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continua. - Roteiro Brasília

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Ano X • nº 191<br />

Abril de 2011<br />

R$ 5,90


GDF


em poucas palavras<br />

Neste ano, o Peru comemora com muita festa o centenário<br />

do redescobrimento de Machu Picchu, ou MaPi,<br />

para os íntimos. Sim, redescobrimento, porque em 1911<br />

o historiador norte-americano Hiram Bingham localizou<br />

a cidade sagrada dos incas mergulhada em densa floresta<br />

que a protegeu dos saqueadores por quatro séculos. Leia<br />

a partir da página 22 o relato de Rafael Imolene sobre esse<br />

destino turístico, considerado o mais impressionante conjunto<br />

arquitetônico pré-colombiano da América do Sul.<br />

Mas é da Colômbia contemporânea que vem uma das<br />

grandes atrações internacionais que vão se apresentar em<br />

Brasília este mês. A exuberante Shakira terá a companhia<br />

do jamaicano Ziggy Marley e do DJ Fatboy Slim, entre<br />

outros, no Pop Music Festival, dia 17, no estacionamento<br />

do Mané Garrincha. Ainda em março teremos aqui a finlandesa<br />

Tarja Turunen, a francesinha Berry, o britânico<br />

Seal e, fechando o mês, a legendária banda de heavy metal<br />

Iron Maiden (páginas 18).<br />

O destaque da seção Luz Câmera Ação é a Semana<br />

da Francofonia, que este ano está apresentando 30 filmes<br />

de países de todos os continentes: os que têm o francês<br />

como língua oficial (ou mesmo segunda língua) e também<br />

produções de nações árabes e de países que adotam<br />

idiomas os mais diversos, como a República Tcheca,<br />

o Líbano e a Polônia (página 32).<br />

Vicente Sá e Rodrigo Oliveira foram ao Recanto das<br />

Emas visitar os jovens do Projeto Batucadeiros, um grupo<br />

de 210 meninos e meninas pra lá de alto astral que se<br />

reúne numa igreja presbiteriana para aprender a fazer<br />

percussão com o próprio corpo, a tocar violão e, mais<br />

do que isso, a se tornarem cidadãos (página 26).<br />

Quanto às novidades gastronômicas, elas estão em<br />

Água na Boca, a partir da página 4: a inauguração do<br />

Giappa, no Parkshopping, e a chegada, em outubro, no<br />

mesmo local, de quatro renomados restaurantes de São<br />

Paulo e do Rio. Uma saudável (e deliciosa) resposta à<br />

chegada dos restaurantes de grife que abriram as portas<br />

recentemente no Iguatemi Shopping. Nós, moradores<br />

da cidade, é que sairemos ganhando com a disputa.<br />

Boa leitura e até abril.<br />

Maria Teresa Fernandes<br />

Editora<br />

26 galeriadearte<br />

O autorretrato de Tarsila do Amaral é uma das 80 obras da<br />

mostra Mulheres, artistas e brasileiras, no Palácio do Planalto<br />

4<br />

10<br />

12<br />

14<br />

16<br />

20<br />

24<br />

28<br />

30<br />

31<br />

águanaboca<br />

picadinho<br />

garfadas&goles<br />

pão&vinho<br />

dia&noite<br />

graves&agudos<br />

queespetáculo<br />

entrevista<br />

verso&prosa<br />

luzcâmeraação<br />

Divulgação<br />

ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora <strong>Roteiro</strong> Ltda | SHS, Ed. Brasil 21, Bloco E, Sala 1208 – CEP 70322-915 – Tel: 3964.0207<br />

Fax: 3964.0207 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Redação roteirobrasilia@alo.com.br | Editora Maria Teresa Fernandes | Capa Carlos<br />

Roberto Ferreira, sobre foto de Rodrigo Oliveira| Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Reportagem Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre<br />

dos Santos Franco, Ana Cristina Vilela, Beth Almeida, Bruno Henrique Peres, Eduardo Oliveira, Guilherme Guedes, Heitor Menezes, Lúcia Leão, Luiz<br />

Recena, Quentin Geenen de Saint Maur, Reynaldo Domingos Ferreira, Sérgio Moriconi, Silio Boccanera, Súsan Faria e Vicente Sá | Fotografia Eduardo<br />

Oliveira, Rodrigo Oliveira e Sérgio Amaral | Para anunciar Ronaldo Cerqueira (8217.8474) | Assinaturas (3964.0207) | Impressão Gráfica Charbel<br />

