de nutrição em pediatria - Sociedade Brasileira de Pediatria
de nutrição em pediatria - Sociedade Brasileira de Pediatria
de nutrição em pediatria - Sociedade Brasileira de Pediatria
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Fascículo 3 - Ano 2004<br />
t<strong>em</strong>as<br />
<strong>de</strong> nutrição <strong>em</strong> <strong>pediatria</strong><br />
Publicação elaborada pelo Departamento <strong>de</strong><br />
Nutrição da Socieda<strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>
Fascículo 3 - Ano 2004<br />
t<strong>em</strong>as<br />
<strong>de</strong> nutrição <strong>em</strong> <strong>pediatria</strong><br />
Publicação elaborada pelo Departamento <strong>de</strong><br />
Nutrição da Socieda<strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>
Prezado(a) Colega:<br />
E<br />
ste<br />
é o último volume da publicação T<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Nutrição <strong>em</strong> <strong>Pediatria</strong>, resultado do<br />
<strong>de</strong>dicado trabalho <strong>de</strong> nosso Departamento Científico <strong>de</strong> Nutrição.<br />
Neste terceiro fascículo, são abordados <strong>de</strong> forma didática e objetiva t<strong>em</strong>as como a alimentação<br />
nos primeiros anos <strong>de</strong> vida, imunomodulação, alimentos funcionais e erros natos<br />
do metabolismo.<br />
Assuntos atuais e bastante polêmicos como a nutrição e ativida<strong>de</strong> física, b<strong>em</strong> como os<br />
transtornos alimentares (anorexia e bulimia) também têm espaço nesta publicação, que<br />
preten<strong>de</strong> ser muito útil aos colegas na prática diária da <strong>pediatria</strong>.<br />
Aproveitamos, mais uma vez, para levar nossos cumprimentos a todo o Departamento <strong>de</strong><br />
Nutrição por esta excelente obra e pela gran<strong>de</strong> contribuição que t<strong>em</strong> dado à Socieda<strong>de</strong><br />
<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>.<br />
Um gran<strong>de</strong> abraço,<br />
Lincoln Marcelo Silveira Freire<br />
Presi<strong>de</strong>nte da SBP<br />
2
O<br />
Departamento <strong>de</strong> Nutrição (DN) da SBP, patrocinado por Nestlé Brasil Ltda, t<strong>em</strong><br />
duas reuniões anuais, quando são discutidos t<strong>em</strong>as <strong>de</strong> relevância na área <strong>de</strong><br />
Nutrição, <strong>de</strong> interesse do pediatra. Estamos seguindo uma forma <strong>de</strong> trabalho que<br />
propicia atuação ampla, <strong>em</strong> pouco t<strong>em</strong>po.<br />
A técnica resume-se <strong>em</strong> convidar especialista na área que será abordada e solicitar que<br />
apresente um relatório sobre o t<strong>em</strong>a <strong>em</strong> pauta. Os componentes<br />
do DN receb<strong>em</strong> o documento com antecedência, levantam suas dúvidas e sugestões e as<br />
apresentam por ocasião da discussão dos t<strong>em</strong>as. O relator respon<strong>de</strong> às dúvidas e os<br />
componentes do grupo discut<strong>em</strong> e aprovam, ou não, os relatórios e/ou sugestões.<br />
Resulta, portanto, um documento final com a participação efetiva <strong>de</strong> todos os m<strong>em</strong>bros.<br />
A Nestlé aceitou a sugestão <strong>de</strong> publicar os t<strong>em</strong>as que foram aprovados, nas duas<br />
reuniões anuais.<br />
Os t<strong>em</strong>as que serão abordados nesse fascículo são:<br />
VOLUME 1<br />
• Alimentação da Criança nos Primeiros Anos <strong>de</strong> Vida<br />
VOLUME 2<br />
• Imunomodulação: Glutamina, Arginina, Omega 3, Zinco, Cromo, Selênio, Nucleotí<strong>de</strong>os.<br />
VOLUME 3<br />
• Alimentos Funcionais<br />
VOLUME 4<br />
• Distúrbios do Comportamento Alimentar: Anorexia e Bulimia<br />
VOLUME 5<br />
• Nutrição e Ativida<strong>de</strong> Física<br />
VOLUME 6<br />
• Erros Inatos do Metabolismo<br />
Ao divulgar esta introdução não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer à Nestlé Brasil Ltda. pela<br />
sua participação na publicação e divulgação <strong>de</strong>sses t<strong>em</strong>as que, acreditamos, serão úteis ao<br />
pediatra brasileiro.<br />
Prof. Dr. Fernando José <strong>de</strong> Nóbrega<br />
Presi<strong>de</strong>nte do Departamento <strong>de</strong> Nutrição da SBP<br />
3
DIRETORIA - SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (2001-2003)<br />
Presi<strong>de</strong>nte:<br />
Lincoln Marcelo Silveira Freire<br />
1º Vice-Presi<strong>de</strong>nte:<br />
Dioclécio Campos Júnior<br />
2º Vice-Presi<strong>de</strong>nte:<br />
João Cândido <strong>de</strong> Souza Borges<br />
Secretário Geral:<br />
Eduardo da Silva Vaz<br />
1º Secretário:<br />
Vera Lúcia Queiroz Bomfim Pereira<br />
2º Secretário:<br />
Marisa Bicalho P. Rodrigues<br />
3º Secretário:<br />
Fernando Filizzola <strong>de</strong> Mattos<br />
1º Diretor Financeiro:<br />
Carlindo <strong>de</strong> Souza Machado e Silva Filho<br />
2º Diretor Financeiro:<br />
Ana Maria Seguro Meyge<br />
Diretoria <strong>de</strong> Patrimônio:<br />
Mário José Ventura Marques<br />
Coor<strong>de</strong>nador do Selo:<br />
Claudio Leone<br />
Coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> Informática:<br />
Eduardo Carlos Tavares<br />
Conselho Acadêmico<br />
Presi<strong>de</strong>nte:<br />
Reinaldo Menezes Martins<br />
Secretário:<br />
Nelson Grisard<br />
Conselho Fiscal:<br />
Raimunda Nazaré Monteiro Lustosa<br />
Sara Lopes Valentim<br />
Nilzete Liberato Bresolin<br />
Assessorias da Presidência:<br />
Pedro Celiny Ramos Garcia<br />
Fernando Antônio Santos Werneck<br />
Claudio Leone<br />
Luciana Rodrigues Silva<br />
Nelson <strong>de</strong> Carvalho Assis Barros<br />
Reinaldo Menezes Martins<br />
Diretoria <strong>de</strong> Qualificação e Certificação<br />
Profissional:<br />
Clóvis Francisco Constantino<br />
Coor<strong>de</strong>nador do CEXTEP:<br />
Hélcio Villaça Simões<br />
Coor<strong>de</strong>nador da Área <strong>de</strong> Atuação:<br />
José Hugo Lins Pessoa<br />
Coor<strong>de</strong>nador da Recertificação:<br />
José Martins Filho<br />
Diretor <strong>de</strong> Relações Internacionais:<br />
Fernando José <strong>de</strong> Nóbrega<br />
Representantes:<br />
ALAPE: Mário Santoro Jr.<br />
AAP: Conceição Aparecida <strong>de</strong> M. Segre<br />
IPA: Sérgio Augusto Cabral<br />
Mercosul: R<strong>em</strong>aclo Fischer Júnior<br />
Diretor dos Departamentos Científicos:<br />
Nelson Augusto Rosário Filho<br />
Diretoria <strong>de</strong> Cursos e Eventos:<br />
Dirceu Solé<br />
Coor<strong>de</strong>nador da Reanimação Neonatal:<br />
José Orleans da Costa<br />
Coor<strong>de</strong>nador da Reanimação Pediátrica:<br />
Paulo Roberto Antonacci Carvalho<br />
Coor<strong>de</strong>nador dos Serões:<br />
Edmar <strong>de</strong> Azambuja Salles<br />
Centro <strong>de</strong> Treinamento <strong>em</strong> Serviços:<br />
Coor<strong>de</strong>nador: Mário Cícero Falcão<br />
Coor<strong>de</strong>nador dos Congressos e Eventos:<br />
Álvaro Machado Neto<br />
Coor<strong>de</strong>nador do CIRAPs:<br />
Maria O<strong>de</strong>te Esteves Hilário<br />
Diretoria <strong>de</strong> Ensino e Pesquisa:<br />
Lícia Maria Oliveira Moreira<br />
Coor<strong>de</strong>nadora da Graduação:<br />
Rosana Fiorini Puccini<br />
Residência e Estágio-Cre<strong>de</strong>nciamento:<br />
Coor<strong>de</strong>nadora: Clei<strong>de</strong> Enoir P. Trinda<strong>de</strong><br />
Residência e Estágio - Programas:<br />
Coor<strong>de</strong>nador: Aloísio Prado Marra<br />
Coor<strong>de</strong>nador da Pós-Graduação:<br />
Francisco José Penna<br />
Coor<strong>de</strong>nador da Pesquisa:<br />
Marco Antônio Barbieri<br />
Diretoria <strong>de</strong> Publicações da SBP:<br />
Diretor <strong>de</strong> Publicações:<br />
Renato Soibelmann Procianoy<br />
Editor do Jornal <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>:<br />
Renato Soibelmann Procianoy<br />
Coor<strong>de</strong>nador do PRONAP:<br />
João Coriolano Rego Barros<br />
Coor<strong>de</strong>nador dos Correios da SBP:<br />
Antonio Carlos Pastorino<br />
Documentos Científicos:<br />
Coor<strong>de</strong>nador: Paulo <strong>de</strong> Jesus H. Na<strong>de</strong>r<br />
Centro <strong>de</strong> Informações Científicas:<br />
Coor<strong>de</strong>nador:<br />
Ércio Amaro <strong>de</strong> Oliveira Filho<br />
Diretoria <strong>de</strong> Benefícios e Previdência:<br />
Guilherme Mariz Maia<br />
Diretor Adjunto:<br />
Roberto Moraes Rezen<strong>de</strong><br />
Diretor <strong>de</strong> Defesa Profissional:<br />
Mário Lavorato da Rocha<br />
Diretoria da Promoção Social da Criança<br />
e do Adolescente:<br />
João <strong>de</strong> Melo Régis Filho<br />
Promoção <strong>de</strong> Campanhas:<br />
Coor<strong>de</strong>nadora: Rachel Niskier Sanchez<br />
Defesa da Criança e do Adolescente:<br />
Coor<strong>de</strong>nadora: Célia Maria Stolze Silvany<br />
Comissão <strong>de</strong> Sindicância:<br />
Coor<strong>de</strong>nadores:<br />
Euze Márcio Souza Carvalho<br />
José Gonçalves Sobrinho<br />
Rossiclei <strong>de</strong> Souza Pinheiro<br />
Antônio Rubens Alvarenga<br />
Mariângela <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros Barbosa<br />
DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO<br />
NÚCLEO GERENCIAL<br />
Presi<strong>de</strong>nte<br />
Fernando José <strong>de</strong> Nóbrega (SP)<br />
Vice-Presi<strong>de</strong>nte<br />
Fernanda Luisa C. Oliveira (SP)<br />
Secretário<br />
Roseli Saccardo Sarni (SP)<br />
CONSELHO CIENTÍFICO<br />
Antonio <strong>de</strong> Azevedo Barros Filho (SP)<br />
Ary Lopes Cardoso (SP)<br />
Cristina Maria Gomes do Monte (CE)<br />
Elza Daniel <strong>de</strong> Mello (RS)<br />
Fernanda Luisa C. Oliveira (SP)<br />
Hélio Fernan<strong>de</strong>s da Rocha (RJ)<br />
Luiz An<strong>de</strong>rson Lopes (SP)<br />
Maria Arlete Meil Schmith Escrivão (SP)<br />
Maria Marlene <strong>de</strong> Souza Pires (SC)<br />
Paulo Pimenta <strong>de</strong> Figueiredo Filho (MG)<br />
Severino Dantas Filho (ES)<br />
Virgínia Resen<strong>de</strong> Silva Weffort (MG)<br />
Socieda<strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong><br />
Rua Santa Clara, 292 -<br />
Copacabana - Rio <strong>de</strong> Janeiro - RJ<br />
CEP. 22041-010<br />
Tel.: (021) 548-1999<br />
e-mail: sbp@sbp.com.br<br />
Departamento <strong>de</strong> Nutrição / SBP<br />
Rua Traipu, 1251 - Perdizes<br />
São Paulo - SP - CEP. 01235-000 -<br />
Tel.: (011) 3107-6710 / 3872-1804<br />
e-mail: fjnobrega@sti.com.br -<br />
Fax: (011) 3872-1001<br />
5
Volume 1 - Ano 2004<br />
t<strong>em</strong>as<br />
<strong>de</strong> nutrição <strong>em</strong> <strong>pediatria</strong><br />
Publicação elaborada pelo Departamento <strong>de</strong><br />
Nutrição da Socieda<strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong><br />
7
Alimentação da Criança<br />
nos Primeiros Anos <strong>de</strong> Vida<br />
Relatoras: Roseli Saccardo Sarni<br />
e Kazue Sato<br />
INTRODUÇÃO<br />
O estabelecimento <strong>de</strong> normas para alimentação na infância não <strong>de</strong>ve se<br />
restringir apenas às necessida<strong>de</strong>s orgânicas da criança. Sendo o alimento<br />
uma das principais formas <strong>de</strong> contato com o mundo externo, nos primeiros<br />
anos <strong>de</strong> vida, é prioritário que o <strong>de</strong>senvolvimento neurológico e o<br />
<strong>em</strong>ocional sejam respeitados.<br />
O primeiro ano <strong>de</strong> vida caracteriza-se por velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimento<br />
elevada, com correspon<strong>de</strong>nte aumento das necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> macro e<br />
micronutrientes o que torna as crianças mais vulneráveis a qualquer espécie<br />
<strong>de</strong> agravo nutricional nesta fase da vida.<br />
Í N D I C E<br />
A falta <strong>de</strong> normatizações recentes t<strong>em</strong> favorecido o uso ina<strong>de</strong>quado <strong>de</strong><br />
alimentos. A interrupção precoce do aleitamento materno e a preconização<br />
<strong>de</strong> alimentos com baixos níveis <strong>de</strong> ferro, utilizados por t<strong>em</strong>po prolongado,<br />
1. Alimentação da Criança<br />
nos Primeiros Anos <strong>de</strong> Vida<br />
pág 8<br />
favorec<strong>em</strong> a alta prevalência <strong>de</strong> an<strong>em</strong>ia, um dos ex<strong>em</strong>plos da ina<strong>de</strong>quação<br />
da dieta às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> nutrientes da criança.<br />
As recomendações <strong>de</strong> nutrientes sofr<strong>em</strong> variações <strong>de</strong> acordo com a faixa<br />
etária <strong>em</strong> função da velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimento e po<strong>de</strong>m ser vistas no Anexo 1.<br />
2. Imunomodulação<br />
3. Alimentos Funcionais<br />
pág 16<br />
pág 46<br />
O Ministério da Saú<strong>de</strong>/OPAS e Socieda<strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong><br />
estabeleceram <strong>de</strong>z passos da alimentação saudável para crianças brasileiras<br />
menores <strong>de</strong> dois anos:<br />
Passo 1. Dar somente leite materno até os seis meses, s<strong>em</strong> oferecer água,<br />
chás ou quaisquer outros alimentos<br />
Passo 2. A partir dos seis meses, oferecer <strong>de</strong> forma lenta e gradual outro<br />
alimentos, mantendo o leite materno até 2 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />
4. Distúrbios do Comportamento<br />
Alimentar: Anorexia e Bulimia<br />
pág 52<br />
5. Nutrição e Ativida<strong>de</strong> Física<br />
pág 66<br />
6. Erros Inatos do Metabolismo<br />
pág 82<br />
Passo 3. A partir dos seis meses, dar alimentos compl<strong>em</strong>entares (cereais,<br />
tubérculos, carnes, leguminosas, frutas, legumes) três vezes ao dia, se a<br />
criança receber leite materno e cinco vezes ao dia, se não estiver <strong>em</strong><br />
aleitamento materno<br />
Passo 4. A alimentação compl<strong>em</strong>entar <strong>de</strong>verá ser oferecida s<strong>em</strong> rigi<strong>de</strong>z <strong>de</strong><br />
horários, respeitando-se s<strong>em</strong>pre a vonta<strong>de</strong> da criança<br />
Passo 5. A alimentação compl<strong>em</strong>entar <strong>de</strong>ve ser espessa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início e<br />
oferecida <strong>de</strong> colher; começar com consistência pastosa (papas e purês) e,<br />
gradativamente, aumentar a sua consistência até chegar na alimentação da<br />
família<br />
8
Passo 6. Oferecer à criança diferentes alimentos ao dia.<br />
“Uma alimentação variada é uma alimentação colorida<br />
Passo 7. Estimular o consumo diário <strong>de</strong> frutas, verduras e<br />
legumes nas refeições<br />
Passo 8. Evitar açúcar, café, enlatados, frituras,<br />
refrigerante, balas, salgadinhos e outras guloseimas nos<br />
primeiros anos <strong>de</strong> vida. Usar sal com mo<strong>de</strong>ração<br />
Passo 9. Cuidar da higiene no preparo e manuseio dos<br />
alimentos; garantir o seu armazenamento e conservação<br />
a<strong>de</strong>quados<br />
Passo 10. Estimular a criança doente e convalescente a se<br />
alimentar, oferecendo sua alimentação habitual e seus<br />
alimentos preferidos, respeitando sua aceitação.<br />
ALEITAMENTO MATERNO<br />
Imediatamente após o parto, <strong>de</strong>ve-se iniciar o aleitamento<br />
natural, sob regime <strong>de</strong> livre <strong>de</strong>manda, s<strong>em</strong> horários<br />
pré-fixados, ressaltando-se a importância do alojamento<br />
conjunto para a obtenção <strong>de</strong>ste objetivo. A criança<br />
mamará quando e por quanto t<strong>em</strong>po quiser, <strong>em</strong> uma ou<br />
duas mamas, respeitando-se a alternância, ou seja, a<br />
mama oferecida por último na mamada anterior, <strong>de</strong>verá<br />
ser a primeira na próxima. O apoio, orientações quanto às<br />
técnicas corretas e o atendimento precoce às<br />
intercorrências é fundamental para o êxito <strong>de</strong>sta prática.<br />
A nomenclatura proposta pela Organização Mundial da<br />
Saú<strong>de</strong> (OMS) adota as seguintes categorias <strong>de</strong> aleitamento<br />
materno (OPAS,OMS/1991):<br />
• aleitamento materno exclusivo: quando a criança recebe<br />
somente leite materno, diretamente da mama ou extraído<br />
e n<strong>em</strong>hum outro líquido ou sólido, com exceção <strong>de</strong> gotas<br />
ou xaropes <strong>de</strong> vitaminas, minerais e/ou medicamentos;<br />
• aleitamento materno predominante: quando o lactente<br />
recebe, além do leite materno, água ou bebidas à base<br />
<strong>de</strong> água, como sucos <strong>de</strong> frutas e chás;<br />
• aleitamento materno: quando a criança recebe leite<br />
materno, diretamente do seio ou extraído, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />
<strong>de</strong> estar recebendo qualquer alimento ou líquido,<br />
incluindo leite não humano<br />
A introdução <strong>de</strong> líquidos (água e/ou chá) não é necessária,<br />
po<strong>de</strong>ndo inclusive ser contraproducente para a<br />
manutenção do aleitamento materno.<br />
A utilização exclusiva do leite materno <strong>de</strong>ve se esten<strong>de</strong>r até<br />
o sexto mês <strong>de</strong> vida. Qualquer <strong>de</strong>saceleração na<br />
velocida<strong>de</strong> do ganho <strong>de</strong> peso <strong>de</strong>ve ser criteriosamente<br />
avaliada pelo pediatra evitando-se <strong>de</strong>sta forma a<br />
introdução in<strong>de</strong>vida <strong>de</strong> outros alimentos.<br />
Introdução <strong>de</strong> Alimentos Compl<strong>em</strong>entares<br />
Alimentação compl<strong>em</strong>entar consiste na introdução <strong>de</strong><br />
qualquer tipo <strong>de</strong> alimento na dieta <strong>de</strong> uma criança, que<br />
até então se encontrava <strong>em</strong> regime <strong>de</strong> aleitamento<br />
materno exclusivo. Alimentos <strong>de</strong> transição, anteriormente<br />
<strong>de</strong>signados “alimentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>smame””, se refer<strong>em</strong> a<br />
alimentos especialmente preparados para crianças<br />
pequenas, até que elas pass<strong>em</strong> a se alimentar <strong>de</strong> alimentos<br />
consumidos pela família. O termo “alimentos <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>smame” <strong>de</strong>ve ser evitado, pois sugere que o seu objetivo<br />
seria o <strong>de</strong>smame e não a compl<strong>em</strong>entação do leite materno.<br />
A introdução da alimentação compl<strong>em</strong>entar é uma fase <strong>de</strong><br />
elevado risco para a criança, tanto pela administração <strong>de</strong><br />
alimentos ina<strong>de</strong>quados, quanto pelo risco <strong>de</strong><br />
contaminação que po<strong>de</strong> favorecer a ocorrência <strong>de</strong> doença<br />
diarréica e <strong>de</strong>snutrição. A a<strong>de</strong>quada orientação da mãe<br />
nesse período por profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> é <strong>de</strong> fundamental<br />
importância.<br />
Alimentos Compl<strong>em</strong>entares<br />
As recomendações nutricionais serv<strong>em</strong> como guia para<br />
estimar as necessida<strong>de</strong>s nutricionais <strong>em</strong>bora, muitos dados<br />
sejam extrapolados. Nessas recomendações são acrescidas<br />
margens <strong>de</strong> segurança que as caracterizam como<br />
superestimadas entretanto, são utilizadas com freqüência<br />
<strong>em</strong> padronizações ou guias <strong>de</strong> conduta.<br />
As necessida<strong>de</strong>s energéticas são variáveis e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do<br />
metabolismo basal, ativida<strong>de</strong> física e tamanho corporal.<br />
Assim consi<strong>de</strong>ramos mais a<strong>de</strong>quada a necessida<strong>de</strong><br />
proposta pela OMS que consi<strong>de</strong>ra o gasto energético basal<br />
e a energia utilizada para o crescimento e ativida<strong>de</strong>:<br />
9
DISTRIBUIÇÃO DAS NECESSIDADES CALÓRICAS EM LACTENTES E CRIANÇAS<br />
SADIAS EM CRESCIMENTO (Kcal/Kg/dia)<br />
IDADE TMB ATIVIDADE CRESCIMENTO TOTAL TMB/<br />
TOTAL (%)<br />
Muito baixo<br />
peso<br />
< 1 ano<br />
1 ano<br />
2 anos<br />
5 anos<br />
47<br />
55<br />
55<br />
55<br />
47<br />
15<br />
15<br />
35<br />
45<br />
38<br />
67<br />
40<br />
20<br />
5<br />
2<br />
130<br />
110<br />
110<br />
100<br />
87<br />
36<br />
50<br />
50<br />
50<br />
54<br />
Proteínas: carnes, vísceras, ovos, leite<br />
e <strong>de</strong>rivados, leguminosas (feijão, soja,<br />
lentilha, grão <strong>de</strong> bico, ervilha). A<br />
mistura das proteínas <strong>de</strong> alguns<br />
alimentos <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> vegetal (ex:<br />
arroz e feijão na proporção <strong>de</strong> 3:1)<br />
permite a formação <strong>de</strong> proteínas <strong>de</strong><br />
alto valor biológico.<br />
Vitaminas e sais minerais: frutas <strong>em</strong><br />
geral, hortaliças (legumes e verduras).<br />
Ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> verduras: couve, agrião,<br />
espinafre, repolho e <strong>de</strong> legumes:<br />
beterraba, cenoura, abóbora,<br />
mandioquinha, chuchu.<br />
10 anos 37<br />
38<br />
2<br />
77<br />
*TMB - Taxa Metabólica Basal.<br />
Current Concepts in Pediatric Critical Care - Society of Critical Care Medicine, 1999.<br />
Na elaboração da dieta é necessário l<strong>em</strong>brar que a mesma<br />
<strong>de</strong>ve ser composta por alimentos diversos, que forneçam<br />
diferentes tipos <strong>de</strong> nutrientes. A distribuição das calorias<br />
totais ten<strong>de</strong> a seguir as seguintes proporções <strong>de</strong><br />
macronutrientes: carboidratos (30 a 50%), lipí<strong>de</strong>os (30 a<br />
40%), proteínas (10 a 20%).<br />
Para cálculo da oferta energética estima-se que as crianças<br />
amamentadas, <strong>em</strong> média, recebam pelo leite materno <strong>de</strong><br />
6 a 9 meses 473 CAL/dia, dos 9 aos 11 meses e <strong>de</strong> 12 a<br />
23 meses 346 CAL/dia. O leite materno fornece 0,7 Cal/ml<br />
e os alimentos compl<strong>em</strong>entares <strong>de</strong>v<strong>em</strong> conter <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />
energética mínima <strong>de</strong> 0,7 CAL/g. Por esse motivo <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os<br />
evitar o termo sopa que sugeriria alimento diluído<br />
preferindo a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> papa, que sugere maior<br />
<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> energética.<br />
Ferro: é encontrado sob duas formas:<br />
48<br />
• h<strong>em</strong>e (boa biodisponibilida<strong>de</strong>):<br />
carnes e vísceras;<br />
• não h<strong>em</strong>e (baixa<br />
biodisponibilida<strong>de</strong>): leguminosas<br />
(feijão, soja, lentilha) e verduras <strong>de</strong> folha ver<strong>de</strong> escuro.<br />
A administração conjunta <strong>de</strong>sta forma com sucos (fontes<br />
<strong>de</strong> vitamina C) melhora o aproveitamento do ferro.<br />
Alimentação a partir dos seis meses <strong>de</strong> vida<br />
O Aleitamento Materno <strong>de</strong>ve continuar.<br />
As frutas po<strong>de</strong>m ser iniciadas sob a forma <strong>de</strong> sucos (uma<br />
vez ao dia) ou papas, s<strong>em</strong>pre às colheradas. As frutas não<br />
substituirão a mamada e serão inseridas nos intervalos.<br />
O tipo <strong>de</strong> fruta a ser oferecido terá <strong>de</strong> respeitar as<br />
características regionais, custo, estação do ano e presença<br />
<strong>de</strong> fibras, l<strong>em</strong>brando que nenhuma fruta é contraindicada.<br />
A seguir <strong>de</strong>stacamos os principais alimentos distribuídos<br />
como fontes:<br />
Carboidratos: cereais (arroz, milho, trigo, aveia),<br />
tubérculos (mandioca, cará, batata), e farinhas <strong>de</strong>rivadas.<br />
São todos fornecedores <strong>de</strong> calorias.<br />
Gorduras: óleos vegetais, margarina e manteiga. São<br />
igualmente importantes no fornecimento <strong>de</strong> energia.<br />
A partir dos seis meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, a criança começa a<br />
receber a sua primeira refeição <strong>de</strong> sal no horário habitual<br />
<strong>de</strong> almoço, po<strong>de</strong>ndo utilizar os mesmos alimentos da<br />
família, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que cont<strong>em</strong>ple os alimentos abaixo:<br />
(Anexo 2).<br />
• cereais e tubérculos;<br />
• leguminosas;<br />
10
• carne – 30 gramas (vaca, frango ou víscera, <strong>em</strong><br />
especial o fígado, peixes são recomendados a partir<br />
dos 11 meses);<br />
• hortaliças (verduras e legumes);<br />
• óleo vegetal;<br />
• sal e cebola, respeitando-se o t<strong>em</strong>pero habitual da casa<br />
(<strong>em</strong> menor quantida<strong>de</strong> e evitando-se condimentos fortes<br />
como pimenta, corantes, etc)<br />
Dá-se preferência às misturas múltiplas on<strong>de</strong> encontramos<br />
um tubérculo ou cereal associado a leguminosa,<br />
óleo vegetal, proteína <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> animal e hortaliça<br />
ou vegetal.<br />
O t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> cozimento <strong>de</strong>ve ser progressivamente<br />
aumentado <strong>de</strong> forma a diminuir, pela evaporação a<br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água residual da papa, modificando assim,<br />
lentamente, a consistência da mesma e favorecendo<br />
melhor oferta calórica. Após o cozimento, os alimentos<br />
<strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser amassados com garfo, nunca utilizando-se<br />
o liquidificador.<br />
As tentativas para melhorar a aceitação das papas, como<br />
acréscimo <strong>de</strong> açúcar e leite, não <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser incentivadas,<br />
pois po<strong>de</strong>m prejudicar a adaptação da criança às<br />
modificações <strong>de</strong> sabor e consistência das dietas.<br />
A exposição freqüente facilita que alimentos novos sejam<br />
aceitos. Em média, são necessárias <strong>de</strong> 8 a 10 exposições a<br />
um novo alimento para que ele seja plenamente aceito<br />
pela criança.<br />
Deve-se iniciar a administração <strong>de</strong> ovo, inicialmente<br />
cozido. Consi<strong>de</strong>rar a existência <strong>de</strong> história familiar <strong>de</strong><br />
atopia quando da introdução da clara <strong>de</strong> ovo e outras<br />
proteínas potencialmente alergênicas. L<strong>em</strong>brar também,<br />
que a substituição do carne pelo ovo, po<strong>de</strong> ser indicada<br />
<strong>em</strong> termos <strong>de</strong> oferta protéica e lipídica, mas não <strong>em</strong><br />
relação ao ferro, uma vez que, a biodisponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse<br />
el<strong>em</strong>ento contido no ovo é pequena.<br />
Entre 7 e 8 meses <strong>de</strong>verá ser introduzida a segunda<br />
refeição <strong>de</strong> sal, sendo que a partir dos 8 meses po<strong>de</strong>m ser<br />
oferecidos os mesmos alimentos preparados para a família,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que amassados, picados ou cortados <strong>em</strong> pedaços<br />
pequenos, respeitando-se a evolução da criança.<br />
Uso <strong>de</strong> Fórmulas Infantis e Leite <strong>de</strong> Vaca<br />
A. Fórmulas Infantis:<br />
Na impossibilida<strong>de</strong> do aleitamento materno exclusivo<br />
recomenda-se o uso <strong>de</strong> fórmula infantil para lactente que<br />
consiste <strong>em</strong> produto <strong>em</strong> forma líquida ou pó, <strong>de</strong>stinado à<br />
alimentação <strong>de</strong> crianças, até o sexto mês, que satisfaz as<br />
necessida<strong>de</strong>s nutricionais <strong>de</strong>ste grupo etário (Portaria<br />
977/98 SVS/MS). A partir do sexto mês recomenda-se uma<br />
fórmula infantil para seguimento <strong>de</strong> lactentes.<br />
No entanto, algumas vantagens do leite materno <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />
ser <strong>de</strong>stacadas:<br />
• ácidos graxos polinsaturados <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia longa:<br />
a limitada capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> elongação do RN<br />
(principalmente pelo pr<strong>em</strong>aturo) dificulta a conversão<br />
dos AG linoléico e linolênico <strong>em</strong> aracdônico e<br />
docohexanóico (inexistentes nas fórmulas), consi<strong>de</strong>rados<br />
<strong>de</strong> fundamental importância para o processo <strong>de</strong><br />
mielinização e maturação do SNC e retina;<br />
• oligoel<strong>em</strong>entos: existe competição entre os<br />
oligoel<strong>em</strong>entos, visto que, são administrados na forma<br />
<strong>de</strong> sulfatos e no leite materno encontram-se ligados a<br />
aminoácidos;<br />
• imunoglobulinas e outros fatores <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa:<br />
inexistentes nas fórmulas;<br />
• nucleotí<strong>de</strong>os: compostos nitrogenados com provável<br />
efeito protetor contra processos infecciosos além <strong>de</strong> ação<br />
na integrida<strong>de</strong> da mucosa intestinal. São encontrados<br />
<strong>em</strong> proporções a<strong>de</strong>quadas somente no leite materno e<br />
algumas fórmulas infantis;<br />
• proteínas: as fórmulas apresentam proteínas com<br />
conhecido potencial alergênico (frações da caseína e<br />
beta-lactoglobulina) capazes <strong>de</strong> induzir à sensibilização e<br />
o aparecimento <strong>de</strong> manifestações clínicas <strong>de</strong><br />
hipersensibilida<strong>de</strong>, particularmente, se introduzidas nos<br />
três primeiros meses <strong>de</strong> vida;<br />
• lactose: algumas fórmulas apresentam a mesma<br />
proporção <strong>de</strong> lactose observada no leite materno,<br />
entretanto não contêm todos os fatores facilitadores para<br />
absorção <strong>de</strong>ste carboidrato.<br />
11
B. Leite <strong>de</strong> Vaca<br />
Em algumas situações, po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os estar lidando com<br />
crianças <strong>de</strong> muito baixa condição econômica, s<strong>em</strong> acesso<br />
às fórmulas e, nestes casos, não t<strong>em</strong>os outra solução, a<br />
não ser, a utilização do leite <strong>de</strong> vaca, não modificado,<br />
fluído ou <strong>em</strong> pó. Este <strong>de</strong>ve ser usado na proporção a<br />
dois terços ou a 10% (leite <strong>em</strong> pó) até os quatro meses,<br />
passando a integral s<strong>em</strong> diluição (fluído) ou 15% (leite<br />
<strong>em</strong> pó) a partir <strong>de</strong>sta ida<strong>de</strong>.<br />
Deve-se acrescentar até 5% <strong>de</strong> sacarose e 1% <strong>de</strong> óleo <strong>de</strong><br />
soja ou milho para as crianças abaixo <strong>de</strong> 4 meses,<br />
utilizando-se medidas caseiras padronizadas: leite <strong>em</strong> pó<br />
1 colher <strong>de</strong> sopa rasa = 5 g, Farinha 1 colher <strong>de</strong> sopa rasa<br />
= 3 g, Óleo vegetal = 1 colher <strong>de</strong> chá = 2 ml. Em crianças<br />
acima <strong>de</strong> 4 meses, a recomendação é o acréscimo <strong>de</strong> 3%<br />
<strong>de</strong> amido (fubá, aveia, cr<strong>em</strong>e <strong>de</strong> arroz, cr<strong>em</strong>e <strong>de</strong> milho),<br />
5% <strong>de</strong> sacarose e/ou 3% <strong>de</strong> óleo <strong>de</strong> milho ou soja.<br />
Importante ressaltar que não se <strong>de</strong>ve introduzir o glúten<br />
antes dos 4 meses <strong>de</strong> vida (pelo risco <strong>de</strong> sensibilização).<br />
A utilização do leite <strong>de</strong> vaca, como único alimento, por<br />
período prolongado e <strong>em</strong> larga escala, leva à<br />
ina<strong>de</strong>quação no fornecimento <strong>de</strong> nutrientes,<br />
principalmente ferro e vitaminas. Isso é confirmado pela<br />
alta prevalência <strong>de</strong> carências nutricionais e aparecimento<br />
<strong>de</strong> intolerâncias <strong>de</strong>vido às características morfológicas e<br />
funcionais do trato gastrintestinal <strong>de</strong> crianças abaixo <strong>de</strong><br />
quatro meses <strong>de</strong> vida. As limitações para indicação do<br />
leite <strong>de</strong> vaca segu<strong>em</strong> as já citadas para as fórmulas,<br />
acrescidas <strong>de</strong>:<br />
proteínas: a relação caseína/proteínas do soro é<br />
ina<strong>de</strong>quada, dificultando sua digestão e absorção.<br />
Apresenta um elevado potencial <strong>de</strong> alergenicida<strong>de</strong>. Além<br />
disso, a <strong>de</strong>sproporção na relação proteína/calorias não<br />
protéicas po<strong>de</strong> comprometer o ganho pon<strong>de</strong>ral;<br />
carga <strong>de</strong> soluto renal: fornece taxas elevadas <strong>de</strong> sódio.<br />
Os RN <strong>de</strong> baixo peso são os maiores prejudicados;<br />
oligoel<strong>em</strong>entos: são fornecidas quantida<strong>de</strong>s<br />
insuficientes <strong>de</strong> todos os oligoel<strong>em</strong>entos, <strong>de</strong>stacando-se o<br />
Ferro, com biodisponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apenas 10 % no leite<br />
<strong>de</strong> vaca;<br />
carboidratos: a sua quantida<strong>de</strong> é insuficiente, sendo<br />
necessário o acréscimo <strong>de</strong> outros açúcares como a<br />
sacarose com elevado po<strong>de</strong>r cariogênico;<br />
lipí<strong>de</strong>os: baixos teores <strong>de</strong> ácido linoléico (10 vezes inferior<br />
às fórmulas), sendo necessário acréscimo <strong>de</strong> óleo <strong>de</strong> milho<br />
para o atendimento das necessida<strong>de</strong>s do RN, para se<br />
aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s do RN <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> ácidos<br />
linoléicos, recomenda-se o uso <strong>de</strong> óleo <strong>de</strong> milho ou soja;<br />
vitaminas: baixo níveis <strong>de</strong> vitaminas A, D, E e C.<br />
Fica claro, no entanto, na preconização da alimentação<br />
infantil, que por mais que se tente, nenhum alimento<br />
substitui <strong>de</strong> maneira a<strong>de</strong>quada o leite materno.<br />
Em uso <strong>de</strong> fórmulas infantis a introdução <strong>de</strong> alimentos não<br />
lácteos seguirá a mesma preconização <strong>de</strong> crianças <strong>em</strong><br />
aleitamento materno. Para as crianças com leite <strong>de</strong> vaca<br />
recomenda-se a introdução <strong>de</strong> frutas sob a forma <strong>de</strong> suco<br />
à partir do terceiro mês <strong>de</strong> vida e introdução da papa <strong>de</strong><br />
legumes com carne aos 4 meses.<br />
Supl<strong>em</strong>entação<br />
Vitaminas<br />
A partir da terceira s<strong>em</strong>ana <strong>de</strong> vida para os recém-nascidos<br />
<strong>de</strong> termo, ou da primeira s<strong>em</strong>ana nos pré-termo, até os<br />
<strong>de</strong>zoito meses, a criança <strong>de</strong>ve receber vitamina D, 400 a<br />
800 UI por dia e vitamina A, 1500 a 2000 UI por dia.<br />
Utilizam-se soluções do mercado que respeit<strong>em</strong> estas<br />
proporções, evitando-se composições múltiplas com outras<br />
vitaminas que encarec<strong>em</strong> o produto, s<strong>em</strong> vantagens<br />
adicionais. Embora esta rotina possa ser questionada <strong>em</strong><br />
crianças com aleitamento materno ou uso <strong>de</strong> fórmulas<br />
infantis, b<strong>em</strong> como, <strong>em</strong> áreas com gran<strong>de</strong> insolação,<br />
aceita-se a mesma como válida pelas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
exposição direta ao sol <strong>de</strong> forma satisfatória (poluição,<br />
apartamentos, etc).<br />
Ferro<br />
A recomendação do Departamento <strong>de</strong> Nutrição da SPSP,<br />
quanto à supl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> ferro, é a seguinte:<br />
12
1. Recém-nascidos <strong>de</strong> termo, <strong>de</strong> peso a<strong>de</strong>quado para a<br />
ida<strong>de</strong> gestacional:<br />
<strong>em</strong> aleitamento materno:<br />
• do 6º ao 24º mês <strong>de</strong> vida 1 mg <strong>de</strong> ferro el<strong>em</strong>entar/<br />
kg peso/dia,<br />
<strong>em</strong> caso <strong>de</strong> leite <strong>de</strong> vaca:<br />
• a partir da interrupção do aleitamento materno<br />
exclusivo até o 24º mês <strong>de</strong> vida 1mg <strong>de</strong> ferro<br />
el<strong>em</strong>entar/kg peso/dia.<br />
2. Pr<strong>em</strong>aturos e recém-nascidos <strong>de</strong> baixo peso:<br />
• a partir do 30º dia <strong>de</strong> vida 2 mg/kg peso/dia<br />
durante 2 meses.<br />
• após este prazo, mesmo esqu<strong>em</strong>a dos recém-nascidos<br />
<strong>de</strong> termo, <strong>de</strong> peso a<strong>de</strong>quado para a ida<strong>de</strong> gestacional.<br />
Flúor<br />
Em cida<strong>de</strong>s que não dispõ<strong>em</strong> <strong>de</strong> fluoretação da água<br />
<strong>de</strong>ve-se administrar o flúor, a partir do décimo quinto dia<br />
<strong>de</strong> vida até os quinze anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> (fase <strong>de</strong><br />
odontogênese) na proporção <strong>de</strong> 0,25 mg <strong>de</strong> flúor<br />
el<strong>em</strong>entar até um ano, 0,50 mg <strong>de</strong> 1 a 3 anos e 1,0 mg<br />
após os 3 primeiros anos (dose diária). Ao se propor a<br />
supl<strong>em</strong>entação, <strong>de</strong>ve-se atentar para regiões com elevada<br />
prevalência <strong>de</strong> fluorose.<br />
A solução <strong>de</strong> fluoreto <strong>de</strong> sódio <strong>de</strong> 221 mg <strong>em</strong> 20 ml <strong>de</strong><br />
água <strong>de</strong>stilada fornece esta dose, se usada uma gota/dia<br />
no primeiro ano <strong>de</strong> vida, duas gotas <strong>de</strong> 1 a 3 anos e<br />
quatro gotas, a partir dos 3 anos.<br />
O flúor não <strong>de</strong>ve ser administrado junto com o leite ou<br />
outros alimentos, mas po<strong>de</strong> ser usado com o suco <strong>de</strong><br />
laranja.<br />
Alimentação no Segundo Ano <strong>de</strong> Vida<br />
As refeições <strong>de</strong> sal <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser s<strong>em</strong>elhantes às dos adultos.<br />
Todos os tipos <strong>de</strong> carnes (frango, vaca e peixe) po<strong>de</strong>m ser<br />
utilizadas, b<strong>em</strong> como, vísceras. Deve-se estimular o<br />
consumo <strong>de</strong> verduras, l<strong>em</strong>brando-se que aquelas <strong>de</strong> folha<br />
ver<strong>de</strong> escuro apresentam maior teor <strong>de</strong> ferro, cálcio e<br />
vitaminas. L<strong>em</strong>brar, também que quando associadas a<br />
sucos (vitamina C) po<strong>de</strong>m melhorar a biodisponibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ste el<strong>em</strong>ento.<br />
Oferecer, diariamente, saladas cruas ou cozidas <strong>de</strong> verduras<br />
e legumes. a princípio o criança se recusa, mas a<br />
insistência (s<strong>em</strong> brigas e discussões, apenas com incentivo)<br />
faz com que se habitue a ingerir esses alimentos.<br />
Deve-se evitar a utilização <strong>de</strong> alimentos artificiais e<br />
corantes, <strong>em</strong> especial os “salgadinhos”, garantindo <strong>de</strong>sta<br />
forma, hábitos alimentares saudáveis.<br />
Como sobr<strong>em</strong>esa, utilizar frutas locais e da época, geléias<br />
ou compotas, <strong>de</strong> preferência caseiras.<br />
Para o lanche, estimular a utilização <strong>de</strong> pão com manteiga,<br />
biscoitos, geléias e cereais, preferencialmente, fortificados<br />
com ferro e vitaminas.<br />
Uma ingestão média <strong>de</strong> 500 ml <strong>de</strong> leite <strong>de</strong>ve ser<br />
incentivada, e os <strong>de</strong>rivados (iogurtes, queijos) também são<br />
contabilizados.<br />
O ato <strong>de</strong> alimentar-se <strong>de</strong>ve ser respeitado, realizado <strong>em</strong><br />
ambiente calmo, tranqüilo e <strong>em</strong>ocionalmente neutro, s<strong>em</strong><br />
pressões, agradável e, s<strong>em</strong>pre que possível, <strong>em</strong> companhia<br />
<strong>de</strong> familiares e outras crianças.<br />
Alimentação a partir dos Três Anos <strong>de</strong> Vida<br />
Nesta ida<strong>de</strong>, a média <strong>de</strong> quatro refeições ao dia <strong>de</strong>ve ser<br />
preconizada com horários estabelecidos, respeitando-se,<br />
porém, circunstâncias atenuantes, s<strong>em</strong> rigi<strong>de</strong>z.<br />
A alimentação oferecida <strong>de</strong>ve ser a mesma utilizada pelos<br />
adultos, evitando-se o consumo <strong>de</strong> doces e refrigerantes<br />
nos intervalos das refeições. Incentivar o consumo <strong>de</strong><br />
alimentos ricos <strong>em</strong> ferro (carnes, vísceras, leguminosas e<br />
verduras) e os ricos <strong>em</strong> carboidratos, <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência do<br />
aumento nas ativida<strong>de</strong>s físicas.<br />
Nesta fase todas as orientações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser adaptadas aos<br />
hábitos e condições sócio-econômicas da família, evitandose<br />
gastos supérfluos e estimulando hábitos saudáveis.<br />
13
ANEXO 1<br />
TIPOS DE LEITES<br />
Com o intuito <strong>de</strong> esclarecer algumas dúvidas sobre os<br />
leites disponíveis no mercado, far<strong>em</strong>os uma breve<br />
apresentação:<br />
• leite tipo A: <strong>de</strong> excelente qualida<strong>de</strong> microbiológica,<br />
extraído por or<strong>de</strong>nha mecânica, sendo pasteurizado e<br />
<strong>em</strong>balado na própria fazenda, não sendo retirada<br />
nenhuma parte da gordura;<br />
• leite tipo B: <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>, porém a contag<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong> microorganismos atinge níveis mais elevados que<br />
no tipo A. Ele não é pasteurizado e n<strong>em</strong> <strong>em</strong>balado<br />
na própria fazenda, transcorrendo um maior<br />
intervalo <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po entre a or<strong>de</strong>nha e a<br />
pasteurização;<br />
• leite tipo C: é um leite <strong>de</strong> baixa qualida<strong>de</strong><br />
apresentado, inclusive modificação <strong>de</strong> sabor. A causa<br />
é a elevada concentração <strong>de</strong> bactérias antes <strong>de</strong> sua<br />
pasteurização, pois ele, geralmente é entregue na<br />
plataforma <strong>de</strong> laticínios <strong>em</strong> t<strong>em</strong>peratura ambiente;<br />
• leite longa vida (UHT - ultra high t<strong>em</strong>perature):<br />
é um leite homogeneizado, processado a elevadas<br />
t<strong>em</strong>peraturas, <strong>de</strong> 135 a 150ºC por 2 a 4 segundos e<br />
imediatamente resfriado (ultra-pasteurização), s<strong>em</strong><br />
adição <strong>de</strong> outras substâncias, tais como: antibióticos<br />
ou formol. O resultado é a <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> todos os<br />
microorganismos que possam <strong>de</strong>senvolver-se nesse<br />
alimento. Após o processamento, ele é<br />
acondicionado <strong>em</strong> <strong>em</strong>balagens estéreis;<br />
• leite <strong>em</strong> pó não modificado: é produzido a partir<br />
do leite pasteurizado e concentrado até obter um<br />
produto com 40 a 55% <strong>de</strong> matéria seca. Uma<br />
<strong>de</strong>svantag<strong>em</strong> que o leite <strong>em</strong> pó apresenta é a reação<br />
<strong>de</strong> Mailard que ocorre entre a lactose e o aminoácido<br />
lisina. O resultado é a diminuição da digestibilida<strong>de</strong><br />
das proteínas e a menor quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lisina<br />
disponível.<br />
ANEXO 2<br />
EXEMPLO DE PREPARAÇÃO DE PAPA DE LEGUMES<br />
COM CARNE<br />
PAPA DE LEGUMES COM CARNE<br />
Ingredientes:<br />
batata – 1 unida<strong>de</strong> média<br />
cenoura – 1/2 unida<strong>de</strong> média<br />
chuchu – 1/2 unida<strong>de</strong> média<br />
couve – 1 folha<br />
carne moída – 30 g<br />
cebola, alho<br />
óleo vegetal – 1 colher das <strong>de</strong> sobr<strong>em</strong>esa<br />
Modo <strong>de</strong> fazer:<br />
Lavar, <strong>de</strong>scascar e picar os legumes e tubérculo.<br />
Refogar o alho e cebola. Acrescentar a carne e refogar<br />
ligeiramente.<br />
Colocar os outros alimentos, acrescentando água<br />
suficiente para cobri-los<br />
Deixar cozinhando até que fiqu<strong>em</strong> macios.<br />
Colocar uma pitada <strong>de</strong> sal.<br />
Modo <strong>de</strong> administrar:<br />
Colocar uma concha <strong>em</strong> um prato e amassar b<strong>em</strong> com<br />
um garfo.<br />
Oferecer à criança <strong>em</strong> pequenas colheradas.<br />
Incentivá-la para comer a papa.<br />
Informações nutricionais:<br />
Esta papa salgada oferece:<br />
Energia: 284 kcal<br />
Proteínas: 9,6 g<br />
Ferro: 2,8 mg (sendo 0,9 mg <strong>de</strong> ferro h<strong>em</strong>e)<br />
14
Volume 2 - Ano 2004<br />
t<strong>em</strong>as<br />
<strong>de</strong> nutrição <strong>em</strong> <strong>pediatria</strong><br />
Publicação elaborada pelo Departamento <strong>de</strong><br />
Nutrição da Socieda<strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>
IMUNOMODULAÇÃO<br />
Relatora: Roseli Saccardo Sarni<br />
Introdução<br />
Em 1989 foi introduzido na literatura o termo nutracêuticos utilizado para<br />
substâncias contidas <strong>em</strong> alguns alimentos capazes <strong>de</strong> promover benefícios<br />
incluíndo a prevenção <strong>de</strong> doenças, assim como atuando como coadjuvantes<br />
no seu tratamento.<br />
Í N D I C E<br />
Imunomodulação<br />
Evidências <strong>de</strong> literatura têm apontado para a existência <strong>de</strong> vários<br />
nutracêuticos com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> modificar a resposta imune e por essa<br />
razão, <strong>de</strong>nominados imunomoduladores.<br />
Nesta seção abordar<strong>em</strong>os alguns nutrientes com função imunomoduladora,<br />
tais como: glutamina, arginina, nucleotí<strong>de</strong>os, ácidos graxos ômega 3, zinco,<br />
cromo e selênio.<br />
Glutamina<br />
Arginina<br />
pág 16<br />
pág 19<br />
Glutamina<br />
A glutamina é o aminoácido livre mais abundante no organismo. No plasma<br />
atinge níveis quatro a cinco vezes superior ao <strong>de</strong> outros aminoácidos, exceto<br />
