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de nutrição em pediatria - Sociedade Brasileira de Pediatria

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Fascículo 3 - Ano 2004<br />

t<strong>em</strong>as<br />

<strong>de</strong> nutrição <strong>em</strong> <strong>pediatria</strong><br />

Publicação elaborada pelo Departamento <strong>de</strong><br />

Nutrição da Socieda<strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>


Fascículo 3 - Ano 2004<br />

t<strong>em</strong>as<br />

<strong>de</strong> nutrição <strong>em</strong> <strong>pediatria</strong><br />

Publicação elaborada pelo Departamento <strong>de</strong><br />

Nutrição da Socieda<strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>


Prezado(a) Colega:<br />

E<br />

ste<br />

é o último volume da publicação T<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Nutrição <strong>em</strong> <strong>Pediatria</strong>, resultado do<br />

<strong>de</strong>dicado trabalho <strong>de</strong> nosso Departamento Científico <strong>de</strong> Nutrição.<br />

Neste terceiro fascículo, são abordados <strong>de</strong> forma didática e objetiva t<strong>em</strong>as como a alimentação<br />

nos primeiros anos <strong>de</strong> vida, imunomodulação, alimentos funcionais e erros natos<br />

do metabolismo.<br />

Assuntos atuais e bastante polêmicos como a nutrição e ativida<strong>de</strong> física, b<strong>em</strong> como os<br />

transtornos alimentares (anorexia e bulimia) também têm espaço nesta publicação, que<br />

preten<strong>de</strong> ser muito útil aos colegas na prática diária da <strong>pediatria</strong>.<br />

Aproveitamos, mais uma vez, para levar nossos cumprimentos a todo o Departamento <strong>de</strong><br />

Nutrição por esta excelente obra e pela gran<strong>de</strong> contribuição que t<strong>em</strong> dado à Socieda<strong>de</strong><br />

<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>.<br />

Um gran<strong>de</strong> abraço,<br />

Lincoln Marcelo Silveira Freire<br />

Presi<strong>de</strong>nte da SBP<br />

2


O<br />

Departamento <strong>de</strong> Nutrição (DN) da SBP, patrocinado por Nestlé Brasil Ltda, t<strong>em</strong><br />

duas reuniões anuais, quando são discutidos t<strong>em</strong>as <strong>de</strong> relevância na área <strong>de</strong><br />

Nutrição, <strong>de</strong> interesse do pediatra. Estamos seguindo uma forma <strong>de</strong> trabalho que<br />

propicia atuação ampla, <strong>em</strong> pouco t<strong>em</strong>po.<br />

A técnica resume-se <strong>em</strong> convidar especialista na área que será abordada e solicitar que<br />

apresente um relatório sobre o t<strong>em</strong>a <strong>em</strong> pauta. Os componentes<br />

do DN receb<strong>em</strong> o documento com antecedência, levantam suas dúvidas e sugestões e as<br />

apresentam por ocasião da discussão dos t<strong>em</strong>as. O relator respon<strong>de</strong> às dúvidas e os<br />

componentes do grupo discut<strong>em</strong> e aprovam, ou não, os relatórios e/ou sugestões.<br />

Resulta, portanto, um documento final com a participação efetiva <strong>de</strong> todos os m<strong>em</strong>bros.<br />

A Nestlé aceitou a sugestão <strong>de</strong> publicar os t<strong>em</strong>as que foram aprovados, nas duas<br />

reuniões anuais.<br />

Os t<strong>em</strong>as que serão abordados nesse fascículo são:<br />

VOLUME 1<br />

• Alimentação da Criança nos Primeiros Anos <strong>de</strong> Vida<br />

VOLUME 2<br />

• Imunomodulação: Glutamina, Arginina, Omega 3, Zinco, Cromo, Selênio, Nucleotí<strong>de</strong>os.<br />

VOLUME 3<br />

• Alimentos Funcionais<br />

VOLUME 4<br />

• Distúrbios do Comportamento Alimentar: Anorexia e Bulimia<br />

VOLUME 5<br />

• Nutrição e Ativida<strong>de</strong> Física<br />

VOLUME 6<br />

• Erros Inatos do Metabolismo<br />

Ao divulgar esta introdução não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer à Nestlé Brasil Ltda. pela<br />

sua participação na publicação e divulgação <strong>de</strong>sses t<strong>em</strong>as que, acreditamos, serão úteis ao<br />

pediatra brasileiro.<br />

Prof. Dr. Fernando José <strong>de</strong> Nóbrega<br />

Presi<strong>de</strong>nte do Departamento <strong>de</strong> Nutrição da SBP<br />

3


DIRETORIA - SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (2001-2003)<br />

Presi<strong>de</strong>nte:<br />

Lincoln Marcelo Silveira Freire<br />

1º Vice-Presi<strong>de</strong>nte:<br />

Dioclécio Campos Júnior<br />

2º Vice-Presi<strong>de</strong>nte:<br />

João Cândido <strong>de</strong> Souza Borges<br />

Secretário Geral:<br />

Eduardo da Silva Vaz<br />

1º Secretário:<br />

Vera Lúcia Queiroz Bomfim Pereira<br />

2º Secretário:<br />

Marisa Bicalho P. Rodrigues<br />

3º Secretário:<br />

Fernando Filizzola <strong>de</strong> Mattos<br />

1º Diretor Financeiro:<br />

Carlindo <strong>de</strong> Souza Machado e Silva Filho<br />

2º Diretor Financeiro:<br />

Ana Maria Seguro Meyge<br />

Diretoria <strong>de</strong> Patrimônio:<br />

Mário José Ventura Marques<br />

Coor<strong>de</strong>nador do Selo:<br />

Claudio Leone<br />

Coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> Informática:<br />

Eduardo Carlos Tavares<br />

Conselho Acadêmico<br />

Presi<strong>de</strong>nte:<br />

Reinaldo Menezes Martins<br />

Secretário:<br />

Nelson Grisard<br />

Conselho Fiscal:<br />

Raimunda Nazaré Monteiro Lustosa<br />

Sara Lopes Valentim<br />

Nilzete Liberato Bresolin<br />

Assessorias da Presidência:<br />

Pedro Celiny Ramos Garcia<br />

Fernando Antônio Santos Werneck<br />

Claudio Leone<br />

Luciana Rodrigues Silva<br />

Nelson <strong>de</strong> Carvalho Assis Barros<br />

Reinaldo Menezes Martins<br />

Diretoria <strong>de</strong> Qualificação e Certificação<br />

Profissional:<br />

Clóvis Francisco Constantino<br />

Coor<strong>de</strong>nador do CEXTEP:<br />

Hélcio Villaça Simões<br />

Coor<strong>de</strong>nador da Área <strong>de</strong> Atuação:<br />

José Hugo Lins Pessoa<br />

Coor<strong>de</strong>nador da Recertificação:<br />

José Martins Filho<br />

Diretor <strong>de</strong> Relações Internacionais:<br />

Fernando José <strong>de</strong> Nóbrega<br />

Representantes:<br />

ALAPE: Mário Santoro Jr.<br />

AAP: Conceição Aparecida <strong>de</strong> M. Segre<br />

IPA: Sérgio Augusto Cabral<br />

Mercosul: R<strong>em</strong>aclo Fischer Júnior<br />

Diretor dos Departamentos Científicos:<br />

Nelson Augusto Rosário Filho<br />

Diretoria <strong>de</strong> Cursos e Eventos:<br />

Dirceu Solé<br />

Coor<strong>de</strong>nador da Reanimação Neonatal:<br />

José Orleans da Costa<br />

Coor<strong>de</strong>nador da Reanimação Pediátrica:<br />

Paulo Roberto Antonacci Carvalho<br />

Coor<strong>de</strong>nador dos Serões:<br />

Edmar <strong>de</strong> Azambuja Salles<br />

Centro <strong>de</strong> Treinamento <strong>em</strong> Serviços:<br />

Coor<strong>de</strong>nador: Mário Cícero Falcão<br />

Coor<strong>de</strong>nador dos Congressos e Eventos:<br />

Álvaro Machado Neto<br />

Coor<strong>de</strong>nador do CIRAPs:<br />

Maria O<strong>de</strong>te Esteves Hilário<br />

Diretoria <strong>de</strong> Ensino e Pesquisa:<br />

Lícia Maria Oliveira Moreira<br />

Coor<strong>de</strong>nadora da Graduação:<br />

Rosana Fiorini Puccini<br />

Residência e Estágio-Cre<strong>de</strong>nciamento:<br />

Coor<strong>de</strong>nadora: Clei<strong>de</strong> Enoir P. Trinda<strong>de</strong><br />

Residência e Estágio - Programas:<br />

Coor<strong>de</strong>nador: Aloísio Prado Marra<br />

Coor<strong>de</strong>nador da Pós-Graduação:<br />

Francisco José Penna<br />

Coor<strong>de</strong>nador da Pesquisa:<br />

Marco Antônio Barbieri<br />

Diretoria <strong>de</strong> Publicações da SBP:<br />

Diretor <strong>de</strong> Publicações:<br />

Renato Soibelmann Procianoy<br />

Editor do Jornal <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>:<br />

Renato Soibelmann Procianoy<br />

Coor<strong>de</strong>nador do PRONAP:<br />

João Coriolano Rego Barros<br />

Coor<strong>de</strong>nador dos Correios da SBP:<br />

Antonio Carlos Pastorino<br />

Documentos Científicos:<br />

Coor<strong>de</strong>nador: Paulo <strong>de</strong> Jesus H. Na<strong>de</strong>r<br />

Centro <strong>de</strong> Informações Científicas:<br />

Coor<strong>de</strong>nador:<br />

Ércio Amaro <strong>de</strong> Oliveira Filho<br />

Diretoria <strong>de</strong> Benefícios e Previdência:<br />

Guilherme Mariz Maia<br />

Diretor Adjunto:<br />

Roberto Moraes Rezen<strong>de</strong><br />

Diretor <strong>de</strong> Defesa Profissional:<br />

Mário Lavorato da Rocha<br />

Diretoria da Promoção Social da Criança<br />

e do Adolescente:<br />

João <strong>de</strong> Melo Régis Filho<br />

Promoção <strong>de</strong> Campanhas:<br />

Coor<strong>de</strong>nadora: Rachel Niskier Sanchez<br />

Defesa da Criança e do Adolescente:<br />

Coor<strong>de</strong>nadora: Célia Maria Stolze Silvany<br />

Comissão <strong>de</strong> Sindicância:<br />

Coor<strong>de</strong>nadores:<br />

Euze Márcio Souza Carvalho<br />

José Gonçalves Sobrinho<br />

Rossiclei <strong>de</strong> Souza Pinheiro<br />

Antônio Rubens Alvarenga<br />

Mariângela <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros Barbosa<br />

DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO<br />

NÚCLEO GERENCIAL<br />

Presi<strong>de</strong>nte<br />

Fernando José <strong>de</strong> Nóbrega (SP)<br />

Vice-Presi<strong>de</strong>nte<br />

Fernanda Luisa C. Oliveira (SP)<br />

Secretário<br />

Roseli Saccardo Sarni (SP)<br />

CONSELHO CIENTÍFICO<br />

Antonio <strong>de</strong> Azevedo Barros Filho (SP)<br />

Ary Lopes Cardoso (SP)<br />

Cristina Maria Gomes do Monte (CE)<br />

Elza Daniel <strong>de</strong> Mello (RS)<br />

Fernanda Luisa C. Oliveira (SP)<br />

Hélio Fernan<strong>de</strong>s da Rocha (RJ)<br />

Luiz An<strong>de</strong>rson Lopes (SP)<br />

Maria Arlete Meil Schmith Escrivão (SP)<br />

Maria Marlene <strong>de</strong> Souza Pires (SC)<br />

Paulo Pimenta <strong>de</strong> Figueiredo Filho (MG)<br />

Severino Dantas Filho (ES)<br />

Virgínia Resen<strong>de</strong> Silva Weffort (MG)<br />

Socieda<strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong><br />

Rua Santa Clara, 292 -<br />

Copacabana - Rio <strong>de</strong> Janeiro - RJ<br />

CEP. 22041-010<br />

Tel.: (021) 548-1999<br />

e-mail: sbp@sbp.com.br<br />

Departamento <strong>de</strong> Nutrição / SBP<br />

Rua Traipu, 1251 - Perdizes<br />

São Paulo - SP - CEP. 01235-000 -<br />

Tel.: (011) 3107-6710 / 3872-1804<br />

e-mail: fjnobrega@sti.com.br -<br />

Fax: (011) 3872-1001<br />

5


Volume 1 - Ano 2004<br />

t<strong>em</strong>as<br />

<strong>de</strong> nutrição <strong>em</strong> <strong>pediatria</strong><br />

Publicação elaborada pelo Departamento <strong>de</strong><br />

Nutrição da Socieda<strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong><br />

7


Alimentação da Criança<br />

nos Primeiros Anos <strong>de</strong> Vida<br />

Relatoras: Roseli Saccardo Sarni<br />

e Kazue Sato<br />

INTRODUÇÃO<br />

O estabelecimento <strong>de</strong> normas para alimentação na infância não <strong>de</strong>ve se<br />

restringir apenas às necessida<strong>de</strong>s orgânicas da criança. Sendo o alimento<br />

uma das principais formas <strong>de</strong> contato com o mundo externo, nos primeiros<br />

anos <strong>de</strong> vida, é prioritário que o <strong>de</strong>senvolvimento neurológico e o<br />

<strong>em</strong>ocional sejam respeitados.<br />

O primeiro ano <strong>de</strong> vida caracteriza-se por velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimento<br />

elevada, com correspon<strong>de</strong>nte aumento das necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> macro e<br />

micronutrientes o que torna as crianças mais vulneráveis a qualquer espécie<br />

<strong>de</strong> agravo nutricional nesta fase da vida.<br />

Í N D I C E<br />

A falta <strong>de</strong> normatizações recentes t<strong>em</strong> favorecido o uso ina<strong>de</strong>quado <strong>de</strong><br />

alimentos. A interrupção precoce do aleitamento materno e a preconização<br />

<strong>de</strong> alimentos com baixos níveis <strong>de</strong> ferro, utilizados por t<strong>em</strong>po prolongado,<br />

1. Alimentação da Criança<br />

nos Primeiros Anos <strong>de</strong> Vida<br />

pág 8<br />

favorec<strong>em</strong> a alta prevalência <strong>de</strong> an<strong>em</strong>ia, um dos ex<strong>em</strong>plos da ina<strong>de</strong>quação<br />

da dieta às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> nutrientes da criança.<br />

As recomendações <strong>de</strong> nutrientes sofr<strong>em</strong> variações <strong>de</strong> acordo com a faixa<br />

etária <strong>em</strong> função da velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimento e po<strong>de</strong>m ser vistas no Anexo 1.<br />

2. Imunomodulação<br />

3. Alimentos Funcionais<br />

pág 16<br />

pág 46<br />

O Ministério da Saú<strong>de</strong>/OPAS e Socieda<strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong><br />

estabeleceram <strong>de</strong>z passos da alimentação saudável para crianças brasileiras<br />

menores <strong>de</strong> dois anos:<br />

Passo 1. Dar somente leite materno até os seis meses, s<strong>em</strong> oferecer água,<br />

chás ou quaisquer outros alimentos<br />

Passo 2. A partir dos seis meses, oferecer <strong>de</strong> forma lenta e gradual outro<br />

alimentos, mantendo o leite materno até 2 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />

4. Distúrbios do Comportamento<br />

Alimentar: Anorexia e Bulimia<br />

pág 52<br />

5. Nutrição e Ativida<strong>de</strong> Física<br />

pág 66<br />

6. Erros Inatos do Metabolismo<br />

pág 82<br />

Passo 3. A partir dos seis meses, dar alimentos compl<strong>em</strong>entares (cereais,<br />

tubérculos, carnes, leguminosas, frutas, legumes) três vezes ao dia, se a<br />

criança receber leite materno e cinco vezes ao dia, se não estiver <strong>em</strong><br />

aleitamento materno<br />

Passo 4. A alimentação compl<strong>em</strong>entar <strong>de</strong>verá ser oferecida s<strong>em</strong> rigi<strong>de</strong>z <strong>de</strong><br />

horários, respeitando-se s<strong>em</strong>pre a vonta<strong>de</strong> da criança<br />

Passo 5. A alimentação compl<strong>em</strong>entar <strong>de</strong>ve ser espessa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início e<br />

oferecida <strong>de</strong> colher; começar com consistência pastosa (papas e purês) e,<br />

gradativamente, aumentar a sua consistência até chegar na alimentação da<br />

família<br />

8


Passo 6. Oferecer à criança diferentes alimentos ao dia.<br />

“Uma alimentação variada é uma alimentação colorida<br />

Passo 7. Estimular o consumo diário <strong>de</strong> frutas, verduras e<br />

legumes nas refeições<br />

Passo 8. Evitar açúcar, café, enlatados, frituras,<br />

refrigerante, balas, salgadinhos e outras guloseimas nos<br />

primeiros anos <strong>de</strong> vida. Usar sal com mo<strong>de</strong>ração<br />

Passo 9. Cuidar da higiene no preparo e manuseio dos<br />

alimentos; garantir o seu armazenamento e conservação<br />

a<strong>de</strong>quados<br />

Passo 10. Estimular a criança doente e convalescente a se<br />

alimentar, oferecendo sua alimentação habitual e seus<br />

alimentos preferidos, respeitando sua aceitação.<br />

ALEITAMENTO MATERNO<br />

Imediatamente após o parto, <strong>de</strong>ve-se iniciar o aleitamento<br />

natural, sob regime <strong>de</strong> livre <strong>de</strong>manda, s<strong>em</strong> horários<br />

pré-fixados, ressaltando-se a importância do alojamento<br />

conjunto para a obtenção <strong>de</strong>ste objetivo. A criança<br />

mamará quando e por quanto t<strong>em</strong>po quiser, <strong>em</strong> uma ou<br />

duas mamas, respeitando-se a alternância, ou seja, a<br />

mama oferecida por último na mamada anterior, <strong>de</strong>verá<br />

ser a primeira na próxima. O apoio, orientações quanto às<br />

técnicas corretas e o atendimento precoce às<br />

intercorrências é fundamental para o êxito <strong>de</strong>sta prática.<br />

A nomenclatura proposta pela Organização Mundial da<br />

Saú<strong>de</strong> (OMS) adota as seguintes categorias <strong>de</strong> aleitamento<br />

materno (OPAS,OMS/1991):<br />

• aleitamento materno exclusivo: quando a criança recebe<br />

somente leite materno, diretamente da mama ou extraído<br />

e n<strong>em</strong>hum outro líquido ou sólido, com exceção <strong>de</strong> gotas<br />

ou xaropes <strong>de</strong> vitaminas, minerais e/ou medicamentos;<br />

• aleitamento materno predominante: quando o lactente<br />

recebe, além do leite materno, água ou bebidas à base<br />

<strong>de</strong> água, como sucos <strong>de</strong> frutas e chás;<br />

• aleitamento materno: quando a criança recebe leite<br />

materno, diretamente do seio ou extraído, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> estar recebendo qualquer alimento ou líquido,<br />

incluindo leite não humano<br />

A introdução <strong>de</strong> líquidos (água e/ou chá) não é necessária,<br />

po<strong>de</strong>ndo inclusive ser contraproducente para a<br />

manutenção do aleitamento materno.<br />

A utilização exclusiva do leite materno <strong>de</strong>ve se esten<strong>de</strong>r até<br />

o sexto mês <strong>de</strong> vida. Qualquer <strong>de</strong>saceleração na<br />

velocida<strong>de</strong> do ganho <strong>de</strong> peso <strong>de</strong>ve ser criteriosamente<br />

avaliada pelo pediatra evitando-se <strong>de</strong>sta forma a<br />

introdução in<strong>de</strong>vida <strong>de</strong> outros alimentos.<br />

Introdução <strong>de</strong> Alimentos Compl<strong>em</strong>entares<br />

Alimentação compl<strong>em</strong>entar consiste na introdução <strong>de</strong><br />

qualquer tipo <strong>de</strong> alimento na dieta <strong>de</strong> uma criança, que<br />

até então se encontrava <strong>em</strong> regime <strong>de</strong> aleitamento<br />

materno exclusivo. Alimentos <strong>de</strong> transição, anteriormente<br />

<strong>de</strong>signados “alimentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>smame””, se refer<strong>em</strong> a<br />

alimentos especialmente preparados para crianças<br />

pequenas, até que elas pass<strong>em</strong> a se alimentar <strong>de</strong> alimentos<br />

consumidos pela família. O termo “alimentos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>smame” <strong>de</strong>ve ser evitado, pois sugere que o seu objetivo<br />

seria o <strong>de</strong>smame e não a compl<strong>em</strong>entação do leite materno.<br />

A introdução da alimentação compl<strong>em</strong>entar é uma fase <strong>de</strong><br />

elevado risco para a criança, tanto pela administração <strong>de</strong><br />

alimentos ina<strong>de</strong>quados, quanto pelo risco <strong>de</strong><br />

contaminação que po<strong>de</strong> favorecer a ocorrência <strong>de</strong> doença<br />

diarréica e <strong>de</strong>snutrição. A a<strong>de</strong>quada orientação da mãe<br />

nesse período por profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> é <strong>de</strong> fundamental<br />

importância.<br />

Alimentos Compl<strong>em</strong>entares<br />

As recomendações nutricionais serv<strong>em</strong> como guia para<br />

estimar as necessida<strong>de</strong>s nutricionais <strong>em</strong>bora, muitos dados<br />

sejam extrapolados. Nessas recomendações são acrescidas<br />

margens <strong>de</strong> segurança que as caracterizam como<br />

superestimadas entretanto, são utilizadas com freqüência<br />

<strong>em</strong> padronizações ou guias <strong>de</strong> conduta.<br />

As necessida<strong>de</strong>s energéticas são variáveis e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do<br />

metabolismo basal, ativida<strong>de</strong> física e tamanho corporal.<br />

Assim consi<strong>de</strong>ramos mais a<strong>de</strong>quada a necessida<strong>de</strong><br />

proposta pela OMS que consi<strong>de</strong>ra o gasto energético basal<br />

e a energia utilizada para o crescimento e ativida<strong>de</strong>:<br />

9


DISTRIBUIÇÃO DAS NECESSIDADES CALÓRICAS EM LACTENTES E CRIANÇAS<br />

SADIAS EM CRESCIMENTO (Kcal/Kg/dia)<br />

IDADE TMB ATIVIDADE CRESCIMENTO TOTAL TMB/<br />

TOTAL (%)<br />

Muito baixo<br />

peso<br />

< 1 ano<br />

1 ano<br />

2 anos<br />

5 anos<br />

47<br />

55<br />

55<br />

55<br />

47<br />

15<br />

15<br />

35<br />

45<br />

38<br />

67<br />

40<br />

20<br />

5<br />

2<br />

130<br />

110<br />

110<br />

100<br />

87<br />

36<br />

50<br />

50<br />

50<br />

54<br />

Proteínas: carnes, vísceras, ovos, leite<br />

e <strong>de</strong>rivados, leguminosas (feijão, soja,<br />

lentilha, grão <strong>de</strong> bico, ervilha). A<br />

mistura das proteínas <strong>de</strong> alguns<br />

alimentos <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> vegetal (ex:<br />

arroz e feijão na proporção <strong>de</strong> 3:1)<br />

permite a formação <strong>de</strong> proteínas <strong>de</strong><br />

alto valor biológico.<br />

Vitaminas e sais minerais: frutas <strong>em</strong><br />

geral, hortaliças (legumes e verduras).<br />

Ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> verduras: couve, agrião,<br />

espinafre, repolho e <strong>de</strong> legumes:<br />

beterraba, cenoura, abóbora,<br />

mandioquinha, chuchu.<br />

10 anos 37<br />

38<br />

2<br />

77<br />

*TMB - Taxa Metabólica Basal.<br />

Current Concepts in Pediatric Critical Care - Society of Critical Care Medicine, 1999.<br />

Na elaboração da dieta é necessário l<strong>em</strong>brar que a mesma<br />

<strong>de</strong>ve ser composta por alimentos diversos, que forneçam<br />

diferentes tipos <strong>de</strong> nutrientes. A distribuição das calorias<br />

totais ten<strong>de</strong> a seguir as seguintes proporções <strong>de</strong><br />

macronutrientes: carboidratos (30 a 50%), lipí<strong>de</strong>os (30 a<br />

40%), proteínas (10 a 20%).<br />

Para cálculo da oferta energética estima-se que as crianças<br />

amamentadas, <strong>em</strong> média, recebam pelo leite materno <strong>de</strong><br />

6 a 9 meses 473 CAL/dia, dos 9 aos 11 meses e <strong>de</strong> 12 a<br />

23 meses 346 CAL/dia. O leite materno fornece 0,7 Cal/ml<br />

e os alimentos compl<strong>em</strong>entares <strong>de</strong>v<strong>em</strong> conter <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />

energética mínima <strong>de</strong> 0,7 CAL/g. Por esse motivo <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os<br />

evitar o termo sopa que sugeriria alimento diluído<br />

preferindo a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> papa, que sugere maior<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> energética.<br />

Ferro: é encontrado sob duas formas:<br />

48<br />

• h<strong>em</strong>e (boa biodisponibilida<strong>de</strong>):<br />

carnes e vísceras;<br />

• não h<strong>em</strong>e (baixa<br />

biodisponibilida<strong>de</strong>): leguminosas<br />

(feijão, soja, lentilha) e verduras <strong>de</strong> folha ver<strong>de</strong> escuro.<br />

A administração conjunta <strong>de</strong>sta forma com sucos (fontes<br />

<strong>de</strong> vitamina C) melhora o aproveitamento do ferro.<br />

Alimentação a partir dos seis meses <strong>de</strong> vida<br />

O Aleitamento Materno <strong>de</strong>ve continuar.<br />

As frutas po<strong>de</strong>m ser iniciadas sob a forma <strong>de</strong> sucos (uma<br />

vez ao dia) ou papas, s<strong>em</strong>pre às colheradas. As frutas não<br />

substituirão a mamada e serão inseridas nos intervalos.<br />

O tipo <strong>de</strong> fruta a ser oferecido terá <strong>de</strong> respeitar as<br />

características regionais, custo, estação do ano e presença<br />

<strong>de</strong> fibras, l<strong>em</strong>brando que nenhuma fruta é contraindicada.<br />

A seguir <strong>de</strong>stacamos os principais alimentos distribuídos<br />

como fontes:<br />

Carboidratos: cereais (arroz, milho, trigo, aveia),<br />

tubérculos (mandioca, cará, batata), e farinhas <strong>de</strong>rivadas.<br />

São todos fornecedores <strong>de</strong> calorias.<br />

Gorduras: óleos vegetais, margarina e manteiga. São<br />

igualmente importantes no fornecimento <strong>de</strong> energia.<br />

A partir dos seis meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, a criança começa a<br />

receber a sua primeira refeição <strong>de</strong> sal no horário habitual<br />

<strong>de</strong> almoço, po<strong>de</strong>ndo utilizar os mesmos alimentos da<br />

família, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que cont<strong>em</strong>ple os alimentos abaixo:<br />

(Anexo 2).<br />

• cereais e tubérculos;<br />

• leguminosas;<br />

10


• carne – 30 gramas (vaca, frango ou víscera, <strong>em</strong><br />

especial o fígado, peixes são recomendados a partir<br />

dos 11 meses);<br />

• hortaliças (verduras e legumes);<br />

• óleo vegetal;<br />

• sal e cebola, respeitando-se o t<strong>em</strong>pero habitual da casa<br />

(<strong>em</strong> menor quantida<strong>de</strong> e evitando-se condimentos fortes<br />

como pimenta, corantes, etc)<br />

Dá-se preferência às misturas múltiplas on<strong>de</strong> encontramos<br />

um tubérculo ou cereal associado a leguminosa,<br />

óleo vegetal, proteína <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> animal e hortaliça<br />

ou vegetal.<br />

O t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> cozimento <strong>de</strong>ve ser progressivamente<br />

aumentado <strong>de</strong> forma a diminuir, pela evaporação a<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água residual da papa, modificando assim,<br />

lentamente, a consistência da mesma e favorecendo<br />

melhor oferta calórica. Após o cozimento, os alimentos<br />

<strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser amassados com garfo, nunca utilizando-se<br />

o liquidificador.<br />

As tentativas para melhorar a aceitação das papas, como<br />

acréscimo <strong>de</strong> açúcar e leite, não <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser incentivadas,<br />

pois po<strong>de</strong>m prejudicar a adaptação da criança às<br />

modificações <strong>de</strong> sabor e consistência das dietas.<br />

A exposição freqüente facilita que alimentos novos sejam<br />

aceitos. Em média, são necessárias <strong>de</strong> 8 a 10 exposições a<br />

um novo alimento para que ele seja plenamente aceito<br />

pela criança.<br />

Deve-se iniciar a administração <strong>de</strong> ovo, inicialmente<br />

cozido. Consi<strong>de</strong>rar a existência <strong>de</strong> história familiar <strong>de</strong><br />

atopia quando da introdução da clara <strong>de</strong> ovo e outras<br />

proteínas potencialmente alergênicas. L<strong>em</strong>brar também,<br />

que a substituição do carne pelo ovo, po<strong>de</strong> ser indicada<br />

<strong>em</strong> termos <strong>de</strong> oferta protéica e lipídica, mas não <strong>em</strong><br />

relação ao ferro, uma vez que, a biodisponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse<br />

el<strong>em</strong>ento contido no ovo é pequena.<br />

Entre 7 e 8 meses <strong>de</strong>verá ser introduzida a segunda<br />

refeição <strong>de</strong> sal, sendo que a partir dos 8 meses po<strong>de</strong>m ser<br />

oferecidos os mesmos alimentos preparados para a família,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que amassados, picados ou cortados <strong>em</strong> pedaços<br />

pequenos, respeitando-se a evolução da criança.<br />

Uso <strong>de</strong> Fórmulas Infantis e Leite <strong>de</strong> Vaca<br />

A. Fórmulas Infantis:<br />

Na impossibilida<strong>de</strong> do aleitamento materno exclusivo<br />

recomenda-se o uso <strong>de</strong> fórmula infantil para lactente que<br />

consiste <strong>em</strong> produto <strong>em</strong> forma líquida ou pó, <strong>de</strong>stinado à<br />

alimentação <strong>de</strong> crianças, até o sexto mês, que satisfaz as<br />

necessida<strong>de</strong>s nutricionais <strong>de</strong>ste grupo etário (Portaria<br />

977/98 SVS/MS). A partir do sexto mês recomenda-se uma<br />

fórmula infantil para seguimento <strong>de</strong> lactentes.<br />

No entanto, algumas vantagens do leite materno <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />

ser <strong>de</strong>stacadas:<br />

• ácidos graxos polinsaturados <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia longa:<br />

a limitada capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> elongação do RN<br />

(principalmente pelo pr<strong>em</strong>aturo) dificulta a conversão<br />

dos AG linoléico e linolênico <strong>em</strong> aracdônico e<br />

docohexanóico (inexistentes nas fórmulas), consi<strong>de</strong>rados<br />

<strong>de</strong> fundamental importância para o processo <strong>de</strong><br />

mielinização e maturação do SNC e retina;<br />

• oligoel<strong>em</strong>entos: existe competição entre os<br />

oligoel<strong>em</strong>entos, visto que, são administrados na forma<br />

<strong>de</strong> sulfatos e no leite materno encontram-se ligados a<br />

aminoácidos;<br />

• imunoglobulinas e outros fatores <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa:<br />

inexistentes nas fórmulas;<br />

• nucleotí<strong>de</strong>os: compostos nitrogenados com provável<br />

efeito protetor contra processos infecciosos além <strong>de</strong> ação<br />

na integrida<strong>de</strong> da mucosa intestinal. São encontrados<br />

<strong>em</strong> proporções a<strong>de</strong>quadas somente no leite materno e<br />

algumas fórmulas infantis;<br />

• proteínas: as fórmulas apresentam proteínas com<br />

conhecido potencial alergênico (frações da caseína e<br />

beta-lactoglobulina) capazes <strong>de</strong> induzir à sensibilização e<br />

o aparecimento <strong>de</strong> manifestações clínicas <strong>de</strong><br />

hipersensibilida<strong>de</strong>, particularmente, se introduzidas nos<br />

três primeiros meses <strong>de</strong> vida;<br />

• lactose: algumas fórmulas apresentam a mesma<br />

proporção <strong>de</strong> lactose observada no leite materno,<br />

entretanto não contêm todos os fatores facilitadores para<br />

absorção <strong>de</strong>ste carboidrato.<br />

11


B. Leite <strong>de</strong> Vaca<br />

Em algumas situações, po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os estar lidando com<br />

crianças <strong>de</strong> muito baixa condição econômica, s<strong>em</strong> acesso<br />