| Tiragem 10.000 exemplares.<br />

www.roteirobrasilia.com.br<br />

3


água na boca<br />

Made in<br />

Brasília<br />

Pouco a pouco o Distrito Federal vai criando fama<br />

como produtor de excelentes cachaças artesanais<br />

Por Vicente Sá<br />

Fotos Rodrigo Oliveira<br />

Brasileira de nascimento, desde os<br />

tempos do Brasil Colônia a cachaça<br />

foi vista como uma bebida das<br />

classes mais pobres. Os portugueses preferiam<br />

o vinho, ou no máximo a bagaceira,<br />

oriunda da terrinha, ficando a pinga para<br />

os escravos e para os artesãos. Essa bebida<br />

que vem da cana-de-açúcar confunde<br />

sua história com a própria história do<br />

Brasil. Na Conjuração Mineira, foi eleita<br />

a bebida nacional pelos inconfidentes e,<br />

mesmo oculta nos livros de história, sente-se<br />

sua presença nos cantos das casas,<br />

nos botequins de beira de estrada, sempre<br />

do lado brasileiro mais humilde.<br />

Nas duas últimas décadas, porém, as<br />

cachaças artesanais, de tiragem pequena e<br />

alta qualidade, hoje conhecidas como<br />

“cachaças gourmet”, deixaram a humildade<br />

de lado e passaram a frequentar as mesas<br />

mais ilustres e até mesmo a representar<br />

o país no exterior, primeiro em coquetéis<br />

nas embaixadas e depois, com seus<br />

próprios nomes, nas lojas de bebidas<br />

mais chiques e nos restaurantes mais famosos<br />

do mundo. No Brasil seu crédito<br />

também está alto e na capital da República<br />

ela é consumida e produzida por vicepresidentes,<br />

ex-ministros, generais, altos<br />

funcionários do governo e bem sucedidos<br />

empresários. Existe até uma instituição<br />

que há 11 anos se dedica à sua apreciação<br />

e divulgação: a Confraria da Cachaça.<br />

4


Nascida tímida, com menos de vinte<br />

associados, num restaurante mineiro da<br />

Academia de Tênis, a Confraria cresceu<br />

em número e responsabilidades. Com<br />

poucos anos de vida passou a representar<br />

os consumidores, com direito a assento e<br />

voto na Câmara Brasileira da Cachaça,<br />

do Ministério da Agricultura, Pecuária e<br />

Abastecimento, e montou sucursais em<br />

Belo Horizonte, São Paulo e até na capital<br />

portuguesa, Lisboa.<br />

Os adeptos da Confraria encontramse<br />

sempre na última sexta-feira de cada<br />

mês em algum restaurante da cidade para<br />

almoçar e degustar um novo título, geralmente<br />

oferecido por algum produtor interessado<br />

em divulgar seu produto. Hoje,<br />

ela reúne tanto apreciadores quanto apreciadoras<br />

e também produtores, todos enxergando<br />

a “marvada” como uma excelente<br />

bebida, genuinamente brasileira,<br />

que deve ser respeitada como um símbolo<br />

nacional, tal qual o samba e o choro, e<br />

consumida de preferência gelada. “Ela fica<br />

mais cremosa, mais suave e permite<br />

que se aprecie melhor seu sabor”, explica<br />

Márcio Braga, jornalista e assessor de imprensa<br />

da Confraria.<br />

Numa apreciação em que não existem<br />

notas ou títulos, a Vereda de Minas, da<br />

região de São João da Vereda, município<br />

de Montes Claros, Minas Gerais, foi a cachaça<br />

degustada na reunião do mês de<br />

março num restaurante do Setor de Clubes<br />

Sul. A garrafa, colocada em baldes de<br />

gelo, tal qual um champanhe, era visitada<br />

respeitosamente pelos presentes. Entre<br />

os participantes estava o ex-ministro<br />

do Tribunal de Contas da União e exporta-voz<br />

da Presidência da República,<br />

Carlos Átila, produtor de uma das melhores<br />

cachaças gourmets da capital da<br />

República – a Cachaça do Ministro.<br />

“Eu sempre apreciei uma boa ‘branquinha’,<br />

mas antigamente era muito difícil<br />

conseguir uma cachaça de qualidade,<br />

de procedência segura. Os amigos que<br />

conheciam os bons fabricantes é que nos<br />

presenteavam. Mas comecei a produzir<br />

quase que por acaso. Um acidente na pequena<br />

fazenda que eu tinha obrigou-me<br />

a aproveitar a cana-de-açúcar para produzir,<br />

em parceria com meu vizinho, uma<br />

leva de aguardente que ficou muito gostosa.<br />

A experiência foi tão boa que me<br />

interessei por produzir mais e melhor e<br />

nunca mais parei”, relata Átila.<br />

Descobrindo que sua terra era propícia<br />

ao cultivo de cana de qualidade excelente<br />

para a produção da pinga, o ex-ministro<br />

aumentou seu plantio, entrou em<br />

contato com a Associação Mineira de<br />

Aguardente de Qualidade, onde se informou<br />

sobre os procedimentos corretos,<br />

montou um alambique e a partir de<br />

2001 passou a produzir sozinho e artesanalmente.<br />

Em pouco tempo a Cachaça<br />

do Ministro estava entre as mais procuradas<br />

e respeitadas do Distrito Federal.<br />

Hoje, numa fazenda próxima a Alexânia,<br />

em Goiás, onde encontrou terra similar,<br />

Átila mantém sua produção com três tipos<br />

de aguardente: Extra Premium, envelhecida<br />

por mais de três anos; Premium,<br />

com período de envelhecimento<br />

não inferior a 18 meses; e Ouro, envelhecida<br />

por um ano. Todas comercializadas<br />

ao preço médio de R$ 35.<br />

Outros títulos, como Alma Gêmea,<br />

Cambéba e Cachaça do Piloto, confirmam<br />

a fama de Brasília como capital da<br />

cachaça gourmet. É grande, na cidade, o<br />

número de lojas especializadas na comercialização<br />

de pingas de alta qualidade, as<br />

conhecidas cachaçarias. Também é notável<br />

o surgimento de novas marcas a cada<br />

ano. Na Confraria Chico Mineiro, da<br />

104 Norte, é encontrada a Fininha, que<br />

em pouco mais de três anos já conquistou<br />

crítica e público.<br />

Narcipe Ferreira Braga, funcionário<br />

do Banco Central, havia transformado em<br />

hobby a fabricação, num alambiquinho,<br />

de uma pinga que batizou de Fininha em<br />

homenagem aos goles da “fina” – uma<br />

das dezenas de apelidos da cachaça – que<br />

5


água na boca<br />

tomava na adolescência com os irmãos.<br />

Após se aposentar, resolveu transformar o<br />

hobby em profissão e montou um alambique<br />

maior, fez treinamento em Minas, ensinou<br />

os empregados e foi à luta. Já no primeiro<br />

ano, talvez graças à experiência no alambiquinho,<br />

obteve boa receptividade junto aos<br />

ex-colegas do Banco Central. Então, entregou<br />

algumas amostras ao amigo Geraldo<br />

Araújo, sócio da Confraria Chico Mineiro, e<br />

“o trem andou”.<br />

Hoje, sua produção é vendida também<br />

em caixas de 12 unidades, na Distribuidora<br />

Piauí, da 403 Sul, e vendida em doses em alguns<br />

restaurantes. Seu prazer maior é saber<br />

que a Fininha já é considerada uma cachaça<br />

gourmet pelos apreciadores. “Para quem gosta<br />

de beber e de produzir, é um verdadeiro<br />

presente ouvir um elogio desses numa cidade<br />

onde se tem tantas boas cachaças” afirma.<br />

Realmente, a cidade parece ter tanta vocação<br />

para produzir a “branquinha” que o<br />

advogado Elio Gregorio já criou uma marca,<br />

Sara Cura, para um blend de cachaças<br />

que ele produz em sua casa no Lago Norte.<br />

A bebida é oferecida aos amigos e conhecidos<br />

que frequentam as quatro feiras de artesanato<br />

montadas todos os anos por sua esposa,<br />

Renata De Sordi. Nos seus mais de<br />

50 tonéis, ele administra sua ciência compondo<br />

um blend que pretende comercializar<br />

até o ano que vem.<br />

Hoje, pelos cálculos da Confraria da Cachaça,<br />

cerca de 60 milhões de brasileiros<br />

apreciam a “danada” no Brasil. Mas a maior<br />

parte desses consumidores bebe a chamada<br />

aguardente – a cachaça produzida industrialmente.<br />

Já uma pequena mas esperta parcela<br />

da população, que teve a oportunidade de<br />

provar, prefere a cachaça gourmet.<br />

A atriz americana Anne Hathaway, após<br />

provar uma boa cachaça em sua recente visita<br />

ao Brasil, no início de março, declarou: “Adorei.<br />

E por algum motivo comecei a chamar todo<br />

mundo de meu melhor amigo”.<br />

Quem sabe esteja chegando a hora de a<br />

cachaça gourmet tomar o lugar do uísque como<br />

o cachorro engarrafado.<br />

Reunião da Confraria da Cachaça, que já tem filial até em Lisboa<br />

O ex-ministro Carlos Átila: de consumidor a produtor<br />

6


Alta gastronomia<br />

a preço de fast-food<br />

Por Beth Almeida<br />

Fotos Rodrigo Oliveira<br />

É<br />

assim que o empresário Guilherme<br />

Lavoratti define seu mais novo<br />

empreendimento em sociedade<br />

com Fabiano Bergamo e William Martins:<br />

o Mercado 153, localizado no Brasília<br />

Shopping. A marca é uma franquia<br />

recifense, já presente também em Aracaju<br />

e Belém, além de uma segunda casa<br />

prevista para a Capital Federal, no Taguatinga<br />

Shopping, a partir de junho.<br />

O cardápio tem traços da cozinha regional<br />

nordestina, mas não se restringe a<br />

essa culinária. Os frios, para serem degustados<br />

como entrada ou como petisco na<br />

hora da happy hour, contam com mortadelas<br />

(fruto de uma parceria com a Ceratti),<br />

carpaccio e presuntos crus. Há ainda oito<br />

variedades de sanduíches, tendo como carro-chefe<br />

o de mortadela, no melhor estilo<br />

do Mercado Municipal de São Paulo. Para<br />

almoço ou jantar, são cinco opções de saladas,<br />

oito de risotos e massas, nove de carnes<br />

e aves, nove de peixes e crustáceos e<br />

seis de “cambucadas”, porções de caldos,<br />

entre eles a mariscada e o de bacalhau. Todos<br />

pratos com preços em torno de R$ 30.<br />

O desafio de reproduzir o cardápio<br />

praticado na casa recifense, mas com ligeiras<br />

adaptações ao gosto do brasiliense, está<br />

a cargo da chef gaúcha Marilde Cavaletti,<br />

mas também com algumas intervenções<br />

dos proprietários. “Mudamos o sanduíche<br />

de mortadela com mussarela, por exemplo,<br />

que agora é feito na chapa, como no<br />

Mercado Municipal de São Paulo, e o pessoal<br />

do Recife acabou adotando a receita lá<br />

também”, conta Guilherme. A garantia do<br />

chope bem tirado da happy hour fica por<br />

conta da experiência adquirida pelos três<br />

sócios, desde 2007, na administração do<br />

quiosque da Brahma no Deck Norte, que<br />

em breve resultará num livro com “histórias<br />

de balcão” colhidas por eles.<br />

A decoração, assinada pelo arquiteto<br />

pernambucano Romero Duarte, reproduz<br />

o clima de empório, com piso revestido<br />

em ladrilho hidráulico e sacos de estopa<br />

nas paredes. O mimo fica por conta das<br />

mesas, todas com tampos de azulejos pin-<br />

7


água na boca<br />

Devassa<br />

em<br />

tados à mão pelo artista Ferreira, também<br />

pernambucano, cada uma com um motivo<br />

diferente. A entrada é independente,<br />

voltada para shopping ID, o que permite<br />

o prolongamento do horário de funcionamento<br />

da casa.<br />

O Armazém 153 é apenas um dos seis<br />

novos restaurantes que se instalaram no<br />

Brasília Shopping a partir de agosto do<br />

ano passado. Chegaram também o Coco<br />

Bambu, a Zacks, a Kopenhagen Gourmet<br />

Station, a Jin Jin Wok e a Salad Creations,<br />

formando um mix de aromas e sabores<br />

que atende à grande demanda de<br />

profissionais liberais e funcionários de<br />

empresas localizadas na região.<br />

A Coco Bambu é uma marca cearense,<br />

também com cardápio super diversificado.<br />

No almoço, o serviço é de bufê, com pratos<br />

à base de frutos do mar e uma ilha de<br />

massas e molhos diversos, assados, saladas<br />

e frios. No jantar, o serviço é à la carte,<br />

com direito a lanchinhos regionais como<br />

tapiocas, além de pizzas e pastéis com sabores<br />

característicos da culinária nordestina,<br />

a exemplo dos recheios de caranguejo<br />

e de carne de sol, entre as 74 opções.<br />

Na Kopenhagen Gourmet Station a<br />

pedida são os quiches, wraps e saladas,<br />

enquanto a hamburgueria carioca Zacks<br />

segue o conceito casual dining, com hambúrgueres<br />

gourmet. A Salad Creations é<br />

uma franquia norte-americana que combina<br />

alimentação nutritiva e saborosa (saladas,<br />

wraps e sopas) e a Jin Jin Wok é especializada<br />

em culinária asiática.<br />

Mercado 153<br />

Brasília Shopping (3047.8680)<br />

Por Eduardo Oliveira<br />

Um time de devassas louras, negras,<br />

ruivas, índias e sararás acaba<br />

de chegar a Brasília com o<br />

objetivo de seduzir os boêmios (e boêmias)<br />

da cidade. Antes que haja algum<br />

mal-entendido, melhor explicar direito: a<br />

Cervejaria Devassa, uma das favoritas<br />

dos cariocas, acaba de abrir suas portas<br />

na capital federal. E como todo boêmio<br />

adora uma dose dupla, serão logo duas filiais<br />

de uma vez. No dia 23 de março foi<br />

inaugurada a primeira, na 409 Sul, e no<br />

próximo dia 13 será a vez do Pontão do<br />

Lago Sul receber um pedaço do Rio de<br />

Janeiro.<br />

Se as cervejas louras, morenas e ruivas<br />

da Devassa, encontradas em bares e supermercados,<br />

já são bem conhecidas –<br />

graças, em parte, à inusitada garota-propaganda<br />

Sandy –, agora é a vez de o brasiliense<br />

saborear os chopes que fizeram a<br />

fama da casa no Rio de Janeiro e outros<br />

cinco Estados. São cinco versões: Sarará,<br />

leve e refrescante, à base de malte de trigo<br />

(R$ 8,90); Ruiva, mistura de maltes especiais<br />

e lúpulos importados e de coloração<br />

avermelhada ((R$ 5,90); Loura, pilsen clara<br />

com sabor levemente amargo e refrescante<br />

((R$ 4,90); Negra, extremamente<br />

cremosa e com sabor e aroma de malte<br />

torrado (R$ 5,90); e Índia, com teor alcoólico<br />

de 6% (R$ 5,90).<br />

Quem prefere outros drinks também<br />

tem boas opções, desde os tradicionais,<br />

como a caipirinha, a piña colada, o moji-<br />

8


Fotos: Divulgação<br />

dobro<br />

to e o bloody mary, até alguns exclusivos<br />

da casa. Entre eles, destacam-se o Menina<br />

Veneno, uma espécie de mousse de limão<br />

alcoólico, o Hula-Hula, que leva rum, coco,<br />

banana e frutas tropicais, e o Kátia<br />

Flávia, mistura de chope Loura, uísque,<br />

suco de tangerina, hortelã e gengibre.<br />

Para acompanhar à altura e amenizar a<br />

ressaca, o cardápio de petiscos é caprichado,<br />

além de os nomes serem uma atração<br />

à parte. A Carnuda (R$ 41,90) é uma fumegante<br />

frigideira de filé ao molho roti<br />

com cubos de cebola, salsa, queijo derretido<br />

e aipim crocante. Meu chapa camarão<br />

(R$ 39,90), como o nome já entrega, são<br />

camarões servidos na chapa com folhas de<br />

manjericão fresco e alho laminado. E a calabresa<br />

aparece Afogada na cachaça (R$<br />

24,90), flambada em aguardente com cebolas<br />

salteadas.<br />

A decoração das duas Devassas foi feita<br />

sob medida para o cliente se sentir no<br />

Rio de Janeiro. A da 409 Sul tem a decoração<br />

trabalhada em madeira e tijolos de<br />

demolição, com piso de cimento queimado,<br />

madeira e ladrilho hidráulico, remetendo<br />

ao calçadão de Copacabana. “A intenção<br />

é criar um ambiente gostoso para<br />

atender a um público bem heterogêneo”,<br />

explica Bruno von Sperling, responsável<br />

pela filial asa sulista. A do Pontão do Lago<br />

Sul, que será a maior loja da marca, terá<br />

dois andares e três ambientes, além de<br />

um grande diferencial: a vista do Lago Paranoá,<br />

que não é o mar de Ipanema mas,<br />

para quem está a mais de mil quilômetros<br />

da praia, já quebra bem o galho.<br />

Cervejaria Devassa<br />

409 Sul – Bloco C (3442-1169). De 3ª a domingo, a partir das 17h.<br />

SHIS QL 10 – Pontão do Lago Sul. De 2ª a 5ª, das 12 às 24h;<br />

6ª e sábado, das 12 às 2h; domingo, das 12 à 1h.<br />

A Porteña (picanha<br />

fatiada na chapa,<br />

servida com batata<br />

farofa de bacon e<br />

molho à campanha)<br />

está presente no<br />

cardápio das duas<br />

Devassas: a da 409 Sul<br />

(mais acima) e a do<br />

Pontão do Lago Sul.<br />

9


picadinho<br />

10<br />

Novos pratos no Gero<br />

O chef Salvatore Loi criou seis novos pratos<br />

para o cardápio do restaurante Gero, do<br />

shopping Iguatemi. Entre eles, duas massas:<br />

ravioli de brie com rúcula e parmesão<br />

(R$ 56) e spaghetti com ragu de cordeiro<br />

e cogumelos frescos (R$ 53). A seção de<br />

peixes e frutos do mar ganhou o reforço<br />

do robalo com aspargos e molho de tomate<br />

san marzano (R$ 76), do camarão com<br />

molho de tomate cereja, azeitonas e<br />

alcaparras (R$ 91) e do filé de linguado<br />

dourado com molho de salsinha (R$ 62).<br />

Para completar, mais uma ave: peito de<br />

galinha d’Angola com molho de cogumelos<br />

frescos (R$ 65). O chef também bolou duas<br />

sobremesas: a torta de maçã dourada com<br />

sorvete de baunilha (R$ 22) e a torta de<br />

chocolate diet (R$ 22).<br />

Para bom bebedor...<br />

... um bom desconto basta. O Giappa, do<br />

Parkshopping, que combina a culinária<br />

japonesa com a italiana, está com várias<br />

promoções de bebidas. Uma delas é o<br />

Combo Sakeria. Ao comprar uma garrafa<br />

do sakê nacional Jun Daiti (R$ 60) o cliente<br />

pode mandar preparar todo o conteúdo<br />

de caipisakês, escolhendo as frutas de sua<br />

preferência. Para quem não quiser abrir<br />

mão das bebidas ocidentais, uma opção é<br />

o Clube do Chope. O associado paga R$ 99<br />

por 30 chopes – uma economia de R$ 66.<br />

Às sextas e segundas-feiras, das 17h30 às<br />

20h, tem a happy hour com rodadas duplas<br />

da bebida. Os amantes do whisky também<br />

têm o seu clube, com a garrafa de Johnnie<br />

Walker a R$ 130, o que barateia o preço da<br />

dose em quase 50%.<br />

Festival de comida peruana<br />

A cada semana, um prato elaborado com<br />

carnes exóticas – coelho, avestruz, pato,<br />

javali. É essa a receita do Mês de Pratos<br />

Exóticos Novoandinos Colecionáveis, festival<br />

gastronômico promovido pelo premiado<br />

Taypá (QI 17 do Lago Sul) em parceria com<br />

a Embaixada do Peru. Começou no dia<br />

1º com o adobo de conejo (veja receita<br />

na página 13) e prossegue com o pato<br />

a la norteña (de 11 a 17/04), o avestruz<br />

ahumada (de 18 a 24/4) e o jabalí confitado<br />

(de 25/4 a 1/5), todos ao preço de R$ 67.<br />

Feliz aniversário<br />

A Baco está oferecendo aos aniversariantes<br />

um pretexto para comemorar a data em um<br />

dos seus endereços – 309 Norte ou 408 Sul.<br />

Basta levar pelo menos três amigos para<br />

participar da farra e seu rodízio de pizzas<br />

fica por conta da casa. Mas o aniversário<br />

tem que cair numa segunda, terça ou<br />

quarta, dias em que a promoção é válida.<br />

Bela safra<br />

Graças às boas condições climáticas nos<br />

vinhedos do projeto Lovara Vinhas e Vinhos,<br />

do grupo Miolo, a empresa prevê uma das<br />

melhores safras de sua história. A estimativa<br />

é atingir a produção de 120 mil quilos de<br />

uvas e elaborar cerca de 100 mil litros de<br />

vinhos. O projeto produz os vinhos Lovara<br />

Chardonnay, Merlot e Cabernet Sauvignon,<br />

além do superpremium Gran Lovara.<br />

Nova sobremesa<br />

O nordestino Severina (201 Sul) acaba de<br />

incluir uma nova sobremesa no cardápio:<br />

a “delícia de abacaxi”, uma mescla de doce<br />

de abacaxi, creme de leite condensado e<br />

suspiro fresco, a R$ 10,90.<br />

Terça em dobro<br />

Terça-feira costuma ser um ótimo dia para<br />

ficar em casa e curtir uma pizza. Nesse dia,<br />

o delivery da Pizza Cesar oferece, para cada<br />

pizza grande pedida, outra grátis de mesmo<br />

valor. Consulte o telefone da unidade mais<br />

próxima no www.pizzacesar.com.br.<br />

Prato feito japonês<br />

Nem só de sushi e sashimi vive a culinária<br />

japonesa. Conhecido como o “prato feito”<br />

japonês, o teishoku é uma refeição completa<br />

para quem quer algo diferente. O prato<br />

principal pode ser peixe grelhado, sashimis<br />

variados e tempura misto; entre os<br />

acompanhamentos, missoshiru, arroz<br />

branco, picles japonês, tofu, salada de atum<br />

e croquetes. O Nippon, da 403 Sul, oferece<br />

quatro variedades do prato: yakizakana<br />

teishoku (anchova, R$ 32,90), sashimi<br />

Teishoku (nove peças de sashimi variados,<br />

R$ 38,90), tempura teishoku (R$ 31,90)<br />

e teishoku Nippon (as três opções juntas<br />

para duas pessoas, a R$74,90).<br />

Divulgação


Luiz Recena<br />

garfadas&goles@alo.com.br<br />

E Momo<br />

despediu-se<br />

até da Bahia<br />

“Acabou nosso Carnaval<br />

Ninguém ouve cantar canções<br />

Ninguém passa mais brincando feliz<br />

E nos corações<br />

Saudades e cinzas foi o que restou<br />

Pelas ruas o que se vê<br />

É uma gente que nem se vê<br />

Que nem se sorri<br />

Se beija e se abraça<br />

E sai caminhando<br />

Dançando e cantando cantigas de amor<br />

E no entanto é preciso cantar<br />

Mais que nunca é preciso cantar<br />

É preciso cantar e alegrar a cidade<br />

A tristeza que a gente tem<br />

Qualquer dia vai se acabar<br />

Todos vão sorrir<br />

Voltou a esperança<br />

É o povo que dança<br />

Contente da vida, feliz a cantar<br />

Porque são tantas coisas azuis<br />

E há tão grandes promessas de luz<br />

Tanto amor para amar de que a gente nem sabe<br />

Quem me dera viver pra ver<br />

E brincar outros carnavais<br />

Com a beleza dos velhos carnavais<br />

Que marchas tão lindas<br />

E o povo cantando seu canto de paz<br />

Seu canto de paz”<br />

GARFADAS & GOLES<br />

P.S. no começo<br />

A lembrança do poeta Vinícius de Moraes em Itapuã e na Bahia é<br />

recorrente para a geração deste colunista. Vizinho da estátua dele e do<br />

espaço de habitação, vivência, paixão e inspiração do grande e querido<br />

“poetinha”, pedi uma vez mais a benção de seu espírito para, além de<br />

abrir a coluna com uma de suas famosas poesias/canções, delirar calma<br />

e baianamente nessas primeiras linhas pós-carnavalescas.<br />

Saudade é dor pungente<br />

Preguiçosamente o colunista deu-se conta, ontem, ou anteontem (meu<br />

editor: tem hífen ou tinha?), que o Carnaval acabou até na Bahia.<br />

Salvador é uma ilha de silêncio. O Superman foge com a Mulher<br />

Maravilha na quarta de cinzas e o Tchubirábiru tira as mãos da cintura<br />

e não parangoleia mais. As cinzas trazem o silêncio do fósforo queimado.<br />

Do carvão apagado no fim do churrasco. Da nostalgia da festança<br />

terminada, da saudade dos carnavais passados.<br />

É possível comer<br />

E no entanto é possível comer. O poetinha vai puxar as orelhas do colunista<br />