alanina e valina. No “pool” <strong>de</strong> aminoácidos livres do músculo esquelético,<br />
glutamina e taurina são os mais frequentes.<br />
Omega-3<br />
Zinco<br />
Cromo<br />
Selênio<br />
Nucleotí<strong>de</strong>os<br />
pág 24<br />
pág 28<br />
pág 32<br />
pág 34<br />
pág 40<br />
FUNÇÕES E METABOLISMO:<br />
• precursor da síntese protéica;<br />
• intermediário <strong>de</strong> vias metabólicas da síntese protéica;<br />
• doador <strong>de</strong> nitrogênio para a síntese <strong>de</strong> purinas, pirimidinas e nucleotí<strong>de</strong>os;<br />
• precursor para a síntese <strong>de</strong> glutationa (antioxidante exógeno);<br />
• fonte energética preferencial para células <strong>de</strong> rápida proliferação (enterócitos<br />
e células do sist<strong>em</strong>a imune);<br />
• regulação do equilíbrio ácido-básico pois é o mais importante substrato<br />
para a amoniagênese renal;<br />
• transportador <strong>de</strong> nitrogênio e carbono para os diversos tecidos;<br />
• substrato para a gliconeogênese e ureagênese hepáticas;<br />
• regulador da homeostase <strong>de</strong> aminoácidos participando <strong>de</strong> reações <strong>de</strong><br />
transaminação<br />
16
A glutamina não é consi<strong>de</strong>rada um aminoácido essencial,<br />
uma vez que, po<strong>de</strong> ser sintetizada no corpo humano a<br />
partir <strong>de</strong> outros aminoácidos. Em situações <strong>de</strong><br />
hipercatabolismo (cirurgia, trauma e sepse) os níveis <strong>de</strong><br />
glutamina no músculo esquelético ca<strong>em</strong> rapidamente.<br />
Nestas situações a glutamina passa a ser consi<strong>de</strong>rada como<br />
condicionalmente essencial.<br />
Este aminoácido po<strong>de</strong> prover energia à célula por<br />
oxidação parcial gerando lactato ou total com produção <strong>de</strong><br />
CO2. Duas enzimas intra-celulares estão envolvidas no<br />
metabolismo da glutamina: glutaminase (mitocondrial)<br />
que catalisa sua hidrólise para glutamato e amônia e a<br />
glutamina sintetase (citosol) que catalisa a síntese <strong>de</strong><br />
glutamina a partir <strong>de</strong> glutamato e amônia.<br />
Muitos tecidos são “consumidores” <strong>de</strong> glutamina e contém<br />
gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> glutaminase (mucosa intestinal,<br />
linfócitos e células tubulares renais) outros tecidos são<br />
“produtores” por sua alta ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> glutamina sintetase<br />
(células do músculo esquelético, neurônios e algumas<br />
células do pulmão). O fígado po<strong>de</strong> atuar das duas formas<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da <strong>de</strong>manda extra-hepática.<br />
Esta liberação <strong>de</strong> glutamina do músculo, modulada por<br />
hormônios glicocorticói<strong>de</strong>s, associada ao aumento <strong>de</strong> sua<br />
produção <strong>em</strong> fases iniciais do estresse permite a atuação<br />
<strong>de</strong>ste aminoácido como substrato energético para células<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa (monócitos, linfócitos e macrófagos), enterócitos<br />
e ainda, sua reutilização na geração <strong>de</strong> glicose<br />
(neoglicogênese hepática ou renal). Seu <strong>de</strong>rivado<br />
mononitrogenado o glutamato é constituinte do glutation,<br />
principal componente antioxidante do citosol.<br />
MODO DE ATUAÇÃO – FUNÇÃO<br />
IMUNOMODULADORA<br />
A glutamina estimula preferencialmente o linfócito auxiliar<br />
T1, que respon<strong>de</strong> com a produção <strong>de</strong> interleucina 2, ativa<br />
os macrófagos e incr<strong>em</strong>enta a imunida<strong>de</strong> mediada por<br />
células contra microorganismos e células tumorais.<br />
Em adultos grav<strong>em</strong>ente doentes, na concentração <strong>de</strong> 25 g<br />
<strong>de</strong> glutamina por litro da solução <strong>de</strong> nutrição parenteral,<br />
verificou-se redução significativa na mortalida<strong>de</strong> e t<strong>em</strong>po<br />
<strong>de</strong> permanêcia <strong>em</strong> unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terapia intensiva.<br />
Em estudo realizado com crianças e adolescentes com<br />
queimaduras afetando entre 32 e 84 % da superfície<br />
corpórea total observou-se “in vitro” que na presença <strong>de</strong><br />
glutamina ocorria aumento na função bactericida <strong>de</strong><br />
neutrófilos, s<strong>em</strong> alteração na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fagocitose.<br />
Em pr<strong>em</strong>aturos <strong>de</strong> muito baixo peso, Neu e cols, 1997,<br />
verificaram que a utilização <strong>de</strong> glutamina (0,3 mg/kg/<br />
dia) por via enteral levou a aumento nas células natural<br />
killer com melhora na tolerância à dieta por via<br />
digestiva e menor morbida<strong>de</strong>.<br />
Lacey e cols 1996 verificaram que a utilização <strong>de</strong><br />
glutamina por via parenteral <strong>em</strong> 44 pr<strong>em</strong>aturos<br />
<strong>de</strong>terminou, <strong>em</strong> crianças com peso <strong>de</strong> nascimento<br />
inferior a 800 g, menor duração da nutrição parenteral<br />
total e t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> ventilação mecânica o que não foi<br />
verificado nos recém-nascidos com peso ao nascer ><br />
800 g. Neste estudo não foi observada diferença na<br />
ocorrência <strong>de</strong> processos infecciosos entre os grupos.<br />
Em metanálise recent<strong>em</strong>ente realizada envolvendo três<br />
estudos com supl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> glutamina enteral e<br />
parenteral, <strong>em</strong> recém-nascidos pr<strong>em</strong>aturos, não se<br />
comprovou benefícios na morbida<strong>de</strong>, duração do<br />
suporte nutricional, ganho <strong>de</strong> peso e t<strong>em</strong>po <strong>de</strong><br />
hospitalização. (Tubman e cols 2000).<br />
Outra função imunomoduladora da glutamina está<br />
ligada à manutenção da integrida<strong>de</strong> da mucosa<br />
intestinal que po<strong>de</strong> favorecer, <strong>em</strong> especial <strong>em</strong> pacientes<br />
criticamente doentes a fenômenos <strong>de</strong> translocação<br />
bacteriana. da mucosa e melhorando a absorção <strong>de</strong><br />
água e monossacári<strong>de</strong>s. Em pacientes sépticos por<br />
redução da glutaminase, o intestino po<strong>de</strong> captar<br />
menores quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> glutamina favorecendo<br />
translocação bacteriana. O uso <strong>de</strong> NPT contendo<br />
glutamina associada à radio ou quimioterapia reduz os<br />
riscos <strong>de</strong> infecção por translocação.<br />
Recomendações<br />
A glutamina parenteral é administrada na forma <strong>de</strong> um<br />
dipeptí<strong>de</strong>o, glicil-glutamina ou alanil-glutamina, <strong>em</strong><br />
frascos <strong>de</strong> 50 ml (cada 100 ml da solução contém 20 g<br />
<strong>de</strong> alanil glutamina) contendo 13,46 g <strong>de</strong> glutamina<br />
17
pura. Recomenda-se que a taxa <strong>de</strong> infusão não exceda<br />
0,1 g <strong>de</strong> aminoácidos/kg <strong>de</strong> peso corporal por hora.<br />
A glutamina po<strong>de</strong> ainda ser administrada na forma<br />
<strong>de</strong> seus precursores: ornitina alfa- cetoglutarato ou<br />
alfa-cetoglutarato.<br />
Os dipeptí<strong>de</strong>os apresentam as seguintes vantagens <strong>em</strong><br />
relação ao aminoácido: maior estabilida<strong>de</strong> química, não se<br />
<strong>de</strong>compondo durante o armazenamento ou manipulação;<br />
rápida absorção e excelente solubilida<strong>de</strong>. A gran<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>svantag<strong>em</strong>, <strong>em</strong> nosso meio, é o alto custo.<br />
Em dietas enterais aparece <strong>em</strong> baixas concentrações<br />
oscilando entre 10 a 14% do total protéico, exceto <strong>em</strong><br />
fórmulas específicas, chamadas imunomoduladoras com<br />
19% do total <strong>de</strong> proteínas na forma <strong>de</strong> glutamina on<strong>de</strong><br />
v<strong>em</strong> associada a outros nutrientes com esta finalida<strong>de</strong> o<br />
que dificulta a avaliação da ação benéfica isolada da<br />
glutamina. A adição <strong>em</strong> dietas enterais po<strong>de</strong> ser feita na<br />
forma <strong>de</strong> aminoácido isolado ou como ornitina alfacetoglutarato.<br />
Recém-nascidos e crianças<br />
• pr<strong>em</strong>aturos:<br />
não ultrapassar 20 % do requerimento protéico<br />
• nutrição enteral e parenteral:<br />
0,57 g/kg peso corporal/dia<br />
A glutamina não <strong>de</strong>ve ser utilizada <strong>em</strong> pacientes com<br />
insuficiência renal ou hepática graves, sendo necessária a<br />
monitorização da função hepática e do equilíbrio ácidobásico<br />
durante sua utilização. Há poucos estudos avaliando<br />
a toxicida<strong>de</strong> da glutamina.<br />
Consi<strong>de</strong>rações finais<br />
Estudos experimentais e clínicos têm evi<strong>de</strong>nciado a<br />
importância da glutamina, entretanto, tais estudos são<br />
mais frequentes <strong>em</strong> pacientes adultos o que nos faz<br />
recomendar que a utilização <strong>de</strong> glutamina com indicação<br />
na imunomodulação <strong>em</strong> recém-nascidos e crianças <strong>de</strong>va<br />
aguardar futuras avaliações.<br />
Bibliografia consultada<br />
Savy GK. Enteral glutamine suppl<strong>em</strong>entation: clinical review and<br />
practical gui<strong>de</strong>lines. NCP 1997;12:256-62.<br />
Waitzberg, DL. Nutrição enteral e parenteral na prática clínica. 2.ed.<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro: Atheneu, 1995.<br />
Ogle CK, Ogle, JD, Mao JX, Simon J, Noel, JG, Li BG, Alexan<strong>de</strong>r JW.<br />
Effect of glutamine on phagocytosis and bacterial killing by normal<br />
and pediatric burn patient neutrophils. JPEN 1994; 18:128-33.<br />
Neu JN, Roig JC, Meetze WH, Veerman M, Carter C, Millsaps M,<br />
Bowling D, Dallas MJ, Sleasman J, Knight T, Austead N. Enteral<br />
glutamine suppl<strong>em</strong>entation for very low birth weight infants<br />
<strong>de</strong>creases morbidity. J Pediatr 1997; 131:691-9.<br />
Tubman TR, Thompson SW. Glutamine suppl<strong>em</strong>entation for<br />
preventing morbidity in preterm infants. Cochrane Database Syst<br />
Rev 2000; 2:CD001457.<br />
18
Arginina<br />
Relator: Luiz An<strong>de</strong>rson Lopes<br />
DEFINIÇÃO<br />
Aminoácido não essencial, <strong>de</strong> síntese endógena, que<br />
junto a ornitina e a citrulina estão envolvidos na síntese<br />
da uréia no fígado.<br />
As quantida<strong>de</strong>s produzidas <strong>de</strong> arginina são suficientes<br />
para manter a massa <strong>de</strong> tecido conectivo e muscular,<br />
exceto nas situações <strong>de</strong> estresse, sepses e trauma,<br />
quando o estado hipercatabólico <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado faz<br />
com que a arginina passe a ser consi<strong>de</strong>rada como<br />
aminoácido essencial para a manutenção do balanço<br />
nitrogenado positivo<br />
DEFICIÊNCIA DA ENZIMA DE CONVERSÃO<br />
Em conseqüência da <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> arginase foi<br />
<strong>de</strong>scrita síndrome caracterizada por hiperamoni<strong>em</strong>ia,<br />
diplegia espástica, convulsões e retardo mental grave<br />
<strong>em</strong> duas irmãs com <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta<br />
enzima.<br />
Os pais <strong>de</strong>stas crianças também apresentavam<br />
ativida<strong>de</strong> abaixo do normal da arginase, porém s<strong>em</strong> os<br />
sinais <strong>de</strong>scritos acima, sendo provavelmente<br />
heterozigotos para o traço genético.<br />
Nesta síndrome, <strong>em</strong>bora a excreção urinária <strong>de</strong> outros<br />
aminoácidos dibásicos como a lisina e a cistina tenham<br />
diminuído com a recomendação <strong>de</strong> dieta <strong>de</strong> baixo teor<br />
protéico, a arginin<strong>em</strong>ia persistiu.<br />
O controle regulador exercido por repressão e inibição<br />
da carbamil-fosfato-sintetase mitocondrial é<br />
balanceado pela ação da ornitina (efetor positivo),<br />
modificando cada uma das fases metabólicas que vão<br />
do glutamanto à ornitina e/ou também pela inibição<br />
da síntese <strong>de</strong> citrulina.<br />
A arginina já foi utilizada nos casos <strong>de</strong> intoxicação por<br />
amônia pois é um precursor da ornitina no ciclo<br />
hepático da uréia.<br />
ARGININA E ÓXIDO NÍTRICO<br />
O óxido nítrico é um radical livre formando pela<br />
oxidação do grupo terminal guanidino da L-arginina<br />
por meio <strong>de</strong> uma reação enzimática envolvendo a<br />
“óxido nítrico sintase”, sendo um dos principais<br />
mediadores envolvidos na patogenia das doenças<br />
inflamatórias.<br />
Esta característica po<strong>de</strong> ser explicada, parcialmente,<br />
pela capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> modular as vias intracelulares <strong>de</strong><br />
sinalização e <strong>de</strong> ativação do fator nuclear <strong>de</strong>nominado<br />
kB (NF-kB) por meio <strong>de</strong> uma família <strong>de</strong> fatores <strong>de</strong><br />
transcrição que regulam a expressão <strong>de</strong> diferentes<br />
genes envolvidos com a inflamação.<br />
Estudos “in-vitro” mostram que o óxido nítrico po<strong>de</strong><br />
tanto suprimir quanto acelerar os processos<br />
envolvendo a ativação do NF-kB, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do tipo<br />
celular e do fator estimulante.<br />
O óxido nítrico t<strong>em</strong> efeito inibitório da ativação do NFkB<br />
induzida por citoquinas e lipopolissacari<strong>de</strong>s nos<br />
macrófagos, nas células mesangiais, endoteliais e da<br />
musculatura lisa vascular.<br />
Por outro lado, t<strong>em</strong> efeito sinérgico sobre a ativação<br />
do NF-kB nos linfócitos e nas células malignas<br />
<strong>de</strong>rivadas do sist<strong>em</strong>a nervoso.<br />
O óxido nítrico produzido no endotélio vascular age<br />
como um potente vasodilatador, além <strong>de</strong> inibir<br />
importantes processos envolvidos com a aterosclerose,<br />
tais como a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> monócitos, agregação <strong>de</strong><br />
plaquetas e a proliferação das células do endotélio<br />
vascular.<br />
19
A síntese <strong>de</strong> óxido nítrico po<strong>de</strong> ser seletivamente inibida<br />
por análogos que substitu<strong>em</strong> o grupo guanidino na<br />
molécula <strong>de</strong> L-arginina tais com o N-monometil-L-arginina<br />
e a dimetilarginina assimétrica (ADMA) que ag<strong>em</strong> por<br />
competição e antagonismo no sítio <strong>de</strong> ação da enzima<br />
óxido nítrico sintase.<br />
Níveis elevados <strong>de</strong> ADMA implicam <strong>em</strong> diminuição da<br />
secreção <strong>de</strong> óxido nítrico vascular na presença <strong>de</strong> L-arginina<br />
(mo<strong>de</strong>los isolados <strong>de</strong> vasos sangüíneos, <strong>de</strong> macrófagos e<br />
<strong>de</strong> células endoteliais).<br />
Também são referidos níveis elevados <strong>de</strong> ADMA <strong>em</strong><br />
indivíduos com hipercolesterol<strong>em</strong>ia e aterosclerose, o que<br />
sugere que mecanismos que diminu<strong>em</strong> a <strong>de</strong>gradação da<br />
ADMA po<strong>de</strong>m ter importante papel na fisiopatologia<br />
<strong>de</strong>stas doenças.<br />
A adição <strong>de</strong> LDL oxidado ou <strong>de</strong> fator <strong>de</strong> necrose tumoral<br />
ao meio <strong>de</strong> cultura <strong>de</strong> células endoteliais das veias<br />
umbilicais aumentou significativamente a concentração <strong>de</strong><br />
ADMA. Estes resultados suger<strong>em</strong> que a disfunção vascular<br />
(diminuição da vasodilatação) observada na<br />
hipercolesterol<strong>em</strong>ia possa ser mediada pela diminuição da<br />
<strong>de</strong>gradação da ADMA.<br />
Estudos recentes <strong>de</strong>monstraram que <strong>em</strong> pacientes com<br />
hipertensão essencial a oferta dietética <strong>de</strong> sal aumenta a<br />
relação Nitrito/Nitrato. Esta modificação da relação<br />
Nitrito/Nitrato plamástico está inversamente relacionada<br />
com a pressão arterial e a concentração plasmática <strong>de</strong><br />
ADMA, na <strong>de</strong>pendência da restrição ou da oferta <strong>de</strong> sal.<br />
Deste modo a síntese <strong>de</strong> óxido nítrico po<strong>de</strong> estar envolvida<br />
na sensibilida<strong>de</strong> a ingestão <strong>de</strong> sal na hipertensão arterial<br />
humana, provavelmente <strong>de</strong>vido a modificações na<br />
concentração <strong>de</strong> ADMA.<br />
Por outro lado, a existência <strong>de</strong> fatores <strong>de</strong> risco tais como a<br />
hipertensão e a hipercolesterol<strong>em</strong>ia diminu<strong>em</strong> a<br />
biodisponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> óxido nítrico produzido no epitélio<br />
vascular e diminu<strong>em</strong>, <strong>em</strong> animais <strong>de</strong> experimentação, o<br />
mecanismo <strong>de</strong> vasodilatação.<br />
A ADMA quando cronicamente elevada, po<strong>de</strong> induzir<br />
efeito pró-aterogênico também <strong>em</strong> homens; nestes casos a<br />
concentração <strong>de</strong> ADMA po<strong>de</strong> estar superior a duas a três<br />
vezes a esperada.<br />
Também <strong>em</strong> pacientes jovens e assintomáticos que<br />
apresentavam hipercolesterol<strong>em</strong>ia a concentração <strong>de</strong><br />
ADMA estava aumentada <strong>em</strong> duas vezes o esperado e<br />
esteve correlacionada, <strong>de</strong> forma significativa, com a ida<strong>de</strong>,<br />
a pressão arterial média e com a tolerância à glicose.<br />
Por último, a análise <strong>de</strong> regressão <strong>de</strong>monstrou correlação<br />
entre os níveis <strong>de</strong> ADMA e <strong>de</strong> homocisteína plasmática,<br />
envolvendo este componente e seus antagonistas na<br />
fisiopatologia do envelhecimento.<br />
ARGININA E IMUNODEFICIÊNCIA<br />
CULEBRAS-FERNANDEZ et al, (1) ressaltam a importância<br />
do estado nutricional sobre o sist<strong>em</strong>a imunológico dos<br />
seres humanos, principalmente aqueles submetidos a<br />
intervenção cirúrgica. Estes autores <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> que a oferta<br />
<strong>de</strong> dietas enriquecidas nos períodos pré e pós operatório,<br />
po<strong>de</strong>m reduzir o número e a gravida<strong>de</strong> das complicações.<br />
Dentre as substâncias citadas, encontram-se o omega-3, a<br />
glutamina e a arginina.<br />
A supl<strong>em</strong>entação nutricional com arginina, por via enteral,<br />
<strong>de</strong> indivíduos submetidos a trauma cirúrgico, queimados<br />
ou portadores <strong>de</strong> neoplasia maligna implicou <strong>em</strong> aumento<br />
dos linfócitos “T” e melhora da imunida<strong>de</strong> celular (2)<br />
Em pacientes portadores da “Síndrome da<br />
Imuno<strong>de</strong>ficiência Adquirida” a supl<strong>em</strong>entação alimentar<br />
com arginina (20 g/dia) implicou <strong>em</strong> aumento da ativida<strong>de</strong><br />
mitogênica dos linfócitos (2) .<br />
RISO et al (3) , estudando pacientes com câncer (cabeça e<br />
pescoço) submetidos a dieta enteral supl<strong>em</strong>entada com<br />
arginina, <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> que os parâmetros imunológicos<br />
analisados (CD3, CD4, CD8, a relação CD4/CD8, contag<strong>em</strong><br />
total <strong>de</strong> linfócitos e das imunoglobulinas) além da<br />
dosag<strong>em</strong> <strong>de</strong> albumina, pré-albumina e transferrina,<br />
mostraram diferenças significantes quando comparou-se<br />
grupos <strong>de</strong> clientes operados s<strong>em</strong> <strong>de</strong>snutrição. Esta<br />
diferença foi ainda maior entre aqueles que receberam<br />
dietas supl<strong>em</strong>entadas com arginina e eram <strong>de</strong>snutridos.<br />
Deste modo, os autores conclu<strong>em</strong> que a supl<strong>em</strong>entação<br />
com arginina implicou <strong>em</strong> melhora da resposta<br />
imunológica com diminuição do t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> internação e da<br />
20
freqüência <strong>de</strong> complicações cirúrgicas entre os pacientes<br />
estudados.<br />
Parte <strong>de</strong>sta melhora se <strong>de</strong>ve às implicações sobre a<br />
resposta inflamatória ao agravo, caracterizando o que foi<br />
<strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> síndrome da resposta inflamatória<br />
sistêmica (1) .<br />
HAYASHI et al. (3) estudando os efeitos da L-arginina sobre o<br />
mecanismo <strong>de</strong> aumento da permeabilida<strong>de</strong> vascular e o<br />
prurido <strong>em</strong> animais <strong>de</strong> experimentação, <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> que<br />
esta substância foi capaz <strong>de</strong> induzir tanto o aumento da<br />
permeabilida<strong>de</strong> vascular como o prurido, sendo que o<br />
efeito sobre este último sinal ocorria mesmo <strong>em</strong> animais<br />
imuno<strong>de</strong>ficientes.<br />
TSUEI et al (4) estudando a participação da arginase no<br />
metabolismo <strong>de</strong> arginina (envolvida com a resposta imune<br />
ao trauma cirúrgico), <strong>de</strong>monstram que a ativida<strong>de</strong> da<br />
arginase medida nas células mononucleares do sangue,<br />
aumenta já nas primeiras 6 horas após a cirurgia e<br />
coinci<strong>de</strong>m com o aumento da expressão da arginase I. A<br />
concentração dos resíduos metabólicos do óxido nítrico<br />
(ON) diminuíram <strong>de</strong> modo significante, <strong>de</strong> modo que os<br />
autores conclu<strong>em</strong> que o aumento da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> arginase<br />
po<strong>de</strong> interferir nas características imunológicas da resposta<br />
à cirurgia e que a interleucina 10 (IL-10) po<strong>de</strong> modular a<br />
resposta da arginase.<br />
A L-arginina é o substrato para a síntese <strong>de</strong> óxido nítrico<br />
(ON) pelas células endoteliais e po<strong>de</strong>, também, estar<br />
envolvida no mecanismo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> hiperhomocistein<strong>em</strong>ia.<br />
Quando <strong>em</strong> quantida<strong>de</strong>s diminuídas <strong>de</strong><br />
L-arginina, o ON se conjuga com o oxigênio para formar<br />
radicais superóxido, que irão lesar ainda mais o endotélio<br />
vascular.<br />
JIN et al. (5) estudando a correlação entre este 3 fatores,<br />
<strong>de</strong>screv<strong>em</strong> que a administração <strong>de</strong> homocisteína a culturas<br />
<strong>de</strong> células endoteliais <strong>de</strong> aorta bovina reduziu a captação<br />
<strong>de</strong> L-arginina <strong>em</strong> 27% e os níveis celulares da proteína<br />
carreadora <strong>de</strong> L-arginina <strong>em</strong> 30%; <strong>de</strong>ste modo a<br />
homocisteína ao reduzir a capitação <strong>de</strong> L-arginina po<strong>de</strong><br />
alterar a permeabilida<strong>de</strong> vascular <strong>de</strong>vido a maior<br />
produção <strong>de</strong> radicais oxigênio e superóxido que<br />
potencializam o grau <strong>de</strong> lesão oxidativa.<br />
VELARDEZ et al. (6) <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> que o ON também afeta a<br />
ativida<strong>de</strong> da ciclooxigenase e da lipooxigenase <strong>em</strong><br />
diversos tecidos, po<strong>de</strong>ndo diminuir a ativida<strong>de</strong> da<br />
lipooxigenase e aumentar a da ciclooxigenase,<br />
comprometendo a liberação <strong>de</strong> hormônios da hipófise<br />
anterior, efeitos estes que po<strong>de</strong>m ser inibidos pela<br />
administração <strong>de</strong> L-arginina.<br />
A produção <strong>de</strong> ON pelos macrófagos ativados po<strong>de</strong><br />
exercer função no controle da infecção causada por<br />
micobacterias.<br />
PETEROY-KELLY et al. (7) <strong>de</strong>monstraram que a infecção por<br />
mycobacterium bovis, assim como o uso <strong>de</strong> interferon gama,<br />
aumentam a captação celular <strong>de</strong> L-arginina e a produção<br />
<strong>de</strong> ON. Esta resposta po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>vida a modificações do<br />
transportador <strong>de</strong> L-arginina e não apenas ao aumento da<br />
permeabilida<strong>de</strong> celular a esta substância.<br />
TOUSOULIS et al (8) estudando o efeito da administração <strong>de</strong><br />
L-arginina e <strong>de</strong> D-arginina <strong>em</strong> 24 pacientes portadores <strong>de</strong><br />
doença coronariana obstrutiva, <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> que a infusão<br />
intra-coronariana <strong>de</strong> L-arginina (50 micromol/min) implicou<br />
<strong>em</strong> dilatação superior a 10 % tanto nos casos <strong>de</strong> obstrução<br />
leve como nos <strong>de</strong> obstrução complexa; a magnitu<strong>de</strong> da<br />
dilatação foi maior nos casos <strong>de</strong> estenose complexa e o<br />
efeito dilatador foi proporcional à gravida<strong>de</strong> da obstrução.<br />
Contudo, igual efeito não foi notado quando se<br />
administrou D-arginina, concluindo que o efeito <strong>de</strong>scrito<br />
correlaciona-se com a <strong>de</strong>ficiência parcial do substrato para<br />
a síntese <strong>de</strong> ON, da <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> L-arginina e da<br />
característica do complexo ateromatoso.<br />
SUEMATSU et. al. (9) estudando o mecanismo cardioprotetor<br />
da L-arginina <strong>em</strong> mo<strong>de</strong>los experimentais (ratos) <strong>de</strong><br />
infarto do miocárdio, questionam o efeito isolado da<br />
administração <strong>de</strong>ste aminoácido, tanto sobre a<br />
recuperação funcional pós-isquêmica como na diminuição<br />
da área infartada.<br />
Contudo, <strong>em</strong> outro mo<strong>de</strong>lo experimental, JU et. al (10)<br />
<strong>de</strong>monstram que o aumento dos níveis <strong>de</strong> ON,<br />
conseqüente a maior oferta <strong>de</strong> L-arginina, foi essencial para<br />
a sobrevivência das células endoteliais da retina <strong>de</strong> ratos<br />
submetidas a isqu<strong>em</strong>ia transitória.<br />
OHTA & NISHIDA (11) estudando o efeito protetor da<br />
21
administração <strong>de</strong> arginina sobre as lesões da mucosa<br />
gástrica submetidos a estresse, refer<strong>em</strong> que este efeito é<br />
notado com a forma “L” (150-600 mg/Kg) e não com a<br />
forma “D” (600 mg/Kg) da arginina. Também associam o<br />
efeito preventivo das lesões gástricas, induzidas pelo<br />
estresse, ao mecanismo <strong>de</strong> inibição da infiltração<br />
neutrofílica mediado pelo óxido nítrico.<br />
Outras situações nas quais mecanismos imunológicos<br />
po<strong>de</strong>m estar envolvidos foram investigadas.<br />
KOTARU et. al. (12) estudando o mecanismo broncoconstritor<br />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado pela t<strong>em</strong>peratura, <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> que<br />
o ON produzido pelas células da árvore brônquica, têm<br />
importante papel no <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento da asma induzida<br />
pelo frio.<br />
PIATTI et al. (13) estudando os efeitos da administração <strong>de</strong><br />
L-arginina sobre a resposta periférica e hepática à insulina,<br />
<strong>em</strong> pacientes diabéticos (Tipo II), não obesos, que<br />
receberam L-arginina (3g <strong>de</strong> 8/8 hs) durante 3 meses,<br />
conclu<strong>em</strong> que a supl<strong>em</strong>entação dietética com este<br />
aminoácido melhorou estas duas variáveis, mas foi<br />
insuficiente para normalizar a condição.<br />
D’ANIELLO, TOLINO, FISHER (14) estudando 12 gestantes<br />
com Doença Hipertensiva da Gravi<strong>de</strong>z (Pré-eclâmpsia),<br />
com ida<strong>de</strong>s cronológicas variando entre 28 e 35 anos e<br />
ida<strong>de</strong> gestacional entre 35 e 36 s<strong>em</strong>anas, analisaram a<br />
concentração sangüínea <strong>de</strong> aminoácidos e compararam<br />
com a <strong>de</strong> gestantes controle. Entre aquelas portadoras da<br />
doença, os níveis <strong>de</strong> L-arginina estavam acentuadamente<br />
mais baixos (cerca <strong>de</strong> 5 vezes; P< 0,01) do que as não<br />
doentes. Estes autores conclu<strong>em</strong> que a <strong>de</strong>terminação dos<br />
níveis <strong>de</strong> L-arginina durante a gravi<strong>de</strong>z po<strong>de</strong>m,<br />
potencialmente, constituir um marcador adicional para o<br />
diagnóstico precoce da condição.<br />
Contudo, a supl<strong>em</strong>entação com arginina po<strong>de</strong> representar<br />
risco adicional <strong>em</strong> função da ativação <strong>de</strong> algumas ca<strong>de</strong>ias<br />
metabólicas associadas aos mecanismos <strong>de</strong> apoptose<br />
celular. São produtos do metabolismo da arginina, o óxido<br />
nítrico (tecidos periféricos) e o glutamato (sist<strong>em</strong>a nervoso<br />
central), e estas substâncias estão envolvidas no processo<br />
<strong>de</strong> morte celular.<br />
Analisando o processo <strong>de</strong> apoptose <strong>em</strong> células do tecido<br />
ósseo, TEIXEIRA et al. (15) <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> que a elevação dos<br />
níveis <strong>de</strong> fósforo inorgânico, assim como a diminuição da<br />
produção <strong>de</strong> óxido nítrico po<strong>de</strong>m acelerar o processo <strong>de</strong><br />
apoptose <strong>em</strong> células da cartilag<strong>em</strong> epifisária. Neste<br />
mecanismo, o fósforo inorgânico irá diminuir o potencial<br />
<strong>de</strong> m<strong>em</strong>brana mitocondrial e alterar a manutenção da<br />
homeostasia interna e a produção <strong>de</strong> energia. A síntese <strong>de</strong><br />
óxido nítrico, por sua vez, irá manter a função<br />
mitocondrial. Deste modo, os autores consi<strong>de</strong>ram que o<br />
ON po<strong>de</strong> servir como mediador chave na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
eventos ligados ao mecanismo <strong>de</strong> apoptose nas<br />
cartilagens, e que este fenômeno é ligado aos níveis <strong>de</strong><br />
fósforo inorgânico.<br />
CONCLUSÕES<br />
Embora a importância da arginina <strong>em</strong> diversos processos<br />
metabólicos esteja sendo estudada, a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
achados e os mecanismos <strong>de</strong> ação propostos ainda não<br />
estão esclarecidos.<br />
Em cada tecido, <strong>em</strong> cada órgão, <strong>em</strong> cada sist<strong>em</strong>a, os<br />
efeitos atribuídos a arginina se somam e a importância da<br />
a<strong>de</strong>quada (a cada condição) oferta <strong>de</strong>ste aminoácido<br />
ganha importância.<br />
Com relação aos estudos referentes ao sist<strong>em</strong>a<br />
imunológico, os resultados <strong>de</strong>monstram influência, <strong>em</strong><br />
graus variados, <strong>em</strong> algumas situações <strong>de</strong> doença, citadas<br />
neste texto. Contudo, os resultados são, na sua imensa<br />
maioria, experimentais ou obtidos da observação <strong>de</strong><br />
adultos, o que representa a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maior cautela<br />
ao se propor a supl<strong>em</strong>entação para crianças.<br />
Para estes pequenos pacientes, também os efeitos<br />
negativos, secundários à supl<strong>em</strong>entação ou ao uso<br />
terapêutico da arginina <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser abordados com maior<br />
critério, senão melhor conhecidos.<br />
22
Bibliografia consultada<br />
1) CULEBRAS-FERNANDEZ, J.M.; PAZ-ARIAS, R.; JORQUERA-PLAZA,<br />
F.; GARCIA DE LORENZO, A . - Nutricion en el paciente quirúrgico:<br />
inmunonutrition. Nutr. Hosp., 16(3): 67-77, 2001<br />
2) ALEXANDULATS, T.R.; COUTO, C.M.F.; SILVA, T.C.; CARVALHO, E.B.;<br />
TORRES, H.O .G. - Nutrição Enteral. In: ROCHA, M.O .C.; PEDROSO,<br />
E.R.P.; FONSECA, J.G.M. Terapêutica Clínica. 1a edição. Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, Guanabara Koogan S. A ., 1998, 204-10.<br />
3) RISO, S.; ALUFFI, P.; BRUGNANI, M.; FARINETTE, F.; PIA, F.;<br />
D’ANDREA, F. - Postoperative enteral immunonutrition in head<br />
and neck cancer patients. Clin. Nutr.,19(6): 407-12, 2000.<br />
4) TSUEI, B.J.; BERNARD, A .C.; SHANE, M.D.; SHIRLEY, L.A .; MALEY,<br />
M.E.; BOULANGER, B.R.; KERNEY, P.A .; OCHOA, J.B. - Surgery<br />
induces human mononuclear cell arginase I expression. J. Trauma.,<br />
51(3): 497-502, 2001<br />
5) JIN, L.; ABOU-MOHAMED, G.; CALDWELL, R.B.; CALDWELL, R.W.<br />
- Endothelial cell dysfunction in a mo<strong>de</strong>l os oxidative stress. Med.<br />
Sci. Monit., 7(4): 585-91, 2001.<br />
6) VELARDEZ, M.O .; OGANDO, D.; FRANCHI, A . M.; DUVILANSKI,<br />
B.H. - Role of nitric oxi<strong>de</strong> in the metabolism of arachidonic acid in<br />
the rat anterior pituitary gland. Mol. Cell Endocrinol., 172(1-2):<br />
7-12, 2001<br />
7) PETEROY-KELLY, M.; VENKETARAMAN, V.; CONNELL, N.D. -<br />
Effects of Mycobacterium bovis BCG infection on regulation of L-<br />
arginine uptake and synthesis of reactive nitrogen intermediates<br />
in J774.1 murine macrophages. Infect. Immun., 69(9): 5823-<br />
31, 2001.<br />
8) TOUSOULIS, D.; DAVIES, G.J.; TENTOLOURIS, C.; GOUMAS, G.;<br />
STEFANADIS, C.; TOUTOUZAS, P. - Vasomotor effects of L-arginine<br />
and D-arginine in stenotic atheromatous coronary plaque. Heart,<br />
86(3): 296-301, 2001.<br />
9) SUEMATSU, Y.; OHTSUKA, T.; HIRATA, Y.; MAEDA, K.; IMANAKA,<br />
K.; TAKAMOTO, S. - L-arginine given after ischa<strong>em</strong>ic<br />
preconditioning can enhance cardioprotection in isolated rat hearts.<br />
10) JU, W.K.; GWON, J.S.; KIM, K.Y.; OH, S.J.; KIM, S.Y.; CHUN,<br />
M.H. - Up-regulated eNOS protecs blood-retinal barrier in the L-<br />
arginine treated isch<strong>em</strong>ic rat retina. Neuroreport., 12(11): 2405-<br />
9, 2001.<br />
11) OHTA, Y.; NISHIDA, K. - Protective effect of L-arginine against<br />
stress-induced gastric mucosal lesions in rats and its relation to<br />
nitric oxi<strong>de</strong>-mediated inhibition of neutrophil inflitration.<br />
Pharmacol. Res., 43(6): 535-41, 2001.<br />
12) KOTARU, C.; SKOWRONSKI, M.; CORENO, A .; McFADDEN, E.R.<br />
- Inhibition of nitric oxi<strong>de</strong> synthesis attenuates thermally induced<br />
asthma. J. Appl. Physiol., 91(2): 703-8, 2001<br />
13) PIATTI, P.M.; MONTI, L.D.; VALSECCHI, G.; MAGNI, F.; SETOLA,<br />
E.; MARCHESI, F.; GALLI-KIENLE, M.; POZZA, G.; ALBERTI, K.G. -<br />
Long-term oral L-arginine administration improves peripheral and<br />
hepatic insulin sensitivity in type 2 diabetic patients. Diabetes Care,<br />
24(5): 875-80, 2001.<br />
14) D’ANIELLO, G.; TOLINO, A .; FISHER, G. - Plasma L-arginine is<br />
markedly redced in pregnant women affected by preeclampsia. J.<br />
Chromatogr. B. Biomed. Sci. Appl., 753(2): 427-31, 2001.<br />
15) TEIXEIRA, C.C.; MANSFIELD, K.; HERTKOM, C.; ISCHIROPOULOS,<br />
H.; SHAPIRO, I.M. - Phosphate-induced chondrocyte apoptosis is<br />
linked to nitric oxi<strong>de</strong> generation. Am. J. Cell Physiol., 281(3):<br />
C833-9, 2001.<br />
23
Omega-3<br />
Relatora: Fernanda Luísa Ceragioli Oliveira<br />
Os ácidos graxos são componentes essenciais <strong>de</strong><br />
m<strong>em</strong>branas celulares e estão envolvidos <strong>em</strong> diversos<br />
processos metabólicos, principalmente mecanismos <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>fesa, antiinflamatórios, <strong>de</strong> crescimento e <strong>de</strong><br />
multiplicação celular. A composição lipídica da<br />
m<strong>em</strong>brana celular <strong>de</strong>termina a flui<strong>de</strong>z da m<strong>em</strong>brana, a<br />
formação <strong>de</strong> receptores, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ligação das<br />
proteínas com receptores e ativação <strong>de</strong> vias metabólicas.<br />
A nomenclatura OMEGA é <strong>de</strong>finida segundo a<br />
numeração do carbono associada a primeira dupla<br />
ligação (3º, 6º ou 9º), a partir do radical metila. Esta<br />
classificação implica <strong>em</strong> características estruturais e<br />
funcionais <strong>de</strong>stes ácidos graxos. Os principais<br />
representantes dos ácidos graxos poliinsaturados omega-<br />
6 são ácido linoléico (LA) e ácido aracdônico (AA); e dos<br />
omega-3, ácido linolênico (ALA), ácido<br />
docosahexaenóico (DHA) e ácido eicosapentanóico (EPA).<br />
Ressalta-se a importância da manutenção da proporção<br />
5:1 entre o Omega 3 e 6 na dieta habitual e enteral<br />
<strong>de</strong>vido ao fato que os ácidos graxos essenciais (LA e ALA)<br />
necessitar<strong>em</strong> da mesma enzima (6-<strong>de</strong>saturase) para<br />
ser<strong>em</strong> convertidos nos principais representantes das séries<br />
ácidos graxos AA (Omega-6) e DHA e EPA (Omega-3).<br />
Os eicosanói<strong>de</strong>s são produzidos nos tecidos, sendo<br />
responsáveis por formação <strong>de</strong> prostaglandinas e<br />
leucotrienos. A metabolização do AA por meio da<br />
enzima da cicloxigenase produz prostanglandinas da<br />
série 2 e leucotrienos da série 4, que promov<strong>em</strong><br />
imunossupressão e inflamação. O EPA e o DHA<br />
produz<strong>em</strong> prostaglandinas da série 3 e leucotrienos da<br />
série 5, que atuariam no processo anti-inflamatório e<br />
não inibiriam o sist<strong>em</strong>a imune.<br />
O DHA e o EPA interfer<strong>em</strong> no sist<strong>em</strong>a imune<br />
competindo com AA no metabolismo cicloxigenase na<br />
m<strong>em</strong>brana celular. O AA <strong>em</strong> altas concentrações<br />
(1,5g/dia por 50 dias) compromete o sist<strong>em</strong>a<br />
imunológico, <strong>de</strong>stacando-se a proliferação linfocitária,<br />
produção <strong>de</strong> citoquinas, resposta DTH e ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
célula natural “Killer”.<br />
Tabela 1. Composição Porcentag<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />
Omega 3, 6 e 9 <strong>em</strong> fontes gorduras (%)<br />
FONTE<br />
Omega-3<br />
%<br />
Omega-6<br />
%<br />
Omega-9<br />
%<br />
Óleo <strong>de</strong> Milho<br />
......<br />
70<br />
25<br />
Óleo <strong>de</strong> Girassol I/II<br />
2<br />
60/11<br />
25/86<br />
Óleo <strong>de</strong> Soja<br />
7<br />
54<br />
24<br />
Óleo <strong>de</strong> Canola<br />
11<br />
28<br />
60<br />
Óleo <strong>de</strong> Peixe<br />
37<br />
1<br />
13<br />
Óleo <strong>de</strong> Oliva<br />
......<br />
10<br />
71<br />
Alexan<strong>de</strong>r, 1998<br />
24
Outra característica importante é a diferente taxa <strong>de</strong><br />
absorção, distribuição tecidual e clareamento dos ácidos<br />
graxos EPA e DHA. Após a supl<strong>em</strong>entação, os níveis<br />
plasmáticos <strong>de</strong> EPA e DHA ating<strong>em</strong> o pico na 6ª e na 16ª<br />
s<strong>em</strong>ana <strong>de</strong> ingestão, respectivamente. Cessando-se a<br />
oferta contínua, o clareamento plasmático do DHA é mais<br />
lento comparado com o do EPA. O DHA incorpora-se no<br />
tecido extracirculatório como sist<strong>em</strong>a nervoso central e<br />
tecido cardíaco, enquanto que o EPA concentra-se nos<br />
compartimentos circulatórios. Nos lipí<strong>de</strong>os plasmáticos, o<br />
DHA encontra-se <strong>em</strong> maior quantida<strong>de</strong> nos fosfolípi<strong>de</strong>s e<br />
triglicéri<strong>de</strong>s e <strong>em</strong> menor quantida<strong>de</strong> nos ésteres <strong>de</strong><br />
colesterol; o EPA concentra-se nos ésteres <strong>de</strong> colesterol e<br />
fosfolipí<strong>de</strong>os.<br />
Essas características fisiológicas <strong>de</strong> absorção e distribuição<br />
do EPA e DHA são responsáveis pelas diferenças <strong>de</strong><br />
capacida<strong>de</strong> inibitória do sist<strong>em</strong>a imunológico. Trabalhos<br />
<strong>de</strong>monstram que DHA parece ter menor ação inibitória ao<br />
sist<strong>em</strong>a imune e maior capacida<strong>de</strong> inibitória ao processo<br />
inflamatório do que EPA.<br />
Supl<strong>em</strong>entação isolada <strong>de</strong> DHA (6g por dia) por 90 dias,<br />
que correspon<strong>de</strong> a 20g <strong>de</strong> óleo <strong>de</strong> peixe (DHA+ EPA),<br />
<strong>em</strong> adultos jovens saudáveis, reduziu secreção <strong>de</strong><br />
citoquinas inflamatórias e ativação <strong>de</strong> células natural<br />
“killer”, mas não houve modificação do número e da<br />
função das células B e T.<br />
Sete estudos randomizados duplo cego, evi<strong>de</strong>nciam que<br />
pacientes críticos que receberam dietas imunomoduladoras<br />
apresentavam redução <strong>de</strong> infecções e complicações <strong>em</strong> 50<br />
a 75% e diminuição <strong>de</strong> 20% do t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> hospitalização.<br />
Deve-se ressaltar que esta dieta contém outros<br />
nutracêuticos associados ao omega-3 (arginina,<br />
nucleotí<strong>de</strong>os, glutamina).<br />
Revisão efetuada por Alexan<strong>de</strong>r <strong>em</strong> 1998, relata os<br />
principais trabalhos randomizados duplo-cegos na<br />
literatura a respeito da ação do Omega-3, evi<strong>de</strong>nciando<br />
seu efeito: no transplante renal (aumenta sobrevida do<br />
enxerto, redução da hipertensão arterial e episódios <strong>de</strong><br />
rejeição); na artrite reumatói<strong>de</strong> (melhora clínica e<br />
redução do IL-1 e do uso <strong>de</strong> drogas antiinflamatórias não<br />
esterói<strong>de</strong>s); na doença inflamatória intestinal (reduz <strong>em</strong><br />
50% a utilização <strong>de</strong> corticói<strong>de</strong>s, diminui a ativida<strong>de</strong> da<br />
doença e melhora histológica).<br />
Estudos ‘in vitro’ e ‘in vivo’ <strong>em</strong> animais <strong>de</strong>terminaram que<br />
EPA e DHA po<strong>de</strong>m inibir diversas funções <strong>de</strong> células<br />
imunológicas, mas seus efeitos difer<strong>em</strong> no sist<strong>em</strong>a imune e<br />
mecanismos associados. A interleucina -2 recombinante<br />
restaura parcialmente a inibição da proliferação linfocitária<br />
humana com EPA, mas este fato não acontece com DHA.<br />
Estudos <strong>em</strong> humanos ten<strong>de</strong>m a verificar o efeito da<br />
supl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> s<strong>em</strong>entes ricas <strong>em</strong> ALA, óleo <strong>de</strong> peixes<br />
ricos <strong>em</strong> EPA e DHA ou soluções purificadas <strong>de</strong> EPA e DHA<br />
no sist<strong>em</strong>a imunológico. Não se sabe ao certo o efeito<br />
direto <strong>de</strong>stes ácidos graxos individualmente, pois os<br />
processos <strong>de</strong> retroconversão e elongação dificultam a<br />
i<strong>de</strong>ntificação do ácido graxo principal atuante.<br />
A recomendação da quantida<strong>de</strong> necessária <strong>de</strong> ácidos<br />
graxos poliinsaturados (PUFA) omega-3 DHA e EPA para<br />
proporcionar efeito antiinflamatório:relação omega-3:<br />
omega-6 ➔ 10 a 5 : 1. A ingestão <strong>de</strong> 5g <strong>de</strong> ALA e 400mg<br />
EPA +DHA por dia parece ser dose segura para utilização<br />
no adulto. Não há parâmetros para crianças e adolescentes<br />
na literatura.<br />
Não há dúvidas a respeito do efeito benéfico dos omega-3<br />
nas doenças cardiovasculares, mas exist<strong>em</strong> riscos <strong>de</strong><br />
aumentar a suscetibilida<strong>de</strong> às infecções, como evi<strong>de</strong>ncia<br />
estudos experimentais <strong>de</strong>monstrando retardo no<br />
clareamento <strong>de</strong> bactérias e menor taxa <strong>de</strong> sobrevida.<br />
25
Tabela 2. Efeitos Omega-3 , 6 e 9 no Sist<strong>em</strong>a Imunológico<br />
AÇÕES<br />
Omega 3<br />
Omega 6<br />
Omega 9<br />
Resposta GVH<br />
Diminui<br />
Diminui<br />
Sobrevivência auto-enxerto<br />
Aumenta<br />
Aumenta<br />
Aumenta<br />
Expressão TcR<br />
Diminui<br />
Resposta fitomitogênica<br />
Diminui<br />
Diminui<br />
Diminui<br />
Resposta linfocitária<br />
Diminui<br />
Diminui<br />
à estímulo antigênico<br />
Função celular acessória<br />
Diminui<br />
Resposta DTH<br />
Diminui<br />
Expressão Ia<br />
Diminui<br />
Alexan<strong>de</strong>r, 1998<br />
Tabela 3.Efeitos dos Omega-3, 6 e 9 nos Processos Inflamatórios<br />
AÇÕES<br />
Omega 3<br />
Omega 6<br />
Omega 9<br />
Expressão ICAM-I<br />
Diminui<br />
Expressão VCAM-1<br />
Diminui<br />
Expressão ELAM -1<br />
Diminui<br />
Expressão L-selectina<br />
Diminui<br />
Expressão LFA-1<br />
Diminui<br />
A<strong>de</strong>são Linfocitária<br />
Diminui<br />
A<strong>de</strong>são <strong>de</strong> Monócitos<br />
Diminui<br />
Quimiotaxia Neutrófilos<br />
Diminui<br />
Proteína C Reativa<br />
Diminui<br />
Produção NO<br />
Diminui<br />
Aumenta<br />
Aumenta<br />
Produção Superóxido<br />
Diminui<br />
Aumenta<br />
Aumenta<br />
Alexan<strong>de</strong>r, 1998<br />
26
Tabela 4. Efeitos Omega-3, 6 e 9 na Produção <strong>de</strong> Citoquinas – Interleucinas (IL)<br />
AÇÕES<br />
Omega 3<br />
Omega 6<br />
Omega 9<br />
IL-1<br />
Aumenta/Diminui<br />
Aumenta<br />
IL-2<br />
Diminui<br />
Aumenta<br />
Aumenta<br />
IL-4<br />
Diminui<br />
Aumenta<br />
IL-6<br />
Diminui<br />
IL-8<br />
Diminui<br />
IL-10<br />
Diminui<br />
TGF-(<br />
Diminui<br />
TNF- (<br />
Diminui<br />
Diminui/Aumenta<br />
Diminui<br />
IFN-(<br />
Diminui<br />
Aumenta<br />
Aumenta<br />
TGF-_ ➔ - fator transformador <strong>de</strong> crescimento _ ,<br />
TNF-_ ➔ fator <strong>de</strong> necrose tumoral _ ,<br />
IFN-_ ➔ Interferon _<br />
Alexan<strong>de</strong>r, 1998<br />
Tabela 5. Efeitos Omega 3, 6 e 9 nas Vias Intracelulares<br />
AÇÕES<br />
Omega 3<br />
Omega 6<br />
Omega 9<br />
A<strong>de</strong>nilciclase<br />
Aumenta/Diminui<br />
Aumenta<br />
Aumenta<br />
PKA<br />
Aumenta/Diminui<br />
Diminui<br />
Aumenta/Diminui<br />
PKC<br />
Diminui<br />
Aumenta<br />
Diminui<br />
NFkB<br />
Aumenta<br />
Alexan<strong>de</strong>r, 1998<br />