às fórmulas e, nestes casos, não t<strong>em</strong>os outra solução, a<br />

não ser, a utilização do leite <strong>de</strong> vaca, não modificado,<br />

fluído ou <strong>em</strong> pó. Este <strong>de</strong>ve ser usado na proporção a<br />

dois terços ou a 10% (leite <strong>em</strong> pó) até os quatro meses,<br />

passando a integral s<strong>em</strong> diluição (fluído) ou 15% (leite<br />

<strong>em</strong> pó) a partir <strong>de</strong>sta ida<strong>de</strong>.<br />

Deve-se acrescentar até 5% <strong>de</strong> sacarose e 1% <strong>de</strong> óleo <strong>de</strong><br />

soja ou milho para as crianças abaixo <strong>de</strong> 4 meses,<br />

utilizando-se medidas caseiras padronizadas: leite <strong>em</strong> pó<br />

1 colher <strong>de</strong> sopa rasa = 5 g, Farinha 1 colher <strong>de</strong> sopa rasa<br />

= 3 g, Óleo vegetal = 1 colher <strong>de</strong> chá = 2 ml. Em crianças<br />

acima <strong>de</strong> 4 meses, a recomendação é o acréscimo <strong>de</strong> 3%<br />

<strong>de</strong> amido (fubá, aveia, cr<strong>em</strong>e <strong>de</strong> arroz, cr<strong>em</strong>e <strong>de</strong> milho),<br />

5% <strong>de</strong> sacarose e/ou 3% <strong>de</strong> óleo <strong>de</strong> milho ou soja.<br />

Importante ressaltar que não se <strong>de</strong>ve introduzir o glúten<br />

antes dos 4 meses <strong>de</strong> vida (pelo risco <strong>de</strong> sensibilização).<br />

A utilização do leite <strong>de</strong> vaca, como único alimento, por<br />

período prolongado e <strong>em</strong> larga escala, leva à<br />

ina<strong>de</strong>quação no fornecimento <strong>de</strong> nutrientes,<br />

principalmente ferro e vitaminas. Isso é confirmado pela<br />

alta prevalência <strong>de</strong> carências nutricionais e aparecimento<br />

<strong>de</strong> intolerâncias <strong>de</strong>vido às características morfológicas e<br />

funcionais do trato gastrintestinal <strong>de</strong> crianças abaixo <strong>de</strong><br />

quatro meses <strong>de</strong> vida. As limitações para indicação do<br />

leite <strong>de</strong> vaca segu<strong>em</strong> as já citadas para as fórmulas,<br />

acrescidas <strong>de</strong>:<br />

proteínas: a relação caseína/proteínas do soro é<br />

ina<strong>de</strong>quada, dificultando sua digestão e absorção.<br />

Apresenta um elevado potencial <strong>de</strong> alergenicida<strong>de</strong>. Além<br />

disso, a <strong>de</strong>sproporção na relação proteína/calorias não<br />

protéicas po<strong>de</strong> comprometer o ganho pon<strong>de</strong>ral;<br />

carga <strong>de</strong> soluto renal: fornece taxas elevadas <strong>de</strong> sódio.<br />

Os RN <strong>de</strong> baixo peso são os maiores prejudicados;<br />

oligoel<strong>em</strong>entos: são fornecidas quantida<strong>de</strong>s<br />

insuficientes <strong>de</strong> todos os oligoel<strong>em</strong>entos, <strong>de</strong>stacando-se o<br />

Ferro, com biodisponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apenas 10 % no leite<br />

<strong>de</strong> vaca;<br />

carboidratos: a sua quantida<strong>de</strong> é insuficiente, sendo<br />

necessário o acréscimo <strong>de</strong> outros açúcares como a<br />

sacarose com elevado po<strong>de</strong>r cariogênico;<br />

lipí<strong>de</strong>os: baixos teores <strong>de</strong> ácido linoléico (10 vezes inferior<br />

às fórmulas), sendo necessário acréscimo <strong>de</strong> óleo <strong>de</strong> milho<br />

para o atendimento das necessida<strong>de</strong>s do RN, para se<br />

aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s do RN <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> ácidos<br />

linoléicos, recomenda-se o uso <strong>de</strong> óleo <strong>de</strong> milho ou soja;<br />

vitaminas: baixo níveis <strong>de</strong> vitaminas A, D, E e C.<br />

Fica claro, no entanto, na preconização da alimentação<br />

infantil, que por mais que se tente, nenhum alimento<br />

substitui <strong>de</strong> maneira a<strong>de</strong>quada o leite materno.<br />

Em uso <strong>de</strong> fórmulas infantis a introdução <strong>de</strong> alimentos não<br />

lácteos seguirá a mesma preconização <strong>de</strong> crianças <strong>em</strong><br />

aleitamento materno. Para as crianças com leite <strong>de</strong> vaca<br />

recomenda-se a introdução <strong>de</strong> frutas sob a forma <strong>de</strong> suco<br />

à partir do terceiro mês <strong>de</strong> vida e introdução da papa <strong>de</strong><br />

legumes com carne aos 4 meses.<br />

Supl<strong>em</strong>entação<br />

Vitaminas<br />

A partir da terceira s<strong>em</strong>ana <strong>de</strong> vida para os recém-nascidos<br />

<strong>de</strong> termo, ou da primeira s<strong>em</strong>ana nos pré-termo, até os<br />

<strong>de</strong>zoito meses, a criança <strong>de</strong>ve receber vitamina D, 400 a<br />

800 UI por dia e vitamina A, 1500 a 2000 UI por dia.<br />

Utilizam-se soluções do mercado que respeit<strong>em</strong> estas<br />

proporções, evitando-se composições múltiplas com outras<br />

vitaminas que encarec<strong>em</strong> o produto, s<strong>em</strong> vantagens<br />

adicionais. Embora esta rotina possa ser questionada <strong>em</strong><br />

crianças com aleitamento materno ou uso <strong>de</strong> fórmulas<br />

infantis, b<strong>em</strong> como, <strong>em</strong> áreas com gran<strong>de</strong> insolação,<br />

aceita-se a mesma como válida pelas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

exposição direta ao sol <strong>de</strong> forma satisfatória (poluição,<br />

apartamentos, etc).<br />

Ferro<br />

A recomendação do Departamento <strong>de</strong> Nutrição da SPSP,<br />

quanto à supl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> ferro, é a seguinte:<br />

12


1. Recém-nascidos <strong>de</strong> termo, <strong>de</strong> peso a<strong>de</strong>quado para a<br />

ida<strong>de</strong> gestacional:<br />

<strong>em</strong> aleitamento materno:<br />

• do 6º ao 24º mês <strong>de</strong> vida 1 mg <strong>de</strong> ferro el<strong>em</strong>entar/<br />

kg peso/dia,<br />

<strong>em</strong> caso <strong>de</strong> leite <strong>de</strong> vaca:<br />

• a partir da interrupção do aleitamento materno<br />

exclusivo até o 24º mês <strong>de</strong> vida 1mg <strong>de</strong> ferro<br />

el<strong>em</strong>entar/kg peso/dia.<br />

2. Pr<strong>em</strong>aturos e recém-nascidos <strong>de</strong> baixo peso:<br />

• a partir do 30º dia <strong>de</strong> vida 2 mg/kg peso/dia<br />

durante 2 meses.<br />

• após este prazo, mesmo esqu<strong>em</strong>a dos recém-nascidos<br />

<strong>de</strong> termo, <strong>de</strong> peso a<strong>de</strong>quado para a ida<strong>de</strong> gestacional.<br />

Flúor<br />

Em cida<strong>de</strong>s que não dispõ<strong>em</strong> <strong>de</strong> fluoretação da água<br />

<strong>de</strong>ve-se administrar o flúor, a partir do décimo quinto dia<br />

<strong>de</strong> vida até os quinze anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> (fase <strong>de</strong><br />

odontogênese) na proporção <strong>de</strong> 0,25 mg <strong>de</strong> flúor<br />

el<strong>em</strong>entar até um ano, 0,50 mg <strong>de</strong> 1 a 3 anos e 1,0 mg<br />

após os 3 primeiros anos (dose diária). Ao se propor a<br />

supl<strong>em</strong>entação, <strong>de</strong>ve-se atentar para regiões com elevada<br />

prevalência <strong>de</strong> fluorose.<br />

A solução <strong>de</strong> fluoreto <strong>de</strong> sódio <strong>de</strong> 221 mg <strong>em</strong> 20 ml <strong>de</strong><br />

água <strong>de</strong>stilada fornece esta dose, se usada uma gota/dia<br />

no primeiro ano <strong>de</strong> vida, duas gotas <strong>de</strong> 1 a 3 anos e<br />

quatro gotas, a partir dos 3 anos.<br />

O flúor não <strong>de</strong>ve ser administrado junto com o leite ou<br />

outros alimentos, mas po<strong>de</strong> ser usado com o suco <strong>de</strong><br />

laranja.<br />

Alimentação no Segundo Ano <strong>de</strong> Vida<br />

As refeições <strong>de</strong> sal <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser s<strong>em</strong>elhantes às dos adultos.<br />

Todos os tipos <strong>de</strong> carnes (frango, vaca e peixe) po<strong>de</strong>m ser<br />

utilizadas, b<strong>em</strong> como, vísceras. Deve-se estimular o<br />

consumo <strong>de</strong> verduras, l<strong>em</strong>brando-se que aquelas <strong>de</strong> folha<br />

ver<strong>de</strong> escuro apresentam maior teor <strong>de</strong> ferro, cálcio e<br />

vitaminas. L<strong>em</strong>brar, também que quando associadas a<br />

sucos (vitamina C) po<strong>de</strong>m melhorar a biodisponibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ste el<strong>em</strong>ento.<br />

Oferecer, diariamente, saladas cruas ou cozidas <strong>de</strong> verduras<br />

e legumes. a princípio o criança se recusa, mas a<br />

insistência (s<strong>em</strong> brigas e discussões, apenas com incentivo)<br />

faz com que se habitue a ingerir esses alimentos.<br />

Deve-se evitar a utilização <strong>de</strong> alimentos artificiais e<br />

corantes, <strong>em</strong> especial os “salgadinhos”, garantindo <strong>de</strong>sta<br />

forma, hábitos alimentares saudáveis.<br />

Como sobr<strong>em</strong>esa, utilizar frutas locais e da época, geléias<br />

ou compotas, <strong>de</strong> preferência caseiras.<br />

Para o lanche, estimular a utilização <strong>de</strong> pão com manteiga,<br />

biscoitos, geléias e cereais, preferencialmente, fortificados<br />

com ferro e vitaminas.<br />

Uma ingestão média <strong>de</strong> 500 ml <strong>de</strong> leite <strong>de</strong>ve ser<br />

incentivada, e os <strong>de</strong>rivados (iogurtes, queijos) também são<br />

contabilizados.<br />

O ato <strong>de</strong> alimentar-se <strong>de</strong>ve ser respeitado, realizado <strong>em</strong><br />

ambiente calmo, tranqüilo e <strong>em</strong>ocionalmente neutro, s<strong>em</strong><br />

pressões, agradável e, s<strong>em</strong>pre que possível, <strong>em</strong> companhia<br />

<strong>de</strong> familiares e outras crianças.<br />

Alimentação a partir dos Três Anos <strong>de</strong> Vida<br />

Nesta ida<strong>de</strong>, a média <strong>de</strong> quatro refeições ao dia <strong>de</strong>ve ser<br />

preconizada com horários estabelecidos, respeitando-se,<br />

porém, circunstâncias atenuantes, s<strong>em</strong> rigi<strong>de</strong>z.<br />

A alimentação oferecida <strong>de</strong>ve ser a mesma utilizada pelos<br />

adultos, evitando-se o consumo <strong>de</strong> doces e refrigerantes<br />

nos intervalos das refeições. Incentivar o consumo <strong>de</strong><br />

alimentos ricos <strong>em</strong> ferro (carnes, vísceras, leguminosas e<br />

verduras) e os ricos <strong>em</strong> carboidratos, <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência do<br />

aumento nas ativida<strong>de</strong>s físicas.<br />

Nesta fase todas as orientações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser adaptadas aos<br />

hábitos e condições sócio-econômicas da família, evitandose<br />

gastos supérfluos e estimulando hábitos saudáveis.<br />

13


ANEXO 1<br />

TIPOS DE LEITES<br />

Com o intuito <strong>de</strong> esclarecer algumas dúvidas sobre os<br />

leites disponíveis no mercado, far<strong>em</strong>os uma breve<br />

apresentação:<br />

• leite tipo A: <strong>de</strong> excelente qualida<strong>de</strong> microbiológica,<br />

extraído por or<strong>de</strong>nha mecânica, sendo pasteurizado e<br />

<strong>em</strong>balado na própria fazenda, não sendo retirada<br />

nenhuma parte da gordura;<br />

• leite tipo B: <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>, porém a contag<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong> microorganismos atinge níveis mais elevados que<br />

no tipo A. Ele não é pasteurizado e n<strong>em</strong> <strong>em</strong>balado<br />

na própria fazenda, transcorrendo um maior<br />

intervalo <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po entre a or<strong>de</strong>nha e a<br />

pasteurização;<br />

• leite tipo C: é um leite <strong>de</strong> baixa qualida<strong>de</strong><br />

apresentado, inclusive modificação <strong>de</strong> sabor. A causa<br />

é a elevada concentração <strong>de</strong> bactérias antes <strong>de</strong> sua<br />

pasteurização, pois ele, geralmente é entregue na<br />

plataforma <strong>de</strong> laticínios <strong>em</strong> t<strong>em</strong>peratura ambiente;<br />

• leite longa vida (UHT - ultra high t<strong>em</strong>perature):<br />

é um leite homogeneizado, processado a elevadas<br />

t<strong>em</strong>peraturas, <strong>de</strong> 135 a 150ºC por 2 a 4 segundos e<br />

imediatamente resfriado (ultra-pasteurização), s<strong>em</strong><br />

adição <strong>de</strong> outras substâncias, tais como: antibióticos<br />

ou formol. O resultado é a <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> todos os<br />

microorganismos que possam <strong>de</strong>senvolver-se nesse<br />

alimento. Após o processamento, ele é<br />

acondicionado <strong>em</strong> <strong>em</strong>balagens estéreis;<br />

• leite <strong>em</strong> pó não modificado: é produzido a partir<br />

do leite pasteurizado e concentrado até obter um<br />

produto com 40 a 55% <strong>de</strong> matéria seca. Uma<br />

<strong>de</strong>svantag<strong>em</strong> que o leite <strong>em</strong> pó apresenta é a reação<br />

<strong>de</strong> Mailard que ocorre entre a lactose e o aminoácido<br />

lisina. O resultado é a diminuição da digestibilida<strong>de</strong><br />

das proteínas e a menor quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lisina<br />

disponível.<br />

ANEXO 2<br />

EXEMPLO DE PREPARAÇÃO DE PAPA DE LEGUMES<br />

COM CARNE<br />

PAPA DE LEGUMES COM CARNE<br />

Ingredientes:<br />

batata – 1 unida<strong>de</strong> média<br />

cenoura – 1/2 unida<strong>de</strong> média<br />

chuchu – 1/2 unida<strong>de</strong> média<br />

couve – 1 folha<br />

carne moída – 30 g<br />

cebola, alho<br />

óleo vegetal – 1 colher das <strong>de</strong> sobr<strong>em</strong>esa<br />

Modo <strong>de</strong> fazer:<br />

Lavar, <strong>de</strong>scascar e picar os legumes e tubérculo.<br />

Refogar o alho e cebola. Acrescentar a carne e refogar<br />

ligeiramente.<br />

Colocar os outros alimentos, acrescentando água<br />

suficiente para cobri-los<br />

Deixar cozinhando até que fiqu<strong>em</strong> macios.<br />

Colocar uma pitada <strong>de</strong> sal.<br />

Modo <strong>de</strong> administrar:<br />

Colocar uma concha <strong>em</strong> um prato e amassar b<strong>em</strong> com<br />

um garfo.<br />

Oferecer à criança <strong>em</strong> pequenas colheradas.<br />

Incentivá-la para comer a papa.<br />

Informações nutricionais:<br />

Esta papa salgada oferece:<br />

Energia: 284 kcal<br />

Proteínas: 9,6 g<br />

Ferro: 2,8 mg (sendo 0,9 mg <strong>de</strong> ferro h<strong>em</strong>e)<br />

14


Volume 2 - Ano 2004<br />

t<strong>em</strong>as<br />

<strong>de</strong> nutrição <strong>em</strong> <strong>pediatria</strong><br />

Publicação elaborada pelo Departamento <strong>de</strong><br />

Nutrição da Socieda<strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>


IMUNOMODULAÇÃO<br />

Relatora: Roseli Saccardo Sarni<br />

Introdução<br />

Em 1989 foi introduzido na literatura o termo nutracêuticos utilizado para<br />

substâncias contidas <strong>em</strong> alguns alimentos capazes <strong>de</strong> promover benefícios<br />

incluíndo a prevenção <strong>de</strong> doenças, assim como atuando como coadjuvantes<br />

no seu tratamento.<br />

Í N D I C E<br />

Imunomodulação<br />

Evidências <strong>de</strong> literatura têm apontado para a existência <strong>de</strong> vários<br />

nutracêuticos com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> modificar a resposta imune e por essa<br />

razão, <strong>de</strong>nominados imunomoduladores.<br />

Nesta seção abordar<strong>em</strong>os alguns nutrientes com função imunomoduladora,<br />

tais como: glutamina, arginina, nucleotí<strong>de</strong>os, ácidos graxos ômega 3, zinco,<br />

cromo e selênio.<br />

Glutamina<br />

Arginina<br />

pág 16<br />

pág 19<br />

Glutamina<br />

A glutamina é o aminoácido livre mais abundante no organismo. No plasma<br />

atinge níveis quatro a cinco vezes superior ao <strong>de</strong> outros aminoácidos, exceto<br />

alanina e valina. No “pool” <strong>de</strong> aminoácidos livres do músculo esquelético,<br />

glutamina e taurina são os mais frequentes.<br />

Omega-3<br />

Zinco<br />

Cromo<br />

Selênio<br />

Nucleotí<strong>de</strong>os<br />

pág 24<br />

pág 28<br />

pág 32<br />

pág 34<br />

pág 40<br />

FUNÇÕES E METABOLISMO:<br />

• precursor da síntese protéica;<br />

• intermediário <strong>de</strong> vias metabólicas da síntese protéica;<br />

• doador <strong>de</strong> nitrogênio para a síntese <strong>de</strong> purinas, pirimidinas e nucleotí<strong>de</strong>os;<br />

• precursor para a síntese <strong>de</strong> glutationa (antioxidante exógeno);<br />

• fonte energética preferencial para células <strong>de</strong> rápida proliferação (enterócitos<br />

e células do sist<strong>em</strong>a imune);<br />

• regulação do equilíbrio ácido-básico pois é o mais importante substrato<br />

para a amoniagênese renal;<br />

• transportador <strong>de</strong> nitrogênio e carbono para os diversos tecidos;<br />

• substrato para a gliconeogênese e ureagênese hepáticas;<br />

• regulador da homeostase <strong>de</strong> aminoácidos participando <strong>de</strong> reações <strong>de</strong><br />

transaminação<br />

16


A glutamina não é consi<strong>de</strong>rada um aminoácido essencial,<br />

uma vez que, po<strong>de</strong> ser sintetizada no corpo humano a<br />

partir <strong>de</strong> outros aminoácidos. Em situações <strong>de</strong><br />

hipercatabolismo (cirurgia, trauma e sepse) os níveis <strong>de</strong><br />

glutamina no músculo esquelético ca<strong>em</strong> rapidamente.<br />

Nestas situações a glutamina passa a ser consi<strong>de</strong>rada como<br />

condicionalmente essencial.<br />

Este aminoácido po<strong>de</strong> prover energia à célula por<br />

oxidação parcial gerando lactato ou total com produção <strong>de</strong><br />

CO2. Duas enzimas intra-celulares estão envolvidas no<br />

metabolismo da glutamina: glutaminase (mitocondrial)<br />

que catalisa sua hidrólise para glutamato e amônia e a<br />

glutamina sintetase (citosol) que catalisa a síntese <strong>de</strong><br />

glutamina a partir <strong>de</strong> glutamato e amônia.<br />

Muitos tecidos são “consumidores” <strong>de</strong> glutamina e contém<br />

gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> glutaminase (mucosa intestinal,<br />

linfócitos e células tubulares renais) outros tecidos são<br />

“produtores” por sua alta ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> glutamina sintetase<br />

(células do músculo esquelético, neurônios e algumas<br />

células do pulmão). O fígado po<strong>de</strong> atuar das duas formas<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da <strong>de</strong>manda extra-hepática.<br />

Esta liberação <strong>de</strong> glutamina do músculo, modulada por<br />

hormônios glicocorticói<strong>de</strong>s, associada ao aumento <strong>de</strong> sua<br />

produção <strong>em</strong> fases iniciais do estresse permite a atuação<br />

<strong>de</strong>ste aminoácido como substrato energético para células<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa (monócitos, linfócitos e macrófagos), enterócitos<br />

e ainda, sua reutilização na geração <strong>de</strong> glicose<br />

(neoglicogênese hepática ou renal). Seu <strong>de</strong>rivado<br />

mononitrogenado o glutamato é constituinte do glutation,<br />

principal componente antioxidante do citosol.<br />

MODO DE ATUAÇÃO – FUNÇÃO<br />

IMUNOMODULADORA<br />

A glutamina estimula preferencialmente o linfócito auxiliar<br />

T1, que respon<strong>de</strong> com a produção <strong>de</strong> interleucina 2, ativa<br />

os macrófagos e incr<strong>em</strong>enta a imunida<strong>de</strong> mediada por<br />

células contra microorganismos e células tumorais.<br />

Em adultos grav<strong>em</strong>ente doentes, na concentração <strong>de</strong> 25 g<br />

<strong>de</strong> glutamina por litro da solução <strong>de</strong> nutrição parenteral,<br />

verificou-se redução significativa na mortalida<strong>de</strong> e t<strong>em</strong>po<br />

<strong>de</strong> permanêcia <strong>em</strong> unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terapia intensiva.<br />

Em estudo realizado com crianças e adolescentes com<br />

queimaduras afetando entre 32 e 84 % da superfície<br />

corpórea total observou-se “in vitro” que na presença <strong>de</strong><br />

glutamina ocorria aumento na função bactericida <strong>de</strong><br />

neutrófilos, s<strong>em</strong> alteração na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fagocitose.<br />

Em pr<strong>em</strong>aturos <strong>de</strong> muito baixo peso, Neu e cols, 1997,<br />

verificaram que a utilização <strong>de</strong> glutamina (0,3 mg/kg/<br />

dia) por via enteral levou a aumento nas células natural<br />

killer com melhora na tolerância à dieta por via<br />

digestiva e menor morbida<strong>de</strong>.<br />

Lacey e cols 1996 verificaram que a utilização <strong>de</strong><br />

glutamina por via parenteral <strong>em</strong> 44 pr<strong>em</strong>aturos<br />

<strong>de</strong>terminou, <strong>em</strong> crianças com peso <strong>de</strong> nascimento<br />

inferior a 800 g, menor duração da nutrição parenteral<br />

total e t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> ventilação mecânica o que não foi<br />

verificado nos recém-nascidos com peso ao nascer ><br />

800 g. Neste estudo não foi observada diferença na<br />

ocorrência <strong>de</strong> processos infecciosos entre os grupos.<br />

Em metanálise recent<strong>em</strong>ente realizada envolvendo três<br />

estudos com supl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> glutamina enteral e<br />

parenteral, <strong>em</strong> recém-nascidos pr<strong>em</strong>aturos, não se<br />

comprovou benefícios na morbida<strong>de</strong>, duração do<br />

suporte nutricional, ganho <strong>de</strong> peso e t<strong>em</strong>po <strong>de</strong><br />

hospitalização. (Tubman e cols 2000).<br />

Outra função imunomoduladora da glutamina está<br />

ligada à manutenção da integrida<strong>de</strong> da mucosa<br />

intestinal que po<strong>de</strong> favorecer, <strong>em</strong> especial <strong>em</strong> pacientes<br />

criticamente doentes a fenômenos <strong>de</strong> translocação<br />

bacteriana. da mucosa e melhorando a absorção <strong>de</strong><br />

água e monossacári<strong>de</strong>s. Em pacientes sépticos por<br />

redução da glutaminase, o intestino po<strong>de</strong> captar<br />

menores quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> glutamina favorecendo<br />

translocação bacteriana. O uso <strong>de</strong> NPT contendo<br />

glutamina associada à radio ou quimioterapia reduz os<br />

riscos <strong>de</strong> infecção por translocação.<br />

Recomendações<br />

A glutamina parenteral é administrada na forma <strong>de</strong> um<br />

dipeptí<strong>de</strong>o, glicil-glutamina ou alanil-glutamina, <strong>em</strong><br />

frascos <strong>de</strong> 50 ml (cada 100 ml da solução contém 20 g<br />

<strong>de</strong> alanil glutamina) contendo 13,46 g <strong>de</strong> glutamina<br />

17


pura. Recomenda-se que a taxa <strong>de</strong> infusão não exceda<br />

0,1 g <strong>de</strong> aminoácidos/kg <strong>de</strong> peso corporal por hora.<br />

A glutamina po<strong>de</strong> ainda ser administrada na forma<br />

<strong>de</strong> seus precursores: ornitina alfa- cetoglutarato ou<br />

alfa-cetoglutarato.<br />

Os dipeptí<strong>de</strong>os apresentam as seguintes vantagens <strong>em</strong><br />

relação ao aminoácido: maior estabilida<strong>de</strong> química, não se<br />

<strong>de</strong>compondo durante o armazenamento ou manipulação;<br />

rápida absorção e excelente solubilida<strong>de</strong>. A gran<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>svantag<strong>em</strong>, <strong>em</strong> nosso meio, é o alto custo.<br />

Em dietas enterais aparece <strong>em</strong> baixas concentrações<br />

oscilando entre 10 a 14% do total protéico, exceto <strong>em</strong><br />

fórmulas específicas, chamadas imunomoduladoras com<br />

19% do total <strong>de</strong> proteínas na forma <strong>de</strong> glutamina on<strong>de</strong><br />

v<strong>em</strong> associada a outros nutrientes com esta finalida<strong>de</strong> o<br />

que dificulta a avaliação da ação benéfica isolada da<br />

glutamina. A adição <strong>em</strong> dietas enterais po<strong>de</strong> ser feita na<br />

forma <strong>de</strong> aminoácido isolado ou como ornitina alfacetoglutarato.<br />

Recém-nascidos e crianças<br />

• pr<strong>em</strong>aturos:<br />

não ultrapassar 20 % do requerimento protéico<br />

• nutrição enteral e parenteral:<br />

0,57 g/kg peso corporal/dia<br />

A glutamina não <strong>de</strong>ve ser utilizada <strong>em</strong> pacientes com<br />

insuficiência renal ou hepática graves, sendo necessária a<br />

monitorização da função hepática e do equilíbrio ácidobásico<br />

durante sua utilização. Há poucos estudos avaliando<br />

a toxicida<strong>de</strong> da glutamina.<br />

Consi<strong>de</strong>rações finais<br />

Estudos experimentais e clínicos têm evi<strong>de</strong>nciado a<br />

importância da glutamina, entretanto, tais estudos são<br />

mais frequentes <strong>em</strong> pacientes adultos o que nos faz<br />

recomendar que a utilização <strong>de</strong> glutamina com indicação<br />

na imunomodulação <strong>em</strong> recém-nascidos e crianças <strong>de</strong>va<br />

aguardar futuras avaliações.<br />

Bibliografia consultada<br />

Savy GK. Enteral glutamine suppl<strong>em</strong>entation: clinical review and<br />

practical gui<strong>de</strong>lines. NCP 1997;12:256-62.<br />

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Rev 2000; 2:CD001457.<br />

18


Arginina<br />

Relator: Luiz An<strong>de</strong>rson Lopes<br />

DEFINIÇÃO<br />

Aminoácido não essencial, <strong>de</strong> síntese endógena, que<br />

junto a ornitina e a citrulina estão envolvidos na síntese<br />

da uréia no fígado.<br />

As quantida<strong>de</strong>s produzidas <strong>de</strong> arginina são suficientes<br />

para manter a massa <strong>de</strong> tecido conectivo e muscular,<br />

exceto nas situações <strong>de</strong> estresse, sepses e trauma,<br />

quando o estado hipercatabólico <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado faz<br />

com que a arginina passe a ser consi<strong>de</strong>rada como<br />

aminoácido essencial para a manutenção do balanço<br />

nitrogenado positivo<br />

DEFICIÊNCIA DA ENZIMA DE CONVERSÃO<br />

Em conseqüência da <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> arginase foi<br />

<strong>de</strong>scrita síndrome caracterizada por hiperamoni<strong>em</strong>ia,<br />

diplegia espástica, convulsões e retardo mental grave<br />

<strong>em</strong> duas irmãs com <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta<br />

enzima.<br />

Os pais <strong>de</strong>stas crianças também apresentavam<br />

ativida<strong>de</strong> abaixo do normal da arginase, porém s<strong>em</strong> os<br />

sinais <strong>de</strong>scritos acima, sendo provavelmente<br />

heterozigotos para o traço genético.<br />

Nesta síndrome, <strong>em</strong>bora a excreção urinária <strong>de</strong> outros<br />

aminoácidos dibásicos como a lisina e a cistina tenham<br />

diminuído com a recomendação <strong>de</strong> dieta <strong>de</strong> baixo teor<br />

protéico, a arginin<strong>em</strong>ia persistiu.<br />

O controle regulador exercido por repressão e inibição<br />

da carbamil-fosfato-sintetase mitocondrial é<br />

balanceado pela ação da ornitina (efetor positivo),<br />

modificando cada uma das fases metabólicas que vão<br />

do glutamanto à ornitina e/ou também pela inibição<br />

da síntese <strong>de</strong> citrulina.<br />

A arginina já foi utilizada nos casos <strong>de</strong> intoxicação por<br />

amônia pois é um precursor da ornitina no ciclo<br />

hepático da uréia.<br />

ARGININA E ÓXIDO NÍTRICO<br />

O óxido nítrico é um radical livre formando pela<br />

oxidação do grupo terminal guanidino da L-arginina<br />

por meio <strong>de</strong> uma reação enzimática envolvendo a<br />

“óxido nítrico sintase”, sendo um dos principais<br />

mediadores envolvidos na patogenia das doenças<br />

inflamatórias.<br />

Esta característica po<strong>de</strong> ser explicada, parcialmente,<br />

pela capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> modular as vias intracelulares <strong>de</strong><br />

sinalização e <strong>de</strong> ativação do fator nuclear <strong>de</strong>nominado<br />

kB (NF-kB) por meio <strong>de</strong> uma família <strong>de</strong> fatores <strong>de</strong><br />

transcrição que regulam a expressão <strong>de</strong> diferentes<br />

genes envolvidos com a inflamação.<br />

Estudos “in-vitro” mostram que o óxido nítrico po<strong>de</strong><br />

tanto suprimir quanto acelerar os processos<br />

envolvendo a ativação do NF-kB, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do tipo<br />

celular e do fator estimulante.<br />

O óxido nítrico t<strong>em</strong> efeito inibitório da ativação do NFkB<br />

induzida por citoquinas e lipopolissacari<strong>de</strong>s nos<br />

macrófagos, nas células mesangiais, endoteliais e da<br />

musculatura lisa vascular.<br />

Por outro lado, t<strong>em</strong> efeito sinérgico sobre a ativação<br />

do NF-kB nos linfócitos e nas células malignas<br />

<strong>de</strong>rivadas do sist<strong>em</strong>a nervoso.<br />

O óxido nítrico produzido no endotélio vascular age<br />

como um potente vasodilatador, além <strong>de</strong> inibir<br />

importantes processos envolvidos com a aterosclerose,<br />

tais como a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> monócitos, agregação <strong>de</strong><br />

plaquetas e a proliferação das células do endotélio<br />

vascular.<br />

19


A síntese <strong>de</strong> óxido nítrico po<strong>de</strong> ser seletivamente inibida<br />

por análogos que substitu<strong>em</strong> o grupo guanidino na<br />

molécula <strong>de</strong> L-arginina tais com o N-monometil-L-arginina<br />

e a dimetilarginina assimétrica (ADMA) que ag<strong>em</strong> por<br />

competição e antagonismo no sítio <strong>de</strong> ação da enzima<br />

óxido nítrico sintase.<br />

Níveis elevados <strong>de</strong> ADMA implicam <strong>em</strong> diminuição da<br />

secreção <strong>de</strong> óxido nítrico vascular na presença <strong>de</strong> L-arginina<br />