pelo mau gosto no trocadilho do título. E com razão, diga-se. Porém,<br />

“ai porém”, a Bahia é um caldeirão onde tudo acontece. E acontece que<br />

meu prato não ficou vazio.<br />

Vieiras em Stella<br />

Elas, as vieiras, apresentavam-se, antes, em Itapuã, mais precisamente na<br />

Pedra do Sal, um pedaço de praia entre o Farol do poetinha e a nova praia<br />

de Stella Mares. Acompanhadas de um italiano que responde pelo nome<br />

de “taglietelle”, eram servidas em um bom prato na Barraca do Frances.<br />

O massacre das barracas, permitido pelo prefeito João “Bíblia” Henrique<br />

e executado por uma justiça federal mais cega do que a encomenda, tirounos<br />

o prazer por uns tempos. Mas a resistência (no pasarán!) <strong>continua</strong>.<br />

E, com as vieiras, os camarões<br />

As vieiras voltaram com o italiano delas. Mas não estão sozinhas. Há baianos<br />

para protegê-las. E o risoto de camarão com palmito fez a alegria de<br />

goianinhas brasilienses na noite chuvosa de um sábado. Rosilda e Christophe,<br />

a dupla dinâmica que comandava a barraca da praia da Pedra do<br />

Sal, recuou sua artilharia para a Avenida Capitão Melo, no começo<br />

da praia de Stellla Mares. Lá tem muito mais comidinhas deliciosas.<br />

E um chope Heinneken, o único da redondeza. Vale uma visita.<br />

12


Fotos: Rodrigo Oliveira<br />

Adobo de Conejo (com torta de milho)<br />

Receita do chef Marco Espinoza, do restaurante Taypá (para duas pessoas)<br />

Ingredientes<br />

Do prato principal<br />

• 1 coelho de aproximadamente 1 kg<br />

• 100 g de cebola<br />

• 100 g de tomate<br />

• 100 g de aipo<br />

• 3 dentes de alho<br />

• 400 ml de creme de leite<br />

• 100 ml de vinho branco<br />

• 50 grs de pimenta panca (pasta)<br />

• 50 grs de pimenta amarela (pasta)<br />

• Óleo de oliva<br />

• Sal, pimenta e cominho a gosto<br />

Da torta de milho<br />

• 1 kg de milho<br />

• 400 ml de leite<br />

• 50 g de uva passa<br />

• 50 g de cebola picada em cubos pequenos<br />

• 100 g de manteiga<br />

• 150 g de açúcar<br />

• 100 g de cebola vermelha picada em fatias finas<br />

• Sal e pimenta a gosto<br />

Modo de preparo<br />

Do prato principal<br />

Desossar e reservar os ossos do coelho, deixando<br />

as coxas traseiras inteiras e o restante cortado<br />

em cubos. Temperar com sal e pimenta a gosto.<br />

Reservar. Colocar azeite na panela e dourar os<br />

ossos do coelho junto com a cebola, o aipo, o<br />

tomate e o alho, todos cortados em pequenos<br />

cubinhos, além de sal e pimenta do reino a gosto. Adicionar o vinho junto com o creme de<br />

leite e cozinhar as pimentas por 20 minutos. Peneirar e reservar o molho. Fritar em óleo de<br />

oliva os cubos de coelho junto com as coxas traseiras, adicionar o molho da preparação<br />

anterior e cozinhar por 1 hora. Se o líquido evaporar muito, adicionar caldo de frango.<br />

Da torta de milho<br />

Liquefazer o milho com o leite, numa panela dourar a cebola<br />

em cubos pequenos com a manteiga, adicionar o milho<br />

liquefeito e cozinhar por 5 minutos mexendo constantemente,<br />

adicionando açúcar, sal e pimenta do reino a gosto. Deixar<br />

esfriar e adicionar os ovos com as uvas passas picadas.<br />

Rechear num molde retangular pequeno a metade da<br />

preparação do milho e rechear com o adobo de coelho sem<br />

adicionar as coxas traseiras. Fritar a cebola e os shitakes,<br />

adicionando-os também ao recheio. Adicionar 30<br />

gramas de queijo ralado e cobrir com a outra<br />

metade da preparação do milho. Levar ao<br />

forno por 40 minutos e, em seguida, deixar<br />

repousar (fora do forno). Simultaneamente,<br />

preparar um chutney de uva passa e<br />

pimentas. Cozinhar a uva passa, o gengibre<br />

e as pimentas junto com o açúcar, vinagre,<br />

sal e pimenta do reino por 30 minutos. Logo<br />

adicionar o cominho, o sal, as pimentas e<br />

as ervas. Deixar esfriar, até que fique com<br />

a consistência de uma marmelada.<br />

Montagem do prato<br />

Cortar uma porção da torta de milho e colocar no<br />

centro do prato; sobre a torta, montar a coxa do<br />

coelho com o molho restante; colocar o chutney<br />

de uva passa ao lado e decorar com alguma erva.<br />

13


PÃO & VINHO<br />

ALEXANDRE FRANCO<br />

pao&vinho@alo.com.br<br />

Vinhos em “quadrinhos”<br />

Só no Japão poderíamos imaginar a criação de um herói<br />

de quadrinhos, mangá por aquelas bandas, cujo propósito<br />

é essencialmente descobrir bons vinhos.<br />

O Japão é, já há muitos anos, um dos maiores<br />

consumidores de vinhos de alta qualidade. A riqueza e a<br />

boa distribuição de renda que por lá grassam, somadas à<br />

existência de muitas fortunas, de pequenas a gigantescas,<br />

criam o ambiente ideal para o consumo de vinhos de alta<br />

gama e de vinhos excepcionais.<br />

Até por não serem, nem nunca terem sido, produtores<br />

de vinhos, não há tradição nesse consumo, como existe<br />

em países produtores como a França, a Itália, a Espanha<br />

ou Portugal. Mas há, como nos países mais jovens,<br />

a predisposição para o consumo de qualidade.<br />

Nesse contexto, mais do que certo é o fortalecimento<br />

dos chamados "mega-validadores" – publicações como<br />

The Wine Advocate, do todo poderoso Robert Parker,<br />

o “imperador do vinho”, Wine Expectator, Wine Spirits,<br />

Wine Enthusiast e tantas outras que ganharam fama<br />

e confiabilidade mundiais na indicação e validação da<br />

qualidade dos vinhos produzidos por todos os cantos.<br />

Assim, é de se esperar que os bem pontuados por Parker<br />

e seus iguais tomem conta cada vez mais da importação<br />

de vinhos daquele país, como de fato acontece. O que,<br />

devemos observar, não é, de qualquer forma, um privilégio<br />

nipônico, pois no mundo inteiro os enófilos se baseiam<br />

nesses mega-validadores para orientar suas compras.<br />

O que pode parecer uma surpresa, mas nem tanto, é o<br />

surgimento de um novo mega-validador de origem japonesa<br />

e, o que é mais surpreendente, em forma de um herói de<br />

quadrinhos. Afinal, para um país que tem por tradição<br />

econômica o expediente de tomar para si as boas ideias de<br />

resultados comprovados de todo o mundo, melhorando-as<br />

com tecnologia, aplicabilidade e baixos custos, para depois<br />

competir diretamente com os exemplares originais, muitas<br />

vezes vencendo-os fragorosamente, é quase natural o<br />

ocorrido.<br />

Desde 2004 surgiu no Japão uma publicação, em forma<br />

de mangá, com o título Les Gouttes de Dieu (As Gotas de<br />

Deus), que narra a saga de Kanzaki Shizuku, um jovem e<br />

inexperiente apreciador de vinhos em busca dos melhores<br />

rótulos do mundo.<br />

O mangá fez tanto sucesso que já extrapolou as<br />

fronteiras da terra do Sol Nascente e ganhou versões em<br />

inglês e francês. O papel de mega-validador adquirido<br />

pela publicação já é inquestionável na Ásia, onde a mera<br />

apresentação de determinados rótulos leva seus preços<br />

às alturas e seus estoques ao fim.<br />

E essa realidade vem, cada vez mais, invadindo o resto<br />

do mundo, em especial para os rótulos que são apontados<br />

como "as gotas de Deus”, o que equivale ao título de<br />

"o melhor do mundo" pelo gibi.<br />

O exemplo maior, até o momento, foi o do Château Le<br />

Puy, um Bordeaux da pequena comuna de Côtes de Francs,<br />

produzido pelo vinicultor Jean-Pierre Amoreau, considerado<br />

por Michel Rolland, outro mega-validador e o maior dos<br />

flying winemakers*, como “o papa dos vinhos naturais”.<br />

O Le Puy, que já chegou a alcançar no Japão o preço<br />

de 1.000 euros a garrafa, é considerado "especial",<br />

principalmente por uma personalidade tão distinta que<br />

o afasta dos tradicionais Bordeaux e o aproxima dos<br />

Borgonhas, pela sua delicadeza.<br />

Como não poderia deixar de averiguar tais afirmações,<br />

já providenciei a aquisição de uma garrafa do Le Puy 2004 e<br />

tão logo o tenha degustado farei questão de me valer deste<br />

espaço para relatar o que de "herói de quadrinhos" e o que<br />

de "real" existe nesse novo ícone.<br />

*Expressão usada no mundo dos vinhos para designar os enólogos que<br />

prestam serviços de consultoria a várias vinícolas sem estabelecer ligações<br />

sólidas com nenhuma delas, como é o caso do francês Michel Rolland.<br />

14


chaRBEL<br />

15


DIA E NOITE<br />

oscantosdezizi<br />

Já se passaram 33 anos desde que Maria Izildinha Possi, a cantora Zizi Possi, gravou seu primeiro disco.<br />

Chamava-se Flor do mal e teve como grande sucesso a música Pedaço de mim, de Chico Buarque.<br />

Muitos discos e sucessos depois, em 2008 Zizi fez 12 shows para comemorar três décadas de sua<br />

carreira. Dessa série foram selecionadas as 36 músicas que compõem o DVD Cantos &Contos,<br />

volumes 1 e 2, que a cantora vem lançar em Brasília dia 20. Os momentos mais marcantes de<br />

seus 30 anos de carreira serão relembrados nas canções Asa morena e A paz. No repertório do<br />

show, algumas inéditas em sua voz, como Amor da minha vida e Sentado à beira do caminho,<br />

além dos clássicos Sei lá mangueira, As rosas não falam, Porta estandarte e Tico-tico no fubá.<br />

O show Cantos & Contos tem direção do irmão de Zizi, José Possi Neto. Na Sala Villa-Lobos<br />

do Teatro Nacional, às 21h, com ingressos a R$ 180 e R$ 90. Bilheteria: 3325.6239.<br />

Ronaldo Aguiar<br />

Divulgação<br />

popularizandoasinfônica<br />

Joaquim França convidou e Guilherme Arantes aceitou se apresentar com a<br />

Orquestra Filarmônica de Brasília, dia 13, às 21h, na Sala Villa-Lobos do Teatro<br />

Nacional. O maestro caprichou nos arranjos elaborados especialmente para<br />

mostrar ao público de Brasília os grandes sucessos do cantor e compositor,<br />

entre eles Planeta água, Brincar de viver, Êxtase, Deixa chover, Coisas do Brasil<br />

e Meu mundo e nada mais. Os 50 integrantes da orquestra acompanharão<br />

Guilherme Arantes no programa de 17 músicas de seu repertório. A proposta do<br />

projeto Popularizando a sinfônica é desmitificar o conceito de “sala de concerto”.<br />

Neste ano já homenageou até o Galinho de Brasília. Ingressos a R$ 30 e R$ 15.<br />

saudadedosanos80<br />

Vem aí a 16ª edição da festa A volta aos anos 80, que todo ano agita o salão<br />

social da AABB com o revival da década marcada por ídolos como Michael<br />

Jackson, Legião Urbana, Blitz, New Order e muitos mais. “Os anos 80<br />

<strong>continua</strong>m atuais; mesmo aquelas pessoas que não vivenciaram a época<br />

gostam das letras e do ritmo das músicas que se tornaram uma herança”,<br />

explica Paulinho Madrugada produtor da festa. Será dia 16, a partir das 21h,<br />

com ingressos a partir de R$ 60. A novidade deste ano é o camarote open<br />

food do chef Dudu Camargo, com bufê de antepastos, pratos frios e minipratos<br />

quentes, a R$ 180 por pessoa. Informações em www.festa80.com.br<br />

Divulgação<br />

16<br />

Sylvio Coutinho<br />

homenagemavilla-lobos<br />

O pianista Wagner Tiso e o violoncelista Márcio Malard se apresentam dias<br />

6, 7 e 8 no Clube do Choro, a partir das 21h. O show Duo de piano e<br />

violoncelo em homenagem aos 50 anos de morte do Villa- Lobos terá no<br />

repertório o clássico O Trenzinho do Caipira, além dos choros e modinhas<br />

daquele compositor. A primeira incursão de Tiso pela música de Villa-<br />

Lobos foi na antológica adaptação de Caicó para o disco Sentinela, de<br />

Milton Nascimento, em 1980. Em 1988 Wagner mergulhou fundo na<br />

música de Villa-Lobos para as comemorações do centenário de nascimento<br />

do compositor das Bachianas Brasileiras. Serão apresentados também<br />

sucessos de Tom Jobim (Garota de Ipanema e o Samba de uma Nota Só),<br />

Chico Buarque, Gilberto Gil, Dorival Caymmi e Milton Nascimento.<br />

Ingressos: R$20 e R$10. Informações: 3224.0599.


