do setor.<br />

A pressão exercida pelas empresas fornecedoras segue o mesmo sentido daquela<br />

observada no mercado de trabalho. Quando o grau de organização dos trabalhadores é elevado<br />

e/ou a oferta de pessoas qualificadas é limitada, a restrição imposta pelo fator trabalho tornase<br />

maior.<br />

2.2.6. Estratégias organizacionais genéricas<br />

Os dois tipos básicos de vantagens competitivas, relacionadas aos custos e à<br />

diferenciação, quando combinados com o escopo de atividades para as quais uma empresa<br />

procura obtê-los, de acordo com Porter (1985), podem levar a três estratégias genéricas, que<br />

visam alcançar o desempenho acima da média em determinado setor: liderança no custo total,<br />

diferenciação e enfoque. Enquanto as duas primeiras buscam estabelecer vantagens<br />

competitivas em amplo limite de segmentos setoriais, a estratégia de enfoque visa a obtenção<br />

de vantagem, em custo ou diferenciação, em segmento estreito.<br />

Em relação à estratégia de liderança no custo total, ela consiste, sobretudo, na busca e<br />

na manutenção do custo mais baixo em relação aos competidores. Com base nessa estratégia,<br />

a empresa pode obter retornos acima da média. Contudo, para alcançar essa posição, quase<br />

sempre é exigido que a empresa tenha alta parcela relativa do mercado e/ou outras situações<br />

vantajosas. Porém, um líder em custo não pode ignorar as bases da diferenciação. Caso seu<br />

produto não seja considerado adequado ou aceitável pelos compradores, ele poderá ser<br />

forçado a reduzir seus preços bem abaixo da concorrência para conquistar vendas, podendo,<br />

assim, anular os benefícios de sua posição favorável.<br />

Para ser atingida a meta da estratégia de liderança no custo, a empresa deve utilizar um<br />

conjunto de políticas orientadas para esse objetivo: é relevante manter vasta linha de produtos,<br />

de modo a diluir os custos fixos; os produtos devem ter designs e processos de fabricação<br />

simplificados; a empresa precisa de acesso privilegiado às matérias-primas; é interessante<br />

utilizar tecnologias patenteadas; quando possível, as montagens devem ser automatizadas; as


instalações precisam ter dimensões eficientes; deve-se, de maneira vigorosa, buscar a redução<br />

de custos com base na experiência; é importante investir em equipamentos atualizados; devese<br />

fixar preços mais competitivos para consolidar a parcela de mercado (no curto prazo esses<br />

preços podem trazer prejuízos); é preciso atender os principais grupos de clientes para<br />

expandir o volume de vendas; a empresa pode atuar no sentido de reduzir custos em P&D,<br />

melhorar os serviços de assistência aos clientes e investir em publicidade; e deve-se controlar,<br />

de modo rígido, os custos, sobretudo, variáveis e as despesas gerais.<br />

Quanto à estratégia de diferenciação, a mesma consiste, basicamente, em diferenciar<br />

os produtos e/ou serviços oferecidos pela empresa. A empresa seleciona um ou mais atributos<br />

considerados importantes pelos clientes e posiciona-se, de maneira singular, para satisfazer<br />

novas necessidades, diferenciando-se, assim, de seus rivais.<br />

Qualquer empresa, ao adotar essa estratégia, deve procurar, de modo constante, formas<br />

de diferenciação que levem a ganhos superiores ao custo de sua implementação. Contudo,<br />

atingir a diferenciação pode impedir a obtenção de alta parcela de mercado, pois, em geral,<br />

requer sentimento de exclusividade da parte do consumidor, normalmente incompatível com<br />

essa alta parcela. Assim, na implementação da estratégia de diferenciação, alguns aspectos<br />

devem ser considerados: ampla pesquisa de mercado; elaboração de projeto do produto; uso<br />

de materiais de alta qualidade; intenso apoio ao consumidor; investimento em publicidade; e<br />

outros. Os métodos para diferenciação podem estar baseados em projeto, imagem da marca,<br />

tecnologia, serviço sob encomenda, rede de fornecedores, assistência técnica e outros.<br />

A estratégia de enfoque é diferente das anteriores, pois se baseia na escolha de um<br />

ambiente competitivo estreito dentro de um setor. A empresa enfoca determinado grupo<br />

comprador, um segmento de linha de produtos ou um mercado geográfico e adapta sua<br />

estratégia para atendê-lo. Essa estratégia se apóia no fato de a empresa ser capaz de atender<br />

seu alvo estratégico específico de maneira mais efetiva ou eficiente em relação aos<br />

concorrentes, competindo, assim, de forma mais ampla.<br />

A estratégia em questão pode ter seu enfoque no custo ou na diferenciação, quando a<br />

empresa busca certas vantagens em seu segmento-alvo. Enquanto o enfoque no custo explora<br />

as diferenças no comportamento dos custos em alguns segmentos, o enfoque na diferenciação<br />

explora as necessidades especiais dos compradores em certos segmentos. Essas diferenças<br />

pressupõem que os segmentos estão sendo atendidos de forma insatisfatória pelos<br />

concorrentes. Porém, a estratégia de enfoque sempre implica em algumas limitações na<br />

parcela total de mercado a ser atingida determinando um dilema entre a rentabilidade e o<br />

volume de vendas.<br />

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS<br />

Nesta seção, são apresentados os principais aspectos metodológicos empregados para<br />

a realização deste trabalho: tipo de pesquisa, campo e objeto de estudo, métodos de pesquisa e<br />

procedimentos analíticos.<br />

3.1. A pesquisa qualitativa<br />

Foi utilizada a pesquisa qualitativa em função da sua grande aplicabilidade em estudos<br />

relacionados com temáticas que requerem profundidade e subjetividade na investigação.<br />

Nesse sentido, a pesquisa de cunho qualitativo implica ênfase em processos e significados que<br />

não são rigorosamente examinados ou medidos em termos de quantidade, soma, intensidade<br />

ou freqüência (Denzin e Lincoln, 1994).<br />

Portanto, esse tipo de investigação permitiu apreender, com maior riqueza, as<br />

principais fortalezas e debilidades que cercam as organizações que formam os diferentes<br />

macrossegmentos da cadeia produtiva da carne bovina da região de Guarapuava, PR.<br />

3.2. O campo e o objeto de estudo<br />

Este trabalho foi desenvolvido na região de Guarapuava, que está situada no centrooeste<br />

do Estado do Paraná. Nessa região, que tem na agropecuária a base principal para o seu


desenvolvimento, as atividades agroindustriais relacionadas com a bovinocultura de corte<br />

possuem fundamental importância econômica e social. É importante ressaltar que a referida<br />

região, considerada neste trabalho, abrange uma área muito próxima à microrregião de<br />