(mo<strong>de</strong>los isolados <strong>de</strong> vasos sangüíneos, <strong>de</strong> macrófagos e<br />

<strong>de</strong> células endoteliais).<br />

Também são referidos níveis elevados <strong>de</strong> ADMA <strong>em</strong><br />

indivíduos com hipercolesterol<strong>em</strong>ia e aterosclerose, o que<br />

sugere que mecanismos que diminu<strong>em</strong> a <strong>de</strong>gradação da<br />

ADMA po<strong>de</strong>m ter importante papel na fisiopatologia<br />

<strong>de</strong>stas doenças.<br />

A adição <strong>de</strong> LDL oxidado ou <strong>de</strong> fator <strong>de</strong> necrose tumoral<br />

ao meio <strong>de</strong> cultura <strong>de</strong> células endoteliais das veias<br />

umbilicais aumentou significativamente a concentração <strong>de</strong><br />

ADMA. Estes resultados suger<strong>em</strong> que a disfunção vascular<br />

(diminuição da vasodilatação) observada na<br />

hipercolesterol<strong>em</strong>ia possa ser mediada pela diminuição da<br />

<strong>de</strong>gradação da ADMA.<br />

Estudos recentes <strong>de</strong>monstraram que <strong>em</strong> pacientes com<br />

hipertensão essencial a oferta dietética <strong>de</strong> sal aumenta a<br />

relação Nitrito/Nitrato. Esta modificação da relação<br />

Nitrito/Nitrato plamástico está inversamente relacionada<br />

com a pressão arterial e a concentração plasmática <strong>de</strong><br />

ADMA, na <strong>de</strong>pendência da restrição ou da oferta <strong>de</strong> sal.<br />

Deste modo a síntese <strong>de</strong> óxido nítrico po<strong>de</strong> estar envolvida<br />

na sensibilida<strong>de</strong> a ingestão <strong>de</strong> sal na hipertensão arterial<br />

humana, provavelmente <strong>de</strong>vido a modificações na<br />

concentração <strong>de</strong> ADMA.<br />

Por outro lado, a existência <strong>de</strong> fatores <strong>de</strong> risco tais como a<br />

hipertensão e a hipercolesterol<strong>em</strong>ia diminu<strong>em</strong> a<br />

biodisponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> óxido nítrico produzido no epitélio<br />

vascular e diminu<strong>em</strong>, <strong>em</strong> animais <strong>de</strong> experimentação, o<br />

mecanismo <strong>de</strong> vasodilatação.<br />

A ADMA quando cronicamente elevada, po<strong>de</strong> induzir<br />

efeito pró-aterogênico também <strong>em</strong> homens; nestes casos a<br />

concentração <strong>de</strong> ADMA po<strong>de</strong> estar superior a duas a três<br />

vezes a esperada.<br />

Também <strong>em</strong> pacientes jovens e assintomáticos que<br />

apresentavam hipercolesterol<strong>em</strong>ia a concentração <strong>de</strong><br />

ADMA estava aumentada <strong>em</strong> duas vezes o esperado e<br />

esteve correlacionada, <strong>de</strong> forma significativa, com a ida<strong>de</strong>,<br />

a pressão arterial média e com a tolerância à glicose.<br />

Por último, a análise <strong>de</strong> regressão <strong>de</strong>monstrou correlação<br />

entre os níveis <strong>de</strong> ADMA e <strong>de</strong> homocisteína plasmática,<br />

envolvendo este componente e seus antagonistas na<br />

fisiopatologia do envelhecimento.<br />

ARGININA E IMUNODEFICIÊNCIA<br />

CULEBRAS-FERNANDEZ et al, (1) ressaltam a importância<br />

do estado nutricional sobre o sist<strong>em</strong>a imunológico dos<br />

seres humanos, principalmente aqueles submetidos a<br />

intervenção cirúrgica. Estes autores <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> que a oferta<br />

<strong>de</strong> dietas enriquecidas nos períodos pré e pós operatório,<br />

po<strong>de</strong>m reduzir o número e a gravida<strong>de</strong> das complicações.<br />

Dentre as substâncias citadas, encontram-se o omega-3, a<br />

glutamina e a arginina.<br />

A supl<strong>em</strong>entação nutricional com arginina, por via enteral,<br />

<strong>de</strong> indivíduos submetidos a trauma cirúrgico, queimados<br />

ou portadores <strong>de</strong> neoplasia maligna implicou <strong>em</strong> aumento<br />

dos linfócitos “T” e melhora da imunida<strong>de</strong> celular (2)<br />

Em pacientes portadores da “Síndrome da<br />

Imuno<strong>de</strong>ficiência Adquirida” a supl<strong>em</strong>entação alimentar<br />

com arginina (20 g/dia) implicou <strong>em</strong> aumento da ativida<strong>de</strong><br />

mitogênica dos linfócitos (2) .<br />

RISO et al (3) , estudando pacientes com câncer (cabeça e<br />

pescoço) submetidos a dieta enteral supl<strong>em</strong>entada com<br />

arginina, <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> que os parâmetros imunológicos<br />

analisados (CD3, CD4, CD8, a relação CD4/CD8, contag<strong>em</strong><br />

total <strong>de</strong> linfócitos e das imunoglobulinas) além da<br />

dosag<strong>em</strong> <strong>de</strong> albumina, pré-albumina e transferrina,<br />

mostraram diferenças significantes quando comparou-se<br />

grupos <strong>de</strong> clientes operados s<strong>em</strong> <strong>de</strong>snutrição. Esta<br />

diferença foi ainda maior entre aqueles que receberam<br />

dietas supl<strong>em</strong>entadas com arginina e eram <strong>de</strong>snutridos.<br />

Deste modo, os autores conclu<strong>em</strong> que a supl<strong>em</strong>entação<br />

com arginina implicou <strong>em</strong> melhora da resposta<br />

imunológica com diminuição do t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> internação e da<br />

20


freqüência <strong>de</strong> complicações cirúrgicas entre os pacientes<br />

estudados.<br />

Parte <strong>de</strong>sta melhora se <strong>de</strong>ve às implicações sobre a<br />

resposta inflamatória ao agravo, caracterizando o que foi<br />

<strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> síndrome da resposta inflamatória<br />

sistêmica (1) .<br />

HAYASHI et al. (3) estudando os efeitos da L-arginina sobre o<br />

mecanismo <strong>de</strong> aumento da permeabilida<strong>de</strong> vascular e o<br />

prurido <strong>em</strong> animais <strong>de</strong> experimentação, <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> que<br />

esta substância foi capaz <strong>de</strong> induzir tanto o aumento da<br />

permeabilida<strong>de</strong> vascular como o prurido, sendo que o<br />

efeito sobre este último sinal ocorria mesmo <strong>em</strong> animais<br />

imuno<strong>de</strong>ficientes.<br />

TSUEI et al (4) estudando a participação da arginase no<br />

metabolismo <strong>de</strong> arginina (envolvida com a resposta imune<br />

ao trauma cirúrgico), <strong>de</strong>monstram que a ativida<strong>de</strong> da<br />

arginase medida nas células mononucleares do sangue,<br />

aumenta já nas primeiras 6 horas após a cirurgia e<br />

coinci<strong>de</strong>m com o aumento da expressão da arginase I. A<br />

concentração dos resíduos metabólicos do óxido nítrico<br />

(ON) diminuíram <strong>de</strong> modo significante, <strong>de</strong> modo que os<br />

autores conclu<strong>em</strong> que o aumento da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> arginase<br />

po<strong>de</strong> interferir nas características imunológicas da resposta<br />

à cirurgia e que a interleucina 10 (IL-10) po<strong>de</strong> modular a<br />

resposta da arginase.<br />

A L-arginina é o substrato para a síntese <strong>de</strong> óxido nítrico<br />

(ON) pelas células endoteliais e po<strong>de</strong>, também, estar<br />

envolvida no mecanismo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> hiperhomocistein<strong>em</strong>ia.<br />

Quando <strong>em</strong> quantida<strong>de</strong>s diminuídas <strong>de</strong><br />

L-arginina, o ON se conjuga com o oxigênio para formar<br />

radicais superóxido, que irão lesar ainda mais o endotélio<br />

vascular.<br />

JIN et al. (5) estudando a correlação entre este 3 fatores,<br />

<strong>de</strong>screv<strong>em</strong> que a administração <strong>de</strong> homocisteína a culturas<br />

<strong>de</strong> células endoteliais <strong>de</strong> aorta bovina reduziu a captação<br />

<strong>de</strong> L-arginina <strong>em</strong> 27% e os níveis celulares da proteína<br />

carreadora <strong>de</strong> L-arginina <strong>em</strong> 30%; <strong>de</strong>ste modo a<br />

homocisteína ao reduzir a capitação <strong>de</strong> L-arginina po<strong>de</strong><br />

alterar a permeabilida<strong>de</strong> vascular <strong>de</strong>vido a maior<br />

produção <strong>de</strong> radicais oxigênio e superóxido que<br />

potencializam o grau <strong>de</strong> lesão oxidativa.<br />

VELARDEZ et al. (6) <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> que o ON também afeta a<br />

ativida<strong>de</strong> da ciclooxigenase e da lipooxigenase <strong>em</strong><br />

diversos tecidos, po<strong>de</strong>ndo diminuir a ativida<strong>de</strong> da<br />

lipooxigenase e aumentar a da ciclooxigenase,<br />

comprometendo a liberação <strong>de</strong> hormônios da hipófise<br />

anterior, efeitos estes que po<strong>de</strong>m ser inibidos pela<br />

administração <strong>de</strong> L-arginina.<br />

A produção <strong>de</strong> ON pelos macrófagos ativados po<strong>de</strong><br />

exercer função no controle da infecção causada por<br />

micobacterias.<br />

PETEROY-KELLY et al. (7) <strong>de</strong>monstraram que a infecção por<br />

mycobacterium bovis, assim como o uso <strong>de</strong> interferon gama,<br />

aumentam a captação celular <strong>de</strong> L-arginina e a produção<br />

<strong>de</strong> ON. Esta resposta po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>vida a modificações do<br />

transportador <strong>de</strong> L-arginina e não apenas ao aumento da<br />

permeabilida<strong>de</strong> celular a esta substância.<br />

TOUSOULIS et al (8) estudando o efeito da administração <strong>de</strong><br />

L-arginina e <strong>de</strong> D-arginina <strong>em</strong> 24 pacientes portadores <strong>de</strong><br />

doença coronariana obstrutiva, <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> que a infusão<br />

intra-coronariana <strong>de</strong> L-arginina (50 micromol/min) implicou<br />

<strong>em</strong> dilatação superior a 10 % tanto nos casos <strong>de</strong> obstrução<br />

leve como nos <strong>de</strong> obstrução complexa; a magnitu<strong>de</strong> da<br />

dilatação foi maior nos casos <strong>de</strong> estenose complexa e o<br />

efeito dilatador foi proporcional à gravida<strong>de</strong> da obstrução.<br />

Contudo, igual efeito não foi notado quando se<br />

administrou D-arginina, concluindo que o efeito <strong>de</strong>scrito<br />

correlaciona-se com a <strong>de</strong>ficiência parcial do substrato para<br />

a síntese <strong>de</strong> ON, da <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> L-arginina e da<br />

característica do complexo ateromatoso.<br />

SUEMATSU et. al. (9) estudando o mecanismo cardioprotetor<br />

da L-arginina <strong>em</strong> mo<strong>de</strong>los experimentais (ratos) <strong>de</strong><br />

infarto do miocárdio, questionam o efeito isolado da<br />

administração <strong>de</strong>ste aminoácido, tanto sobre a<br />

recuperação funcional pós-isquêmica como na diminuição<br />

da área infartada.<br />

Contudo, <strong>em</strong> outro mo<strong>de</strong>lo experimental, JU et. al (10)<br />

<strong>de</strong>monstram que o aumento dos níveis <strong>de</strong> ON,<br />

conseqüente a maior oferta <strong>de</strong> L-arginina, foi essencial para<br />

a sobrevivência das células endoteliais da retina <strong>de</strong> ratos<br />

submetidas a isqu<strong>em</strong>ia transitória.<br />

OHTA & NISHIDA (11) estudando o efeito protetor da<br />

21


administração <strong>de</strong> arginina sobre as lesões da mucosa<br />

gástrica submetidos a estresse, refer<strong>em</strong> que este efeito é<br />

notado com a forma “L” (150-600 mg/Kg) e não com a<br />

forma “D” (600 mg/Kg) da arginina. Também associam o<br />

efeito preventivo das lesões gástricas, induzidas pelo<br />

estresse, ao mecanismo <strong>de</strong> inibição da infiltração<br />

neutrofílica mediado pelo óxido nítrico.<br />

Outras situações nas quais mecanismos imunológicos<br />

po<strong>de</strong>m estar envolvidos foram investigadas.<br />

KOTARU et. al. (12) estudando o mecanismo broncoconstritor<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado pela t<strong>em</strong>peratura, <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> que<br />

o ON produzido pelas células da árvore brônquica, têm<br />

importante papel no <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento da asma induzida<br />

pelo frio.<br />

PIATTI et al. (13) estudando os efeitos da administração <strong>de</strong><br />

L-arginina sobre a resposta periférica e hepática à insulina,<br />

<strong>em</strong> pacientes diabéticos (Tipo II), não obesos, que<br />

receberam L-arginina (3g <strong>de</strong> 8/8 hs) durante 3 meses,<br />

conclu<strong>em</strong> que a supl<strong>em</strong>entação dietética com este<br />

aminoácido melhorou estas duas variáveis, mas foi<br />

insuficiente para normalizar a condição.<br />

D’ANIELLO, TOLINO, FISHER (14) estudando 12 gestantes<br />

com Doença Hipertensiva da Gravi<strong>de</strong>z (Pré-eclâmpsia),<br />

com ida<strong>de</strong>s cronológicas variando entre 28 e 35 anos e<br />

ida<strong>de</strong> gestacional entre 35 e 36 s<strong>em</strong>anas, analisaram a<br />

concentração sangüínea <strong>de</strong> aminoácidos e compararam<br />

com a <strong>de</strong> gestantes controle. Entre aquelas portadoras da<br />

doença, os níveis <strong>de</strong> L-arginina estavam acentuadamente<br />

mais baixos (cerca <strong>de</strong> 5 vezes; P< 0,01) do que as não<br />

doentes. Estes autores conclu<strong>em</strong> que a <strong>de</strong>terminação dos<br />

níveis <strong>de</strong> L-arginina durante a gravi<strong>de</strong>z po<strong>de</strong>m,<br />

potencialmente, constituir um marcador adicional para o<br />

diagnóstico precoce da condição.<br />

Contudo, a supl<strong>em</strong>entação com arginina po<strong>de</strong> representar<br />

risco adicional <strong>em</strong> função da ativação <strong>de</strong> algumas ca<strong>de</strong>ias<br />

metabólicas associadas aos mecanismos <strong>de</strong> apoptose<br />

celular. São produtos do metabolismo da arginina, o óxido<br />

nítrico (tecidos periféricos) e o glutamato (sist<strong>em</strong>a nervoso<br />

central), e estas substâncias estão envolvidas no processo<br />

<strong>de</strong> morte celular.<br />

Analisando o processo <strong>de</strong> apoptose <strong>em</strong> células do tecido<br />

ósseo, TEIXEIRA et al. (15) <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> que a elevação dos<br />

níveis <strong>de</strong> fósforo inorgânico, assim como a diminuição da<br />

produção <strong>de</strong> óxido nítrico po<strong>de</strong>m acelerar o processo <strong>de</strong><br />

apoptose <strong>em</strong> células da cartilag<strong>em</strong> epifisária. Neste<br />

mecanismo, o fósforo inorgânico irá diminuir o potencial<br />

<strong>de</strong> m<strong>em</strong>brana mitocondrial e alterar a manutenção da<br />

homeostasia interna e a produção <strong>de</strong> energia. A síntese <strong>de</strong><br />

óxido nítrico, por sua vez, irá manter a função<br />

mitocondrial. Deste modo, os autores consi<strong>de</strong>ram que o<br />

ON po<strong>de</strong> servir como mediador chave na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

eventos ligados ao mecanismo <strong>de</strong> apoptose nas<br />

cartilagens, e que este fenômeno é ligado aos níveis <strong>de</strong><br />

fósforo inorgânico.<br />

CONCLUSÕES<br />

Embora a importância da arginina <strong>em</strong> diversos processos<br />

metabólicos esteja sendo estudada, a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

achados e os mecanismos <strong>de</strong> ação propostos ainda não<br />

estão esclarecidos.<br />

Em cada tecido, <strong>em</strong> cada órgão, <strong>em</strong> cada sist<strong>em</strong>a, os<br />

efeitos atribuídos a arginina se somam e a importância da<br />

a<strong>de</strong>quada (a cada condição) oferta <strong>de</strong>ste aminoácido<br />

ganha importância.<br />

Com relação aos estudos referentes ao sist<strong>em</strong>a<br />

imunológico, os resultados <strong>de</strong>monstram influência, <strong>em</strong><br />

graus variados, <strong>em</strong> algumas situações <strong>de</strong> doença, citadas<br />

neste texto. Contudo, os resultados são, na sua imensa<br />

maioria, experimentais ou obtidos da observação <strong>de</strong><br />

adultos, o que representa a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maior cautela<br />

ao se propor a supl<strong>em</strong>entação para crianças.<br />

Para estes pequenos pacientes, também os efeitos<br />

negativos, secundários à supl<strong>em</strong>entação ou ao uso<br />

terapêutico da arginina <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser abordados com maior<br />

critério, senão melhor conhecidos.<br />

22


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23


Omega-3<br />

Relatora: Fernanda Luísa Ceragioli Oliveira<br />

Os ácidos graxos são componentes essenciais <strong>de</strong><br />

m<strong>em</strong>branas celulares e estão envolvidos <strong>em</strong> diversos<br />

processos metabólicos, principalmente mecanismos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>fesa, antiinflamatórios, <strong>de</strong> crescimento e <strong>de</strong><br />

multiplicação celular. A composição lipídica da<br />

m<strong>em</strong>brana celular <strong>de</strong>termina a flui<strong>de</strong>z da m<strong>em</strong>brana, a<br />

formação <strong>de</strong> receptores, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ligação das<br />

proteínas com receptores e ativação <strong>de</strong> vias metabólicas.<br />

A nomenclatura OMEGA é <strong>de</strong>finida segundo a<br />

numeração do carbono associada a primeira dupla<br />

ligação (3º, 6º ou 9º), a partir do radical metila. Esta<br />

classificação implica <strong>em</strong> características estruturais e<br />

funcionais <strong>de</strong>stes ácidos graxos. Os principais<br />

representantes dos ácidos graxos poliinsaturados omega-<br />

6 são ácido linoléico (LA) e ácido aracdônico (AA); e dos<br />

omega-3, ácido linolênico (ALA), ácido<br />

docosahexaenóico (DHA) e ácido eicosapentanóico (EPA).<br />

Ressalta-se a importância da manutenção da proporção<br />

5:1 entre o Omega 3 e 6 na dieta habitual e enteral<br />

<strong>de</strong>vido ao fato que os ácidos graxos essenciais (LA e ALA)<br />

necessitar<strong>em</strong> da mesma enzima (6-<strong>de</strong>saturase) para<br />

ser<strong>em</strong> convertidos nos principais representantes das séries<br />

ácidos graxos AA (Omega-6) e DHA e EPA (Omega-3).<br />

Os eicosanói<strong>de</strong>s são produzidos nos tecidos, sendo<br />

responsáveis por formação <strong>de</strong> prostaglandinas e<br />

leucotrienos. A metabolização do AA por meio da<br />

enzima da cicloxigenase produz prostanglandinas da<br />

série 2 e leucotrienos da série 4, que promov<strong>em</strong><br />

imunossupressão e inflamação. O EPA e o DHA<br />

produz<strong>em</strong> prostaglandinas da série 3 e leucotrienos da<br />

série 5, que atuariam no processo anti-inflamatório e<br />

não inibiriam o sist<strong>em</strong>a imune.<br />

O DHA e o EPA interfer<strong>em</strong> no sist<strong>em</strong>a imune<br />

competindo com AA no metabolismo cicloxigenase na<br />

m<strong>em</strong>brana celular. O AA <strong>em</strong> altas concentrações<br />

(1,5g/dia por 50 dias) compromete o sist<strong>em</strong>a<br />

imunológico, <strong>de</strong>stacando-se a proliferação linfocitária,<br />

produção <strong>de</strong> citoquinas, resposta DTH e ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

célula natural “Killer”.<br />

Tabela 1. Composição Porcentag<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

Omega 3, 6 e 9 <strong>em</strong> fontes gorduras (%)<br />

FONTE<br />

Omega-3<br />

%<br />

Omega-6<br />

%<br />

Omega-9<br />

%<br />

Óleo <strong>de</strong> Milho<br />

......<br />

70<br />

25<br />

Óleo <strong>de</strong> Girassol I/II<br />

2<br />

60/11<br />

25/86<br />

Óleo <strong>de</strong> Soja<br />

7<br />

54<br />

24<br />

Óleo <strong>de</strong> Canola<br />

11<br />

28<br />

60<br />

Óleo <strong>de</strong> Peixe<br />

37<br />

1<br />

13<br />

Óleo <strong>de</strong> Oliva<br />

......<br />

10<br />

71<br />

Alexan<strong>de</strong>r, 1998<br />

24


Outra característica importante é a diferente taxa <strong>de</strong><br />

absorção, distribuição tecidual e clareamento dos ácidos<br />

graxos EPA e DHA. Após a supl<strong>em</strong>entação, os níveis<br />

plasmáticos <strong>de</strong> EPA e DHA ating<strong>em</strong> o pico na 6ª e na 16ª<br />

s<strong>em</strong>ana <strong>de</strong> ingestão, respectivamente. Cessando-se a<br />

oferta contínua, o clareamento plasmático do DHA é mais<br />

lento comparado com o do EPA. O DHA incorpora-se no<br />

tecido extracirculatório como sist<strong>em</strong>a nervoso central e<br />

tecido cardíaco, enquanto que o EPA concentra-se nos<br />

compartimentos circulatórios. Nos lipí<strong>de</strong>os plasmáticos, o<br />

DHA encontra-se <strong>em</strong> maior quantida<strong>de</strong> nos fosfolípi<strong>de</strong>s e<br />

triglicéri<strong>de</strong>s e <strong>em</strong> menor quantida<strong>de</strong> nos ésteres <strong>de</strong><br />

colesterol; o EPA concentra-se nos ésteres <strong>de</strong> colesterol e<br />

fosfolipí<strong>de</strong>os.<br />

Essas características fisiológicas <strong>de</strong> absorção e distribuição<br />

do EPA e DHA são responsáveis pelas diferenças <strong>de</strong><br />

capacida<strong>de</strong> inibitória do sist<strong>em</strong>a imunológico. Trabalhos<br />

<strong>de</strong>monstram que DHA parece ter menor ação inibitória ao<br />

sist<strong>em</strong>a imune e maior capacida<strong>de</strong> inibitória ao processo<br />

inflamatório do que EPA.<br />

Supl<strong>em</strong>entação isolada <strong>de</strong> DHA (6g por dia) por 90 dias,<br />

que correspon<strong>de</strong> a 20g <strong>de</strong> óleo <strong>de</strong> peixe (DHA+ EPA),<br />

<strong>em</strong> adultos jovens saudáveis, reduziu secreção <strong>de</strong><br />

citoquinas inflamatórias e ativação <strong>de</strong> células natural<br />

“killer”, mas não houve modificação do número e da<br />

função das células B e T.<br />

Sete estudos randomizados duplo cego, evi<strong>de</strong>nciam que<br />

pacientes críticos que receberam dietas imunomoduladoras<br />

apresentavam redução <strong>de</strong> infecções e complicações <strong>em</strong> 50<br />

a 75% e diminuição <strong>de</strong> 20% do t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> hospitalização.<br />

Deve-se ressaltar que esta dieta contém outros<br />

nutracêuticos associados ao omega-3 (arginina,<br />

nucleotí<strong>de</strong>os, glutamina).<br />

Revisão efetuada por Alexan<strong>de</strong>r <strong>em</strong> 1998, relata os<br />

principais trabalhos randomizados duplo-cegos na<br />

literatura a respeito da ação do Omega-3, evi<strong>de</strong>nciando<br />

seu efeito: no transplante renal (aumenta sobrevida do<br />

enxerto, redução da hipertensão arterial e episódios <strong>de</strong><br />

rejeição); na artrite reumatói<strong>de</strong> (melhora clínica e<br />

redução do IL-1 e do uso <strong>de</strong> drogas antiinflamatórias não<br />

esterói<strong>de</strong>s); na doença inflamatória intestinal (reduz <strong>em</strong><br />

50% a utilização <strong>de</strong> corticói<strong>de</strong>s, diminui a ativida<strong>de</strong> da<br />

doença e melhora histológica).<br />

Estudos ‘in vitro’ e ‘in vivo’ <strong>em</strong> animais <strong>de</strong>terminaram que<br />

EPA e DHA po<strong>de</strong>m inibir diversas funções <strong>de</strong> células<br />

imunológicas, mas seus efeitos difer<strong>em</strong> no sist<strong>em</strong>a imune e<br />

mecanismos associados. A interleucina -2 recombinante<br />

restaura parcialmente a inibição da proliferação linfocitária<br />

humana com EPA, mas este fato não acontece com DHA.<br />

Estudos <strong>em</strong> humanos ten<strong>de</strong>m a verificar o efeito da<br />

supl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> s<strong>em</strong>entes ricas <strong>em</strong> ALA, óleo <strong>de</strong> peixes<br />

ricos <strong>em</strong> EPA e DHA ou soluções purificadas <strong>de</strong> EPA e DHA<br />

no sist<strong>em</strong>a imunológico. Não se sabe ao certo o efeito<br />

direto <strong>de</strong>stes ácidos graxos individualmente, pois os<br />

processos <strong>de</strong> retroconversão e elongação dificultam a<br />

i<strong>de</strong>ntificação do ácido graxo principal atuante.<br />

A recomendação da quantida<strong>de</strong> necessária <strong>de</strong> ácidos<br />

graxos poliinsaturados (PUFA) omega-3 DHA e EPA para<br />

proporcionar efeito antiinflamatório:relação omega-3:<br />

omega-6 ➔ 10 a 5 : 1. A ingestão <strong>de</strong> 5g <strong>de</strong> ALA e 400mg<br />

EPA +DHA por dia parece ser dose segura para utilização<br />

no adulto. Não há parâmetros para crianças e adolescentes<br />

na literatura.<br />

Não há dúvidas a respeito do efeito benéfico dos omega-3<br />

nas doenças cardiovasculares, mas exist<strong>em</strong> riscos <strong>de</strong><br />

aumentar a suscetibilida<strong>de</strong> às infecções, como evi<strong>de</strong>ncia<br />

estudos experimentais <strong>de</strong>monstrando retardo no<br />

clareamento <strong>de</strong> bactérias e menor taxa <strong>de</strong> sobrevida.<br />

25


Tabela 2. Efeitos Omega-3 , 6 e 9 no Sist<strong>em</strong>a Imunológico<br />

AÇÕES<br />

Omega 3<br />

Omega 6<br />

Omega 9<br />

Resposta GVH<br />

Diminui<br />

Diminui<br />

Sobrevivência auto-enxerto<br />

Aumenta<br />

Aumenta<br />

Aumenta<br />

Expressão TcR<br />

Diminui<br />

Resposta fitomitogênica<br />

Diminui<br />

Diminui<br />

Diminui<br />

Resposta linfocitária<br />

Diminui<br />

Diminui<br />

à estímulo antigênico<br />

Função celular acessória<br />

Diminui<br />

Resposta DTH<br />

Diminui<br />

Expressão Ia<br />

Diminui<br />

Alexan<strong>de</strong>r, 1998<br />

Tabela 3.Efeitos dos Omega-3, 6 e 9 nos Processos Inflamatórios<br />

AÇÕES<br />

Omega 3<br />

Omega 6<br />

Omega 9<br />

Expressão ICAM-I<br />

Diminui<br />

Expressão VCAM-1<br />

Diminui<br />

Expressão ELAM -1<br />

Diminui<br />

Expressão L-selectina<br />

Diminui<br />

Expressão LFA-1<br />

Diminui<br />

A<strong>de</strong>são Linfocitária<br />

Diminui<br />

A<strong>de</strong>são <strong>de</strong> Monócitos<br />

Diminui<br />

Quimiotaxia Neutrófilos<br />

Diminui<br />

Proteína C Reativa<br />

Diminui<br />

Produção NO<br />

Diminui<br />

Aumenta<br />

Aumenta<br />

Produção Superóxido<br />

Diminui<br />

Aumenta<br />

Aumenta<br />

Alexan<strong>de</strong>r, 1998<br />

26


Tabela 4. Efeitos Omega-3, 6 e 9 na Produção <strong>de</strong> Citoquinas – Interleucinas (IL)<br />

AÇÕES<br />

Omega 3<br />

Omega 6<br />

Omega 9<br />

IL-1<br />

Aumenta/Diminui<br />

Aumenta<br />

IL-2<br />

Diminui<br />

Aumenta<br />

Aumenta<br />

IL-4<br />

Diminui<br />

Aumenta<br />

IL-6<br />

Diminui<br />

IL-8<br />

Diminui<br />

IL-10<br />

Diminui<br />

TGF-(<br />

Diminui<br />

TNF- (<br />

Diminui<br />

Diminui/Aumenta<br />

Diminui<br />

IFN-(<br />

Diminui<br />

Aumenta<br />

Aumenta<br />

TGF-_ ➔ - fator transformador <strong>de</strong> crescimento _ ,<br />

TNF-_ ➔ fator <strong>de</strong> necrose tumoral _ ,<br />

IFN-_ ➔ Interferon _<br />

Alexan<strong>de</strong>r, 1998<br />

Tabela 5. Efeitos Omega 3, 6 e 9 nas Vias Intracelulares<br />

AÇÕES<br />

Omega 3<br />

Omega 6<br />

Omega 9<br />

A<strong>de</strong>nilciclase<br />

Aumenta/Diminui<br />

Aumenta<br />

Aumenta<br />

PKA<br />

Aumenta/Diminui<br />

Diminui<br />

Aumenta/Diminui<br />

PKC<br />

Diminui<br />

Aumenta<br />

Diminui<br />

NFkB<br />

Aumenta<br />

Alexan<strong>de</strong>r, 1998<br />

Bibliografia consultada<br />

* ALEXANDER, J.W. - Immunonutrition : the role of n-3 fatty acids.<br />

Nutrition, 1998; 14:627-33.<br />

* CONNOR, W.E. - Importance of n-3 fatty acids in health and disease.<br />

Am J. Clin. Nutr, 2000; 1(suppl): 171S-5S.<br />

* CORKEY, B. E.; DEENEY,J.T.; YANEY, G.C.; TORNHEIM, K.; PRENTKI,<br />

M. - The role of long-chain fatty acyl-CoA esters in (-cell signal<br />

transduction. J. Nutr., 2000; 130: 299S-304S.<br />

* DECKELBAUM,R.J. & CALDER, P.C. - Lipids in health and disease:<br />

quantity, quality and more. Curr.Opin. Clin. Nutr. Metab. Care,<br />

2000; 3:93-4.<br />

* KELLEY, D.S. & RUDOLPH, I.L. - Effect of individual fatty acids of n-<br />

6 and n-3 type on human immune status and role of eicosanoids.<br />

Nutrition, 2000; 16: 143-5.<br />

* PERDOMO,M. P.B. - Acidos grasos omega-3 y acidos grasos trans:<br />

impacto sobre la salud. Lecturas sobre Nutrition, 1998; 5:27-34.<br />

* SCHOLOERB, P.R. - Immune-enhancing diets: products, components<br />

and their rationales. JPEN, 2001; 25(2suppl): S3-S7.<br />

* STANDEN,J. & BIHARI, D. - Immunonutrition: an upta<strong>de</strong>. Curr.Opin.<br />