piscina(semágua)<br />

Quando esteve em Londres, a professora de artes cênicas da UnB Felícia<br />

Johansson assistiu à peça do inglês Mark Ravenhill, um diretor que gosta de<br />

mostrar nos palcos uma geração movida a ecstasy, cartões de crédito, house<br />

music e sexo promíscuo. Ela partiu então para a tradução e montagem da<br />

versão brasileira de Piscina (sem água), que acabou vencendo o 14º Cultura<br />

Inglesa Festival de Teatro de São Paulo. Após temporada paulista, o espetáculo<br />

estreia em Brasília para curta temporada. A peça conta a história de uma<br />

mulher que se acidenta, entra em coma, e seus amigos resolvem transformar<br />

sua triste condição de artista plástica acidentada em arte. Dias 25, 26 e 27, às<br />

20 horas, na Caixa Cultural. Ingressos a R$ 20 e R$ 10. Bilheteria: 3206.6456.<br />

João Caldas<br />

Dalton Valério<br />

encantadoras<br />

Primeiro foi a cantora carioca Tereza Cristina, depois a pernambucana Lulina,<br />

e agora, em abril, será a vez do espetáculo Savana glacial ocupar o palco do<br />

Teatro Oi Brasília para participar do Encantadoras, um projeto idealizado para<br />

reunir mulheres que surpreendem com sua arte, tanto faz se em nível regional<br />

ou nacionalmente. Dias 8 e 9 a peça vai revelar “as arestas de amores partidos,<br />

perdidos no tempo e na memória, em uma trama urdida entre a realidade e a<br />

ficção”. Numa espécie de metateatro, a montagem explora o conceito da obra<br />

dentro de uma obra. Com direção de Renato Carrera, o espetáculo tem texto<br />

de Jô Bilac e, no elenco, Andreza Bittencourt, Camila Gama, Diogo Cardoso<br />

e Renato Livera. Ingressos: R$ 25. Bilheteria: 3424.7169.<br />

osegredoparaosucesso<br />

Em tempos em que se exige alta performance profissional, quem não quer saber os caminhos<br />

para se atingir o sucesso no trabalho? Pois foi esse mote que a Cia. de Comédia Setebelos adotou<br />

para fazer rir quem for assistir à peça O segredo para o sucesso, na Sala Martins Pena do Teatro<br />

Nacional. Na nova temporada a companhia apresenta um inusitado manual de sobrevivência no<br />

trabalho e sete novos segredos que levarão ao destaque profissional. Uma gozação aos tradicionais<br />

métodos de autoajuda e suas dicas nada infalíveis. Dias 9, 10, 16 e 17 de abril. Sábados,<br />

às 21h, e domingos, às 20h. Ingressos a R$ 50 e R$ 25. Informações: 3325. 6256.<br />

Karina Santiago<br />

Ivan Lacombe<br />

avizinhadeantônio<br />

À beira da morte, um ex-vocalista de banda de rock quer<br />

se reconciliar com Nica, seu único e grande amor. Ela, no<br />

entanto, se recusa a atender a vontade de Antônio. Enquanto<br />

reage ao jogo de sedução, Nica vai destilando seu ódio por<br />

aquele que um dia a humilhou diante de toda a cidade. Baseada<br />

no texto do dramaturgo Antônio Roberto Gerin, a Companhia<br />

de Teatro Assisto Porque Gosto apresenta a peça A vizinha de<br />

Antônio, de 7 de abril a 22 de maio. Sob direção de William<br />

Ferreira, o espetáculo tem no elenco Narciza Leão (foto),<br />

Solange Cianni e Odila Athayde. Teatro SESC Sílvio<br />

Barbato, (SCS, Quadra 02, Edifício Presidente Dutra).<br />

Quinta, sexta e sábado, às 20h,<br />

e domingo, às 19h. Ingressos: R$ 30<br />

e R$ 15. Informações e reservas: 9999 3330.<br />

teatroparajovens<br />

Está aí ótima oportunidade para<br />

quem tem filhos com dotes artísticos<br />

e quer dar um empurrãozinho<br />

na sua vocação. O Teatro do<br />

Concreto abriu inscrições para a<br />

Oficina de Iniciação Teatral, que<br />

começa dia 11 e vai até dezembro<br />

deste ano. Podem participar jovens<br />

entre 12 e 22 anos. As mensalidades<br />

custam R$90 e, no final, os integrantes<br />

do curso participarão de<br />

uma peça onde poderão mostrar<br />

seu talento no palco. Informações e<br />

inscrições: 3323.4079 e 8407.2539.<br />

17


DIA E NOITE<br />

Divulgação<br />

mineiridadenaarte<br />

Esculturas, quadros e objetos assinados por quatro consagrados artistas plásticos<br />

mineiros podem ser vistos até dia 18 na Referência Galeria de Arte, do Casapark.<br />

Amílcar de Castro, Manfredo de Souzanetto (foto), Marcos Coelho Benjamim e<br />

Rodrigo de Castro são de gerações distintas, mas têm em comum muito mais do<br />

que a própria origem. Eles expressam suas Minas Gerais em formas geométricas e<br />

diversos materiais. Do ferro das esculturas de Amílcar de Castro à juta utilizada<br />

por Manfredo de Souzanetto como a base de seus quadros; dos surpreendentes<br />

objetos construídos por Benjamin com resíduos industriais à pintura rigorosa de<br />

Rodrigo de Castro. A exposição 2xMinasx2 pode ser vista de segunda a sábado,<br />

das 10 às 20h, e domingos, das 14 às 20h. Entrada franca.<br />

Divulgação<br />

Nelson Kon<br />

fotografiaemrevista<br />

Vai até dia 24 a exposição organizada pela FAAP que apresenta, no Museu<br />

da República, 500 imagens de personagens e fatos marcantes ocorridos no<br />

Brasil desde 1954. Participam 162 fotógrafos renomados, entre eles Bob<br />

Wolfenson, Cristiano Mascaro, Orlando Brito, Pedro Martinelli, Claudia<br />

Andujar, J.R.Duran, Maureen Bisilliat e David Zingg. Há um núcleo especial<br />

que homenageia a beleza arquitetônica de Brasília, com imagens como<br />

a que ilustra esta nota, de autoria de Nelson Kon. Fotografia em revista<br />

pode ser vista de terça a domingo, das 9 às 18h30. Entrada franca.<br />

ciclos<br />

As fotografias de Gabriela Sales da Rocha mostram uma versão ousada de Santa<br />

Catarina de Alexandria, venerada por sua inteligência e beleza, e agora representada<br />

pela artista por imagens e fundos que se completam. Alice Maria Duarte e<br />

Nuara Vicentini apresentam seu Tricotando, série de nove fotos inspiradas na<br />

floração dos ipês amarelos e das paineiras do cerrado. Wanderson França e<br />

Lucas Marques Sampaio mostram registros fotográficos e animação desenhada<br />

à mão. Os trabalhos desses cinco artistas podem ser vistos na Galeria<br />

Espaço Piloto, da Unb, até o dia 16. Em comum, a ideia de continuidade:<br />

“registros evidentes de que, inconscientemente, sempre haverá um retorno ao<br />

mesmo ponto inicial de cada ação que se pratica”. Informações: 3107.1270.<br />

Alice Maria Duarte e Nuara Vicentini<br />

18<br />

Via Sacra de Planaltina<br />

900 atores e 300 técnicos estão envolvidos na encenação da Paixão de Cristo, que há 38 anos comove as<br />

milhares de pessoas que sobem o Morro da Capelinha para acompanhar as quinze estações vividas por<br />

Jesus Cristo, desde sua condenação à morte até a ressureição. Considerado Patrimônio Cultural Imaterial<br />

do DF, o espetáculo começa no sábado, dia 16, com o XII Santo Louvor, se estende ao Domingo de<br />

Ramos e prossegue dias 21 e 22, com a Santa Ceia e a Sexta-Feira da Paixão. Programação completa em<br />

www.viasacraplanaltinadf.com.br. Informações: 3214.2703.


Guto Muniz<br />

adorno<br />

A forma como as tribos africanas Mursi e<br />

Surna se enfeitam inspirou a coreografia<br />

do grupo mineiro de dança contemporânea<br />

Primeiro Ato, que se apresentam dias 9 e<br />

10 na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional.<br />

O espetáculo Adorno conta com nove<br />

bailarinos que dançam 13 músicas ao vivo,<br />

compostas por Lula Ribeiro e Marco Lobo.<br />

O fiigurino é do estlista Ronaldo Fraga<br />

e a coreografia e direção são de Suely<br />

Machado. Sábado, às 21h, e domingo,<br />

às 20h. Ingressos a R$ 30 e R$ 15.<br />

Divulgação<br />

Crônicasdeclara<br />

Será dia 11, a partir das 19 horas, no Bar Brahma (201 Sul), o lançamento do livro<br />

Catraca inoperante, da jornalista Clara Arreguy. Editado pela Outubro Edições, a<br />

publicação de 96 páginas reúne 41 crônicas em que ela trata de assuntos corriqueiros<br />

no gênero, comentários poéticos ou bem-humorados sobre o dia a dia, sobre questões<br />

da mulher, da cidade, da cultura. Com prefácio de Moacyr Scliar, morto em<br />

fevereiro, o livro presta homenagem aos ilustradores. Seis deles produziram trabalhos<br />

para Clara Arreguy: Ziraldo, Son Salvador, Alexandre Coelho, Caio Gomez,<br />

Mário Arreguy e Paulo Fatal. Dessa forma, a capa do livro sai em seis versões diferentes,<br />

à escolha do leitor, a partir das 11h. Informações em www.clara-arreguy.com.<br />

bonecosdomundo<br />

Esse é o tema da 5ª Feira Internacional de Negócios do Artesanato que acontece entre os<br />

dias 15 e 24 no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Com mais de 300 expositores,<br />

sendo 80 internacionais, a feira vai trazer o boneco gigante Tamborete e oferecer,<br />

para crianças e adultos, oficinas de brinquedos populares com o artista plástico Zé<br />

Carlos. Estará montada também uma exposição com mais de 50 bonecos de teatro do<br />

Mestre Ednaldo do Ninho dos Artistas, de Águas Lindas. Segundo Ednaldo, “o teatro de<br />

bonecos é uma das artes mais antigas do mundo e resgata a magia dos contos populares<br />

para crianças e adultos” E conclui: “Os bonecos mostram a criança que a gente carrega<br />