Guarapuava, que é definida nas informações estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e<br />

Estatística - IBGE (Banco..., 2004).<br />

Em especial, sobre o setor agropecuário da região de Guarapuava, mesmo utilizando<br />

dados do último censo agropecuário brasileiro, realizado no ano de 1996, observa-se que esse<br />

setor é bastante diversificado em atividades agropecuárias (Quadro 1). Nessa perspectiva, as<br />

lavouras temporárias, representadas pelas culturas da soja, do milho e do trigo, naquele ano,<br />

ocuparam 25,1% da área total, que foi avaliada em cerca de 1,29 milhões de hectares.<br />

Associando com as áreas em descanso, verifica-se que as lavouras temporárias representavam<br />

cerca de 29,5% da área total. Quanto às áreas de pastagens cultivadas e naturais, dedicadas às<br />

explorações das bovinoculturas de corte e leite e da ovinocultura ocupavam, respectivamente,<br />

18,3% e 11,7% da área total. Considerando que em 1996 havia nessa região 24.399<br />

propriedades rurais, cuja maioria possuía sistemas de produção agropecuária familiar, pode-se<br />

estimar que a área média desses estabelecimentos era de 53 hectares.<br />

QUADRO 1 - Ocupação da terra da região de Guarapuava - 1996.<br />

Forma de ocupação Área (ha) %<br />

Lavouras temporárias 323.402,49 25,1<br />

Matas e florestas naturais 285.549,96 22,2<br />

Pastagens plantadas 235.345,80 18,3<br />

Pastagens naturais 150.297,95 11,7<br />

Matas e florestas artificiais 112.992,67 8,8<br />

Terras inaproveitáveis 71.712,41 5,6<br />

Lavouras temporárias em descanso 57.214,77 4,4<br />

Terras produtivas não utilizadas 38.597,34 3,0<br />

Lavouras permanentes 12.543,47 1,0<br />

Total 1.287.656,85 100,0<br />

Fonte: Dados do Censo Agropecuário de 1996 (Banco..., 2004).<br />

Portanto, tomando como base a importância do setor agropecuário regional, com<br />

destaque para as atividades produtivas e comerciais relacionadas com a bovinocultura de<br />

corte, definiu-se como objeto de pesquisa a cadeia produtiva da carne bovina da região. Para<br />

tanto, foram estudadas algumas das organizações típicas, que formam os três grandes<br />

macrossegmentos: produção, industrialização e comercialização. Estudaram-se somente esses<br />

três macrossegmentos, pois, de acordo com Batalha (1997), o estudo dos mesmos permite<br />

uma adequada análise em termos de competitividade de uma determinada cadeia produtiva.<br />

3.3. Os métodos de pesquisa<br />

Para a execução prática do projeto, foram utilizados dois métodos de pesquisa: a<br />

entrevista não-estruturada e os questionários estruturados. A entrevista não-estruturada foi o<br />

método principal pelo fato de propiciar grande amplitude de investigação (entrevista em<br />

aberto e em profundidade), permitindo, assim, a compreensão do complexo comportamento<br />

dos entrevistados, sem impor categorias que limitassem o campo da investigação (Fontana e<br />

Frey, 1994).<br />

Pelo fato de ser utilizada a entrevista não-estruturada, empregaram-se roteiros<br />

constituídos por vários tópicos cobertos durante as entrevistas. Os roteiros tiveram a<br />

finalidade de orientar as entrevistas, buscando-se evitar que questões relevantes deixassem de<br />

ser abordadas. Além disso, o uso de roteiros permitiu que, ao longo das entrevistas, ocorresse<br />

aprofundamento dos tópicos mediante novos questionamentos, que surgiam durante a<br />

conversa com os entrevistados, propiciando maior compreensão e novas descobertas<br />

relacionadas a determinados aspectos (Alencar, 1999).


Tendo em vista que uma investigação de cunho qualitativo pode conter dados<br />

quantitativos, de maneira a proporcionar o esclarecimento dos aspectos do fenômeno estudado<br />

(Godoy, 1995) foram, ainda, utilizados questionários estruturados. O uso desse método visou<br />

a coleta de dados quantitativos da cadeia produtiva da carne bovina no âmbito regional.<br />

Por meio da entrevista não-estruturada e dos questionários estruturados, buscou-se<br />

uma gama de informações referentes aos macrossegmentos estudados (Quadro 2).<br />

QUADRO 2 - Principais informações coletadas sobre os macrossegmentos da cadeia<br />

produtiva da carne bovina da região de Guarapuava, PR.<br />

Produção Industrialização Comercialização<br />

Informações<br />

−<br />

−<br />

−<br />

−<br />

−<br />

−<br />

−<br />

−<br />

−<br />

−<br />

manejos: alimentar, geral,<br />

reprodutivo e sanitário;<br />

animais: quantidade e<br />

qualidade genética;<br />

produção e produtividade;<br />

recursos produtivos: terra,<br />

capital e trabalho;<br />

capacitação técnica e<br />

gerencial;<br />

assistência técnica;<br />

outras atividades<br />

agropecuárias;<br />

relações com a indústria;<br />

comercialização: local e<br />

preços; e<br />

objetivos e planos.<br />

−<br />

−<br />

−<br />

−<br />

−<br />

−<br />

−<br />

−<br />

−<br />

−<br />

−<br />

−<br />

matéria-prima: quantidade e<br />

qualidade;<br />

relações com produtores e<br />

comerciantes;<br />

assistência técnica;<br />

capacidade instalada;<br />

produtos industrializados;<br />

marketing;<br />

comercialização;<br />

abrangência de mercado;<br />

preços de compra e de venda<br />

de produtos;<br />

concorrentes;<br />

competitividade; e<br />

objetivos e planos.<br />

−<br />

−<br />

−<br />

−<br />

−<br />

−<br />

−<br />

relações com a indústria;<br />

volume e tipos de produtos<br />

comercializados;<br />

faturamento com os produtos<br />

da bovinocultura de corte;<br />

principais fornecedores<br />

desses produtos;<br />

produtos da bovinocultura de<br />

corte (indústria local e<br />

indústria de fora): qualidade,<br />

diferenciação, marketing e<br />

preços;<br />

preços de compra e de venda<br />

dos referidos produtos; e<br />

objetivos e planos.<br />

Quanto às entrevistas, foram identificados e entrevistados alguns dirigentes típicos das<br />

organizações relacionadas com a produção, a industrialização e a comercialização de produtos<br />

derivados da bovinocultura de corte da região. Sobre o macrossegmento produção, foram<br />

entrevistados dez produtores rurais (pecuaristas). Em relação à industrialização, foram<br />

entrevistados três industriais. Para a obtenção de informações específicas quanto à<br />

comercialização, entrevistaram-se três comerciantes de carne bovina da região.<br />