Bibliografia consultada<br />
* ALEXANDER, J.W. - Immunonutrition : the role of n-3 fatty acids.<br />
Nutrition, 1998; 14:627-33.<br />
* CONNOR, W.E. - Importance of n-3 fatty acids in health and disease.<br />
Am J. Clin. Nutr, 2000; 1(suppl): 171S-5S.<br />
* CORKEY, B. E.; DEENEY,J.T.; YANEY, G.C.; TORNHEIM, K.; PRENTKI,<br />
M. - The role of long-chain fatty acyl-CoA esters in (-cell signal<br />
transduction. J. Nutr., 2000; 130: 299S-304S.<br />
* DECKELBAUM,R.J. & CALDER, P.C. - Lipids in health and disease:<br />
quantity, quality and more. Curr.Opin. Clin. Nutr. Metab. Care,<br />
2000; 3:93-4.<br />
* KELLEY, D.S. & RUDOLPH, I.L. - Effect of individual fatty acids of n-<br />
6 and n-3 type on human immune status and role of eicosanoids.<br />
Nutrition, 2000; 16: 143-5.<br />
* PERDOMO,M. P.B. - Acidos grasos omega-3 y acidos grasos trans:<br />
impacto sobre la salud. Lecturas sobre Nutrition, 1998; 5:27-34.<br />
* SCHOLOERB, P.R. - Immune-enhancing diets: products, components<br />
and their rationales. JPEN, 2001; 25(2suppl): S3-S7.<br />
* STANDEN,J. & BIHARI, D. - Immunonutrition: an upta<strong>de</strong>. Curr.Opin.<br />
Clin. Nutr. Metab. Care, 2000; 3:149-57.<br />
* SPRECHER, H. - An update on the pathways of polyunsaturated<br />
fatty acid metabolism.. Curr.Opin. Clin. Nutr. Metab. Care, 1999;<br />
2:9135-8.<br />
27
Zinco<br />
Relatora: Roseli Saccardo Sarni<br />
INTRODUÇÃO<br />
O zinco é um cofator essencial para inúmeras enzimas<br />
com múltiplas funções, especialmente, envolvidas no<br />
metabolismo <strong>de</strong> ácidos nucléicos e proteínas.<br />
A <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> zinco afeta <strong>em</strong> maior proporção as<br />
células <strong>de</strong> multiplicação rápida como enterócitos, células<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa e da pele.<br />
PREVALÊNCIA<br />
A <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> zinco nas últimas décadas passou a<br />
ganhar importância como probl<strong>em</strong>a nutricional mundial,<br />
uma vez que, t<strong>em</strong> sido <strong>de</strong>monstrado que esta carência<br />
ocorre <strong>em</strong> países <strong>de</strong>senvolvidos e <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. A<br />
prevalência <strong>de</strong> ingestão <strong>de</strong>ficiente <strong>de</strong>ste micronutriente<br />
t<strong>em</strong> sido <strong>de</strong>scrita <strong>em</strong> estudos conduzidos nos EUA,<br />
México, Porto Rico, Guat<strong>em</strong>ala, Chile e Brasil e oscila<br />
entre 50 e 80 % 57 das referências (DRFs).<br />
NECESSIDADES NUTRICIONAIS E FONTES<br />
As referências <strong>de</strong> ingestão <strong>de</strong> zinco variam com a ida<strong>de</strong> e<br />
sexo e po<strong>de</strong>m ser resumidos na tabela abaixo:<br />
Lactentes<br />
Crianças<br />
Homens<br />
Mulheres<br />
Gestantes<br />
Lactantes<br />
IDADE<br />
0-6 meses<br />
7-12 meses<br />
1-3 anos<br />
4-8 anos<br />
9-13 anos<br />
14-18 anos<br />
9-13 anos<br />
14-18 anos<br />
≤ 18 anos<br />
≤ 18 anos<br />
Dietary Reference Intakes<br />
Recomendação<br />
(RDA)<br />
mg/dia<br />
2*<br />
3<br />
3<br />
5<br />
8<br />
11<br />
8<br />
9<br />
13<br />
7<br />
Fonte: Institute of Medicine - Dietary Reference Intake, 2001<br />
*AI<br />
O leite humano a par <strong>de</strong> sua pequena concentração<br />
<strong>de</strong> zinco apresenta excelente biodisponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste<br />
el<strong>em</strong>ento <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência da presença <strong>de</strong> lactoferrina<br />
e ácido cítrico. Há fornecimento <strong>de</strong> 1-2 mg/dia <strong>de</strong><br />
zinco pelo leite materno nos 3 primeiros meses<br />
pós-parto com valores <strong>de</strong>crescentes com o progredir<br />
da lactação. No leite <strong>de</strong> vaca esta biodisponibilida<strong>de</strong><br />
é prejudicada tendo <strong>em</strong> vista a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> caseína<br />
e cálcio.<br />
A presença <strong>de</strong> fitatos encontrados <strong>em</strong> maior<br />
quantida<strong>de</strong> nos cereais, legumes e vegetais folhosos<br />
prejudicam a digestão e absorção do zinco. Níveis<br />
molares <strong>de</strong> fitato:zinco acima <strong>de</strong> 20:1 são associados<br />
à baixa absorção <strong>de</strong>ste cationte. As fibras, cálcio,<br />
fósforo e polifenóis também po<strong>de</strong>m comprometer<br />
sua absorção.<br />
Os alimentos com melhor quantida<strong>de</strong> e<br />
biodisponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> zinco são as carnes vermelhas,<br />
crustáceos, vísceras, ovos e peixes.<br />
O zinco po<strong>de</strong> interagir com o ferro <strong>de</strong>terminando<br />
pior absorção. Esta interação é mais evi<strong>de</strong>nte quando<br />
estes oligoel<strong>em</strong>entos são administrados <strong>em</strong> solução,<br />
<strong>em</strong> especial, quando o ferro ultrapassa a dose <strong>de</strong><br />
25 mg; não sendo observada nos alimentos e n<strong>em</strong><br />
<strong>em</strong> processos <strong>de</strong> fortificação 58 .<br />
O zinco influencia também o metabolismo da<br />
vitamina A atuando <strong>em</strong> dois níveis: transporte e a<br />
conversão <strong>de</strong> retinol a retinal que requer a<br />
participação <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>sidrogenase <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />
zinco e também, na síntese da proteína carreadora do<br />
retinol exercendo sua <strong>de</strong>ficiência papel negativo na<br />
mobilização dos <strong>de</strong>pósitos hepáticos <strong>de</strong> retinol com<br />
subsequente transporte a tecidos alvo. Entretanto,<br />
pesquisas ainda são inconclusivas <strong>em</strong> <strong>de</strong>monstrar o<br />
sinergismo <strong>de</strong>stes dois micronutrientes e seu<br />
significado <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> pública.<br />
28
QUADRO CLÍNICO<br />
Em crianças e adolescentes, a <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> zinco cursa<br />
com as seguintes manifestações: retardo do crescimento<br />
estatural, anorexia, ageusia, retardo na maturação<br />
sexual, lesões <strong>de</strong> pele, hepatoesplenomegalia, lesões<br />
periorificiais, diarréia, alopécia, fotofobia e alterações <strong>de</strong><br />
comportamento. Tais manifestações são mais evi<strong>de</strong>ntes<br />
nas fases <strong>de</strong> crescimento rápido, tais como, lactentes e<br />
adolescentes. A acro<strong>de</strong>rmatite enteropática é uma<br />
herança autossômica recessiva caracterizada por um erro<br />
inato no metabolismo do zinco dificultando sua<br />
incorporação celular e cursando com manifestações<br />
clínicas s<strong>em</strong>elhantes à <strong>de</strong>ficiência grave <strong>de</strong> zinco.<br />
PARTICIPAÇÃO DO ZINCO NO SISTEMA<br />
IMUNE<br />
Os linfócitos contêm 10 a 30 vezes mais zinco do que as<br />
células vermelhas e células <strong>de</strong> tecidos sólidos. Em<br />
estudos experimentais e clínicos foi observado que a<br />
<strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> zinco causa; involução tímica,<br />
imuno<strong>de</strong>ficiência humoral e celular, redução no número<br />
<strong>de</strong> linfócitos T-helper, diminuição no conteúdo <strong>de</strong> DNA<br />
tímico por redução na função da DNA polimerase com<br />
comprometimento na maturação dos linfócitos T e falha<br />
na função bactericida e <strong>de</strong> fagocitose dos neutrófilos.<br />
A supl<strong>em</strong>entação com zinco induz à produção <strong>de</strong><br />
citocinas pelas células mononucleares “in vitro”, assim<br />
foi observado aumento nas interleucinas 1 e 6, fator <strong>de</strong><br />
necrose tumoral e interferon gama. A administração<br />
farmacológica <strong>de</strong> zinco é capaz <strong>de</strong> reverter a<br />
imuno<strong>de</strong>ficiência que ocorre na acro<strong>de</strong>rmatite<br />
enteropática (herança autossômica recessiva resultando<br />
na má-absorção <strong>de</strong> zinco).<br />
Os efeitos benéficos do zinco <strong>em</strong> crianças com doença<br />
diarréica envolv<strong>em</strong> sua participação na síntese protéica<br />
e do DNA principalmente, nos tecidos com alta taxa <strong>de</strong><br />
regeneração como trato gastrointestinal e sist<strong>em</strong>a<br />
imune; aumento da ativida<strong>de</strong> das dissacaridases;<br />
diminuição da permeabilida<strong>de</strong> da mucosa a<br />
macromoléculas e da absorção <strong>de</strong> sódio e água.<br />
Em recente metanálise avaliando-se os efeitos da<br />
supl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> zinco na prevenção da diarréia e<br />
pneumonia <strong>em</strong> crianças vivendo <strong>em</strong> países <strong>em</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento. A análise envolveu 7 estudos com uso<br />
<strong>de</strong> longa duração (supl<strong>em</strong>entação por 12 a 54 s<strong>em</strong>anas)<br />
com 1 a 2 vezes a RDA, 5 a 7 vezes/s<strong>em</strong>ana <strong>de</strong> zinco<br />
el<strong>em</strong>entar e três estudos <strong>de</strong> curta duração com<br />
utilização <strong>de</strong> 2 a 4 vezes a RDA diariamente, por 2<br />
s<strong>em</strong>anas. A supl<strong>em</strong>entação foi associada com redução<br />
substancial nas taxas <strong>de</strong> diarréia e pneumonia <strong>em</strong><br />
menores <strong>de</strong> cinco anos, as duas principais causas <strong>de</strong><br />
mortalida<strong>de</strong> <strong>em</strong> países <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
SIDA<br />
A <strong>de</strong>ficiência secundária <strong>de</strong> zinco t<strong>em</strong> sido verificada<br />
<strong>em</strong> adultos infectados pelo HIV e estudos “in vitro”<br />
suger<strong>em</strong> que o zinco po<strong>de</strong> ter ação anti-viral.<br />
Estudo realizado <strong>em</strong> 13 crianças entre 1,5 e 10 anos <strong>de</strong><br />
ida<strong>de</strong> com SIDA e contag<strong>em</strong> <strong>de</strong> CD4< 500/mm3 e<br />
recebendo 1,8 a 2,2 mg/kg/di por 3 a 4 s<strong>em</strong>anas não<br />
<strong>de</strong>monstraram benefícios expressivos no aumento do<br />
CD4 e na redução dos níveis <strong>de</strong> antígeno p24 após<br />
supl<strong>em</strong>entação.<br />
Na prevenção da transmissão vertical do HIV o papel do<br />
zinco ainda é impreciso.<br />
DOENÇA DIARRÉICA E PNEUMOPATIAS<br />
A diarréia afeta o estado nutricional <strong>de</strong> zinco por<br />
redução na ingestão, pior absorção intestinal e aumento<br />
nas perdas fecais. Estudos mostraram que crianças com<br />
níveis séricos <strong>de</strong> zinco inferiores a 60 mcg/dl<br />
apresentavam maior duração dos episódios respiratórios<br />
e diarréicos.<br />
MALÁRIA<br />
A supl<strong>em</strong>entação com 12,5 mg <strong>de</strong> zinco <strong>em</strong> 685<br />
crianças africanas avaliadas <strong>em</strong> estudo duplo-cego e<br />
randômico mostrou que a supl<strong>em</strong>entação não<br />
apresentou impacto na morbida<strong>de</strong> por malária<br />
falciparum mas reduziu a morbida<strong>de</strong> associada à<br />
diarréia.<br />
29
DESNUTRIÇÃO<br />
Em crianças <strong>de</strong>snutridas graves, entretanto, os benefícios<br />
da supl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> zinco na morbi-mortalida<strong>de</strong> por<br />
processos infecciosos foi evi<strong>de</strong>nciada <strong>em</strong> vários estudos<br />
da literatura que fizeram com que a OMS preconiza-se<br />
sua utilização. Especial atenção <strong>de</strong>ve ser dada à dose,<br />
uma vez que, estudos utilizando 6 mg/kg/dia <strong>de</strong> zinco <strong>em</strong><br />
crianças <strong>de</strong>snutridas foram associados com elevação da<br />
mortalida<strong>de</strong>.<br />
PACIENTES CRÍTICOS EM REGIME DE<br />
TERAPIA INTENSIVA<br />
Em recente publicação do “Clinical Nutrition and<br />
Metabolism Group Symposium on – Nutrition in the<br />
severely-injured patient” foi reforçada a participação dos<br />
micronutrientes, incluindo o zinco, na morbi-mortalida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> pacientes críticos (incluindo sepse) que<br />
frequent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong>moram a atingir suas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
micronutrientes <strong>em</strong> períodos críticos. Baseados <strong>em</strong><br />
estudos <strong>em</strong> adultos recomendou-se a utilização <strong>de</strong> 10<br />
mg/dia para pacientes <strong>em</strong> regime <strong>de</strong> terapia intensiva e<br />
40 mg/dia para queimados. Até o momento não há<br />
recomendações para crianças nessa condição clínica.<br />
DIAGNÓSTICO DA DEFICIÊNCIA<br />
Estado Nutricional <strong>de</strong> Zinco<br />
A anamnese nutricional incluindo a realização <strong>de</strong> inquéritos<br />
nos permite conhecer os padrões <strong>de</strong> ingestão <strong>de</strong> zinco.<br />
A manutenção <strong>de</strong> ingestão a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> zinco <strong>de</strong>ve ser<br />
s<strong>em</strong>pre l<strong>em</strong>brada nas orientações realizadas por<br />
profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />
O nível sérico só po<strong>de</strong>ria ser utilizado para avaliar o estado<br />
<strong>de</strong> zinco <strong>em</strong> condições <strong>de</strong> <strong>de</strong>pleção aguda. Tal fato se <strong>de</strong>ve<br />
ao zinco ser um íon predominant<strong>em</strong>ente intracelular e suas<br />
maiores concentrações corporais ocorrer<strong>em</strong> no músculo<br />
esquelético e ossos. Os métodos laboratoriais mais<br />
utilizados para avaliar a <strong>de</strong>ficiência crônica se divi<strong>de</strong>m <strong>em</strong><br />
diretos: zinco leucocitário e eritrocitário, ou indiretos como<br />
a ativida<strong>de</strong> da 5 nucleotidase e concentração <strong>de</strong><br />
metalotioneína eritrocitária. Estes métodos mais<br />
sofisticados, incluindo técnicas <strong>de</strong> isótopos estáveis, tornam<br />
difícil a avaliação do estado nutricional <strong>de</strong> zinco <strong>em</strong> termos<br />
populacionais, <strong>em</strong> especial, nos países <strong>em</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento.<br />
Tratamento<br />
Em lactentes <strong>de</strong>snutridos e/ou com doença diarréica<br />
persistente utiliza-se 2 mg/kg/dia <strong>de</strong> zinco (máximo <strong>de</strong><br />
20 mg/dia) na fase <strong>de</strong> recuperação nutricional. Este <strong>de</strong>ve<br />
ser administrado na forma <strong>de</strong> sulfato ou acetato.<br />
Não dispomos <strong>de</strong> estudos <strong>em</strong> crianças utilizando<br />
preparações com zinco quelato. Em adultos preparações<br />
com Zn-histidina <strong>de</strong>terminaram nível sérico 25% superior<br />
ao quando sulfato <strong>de</strong> Zn foi utilizado. A utilização <strong>de</strong><br />
15 mg <strong>de</strong> zinco/dia na forma <strong>de</strong> zinco histidina<br />
correspon<strong>de</strong>u a 45 mg <strong>de</strong> Zn como sulfato.<br />
A administração parenteral <strong>de</strong> zinco preconizada é <strong>de</strong><br />
400 ug/kg/dia e 150 ug/kg/dia para recém-nascidos<br />
pré-termo e a termo, respectivamente. Em crianças<br />
maiores utiliza-se 50 ug/kg/dia. Tal administração po<strong>de</strong><br />
ser realizado <strong>em</strong> soluções contendo mistura <strong>de</strong><br />
oligoel<strong>em</strong>entos ou na forma <strong>de</strong> acetato <strong>de</strong> zinco.<br />
30
Bibliografia consultada<br />
Christian P, West Jr, KP.Interactions between zinc and vitamin A: an<br />
update. Am J Clin Nutr 1998;68 (suppl):435-41.<br />
De Angelis RC. Fome oculta, impacto para a população do Brasil.<br />
São Paulo: Atheneu, 1999.p:89-95.<br />
Monte CMG. Desnutrição: um <strong>de</strong>safio secular à nutrição infantil.<br />
J.Pediatr 2000; 76:285S-297S.<br />
Muller O, Becker H, Baltussen A, Ye Y, Diallo DA, Konate AT, Gbangou<br />
A, Kouyate B, Garenne M. Effect of zinc suppl<strong>em</strong>entation on malaria<br />
and other causes of morbidity in West African children: randomised<br />
double blind placebo controlled trial. BMJ 2001; 322:1567-70.<br />
Ripa S, Ripa R. Zinc and immune function. Minerva Med 1995;86(7-<br />
8):315-8.<br />
Salgueiro MJ, Zubillaga M, Lysionek A, Sarabia M, Caro R, De Paoli<br />
T, Hager A, Weil R, Boccio J. Zinc as an essential micronutrient: a<br />
review. Nutr Res 2000; 20:737-55.<br />
Schölmerich J, Freu<strong>de</strong>mann A, Köttgen E, Wietholtz H, Steiert B,<br />
Löhle E, Häussinger D, Gerok W. Bioavailability of zinc from zinchistidine<br />
complexes. I Comparison with zinc sulfate in healthy men.<br />
Am J Clin Nutr 1987;45:1480-6.<br />
Shenkin ª Micronutrients in the severely injured patient. Proc Nutr<br />
Soc 2000; 59:451-6.<br />
Whittaker P. Iron and zinc interactions in humans. Am J Clin Nutr<br />
1998:68:442-6.<br />
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Manag<strong>em</strong>ent of severe<br />
malnutrition: a manual for physicians and other senior health<br />
workers. Geneva, 1999.<br />
Zinc Investigators Collaborative Group. Prevention of diarrhea and<br />
pneumonia by zinc suppl<strong>em</strong>entationj in children in <strong>de</strong>veloping<br />
countries: pooled analysis of randomized controlled trials. J Pediatr<br />
1999; 135:689-97.<br />
31
Cromo<br />
Relatora: Virgínia Resen<strong>de</strong> Silva Weffort<br />
O Cromo (Cr) é um el<strong>em</strong>ento metálico <strong>de</strong> transição<br />
(número atômico 24, peso atômico 51,996),<br />
consi<strong>de</strong>ravelmente raro. Biologicamente, forma<br />
compostos com valências +3 (Cr III) e +6 (Cr VI).<br />
As reservas corporais variam entre 0,4 a 6 mg, sendo<br />
relativamente maiores <strong>em</strong> recém-nascidos do que <strong>em</strong><br />
adultos ou idosos.<br />
FUNÇÕES<br />
O cromo é um nutriente essencial para a ação<br />
hipoglic<strong>em</strong>iante da insulina e normalida<strong>de</strong> do<br />
metabolismo das gorduras. O Cr III é a forma<br />
biologicamente mais ativa, faz parte da molécula do fator<br />
<strong>de</strong> tolerância à glicose (FTG-Cr) que potencializa a função<br />
normal da insulina, incluindo a promoção da entrada da<br />
glicose para o interior das células, on<strong>de</strong> é processada até<br />
gás carbônico ou entra na síntese <strong>de</strong> gorduras. Portanto,<br />
o cromo é essencial para o efeito da insulina no<br />
metabolismo <strong>de</strong> carboidratos, proteínas e gorduras. A<br />
ingestão insuficiente <strong>de</strong> cromo na dieta produz sinais e<br />
sintomas s<strong>em</strong>elhantes aos observados no diabetes e nas<br />
doenças cardiovasculares.<br />
O mecanismo <strong>de</strong> ação do FTG-Cr não é b<strong>em</strong> conhecido,<br />
mas acredita-se que auxilie na ligação entre a molécula<br />
<strong>de</strong> insulina e seus receptores celulares.<br />
Borella & Bargellini, (1993) estudando o efeito do Cr VI <strong>em</strong><br />
cultura <strong>de</strong> linfócitos humanos, refer<strong>em</strong> que o Cr VI induz a<br />
redução da blastogenese e a produção <strong>de</strong> imunoglobulina<br />
<strong>em</strong> relação a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> entrar na célula. Kegley et<br />
al, (1996) observavam que a administração do complexo<br />
cromo – ácido nicotínico <strong>em</strong> vacas, aumenta a função<br />
imune das células, o que não foi observado pelo mesmo<br />
autor <strong>em</strong> 1997, <strong>em</strong> novilhos. Arthington et al (1997)<br />
também não encontraram alteração da resposta imune<br />
usando altas doses <strong>de</strong> cromo <strong>em</strong> vacas.<br />
METABOLISMO ORGÂNICO<br />
A absorção intestinal <strong>de</strong> cromo é baixa, entre 0,5 e<br />
2% do total ingerido. O cromo orgânico e o CrVI<br />
são melhores absorvidos. Após absorção do CrVI, ele<br />
é rapidamente reduzido à forma biologicamente<br />
ativa, a trivalente. O cromo absorvido liga-se à<br />
transferrina, à albumina e, provavelmente, às<br />
globulinas. A maior parte do cromo absorvido é<br />
excretada pelos rins.<br />
FONTES<br />
O cromo está presente nos alimentos na forma<br />
inorgânica ou <strong>em</strong> complexos orgânicos. As melhores<br />
fontes alimentares <strong>de</strong> cromo são: fermentos<br />
biológicos, carnes e grãos integrais. O leite e<br />
<strong>de</strong>rivados são pobres <strong>em</strong> cromo, assim como as frutas<br />
e verduras, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da composição do solo<br />
on<strong>de</strong> o vegetal foi cultivado. Quanto mais refinado e<br />
processado o alimento, menos cromo ele contém.<br />
NECESSIDADES DIÁRIAS RECOMENDADA<br />
(FBN/NAS, 1989)<br />
• Menor <strong>de</strong> 1 ano: 10 a 60 mcg<br />
• Entre 1 e 3 anos: 20 a 80 mcg<br />
• Entre 4 e 6 anos: 30 a 120 mcg<br />
• Entre 7 e 10 anos: 50 a 150 mcg<br />
• Maiores <strong>de</strong> 10 anos: 75 a 250 mcg<br />
Quando o paciente está <strong>em</strong> nutrição parenteral<br />
prolongada, níveis <strong>de</strong> 10 a 20 mcg/dia são<br />
consi<strong>de</strong>rados a<strong>de</strong>quados.<br />
Encontramos 0,20 mcg/ml <strong>de</strong> Cromo no Oliped 4®;<br />
1,0mcg/ml no Ped El<strong>em</strong>ent®; 18mcg/100g <strong>de</strong><br />
Cromo no Nutren1.0®; 17mcg/100g no Nutren<br />
32
Fibras®;19mcg/100g no Peptamen®; 30mcg/1000ml no<br />
Peptamen Júnior®; 15mcg/100g no Neocate®.<br />
Nos casos <strong>de</strong> reservas corporais diminuídas ou nas<br />
condições que po<strong>de</strong>m requerer maior aporte <strong>de</strong> cromo,<br />
como nas dietas muito ricas <strong>em</strong> açúcares, exercício físico<br />
extenuado e situações <strong>de</strong> resposta <strong>de</strong> fase aguda,<br />
incluindo traumatismos físicos, infecções e <strong>de</strong>terminadas<br />
neoplasias, os limites superiores serv<strong>em</strong> como parâmetros<br />
para reposição.<br />
TOXICIDADE DO CROMO<br />
A supl<strong>em</strong>entação indiscriminada do cromo t<strong>em</strong> sido citada<br />
como não fisiológica e potencialmente perigosa. A forma<br />
hexavalente do cromo possui fortes proprieda<strong>de</strong>s<br />
oxidantes, sendo muito mais tóxica do que sua forma<br />
trivalente. Em altas doses está associado a doenças que<br />
inclu<strong>em</strong> <strong>de</strong>rmatoses alérgicas, úlceras, asma ocupacional.<br />
O acúmulo <strong>de</strong> Cr III nos tecidos humanos po<strong>de</strong> afetar as<br />
moléculas <strong>de</strong> DNA e predispô-las à carcinogênese.<br />
A intoxicação aguda geralmente se <strong>de</strong>ve à ingestão<br />
DOSAGEM DO CROMO<br />
As dosagens <strong>de</strong> cromo po<strong>de</strong>m ser feitas no sangue, urina e<br />
cabelos, geralmente através <strong>de</strong> espectrofotometria <strong>de</strong><br />
absorção atômica. Porém, nenhum <strong>de</strong>stes exames me<strong>de</strong><br />
com precisão os níveis corporais.<br />
excessiva <strong>de</strong> cromo hexavalente e algumas vezes à<br />
exposição <strong>em</strong> indústrias como no caso <strong>de</strong> soldadores e<br />
trabalhadores <strong>em</strong> curtumes. Os efeitos da intoxicação<br />
crônica se <strong>de</strong>v<strong>em</strong> à exposição ocupacional, poluição<br />
ambiental e contaminação <strong>de</strong> alimentos.<br />
Bibliografia consultada<br />
ANDERSON R.A. Chromium as na essential nutrient for humans. Regul<br />
Toxicol Pharmacol., 26: 35-41, 1997.<br />
BORELLA,P. & BARGELLINI, A. Effects of trace el<strong>em</strong>ents on immune<br />
syst<strong>em</strong>: results in cultured human lymphocytes. J. Trace El<strong>em</strong><br />
Electroytes Health Dis., 7:231-3, 1993.<br />
ARTHINGTON,J.D. et all. Suppl<strong>em</strong>ental dietary chromiyum does not<br />
influence ACTH, crotisol, or immune responses in young calves<br />
inoculated with bovine herpesvirus-1. J. Anim Sci., 75:217-23,<br />
1997.<br />
CUNHA, D.F & CARVALHO DA CUNHA,S.F. Microminerais. In: Dutra<strong>de</strong>-Oliveira,<br />
J.E. & Marchini, J.S. Ciências Nutricionais. Sarvier, São<br />
Paulo, 1998. Pp. 157-158.<br />
DUCROS,V. Chromium metabolism. A literature review. Biol. Trace<br />
El<strong>em</strong>. Res., 32:65-77, 1992.<br />
Food and Nutrition Board (FBN), National Research Council, NAS.<br />
Recommen<strong>de</strong>d dietary allowances, 10ª ed. Washington (DC):<br />
National Aca<strong>de</strong>my press; 1989.<br />
JEEJEEBHOY,K.N. The role of chromium in nutrition and therapeutics<br />
and as a ppotential toxin. Nutr Ver., 57:329-35, 1999.<br />
KEGLEY,E.B.; SPEARS, J.W.; BROWN, T.T.Jr. Immune response and<br />
disease resistance of calves fed chromium nicotinic acid complex<br />
or chromium chlori<strong>de</strong>. J. Dairy Sci., 79:1278-83, 1996.<br />
KEGLEY,E.B.; SPEARS, J.W; BROWN,T.T.Jr. Effect of shipping and<br />
chromium suppl<strong>em</strong>entation on performance, immune response,<br />
and disease resistance of steers. J. Amin Sci, 75:1956-64, 1997.<br />
MERTZ,W Chromium in human nutriotion: a review. J. Nutr., 123:626-<br />
633, 1993.<br />
PREUSS H.G & ANDERSON R.A. Chromium update: examining recent<br />
literature 1997-1998. Curr Opin Clin Nutri Metab Care. 1: 509-<br />
12, 1998.<br />
STEAMS,D.M. Is chromium a trace essential metal? Biofactors, 11:<br />
149-62, 2000.<br />
VAN HEUGTEN,E.V. & SPEARS, J.W. Immune response and growth<br />
of stressed weanling pigs fed diets suppl<strong>em</strong>ented with organic or<br />
inorganic forms of chromium. J. Anim. Sci, 75:409-16, 1997.<br />
33
Selênio<br />
Relatora: Maria Marlene <strong>de</strong> Souza Pires<br />
INTRODUÇÃO<br />
O selênio (Se) é um el<strong>em</strong>ento, relativamente raro, <strong>de</strong><br />
número atômico 34 e peso 78,96. Foi i<strong>de</strong>ntificado pela<br />
primeira vez <strong>em</strong> 1817 por John Jacob Berzelius. Em 1957<br />
Schwarz e Foltz reportaram que o selênio seria um<br />
el<strong>em</strong>ento traço essencial, pois prevenia a necrose<br />
hepática <strong>em</strong> ratos com <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> vitamina E. Em<br />
1959 foi feito o primeiro relato relacionando o selênio<br />
com o sist<strong>em</strong>a imune, quando se observou a<br />
incorporação do mesmo a uma proteína leucocitária,<br />
mais tar<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificada como glutationa peroxidase<br />
(GPX). A importância do selênio para o hom<strong>em</strong> somente<br />
foi evi<strong>de</strong>nciada <strong>em</strong> 1973, quando a seleno-enzima<br />
glutationa peroxidase (GPX) foi i<strong>de</strong>ntificada como sendo<br />
vital na proteção das m<strong>em</strong>branas celulares e subcelulares.<br />
Em 1979 cientistas chineses <strong>de</strong>monstraram que a<br />
supl<strong>em</strong>entação com selênio prevenia o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
da doença <strong>de</strong> Keshan, miocardiopatia que ocorria <strong>em</strong><br />
crianças e gestantes (moradoras <strong>de</strong> locais com solo pobre<br />
<strong>em</strong> selênio). Burk e cols. fizeram gran<strong>de</strong>s progressos na<br />
purificação e caracterização <strong>de</strong> suas selenoproteínas P.<br />
O selênio também está envolvido na conversão do T4 <strong>em</strong><br />
T3, forma mais ativa do hormônio tireoi<strong>de</strong>ano. A baixa<br />
ingestão <strong>de</strong> selênio altera a função tireoi<strong>de</strong>ana,<br />
diminuindo os níveis <strong>de</strong> T 3<br />
, simultaneamente ao aumento<br />
<strong>de</strong> T 4<br />
.<br />
As selenoproteínas também são importantes na formação<br />
do esperma, no funcionamento da próstata e da função<br />
imunológica normal, particularmente da imunida<strong>de</strong><br />
mediada por células. Presume-se que a selenoproteína P<br />
plasmática exerça ação antioxidante extracelular ou esteja<br />
envolvida no transporte do selênio.<br />
SELÊNIO E SAÚDE HUMANA<br />
O selênio é um componente das selenoproteínas,<br />
algumas das quais têm importantes funções<br />
enzimáticas. Aproximadamente 35 selenoproteínas<br />
foram i<strong>de</strong>ntificadas, porém muitas <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penham<br />
funções que ainda não foram completamente<br />
esclarecidas. O selênio t<strong>em</strong> importantes repercussões à<br />
saú<strong>de</strong> particularmente <strong>em</strong> relação à resposta imune e à<br />
prevenção do câncer, que se encontram não<br />
exclusivamente relacionadas a estas funções<br />
enzimáticas.<br />
QUADRO CLÍNICO<br />
Deficiência: O estado nutricional do selênio po<strong>de</strong> ser<br />
avaliado por indicadores bioquímicos como os níveis<br />
séricos <strong>de</strong> selênio, que geralmente reflet<strong>em</strong> sua<br />
ingestão recente; os níveis <strong>de</strong> selênio nas h<strong>em</strong>ácias<br />
reflet<strong>em</strong> uma ingestão <strong>de</strong> longo t<strong>em</strong>po. A ativida<strong>de</strong><br />
plasmática da glutationa peroxidase também t<strong>em</strong> sido<br />
usada, assim como as concentrações <strong>em</strong> unhas e<br />
cabelos. A dosag<strong>em</strong> da selenoproteína P plasmática<br />
t<strong>em</strong>-se mostrado útil, já que seus níveis se<br />
correlacionam positivamente com os da glutationa<br />
redutase extracelular e do selênio sérico.<br />
Exist<strong>em</strong> evidências <strong>de</strong> que a mínima <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong><br />
selênio po<strong>de</strong> trazer conseqüências adversas, como a<br />
susceptibilida<strong>de</strong> a doenças e prejuízo da manutenção<br />
<strong>de</strong> um estado ótimo <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. O estado carencial <strong>de</strong><br />
selênio po<strong>de</strong> contribuir com a etiologia ou exacerbar a<br />
progressão da doença.<br />
Nas regiões com solo pobre <strong>em</strong> selênio foram relatados<br />
casos miocardiopatia e osteoartrite <strong>de</strong>formante,<br />
respectivamente conhecidas como Doença <strong>de</strong> Keshan e<br />
Doença <strong>de</strong> Kashin-Beck.<br />
34
Nos pacientes com Doença <strong>de</strong> Chagas, a <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong><br />
selênio parece ser um marcador biológico da infecção pelo<br />
Trypanosoma cruzi, além <strong>de</strong> estar relacionada com a<br />
progressão da doença. A <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> selênio parece<br />
contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento da insuficiência cardíaca<br />
congestiva <strong>em</strong> crianças com kwashiorkor e marasmokwashiorkor.<br />
Em estudo realizado na Finlândia <strong>de</strong>monstrou-se que<br />
baixos níveis séricos <strong>de</strong> selênio parec<strong>em</strong> estar associados<br />
com o aumento do risco <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> pulmão. Foram<br />
coletadas amostras séricas <strong>de</strong> aproximadamente 9.000<br />
pacientes do Finnish Mobile Clinic Health Examination<br />
Survey nos períodos <strong>de</strong> 1968 a 1971 e <strong>de</strong> 1973 a 1976.<br />
Até 1991, 95 pacientes tinham tido diagnóstico <strong>de</strong> câncer<br />
<strong>de</strong> pulmão. Os pesquisadores dosaram então os níveis<br />
séricos <strong>de</strong> selênio neste grupo e <strong>em</strong> 190 pacientes<br />
controles do mesmo grupo, observando uma relação<br />
inversa entre a incidência <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> pulmão e os níveis<br />
séricos <strong>de</strong> selênio.<br />
A <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> selênio é comum <strong>em</strong> renais crônicos <strong>em</strong><br />
h<strong>em</strong>odiálise prolongada, situação <strong>em</strong> que também ocorre<br />
comprometimento do sist<strong>em</strong>a antioxidativo, com lesão<br />
tecidual por radicais livres. A supl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> selênio,<br />
nestes casos aumenta os níveis séricos <strong>de</strong> selênio e da<br />
glutationa peroxidase plasmática e eritrocitária e otimiza o<br />
sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> purificação <strong>de</strong> radicais livres <strong>de</strong> oxigênio.<br />
A <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> selênio resulta <strong>em</strong> um aumento<br />
significativo do colesterol plasmático. Dietas pobres <strong>em</strong><br />
selênio aumentam duas a três vezes o risco <strong>de</strong> doença<br />
cardíaca, quando comparados com pessoas ingerindo<br />
dietas ricas <strong>em</strong> selênio. As enzimas que contêm selênio<br />
diminu<strong>em</strong> a oxidação das lipoproteínas e proteg<strong>em</strong> as<br />
artérias contra o <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> colesterol. É, portanto<br />
consenso que o selênio t<strong>em</strong> ação importante no<br />
mecanismo antiateroma.<br />
Estudos epi<strong>de</strong>miológicos, ainda controversos associam a<br />
alta ingestão <strong>de</strong> selênio com o reduzido risco <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> câncer.<br />
A doença <strong>de</strong> Keshan, uma miocardiopatia endêmica<br />
juvenil que acomete também mulheres <strong>em</strong> fase<br />
reprodutiva, observada na China, parece resultar da<br />
interação <strong>de</strong> diversos fatores, incluindo a <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong><br />
selênio, <strong>de</strong> vitamina E e ácidos graxos poliinsaturados e<br />
possivelmente <strong>de</strong> um agente infeccioso (vírus Coxsackie).<br />
Já a doença <strong>de</strong> Kashin-Beck é uma osteoartropatia<br />
endêmica que também foi ligada com o baixo estado <strong>de</strong><br />
selênio. Esta doença acomete principalmente crianças<br />
entre 5 a 13 anos que viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> certas regiões da China e<br />
da antiga União Soviética.<br />
Doenças relacionadas com <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> Selênio:<br />
• Câncer<br />
• Doenças <strong>de</strong>generativas<br />
• Deficiências imunológicas<br />
• Artrite Reumatói<strong>de</strong><br />
• Doenças cardíacas<br />
Vírus HIV: Exist<strong>em</strong> evidências <strong>de</strong> que a <strong>de</strong>ficiência do<br />
selênio contribuiria <strong>de</strong> forma negativa na evolução da<br />
infecção pelo HIV, e <strong>de</strong> que a sua supl<strong>em</strong>entação po<strong>de</strong>ria<br />
auxiliar no tratamento por ser um potente inibidor da<br />
replicação viral in vitro. A progressão da infecção pelo HIV<br />
ocorre paralelamente à perda progressiva das células CD4<br />
T helper. Mais <strong>de</strong> 20 estudos relatam o <strong>de</strong>clínio<br />
progressivo dos níveis plasmáticos <strong>de</strong> selênio<br />
paralelamente à perda progressiva das células CD4 na<br />
infecção pelo HIV. Este <strong>de</strong>clínio do selênio ocorre mesmo<br />
<strong>em</strong> estágios iniciais da doença quando a <strong>de</strong>snutrição ou a<br />
má-absorção não po<strong>de</strong> ser um cofator associado. É fato<br />
que o selênio plasmático é um forte fator preditor do<br />
<strong>de</strong>sfecho da infecção pelo HIV. Baum e colaboradores<br />
mostraram que os pacientes HIV que eram selênio<br />
<strong>de</strong>ficientes tinham 20 vezes maior chance <strong>de</strong> morrer <strong>de</strong><br />
causas HIV relacionadas do que aqueles com níveis<br />
a<strong>de</strong>quados ( p< 0,0001). A <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> selênio é<br />
consi<strong>de</strong>rada por estes pesquisadores como a concentração<br />
plasmática igual ou menor do que 85 µg/L, uma<br />
concentração não atingida <strong>em</strong> muitos países do norte da<br />
Europa, on<strong>de</strong>, por ex<strong>em</strong>plo, um estudo escocês encontrou<br />
uma concentração média <strong>de</strong> 60 µg/L. Baun e<br />
colaboradores <strong>de</strong>monstraram que a presença <strong>de</strong> baixos<br />
níveis <strong>de</strong> selênio é um fator <strong>de</strong> risco significativamente<br />
35
maior para a mortalida<strong>de</strong> do que a contag<strong>em</strong> <strong>de</strong> células T,<br />
por um fator <strong>de</strong> 16, e confere um risco significativamente<br />
maior que a <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> qualquer outro nutriente já<br />
investigado. Em pacientes com HIV, a <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong><br />
selênio também está associada a um maior risco relativo<br />
do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> infecções por micobactérias. Em<br />
crianças infectadas pelo HIV, os baixos níveis <strong>de</strong> selênio<br />
plasmático estavam significativamente e<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente relacionados à mortalida<strong>de</strong> e<br />
progressão mais rápida da doença (risco relativo 5.96,<br />
p=0,02). O selênio parece também ter um efeito protetor<br />
contra a progressão para a condição <strong>de</strong> câncer hepático<br />
nos indivíduos infectados pelo vírus da hepatite (B ou C).<br />
FONTES<br />
O selênio encontrado no solo é incorporado a ca<strong>de</strong>ia<br />
alimentar através dos vegetais, e conseqüent<strong>em</strong>ente dos<br />
animais que <strong>de</strong>les se alimentam. Dessa forma, está<br />
presente nos alimentos ligados a dois aminoácidos<br />
modificados, a selenocisteína (orig<strong>em</strong> animal) e a<br />
selenometionina (orig<strong>em</strong> vegetal), sendo a sua<br />
concentração <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do teor <strong>de</strong> selênio no solo.<br />
Há muitas regiões seleníferas ricas <strong>de</strong>sse micronutriente<br />
como a Venezuela e outras pobres como, por ex<strong>em</strong>plo,<br />
Keshan na China. As chuvas ácidas reduz<strong>em</strong> o teor <strong>de</strong><br />
selênio dos vegetais. De forma geral, quanto maior o<br />
conteúdo <strong>de</strong> proteína no alimento, maior a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
selênio. O selênio está presente <strong>em</strong> boa quantida<strong>de</strong> <strong>em</strong><br />
alimentos como o aipo, alho, brócolis, cebola, cereais<br />
integrais, cogumelos, farelo <strong>de</strong> trigo, fígado, frango,<br />
vísceras, peixes, atum, frutos do mar, g<strong>em</strong>a <strong>de</strong> ovo, germe<br />
<strong>de</strong> trigo, pepino e repolho. A castanha-do-pará t<strong>em</strong> altos<br />
níveis <strong>de</strong> selênio (16 a 30 (µg/g), <strong>em</strong> contraste com a<br />
maioria dos alimentos, que contém entre 0,01 e 1(µg/g).<br />
Frutas e verduras <strong>em</strong> geral são pobres <strong>em</strong> selênio, mas<br />
po<strong>de</strong>m ser uma boa fonte <strong>de</strong>sse nutriente se o solo for<br />
adubado ou previamente rico <strong>em</strong> selênio. Vegetarianos<br />
que não com<strong>em</strong> ovos têm uma necessida<strong>de</strong> aumentada <strong>de</strong><br />
selênio. O conteúdo <strong>de</strong> selênio nos alimentos é<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do selênio do solo, que po<strong>de</strong> variar <strong>em</strong> seu<br />
conteúdo <strong>em</strong> até 200 vezes.<br />
Os níveis <strong>de</strong> selênio no leite humano são menores que no<br />
leite <strong>de</strong> vaca, no entanto o leite humano apresenta pouco<br />
risco tanto <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência quanto <strong>de</strong> excesso <strong>de</strong>vido a sua<br />
biodisponibilida<strong>de</strong>, sendo a situação nutricional <strong>de</strong> selênio<br />
melhor <strong>em</strong> lactentes amamentados ao seio. O leite<br />
humano contém a<strong>de</strong>quado nível <strong>de</strong> selênio (entre 15 e<br />
20(g/l). O efeito da cocção parece ser pequeno na<br />
biodisponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> selênio no alimento.<br />
A ingestão <strong>de</strong> selênio é a<strong>de</strong>quada para a maioria das<br />
pessoas que habitualmente inger<strong>em</strong> alimentação variada e<br />
com quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia suficiente. Indivíduos<br />
<strong>de</strong>snutridos, ingerindo dietas muito restritivas ou<br />
submetidos à nutrição parenteral prolongada, po<strong>de</strong>m<br />
constituir grupos <strong>de</strong> risco para <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> selênio. Os<br />
sintomas <strong>de</strong>scritos nesses casos se caracterizam por<br />
macrocitose, redução da movimentação, dor muscular,<br />
aumento da creatinoquinase e pseudoalbinismo, todos<br />
corrigidos após a administração <strong>de</strong> selênio.<br />
METABOLISMO<br />
A eficiência da absorção intestinal do selênio inorgânico<br />
varia entre 50 e 80%. As formas orgânicas, selenocisteína<br />
e selenometionina são re-utilizadas pelo organismo <strong>de</strong><br />
forma mais eficiente. O selênio apresenta importante papel<br />
<strong>em</strong> várias vias metabólicas, tendo sido i<strong>de</strong>ntificadas mais<br />
<strong>de</strong> 30 seleno-proteínas e caracterizada a função biológica<br />
da meta<strong>de</strong>. Aproximadamente 60% do selênio no plasma<br />
se encontra incorporado <strong>em</strong> seleno-proteína P, que contém<br />
moléculas <strong>de</strong> selênio na forma <strong>de</strong> selenocisteína. A selenoproteína<br />
P parece servir como transportador do selênio,<br />
facilitando sua distribuição corporal. A presença da selenoproteína<br />
P <strong>em</strong> vários tecidos sugere a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que<br />
tenha muitas outras funções ainda não <strong>de</strong>svendadas. A<br />
seleno-proteína iodotironina <strong>de</strong>iodinase apresenta papel<br />
fundamental na conversão da tiroxina (T4) <strong>em</strong><br />
triiodotironina (T3), enquanto que a seleno-proteína W<br />
está envolvida no metabolismo muscular. Para<br />
bioativida<strong>de</strong> e síntese <strong>de</strong> algumas seleno-proteínas, o<br />
selênio <strong>de</strong>ve estar presente numa forma intermediária<br />
“seleni<strong>de</strong>-like”, se incorporando a resíduos <strong>de</strong><br />
selenocisteína, que geralmente é o sítio ativo das<br />
36
selenoproteínas. Após absorção, o selênio, se acumula <strong>em</strong><br />
fígado e rins, principalmente ligado a GPX. Os níveis<br />
plasmáticos normais variam <strong>de</strong> uma região para outra, na<br />
<strong>de</strong>pendência da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> selênio nos alimentos. A<br />
principal via <strong>de</strong> eliminação do selênio é a renal (50 a 60%<br />
do total), diminuindo sua excreção quando o aporte<br />
alimentar é insuficiente.<br />
FUNÇÃO IMUNE<br />
Vários estudos suger<strong>em</strong> que a <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> selênio está<br />
acompanhada da perda da imunocompetência,<br />
possivelmente não se <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rando o fato <strong>de</strong> que o<br />
selênio encontra-se normalmente <strong>em</strong> quantida<strong>de</strong>s<br />
significativas nos tecidos relacionados à função imune<br />
como o fígado, baço e linfonodos. Tanto a imunida<strong>de</strong><br />
celular como a imunida<strong>de</strong> humoral po<strong>de</strong>m estar<br />
comprometidas.<br />
De forma comparativa a supl<strong>em</strong>entação com selênio,<br />
mesmo nos indivíduos “selenosuficientes”, t<strong>em</strong> importante<br />
efeito estimulante ao sist<strong>em</strong>a imune, incluindo um<br />
aumento da proliferação das células T ativadas (expansão<br />
clonal). Os linfócitos <strong>de</strong> voluntários supl<strong>em</strong>entados com<br />
200 µg por dia <strong>de</strong> selênio (como sódio selenito)<br />
mostraram um aumento da resposta à estimulação<br />
antigênica e uma maior capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> linfócitos citotóxicos com maior <strong>de</strong>struição das células<br />
tumorais. A ativida<strong>de</strong> das células natural-killer mostrou-se<br />
também aumentada. A supl<strong>em</strong>entação resultou num<br />
aumento <strong>de</strong> 118% da citotoxicida<strong>de</strong> tumoral mediada<br />
pelos linfócitos citotóxicos e na elevação <strong>de</strong> 82% da<br />
ativida<strong>de</strong> das células natural killer quando comparados ao<br />
nível basal.<br />
O mecanismo parece estar intimamente relacionado à<br />
capacida<strong>de</strong> do selênio <strong>de</strong> regular a expressão dos<br />
receptores a citoquina reguladora <strong>de</strong> crescimento, a<br />
interleucina-2, na superfície <strong>de</strong> linfócitos ativados e <strong>de</strong><br />
células natural killer, facilitando a sua interação com a<br />
interleucina-2. Esta interação é crucial para a expansão<br />
clonal e diferenciação <strong>de</strong> células T citotóxicas.<br />
As células do sist<strong>em</strong>a imune po<strong>de</strong>m ter uma importante<br />
necessida<strong>de</strong> funcional <strong>de</strong> selênio. As células T ativadas<br />
mostram uma elevação da ativida<strong>de</strong> da selenofosfato<br />
sintetase controlada <strong>em</strong> direção à síntese <strong>de</strong> selenocisteína,<br />
que mostra a importância das selenoproteínas na ativação<br />
da função das células T e para o controle da resposta<br />
imune. Os RNA mensageiros <strong>de</strong> vários genes relacionados<br />
à célula T ( subunida<strong>de</strong> _ do receptor <strong>de</strong> interleucina-2,<br />
CD 4<br />
) têm a capacida<strong>de</strong> teórica <strong>de</strong> <strong>de</strong>codificar<br />
selenoproteínas, sugerindo que os papéis do selênio no<br />
sist<strong>em</strong>a imune po<strong>de</strong> ser mais diversificado do que o<br />
previamente conhecido.<br />
A supl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> selênio parece impulsionar a<br />
imunida<strong>de</strong> celular por meio <strong>de</strong> três mecanismos:<br />
1. regula a expressão do receptor <strong>de</strong> alta afinida<strong>de</strong> a<br />