Clin. Nutr. Metab. Care, 2000; 3:149-57.<br />

* SPRECHER, H. - An update on the pathways of polyunsaturated<br />

fatty acid metabolism.. Curr.Opin. Clin. Nutr. Metab. Care, 1999;<br />

2:9135-8.<br />

27


Zinco<br />

Relatora: Roseli Saccardo Sarni<br />

INTRODUÇÃO<br />

O zinco é um cofator essencial para inúmeras enzimas<br />

com múltiplas funções, especialmente, envolvidas no<br />

metabolismo <strong>de</strong> ácidos nucléicos e proteínas.<br />

A <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> zinco afeta <strong>em</strong> maior proporção as<br />

células <strong>de</strong> multiplicação rápida como enterócitos, células<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa e da pele.<br />

PREVALÊNCIA<br />

A <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> zinco nas últimas décadas passou a<br />

ganhar importância como probl<strong>em</strong>a nutricional mundial,<br />

uma vez que, t<strong>em</strong> sido <strong>de</strong>monstrado que esta carência<br />

ocorre <strong>em</strong> países <strong>de</strong>senvolvidos e <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. A<br />

prevalência <strong>de</strong> ingestão <strong>de</strong>ficiente <strong>de</strong>ste micronutriente<br />

t<strong>em</strong> sido <strong>de</strong>scrita <strong>em</strong> estudos conduzidos nos EUA,<br />

México, Porto Rico, Guat<strong>em</strong>ala, Chile e Brasil e oscila<br />

entre 50 e 80 % 57 das referências (DRFs).<br />

NECESSIDADES NUTRICIONAIS E FONTES<br />

As referências <strong>de</strong> ingestão <strong>de</strong> zinco variam com a ida<strong>de</strong> e<br />

sexo e po<strong>de</strong>m ser resumidos na tabela abaixo:<br />

Lactentes<br />

Crianças<br />

Homens<br />

Mulheres<br />

Gestantes<br />

Lactantes<br />

IDADE<br />

0-6 meses<br />

7-12 meses<br />

1-3 anos<br />

4-8 anos<br />

9-13 anos<br />

14-18 anos<br />

9-13 anos<br />

14-18 anos<br />

≤ 18 anos<br />

≤ 18 anos<br />

Dietary Reference Intakes<br />

Recomendação<br />

(RDA)<br />

mg/dia<br />

2*<br />

3<br />

3<br />

5<br />

8<br />

11<br />

8<br />

9<br />

13<br />

7<br />

Fonte: Institute of Medicine - Dietary Reference Intake, 2001<br />

*AI<br />

O leite humano a par <strong>de</strong> sua pequena concentração<br />

<strong>de</strong> zinco apresenta excelente biodisponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste<br />

el<strong>em</strong>ento <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência da presença <strong>de</strong> lactoferrina<br />

e ácido cítrico. Há fornecimento <strong>de</strong> 1-2 mg/dia <strong>de</strong><br />

zinco pelo leite materno nos 3 primeiros meses<br />

pós-parto com valores <strong>de</strong>crescentes com o progredir<br />

da lactação. No leite <strong>de</strong> vaca esta biodisponibilida<strong>de</strong><br />

é prejudicada tendo <strong>em</strong> vista a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> caseína<br />

e cálcio.<br />

A presença <strong>de</strong> fitatos encontrados <strong>em</strong> maior<br />

quantida<strong>de</strong> nos cereais, legumes e vegetais folhosos<br />

prejudicam a digestão e absorção do zinco. Níveis<br />

molares <strong>de</strong> fitato:zinco acima <strong>de</strong> 20:1 são associados<br />

à baixa absorção <strong>de</strong>ste cationte. As fibras, cálcio,<br />

fósforo e polifenóis também po<strong>de</strong>m comprometer<br />

sua absorção.<br />

Os alimentos com melhor quantida<strong>de</strong> e<br />

biodisponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> zinco são as carnes vermelhas,<br />

crustáceos, vísceras, ovos e peixes.<br />

O zinco po<strong>de</strong> interagir com o ferro <strong>de</strong>terminando<br />

pior absorção. Esta interação é mais evi<strong>de</strong>nte quando<br />

estes oligoel<strong>em</strong>entos são administrados <strong>em</strong> solução,<br />

<strong>em</strong> especial, quando o ferro ultrapassa a dose <strong>de</strong><br />

25 mg; não sendo observada nos alimentos e n<strong>em</strong><br />

<strong>em</strong> processos <strong>de</strong> fortificação 58 .<br />

O zinco influencia também o metabolismo da<br />

vitamina A atuando <strong>em</strong> dois níveis: transporte e a<br />

conversão <strong>de</strong> retinol a retinal que requer a<br />

participação <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>sidrogenase <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />

zinco e também, na síntese da proteína carreadora do<br />

retinol exercendo sua <strong>de</strong>ficiência papel negativo na<br />

mobilização dos <strong>de</strong>pósitos hepáticos <strong>de</strong> retinol com<br />

subsequente transporte a tecidos alvo. Entretanto,<br />

pesquisas ainda são inconclusivas <strong>em</strong> <strong>de</strong>monstrar o<br />

sinergismo <strong>de</strong>stes dois micronutrientes e seu<br />

significado <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> pública.<br />

28


QUADRO CLÍNICO<br />

Em crianças e adolescentes, a <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> zinco cursa<br />

com as seguintes manifestações: retardo do crescimento<br />

estatural, anorexia, ageusia, retardo na maturação<br />

sexual, lesões <strong>de</strong> pele, hepatoesplenomegalia, lesões<br />

periorificiais, diarréia, alopécia, fotofobia e alterações <strong>de</strong><br />

comportamento. Tais manifestações são mais evi<strong>de</strong>ntes<br />

nas fases <strong>de</strong> crescimento rápido, tais como, lactentes e<br />

adolescentes. A acro<strong>de</strong>rmatite enteropática é uma<br />

herança autossômica recessiva caracterizada por um erro<br />

inato no metabolismo do zinco dificultando sua<br />

incorporação celular e cursando com manifestações<br />

clínicas s<strong>em</strong>elhantes à <strong>de</strong>ficiência grave <strong>de</strong> zinco.<br />

PARTICIPAÇÃO DO ZINCO NO SISTEMA<br />

IMUNE<br />

Os linfócitos contêm 10 a 30 vezes mais zinco do que as<br />

células vermelhas e células <strong>de</strong> tecidos sólidos. Em<br />

estudos experimentais e clínicos foi observado que a<br />

<strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> zinco causa; involução tímica,<br />

imuno<strong>de</strong>ficiência humoral e celular, redução no número<br />

<strong>de</strong> linfócitos T-helper, diminuição no conteúdo <strong>de</strong> DNA<br />

tímico por redução na função da DNA polimerase com<br />

comprometimento na maturação dos linfócitos T e falha<br />

na função bactericida e <strong>de</strong> fagocitose dos neutrófilos.<br />

A supl<strong>em</strong>entação com zinco induz à produção <strong>de</strong><br />

citocinas pelas células mononucleares “in vitro”, assim<br />

foi observado aumento nas interleucinas 1 e 6, fator <strong>de</strong><br />

necrose tumoral e interferon gama. A administração<br />

farmacológica <strong>de</strong> zinco é capaz <strong>de</strong> reverter a<br />

imuno<strong>de</strong>ficiência que ocorre na acro<strong>de</strong>rmatite<br />

enteropática (herança autossômica recessiva resultando<br />

na má-absorção <strong>de</strong> zinco).<br />

Os efeitos benéficos do zinco <strong>em</strong> crianças com doença<br />

diarréica envolv<strong>em</strong> sua participação na síntese protéica<br />

e do DNA principalmente, nos tecidos com alta taxa <strong>de</strong><br />

regeneração como trato gastrointestinal e sist<strong>em</strong>a<br />

imune; aumento da ativida<strong>de</strong> das dissacaridases;<br />

diminuição da permeabilida<strong>de</strong> da mucosa a<br />

macromoléculas e da absorção <strong>de</strong> sódio e água.<br />

Em recente metanálise avaliando-se os efeitos da<br />

supl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> zinco na prevenção da diarréia e<br />

pneumonia <strong>em</strong> crianças vivendo <strong>em</strong> países <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento. A análise envolveu 7 estudos com uso<br />

<strong>de</strong> longa duração (supl<strong>em</strong>entação por 12 a 54 s<strong>em</strong>anas)<br />

com 1 a 2 vezes a RDA, 5 a 7 vezes/s<strong>em</strong>ana <strong>de</strong> zinco<br />

el<strong>em</strong>entar e três estudos <strong>de</strong> curta duração com<br />

utilização <strong>de</strong> 2 a 4 vezes a RDA diariamente, por 2<br />

s<strong>em</strong>anas. A supl<strong>em</strong>entação foi associada com redução<br />

substancial nas taxas <strong>de</strong> diarréia e pneumonia <strong>em</strong><br />

menores <strong>de</strong> cinco anos, as duas principais causas <strong>de</strong><br />

mortalida<strong>de</strong> <strong>em</strong> países <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

SIDA<br />

A <strong>de</strong>ficiência secundária <strong>de</strong> zinco t<strong>em</strong> sido verificada<br />

<strong>em</strong> adultos infectados pelo HIV e estudos “in vitro”<br />

suger<strong>em</strong> que o zinco po<strong>de</strong> ter ação anti-viral.<br />

Estudo realizado <strong>em</strong> 13 crianças entre 1,5 e 10 anos <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong> com SIDA e contag<strong>em</strong> <strong>de</strong> CD4< 500/mm3 e<br />

recebendo 1,8 a 2,2 mg/kg/di por 3 a 4 s<strong>em</strong>anas não<br />

<strong>de</strong>monstraram benefícios expressivos no aumento do<br />

CD4 e na redução dos níveis <strong>de</strong> antígeno p24 após<br />

supl<strong>em</strong>entação.<br />

Na prevenção da transmissão vertical do HIV o papel do<br />

zinco ainda é impreciso.<br />

DOENÇA DIARRÉICA E PNEUMOPATIAS<br />

A diarréia afeta o estado nutricional <strong>de</strong> zinco por<br />

redução na ingestão, pior absorção intestinal e aumento<br />

nas perdas fecais. Estudos mostraram que crianças com<br />

níveis séricos <strong>de</strong> zinco inferiores a 60 mcg/dl<br />

apresentavam maior duração dos episódios respiratórios<br />

e diarréicos.<br />

MALÁRIA<br />

A supl<strong>em</strong>entação com 12,5 mg <strong>de</strong> zinco <strong>em</strong> 685<br />

crianças africanas avaliadas <strong>em</strong> estudo duplo-cego e<br />

randômico mostrou que a supl<strong>em</strong>entação não<br />

apresentou impacto na morbida<strong>de</strong> por malária<br />

falciparum mas reduziu a morbida<strong>de</strong> associada à<br />

diarréia.<br />

29


DESNUTRIÇÃO<br />

Em crianças <strong>de</strong>snutridas graves, entretanto, os benefícios<br />

da supl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> zinco na morbi-mortalida<strong>de</strong> por<br />

processos infecciosos foi evi<strong>de</strong>nciada <strong>em</strong> vários estudos<br />

da literatura que fizeram com que a OMS preconiza-se<br />

sua utilização. Especial atenção <strong>de</strong>ve ser dada à dose,<br />

uma vez que, estudos utilizando 6 mg/kg/dia <strong>de</strong> zinco <strong>em</strong><br />

crianças <strong>de</strong>snutridas foram associados com elevação da<br />

mortalida<strong>de</strong>.<br />

PACIENTES CRÍTICOS EM REGIME DE<br />

TERAPIA INTENSIVA<br />

Em recente publicação do “Clinical Nutrition and<br />

Metabolism Group Symposium on – Nutrition in the<br />

severely-injured patient” foi reforçada a participação dos<br />

micronutrientes, incluindo o zinco, na morbi-mortalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> pacientes críticos (incluindo sepse) que<br />

frequent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong>moram a atingir suas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

micronutrientes <strong>em</strong> períodos críticos. Baseados <strong>em</strong><br />

estudos <strong>em</strong> adultos recomendou-se a utilização <strong>de</strong> 10<br />

mg/dia para pacientes <strong>em</strong> regime <strong>de</strong> terapia intensiva e<br />

40 mg/dia para queimados. Até o momento não há<br />

recomendações para crianças nessa condição clínica.<br />

DIAGNÓSTICO DA DEFICIÊNCIA<br />

Estado Nutricional <strong>de</strong> Zinco<br />

A anamnese nutricional incluindo a realização <strong>de</strong> inquéritos<br />

nos permite conhecer os padrões <strong>de</strong> ingestão <strong>de</strong> zinco.<br />

A manutenção <strong>de</strong> ingestão a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> zinco <strong>de</strong>ve ser<br />

s<strong>em</strong>pre l<strong>em</strong>brada nas orientações realizadas por<br />

profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

O nível sérico só po<strong>de</strong>ria ser utilizado para avaliar o estado<br />

<strong>de</strong> zinco <strong>em</strong> condições <strong>de</strong> <strong>de</strong>pleção aguda. Tal fato se <strong>de</strong>ve<br />

ao zinco ser um íon predominant<strong>em</strong>ente intracelular e suas<br />

maiores concentrações corporais ocorrer<strong>em</strong> no músculo<br />

esquelético e ossos. Os métodos laboratoriais mais<br />

utilizados para avaliar a <strong>de</strong>ficiência crônica se divi<strong>de</strong>m <strong>em</strong><br />

diretos: zinco leucocitário e eritrocitário, ou indiretos como<br />

a ativida<strong>de</strong> da 5 nucleotidase e concentração <strong>de</strong><br />

metalotioneína eritrocitária. Estes métodos mais<br />

sofisticados, incluindo técnicas <strong>de</strong> isótopos estáveis, tornam<br />

difícil a avaliação do estado nutricional <strong>de</strong> zinco <strong>em</strong> termos<br />

populacionais, <strong>em</strong> especial, nos países <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Tratamento<br />

Em lactentes <strong>de</strong>snutridos e/ou com doença diarréica<br />

persistente utiliza-se 2 mg/kg/dia <strong>de</strong> zinco (máximo <strong>de</strong><br />

20 mg/dia) na fase <strong>de</strong> recuperação nutricional. Este <strong>de</strong>ve<br />

ser administrado na forma <strong>de</strong> sulfato ou acetato.<br />

Não dispomos <strong>de</strong> estudos <strong>em</strong> crianças utilizando<br />

preparações com zinco quelato. Em adultos preparações<br />

com Zn-histidina <strong>de</strong>terminaram nível sérico 25% superior<br />

ao quando sulfato <strong>de</strong> Zn foi utilizado. A utilização <strong>de</strong><br />

15 mg <strong>de</strong> zinco/dia na forma <strong>de</strong> zinco histidina<br />

correspon<strong>de</strong>u a 45 mg <strong>de</strong> Zn como sulfato.<br />

A administração parenteral <strong>de</strong> zinco preconizada é <strong>de</strong><br />

400 ug/kg/dia e 150 ug/kg/dia para recém-nascidos<br />

pré-termo e a termo, respectivamente. Em crianças<br />

maiores utiliza-se 50 ug/kg/dia. Tal administração po<strong>de</strong><br />

ser realizado <strong>em</strong> soluções contendo mistura <strong>de</strong><br />

oligoel<strong>em</strong>entos ou na forma <strong>de</strong> acetato <strong>de</strong> zinco.<br />

30


Bibliografia consultada<br />

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31


Cromo<br />

Relatora: Virgínia Resen<strong>de</strong> Silva Weffort<br />

O Cromo (Cr) é um el<strong>em</strong>ento metálico <strong>de</strong> transição<br />

(número atômico 24, peso atômico 51,996),<br />

consi<strong>de</strong>ravelmente raro. Biologicamente, forma<br />

compostos com valências +3 (Cr III) e +6 (Cr VI).<br />

As reservas corporais variam entre 0,4 a 6 mg, sendo<br />

relativamente maiores <strong>em</strong> recém-nascidos do que <strong>em</strong><br />

adultos ou idosos.<br />

FUNÇÕES<br />

O cromo é um nutriente essencial para a ação<br />

hipoglic<strong>em</strong>iante da insulina e normalida<strong>de</strong> do<br />

metabolismo das gorduras. O Cr III é a forma<br />

biologicamente mais ativa, faz parte da molécula do fator<br />

<strong>de</strong> tolerância à glicose (FTG-Cr) que potencializa a função<br />

normal da insulina, incluindo a promoção da entrada da<br />

glicose para o interior das células, on<strong>de</strong> é processada até<br />

gás carbônico ou entra na síntese <strong>de</strong> gorduras. Portanto,<br />

o cromo é essencial para o efeito da insulina no<br />

metabolismo <strong>de</strong> carboidratos, proteínas e gorduras. A<br />

ingestão insuficiente <strong>de</strong> cromo na dieta produz sinais e<br />

sintomas s<strong>em</strong>elhantes aos observados no diabetes e nas<br />

doenças cardiovasculares.<br />

O mecanismo <strong>de</strong> ação do FTG-Cr não é b<strong>em</strong> conhecido,<br />

mas acredita-se que auxilie na ligação entre a molécula<br />

<strong>de</strong> insulina e seus receptores celulares.<br />

Borella & Bargellini, (1993) estudando o efeito do Cr VI <strong>em</strong><br />

cultura <strong>de</strong> linfócitos humanos, refer<strong>em</strong> que o Cr VI induz a<br />

redução da blastogenese e a produção <strong>de</strong> imunoglobulina<br />

<strong>em</strong> relação a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> entrar na célula. Kegley et<br />

al, (1996) observavam que a administração do complexo<br />

cromo – ácido nicotínico <strong>em</strong> vacas, aumenta a função<br />

imune das células, o que não foi observado pelo mesmo<br />

autor <strong>em</strong> 1997, <strong>em</strong> novilhos. Arthington et al (1997)<br />

também não encontraram alteração da resposta imune<br />

usando altas doses <strong>de</strong> cromo <strong>em</strong> vacas.<br />

METABOLISMO ORGÂNICO<br />

A absorção intestinal <strong>de</strong> cromo é baixa, entre 0,5 e<br />

2% do total ingerido. O cromo orgânico e o CrVI<br />

são melhores absorvidos. Após absorção do CrVI, ele<br />

é rapidamente reduzido à forma biologicamente<br />

ativa, a trivalente. O cromo absorvido liga-se à<br />

transferrina, à albumina e, provavelmente, às<br />

globulinas. A maior parte do cromo absorvido é<br />

excretada pelos rins.<br />

FONTES<br />

O cromo está presente nos alimentos na forma<br />

inorgânica ou <strong>em</strong> complexos orgânicos. As melhores<br />

fontes alimentares <strong>de</strong> cromo são: fermentos<br />

biológicos, carnes e grãos integrais. O leite e<br />

<strong>de</strong>rivados são pobres <strong>em</strong> cromo, assim como as frutas<br />

e verduras, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da composição do solo<br />

on<strong>de</strong> o vegetal foi cultivado. Quanto mais refinado e<br />

processado o alimento, menos cromo ele contém.<br />

NECESSIDADES DIÁRIAS RECOMENDADA<br />

(FBN/NAS, 1989)<br />

• Menor <strong>de</strong> 1 ano: 10 a 60 mcg<br />

• Entre 1 e 3 anos: 20 a 80 mcg<br />

• Entre 4 e 6 anos: 30 a 120 mcg<br />

• Entre 7 e 10 anos: 50 a 150 mcg<br />

• Maiores <strong>de</strong> 10 anos: 75 a 250 mcg<br />

Quando o paciente está <strong>em</strong> nutrição parenteral<br />

prolongada, níveis <strong>de</strong> 10 a 20 mcg/dia são<br />

consi<strong>de</strong>rados a<strong>de</strong>quados.<br />

Encontramos 0,20 mcg/ml <strong>de</strong> Cromo no Oliped 4®;<br />

1,0mcg/ml no Ped El<strong>em</strong>ent®; 18mcg/100g <strong>de</strong><br />

Cromo no Nutren1.0®; 17mcg/100g no Nutren<br />

32


Fibras®;19mcg/100g no Peptamen®; 30mcg/1000ml no<br />

Peptamen Júnior®; 15mcg/100g no Neocate®.<br />

Nos casos <strong>de</strong> reservas corporais diminuídas ou nas<br />

condições que po<strong>de</strong>m requerer maior aporte <strong>de</strong> cromo,<br />

como nas dietas muito ricas <strong>em</strong> açúcares, exercício físico<br />

extenuado e situações <strong>de</strong> resposta <strong>de</strong> fase aguda,<br />

incluindo traumatismos físicos, infecções e <strong>de</strong>terminadas<br />

neoplasias, os limites superiores serv<strong>em</strong> como parâmetros<br />

para reposição.<br />

TOXICIDADE DO CROMO<br />

A supl<strong>em</strong>entação indiscriminada do cromo t<strong>em</strong> sido citada<br />

como não fisiológica e potencialmente perigosa. A forma<br />

hexavalente do cromo possui fortes proprieda<strong>de</strong>s<br />

oxidantes, sendo muito mais tóxica do que sua forma<br />

trivalente. Em altas doses está associado a doenças que<br />

inclu<strong>em</strong> <strong>de</strong>rmatoses alérgicas, úlceras, asma ocupacional.<br />

O acúmulo <strong>de</strong> Cr III nos tecidos humanos po<strong>de</strong> afetar as<br />

moléculas <strong>de</strong> DNA e predispô-las à carcinogênese.<br />

A intoxicação aguda geralmente se <strong>de</strong>ve à ingestão<br />

DOSAGEM DO CROMO<br />

As dosagens <strong>de</strong> cromo po<strong>de</strong>m ser feitas no sangue, urina e<br />

cabelos, geralmente através <strong>de</strong> espectrofotometria <strong>de</strong><br />

absorção atômica. Porém, nenhum <strong>de</strong>stes exames me<strong>de</strong><br />

com precisão os níveis corporais.<br />

excessiva <strong>de</strong> cromo hexavalente e algumas vezes à<br />

exposição <strong>em</strong> indústrias como no caso <strong>de</strong> soldadores e<br />

trabalhadores <strong>em</strong> curtumes. Os efeitos da intoxicação<br />

crônica se <strong>de</strong>v<strong>em</strong> à exposição ocupacional, poluição<br />

ambiental e contaminação <strong>de</strong> alimentos.<br />

Bibliografia consultada<br />

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33


Selênio<br />

Relatora: Maria Marlene <strong>de</strong> Souza Pires<br />

INTRODUÇÃO<br />

O selênio (Se) é um el<strong>em</strong>ento, relativamente raro, <strong>de</strong><br />

número atômico 34 e peso 78,96. Foi i<strong>de</strong>ntificado pela<br />

primeira vez <strong>em</strong> 1817 por John Jacob Berzelius. Em 1957<br />

Schwarz e Foltz reportaram que o selênio seria um<br />

el<strong>em</strong>ento traço essencial, pois prevenia a necrose<br />

hepática <strong>em</strong> ratos com <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> vitamina E. Em<br />

1959 foi feito o primeiro relato relacionando o selênio<br />

com o sist<strong>em</strong>a imune, quando se observou a<br />

incorporação do mesmo a uma proteína leucocitária,<br />

mais tar<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificada como glutationa peroxidase<br />

(GPX). A importância do selênio para o hom<strong>em</strong> somente<br />

foi evi<strong>de</strong>nciada <strong>em</strong> 1973, quando a seleno-enzima<br />

glutationa peroxidase (GPX) foi i<strong>de</strong>ntificada como sendo<br />

vital na proteção das m<strong>em</strong>branas celulares e subcelulares.<br />

Em 1979 cientistas chineses <strong>de</strong>monstraram que a<br />

supl<strong>em</strong>entação com selênio prevenia o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da doença <strong>de</strong> Keshan, miocardiopatia que ocorria <strong>em</strong><br />

crianças e gestantes (moradoras <strong>de</strong> locais com solo pobre<br />

<strong>em</strong> selênio). Burk e cols. fizeram gran<strong>de</strong>s progressos na<br />

purificação e caracterização <strong>de</strong> suas selenoproteínas P.<br />

O selênio também está envolvido na conversão do T4 <strong>em</strong><br />

T3, forma mais ativa do hormônio tireoi<strong>de</strong>ano. A baixa<br />

ingestão <strong>de</strong> selênio altera a função tireoi<strong>de</strong>ana,<br />

diminuindo os níveis <strong>de</strong> T 3<br />

, simultaneamente ao aumento<br />

<strong>de</strong> T 4<br />

.<br />

As selenoproteínas também são importantes na formação<br />

do esperma, no funcionamento da próstata e da função<br />

imunológica normal, particularmente da imunida<strong>de</strong><br />

mediada por células. Presume-se que a selenoproteína P<br />

plasmática exerça ação antioxidante extracelular ou esteja<br />

envolvida no transporte do selênio.<br />

SELÊNIO E SAÚDE HUMANA<br />

O selênio é um componente das selenoproteínas,<br />

algumas das quais têm importantes funções<br />

enzimáticas. Aproximadamente 35 selenoproteínas<br />

foram i<strong>de</strong>ntificadas, porém muitas <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penham<br />

funções que ainda não foram completamente<br />

esclarecidas. O selênio t<strong>em</strong> importantes repercussões à<br />

saú<strong>de</strong> particularmente <strong>em</strong> relação à resposta imune e à<br />

prevenção do câncer, que se encontram não<br />

exclusivamente relacionadas a estas funções<br />

enzimáticas.<br />

QUADRO CLÍNICO<br />

Deficiência: O estado nutricional do selênio po<strong>de</strong> ser<br />

avaliado por indicadores bioquímicos como os níveis<br />

séricos <strong>de</strong> selênio, que geralmente reflet<strong>em</strong> sua<br />

ingestão recente; os níveis <strong>de</strong> selênio nas h<strong>em</strong>ácias<br />

reflet<strong>em</strong> uma ingestão <strong>de</strong> longo t<strong>em</strong>po. A ativida<strong>de</strong><br />

plasmática da glutationa peroxidase também t<strong>em</strong> sido<br />

usada, assim como as concentrações <strong>em</strong> unhas e<br />

cabelos. A dosag<strong>em</strong> da selenoproteína P plasmática<br />

t<strong>em</strong>-se mostrado útil, já que seus níveis se<br />

correlacionam positivamente com os da glutationa<br />

redutase extracelular e do selênio sérico.<br />

Exist<strong>em</strong> evidências <strong>de</strong> que a mínima <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong><br />

selênio po<strong>de</strong> trazer conseqüências adversas, como a<br />

susceptibilida<strong>de</strong> a doenças e prejuízo da manutenção<br />

<strong>de</strong> um estado ótimo <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. O estado carencial <strong>de</strong><br />

selênio po<strong>de</strong> contribuir com a etiologia ou exacerbar a<br />

progressão da doença.<br />

Nas regiões com solo pobre <strong>em</strong> selênio foram relatados<br />

casos miocardiopatia e osteoartrite <strong>de</strong>formante,<br />

respectivamente conhecidas como Doença <strong>de</strong> Keshan e<br />

Doença <strong>de</strong> Kashin-Beck.<br />

34


Nos pacientes com Doença <strong>de</strong> Chagas, a <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong><br />

selênio parece ser um marcador biológico da infecção pelo<br />

Trypanosoma cruzi, além <strong>de</strong> estar relacionada com a<br />

progressão da doença. A <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> selênio parece<br />

contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento da insuficiência cardíaca<br />

congestiva <strong>em</strong> crianças com kwashiorkor e marasmokwashiorkor.<br />

Em estudo realizado na Finlândia <strong>de</strong>monstrou-se que<br />

baixos níveis séricos <strong>de</strong> selênio parec<strong>em</strong> estar associados<br />

com o aumento do risco <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> pulmão. Foram<br />

coletadas amostras séricas <strong>de</strong> aproximadamente 9.000<br />

pacientes do Finnish Mobile Clinic Health Examination<br />

Survey nos períodos <strong>de</strong> 1968 a 1971 e <strong>de</strong> 1973 a 1976.<br />

Até 1991, 95 pacientes tinham tido diagnóstico <strong>de</strong> câncer<br />

<strong>de</strong> pulmão. Os pesquisadores dosaram então os níveis<br />

séricos <strong>de</strong> selênio neste grupo e <strong>em</strong> 190 pacientes<br />

controles do mesmo grupo, observando uma relação<br />

inversa entre a incidência <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> pulmão e os níveis<br />

séricos <strong>de</strong> selênio.<br />

A <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> selênio é comum <strong>em</strong> renais crônicos <strong>em</strong><br />

h<strong>em</strong>odiálise prolongada, situação <strong>em</strong> que também ocorre<br />

comprometimento do sist<strong>em</strong>a antioxidativo, com lesão<br />

tecidual por radicais livres. A supl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> selênio,<br />

nestes casos aumenta os níveis séricos <strong>de</strong> selênio e da<br />

glutationa peroxidase plasmática e eritrocitária e otimiza o<br />

sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> purificação <strong>de</strong> radicais livres <strong>de</strong> oxigênio.<br />

A <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> selênio resulta <strong>em</strong> um aumento<br />

significativo do colesterol plasmático. Dietas pobres <strong>em</strong><br />

selênio aumentam duas a três vezes o risco <strong>de</strong> doença<br />

cardíaca, quando comparados com pessoas ingerindo<br />

dietas ricas <strong>em</strong> selênio. As enzimas que contêm selênio<br />

diminu<strong>em</strong> a oxidação das lipoproteínas e proteg<strong>em</strong> as<br />

artérias contra o <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> colesterol. É, portanto<br />

consenso que o selênio t<strong>em</strong> ação importante no<br />

mecanismo antiateroma.<br />

Estudos epi<strong>de</strong>miológicos, ainda controversos associam a<br />

alta ingestão <strong>de</strong> selênio com o reduzido risco <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> câncer.<br />

A doença <strong>de</strong> Keshan, uma miocardiopatia endêmica<br />

juvenil que acomete também mulheres <strong>em</strong> fase<br />

reprodutiva, observada na China, parece resultar da<br />

interação <strong>de</strong> diversos fatores, incluindo a <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong><br />

selênio, <strong>de</strong> vitamina E e ácidos graxos poliinsaturados e<br />

possivelmente <strong>de</strong> um agente infeccioso (vírus Coxsackie).<br />

Já a doença <strong>de</strong> Kashin-Beck é uma osteoartropatia<br />

endêmica que também foi ligada com o baixo estado <strong>de</strong><br />

selênio. Esta doença acomete principalmente crianças<br />

entre 5 a 13 anos que viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> certas regiões da China e<br />

da antiga União Soviética.<br />

Doenças relacionadas com <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> Selênio:<br />

• Câncer<br />

• Doenças <strong>de</strong>generativas<br />

• Deficiências imunológicas<br />

• Artrite Reumatói<strong>de</strong><br />

• Doenças cardíacas<br />

Vírus HIV: Exist<strong>em</strong> evidências <strong>de</strong> que a <strong>de</strong>ficiência do<br />

selênio contribuiria <strong>de</strong> forma negativa na evolução da<br />

infecção pelo HIV, e <strong>de</strong> que a sua supl<strong>em</strong>entação po<strong>de</strong>ria<br />

auxiliar no tratamento por ser um potente inibidor da<br />

replicação viral in vitro. A progressão da infecção pelo HIV<br />

ocorre paralelamente à perda progressiva das células CD4<br />

T helper. Mais <strong>de</strong> 20 estudos relatam o <strong>de</strong>clínio<br />

progressivo dos níveis plasmáticos <strong>de</strong> selênio<br />

paralelamente à perda progressiva das células CD4 na<br />

infecção pelo HIV. Este <strong>de</strong>clínio do selênio ocorre mesmo<br />

<strong>em</strong> estágios iniciais da doença quando a <strong>de</strong>snutrição ou a<br />

má-absorção não po<strong>de</strong> ser um cofator associado. É fato<br />

que o selênio plasmático é um forte fator preditor do<br />

<strong>de</strong>sfecho da infecção pelo HIV. Baum e colaboradores<br />

mostraram que os pacientes HIV que eram selênio<br />

<strong>de</strong>ficientes tinham 20 vezes maior chance <strong>de</strong> morrer <strong>de</strong><br />

causas HIV relacionadas do que aqueles com níveis<br />

a<strong>de</strong>quados ( p< 0,0001). A <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> selênio é<br />

consi<strong>de</strong>rada por estes pesquisadores como a concentração<br />

plasmática igual ou menor do que 85 µg/L, uma<br />

concentração não atingida <strong>em</strong> muitos países do norte da<br />

Europa, on<strong>de</strong>, por ex<strong>em</strong>plo, um estudo escocês encontrou<br />

uma concentração média <strong>de</strong> 60 µg/L. Baun e<br />

colaboradores <strong>de</strong>monstraram que a presença <strong>de</strong> baixos<br />

níveis <strong>de</strong> selênio é um fator <strong>de</strong> risco significativamente<br />

