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III. A educação intercultural

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<strong>III</strong> A EDUCAÇÃO INTERCULTURAL<br />

O culto da inovação, como vantagem competitiva e modo de estar no ecossistema<br />

planetário, sobreleva todo e qualquer sentido de conservação do passado.<br />

A destruição criativa, brilhantemente teorizada por Schumpeter, há<br />

quase um século, encontra hoje as condições ideais de afirmação, tanto na<br />

ordem empresarial como na da organização social 4 .<br />

Assiste-se, então, no Ocidente, a uma substancial alteração do quadro de<br />

valores. Como já escrevi 5 :<br />

«Na anterior sociedade, estável, simples e repetitiva, a memória dominava o<br />

projecto, os princípios transmitiam-se imutáveis, os modelos exemplares conservavam-se<br />

como arquétipos. Era o primado da estrutura sobre a génese.<br />

Na nova sociedade, instável, inventiva e inovadora, o projecto sobrepõe-se à<br />

memória, o futuro domina o passado, os modelos são constantemente<br />

postos em causa. É o primado da génese sobre a estrutura (...)<br />

A sociedade de indivíduos, feita de egos isolados e incapazes de construir<br />

nexo entre si, é uma sociedade-mosaico a 24 horas, desintegradora do espírito<br />

de comunidade e das bases do capital social.»<br />

Nestes termos, a fragmentação de valores não surge apenas como mero fenómeno<br />

conjuntural. O ascenso de uma nova ordem, diversa e multicultural,<br />

gerou uma doutrina adversa à afirmação das instâncias básicas de socialização,<br />

ou seja, das instituições de enquadramento axiológico: estamos defrontados<br />

com uma questão estrutural e estruturante da sociedade.<br />

No contexto do tema que nos importa desenvolver, é a verdadeira «implosão»<br />

da família, da escola, das Igrejas, do Estado, das comunidades de pares<br />

e de pertença, como «transmissores de valores, atitudes e comportamentos»,<br />

sem que, em contrapartida, a sociedade organizada proponha uma alternativa<br />

credível. Convém acrescentar que, em matéria de valores, o Estado educador<br />

deixa muito a desejar...<br />

Os sinais de preocupação são inequívocos.<br />

O discurso generalizado da cidadania é a prova de que, independentemente<br />

do quadrante ideológico, ou de fé, em que cada um se situe, o vazio espiritual<br />

não aproveita ao funcionamento estável da cidade.<br />

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