interleucina-2 das células T, proporciona também um<br />
veículo para aumentar a resposta das células T, com<br />
conseqüente estimulação da produção <strong>de</strong> anticorpos<br />
pelos linfócitos B;<br />
2. previne dano induzido pelo estresse oxidativo a<br />
imunida<strong>de</strong> celular.<br />
3. altera a agregação plaquetária através da diminuição<br />
da produção <strong>de</strong> leucotrienos<br />
NECESSIDADES E SUPLEMENTAÇÃO<br />
O selênio protege compostos orgânicos intracelulares<br />
contra a luz ultravioleta, fenômeno envolvido na<br />
carcinogênese, justificando a supl<strong>em</strong>entação com selênio<br />
na prevenção do câncer <strong>de</strong> pele <strong>em</strong> pessoas predispostas e<br />
vivendo <strong>em</strong> regiões com solo pobre nesse micronutriente.<br />
T<strong>em</strong> sido sugerido que o selênio t<strong>em</strong> potencial na<br />
quimioprevenção da neoplasia colorretal e como<br />
coadjuvante no tratamento do carcinoma <strong>de</strong> células<br />
escamosas da cabeça e pescoço, com melhora importante<br />
da resposta imune celular.<br />
Em pacientes graves, a supl<strong>em</strong>entação com selênio<br />
contribui para diminuição da falência <strong>de</strong> múltiplos órgãos<br />
e sist<strong>em</strong>as, principalmente a insuficiência renal e<br />
respiratória. Foi observado também, diminuição da<br />
incidência <strong>de</strong> infecção secundária <strong>em</strong> pacientes<br />
politraumatizados e gran<strong>de</strong>s queimados.<br />
37
RECOMENDAÇÕES<br />
Embora sejam b<strong>em</strong> conhecidas as necessida<strong>de</strong>s diárias <strong>de</strong><br />
selênio ainda não se conhece a dose a<strong>de</strong>quada para a<br />
função imunomoduladora.<br />
As referências <strong>de</strong> ingestão (DRIs) <strong>de</strong> Selênio variam com a<br />
ida<strong>de</strong> e sexo e po<strong>de</strong>m ser resumidos na tabela abaixo:<br />
Recomendações alimentares <strong>de</strong> selênio (µg/dia) para<br />
crianças, homens e mulheres <strong>em</strong> diferentes faixas etárias.<br />
Lactentes<br />
Crianças<br />
Homens<br />
Mulheres<br />
Gestantes<br />
Lactantes<br />
IDADE<br />
0-6 meses<br />
7-12 meses<br />
1-3 anos<br />
4-8 anos<br />
9-13 anos<br />
14-18 anos<br />
9-13 anos<br />
14 -18 anos<br />
≤ 18 anos<br />
≤ 18 anos<br />
Dietary Reference Intakes<br />
Recomendação<br />
(RDA)<br />
µg/dia<br />
15*<br />
20*<br />
20<br />
30<br />
40<br />
55<br />
40<br />
55<br />
60<br />
70<br />
Fonte: Institute of Medicine - Dietary Reference Intake, 2001<br />
*AI<br />
TOXICIDADE<br />
O selênio <strong>em</strong> si parece não ser tóxico, mas <strong>de</strong>terminados<br />
selení<strong>de</strong>os <strong>de</strong> hidrogênio têm gran<strong>de</strong> toxicida<strong>de</strong>,<br />
s<strong>em</strong>elhantes ao arsênico. Chineses ingerindo quantida<strong>de</strong>s<br />
excessivas <strong>de</strong> selênio (1.000 (µg/dia), na tentativa <strong>de</strong><br />
profilaxia da doença <strong>de</strong> Keshan, <strong>de</strong>senvolveram<br />
espessamento <strong>de</strong> unhas, aroma <strong>de</strong> alho no hálito, an<strong>em</strong>ia<br />
e perda <strong>de</strong> cabelos e unhas. Em síntese, são relatados<br />
como sintomas <strong>de</strong> superdosag<strong>em</strong>: diarréia;<br />
enfraquecimento <strong>de</strong> unhas; odor <strong>de</strong> alho no hálito e suor;<br />
perda <strong>de</strong> cabelo; irritabilida<strong>de</strong>; prurido; gosto metálico;<br />
náusea e vômitos; fadiga incomum e astenia.<br />
38
Bibliografia consultada<br />
Rivera, MT, <strong>de</strong> Souza, AP, Moreno, AH, Xavier, SS, Gomes, JA, Rocha,<br />
MO, Correa-Oliveira, R, Neves, J, Van<strong>de</strong>rpas, J, Araujo-Jorge,<br />
TC. Pregressive Chagas´ cardiomyopathy is associated with low<br />
selenium levels. Am J Trop Med Hyg, 2002, 66(6):706-12.<br />
Rayman, MP, Rayman, MP. The argument for increasing selenium<br />
intake. Proc Nutr Soc, 2002, 61(2):203-15.<br />
Shor-Posner, G, Miguez, MJ, Pineda, LM, Rodriguez, A, Ruiz, P,<br />
Castillo, G, Burbano, X, Lecusay, R, Baum, M. Impact of selenium<br />
status on the pathogenesis of mycobacterial disease in HIV-1-<br />
infected drug users during the era of highly active antiretroviral<br />
therapy. J Acquir Immune Defic Syndr, 2002, 29(2):169-73.<br />
Brown, KM, Arthur, JR. Selenium, selenoproteins and human health:<br />
a review. Public Health Nutr; 2001, 4(2B):593-9.<br />
Neve, J. Selenium as a “nutraceutical”: how to conciliate physiological<br />
and supra-nutritional effects for an essential trace el<strong>em</strong>ent, 2002,<br />
5(6):1-9.<br />
Gartner, R, Albrich, W, Angstwurm, MW. The effect of a selenium<br />
supl<strong>em</strong>entation on the outcome of patients with severe syst<strong>em</strong>ic<br />
inflammation, burn and trauma. Biofactors, 2001, 14(1-4):199-204.<br />
Kir<strong>em</strong>idjian-Schumacher, L., Roy, M. Effect of selenium on the<br />
imunocompetence of patients with head and neck cancer and on<br />
adoptive immunotherapy of early and established lesions.<br />
Biofactors, 2001, 14(1-4):161-8.<br />
Manar, MJ, MacPherson, GD, Mcardle, F, Jackson, MJ, Hart, CA.<br />
Selenium status, kwashiorkor and congestive heart failure. Acta<br />
Paediatr, 2001, 90(8):950-2.<br />
Baum MK, Miguez-Burbano MJ, Campa A, Shor-Posner G. Selenium<br />
and interleukins in persons infected with human immu<strong>de</strong>ficiency<br />
virus type 1. J Infect Dis 2000; 182 Suppl 1: S69-73.<br />
Beck MA. Selenium and host <strong>de</strong>fense towards viruses. Proc Nutr Soc<br />
1999; 58: 707-11.<br />
Brown KM, Pickard K, Nicol F, Beckett GF, Duthie GG, Arthur JR.<br />
Effects of organic and inorganic selenium suppl<strong>em</strong>entation on<br />
selenoenzyme activity in blood lynphoctyes granulocytes platelets<br />
and erythrocytes. Clin Sci 2000; 98: 593-9<br />
Erickson KL, Medina EA, Hubbard NE. Micronutrientes and innate<br />
immunity. J Infect Dis 2000; 182 Suppl 1: S5-10.<br />
Lacetera N, Bernabucci U, Ronchi B, Nardone A . The effects of<br />
injetactable sodium selenite in immune function and milk<br />
production in Sardinian sheep receiving a<strong>de</strong>quate dietary. Vet Res<br />
1999; 30:363-70.<br />
McKenzie RC, Rafferty TS, Beckett GJ. Selenium: an essential el<strong>em</strong>ent<br />
for immune function. Immulogy Today 1998; 19: 342-5.<br />
Neve J. Physiological and nutritional importance of selenium.<br />
Experientia 1991; 47:187-93.<br />
Patrick L. Nutrients and HIV: part one - beta carotene and selenium.<br />
Altern Med Rev 1999; 4:403-13.<br />
Ravaglia G; Forti P; Maioli F; Bastagli L; Facchini A; Mariani E; Savarino<br />
L; Sassi S; Cucinotta D; Lenaz G. Am J Clin Nutr 2000; 71: 590-8.<br />
39
▲<br />
▲<br />
▲<br />
▲<br />
▲<br />
▲<br />
▲<br />
Nucleotí<strong>de</strong>os<br />
Relatores: Ary Lopes Cardoso e Alfredo Cantalice<br />
1 – DEFINIÇÃO<br />
São as unida<strong>de</strong>s básicas dos ácidos nucléicos DNA e RNA,<br />
componentes intracelulares <strong>de</strong> baixo peso molecular que<br />
participam <strong>de</strong> numerosos processos bioquímicos.<br />
Destacam-se as reações <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> energia e<br />
modulação da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diversos enzimas.<br />
Os nucleotí<strong>de</strong>os consist<strong>em</strong> <strong>de</strong> uma base nitrogenada e<br />
um carboidrato (uma pentose). A esse conjunto se ligam<br />
<strong>de</strong> 1 a 3 grupos fosfatos. Os principais representantes<br />
envolvidos numa gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> processos<br />
biológicos são os <strong>de</strong>soxirribonucleotí<strong>de</strong>os , <strong>em</strong> que a<br />
pentose <strong>de</strong>soxirribose é usada no DNA, e os<br />
ribonucleotí<strong>de</strong>os, on<strong>de</strong> a pentose é a ribose que é usada<br />
no RNA.<br />
Os <strong>de</strong> interesse primário são as formas <strong>de</strong> monofosfato <strong>de</strong><br />
a<strong>de</strong>nosina (AMP), guanosina (GMP), inosina (IMP),<br />
citidina (CMP) e uridina (UMP).<br />
A gran<strong>de</strong> parcela dos nucleotí<strong>de</strong>os ingeridos o é na<br />
forma <strong>de</strong> nucleoproteínas. No leite materno existe<br />
também uma parcela <strong>de</strong> nucleotí<strong>de</strong>os livres e ácidos<br />
nuclêicos. Além do leite materno, a carne, os frutos do<br />
mar e os legumes secos são alguns dos alimentos que<br />
possu<strong>em</strong> gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> nucleotí<strong>de</strong>os <strong>em</strong> sua<br />
composicão.<br />
No trato gastrointestinal a ação das enzimas<br />
proteolíticas faz com que se liber<strong>em</strong> os ácidos nuclêicos,<br />
que se <strong>de</strong>gradam formando uma mistura <strong>de</strong><br />
polinucleotí<strong>de</strong>os por ação das nucleases pancreáticas.Os<br />
grupos fosfato dos nucleotí<strong>de</strong>os são clivados pela<br />
fosfatase alcalina intestinal para formar nucleosí<strong>de</strong>os.<br />
Estes, sob a ação das nucleosida<strong>de</strong>s vão formar as bases<br />
livres purinas e pirimidinas (QUADRO 1)<br />
QUADRO 1 – Metabolismo dos Nucleotí<strong>de</strong>os<br />
Habitualmente os nucleotí<strong>de</strong>os não são consi<strong>de</strong>rados<br />
essenciais uma vez que po<strong>de</strong>m ser sintetizados no<br />
organismo. No entanto <strong>em</strong> situações <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>manda<br />
metabólica, como aquela que acontece no período<br />
neonatal, quando existe uma gran<strong>de</strong> proliferação celular,<br />
o suprimento endógeno po<strong>de</strong> não ser suficiente para<br />
suprir as necessida<strong>de</strong>s, e <strong>de</strong>ssa forma eles se tornam<br />
s<strong>em</strong>i-essenciais ou condicionalmente essenciais.<br />
Nucleoproteinas<br />
Proteases<br />
Acidos Nuclêicos<br />
Nucleases pancreáticas;<br />
fosfoesterases<br />
Nucleotí<strong>de</strong>os<br />
Nucleotí<strong>de</strong>os<br />
2 – METABOLISMO<br />
O leite materno é a principal fonte exógena <strong>de</strong><br />
nucleotí<strong>de</strong>os: 2 a 5% do nitrogênio não protêico é<br />
constituído por eles. Essas quantida<strong>de</strong>s correspon<strong>de</strong>m a<br />
25% do nitrogênio total do leite humano. Nas fórmulas<br />
baseadas <strong>em</strong> leite <strong>de</strong> vaca apenas 2% do nitrogênio total<br />
correspon<strong>de</strong> a essa fração, o que evi<strong>de</strong>ncia a importancia<br />
do leite materno como fonte <strong>de</strong>sse nutriente.<br />
P in Fosfatase Alcalina<br />
intestinal / nucleotidases<br />
Nucleosí<strong>de</strong>os<br />
Nucleosí<strong>de</strong>os<br />
Nucleosidases<br />
Purinas & Pirimidinas<br />
Purinas & Pirimidinas<br />
40
Mais <strong>de</strong> 90% do que é ingerido é absorvido numa<br />
combinação <strong>de</strong> bases, nucleotí<strong>de</strong>os, nucleosí<strong>de</strong>os e<br />
ácidos nuclêicos. No entanto, no trato gastrointesinal,<br />
primariamente a forma mais absorvida é a dos<br />
nucleosí<strong>de</strong>os.<br />
TABELA 1<br />
Concentração média dos nucleotí<strong>de</strong>os e total <strong>de</strong><br />
nucleosí<strong>de</strong>os potencialmente disponíveis (TNPD) <strong>em</strong><br />
amostras misturadas <strong>de</strong> leite humano por estágio <strong>de</strong><br />
lactação * -(mg <strong>de</strong> nucleoti<strong>de</strong>os / litro)<br />
Uma parcela dos nucleotí<strong>de</strong>os<br />
absorvidos vai permanecer no<br />
interior do enterócito, ou <strong>de</strong><br />
células h<strong>em</strong>atopoiéticas, ou ainda<br />
na medula óssea, a título <strong>de</strong><br />
estoque para ser mobilizada <strong>em</strong><br />
situações <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>. Isso<br />
po<strong>de</strong> ocorrer, por ex<strong>em</strong>plo, numa<br />
situação <strong>em</strong> que seja necessária<br />
maior síntese ou proliferação<br />
tecidual. O conteúdo <strong>de</strong><br />
nucleotí<strong>de</strong>os no interior das<br />
células é muito b<strong>em</strong> regulado e<br />
não sofre variações.<br />
Colostro<br />
Leite transição<br />
Leite maduro precoce<br />
Leite maduro tardio<br />
Média<br />
Dp<br />
Intervalo<br />
Leite - mães americanas**<br />
Uridina<br />
9.5<br />
11.8<br />
17.7<br />
17.3<br />
14.0<br />
4.2<br />
7.7/24.7<br />
16<br />
Citidina<br />
22.0<br />
26.7<br />
31.7<br />
29.8<br />
27.3<br />
7.8<br />
10.3/45.4<br />
30<br />
Guanosina<br />
10.0<br />
14.3<br />
21.4<br />
13.4<br />
14.9<br />
6.6<br />
9.1/43.9<br />
15<br />
A<strong>de</strong>nosina<br />
7.4<br />
10.3<br />
16.3<br />
11.0<br />
11.3<br />
6.9<br />
4.6/34.4<br />
11<br />
*dados <strong>de</strong> 100 amostras individuais coletadas <strong>em</strong> 4 locais e combinadas <strong>em</strong> 16 amostras misturadas.<br />
**amostra misturada <strong>de</strong> leite coletado <strong>de</strong> 11 mulheres entre 2 e 4 meses após o parto.<br />
TNPD<br />
48.9<br />
63.1<br />
87.1<br />
71.5<br />
67.5<br />
23.8<br />
31.7/148.4<br />
72<br />
3 – NUCLEOTÍDEOS POTENCIALMENTE<br />
DISPONÍVEIS<br />
As quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> nucleotí<strong>de</strong>os acrescentados às<br />
fórmulas infantis foram propostas por estudos que<br />
apenas levaram <strong>em</strong> conta as formas monoméricas dos<br />
nucleotí<strong>de</strong>os, isto é, nucleotí<strong>de</strong>os e nucleosí<strong>de</strong>os. Após<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novas técnicas para a<br />
<strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> todas as fontes <strong>de</strong> nucleotí<strong>de</strong>os, foi<br />
possivel se <strong>de</strong>terminar o total dos nucleotí<strong>de</strong>os<br />
<strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> todas as fontes no leite humano que<br />
po<strong>de</strong>m ser absorvidas, ou o total dos assim chamados<br />
nucleotí<strong>de</strong>os potencialmente disponíveis (TNPD). Para<br />
a <strong>de</strong>terminação dos TNPD a amostra <strong>de</strong> leite é<br />
incubada com enzimas específicas que são<br />
selecionadas para simular a digestão humana.<br />
É possível se observar que existe uma variação muito<br />
gran<strong>de</strong> na concentração dos nucleotí<strong>de</strong>os <strong>em</strong> cada estágio<br />
<strong>de</strong> lactação. Além disso também se observa um gran<strong>de</strong><br />
intervalo <strong>de</strong> valores para cada nucleosí<strong>de</strong>o e para o total<br />
dos nucleotí<strong>de</strong>os disponíveis. Até há muito pouco t<strong>em</strong>po a<br />
dosag<strong>em</strong> do conteúdo <strong>de</strong> nucleotí<strong>de</strong>os livres subestimava<br />
o total disponível e <strong>de</strong>ssa forma o enriquecimento das<br />
fórmulas era feito <strong>de</strong> maneira insuficiente. A fórmula<br />
láctea adicionada <strong>de</strong> nucleotí<strong>de</strong>os, que é disponível <strong>em</strong><br />
nosso meio possui quantida<strong>de</strong>s que se ass<strong>em</strong>elham ao<br />
conteúdo <strong>de</strong> nucleotí<strong>de</strong>os totais disponíveis existente no<br />
leite materno. A concentração média no leite materno é <strong>de</strong><br />
72 mg/litro e na fórmula é <strong>de</strong> 68 mg/litro.<br />
Na tabela abaixo estão as concentrações médias dos<br />
nucleotí<strong>de</strong>os e o total <strong>de</strong> nucleosí<strong>de</strong>os potencialmente<br />
disponíveis <strong>em</strong> amostras <strong>de</strong> leite humano <strong>de</strong> acordo<br />
com o estágio da lactação.<br />
41
4 – EFEITOS BIOLÓGICOS DOS NUCLEOTÍDEOS<br />
4.1 Efeitos gastrointestinais<br />
No quadro 2 estão expostos os inúmeros efeitos<br />
gastrointestinais <strong>de</strong>correntes da ação dos nucleotí<strong>de</strong>os.<br />
QUADRO 2<br />
Efeitos dos nucleotí<strong>de</strong>os no trato gastrointestinal<br />
• promove crescimento e maturação do intestino -<br />
aumenta a proteína da mucosa e do DNA dos<br />
enterócitos;<br />
• promove crescimento da altura dos vilos;<br />
• aumento da ativida<strong>de</strong> das dissacaridases;<br />
• melhora a doença diarrêica - aumenta a resposta<br />
imune aos patógenos e/ou promove a integrida<strong>de</strong><br />
da mucosa;<br />
• promove predomínio <strong>de</strong> flora bacteriana intestinal<br />
s<strong>em</strong>elhante a <strong>de</strong> crianças alimentadas com leite<br />
materno;<br />
• aumenta a biodisponibilida<strong>de</strong> do Ferro - maior<br />
absorção.<br />
Os efeitos relacionados com crescimento da altura dos<br />
vilos, aumento da proteína da mucosa e do DNA nos<br />
enterócitos, são <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
nucleotí<strong>de</strong>os que é ingerida. Assim é que pelo menos<br />
0.2% <strong>de</strong> supl<strong>em</strong>entação parece ser já uma quantida<strong>de</strong><br />
razoável para que ocorra esse estímulo. Em média as<br />
quantida<strong>de</strong>s ingeridas chegam até 0.8%.<br />
Com relação ao efeito <strong>de</strong> diminuir a diarréia, o que se<br />
mostrou num estudo realizado no Chile foi que o uso <strong>de</strong><br />
nucleotí<strong>de</strong>os para um grupo <strong>de</strong> lactentes promoveu uma<br />
diminuição do número <strong>de</strong> primeiros episódios <strong>de</strong> doença<br />
diarrêica. Não houve, no entanto, diferenças entre as<br />
características clínicas e o tipo <strong>de</strong> enteropatógenos<br />
encontrados quando se comparou um grupo <strong>de</strong> crianças<br />
com fórmula habitual e outra com fórmula supl<strong>em</strong>entada<br />
com nucleotí<strong>de</strong>os. As hipóteses aventadas foram a <strong>de</strong> que<br />
haveria um efeito <strong>de</strong> melhora da resposta imune aos<br />
patógenos, e ainda um efeito na manutenção da<br />
integrida<strong>de</strong> da mucosa intestinal.<br />
Os lactentes alimentados com nucleotí<strong>de</strong>os possu<strong>em</strong><br />
predomínio <strong>de</strong> bifidobactérias <strong>em</strong> sua flora intestinal,<br />
s<strong>em</strong>elhante aquela dos lactentes amamentados ao seio. A<br />
hidrólise dos açucares promovida por esse tipo <strong>de</strong> flora<br />
permite a manutenção <strong>de</strong> um pH ácido na luz intestinal,<br />
impedindo com isso o crescimento e proliferação <strong>de</strong><br />
espécies patogênicas como os bacterói<strong>de</strong>s e o Clostridium.<br />
É importante ressaltar que esses achados, no entanto, não<br />
são unânimes entre os diversos autores.<br />
4.2 – Efeitos imunológicos<br />
Os inúmeros estudos <strong>de</strong>dicados à atuação dos nucleotí<strong>de</strong>os<br />
sobre a função imunológica dos lactentes t<strong>em</strong> mostrado<br />
que eles atuam principalmente:<br />
• promovendo a maturação do linfócito T<br />
• aumentando a produção <strong>de</strong> interleucina 2 e outras<br />
linfocinas<br />
• aumentando a ativida<strong>de</strong> das células killer<br />
Des<strong>de</strong> 1990 a atuação do leite materno na formação <strong>de</strong><br />
anticorpos t<strong>em</strong> sido investigada no sentido <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r<br />
como os lactentes amamentados consegu<strong>em</strong> ter maior<br />
fabricação <strong>de</strong> anticorpos <strong>em</strong> resposta a vacinas orais e<br />
parenterais.<br />
S<strong>em</strong>pre que uma resposta apropriada <strong>de</strong> anticorpos é<br />
gerada após uma provocação antigênica, significa que o<br />
sist<strong>em</strong>a imune está integro. Isso fornece o fundamento<br />
para o <strong>em</strong>prego da resposta às vacinas como meio <strong>de</strong><br />
avaliação da competência do sist<strong>em</strong>a imunológico. As<br />
diferenças na resposta <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> anticorpos <strong>em</strong><br />
estudos <strong>de</strong> acompanhamento <strong>de</strong> lactentes após ter<strong>em</strong> sido<br />
vacinados com diversos tipos <strong>de</strong> vacinas, permitiu que se<br />
tivesse base para comparar fórmulas com e s<strong>em</strong><br />
nucleotí<strong>de</strong>os, exatamente para se avaliar o seu papel no<br />
<strong>de</strong>senvolvimento do sist<strong>em</strong>a imunológico.<br />
Exist<strong>em</strong> estudos que compararam a resposta imune ativa<br />
<strong>de</strong> lactentes amamentados com aquela <strong>de</strong> um grupo que<br />
recebeu fórmula <strong>de</strong> leite <strong>de</strong> vaca modificado. Mostrou-se<br />
que aos 7 e 12 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, os níveis <strong>de</strong> anticorpos<br />
contra o Ha<strong>em</strong>ofilus influenza tipo B eram s<strong>em</strong>elhantes<br />
nos dois grupos.<br />
42
Um outro grupo <strong>de</strong> pesquisadores estudou<br />
prospectivamente vários grupos <strong>de</strong> lactentes quanto ao<br />
tipo <strong>de</strong> leite recebido:<br />
• fórmula contendo nucleotí<strong>de</strong>os <strong>em</strong> quantida<strong>de</strong>s<br />
s<strong>em</strong>elhantes aquelas encontradas no leite materno<br />
• fórmula s<strong>em</strong> nucleotí<strong>de</strong>os e<br />
• leite materno.<br />
Durante 12 meses a função imune foi estudada através da<br />
resposta a algumas vacinas. Foram <strong>de</strong>terminadas as<br />
respostas anticórpicas aos 6, 7 e 12 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, frente à<br />
vacina contra o Ha<strong>em</strong>ofilus influenza tipo B, à vacina tríplice e<br />
à vacina Sabin. Clinicamente os grupos tiveram evoluções<br />
s<strong>em</strong>elhantes. No grupo com leite supl<strong>em</strong>entado houve<br />
aumento dos anticorpos antih<strong>em</strong>ofilus e antidifteria aos 7<br />
meses apenas, quando comparado com o supl<strong>em</strong>entado. Os<br />
níveis <strong>de</strong> anticorpos antipólio e antitétano não foram<br />
diferentes. No grupo amamentado houve aumento dos<br />
anticorpos antipólio <strong>de</strong> maneira significativa, aos 6 meses,<br />
<strong>em</strong> relação aos outros dois grupos. Essas diferenças<br />
po<strong>de</strong>riam ser atribuídas a um efeito estimulador da resposta<br />
da célula T pelos nucleotí<strong>de</strong>os.<br />
Outro estudo <strong>em</strong> <strong>de</strong>snutridos marásmicos supl<strong>em</strong>entados<br />
com nucleotí<strong>de</strong>os durante 3 meses mostrou que houve<br />
uma melhora na função imune <strong>de</strong>ssas crianças, além <strong>de</strong> ter<br />
sido constatado aumento sérico tanto <strong>de</strong> IgA como <strong>de</strong><br />
IgM. Houve ainda uma diminuição <strong>de</strong> infecções <strong>de</strong> vias<br />
respiratórias.<br />
Em pr<strong>em</strong>aturos também se observou resposta <strong>de</strong> maior<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> anticorpos circulantes à betalactoglobulina<br />
e alfa-caseína quando recebiam fórmula<br />
com nucleotí<strong>de</strong>os <strong>em</strong> concentrações s<strong>em</strong>elhantes aquelas<br />
encontradas no leite materno.<br />
Os estudos <strong>em</strong> animais mostrando que a <strong>de</strong>privação <strong>de</strong><br />
nucleotí<strong>de</strong>os prolonga a sobrevida <strong>de</strong> enxertos <strong>de</strong> coração<br />
além <strong>de</strong> impedir a resposta imunoproliferativa a eles,<br />
apontam para a hipótese <strong>de</strong> que os nucleotí<strong>de</strong>os<br />
estimulariam a ativida<strong>de</strong> das células killer nos lactentes<br />
que receb<strong>em</strong> leite materno ou leite com nucleotí<strong>de</strong>os.<br />
Dessa forma, apesar <strong>de</strong> alguns estudos contraditórios e<br />
outros <strong>de</strong> pouca significância estatística, hoje admite-se<br />
que os nucleotí<strong>de</strong>os t<strong>em</strong> papel relevante no<br />
<strong>de</strong>senvolvimento do sist<strong>em</strong>a imune através do<br />
envolvimento <strong>de</strong> diversos componentes da imunida<strong>de</strong><br />
celular como a maturação dos linfócitos T, a ativação dos<br />
macrófagos, das citocinas, e da ativida<strong>de</strong> natural das<br />
células killer.<br />
4.3 – Efeitos no metabolismo dos lípi<strong>de</strong>s<br />
Diversas ações sobre o metabolismo <strong>de</strong> lípi<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m<br />
ser atribuídas aos nucleotí<strong>de</strong>os:<br />
• aumenta HDL<br />
• diminui LDL<br />
• aumenta síntese <strong>de</strong> poliinsaturados<br />
Os nucleotí<strong>de</strong>os da dieta po<strong>de</strong>m modular o<br />
metabolismo <strong>de</strong> lipoproteínas e <strong>de</strong> ácidos graxos no<br />
início da vida. Estudos clínicos mostram que os<br />
lactentes que receb<strong>em</strong> nucleotí<strong>de</strong>os t<strong>em</strong> menores níveis<br />
<strong>de</strong> VLDL e maiores <strong>de</strong> HDL. Se isso é consequencia do<br />
efeito direto dos nucleotí<strong>de</strong>os na síntese <strong>de</strong><br />
lipoproteínas ou na ativação das enzimas envolvidas<br />
nesses processos, ainda não se sabe. Esse mesmo<br />
aumento das lipoproteínas séricas também acontece <strong>em</strong><br />
recém-nascidos normais amamentados, como também<br />
nos recém-nascidos pequenos para a ida<strong>de</strong> que<br />
receb<strong>em</strong> ou leite materno ou leite supl<strong>em</strong>entado com<br />
nucleotí<strong>de</strong>os.<br />
Em eritrócitos <strong>de</strong> pr<strong>em</strong>aturos e também <strong>de</strong> recémnascidos<br />
<strong>de</strong> termo, que receb<strong>em</strong> nucleotí<strong>de</strong>os o<br />
aumento dos poliinsaturados também já foi constatado.<br />
Em resumo, parece que os nucleotí<strong>de</strong>os t<strong>em</strong> papel na<br />
função imune, na função gastrointestinal e no<br />
metabolismo lipídico do lactente. No entanto, as<br />
controvérsias existentes nos diferentes mecanismos<br />
envolvidos nessas atuações ainda contribu<strong>em</strong> para que a<br />
sua real importância do ponto <strong>de</strong> vista nutricional<br />
necessite <strong>de</strong> maiores estudos.<br />
43
5 – SUPLEMENTAÇÃO DE FÓRMULAS<br />
O leite materno consegue suprir as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
nucleotí<strong>de</strong>os principalmente as quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> UMP, CMP<br />
e AMP. O mesmo po<strong>de</strong>-se dizer das fórmulas<br />
supl<strong>em</strong>entadas existentes no mercado. Essas quantida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong>v<strong>em</strong> suprir as necessida<strong>de</strong>s dos organismos que estão<br />
<strong>em</strong> rápido crescimento e que necessitam dos precursores<br />
dos ácidos nucléicos.<br />
Hoje po<strong>de</strong>-se dizer que a supl<strong>em</strong>entação com nucleotí<strong>de</strong>os<br />
nas quantida<strong>de</strong>s equivalentes às presentes no leite<br />
humano, que são <strong>de</strong> 7 a 30 mg/dl, é segura.<br />
Efeitos tóxicos como supl<strong>em</strong>entação exagerada, a<br />
possível instabilida<strong>de</strong> das fórmulas supl<strong>em</strong>entadas e a<br />
<strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> que a estimulação da função imune<br />
po<strong>de</strong>ria ser traduzida por diminuição da morbida<strong>de</strong> dos<br />
lactentes, são fatores que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser cuidadosamente<br />
avaliados antes <strong>de</strong> se apregoar o benefício do uso da<br />
supl<strong>em</strong>entação rotineira dos nucleotí<strong>de</strong>os.<br />
Bibliografia consultada<br />
Borges VC,Duarte AJS,Waitzberg DL. Imunonutrição - uma perspectiva<br />
<strong>em</strong> nutrição enteral e parenteral na prática pediátrica.<br />
Ed.Atheneu 1990; 53:386-9.<br />
Janas LM,Picciano MF - The nucleoti<strong>de</strong> profile of human milk - Pediatr<br />
Res 1982; 16: 659-662.<br />
Gil A, Sanchez-Medina F - Acid-soluble nucleoti<strong>de</strong>s of human milk at<br />
different stages of lactation - J Dairy Res 1982; 49: 301-307.<br />
Navarro J,Martinez O,Schlesinger L, Gil A - New insights in immune<br />
modulation mediated by dietary nucleoti<strong>de</strong>s - In: Nutritional and<br />
biological significance of dietary nucleoti<strong>de</strong>s and nucleic acids - 1995<br />
Pabst HF,Spady DW - Effect of breast feeding on antibody response<br />
to conjugate vaccine - Lancet 1990; 336: 269-270.<br />
Quinty RH,Lien EL,Marraffa LA, Kuhlman CF - Nucleoti<strong>de</strong><br />
monophosphate levels in human milk - FASEB J. 1992; 6: A1115.<br />
Balmer SE, Hanvey LS, Wharton BA - Diet and faecal flora in the newborn:<br />
nucleoti<strong>de</strong>s - Arch Dis. Child. Fetal Neonatal Ed. 1994; 70 (2): 137.<br />
Carver JD, Pimentel B, Cox WI, Barness LA - Dietary nucleoti<strong>de</strong> effects<br />
upon immune function in infants - Pediatrics 1991 Aug; 88 (2):<br />
359-63.<br />
Leach JI, Baxter JH,Molitor BE,Ramstack MB,Masor ML - Total<br />
potentially available nucleoti<strong>de</strong>s of human milk by stage of lactation<br />
- Amer J Clin Nutr. 1995 June; 61 (6): 1224-30.<br />
Pickering LK, Granoff DM, Erickson JR, Masor ML, Cordle CT, Schaller<br />
JP, Winship TR, Paule CL, Hilty MD - Dietary modulation of the<br />
immune syst<strong>em</strong> by human milk and infant formula containing<br />
human milk levels of nucleoti<strong>de</strong>s - Pediatr Res 1995; 37:131 A.<br />
Brunser O, Araya M, Cruchet S, Gil A - Effect of dietary nucleoti<strong>de</strong><br />
suppl<strong>em</strong>entation on diarrhoeal disease in infants - Acta Pediatr.<br />
1994 Feb; 83 (2): 188-91.<br />
Pickering L, Masor M, Granoff D, Erickson J, Paule C, Hilty M - Human<br />
milk levels of nucleoti<strong>de</strong>s in infant formula reduce inci<strong>de</strong>nce of<br />
diarrhea - In press - FASEB J - Abstract 1996.<br />
Morillas J, Molto L, Robles R, Gil A, Sanchez-Pozo A - Lipoprotein changes<br />
in small for gestational age infants fed nucleoti<strong>de</strong>-suppl<strong>em</strong>ented milk<br />
formula - Acta Pediatr. 1994 May; 83 (5): 481-5.<br />
Thorell L, Sjoberg LB, Hernell O - Nucleoti<strong>de</strong>s in human milk: sources<br />
and metabolims by the newborn infant - Pediatr Research 1996<br />
Dec; 40(6): 845-52.<br />
Uauy R, Quan R, Gil A - Role of nucleoti<strong>de</strong>s in intestinal <strong>de</strong>velopment<br />
and repair: implications for infants nutrition - J Nutr 1994 Aug;<br />
124 (8 suppl): 1436S - 1441S.<br />
Boza J, Jimenez J, Faus MJ, Gil A - Influences of postnatal age and<br />
dietary nucleoti<strong>de</strong>s on plasma fatty acids in the weaning rat - JPEN<br />
1992 Jul-Aug; 16 (4): 322-6.<br />
Martinez AO, Boza J, Del Pino JI, Lucena J, Martinez VA, Gil A - Dietary<br />
nucleoti<strong>de</strong>s might influence the humoral immune response against<br />
cow’s milk proteins in preterm neonates - Biol. Neonate 1997; 71<br />
(4): 215-23.<br />
Sugawara M, Sato N, Nakano T, Idota T, Nakajima I - Profile of<br />
nucleoti<strong>de</strong>s and nucleosi<strong>de</strong>s of human milk - J Nut Sci Vitaminol.<br />
1995 Aug; 41 (4): 409-418.<br />
Uauy R - Nonimmune syst<strong>em</strong> responses to dietary nucleoti<strong>de</strong>s - J<br />
Nutr 1994 Jan; 124 (1 suppl): 157S-159S.<br />
Gil A, Uauy R - Dietary nucleoti<strong>de</strong>s and infant nutrition - J Clin Nutr<br />
Gastroenterol 1989; 4:145-153.<br />
Carver JD,Walker WA - The role of nucleoti<strong>de</strong>s in human nutrition.<br />
Nutr Bioch<strong>em</strong> 1995; 6:58-72.<br />
Gil A, Sanchez-Medina F - Acid-soluble nucleoti<strong>de</strong>s of cow’s, goat’s<br />
and sheep’s milks, at different stages of lactation. J Dairy Res 1981;<br />
48:35-44.<br />
Quan R, Barness LA, Uauy R - Do infants need supl<strong>em</strong>ented formula<br />
for optimal nutrition? - J Pediatr Gastroenterol Nutr 1990; 11:<br />
429-437.<br />
World Health Organization: Energy and Protein Requir<strong>em</strong>ents. Tech<br />
Rep Series no. 724. Geneva: FAO/WHO, 1985.<br />
Bueno J, Torres M, Almendros A et al - Effects of dietary nucleoti<strong>de</strong>s<br />
on small intestinal repair after diarrhoea histological and<br />
ultrastructural changes. GUT 1994; 35:962-73.<br />
44
Volume 3 - Ano 2004<br />
t<strong>em</strong>as<br />
<strong>de</strong> nutrição <strong>em</strong> <strong>pediatria</strong><br />
Publicação elaborada pelo Departamento <strong>de</strong><br />
Nutrição da Socieda<strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>
Alimentos funcionais<br />
Relator: Antônio <strong>de</strong> Azevedo Barros Filho<br />
INTRODUÇÃO<br />
A idéia que <strong>de</strong>terminados tipos <strong>de</strong> alimentos po<strong>de</strong>m ser benéficos à saú<strong>de</strong><br />
v<strong>em</strong> <strong>de</strong> longa data, sendo inclusive referida por Hipócrates, há 25 séculos. Os<br />
chás, por ex<strong>em</strong>plo, são reconhecidos por diversas culturas como tendo<br />
diferentes efeitos benéficos à saú<strong>de</strong>. No entanto, a partir da década <strong>de</strong> 80,<br />
inicialmente no Japão e <strong>em</strong> seguida nos Estados Unidos e <strong>em</strong> vários países da<br />
Europa começou-se a aceitar que a alimentação po<strong>de</strong>ria exercer um papel na<br />
preservação e inclusive na melhora da saú<strong>de</strong> das populações.<br />
Evidências epi<strong>de</strong>miológicas têm mostrado essa associação. A menor<br />
incidência <strong>de</strong> osteoporose e <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> mama na mulher asiática são<br />
atribuídas à dieta rica <strong>em</strong> vegetais e à soja, altamente consumida pela<br />
população. Na região do Mediterrâneo, com dieta rica <strong>em</strong> frutas e vegetais,<br />
óleo <strong>de</strong> oliva e carboidratos, há alta prevalência <strong>de</strong> pessoas com níveis<br />
elevados <strong>de</strong> colesterol, mas não correlacionada à maior incidência <strong>de</strong> infartos.<br />
Outra população característica é a dos esquimós com alto consumo <strong>de</strong><br />
gorduras s<strong>em</strong> correspo<strong>de</strong>nte aumento <strong>de</strong> doenças cardiovasculares. Neste<br />
caso, atribui-se ao consumo <strong>de</strong> peixe, rico <strong>em</strong> ácidos graxos polinsaturados <strong>de</strong><br />
ca<strong>de</strong>ia longa (ômega 3 e ômega 6). S<strong>em</strong> falar no ‘paradoxo francês’, que<br />
apresenta dieta rica <strong>em</strong> gordura, mas com incidência <strong>de</strong> doenças<br />
cardiovasculares b<strong>em</strong> mais baixas que outros paises que consom<strong>em</strong> menos<br />
gorduras. Neste caso a proteção é atribuída ao vinho, principalmente o vinho<br />
tinto.<br />
Além das evidências epi<strong>de</strong>miológicas referidas, algumas com resultados<br />
comprovados <strong>em</strong> laboratórios e estudos clínicos, exist<strong>em</strong> interesses<br />
econômicos, tanto pelo lado dos governos, como pelo lado das <strong>em</strong>presas.<br />
Como as populações estão envelhecendo, existe a preocupação com gastos na<br />
manutenção à saú<strong>de</strong>, e a busca <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> manter essas populações mais<br />
saudáveis e com boa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />
CONCEITO<br />
Não existe consenso quanto à <strong>de</strong>finição, mas alguns grupos têm usado alguns<br />
conceitos operacionais:<br />
ILSI (Europa): “um alimento po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado ‘funcional’ se for<br />
satisfatoriamente <strong>de</strong>monstrado que ele afeta <strong>de</strong> forma benéfica uma ou mais<br />
funções do corpo, além dos efeitos <strong>de</strong> uma nutrição a<strong>de</strong>quada, <strong>de</strong> forma a<br />
46
ser relevante tanto para melhorar o estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e b<strong>em</strong><br />
estar, quanto reduzir o risco <strong>de</strong> doença.”<br />
A expressão “alimento fisiologicamente funcional” foi<br />
proposta no Japão no início da década <strong>de</strong> 80, quando foi<br />
<strong>de</strong>finido como “qualquer alimento ou ingrediente que t<strong>em</strong><br />
um impacto positivo na saú<strong>de</strong>, na performance física ou<br />
no estado mental <strong>de</strong> um indivíduo, além do seu valor<br />
nutritivo”.<br />
Um alimento po<strong>de</strong> tornar-se funcional por meio dos<br />
seguintes métodos:<br />
1 Eliminando um componente conhecido como prejudicial<br />
à saú<strong>de</strong> (por ex. proteínas alergênicas);<br />
2 Aumentando a concentração e/ou a biodisponibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> componentes benéficos;<br />
3 Adicionando componentes que não estão normalmente<br />
presentes;<br />
4 Substituindo um componente negativo por outro<br />
benigno;<br />
5 Preservando a biodisponibilida<strong>de</strong> ou garantindo a<br />
estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um componente conhecido por produzir<br />
efeito funcional durante o processamento.<br />
Um alimento funcional <strong>de</strong>ve permanecer alimento e <strong>de</strong>ve<br />
mostrar efeito quando consumido <strong>em</strong> quantida<strong>de</strong>s<br />
normais. Isso implica que estão fora <strong>de</strong>ssa concepção os<br />
supl<strong>em</strong>entos dietéticos na forma <strong>de</strong> comprimidos, tabletes,<br />
cápsulas ou xaropes. Os alimentos funcionais e/ou seus<br />
componentes <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser seguros, ou seja, acréscimo <strong>de</strong><br />
ingredientes para fortalecer alimentos processados, só<br />
po<strong>de</strong> ser realizado após comprovação <strong>de</strong> sua segurança.<br />
CLASSIFICAÇÃO<br />
Cinco categorias <strong>de</strong> alimentos po<strong>de</strong>m ser classificadas<br />
como alimentos funcionais: fibras dietéticas, vitaminas e<br />
minerais, substâncias bioativas, ácidos graxos, e pré-, próe<br />
simbióticos.<br />
COMPONENTES COM AÇÃO FUNCIONAL<br />
OLIGOSSACARÍDEOS:<br />
frutooligossacarídio e inulina (prebióticos);<br />
POLISSACARÍDEOS:<br />
solúveis e insolúveis (fibra);<br />
FLAVONÓIDES:<br />
quercitina,catequina, genisteína, daidzeina, antocianinas;<br />
CAROTENOIDES:<br />
licopeno, luteína, zeaxantina, beta-caroteno;<br />
FITOSTERÓIS:<br />
silosterol, sitostanol, campesterol, stigmastero, orizanol;<br />
ÁCIDOS GRAXOS:<br />
linoléico (( 6), linolênico (( 3), eicosapentaenoico (EPA),<br />
docosahexaenoico(DHA).<br />
Todos esses grupos têm <strong>de</strong>monstrado efeitos benéficos. A<br />
ingestão <strong>de</strong> fibras reduz o colesterol total, o LDL-colesterol e<br />
os lípi<strong>de</strong>s séricos. Exerc<strong>em</strong> efeito favorável na sensibilização<br />
da insulina e na glicose e melhoram a constipação. As fibras<br />
po<strong>de</strong>m ser encontradas <strong>em</strong> frutas, cereais, verduras, sucos.<br />
Algumas vitaminas como a vitamina A, E e C são conhecidas<br />
como antioxidantes. A ingestão <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>s a<strong>de</strong>quadas<br />
<strong>de</strong> cálcio e <strong>de</strong> vitamina D é indispensável para reduzir o<br />
risco <strong>de</strong> osteoporose. Alta ingestão <strong>de</strong> potássio po<strong>de</strong> ajudar<br />
a controlar a hipertensão. Quantida<strong>de</strong>s extras <strong>de</strong> vitaminas e<br />
minerais po<strong>de</strong>m ser encontradas <strong>em</strong> sucos <strong>de</strong> frutas, cereais<br />
e produtos <strong>de</strong>rivados do leite. Substâncias bioativas como os<br />
polifenóis e os flavonói<strong>de</strong>s, que são conhecidos como anti<br />
carcinogênicos e anti hipertensivos, são encontrados <strong>em</strong><br />
bebidas (vinho, cerveja), chocolate, bebidas <strong>de</strong>rivadas do<br />
leite e produtos <strong>de</strong>rivados da soja. Os ácidos graxos, como o<br />
ômega 3 e ômega 6 são importantes para a coagulação<br />
sanguínea e para a diminuição do LDL-colesterol e dos<br />
triglicéri<strong>de</strong>s. Eles po<strong>de</strong>m ser encontrados <strong>em</strong> margarinas,<br />
óleos, peixes e produtos para bebês.<br />
Em <strong>pediatria</strong> t<strong>em</strong> gran<strong>de</strong> importância os probióticos, que<br />
são microorganismos que interfer<strong>em</strong> na flora intestinal<br />
exercendo papel protetor contra infecções e manifestações<br />
alérgicas, além <strong>de</strong> diminuir a intolerância à lactose. Alguns<br />
probióticos são Lactobacilli, Bifidobacteria, Streptococci e<br />
47
Saccharomyces. Prebióticos são substâncias que influenciam<br />
favoravelmente a microbiota da pessoa (ex. Inulina).<br />
Em t<strong>em</strong>po: <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta concepção o leite materno é um<br />
alimento funcional.<br />
ALGUNS ALIMENTOS E BENEFÍCIOS<br />
ATRIBUÍDOS<br />
Alcachofra e chicória: importante fonte <strong>de</strong> inulina.<br />
A alcachofra também possui um flavonói<strong>de</strong> chamado<br />
silimarina, que é um potente antioxidante.<br />
Alho: contém compostos sulfurados. Apresenta<br />
proprieda<strong>de</strong>s anti-infecciosas. Também foram isolados<br />
outros compostos que apresentam efeitos hipotensor,<br />
hipoglic<strong>em</strong>iante, antiviral, antitumoral,<br />
hipocolesterolêmico, antifúngico, antioxidante, etc. Os<br />
componentes sulforados po<strong>de</strong>m prevenir a ativação <strong>de</strong><br />
nitrosaminas.<br />
Cebola: fonte rica <strong>em</strong> flavonoi<strong>de</strong>s (quercetina) e <strong>em</strong><br />
compostos sulforados.<br />
Cenoura: fonte <strong>de</strong> beta-caroteno. As cenouras púrpuras<br />
t<strong>em</strong> cerca <strong>de</strong> duas vezes mais alfa e beta caroteno que as<br />
cenouras amarelas.<br />
Frutas: ricas <strong>em</strong> polifenóis <strong>de</strong> diferentes tipos, conforme<br />
a fruta.<br />
Leguminosas: feijão, ervilhas, lentilha, grão <strong>de</strong> bico e<br />
soja. As leguminosas são ricas <strong>em</strong> frutooligossacarídios e<br />
saponinas, com ação antioxidante e anticancerígina.<br />
Tomate: rico <strong>em</strong> licopeno, carotenói<strong>de</strong> associado à<br />
redução <strong>de</strong> diversos tipos <strong>de</strong> câncer. O licopeno também<br />
está presente na melancia, na goiaba vermelha, no<br />
mamão papaya e nos diferentes molhos <strong>de</strong> tomate.<br />
Azeite <strong>de</strong> oliva: as proprieda<strong>de</strong>s benéficas do azeite são<br />
atribuídas ao seu conteúdo <strong>de</strong> ácidos graxos<br />
monoinsaturados (ácido oléico), agentes fenólicos<br />
triterpeno, esqualeno e lignanas. Esses componentes t<strong>em</strong><br />
ação antiaterogênica, hipotensora, anticancerígena. O<br />
ácidograxo oléico está presente, além do azeite, no óleo <strong>de</strong><br />
soja, canola, azeitona, abacate, oleaginosas (castanha,<br />
nozes, amêndoas, amendoim).<br />
Chás: chá ver<strong>de</strong> e chá preto: contém óleos voláteis,<br />
vitaminas, minerais, purinas e polifenóis, principalmente<br />
catequinas. Os polifenóis presentes no chá são bons antioxidantes.<br />
O chá po<strong>de</strong> diminuir os níveis <strong>de</strong> colesterol,<br />
diminuir a pressão arterial, protegendo as lipoproteínas LDLcolesterol<br />
da oxidação e reduzindo a agregação plaquetária.<br />
Chocolate: o chocolate é rico <strong>em</strong> polifenóis, e estudos<br />
com cacau <strong>em</strong> pó rico <strong>em</strong> polifenóis mostram que o cacau<br />
apresenta forte capacida<strong>de</strong> antioxidante.<br />
Aveia: é um cereal <strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong> nutricional, rico <strong>em</strong><br />
fibras solúveis <strong>de</strong>nominadas beta-d-glucanas, solúveis <strong>em</strong><br />
água e resistentes aos processos digestivos. As aveias<br />
possu<strong>em</strong> ação hipocolesterolêmica, por apresentar<strong>em</strong><br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aumentar a síntese <strong>de</strong> ácidos biliares e<br />
reduzir a absorção do colesterol. Também exist<strong>em</strong><br />
evidências <strong>de</strong> efeito protetor no <strong>de</strong>senvolvimento do<br />
câncer <strong>de</strong> cólon, e diminuição da absorção da glicose.<br />
Vinhos e uvas: está b<strong>em</strong> estabelecido atualmente, que o<br />
consumo <strong>de</strong> bebidas alcoólicas <strong>em</strong> pequenas quantida<strong>de</strong>s<br />
provoca alterações positivas por meio da melhora do<br />
metabolismo dos lipídios, aumento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> antioxidante<br />
e melhora do estado <strong>de</strong> coagulação, contribuindo<br />
para a diminuição da morbida<strong>de</strong> por doenças coronarianas.<br />
ALEGAÇÕES<br />
Uma das gran<strong>de</strong>s preocupações que pesquisadores,<br />
profissionais da saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> engenharia <strong>de</strong> alimentos, da<br />
indústria <strong>de</strong> alimentos e órgãos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa do consumidor<br />
têm apresentado está relacionada com as alegações<br />
apresentadas nos rótulos das <strong>em</strong>balagens. Como a<br />
população acompanha pela imprensa as <strong>de</strong>scobertas sobre<br />
o papel protetor que <strong>de</strong>terminado produto presente <strong>em</strong><br />
algum alimento po<strong>de</strong> prevenir o infarto ou <strong>de</strong>terminado<br />
tipo <strong>de</strong> câncer, as pessoas po<strong>de</strong>m ser presas fáceis <strong>de</strong><br />
rótulos que induz<strong>em</strong> a consumir este ou aquele produto.<br />
De modo geral, nos países <strong>em</strong> que a legislação está<br />
atualizada <strong>em</strong> relação a esta questão, não permit<strong>em</strong> o uso<br />
<strong>de</strong> termos que sugiram cura ou efeito medicinal. No Brasil<br />
essa matéria é regulada por quatro resoluções publicadas<br />
pela Agência Nacional <strong>de</strong> Vigilância Sanitária <strong>em</strong> abril <strong>de</strong><br />
1999 (ANVS/MS 16, 17, 18 e 19/1999).<br />
48