35


maior para a mortalida<strong>de</strong> do que a contag<strong>em</strong> <strong>de</strong> células T,<br />

por um fator <strong>de</strong> 16, e confere um risco significativamente<br />

maior que a <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> qualquer outro nutriente já<br />

investigado. Em pacientes com HIV, a <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong><br />

selênio também está associada a um maior risco relativo<br />

do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> infecções por micobactérias. Em<br />

crianças infectadas pelo HIV, os baixos níveis <strong>de</strong> selênio<br />

plasmático estavam significativamente e<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente relacionados à mortalida<strong>de</strong> e<br />

progressão mais rápida da doença (risco relativo 5.96,<br />

p=0,02). O selênio parece também ter um efeito protetor<br />

contra a progressão para a condição <strong>de</strong> câncer hepático<br />

nos indivíduos infectados pelo vírus da hepatite (B ou C).<br />

FONTES<br />

O selênio encontrado no solo é incorporado a ca<strong>de</strong>ia<br />

alimentar através dos vegetais, e conseqüent<strong>em</strong>ente dos<br />

animais que <strong>de</strong>les se alimentam. Dessa forma, está<br />

presente nos alimentos ligados a dois aminoácidos<br />

modificados, a selenocisteína (orig<strong>em</strong> animal) e a<br />

selenometionina (orig<strong>em</strong> vegetal), sendo a sua<br />

concentração <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do teor <strong>de</strong> selênio no solo.<br />

Há muitas regiões seleníferas ricas <strong>de</strong>sse micronutriente<br />

como a Venezuela e outras pobres como, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

Keshan na China. As chuvas ácidas reduz<strong>em</strong> o teor <strong>de</strong><br />

selênio dos vegetais. De forma geral, quanto maior o<br />

conteúdo <strong>de</strong> proteína no alimento, maior a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

selênio. O selênio está presente <strong>em</strong> boa quantida<strong>de</strong> <strong>em</strong><br />

alimentos como o aipo, alho, brócolis, cebola, cereais<br />

integrais, cogumelos, farelo <strong>de</strong> trigo, fígado, frango,<br />

vísceras, peixes, atum, frutos do mar, g<strong>em</strong>a <strong>de</strong> ovo, germe<br />

<strong>de</strong> trigo, pepino e repolho. A castanha-do-pará t<strong>em</strong> altos<br />

níveis <strong>de</strong> selênio (16 a 30 (µg/g), <strong>em</strong> contraste com a<br />

maioria dos alimentos, que contém entre 0,01 e 1(µg/g).<br />

Frutas e verduras <strong>em</strong> geral são pobres <strong>em</strong> selênio, mas<br />

po<strong>de</strong>m ser uma boa fonte <strong>de</strong>sse nutriente se o solo for<br />

adubado ou previamente rico <strong>em</strong> selênio. Vegetarianos<br />

que não com<strong>em</strong> ovos têm uma necessida<strong>de</strong> aumentada <strong>de</strong><br />

selênio. O conteúdo <strong>de</strong> selênio nos alimentos é<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do selênio do solo, que po<strong>de</strong> variar <strong>em</strong> seu<br />

conteúdo <strong>em</strong> até 200 vezes.<br />

Os níveis <strong>de</strong> selênio no leite humano são menores que no<br />

leite <strong>de</strong> vaca, no entanto o leite humano apresenta pouco<br />

risco tanto <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência quanto <strong>de</strong> excesso <strong>de</strong>vido a sua<br />

biodisponibilida<strong>de</strong>, sendo a situação nutricional <strong>de</strong> selênio<br />

melhor <strong>em</strong> lactentes amamentados ao seio. O leite<br />

humano contém a<strong>de</strong>quado nível <strong>de</strong> selênio (entre 15 e<br />

20(g/l). O efeito da cocção parece ser pequeno na<br />

biodisponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> selênio no alimento.<br />

A ingestão <strong>de</strong> selênio é a<strong>de</strong>quada para a maioria das<br />

pessoas que habitualmente inger<strong>em</strong> alimentação variada e<br />

com quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia suficiente. Indivíduos<br />

<strong>de</strong>snutridos, ingerindo dietas muito restritivas ou<br />

submetidos à nutrição parenteral prolongada, po<strong>de</strong>m<br />

constituir grupos <strong>de</strong> risco para <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> selênio. Os<br />

sintomas <strong>de</strong>scritos nesses casos se caracterizam por<br />

macrocitose, redução da movimentação, dor muscular,<br />

aumento da creatinoquinase e pseudoalbinismo, todos<br />

corrigidos após a administração <strong>de</strong> selênio.<br />

METABOLISMO<br />

A eficiência da absorção intestinal do selênio inorgânico<br />

varia entre 50 e 80%. As formas orgânicas, selenocisteína<br />

e selenometionina são re-utilizadas pelo organismo <strong>de</strong><br />

forma mais eficiente. O selênio apresenta importante papel<br />

<strong>em</strong> várias vias metabólicas, tendo sido i<strong>de</strong>ntificadas mais<br />

<strong>de</strong> 30 seleno-proteínas e caracterizada a função biológica<br />

da meta<strong>de</strong>. Aproximadamente 60% do selênio no plasma<br />

se encontra incorporado <strong>em</strong> seleno-proteína P, que contém<br />

moléculas <strong>de</strong> selênio na forma <strong>de</strong> selenocisteína. A selenoproteína<br />

P parece servir como transportador do selênio,<br />

facilitando sua distribuição corporal. A presença da selenoproteína<br />

P <strong>em</strong> vários tecidos sugere a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que<br />

tenha muitas outras funções ainda não <strong>de</strong>svendadas. A<br />

seleno-proteína iodotironina <strong>de</strong>iodinase apresenta papel<br />

fundamental na conversão da tiroxina (T4) <strong>em</strong><br />

triiodotironina (T3), enquanto que a seleno-proteína W<br />

está envolvida no metabolismo muscular. Para<br />

bioativida<strong>de</strong> e síntese <strong>de</strong> algumas seleno-proteínas, o<br />

selênio <strong>de</strong>ve estar presente numa forma intermediária<br />

“seleni<strong>de</strong>-like”, se incorporando a resíduos <strong>de</strong><br />

selenocisteína, que geralmente é o sítio ativo das<br />

36


selenoproteínas. Após absorção, o selênio, se acumula <strong>em</strong><br />

fígado e rins, principalmente ligado a GPX. Os níveis<br />

plasmáticos normais variam <strong>de</strong> uma região para outra, na<br />

<strong>de</strong>pendência da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> selênio nos alimentos. A<br />

principal via <strong>de</strong> eliminação do selênio é a renal (50 a 60%<br />

do total), diminuindo sua excreção quando o aporte<br />

alimentar é insuficiente.<br />

FUNÇÃO IMUNE<br />

Vários estudos suger<strong>em</strong> que a <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> selênio está<br />

acompanhada da perda da imunocompetência,<br />

possivelmente não se <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rando o fato <strong>de</strong> que o<br />

selênio encontra-se normalmente <strong>em</strong> quantida<strong>de</strong>s<br />

significativas nos tecidos relacionados à função imune<br />

como o fígado, baço e linfonodos. Tanto a imunida<strong>de</strong><br />

celular como a imunida<strong>de</strong> humoral po<strong>de</strong>m estar<br />

comprometidas.<br />

De forma comparativa a supl<strong>em</strong>entação com selênio,<br />

mesmo nos indivíduos “selenosuficientes”, t<strong>em</strong> importante<br />

efeito estimulante ao sist<strong>em</strong>a imune, incluindo um<br />

aumento da proliferação das células T ativadas (expansão<br />

clonal). Os linfócitos <strong>de</strong> voluntários supl<strong>em</strong>entados com<br />

200 µg por dia <strong>de</strong> selênio (como sódio selenito)<br />

mostraram um aumento da resposta à estimulação<br />

antigênica e uma maior capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> linfócitos citotóxicos com maior <strong>de</strong>struição das células<br />

tumorais. A ativida<strong>de</strong> das células natural-killer mostrou-se<br />

também aumentada. A supl<strong>em</strong>entação resultou num<br />

aumento <strong>de</strong> 118% da citotoxicida<strong>de</strong> tumoral mediada<br />

pelos linfócitos citotóxicos e na elevação <strong>de</strong> 82% da<br />

ativida<strong>de</strong> das células natural killer quando comparados ao<br />

nível basal.<br />

O mecanismo parece estar intimamente relacionado à<br />

capacida<strong>de</strong> do selênio <strong>de</strong> regular a expressão dos<br />

receptores a citoquina reguladora <strong>de</strong> crescimento, a<br />

interleucina-2, na superfície <strong>de</strong> linfócitos ativados e <strong>de</strong><br />

células natural killer, facilitando a sua interação com a<br />

interleucina-2. Esta interação é crucial para a expansão<br />

clonal e diferenciação <strong>de</strong> células T citotóxicas.<br />

As células do sist<strong>em</strong>a imune po<strong>de</strong>m ter uma importante<br />

necessida<strong>de</strong> funcional <strong>de</strong> selênio. As células T ativadas<br />

mostram uma elevação da ativida<strong>de</strong> da selenofosfato<br />

sintetase controlada <strong>em</strong> direção à síntese <strong>de</strong> selenocisteína,<br />

que mostra a importância das selenoproteínas na ativação<br />

da função das células T e para o controle da resposta<br />

imune. Os RNA mensageiros <strong>de</strong> vários genes relacionados<br />

à célula T ( subunida<strong>de</strong> _ do receptor <strong>de</strong> interleucina-2,<br />

CD 4<br />

) têm a capacida<strong>de</strong> teórica <strong>de</strong> <strong>de</strong>codificar<br />

selenoproteínas, sugerindo que os papéis do selênio no<br />

sist<strong>em</strong>a imune po<strong>de</strong> ser mais diversificado do que o<br />

previamente conhecido.<br />

A supl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> selênio parece impulsionar a<br />

imunida<strong>de</strong> celular por meio <strong>de</strong> três mecanismos:<br />

1. regula a expressão do receptor <strong>de</strong> alta afinida<strong>de</strong> a<br />

interleucina-2 das células T, proporciona também um<br />

veículo para aumentar a resposta das células T, com<br />

conseqüente estimulação da produção <strong>de</strong> anticorpos<br />

pelos linfócitos B;<br />

2. previne dano induzido pelo estresse oxidativo a<br />

imunida<strong>de</strong> celular.<br />

3. altera a agregação plaquetária através da diminuição<br />

da produção <strong>de</strong> leucotrienos<br />

NECESSIDADES E SUPLEMENTAÇÃO<br />

O selênio protege compostos orgânicos intracelulares<br />

contra a luz ultravioleta, fenômeno envolvido na<br />

carcinogênese, justificando a supl<strong>em</strong>entação com selênio<br />

na prevenção do câncer <strong>de</strong> pele <strong>em</strong> pessoas predispostas e<br />

vivendo <strong>em</strong> regiões com solo pobre nesse micronutriente.<br />

T<strong>em</strong> sido sugerido que o selênio t<strong>em</strong> potencial na<br />

quimioprevenção da neoplasia colorretal e como<br />

coadjuvante no tratamento do carcinoma <strong>de</strong> células<br />

escamosas da cabeça e pescoço, com melhora importante<br />

da resposta imune celular.<br />

Em pacientes graves, a supl<strong>em</strong>entação com selênio<br />

contribui para diminuição da falência <strong>de</strong> múltiplos órgãos<br />

e sist<strong>em</strong>as, principalmente a insuficiência renal e<br />

respiratória. Foi observado também, diminuição da<br />

incidência <strong>de</strong> infecção secundária <strong>em</strong> pacientes<br />

politraumatizados e gran<strong>de</strong>s queimados.<br />

37


RECOMENDAÇÕES<br />

Embora sejam b<strong>em</strong> conhecidas as necessida<strong>de</strong>s diárias <strong>de</strong><br />

selênio ainda não se conhece a dose a<strong>de</strong>quada para a<br />

função imunomoduladora.<br />

As referências <strong>de</strong> ingestão (DRIs) <strong>de</strong> Selênio variam com a<br />

ida<strong>de</strong> e sexo e po<strong>de</strong>m ser resumidos na tabela abaixo:<br />

Recomendações alimentares <strong>de</strong> selênio (µg/dia) para<br />

crianças, homens e mulheres <strong>em</strong> diferentes faixas etárias.<br />

Lactentes<br />

Crianças<br />

Homens<br />

Mulheres<br />

Gestantes<br />

Lactantes<br />

IDADE<br />

0-6 meses<br />

7-12 meses<br />

1-3 anos<br />

4-8 anos<br />

9-13 anos<br />

14-18 anos<br />

9-13 anos<br />

14 -18 anos<br />

≤ 18 anos<br />

≤ 18 anos<br />

Dietary Reference Intakes<br />

Recomendação<br />

(RDA)<br />

µg/dia<br />

15*<br />

20*<br />

20<br />

30<br />

40<br />

55<br />

40<br />

55<br />

60<br />

70<br />

Fonte: Institute of Medicine - Dietary Reference Intake, 2001<br />

*AI<br />

TOXICIDADE<br />

O selênio <strong>em</strong> si parece não ser tóxico, mas <strong>de</strong>terminados<br />

selení<strong>de</strong>os <strong>de</strong> hidrogênio têm gran<strong>de</strong> toxicida<strong>de</strong>,<br />

s<strong>em</strong>elhantes ao arsênico. Chineses ingerindo quantida<strong>de</strong>s<br />

excessivas <strong>de</strong> selênio (1.000 (µg/dia), na tentativa <strong>de</strong><br />

profilaxia da doença <strong>de</strong> Keshan, <strong>de</strong>senvolveram<br />

espessamento <strong>de</strong> unhas, aroma <strong>de</strong> alho no hálito, an<strong>em</strong>ia<br />

e perda <strong>de</strong> cabelos e unhas. Em síntese, são relatados<br />

como sintomas <strong>de</strong> superdosag<strong>em</strong>: diarréia;<br />

enfraquecimento <strong>de</strong> unhas; odor <strong>de</strong> alho no hálito e suor;<br />

perda <strong>de</strong> cabelo; irritabilida<strong>de</strong>; prurido; gosto metálico;<br />

náusea e vômitos; fadiga incomum e astenia.<br />

38


Bibliografia consultada<br />

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39


▲<br />

▲<br />

▲<br />

▲<br />

▲<br />

▲<br />

▲<br />

Nucleotí<strong>de</strong>os<br />

Relatores: Ary Lopes Cardoso e Alfredo Cantalice<br />

1 – DEFINIÇÃO<br />

São as unida<strong>de</strong>s básicas dos ácidos nucléicos DNA e RNA,<br />

componentes intracelulares <strong>de</strong> baixo peso molecular que<br />

participam <strong>de</strong> numerosos processos bioquímicos.<br />

Destacam-se as reações <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> energia e<br />

modulação da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diversos enzimas.<br />

Os nucleotí<strong>de</strong>os consist<strong>em</strong> <strong>de</strong> uma base nitrogenada e<br />

um carboidrato (uma pentose). A esse conjunto se ligam<br />

<strong>de</strong> 1 a 3 grupos fosfatos. Os principais representantes<br />

envolvidos numa gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> processos<br />

biológicos são os <strong>de</strong>soxirribonucleotí<strong>de</strong>os , <strong>em</strong> que a<br />

pentose <strong>de</strong>soxirribose é usada no DNA, e os<br />

ribonucleotí<strong>de</strong>os, on<strong>de</strong> a pentose é a ribose que é usada<br />

no RNA.<br />

Os <strong>de</strong> interesse primário são as formas <strong>de</strong> monofosfato <strong>de</strong><br />

a<strong>de</strong>nosina (AMP), guanosina (GMP), inosina (IMP),<br />

citidina (CMP) e uridina (UMP).<br />

A gran<strong>de</strong> parcela dos nucleotí<strong>de</strong>os ingeridos o é na<br />

forma <strong>de</strong> nucleoproteínas. No leite materno existe<br />

também uma parcela <strong>de</strong> nucleotí<strong>de</strong>os livres e ácidos<br />

nuclêicos. Além do leite materno, a carne, os frutos do<br />

mar e os legumes secos são alguns dos alimentos que<br />

possu<strong>em</strong> gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> nucleotí<strong>de</strong>os <strong>em</strong> sua<br />

composicão.<br />

No trato gastrointestinal a ação das enzimas<br />

proteolíticas faz com que se liber<strong>em</strong> os ácidos nuclêicos,<br />

que se <strong>de</strong>gradam formando uma mistura <strong>de</strong><br />

polinucleotí<strong>de</strong>os por ação das nucleases pancreáticas.Os<br />

grupos fosfato dos nucleotí<strong>de</strong>os são clivados pela<br />

fosfatase alcalina intestinal para formar nucleosí<strong>de</strong>os.<br />

Estes, sob a ação das nucleosida<strong>de</strong>s vão formar as bases<br />

livres purinas e pirimidinas (QUADRO 1)<br />

QUADRO 1 – Metabolismo dos Nucleotí<strong>de</strong>os<br />

Habitualmente os nucleotí<strong>de</strong>os não são consi<strong>de</strong>rados<br />

essenciais uma vez que po<strong>de</strong>m ser sintetizados no<br />

organismo. No entanto <strong>em</strong> situações <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>manda<br />

metabólica, como aquela que acontece no período<br />

neonatal, quando existe uma gran<strong>de</strong> proliferação celular,<br />

o suprimento endógeno po<strong>de</strong> não ser suficiente para<br />

suprir as necessida<strong>de</strong>s, e <strong>de</strong>ssa forma eles se tornam<br />

s<strong>em</strong>i-essenciais ou condicionalmente essenciais.<br />

Nucleoproteinas<br />

Proteases<br />

Acidos Nuclêicos<br />

Nucleases pancreáticas;<br />

fosfoesterases<br />

Nucleotí<strong>de</strong>os<br />

Nucleotí<strong>de</strong>os<br />

2 – METABOLISMO<br />

O leite materno é a principal fonte exógena <strong>de</strong><br />

nucleotí<strong>de</strong>os: 2 a 5% do nitrogênio não protêico é<br />

constituído por eles. Essas quantida<strong>de</strong>s correspon<strong>de</strong>m a<br />

25% do nitrogênio total do leite humano. Nas fórmulas<br />

baseadas <strong>em</strong> leite <strong>de</strong> vaca apenas 2% do nitrogênio total<br />

correspon<strong>de</strong> a essa fração, o que evi<strong>de</strong>ncia a importancia<br />

do leite materno como fonte <strong>de</strong>sse nutriente.<br />

P in Fosfatase Alcalina<br />

intestinal / nucleotidases<br />

Nucleosí<strong>de</strong>os<br />

Nucleosí<strong>de</strong>os<br />

Nucleosidases<br />

Purinas & Pirimidinas<br />

Purinas & Pirimidinas<br />

40


Mais <strong>de</strong> 90% do que é ingerido é absorvido numa<br />

combinação <strong>de</strong> bases, nucleotí<strong>de</strong>os, nucleosí<strong>de</strong>os e<br />

ácidos nuclêicos. No entanto, no trato gastrointesinal,<br />

primariamente a forma mais absorvida é a dos<br />

nucleosí<strong>de</strong>os.<br />

TABELA 1<br />

Concentração média dos nucleotí<strong>de</strong>os e total <strong>de</strong><br />

nucleosí<strong>de</strong>os potencialmente disponíveis (TNPD) <strong>em</strong><br />

amostras misturadas <strong>de</strong> leite humano por estágio <strong>de</strong><br />

lactação * -(mg <strong>de</strong> nucleoti<strong>de</strong>os / litro)<br />

Uma parcela dos nucleotí<strong>de</strong>os<br />

absorvidos vai permanecer no<br />

interior do enterócito, ou <strong>de</strong><br />

células h<strong>em</strong>atopoiéticas, ou ainda<br />

na medula óssea, a título <strong>de</strong><br />

estoque para ser mobilizada <strong>em</strong><br />

situações <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>. Isso<br />

po<strong>de</strong> ocorrer, por ex<strong>em</strong>plo, numa<br />

situação <strong>em</strong> que seja necessária<br />

maior síntese ou proliferação<br />

tecidual. O conteúdo <strong>de</strong><br />

nucleotí<strong>de</strong>os no interior das<br />

células é muito b<strong>em</strong> regulado e<br />

não sofre variações.<br />

Colostro<br />

Leite transição<br />

Leite maduro precoce<br />

Leite maduro tardio<br />

Média<br />

Dp<br />

Intervalo<br />

Leite - mães americanas**<br />

Uridina<br />

9.5<br />

11.8<br />

17.7<br />

17.3<br />

14.0<br />

4.2<br />

7.7/24.7<br />

16<br />

Citidina<br />

22.0<br />

26.7<br />

31.7<br />

29.8<br />

27.3<br />

7.8<br />

10.3/45.4<br />

30<br />

Guanosina<br />

10.0<br />

14.3<br />

21.4<br />

13.4<br />

14.9<br />

6.6<br />

9.1/43.9<br />

15<br />

A<strong>de</strong>nosina<br />

7.4<br />

10.3<br />

16.3<br />

11.0<br />

11.3<br />

6.9<br />

4.6/34.4<br />

11<br />

*dados <strong>de</strong> 100 amostras individuais coletadas <strong>em</strong> 4 locais e combinadas <strong>em</strong> 16 amostras misturadas.<br />

**amostra misturada <strong>de</strong> leite coletado <strong>de</strong> 11 mulheres entre 2 e 4 meses após o parto.<br />

TNPD<br />

48.9<br />

63.1<br />

87.1<br />

71.5<br />

67.5<br />

23.8<br />

31.7/148.4<br />

72<br />

3 – NUCLEOTÍDEOS POTENCIALMENTE<br />

DISPONÍVEIS<br />

As quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> nucleotí<strong>de</strong>os acrescentados às<br />

fórmulas infantis foram propostas por estudos que<br />

apenas levaram <strong>em</strong> conta as formas monoméricas dos<br />

nucleotí<strong>de</strong>os, isto é, nucleotí<strong>de</strong>os e nucleosí<strong>de</strong>os. Após<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novas técnicas para a<br />

<strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> todas as fontes <strong>de</strong> nucleotí<strong>de</strong>os, foi<br />

possivel se <strong>de</strong>terminar o total dos nucleotí<strong>de</strong>os<br />

<strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> todas as fontes no leite humano que<br />

po<strong>de</strong>m ser absorvidas, ou o total dos assim chamados<br />

nucleotí<strong>de</strong>os potencialmente disponíveis (TNPD). Para<br />

a <strong>de</strong>terminação dos TNPD a amostra <strong>de</strong> leite é<br />

incubada com enzimas específicas que são<br />

selecionadas para simular a digestão humana.<br />

É possível se observar que existe uma variação muito<br />

gran<strong>de</strong> na concentração dos nucleotí<strong>de</strong>os <strong>em</strong> cada estágio<br />

<strong>de</strong> lactação. Além disso também se observa um gran<strong>de</strong><br />

intervalo <strong>de</strong> valores para cada nucleosí<strong>de</strong>o e para o total<br />

dos nucleotí<strong>de</strong>os disponíveis. Até há muito pouco t<strong>em</strong>po a<br />

dosag<strong>em</strong> do conteúdo <strong>de</strong> nucleotí<strong>de</strong>os livres subestimava<br />

o total disponível e <strong>de</strong>ssa forma o enriquecimento das<br />

fórmulas era feito <strong>de</strong> maneira insuficiente. A fórmula<br />

láctea adicionada <strong>de</strong> nucleotí<strong>de</strong>os, que é disponível <strong>em</strong><br />

nosso meio possui quantida<strong>de</strong>s que se ass<strong>em</strong>elham ao<br />

conteúdo <strong>de</strong> nucleotí<strong>de</strong>os totais disponíveis existente no<br />

leite materno. A concentração média no leite materno é <strong>de</strong><br />

72 mg/litro e na fórmula é <strong>de</strong> 68 mg/litro.<br />

Na tabela abaixo estão as concentrações médias dos<br />

nucleotí<strong>de</strong>os e o total <strong>de</strong> nucleosí<strong>de</strong>os potencialmente<br />

disponíveis <strong>em</strong> amostras <strong>de</strong> leite humano <strong>de</strong> acordo<br />

com o estágio da lactação.<br />

41


4 – EFEITOS BIOLÓGICOS DOS NUCLEOTÍDEOS<br />

4.1 Efeitos gastrointestinais<br />

No quadro 2 estão expostos os inúmeros efeitos<br />

gastrointestinais <strong>de</strong>correntes da ação dos nucleotí<strong>de</strong>os.<br />

QUADRO 2<br />

Efeitos dos nucleotí<strong>de</strong>os no trato gastrointestinal<br />

• promove crescimento e maturação do intestino -<br />

aumenta a proteína da mucosa e do DNA dos<br />

enterócitos;<br />

• promove crescimento da altura dos vilos;<br />

• aumento da ativida<strong>de</strong> das dissacaridases;<br />

• melhora a doença diarrêica - aumenta a resposta<br />

imune aos patógenos e/ou promove a integrida<strong>de</strong><br />

da mucosa;<br />

• promove predomínio <strong>de</strong> flora bacteriana intestinal<br />

s<strong>em</strong>elhante a <strong>de</strong> crianças alimentadas com leite<br />

materno;<br />

• aumenta a biodisponibilida<strong>de</strong> do Ferro - maior<br />

absorção.<br />

Os efeitos relacionados com crescimento da altura dos<br />

vilos, aumento da proteína da mucosa e do DNA nos<br />

enterócitos, são <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

nucleotí<strong>de</strong>os que é ingerida. Assim é que pelo menos<br />

0.2% <strong>de</strong> supl<strong>em</strong>entação parece ser já uma quantida<strong>de</strong><br />

razoável para que ocorra esse estímulo. Em média as<br />

quantida<strong>de</strong>s ingeridas chegam até 0.8%.<br />

Com relação ao efeito <strong>de</strong> diminuir a diarréia, o que se<br />

mostrou num estudo realizado no Chile foi que o uso <strong>de</strong><br />

nucleotí<strong>de</strong>os para um grupo <strong>de</strong> lactentes promoveu uma<br />

diminuição do número <strong>de</strong> primeiros episódios <strong>de</strong> doença<br />

diarrêica. Não houve, no entanto, diferenças entre as<br />

características clínicas e o tipo <strong>de</strong> enteropatógenos<br />

encontrados quando se comparou um grupo <strong>de</strong> crianças<br />

com fórmula habitual e outra com fórmula supl<strong>em</strong>entada<br />

com nucleotí<strong>de</strong>os. As hipóteses aventadas foram a <strong>de</strong> que<br />

haveria um efeito <strong>de</strong> melhora da resposta imune aos<br />

patógenos, e ainda um efeito na manutenção da<br />

integrida<strong>de</strong> da mucosa intestinal.<br />

Os lactentes alimentados com nucleotí<strong>de</strong>os possu<strong>em</strong><br />

predomínio <strong>de</strong> bifidobactérias <strong>em</strong> sua flora intestinal,<br />

s<strong>em</strong>elhante aquela dos lactentes amamentados ao seio. A<br />

hidrólise dos açucares promovida por esse tipo <strong>de</strong> flora<br />

permite a manutenção <strong>de</strong> um pH ácido na luz intestinal,<br />

impedindo com isso o crescimento e proliferação <strong>de</strong><br />

espécies patogênicas como os bacterói<strong>de</strong>s e o Clostridium.<br />

É importante ressaltar que esses achados, no entanto, não<br />

são unânimes entre os diversos autores.<br />

4.2 – Efeitos imunológicos<br />

Os inúmeros estudos <strong>de</strong>dicados à atuação dos nucleotí<strong>de</strong>os<br />

sobre a função imunológica dos lactentes t<strong>em</strong> mostrado<br />

que eles atuam principalmente:<br />

• promovendo a maturação do linfócito T<br />

• aumentando a produção <strong>de</strong> interleucina 2 e outras<br />

linfocinas<br />

• aumentando a ativida<strong>de</strong> das células killer<br />

Des<strong>de</strong> 1990 a atuação do leite materno na formação <strong>de</strong><br />

anticorpos t<strong>em</strong> sido investigada no sentido <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r<br />

como os lactentes amamentados consegu<strong>em</strong> ter maior<br />

fabricação <strong>de</strong> anticorpos <strong>em</strong> resposta a vacinas orais e<br />

parenterais.<br />

S<strong>em</strong>pre que uma resposta apropriada <strong>de</strong> anticorpos é<br />

gerada após uma provocação antigênica, significa que o<br />

sist<strong>em</strong>a imune está integro. Isso fornece o fundamento<br />

para o <strong>em</strong>prego da resposta às vacinas como meio <strong>de</strong><br />

avaliação da competência do sist<strong>em</strong>a imunológico. As<br />

diferenças na resposta <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> anticorpos <strong>em</strong><br />

estudos <strong>de</strong> acompanhamento <strong>de</strong> lactentes após ter<strong>em</strong> sido<br />

vacinados com diversos tipos <strong>de</strong> vacinas, permitiu que se<br />

tivesse base para comparar fórmulas com e s<strong>em</strong><br />

nucleotí<strong>de</strong>os, exatamente para se avaliar o seu papel no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do sist<strong>em</strong>a imunológico.<br />

Exist<strong>em</strong> estudos que compararam a resposta imune ativa<br />

<strong>de</strong> lactentes amamentados com aquela <strong>de</strong> um grupo que<br />

recebeu fórmula <strong>de</strong> leite <strong>de</strong> vaca modificado. Mostrou-se<br />

que aos 7 e 12 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, os níveis <strong>de</strong> anticorpos<br />

contra o Ha<strong>em</strong>ofilus influenza tipo B eram s<strong>em</strong>elhantes<br />

nos dois grupos.<br />

42


Um outro grupo <strong>de</strong> pesquisadores estudou<br />

prospectivamente vários grupos <strong>de</strong> lactentes quanto ao<br />

tipo <strong>de</strong> leite recebido:<br />

• fórmula contendo nucleotí<strong>de</strong>os <strong>em</strong> quantida<strong>de</strong>s<br />

s<strong>em</strong>elhantes aquelas encontradas no leite materno<br />

• fórmula s<strong>em</strong> nucleotí<strong>de</strong>os e<br />

• leite materno.<br />

Durante 12 meses a função imune foi estudada através da<br />

resposta a algumas vacinas. Foram <strong>de</strong>terminadas as<br />

respostas anticórpicas aos 6, 7 e 12 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, frente à<br />

vacina contra o Ha<strong>em</strong>ofilus influenza tipo B, à vacina tríplice e<br />

à vacina Sabin. Clinicamente os grupos tiveram evoluções<br />

s<strong>em</strong>elhantes. No grupo com leite supl<strong>em</strong>entado houve<br />

aumento dos anticorpos antih<strong>em</strong>ofilus e antidifteria aos 7<br />

meses apenas, quando comparado com o supl<strong>em</strong>entado. Os<br />

níveis <strong>de</strong> anticorpos antipólio e antitétano não foram<br />

diferentes. No grupo amamentado houve aumento dos<br />

anticorpos antipólio <strong>de</strong> maneira significativa, aos 6 meses,<br />

<strong>em</strong> relação aos outros dois grupos. Essas diferenças<br />

po<strong>de</strong>riam ser atribuídas a um efeito estimulador da resposta<br />

da célula T pelos nucleotí<strong>de</strong>os.<br />

Outro estudo <strong>em</strong> <strong>de</strong>snutridos marásmicos supl<strong>em</strong>entados<br />

com nucleotí<strong>de</strong>os durante 3 meses mostrou que houve<br />

uma melhora na função imune <strong>de</strong>ssas crianças, além <strong>de</strong> ter<br />

sido constatado aumento sérico tanto <strong>de</strong> IgA como <strong>de</strong><br />

IgM. Houve ainda uma diminuição <strong>de</strong> infecções <strong>de</strong> vias<br />

respiratórias.<br />

Em pr<strong>em</strong>aturos também se observou resposta <strong>de</strong> maior<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> anticorpos circulantes à betalactoglobulina<br />

e alfa-caseína quando recebiam fórmula<br />

com nucleotí<strong>de</strong>os <strong>em</strong> concentrações s<strong>em</strong>elhantes aquelas<br />

encontradas no leite materno.<br />

Os estudos <strong>em</strong> animais mostrando que a <strong>de</strong>privação <strong>de</strong><br />

nucleotí<strong>de</strong>os prolonga a sobrevida <strong>de</strong> enxertos <strong>de</strong> coração<br />

além <strong>de</strong> impedir a resposta imunoproliferativa a eles,<br />

apontam para a hipótese <strong>de</strong> que os nucleotí<strong>de</strong>os<br />

estimulariam a ativida<strong>de</strong> das células killer nos lactentes<br />

que receb<strong>em</strong> leite materno ou leite com nucleotí<strong>de</strong>os.<br />