Além dos dirigentes das referidas organizações, foram entrevistados sete técnicos, que<br />

atuam em serviços de extensão rural, assistência técnica e inspeção de produtos de origem<br />

animal. Com essas entrevistas, buscaram-se subsídios para facilitar a compreensão de como as<br />

organizações dessa cadeia produtiva, ao longo do tempo, vêm se desenvolvendo.<br />

3.4. A análise da realidade investigada<br />

Tomando como base os pressupostos teóricos discutidos na seção dois e o conjunto<br />

das informações coletadas sobre os macrossegmentos da cadeia da carne bovina da região de<br />

Guarapuava, analisou-se o ambiente competitivo dos mesmos, identificando os principais<br />

pontos fortes e fracos do ambiente interno da cadeia em questão. Por outro lado, foram<br />

identificadas as grandes oportunidades e ameaças externas ao desenvolvimento e à<br />

competitividade dessa cadeia.<br />

4. A <strong>COMPETITIVI<strong>DA</strong>DE</strong> <strong>DA</strong> <strong>CADEIA</strong> <strong>PRODUTIVA</strong><br />

A cadeia produtiva da carne bovina da região de Guarapuava sempre fez parte da<br />

trajetória de desenvolvimento regional. Ao longo dos anos, passou por diversas<br />

transformações, que se tornaram mais relevantes, especialmente, nas últimas duas décadas,<br />

pois foram verificadas acentuadas melhorias no setor de produção, que, até esse período,<br />

caracterizava-se por ser desenvolvido de forma extensiva tradicional, sem grandes<br />

investimentos tecnológicos. O setor de industrialização, no entanto, ao longo do tempo, tem<br />

passado por sérias dificuldades estruturais. Por sua vez, o setor de comercialização,


principalmente nos últimos anos, passou a priorizar produtos que apresentam maiores<br />

garantias quanto às qualidades sanitária e nutricional atendendo novas demandas dos<br />

consumidores, hoje mais exigentes.<br />

Partindo dessa visão prévia, nesta seção são efetuadas análises acerca da<br />

competitividade dos três grandes macrossegmentos da cadeia em discussão. Foi analisada a<br />

eficiência de cada macrossegmento em relação às cinco forças competitivas: rivalidade entre<br />

as organizações; ameaça de novos concorrentes; ameaça de produtos substitutos; poder de<br />

negociação dos fornecedores; e poder de negociação dos clientes.<br />

4.1. A intensidade de rivalidade entre as organizações<br />

Ao se analisar o conjunto dos estabelecimentos agropecuários que formam o<br />

macrossegmento produção da cadeia estudada, constata-se que não existe grande rivalidade<br />

entre eles. Essa baixa rivalidade é atribuída a diversos aspectos, dentre os quais seis merecem<br />

destaque especial:<br />

a. existe amplo número de pecuaristas que, apesar de muitas vezes produzir produtos com<br />

certa diferenciação, como ocorre quando comparam-se as pecuárias tradicional e moderna,<br />

têm os preços de seus produtos e as transações comerciais regulados pelo mercado.<br />

Portanto, esses produtores, em geral, não conseguem definir preços para seus produtos;<br />

b. o abandono do setor produtivo por parte de alguns produtores de carne bovina da região,<br />

praticamente, em nada afeta a posição competitiva dos demais;<br />

c. não ocorre grande disputa, entre os pecuaristas em questão, pelos recursos produtivos<br />

(terra, insumos, mão-de-obra e outros) disponíveis na região. Isso, de certa forma, deve-se<br />

às baixas capacidades instalada e de investimento da maioria desses produtores;<br />

d. praticamente, não existem investimentos publicitários efetuados pelo conjunto dos<br />

integrantes do macrossegmento produção da carne bovina regional;<br />

e. existem diversos grupos de estabelecimentos agropecuários que possuem estruturas de<br />

custos bastante semelhantes, haja vista que a tecnologia de produção de carne bovina<br />

segue determinados padrões; e<br />

f. grande parte dos produtores de carne bovina faz parte de grupos que, de modo geral,<br />

atuam de forma mais cooperativa que competitiva.<br />

Mesmo não havendo grande rivalidade entre as propriedades rurais, pode-se afirmar<br />

que aquelas que possuem sistemas de produção mais extrativistas (ainda em grande número<br />

na região) são as que mais sofrem, de forma indireta, pela evolução técnica que vem sendo<br />

processada em outras organizações do segmento produtivo 1 . Isso porque, com a crescente<br />

oferta de produtos de melhor qualidade, as indústrias frigoríficas acabam priorizando os<br />

animais provenientes das empresas mais bem estruturadas e tecnificadas.<br />

No macrossegmento industrialização, a rivalidade entre as empresas tende a ser mais<br />

acirrada que do que a observada no macrossegmento produção 2 . No entanto, em virtude da<br />

1 Devido, principalmente, ao aumento da importância das feiras de bezerros e à maior intensificação tecnológica<br />

das atividades agropecuárias, visando agregar valor às propriedades rurais, grande parte dos pecuaristas da<br />

região de Guarapuava, nos últimos 20 anos, passou por um processo de reconversão do seu sistema produtivo.<br />

Entre os avanços tecnológicos mais relevantes, podem ser destacados: aumento dos investimentos em renovação<br />

e adubação de pastagens; produção de pastagens com maiores qualidades e quantidade; maior preocupação dos<br />

produtores com o planejamento de suas empresas; ampliação dos sistemas de integração lavoura-pecuária;<br />

efetivação de investimentos no manejo reprodutivo, sobretudo, por meio do uso das tecnologias de inseminação<br />

artificial e de transferência de embriões; e outros. Conseqüente aos avanços técnicos, na região têm sido obtidos<br />

resultados produtivos bastante satisfatórios. Por exemplo, em algumas propriedades, são entouradas novilhas<br />

com menos de dois anos de idade, obtém-se taxas de prenhez e desmama, respectivamente, de 90% e 87%.<br />

2 Atualmente, existem na região apenas 13 abatedouros de bovinos, de pequeno a médio portes. A capacidade de<br />

abate diário para a região de Guarapuava é da ordem de 400 bovinos. Quanto ao tipo de inspeção, devido ao<br />

tamanho das plantas industriais, predomina o sistema de inspeção municipal.