no peito”. De segunda a sexta, das 15 às 22 h, e domingos, das 8 às 22h.<br />

Divulgação<br />

19


graves & agudos<br />

A festa<br />

<strong>continua</strong><br />

Motörhead<br />

Mais um mês de grandes<br />

atrações internacionais<br />

Por Heitor Menezes<br />

A<br />

sensação dos últimos tempos é a<br />

de que personagens da discoteca<br />

(a estante cheia de discos ou mp3,<br />

não a casa de danças) se materializaram e<br />

estão aí ao nosso alcance. Não importa<br />

que sejam discos velhos/mp3 novos, é só<br />

coisa legal. Alguém lembra das atrações<br />

musicais internacionais que nos visitaram<br />

em março? Quem foi, foi. A arte é<br />

longa; a vida, breve.<br />

Em abril, melomaníacos, mês de aniversário<br />

desta capital, a jornada <strong>continua</strong><br />

em alto nível e o velho esquema prevalece:<br />

falou em shows renomados, ai de ti, cartão<br />

de crédito. Reparem: o som da tempestade<br />

sonora chamada Iron Maiden<br />

ainda ecoava nos umbrais do Eixo Monumental<br />

e já neste 5 de abril o glorioso Ginásio<br />

de Esportes Nilson Nelson recebia<br />

Ozzy Osbourne, um dos caras mais loucos<br />

(em atividade) do rock’n’roll de todos<br />

os tempos.<br />

O cardápio trash combinava, obviamente,<br />

com o som que o velho Príncipe<br />

das Trevas está mandando ver em seu<br />

giro latino-americano da Ozzy Scream<br />

Tour 2011, da qual Brasília não escapou.<br />

Com ou sem dentadas em morcegos,<br />

Ozzy, um gigante do rock, tem repertório<br />

que segura uma noite inteira de<br />

alegria e som pesado – músicas do disco<br />

mais recente, clássicos como Crazy train,<br />

Mr. Crowley, Bark at the moon, No more tears<br />

e, pelo bem da metalurgia, as músicas do<br />

Black Sabbath.<br />

Uma semana depois, enquanto lavam-se<br />

as roupas pretas e os tímpanos desinflamam,<br />

é hora de ser bonzinho e cair<br />

no relax total ao som da premiadíssima<br />

Natalie Cole, cuja apresentação está prevista<br />

para o dia 12, no Salão Master do<br />

Centro de Convenções Ulysses Guimarães.<br />

Vale – e muito – ir com a (o) amada<br />

(o), pois o negócio aqui é a canção romântica<br />

em todo o seu esplendor.<br />

Não bastasse ser filha do monumental<br />

Nat King Cole, Natalie persegue em vida<br />

o cânone da canção americana. Assim<br />

sendo, temos alguém que, além de ter herdado<br />

do pai o DNA da boa música, e ser<br />

Natalie Cole<br />

20


Robin Gibb<br />

dona de uma voz maravilhosa, canta –<br />

com propriedade – coisas assinadas pelos<br />

grandes nomes do cancioneiro norte-americano.<br />

Sim, An evening with Natalie Cole<br />

promete deixar nego pianinho, e tem Unforgettable<br />

no meio disso tudo.<br />

Dois dias depois, em 15 de abril, uma<br />

sexta-feira, novamente no Ginásio Nilson<br />

Nelson, outro inédito em Brasília que<br />

merece nossos sofridos reais é Robin Gibb,<br />

originalmente um terço dos lendários<br />

Bee Gees. Observem as letras menores do<br />

cartaz: Bee Gees greatest hits tour by Robin<br />

Gibb. Pelamordedeus, não é uma reunião<br />

dos Bee Gees. Ela ficou praticamente impossível<br />

após a morte de Maurice Gibb,<br />

em 2003. O grupo chegou a ser um quarteto<br />

com Barry e Andrew (Andy), o caçula<br />

dos quatro irmãos, que se foi em 1988.<br />

De qualquer forma, ver e ouvir ao vivo o<br />

homem que nos entregou as grandes canções<br />

dos Bee Gees é algo que merece a reverência<br />

e a dívida no cartão.<br />

Mais adiante, dia 22, Sexta-feira da<br />

Paixão, que nos perdoem os recatados,<br />

mas tem Motörhead arrepiando o bom<br />

mocismo, em pleno e a esta altura combalido<br />

Ginásio Nilson Nelson. É bom a<br />

Defesa Civil passar por lá, pra ver se está<br />

Steel Pulse<br />

tudo bem. Se o Iron Maiden despejou<br />

uma chuva de pedras sobre Brasília e<br />

Ozzy veio rezar a missa negra do heavy metal,<br />

o Motörhead vem passear rasante<br />

por essa pobre cidade com um bombardeiro<br />

ultra-mega-barulhento e cheio de<br />

cigarro, cerveja e Jack Daniels.<br />

O trio formado pelo figuraça Lemmy<br />

Kilmister (baixo e rouca gritaria), Phil<br />

Campbell (guitarra) e Mikkey Dee (bateria)<br />

não é exatamente a formação original,<br />

mas dado o tempo que estão juntos e o espírito<br />

“motörhead” de levar a vida na tosqueira<br />

do som pesado, é algo digno de lavar<br />

a alma e encharcar novamente a velha<br />

camiseta preta. Pode levar o filhote e o neto,<br />

desde que tenham idade, pois está tudo<br />

nos conformes da diversão.<br />

E por último, mas não menos importante,<br />

para não dizer que não falamos de<br />

reggae, temos a anunciada volta dos igualmente<br />

lendários ingleses/jamaicanos do<br />

Steel Pulse, dia 10, um domingo, na<br />

Concha Acústica (cercanias do Palácio da<br />

Alvorada). Quem divide a atração são os<br />

californianos do Groundation, outro legítmo<br />

representante do que se conhece<br />

por reggae de raiz. Shows no contexto do<br />

Cerrado Festival.<br />

Steel Pulse e Groundation<br />

10/4, na Concha Acústica (Setor de Hotéis e<br />

Turismo Norte). Informações: (61) 3425-3300.<br />

Natalie Cole<br />

12/4, no Salão Master do Centro de<br />

Convenções Ulysses Guimarães. Informações:<br />

www.nataliecolebrasilia.com.br.<br />

Robin Gibb<br />

15/4, no Ginásio Nilson Nelson. Informações:<br />

www.ingressorapido.com.br.<br />

Motörhead<br />

22/4, no Ginásio Nilson Nelson. Informação:<br />

www.livepass.com.br.<br />

Groundation<br />

Fotos: divulgação<br />

21


graves & agudos<br />

Gaita<br />

brasileiríssima<br />

Por Lúcia Leão<br />

Fotos Rodrigo Oliveira<br />

O<br />

instrumentista Pablo Fagundes<br />

lança, nos próximos dias, um<br />

conjunto de vídeo aulas em que<br />

ensina leigos e iniciados a tocar gaita em<br />

ritmo de samba, de choro, de bossa nova<br />

e de baião. Seria um evento até banal se<br />

o virtuosismo do mestre, um dos grandes<br />

gaitistas da atualidade – aos 30 anos, o<br />

brasiliense, que acaba de gravar com o 7<br />

cordas Bruno Yakalos e o pandeirista George<br />

Lacerda, já dividiu o palco até com<br />

Toots Thielemains, o belga de 82 considerado<br />

o “papa da gaita” –, não fizesse, por<br />

si só, os mais de 200 exercícios do álbum<br />

dignos de menção. Mas eles vão além:<br />

dão prosseguimento ao projeto de Fagundes<br />

de “abrasileirar” a gaita.<br />

Ele já abrasileirou o corpo de seu instrumento<br />

e descortinou uma luz no fim<br />

do túnel tanto para a luthieria e as fábricas<br />

de instrumentos como para povos da floresta<br />

que poderão abastecer os produtores<br />

com a extração seletiva de árvores de inestimável<br />

valor. Agora, quer tocar sua alma<br />

e demonstrar como ela é sensível aos ritmos<br />

brasileiros.<br />

Corpo, no caso em questão, é a denominação<br />

do miolo, da peça interna da gaita.<br />

Nos bons instrumentos ele é feito de<br />

madeira, na qual o ar reverbera para produzir<br />

o som. Há oito anos, quando se formava<br />

em engenharia florestal pela Universidade<br />

de Brasília e ainda se dividia entre<br />

aquela ciência exata e a música, Pablo<br />

decidiu procurar nas nossas florestas madeiras<br />

capazes de substituir o pau-marfim<br />

e a pereira, espécies importadas que abasteciam<br />

as fábricas brasileiras de gaita. A<br />

busca virou dissertação de conclusão de<br />

curso e, com orientação do físico Mário<br />

Rabelo, diretor do Laboratório de Produtos<br />

Florestais do Ibama, o estudante identificou<br />

pelo menos dez espécies amazônicas<br />

que, ao menos nos protótipos, não<br />

deixavam a desejar. A Hering “comprou”<br />

a ideia e impulsionou as exportações de<br />

suas gaitas com “selo verde”.<br />

Diploma de engenheiro na mão e convicção<br />

de músico no coração, Pablo seguiu<br />

seu destino de gaitista pela rota tradicional<br />

do rock e do blues, ritmos aos quais o instrumento<br />

é mundialmente associado. Rodou<br />

Estados Unidos e Europa como um<br />

Bob Dylan qualquer até se dar conta de<br />

que seu diferencial estava em explorar o<br />

potencial da gaita para a música brasileira.<br />

Não que seja pioneiro nessa percepção –<br />

ou o que se diria de Edu da Gaita, de Jeová<br />

do Recife, da Orquestra de Harmônica<br />

de Curitiba, de Rildo Hora e outros poucos<br />

que pontuam com o sopra e suga da<br />

gaita solos memoráveis da MPB? Mas ninguém<br />

conseguiu elevá-la ao status de uma<br />

flauta, um sax ou um trompete nas nossas<br />

orquestras de metal como fizeram as big<br />

bands do sul dos EUA e da Alemanha.<br />

22


“Com a mesma motivação que eu tive<br />

para estudar as madeiras amazônicas, eu<br />

queria explorar na gaita alguma coisa diferente<br />

e ligada à minha raiz”, define-se o<br />

instrumentista. Enquanto ele buscava seu<br />

rumo, outros estudantes da UnB bateram<br />

à porta do Laboratório de Produtos Florestais<br />

em busca de um denominador comum<br />

entre formação acadêmica e paixão<br />

pela música. “Depois do Pablo vieram outros<br />

alunos não só da florestal, mas de outras<br />

áreas da engenharia, do desenho industrial,<br />

da arquitetura, todos querendo<br />

pesquisar a melhor madeira para produzir<br />

instrumentos que já tocavam. Fizeram violões,<br />

guitarras, oboés, contrabaixos, harpas...”,<br />

conta Mário Rabelo, com indisfarçável<br />

orgulho.<br />

Sua grande satisfação foi ver aqueles<br />

jovens tatuados e cabeludos impulsionarem<br />

para o mundo real – palcos, salas de<br />

ensaio e estúdios – conhecimentos mantidos<br />

no limbo do LPF há décadas, desde<br />

que um grupo de pesquisadores de várias<br />

instituições fora incumbido pelo então<br />

presidente João Figueiredo de acabar com<br />

o que o governo considerava “uma evasão<br />

desnecessária de divisas”, com a importação<br />

de madeiras para fabricação de instrumentos.<br />

O esforço resultou numa lista de<br />

pouco mais de uma centena de espécies<br />

que se prestavam a ressonar com a qualidade<br />

exigida pelos ouvidos mais exigentes.<br />

A sonoridade começava pelos nomes:<br />

macacaúba, jatobá, gombeira, pau-ferro,<br />

pau-santo, braúna, caviúna, morotó, manguba,<br />

tauari, urucu, pará-pará...<br />

Mas pesquisa e conhecimento – logo<br />

se viu! – eram apenas um dos problemas.<br />

Não maior, por exemplo, do que<br />

vencer a resistência dos músicos e luthieres<br />

que ainda acreditam – provavelmente<br />

com razão – que nada se compara ao<br />

som das cordas quando tocam no jacarandá<br />

da Bahia, que arcos de violino só<br />

são verdadeiramente bons em pau-brasil<br />

e que um oboé só é oboé se for de madeira<br />

preta.<br />

Pablo e os outros estudantes conseguiram,<br />

de certo modo, vencer essas resistências.<br />

Mas o mais difícil e melhor ainda está<br />

por vir. E é o que anima Marcos Rabelo<br />

e outros ícones do mercado de instrumentos,<br />

como o luthier Miguel Munhoz. Escultor<br />

de alguns dos violões mais perfeitos<br />

do país, como os dedilhados por Toquinho<br />

e Yamandú Costa, ele ainda trabalha<br />

com um estoque de madeira herdado do<br />

pai, junto com a ciência e a arte do ofício,<br />

e é do tipo que chora quando vê um jatobá<br />

do cerrado virar carvão. Mas sonha<br />

com as comunidades extrativistas preparadas<br />

para coletar e fazer o beneficiamento<br />

primário de madeiras para instrumentos<br />

dentro de suas reservas.<br />

“Um instrumento precisa de madeira<br />

com características específicas e que seja<br />

cortada e tratada devidamente, coisa que<br />

as madeireiras são incapazes de fazer. A<br />

perda é superior a 90%, os preços são altos<br />

e a qualidade baixa. Já um extrativista<br />

qualificado pode, com uma única árvore<br />

de macacaúba – a que mais se aproxima,<br />

em qualidade, do jacarandá –, produzir<br />

matéria-prima para milhares de violões”.<br />

É um negócio tão vantajoso para todos<br />

– músicos, artesões e fabricantes, povos<br />

da floresta e a própria floresta – que<br />

Marcos Rabelo sugere mesmo a interferência<br />

do Estado para criar uma reserva de<br />

mercado que torne as reservas extrativistas<br />

fornecedoras exclusivas da indústria<br />

de instrumentos. “Não é nenhuma solução<br />

milagrosa ou de curto prazo. Vai precisar<br />

de tempo e muito investimento. Mas<br />

é a solução”, garante.<br />

23


QUE ESPETÁCULO<br />

Um sentido<br />

para a existência<br />

O bosque, de David Mamet, faz estreia nacional no CCBB de Brasília<br />

O<br />

texto foi escrito há 32 anos, mas<br />

tocou tão profundamente na ferida<br />

proposta por seu autor – a incapacidade<br />

de comunicação entre um homem<br />

e uma mulher – que bem poderia ter<br />

sido feito sob encomenda para retratar a<br />

atual geração Y, aquela que já nasceu em<br />

plena era da comunicação por meios eletrônicos<br />

e nunca viveu sem sua síntese, a<br />

internet.<br />

A peça O bosque tem como argumento<br />

o conflito entre Ruth e Nick, um casal de<br />

25 e 30 anos, respectivamente, que vai<br />

passar o fim de semana numa casa de<br />

campo e acaba pondo à prova uma relação<br />

recente em pleno ápice. A evidente incapacidade<br />

de comunicação entre eles, e deles<br />

com o mundo, é o foco da peça que<br />