Dessa forma, apesar <strong>de</strong> alguns estudos contraditórios e<br />

outros <strong>de</strong> pouca significância estatística, hoje admite-se<br />

que os nucleotí<strong>de</strong>os t<strong>em</strong> papel relevante no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do sist<strong>em</strong>a imune através do<br />

envolvimento <strong>de</strong> diversos componentes da imunida<strong>de</strong><br />

celular como a maturação dos linfócitos T, a ativação dos<br />

macrófagos, das citocinas, e da ativida<strong>de</strong> natural das<br />

células killer.<br />

4.3 – Efeitos no metabolismo dos lípi<strong>de</strong>s<br />

Diversas ações sobre o metabolismo <strong>de</strong> lípi<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m<br />

ser atribuídas aos nucleotí<strong>de</strong>os:<br />

• aumenta HDL<br />

• diminui LDL<br />

• aumenta síntese <strong>de</strong> poliinsaturados<br />

Os nucleotí<strong>de</strong>os da dieta po<strong>de</strong>m modular o<br />

metabolismo <strong>de</strong> lipoproteínas e <strong>de</strong> ácidos graxos no<br />

início da vida. Estudos clínicos mostram que os<br />

lactentes que receb<strong>em</strong> nucleotí<strong>de</strong>os t<strong>em</strong> menores níveis<br />

<strong>de</strong> VLDL e maiores <strong>de</strong> HDL. Se isso é consequencia do<br />

efeito direto dos nucleotí<strong>de</strong>os na síntese <strong>de</strong><br />

lipoproteínas ou na ativação das enzimas envolvidas<br />

nesses processos, ainda não se sabe. Esse mesmo<br />

aumento das lipoproteínas séricas também acontece <strong>em</strong><br />

recém-nascidos normais amamentados, como também<br />

nos recém-nascidos pequenos para a ida<strong>de</strong> que<br />

receb<strong>em</strong> ou leite materno ou leite supl<strong>em</strong>entado com<br />

nucleotí<strong>de</strong>os.<br />

Em eritrócitos <strong>de</strong> pr<strong>em</strong>aturos e também <strong>de</strong> recémnascidos<br />

<strong>de</strong> termo, que receb<strong>em</strong> nucleotí<strong>de</strong>os o<br />

aumento dos poliinsaturados também já foi constatado.<br />

Em resumo, parece que os nucleotí<strong>de</strong>os t<strong>em</strong> papel na<br />

função imune, na função gastrointestinal e no<br />

metabolismo lipídico do lactente. No entanto, as<br />

controvérsias existentes nos diferentes mecanismos<br />

envolvidos nessas atuações ainda contribu<strong>em</strong> para que a<br />

sua real importância do ponto <strong>de</strong> vista nutricional<br />

necessite <strong>de</strong> maiores estudos.<br />

43


5 – SUPLEMENTAÇÃO DE FÓRMULAS<br />

O leite materno consegue suprir as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

nucleotí<strong>de</strong>os principalmente as quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> UMP, CMP<br />

e AMP. O mesmo po<strong>de</strong>-se dizer das fórmulas<br />

supl<strong>em</strong>entadas existentes no mercado. Essas quantida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>v<strong>em</strong> suprir as necessida<strong>de</strong>s dos organismos que estão<br />

<strong>em</strong> rápido crescimento e que necessitam dos precursores<br />

dos ácidos nucléicos.<br />

Hoje po<strong>de</strong>-se dizer que a supl<strong>em</strong>entação com nucleotí<strong>de</strong>os<br />

nas quantida<strong>de</strong>s equivalentes às presentes no leite<br />

humano, que são <strong>de</strong> 7 a 30 mg/dl, é segura.<br />

Efeitos tóxicos como supl<strong>em</strong>entação exagerada, a<br />

possível instabilida<strong>de</strong> das fórmulas supl<strong>em</strong>entadas e a<br />

<strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> que a estimulação da função imune<br />

po<strong>de</strong>ria ser traduzida por diminuição da morbida<strong>de</strong> dos<br />

lactentes, são fatores que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser cuidadosamente<br />

avaliados antes <strong>de</strong> se apregoar o benefício do uso da<br />

supl<strong>em</strong>entação rotineira dos nucleotí<strong>de</strong>os.<br />

Bibliografia consultada<br />

Borges VC,Duarte AJS,Waitzberg DL. Imunonutrição - uma perspectiva<br />

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ultrastructural changes. GUT 1994; 35:962-73.<br />

44


Volume 3 - Ano 2004<br />

t<strong>em</strong>as<br />

<strong>de</strong> nutrição <strong>em</strong> <strong>pediatria</strong><br />

Publicação elaborada pelo Departamento <strong>de</strong><br />

Nutrição da Socieda<strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>


Alimentos funcionais<br />

Relator: Antônio <strong>de</strong> Azevedo Barros Filho<br />

INTRODUÇÃO<br />

A idéia que <strong>de</strong>terminados tipos <strong>de</strong> alimentos po<strong>de</strong>m ser benéficos à saú<strong>de</strong><br />

v<strong>em</strong> <strong>de</strong> longa data, sendo inclusive referida por Hipócrates, há 25 séculos. Os<br />

chás, por ex<strong>em</strong>plo, são reconhecidos por diversas culturas como tendo<br />

diferentes efeitos benéficos à saú<strong>de</strong>. No entanto, a partir da década <strong>de</strong> 80,<br />

inicialmente no Japão e <strong>em</strong> seguida nos Estados Unidos e <strong>em</strong> vários países da<br />

Europa começou-se a aceitar que a alimentação po<strong>de</strong>ria exercer um papel na<br />

preservação e inclusive na melhora da saú<strong>de</strong> das populações.<br />

Evidências epi<strong>de</strong>miológicas têm mostrado essa associação. A menor<br />

incidência <strong>de</strong> osteoporose e <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> mama na mulher asiática são<br />

atribuídas à dieta rica <strong>em</strong> vegetais e à soja, altamente consumida pela<br />

população. Na região do Mediterrâneo, com dieta rica <strong>em</strong> frutas e vegetais,<br />

óleo <strong>de</strong> oliva e carboidratos, há alta prevalência <strong>de</strong> pessoas com níveis<br />

elevados <strong>de</strong> colesterol, mas não correlacionada à maior incidência <strong>de</strong> infartos.<br />

Outra população característica é a dos esquimós com alto consumo <strong>de</strong><br />

gorduras s<strong>em</strong> correspo<strong>de</strong>nte aumento <strong>de</strong> doenças cardiovasculares. Neste<br />

caso, atribui-se ao consumo <strong>de</strong> peixe, rico <strong>em</strong> ácidos graxos polinsaturados <strong>de</strong><br />

ca<strong>de</strong>ia longa (ômega 3 e ômega 6). S<strong>em</strong> falar no ‘paradoxo francês’, que<br />

apresenta dieta rica <strong>em</strong> gordura, mas com incidência <strong>de</strong> doenças<br />

cardiovasculares b<strong>em</strong> mais baixas que outros paises que consom<strong>em</strong> menos<br />

gorduras. Neste caso a proteção é atribuída ao vinho, principalmente o vinho<br />

tinto.<br />

Além das evidências epi<strong>de</strong>miológicas referidas, algumas com resultados<br />

comprovados <strong>em</strong> laboratórios e estudos clínicos, exist<strong>em</strong> interesses<br />

econômicos, tanto pelo lado dos governos, como pelo lado das <strong>em</strong>presas.<br />

Como as populações estão envelhecendo, existe a preocupação com gastos na<br />

manutenção à saú<strong>de</strong>, e a busca <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> manter essas populações mais<br />

saudáveis e com boa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

CONCEITO<br />

Não existe consenso quanto à <strong>de</strong>finição, mas alguns grupos têm usado alguns<br />

conceitos operacionais:<br />

ILSI (Europa): “um alimento po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado ‘funcional’ se for<br />

satisfatoriamente <strong>de</strong>monstrado que ele afeta <strong>de</strong> forma benéfica uma ou mais<br />

funções do corpo, além dos efeitos <strong>de</strong> uma nutrição a<strong>de</strong>quada, <strong>de</strong> forma a<br />

46


ser relevante tanto para melhorar o estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e b<strong>em</strong><br />

estar, quanto reduzir o risco <strong>de</strong> doença.”<br />

A expressão “alimento fisiologicamente funcional” foi<br />

proposta no Japão no início da década <strong>de</strong> 80, quando foi<br />

<strong>de</strong>finido como “qualquer alimento ou ingrediente que t<strong>em</strong><br />

um impacto positivo na saú<strong>de</strong>, na performance física ou<br />

no estado mental <strong>de</strong> um indivíduo, além do seu valor<br />

nutritivo”.<br />

Um alimento po<strong>de</strong> tornar-se funcional por meio dos<br />

seguintes métodos:<br />

1 Eliminando um componente conhecido como prejudicial<br />

à saú<strong>de</strong> (por ex. proteínas alergênicas);<br />

2 Aumentando a concentração e/ou a biodisponibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> componentes benéficos;<br />

3 Adicionando componentes que não estão normalmente<br />

presentes;<br />

4 Substituindo um componente negativo por outro<br />

benigno;<br />

5 Preservando a biodisponibilida<strong>de</strong> ou garantindo a<br />

estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um componente conhecido por produzir<br />

efeito funcional durante o processamento.<br />

Um alimento funcional <strong>de</strong>ve permanecer alimento e <strong>de</strong>ve<br />

mostrar efeito quando consumido <strong>em</strong> quantida<strong>de</strong>s<br />

normais. Isso implica que estão fora <strong>de</strong>ssa concepção os<br />

supl<strong>em</strong>entos dietéticos na forma <strong>de</strong> comprimidos, tabletes,<br />

cápsulas ou xaropes. Os alimentos funcionais e/ou seus<br />

componentes <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser seguros, ou seja, acréscimo <strong>de</strong><br />

ingredientes para fortalecer alimentos processados, só<br />

po<strong>de</strong> ser realizado após comprovação <strong>de</strong> sua segurança.<br />

CLASSIFICAÇÃO<br />

Cinco categorias <strong>de</strong> alimentos po<strong>de</strong>m ser classificadas<br />

como alimentos funcionais: fibras dietéticas, vitaminas e<br />

minerais, substâncias bioativas, ácidos graxos, e pré-, próe<br />

simbióticos.<br />

COMPONENTES COM AÇÃO FUNCIONAL<br />

OLIGOSSACARÍDEOS:<br />

frutooligossacarídio e inulina (prebióticos);<br />

POLISSACARÍDEOS:<br />

solúveis e insolúveis (fibra);<br />

FLAVONÓIDES:<br />

quercitina,catequina, genisteína, daidzeina, antocianinas;<br />

CAROTENOIDES:<br />

licopeno, luteína, zeaxantina, beta-caroteno;<br />

FITOSTERÓIS:<br />

silosterol, sitostanol, campesterol, stigmastero, orizanol;<br />

ÁCIDOS GRAXOS:<br />

linoléico (( 6), linolênico (( 3), eicosapentaenoico (EPA),<br />

docosahexaenoico(DHA).<br />

Todos esses grupos têm <strong>de</strong>monstrado efeitos benéficos. A<br />

ingestão <strong>de</strong> fibras reduz o colesterol total, o LDL-colesterol e<br />

os lípi<strong>de</strong>s séricos. Exerc<strong>em</strong> efeito favorável na sensibilização<br />

da insulina e na glicose e melhoram a constipação. As fibras<br />

po<strong>de</strong>m ser encontradas <strong>em</strong> frutas, cereais, verduras, sucos.<br />

Algumas vitaminas como a vitamina A, E e C são conhecidas<br />

como antioxidantes. A ingestão <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>s a<strong>de</strong>quadas<br />

<strong>de</strong> cálcio e <strong>de</strong> vitamina D é indispensável para reduzir o<br />

risco <strong>de</strong> osteoporose. Alta ingestão <strong>de</strong> potássio po<strong>de</strong> ajudar<br />

a controlar a hipertensão. Quantida<strong>de</strong>s extras <strong>de</strong> vitaminas e<br />

minerais po<strong>de</strong>m ser encontradas <strong>em</strong> sucos <strong>de</strong> frutas, cereais<br />

e produtos <strong>de</strong>rivados do leite. Substâncias bioativas como os<br />

polifenóis e os flavonói<strong>de</strong>s, que são conhecidos como anti<br />

carcinogênicos e anti hipertensivos, são encontrados <strong>em</strong><br />

bebidas (vinho, cerveja), chocolate, bebidas <strong>de</strong>rivadas do<br />

leite e produtos <strong>de</strong>rivados da soja. Os ácidos graxos, como o<br />

ômega 3 e ômega 6 são importantes para a coagulação<br />

sanguínea e para a diminuição do LDL-colesterol e dos<br />

triglicéri<strong>de</strong>s. Eles po<strong>de</strong>m ser encontrados <strong>em</strong> margarinas,<br />

óleos, peixes e produtos para bebês.<br />

Em <strong>pediatria</strong> t<strong>em</strong> gran<strong>de</strong> importância os probióticos, que<br />

são microorganismos que interfer<strong>em</strong> na flora intestinal<br />

exercendo papel protetor contra infecções e manifestações<br />

alérgicas, além <strong>de</strong> diminuir a intolerância à lactose. Alguns<br />

probióticos são Lactobacilli, Bifidobacteria, Streptococci e<br />

47


Saccharomyces. Prebióticos são substâncias que influenciam<br />

favoravelmente a microbiota da pessoa (ex. Inulina).<br />

Em t<strong>em</strong>po: <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta concepção o leite materno é um<br />

alimento funcional.<br />

ALGUNS ALIMENTOS E BENEFÍCIOS<br />

ATRIBUÍDOS<br />

Alcachofra e chicória: importante fonte <strong>de</strong> inulina.<br />

A alcachofra também possui um flavonói<strong>de</strong> chamado<br />

silimarina, que é um potente antioxidante.<br />

Alho: contém compostos sulfurados. Apresenta<br />

proprieda<strong>de</strong>s anti-infecciosas. Também foram isolados<br />

outros compostos que apresentam efeitos hipotensor,<br />

hipoglic<strong>em</strong>iante, antiviral, antitumoral,<br />

hipocolesterolêmico, antifúngico, antioxidante, etc. Os<br />

componentes sulforados po<strong>de</strong>m prevenir a ativação <strong>de</strong><br />

nitrosaminas.<br />

Cebola: fonte rica <strong>em</strong> flavonoi<strong>de</strong>s (quercetina) e <strong>em</strong><br />

compostos sulforados.<br />

Cenoura: fonte <strong>de</strong> beta-caroteno. As cenouras púrpuras<br />

t<strong>em</strong> cerca <strong>de</strong> duas vezes mais alfa e beta caroteno que as<br />

cenouras amarelas.<br />

Frutas: ricas <strong>em</strong> polifenóis <strong>de</strong> diferentes tipos, conforme<br />

a fruta.<br />

Leguminosas: feijão, ervilhas, lentilha, grão <strong>de</strong> bico e<br />

soja. As leguminosas são ricas <strong>em</strong> frutooligossacarídios e<br />

saponinas, com ação antioxidante e anticancerígina.<br />

Tomate: rico <strong>em</strong> licopeno, carotenói<strong>de</strong> associado à<br />

redução <strong>de</strong> diversos tipos <strong>de</strong> câncer. O licopeno também<br />

está presente na melancia, na goiaba vermelha, no<br />

mamão papaya e nos diferentes molhos <strong>de</strong> tomate.<br />

Azeite <strong>de</strong> oliva: as proprieda<strong>de</strong>s benéficas do azeite são<br />

atribuídas ao seu conteúdo <strong>de</strong> ácidos graxos<br />

monoinsaturados (ácido oléico), agentes fenólicos<br />

triterpeno, esqualeno e lignanas. Esses componentes t<strong>em</strong><br />

ação antiaterogênica, hipotensora, anticancerígena. O<br />

ácidograxo oléico está presente, além do azeite, no óleo <strong>de</strong><br />

soja, canola, azeitona, abacate, oleaginosas (castanha,<br />

nozes, amêndoas, amendoim).<br />

Chás: chá ver<strong>de</strong> e chá preto: contém óleos voláteis,<br />

vitaminas, minerais, purinas e polifenóis, principalmente<br />

catequinas. Os polifenóis presentes no chá são bons antioxidantes.<br />

O chá po<strong>de</strong> diminuir os níveis <strong>de</strong> colesterol,<br />

diminuir a pressão arterial, protegendo as lipoproteínas LDLcolesterol<br />

da oxidação e reduzindo a agregação plaquetária.<br />

Chocolate: o chocolate é rico <strong>em</strong> polifenóis, e estudos<br />

com cacau <strong>em</strong> pó rico <strong>em</strong> polifenóis mostram que o cacau<br />

apresenta forte capacida<strong>de</strong> antioxidante.<br />

Aveia: é um cereal <strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong> nutricional, rico <strong>em</strong><br />

fibras solúveis <strong>de</strong>nominadas beta-d-glucanas, solúveis <strong>em</strong><br />

água e resistentes aos processos digestivos. As aveias<br />

possu<strong>em</strong> ação hipocolesterolêmica, por apresentar<strong>em</strong><br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aumentar a síntese <strong>de</strong> ácidos biliares e<br />

reduzir a absorção do colesterol. Também exist<strong>em</strong><br />

evidências <strong>de</strong> efeito protetor no <strong>de</strong>senvolvimento do<br />

câncer <strong>de</strong> cólon, e diminuição da absorção da glicose.<br />

Vinhos e uvas: está b<strong>em</strong> estabelecido atualmente, que o<br />

consumo <strong>de</strong> bebidas alcoólicas <strong>em</strong> pequenas quantida<strong>de</strong>s<br />

provoca alterações positivas por meio da melhora do<br />

metabolismo dos lipídios, aumento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> antioxidante<br />

e melhora do estado <strong>de</strong> coagulação, contribuindo<br />

para a diminuição da morbida<strong>de</strong> por doenças coronarianas.<br />

ALEGAÇÕES<br />

Uma das gran<strong>de</strong>s preocupações que pesquisadores,<br />

profissionais da saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> engenharia <strong>de</strong> alimentos, da<br />

indústria <strong>de</strong> alimentos e órgãos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa do consumidor<br />

têm apresentado está relacionada com as alegações<br />

apresentadas nos rótulos das <strong>em</strong>balagens. Como a<br />

população acompanha pela imprensa as <strong>de</strong>scobertas sobre<br />

o papel protetor que <strong>de</strong>terminado produto presente <strong>em</strong><br />

algum alimento po<strong>de</strong> prevenir o infarto ou <strong>de</strong>terminado<br />

tipo <strong>de</strong> câncer, as pessoas po<strong>de</strong>m ser presas fáceis <strong>de</strong><br />

rótulos que induz<strong>em</strong> a consumir este ou aquele produto.<br />

De modo geral, nos países <strong>em</strong> que a legislação está<br />

atualizada <strong>em</strong> relação a esta questão, não permit<strong>em</strong> o uso<br />

<strong>de</strong> termos que sugiram cura ou efeito medicinal. No Brasil<br />

essa matéria é regulada por quatro resoluções publicadas<br />

pela Agência Nacional <strong>de</strong> Vigilância Sanitária <strong>em</strong> abril <strong>de</strong><br />

1999 (ANVS/MS 16, 17, 18 e 19/1999).<br />

48


É consi<strong>de</strong>rada alegação <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> funcional quando<br />

se refere ao papel que o nutriente ou não nutriente<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha no crescimento, <strong>de</strong>senvolvimento, manutenção<br />

5 As alegações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser passíveis <strong>de</strong> compreensão<br />

correta pelos consumidores e <strong>de</strong> acordo com as políticas<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública.<br />

e outras funções do organismo humano. Por outro lado é<br />

consi<strong>de</strong>rada alegação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> quando afirma, sugere ou<br />

implica a existência <strong>de</strong> relação entre o alimento ou<br />

ingrediente com doença ou condição relacionada à saú<strong>de</strong>.<br />

De maneira geral estes <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser os princípios que<br />

norteiam a alegação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> dos alimentos:<br />

1 O efeito benéfico <strong>de</strong>ve dar-se no contexto regular da dieta;<br />

2 O benefício <strong>de</strong>ve ser conseqüente a um consumo<br />

razoável e manter-se por período prolongado;<br />

3 Deve haver i<strong>de</strong>ntificação da população-alvo (por ex:<br />

crianças);<br />

4 Deve basear-se <strong>em</strong> evidências científicas e/ou consenso<br />

entre especialistas;<br />

CONCLUSÃO TRANSITÓRIA<br />

Estritamente falando, todos os alimentos são funcionais, <strong>de</strong><br />

modo que as <strong>de</strong>finições atualmente <strong>em</strong> uso são <strong>de</strong> caráter<br />

operacional. Do mesmo modo, o conceito <strong>de</strong> alimento, que<br />

não admite a idéia <strong>de</strong> que alimentos funcionais possam ser<br />

supl<strong>em</strong>entos, po<strong>de</strong> ser modificado com o passar do t<strong>em</strong>po<br />

e das concepções que os diferentes segmentos <strong>de</strong><br />

interessados no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa área for<strong>em</strong><br />

adotando. De qualquer forma é importante ter s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong><br />

mente, que muitas vezes <strong>de</strong>terminado componente da dieta<br />

atua <strong>em</strong> consonância com outros, eventualmente não<br />

i<strong>de</strong>ntificados ou sequer suspeitados <strong>de</strong> sua participação.<br />

Bibliografia consultada<br />

AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION: Functional foods - Position of<br />

ADA, J Am Diet Assoc, 99: 1278-1285, 1999.<br />

ARABBI PR: Alimentos funcionais - Aspectos gerais. NUTRIRE, 21:<br />

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BRASIL/MS/ANVISA: Resolução nº 16 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999: Aprova<br />

o regulamento técnico <strong>de</strong> procedimentos para registro <strong>de</strong> alimentos<br />

e/ou novos ingredientes.<br />

BRASIL/MS/ANVISA: Resolução nº 17 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999: Aprova<br />

o regulamento técnico que estabelece as diretrizes básicas para<br />

avaliação <strong>de</strong> risco e segurança dos alimentos.<br />

BRASIL/MS/ANVISA: Resolução nº 18 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999: Aprova<br />

o regulamento técnico que estabelece as diretrizes básicas para<br />

análise e comprovação <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s funcionais e/ou <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

alegadas <strong>em</strong> rotulag<strong>em</strong> <strong>de</strong> alimentos.<br />

BRASIL/MS/ANVISA: Resolução n° 19 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999: Aprova<br />

o regulamento técnico <strong>de</strong> procedimentos para registro <strong>de</strong> alimento<br />

com alegação <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s funcionais e/ou <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

<strong>em</strong> sua rotulag<strong>em</strong>.<br />

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49


Volume 4 - Ano 2004<br />

t<strong>em</strong>as<br />

<strong>de</strong> nutrição <strong>em</strong> <strong>pediatria</strong><br />

Publicação elaborada pelo Departamento <strong>de</strong><br />

Nutrição da Socieda<strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>


Distúrbios do Comportamento<br />

Alimentar: Anorexia e Bulimia<br />

Relatores: Virgínia Resen<strong>de</strong> Silva Weffort,<br />

Paulo Pimenta <strong>de</strong> Figueiredo Filho, Selma Freire<br />

<strong>de</strong> Carvalho Cunha e Letícia Chaves Rocha<br />

Os distúrbios do comportamento alimentar, que correspon<strong>de</strong>m basicamente à<br />

anorexia nervosa e à bulimia nervosa, recent<strong>em</strong>ente ganharam relevância e<br />

têm sido objeto <strong>de</strong> inúmeras pesquisas científicas e alvo da atenção da<br />

comunida<strong>de</strong> médica e da população <strong>em</strong> geral.<br />

As duas síndromes são caracterizadas pelo comportamento alimentar bizarro.<br />

A principal característica da anorexia nervosa é a recusa alimentar e da<br />

bulimia, palavra <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> grega que significa “comer um boi”, distingue-se<br />

pela perda <strong>de</strong> controle sobre a alimentação, compensada pela indução do<br />

vômito e práticas laxativas. Embora a anorexia nervosa e bulimia nervosa<br />

apresent<strong>em</strong> manifestações e evoluções distintas, os dois quadros são<br />

marcados por uma dupla obsessão: a imag<strong>em</strong> corporal e a comida.<br />

A anorexia nervosa, <strong>em</strong> geral, ocorre nos primeiros anos da puberda<strong>de</strong>, s<strong>em</strong><br />

uma razão orgânica e manifesta-se por recusa alimentar <strong>de</strong>liberada que leva a<br />

intenso comprometimento do estado nutricional. Há distorção da imag<strong>em</strong><br />

corporal e busca incessante da magreza, com medo intenso <strong>de</strong> engordar.<br />

Secundariamente, ocorre transtorno endócrino com amenorréia. Po<strong>de</strong> estar<br />

associado também, a sintomas <strong>de</strong>pressivos e a conduta anti-social.<br />

A bulimia nervosa ocorre <strong>em</strong> adolescentes mais velhos, também mostra<br />

preocupação constante com a alimentação, episódios freqüentes <strong>de</strong><br />

hiperfagia, seguidos <strong>de</strong> um forte sentimento <strong>de</strong> culpa. Há obsessão com a<br />

imag<strong>em</strong> corporal, períodos <strong>de</strong> restrição alimentar, uso <strong>de</strong> medicamentos para<br />

per<strong>de</strong>r peso e tendência a práticas purgativas (exercícios físicos exagerados,<br />

indução <strong>de</strong> vômitos, uso <strong>de</strong> laxativos e diuréticos), po<strong>de</strong>ndo ser precedida<br />

pela anorexia.<br />

Apesar <strong>de</strong> atribuída à prática recente e indiscriminada da restrição alimentar<br />

pelas mulheres do final do século 20, o primeiro caso conhecido <strong>de</strong> anorexia<br />

nervosa foi <strong>de</strong>scrito há 300 anos. Richard Morton, <strong>em</strong> 1689, relatou o caso<br />

<strong>de</strong> uma garota <strong>de</strong> 17 anos on<strong>de</strong> a <strong>de</strong>screveu “como esqueleto coberto apenas<br />

por pele”. Em 1873, o termo anorexia nervosa foi criado por William Gull,<br />

que junto com o francês Charles Lasègue, <strong>de</strong>screveu <strong>de</strong>talhadamente suas<br />

manifestações clínicas. A importância dos fatores psicológicos já era apontada<br />

por muitos autores, <strong>em</strong>bora durante muitos anos a síndrome tenha sido<br />

confundida com a insuficiência hipofisária. Em 1930, Berkman publicou sua<br />

experiência com 117 pacientes, enfatizando que as anormalida<strong>de</strong>s fisiológicas<br />

observadas nesses pacientes eram <strong>de</strong>vido a distúrbios psíquicos. A bulimia, por<br />

sua vez, somente foi caracterizada como distúrbio alimentar na década <strong>de</strong> 80.<br />

52


Embora tenha sido estabelecido que os distúrbios da<br />

ingestão alimentar eram típicos <strong>de</strong> mulheres <strong>de</strong> classes<br />

sociais mais abastadas, atualmente t<strong>em</strong> sido observado<br />

que eles ocorr<strong>em</strong> <strong>em</strong> todas as camadas sociais e têm se<br />

tornado comuns, tanto <strong>em</strong> centros rurais quanto <strong>em</strong> áreas<br />

urbanas, com evidências <strong>de</strong> que <strong>em</strong> certas profissões, nas<br />

quais a aparência física é extr<strong>em</strong>amente valorizada, exista<br />

um risco aumentado para as <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns do comportamento<br />

alimentar, como <strong>em</strong> atletas, bailarinos, ginastas e mo<strong>de</strong>los.<br />

Não há estatísticas precisas sobre a prevalência real da<br />

anorexia nervosa e da bulimia nervosa, mas há evidência<br />

clínica do aumento <strong>de</strong> sua ocorrência. Esses distúrbios<br />

afetam predominant<strong>em</strong>ente mulheres, da pré-adolescência<br />

à meia ida<strong>de</strong>, <strong>em</strong>bora a faixa etária <strong>de</strong> maior incidência<br />

esteja entre os 12 e os 25 anos. Nos EUA, estima-se que,<br />

nessa faixa etária, aproximadamente 0,5% das mulheres<br />

apresentam anorexia nervosa e 1% bulimia nervosa. É rara<br />

na Ásia, países árabes e <strong>em</strong> alguns países da África, on<strong>de</strong><br />

o culto do corpo magro parece ser menor. Os distúrbios da<br />

ingestão alimentar foram documentados <strong>em</strong> 1% das<br />

garotas adolescentes inglesas <strong>de</strong> maior nível econômico. A<br />

ocorrência <strong>em</strong> homens é cerca <strong>de</strong> 10 a 20 vezes menor do<br />

que a verificada <strong>em</strong> mulheres. Estados subclínicos da<br />

doença, muitas vezes insuficientes para levantar a suspeita<br />

dos familiares, <strong>de</strong> amigos e mesmo dos médicos,<br />

dificultam a precisão da prevalência dos distúrbios da<br />

ingestão alimentar.<br />

Consi<strong>de</strong>rando a incidência crescente e o prognóstico<br />

relativamente reservado <strong>em</strong> situações on<strong>de</strong> há retardo no<br />

diagnóstico <strong>de</strong>finitivo, todo profissional da área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />

principalmente aqueles que cuidam <strong>de</strong> adolescentes, <strong>de</strong>ve<br />

estar capacitado a i<strong>de</strong>ntificar precoc<strong>em</strong>ente os distúrbios<br />

da ingestão alimentar.<br />

PATOGÊNESE<br />

Os distúrbios da ingestão alimentar têm orig<strong>em</strong><br />

multifatorial, <strong>de</strong>correndo da interação <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong><br />

condições predisponentes, precipitantes e perpetuadoras.<br />

O papel <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>sses fatores parece ser variável,<br />

uma vez que os pacientes formam um grupo bastante<br />

heterogêneo.<br />

1. Fatores predisponentes<br />

Os fatores consi<strong>de</strong>rados predisponentes para os distúrbios<br />

alimentares po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m psicológica, biológica,<br />

familiar ou cultural. Eles articulam-se <strong>de</strong> tal maneira que<br />

levam à insatisfação com a imag<strong>em</strong> corporal e a prática <strong>de</strong><br />

dietas restritivas, que correspon<strong>de</strong>m às alterações básicas<br />

para o <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento da doença.<br />

1.1. Fatores Psicológicos<br />

Muitos autores acreditam que a personalida<strong>de</strong> prémórbida<br />

é caracterizada por instabilida<strong>de</strong> <strong>em</strong>ocional. De<br />

maneira geral, os pacientes acometidos têm i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

pessoal incompleta e lutam para manter o controle sobre o<br />

ambiente. Costumam julgar a si próprios, baseando-se<br />

quase que exclusivamente <strong>em</strong> sua aparência física, com a<br />

qual <strong>de</strong>monstram extr<strong>em</strong>a insatisfação, com percepção<br />

alterada <strong>de</strong> suas formas corporais e negação <strong>de</strong> seu estado<br />

caquético.<br />

Os anoréxicos costumam ser caracterizados como<br />

obsessivo-compulsivos, perfeccionistas, introvertidos e<br />

socialmente inibidos; já os bulímicos ten<strong>de</strong>m a ser mais<br />

impulsivos, <strong>de</strong>pressivos, queixosos, <strong>de</strong>sorganizados,<br />

<strong>em</strong>ocionalmente instáveis, com tendência à automutilação,<br />

se envergonham e ocultam seus sintomas. A<br />

<strong>de</strong>pressão também po<strong>de</strong> ser secundária à <strong>de</strong>snutrição e a<br />

complicações coexistentes, uma vez que a reabilitação<br />

nutricional geralmente <strong>de</strong>termina melhora do humor.<br />

1.2. Fatores biológicos<br />

Afecções gastrintestinais, da hipófise, do hipotálamo e<br />

alterações <strong>de</strong> vários neurotransmissores têm sido<br />

apontados como prováveis fatores causais dos distúrbios<br />

do comportamento alimentar. No entanto, a observação<br />

<strong>de</strong> que a maioria <strong>de</strong>ssas alterações fisiológicas<br />

normalizam-se com a recuperação do peso põe <strong>em</strong> dúvida<br />

o papel <strong>de</strong>sses fatores.<br />

Estudos recentes suger<strong>em</strong> que os distúrbios no<br />

metabolismo da serotonina, envolvida no controle<br />

fisiológico da sacieda<strong>de</strong>, e da leptina, hormônio envolvido<br />

na regulação do <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> gorduras corporais, são<br />