É consi<strong>de</strong>rada alegação <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> funcional quando<br />
se refere ao papel que o nutriente ou não nutriente<br />
<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha no crescimento, <strong>de</strong>senvolvimento, manutenção<br />
5 As alegações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser passíveis <strong>de</strong> compreensão<br />
correta pelos consumidores e <strong>de</strong> acordo com as políticas<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública.<br />
e outras funções do organismo humano. Por outro lado é<br />
consi<strong>de</strong>rada alegação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> quando afirma, sugere ou<br />
implica a existência <strong>de</strong> relação entre o alimento ou<br />
ingrediente com doença ou condição relacionada à saú<strong>de</strong>.<br />
De maneira geral estes <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser os princípios que<br />
norteiam a alegação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> dos alimentos:<br />
1 O efeito benéfico <strong>de</strong>ve dar-se no contexto regular da dieta;<br />
2 O benefício <strong>de</strong>ve ser conseqüente a um consumo<br />
razoável e manter-se por período prolongado;<br />
3 Deve haver i<strong>de</strong>ntificação da população-alvo (por ex:<br />
crianças);<br />
4 Deve basear-se <strong>em</strong> evidências científicas e/ou consenso<br />
entre especialistas;<br />
CONCLUSÃO TRANSITÓRIA<br />
Estritamente falando, todos os alimentos são funcionais, <strong>de</strong><br />
modo que as <strong>de</strong>finições atualmente <strong>em</strong> uso são <strong>de</strong> caráter<br />
operacional. Do mesmo modo, o conceito <strong>de</strong> alimento, que<br />
não admite a idéia <strong>de</strong> que alimentos funcionais possam ser<br />
supl<strong>em</strong>entos, po<strong>de</strong> ser modificado com o passar do t<strong>em</strong>po<br />
e das concepções que os diferentes segmentos <strong>de</strong><br />
interessados no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa área for<strong>em</strong><br />
adotando. De qualquer forma é importante ter s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong><br />
mente, que muitas vezes <strong>de</strong>terminado componente da dieta<br />
atua <strong>em</strong> consonância com outros, eventualmente não<br />
i<strong>de</strong>ntificados ou sequer suspeitados <strong>de</strong> sua participação.<br />
Bibliografia consultada<br />
AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION: Functional foods - Position of<br />
ADA, J Am Diet Assoc, 99: 1278-1285, 1999.<br />
ARABBI PR: Alimentos funcionais - Aspectos gerais. NUTRIRE, 21:<br />
87-102, 2001.<br />
BRASIL/MS/ANVISA: Resolução nº 16 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999: Aprova<br />
o regulamento técnico <strong>de</strong> procedimentos para registro <strong>de</strong> alimentos<br />
e/ou novos ingredientes.<br />
BRASIL/MS/ANVISA: Resolução nº 17 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999: Aprova<br />
o regulamento técnico que estabelece as diretrizes básicas para<br />
avaliação <strong>de</strong> risco e segurança dos alimentos.<br />
BRASIL/MS/ANVISA: Resolução nº 18 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999: Aprova<br />
o regulamento técnico que estabelece as diretrizes básicas para<br />
análise e comprovação <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s funcionais e/ou <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
alegadas <strong>em</strong> rotulag<strong>em</strong> <strong>de</strong> alimentos.<br />
BRASIL/MS/ANVISA: Resolução n° 19 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999: Aprova<br />
o regulamento técnico <strong>de</strong> procedimentos para registro <strong>de</strong> alimento<br />
com alegação <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s funcionais e/ou <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
<strong>em</strong> sua rotulag<strong>em</strong>.<br />
DREOSTI IE: Antioxidant polyphenols in tea, cocoa, and wine.<br />
NUTRITION, 16: 692 - 694, 2000.<br />
DRIESSCHE MVD, VEEREMAN-WAUTERS G: Functional foods in<br />
pediatrics. Acta gastroenter. Belg, 65: 45-51, 2002.<br />
DUGGAN C, GANNON J, WALKER WA: Protective nutrients and<br />
functional foods for the gastrointestinal tract. Am J Clin Nutr, 75:<br />
789-808, 2002.<br />
HARDY G: Nutraceuticals and functional foods: Introduction and<br />
meaning. NUTRITION, 16: 688- 689, 2000.<br />
ISOLAURI E, RIBEIRO HC, GIBSON G, SAAVEDRA J, VANDERHOOF J,<br />
VARAVTHYA W: Functional foods and probiotics: working group<br />
report of the First World Congress of Pediatric Gastroenterology,<br />
Hepatology and Nutrition. JPGN, 35:S106 - S109, 2002.<br />
LAJOLO FM: Alimentos funcionais, RACINE, 62: 18 - 24, 2001.<br />
MARRIOTT BM: Functional foods: an ecologic perspective. Am J Clin<br />
Nutr, 71 1728S-1734S, 2000.<br />
MILNER JA: Functional foods: the US perspective. Am J Clin Nutr,<br />
71: 1654S - 1659S, 2000.<br />
ROBERFROID MB: Concepts and strategy of functional food science:<br />
the European perspective. Am J Clin Nutr, 71: 1660S - !664S, 2000.<br />
ROBERFROID MB: Prebiotics and probiotics: are they functional foods?<br />
Am J Clin Nutr, 71: 1682S - 1697S, 2000.<br />
ROBERFROID MB: A European consensus of scientific concepts of<br />
functional foods. NUTRITION, 16: 689 - 691, 2000.<br />
ROSS S: Functional foods: the Food and Drug Administration<br />
perspective. Am J Clin Nutr, 71: 1735S - 1738S, 2000.<br />
SGARBIERI VC, PACHECO MTB: Revisão: alimentos funcionais fisiológicos.<br />
Braz J Food Technol, 2: 7 - 19, 1999.<br />
TORRES EAFS: Alimentos funcionais e saú<strong>de</strong> pública. RACINE, 62:<br />
38 - 47, 2001.<br />
VIGGIANO, CE: Efeitos fisiológicos das fibras dietéticas. RACINE, 62:34<br />
- 36, 2001.<br />
49
Volume 4 - Ano 2004<br />
t<strong>em</strong>as<br />
<strong>de</strong> nutrição <strong>em</strong> <strong>pediatria</strong><br />
Publicação elaborada pelo Departamento <strong>de</strong><br />
Nutrição da Socieda<strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>
Distúrbios do Comportamento<br />
Alimentar: Anorexia e Bulimia<br />
Relatores: Virgínia Resen<strong>de</strong> Silva Weffort,<br />
Paulo Pimenta <strong>de</strong> Figueiredo Filho, Selma Freire<br />
<strong>de</strong> Carvalho Cunha e Letícia Chaves Rocha<br />
Os distúrbios do comportamento alimentar, que correspon<strong>de</strong>m basicamente à<br />
anorexia nervosa e à bulimia nervosa, recent<strong>em</strong>ente ganharam relevância e<br />
têm sido objeto <strong>de</strong> inúmeras pesquisas científicas e alvo da atenção da<br />
comunida<strong>de</strong> médica e da população <strong>em</strong> geral.<br />
As duas síndromes são caracterizadas pelo comportamento alimentar bizarro.<br />
A principal característica da anorexia nervosa é a recusa alimentar e da<br />
bulimia, palavra <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> grega que significa “comer um boi”, distingue-se<br />
pela perda <strong>de</strong> controle sobre a alimentação, compensada pela indução do<br />
vômito e práticas laxativas. Embora a anorexia nervosa e bulimia nervosa<br />
apresent<strong>em</strong> manifestações e evoluções distintas, os dois quadros são<br />
marcados por uma dupla obsessão: a imag<strong>em</strong> corporal e a comida.<br />
A anorexia nervosa, <strong>em</strong> geral, ocorre nos primeiros anos da puberda<strong>de</strong>, s<strong>em</strong><br />
uma razão orgânica e manifesta-se por recusa alimentar <strong>de</strong>liberada que leva a<br />
intenso comprometimento do estado nutricional. Há distorção da imag<strong>em</strong><br />
corporal e busca incessante da magreza, com medo intenso <strong>de</strong> engordar.<br />
Secundariamente, ocorre transtorno endócrino com amenorréia. Po<strong>de</strong> estar<br />
associado também, a sintomas <strong>de</strong>pressivos e a conduta anti-social.<br />
A bulimia nervosa ocorre <strong>em</strong> adolescentes mais velhos, também mostra<br />
preocupação constante com a alimentação, episódios freqüentes <strong>de</strong><br />
hiperfagia, seguidos <strong>de</strong> um forte sentimento <strong>de</strong> culpa. Há obsessão com a<br />
imag<strong>em</strong> corporal, períodos <strong>de</strong> restrição alimentar, uso <strong>de</strong> medicamentos para<br />
per<strong>de</strong>r peso e tendência a práticas purgativas (exercícios físicos exagerados,<br />
indução <strong>de</strong> vômitos, uso <strong>de</strong> laxativos e diuréticos), po<strong>de</strong>ndo ser precedida<br />
pela anorexia.<br />
Apesar <strong>de</strong> atribuída à prática recente e indiscriminada da restrição alimentar<br />
pelas mulheres do final do século 20, o primeiro caso conhecido <strong>de</strong> anorexia<br />
nervosa foi <strong>de</strong>scrito há 300 anos. Richard Morton, <strong>em</strong> 1689, relatou o caso<br />
<strong>de</strong> uma garota <strong>de</strong> 17 anos on<strong>de</strong> a <strong>de</strong>screveu “como esqueleto coberto apenas<br />
por pele”. Em 1873, o termo anorexia nervosa foi criado por William Gull,<br />
que junto com o francês Charles Lasègue, <strong>de</strong>screveu <strong>de</strong>talhadamente suas<br />
manifestações clínicas. A importância dos fatores psicológicos já era apontada<br />
por muitos autores, <strong>em</strong>bora durante muitos anos a síndrome tenha sido<br />
confundida com a insuficiência hipofisária. Em 1930, Berkman publicou sua<br />
experiência com 117 pacientes, enfatizando que as anormalida<strong>de</strong>s fisiológicas<br />
observadas nesses pacientes eram <strong>de</strong>vido a distúrbios psíquicos. A bulimia, por<br />
sua vez, somente foi caracterizada como distúrbio alimentar na década <strong>de</strong> 80.<br />
52
Embora tenha sido estabelecido que os distúrbios da<br />
ingestão alimentar eram típicos <strong>de</strong> mulheres <strong>de</strong> classes<br />
sociais mais abastadas, atualmente t<strong>em</strong> sido observado<br />
que eles ocorr<strong>em</strong> <strong>em</strong> todas as camadas sociais e têm se<br />
tornado comuns, tanto <strong>em</strong> centros rurais quanto <strong>em</strong> áreas<br />
urbanas, com evidências <strong>de</strong> que <strong>em</strong> certas profissões, nas<br />
quais a aparência física é extr<strong>em</strong>amente valorizada, exista<br />
um risco aumentado para as <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns do comportamento<br />
alimentar, como <strong>em</strong> atletas, bailarinos, ginastas e mo<strong>de</strong>los.<br />
Não há estatísticas precisas sobre a prevalência real da<br />
anorexia nervosa e da bulimia nervosa, mas há evidência<br />
clínica do aumento <strong>de</strong> sua ocorrência. Esses distúrbios<br />
afetam predominant<strong>em</strong>ente mulheres, da pré-adolescência<br />
à meia ida<strong>de</strong>, <strong>em</strong>bora a faixa etária <strong>de</strong> maior incidência<br />
esteja entre os 12 e os 25 anos. Nos EUA, estima-se que,<br />
nessa faixa etária, aproximadamente 0,5% das mulheres<br />
apresentam anorexia nervosa e 1% bulimia nervosa. É rara<br />
na Ásia, países árabes e <strong>em</strong> alguns países da África, on<strong>de</strong><br />
o culto do corpo magro parece ser menor. Os distúrbios da<br />
ingestão alimentar foram documentados <strong>em</strong> 1% das<br />
garotas adolescentes inglesas <strong>de</strong> maior nível econômico. A<br />
ocorrência <strong>em</strong> homens é cerca <strong>de</strong> 10 a 20 vezes menor do<br />
que a verificada <strong>em</strong> mulheres. Estados subclínicos da<br />
doença, muitas vezes insuficientes para levantar a suspeita<br />
dos familiares, <strong>de</strong> amigos e mesmo dos médicos,<br />
dificultam a precisão da prevalência dos distúrbios da<br />
ingestão alimentar.<br />
Consi<strong>de</strong>rando a incidência crescente e o prognóstico<br />
relativamente reservado <strong>em</strong> situações on<strong>de</strong> há retardo no<br />
diagnóstico <strong>de</strong>finitivo, todo profissional da área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />
principalmente aqueles que cuidam <strong>de</strong> adolescentes, <strong>de</strong>ve<br />
estar capacitado a i<strong>de</strong>ntificar precoc<strong>em</strong>ente os distúrbios<br />
da ingestão alimentar.<br />
PATOGÊNESE<br />
Os distúrbios da ingestão alimentar têm orig<strong>em</strong><br />
multifatorial, <strong>de</strong>correndo da interação <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong><br />
condições predisponentes, precipitantes e perpetuadoras.<br />
O papel <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>sses fatores parece ser variável,<br />
uma vez que os pacientes formam um grupo bastante<br />
heterogêneo.<br />
1. Fatores predisponentes<br />
Os fatores consi<strong>de</strong>rados predisponentes para os distúrbios<br />
alimentares po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m psicológica, biológica,<br />
familiar ou cultural. Eles articulam-se <strong>de</strong> tal maneira que<br />
levam à insatisfação com a imag<strong>em</strong> corporal e a prática <strong>de</strong><br />
dietas restritivas, que correspon<strong>de</strong>m às alterações básicas<br />
para o <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento da doença.<br />
1.1. Fatores Psicológicos<br />
Muitos autores acreditam que a personalida<strong>de</strong> prémórbida<br />
é caracterizada por instabilida<strong>de</strong> <strong>em</strong>ocional. De<br />
maneira geral, os pacientes acometidos têm i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
pessoal incompleta e lutam para manter o controle sobre o<br />
ambiente. Costumam julgar a si próprios, baseando-se<br />
quase que exclusivamente <strong>em</strong> sua aparência física, com a<br />
qual <strong>de</strong>monstram extr<strong>em</strong>a insatisfação, com percepção<br />
alterada <strong>de</strong> suas formas corporais e negação <strong>de</strong> seu estado<br />
caquético.<br />
Os anoréxicos costumam ser caracterizados como<br />
obsessivo-compulsivos, perfeccionistas, introvertidos e<br />
socialmente inibidos; já os bulímicos ten<strong>de</strong>m a ser mais<br />
impulsivos, <strong>de</strong>pressivos, queixosos, <strong>de</strong>sorganizados,<br />
<strong>em</strong>ocionalmente instáveis, com tendência à automutilação,<br />
se envergonham e ocultam seus sintomas. A<br />
<strong>de</strong>pressão também po<strong>de</strong> ser secundária à <strong>de</strong>snutrição e a<br />
complicações coexistentes, uma vez que a reabilitação<br />
nutricional geralmente <strong>de</strong>termina melhora do humor.<br />
1.2. Fatores biológicos<br />
Afecções gastrintestinais, da hipófise, do hipotálamo e<br />
alterações <strong>de</strong> vários neurotransmissores têm sido<br />
apontados como prováveis fatores causais dos distúrbios<br />
do comportamento alimentar. No entanto, a observação<br />
<strong>de</strong> que a maioria <strong>de</strong>ssas alterações fisiológicas<br />
normalizam-se com a recuperação do peso põe <strong>em</strong> dúvida<br />
o papel <strong>de</strong>sses fatores.<br />
Estudos recentes suger<strong>em</strong> que os distúrbios no<br />
metabolismo da serotonina, envolvida no controle<br />
fisiológico da sacieda<strong>de</strong>, e da leptina, hormônio envolvido<br />
na regulação do <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> gorduras corporais, são<br />
53
esponsáveis pelo aparecimento da anorexia e<br />
bulimia nervosa.<br />
Alguns autores suger<strong>em</strong> um componente genético na<br />
transmissão dos distúrbios do comportamento alimentar,<br />
justificando sua ocorrência <strong>em</strong> épocas <strong>em</strong> que a magreza e<br />
as dietas restritivas não eram socialmente valorizadas. O<br />
risco <strong>de</strong> anorexia nervosa ou bulimia entre filhas e irmãs<br />
<strong>de</strong> pacientes com esses distúrbios é <strong>de</strong> 2 a 20 vezes maior<br />
que na população geral. No entanto, a predisposição<br />
familiar é indistingüível da exposição a fatores ambientais<br />
comuns e a herança genética po<strong>de</strong>ria explicar uma<br />
vulnerabilida<strong>de</strong> específica à algumas doenças, como à<br />
obesida<strong>de</strong> e às doenças psiquiátricas, associadas com<br />
freqüência aos distúrbios do comportamento alimentar.<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sses distúrbios. O estigma associado à<br />
obesida<strong>de</strong>, por outro lado, t<strong>em</strong> sido consi<strong>de</strong>rado fator<br />
agravante.<br />
2. Fatores precipitantes<br />
A prática <strong>de</strong> dietas restritivas e a personalida<strong>de</strong> instável<br />
po<strong>de</strong>m induzir ao aparecimento dos distúrbios do<br />
comportamento alimentar <strong>em</strong> indivíduos predispostos. A<br />
<strong>de</strong>pressão é o fator precipitante <strong>em</strong> muitos casos. Qualquer<br />
evento adverso da vida po<strong>de</strong> agir como fator precipitante,<br />
tais como experiências perturbadoras da puberda<strong>de</strong> e<br />
mudanças <strong>de</strong> ambiente <strong>em</strong> indivíduos com dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
adaptação.<br />
1.3. Estrutura familiar<br />
A alimentação a<strong>de</strong>quada da criança nos primeiros anos <strong>de</strong><br />
vida é um fator importante para prevenir o aparecimento<br />
<strong>de</strong>stes distúrbios. Crianças que iniciam a alimentação<br />
compl<strong>em</strong>entar muito cedo na vida, quer seja pela relação<br />
<strong>de</strong>sequilibrada da mãe com a criança durante o<br />
aleitamento materno quer seja porque a alimentação<br />
compl<strong>em</strong>entar foi oferecida pressionando ou<br />
chantageando a criança, refletindo o <strong>de</strong>sequilíbrio familiar.<br />
T<strong>em</strong>-se enfatizado também, o papel do relacionamento<br />
familiar caracterizado pelo <strong>de</strong>clínio da função paterna,<br />
com mães dominadoras e superprotetoras e pais que<br />
parec<strong>em</strong> ser omissos. Embora a dissolução familiar possa<br />
ser apontado como fator predisponente, algumas vezes, a<br />
doença t<strong>em</strong> papel estabilizador do núcleo familiar, unindo<br />
os m<strong>em</strong>bros <strong>em</strong> torno do objetivo comum <strong>de</strong> cuidar do<br />
doente.<br />
1.4. Fator cultural<br />
Sendo o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> beleza da socieda<strong>de</strong> oci<strong>de</strong>ntal associado<br />
à magreza, a prevalência <strong>de</strong> insatisfação com o próprio<br />
corpo e a realização <strong>de</strong> dietas restritivas é muito alta entre<br />
as mulheres jovens, tornando-as mais predispostas aos<br />
distúrbios do comportamento alimentar. Preocupação<br />
excessiva com a aparência parece prece<strong>de</strong>r o<br />
3. Fatores perpetuadores<br />
A <strong>de</strong>snutrição leva a sintomas secundários que po<strong>de</strong>m agir<br />
perpetuando a doença. Assim, enquanto a <strong>de</strong>pressão leva<br />
à restrição alimentar, a <strong>de</strong>snutrição conduz à <strong>de</strong>terioração<br />
do humor. Sintomas secundários como retardo no<br />
esvaziamento gástrico, <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> diminuição da<br />
motilida<strong>de</strong> do trato gastrointestinal, po<strong>de</strong>m levar a<br />
sacieda<strong>de</strong> precoce e facilitar a restrição alimentar.<br />
Coexist<strong>em</strong> ainda fatores psicológicos, interpessoais e<br />
culturais que po<strong>de</strong>m atuar mantendo o comportamento<br />
alimentar ina<strong>de</strong>quado. Os sintomas <strong>de</strong>correntes do<br />
distúrbio alimentar po<strong>de</strong>m atuar como fator <strong>de</strong> equilíbrio<br />
do sist<strong>em</strong>a familiar e <strong>em</strong>ocional e um objetivo claro do<br />
tratamento é a interrupção <strong>de</strong>sse ciclo, condição essencial<br />
à recuperação efetiva do paciente.<br />
QUADRO CLÍNICO<br />
Do ponto <strong>de</strong> vista clínico, as principais características dos<br />
distúrbios do comportamento alimentar são o medo <strong>de</strong><br />
engordar, antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> peso recente (na<br />
anorexia) ou r<strong>em</strong>ota (na bulimia), ausência <strong>de</strong> doença<br />
orgânica que justifique o <strong>em</strong>agrecimento e hábitos<br />
alimentares alterados (restrição alimentar e/ou indução <strong>de</strong><br />
vômitos e purgação).<br />
Embora algumas complicações e alterações laboratoriais<br />
54
sejam comuns à anorexia nervosa e bulimia nervosa,<br />
<strong>de</strong>correntes da <strong>de</strong>snutrição e dos comportamentos<br />
adotados para induzi-la, pacientes anoréxicos e bulímicos<br />
apresentam aspectos comportamentais e físicos diferentes.<br />
1. Anorexia nervosa<br />
1.1. Aspectos psicológicos e comportamentais<br />
O termo “anorexia” é ina<strong>de</strong>quado, pois a perda <strong>de</strong> apetite<br />
é geralmente rara quase até a fase final da doença.<br />
Pacientes anoréxicos <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> hábitos alimentares<br />
bizarros e negam que o comportamento seja incomum ou<br />
simplesmente recusam-se a discuti-lo. Durante as refeições,<br />
tentam livrar-se do alimento colocando-o no guardanapo<br />
ou escon<strong>de</strong>ndo-os nos bolsos; levam muito t<strong>em</strong>po<br />
reorganizando os itens da alimentação no prato e<br />
costumam cortar os alimentos <strong>em</strong> porções muito<br />
pequenas. A alimentação é bastante restrita <strong>em</strong> energia,<br />
pobre <strong>em</strong> gorduras e rica <strong>em</strong> proteínas, o que <strong>de</strong>termina<br />
perda eventual <strong>de</strong> 25 a 35% do peso corporal. De forma<br />
geral, têm gran<strong>de</strong> preocupação relacionada aos alimentos<br />
e à alimentação e sent<strong>em</strong> prazer <strong>em</strong> preparar pratos para<br />
outras pessoas. Com o objetivo <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r peso, é comum<br />
que associ<strong>em</strong> à restrição alimentar a indução do vômito, o<br />
uso <strong>de</strong> laxantes e a prática <strong>de</strong> exercícios físicos extenuantes<br />
e ritualísticos.<br />
Tipicamente, negam a doença, assim como a sensação <strong>de</strong><br />
fome ou cansaço e mudanças na aparência. Ten<strong>de</strong>m a<br />
superestimar o tamanho <strong>de</strong> seus corpos, <strong>em</strong>bora sejam<br />
capazes <strong>de</strong> avaliar corretamente o peso <strong>de</strong> outras pessoas.<br />
No entanto, há dúvidas quanto à especificida<strong>de</strong> da<br />
alteração da percepção da forma corporal, uma vez que<br />
distorções s<strong>em</strong>elhantes po<strong>de</strong>m ser vistas na população <strong>em</strong><br />
geral, principalmente entre adolescentes.<br />
Po<strong>de</strong>m mostrar <strong>de</strong>ficiências do raciocínio abstrato e<br />
pensamento conceitual; são incapazes <strong>de</strong> visualizar<br />
situações que não sejam extr<strong>em</strong>as e interpretam os<br />
acontecimentos <strong>de</strong> forma rígida.<br />
1.2. Aspectos Clínicos<br />
S<strong>em</strong> intervenção nutricional, os anoréxicos po<strong>de</strong>m<br />
<strong>de</strong>senvolver <strong>de</strong>snutrição. Comumente, os pacientes<br />
apresentam amenorréia, distúrbios do sono, intolerância<br />
ao frio, constipação intestinal ou diarréia pelo uso <strong>de</strong><br />
laxantes, sacieda<strong>de</strong> precoce e dor abdominal. Po<strong>de</strong>m<br />
apresentar vasoconstrição periférica e cianose <strong>de</strong><br />
extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong>s quando expostas ao frio. Ao exame físico,<br />
apresentam acrocianose, lanug<strong>em</strong> e pigmentação<br />
amarelada da pele, perda significativa <strong>de</strong> gordura corporal<br />
e aumento das protuberâncias ósseas. O aumento da<br />
parótida, típica dos <strong>em</strong>agrecidos, po<strong>de</strong> mascarar a<br />
angulação dos traços faciais. A t<strong>em</strong>peratura axilar, a<br />
pressão sangüínea e o pulso estão diminuídos. Quando a<br />
anorexia se <strong>de</strong>senvolve antes da puberda<strong>de</strong>, os pacientes<br />
po<strong>de</strong>m não exibir os caracteres sexuais secundários.<br />
2. Bulimia<br />
2.1. Aspectos psicológicos e comportamentais<br />
Enquanto os pacientes anoréxicos lidam com seu medo <strong>de</strong><br />
engordar restringindo a alimentação, o aspecto<br />
comportamental característico dos bulímicos é a<br />
alimentação excessiva e compulsiva seguida <strong>de</strong> purgação.<br />
Os episódios bulímicos ocorr<strong>em</strong> secretamente, <strong>em</strong> média<br />
<strong>de</strong> 12 episódios s<strong>em</strong>anais, com ingestão <strong>de</strong> refeições ricas<br />
<strong>em</strong> carboidratos e altamente energéticas, seguida <strong>de</strong><br />
indução <strong>de</strong> vômito por mecanismo reflexo utilizando os<br />
<strong>de</strong>dos ou escova <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes, ou com regurgitação<br />
espontânea. Uma gran<strong>de</strong> porcentag<strong>em</strong> dos bulímicos usa<br />
também laxantes.<br />
Da mesma forma que os anoréxicos, superestimam o<br />
tamanho corporal e apresentam preocupação constante<br />
com a alimentação. Ten<strong>de</strong>m a ser mais extrovertidos que<br />
os anoréxicos e usualmente apresentam peso mais<br />
próximo ao normal. Dessa forma, o seu comportamento<br />
geralmente não é percebido pela família n<strong>em</strong> pelos<br />
amigos. Alguns mostram componentes impulsivos e antisociais,<br />
como abuso <strong>de</strong> drogas, cleptomania,<br />
promiscuida<strong>de</strong> sexual e auto-mutilação. A <strong>de</strong>pressão é a<br />
queixa mais comum e as tentativas <strong>de</strong> suicídio são três a<br />
quatro vezes mais freqüentes nesses pacientes que<br />
naqueles com anorexia nervosa. Os bulímicos preocupamse<br />
com a atrativida<strong>de</strong> sexual e a maioria <strong>de</strong>les é<br />
55
sexualmente ativa, <strong>em</strong> comparação com os anoréxicos, que<br />
não se interessam por sexo.<br />
2.2. Aspectos clínicos<br />
Como a perda <strong>de</strong> peso é menos grave nesse grupo, a<br />
amenorréia é também menos freqüente. Po<strong>de</strong>-se observar<br />
intumescimento das parótidas pelos vômitos, equimoses<br />
nas articulações dos <strong>de</strong>dos <strong>de</strong>correntes da fricção contra os<br />
<strong>de</strong>ntes durante a indução do vômito (sinal <strong>de</strong> Russell),<br />
faringite e erosões <strong>de</strong>ntárias pelo refluxo <strong>de</strong> ácido gástrico.<br />
Os vômitos freqüentes po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>terminar esofagite,<br />
síndrome <strong>de</strong> Mallory-Weiss ou pneumonia aspirativa.<br />
Fraqueza, tetania e convulsões, <strong>em</strong>bora raros, po<strong>de</strong>m<br />
ocorrer por distúrbios eletrolíticos secundários. O uso<br />
excessivo <strong>de</strong> laxantes po<strong>de</strong> levar a sangramento retal.<br />
3. Complicações associadas<br />
As complicações mais sérias ocorr<strong>em</strong> nos pacientes<br />
crônicos muito <strong>em</strong>agrecidos, que abusam <strong>de</strong> laxantes e<br />
induz<strong>em</strong> vômitos. Po<strong>de</strong>m ocorrer alterações metabólicas,<br />
cardiovasculares, neurológicas, h<strong>em</strong>atológicas, renais,<br />
endócrinas, musculoesqueléticas e gastrintestinais,<br />
secundárias à <strong>de</strong>snutrição, aos vômitos e ao uso <strong>de</strong><br />
laxativos.<br />
3.1. Alterações metabólicas<br />
A complicação metabólica mais comum é a alcalose<br />
metabólica hipoclorêmica e hipocalêmica <strong>de</strong>corrente da<br />
perda <strong>de</strong> íons hidrogênio, cloro e potássio, po<strong>de</strong>ndo<br />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar arritmias cardíacas ou até lesão renal. A<br />
hipomagnes<strong>em</strong>ia <strong>de</strong>ve ser pesquisada nos casos <strong>de</strong><br />
hipopotass<strong>em</strong>ia refratária à reposição; hipofosfat<strong>em</strong>ia po<strong>de</strong><br />
surgir durante o tratamento.<br />
Po<strong>de</strong>m ocorrer hipotermia (por hipotiroidismo funcional<br />
ou por anormalida<strong>de</strong> do centro regulador da t<strong>em</strong>peratura<br />
hipotalâmico) e <strong>de</strong>sidratação. Como o metabolismo da<br />
glicose e a secreção <strong>de</strong> insulina estão alterados, po<strong>de</strong><br />
haver hipoglic<strong>em</strong>ia. O HDL e os triglicéri<strong>de</strong>s ten<strong>de</strong>m a<br />
apresentar níveis séricos normais e a hipercolesterol<strong>em</strong>ia,<br />
cuja causa não é conhecida, se faz às custas <strong>de</strong> LDL.<br />
3.2. Alterações cardiovasculares<br />
Como resposta adaptativa à <strong>de</strong>snutrição e aos níveis<br />
reduzidos <strong>de</strong> catecolaminas circulantes po<strong>de</strong> ocorrer<br />
prejuízo da função cardiovascular, diminuição do consumo<br />
<strong>de</strong> oxigênio, da espessura da pare<strong>de</strong> do ventrículo<br />
esquerdo e da área cardíaca. Hipotensão arterial e<br />
bradicardia são sinais característicos <strong>de</strong>sses pacientes e o<br />
prolapso mitral, <strong>em</strong>bora inespecífico s<strong>em</strong> importância<br />
clínica, é comum.<br />
O eletrocardiograma po<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar bradicardia, redução<br />
da amplitu<strong>de</strong> do QRS, intervalo QT prolongado, alterações<br />
específicas do segmento ST e ondas U. Arritmias cardíacas<br />
graves e morte súbita po<strong>de</strong>m ocorrer <strong>em</strong> pacientes muito<br />
<strong>em</strong>agrecidos.<br />
3.3. Alterações neurológicas<br />
Alterações eletroencefalográficas, convulsões, neurites<br />
periféricas, compressões nervosas e disfunções<br />
autonômicas po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>tectadas nesses pacientes. A<br />
tomografia computadorizada po<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar<br />
pseudoatrofia cerebral.<br />
3.4. Alterações h<strong>em</strong>atológicas<br />
Os achados inclu<strong>em</strong> an<strong>em</strong>ia, leucopenia com linfocitose,<br />
trombocitopenia e baixos níveis <strong>de</strong> fibrinogênio sérico. A<br />
an<strong>em</strong>ia e a pancitopenia po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> hipoplasia da<br />
medula óssea, observada <strong>em</strong> pacientes <strong>de</strong>snutridos.<br />
As proteínas plasmáticas ten<strong>de</strong>m a estar normais, <strong>em</strong>bora<br />
a hipoalbumin<strong>em</strong>ia possa ocorrer <strong>em</strong> alguns casos. Não há<br />
<strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> aminoácidos essenciais, provavelmente<br />
<strong>de</strong>vido ao metabolismo protéico relativamente preservado.<br />
3.5. Alterações renais<br />
Ocasionalmente, po<strong>de</strong> ocorrer insuficiência renal <strong>em</strong><br />
conseqüência à <strong>de</strong>sidratação secundária aos vômitos,<br />
purgação e distúrbios eletrolíticos. A taxa <strong>de</strong> filtração<br />
glomerular costuma ser pouco diminuída e há perda da<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> concentração urinária, resultando <strong>em</strong><br />
poliúria.<br />
56
3.6. Alterações musculoesqueléticas<br />
Fraqueza muscular, tetania e câimbras po<strong>de</strong>m ocorrer na<br />
vigência <strong>de</strong> distúrbios eletrolíticos. A osteopenia é comum<br />
e po<strong>de</strong> <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência alimentar <strong>de</strong> cálcio, baixos<br />
níveis <strong>de</strong> estrogênio circulante, hipercorticismo, uso <strong>de</strong><br />
laxantes e distúrbios do equilíbrio ácido-básico.<br />
3.7. Alterações gastrintestinais<br />
Pacientes com anorexia nervosa e particularmente aqueles<br />
com bulimia nervosa po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senvolver perda do<br />
esmalte e <strong>de</strong>ntina da superfície lingual dos <strong>de</strong>ntes como<br />
resultado dos efeitos do ácido gástricos. Por razões<br />
<strong>de</strong>sconhecidas, as parótidas ten<strong>de</strong>m a aumentar nessas<br />
doenças. Como resultado do vômito auto-induzido os<br />
bulímicas po<strong>de</strong>m apresentar esofagite <strong>de</strong> refluxo, erosões,<br />
úlceras e sangramento esofageano, <strong>de</strong>correntes do contato<br />
freqüente do ácido presente na secreção gástrica<br />
regurgitada para o esôfago.<br />
O t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> trânsito gastrintestinal comumente está<br />
diminuído, <strong>de</strong>terminando constipação intestinal. Por outro<br />
lado, a utilização <strong>de</strong> laxativos po<strong>de</strong> resultar <strong>em</strong> cólon<br />
catártico com <strong>de</strong>generação do plexo <strong>de</strong> Auerbach.<br />
3.8. Alterações endócrinas<br />
A alteração endócrina fundamental na anorexia nervosa é<br />
a disfunção do eixo hipotâmico-hipofisário-gonadal que,<br />
nas mulheres, é expressa pela amenorréia com<br />
anovulação. O <strong>de</strong>feito primário parece ser a diminuição da<br />
secreção <strong>de</strong> LHGH (hormônio liberador <strong>de</strong> gonadotrofinas<br />
hipotalâmico) com conseqüente diminuição dos níveis <strong>de</strong><br />
LH (hormônio luteinizante) e FSH (hormônio folículo<br />
estimulante), associada a uma <strong>de</strong>ficiência importante <strong>de</strong><br />
estrógeno. Há ausência do ritmo circadiano da secreção <strong>de</strong><br />
LH. Com a recuperação nutricional essas alterações se<br />
normalizam. Ainda não se conhece a causa <strong>de</strong>ssa disfunção<br />
hipotalâmica e anormalida<strong>de</strong>s do metabolismo da<br />
noradrenalina e da dopamina no sist<strong>em</strong>a nervoso central<br />
têm sido aventadas.<br />
No hom<strong>em</strong>, a disfunção do eixo leva à uma diminuição da<br />
testosterona com redução da libido e virilização retardada<br />
sugerindo um <strong>de</strong>svio do metabolismo androgênico do<br />
sist<strong>em</strong>a da 5alfa-redutase, produtor <strong>de</strong> testosterona, para o<br />
da 5beta-redutase, que produz um androgênio menos<br />
efetivo (etiocolanolona).<br />
Os níveis séricos basais <strong>de</strong> hormônio do crescimento (GH)<br />
encontram-se aumentados, paralelamente há redução dos<br />
níveis <strong>de</strong> somatomedina plasmática, peptí<strong>de</strong>o promotor do<br />
crescimento que controla os efeitos anabólicos do GH, s<strong>em</strong><br />
atuar nos efeitos lipolíticos. Consequent<strong>em</strong>ente, esses<br />
pacientes mantém a lipólise mediada pelo GH mas não<br />
apresentam os efeitos <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong>sse hormônio.<br />
Os níveis <strong>de</strong> prolactina e TSH (hormônio tireotrófico) são<br />
usualmente normais. Apesar da diminuição da freqüência<br />
cardíaca e do metabolismo basal, não há evidência <strong>de</strong><br />
hipotiroidismo. O achado usual é uma discreta diminuição<br />
dos níveis séricos <strong>de</strong> T3 e T4 e elevação do T3 reverso,<br />
anormalida<strong>de</strong>s que são revertidas com o ganho pon<strong>de</strong>ral.<br />
De maneira geral, os anoréxicos apresentam níveis séricos<br />
<strong>de</strong> cortisol normais ou discretamente elevados, <strong>de</strong>vido a<br />
uma diminuição do seu metabolismo.<br />
DIAGNÓSTICO<br />
Existe uma relação estreita entre a preocupação com a<br />
imag<strong>em</strong> corporal e os distúrbios do comportamento<br />
alimentar, surgindo a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>tectá-los nos<br />
grupos <strong>de</strong> risco. O questionário <strong>de</strong> imag<strong>em</strong> corporal (Body<br />
Shape Questionnaire- <strong>em</strong> anexo) t<strong>em</strong> sido utilizado para<br />
avaliar o grau <strong>de</strong> preocupação com o próprio corpo ou<br />
partes <strong>de</strong>le. Além disso, auxilia no entendimento <strong>de</strong> como<br />
as preocupações individuais com o corpo influenciariam<br />
no comportamento social.<br />
O diagnóstico <strong>de</strong> anorexia nervosa e bulimia nervosa é<br />
usualmente fácil nos casos <strong>em</strong> que as síndromes se<br />
apresentam <strong>de</strong> maneira completa. Geralmente, o<br />
<strong>em</strong>agrecimento importante, a amenorréia e as outras<br />
complicações clínicas associadas faz<strong>em</strong> com que os<br />
familiares lev<strong>em</strong> os pacientes anoréxicos ao médico. Já os<br />
bulímicos costumam procurar ajuda espontaneamente,<br />
<strong>em</strong>bora lev<strong>em</strong> muito t<strong>em</strong>po para perceber a necessida<strong>de</strong><br />
do atendimento especializado.<br />
57
Os critérios atualmente utilizados para diagnóstico dos<br />
distúrbios do comportamento alimentar são os <strong>de</strong>finidos<br />
pelo DSM-IIIR (Manual Diagnóstico e Estatístico <strong>de</strong><br />
Desor<strong>de</strong>ns Mentais) da Associação Americana <strong>de</strong> Psiquiatria:<br />
1. Anorexia nervosa<br />
a) Recusa <strong>em</strong> manter o peso corporal acima <strong>de</strong> um valor<br />
normal mínimo para a ida<strong>de</strong> e altura, ou incapacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> ganhar o peso esperado durante o período <strong>de</strong><br />
crescimento, levando a peso corporal 15% abaixo do<br />
i<strong>de</strong>al;<br />
b) Medo intenso <strong>de</strong> ganhar peso ou ficar gordo;<br />
c) Distúrbios na forma <strong>de</strong> perceber o próprio peso, as<br />
dimensões ou forma do corpo;<br />
d) Nas mulheres, a falta <strong>de</strong> pelo menos três períodos<br />
menstruais consecutivos s<strong>em</strong> motivo aparente.<br />
2. Bulimia nervosa<br />
a) Episódios recorrentes <strong>de</strong> consumo alimentar excessivo<br />
<strong>em</strong> curto período <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po;<br />
b) Sentimento <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> controle sobre o<br />
comportamento alimentar durante esses episódios;<br />
c) Indução <strong>de</strong> vômitos ou uso <strong>de</strong> laxativos e diuréticos,<br />
restrição alimentar, realização <strong>de</strong> exercícios físicos<br />
vigorosos para prevenir o ganho <strong>de</strong> peso (no mínimo 2<br />
episódios s<strong>em</strong>anais, por 3 meses);<br />
d) Preocupação persistente com o peso e ganho corporal.<br />
O diagnóstico é confirmado pela i<strong>de</strong>ntificação dos aspectos<br />
clínicos e comportamentais <strong>de</strong>scritos e pela exclusão <strong>de</strong><br />
outros distúrbios clínicos tratáveis. Habitualmente, os<br />
pacientes passam por vários especialistas diferentes, sendo<br />
necessário que os médicos, ainda que não estejam<br />
acostumados a lidar com esse tipo <strong>de</strong> distúrbio,<br />
consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong> tais doenças <strong>de</strong>ntre suas hipóteses<br />
diagnósticas. O diagnóstico diferencial é feito com outras<br />
enfermida<strong>de</strong>s físicas que causam perda <strong>de</strong> peso, como<br />
doenças <strong>de</strong>bilitantes crônicas, tumores cerebrais e doenças<br />
gastrintestinais. Distúrbios <strong>de</strong>pressivos e anorexia nervosa<br />
têm alguns aspectos <strong>em</strong> comum, tais como sentimentos<br />
<strong>de</strong>pressivos, períodos <strong>de</strong> choro, distúrbios do sono,<br />
pensamentos repetitivos e suicidas. Muitas vezes, um<br />
paciente com distúrbio <strong>de</strong>pressivo t<strong>em</strong> apetite diminuído;<br />
<strong>em</strong> contraste com a agitação <strong>de</strong>pressiva, a hiperativida<strong>de</strong><br />
vista na anorexia nervosa é planejada e ritualística.<br />
Flutuações pon<strong>de</strong>rais, vômitos e manuseio peculiar dos<br />
alimentos po<strong>de</strong>m ocorrer no distúrbio <strong>de</strong> somatização.<br />
Geralmente, a perda <strong>de</strong> peso nessa situação não é tão<br />
grave quanto na anorexia nervosa e não há medo mórbido<br />
<strong>de</strong> engordar, o que é comum no anoréxico.<br />
A bulimia nervosa <strong>de</strong>ve ser diferenciada <strong>de</strong> alterações do<br />
aparelho digestivo alto que po<strong>de</strong>m levar a vômitos <strong>de</strong><br />
repetição. Finalmente, sintomas <strong>de</strong>pressivos ou obsessivos<br />
po<strong>de</strong>m ocorrer assim como transtornos <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>,<br />
tornando o diagnóstico diferencial bastante complexo.<br />
TRATAMENTO<br />
A anorexia e a bulimia nervosa exig<strong>em</strong> um tratamento<br />
especializado, com a presença <strong>de</strong> um profissional<br />
experiente e necessitando muitas vezes do trabalho <strong>em</strong><br />
equipe interdisciplinar: pediatra e/ou nutrólogo,<br />
nutricionista, o psicanalista, o psiquiatra, a enfermeira.<br />
Tendo <strong>em</strong> vista o importante envolvimento do aspecto<br />
psíquico, muitas vezes o centro do tratamento <strong>de</strong>ve ser o<br />
psicoterápico. Tanto os pacientes com distúrbios do<br />
comportamento alimentar quanto as suas famílias são<br />
resistentes ao tratamento e usualmente é necessário<br />
gran<strong>de</strong> esforço para convence-los da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajuda<br />
profissional. Os principais objetivos do tratamento da<br />
anorexia e da bulimia nervosa são a reabilitação<br />
nutricional e a aquisição <strong>de</strong> hábitos alimentares saudáveis<br />
e paralelamente, <strong>de</strong>ve-se diagnosticar e tratar os<br />
probl<strong>em</strong>as psicológicos, familiares, sociais e<br />
comportamentais, evitando-se recaídas. As melhores<br />
respostas ao tratamento se obtêm com a associação dos<br />
cuidados nutricionais e psicoterapia.<br />
Na maioria das vezes, a recuperação nutricional <strong>de</strong><br />
pacientes com distúrbios do comportamento alimentar<br />
<strong>de</strong>termina o <strong>de</strong>saparecimento <strong>de</strong> complicações associadas,<br />
que ocorr<strong>em</strong> <strong>em</strong> resposta à adaptação fisiológica à<br />
<strong>de</strong>snutrição. No entanto, n<strong>em</strong> todos as complicações<br />
58
associadas <strong>de</strong>saparec<strong>em</strong> com o ganho <strong>de</strong> peso. Sabe-se,<br />
por ex<strong>em</strong>plo, que a recuperação nutricional restabelece o<br />
ciclo menstrual, que regular melhora a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> óssea.<br />
Exist<strong>em</strong> indícios <strong>de</strong> que níveis normais nunca são<br />
atingidos, <strong>de</strong>terminando maior risco <strong>de</strong> osteoporose futura.<br />
Devido a alta morbida<strong>de</strong> e mortalida<strong>de</strong> (<strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 5%<br />
dos casos diagnosticados) justifica-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
instituição <strong>de</strong> tratamento precoce.<br />
1. Modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tratamento<br />
Os fundamentos básicos do tratamento dos distúrbios do<br />
comportamento alimentar são os mesmos na abordag<strong>em</strong><br />
ambulatorial ou hospitalar. O tratamento ambulatorial<br />
parece ser suficiente para a recuperação da maioria dos<br />
pacientes e a longo prazo, po<strong>de</strong> apresentar melhores<br />
resultados. Além disso, o tratamento ambulatorial evita o<br />
estigma da internação, não causa mudança brusca na<br />
rotina diária, diminui a influência <strong>de</strong> outros pacientes,<br />
além <strong>de</strong> ser economicamente mais acessível.<br />
Em alguns casos a internação hospitalar é necessária.<br />
Nessas situações, são consi<strong>de</strong>rados a velocida<strong>de</strong> da perda<br />
<strong>de</strong> peso, o índice <strong>de</strong> massa corporal, a gravida<strong>de</strong> dos<br />
distúrbios metabólicos, a ocorrência <strong>de</strong> disfunções<br />
cardíacas, <strong>de</strong> retardo psicomotor, <strong>de</strong> síncope, <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão<br />
grave ou risco <strong>de</strong> aspiração no caso <strong>de</strong> vômitos incoercíveis<br />
e critérios psiquiátricos como psicose, crise familiar e risco<br />
<strong>de</strong> suicídio. Algumas vezes, a hospitalização po<strong>de</strong> ser<br />
necessária para conseguir um afastamento t<strong>em</strong>porário do<br />
paciente anoréxico <strong>de</strong> sua família. De maneira geral, os<br />
pacientes muito <strong>em</strong>agrecidos e psicologicamente instáveis<br />
necessitarão <strong>de</strong> internação para que o tratamento seja mais<br />
efetivo. Nesses, a transição entre o ambiente hospitalar e o<br />
domiciliar é usualmente difícil, gerando gran<strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong><br />
para o paciente e familiares. Dessa forma, o<br />
acompanhamento ambulatorial após a alta é<br />
imprescindível, para diminuir o risco <strong>de</strong> recidivas.<br />
A admissão ou internação compulsória <strong>de</strong>ve ser a última<br />
medida a ser tomada, restringindo-se a situações on<strong>de</strong> o<br />
risco <strong>de</strong> morte por complicações da <strong>de</strong>snutrição for<br />
iminente.<br />
2. Reabilitação nutricional<br />
É importante fazer uma avaliação dos sinais vitais e<br />
nutricionais para a indicação do suporte nutricional<br />
(parenteral ou enteral), com intervenção precoce para<br />
evitar os danos mais graves ou recuperar os já existentes<br />
como a <strong>de</strong>snutrição grave.<br />
O objetivo da abordag<strong>em</strong> nutricional é recuperar o peso<br />
do paciente <strong>de</strong> forma que seu IMC fique entre os limites<br />
da normalida<strong>de</strong>, s<strong>em</strong> estar abordando diretamente a<br />
alimentação. As necessida<strong>de</strong>s energéticas diárias <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser<br />
calculadas para cada paciente a partir <strong>de</strong> sua altura, sua<br />
ida<strong>de</strong>, o metabolismo e a ativida<strong>de</strong> física. Para que não<br />