ocupará o palco do CCBB de 14 de abril<br />

a 8 de maio.<br />

A montagem brasileira, de uma atualidade<br />

desconcertante, antecipa questões e<br />

dilemas contemporâneos, quase como<br />

um raio-x da psique da juventude atual.<br />

Seu autor, David Mamet, é considerado<br />

um dos escritores mais ecléticos da atualidade<br />

(além de dramaturgo e roteirista, é<br />

também ator, diretor, romancista, ensaísta<br />

e blogger) e tem sido celebrado dentro<br />

e fora dos Estados Unidos. Embora seus<br />

textos tenham sido montados em muitos<br />

países, Mamet ainda é pouco encenado<br />

no Brasil – Edmond, Perversidade sexual em<br />

Chicago e Oleanna são as peças de sua au-<br />

toria já apresentadas por aqui.<br />

As numerosas camadas de leitura do<br />

texto de Mamet em O bosque evidenciam<br />

a necessidade humana de produzir palavras<br />

com as quais se afirmar, se identificar<br />

e agir, bem como a paixão e a energia que<br />

nunca se traduzem na real capacidade de<br />

se entender. Em resumo, a procura vã de<br />

um sentido para a existência.<br />

Dirigida por Alvise Camozzi (indicado<br />

em 2009 ao Prêmio Bravo!), O bosque tem<br />

no elenco Bruno Kott e Cristine Perón,<br />

jovens atores de teatro, cinema e televisão,<br />

e equipe com profissionais premiados: o<br />

cenógrafo William Zarella Jr. (Prêmio<br />

Cannes de Publicidade), o iluminador<br />

Guilherme Bonfanti (prêmios Shell e<br />

APCA) e a figurinista Marina Reis (prêmios<br />

FEMSA e Avon Colors).<br />

Depois da estreia nacional em Brasília,<br />

a peça segue para São Paulo e depois<br />

para o Rio de Janeiro.<br />

O bosque<br />

De 14/4 a 8/5 no CCBB. De 5ª a sábado, às<br />

19h30; domingo, às 18h30. Ingressos a R$<br />

15 e R$ 7,50. Bilheteria: 3310.7087.<br />

André Katopodis<br />

24


galeria de arte<br />

Às Cidinhas,<br />

Anitas,<br />

Djaniras...<br />

Todas as raças e cores deste<br />

país multicultural estão<br />

presentes na exposição<br />

Mulheres, artistas e brasileiras,<br />

no Palácio do Planalto<br />

Abaporu, de Tarsila do Amaral<br />

Por Ana Cristina Vilela<br />

Dona Isabel Mendes, de 86 anos,<br />

saiu de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha,<br />

para ser homenageada<br />

na abertura da exposição Mulheres,<br />

artistas e brasileiras. Suas bonecas de barro,<br />

feitas desde criança, arte passada a<br />

tantas outras mulheres do sertão mineiro,<br />

fazem parte da mostra. São bonecas<br />

esculpidas pelas mãos de Zezinha, de Irene,<br />

de Glória Maria, expostas até 5 de<br />

maio no Salão Oeste do Palácio do Planalto<br />

ao lado do Abaporu, de Tarsila do<br />

Amaral, e de tantas outras obras de personagens<br />

que ajudam e ajudaram a construir<br />

a história cultural do Brasil.<br />

O que Tarsila e dona Isabel têm em<br />

comum? Tudo e nada. Suas condições de<br />

vida, suas histórias, são muito distintas,<br />

mas as duas dividem o amor à criação.<br />

Passear pelo Salão Oeste é andar entre fortes<br />

sensações e emoções humanas, é ir de<br />

um dia límpido de sol à mais forte tormenta.<br />

Afinal, está-se entre mulheres.<br />

Mas dar à exposição Mulheres, artistas e<br />

brasileiras – que trouxe a Brasília produções<br />

do Século XX, principalmente a partir<br />

da Semana de Arte Moderna de 1922<br />

– o rótulo de feminista ou de feminina seria<br />

um aprisionamento, uma limitação.<br />

Arte não tem gênero.<br />

Porém, dedicar minutos à fruição das<br />

telas, esculturas e fotografias exibidas é seguir<br />

entre histórias de lutas por reconhecimento,<br />

por participação na sociedade, entre<br />

mulheres diversas, de origens completamente<br />

diferentes, de ascendências alemã,<br />

portuguesa, austríaca... Um dos principais<br />

méritos da exposição, que conta com 80<br />

obras, é exatamente a diversidade. Heterogeneidade<br />

que traça um retrato do Brasil.<br />

Um Botero nada convencional<br />

Por Viviane Marques<br />

26<br />

Violência, sangue e dor. O humor e a sensualidade representados<br />

por meio de figuras roliças, marca registrada<br />

do artista plástico colombiano Fernando Botero,<br />

dão lugar a incômodos sentimentos em Dores da Colômbia, exposição<br />

em cartaz até 1º de maio na Caixa Cultural. Assassinatos,<br />

massacres, velórios, sequestros, mães chorando filhos<br />

mortos são algumas das fortes cenas registradas em 36 desenhos,<br />

25 óleos e seis aquarelas. As obras inspiram-se no período<br />

em que o domínio do narcotráfico no país esteve no auge


O mesmo Brasil de Marta Niklaus,<br />

com sua Bandeira de Farrapos – uma metáfora<br />

a este país de desigualdades? O mapa é<br />

o mesmo, mas as realidades e o que levou<br />

cada mulher a criar, não. Quais foram os<br />

sentimentos de Maria Martins ao esculpir<br />

A mulher e sua sombra, que transmite tanta<br />

angústia e tormento? E quais notícias tão<br />

felizes a contemporânea Beatriz Milhazes<br />

recebeu ao pintar Estive feliz de saber que<br />

você está bem? E como aceitar a impensável<br />

leveza de Cerâmica, peça de Geórgia<br />

Kyriakakis, em que pétalas de barro seduzem<br />

as mãos proibidas de remexê-las?<br />

Ir à exposição é caminhar entre criadoras<br />

e criaturas, entre telas de Tarsila do<br />

Amaral, com sete trabalhos expostos, de<br />

Anita Malfatti, com quatro, de Djanira,<br />

com seu belo quadro A costureira, além de<br />

um painel retirado do Gabinete da Presidência<br />

da República, seguindo por Zélia<br />

Salgado, Tomie Ohtake, Leda Catunda,<br />

Lygia Pape. É percorrer desde a arte prémodernista,<br />

com Georgina Albuquerque,<br />

passando pelo modernismo, até chegar à<br />

arte contemporânea e à popular, com tapeçarias<br />

de Gilda Azevedo e Shirley Paes<br />

Leme e quadros de Dalva de Oliveira, Cidinha<br />

Pereira e Zica Bergami, sem falar<br />

nas bonecas de barro. Fotografias e gravuras,<br />

como as de Renina Katz e Maria<br />

Bonomi, também estão lá.<br />

O destaque é Abaporu – do tupi-guarani,<br />

homem que come gente –, quadro<br />

exposto ao fundo, protegido por vidro.<br />

Presente de Tarsila a seu então marido<br />

Oswald de Andrade, a tela tornou-se o<br />

grande símbolo do movimento antropofágico<br />

brasileiro. Diz-se que Oswald lhe perguntou<br />

em que tinha se inspirado para<br />

criar a figura de cabeça mínima e corpo<br />

desmesurado, pés na terra, firmes. Tarsila<br />

respondeu-lhe ter se baseado nas histórias<br />

que escutava dos descendentes de africanos<br />

sobre gente que comia gente.<br />

Sendo o Brasil um país multicultural,<br />

formado por tantas raças, por tantas<br />

cores, foi sua presidente de ascendência<br />

búlgara a idealizadora da mostra. Dilma<br />

Rousseff é sua fã inconteste. De tão envolvida<br />

com a iniciativa, levou até o presidente<br />

dos Estados Unidos, Barack<br />

Obama, para uma visita. Foi a convite do<br />

Palácio do Planalto que a Fundação Armando<br />

Alvares Penteado (Faap) tomou a<br />

frente dos trabalhos, com uma montagem<br />

feita a partir de acervos de órgãos<br />

públicos e de museus. Abaporu é a única<br />

peça particular, vinda do Museo de Arte<br />

Latinoamericano de Buenos Aires (Malba)<br />

– Fundación Constantini.<br />

A ideia, segundo o curador José Luis<br />

Hernández Alfonso, da Faap, foi elaborar<br />

uma disposição didática e simples, distribuída<br />

em blocos. A grande diversidade de<br />

obras, originárias de coleções distintas, dificultou<br />

uma divisão cronológica. A estrela,<br />

Abaporu, ficou no final para que os<br />

olhares não se restrinjam a ela e se despeçam<br />

sem admirar, sem sentir, todas as<br />

pintoras, escultoras, fotógrafas, tapeceiras,<br />

ceramistas e desenhistas brasileiras<br />

ali representadas.<br />

Mulheres, artistas e brasileiras<br />

Até 5/5 no Salão Oeste do Palácio do<br />

Planalto. Aberta diariamente, inclusive<br />

feriados, das 10 às 16h. Entrada franca.<br />

Agendamento de visitas: 3033.2929<br />

Estive feliz de saber que você está bem?, de Batriz Milhazes<br />

Bandeira de Farrapos, de Marta Niklaus<br />

A costureira, de Djanira<br />

Fotos: divulgação<br />

– nas palavras do artista, “um testemunho<br />

da irracional história colombiana”.<br />

Tinta, tela, giz pastel e lápis são as<br />

principais armas do artista para mostrar<br />

ao mundo massacres e suas consequências.<br />

Embora, em um texto divulgado na<br />

própria exposição, Botero afirme ser contra<br />

o uso da arte como ferramenta de combate,<br />

impossível não ver engajamento e<br />

um grito de alerta do artista nas imagens<br />

criadas entre 1999 e 2004. O sangue é<br />

sempre representado na cor vermelha,<br />

mesmo nos desenhos em preto e branco.<br />

“As obras cumprem um papel social na<br />

medida em que apresentam aos brasileiros<br />

essa fase da história da Colômbia”, diz<br />

Mariana Pinheiro, da Aori Produções<br />

Culturais, empresa responsável pela atual<br />

turnê brasileira da mostra, patrocinada<br />

pela Caixa e pelo Governo Federal.<br />

A coleção apresentada na Caixa Cultural<br />

pertence ao acervo permanente do<br />

Museu Nacional da Colômbia, ao qual Botero<br />

doou as obras por, segundo ele mesmo,<br />

não querer fazer negócio com a dor<br />

de seu país. Para que sejam vistas por cada<br />

vez mais pessoas ao redor do mundo,<br />

a instituição criou um programa de itinerância<br />

para as telas. No Brasil, a exposição<br />

esteve uma única vez, em 2007, no Memorial<br />

da América Latina, em São Paulo.<br />

Desta vez, depois da estreia em Brasília,<br />

Dores da Colômbia seguirá para Curitiba,<br />

São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador,<br />

entre outras cidades (dez, no total).<br />

Conhecido por suas obras satíricas,<br />

em que políticos, militares e realeza<br />

são sempre retratados como criaturas<br />

corpulentas e estáticas, Botero, nessa<br />

coleção, (des)humaniza essas figuras<br />

gorduchas, ora como vítimas, ora como<br />

algozes. Ou seja, o estilo permanece,<br />

sob outro olhar.<br />

Dores da Colômbia<br />

Até 1/5 na Caixa Cultural – Galeria<br />

Principal. De 3ª a domingo, das 9 às 21h.<br />

Entrada franca. Mais informações:<br />

3206.9448 / 3206.9450<br />

27


ENTREVISTA<br />

Os projetos do GDF para<br />

desatar os nós do turismo<br />

28<br />

Por Akemi Nitahara<br />

Foto Rodrigo Oliveira<br />

Muito trabalho, muitos planos, pouca<br />

verba e poucos servidores. Ao assumir a<br />

Secretaria de Turismo, que recebe apenas<br />

0,25% do orçamento do Distrito Federal,<br />

Luiz Otávio Neves aceitou tacitamente o<br />

desafio de preparar, em apenas três anos,<br />

uma estrutura que Brasília nunca teve. Já<br />

em 2013, um ano antes da Copa do Mundo,<br />

a cidade precisa estar pronta para receber<br />

a Copa das Confederações. Revitalizar<br />

os monumentos, capacitar os profissionais<br />

do trade turístico, abrir centros de<br />

atendimento ao turista, melhorar a sinalização,<br />

implantar linhas de ônibus executivos,<br />

além de divulgar a cidade no exterior,<br />

são alguns dos projetos inadiáveis.<br />

Diretor de Captação da Secretaria de<br />

Turismo no Governo Cristovam Buarque<br />

(1995/1998) e consultor da Unesco para<br />

divulgação das cidades brasileiras conside-<br />

radas Patrimônio Cultural da Humanidade,<br />

além de ter trabalhado com marketing<br />

promocional na Embratur, Luiz Otávio<br />

Neves informa à <strong>Roteiro</strong> como pretende<br />

enfrentar os desafios que a Capital Federal<br />

terá que vencer para se tornar, de fato,<br />

um polo turístico. “Não basta ser um<br />

museu a céu aberto. É preciso oferecer<br />

muito mais aos turistas”, afirma.<br />

Nossa infraestrutura de turismo sempre<br />

foi precária, e a cidade precisa estar preparada<br />

em 2013 para a Copa das Confederações.<br />

Como estão os preparativos?<br />

Eu diria que o setor de turismo em Brasília<br />

tem melhorado cada vez mais, mas ainda<br />

estamos longe do ideal. Nós vamos trabalhar<br />

este ano para construir as bases do<br />

turismo, resolvendo a questão da legislação,<br />

para que as empresas possam trabalhar<br />

legalmente na cidade, seja no transporte,<br />

no turismo receptivo, no segmento<br />

de bares e restaurantes ou na hotelaria.<br />

Nós teremos também que melhorar a infraestrutura<br />

turística, que ficou muito tempo<br />

abandonada. Hoje temos o Centro de<br />

Convenções, um excelente atrativo turístico<br />

de eventos, com uma capacidade muito<br />

boa, só que necessitando também de alguns<br />

pequenos ajustes. Estamos agora<br />

em fase de planejamento e em breve vamos<br />

começar a execução das obras para<br />

reativar o Projeto Orla, que é um dos<br />

maiores atrativos que nós vamos ter aqui<br />

em Brasília, porque vai contemplar restaurantes,<br />

bares, a parte de entretenimento,<br />

o acesso democrático ao Lago Paranoá.<br />

Também vamos reformar a Torre<br />

de Televisão.<br />

Brasília está na disputa para receber o<br />

Centro de Mídia da Copa do Mundo. O<br />

que a cidade oferece à Fifa?<br />

Nós temos três candidatos – São Paulo,<br />

Rio de Janeiro e Brasília – disputando o<br />

Centro de Mídia da Fifa. Oferecemos o


Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade,<br />