53


esponsáveis pelo aparecimento da anorexia e<br />

bulimia nervosa.<br />

Alguns autores suger<strong>em</strong> um componente genético na<br />

transmissão dos distúrbios do comportamento alimentar,<br />

justificando sua ocorrência <strong>em</strong> épocas <strong>em</strong> que a magreza e<br />

as dietas restritivas não eram socialmente valorizadas. O<br />

risco <strong>de</strong> anorexia nervosa ou bulimia entre filhas e irmãs<br />

<strong>de</strong> pacientes com esses distúrbios é <strong>de</strong> 2 a 20 vezes maior<br />

que na população geral. No entanto, a predisposição<br />

familiar é indistingüível da exposição a fatores ambientais<br />

comuns e a herança genética po<strong>de</strong>ria explicar uma<br />

vulnerabilida<strong>de</strong> específica à algumas doenças, como à<br />

obesida<strong>de</strong> e às doenças psiquiátricas, associadas com<br />

freqüência aos distúrbios do comportamento alimentar.<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sses distúrbios. O estigma associado à<br />

obesida<strong>de</strong>, por outro lado, t<strong>em</strong> sido consi<strong>de</strong>rado fator<br />

agravante.<br />

2. Fatores precipitantes<br />

A prática <strong>de</strong> dietas restritivas e a personalida<strong>de</strong> instável<br />

po<strong>de</strong>m induzir ao aparecimento dos distúrbios do<br />

comportamento alimentar <strong>em</strong> indivíduos predispostos. A<br />

<strong>de</strong>pressão é o fator precipitante <strong>em</strong> muitos casos. Qualquer<br />

evento adverso da vida po<strong>de</strong> agir como fator precipitante,<br />

tais como experiências perturbadoras da puberda<strong>de</strong> e<br />

mudanças <strong>de</strong> ambiente <strong>em</strong> indivíduos com dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

adaptação.<br />

1.3. Estrutura familiar<br />

A alimentação a<strong>de</strong>quada da criança nos primeiros anos <strong>de</strong><br />

vida é um fator importante para prevenir o aparecimento<br />

<strong>de</strong>stes distúrbios. Crianças que iniciam a alimentação<br />

compl<strong>em</strong>entar muito cedo na vida, quer seja pela relação<br />

<strong>de</strong>sequilibrada da mãe com a criança durante o<br />

aleitamento materno quer seja porque a alimentação<br />

compl<strong>em</strong>entar foi oferecida pressionando ou<br />

chantageando a criança, refletindo o <strong>de</strong>sequilíbrio familiar.<br />

T<strong>em</strong>-se enfatizado também, o papel do relacionamento<br />

familiar caracterizado pelo <strong>de</strong>clínio da função paterna,<br />

com mães dominadoras e superprotetoras e pais que<br />

parec<strong>em</strong> ser omissos. Embora a dissolução familiar possa<br />

ser apontado como fator predisponente, algumas vezes, a<br />

doença t<strong>em</strong> papel estabilizador do núcleo familiar, unindo<br />

os m<strong>em</strong>bros <strong>em</strong> torno do objetivo comum <strong>de</strong> cuidar do<br />

doente.<br />

1.4. Fator cultural<br />

Sendo o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> beleza da socieda<strong>de</strong> oci<strong>de</strong>ntal associado<br />

à magreza, a prevalência <strong>de</strong> insatisfação com o próprio<br />

corpo e a realização <strong>de</strong> dietas restritivas é muito alta entre<br />

as mulheres jovens, tornando-as mais predispostas aos<br />

distúrbios do comportamento alimentar. Preocupação<br />

excessiva com a aparência parece prece<strong>de</strong>r o<br />

3. Fatores perpetuadores<br />

A <strong>de</strong>snutrição leva a sintomas secundários que po<strong>de</strong>m agir<br />

perpetuando a doença. Assim, enquanto a <strong>de</strong>pressão leva<br />

à restrição alimentar, a <strong>de</strong>snutrição conduz à <strong>de</strong>terioração<br />

do humor. Sintomas secundários como retardo no<br />

esvaziamento gástrico, <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> diminuição da<br />

motilida<strong>de</strong> do trato gastrointestinal, po<strong>de</strong>m levar a<br />

sacieda<strong>de</strong> precoce e facilitar a restrição alimentar.<br />

Coexist<strong>em</strong> ainda fatores psicológicos, interpessoais e<br />

culturais que po<strong>de</strong>m atuar mantendo o comportamento<br />

alimentar ina<strong>de</strong>quado. Os sintomas <strong>de</strong>correntes do<br />

distúrbio alimentar po<strong>de</strong>m atuar como fator <strong>de</strong> equilíbrio<br />

do sist<strong>em</strong>a familiar e <strong>em</strong>ocional e um objetivo claro do<br />

tratamento é a interrupção <strong>de</strong>sse ciclo, condição essencial<br />

à recuperação efetiva do paciente.<br />

QUADRO CLÍNICO<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista clínico, as principais características dos<br />

distúrbios do comportamento alimentar são o medo <strong>de</strong><br />

engordar, antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> peso recente (na<br />

anorexia) ou r<strong>em</strong>ota (na bulimia), ausência <strong>de</strong> doença<br />

orgânica que justifique o <strong>em</strong>agrecimento e hábitos<br />

alimentares alterados (restrição alimentar e/ou indução <strong>de</strong><br />

vômitos e purgação).<br />

Embora algumas complicações e alterações laboratoriais<br />

54


sejam comuns à anorexia nervosa e bulimia nervosa,<br />

<strong>de</strong>correntes da <strong>de</strong>snutrição e dos comportamentos<br />

adotados para induzi-la, pacientes anoréxicos e bulímicos<br />

apresentam aspectos comportamentais e físicos diferentes.<br />

1. Anorexia nervosa<br />

1.1. Aspectos psicológicos e comportamentais<br />

O termo “anorexia” é ina<strong>de</strong>quado, pois a perda <strong>de</strong> apetite<br />

é geralmente rara quase até a fase final da doença.<br />

Pacientes anoréxicos <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> hábitos alimentares<br />

bizarros e negam que o comportamento seja incomum ou<br />

simplesmente recusam-se a discuti-lo. Durante as refeições,<br />

tentam livrar-se do alimento colocando-o no guardanapo<br />

ou escon<strong>de</strong>ndo-os nos bolsos; levam muito t<strong>em</strong>po<br />

reorganizando os itens da alimentação no prato e<br />

costumam cortar os alimentos <strong>em</strong> porções muito<br />

pequenas. A alimentação é bastante restrita <strong>em</strong> energia,<br />

pobre <strong>em</strong> gorduras e rica <strong>em</strong> proteínas, o que <strong>de</strong>termina<br />

perda eventual <strong>de</strong> 25 a 35% do peso corporal. De forma<br />

geral, têm gran<strong>de</strong> preocupação relacionada aos alimentos<br />

e à alimentação e sent<strong>em</strong> prazer <strong>em</strong> preparar pratos para<br />

outras pessoas. Com o objetivo <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r peso, é comum<br />

que associ<strong>em</strong> à restrição alimentar a indução do vômito, o<br />

uso <strong>de</strong> laxantes e a prática <strong>de</strong> exercícios físicos extenuantes<br />

e ritualísticos.<br />

Tipicamente, negam a doença, assim como a sensação <strong>de</strong><br />

fome ou cansaço e mudanças na aparência. Ten<strong>de</strong>m a<br />

superestimar o tamanho <strong>de</strong> seus corpos, <strong>em</strong>bora sejam<br />

capazes <strong>de</strong> avaliar corretamente o peso <strong>de</strong> outras pessoas.<br />

No entanto, há dúvidas quanto à especificida<strong>de</strong> da<br />

alteração da percepção da forma corporal, uma vez que<br />

distorções s<strong>em</strong>elhantes po<strong>de</strong>m ser vistas na população <strong>em</strong><br />

geral, principalmente entre adolescentes.<br />

Po<strong>de</strong>m mostrar <strong>de</strong>ficiências do raciocínio abstrato e<br />

pensamento conceitual; são incapazes <strong>de</strong> visualizar<br />

situações que não sejam extr<strong>em</strong>as e interpretam os<br />

acontecimentos <strong>de</strong> forma rígida.<br />

1.2. Aspectos Clínicos<br />

S<strong>em</strong> intervenção nutricional, os anoréxicos po<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong>senvolver <strong>de</strong>snutrição. Comumente, os pacientes<br />

apresentam amenorréia, distúrbios do sono, intolerância<br />

ao frio, constipação intestinal ou diarréia pelo uso <strong>de</strong><br />

laxantes, sacieda<strong>de</strong> precoce e dor abdominal. Po<strong>de</strong>m<br />

apresentar vasoconstrição periférica e cianose <strong>de</strong><br />

extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong>s quando expostas ao frio. Ao exame físico,<br />

apresentam acrocianose, lanug<strong>em</strong> e pigmentação<br />

amarelada da pele, perda significativa <strong>de</strong> gordura corporal<br />

e aumento das protuberâncias ósseas. O aumento da<br />

parótida, típica dos <strong>em</strong>agrecidos, po<strong>de</strong> mascarar a<br />

angulação dos traços faciais. A t<strong>em</strong>peratura axilar, a<br />

pressão sangüínea e o pulso estão diminuídos. Quando a<br />

anorexia se <strong>de</strong>senvolve antes da puberda<strong>de</strong>, os pacientes<br />

po<strong>de</strong>m não exibir os caracteres sexuais secundários.<br />

2. Bulimia<br />

2.1. Aspectos psicológicos e comportamentais<br />

Enquanto os pacientes anoréxicos lidam com seu medo <strong>de</strong><br />

engordar restringindo a alimentação, o aspecto<br />

comportamental característico dos bulímicos é a<br />

alimentação excessiva e compulsiva seguida <strong>de</strong> purgação.<br />

Os episódios bulímicos ocorr<strong>em</strong> secretamente, <strong>em</strong> média<br />

<strong>de</strong> 12 episódios s<strong>em</strong>anais, com ingestão <strong>de</strong> refeições ricas<br />

<strong>em</strong> carboidratos e altamente energéticas, seguida <strong>de</strong><br />

indução <strong>de</strong> vômito por mecanismo reflexo utilizando os<br />

<strong>de</strong>dos ou escova <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes, ou com regurgitação<br />

espontânea. Uma gran<strong>de</strong> porcentag<strong>em</strong> dos bulímicos usa<br />

também laxantes.<br />

Da mesma forma que os anoréxicos, superestimam o<br />

tamanho corporal e apresentam preocupação constante<br />

com a alimentação. Ten<strong>de</strong>m a ser mais extrovertidos que<br />

os anoréxicos e usualmente apresentam peso mais<br />

próximo ao normal. Dessa forma, o seu comportamento<br />

geralmente não é percebido pela família n<strong>em</strong> pelos<br />

amigos. Alguns mostram componentes impulsivos e antisociais,<br />

como abuso <strong>de</strong> drogas, cleptomania,<br />

promiscuida<strong>de</strong> sexual e auto-mutilação. A <strong>de</strong>pressão é a<br />

queixa mais comum e as tentativas <strong>de</strong> suicídio são três a<br />

quatro vezes mais freqüentes nesses pacientes que<br />

naqueles com anorexia nervosa. Os bulímicos preocupamse<br />

com a atrativida<strong>de</strong> sexual e a maioria <strong>de</strong>les é<br />

55


sexualmente ativa, <strong>em</strong> comparação com os anoréxicos, que<br />

não se interessam por sexo.<br />

2.2. Aspectos clínicos<br />

Como a perda <strong>de</strong> peso é menos grave nesse grupo, a<br />

amenorréia é também menos freqüente. Po<strong>de</strong>-se observar<br />

intumescimento das parótidas pelos vômitos, equimoses<br />

nas articulações dos <strong>de</strong>dos <strong>de</strong>correntes da fricção contra os<br />

<strong>de</strong>ntes durante a indução do vômito (sinal <strong>de</strong> Russell),<br />

faringite e erosões <strong>de</strong>ntárias pelo refluxo <strong>de</strong> ácido gástrico.<br />

Os vômitos freqüentes po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>terminar esofagite,<br />

síndrome <strong>de</strong> Mallory-Weiss ou pneumonia aspirativa.<br />

Fraqueza, tetania e convulsões, <strong>em</strong>bora raros, po<strong>de</strong>m<br />

ocorrer por distúrbios eletrolíticos secundários. O uso<br />

excessivo <strong>de</strong> laxantes po<strong>de</strong> levar a sangramento retal.<br />

3. Complicações associadas<br />

As complicações mais sérias ocorr<strong>em</strong> nos pacientes<br />

crônicos muito <strong>em</strong>agrecidos, que abusam <strong>de</strong> laxantes e<br />

induz<strong>em</strong> vômitos. Po<strong>de</strong>m ocorrer alterações metabólicas,<br />

cardiovasculares, neurológicas, h<strong>em</strong>atológicas, renais,<br />

endócrinas, musculoesqueléticas e gastrintestinais,<br />

secundárias à <strong>de</strong>snutrição, aos vômitos e ao uso <strong>de</strong><br />

laxativos.<br />

3.1. Alterações metabólicas<br />

A complicação metabólica mais comum é a alcalose<br />

metabólica hipoclorêmica e hipocalêmica <strong>de</strong>corrente da<br />

perda <strong>de</strong> íons hidrogênio, cloro e potássio, po<strong>de</strong>ndo<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar arritmias cardíacas ou até lesão renal. A<br />

hipomagnes<strong>em</strong>ia <strong>de</strong>ve ser pesquisada nos casos <strong>de</strong><br />

hipopotass<strong>em</strong>ia refratária à reposição; hipofosfat<strong>em</strong>ia po<strong>de</strong><br />

surgir durante o tratamento.<br />

Po<strong>de</strong>m ocorrer hipotermia (por hipotiroidismo funcional<br />

ou por anormalida<strong>de</strong> do centro regulador da t<strong>em</strong>peratura<br />

hipotalâmico) e <strong>de</strong>sidratação. Como o metabolismo da<br />

glicose e a secreção <strong>de</strong> insulina estão alterados, po<strong>de</strong><br />

haver hipoglic<strong>em</strong>ia. O HDL e os triglicéri<strong>de</strong>s ten<strong>de</strong>m a<br />

apresentar níveis séricos normais e a hipercolesterol<strong>em</strong>ia,<br />

cuja causa não é conhecida, se faz às custas <strong>de</strong> LDL.<br />

3.2. Alterações cardiovasculares<br />

Como resposta adaptativa à <strong>de</strong>snutrição e aos níveis<br />

reduzidos <strong>de</strong> catecolaminas circulantes po<strong>de</strong> ocorrer<br />

prejuízo da função cardiovascular, diminuição do consumo<br />

<strong>de</strong> oxigênio, da espessura da pare<strong>de</strong> do ventrículo<br />

esquerdo e da área cardíaca. Hipotensão arterial e<br />

bradicardia são sinais característicos <strong>de</strong>sses pacientes e o<br />

prolapso mitral, <strong>em</strong>bora inespecífico s<strong>em</strong> importância<br />

clínica, é comum.<br />

O eletrocardiograma po<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar bradicardia, redução<br />

da amplitu<strong>de</strong> do QRS, intervalo QT prolongado, alterações<br />

específicas do segmento ST e ondas U. Arritmias cardíacas<br />

graves e morte súbita po<strong>de</strong>m ocorrer <strong>em</strong> pacientes muito<br />

<strong>em</strong>agrecidos.<br />

3.3. Alterações neurológicas<br />

Alterações eletroencefalográficas, convulsões, neurites<br />

periféricas, compressões nervosas e disfunções<br />

autonômicas po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>tectadas nesses pacientes. A<br />

tomografia computadorizada po<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar<br />

pseudoatrofia cerebral.<br />

3.4. Alterações h<strong>em</strong>atológicas<br />

Os achados inclu<strong>em</strong> an<strong>em</strong>ia, leucopenia com linfocitose,<br />

trombocitopenia e baixos níveis <strong>de</strong> fibrinogênio sérico. A<br />

an<strong>em</strong>ia e a pancitopenia po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> hipoplasia da<br />

medula óssea, observada <strong>em</strong> pacientes <strong>de</strong>snutridos.<br />

As proteínas plasmáticas ten<strong>de</strong>m a estar normais, <strong>em</strong>bora<br />

a hipoalbumin<strong>em</strong>ia possa ocorrer <strong>em</strong> alguns casos. Não há<br />

<strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> aminoácidos essenciais, provavelmente<br />

<strong>de</strong>vido ao metabolismo protéico relativamente preservado.<br />

3.5. Alterações renais<br />

Ocasionalmente, po<strong>de</strong> ocorrer insuficiência renal <strong>em</strong><br />

conseqüência à <strong>de</strong>sidratação secundária aos vômitos,<br />

purgação e distúrbios eletrolíticos. A taxa <strong>de</strong> filtração<br />

glomerular costuma ser pouco diminuída e há perda da<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> concentração urinária, resultando <strong>em</strong><br />

poliúria.<br />

56


3.6. Alterações musculoesqueléticas<br />

Fraqueza muscular, tetania e câimbras po<strong>de</strong>m ocorrer na<br />

vigência <strong>de</strong> distúrbios eletrolíticos. A osteopenia é comum<br />

e po<strong>de</strong> <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência alimentar <strong>de</strong> cálcio, baixos<br />

níveis <strong>de</strong> estrogênio circulante, hipercorticismo, uso <strong>de</strong><br />

laxantes e distúrbios do equilíbrio ácido-básico.<br />

3.7. Alterações gastrintestinais<br />

Pacientes com anorexia nervosa e particularmente aqueles<br />

com bulimia nervosa po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senvolver perda do<br />

esmalte e <strong>de</strong>ntina da superfície lingual dos <strong>de</strong>ntes como<br />

resultado dos efeitos do ácido gástricos. Por razões<br />

<strong>de</strong>sconhecidas, as parótidas ten<strong>de</strong>m a aumentar nessas<br />

doenças. Como resultado do vômito auto-induzido os<br />

bulímicas po<strong>de</strong>m apresentar esofagite <strong>de</strong> refluxo, erosões,<br />

úlceras e sangramento esofageano, <strong>de</strong>correntes do contato<br />

freqüente do ácido presente na secreção gástrica<br />

regurgitada para o esôfago.<br />

O t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> trânsito gastrintestinal comumente está<br />

diminuído, <strong>de</strong>terminando constipação intestinal. Por outro<br />

lado, a utilização <strong>de</strong> laxativos po<strong>de</strong> resultar <strong>em</strong> cólon<br />

catártico com <strong>de</strong>generação do plexo <strong>de</strong> Auerbach.<br />

3.8. Alterações endócrinas<br />

A alteração endócrina fundamental na anorexia nervosa é<br />

a disfunção do eixo hipotâmico-hipofisário-gonadal que,<br />

nas mulheres, é expressa pela amenorréia com<br />

anovulação. O <strong>de</strong>feito primário parece ser a diminuição da<br />

secreção <strong>de</strong> LHGH (hormônio liberador <strong>de</strong> gonadotrofinas<br />

hipotalâmico) com conseqüente diminuição dos níveis <strong>de</strong><br />

LH (hormônio luteinizante) e FSH (hormônio folículo<br />

estimulante), associada a uma <strong>de</strong>ficiência importante <strong>de</strong><br />

estrógeno. Há ausência do ritmo circadiano da secreção <strong>de</strong><br />

LH. Com a recuperação nutricional essas alterações se<br />

normalizam. Ainda não se conhece a causa <strong>de</strong>ssa disfunção<br />

hipotalâmica e anormalida<strong>de</strong>s do metabolismo da<br />

noradrenalina e da dopamina no sist<strong>em</strong>a nervoso central<br />

têm sido aventadas.<br />

No hom<strong>em</strong>, a disfunção do eixo leva à uma diminuição da<br />

testosterona com redução da libido e virilização retardada<br />

sugerindo um <strong>de</strong>svio do metabolismo androgênico do<br />

sist<strong>em</strong>a da 5alfa-redutase, produtor <strong>de</strong> testosterona, para o<br />

da 5beta-redutase, que produz um androgênio menos<br />

efetivo (etiocolanolona).<br />

Os níveis séricos basais <strong>de</strong> hormônio do crescimento (GH)<br />

encontram-se aumentados, paralelamente há redução dos<br />

níveis <strong>de</strong> somatomedina plasmática, peptí<strong>de</strong>o promotor do<br />

crescimento que controla os efeitos anabólicos do GH, s<strong>em</strong><br />

atuar nos efeitos lipolíticos. Consequent<strong>em</strong>ente, esses<br />

pacientes mantém a lipólise mediada pelo GH mas não<br />

apresentam os efeitos <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong>sse hormônio.<br />

Os níveis <strong>de</strong> prolactina e TSH (hormônio tireotrófico) são<br />

usualmente normais. Apesar da diminuição da freqüência<br />

cardíaca e do metabolismo basal, não há evidência <strong>de</strong><br />

hipotiroidismo. O achado usual é uma discreta diminuição<br />

dos níveis séricos <strong>de</strong> T3 e T4 e elevação do T3 reverso,<br />

anormalida<strong>de</strong>s que são revertidas com o ganho pon<strong>de</strong>ral.<br />

De maneira geral, os anoréxicos apresentam níveis séricos<br />

<strong>de</strong> cortisol normais ou discretamente elevados, <strong>de</strong>vido a<br />

uma diminuição do seu metabolismo.<br />

DIAGNÓSTICO<br />

Existe uma relação estreita entre a preocupação com a<br />

imag<strong>em</strong> corporal e os distúrbios do comportamento<br />

alimentar, surgindo a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>tectá-los nos<br />

grupos <strong>de</strong> risco. O questionário <strong>de</strong> imag<strong>em</strong> corporal (Body<br />

Shape Questionnaire- <strong>em</strong> anexo) t<strong>em</strong> sido utilizado para<br />

avaliar o grau <strong>de</strong> preocupação com o próprio corpo ou<br />

partes <strong>de</strong>le. Além disso, auxilia no entendimento <strong>de</strong> como<br />

as preocupações individuais com o corpo influenciariam<br />

no comportamento social.<br />

O diagnóstico <strong>de</strong> anorexia nervosa e bulimia nervosa é<br />

usualmente fácil nos casos <strong>em</strong> que as síndromes se<br />

apresentam <strong>de</strong> maneira completa. Geralmente, o<br />

<strong>em</strong>agrecimento importante, a amenorréia e as outras<br />

complicações clínicas associadas faz<strong>em</strong> com que os<br />

familiares lev<strong>em</strong> os pacientes anoréxicos ao médico. Já os<br />

bulímicos costumam procurar ajuda espontaneamente,<br />

<strong>em</strong>bora lev<strong>em</strong> muito t<strong>em</strong>po para perceber a necessida<strong>de</strong><br />

do atendimento especializado.<br />

57


Os critérios atualmente utilizados para diagnóstico dos<br />

distúrbios do comportamento alimentar são os <strong>de</strong>finidos<br />

pelo DSM-IIIR (Manual Diagnóstico e Estatístico <strong>de</strong><br />

Desor<strong>de</strong>ns Mentais) da Associação Americana <strong>de</strong> Psiquiatria:<br />

1. Anorexia nervosa<br />

a) Recusa <strong>em</strong> manter o peso corporal acima <strong>de</strong> um valor<br />

normal mínimo para a ida<strong>de</strong> e altura, ou incapacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ganhar o peso esperado durante o período <strong>de</strong><br />

crescimento, levando a peso corporal 15% abaixo do<br />

i<strong>de</strong>al;<br />

b) Medo intenso <strong>de</strong> ganhar peso ou ficar gordo;<br />

c) Distúrbios na forma <strong>de</strong> perceber o próprio peso, as<br />

dimensões ou forma do corpo;<br />

d) Nas mulheres, a falta <strong>de</strong> pelo menos três períodos<br />

menstruais consecutivos s<strong>em</strong> motivo aparente.<br />

2. Bulimia nervosa<br />

a) Episódios recorrentes <strong>de</strong> consumo alimentar excessivo<br />

<strong>em</strong> curto período <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po;<br />

b) Sentimento <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> controle sobre o<br />

comportamento alimentar durante esses episódios;<br />

c) Indução <strong>de</strong> vômitos ou uso <strong>de</strong> laxativos e diuréticos,<br />

restrição alimentar, realização <strong>de</strong> exercícios físicos<br />

vigorosos para prevenir o ganho <strong>de</strong> peso (no mínimo 2<br />

episódios s<strong>em</strong>anais, por 3 meses);<br />

d) Preocupação persistente com o peso e ganho corporal.<br />

O diagnóstico é confirmado pela i<strong>de</strong>ntificação dos aspectos<br />

clínicos e comportamentais <strong>de</strong>scritos e pela exclusão <strong>de</strong><br />

outros distúrbios clínicos tratáveis. Habitualmente, os<br />

pacientes passam por vários especialistas diferentes, sendo<br />

necessário que os médicos, ainda que não estejam<br />

acostumados a lidar com esse tipo <strong>de</strong> distúrbio,<br />

consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong> tais doenças <strong>de</strong>ntre suas hipóteses<br />

diagnósticas. O diagnóstico diferencial é feito com outras<br />

enfermida<strong>de</strong>s físicas que causam perda <strong>de</strong> peso, como<br />

doenças <strong>de</strong>bilitantes crônicas, tumores cerebrais e doenças<br />

gastrintestinais. Distúrbios <strong>de</strong>pressivos e anorexia nervosa<br />

têm alguns aspectos <strong>em</strong> comum, tais como sentimentos<br />

<strong>de</strong>pressivos, períodos <strong>de</strong> choro, distúrbios do sono,<br />

pensamentos repetitivos e suicidas. Muitas vezes, um<br />

paciente com distúrbio <strong>de</strong>pressivo t<strong>em</strong> apetite diminuído;<br />

<strong>em</strong> contraste com a agitação <strong>de</strong>pressiva, a hiperativida<strong>de</strong><br />

vista na anorexia nervosa é planejada e ritualística.<br />

Flutuações pon<strong>de</strong>rais, vômitos e manuseio peculiar dos<br />

alimentos po<strong>de</strong>m ocorrer no distúrbio <strong>de</strong> somatização.<br />

Geralmente, a perda <strong>de</strong> peso nessa situação não é tão<br />

grave quanto na anorexia nervosa e não há medo mórbido<br />

<strong>de</strong> engordar, o que é comum no anoréxico.<br />

A bulimia nervosa <strong>de</strong>ve ser diferenciada <strong>de</strong> alterações do<br />

aparelho digestivo alto que po<strong>de</strong>m levar a vômitos <strong>de</strong><br />

repetição. Finalmente, sintomas <strong>de</strong>pressivos ou obsessivos<br />

po<strong>de</strong>m ocorrer assim como transtornos <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>,<br />

tornando o diagnóstico diferencial bastante complexo.<br />

TRATAMENTO<br />

A anorexia e a bulimia nervosa exig<strong>em</strong> um tratamento<br />

especializado, com a presença <strong>de</strong> um profissional<br />

experiente e necessitando muitas vezes do trabalho <strong>em</strong><br />

equipe interdisciplinar: pediatra e/ou nutrólogo,<br />

nutricionista, o psicanalista, o psiquiatra, a enfermeira.<br />

Tendo <strong>em</strong> vista o importante envolvimento do aspecto<br />

psíquico, muitas vezes o centro do tratamento <strong>de</strong>ve ser o<br />

psicoterápico. Tanto os pacientes com distúrbios do<br />

comportamento alimentar quanto as suas famílias são<br />

resistentes ao tratamento e usualmente é necessário<br />

gran<strong>de</strong> esforço para convence-los da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajuda<br />

profissional. Os principais objetivos do tratamento da<br />

anorexia e da bulimia nervosa são a reabilitação<br />

nutricional e a aquisição <strong>de</strong> hábitos alimentares saudáveis<br />

e paralelamente, <strong>de</strong>ve-se diagnosticar e tratar os<br />

probl<strong>em</strong>as psicológicos, familiares, sociais e<br />

comportamentais, evitando-se recaídas. As melhores<br />

respostas ao tratamento se obtêm com a associação dos<br />

cuidados nutricionais e psicoterapia.<br />

Na maioria das vezes, a recuperação nutricional <strong>de</strong><br />

pacientes com distúrbios do comportamento alimentar<br />

<strong>de</strong>termina o <strong>de</strong>saparecimento <strong>de</strong> complicações associadas,<br />

que ocorr<strong>em</strong> <strong>em</strong> resposta à adaptação fisiológica à<br />

<strong>de</strong>snutrição. No entanto, n<strong>em</strong> todos as complicações<br />

58


associadas <strong>de</strong>saparec<strong>em</strong> com o ganho <strong>de</strong> peso. Sabe-se,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, que a recuperação nutricional restabelece o<br />

ciclo menstrual, que regular melhora a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> óssea.<br />

Exist<strong>em</strong> indícios <strong>de</strong> que níveis normais nunca são<br />

atingidos, <strong>de</strong>terminando maior risco <strong>de</strong> osteoporose futura.<br />

Devido a alta morbida<strong>de</strong> e mortalida<strong>de</strong> (<strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 5%<br />

dos casos diagnosticados) justifica-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

instituição <strong>de</strong> tratamento precoce.<br />

1. Modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tratamento<br />

Os fundamentos básicos do tratamento dos distúrbios do<br />

comportamento alimentar são os mesmos na abordag<strong>em</strong><br />

ambulatorial ou hospitalar. O tratamento ambulatorial<br />

parece ser suficiente para a recuperação da maioria dos<br />

pacientes e a longo prazo, po<strong>de</strong> apresentar melhores<br />

resultados. Além disso, o tratamento ambulatorial evita o<br />

estigma da internação, não causa mudança brusca na<br />

rotina diária, diminui a influência <strong>de</strong> outros pacientes,<br />

além <strong>de</strong> ser economicamente mais acessível.<br />

Em alguns casos a internação hospitalar é necessária.<br />

Nessas situações, são consi<strong>de</strong>rados a velocida<strong>de</strong> da perda<br />

<strong>de</strong> peso, o índice <strong>de</strong> massa corporal, a gravida<strong>de</strong> dos<br />

distúrbios metabólicos, a ocorrência <strong>de</strong> disfunções<br />

cardíacas, <strong>de</strong> retardo psicomotor, <strong>de</strong> síncope, <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão<br />

grave ou risco <strong>de</strong> aspiração no caso <strong>de</strong> vômitos incoercíveis<br />

e critérios psiquiátricos como psicose, crise familiar e risco<br />

<strong>de</strong> suicídio. Algumas vezes, a hospitalização po<strong>de</strong> ser<br />

necessária para conseguir um afastamento t<strong>em</strong>porário do<br />

paciente anoréxico <strong>de</strong> sua família. De maneira geral, os<br />

pacientes muito <strong>em</strong>agrecidos e psicologicamente instáveis<br />

necessitarão <strong>de</strong> internação para que o tratamento seja mais<br />

efetivo. Nesses, a transição entre o ambiente hospitalar e o<br />

domiciliar é usualmente difícil, gerando gran<strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong><br />

para o paciente e familiares. Dessa forma, o<br />

acompanhamento ambulatorial após a alta é<br />

imprescindível, para diminuir o risco <strong>de</strong> recidivas.<br />

A admissão ou internação compulsória <strong>de</strong>ve ser a última<br />

medida a ser tomada, restringindo-se a situações on<strong>de</strong> o<br />

risco <strong>de</strong> morte por complicações da <strong>de</strong>snutrição for<br />

iminente.<br />

2. Reabilitação nutricional<br />

É importante fazer uma avaliação dos sinais vitais e<br />

nutricionais para a indicação do suporte nutricional<br />

(parenteral ou enteral), com intervenção precoce para<br />

evitar os danos mais graves ou recuperar os já existentes<br />

como a <strong>de</strong>snutrição grave.<br />

O objetivo da abordag<strong>em</strong> nutricional é recuperar o peso<br />

do paciente <strong>de</strong> forma que seu IMC fique entre os limites<br />

da normalida<strong>de</strong>, s<strong>em</strong> estar abordando diretamente a<br />

alimentação. As necessida<strong>de</strong>s energéticas diárias <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser<br />

calculadas para cada paciente a partir <strong>de</strong> sua altura, sua<br />

ida<strong>de</strong>, o metabolismo e a ativida<strong>de</strong> física. Para que não<br />

cause <strong>de</strong>sconforto gástrico, as necessida<strong>de</strong>s energéticas são<br />

calculadas como 30kcal/kg <strong>de</strong> peso i<strong>de</strong>al, com aumento <strong>de</strong><br />