cause <strong>de</strong>sconforto gástrico, as necessida<strong>de</strong>s energéticas são<br />
calculadas como 30kcal/kg <strong>de</strong> peso i<strong>de</strong>al, com aumento <strong>de</strong><br />
5 a 10kcal/kg a cada 5 dias, até atingir cerca <strong>de</strong> 50kcal/kg/<br />
dia. Quando o peso i<strong>de</strong>al for atingido, a oferta energética<br />
<strong>de</strong>ve ser diminuída gradualmente até atingir os valores<br />
a<strong>de</strong>quados para manter o peso corporal estável. É<br />
aconselhável distribuir esse conteúdo energético <strong>em</strong> seis<br />
refeições durante o dia, <strong>de</strong> modo que os pacientes não<br />
precis<strong>em</strong> comer gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma só vez. A<br />
constipação intestinal dos anoréxicos é aliviada quando a<br />
ingestão alimentar retorna ao normal. Ocasionalmente, po<strong>de</strong><br />
ser necessário administrar um <strong>em</strong>oliente, mas nunca laxantes.<br />
Na bulimia nervosa é necessário um planejamento<br />
alimentar que inclua o fracionamento das refeições,<br />
evitando-se ingestão energética excessiva. Deve-se s<strong>em</strong>pre<br />
enfatizar o consumo <strong>de</strong> alimentos habituais e, na maioria<br />
dos casos, não é necessária a utilização <strong>de</strong> alimentos<br />
especiais. Supl<strong>em</strong>entos alimentares são raramente<br />
indicados e a nutrição por sonda nasoenteral ou a nutrição<br />
parenteral <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser reservadas para os casos graves, <strong>em</strong><br />
que a <strong>de</strong>snutrição e as complicações associadas põ<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />
risco a vida do paciente. Essas medidas não são isentas <strong>de</strong><br />
complicações, po<strong>de</strong>ndo levar, por ex<strong>em</strong>plo, a síndrome <strong>de</strong><br />
realimentação com a retenção hídrica e alterações<br />
eletrolíticas graves <strong>em</strong> pacientes já <strong>de</strong>bilitados.<br />
Medidas acessórias são geralmente necessárias, como a<br />
limitação da ativida<strong>de</strong> física, o repouso pós-alimentar e a<br />
proibição do uso do banheiro <strong>de</strong>sacompanhado, para<br />
coibir as práticas purgativas.<br />
59
3. Abordag<strong>em</strong> pedagógica e psicoterapia<br />
O aconselhamento nutricional instrui o paciente sobre sua<br />
doença e as complicações associadas, além <strong>de</strong> ajudá-lo a<br />
retomar uma alimentação saudável. A família do paciente<br />
<strong>de</strong>ve ser envolvida no tratamento, procurando reconhecer<br />
padrões <strong>de</strong> interação que <strong>de</strong>sfavoreçam a in<strong>de</strong>pendência<br />
do paciente ou que aju<strong>de</strong>m a perpetuar o quadro.<br />
Embora a psicoterapia não seja usualmente efetiva até<br />
que o paciente melhore seu estado nutricional, ela <strong>de</strong>ve<br />
ser iniciada precoc<strong>em</strong>ente, ajudando-o a reconhecer seus<br />
medos e avaliar <strong>de</strong> forma crítica seu comportamento <strong>em</strong><br />
relação à alimentação. Os objetivos principais da<br />
psicoterapia são melhorar a auto-estima, auxiliar a<br />
i<strong>de</strong>ntificação e a expressão das <strong>em</strong>oções, o<br />
reconhecimento da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e estimular a autonomia.<br />
4. Uso <strong>de</strong> medicamentos<br />
Até o momento, não se i<strong>de</strong>ntificou uma droga com ação<br />
comprovada na anorexia nervosa. Os medicamentos usados<br />
<strong>em</strong>piricamente inclu<strong>em</strong> anti<strong>de</strong>pressivos para os pacientes<br />
com estados <strong>de</strong>pressivos persistentes na vigência <strong>de</strong> ganho <strong>de</strong><br />
peso, baixas doses <strong>de</strong> neurolépticos para aqueles com<br />
comportamento obsessivos e psicóticos e ansiolíticos, usados<br />
seletivamente nos pacientes com ansieda<strong>de</strong> antecipatória <strong>em</strong><br />
relação às refeições. As contra-indicações ao tratamento<br />
medicamentoso da anorexia nervosa baseiam-se no fato <strong>de</strong><br />
que os pacientes <strong>de</strong>snutridos ser<strong>em</strong> mais predispostos aos<br />
efeitos colaterais e não respon<strong>de</strong>r<strong>em</strong> b<strong>em</strong> aos anti<strong>de</strong>pressivos<br />
quando comparados a outros pacientes com <strong>de</strong>pressão.<br />
Acredita-se que os anti<strong>de</strong>pressivos tricíclicos possam aumentar<br />
o risco <strong>de</strong> hipotensão e arritmia, principalmente nos<br />
pacientes <strong>de</strong>sidratados e que induz<strong>em</strong> o vômito.<br />
A terapia com estrogênios para reduzir a perda <strong>de</strong> cálcio<br />
<strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada nos casos <strong>de</strong> anorexia nervosa com<br />
amenorréia crônica. No entanto, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre evi<strong>de</strong>ncia-se<br />
redução no risco <strong>de</strong> osteoporose.<br />
PROGNÓSTICO E EVOLUÇÃO<br />
A natureza crônica dos distúrbios alimentares requer a<br />
manutenção do tratamento por t<strong>em</strong>po prolongado para<br />
evitar as recaídas. O prognóstico po<strong>de</strong> variar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />
completa recuperação com manutenção do peso normal e<br />
funcionamento efetivo, até uma incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter o<br />
peso, <strong>de</strong>snutrição gradual, incapacida<strong>de</strong> funcional <strong>de</strong>vido<br />
a extr<strong>em</strong>a fraqueza, preocupação excessiva com a perda <strong>de</strong><br />
peso e com a alimentação. Após 4 anos <strong>de</strong><br />
acompanhamento, menos <strong>de</strong> 50% dos pacientes com<br />
anorexia nervosa evolu<strong>em</strong> para a cura e <strong>de</strong>sses, n<strong>em</strong> todos<br />
retomam um estilo <strong>de</strong> vida consi<strong>de</strong>rado normal. Cerca <strong>de</strong><br />
20 a 30% dos pacientes evolu<strong>em</strong> para cronicida<strong>de</strong>, com<br />
alimentação irracional e medo <strong>de</strong> alimentar-se. A<br />
<strong>de</strong>snutrição agrava os probl<strong>em</strong>as psiquiátricos e <strong>de</strong>termina<br />
maior susceptibilida<strong>de</strong> a infecções, osteoporose e<br />
insuficiência renal. O óbito po<strong>de</strong> <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>ssas<br />
complicações ou do suicídio.<br />
Cerca <strong>de</strong> 30% dos pacientes com bulimia nervosa<br />
apresentam antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> anorexia nervosa. Entre os<br />
bulímicos, cerca <strong>de</strong> 70% apresentam recuperação<br />
completa após o tratamento, com redução consi<strong>de</strong>rável<br />
dos sintomas. Piores prognósticos têm sido associados a<br />
situações on<strong>de</strong> o peso corporal está muito baixo, com a<br />
presença <strong>de</strong> vômitos ou purgação e a omissão ou<br />
interrupção do tratamento. Estudos têm revelado uma<br />
variação <strong>de</strong> 5 a 18% nas taxas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>.<br />
Os critérios para a alta inclu<strong>em</strong> a ingestão alimentar que<br />
atenda às recomendações nutricionais básicas, manutenção<br />
<strong>de</strong> valores aceitáveis na proporção do peso para a estatura<br />
e percepção apropriada do tamanho e da forma corporal.<br />
Além disso, <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado a normalização do ciclo<br />
menstrual e o ajuste das características sexuais,<br />
psicológicas e sociais, vários anos após o diagnóstico<br />
inicial.<br />
Na bulimia nervosa, pelo menos a curto prazo, o uso <strong>de</strong><br />
anti<strong>de</strong>pressivos tricíclicos e inibidores da recaptação <strong>de</strong><br />
serotonina têm sido útil na redução dos sintomas <strong>de</strong><br />
compulsão e purgação. As doses utilizadas são as mesmas<br />
<strong>em</strong>pregadas no tratamento da <strong>de</strong>pressão.<br />
60
Bibliografia consultada<br />
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Practice Gui<strong>de</strong>line for Eating<br />
Disor<strong>de</strong>rs. Am. J. Psychiatry. v.150, n.2, p.209-228, 1993.<br />
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and statistical<br />
manual of mental disor<strong>de</strong>s. American Paxychiatric Association. 4th<br />
ed. Washington, DC. 1994.<br />
AZEVEDO, A.M.C., MARTINS, L.A.N. Transtornos Alimentares. In:<br />
PRADO, J.C., RAMOS, J. VALLE, J.R. Atualização Terapêutica. Manual<br />
Prático <strong>de</strong> diagnóstico e tratamento. 19.ed. São Paulo: Artes<br />
Médicas, 1999. 1510 p. p. 1226-1228.<br />
BEAUMONT, P.J.V.; RUSSELL, J.D.; TOUYZ, S.W. Treatment of anorexia<br />
nervosa. The Lancet, v.341, p.1635-1640, 1993.<br />
CORDAS, T.A.; CASTILHO, S. Imag<strong>em</strong> corporal nos transtornos alimentares<br />
- Instrumento <strong>de</strong> avaliação: “Body Shape Questionnaire”.<br />
Psiquiatria Biológica, v.2, p. 17-21, 1994.<br />
CUELLAR, R.E. THIEL. D.H.V., Gastrointestinal Consequences of the<br />
Eating Disor<strong>de</strong>rs: Anorexia Nervosa and Bulimia. Am. J.<br />
Gastroenterol, v. 81, n. 12, p.1113-1124, 1986.<br />
DROSSMAN D.A. Os Distúrbios Alimentares. In: CECIL Tratado <strong>de</strong><br />
Medicina Interna. 20.ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Guanabara-Koogan, 1997.<br />
p.1277-1281.<br />
FAIRBURN, C.G.; WELCH, S.L.; NORMAN, P.A.; O’ CONNOR, M.E.;<br />
DOLL,H.A. Bias and Bulimia Nervosa: How Typical are Clinic Cases?<br />
Am. J. Psychiatry, v. 153, n.3, p.386-390, 1996.<br />
FERREIRA, R.A. Anorexia e Bulimia. Simpósio Mineiro <strong>de</strong> Nutrição<br />
Peidátrica. Rev Med Minas Gerais, 12 supl (2):S81-S173, 2002.<br />
GARNER, D.M. Pathogenesis of Anorexia Nervosa. The Lancet, v.341,<br />
p.1631-1634, 1993.<br />
GWIRTSMAN, H. et al. Decrease caloric intake in normal weight<br />
patients with bulimia: Comparison with f<strong>em</strong>ale volunteers. Am. J.<br />
Clin. Nutr., v.49, p.86, 1989.<br />
LUCAS, A.R. Toward the un<strong>de</strong>rstanding of anorexia nervosa as a<br />
disease entity. Mayo Clin Proc. v.56, p.254-264, 1981.<br />
MAHAN, L.K.; ESCOTT-STUMP, S. Weight Manag<strong>em</strong>ent and Eating<br />
Disor<strong>de</strong>s. In: Krause’s Food, Nutrition & Diet Therapy. 9 ed.,<br />
Phila<strong>de</strong>lphia: W.B.Saun<strong>de</strong>rs, 1996. 1194p. p.479-485.<br />
MITCHELL, J.E.; PYLE, R.L.; ECKERT, E.D. Frequency and duration of<br />
binge-eating episo<strong>de</strong>s in pacients with bulimia. Am. J. Psychiatry,<br />
v.138, p.835-836, 1981.<br />
REIFF, D.W., REIFF, K.K.L., Nutricion intervention in the treatment of<br />
anorexia nervosa, bulimia nervosa, and binge eating. J. Am.<br />
Dietetic Assoc. [online]. 1994, v.94.<br />
SILVERMAN, J.A. Anorexia nervosa: clinical and metabolic observation<br />
in a successful treatment plan. In: Vigersky RA, ed. Anorexia nervosa.<br />
New York: Raven Press, 1977; 331-339.<br />
WALSH, B.T.; DEVLIN, M.J. Eating Disor<strong>de</strong>rs: Progress and Probl<strong>em</strong>s.<br />
Science, v. 280, p.1387-1390. 1998.<br />
WHO - Geneva. Classificação <strong>de</strong> Transtornos Mentais e <strong>de</strong> Comportamento<br />
da CID-10. Diretrizes Clínicas e Diretrizes Diagnósticas. Porto<br />
Alegre: Artes Médicas, 1993.<br />
GARFINKEL, P.E.; LIN,E.; GOERING, P.; SPEGG, C.; GOLDBLOOM,<br />
D.; KENNEDY, S.; KAPLAN, A.S.; WOODSIDE,D.B. Should<br />
Amenorrhoea be Necessary for the Diagnosis of Anorexia Nervosa?<br />
Evi<strong>de</strong>nce from a Canadian Community Sample. Br. J. Psychiatry,<br />
v. 168, p.500-506, 1996.<br />
61
ANEXO 1<br />
Questionário sobre grau <strong>de</strong> preocupação com a imag<strong>em</strong> corporal<br />
Gostaríamos <strong>de</strong> saber como você v<strong>em</strong> se sentindo <strong>em</strong> relação à sua aparência. Por favor, leia cada questão e faça<br />
um círculo no número apropriado, usando a legenda abaixo:<br />
1. Nunca 2. Raramente 3. Às vezes 4. Freqüent<strong>em</strong>ente 5. Muito freqüent<strong>em</strong>ente 6. S<strong>em</strong>pre<br />
Nas últimas quatro s<strong>em</strong>anas:<br />
1) Sentir-se entediada(o) faz você se preocupar com sua forma física?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
2) Você t<strong>em</strong> estado tão preocupada (o) com sua forma física a ponto <strong>de</strong> sentir que <strong>de</strong>veria fazer dieta?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
3) Você acha que suas coxas, quadril, ná<strong>de</strong>gas são gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>mais para o restante do seu corpo?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
4) Você t<strong>em</strong> sentido medo <strong>de</strong> ficar gorda (o) ou mais gorda (o)?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
5) Você se preocupa com o fato <strong>de</strong> seu corpo não ser suficient<strong>em</strong>ente firme?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
6) Sentir-se satisfeita (o) após ingerir uma gran<strong>de</strong> refeição, faz você sentir-se gorda (o)?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
7) Você já se sentiu tão mal a respeito do seu corpo que chegou a chorar?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
8) Você já evitou correr pelo fato <strong>de</strong> que seu corpo po<strong>de</strong>ria balançar?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
9) Estar com mulheres magras (homens magros) faz você se sentir preocupada(o) <strong>em</strong> relação ao seu físico?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
10) Você já se preocupou com o fato <strong>de</strong> suas coxas po<strong>de</strong>r<strong>em</strong> se espalhar ao se sentar?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
11) Você já se sentiu gorda (o) mesmo comendo uma pequena quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comida?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
12) Você t<strong>em</strong> reparado no físico <strong>de</strong> outras mulheres (outros homens) e, ao se comparar,<br />
1 2 3 4 5 6<br />
sente-se <strong>em</strong> <strong>de</strong>svantag<strong>em</strong>?<br />
13) Pensar no seu físico interfere <strong>em</strong> sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se concentrar <strong>em</strong> outras ativida<strong>de</strong>s?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
14) Estar nua (nu), por ex<strong>em</strong>plo, durante o banho, faz você se sentir gorda (o)?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
15) Você t<strong>em</strong> evitado usar roupas que a (o) faz<strong>em</strong> notar as formas do seu corpo?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
16) Você se imagina cortando fora porções <strong>de</strong> seu corpo?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
17) Comer doces, bolos ou outros alimentos ricos <strong>em</strong> calorias faz você se sentir gorda (o)?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
62
18) Você já <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> participar <strong>de</strong> eventos sociais por sentir-se mal <strong>em</strong> relação ao seu corpo?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
19) Você se sente excessivamente gran<strong>de</strong> e arredondada (o)?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
20) Você já teve vergonha do seu corpo?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
21) A preocupação frente ao seu físico o leva a fazer dieta?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
22) Você se sente mais contente <strong>em</strong> relação ao seu corpo quando está com estômago vazio?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
23) Você acha que seu físico atual <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> uma falta <strong>de</strong> auto-controle?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
24) Você se preocupa que as pessoas possam ver dobras na sua cintura ou estômago?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
25) Você acha injusto que outras mulheres (ou homens) sejam mais magras(os) que você?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
26) Você já vomitou para se sentir mais magra (o)?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
27) Quando acompanhada (o), você fica preocupada (o) <strong>em</strong> estar ocupando muito espaço<br />
1 2 3 4 5 6<br />
(por ex<strong>em</strong>plo, sentada (o) num sofá ou no banco <strong>de</strong> um ônibus)?<br />
28) Você se preocupa com o fato <strong>de</strong> estar<strong>em</strong> surgindo dobrinhas <strong>em</strong> seu corpo?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
29) Ver seu reflexo faz você sentir-se mal <strong>em</strong> relação ao seu físico?<br />
30) Você belisca área <strong>de</strong> seu corpo para ver o quanto há <strong>de</strong> gordura?<br />
31) Você evita situações nas quais as pessoas possam ver seu corpo?<br />
32) Você toma laxantes para se sentir mais magra (o)?<br />
33) Você fica particularmente consciente do seu físico quando <strong>em</strong> companhia <strong>de</strong> outras pessoas?<br />
34) A preocupação com seu físico lhe faz sentir que <strong>de</strong>veria fazer exercícios?<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
Soma total <strong>de</strong> pontos<br />
Interpretação dos resultados:<br />
< 80 pontos: nenhuma preocupação com a imag<strong>em</strong> corporal<br />
81 a 120 pontos: preocupação leve com a imag<strong>em</strong> corporal<br />
121 a 140 pontos: preocupação mo<strong>de</strong>rada com a imag<strong>em</strong> corporal<br />
> 140 pontos: preocupação intensa com a imag<strong>em</strong> corporal<br />
63
Volume 5 - Ano 2004<br />
t<strong>em</strong>as<br />
<strong>de</strong> nutrição <strong>em</strong> <strong>pediatria</strong><br />
Publicação elaborada pelo Departamento <strong>de</strong><br />
Nutrição da Socieda<strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>
Nutrição e ativida<strong>de</strong> física<br />
Relatores: Ary Lopes Cardoso e<br />
Virgínia Resen<strong>de</strong> Silva Weffort<br />
Des<strong>de</strong> os anos 50 os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e aqueles da área <strong>de</strong> educação<br />
física v<strong>em</strong> se preocupando com o papel do exercício físico na prevenção das<br />
doenças do coração. As recomendações quanto às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> exercício<br />
físico para o adulto e também para a criança começaram a ser formuladas<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início dos anos 90, pelo Departamento <strong>de</strong> Agricultura dos Estados<br />
Unidos (USDA) e pelo Departamento <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e Relações Humanas (DHHS).<br />
As recomendações dietéticas para os americanos (Dietary Gui<strong>de</strong>lines for<br />
Americans) no ano <strong>de</strong> 2000, preconizou que as crianças <strong>de</strong>v<strong>em</strong> praticar pelo<br />
menos 60 minutos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> física mo<strong>de</strong>rada diariamente, s<strong>em</strong>pre<br />
relacionando as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> exercícios físicos com os efeitos benéficos<br />
para a saú<strong>de</strong>. Além disso essas recomendações enfatizam que a ativida<strong>de</strong><br />
física e a nutrição caminham juntas para a obtenção <strong>de</strong> melhor saú<strong>de</strong>.<br />
O aumento do gasto energético causado pela ativida<strong>de</strong> física necessita ser<br />
levado <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração, tanto quando se <strong>de</strong>termina a quantida<strong>de</strong> calórica<br />
ingerida para se alcançar o balanço <strong>de</strong> energia que mantenha o peso<br />
corpóreo do adulto estável, como quando se pretenda obter um a<strong>de</strong>quado<br />
crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento na criança.<br />
A prática a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> física condiciona o coração, tonifica os<br />
músculos, ajuda na manutenção do peso, favorece a saú<strong>de</strong> óssea, previne<br />
diversas doenças como diabetes, obesida<strong>de</strong> e hipertensão arterial além <strong>de</strong><br />
proporcionar b<strong>em</strong>-estar mental, integração social, uma oportunida<strong>de</strong> para o<br />
lazer e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> aptidões que levam a uma maior auto-estima e<br />
confiança.<br />
A ativida<strong>de</strong> física po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>nominada <strong>de</strong>:<br />
1 Exercício físico para manter a saú<strong>de</strong>.<br />
2 Exercício físico programado: quando t<strong>em</strong> horário e freqüência<br />
<strong>de</strong>terminados, como as aulas <strong>de</strong> educação física nas escolas.<br />
3 Treinamento físico: quando o objetivo é a competição.<br />
Antes <strong>de</strong> iniciar qualquer ativida<strong>de</strong> física é fundamental conhecer as<br />
condições físicas da criança e/ou adolescente, além <strong>de</strong> se levar <strong>em</strong> conta<br />
o seu estágio <strong>de</strong> maturação, evitando assim uma indicação ina<strong>de</strong>quada<br />
<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s.<br />
Para avaliar se o crescimento está a<strong>de</strong>quado, o peso e a estatura <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser<br />
medidos regularmente e avaliados quanto a relação peso/altura, <strong>de</strong> acordo<br />
com os padrões <strong>de</strong> referência e quanto ao índice <strong>de</strong> massa corporal (IMC).<br />
66
1- INTEGRAÇÃO METABÓLICA DURANTE<br />
O EXERCÍCIO FÍSICO<br />
Saltin e cols (1), <strong>de</strong>monstraram existir três tipos distintos<br />
<strong>de</strong> fibras musculares: tipo I (contração lenta); tipo IIA<br />
(contração rápida-oxidativa); e tipo IIB (contração rápidaglicolítica).<br />
As características metabólicas <strong>de</strong>stas fibras<br />
estão <strong>de</strong>monstradas no Quadro 1.<br />
Quadro 1: Características metabólicas das fibras musculares<br />
Proprieda<strong>de</strong>s<br />
Velocida<strong>de</strong> contração<br />
Capacida<strong>de</strong> glicolítica<br />
Capacida<strong>de</strong> oxidativa<br />
Estoque <strong>de</strong> glicogênio<br />
Estoque triglicerí<strong>de</strong>os<br />
Capilarida<strong>de</strong> do tecido<br />
Tipo I<br />
Lenta<br />
Baixa<br />
Alta<br />
Mo<strong>de</strong>rado<br />
Alto<br />
Elevada<br />
Tipo IIA<br />
Rápida<br />
Mo<strong>de</strong>rada<br />
Mo<strong>de</strong>rada<br />
Mo<strong>de</strong>rado<br />
Mo<strong>de</strong>rado<br />
Mo<strong>de</strong>rada<br />
Tipo IIB<br />
Rápida<br />
Alta<br />
Baixa<br />
Alto<br />
Baixo<br />
Reduzida<br />
Modificado <strong>de</strong> Saltin e cols. 1977<br />
As fibras musculares do Tipo I são mais utilizadas na<br />
manutenção <strong>de</strong> esforços <strong>de</strong> longa duração e baixa<br />
intensida<strong>de</strong>. Devido a sua alta capacida<strong>de</strong> oxidativa e<br />
baixa velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contração, a geração <strong>de</strong> ATP <strong>de</strong>corre<br />
dos processos oxidativos mitocondriais. Elas possu<strong>em</strong><br />
gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> para utilizar os ácidos graxos livres<br />
<strong>de</strong>vido à elevada capilarida<strong>de</strong> e alto estoque <strong>de</strong><br />
triglicerí<strong>de</strong>os.<br />
Já as fibras do Tipo IIB estão envolvidas com ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
alta intensida<strong>de</strong> e curta duração. Elas possu<strong>em</strong> uma alta<br />
capacida<strong>de</strong> glicolítica e elevada velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contração.<br />
O conteúdo <strong>de</strong> glicogênio favorece a glicólise.<br />
As fibras Tipo IIA, são usadas <strong>em</strong> situações aon<strong>de</strong> o<br />
esforço intenso é feito no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> um exercício <strong>de</strong><br />
longa duração. Ag<strong>em</strong> portanto ora <strong>de</strong> forma s<strong>em</strong>elhante<br />
às fibras do tipo I, ora como aquelas do tipo IIB.<br />
2- FONTES ENERGÉTICAS DAS CÉLULAS<br />
MUSCULARES<br />
Os ácidos graxos (estocados como triglicerí<strong>de</strong>os no tecido<br />
adiposo e <strong>em</strong> pequenas quantida<strong>de</strong>s no tecido muscular),<br />
a glicose (mobilizada a partir do glicogênio hepático) e os<br />
aminoácidos (especialmente a partir <strong>de</strong> proteínas lábeis)<br />
po<strong>de</strong>m ser utilizados para aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s do<br />
tecido muscular. Esses metabólitos representam acúmulo<br />
<strong>de</strong> energia estável, permitindo ao organismo adaptar-se a<br />
situações <strong>de</strong> jejum e esforço físico prolongado.<br />
Durante a ativida<strong>de</strong> física, as fontes energéticas utilizadas<br />
pelo tecido muscular variam <strong>de</strong> acordo com a intensida<strong>de</strong><br />
e a duração do esforço (2).<br />
Pouco menos da meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> toda a energia dos nutrientes<br />
contidos nos alimentos é transferida para o composto <strong>de</strong><br />
alta energia ATP.<br />
O processo <strong>de</strong> contração muscular ocorre às custas <strong>de</strong><br />
energia fornecida pela quebra <strong>de</strong> ATP. Como o suprimento<br />
<strong>de</strong> ATP dos músculos é pequeno, limitado a 85g, a medida<br />
que vai sendo usado, <strong>de</strong>ve ir ocorrendo a sua ressíntese.<br />
As fibras musculares é que patrocinam esta ressíntese.<br />
A energia para isso v<strong>em</strong> direta e rapidamente da quebra<br />
anaeróbica <strong>de</strong> uma molécula do composto <strong>de</strong> alta energia<br />
Creatina - Fosfato (CP) (Figura 1).<br />
ATPase<br />
Creatino<br />
Quinase<br />
Trabalho Biológico<br />
ATP ADP + P + Energia<br />
CP<br />
C +P+<br />
Energia<br />
FIGURA 1 – O ATP e a Creatinoquinase são fontes<br />
anaeróbicas <strong>de</strong> energia ligada ao fosfato. A energia<br />
liberada a partir da hidrólise <strong>de</strong> creatino fosfato é usada<br />
para religar o ADP ao fosfato e formar ATP.<br />
67
Coletivamente o ATP e o CP são conhecidos como os fosfatos<br />
<strong>de</strong> alta energia. A energia liberada a partir da quebra das<br />
ligações fosfato tanto do ATP como do CP, po<strong>de</strong>m sustentar<br />
um exercício por até 8 segundos. Quando o exercício<br />
persiste por mais t<strong>em</strong>po, outras fontes energéticas externas<br />
à célula são mobilizadas para a ressíntese do ATP.<br />
No início do exercício ocorre consumo das fontes<br />
energéticas primárias celulares, ATP e CP (creatininafosfato).<br />
Com a continuida<strong>de</strong> da ativida<strong>de</strong> a <strong>de</strong>gradação<br />
do glicogênio (muscular) e a glicose (circulante)<br />
mobilizada a partir do glicogênio hepático, passam a<br />
fornecer um maior suprimento energético. Com a<br />
manutenção da ativida<strong>de</strong> <strong>em</strong> intensida<strong>de</strong> outras reações<br />
são <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adas, especialmente a neoglicogênese.<br />
Conclui-se daí que tanto crianças como adolescentes<br />
fisicamente ativos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> consumir energia e nutrientes<br />
suficientes para alcançar suas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> crescimento,<br />
manutenção <strong>de</strong> tecidos e também para o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho <strong>de</strong><br />
suas ativida<strong>de</strong>s intelectuais e físicas.<br />
Os exercícios po<strong>de</strong>m ser feitos s<strong>em</strong> o consumo <strong>de</strong><br />
oxigênio, como acontece quando se corre atrás <strong>de</strong> uma<br />
bola, ou <strong>de</strong> um ônibus, praticamente s<strong>em</strong> respirar. Numa<br />
situação <strong>de</strong>ssas a quebra da molécula <strong>de</strong> ATP vai ocorrer<br />
s<strong>em</strong> a participação do oxigênio. Na falta <strong>de</strong>ste, a energia<br />
para a contração muscular é suprida predominant<strong>em</strong>ente<br />
por fontes anaeróbicas. Esta situação é a que ocorre nos<br />
exercícios <strong>de</strong> força, como o halterofilismo <strong>de</strong> competição.<br />
A participação cada vez mais precoce das crianças <strong>em</strong><br />
ativida<strong>de</strong>s competitivas e seu envolvimento <strong>em</strong> programas<br />
<strong>de</strong> treinamento intenso, faz com que os profissionais da<br />
saú<strong>de</strong> fiqu<strong>em</strong> mais atentos à adoção <strong>de</strong> comportamentos<br />
alimentares que po<strong>de</strong>m trazer conseqüências <strong>de</strong>letérias à<br />
saú<strong>de</strong>, tais como <strong>de</strong>sidratação, práticas <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> peso<br />
ina<strong>de</strong>quadas, distúrbios alimentares e uso indiscriminado<br />
<strong>de</strong> substâncias ergogênicas.<br />
3- ASPECTOS NUTRICIONAIS<br />
Os lípi<strong>de</strong>s, carboidratos e as proteínas são el<strong>em</strong>entos<br />
essenciais para fornecer energia, manter a integrida<strong>de</strong><br />
estrutural e funcional do organismo e também manter as<br />
funções fisiológicas durante a ativida<strong>de</strong> física (3).<br />
Recomenda-se que a dieta para atletas jovens forneça <strong>de</strong><br />
55-60% da energia total na forma <strong>de</strong> carboidratos, 12-15%<br />
como proteínas e 25-30% como lipí<strong>de</strong>s.<br />
Lípi<strong>de</strong>s<br />
A maior fonte <strong>de</strong> energia do corpo é representada pela<br />
gordura estocada. Em comparação aos outros nutrientes,<br />
a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia que po<strong>de</strong> advir <strong>de</strong>sses estoques<br />
é enorme.<br />
Apesar <strong>de</strong> se saber que a sua utilização é maior durante o<br />
exercício, a recomendação para se manter um crescimento<br />
a<strong>de</strong>quado é <strong>de</strong> que a ingestão diária não fique muito longe<br />
dos 30% do valor energético total da dieta, n<strong>em</strong> menor que<br />
20% para manter o crescimento a<strong>de</strong>quado. Além disso t<strong>em</strong>se<br />
recomendado que 70% <strong>de</strong>ssa gordura seja insaturada.<br />
As principais funções dos lípi<strong>de</strong>s são :<br />
• fonte <strong>de</strong> energia e reserva – um grama <strong>de</strong> lípi<strong>de</strong>s<br />
contém aproximadamente 9 kilocalorias.<br />
• proteção – protege os órgãos vitais contra os traumas,<br />
contra o frio e até contra a perda rápida <strong>de</strong> calor nos dias<br />
quentes.<br />
• transporte <strong>de</strong> vitaminas e <strong>de</strong>pressor <strong>de</strong> fome – a<br />
ingestão <strong>de</strong> no mínimo 20g <strong>de</strong> gordura/dia é suficiente<br />
para suprir as necessida<strong>de</strong>s diárias das vitaminas<br />
lipossolúveis A D E e K. Outra ação muito conhecida é a<br />
<strong>de</strong> aumentar a sacieda<strong>de</strong> no <strong>de</strong>correr das refeições.<br />
Carboidratos<br />
A principal função dos carboidratos é a <strong>de</strong> suprir energia<br />
para o trabalho celular. A forma i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> ingestão é a <strong>de</strong><br />
moléculas complexas (amido), fornecendo 40-45% das<br />
calorias e <strong>em</strong> menor proporção (10-15%), na forma simples<br />
(glicose). As frutas, grãos e vegetais além dos doces, são<br />
alguns ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> alimentos ricos <strong>em</strong> carboidratos que são<br />
estocados nos músculos e no fígado na forma <strong>de</strong> glicogênio<br />
e ainda po<strong>de</strong>m ser convertidos <strong>em</strong> gordura para estocar<br />
energia. A ingestão ina<strong>de</strong>quada po<strong>de</strong> resultar <strong>em</strong> estoques<br />
insuficientes <strong>de</strong> glicogênio muscular, fadiga precoce, além do<br />
uso <strong>de</strong> estoques protéicos para a produção <strong>de</strong> energia.<br />
68
As principais funções exercidas pelos carboidratos e<br />
relacionadas com a performance do exercício são:<br />
• fonte <strong>de</strong> energia – a quebra da glicose e do glicogênio<br />
gera energia que é usada para a contração muscular e outras<br />
formas <strong>de</strong> trabalho biológico. Durante o exercício mo<strong>de</strong>rado<br />
e prolongado o glicogênio do fígado e dos músculos fornece<br />
<strong>de</strong> 40 a 50% <strong>de</strong> todas as necessida<strong>de</strong>s energéticas nos<br />
primeiros 20 a 40 minutos. A partir daí a energia passa a ser<br />
obtida a partir do metabolismo <strong>de</strong> gorduras e mesmo da<br />
utilização da glicose sangüínea (figura 2).<br />
consequent<strong>em</strong>ente, a geração <strong>de</strong> energia aeróbica a<br />
partir das gorduras. Na figura 3 po<strong>de</strong>-se observar como<br />
se faz a geração <strong>de</strong> energia a partir do metabolismo dos<br />
carboidratos, gorduras e proteínas. Mais ainda como são<br />
feitas as interrelações entre esses 3 nutrientes para<br />
formar energia.<br />
LIPÍDIOS<br />
CARBOIDRATOS<br />
PROTEÍNAS<br />
Ácidos graxos + glicerina Glicose / glicogênio<br />
AA<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
Consumo 02<br />
(mM / min)<br />
AG<br />
37%<br />
Glicose<br />
27%<br />
AG<br />
37%<br />
Glicose<br />
41%<br />
AG<br />
50%<br />
Glicose<br />
36%<br />
AG<br />
62%<br />
Glicose<br />
30%<br />
Repouso 40 90 180 240<br />
Exercício, min<br />
BETA<br />
OXIDAÇÃO<br />
Ácido oxalocetico<br />
Ácido piruvico<br />
Acetil C oA<br />
CICLO<br />
<strong>de</strong><br />
KREBS<br />
Ácido láctico<br />
Alanina<br />
Corpos cetônicos<br />
Ácido cítrico<br />
Deaminação<br />
Glicidios<br />
Amônia<br />
Uréia<br />
Urina<br />
Ácido glutâmico<br />
FIGURA 2 – Consumo <strong>de</strong> oxigênio e <strong>de</strong> nutrientes, pelas<br />
pernas, durante o exercício prolongado. As áreas<br />
representadas pela oxidação <strong>de</strong> gordura e da<br />
participação da glicose sangüínea são progressivamente<br />
maiores à medida que o exercício vai sendo prolongado.<br />
A área representada na parte superior do histograma é<br />
aquela relativa à contribuição oxidativa do glicogênio<br />
muscular e da gordura e proteínas intramusculares (4)<br />
• poupador <strong>de</strong> proteína – quando as reservas <strong>de</strong><br />
carboidratos estão muito reduzidas, como por ex<strong>em</strong>plo<br />
num exercício <strong>de</strong> endurance muito extenuante, alguns<br />
aminoácidos que possu<strong>em</strong> esqueletos <strong>de</strong> carbono,<br />
po<strong>de</strong>m ser reconstruidos e gerar glicose através do<br />
processo <strong>de</strong> neoglicogênese. Dessa forma as proteínas<br />
são usadas como fonte energética.<br />
• manter o catabolismo <strong>de</strong> gordura – o ácido<br />
oxaloacético, gerado na glicogenolise, é necessário para<br />
permitir que o processo <strong>de</strong> beta oxidação das gorduras<br />
se mantenha <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>. A <strong>de</strong>pleção acentuada <strong>de</strong><br />
carboidratos, compromete a geração <strong>de</strong>sse ácido e<br />
FIGURA 3 – A “máquina metabólica’”: importantes<br />
interconexões entre carboidratos, lípi<strong>de</strong>s e proteínas.<br />
• combustível para o SNC – <strong>em</strong> condições normais o<br />
cérebro usa a glicose sangüínea como o combustível<br />
preferido. Na sua falta surg<strong>em</strong> os sintomas<br />
relacionados à hipoglic<strong>em</strong>ia: fraqueza, fome, tonturas.<br />
Em situação <strong>de</strong> exercício, a performance será diminuída<br />
e o cansaço aparece.<br />
O exercício prolongado po<strong>de</strong> levar à situação <strong>de</strong> fadiga<br />
quando os estoques <strong>de</strong> glicogênio do fígado e dos<br />
músculos diminu<strong>em</strong> muito, mesmo com uma boa oferta<br />
<strong>de</strong> oxigênio e reservas <strong>de</strong> gordura ilimitadas. Os atletas<br />
<strong>de</strong>fin<strong>em</strong> essa situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pleção acentuada dos<br />
carboidratos no exercício <strong>de</strong> endurance, como fadiga<br />
central ou “muro”.<br />
Conclui-se que a ingestão <strong>de</strong> carboidratos é fundamental<br />
antes, durante e após o exercício aeróbico ou endurance.<br />
69
Proteínas<br />
O organismo necessita <strong>de</strong> 20 diferentes aminoácidos,<br />
sendo que 8 não são sintetizados no corpo. São os<br />
chamados aminoácidos essenciais e precisam ser<br />
ingeridos na alimentação. As proteínas que contém todos<br />
os aminoácidos são <strong>de</strong>nominadas <strong>de</strong> completas, ou <strong>de</strong><br />
alta qualida<strong>de</strong> como os ovos, leite, queijo, carne, peixe.<br />
No Quadro 2 está um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> dieta ingerida por um<br />
adolescente normal brasileiro. Nota-se que a ingestão<br />
proteica supera a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1g/kg/dia. O Conselho<br />
Nacional <strong>de</strong> Pesquisas (National Research Council) da<br />
Aca<strong>de</strong>mia Nacional <strong>de</strong> Ciências dos Estados Unidos<br />
preconiza a ingestão diária <strong>de</strong> 0.8 g/kg/dia <strong>de</strong> proteínas,<br />
tanto para meninos como para meninas (5). Quando as<br />
recomendações são feitas para aqueles que praticam<br />
ativida<strong>de</strong>s físicas mais intensas, essas quantida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m<br />
variar <strong>de</strong> acordo com o tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>. Ortega <strong>em</strong><br />
1992 (6) preconiza a ingestão <strong>de</strong> até 2g/kg/dia para os<br />
adolescentes que praticam esportes <strong>de</strong> alta intensida<strong>de</strong> e<br />
por período superior a uma hora.<br />
Atletas que praticam exercícios <strong>de</strong> força por mais <strong>de</strong> 4<br />
horas diárias, po<strong>de</strong>rão necessitar <strong>de</strong> supl<strong>em</strong>entos<br />
protéicos para aumentar a sua eficiência e recuperação<br />
(7), além <strong>de</strong> melhorar o balanço <strong>de</strong> aminoácidos.<br />
S<strong>em</strong>pre é bom l<strong>em</strong>brar que o uso crônico <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />
quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> proteína não é isento <strong>de</strong> efeitos<br />
colaterais, principalmente pela hepato e nefrotoxicida<strong>de</strong>.<br />
Micronutrientes e alguns Minerais<br />
Em relação aos micronutrientes, não existe uma<br />
recomendação específica para jovens esportistas. As RDI<br />
são utilizadas como padrão para verificar a a<strong>de</strong>quação. A<br />
atenção maior é voltada para a ingestão <strong>de</strong> Calcio, que<br />
<strong>de</strong>ve ser superior a 500mg/dia, e <strong>de</strong> Ferro uma vez que a<br />
sua <strong>de</strong>ficiência po<strong>de</strong> prejudicar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
transporte <strong>de</strong> oxigênio, diminuindo o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho físico.<br />
Hidratação<br />
A hidratação é essencial para garantir a manutenção dos<br />
fluidos corporais e melhorar o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho físico,<br />
retardando o processo <strong>de</strong> fadiga. É indicado que os<br />
esportistas ingiram fluidos antes, durante e após os<br />
períodos <strong>de</strong> treinamento e competição. Nas práticas<br />
esportivas <strong>de</strong> longa duração (maior que 90 minutos),<br />
bebidas hidroeletrolíticas com concentração <strong>de</strong><br />
carboidratos (6-8%) e osmolarida<strong>de</strong> a<strong>de</strong>quadas po<strong>de</strong>m ser<br />
utilizadas. Alguns cuidados são importantes:<br />
• a t<strong>em</strong>peratura da solução <strong>de</strong>ve variar <strong>de</strong> 6º C a 20º C<br />
para facilitar a ingestão;<br />
• uma solução contendo entre 6% e 10% <strong>de</strong> carboidrato<br />
t<strong>em</strong> osmolalida<strong>de</strong> que facilita o esvaziamento gástrico e<br />
a absorção intestinal.<br />
• a relação carboidrato / sódio <strong>de</strong>ve ser s<strong>em</strong>elhante àquela<br />
dos fluidos corpóreos - 12:1. A relação <strong>de</strong> 5:1 que<br />
facilita o esvaziamento gástrico é intolerável.<br />
• <strong>em</strong> ambientes quentes e úmidos a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
ingestão <strong>de</strong> líquidos é maior do que <strong>em</strong> ambientes<br />
quentes e secos, on<strong>de</strong> a termorregulação é mais eficiente.<br />
4- NECESSIDADES NUTRICIONAIS DO<br />
ADOLESCENTE NORMAL E DO ATLETA<br />
Quando se faz recomendações <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> energia<br />
e <strong>de</strong> nutrientes, <strong>de</strong>ve-se reportar aos informes técnicos da<br />
FAO, OMS e UNU (8). Esses valores foram propostos para<br />
as diferentes ida<strong>de</strong>s e sexo. Na Tabela 1 estão os valores<br />
<strong>de</strong> energia e <strong>de</strong> alguns nutrientes recomendados para<br />
homens e mulheres, com ida<strong>de</strong>s entre 15 e 18 anos. A<br />
distribuição do teor <strong>de</strong> energia dos macronutrientes <strong>de</strong>ve<br />
obe<strong>de</strong>cer às seguintes proporções: 55%, 30% e 15%<br />
respectivamente para carboidratos, gorduras e proteínas.<br />
S<strong>em</strong>pre é bom l<strong>em</strong>brar que a taxa metabólica basal (TMB)<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da ida<strong>de</strong> e do peso corpóreo. Na faixa etária <strong>de</strong><br />
10 a 18 anos as equações que <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> a TMB para<br />
meninos e meninas são respectivamente:<br />
Meninos: (17,5 P + 651) Meninas: (12,2 P + 746)<br />
On<strong>de</strong> P é o peso <strong>em</strong> kilogramas.<br />
70
Tabela 1 – Recomendações <strong>de</strong> Ingestão energética <strong>de</strong> alguns nutrientes*<br />
Homens<br />
Mulheres<br />
Ida<strong>de</strong><br />
Peso (kg)<br />
Calorias (kcal)<br />
Proteínas (g)<br />
Vitamina A (ug)<br />
Vitamina B12(ug)<br />
Calcio(mg)<br />
Fósforo(mg)<br />
Ferro (mg)<br />
Zinco(mg)<br />
15 - 18 anos<br />
66<br />
2100-3900<br />
59<br />
1000<br />
2<br />
1200<br />
1200<br />
12<br />
15<br />
15 - 18 anos<br />
55<br />
1200-3000<br />
44<br />
1000<br />
2<br />
1200<br />
1200<br />
15<br />
12<br />
* FAO / OMS/UNU, 1985<br />
No Quadro 2 está o resultado <strong>de</strong> um inquérito alimentar diário, médio, obtido a partir das informações <strong>de</strong><br />
um adolescente <strong>de</strong> 15 anos, com 165 cm <strong>de</strong> altura e 56 kg <strong>de</strong> peso, pertencente à classe média <strong>de</strong> São Paulo.<br />
Quadro 2 – Inquérito alimentar – masc. 15 anos – peso e altura <strong>em</strong> percentil 50<br />
Café manhã<br />
Almoço<br />
Lanche<br />
Jantar<br />
Ceia<br />
Total<br />
Proteína<br />
Gordura<br />
Carboidr.<br />
Energia<br />
Leite 112 g<br />
Café 48 g<br />
Arroz coz<br />
c/sal 192 g<br />
Leite 112 g<br />
Café 48 g<br />
Arroz branco<br />
c/sal 192 g<br />
Chocolate<br />
quente 160 g<br />
%<br />
15<br />
21<br />
63<br />
Açúcar 20 g<br />
Estrogonofe<br />
154 g<br />
Açucar 10 g<br />
Bife 93 g<br />
Bolacha cream<br />
crack 19.5 g<br />
Kcal<br />
80<br />
49<br />
329<br />
2060<br />
Pão 50 g<br />
Margarina 15 g<br />
Purê batata c/<br />
leite e margarina<br />
130 g<br />
Bolacha<br />
maizena 20 g<br />
Chuchu cozido<br />
s<strong>em</strong> sal 89 g<br />
Kcal<br />
37<br />
Pêra 70 g<br />
Limonada 20 g<br />
Açúcar 20 g<br />
Pipoca c/óleo<br />
e sal 9 g<br />
Limonada 20 g<br />
Açúcar 20 g<br />
G/kg<br />
1.4<br />
Maçã 75 g<br />
Pêra 70 g<br />
Com os dados apresentados é fácil perceber que as necessida<strong>de</strong>s nutricionais diárias <strong>de</strong> um adolescente<br />
normal po<strong>de</strong>m ser preenchidas facilmente com a dieta normal que ele recebe. Fica evi<strong>de</strong>nte também que se<br />
houver a prática esportiva mais intensa, muito provavelmente uma maior ingestão <strong>de</strong> carboidratos <strong>de</strong>verá<br />
ser oferecida para preencher essas necessida<strong>de</strong>s.<br />
71
5- ATIVIDADES FÍSICAS<br />
Depen<strong>de</strong>ndo da ativida<strong>de</strong> esportiva que a criança ou o<br />
adolescente pratique o gasto <strong>de</strong> energia po<strong>de</strong> ser muito<br />
diferente (9,10). Na Tabela 2 estão apontados os gastos<br />
energéticos correspon<strong>de</strong>ntes a algumas das ativida<strong>de</strong>s<br />
esportivas mais freqüent<strong>em</strong>ente praticadas pelos<br />
adolescentes brasileiros, <strong>de</strong> acordo com o seu peso.<br />
Tabela 2 – Gasto <strong>de</strong> Energia nas diferentes modalida<strong>de</strong>s esportivas*<br />
Esporte<br />
Kc/kg/min<br />
40 kg<br />
kcal/min<br />
50 kg<br />
kcal/min<br />
60 kg<br />
kcal/min<br />
70 kg<br />
kcal/min<br />
Basquete<br />
0.14<br />
5.5<br />
6.9<br />
8.3<br />
9.7<br />
Corrida (mo<strong>de</strong>rada)<br />
0.13<br />
5.4<br />
6.7<br />
8.1<br />
9.4<br />
Ciclismo:<br />
Competição<br />
0.17<br />
5.8<br />
8.4<br />
10.1<br />
11.8<br />
Passeio<br />
0.10<br />
4.0<br />
5.0<br />
6.0<br />
7.0<br />
Dança<br />
0.17<br />
6.7<br />
8.4<br />
10.1<br />
11.8<br />
Ginástica<br />
0.07<br />
2.6<br />
3.3<br />
3.9<br />
4.6<br />
Judô<br />
0.19<br />
7.8<br />
9.7<br />
11.7<br />
13.6<br />
Natação:<br />
Nado Peito<br />
0.16<br />
6.5<br />
8.1<br />
9.7<br />
11.3<br />
Nado Crawl<br />
0.17<br />
6.8<br />
8.4<br />
10.1<br />
11.8<br />
Tênis<br />
0.11<br />
4.4<br />
5.4<br />
6.5<br />
7.6<br />
Voleibol<br />
0.05<br />
2.0<br />
2.5<br />
3.0<br />
3.5<br />
*dados compilados do “Stu<strong>de</strong>nt Study Gui<strong>de</strong> and Workbook - do Fitness<br />
Technologies,Inc <strong>de</strong> Katch FI e McArdle WD - 1994<br />