e estamos trabalhando fortemente<br />

para que isso dê certo. Ter o Centro de<br />

Mídia na cidade significa ter aqui jornalistas<br />

do mundo inteiro durante mais ou menos<br />

um ano na cidade, pois a partir da<br />

Copa das Confederações eles montarão<br />

sua estrutura de coberturas da Copa do<br />

Mundo. Vamos ter ainda a Copa América<br />

em 2015 o jogos de futebol das Olimpíadas<br />

em 2016. Então, esse Centro de Mídia<br />

pode ficar aqui por muito tempo. Será<br />

muito bom ter, durante todo esse tempo,<br />

jornalistas do mundo inteiro andando em<br />

Brasília, conhecendo a cidade e falando<br />

da cidade. Então, temos que fazer o possível<br />

para que eles falem bem da cidade<br />

Tem também o problema da precariedade<br />

do nosso turismo receptivo. Os visitantes<br />

enfrentam dificuldade até para<br />

conseguir um simples mapa da cidade,<br />

por exemplo. Como isso será resolvido?<br />

Acabamos de inaugurar um centro de<br />

atendimento ao turista na Praça dos Três<br />

Poderes, por onde passam praticamente<br />

todos os visitantes da cidade. Há 12 anos<br />

esse espaço estava fechado. Abrimos outro<br />

na nova rodoviária interestadual, para<br />

atender os turistas que chegam de ônibus,<br />

uma coisa que nunca tivemos em Brasília.<br />

Há também três pontos de atendimento<br />

ao turista nos setores hoteleiros sul e norte,<br />

que nós fechamos agora para que passem<br />

por reformas. No Aeroporto JK, há<br />

dois anos a Secretaria de Turismo paga o<br />

aluguel de uma loja, ao lado do desembarque<br />

doméstico, que estava fechada. Já vamos<br />

iniciar as obras para que tenhamos o<br />

mais rápido possível abrir um centro de<br />

atendimento ao turista no aeroporto, porque<br />

o que existe lá hoje é só um balcãozinho.<br />

Uma cidade que se candidata a sede<br />

da Copa precisa de uma estrutura muito<br />

boa, e isso nós começaremos a fazer ainda<br />

neste primeiro semestre.<br />

A sinalização turística da cidade também<br />

não é muito ruim?<br />

Nós estamos fazendo um estudo um pouco<br />

mais complexo, em conjunto com o<br />

Detran, para melhorar nossa sinalização<br />

turística. O turista que vier a Brasília de<br />

carro, ou alugar um carro, poderá se deslocar<br />

pela cidade com a ajuda de placas indicativas<br />

dos principais pontos turísticos.<br />

Outro problema é o transporte. Os turistas<br />

não dispõem nem mesmo de ônibus<br />

executivos para se dirigir à área central<br />

da cidade.<br />

Vamos ter agora cinco ônibus executivos.<br />

A TCB vai começar essa linha, eu conversei<br />

com o presidente da TCB, Carlos Koch,<br />

que me disse que em um mês os ônibus<br />

estarão funcionando. A passagem deverá<br />

custar seis reais. É um “frescão” que<br />

vai sair do aeroporto para o Setor Hoteleiro<br />

Sul e o Setor Hoteleiro Norte.<br />

Quais são os projetos para ampliar a divulgação<br />

da cidade?<br />

Nós vamos promover Brasília aqui dentro<br />

do Brasil, principalmente, mas também<br />

procurar nos pontos de partida dos voos<br />

internacionais. Brasília tem hoje seis voos<br />

internacionais: um vindo da Europa,<br />

três da América do Norte e dois da América<br />

do Sul. Em maio será inaugurado<br />

um vôo direto Brasília-Panamá. Temos<br />

que trabalhar para que os viajantes fiquem<br />

mais tempo na cidade.<br />

O que fazer para que Brasília consiga<br />

atrair mais turistas?<br />

Estamos trabalhando para melhorar a situação.<br />

Aliás, já está melhorando. Basta<br />

observar a quantidade de shows internacionais<br />

que a cidade está trazendo. Os brasiliense<br />

agora podem se orgulhar de receber<br />

grandes espetáculos musicais. Com o<br />

cancelamento do show da Shakira, por<br />

causa da forte chuva, pudemos ver a quantidade<br />

de gente de fora que reclamou, gente<br />

que veio de Rondônia, do Ceará, da<br />

Bahia, de Minas. São muitas as pessoas<br />

que vêm à cidade por conta desses eventos<br />

internacionais. Muitas delas vieram para<br />

ver o show da Shakira, que seria numa<br />

quinta-feira, e compraram pacote para ficar<br />

em Brasília até domingo, para conhecer<br />

melhor a cidade.<br />

Em maio vamos receber um evento internacional<br />

de motocross, não é?<br />

Já captamos este ano um evento muito legal,<br />

que é o Red Bull X-Fighter. São seis<br />

etapas no mundo e nós conseguimos trazer<br />

uma delas para Brasília. Vai ser no final<br />

do mês de maio, na Esplanada dos<br />

Ministérios, a custo zero, o que é melhor.<br />

Vão montar uma grande estrutura lá, por<br />

exigência da Red Bull, que só realiza esse<br />

evento em lugares inusitados, como a Praça<br />

Vermelha, em Moscou, ao lado das pirâmides<br />

egípcias, ou no Arco do Triunfo,<br />

em Paris. Este ano as etapas vão ser<br />

em Dubai, Brasília, Roma, Madri, Varsóvia<br />

e depois em Sidney, na Austrália. Esse<br />

evento será transmitido para 180 países.<br />

Mais do que um show de motocross,<br />

de piruetas de motos, é um show de iluminação,<br />

de fogos, enfim, é um grande<br />

espetáculo. Vai ser nas noites de 27 e 28<br />

de maio, sexta e sábado.<br />

Como vai ser feita a capacitação dos<br />

profissionais que prestam serviços aos<br />

turistas?<br />

Os taxistas já estão se capacitando, mas há<br />

um problema muito sério que a gente já<br />

detectou. Eles precisam rodar o dia inteiro,<br />

não podem parar uma tarde para<br />

aprender inglês. Infelizmente, é a lei da<br />

sobrevivência. Então, nós estamos tentando<br />

algumas soluções para que eles aprendam<br />

não apenas uma segunda língua,<br />

mas a forma correta de atender os turistas.<br />

Além deles, nós teremos que capacitar outros<br />

profissionais pessoas que têm contato<br />

direto com o turista em hotéis, bares e restaurantes.<br />

Vamos oferecer esses cursos de<br />

capacitação em parceria com a Secretaria<br />

de Trabalho. Estamos pensando até em<br />

preparar os frentistas de postos de gasolina<br />

para que possam dar informações sobre<br />

a cidade, um mínimo que seja. Para<br />

quem vem de carro, uma das primeiras<br />

pessoas a quem se pode perguntar alguma<br />

coisa é o frentista. Com a Polícia Militar,<br />

estamos estabelecendo uma parceria<br />

para montar um grupo de policiamento<br />

turístico, GPTur, para trabalhar<br />

nos setores hoteleiros sul e norte e em alguns<br />

outros pontos da cidade com grande<br />

concentração de turistas.<br />

A Secretaria de Turismo dispõe de verba<br />

e pessoal para fazer tanta coisa?<br />

Infelizmente não, ainda não tem pessoal.<br />

Queremos fazer um concurso para a contratação<br />

de turismólogos, mas isso vai ter<br />

que esperar um pouco, porque a casa ainda<br />

está sendo arrumada. Os recursos da<br />

Secretaria são pequenos, mas existem boas<br />

possibilidades de parcerias. Então, não<br />

acho ruim, vamos trabalhar com o que temos,<br />

vamos fazer o melhor possível. O<br />

Ministério do Turismo tem recursos, o<br />

Ministério das Cidades, o Ministério da<br />

Cultura, o da Integração... Enfim, vamos<br />

fazer bons projetos para a cidade e tentar<br />

captar esses recursos na Esplanada dos<br />

Ministérios.<br />

29


verso & prosa<br />

O engenho<br />

poeta). O poema que abre o livro já revela<br />

uma das qualidades do poeta, a do fino<br />

observador do cotidiano, atividade<br />

que ele vem aperfeiçoando desde os<br />

tempos do interior do Maranhão, onde<br />

cresceu em ambiente que pode ser imaginado<br />

a partir de algumas fotografias<br />

antigas, propositadamente envelhecidas,<br />

que ilustram o livro.<br />

A da capa mostra uma família imensa<br />

posando para a câmera, numa montagem<br />

que tem ainda uma velha casa cercada<br />

de árvores, numa rua bucólica.<br />

Qualquer um que viveu num desses interiores<br />

brasileiros compreende. Mas o<br />

livro nada tem de álbum de família, e o<br />

que se sente nos poe- mas é um mundo<br />

que tem muito mais a ver com Brasília,<br />

esse imenso e maltratado interior que<br />

tem a pretensão de ser moderno. “Em<br />

minha cidade, Brasília, / o ônibus 66 /<br />

desce de Sobradinho / De dia, uma beleza<br />

/ mas, em certas horas da noite, /<br />

tem uma particularidade / mesmo estando<br />

sem passageiros / cobrador e motorista<br />

/ ouvem a cigarra puxada / por<br />

uma mão invisível.” (O velho 66).<br />

São poemas simples e de fácil leitura,<br />

que fluem naturalmente pelo olhar de Vicente<br />

Sá. Mas é uma poesia que tem evidente<br />

compromisso com a oralidade, uma<br />

poesia mais para ser falada e ouvida, como<br />

Vicente costuma provar nas suas freda<br />

poesia<br />

As palavras de Vicente Sá vão em busca do sentido do cotidiano<br />

Por Alexandre Marino<br />

A<br />

poesia tem vários caminhos, todos<br />

de mão dupla. É com ela que<br />

o poeta provoca a sensibilidade<br />

das pessoas, quem sabe abrindo uma fenda<br />

na dureza do mundo, por um instante<br />

fazendo um mundo melhor. E é ela, a<br />

poesia, que faz do poeta um sujeito mais<br />

sensível e feliz, ao menos por um breve<br />

momento, daqueles que nem o relógio<br />

mede. E todos os caminhos parecem partir<br />

de um mesmo ponto e conduzir a um<br />

infinito desconhecido. O ponto de partida<br />

é um certo estranhamento, um certo<br />

inconformismo.<br />

E lá se vai a poesia, por caminhos que<br />

não se sabem, porque a poesia é sempre<br />

uma surpresa, na arte de compor as palavras,<br />

de jogar com os sentidos. Vicente<br />

Sá, maranhense de Pedreiras, morador irredutível<br />

de Brasília, escolheu o seu caminho.<br />

É poeta. Trança as palavras que vai<br />

colhendo por onde anda. Na poesia, trabalha<br />

com situações banais, que captura<br />

na simplicidade do dia a dia. E, de repente,<br />

surge um poema que o traz para dentro<br />

da casa e do coração de cada um, como<br />

aqueles médicos do interior.<br />

Assim é o sétimo livro de Vicente Sá,<br />

Engenho da loucura. De cara, ele já avisa<br />

ao leitor: “Sorria / Você está sendo /<br />

transformado em poesia” (A câmera do<br />

quentes aparições em público, seja na<br />

companhia dos músicos do Liga Tripa,<br />

com quem tem incontáveis parcerias, seja<br />

em eventos que atraiam sua poesia.<br />

Poeta por inteiro, Vicente Sá faz do trato<br />

com as palavras seu projeto pessoal, portando<br />

e emitindo, em forma de poesia, sua<br />

incontrolável rebeldia. Como se pode ler<br />

no poema DNA: “Meu filho / me prometa<br />

/ andarás pelo mundo / com o mesmo<br />

olhar / de um visitante de outro planeta”.<br />

Que o mundo preste atenção no poeta.<br />

O engenho da loucura<br />

Vicente Sá – Edição do autor<br />

60 páginas, R$ 20 (à venda no Quiosque<br />

Cultural do Ivan da Presença, no Conic)<br />

30


luz câmera ação<br />

Divulgação<br />

O retrato de Dorian Gray<br />

Por Reynaldo Domingos Ferreira<br />

É<br />

possível que o cineasta britânico<br />

Oliver Parker, ao realizar, em 2009,<br />

a nova versão de O retrato de Dorian<br />

Gray – há inúmeras outras, mas a melhor<br />

<strong>continua</strong> sendo a de Albert Lewin (1945)<br />

–, tenha querido fazer do livro apenas o<br />

modelo, a ocasião, não para revelar o romance<br />

gótico de Oscar Wilde, mas a personalidade<br />

dele, realizador. Se foi essa a<br />

pretensão, há de se reconhecer que o filme<br />

está de acordo com ele próprio, não<br />

com a obra literária.<br />

Porque o roteiro, de Toby Finlay, introduz<br />

modificações na história, idealizada<br />

pelo escritor irlandês, de um homem,<br />

Dorian Gray (Ben Barnes), cujo retrato<br />

envelhece, ao longo do tempo, enquanto<br />

ele permanece sempre jovem e dado à devassidão.<br />

E o que é grave, a meu ver, é<br />

que essas modificações atingem principalmente<br />

o subtema da obra, isto é, a simbologia,<br />

representada pela latente rebeldia<br />

da criatura contra o criador.<br />

Quando o jovem Dorian chega a Londres,<br />

em plena época vitoriana, para tomar<br />

posse da herança de um tio, ele se deixa<br />

retratar por Basil Hallward (Ben Chaplin),<br />

que consegue criar, na tela, uma<br />

obra maravilhosa. Ao ver o quadro, pela<br />

primeira vez, Dorian se espanta ante a fidelidade<br />

de seus traços reproduzidos pelo<br />

artista e afirma: “Eu daria tudo para permanecer<br />

sempre jovem, como estou neste<br />

retrato. Daria a própria alma”.<br />

Durante uma reunião social, Dorian<br />

conhece o carismático Lord Henry Wotton<br />

(Colin Firth), que o introduz nos prazeres<br />

hedonísticos da cidade, passando,<br />

ao mesmo tempo, a exercer sobre ele forte<br />

influência na medida em que o orienta a<br />

ter completo domínio sobre suas emoções.<br />

Assim, tendo perdido a alma para o<br />

retrato e se entregado por completo à corrupção<br />

moral mais deslavada, Dorian se<br />

torna outra criatura, que não é mais aquela,<br />

naturalmente, de sorriso angelical, vinda<br />

do interior.<br />

Ele conhece Sibyl Vane (Rachel Hurd-<br />

Wood), atriz de teatro, por quem se apaixona,<br />

surpreendendo a todos os de sua<br />

amizade, quando anuncia, logo depois, o<br />

noivado com ela. Mas Sibyl, que representa<br />

o papel da meiga Ofélia em Hamlet,<br />