grande competição com indústrias de fora 3 e das limitações técnicas e financeiras das plantas<br />

industriais da região de Guarapuava, essas organizações não conseguem, no ambiente<br />

regional, adotar estratégias de concorrência muito distintas. Assim, os produtos oferecidos<br />

pelas indústrias da região não possuem grande diferenciação para atender nichos e exigências<br />

específicas do mercado e permitir vantagens adicionais nos custos e na rentabilidade<br />

organizacionais. Adicionalmente, como essas empresas têm limitações comerciais e técnicas,<br />

não podem operar com grandes volumes de produção. Nesse sentido, a capacidade de<br />

armazenagem dos produtos cárneos é bastante baixa e dispendiosa, o que obriga as referidas<br />

plantas industriais a abater os animais e, logo em seguida, entregar os produtos no comércio.<br />

Em síntese, apesar de haver poucos abatedouros de bovinos na região, que, em geral,<br />

são pequenos e, portanto, com certo equilíbrio na atuação e nos recursos produtivos,<br />

praticamente, nenhum deles tem conseguido, de fato, se expandir e se sobrepor no mercado<br />

regional. Além disso, eles têm sua competitividade prejudicada, em muito, pela grande<br />

presença de práticas de abate clandestino.<br />

Mesmo com os problemas observados na maior parte dos abatedouros em questão,<br />

eles continuam operando regionalmente para atender determinada fatia do mercado<br />

consumidor. A permanência dessas organizações deve-se, entre outras coisas, a duas barreiras<br />

de saída principais: utilização de ativos altamente especializados, haja vista que os<br />

equipamentos da indústria frigorífica dificilmente podem ser usados em outras atividades<br />

industriais; e elevados custos fixos de saída, que estão relacionados com a definição de<br />

acordos com trabalhadores, a manutenção de recursos produtivos, entre outros.<br />

No macrossegmento comercialização é onde se verifica maior concorrência entre as<br />

empresas. Ao se analisar os estabelecimentos comerciais, constata-se o uso de algumas<br />

estratégias organizacionais para se sobressair no comércio final de carne bovina da região.<br />

Essas estratégias estão relacionadas, principalmente, com a negociação de volumes de<br />

produção com os frigoríficos, visando adquirir produtos com menores custos e, assim, por<br />

meio de promoções, operar com menores preços. A maior rivalidade entre essas organizações<br />

pode ser atribuída a três aspectos principais:<br />

a. existência de grande número de distribuidores (supermercados e açougues) de carnes aos<br />

consumidores finais. Diante disso, os distribuidores maiores, representados por algumas<br />

redes de supermercados, pelo fato de comercializar grandes volumes de produtos, têm<br />

possibilidades de adotar estratégias, especialmente relacionadas a preços, que permitem<br />

conquistar maior parcela do mercado consumidor de carne bovina na região;<br />

b. apesar de haver produtos, derivados do abate de bovinos, bastante distintos em termos de<br />

apresentação e de garantia de qualidade, de modo geral, no comércio regional predominam<br />

as vendas de produtos cárneos com pouca diferenciação. Como conseqüência, para<br />

conquistar maior parcela de mercado, os comerciantes, quando têm condições, procuram<br />

trabalhar com preços diferenciados e oferecer serviços que gerem maior satisfação ao<br />

cliente; e<br />

c. a competição na venda de carne bovina tende a ser mais acirrada, sobretudo nos<br />

supermercados, devido ao fato de o produto ser importante atrativo de consumidores que,<br />

graças a preços promocionais da carne, podem vir até o estabelecimento comercial e<br />

adquirir também outros produtos necessários para o ambiente doméstico.<br />

Tomando como base esses aspectos, e analisando a competitividade dos<br />

supermercados em relação aos açougues, pode-se afirmar que estes, em grande parte devido<br />

ao fato de serem muito especializados na venda de apenas alguns produtos, estão em processo<br />

de perda continua de seu mercado consumidor.<br />

3 Existem grandes indústrias instaladas em outras regiões que, além de importar expressiva parcela dos animais<br />

terminados na região em estudo, atendem significativa parcela da demanda de carne bovina dessa região.


4.2. A ameaça de novos concorrentes<br />

Em relação à força competitiva relacionada com a ameaça de novos concorrentes,<br />

pode-se afirmar que ela não exerce muita influência sobre a competitividade das empresas que<br />

formam o macrossegmento produção da carne bovina da região. Isso porque esse<br />

macrossegmento é formado por amplo número de organizações, dentre as quais não existe<br />

nenhuma que possui escala produtiva de maneira a torná-la responsável por atender<br />

expressiva parcela da demanda regional de bovinos para abate. Verifica-se que a produção<br />

primária tem boa aceitação nos mercados regional e de fora da região.<br />

Outro fator que minimiza a ameaça de novos concorrentes relaciona-se ao fato de que<br />

a maior parte das propriedades rurais que explora a bovinocultura de corte na região possui,<br />

além dessa atividade pelo menos outra exploração comercial, em que se destacam a soja e o<br />

milho. Isso faz com que a maioria dos pecuaristas não tenha preocupações em investir apenas<br />

na pecuária, pois isso deixaria seus estabelecimentos mais sujeitos aos riscos econômicos<br />

associados a possíveis problemas, em determinadas épocas, na rentabilidade da bovinocultura.<br />

Mesmo com a baixa ameaça de novos concorrentes, é possível inferir que a entrada de<br />

novos produtores de carne bovina pode ser favorecida pelo fato de o mercado comprador da<br />

matéria-prima ser, ainda, pouco fiel ao produtor que, normalmente, não possui nenhum tipo<br />

de marca sobre seu produto. Adicionalmente, existe facilidade de acesso aos mesmos canais<br />

de distribuição usados pelos atuais pecuaristas.<br />

Especificamente em relação à economia de escala, pode-se ressaltar que na região<br />

existem grandes possibilidades para que várias empresas venham a expandir sua produção<br />

bovina reduzindo, conseqüentemente, seus custos unitários, sem causar grandes impactos<br />

sobre as demais organizações do setor. Contudo, apesar de haver campo para expandir essa<br />

produção, o que possibilitaria aumentar a escala de certos estabelecimentos e/ou o ingresso de<br />

novos produtores, na prática isso é, de certa forma, pouco evidenciado, pois para produzir<br />

carne bovina de alta qualidade e dentro de uma perspectiva de economia de escala, são<br />

necessários altos investimentos em recursos produtivos, cujos retornos, normalmente, não são<br />

vislumbrados a curto-prazo. Além disso, existem outras alternativas de investimentos,<br />

sobretudo financeiras que, apesar dos riscos, são consideradas mais atraentes. A exigência de<br />

experiência para a exploração eficiente e viável técnica e economicamente, mesmo podendo<br />

ser solucionada com a contratação de assessoria técnica e de mão-de-obra especializada,<br />