De acordo com os informes técnicos da FAO/OMS/UNU(8)<br />
<strong>de</strong> 1985 as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> energia diária e a dose<br />
inócua <strong>de</strong> proteínas que po<strong>de</strong> ser ingerida pelos seres<br />
humanos sofre modificações <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da taxa<br />
metabólica do indivíduo. Esta taxa po<strong>de</strong> ser graduada <strong>em</strong><br />
3 patamares, sendo que a taxa 1 é a menor – ficar<br />
sentado, lavar-se e ter ativida<strong>de</strong> social. A taxa 3 é a maior<br />
– carregar gran<strong>de</strong>s pesos, trabalho agrícola. Depen<strong>de</strong>ndo<br />
do tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> que o indivíduo t<strong>em</strong> <strong>em</strong> suas<br />
ativida<strong>de</strong>s, é possível se aplicar valores que variam entre<br />
1 e 3 para <strong>de</strong>finir o fator que <strong>de</strong>ve ser multiplicado à sua<br />
taxa metabólica basal, <strong>de</strong>finindo assim o valor calórico<br />
que será atribuído a essa ativida<strong>de</strong>. No quadro 3 estão as<br />
necessida<strong>de</strong>s energéticas diárias e a dose inócua <strong>de</strong><br />
proteínas que os adolescentes tanto do sexo masculino<br />
como do f<strong>em</strong>inino necessitam, quando a taxa metabólica<br />
está <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 1.5, o que eqüivale a uma vida s<strong>em</strong><br />
uma gran<strong>de</strong> carga <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s esportivas.<br />
72
Quadro 3 – Necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Energia/dia e dose inócua <strong>de</strong> ingestão proteica – (adolescentes 14/18 anos*)<br />
Ida<strong>de</strong><br />
Mediana<br />
peso (kg)<br />
TMB*<br />
/kg<br />
Fator<br />
TMB**<br />
Nec.E/dia<br />
(calorias)<br />
D.inóc.prot<br />
(g/kg)<br />
Homens<br />
14-16<br />
55.5<br />
29.5<br />
1.64<br />
2650<br />
0.95<br />
16-18<br />
64<br />
27.5<br />
1.6<br />
2850<br />
0.90<br />
Mulheres<br />
14-16<br />
52<br />
26.5<br />
1.55<br />
2150<br />
0.90<br />
16-18<br />
54<br />
25.5<br />
1.53<br />
2150<br />
0.80<br />
* <strong>de</strong>finida pela FAO/OMS/UNU (8)<br />
** fator que será multiplicado à TMB<br />
Os valores inteiros são consi<strong>de</strong>rados: (1) sentado, lavar-se, ativida<strong>de</strong> social. (2) caminhar, trabalhos domésticos, jogar, trabalho agrícola.<br />
(3) carregar lenha, água, trabalho agrícola.<br />
Se um adolescente do sexo masculino, com 16 anos,<br />
estiver treinando 3 horas diárias para uma prova <strong>de</strong><br />
Biatlon (competição que inclui ciclismo e corrida), as<br />
necessida<strong>de</strong>s calculadas serão diferentes uma vez que a<br />
taxa metabólica é muito maior (quadro 4).<br />
Quadro 4 – Necessida<strong>de</strong>s Energia / dia – adolescente masculino – 16 anos<br />
(Peso 62.7 kg; Estatura 175 cm)* – Treinamento para Biathlon<br />
Horas<br />
Fator<br />
Kcal<br />
Sono<br />
9 hs<br />
1.0<br />
656<br />
Escola<br />
3 hs<br />
1.6<br />
349<br />
Ativ. Pequenas (1)<br />
6 hs<br />
1.6<br />
700<br />
Ativ. Mo<strong>de</strong>radas (2)<br />
3 hs<br />
2.5<br />
547<br />
Ativ. Intensas (3)<br />
3 hs<br />
3.0<br />
656<br />
TOTAL<br />
2909 (2 x TMB)<br />
*TMB – 1750 ou 72.9 kcal/hora (obtida <strong>de</strong>: 17,5P + 651)<br />
73
Consi<strong>de</strong>rando que 72.9 cal/hora é a taxa metabólica<br />
basal, para cumprir as 3 horas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> intensa<br />
(fator 3), o gasto <strong>de</strong> energia será:<br />
72.9 x 3 (fator) x 3 (horas), ou 656 kcal.<br />
Como já se viu na tabela 1 as necessida<strong>de</strong>s médias <strong>de</strong><br />
energia <strong>de</strong> um adolescente variam <strong>de</strong> 2100 a 3900 kcal<br />
por dia (11). Esse adolescente que treina mais<br />
intensamente necessita <strong>de</strong> muito mais energia que aquele<br />
que pratica apenas 1 hora <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> intensa. Com estes<br />
dados é possível fazer o cálculo das quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
nutrientes que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser ingeridos (12,13). No ex<strong>em</strong>plo<br />
do quadro 4 essa distribuição é assim representada:<br />
Se, no entanto, a ingestão protéica for muito maior que<br />
1.2 a 1.3 g/kg/dia, as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> água praticamente<br />
dobrarão para que a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> urinária se mantenha <strong>em</strong><br />
valores normais. Se essa maior ingestão protéica for<br />
mantida por muito t<strong>em</strong>po, o sist<strong>em</strong>a medular <strong>de</strong><br />
concentração urinária vai entrar <strong>em</strong> falência (14).<br />
A reposição <strong>de</strong> líquidos durante o exercício <strong>de</strong>ve ser da<br />
or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> até 80% das perdas. Essa quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser<br />
fornecidas <strong>em</strong> volumes <strong>de</strong> 600 a 1200 ml/hora, com uma<br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carboidratos (polímeros <strong>de</strong> glicose) que<br />
permita <strong>de</strong>ixar a solução com concentração <strong>de</strong> 4 a 8% no<br />
máximo.<br />
Cálculo das necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> macronutrientes/dia:<br />
CHO - 55% - 1900 /4 - 475 g ou 7.5 / kg<br />
Proteínas - 15% - 594 /4 - 143 g ou 2.2 / kg<br />
Gordura - 30% - 1070 /9 - 121 g ou 1.9/ kg<br />
6- ÁGUA E VITAMINAS PARA O<br />
ADOLESCENTE ATLETA<br />
6.1 Água<br />
As necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> água que um adulto e um adolescente<br />
normais precisam para eliminar a carga osmolar <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />
também da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proteína ingerida (Quadro 5).<br />
Para que a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> urinária esteja <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 1020/<br />
1030, isto é para que não haja gran<strong>de</strong>s esforços <strong>de</strong><br />
concentração medular renal, quando se ingeriu 0.8 g/kg/<br />
dia <strong>de</strong> proteínas/dia, o adolescente precisa ingerir <strong>de</strong> 2200<br />
a 2700 ml por dia <strong>de</strong> água.<br />
6.2 Vitaminas e minerais<br />
Diversas vitaminas participam da liberação <strong>de</strong> energia ao<br />
nível mitocondrial. Esse é caso da tiamina, ácido<br />
pantotênico, riboflavina, biotina e niacina. Em si elas não<br />
são carregadoras <strong>de</strong> energia. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente do<br />
indivíduo ser se<strong>de</strong>ntário ou não, as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
vitaminas são s<strong>em</strong>elhantes. Dessa forma a motivação do<br />
seu uso <strong>de</strong>ve se restringir ao fornecimento das<br />
necessida<strong>de</strong>s diárias. Muitos estudos discut<strong>em</strong> a<br />
participação das vitaminas e minerais na performance<br />
atlética e as conclusões são muito s<strong>em</strong>elhantes: <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser<br />
ingeridos apenas <strong>em</strong> situações aon<strong>de</strong> exista <strong>de</strong>pleção<br />
(15,16,17,18,19).<br />
Quadro 5 – Ingestão <strong>de</strong> proteína e necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> água / dia<br />
Ida<strong>de</strong><br />
(anos)<br />
Peso<br />
(kg)<br />
Ingestão<br />
(g/d)<br />
Volume<br />
Água/dia<br />
Vol/kg<br />
Densida<strong>de</strong><br />
Urina<br />
Adulto<br />
28<br />
70<br />
56<br />
2200-2700 ml<br />
40/50 ml<br />
1020/1030<br />
Adolescente<br />
14<br />
45<br />
45<br />
2200-2700 ml<br />
50/60 ml<br />
1020/1030<br />
74
7- OUTRAS SUBSTÂNCIAS UTILIZADAS PARA<br />
MELHORAR O RENDIMENTO ATLÉTICO<br />
7.1 Hidratantes “estimulantes”<br />
Nos últimos anos o uso <strong>de</strong> hidratantes <strong>de</strong>nominados<br />
recuperadores (Quadro 6) ou estimulantes da<br />
recuperação do exercício t<strong>em</strong> sido matéria <strong>de</strong> muitas<br />
publicações na imprensa leiga. De um modo geral todos<br />
esses produtos são soluções que contém carboidratos e<br />
eletrólitos (basicamente sódio e potássio). Seu uso é<br />
sugerido para manter uma oferta <strong>de</strong>sses nutrientes antes,<br />
durante e após os exercícios <strong>de</strong> endurance. T<strong>em</strong> a função<br />
primordial <strong>de</strong> proteger a <strong>de</strong>pleção <strong>de</strong> carboidratos.<br />
Aparent<strong>em</strong>ente é a presença <strong>de</strong> cafeína que está<br />
compondo uma série <strong>de</strong>sses produtos que causa a ação<br />
estimulante tão apregoada. No entanto, as quantida<strong>de</strong>s<br />
médias existentes <strong>de</strong> cafeína não são maiores que<br />
aquelas existentes numa xícara <strong>de</strong> café, que é<br />
aproximadamente <strong>de</strong> 85 mg (uma xícara pequena).<br />
Sabe-se que <strong>em</strong> média 250 mg são suficientes para<br />
estimular o sist<strong>em</strong>a nervoso central e quando houver<br />
mistura com qualquer bebida alcoólica esse efeito é<br />
mais intenso.<br />
Quadro 6 – Supl<strong>em</strong>entos nutricionais – estimulantes e hidratantes (<strong>em</strong> 100 ml)<br />
*1 mEq= 38 mg;<br />
**1 mEq= 23 mg<br />
Flying<br />
Horse<br />
Atomic<br />
Energy<br />
Blue<br />
Energy<br />
Flash<br />
Power<br />
Red Bull<br />
Squeezy<br />
Gatora<strong>de</strong><br />
Hydroplus<br />
Energia<br />
46<br />
35<br />
56<br />
45<br />
45<br />
260<br />
22<br />
26<br />
Proteína<br />
0.3<br />
Carboidrato<br />
11<br />
12<br />
11<br />
11<br />
65<br />
4.8<br />
6,6<br />
B2 mg<br />
0.6<br />
0.6<br />
0.6<br />
B6 mg<br />
0.8<br />
1.0<br />
0.8<br />
0.8<br />
0,13<br />
B12 mg<br />
0.4<br />
0.5<br />
0.4<br />
0.4<br />
Niacina<br />
7.0<br />
8.0<br />
7.2<br />
7.2<br />
Ca mg<br />
213<br />
20<br />
P mg<br />
13<br />
K mg*<br />
147<br />
14,2<br />
Na mg**<br />
4.6<br />
4.0<br />
25<br />
46<br />
Taurina mg<br />
100<br />
400<br />
Cafeína mg<br />
32<br />
32<br />
32<br />
32<br />
Cloreto mg<br />
49<br />
Mg mg<br />
3,2<br />
Vit C mg<br />
3,6<br />
Vitamina PP mg<br />
3<br />
Ác pantotênico mg<br />
0,6<br />
Vit E mg αTE<br />
1,8<br />
L-Glutamina<br />
17,5<br />
BACC mg<br />
19,6<br />
75
7.2 ERGOGÊNICOS<br />
São substâncias ou procedimentos tidos como capazes <strong>de</strong><br />
melhorar a eficácia do exercício físico, a função fisiológica<br />
ou a performance atlética através do fornecimento <strong>de</strong><br />
mais energia.<br />
Dentre os supl<strong>em</strong>entos nutricionais consi<strong>de</strong>rados como<br />
ergogênicos, alguns <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser <strong>de</strong>stacados:<br />
7.2.1 Proteínas<br />
As proteínas mais utilizadas como supl<strong>em</strong>entos são:<br />
• proteínas do soro <strong>de</strong> leite (whey protein) – <strong>de</strong> alto<br />
valor biológico, isto é, que possu<strong>em</strong> altos teores <strong>de</strong><br />
aminoácidos essenciais e <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia ramificada.<br />
• super albumina (egg albumin) – obtida a partir da<br />
pasteurização da clara do ovo, é rica <strong>em</strong> aminoácidos<br />
essenciais e não t<strong>em</strong> colesterol.<br />
Exist<strong>em</strong> muitas controvérsias a respeito do uso <strong>de</strong><br />
supl<strong>em</strong>entos contendo proteínas. Embora a ação da<br />
proteína seja a <strong>de</strong> fornecer substrato para aumentar a<br />
massa muscular, e consequent<strong>em</strong>ente a força e a<br />
resistência, na prática esses benefícios n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre são<br />
observados.<br />
As indicações para o uso <strong>de</strong> supl<strong>em</strong>entos protéicos são:<br />
• atletas profissionais ou também <strong>de</strong>nominados <strong>de</strong> elite.<br />
• atletas que praticam exercícios <strong>em</strong> altas altitu<strong>de</strong>s;<br />
• quando há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compl<strong>em</strong>entar dietas<br />
<strong>de</strong>ficientes <strong>em</strong> proteínas.<br />
As doses recomendadas são aplicáveis para adultos e<br />
nunca foram <strong>de</strong>vidamente testadas para crianças ou<br />
adolescentes (20). A ingestão <strong>de</strong> 0.8 g/kg/dia aten<strong>de</strong><br />
perfeitamente as necessida<strong>de</strong>s diárias do adolescente que<br />
pratica esporte convencional. Em situações <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />
esforços essas quantida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ser maiores: 1.3 a 1.8<br />
g/kg/dia.<br />
7.2.2 Aminoácidos <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia ramificada (AACR)<br />
Diversos estudos apregoam ações importantes <strong>de</strong>sses<br />
aminoácidos: leucina, valina e isoleucina.<br />
• recuperação da fadiga central – o exercício intenso e<br />
prolongado po<strong>de</strong> levar a uma queda das concentrações<br />
plasmáticas <strong>de</strong> aminoácidos. Isso facilita a entrada <strong>de</strong><br />
triptofano livre para o SNC. Vai haver geração <strong>de</strong><br />
5 hidroxi-triptamina, que é precursor da serotonina, e<br />
esta pôr sua vez é a responsável pela <strong>de</strong>pressão motora,<br />
perda <strong>de</strong> apetite, sono, cansaço, menor potência<br />
muscular, tudo isso conhecida pelos atletas como<br />
fadiga central.<br />
• evitam a imunosupressão induzida pelo exercício – a<br />
economia <strong>de</strong> glutamina, que é o aminoácido não<br />
essencial mais abundante do organismo, parece que<br />
acontece quando se usam os AACR. A glutamina é<br />
fundamental na síntese <strong>de</strong> nitrogênio que vai atuar na<br />
síntese <strong>de</strong> purinas, pirimidinas, nucleotí<strong>de</strong>os e na<br />
nutrição das células do sist<strong>em</strong>a imune. Apregoa-se que<br />
manter altas concentrações plasmáticas <strong>de</strong> glutamina<br />
evita infecções e a fadiga do treino intenso (21). Daí se<br />
usar doses altas <strong>de</strong> AACR – 6 g/dia para atingir esses<br />
objetivos. A dose <strong>de</strong> Glutamina sugerida é <strong>de</strong> 4 a 12g/<br />
dia, na forma <strong>de</strong> dipeptí<strong>de</strong>os.<br />
• ações anabólicas e anticatabólicas – nos exercícios<br />
intensos economizam glicogênio muscular, uma vez que<br />
a <strong>de</strong>aminação no fígado e músculo favorec<strong>em</strong> a<br />
transaminação dos aminoácidos gerando compostos que<br />
ou vão gerar energia através do ciclo <strong>de</strong> Krebs, ou farão<br />
o caminho da neoglicogênese. A hipoglic<strong>em</strong>ia e a fadiga<br />
po<strong>de</strong>m ser evitadas <strong>de</strong>ssa forma. As doses sugeridas<br />
variam <strong>de</strong> 60 a 300mg/kg/dia. Deve-se estar atento a<br />
transtornos digestivos e eventualmente aumento <strong>de</strong><br />
amônia sérica.<br />
Todos os aspectos positivos a respeito dos AACR são até o<br />
momento <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong> observação, não<br />
controlados. Isso justifica o cuidado que se <strong>de</strong>ve ter no<br />
aconselhamento do seu uso.<br />
7.2.3 Carnitina<br />
É composta por dois aminoácidos: lisina e metionina. É<br />
sintetizada no fígado e po<strong>de</strong> ser ingerida nos alimentos:<br />
carne, peixe e laticínios.<br />
76
Age no processo <strong>de</strong> oxidação <strong>de</strong> gorduras. Daí ser<br />
conhecida como “fat burner” (queimadora <strong>de</strong> gordura).<br />
Isso <strong>de</strong>corre do fato <strong>de</strong> ser um dos componentes do<br />
sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> enzimas que controlam a entrada <strong>de</strong> ácidos<br />
graxos <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia longa na mitocôndria, on<strong>de</strong> serão<br />
oxidados.<br />
Outra ação importante é reforçar o efeito antioxidante das<br />
vitaminas C e E .<br />
Do ponto <strong>de</strong> vista clínico previne fraqueza muscular, fadiga<br />
e confusão. A dose sugerida é <strong>de</strong> 2 g/dia <strong>de</strong> L-carnitina<br />
durante 1 s<strong>em</strong>ana. Isso é o suficiente para estimular a<br />
produção <strong>de</strong> energia pela via oxidativa.<br />
É importante l<strong>em</strong>brar que a carnitina po<strong>de</strong> existir <strong>em</strong> 2<br />
formas: L-carnitina e D-carnitina. Esta é uma forma inativa<br />
do ponto <strong>de</strong> vista biológico e possui efeitos<br />
potencialmente negativos<br />
7.2.4 Hipercalóricos e Carboenergéticos<br />
os hipercalóricos são muito utilizados por atletas que<br />
preten<strong>de</strong>m conseguir aumento <strong>de</strong> massa muscular através<br />
do aumento da resposta hormonal.<br />
A ingestão <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> calorias leva ao<br />
estímulo da secreção <strong>de</strong> insulina que numa segunda etapa<br />
po<strong>de</strong> levar à hipoglic<strong>em</strong>ia. Esta é uma situação que<br />
favorece à secreção <strong>de</strong> hormônio <strong>de</strong> crescimento. Esse<br />
perfil anabólico hormonal não só po<strong>de</strong> permitir o<br />
aumento <strong>de</strong> massa muscular como também manter uma<br />
taxa <strong>de</strong> ressíntese <strong>de</strong> glicogênio que será útil para a<br />
melhor recuperação do gasto energético conseqüente ao<br />
exercício.<br />
Esses supl<strong>em</strong>entos são uma mistura <strong>de</strong> proteínas <strong>de</strong> alto<br />
valor biológico, pré-digeridas, com carboidratos, vitaminas<br />
e minerais. Possu<strong>em</strong> no seu rótulo números gran<strong>de</strong>s como<br />
1500, 2000, 3200, 4000, que representam as quantida<strong>de</strong>s<br />
calóricas alcançadas se for utilizado conforme a sugestão<br />
<strong>de</strong> bula.<br />
Os carboenergéticos são supl<strong>em</strong>entos utilizados para<br />
repor glicogênio muscular e hepático. Na sua composição<br />
entram vitaminas e minerais. São muito utilizados<br />
pelos praticantes <strong>de</strong> provas longas <strong>de</strong> atletismo como<br />
a maratona. No mercado exist<strong>em</strong> diversos produtos<br />
na forma <strong>de</strong> gel que contém carboidratos simples e<br />
complexos, associados com vitamina C e E, além <strong>de</strong><br />
sódio e potássio.<br />
7.2.5 Creatina<br />
é um produto natural existente no músculo esquelético,<br />
constituído pela metionina, arginina e glicina.<br />
É encontrada nas carnes e nos frutos do mar.<br />
T<strong>em</strong> papel importante na ressíntese <strong>de</strong> ATP quando<br />
ocorr<strong>em</strong> exercícios rápidos, contínuos e intermitentes.<br />
Se a ressíntese <strong>de</strong> ATP não ocorrer rapidamente, um<br />
supl<strong>em</strong>ento contendo creatina associada com carboidratos<br />
ou proteínas, facilita a recuperação muscular, uma vez que<br />
oferece maiores quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> creatinofosfato que vai<br />
promover a ressíntese <strong>de</strong> ATP.<br />
Os efeitos ergogênicos n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre são observados na<br />
prática (22,23).<br />
Em crianças e adolescentes, o seu uso ainda não po<strong>de</strong> ser<br />
consi<strong>de</strong>rado seguro, <strong>em</strong>bora a melhora da performance<br />
muscular tenha sido observada por alguns (24,25).<br />
O aumento <strong>de</strong> performance e a melhora do visual do<br />
corpo foram os argumentos que os adolescentes atletas,<br />
principalmente <strong>de</strong> esportes como hóquei e futebol<br />
americano, utilizaram para usar a creatina como<br />
supl<strong>em</strong>ento (26,27,28).<br />
A dose sugerida é <strong>de</strong> 2 g/dia e ressalte-se que a creatina<br />
não t<strong>em</strong> indicação para exercícios <strong>de</strong> endurance.<br />
8- SUPLEMENTOS ENCONTRADOS NO<br />
MERCADO NACIONAL E SUGESTÕES DE USO<br />
No Quadro 7 estão alguns ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> supl<strong>em</strong>entos<br />
encontrados no mercado brasileiro. Diversas <strong>em</strong>presas<br />
fabricam ou apenas armazenam o produto importado.<br />
Os produtos estão classificados <strong>de</strong> acordo com o nutriente<br />
principal que eles possu<strong>em</strong>.<br />
77
Quadro 7 – Produtos utilizados como supl<strong>em</strong>entos nutricionais<br />
Sport nutrition<br />
Nutrisport<br />
Probiotica<br />
Optimum<br />
PowerBar<br />
Aminoácidos<br />
Super amino 3500<br />
Sportamino 4800<br />
Aminopower plus<br />
Amino 2222 liq/tablet<br />
Super amino 4500<br />
Aaramificados<br />
Amino power 2200<br />
Amino 1700<br />
Super BCAA 2500<br />
Sportamino 3000<br />
4400, 5655, 3580<br />
Egg protein 1200<br />
Super L-glutamina<br />
Glutamine<br />
Pro BCAA bound<br />
BCAA 1000<br />
Hipercalóricos<br />
Super mass 2600<br />
Critical mass<br />
Massa 600, 900,<br />
Serious Mass<br />
(carboid+prot)<br />
Super mass 3000<br />
2000, 3000 anticat.<br />
Mighty one 3000<br />
Proteínas<br />
Superwheyprotein<br />
Prot. wheyprotein<br />
RX-Pro<br />
Soy pro 90<br />
Protein Plus<br />
Super albumina<br />
Proteinato <strong>de</strong> Ca<br />
Whey protein<br />
100% whey protein<br />
Carbo/Energéticos<br />
Super hidro carbo<br />
Sport energy;<br />
Carb up gel<br />
Glycoload<br />
PowerGel,<br />
Superisotonicdrink<br />
exce Ed; Carboplex<br />
Carb up<br />
Harvest Performance<br />
RedutorPeso<br />
Super L-carnitina<br />
L-carnitine1000<br />
L-carnitine<br />
Maximum e mega fat<br />
burners; L -carnitine<br />
Creatina<br />
Super creatina<br />
Creatine power<br />
Creatine power<br />
CGT-10; Creatine plus<br />
monohidratada<br />
(pure e drink)<br />
Creatina pura<br />
Ribose/Preload creatine<br />
Vitaminas e Minerais<br />
Sport Drink<br />
Vitamina: C, E, D<br />
FishOil; Stress B –<br />
complex; Ácido fólico<br />
9- CONCLUSÕES<br />
Os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar atentos na nutrição<br />
e ativida<strong>de</strong> física dos atletas, esclarecendo os possíveis<br />
perigos do excesso <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> física e a importância <strong>de</strong><br />
uma alimentação equilibrada.<br />
Gerais<br />
Para as crianças e adolescentes atletas a dieta a<strong>de</strong>quada é<br />
crítica uma vez que as necessida<strong>de</strong>s nutricionais são<br />
aumentadas tanto pelos treinamentos como pelo processo<br />
<strong>de</strong> crescimento. É importante garantir uma dieta balanceada<br />
com estoques energéticos, <strong>de</strong> ferro e <strong>de</strong> cálcio a<strong>de</strong>quados .<br />
Em situação <strong>de</strong> competição sugere-se:<br />
• nos 3 a 4 dias antes da competição dar especial<br />
atenção à ingestão <strong>de</strong> alimentos ricos <strong>em</strong><br />
carboidratos. Respeitar as preferências da criança<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o alimento escolhido apresente as<br />
características a<strong>de</strong>quadas.<br />
• no dia da competição, a dieta <strong>de</strong>ve ser rica <strong>em</strong><br />
carboidratos e ter baixo conteúdo <strong>de</strong> gordura. Dev<strong>em</strong> ser<br />
escolhidos alimentos <strong>de</strong> fácil digestão, com poucas fibras.<br />
• a última refeição, antece<strong>de</strong>ndo a competição <strong>de</strong>ve ser<br />
feita 3 a 4 horas antes e <strong>de</strong>ve constar <strong>de</strong> alimentos ricos<br />
<strong>em</strong> carboidratos, com fácil esvaziamento gástrico.<br />
78
•água <strong>de</strong>ve ser ingerida antes, durante e após a ativida<strong>de</strong>.<br />
• líquidos e alimentos, principalmente os ricos <strong>em</strong><br />
carboidratos, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser oferecidos com o objetivo <strong>de</strong><br />
repor as perdas hídricas e as reservas <strong>de</strong> glicogênio<br />
muscular, principalmente durante as primeiras<br />
horas após a ativida<strong>de</strong>, aproveitando a ativação da<br />
enzima glicogênio sintetase. Alimentos <strong>de</strong> alto índice<br />
glicêmico resultam <strong>em</strong> uma reposição do glicogênio<br />
muscular mais eficiente.<br />
Os supl<strong>em</strong>entos são necessários?<br />
• quando a ingestão <strong>de</strong> nutrientes é menor que as<br />
necessida<strong>de</strong>s do atleta, ou quando o indivíduo t<strong>em</strong><br />
necessida<strong>de</strong>s aumentadas <strong>de</strong> um ou mais nutrientes.<br />
• Nos exercícios <strong>de</strong> endurance quando a necessida<strong>de</strong> é<br />
aumentar a oferta <strong>de</strong> energia, o melhor é buscar auxílio<br />
nos carboidratos e não nas proteínas. L<strong>em</strong>brar que a<br />
contribuição <strong>de</strong>stas é muito pequena <strong>em</strong> termos <strong>de</strong><br />
geração <strong>de</strong> energia e que <strong>de</strong> modo geral a dieta <strong>de</strong> um<br />
adolescente normal, <strong>em</strong> nosso meio, já fornece<br />
quantida<strong>de</strong>s suficientes <strong>de</strong> proteínas (<strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 1.2 a<br />
1.6 g/kg/d).<br />
O uso <strong>de</strong> soluções hidratantes contendo carboidratos <strong>em</strong><br />
concentrações <strong>de</strong> até 6% <strong>de</strong>ve ser incentivado antes,<br />
durante e após exercícios <strong>de</strong> endurance. No caso <strong>de</strong><br />
exercícios <strong>de</strong> força, a essas soluções po<strong>de</strong>m ser<br />
adicionadas pequenas quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> proteínas.<br />
• A necessida<strong>de</strong> do uso <strong>de</strong> aminoácidos <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia<br />
ramificada para evitar a fadiga central ou até mesmo<br />
para aumentar a performance e prevenir a<br />
imunossupressão causada pelos exercícios intensos, ainda<br />
não foi <strong>de</strong>vidamente comprovada. Além disso o seu uso<br />
abusivo propicia o aparecimento <strong>de</strong> hiperamon<strong>em</strong>ia e<br />
toxicida<strong>de</strong> hepática e renal.<br />
• Os supl<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> vitaminas e minerais não são<br />
necessários rotineiramente, a menos que haja <strong>de</strong>pleção<br />
comprovada.<br />
Os supl<strong>em</strong>entos são seguros? são eficazes?<br />
• Infelizmente a gran<strong>de</strong> maioria dos supl<strong>em</strong>entos que<br />
são vendidos <strong>em</strong> nosso meio não foram testados <strong>de</strong><br />
maneira a<strong>de</strong>quada para que a sua eficácia possa ser<br />
confirmada.<br />
O mesmo po<strong>de</strong> se dizer <strong>em</strong> relação à sua segurança.<br />
• A ausência <strong>de</strong> uma legislação que regulamente o uso<br />
<strong>de</strong>sses produtos e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoas leigas<br />
adquirir<strong>em</strong> livr<strong>em</strong>ente esses supl<strong>em</strong>entos são dois<br />
aspectos que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser ressaltados s<strong>em</strong>pre que se fala<br />
<strong>em</strong> sua segurança e eficácia.<br />
• O aumento da massa muscular, diminuição <strong>de</strong><br />
gordura e aumento <strong>de</strong> performance são os gran<strong>de</strong>s<br />
objetivos do adolescente que recorre ao uso <strong>de</strong><br />
supl<strong>em</strong>entos. Embora existam estudos que mostr<strong>em</strong><br />
aumento <strong>de</strong> estoques intramusculares <strong>de</strong> alguns<br />
aminoácidos, ainda não se po<strong>de</strong> afirmar com<br />
segurança o quanto são eficazes para a performance<br />
do exercício (29).<br />
• O uso abusivo <strong>de</strong> supl<strong>em</strong>entos protêicos po<strong>de</strong> levar à<br />
toxicida<strong>de</strong> renal e hepática, além <strong>de</strong> causar<br />
transtornos digestivos e até do SNC.<br />
• Exist<strong>em</strong> algumas correlações altamente positivas entre<br />
o uso <strong>de</strong> supl<strong>em</strong>entos nutricionais com distúrbios <strong>de</strong><br />
comportamento que po<strong>de</strong>m afetar a saú<strong>de</strong>, como<br />
maior risco <strong>de</strong> se tornar alcoólatra, ou usuário <strong>de</strong><br />
drogas, ou ainda <strong>de</strong> participar <strong>de</strong> brigas e arruaças<br />
(30).<br />
Aos médicos fica a obrigação <strong>de</strong> buscar conhecer com<br />
<strong>de</strong>talhes todos os aspectos que envolv<strong>em</strong> o uso dos<br />
supl<strong>em</strong>entos nutricionais, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua composição, seus<br />
efeitos benéficos e colaterais, tentando manter a mente<br />
aberta mas s<strong>em</strong>pre se resguardando com as bases<br />
fisiológicas do exercício.<br />
Rotineiramente o clínico <strong>de</strong>ve indagar ao adolescente<br />
que tipo <strong>de</strong> supl<strong>em</strong>ento ele está usando, porque<br />
ele consome isso e <strong>em</strong> que doses isso está sendo<br />
praticado. Dev<strong>em</strong> estar alertas para exercer o<br />
aconselhamento preventivo a todos aqueles que estão<br />
consumindo esses produtos.<br />
79
Bibliografia consultada<br />
Saltin B, Henriksson J, Nygaard E. - Fibre types and metabolic<br />
potentials of skeletal muscles in se<strong>de</strong>ntary man and endurance<br />
runner. Ann NY Acad Sci, 1977; 301:3-29.<br />
Ahlborg G et al. - Substrate turnover during prolonged exercise in<br />
man. J.Clin. Invest.1974; 53:1080.<br />
Bacurau RF - Nutrição e Supl<strong>em</strong>entação esportiva. Guarulhos, Phorte<br />
Ed. 2000<br />
McArdle WD, Katch FI, Katch VL. Essentials of Exercise Physiology.<br />
Phila<strong>de</strong>lphia, Lea& Febiger 1994.<br />
Sten SN. Nutrition for young athletes - Special consi<strong>de</strong>rations. Sports<br />
Med, 1994; 17:152-64<br />
Ortega RM. Nutrición y <strong>de</strong>porte en la adolescencia. Anales Españoles<br />
<strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>, 1992; 49:100-102.<br />
Lancha Jr., AH. Nutrição e Metabolismo aplicados à ativida<strong>de</strong> motora.<br />
São Paulo: Atheneu; 2002.<br />
FAO/OMS/UNU - Reunión Consultiva <strong>de</strong> Expertos - Série <strong>de</strong> Informes<br />
Técnicos 724 - OMS, Genebra 1985.<br />
Thompson JL. Energy balance in young athletes. Int J Sports Nutr<br />
1998; 8:160-74.<br />
Bar-Or,O Malina Rm - Activity, fitness and health of children and adolescentes.<br />
In: Cheung LWY, Richmond JB. Children. Health, nutrition<br />
and physical activity. Champaign: Human Kinetics; 1995. P.79-124.<br />
American dietetic association (ADA). Timely Stat<strong>em</strong>ente of the<br />
American Dietetic Association: Nutrition Guidance for adolescents<br />
athletes in organized sports. J.Am.Diet. Assoc 1996; 96:611-12.<br />
Bar - Or,O. Pediatric sports medicine: from physiologic principles to<br />
clinical application. New Youk: Springer Verlag; 1983.<br />
National Research Council, Subcomitee on the 10th edition of the<br />
RDAs, Food and Nutrition Board, National Aca<strong>de</strong>my of Sciences,<br />
Commission of life and Science Recommen<strong>de</strong>d Dietary Allowences-<br />
RDA, 10ª ed. Washington (DC): National Aca<strong>de</strong>my Press; 1989.<br />
Manz F, R<strong>em</strong>er T, Decher-Spliethof E, et al. Effects of a high protein<br />
intake on renal excretion in bodybuil<strong>de</strong>rs.Z Ernahrungswiss 1995;<br />
Mar 34 (1):10-5.<br />
Looker A, S<strong>em</strong>pos, CT,et al. Vitamin-mineral suppl<strong>em</strong>ent use:<br />
association with dietary intake and iron status of adults. J.Am.<br />
Diet. Assoc. 1988; Jul 88 (7):808-14.<br />
Sobal J, Marquart LF - Vitamin/mineral suppl<strong>em</strong>ent use among<br />
athletes: a review of the literature. Int. J. Sport. Nutr. 1994; Dec 4<br />
(4):320-34.<br />
Serra-Maj<strong>em</strong> L - Vitamin and mineral intakes in European children.<br />
Is food fortification nee<strong>de</strong>d? Public. Health. Butr. 2001; Feb 4 (1<br />
A):101-7.<br />
Kim SH, Han JH, Keen CL - Vitamin and mineral suppl<strong>em</strong>ent use by<br />
healthy teenagers in Korea: motivations factors and dietary<br />
consequences. Nutrition 2001; May 17 (5):373-80.<br />
Soares EA, Ishii M, Burini RC - Anthropometric and dietetic study of<br />
competitive swimmers from metropolitan areas of the southeastern<br />
regions of Brazil. Rev. Sau<strong>de</strong> Publica. 1994; Feb 28 (1):9-19.<br />
Kingsbury KJ, Kay L, Hjelm M - Contrasting plasma free amino acid<br />
patterns in elite athletes: association with fatigue and infection.<br />
Br.J.Sports Med. 1998; Mar, 32:1,25-32.<br />
Ray TR, Eck JC, Covington LA, et al - Use of oral creatine as na<br />
ergogenic aid for increased sports performance: perceptions of<br />
adolescent athletes. South Med J 2001 Jun; 94 (6):608-12.<br />
Unnithan VB, Veehof SH, et al - Is there a physiologic basis for creatine<br />
use in children and adolescents? J. Strenght Cond. Res. 2001 Nov;<br />
15 (4):524-8.<br />
Gomez JE - Performance-enhancing substances in adolescent athletes.<br />
Tex. Med. 2002 Feb; 98 (2):41-6.<br />
B<strong>em</strong>ben MG, B<strong>em</strong>ben DA, Loftiss DD, Knehans AW - Creatine<br />
suppl<strong>em</strong>entation during resistance training in college football<br />
athletes. Med. Sci. Sports Exerc. 2001 Oct; 33 (10):1667-73.<br />
Metzl JD, Small E, Levine SR, Gershel JC - Creatine use among young<br />
athletes. Pediatrics 2001 Aug; 108 (2):421-5.<br />
Pecci MA, Lombardo JÁ - Performance-enhancing suppl<strong>em</strong>ents. Phys.<br />
Med. Clin. N. Am. 2000 Nov; 11 (4):949-60.<br />
Smith J, Dahm DL - Creatine use among a select population of high<br />
school athletes. Mayo Clin. Proc. 2000 Dec; 75 (12):1257-63.<br />
Harris RC, So<strong>de</strong>rlund K, Hultman E. - Elevation os creatine in resting<br />
and exercised muscle of normal subjects by creatine<br />
suppl<strong>em</strong>entation. Clin. Sci. 1992; 83:367-74.<br />
Stephens MB, Olsen C - Ergogenic suppl<strong>em</strong>ents and health risk<br />
behaviors. The J. of Family practice. 2001; Aug 50 (8):696-699.<br />
Bowering J, Clancy KL - Nutritional status of children and teenagers<br />
in relation to vitamin and mineral use. J. Am. Diet. Assoc.1986;<br />
Aug 86 (8):1033-8.<br />
80
Volume 6 - Ano 2004<br />
t<strong>em</strong>as<br />
<strong>de</strong> nutrição <strong>em</strong> <strong>pediatria</strong><br />
Publicação elaborada pelo Departamento <strong>de</strong><br />
Nutrição da Socieda<strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>
Erros Inatos do Metabolismo<br />
Roteiro para orientação sobre recursos<br />
para atendimento<br />
Relator: Hélio Fernan<strong>de</strong>s da Rocha<br />
INTRODUÇÃO<br />
As condições clínicas genéricamente conhecidas como Erros Inatos do<br />
Metabolismo, não são um grupo nosológico homogêneo, pois têm entre si<br />
uma gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> clínica, química e terapêutica. Representam cerca<br />
<strong>de</strong> quinhentas doenças conhecidas e isoladamente cada doença é muito<br />
rara, dando a falsa impressão <strong>de</strong> que dificilmente será encontrada na<br />
carreira <strong>de</strong> um médico. A dificulda<strong>de</strong> diagnóstica é universal, <strong>de</strong>vido a<br />
rarida<strong>de</strong> e as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> obtenção e <strong>de</strong> coerência dos exames<br />
laboratoriais. A pouca familiarida<strong>de</strong> clínica dos Pediatras com estas doenças<br />
também aumentam a sensação <strong>de</strong> rarida<strong>de</strong>, porém o “Teste do Pezinho”<br />
v<strong>em</strong> fazendo com que estes profissionais pass<strong>em</strong> a pensar mais e mais nas<br />
doenças metabólicas. Estas doenças, <strong>em</strong> grupo, ocorr<strong>em</strong> pelo menos uma<br />
vez <strong>em</strong> cada 500 nascimentos, o que inverte a expectativa <strong>de</strong> nunca ser<br />
encontrada na carreira. Um Pediatra, <strong>de</strong> vida clínica mo<strong>de</strong>rada, irá se<br />
<strong>de</strong>frontar com um paciente portador <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>stas doenças a cada dois<br />
anos <strong>de</strong> sua vida profissional.<br />
Na situação atual, os pacientes e suas famílias necessitam <strong>de</strong> atenção<br />
diferenciada por parte do seu médico e este <strong>de</strong> uma equipe<br />
multiprofissional. O atendimento <strong>de</strong>ve cont<strong>em</strong>plar a possibilida<strong>de</strong> do<br />
diagnóstico correto e do tratamento específico. Para isto necessita-se <strong>de</strong><br />
uma rotina precisa para coleta <strong>de</strong> material para exames e uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
laboratórios com complexida<strong>de</strong> crescente. Hospitais com recursos <strong>de</strong><br />
<strong>em</strong>ergência e terapia intensiva, e disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> medicamentos e<br />
produtos dietéticos <strong>de</strong> difícil obtenção. Além disto, a família e o paciente<br />
<strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar amparados por um suporte <strong>em</strong>ocional, pois a condição <strong>de</strong><br />
“rarida<strong>de</strong>” é mais um ônus difícil <strong>de</strong> ser resgatado.<br />
Todos estes meios são muito caros e difícieis <strong>de</strong> obter, e a maioria das<br />
famílias não dispõe <strong>de</strong> recursos suficientes para isto. Des<strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong><br />
2001, a portaria 822 do Ministério da Saú<strong>de</strong> criou o Programa nacional <strong>de</strong><br />
Triag<strong>em</strong> Neonatal, mas os recursos que serão disponibilizados, <strong>de</strong> acordo<br />
com uma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> estágios <strong>de</strong> implantação, só cont<strong>em</strong>plam a<br />
Fenilcetonúria, o Hipotireoidismo Congênito, a Fibrose Cística e as<br />
H<strong>em</strong>oglobinopatias (doença falciforme).<br />
82
A Socieda<strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> atua para este grupo<br />
<strong>de</strong> doentes através dos <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong> Genética,<br />
Gastroenterologia, Neurologia, Suporte Nutricional,<br />
Nutrição e Endocrinologia. Há a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />
interação <strong>de</strong> ações <strong>de</strong>stes Departamentos <strong>de</strong> forma que a<br />
SBP possa efetivamente contribuir para a organização da<br />
Socieda<strong>de</strong> Civil <strong>Brasileira</strong> na obtenção do melhor cuidado<br />
a estes pacientes.<br />
SITUAÇÃO ATUAL PARA OBTENÇÃO<br />
DE RECURSOS<br />
O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA –<br />
(Lei 8069 <strong>de</strong> 13/07/2003) garante no seu capítulo<br />
1, Art. 10; tópico III – “proce<strong>de</strong>r a exames visando ao<br />
diagnóstico e terapêutica <strong>de</strong> anormalida<strong>de</strong>s no<br />
metabolismo do recém-nascido, b<strong>em</strong> como prestar<br />
orientação aos pais” e Art. 11 – “É assegurado<br />
atendimento médico à criança e ao adolescente, através<br />
do Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, garantido o acesso universal<br />
e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção<br />
e recuperação da saú<strong>de</strong>. – A criança e o adolescente<br />
portadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência receberão atendimento<br />
especializado. – Incumbe ao Po<strong>de</strong>r Público fornecer<br />
gratuitamente àqueles que necessitar<strong>em</strong> os<br />
medicamentos, próteses e outros<br />
recursos relativos ao tratamento, habilitação ou<br />
reabilitação, e o direito a todas as crianças e adolescentes<br />
ao acesso a exames e medicamentos, sendo obrigação do<br />
estado os prover”.<br />
Aten<strong>de</strong>ndo ao ECA, o encaminhamento das famílias para<br />
conseguir os recursos para exames laboratoriais,<br />
medicamentos e dietas especiais po<strong>de</strong>rão ser feitas da<br />
seguinte maneira:<br />
O paciente com forte suspeita, ou com o diagnóstico<br />
firmado <strong>de</strong>verá estar munido <strong>de</strong> certidão <strong>de</strong> nascimento<br />
(original e cópia); comprovante <strong>de</strong> residência e RG e CPF<br />
do responsável; do laudo médico(o mais <strong>de</strong>talhado<br />
possível <strong>em</strong> relação à suspeição clínica). Junto a este<br />
laudo <strong>de</strong>verão ser fornecidas a solicitação do exame<br />
(<strong>de</strong>talhado e com os possíveis laboratórios a ser<strong>em</strong><br />
utilizados) e a prescrição do medicamento, ou da dieta<br />
especial. Estas prescrições também <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar<br />
acompanhadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>talhada <strong>de</strong> como e on<strong>de</strong> a<br />
autorida<strong>de</strong> irá obtê-las. Deve-se especificar o nome do<br />
produto, dose e forma farmacêutica. O nome do(s)<br />
laboratório (s) que o(s) produz(<strong>em</strong>) e o mercado <strong>em</strong><br />
que o produto é possível <strong>de</strong> ser encontrado (no pais ou<br />
fora <strong>de</strong>le).<br />
De posse <strong>de</strong>stes documentos o responsável <strong>de</strong>verá<br />
procurar a Defensoria Pública do Estado, ou a Justiça<br />
Fe<strong>de</strong>ral, ou a Fundação da Infância e da Adolescência, ou<br />
o Juizado <strong>de</strong> Menores da Cida<strong>de</strong>. É importante que o<br />
médico, juntamente com os laudos, r<strong>em</strong>eta uma carta ao<br />
<strong>de</strong>fensor público relatando a gravida<strong>de</strong> do caso e a<br />
importância do atendimento. Esta carta se faz necessária,<br />
pois <strong>em</strong> muitos municípios as autorida<strong>de</strong>s, assim como os<br />
próprios médicos, não estão familiarizados com o<br />
probl<strong>em</strong>a. É importante se colocar disponível para outras<br />
orientações que se façam necessárias até que uma rotina<br />
seja estabelecida.<br />
Quase s<strong>em</strong>pre um mandato é expedido <strong>de</strong> forma<br />
sumária, obrigando o SUS (Estado) a provi<strong>de</strong>nciar a<br />
compra dos medicamentos, dietas ou a realização dos<br />
exames especiais.<br />
É do nosso conhecimento que as Instituições abaixo<br />
realizam atendimentos, e alguns exames específicos <strong>em</strong><br />
cida<strong>de</strong>s da nossa Fe<strong>de</strong>ração:<br />
O Hospital <strong>de</strong> Clínicas <strong>de</strong> Porto Alegre, que conta com<br />
Laboratório Especializado do Serviço <strong>de</strong> Genética Clínica.<br />
Po<strong>de</strong>-se solicitar por telefone, carta ou e-mail o material<br />
impresso com a relação <strong>de</strong> exames e a rotina <strong>de</strong><br />
solicitação dos exames. Este Serviço é, no momento,<br />
o mais completo que se dispõe no país. Disponibilizam<br />
atendimento gratuito por telefone (08005102858),<br />
e orientam quanto a diagnósticos prováveis e<br />
procedimentos. Funciona diariamente aten<strong>de</strong>ndo a todo<br />
o Brasil. En<strong>de</strong>reço: Rua Ramiro Barcelos 2350.<br />
CEP-90035-003. Porto Alegre, RS. Tels: (51) 33168309 ou<br />
33168423. Fax: (51) 33168010.<br />
(genética@hcpa.ufrgs.br)<br />
83
Outras referências locais dos seguintes Serviços <strong>em</strong> outros<br />
Estados/ Cida<strong>de</strong>s:<br />
• Curitiba – Fundação Ecumênica/Hospital Pequeno Príncipe.<br />
• Florianópolis – Hospital Infantil Joana <strong>de</strong> Gusmão<br />
• São Paulo (capital) – Escola Paulista <strong>de</strong> Medicina e HC<br />
da USP (Instituto da Criança)<br />
• Campinas SP – Hospital <strong>de</strong> Clínicas da Unicamp.<br />
• Ribeirão Preto SP – Hospital das Clínicas da USP <strong>de</strong><br />
Ribeirão Preto<br />
• Belo Horizonte, MG – Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas<br />
Gerais/ Hospital <strong>de</strong> Clínicas - NUPAD.<br />
• Brasília – Hospital Sarah Kubistchek<br />
• Salvador – APAE <strong>de</strong> Salvador.<br />
• Rio <strong>de</strong> Janeiro – Instituto <strong>de</strong> Puericultura e <strong>Pediatria</strong><br />
Martagão Gesteira; Instituto Fernan<strong>de</strong>s Figueiras;<br />
Hospital Servidores do Estado.<br />
Abaixo segue uma breve revisão sobre as doenças mais<br />
comuns com os principais exames laboratoriais (não foram<br />
incluídos os exames por imag<strong>em</strong>). Os tratamentos também<br />
são apenas mencionados, tal revisão t<strong>em</strong> como intenção<br />
familiarizar o Pediatra com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diagnóstico.<br />
BREVE RESUMO DOS PRINCIPAIS ERROS<br />
INATOS DO METABOLISMO<br />
O erro inato do metabolismo clássico resulta <strong>de</strong> uma<br />
<strong>de</strong>ficiência enzimática <strong>em</strong> um ponto específico <strong>de</strong> uma via<br />
metabólica. Isto leva ao acúmulo dos metabólitos<br />
anteriores ao bloqueio enzimático e a diminuição dos<br />
produtos posteriores à reação.<br />
A base molecular da <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m bioquímica é, <strong>em</strong> geral,<br />
uma mutação genética no sítio ativo <strong>de</strong> uma enzima ou<br />
<strong>em</strong> outros sítios e que po<strong>de</strong> afetar a molécula enzimática<br />
ou a ação <strong>de</strong> um cofator (<strong>em</strong> geral vitaminas).<br />
Outras <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns bioquímicas po<strong>de</strong>m ser causadas por<br />
<strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> moléculas, <strong>de</strong>feitos nas<br />
m<strong>em</strong>branas das células ou das organelas. Estes <strong>de</strong>feitos<br />
também resultam <strong>de</strong> mutações e levam a <strong>de</strong>sorganização<br />
<strong>de</strong> funções, ou criam <strong>de</strong>pósitos anômalos <strong>de</strong> moléculas<br />
que irão <strong>de</strong>formar a arquitetura celular com conseqüências<br />