de Shakespeare, no Teatro Royal, percebe<br />

de imediato o caráter pervertido de Dorian,<br />

que, ao mesmo tempo, degrada a<br />

amizade que Basil lhe devota. O círculo<br />

abismal, para ele, então se fecha.<br />

Em termos de ambientação, Oliver<br />

Parker demonstra ter o bom gosto de<br />

montar as cenas respeitando os preceitos<br />

da composição pictórica da época em<br />

que transcorre a ação, dando especial<br />

destaque – particularmente durante os<br />

acontecimentos sociais, pontuados pela<br />

música de Haydn – às reações reveladas<br />

pelos rostos das personagens. É nessas<br />

ocasiões que Colin Firth, que encarna o<br />

papel de Lord Henry Wotton, imprime,<br />

com sua atuação, certa dinâmica à linha<br />

narrativa de Parker.<br />

Conquanto seja, sem dúvida, o melhor<br />

ator do elenco, Firth não empana,<br />

em nenhum momento, a memória que se<br />

tem da genial interpretação dada ao papel<br />

de Wotton por outro intérprete inglês,<br />

igualmente ganhador do Oscar, George<br />

Sanders (1906-1972 ), na versão de 1945,<br />

já mencionada. Ben Barnes (As crônicas de<br />

Nárnia), distante e inexperiente, não convence<br />

muito como Dorian Gray, mas –<br />

sorte sua – não tem, nas versões anteriores,<br />

nenhum forte concorrente. Ben Chaplin<br />

(A herdeira), como Basil Hallward, foi<br />

prejudicado pela orientação que lhe foi dada<br />

para compor a personagem, que na película<br />

não é a mesma do romance. Rachel<br />

Hund-Wood (Perfume – A história de um<br />

assassino), de rosto bonito, empresta suave<br />

expressão moral a Sibyl Vane, e a talentosa<br />

Rebecca Hall tem a seu cargo a difícil<br />

missão de encarnar Emily, filha de Lord<br />

Wotton, figura descartável, que não existe<br />

no livro de Wilde.<br />

O retrato de Dorian Gray (Dorian Gray)<br />

Inglaterra/2009, 112 min. Direção: Oliver<br />

Parker. <strong>Roteiro</strong>: Toby Finlay, baseado no<br />

romance The picture of Dorian Gray, de Oscar<br />

Wilde. Com Ben Barnes, Colin Firth, Ben<br />

Chaplin, Rachel Hund-Wood e Rebecca Hall.<br />

31


luz câmera ação<br />

Santos<br />

e abutres<br />

Um dos principais representantes do novo cinema argentino,<br />

Pablo Trapero retorna às telas brasileiras com um filme de<br />

temática forte que transcende as fronteiras de seu país<br />

32<br />

Por Sérgio Moriconi<br />

Para os exibidores brasileiros, Abutres<br />

chega com o selo de qualidade<br />

“Ricardo Darín”, ator que se tornou<br />

em nosso país um símbolo do melhor<br />

cinema que se faz na Argentina.<br />

Com toda justiça, diga-se de passagem.<br />

Darín é uma avis rara. Além da qualidade<br />

excepcional de seu trabalho à frente das<br />

câmaras, é um exemplo de caráter e dignidade.<br />

Sob a direção de Trapero, mais<br />

uma vez ele brilha, agora ao dar vida e<br />

contorno a um personagem francamente<br />

negativo. O filme aborda uma temática<br />

que nos toca – a nós brasileiros – profundamente:<br />

a cultura da corrupção. A julgar<br />

pela quantidade de parceiros na produção<br />

(Argentina, Chile, França e Coreia<br />

do Sul), o problema, com diferentes<br />

graus de intensidade, é universal.<br />

Trapero tem o cuidado de imiscuir na<br />

trama de Abutres a relação afetiva entre<br />

Sosa (Darín) e Luján (Martina Gusman),<br />

uma jovem médica plantonista eticamente<br />

super correta. Sosa é o abutre da história,<br />

a “ave de rapina”, o “carancho” do título<br />

original em espanhol. De ponto de<br />

vista dramatúrgico, Abutres segue o modelo<br />

clássico do indivíduo que trilha o percurso<br />

do mal e acaba por se defrontar<br />

com o bem. Não se trata aqui do esquema<br />

maniqueísta simplista de muitos dos<br />

melodramas hollywoodianos e sim de<br />

uma exposição, quase que pedagógica, de<br />

como se dá a interação entre forças socialmente<br />

antagônicas. O interesse maior de<br />

Trapero (também autor do roteiro em colaboração<br />

com Alejandro Fadel, Martín<br />

Mauregui e Santiago Mitre) parece transcender<br />

uma possível crítica moral historicamente<br />

circunstancial ao seu país, embora,<br />

logicamente, ela esteja igualmente,<br />

e devidamente, colocada.<br />

O real no cinema de Trapero nunca é<br />

exatamente o que vemos na superfície. Há<br />

sempre algo mais no ar do que os aviões<br />

de carreira. Já no seu primeiro filme, Mundo<br />

grua (1999), depois em Do outro lado da<br />

lei, A família rodante e também no mais recente<br />

Leonera – os três últimos lançados<br />

no Brasil – Trapero dá a impressão de<br />

querer, ou mesmo manifesta categoricamente<br />

a intenção de “derrubar o efeito do<br />

real em uma multiplicidade de efeitos de<br />

realidade”, nos termos do crítico Miguel<br />

Ángel Novero. O que parece um parado-


xo esotérico se torna compreensível quando<br />

percebemos as várias confrontações a<br />

que seus personagens são submetidos.<br />

Muitas vezes, esse efeito dialeticamente<br />

sutil nos dá a de certeza de que o concreto,<br />

o real, aquilo que nos parece óbvio à primeira<br />

vista, na realidade constitui o absurdo,<br />

um mundo mágico, inapreensível em<br />

sua essência.<br />

Em Abutres, a relação entre Sosa e Luján<br />

oscila entre o amor e o ódio. Sosa é<br />

um advogado inescrupuloso que vive às<br />

custas de vítimas de acidentes de trânsito.<br />

Valendo-se de contatos que tem entre funcionários<br />

corruptos das várias instâncias<br />

públicas, Sosa chega ao local dos incidentes<br />

antes de todos e oferece seus “serviços<br />

legais” em nome de uma “fundação” evidentemente<br />

também ilegal. O golpe gira<br />

em torno dessas indenizações irregulares,<br />

indenizações sobrefaturadas que possibilitam<br />

o dinheiro que Sosa embolsa, da mesma<br />

maneira que paramédicos e policiais<br />

cúmplices. Luján vai descobrindo as práticas<br />

sombrias de Sosa aos poucos e tenta<br />

<strong>continua</strong>r a se comportar eticamente. Todo<br />

o enredo, muito familiar ao público<br />

brasileiro, vai se diluindo em pequenos<br />

incidentes que sequestram o nosso interesse<br />

para algo mais vago, porém persistente,<br />

incômodo.<br />

O curioso em relação ao que identificamos<br />

hoje como o “novo cinema argentino”,<br />

do qual Trapero é um dos protagonistas,<br />

é que ele, apesar de ter surgido<br />

num ambiente independente – tanto do<br />

ponto de vista da produção quanto esteticamente<br />

– não criou um abismo com o<br />

grande público. Imaginar que em 1995<br />

um grupo de realizadores, ganhadores de<br />

um concurso do INCAA (Instituto Nacional<br />

de Cinematografia y Artes Audiovisuales)<br />

para curtas-metragens, ao decidir reunir<br />

seus filmes num longa-metragem chamado<br />

Histórias breves, e que esse grupo e<br />

esse filme se tornariam o marco inaugural<br />

do cinema argentino, era algo impensável.<br />

Mais impensável ainda foi supor que uma<br />

simples mostra desses filmes reunidos pudesse<br />

ter, além da repercussão crítica, sucesso<br />

de público.<br />

O grupo inicial contava, entre outros,<br />

com Adrián Caetano, Daniel Burman,<br />

Lucrecia Martel e Bruno Stagnaro, todos,<br />

hoje, realizadores consolidados em seu<br />

país e no exterior. Trapero viria logo depois,<br />

graças a uma iniciativa do governo<br />

da cidade de Buenos Aires. Impressionados<br />

com a repercussão de Histórias breves,<br />

autoridades culturais resolvem criar, em<br />

1999, o BAFICI (Buenos Ayres Festival<br />

Internacional de Cine Independiente),<br />

dedicado àquilo que julgavam ser “filmes<br />

desvinculados do circuito comercial de cinema”,<br />

logo transformado num evento<br />

anual do calendário cultural da cidade.<br />

Trapero apresenta em sua primeira edição<br />

Mundo grua e ganha o prêmio de Melhor<br />

Diretor com sua obra de estreia. Ele e seus<br />

companheiros de geração (incluindo os<br />

nomes anteriormente citados) são os responsáveis<br />

pelos maiores sucessos de bilheteria<br />

do cinema argentino recente.<br />

Abutres (Carancho)<br />

Argentina/Chile/França/Coreia do Sul/2010,<br />

107 min. Direção: Pablo Trapero. <strong>Roteiro</strong>:<br />

Trapero, Alejandro Fadel, Martín Mauregui e<br />

Santiago Mitre. Com Ricardo Darín, Martina<br />

Gusman, Carlos Weber, José Luis Arias,<br />

Loren Acuña, Gabriel Almirón e José Manuel<br />

Espeche.<br />

Fotos: Divulgação<br />

33


luz câmera ação<br />

Divulgação<br />

Jogo de poder<br />

34<br />

Por Reynaldo Domingos Ferreira<br />

O<br />

rumoroso caso da revelação da<br />

identidade secreta de uma agente<br />

da CIA por funcionários da Casa<br />

Branca do governo Bush dá argumento<br />

a Jogo de poder, de Doug Liman, que faz<br />

uma histórica e até certo ponto bem sucedida<br />

narrativa dos fatos, ocorridos em<br />

2003, baseando-se em dois livros – Fair<br />

game, de Valerie Plame, e Política da verdade,<br />

de Joe Wilson.<br />

O roteiro de Jez e John Butterworth,<br />

bem estruturado, retrata a vida, posta em<br />

perigo, do casal Joseph C.Wilson (Sean<br />

Penn), diplomata, e Valerie Plame (Naomi<br />

Watts), ex-agente da CIA, que de uma<br />

hora para outra se viu envolvido num escândalo<br />

político de proporções absurdas.<br />

Tudo porque Joe Wilson, como é conhecido,<br />

que desempenhou missão diplomática<br />

no Iraque, tido como herói por George<br />

W. Bush, deixou bem claro, no memorável<br />

artigo What I din´t find in Africa (O<br />

que eu não encontrei na África), publicado<br />

pelo The New York Times, que o presidente<br />

manipulou informações para justificar a<br />

invasão do país.<br />

The Washington Post – cujo repórter<br />

Robert Novak foi o autor da insidiosa revelação<br />

– criticou o filme, selecionado para<br />

concorrer aos prêmios do Festival de<br />

Cannes, por apresentar diversas distorções<br />

dos acontecimentos. A principal delas<br />

seria a alegação de que Plame estaria,<br />

ao ser identificada pelos burocratas do go-<br />

verno – mais especificamente por um colaborador<br />

do ex-vice-presidente Dick Cheney,<br />

chamado Lewis Libby –, reunindo<br />

um grupo de cientistas iraquianos, liderado<br />

por Hamed (Khaled El Nabawy), para<br />

abandonar o país às vésperas do ataque<br />

americano a Bagdá, o que, segundo o jornal,<br />

não seria verdade.<br />

De fato, a película parece incensar<br />

muito, de início, as funções desempenhadas<br />

por Plame nas investigações, determinadas<br />

pela CIA, sobre a provável existência<br />

de um arsenal nuclear iraquiano. Para<br />

isso, Doug Liman usa linguagem um tanto<br />

evasiva, com excessiva movimentação<br />

de câmara, manuseada por ele próprio,<br />

sem fazer, por outro lado, abordagem<br />

mais precisa de como se dera a atuação de<br />

Joe Wilson na embaixada em Bagdá<br />

(1988 a 1991) e em sua missão a Níger<br />

(2002), a fim de verificar a procedência<br />

das informações sobre a expedição ao Iraque<br />

de tubos de alumínio para conectar o<br />

reator, do que resultara sua firme convicção<br />

de tudo não passar de puro embuste,<br />

ou de fantasia.<br />

De qualquer forma, porém, Liman,<br />

que tem a seu crédito A identidade Bourne,<br />

realiza um trabalho correto, sem ser, em<br />

nenhum momento, empolgante, como o<br />

de Paul Greengrass em Zona Verde, um<br />

documento magnífico sobre a guerra do<br />

Iraque. Isso porque ele relega as implicações<br />

políticas do caso, como a liberação,<br />

por Bush, usando seu poder de clemência,<br />

de Libby, o falastrão, condenado a<br />

dois anos de prisão e ao pagamento de<br />

multa de 250 mil dólares. Vale, sob esse<br />

aspecto da impunidade, observar a irônica<br />

insinuação feita por Joe Wilson a um<br />

taxista, quando este tenta estabelecer um<br />

paralelo entre a “democracia” de seu país,<br />

Serra Leoa, e a dos EUA.<br />

A direção de Liman se apoia nas interpretações<br />

de Naomi Watts e de Sean<br />

Penn, que pela terceira vez atuam juntos.<br />

Os dois atores estão muito bem na reconstituição<br />

do conflito verdade versus mentira,<br />

que põe em perigo sua vida conjugal.<br />

Watts, que, aos 41 anos, experimenta os<br />

melhores momentos de sua carreira, sublinha<br />

a mutação na fisionomia de Plame,<br />

causada pelo abalado ânimo profissional,<br />

a qual ela procura evitar a todo custo que<br />

afete a estabilidade doméstica. Quando<br />

ela vai em visita aos pais Sam Plame (Sam<br />

Shepard) e Diana (Brooke Smith), mostra<br />

como a personagem faz reflexão sobre os<br />

caminhos que daí por diante terá a seguir<br />

em defesa de seu lar. Sean Penn, por sua<br />

vez, mais gordo e envelhecido, empresta a<br />

Joe Wilson a exata máscara fisionômica<br />

de quem se sente como se fora peça descartada<br />

no jogo.<br />

Jogo de poder (Fair game)<br />

EUA / 2010, 108 min. Direção: Doug<br />

Liman. <strong>Roteiro</strong>: Jez e John Butterworth,<br />

baseado nos livros Fair game: my life as<br />

a spy, my betrayal by the White House, de<br />

Valerie Plame, e Politica da verdade, de Joe<br />

Wilson. Com Naomi Watts, Sean Penn, Sam<br />

Shepard, Brooke Smith, Khaled El Nabawy,<br />

Ty Burrell, Noah Emmerich e Bruce McGill.

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