também é um grande limitante para a entrada de novos produtores nesse negócio. Portanto, a<br />

expansão da produção, em geral, tende a ocorrer apenas naquelas propriedades que já<br />

exploram a bovinocultura com melhores níveis tecnológicos, mediante a compra de mais área<br />

e/ou a substituição de áreas destinadas a outras explorações comerciais.<br />

No macrossegmento industrialização a ameaça de novos concorrentes é bem mais<br />

acentuada que a observada no setor produtivo. Essa ameaça está associada, principalmente,<br />

com grandes plantas industriais que, apesar de não estarem instaladas na região, atendem<br />

expressiva parcela da demanda regional final de carne bovina. As indústrias da região, embora<br />

tenham vantagens de estar próximas de locais de produção de matéria-prima de excelente<br />

qualidade, o que facilita as negociações de compra e reduz os custos de transporte, sofrem<br />

muita concorrência com empresas de fora, que visualizam grandes potencialidades de<br />

expansão regional. Essa grande concorrência é atribuída a cinco aspectos principais:<br />

a. os frigoríficos instalados em outras regiões, pelo fato de ter altas capacidades instaladas,<br />

têm maiores condições de trabalhar com economias de escala, que contribuem para reduzir<br />

os custos de produção unitários. Essa situação prejudica, em muito, a expansão<br />

organizacional das plantas industriais instaladas na região e faz com que elas, ao longo do<br />

tempo, enfrentem crescentes problemas de rentabilidade e de garantia de mercado;<br />

b. as empresas de fora trabalham com maior diversificação, possibilitando maximizar a<br />

eficiência de uso das tecnologias de processamento dos produtos derivados do abate de<br />

bovinos e atender diversos nichos de mercados e necessidades variadas de seus clientes;


c. as plantas industriais de outras regiões, geralmente, atuam em amplas áreas geográficas, o<br />

que significa que atendem vários mercados, inclusive internacionais, favorecendo, desse<br />

modo, o escoamento da produção;<br />

d. para expandir as capacidades de abate e de processamento são necessários consideráveis<br />

investimentos. Isso é inviável para a maior parte dos proprietários de abatedores de<br />

bovinos da região, pois enfrentam sérios problemas de descapitalização; e<br />

e. os comerciantes, normalmente, não são fiéis compradores dos produtos provenientes da<br />

indústria regional, uma vez que priorizam efetuar transações comerciais em que<br />

conseguem negociar preços menores.<br />

Diante do quadro de ameaça de novos concorrentes, o conjunto das plantas industriais<br />

da região de Guarapuava tem baixo poder de reação frente às empresas de fora. Além disso,<br />

as empresas instaladas em outras regiões, visando escoar excedentes de produção, praticam<br />

preços dissuasivos, ou seja, para se desfazer de excessos de produtos, igualam os preços de<br />

venda com os seus custos, tendo assim, rendimentos nulos. Inclusive, existem épocas em que<br />

os preços de venda chegam a ser menores que os custos industriais. Esse tipo de estratégia,<br />

em geral, só é possível para empresas capitalizadas, que trabalham com altos volumes de<br />

produção, ou empresas inadimplentes.<br />

Para o macrossegmento comercialização, constata-se que a curto-prazo, a ameaça de<br />

novos entrantes, que venham a conquistar significativa parcela do mercado consumidor, não é<br />

muito grande. Isso porque na região existem grandes redes de supermercados que, pelo fato<br />

de dominar alta parcela do mercado de venda de carne bovina e, de certo modo, ter a<br />

preferência de determinados grupos de consumidores, dificultam a entrada, de forma viável e<br />

competitiva, de outros distribuidores dessa natureza. Essas redes, como estão bem<br />

estruturadas, com base nas situações de mercado, podem, em função dos altos volumes de<br />

produtos que comercializam, trabalhar com maior flexibilidade nos preços de venda.<br />

Adicionalmente, mesmo reduzindo a margem de lucro na carne bovina, podem compensar<br />

essas perdas com a venda de outros produtos do estabelecimento. Portanto, novos<br />

comerciantes, para ganhar relevante espaço no comércio de alimentos da região precisam<br />

iniciar com níveis elevados de venda de produtos podendo enfrentar fortes reações das<br />

empresas instaladas. Além disso os investimentos necessários e as exigências de capital de<br />

giro são altos, especialmente para anular a fidelidade estabelecida da clientela para com as<br />

organizações comerciais existentes.<br />

Mesmo com essas dificuldades para a entrada de novos comerciantes, parece evidente<br />

que na região existe espaço para expandir o comércio de produtos diferenciados, com alta<br />

qualidade, derivados do abate de bovinos. Isso porque os comerciantes regionais, apesar de<br />

terem certas exigências quanto ao tipo de produto, priorizam o preço do mesmo, pois<br />

estabelecem uma certa margem de lucro.<br />

4.3. A ameaça de produtos substitutos<br />

O macrossegmento produção de carne bovina da região sofre concorrência com outros<br />

produtos de origem animal (suínos e aves, principalmente). Isso se deve a três fatores<br />

principais: variações nos preços de venda desses produtos, problemas de restrição de renda de<br />

grande parte da população e adoção de estratégias de marketing para os produtos substitutos.<br />

Portanto, os reflexos sobre os produtores regionais de carne bovina vêm, sobretudo, do<br />

ambiente macroeconômico que é influenciado por condições nacionais e internacionais, tendo<br />

em vista que os quadros de oferta e de demanda desse produto e dos substitutos podem<br />

determinar diferentes preços pagos ao produtor, o que afeta a rentabilidade da bovinocultura.<br />

Sobre essa situação, o pecuarista da região não exerce nenhum tipo de controle, até porque o<br />

investimento em marketing do produto, efetuado em nível de cadeia produtiva da carne<br />

bovina brasileira é, ainda, muito pequeno e incipiente.<br />

É importante ressaltar que possíveis mudanças na oferta e na demanda de carne<br />

bovina, decorrentes da produção e do consumo de produtos substitutos, têm maiores impactos


na rentabilidade dos estabelecimentos mais especializados na bovinocultura de corte.<br />

Entretanto, essa não é uma característica predominante na região em estudo, pois nesta<br />

predominam propriedades rurais com certa diversificação em atividades comerciais.<br />