variadas para o organismo.<br />
As manifestações clínicas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rão das alterações<br />
bioquímicas individuais <strong>de</strong>correntes do(s) <strong>de</strong>feito(s)<br />
ocorrido(s), da magnitu<strong>de</strong> ou da toxida<strong>de</strong> dos<br />
metabólitos que se acumulam, da via metabólica<br />
interrompida ou da substância <strong>de</strong>positada e do <strong>de</strong>feito<br />
arquitetônico celular conseqüente.<br />
Uma forma didática <strong>de</strong> se observar as doenças metabólicas<br />
é pela perspectiva fisiopatológica. Po<strong>de</strong>mos agrupar por<br />
esta visão as doenças <strong>em</strong> três gran<strong>de</strong>s grupos:<br />
1 Doenças com distúrbios <strong>de</strong> síntese, catabolismo ou <strong>de</strong><br />
ação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s moléculas. Os sintomas são geralmente<br />
<strong>de</strong> aparecimento lento, progressivos, permanentes e não<br />
relacionados às dietas. Neste grupo as doenças<br />
lisossomais (doenças <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósito) e as peroximais são as<br />
mais comuns.<br />
2 O segundo grupo é o <strong>de</strong> pequenas moléculas.<br />
Os probl<strong>em</strong>as são relacionados ao metabolismo<br />
intermediário e irão ocorrer <strong>de</strong> forma aguda ou<br />
s<strong>em</strong>i-aguda, <strong>de</strong> aparecimento precoce na maioria dos<br />
casos. Caracterizam-se como várias formas <strong>de</strong><br />
intoxicação, seja por acúmulo <strong>de</strong> substrato não utilizado,<br />
ou pela função bloqueada. É comum nas<br />
aminoacidopatias, nas acidúrias orgânicas e nas<br />
doenças do ciclo da uréia.<br />
3 O terceiro grupo, também <strong>de</strong> pequenas moléculas, o<br />
<strong>de</strong>feito é na obtenção <strong>de</strong> energia. Os sintomas<br />
dominantes serão sobre o fígado, coração, músculos e<br />
cérebro. Ocorre nas acidoses orgânicas com<br />
hiperlact<strong>em</strong>ia e hipoglic<strong>em</strong>ia. Também ocorrerão nas<br />
glicogenoses, glicolises e nas doenças <strong>de</strong> beta-oxidação<br />
dos ácidos graxos.<br />
A tabela 1 lista os principais grupos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns e<br />
os testes iniciais. Os sintomas clínicos e os resultados<br />
iniciais vão sugerir um <strong>de</strong>terminado grupo <strong>de</strong> erros inatos,<br />
mas o diagnóstico exato po<strong>de</strong>rá necessitar <strong>de</strong> testes<br />
mais específicos.<br />
84
Tipos <strong>de</strong> Doenças <strong>de</strong> A a I<br />
TIPO DE DOENÇA: + + usualmente presente<br />
+ po<strong>de</strong> estar presente<br />
– usualmente ausente<br />
Manifestações clínicas e<br />
achados laboratoriais<br />
A<br />
B<br />
C<br />
D<br />
E<br />
F<br />
G<br />
H<br />
I<br />
Natureza episódica<br />
++<br />
++<br />
++<br />
++<br />
+<br />
+<br />
–<br />
–<br />
–<br />
Odor anormal<br />
++<br />
+<br />
++<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
–<br />
–<br />
Letargia coma<br />
+<br />
+<br />
–<br />
+<br />
–<br />
–<br />
–<br />
–<br />
–<br />
Convulsões<br />
+<br />
+<br />
+<br />
–<br />
+<br />
+<br />
+<br />
–<br />
+<br />
Regressão <strong>de</strong>senvolvida<br />
+<br />
+<br />
+<br />
–<br />
+<br />
+<br />
+<br />
++<br />
+<br />
Hepatomegalia<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
Hepatoespenomegalia<br />
–<br />
–<br />
–<br />
–<br />
–<br />
–<br />
–<br />
+<br />
+<br />
Esplenomegalia<br />
–<br />
–<br />
–<br />
–<br />
–<br />
–<br />
–<br />
–<br />
+<br />
Hipotonia<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
–<br />
+<br />
Cardiomiopatia<br />
–<br />
+<br />
–<br />
+<br />
+<br />
+<br />
–<br />
+<br />
–<br />
Fácies<br />
–<br />
–<br />
–<br />
–<br />
–<br />
–<br />
–<br />
++<br />
–<br />
Defeitos ao nascimento<br />
–<br />
+<br />
–<br />
–<br />
+<br />
–<br />
+<br />
–<br />
–<br />
Hipoglic<strong>em</strong>ia<br />
+<br />
+<br />
–<br />
+<br />
+<br />
+<br />
–<br />
–<br />
–<br />
Acidose<br />
+<br />
++<br />
–<br />
+<br />
+<br />
+<br />
–<br />
–<br />
–<br />
Hiperamon<strong>em</strong>ia<br />
+<br />
+<br />
++<br />
+<br />
+<br />
–<br />
–<br />
–<br />
–<br />
Cetose<br />
+<br />
+<br />
+<br />
–<br />
–<br />
+<br />
–<br />
–<br />
–<br />
Hipocetose<br />
–<br />
–<br />
–<br />
+<br />
–<br />
–<br />
–<br />
–<br />
–<br />
(Quando se esperava pela cetose)<br />
A: aminoacidopatias, B: aci<strong>de</strong>mias orgânicas, C: <strong>de</strong>feitos do ciclo da uréia, D: <strong>de</strong>feito <strong>de</strong> oxidação dos ácidos graxos (Beta-oxidação),<br />
E: doenças mitocôndrias, F: <strong>de</strong>feitos do metabolismo <strong>de</strong> carboidratos, G: doenças dos peroxissomos, H: mucopolissacaridoses, I: esfingolipidoses.<br />
A CRIANÇA AGUDAMENTE DOENTE<br />
Quando há suspeita <strong>de</strong> Erro Inato do Metabolismo <strong>em</strong> um<br />
paciente grave, com alterações neurológicas ou com<br />
distúrbios ácido-básico, hipo ou hiperglic<strong>em</strong>ia todas as<br />
fontes <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong>verão ser retiradas, e ser iniciada uma<br />
hidratação venosa com glicose e eletrólitos imediatamente,<br />
além das correções ácido-básicas necessárias.<br />
O momento da punção venosa, para iniciar a hidratação, é<br />
importantíssimo pois é o mais a<strong>de</strong>quado para a coleta <strong>de</strong><br />
sangue <strong>em</strong> quantida<strong>de</strong> suficiente para os exames que se<br />
farão necessários. Estão indicados: as dosagens <strong>de</strong> glicose,<br />
eletrólitos (não esquecer do cloro para o cálculo dos<br />
anions indosáveis), CO2, bicarbonato, da função hepática<br />
(AST, ALT, PTT, TAP e gama GT), uréia, creatinina, ácido<br />
úrico, amônia plasmática, ácido láctico e pH sangüíneo.<br />
Da mesma forma a primeira urina <strong>em</strong>itida pelo paciente<br />
<strong>de</strong>verá ser coletada. Nela, inicialmente, se pesquisará a<br />
presença <strong>de</strong> corpos cetônicos e substâncias redutoras.<br />
85
Esta é a oportunida<strong>de</strong> para corrigir os distúrbios hidroeletrolítico,<br />
ácido básico e a quase certa alteração na<br />
glic<strong>em</strong>ia. Também é indicado se ofertar o máximo <strong>de</strong><br />
energia possível, sendo a infusão <strong>de</strong> glicose a melhor<br />
forma, e eventualmente a infusão <strong>de</strong> <strong>em</strong>ulsão lipídica, nas<br />
concentrações máximas toleradas na tentativa <strong>de</strong> inibir o<br />
catabolismo e assim proteger as proteínas somáticas.<br />
Uma amostra <strong>de</strong> sangue <strong>de</strong> 4ml <strong>de</strong>ve ser coletada <strong>em</strong> um<br />
tubo heparinizado para testes quantitativos <strong>de</strong><br />
aminoácidos. Imediatamente 2ml <strong>de</strong> plasma <strong>de</strong>ve ser<br />
obtido <strong>de</strong>la e guardado congelado para esta finalida<strong>de</strong>.<br />
Igualmente a maior parte da urina obtida na primeira<br />
micção do paciente <strong>de</strong>verá ser congelada o mais rápido<br />
possível e enviada para a pesquisa <strong>de</strong> ácidos orgânicos e<br />
aminoácidos. O i<strong>de</strong>al é que esta amostra urinária seja <strong>de</strong><br />
aproximadamente 30ml. Outra quantida<strong>de</strong> igual <strong>de</strong><br />
urina, se possível, <strong>de</strong>verá ser guardada congelada para<br />
testes futuros. Quatro amostras <strong>de</strong> sangue <strong>em</strong> papel <strong>de</strong><br />
filtro específico <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser obtidas no formato <strong>de</strong> um<br />
círculo (como no teste do pezinho) e guardadas <strong>em</strong><br />
ambiente seco e fresco (não é necessário congelar) para<br />
ser utilizada a tecnologia TANDEM, caso a dosag<strong>em</strong> das<br />
acilcarnitinas sejam necessárias (hipoglic<strong>em</strong>ias graves e<br />
<strong>de</strong> difícil controle).<br />
ERROS INATOS – ACHADOS CLÍNICOS<br />
LABORATORIAIS<br />
É <strong>de</strong>sejável haver condições que possibilit<strong>em</strong> a obtenção<br />
<strong>de</strong> amostras <strong>de</strong> biópsia <strong>de</strong> pele para cultura <strong>de</strong><br />
fibroblastos, assim como biópsias a céu aberto <strong>de</strong> fígado e<br />
<strong>de</strong> músculo. Esta disponibilida<strong>de</strong> não só serve para<br />
diagnósticos enzimáticos, mas sobretudo para<br />
aconselhamento nos casos on<strong>de</strong> o paciente evolua para<br />
óbito. Estas amostras <strong>de</strong>verão ser imediatamente<br />
congeladas e mantidas a -70ºC. Todos os erros inatos do<br />
metabolismo são doenças genéticas, sendo a maioria<br />
autossômica recessiva, enquanto poucas são ligadas ao X,<br />
como ocorre nas doenças mitocondriais e na<br />
hiperamon<strong>em</strong>ia <strong>de</strong>vido a <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> Ornitina<br />
Transcarbamilase.<br />
Avaliação laboratorial inicial<br />
Eletrólitos, glicose, dióxido <strong>de</strong> carbono, função hepática<br />
(incluir provas <strong>de</strong> coagulação), aferição do pH e gases<br />
sangüíneos, pH urinário, substâncias redutoras e cetonas.<br />
A Triag<strong>em</strong> inclui os testes pelo cloreto férrico, pela<br />
dinitrofenilhidrazina, aminoácidos que contém enxofre,<br />
sulfeto, substâncias redutoras e mucopolissacarí<strong>de</strong>os.<br />
As dosagens <strong>de</strong> amônia, lactato e piruvato são necessárias<br />
<strong>em</strong> todas as investigações. Elas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser obtidas <strong>em</strong> fluxo<br />
venoso ou arterial livre, s<strong>em</strong> garroteamentos ou estresse,<br />
também não são válidas as amostras obtidas por métodos<br />
capilares. Não esquecer que as amostras <strong>de</strong>verão ser<br />
mergulhadas <strong>em</strong> gelo imediatamente.<br />
PAINÉIS PARA SCREENING METABÓLICO<br />
A cromatografia <strong>de</strong> camada fina ou eletroforese po<strong>de</strong> ser<br />
aplicada para aminoácidos, oligossacarí<strong>de</strong>os, carboidratos<br />
e mucopolissacarí<strong>de</strong>os. Po<strong>de</strong> ser necessária a avaliação<br />
quantitativa <strong>de</strong> aminoácidos e ácidos orgânicos, o que<br />
obriga a técnicas e laboratórios <strong>de</strong> maior sofisticação.<br />
As formas leves e (ou) transitórias po<strong>de</strong>m não ser<br />
reveladas nos exames, daí se a coleta <strong>de</strong> amostras coincidir<br />
com os sintomas mais intensos os resultados po<strong>de</strong>rão ser<br />
mais precisos.<br />
É <strong>de</strong> suma importância informar ao laboratório, <strong>de</strong> forma<br />
<strong>de</strong>talhada e o mais completo possível, as medicações,<br />
doses e freqüência que o paciente v<strong>em</strong> usando.<br />
Por ex<strong>em</strong>plo: o uso <strong>de</strong> ácido Valpróico que provoca a<br />
presença <strong>de</strong> corpos cetônicos na urina e aumento sérico <strong>de</strong><br />
glicina, po<strong>de</strong>ndo levar a diagnósticos falsos. Quase tão<br />
importante é o relato das dietas (se houver alguma<br />
especial) a freqüência das refeições, quando iniciou o<br />
jejum e quanto t<strong>em</strong>po foi mantido, pois irá influenciar nas<br />
manifestações tanto clínicas quanto laboratoriais.<br />
O estado clínico e as variações <strong>de</strong>ste estado frente às<br />
intervenções, tais como hidratação, infusão <strong>de</strong> glicose,<br />
jejum ou ingestão <strong>de</strong> algum alimento ou medicação <strong>de</strong>ve<br />
ser observado e anotado, pois po<strong>de</strong> ser esclarecedor para<br />
diagnósticos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s. De um modo geral,<br />
pela pouca freqüência <strong>de</strong>stas doenças, e pelo alto grau <strong>de</strong><br />
86
especialização <strong>de</strong> laboratórios específicos para estes<br />
exames, é comum o patologista clínico (do laboratório) ter<br />
gran<strong>de</strong> familiarida<strong>de</strong> com os sintomas e ao ser esclarecido<br />
sobre tais contribuir para o diagnóstico com interpretação<br />
a<strong>de</strong>quada dos exames <strong>em</strong> consonância com a clínica.<br />
DOSAGEM QUANTITATIVA DE AMINOÁCIDOS<br />
A concentração <strong>de</strong> aminoácidos no plasma, soro ou na<br />
urina po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>terminada por cromatografia <strong>de</strong> troca<br />
iôntica. Os valores obtidos nas doenças po<strong>de</strong>m ser<br />
comparados a valores normais e estes são <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da<br />
ida<strong>de</strong>. As amostras <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser obtidas quando os pacientes<br />
estiver<strong>em</strong> mais sintomáticos, ou após 2 a 4 horas <strong>de</strong> jejum<br />
quando este for assintomático.<br />
Para erros inatos o plasma é preferível ao soro e a<br />
amostra <strong>de</strong> sangue <strong>de</strong>ve ser colocada sob gelo e<br />
congelada imediatamente até que a separação seja<br />
processada. Este teste é útil no diagnóstico <strong>de</strong><br />
aminoacidopatias, <strong>de</strong>feitos do ciclo da uréia, <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns<br />
mitocondriais e acidopatias orgânicas.<br />
ÁCIDOS ORGÂNICOS<br />
Os ácidos orgânicos são mais b<strong>em</strong> analisados na urina,<br />
mas po<strong>de</strong>m também ser obtidos no plasma ou soro.<br />
Todas as amostras <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser congeladas assim que obtidas<br />
e <strong>de</strong>v<strong>em</strong> permanecer congeladas até que sejam analisadas.<br />
Estas análises são quantitativas ou s<strong>em</strong>iquantitativas e é<br />
utilizada a cromatografia gasosa acoplada a espectrometria<br />
<strong>de</strong> massa. O teste é útil para aminoacidopatias, acidopatias<br />
orgânicas, doenças mitocondriais e <strong>de</strong>feitos da oxidação<br />
dos ácidos graxos.<br />
TESTE DE MUCOPOLISSACARÍDEO NA URINA<br />
A análise da urina para mucopolissacarí<strong>de</strong>os pelo teste <strong>de</strong><br />
Berry e o teste <strong>de</strong> azul toluidina po<strong>de</strong> ser parte <strong>de</strong> um<br />
painel para “screening” metabólico. Casos leves <strong>de</strong><br />
mucopolissacarídoses não serão <strong>de</strong>tectados e<br />
freqüent<strong>em</strong>ente são encontrados falsos positivos <strong>em</strong><br />
lactentes jovens. As <strong>de</strong>terminações <strong>de</strong> mucopolissacarí<strong>de</strong>os<br />
usando azul <strong>de</strong> metilmetileno são mais eficazes, mais<br />
também po<strong>de</strong>m falhar <strong>em</strong> <strong>de</strong>tectar casos leves.<br />
A cromatografia <strong>em</strong> camada fina ou a eletroforese <strong>de</strong><br />
mucopolissacarí<strong>de</strong>os po<strong>de</strong> ser útil na <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong><br />
que tipo <strong>de</strong> investigação enzimática <strong>de</strong>verá ser feita. O<br />
isolamento e a quantificação dos mucopolissacarí<strong>de</strong>os na<br />
urina são muito caros e consom<strong>em</strong> muito t<strong>em</strong>po, os testes<br />
enzimáticos são melhores para propósitos <strong>de</strong> diagnóstico.<br />
TESTE DE OLIGOSSACARÍDEOS NA URINA<br />
Assim como para as mucopolissacaridoses a cromatografia<br />
<strong>em</strong> camada fina <strong>de</strong> oligossacarí<strong>de</strong>o po<strong>de</strong>rá indicar que<br />
tipo <strong>de</strong> teste enzimático <strong>de</strong>verá ser realizado para o<br />
diagnóstico preciso. Algumas doenças nestes grupos não<br />
terão alterações nos padrões necessários e as formas mais<br />
leves po<strong>de</strong>rão passar <strong>de</strong>spercebidas. A testag<strong>em</strong><br />
enzimática é a preferida para o diagnóstico.<br />
ENSAIOS ENZIMÁTICOS<br />
(TESTES ENZIMÁTICOS)<br />
Para a maioria dos erros inatos, os diagnósticos<br />
enzimáticos po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>monstrados <strong>em</strong> laboratórios<br />
especializados usando plasma, soro, leucócitos ou células<br />
vermelhas.<br />
Antes <strong>de</strong> se obter as amostras o laboratório <strong>de</strong>ve ser<br />
contatado para garantir que a amostra apropriada seja<br />
obtida e qual o processamento e os manuseios a<strong>de</strong>quados<br />
<strong>de</strong>verão ocorrer.<br />
Testes enzimáticos também po<strong>de</strong>m ser feitos com culturas<br />
<strong>de</strong> fibroblastos que po<strong>de</strong>m crescer <strong>de</strong> biópsias <strong>de</strong> pele.<br />
A biópsia <strong>de</strong> músculos ou fígado é necessária para<br />
algumas <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns e as amostras <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser rapidamente<br />
congeladas quando obtidas e estocadas a -70Cº até que<br />
sejam processadas.<br />
Os testes enzimáticos são testes precisos para o<br />
diagnóstico <strong>de</strong> erro inato. Após o diagnóstico, testes<br />
enzimáticos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser feitos <strong>em</strong> pessoas índices na família<br />
e no pré-natal caso a mãe fique grávida novamente.<br />
87
TESTES DIAGNÓSTICOS DNA<br />
Os testes diagnósticos exist<strong>em</strong> para muitas <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns<br />
bioquímicas pela análise direta do DNA ou pelo<br />
polimorfismo <strong>de</strong> fragmentos restritos. Po<strong>de</strong> também ser<br />
utilizado para diagnósticos <strong>de</strong> portadores na família e<br />
durante o pré-natal <strong>em</strong> grávidas e fetos. T<strong>em</strong> sido indicada<br />
a análise <strong>de</strong> DNA <strong>em</strong> substituição aos testes enzimáticos<br />
<strong>em</strong> algumas <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns que po<strong>de</strong>riam requerer pele ou<br />
biópsias <strong>de</strong> fígado, tais como <strong>de</strong>ficiências ornitina<br />
transcarbamilase ou <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> acil COA <strong>de</strong>sidrogenase<br />
<strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia média (MCAD).<br />
Em todos os pacientes com Fenilcetonúria ou <strong>em</strong> outras<br />
formas <strong>de</strong> hiperalanin<strong>em</strong>ia <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser pesquisadas as<br />
variante da doença baseada na <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> biopterina<br />
(cofator para a Fenilalanina hidroxilase)<br />
O tratamento com dieta pobre <strong>em</strong> fenilalanina vai prevenir<br />
o retardo psicomotor observado nos casos não tratados.<br />
Em alguns casos o diagnóstico não é feito e qualquer<br />
criança com atraso <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, <strong>de</strong>spigmentação<br />
cutânea, odor <strong>de</strong> rato, convulsões, hipertonia, <strong>de</strong>ve ser<br />
avaliada para fenilcetonúria, apesar do “screening”<br />
neonatal ter sido normal.<br />
TIPOS MAIS COMUNS DE ERROS INATOS<br />
DO METABOLISMO<br />
São discutidos aqui os tipos mais comuns e características.<br />
Deve ser levado <strong>em</strong> conta o fato <strong>de</strong> que exist<strong>em</strong> formas<br />
leves e intermediárias com manifestações clínicas, às vezes,<br />
só na vida adulta, ou <strong>em</strong> condições específicas <strong>de</strong> estresse<br />
metabólico.<br />
AMINOACIDOPATIAS<br />
São quadros caracterizados pela elevação dos aminoácidos<br />
e <strong>de</strong> seus metabólitos. O aumento dos aminoácidos po<strong>de</strong>rá<br />
ser <strong>de</strong>tectado tanto no sangue como na urina, e os seus<br />
metabólitos são <strong>em</strong> geral outros aminoácidos ou ácidos<br />
orgânicos.<br />
A <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m mais freqüente <strong>de</strong>ste tipo é a fenilcetonúria<br />
que ocorre <strong>em</strong> 1: 12.000 nascimentos e está relacionada à<br />
reduzida ativida<strong>de</strong> da enzima fenilalanina hidroxilase. A<br />
fenilalanina está aumentada no sangue (substrato) e a<br />
tirosina diminuída ou normal (produto). Os acidos<br />
orgânicos (fenilacético e fenilpirúvico) anormais estão<br />
aumentados na urina assim como compostos anormais <strong>de</strong><br />
fenilcetonas.<br />
A triag<strong>em</strong> neonatal para fenilcetonúria baseia-se na<br />
dosag<strong>em</strong> da fenilalanina sérica <strong>em</strong> sangue colhido e<br />
conservado a seco <strong>em</strong> papel <strong>de</strong> filtro. Todas as triagens<br />
positivas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser confirmadas com a dosag<strong>em</strong> sérica <strong>de</strong><br />
fenilalanina e tirosina.<br />
HOMOCISTINÚRIA<br />
A Homocistinúria ocorre <strong>em</strong> cerca <strong>de</strong> 1: 33.5000<br />
nascimentos. Na forma clássica ocorre a <strong>de</strong>ficiência da<br />
cistationina sintetase e tanto a homocistina quanto a<br />
metionina estão elevadas enquanto a cistina é baixa. Os<br />
níveis <strong>de</strong> metionina elevados são consi<strong>de</strong>rados benignos,<br />
enquanto os níveis <strong>de</strong> homocistina elevados levam a<br />
convulsões, oclusões vasculares com retardado mental,<br />
ataques cardíacos e hipertensão arterial. Os níveis elevados<br />
<strong>de</strong> homocistina interfer<strong>em</strong> com a formação do colágeno<br />
dando orig<strong>em</strong> a formas “marfanói<strong>de</strong>s” tais como alta<br />
estatura, <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> cristalino e doença valvular<br />
mitral. Cerca da meta<strong>de</strong> dos pacientes respon<strong>de</strong>m a<br />
terapia com doses elevadas <strong>de</strong> piridoxina (vitamina B6),<br />
cofator da enzima envolvida (cistationina sintetase).<br />
O “screening” neonatal já é disponível e é baseado nos<br />
níveis elevados <strong>de</strong> metionina. Tal qual a Fenilcetonúria o<br />
diagnóstico <strong>de</strong>verá ser confirmado com a dosag<strong>em</strong> sérica.<br />
Nos casos <strong>de</strong> triag<strong>em</strong> negativa e suspeita clínica fazer a<br />
dosag<strong>em</strong> sérica. Exist<strong>em</strong> formas variantes <strong>de</strong><br />
homocistinúria que são condicionadas a anormalida<strong>de</strong>s<br />
dos cofatores vitamínicos como vitamina B12 e ácido<br />
fólico. Em geral os níveis séricos <strong>de</strong> homocistina estão<br />
elevados, mas os <strong>de</strong> metionina estão baixos. Tais pacientes<br />
são acometidos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns do sist<strong>em</strong>a nervoso central e,<br />
nos casos <strong>de</strong> <strong>de</strong>feitos na atuação <strong>de</strong> cofatores como<br />
vitamina B12 po<strong>de</strong>rá ocorrer à concomitância <strong>de</strong> acidose<br />
metilmalônica.<br />
88
DOENÇA DO XAROPE DE BORDO<br />
Receb<strong>em</strong> este nome <strong>em</strong> função do odor anormal <strong>de</strong> 2-<br />
oxoácidos (alfa cetoácidos), encontrados na urina <strong>de</strong><br />
indivíduos afetados. Os aminoácidos ramificados valina,<br />
isoleucina e leucina, são marcadamente elevados na urina <strong>de</strong><br />
pacientes afetados além do aumento anormal, também na<br />
urina, <strong>de</strong> ácidos orgânicos. O “screening” para a doença do<br />
xarope <strong>de</strong> bordo na urina é tecnicamente disponível no<br />
período neonatal. Deve ser suspeitado <strong>em</strong> recém nascidos que<br />
apresentam no período neonatal precoce (primeira s<strong>em</strong>ana <strong>de</strong><br />
vida) sintomas tais como vômitos, letargia, coma, acidose<br />
metabólica grave e hiperamon<strong>em</strong>ia.O acúmulo <strong>de</strong> ácidos<br />
orgânicos anormais po<strong>de</strong> interferir com ciclo da uréia inibindo<br />
a formação do N-acetilglutamato que é o cofator da carbamil<br />
fosfato sintetase participante precoce do ciclo da uréia e<br />
ocorrerá hiperamon<strong>em</strong>ia tão grave quanto à dos doentes<br />
primários do ciclo da uréia. Os testes urinários para cetoácidos<br />
são positivos e as dosagens dos aminoácidos plasmáticos e<br />
ácidos orgânicos urinários confirmam o diagnóstico.<br />
A <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m po<strong>de</strong> ser difícil <strong>de</strong> controlar, e os pacientes<br />
necessitar<strong>em</strong> <strong>de</strong> tratamento inicial agressivo, muitas vezes<br />
incluindo diálise e nutrição parenteral com soluções<br />
especiais <strong>de</strong> aminoácidos restritas <strong>em</strong> aminoácidos<br />
ramificados. A alimentação <strong>de</strong>finitiva <strong>de</strong>ve ser preparada <strong>de</strong><br />
forma especializada e alguns pacientes t<strong>em</strong> boa resposta a<br />
doses elevadas <strong>de</strong> tiamina.<br />
ACIDOPATIAS ORGÂNICAS<br />
Este grupo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns foi <strong>de</strong>finido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se<br />
<strong>de</strong>senvolveram métodos <strong>de</strong> aferir os ácidos orgânicos no<br />
sangue, o que ocorreu <strong>em</strong> meados dos anos <strong>de</strong> 1970.<br />
Muitas <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns tais como: aci<strong>de</strong>mia propiônica e<br />
aci<strong>de</strong>mia metilmalônica, estão associadas a bloqueios no<br />
metabolismo <strong>de</strong> aminoácidos <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia ramificada.<br />
A <strong>de</strong>terminação quantitativa não costuma ser diagnóstica<br />
porque o bloqueio metabólico ocorre <strong>em</strong> vias baixas do<br />
metabolismo, custando a afetar os níveis <strong>de</strong> aminoácidos.<br />
Os pacientes, neonatais ou lactentes jovens, apresentam<br />
acidose metabólica grave e coma. Há elevação da amônia<br />
sérica <strong>de</strong> forma intensa (como já <strong>de</strong>scrito), por interferência<br />
dos metabólitos no ciclo da uréia.<br />
É importante obter as amostras quando o paciente estiver<br />
mais sintomático, pois as <strong>de</strong>sconpensações po<strong>de</strong>m ser<br />
episódicas. O tratamento inicial agressivo no controle<br />
metabólico com restrição protéica e doses elevadas <strong>de</strong><br />
cofatores seguidas <strong>de</strong> tratamento nutricional especializado<br />
permite o controle das aminoacidopatias.<br />
DESORDENS DO CICLO DA URÉIA<br />
A não converção do excesso <strong>de</strong> nitrogênio protéico <strong>em</strong><br />
uréia irá produzir hiperamon<strong>em</strong>ia. A hiperamon<strong>em</strong>ia é<br />
muito tóxica e cursa com coma letargia, e<strong>de</strong>ma cerebral e<br />
morte se não for reconhecida a t<strong>em</strong>po. As doenças do<br />
ciclo da uréia po<strong>de</strong>m ser diagnosticadas pelo seu padrão<br />
<strong>de</strong> aminoácidos ligados ao ciclo, que estarão alterados <strong>de</strong><br />
acordo com o nível do bloqueio, e pelos níveis <strong>de</strong> ácido<br />
orótico na urina. A <strong>de</strong>ficiência mais freqüente é a da<br />
Ornitina Transcarbamilase, que é uma doença ligada ao<br />
cromossomo X, portanto, ligada ao sexo.<br />
Com freqüência, um bebê do sexo masculino que<br />
aparent<strong>em</strong>ente era normal no primeiro dia <strong>de</strong> vida tornase<br />
irritado, para <strong>de</strong> se alimentar, torna-se letárgico e<br />
progressivamente comatoso. Os níveis <strong>de</strong> amônia do<br />
plasma são com freqüência maiores que 1000 uM.<br />
Meninos parcialmente afetados e meninas heterozigóticas<br />
se apresentam com episódicos sintomas leves. O<br />
tratamento pronto com diálise, drogas e meios alternativos<br />
para a excreção <strong>de</strong> nitrogênio, além da limitação <strong>de</strong><br />
proteína da dieta po<strong>de</strong> melhorar os sintomas e recuperar<br />
os pacientes <strong>de</strong> manifestações neonatais. Entretanto, a<br />
mortalida<strong>de</strong> é ainda bastante elevada e aqueles que<br />
sobreviv<strong>em</strong> têm <strong>de</strong>feitos psicomotores significativos. O<br />
tratamento dos casos leves t<strong>em</strong> mais sucesso.<br />
DEFEITOS DA BETA-OXIDAÇÃO<br />
DE ÁCIDOS GRAXOS<br />
A <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m mais comum é a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m <strong>de</strong> ácidos graxos<br />
<strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia média (MCAD) e ocorre <strong>em</strong> 1 <strong>em</strong> cada 10000<br />
crianças, portanto mais freqüente do que a Fenilcetonúria.<br />
A apresentação da doença ocorre mais comumente entre<br />
15 e 24 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, <strong>em</strong>bora os relatos <strong>de</strong> casos mais<br />
precoces venham aumentando na literatura com início até<br />
89
no período neonatal. A tolerância ao jejum está diminuída<br />
uma vez que os ácidos graxos não são a<strong>de</strong>quadamente<br />
ofertados a “fornalha” mitocondrial para a beta-oxidação.<br />
Com o jejum, produtos anormais se acumulam e alguns<br />
pacientes se apresentam com letargia e coma. A<br />
hipoglic<strong>em</strong>ia é profunda, grave, reversível, mas <strong>de</strong> difícil<br />
estabilização. Ocorre hepatomegalia com disfunção<br />
hepática e hipotonia uma vez que os músculos não<br />
consegu<strong>em</strong> utilizar a<strong>de</strong>quadamente a energia oriunda <strong>de</strong><br />
ácidos graxos, com repercussões sobre o tônus. Existe<br />
pouca produção <strong>de</strong> corpos cetônicos, muitas vezes t<strong>em</strong>-se<br />
hipoglic<strong>em</strong>ia acetótica, comumente hipocetótica.<br />
Se reconhecidas precoc<strong>em</strong>ente a utilização <strong>de</strong> glicose e<br />
hidratação produz<strong>em</strong> boa resposta clínica. Por outro lado,<br />
a hiperamon<strong>em</strong>ia secundária e e<strong>de</strong>ma cerebral po<strong>de</strong>rão<br />
ocorrer. Calcula-se que cerca <strong>de</strong> 25% dos casos evoluam<br />
para o óbito s<strong>em</strong> diagnóstico no primeiro episódio. A<br />
amostra <strong>de</strong> urina, se obtida durante o episódio <strong>de</strong> doença,<br />
irá mostrar um padrão característico <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong>rivados<br />
dos ácidos graxos na faixa <strong>de</strong> C6 a C12 (na MCAD)<br />
chamados <strong>de</strong> ácidos dicarboxílicos, ou ácidos orgânicos<br />
urinários. Entre os episódios, entretanto, as amostras<br />
urinárias po<strong>de</strong>m ser normais, dificultando o diagnóstico.<br />
A pesquisa urinária ou plasmática dos perfis <strong>de</strong><br />
acil-carnitina é realizada pelo método TANDEM <strong>em</strong><br />
amostras <strong>de</strong> sangue no papel <strong>de</strong> filtro. Ainda que<br />
assintomáticos, os pacientes po<strong>de</strong>rão apresentar níveis<br />
plasmáticos <strong>de</strong> carnitina anormais, com diminuição da<br />
carnitina total e elevação das frações esterificadas.<br />
O principal tratamento é evitar o jejum. O tratamento<br />
medicamentoso é feito com o uso <strong>de</strong> L-carnitina<br />
(inicialmente venosa nos casos graves). A alimentação mais<br />
freqüente (b<strong>em</strong> fracionada), a ingestão <strong>de</strong> amido cru<br />
(como nas glicogenoses) e a diminuição da gordura total<br />
da dieta. O prognóstico é bom <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a doença seja<br />
reconhecida e conduzida por especialistas.<br />
Outros distúrbios <strong>de</strong> oxidação <strong>de</strong> ácidos graxos são mais<br />
raros, porém os sintomas são s<strong>em</strong>elhantes aos da<br />
MCAD. Po<strong>de</strong> haver apresentações diferentes com<br />
predominância <strong>de</strong> miopatias manifestas por hipotonias,<br />
ou <strong>de</strong> músculo cardíaco com característica <strong>de</strong><br />
miocardiopatia infiltrativa. Muitas vezes a internação é<br />
necessária para a provocação com jejum, a fim <strong>de</strong> se<br />
po<strong>de</strong>r esclarecer um diagnóstico às vezes muito difícil,<br />
principalmente se não for pensado pelo médico.<br />
DOENÇAS MITOCONDRIAIS<br />
São doenças com gran<strong>de</strong> impacto na produção <strong>de</strong> energia<br />
<strong>de</strong> orig<strong>em</strong> mitocondrial, ou seja <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> impacto<br />
energético. Na impossibilida<strong>de</strong> da “máquina” mitocondrial<br />
girar o metabolismo dos ácidos tricíclicos o gran<strong>de</strong><br />
acúmulo se fará na produção <strong>de</strong> ácido láctico, portanto<br />
levando a aci<strong>de</strong>lact<strong>em</strong>ias e a falência <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da oxidação total da glicose, como no<br />
Sist<strong>em</strong>a Nervoso Central. A ocorrência freqüente será a<br />
acidose láctica e as encefalomiopatias. Estas <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns se<br />
<strong>de</strong>v<strong>em</strong> a mutações genéticas no núcleo ou genes<br />
mitocondriais.<br />
Os pacientes se apresentam com hipotonia, hipoglic<strong>em</strong>ia,<br />
déficit <strong>de</strong> crescimento, <strong>de</strong>generação dos núcleos da base<br />
do cérebro, convulsões e oftalmoplegia. Na biópsia<br />
muscular encontra-se as fibras “ragged-red”. Os <strong>de</strong>feitos<br />
são manifestos com ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ficientes do complexo<br />
piruvato <strong>de</strong>sidrogenase, piruvato carboxilase e<br />
fosfoenolpiruvato carboxiquinase e <strong>de</strong>feitos da fosforilação<br />
oxidativa. A síndrome MELAS (mitocondrial myopathy,<br />
encephalopathy, lactic acidosis, and stroke-like episo<strong>de</strong>s),<br />
MERRF (myoclonic epilepsy, ragged-red fibers), Kearn-<br />
Sayre, Alpers e sindrome <strong>de</strong> Leigh, ou atrofia ótica <strong>de</strong><br />
Leber. Deverão estar elevados os níveis <strong>de</strong> lactato e<br />
piruvato do plasma, e a alanina, como carreador <strong>de</strong><br />
esqueleto carbônico para a gliconeogenese, também<br />
po<strong>de</strong>rá estar elevada.<br />
O diagnóstico é confirmado pela <strong>de</strong>monstração das<br />
<strong>de</strong>ficiências enzimáticas nos leucócitos , culturas <strong>de</strong><br />
fibroblastos ou <strong>em</strong> biópsias musculares e hepáticas.<br />
DESORDENS DOS CARBOIDRATOS<br />
A galactos<strong>em</strong>ia clássica ocorre <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> da ativida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ficiente <strong>de</strong> galactose-1-fosfato-uridil-transferase e ocorre<br />
<strong>em</strong> aproximadamente 1:62.000 nascimentos. As crianças<br />
afetadas po<strong>de</strong>m apresentar nos primeiros meses <strong>de</strong> vida<br />
90
catarata, aumento e disfunção hepática, acidose tubular<br />
renal, déficit <strong>de</strong> crescimento, vômitos diarréia e letargia.<br />
Muitos pacientes abr<strong>em</strong> o quadro com septic<strong>em</strong>ia,<br />
especialmente por E.Coli, uma vez que os macrófagos<br />
ficarão vulneráveis pelo <strong>de</strong>feito. Testes urinários para<br />
substâncias redutoras po<strong>de</strong>m ser positivos se a criança<br />
receber alimentos contendo galactose. Testes negativos<br />
ocorrerão no paciente portador do <strong>de</strong>feito se este estiver<br />
<strong>em</strong> jejum, <strong>em</strong> hidratação ou nutrição venosa com glicose<br />
ou recebendo fórmulas s<strong>em</strong> galactose.<br />
A ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiente da galactose-1-fosfato<br />
uridiltransferase e o aumento da galactose 1 fosfato<br />
(metabólito anormal e tóxico) é <strong>de</strong>monstrável nas células<br />
vermelhas do sangue. Esta avaliação também será negativa<br />
se for realizada após uma transfusão sanguínea. Hoje é<br />
possível a avaliação neonatal <strong>em</strong> testes rápidos <strong>de</strong> sangue<br />
coletado <strong>em</strong> papel filtro (teste do pezinho)<br />
O tratamento com dieta livre <strong>de</strong> galactose resulta <strong>em</strong> boa<br />
evolução clínica. Exist<strong>em</strong> formas heterozigóticas e variáveis<br />
<strong>de</strong> acordo com o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência. Em virtu<strong>de</strong> da<br />
gravida<strong>de</strong> da doença, quando não tratada, e da facilida<strong>de</strong><br />
e segurança do tratamento, toda criança com teste positivo<br />
<strong>de</strong>verá mudar para uma dieta livre <strong>de</strong> galactose até que<br />
seja confirmado, ou não, o diagnóstico.<br />
Doenças <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> glicogênio ocorr<strong>em</strong> <strong>em</strong> 1: 60.000<br />
nascimento e po<strong>de</strong>m se apresentar com hipoglic<strong>em</strong>ia <strong>de</strong><br />
jejum, aumento do fígado por <strong>de</strong>pósito por miopatias,<br />
inclusive cardíaca. Exist<strong>em</strong> diversos tipos <strong>de</strong> glicogenoses.<br />
A tipo I, também conhecida como doença <strong>de</strong> Von Gierke,<br />
ocorre por <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> glicose-6-fosfatase, e se apresenta<br />
com hepatomegalia, hipoglic<strong>em</strong>ia e acidose Láctea na<br />
infância precoce. A glicogenose tipo IX, que é a mais<br />
freqüente forma <strong>de</strong> glicogenose, ocorre por <strong>de</strong>ficiência da<br />
enzima fosforilase-quinase, e se apresenta assintomática<br />
mas com o aumento do volume hepático. Outros tipos <strong>de</strong><br />
glicogenose com início na infância e na adultícia ocorr<strong>em</strong><br />
apenas com envolvimento muscular. As biópsias <strong>de</strong><br />
músculo e fígado mostrarão, na glicogenose, um aumento<br />
no conteúdo <strong>de</strong> glicogênio. As <strong>de</strong>ficiências enzimáticas <strong>de</strong><br />
muitas <strong>de</strong>stas doenças po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>monstradas nos<br />
eritrócitos, leucócitos ou cultura <strong>de</strong> fibroblastos.<br />
DOENÇAS DE PEROXISSOMOS<br />
Peroxissomos são organelas subcelulares responsáveis pela<br />
beta oxidação <strong>de</strong> ácidos <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia muito longa <strong>de</strong> mais <strong>de</strong><br />
22 carbonos, pela biossíntese <strong>de</strong> plasmalogênios e sais<br />
biliares e pela oxidação dos ácidos fitânico, pipecólico e<br />
metabolismo glicoxilato. As <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns por <strong>de</strong>feito <strong>de</strong><br />
peroxissomos são classificadas <strong>em</strong> 3 grupos <strong>de</strong> disfunção<br />
peroxisomal generalizada: diminuição ou ausência <strong>de</strong><br />
peroxissomos; com peroxissomos, mas com anormalida<strong>de</strong>s<br />
<strong>em</strong> uma função; ou <strong>em</strong> várias funções dos mesmos. A<br />
alteração mais comum, com disfunção generalizada da<br />
função <strong>de</strong> peroxissomos, é a disfunção <strong>de</strong> Zellweger<br />
(cérebro hepatorenal). A maioria dos pacientes são<br />
neonatos com hipotonia e fácieis típica com fronte<br />
alargada, prega <strong>de</strong> epicanto, fontanela ampla, retinite<br />
pigmentosa, hipotonia e hepatomegalia. A formação <strong>de</strong><br />
cistos nos rins, disfunção <strong>de</strong> supra renal, anormalida<strong>de</strong>s no<br />
<strong>de</strong>senvolvimento cerebral fetal e convulsões. A <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m<br />
po<strong>de</strong> ser confirmada pela <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> ácidos graxos<br />
<strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia muito longa no plasma e por plasmalogenios<br />
<strong>de</strong>feituosos na síntese das células vermelhas. Na maioria<br />
das crianças a doença t<strong>em</strong> curso progressivo e não<br />
costumam viver mais <strong>de</strong> que os 6 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />
A adrenoleucodistrofia da infância, doença peroxisomal<br />
ligada ao X, é do tipo com peroxissomos intactos e betaoxidação<br />
anormal <strong>de</strong> ácidos graxos <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia muito longa.<br />
Muitos meninos a apresentam entre 4 e 8 anos com<br />
progressiva <strong>de</strong>smielinização do sist<strong>em</strong>a nervoso, e a<br />
maioria evolui com insuficiência supra renal. O diagnóstico<br />
é confirmado por níveis elevados <strong>de</strong> ácidos graxos <strong>de</strong><br />
ca<strong>de</strong>ia muito longa no plasma. Alguns carreadores do gen,<br />
masculinos ou f<strong>em</strong>ininos, apresentam formas mais leves da<br />
disfunção. O tratamento com tri-eruxicato e trioleato <strong>de</strong><br />
glicerol po<strong>de</strong> ter efeito benéfico se iniciados antes das<br />
maiores manifestações do sist<strong>em</strong>a nervoso central. É<br />
também conhecida com doença do “óleo <strong>de</strong> Lorenzo”.<br />
DOENÇAS DE LISOSSOMAS<br />
Este grupo <strong>de</strong> doenças, com armazenamento anormal intralisossomial<br />
<strong>de</strong> moléculas <strong>de</strong> espectro tão variado como as<br />
pequenas moléculas, como a cistina, até macromoléculas<br />
como os mucopolissacarí<strong>de</strong>os e esfingolipídios.<br />
91
A maioria <strong>de</strong>stas doenças é <strong>de</strong>vida a falência da <strong>de</strong>gradação<br />
intra-lisossomial <strong>de</strong> algumas substâncias, e que se <strong>de</strong>ve a<br />
<strong>de</strong>ficiência específica <strong>de</strong> um hidrolase ácida lisossomal.<br />
Isto se <strong>de</strong>ve a falta <strong>de</strong> uma proteína ativadora da hidrolase.<br />
Em outras, o probl<strong>em</strong>a se <strong>de</strong>ve ao não reconhecimento <strong>de</strong><br />
marcadores das hidrolases para macromoléculas, como é o<br />
caso das mucolipidoses. Ainda outros mais se <strong>de</strong>v<strong>em</strong> a<br />
<strong>de</strong>feitos <strong>de</strong> transporte das m<strong>em</strong>branas lisossomais tais<br />
como na cistinose ou doença <strong>de</strong> Salla.<br />
Este grupo <strong>de</strong> doenças está dividido <strong>de</strong> acordo com o<br />
material estocado e não digerido e, ou, a fisiopatologia<br />
<strong>de</strong>senvolvida pela alteração.<br />
MUCOPOLISSACARIDOSES<br />
As mucopolissacaridoses (MPS) são <strong>de</strong>vidas ao<br />
armazenamento nos lisossomos <strong>de</strong> mucopolissacarí<strong>de</strong>os,<br />
também chamados glicosaminoglicans. O protótipo <strong>de</strong>sta é<br />
a síndrome <strong>de</strong> Hurler. Os pacientes são normais ao<br />
nascimento e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> hepatoesplenomegalia,<br />
perda da transparência da córnea, baixa estatura, atraso<br />
psicomotor, e fácieis grosseira ficando o quadro mais<br />
evi<strong>de</strong>nte <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. A alteração óssea<br />
caracterizada como disostose multipla é típica <strong>de</strong>ste grupo<br />
<strong>de</strong> doenças, fazendo alto grau <strong>de</strong> suspeição pela avaliação<br />
radiológica. A pesquisa <strong>de</strong> mucopolissacári<strong>de</strong>os na urina<br />
O diagnóstico é feito por testes enzimáticos nos leucócitos<br />
ou no soro e são <strong>de</strong>finitivos tanto para as<br />
mucoplossacaridoses quanto para as doenças <strong>de</strong><br />
armazenamento lisossomais.<br />
ESFINGOLIPIDOSES<br />
A mais comum é a doença <strong>de</strong> Gaucher, ou esfingolipidoses<br />
do tipo 1, que po<strong>de</strong> se apresentar <strong>em</strong> qualquer ida<strong>de</strong>, e se<br />
apresenta com esplenomegalia assintomática pelo estoque<br />
lisossomal <strong>de</strong> cerebrosí<strong>de</strong>os. Nos pacientes mais<br />
grav<strong>em</strong>ente afetados po<strong>de</strong>m ter acometimento hepático e<br />
ósseo. A <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m é mais presente <strong>em</strong> pacientes<br />
<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> ju<strong>de</strong>us do oeste da Europa, mas po<strong>de</strong> ser<br />
encontrada <strong>em</strong> qualquer orig<strong>em</strong> étnica. O diagnóstico é<br />
feito pela <strong>de</strong>monstração da <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> Betaglicosidase<br />
nos leucócitos, e hoje já existe reposição enzimática para<br />
esta <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m com bom <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho.<br />
A doença <strong>de</strong> Tay-Sachs é também encontrada com mais<br />
freqüência <strong>em</strong> pacientes ju<strong>de</strong>us <strong>de</strong> ancestrais oriundos do<br />
oeste da Europa, mas também po<strong>de</strong> ser vista <strong>em</strong> todos os<br />
grupos étnicos. Há métodos para <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> portadores<br />
do gen, e <strong>de</strong>ve ser estimulado o casal <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> judaico,<br />
<strong>em</strong> especial com ancestrais da região oeste europeu a ser<br />
testados como medida pré-prenatal.<br />
po<strong>de</strong> ser útil, mas é limitada como meio diagnóstico.<br />
Bibliografia consultada<br />
Wappner, R.S. - Bioch<strong>em</strong>ical Diagnosis of Genetic Diseases. Pediatric<br />
Annals. 1993; 22:may. 284-287.<br />
Calvo, M.; Artuch,R.; Macia, E.; Luaces,C.; Vilaseca, M.A. Pediatric<br />
Emergency Care. 2000;16:6. 405-408.<br />
Saudubray, J-M., Ogier <strong>de</strong> Baulny, H.; Charpentier, C. (2000) Clinical<br />
Approach to inherited Metabolic diseases. In: Fernan<strong>de</strong>s, J.<br />
Saudubray, J-M;Van <strong>de</strong>n Berghe, G. (eds). Inborn Metabolic<br />
Diseases. Springer,BerlimN, Heil<strong>de</strong>lberg, New York.<br />
Burton B.K Inborn Errors of Metabolism in Infancy: A Gui<strong>de</strong> to<br />
Diagnosis. Pediatrics Vol. 102 No. 6 Dec<strong>em</strong>ber 1998, p. e69<br />
92
Patrocínio<br />
993.64.21.97