Sobre os quadros de oferta e de demanda de carnes bovina, suína e de frango, é<br />

interessante enfatizar que, no período de 1999 a 2004, mesmo com a ligeira queda no<br />

consumo mundial de carne bovina, registrou-se diminuição da ordem de 10,1% nos estoques<br />

mundiais do produto, indicando, pelo menos a curto-prazo e a médio-prazo, a ocorrência de<br />

preços atraentes para os exportadores do produto. Por outro lado, em relação aos substitutos,<br />

também, no curto-prazo e no médi-prazo, não se vislumbram grandes pressões para provocar<br />

baixas nos preços da carne bovina, pois o estoque mundial de carne suína e de carne de<br />

frango, nos últimos anos, tem, respectivamente, aumentado e estabilizado (US<strong>DA</strong>, 2003).<br />

Na região de Guarapuava, dada a evolução técnica, tem-se verificada a expansão da<br />

produção de carne bovina diferenciada o que significa a obtenção de produtos substitutos da<br />

pecuária tradicional. Nesse sentido, propriedades rurais com alto nível tecnológico, de forma<br />

natural, tendem, especialmente no médio-prazo e no longo-prazo, a exercer influência sobre<br />

as mais tradicionais que, associadas com as crescentes exigências do mercado consumidor,<br />

para poder barganhar na venda da produção, precisam investir em tecnologias. Esse processo<br />

tem contribuído para a reconversão de muitos sistemas produtivos ou abandono, por parte de<br />

diversos produtores, da exploração da bovinocultura de corte.<br />

Para o macrossegmento industrialização, existem dois grandes grupos de produtos<br />

substitutos que exercem maior concorrência. O primeiro é formado pelo produto derivado do<br />

abates de bovinos, realizado em plantas industriais de outras regiões, que apresentam certa<br />

diferenciação nos cortes e na apresentação em relação aqueles ofertados pelos abatedores da<br />

região. No outro grupo, tem-se a carne suína e de frango que, em determinadas épocas, pelo<br />

fato de as plantas regionais que abatem bovinos, em geral, serem especializadas nesse abate,<br />

podem prejudicar o escoamento da produção e, conseqüentemente, o funcionamento dessas<br />

organizações. Assim, essas empresas que não têm condições de realizar investimentos em<br />

estratégias de marketing, ficam sujeitas a sofrer com as leis de mercado, onde simples<br />

mudanças na oferta e na demanda dos produtos substitutos podem ter grandes reflexos<br />

positivos ou negativos sobre a rentabilidade das mesmas, determinando a permanência ou a<br />

saída do setor.<br />

Analisando o macrossegmento comercialização, observa-se que a maior parte dos<br />

estabelecimentos não tem problemas com a concorrência de substitutos da carne bovina. Isso<br />

porque nessa comercialização atuam, principalmente, supermercados e açougues que, em<br />

geral, vendem além de produtos cárneos bovinos, produtos derivados dos abates de suínos e<br />

aves. Caso ocorram aumentos na demanda de substitutos da carne bovina que provocariam<br />

diminuição no consumo desse produto, os proprietários desses estabelecimentos comerciais<br />

não seriam muito prejudicados pois, em vez de vender um tipo de produto, estarão vendendo<br />

outros já disponíveis. Adicionalmente, para diminuir possíveis estoques de produtos<br />

substitutos, os comerciantes podem utilizar estratégias relacionadas com a redução dos preços<br />

dos mesmos aumentando as suas demandas e diminuindo o consumo de carne bovina.<br />

O conjunto dos aspectos relacionados com o comércio final de carnes na região faz<br />

com que os investimentos em marketing da carne bovina, em nível de estabelecimentos<br />

comerciais sejam relativamente baixos, prejudicando assim os demais macrossegmentos da<br />

cadeia produtiva desse produto.<br />

4.4. O poder de negociação dos fornecedores<br />

Ao se analisar os fornecedores de recursos produtivos para as organizações que<br />

formam o macrossegmento produção verifica-se que não têm poder de negociação suficiente<br />

para ameaçar a competitividade e o funcionamento da maioria dos sistemas de produção de<br />

carne bovina da região. Isso se deve aos seguintes aspectos:


a. na região existe grande número de fornecedores de insumos, o que determina maiores<br />

facilidades e flexibilidade para os produtores negociarem preços e prazos de pagamento;<br />

b. não existe fornecedor que, individualmente, detenha e/ou seja responsável por atender<br />

significativa parcela dos pecuaristas da região;<br />

c. existe grande número de fornecedores que comercializam os mesmos recursos produtivos,<br />

aumentando as opções de compra dos produtores; e<br />

d. existe amplo número de recursos produtivos comercializados na região que, apesar de<br />

distintos, desempenham a mesma função. São exemplos desses recursos, produtos<br />

veterinários, rações, sementes, fertilizantes para pastagens e outros, o que permite aos<br />

produtores maior gama de opções para realizar suas compras.<br />

Os sistemas produtivos que poderiam ser considerados mais prejudicados pelos seus<br />

fornecedores são aqueles que, além de responder por apenas pequena parte da produção total<br />

de carne bovina da região, possuem características mais extrativistas. Isso porque é comum o<br />

fato de os produtores desses sistemas estarem bastante descapitalizados e, desse modo, ter<br />

maiores dificuldades para conseguir créditos junto aos comerciantes de recursos produtivos.<br />

Para os abatedouros instalados na região, pode-se ressaltar que os seus fornecedores,<br />

que representam os pecuaristas, têm grande poder de negociação, podendo comprometer a<br />

rentabilidade e o funcionamento dos mesmos. Esse poder se deve a alguns fatores principais:<br />

a. apesar de haver na região amplo número de produtores de carne bovina, na venda da sua<br />

produção eles buscam alguma negociação de preços. Como a indústria regional tem sérias<br />

limitações, que dificultam a efetivação de satisfatórios acordos comerciais com os<br />

produtores estes, em muitos casos, preferem vender a produção para indústrias instaladas<br />

em outras regiões pois, mesmo com os riscos de inadimplência fraudulenta, oferecem<br />

pequenas margens adicionais no preço de compra do produto;<br />

b. para atender sua demanda de trabalho, em determinadas situações, as indústrias da região<br />

são obrigadas a adquirir produtos que, mesmo com baixa qualidade (sobretudo, problemas<br />

de maciez), muitas vezes têm alta valorização elevando, assim, o custo industrial; e<br />

c. as indústrias da região têm baixas condições, quando comparadas com as grandes plantas<br />

industriais, de atuar em outras regiões para adquirir animais a preços menores.<br />

Quanto aos estabelecimentos comerciais, a pressão exercida pelos fornecedores, que<br />

constituem as indústrias frigoríficas, é relativamente baixa porque existem várias opções de<br />

compra de carne bovina, tanto na região de Guarapuava como fora dela. Existem ainda, várias<br />

opções para negociar com plantas industriais que conseguem oferecer produtos com certa<br />

diferenciação na qualidade, na apresentação e nos preços. Além disso, a maior parte dos<br />

comerciantes não tem nenhum tipo de comprometimento formal para com alguma indústria e,<br />

dessa forma, pode livremente selecionar os fornecedores, de acordo com seus interesses.<br />

É imortante ressaltar que uma grande ameaça sobre o setor responsável pela oferta de<br />

recursos produtivos, no sentido do aumento da competitividade dos três macrossegmentos,<br />

provém da oferta de recursos humanos. Essa ameaça deve-se ao fato de a região ser muito<br />

carente de mão-de-obra qualificada e especializada para trabalhar com a produção, o<br />

processamento e a distribuição da carne bovina e seus derivados.<br />

4.5. O poder de negociação dos clientes<br />

De maneira geral, pode-se afirmar que os produtores de carne bovina da região de<br />

Guarapuava são muito dependentes e influenciados pelos interesses dos seus clientes que,<br />

normalmente, estabelecem os preços de compra do produto. Essa situação ocorre em função<br />

de quatro aspectos principais:<br />

a. existe amplo número de produtores de carne bovina, em diversas regiões do País, fazendo<br />

com que a oferta de produtos, com características técnicas bastante similares, sejam<br />

relativamente altas. Isso determina que os clientes, que representam as plantas industriais<br />

de abate, possam melhor selecionar os fornecedores, de acordo com os preços que estão<br />

dispostos a pagar e o tipo de produto que demandam;


. ainda ocorre grande concentração da oferta de animais para abate em determinadas épocas<br />

do ano, pois muitos pecuaristas não realizam manejo nutricional adequado do rebanho,<br />

sobretudo nas estações mais frias. Com a concentração da oferta, os clientes tendem a<br />

baixar os preços de compra e expandir o tempo para pagamento do produto. No entanto,<br />

produtores que conseguem oferecer animais nas épocas de entressafra têm maior poder de<br />

barganha junto aos clientes, diminuindo assim o poder de negociação destes;<br />

c. o produtor pode ter alto custo para manter animais, já prontos para o abate, na expectativa<br />

de obter melhores preços. Em função do custo, o pecuarista, logo após a terminação dos<br />

animais é pressionado a vendê-los para poder honrar outros compromissos financeiros<br />

relacionados com a aquisição de recursos produtivos; e<br />

d. não existe a realização de contratos formais entre a maioria dos produtores com<br />

determinadas indústrias, o que faz com que estas não se sintam “aprisionadas” nas malhas<br />

dos seus fornecedores.<br />

Apesar das dificuldades enfrentadas na venda de bovinos, verifica-se que muitos<br />

pecuaristas da região, que possuem elevados níveis tecnológicos, permitindo a produção de<br />

animais com padrões que atendem até os mais exigentes mercados internacionais, têm<br />

conseguido maior poder de barganha junto aos clientes. Isso é mais evidente na negociação<br />

com industriais voltados para o mercado internacional e/ou para nichos de mercado<br />

consumidor altamente exigente em termos de garantias de qualidades nutricional e sanitária.<br />

Para o macrossegmento industrialização, os seus clientes exercem grande poder de<br />

negociação. Esse poder é mais acentuado nas grandes redes de supermercados da região pois,<br />

pelo fato de trabalhar com altos volumes e possuir determinadas margens de lucro fixadas,<br />

buscam preços mais baixos. Portanto, os fornecedores dos comerciantes acabam sendo<br />

selecionados pelas suas capacidades em oferecer produtos nas quantidades e nos preços<br />

exigidos. Desse modo, nessas negociações são favorecidos os frigoríficos localizados em<br />

outras regiões, haja vista que a maior parte daqueles localizados na região de Guarapuava tem<br />

sérias limitações tecnológicas e na capacidade instalada.<br />

O grande poder de negociação exercido pelos estabelecimentos comerciais é<br />

favorecido pela existência de expressivo número de plantas industriais, que podem atuar na<br />

região oferecendo produtos com características técnicas similares, e pela não efetivação de<br />

contratos formais entre a maioria dos comerciantes com industriais específicos.<br />

Quanto às organizações do macrossegmento comercialização da carne bovina, pode-se<br />

afirmar que são muito influenciadas pelos consumidores finais. Como a maior parte dos<br />

consumidores da região enquadra-se nas classes econômicas consideradas de baixa renda e<br />

média renda, o aspecto preço é grande determinante para a compra do produto, pois a<br />

aquisição deste, de acordo com o tamanho da família, pode ser responsável pelo dispêndio de<br />

expressiva parcela da renda familiar. Adicionalmente, quando se deparam com<br />

estabelecimentos que praticam preços semelhantes para os produtos derivados do abate<br />

bovino, esses consumidores passam a procurar aqueles que oferecem produtos que atendem<br />

determinadas exigências qualitativas. Para consumidores de alta renda, que na região são a<br />

minoria, os principais aspectos levados em consideração para efetivar a compra de carne<br />

bovina estão relacionados com a garantia de qualidade e com a apresentação do produto.<br />

Diante dessas pressões, os comerciantes, de acordo com seus clientes preferenciais,<br />

precisam ter grande preocupação em oferecer carne bovina nas condições que atendem os<br />

interesses da clientela. Caso um consumidor não esteja satisfeito, com o preço e/ou qualidade,<br />

do produto ofertado por determinado estabelecimento, buscará outro local que atenda suas<br />

necessidades e, provavelmente, adquirirá outros itens fundamentais para o seu lar.<br />

4.6. A competitividade global dos macrossegmentos<br />

Tomando como base às discussões efetuadas ao longo desta seção, foi elaborada a<br />

Figura 2, onde é mostrado, de forma sintética, o poder de influência de cada uma das cinco


forças competitivas, estabelecidas no modelo teórico de Michael Porter, sobre os três grandes<br />

macrossegmentos da cadeia produtiva da carne bovina da região de Guarapuava.<br />

Rivalidade organizacional<br />

3<br />

2<br />

Fornecedores<br />

1<br />

Novos concorrentes<br />

0<br />

Clientes<br />

Produtos substitutos<br />

Produção Industrialização Comercialização<br />

FIGURA 2 - Poder de influência das cinco forças competitivas sobre os macrossegmentos da<br />

cadeia da carne bovina da região de Guarapuava. Onde: 1 = baixo poder; 2 =<br />

médio poder; e 3 = alto poder. Fonte: Resultados de pesquisa de campo.<br />

Ao se analisar a força relacionada com a rivalidade entre as organizações, constata-se<br />

que ela tem poder de influir, de maneira distinta, na competitividade dos três<br />

macrossegmentos. Nesse sentido, exerce alto, médio e baixo impactos, respectivamente, sobre<br />

os estabelecimentos comerciais, os abatedores de bovinos e as propriedades rurais.<br />

Quanto à ameaça de novos concorrentes, verifica-se que também atua, de modo<br />

distinto, sobre cada macrossegmento. Nessa perspectiva possui alta, média e baixa influência,<br />

respectivamente, na eficiência competitiva dos industriais, comerciantes e pecuaristas.<br />

A ameaça de produtos substitutos é outra força com diferentes impactos na<br />

competitividade das organizações. Sobre as plantas industriais, as propriedades agropecuárias<br />

e os estabelecimentos comerciais, influem, respectivamente, de maneira alta, média e baixa.<br />

Em relação ao poder de negociação dos fornecedores, evidencia-se que tem alto<br />

impacto na competitividade apenas do macrossegmento industrialização. Para as organizações<br />

responsáveis pela produção e pela comercialização das carnes bovinas na região, as<br />

influências competitivas de suas forças são relativamente baixas.<br />

O poder de negociação dos clientes representa a maior força competitiva global da<br />

cadeia produtiva, pois apresenta alta interferência no desempenho e na atuação competitiva<br />

dos três grandes macrossegmentos.<br />

Ainda utilizando a Figura 2, são analisados, de forma individual, os três<br />

macrossegmentos. Sobre a maior parte das propriedades rurais que produz carne bovina,<br />

observa-se que três forças competitivas têm baixo impacto na sua competitividade: -<br />

rivalidade entre as organizações, ameaça de novos concorrentes e poder de negociação dos<br />

fornecedores. Quanto à ameaça de produtos substitutos, o poder de influência sobre a<br />

eficiência competitiva dessas organizações é intermediário. Por fim, o poder de negociação<br />

dos clientes tem alta capacidade de influir na competitividade dos pecuaristas.


Em relação à competitividade global do macrossegmento industrialização, pode-se<br />

evidenciar que sofre grande impacto das cinco forças competitivas. Isso porque nenhuma<br />

dessas tem baixa influência na eficiência competitiva da maioria das plantas industriais que<br />

abate bovinos na região. Apenas a rivalidade entre os abatedores regionais é que influi, de<br />

maneira intermediária, na competitividade, pois todas as demais forças apresentam alto<br />

impacto sobre a eficiência competitiva dessas organizações.<br />

Na atuação da maioria dos estabelecimentos que comercializa carne bovina, duas<br />

forças apresentam baixo poder de interferência na eficiência competitiva: poder de negociação<br />

dos fornecedores e ameaça de produtos substitutos. Os possíveis novos concorrentes<br />

representam uma força que exerce poder intermediário na competitividade das organizações<br />

em questão. Por outro lado, as rivalidades entre as organizações e o poder de negociação dos<br />

clientes são as forças que têm maior poder de influenciar a eficiência dos comerciantes.<br />

Mediante o conjunto dessas observações, pode-se inferir que o macrossegmento<br />

industrialização é, em termos competitivos, o mais frágil da cadeia produtiva em estudo,<br />

requerendo, assim, medidas mais urgentes para viabilizar, regionalmente e de forma<br />

competitiva, os processos de produção, processamento e distribuição da carne bovina.<br />

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Apesar da importância econômica e social da cadeia produtiva da carne bovina na<br />

região de Guarapuava, ao ser analisado o seu contexto global, identificam-se alguns<br />

relevantes problemas, que prejudicam, em muito a sua competitividade e o seu<br />

desenvolvimento. Se por um lado, na região são produzidas e comercializadas carnes com<br />

excelentes qualidades sanitárias e nos aspectos intrínsecos (maciez, sabor e outros), por outro,<br />

têm-se, nos três grandes macrossegmentos estudados, acentuados problemas e limitações.<br />

No macrossegmento produção há muitos produtores que, apesar de possuir grande<br />

disponibilidade de recursos produtivos, sobretudo terra, desenvolvem sistemas de criação ou<br />

terminação de animais de forma bastante tradicional, caracterizada pelos baixos investimentos<br />

no manejo geral, baixo desfrute do rebanho e pelo extrativismo produtivo.<br />

Quanto às plantas industriais instaladas na região, os problemas e as limitações são<br />

grandes. A maioria encontra-se descapitalizada, com baixa capacidade instalada e de<br />

investimento e com sérias restrições tecnológicas. Adicionalmente, no mercado regional,<br />

sofrem forte concorrência com grandes frigoríficos instalados em outras regiões. Esses fatores<br />

fazem com que os abatedores de bovinos da região tenham grandes dificuldades para operar e<br />

se manter, o que compromete os seus funcionamentos, sobretudo, a longo-prazo.<br />

Sobre os estabelecimentos que fazem a comercialização final da carne bovina,<br />

evidencia-se que, apesar de buscar produtos com maiores qualidades, na compra desses ainda<br />

levam em consideração aspectos relacionados com preços. As grandes redes de<br />

supermercados da região, que comercializam os maiores volumes de carne bovina acabam<br />

comprando produtos de frigoríficos de fora que, em relação aos locais têm melhores<br />

condições para oferecer, a preços menores, altos volumes de produção. Na comercialização,<br />

constata-se que muitos estabelecimentos, sobretudo de pequeno e médio porte, não possuem<br />

infra-estrutura adequada para manter e manipular produtos cárneos de maneira a não<br />

comprometer às suas qualidades sanitárias e intrínsecas.<br />

Analisando as principais inter-relações entre os macrossegmentos, observa-se que<br />

existe grande distanciamento entre eles. Desse modo, as transações comerciais ocorrem<br />

baseadas apenas nas leis da economia de mercado, não existindo nenhum tipo de<br />

comprometimento entre fornecedores e compradores locais. Como conseqüência, verifica-se a<br />

ocorrência de muitas ações oportunistas por parte de vários agentes o que compromete o<br />

funcionamento das organizações que dependem deles, tanto nas relações a montante quanto a<br />

jusante da cadeia produtiva.


Diante do contexto que cerca a cadeia estudada, pode-se afirmar que o seu<br />

desenvolvimento global depende da implementação de políticas de intervenção que venham<br />

reestruturar muitas das organizações que atuam junto a essa cadeia, tais como propriedades<br />

rurais, abatedores, estabelecimentos comerciais, empresas de assistência técnica e extensão<br />

rural e órgãos de inspeção e de vigilância sanitária. No entanto, é importante enfatizar que a<br />

implementação de muitas das políticas depende da realização de estudos mais pontuais que<br />

devem ser realizados por profissionais que atuem junto aos macrossegmentos estudados. Isso<br />

porque este trabalho, de maneira geral, permitiu uma visão macro dos principais aspectos,<br />

problemas e limitações que cercam a cadeia da carne bovina da região de Guarapuava.<br />

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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