5 a 10kcal/kg a cada 5 dias, até atingir cerca <strong>de</strong> 50kcal/kg/<br />

dia. Quando o peso i<strong>de</strong>al for atingido, a oferta energética<br />

<strong>de</strong>ve ser diminuída gradualmente até atingir os valores<br />

a<strong>de</strong>quados para manter o peso corporal estável. É<br />

aconselhável distribuir esse conteúdo energético <strong>em</strong> seis<br />

refeições durante o dia, <strong>de</strong> modo que os pacientes não<br />

precis<strong>em</strong> comer gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma só vez. A<br />

constipação intestinal dos anoréxicos é aliviada quando a<br />

ingestão alimentar retorna ao normal. Ocasionalmente, po<strong>de</strong><br />

ser necessário administrar um <strong>em</strong>oliente, mas nunca laxantes.<br />

Na bulimia nervosa é necessário um planejamento<br />

alimentar que inclua o fracionamento das refeições,<br />

evitando-se ingestão energética excessiva. Deve-se s<strong>em</strong>pre<br />

enfatizar o consumo <strong>de</strong> alimentos habituais e, na maioria<br />

dos casos, não é necessária a utilização <strong>de</strong> alimentos<br />

especiais. Supl<strong>em</strong>entos alimentares são raramente<br />

indicados e a nutrição por sonda nasoenteral ou a nutrição<br />

parenteral <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser reservadas para os casos graves, <strong>em</strong><br />

que a <strong>de</strong>snutrição e as complicações associadas põ<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />

risco a vida do paciente. Essas medidas não são isentas <strong>de</strong><br />

complicações, po<strong>de</strong>ndo levar, por ex<strong>em</strong>plo, a síndrome <strong>de</strong><br />

realimentação com a retenção hídrica e alterações<br />

eletrolíticas graves <strong>em</strong> pacientes já <strong>de</strong>bilitados.<br />

Medidas acessórias são geralmente necessárias, como a<br />

limitação da ativida<strong>de</strong> física, o repouso pós-alimentar e a<br />

proibição do uso do banheiro <strong>de</strong>sacompanhado, para<br />

coibir as práticas purgativas.<br />

59


3. Abordag<strong>em</strong> pedagógica e psicoterapia<br />

O aconselhamento nutricional instrui o paciente sobre sua<br />

doença e as complicações associadas, além <strong>de</strong> ajudá-lo a<br />

retomar uma alimentação saudável. A família do paciente<br />

<strong>de</strong>ve ser envolvida no tratamento, procurando reconhecer<br />

padrões <strong>de</strong> interação que <strong>de</strong>sfavoreçam a in<strong>de</strong>pendência<br />

do paciente ou que aju<strong>de</strong>m a perpetuar o quadro.<br />

Embora a psicoterapia não seja usualmente efetiva até<br />

que o paciente melhore seu estado nutricional, ela <strong>de</strong>ve<br />

ser iniciada precoc<strong>em</strong>ente, ajudando-o a reconhecer seus<br />

medos e avaliar <strong>de</strong> forma crítica seu comportamento <strong>em</strong><br />

relação à alimentação. Os objetivos principais da<br />

psicoterapia são melhorar a auto-estima, auxiliar a<br />

i<strong>de</strong>ntificação e a expressão das <strong>em</strong>oções, o<br />

reconhecimento da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e estimular a autonomia.<br />

4. Uso <strong>de</strong> medicamentos<br />

Até o momento, não se i<strong>de</strong>ntificou uma droga com ação<br />

comprovada na anorexia nervosa. Os medicamentos usados<br />

<strong>em</strong>piricamente inclu<strong>em</strong> anti<strong>de</strong>pressivos para os pacientes<br />

com estados <strong>de</strong>pressivos persistentes na vigência <strong>de</strong> ganho <strong>de</strong><br />

peso, baixas doses <strong>de</strong> neurolépticos para aqueles com<br />

comportamento obsessivos e psicóticos e ansiolíticos, usados<br />

seletivamente nos pacientes com ansieda<strong>de</strong> antecipatória <strong>em</strong><br />

relação às refeições. As contra-indicações ao tratamento<br />

medicamentoso da anorexia nervosa baseiam-se no fato <strong>de</strong><br />

que os pacientes <strong>de</strong>snutridos ser<strong>em</strong> mais predispostos aos<br />

efeitos colaterais e não respon<strong>de</strong>r<strong>em</strong> b<strong>em</strong> aos anti<strong>de</strong>pressivos<br />

quando comparados a outros pacientes com <strong>de</strong>pressão.<br />

Acredita-se que os anti<strong>de</strong>pressivos tricíclicos possam aumentar<br />

o risco <strong>de</strong> hipotensão e arritmia, principalmente nos<br />

pacientes <strong>de</strong>sidratados e que induz<strong>em</strong> o vômito.<br />

A terapia com estrogênios para reduzir a perda <strong>de</strong> cálcio<br />

<strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada nos casos <strong>de</strong> anorexia nervosa com<br />

amenorréia crônica. No entanto, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre evi<strong>de</strong>ncia-se<br />

redução no risco <strong>de</strong> osteoporose.<br />

PROGNÓSTICO E EVOLUÇÃO<br />

A natureza crônica dos distúrbios alimentares requer a<br />

manutenção do tratamento por t<strong>em</strong>po prolongado para<br />

evitar as recaídas. O prognóstico po<strong>de</strong> variar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

completa recuperação com manutenção do peso normal e<br />

funcionamento efetivo, até uma incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter o<br />

peso, <strong>de</strong>snutrição gradual, incapacida<strong>de</strong> funcional <strong>de</strong>vido<br />

a extr<strong>em</strong>a fraqueza, preocupação excessiva com a perda <strong>de</strong><br />

peso e com a alimentação. Após 4 anos <strong>de</strong><br />

acompanhamento, menos <strong>de</strong> 50% dos pacientes com<br />

anorexia nervosa evolu<strong>em</strong> para a cura e <strong>de</strong>sses, n<strong>em</strong> todos<br />

retomam um estilo <strong>de</strong> vida consi<strong>de</strong>rado normal. Cerca <strong>de</strong><br />

20 a 30% dos pacientes evolu<strong>em</strong> para cronicida<strong>de</strong>, com<br />

alimentação irracional e medo <strong>de</strong> alimentar-se. A<br />

<strong>de</strong>snutrição agrava os probl<strong>em</strong>as psiquiátricos e <strong>de</strong>termina<br />

maior susceptibilida<strong>de</strong> a infecções, osteoporose e<br />

insuficiência renal. O óbito po<strong>de</strong> <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>ssas<br />

complicações ou do suicídio.<br />

Cerca <strong>de</strong> 30% dos pacientes com bulimia nervosa<br />

apresentam antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> anorexia nervosa. Entre os<br />

bulímicos, cerca <strong>de</strong> 70% apresentam recuperação<br />

completa após o tratamento, com redução consi<strong>de</strong>rável<br />

dos sintomas. Piores prognósticos têm sido associados a<br />

situações on<strong>de</strong> o peso corporal está muito baixo, com a<br />

presença <strong>de</strong> vômitos ou purgação e a omissão ou<br />

interrupção do tratamento. Estudos têm revelado uma<br />

variação <strong>de</strong> 5 a 18% nas taxas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>.<br />

Os critérios para a alta inclu<strong>em</strong> a ingestão alimentar que<br />

atenda às recomendações nutricionais básicas, manutenção<br />

<strong>de</strong> valores aceitáveis na proporção do peso para a estatura<br />

e percepção apropriada do tamanho e da forma corporal.<br />

Além disso, <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado a normalização do ciclo<br />

menstrual e o ajuste das características sexuais,<br />

psicológicas e sociais, vários anos após o diagnóstico<br />

inicial.<br />

Na bulimia nervosa, pelo menos a curto prazo, o uso <strong>de</strong><br />

anti<strong>de</strong>pressivos tricíclicos e inibidores da recaptação <strong>de</strong><br />

serotonina têm sido útil na redução dos sintomas <strong>de</strong><br />

compulsão e purgação. As doses utilizadas são as mesmas<br />

<strong>em</strong>pregadas no tratamento da <strong>de</strong>pressão.<br />

60


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61


ANEXO 1<br />

Questionário sobre grau <strong>de</strong> preocupação com a imag<strong>em</strong> corporal<br />

Gostaríamos <strong>de</strong> saber como você v<strong>em</strong> se sentindo <strong>em</strong> relação à sua aparência. Por favor, leia cada questão e faça<br />

um círculo no número apropriado, usando a legenda abaixo:<br />

1. Nunca 2. Raramente 3. Às vezes 4. Freqüent<strong>em</strong>ente 5. Muito freqüent<strong>em</strong>ente 6. S<strong>em</strong>pre<br />

Nas últimas quatro s<strong>em</strong>anas:<br />

1) Sentir-se entediada(o) faz você se preocupar com sua forma física?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

2) Você t<strong>em</strong> estado tão preocupada (o) com sua forma física a ponto <strong>de</strong> sentir que <strong>de</strong>veria fazer dieta?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

3) Você acha que suas coxas, quadril, ná<strong>de</strong>gas são gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>mais para o restante do seu corpo?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

4) Você t<strong>em</strong> sentido medo <strong>de</strong> ficar gorda (o) ou mais gorda (o)?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

5) Você se preocupa com o fato <strong>de</strong> seu corpo não ser suficient<strong>em</strong>ente firme?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

6) Sentir-se satisfeita (o) após ingerir uma gran<strong>de</strong> refeição, faz você sentir-se gorda (o)?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

7) Você já se sentiu tão mal a respeito do seu corpo que chegou a chorar?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

8) Você já evitou correr pelo fato <strong>de</strong> que seu corpo po<strong>de</strong>ria balançar?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

9) Estar com mulheres magras (homens magros) faz você se sentir preocupada(o) <strong>em</strong> relação ao seu físico?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

10) Você já se preocupou com o fato <strong>de</strong> suas coxas po<strong>de</strong>r<strong>em</strong> se espalhar ao se sentar?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

11) Você já se sentiu gorda (o) mesmo comendo uma pequena quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comida?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

12) Você t<strong>em</strong> reparado no físico <strong>de</strong> outras mulheres (outros homens) e, ao se comparar,<br />

1 2 3 4 5 6<br />

sente-se <strong>em</strong> <strong>de</strong>svantag<strong>em</strong>?<br />

13) Pensar no seu físico interfere <strong>em</strong> sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se concentrar <strong>em</strong> outras ativida<strong>de</strong>s?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

14) Estar nua (nu), por ex<strong>em</strong>plo, durante o banho, faz você se sentir gorda (o)?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

15) Você t<strong>em</strong> evitado usar roupas que a (o) faz<strong>em</strong> notar as formas do seu corpo?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

16) Você se imagina cortando fora porções <strong>de</strong> seu corpo?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

17) Comer doces, bolos ou outros alimentos ricos <strong>em</strong> calorias faz você se sentir gorda (o)?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

62


18) Você já <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> participar <strong>de</strong> eventos sociais por sentir-se mal <strong>em</strong> relação ao seu corpo?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

19) Você se sente excessivamente gran<strong>de</strong> e arredondada (o)?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

20) Você já teve vergonha do seu corpo?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

21) A preocupação frente ao seu físico o leva a fazer dieta?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

22) Você se sente mais contente <strong>em</strong> relação ao seu corpo quando está com estômago vazio?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

23) Você acha que seu físico atual <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> uma falta <strong>de</strong> auto-controle?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

24) Você se preocupa que as pessoas possam ver dobras na sua cintura ou estômago?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

25) Você acha injusto que outras mulheres (ou homens) sejam mais magras(os) que você?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

26) Você já vomitou para se sentir mais magra (o)?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

27) Quando acompanhada (o), você fica preocupada (o) <strong>em</strong> estar ocupando muito espaço<br />

1 2 3 4 5 6<br />

(por ex<strong>em</strong>plo, sentada (o) num sofá ou no banco <strong>de</strong> um ônibus)?<br />

28) Você se preocupa com o fato <strong>de</strong> estar<strong>em</strong> surgindo dobrinhas <strong>em</strong> seu corpo?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

29) Ver seu reflexo faz você sentir-se mal <strong>em</strong> relação ao seu físico?<br />

30) Você belisca área <strong>de</strong> seu corpo para ver o quanto há <strong>de</strong> gordura?<br />

31) Você evita situações nas quais as pessoas possam ver seu corpo?<br />

32) Você toma laxantes para se sentir mais magra (o)?<br />

33) Você fica particularmente consciente do seu físico quando <strong>em</strong> companhia <strong>de</strong> outras pessoas?<br />

34) A preocupação com seu físico lhe faz sentir que <strong>de</strong>veria fazer exercícios?<br />

1 2 3 4 5 6<br />

1 2 3 4 5 6<br />

1 2 3 4 5 6<br />

1 2 3 4 5 6<br />

1 2 3 4 5 6<br />

1 2 3 4 5 6<br />

Soma total <strong>de</strong> pontos<br />

Interpretação dos resultados:<br />

< 80 pontos: nenhuma preocupação com a imag<strong>em</strong> corporal<br />

81 a 120 pontos: preocupação leve com a imag<strong>em</strong> corporal<br />

121 a 140 pontos: preocupação mo<strong>de</strong>rada com a imag<strong>em</strong> corporal<br />

> 140 pontos: preocupação intensa com a imag<strong>em</strong> corporal<br />

63


Volume 5 - Ano 2004<br />

t<strong>em</strong>as<br />

<strong>de</strong> nutrição <strong>em</strong> <strong>pediatria</strong><br />

Publicação elaborada pelo Departamento <strong>de</strong><br />

Nutrição da Socieda<strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>


Nutrição e ativida<strong>de</strong> física<br />

Relatores: Ary Lopes Cardoso e<br />

Virgínia Resen<strong>de</strong> Silva Weffort<br />

Des<strong>de</strong> os anos 50 os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e aqueles da área <strong>de</strong> educação<br />

física v<strong>em</strong> se preocupando com o papel do exercício físico na prevenção das<br />

doenças do coração. As recomendações quanto às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> exercício<br />

físico para o adulto e também para a criança começaram a ser formuladas<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início dos anos 90, pelo Departamento <strong>de</strong> Agricultura dos Estados<br />

Unidos (USDA) e pelo Departamento <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e Relações Humanas (DHHS).<br />

As recomendações dietéticas para os americanos (Dietary Gui<strong>de</strong>lines for<br />

Americans) no ano <strong>de</strong> 2000, preconizou que as crianças <strong>de</strong>v<strong>em</strong> praticar pelo<br />

menos 60 minutos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> física mo<strong>de</strong>rada diariamente, s<strong>em</strong>pre<br />

relacionando as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> exercícios físicos com os efeitos benéficos<br />

para a saú<strong>de</strong>. Além disso essas recomendações enfatizam que a ativida<strong>de</strong><br />

física e a nutrição caminham juntas para a obtenção <strong>de</strong> melhor saú<strong>de</strong>.<br />

O aumento do gasto energético causado pela ativida<strong>de</strong> física necessita ser<br />

levado <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração, tanto quando se <strong>de</strong>termina a quantida<strong>de</strong> calórica<br />

ingerida para se alcançar o balanço <strong>de</strong> energia que mantenha o peso<br />

corpóreo do adulto estável, como quando se pretenda obter um a<strong>de</strong>quado<br />

crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento na criança.<br />

A prática a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> física condiciona o coração, tonifica os<br />

músculos, ajuda na manutenção do peso, favorece a saú<strong>de</strong> óssea, previne<br />

diversas doenças como diabetes, obesida<strong>de</strong> e hipertensão arterial além <strong>de</strong><br />

proporcionar b<strong>em</strong>-estar mental, integração social, uma oportunida<strong>de</strong> para o<br />

lazer e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> aptidões que levam a uma maior auto-estima e<br />

confiança.<br />

A ativida<strong>de</strong> física po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>nominada <strong>de</strong>:<br />

1 Exercício físico para manter a saú<strong>de</strong>.<br />

2 Exercício físico programado: quando t<strong>em</strong> horário e freqüência<br />

<strong>de</strong>terminados, como as aulas <strong>de</strong> educação física nas escolas.<br />

3 Treinamento físico: quando o objetivo é a competição.<br />

Antes <strong>de</strong> iniciar qualquer ativida<strong>de</strong> física é fundamental conhecer as<br />

condições físicas da criança e/ou adolescente, além <strong>de</strong> se levar <strong>em</strong> conta<br />

o seu estágio <strong>de</strong> maturação, evitando assim uma indicação ina<strong>de</strong>quada<br />

<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s.<br />

Para avaliar se o crescimento está a<strong>de</strong>quado, o peso e a estatura <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser<br />

medidos regularmente e avaliados quanto a relação peso/altura, <strong>de</strong> acordo<br />

com os padrões <strong>de</strong> referência e quanto ao índice <strong>de</strong> massa corporal (IMC).<br />

66


1- INTEGRAÇÃO METABÓLICA DURANTE<br />

O EXERCÍCIO FÍSICO<br />

Saltin e cols (1), <strong>de</strong>monstraram existir três tipos distintos<br />

<strong>de</strong> fibras musculares: tipo I (contração lenta); tipo IIA<br />

(contração rápida-oxidativa); e tipo IIB (contração rápidaglicolítica).<br />

As características metabólicas <strong>de</strong>stas fibras<br />

estão <strong>de</strong>monstradas no Quadro 1.<br />

Quadro 1: Características metabólicas das fibras musculares<br />

Proprieda<strong>de</strong>s<br />

Velocida<strong>de</strong> contração<br />

Capacida<strong>de</strong> glicolítica<br />

Capacida<strong>de</strong> oxidativa<br />

Estoque <strong>de</strong> glicogênio<br />

Estoque triglicerí<strong>de</strong>os<br />

Capilarida<strong>de</strong> do tecido<br />

Tipo I<br />

Lenta<br />

Baixa<br />

Alta<br />

Mo<strong>de</strong>rado<br />

Alto<br />

Elevada<br />

Tipo IIA<br />

Rápida<br />

Mo<strong>de</strong>rada<br />

Mo<strong>de</strong>rada<br />

Mo<strong>de</strong>rado<br />

Mo<strong>de</strong>rado<br />

Mo<strong>de</strong>rada<br />

Tipo IIB<br />

Rápida<br />

Alta<br />

Baixa<br />

Alto<br />

Baixo<br />

Reduzida<br />

Modificado <strong>de</strong> Saltin e cols. 1977<br />

As fibras musculares do Tipo I são mais utilizadas na<br />

manutenção <strong>de</strong> esforços <strong>de</strong> longa duração e baixa<br />

intensida<strong>de</strong>. Devido a sua alta capacida<strong>de</strong> oxidativa e<br />

baixa velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contração, a geração <strong>de</strong> ATP <strong>de</strong>corre<br />

dos processos oxidativos mitocondriais. Elas possu<strong>em</strong><br />

gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> para utilizar os ácidos graxos livres<br />

<strong>de</strong>vido à elevada capilarida<strong>de</strong> e alto estoque <strong>de</strong><br />

triglicerí<strong>de</strong>os.<br />

Já as fibras do Tipo IIB estão envolvidas com ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

alta intensida<strong>de</strong> e curta duração. Elas possu<strong>em</strong> uma alta<br />

capacida<strong>de</strong> glicolítica e elevada velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contração.<br />

O conteúdo <strong>de</strong> glicogênio favorece a glicólise.<br />

As fibras Tipo IIA, são usadas <strong>em</strong> situações aon<strong>de</strong> o<br />

esforço intenso é feito no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> um exercício <strong>de</strong><br />

longa duração. Ag<strong>em</strong> portanto ora <strong>de</strong> forma s<strong>em</strong>elhante<br />

às fibras do tipo I, ora como aquelas do tipo IIB.<br />

2- FONTES ENERGÉTICAS DAS CÉLULAS<br />

MUSCULARES<br />

Os ácidos graxos (estocados como triglicerí<strong>de</strong>os no tecido<br />

adiposo e <strong>em</strong> pequenas quantida<strong>de</strong>s no tecido muscular),<br />

a glicose (mobilizada a partir do glicogênio hepático) e os<br />

aminoácidos (especialmente a partir <strong>de</strong> proteínas lábeis)<br />

po<strong>de</strong>m ser utilizados para aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s do<br />

tecido muscular. Esses metabólitos representam acúmulo<br />

<strong>de</strong> energia estável, permitindo ao organismo adaptar-se a<br />

situações <strong>de</strong> jejum e esforço físico prolongado.<br />

Durante a ativida<strong>de</strong> física, as fontes energéticas utilizadas<br />

pelo tecido muscular variam <strong>de</strong> acordo com a intensida<strong>de</strong><br />

e a duração do esforço (2).<br />

Pouco menos da meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> toda a energia dos nutrientes<br />

contidos nos alimentos é transferida para o composto <strong>de</strong><br />

alta energia ATP.<br />

O processo <strong>de</strong> contração muscular ocorre às custas <strong>de</strong><br />

energia fornecida pela quebra <strong>de</strong> ATP. Como o suprimento<br />

<strong>de</strong> ATP dos músculos é pequeno, limitado a 85g, a medida<br />

que vai sendo usado, <strong>de</strong>ve ir ocorrendo a sua ressíntese.<br />

As fibras musculares é que patrocinam esta ressíntese.<br />

A energia para isso v<strong>em</strong> direta e rapidamente da quebra<br />

anaeróbica <strong>de</strong> uma molécula do composto <strong>de</strong> alta energia<br />

Creatina - Fosfato (CP) (Figura 1).<br />

ATPase<br />

Creatino<br />

Quinase<br />

Trabalho Biológico<br />

ATP ADP + P + Energia<br />

CP<br />

C +P+<br />

Energia<br />

FIGURA 1 – O ATP e a Creatinoquinase são fontes<br />

anaeróbicas <strong>de</strong> energia ligada ao fosfato. A energia<br />

liberada a partir da hidrólise <strong>de</strong> creatino fosfato é usada<br />

para religar o ADP ao fosfato e formar ATP.<br />

67


Coletivamente o ATP e o CP são conhecidos como os fosfatos<br />

<strong>de</strong> alta energia. A energia liberada a partir da quebra das<br />

ligações fosfato tanto do ATP como do CP, po<strong>de</strong>m sustentar<br />

um exercício por até 8 segundos. Quando o exercício<br />

persiste por mais t<strong>em</strong>po, outras fontes energéticas externas<br />

à célula são mobilizadas para a ressíntese do ATP.<br />

No início do exercício ocorre consumo das fontes<br />

energéticas primárias celulares, ATP e CP (creatininafosfato).<br />

Com a continuida<strong>de</strong> da ativida<strong>de</strong> a <strong>de</strong>gradação<br />

do glicogênio (muscular) e a glicose (circulante)<br />

mobilizada a partir do glicogênio hepático, passam a<br />

fornecer um maior suprimento energético. Com a<br />

manutenção da ativida<strong>de</strong> <strong>em</strong> intensida<strong>de</strong> outras reações<br />

são <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adas, especialmente a neoglicogênese.<br />

Conclui-se daí que tanto crianças como adolescentes<br />

fisicamente ativos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> consumir energia e nutrientes<br />

suficientes para alcançar suas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> crescimento,<br />

manutenção <strong>de</strong> tecidos e também para o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho <strong>de</strong><br />

suas ativida<strong>de</strong>s intelectuais e físicas.<br />

Os exercícios po<strong>de</strong>m ser feitos s<strong>em</strong> o consumo <strong>de</strong><br />

oxigênio, como acontece quando se corre atrás <strong>de</strong> uma<br />

bola, ou <strong>de</strong> um ônibus, praticamente s<strong>em</strong> respirar. Numa<br />

situação <strong>de</strong>ssas a quebra da molécula <strong>de</strong> ATP vai ocorrer<br />

s<strong>em</strong> a participação do oxigênio. Na falta <strong>de</strong>ste, a energia<br />

para a contração muscular é suprida predominant<strong>em</strong>ente<br />

por fontes anaeróbicas. Esta situação é a que ocorre nos<br />

exercícios <strong>de</strong> força, como o halterofilismo <strong>de</strong> competição.<br />

A participação cada vez mais precoce das crianças <strong>em</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s competitivas e seu envolvimento <strong>em</strong> programas<br />

<strong>de</strong> treinamento intenso, faz com que os profissionais da<br />

saú<strong>de</strong> fiqu<strong>em</strong> mais atentos à adoção <strong>de</strong> comportamentos<br />

alimentares que po<strong>de</strong>m trazer conseqüências <strong>de</strong>letérias à<br />

saú<strong>de</strong>, tais como <strong>de</strong>sidratação, práticas <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> peso<br />

ina<strong>de</strong>quadas, distúrbios alimentares e uso indiscriminado<br />

<strong>de</strong> substâncias ergogênicas.<br />

3- ASPECTOS NUTRICIONAIS<br />

Os lípi<strong>de</strong>s, carboidratos e as proteínas são el<strong>em</strong>entos<br />

essenciais para fornecer energia, manter a integrida<strong>de</strong><br />

estrutural e funcional do organismo e também manter as<br />

funções fisiológicas durante a ativida<strong>de</strong> física (3).<br />

Recomenda-se que a dieta para atletas jovens forneça <strong>de</strong><br />

55-60% da energia total na forma <strong>de</strong> carboidratos, 12-15%<br />

como proteínas e 25-30% como lipí<strong>de</strong>s.<br />

Lípi<strong>de</strong>s<br />

A maior fonte <strong>de</strong> energia do corpo é representada pela<br />

gordura estocada. Em comparação aos outros nutrientes,<br />

a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia que po<strong>de</strong> advir <strong>de</strong>sses estoques<br />

é enorme.<br />

Apesar <strong>de</strong> se saber que a sua utilização é maior durante o<br />

exercício, a recomendação para se manter um crescimento<br />

a<strong>de</strong>quado é <strong>de</strong> que a ingestão diária não fique muito longe<br />

dos 30% do valor energético total da dieta, n<strong>em</strong> menor que<br />

20% para manter o crescimento a<strong>de</strong>quado. Além disso t<strong>em</strong>se<br />

recomendado que 70% <strong>de</strong>ssa gordura seja insaturada.<br />

As principais funções dos lípi<strong>de</strong>s são :<br />

• fonte <strong>de</strong> energia e reserva – um grama <strong>de</strong> lípi<strong>de</strong>s<br />

contém aproximadamente 9 kilocalorias.<br />

• proteção – protege os órgãos vitais contra os traumas,<br />

contra o frio e até contra a perda rápida <strong>de</strong> calor nos dias<br />

quentes.<br />

• transporte <strong>de</strong> vitaminas e <strong>de</strong>pressor <strong>de</strong> fome – a<br />

ingestão <strong>de</strong> no mínimo 20g <strong>de</strong> gordura/dia é suficiente<br />

para suprir as necessida<strong>de</strong>s diárias das vitaminas<br />

lipossolúveis A D E e K. Outra ação muito conhecida é a<br />

<strong>de</strong> aumentar a sacieda<strong>de</strong> no <strong>de</strong>correr das refeições.<br />

Carboidratos<br />

A principal função dos carboidratos é a <strong>de</strong> suprir energia<br />

para o trabalho celular. A forma i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> ingestão é a <strong>de</strong><br />

moléculas complexas (amido), fornecendo 40-45% das<br />

calorias e <strong>em</strong> menor proporção (10-15%), na forma simples<br />

(glicose). As frutas, grãos e vegetais além dos doces, são<br />

alguns ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> alimentos ricos <strong>em</strong> carboidratos que são<br />

estocados nos músculos e no fígado na forma <strong>de</strong> glicogênio<br />

e ainda po<strong>de</strong>m ser convertidos <strong>em</strong> gordura para estocar<br />

energia. A ingestão ina<strong>de</strong>quada po<strong>de</strong> resultar <strong>em</strong> estoques<br />

insuficientes <strong>de</strong> glicogênio muscular, fadiga precoce, além do<br />

uso <strong>de</strong> estoques protéicos para a produção <strong>de</strong> energia.<br />

68


As principais funções exercidas pelos carboidratos e<br />

relacionadas com a performance do exercício são:<br />

• fonte <strong>de</strong> energia – a quebra da glicose e do glicogênio<br />

gera energia que é usada para a contração muscular e outras<br />

formas <strong>de</strong> trabalho biológico. Durante o exercício mo<strong>de</strong>rado<br />

e prolongado o glicogênio do fígado e dos músculos fornece<br />

<strong>de</strong> 40 a 50% <strong>de</strong> todas as necessida<strong>de</strong>s energéticas nos<br />

primeiros 20 a 40 minutos. A partir daí a energia passa a ser<br />

obtida a partir do metabolismo <strong>de</strong> gorduras e mesmo da<br />

utilização da glicose sangüínea (figura 2).<br />

consequent<strong>em</strong>ente, a geração <strong>de</strong> energia aeróbica a<br />

partir das gorduras. Na figura 3 po<strong>de</strong>-se observar como<br />

se faz a geração <strong>de</strong> energia a partir do metabolismo dos<br />

carboidratos, gorduras e proteínas. Mais ainda como são<br />

feitas as interrelações entre esses 3 nutrientes para<br />

formar energia.<br />

LIPÍDIOS<br />

CARBOIDRATOS<br />

PROTEÍNAS<br />

Ácidos graxos + glicerina Glicose / glicogênio<br />

AA<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

Consumo 02<br />

(mM / min)<br />

AG<br />

37%<br />

Glicose<br />

27%<br />

AG<br />

37%<br />

Glicose<br />

41%<br />

AG<br />

50%<br />

Glicose<br />

36%<br />

AG<br />

62%<br />

Glicose<br />

30%<br />

Repouso 40 90 180 240<br />

Exercício, min<br />

BETA<br />

OXIDAÇÃO<br />

Ácido oxalocetico<br />

Ácido piruvico<br />

Acetil C oA<br />

CICLO<br />

<strong>de</strong><br />

KREBS<br />

Ácido láctico<br />

Alanina<br />

Corpos cetônicos<br />

Ácido cítrico<br />

Deaminação<br />

Glicidios<br />

Amônia<br />

Uréia<br />

Urina<br />

Ácido glutâmico<br />

FIGURA 2 – Consumo <strong>de</strong> oxigênio e <strong>de</strong> nutrientes, pelas<br />

pernas, durante o exercício prolongado. As áreas<br />

representadas pela oxidação <strong>de</strong> gordura e da<br />

participação da glicose sangüínea são progressivamente<br />

maiores à medida que o exercício vai sendo prolongado.<br />

A área representada na parte superior do histograma é<br />

aquela relativa à contribuição oxidativa do glicogênio<br />

muscular e da gordura e proteínas intramusculares (4)<br />

• poupador <strong>de</strong> proteína – quando as reservas <strong>de</strong><br />

carboidratos estão muito reduzidas, como por ex<strong>em</strong>plo<br />

num exercício <strong>de</strong> endurance muito extenuante, alguns<br />

aminoácidos que possu<strong>em</strong> esqueletos <strong>de</strong> carbono,<br />

po<strong>de</strong>m ser reconstruidos e gerar glicose através do<br />

processo <strong>de</strong> neoglicogênese. Dessa forma as proteínas<br />

são usadas como fonte energética.<br />

• manter o catabolismo <strong>de</strong> gordura – o ácido<br />

oxaloacético, gerado na glicogenolise, é necessário para<br />

permitir que o processo <strong>de</strong> beta oxidação das gorduras<br />

se mantenha <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>. A <strong>de</strong>pleção acentuada <strong>de</strong><br />

carboidratos, compromete a geração <strong>de</strong>sse ácido e<br />

FIGURA 3 – A “máquina metabólica’”: importantes<br />

interconexões entre carboidratos, lípi<strong>de</strong>s e proteínas.<br />

• combustível para o SNC – <strong>em</strong> condições normais o<br />

cérebro usa a glicose sangüínea como o combustível<br />

preferido. Na sua falta surg<strong>em</strong> os sintomas<br />

relacionados à hipoglic<strong>em</strong>ia: fraqueza, fome, tonturas.<br />

Em situação <strong>de</strong> exercício, a performance será diminuída<br />

e o cansaço aparece.<br />

O exercício prolongado po<strong>de</strong> levar à situação <strong>de</strong> fadiga<br />

quando os estoques <strong>de</strong> glicogênio do fígado e dos<br />

músculos diminu<strong>em</strong> muito, mesmo com uma boa oferta<br />

<strong>de</strong> oxigênio e reservas <strong>de</strong> gordura ilimitadas. Os atletas<br />

<strong>de</strong>fin<strong>em</strong> essa situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pleção acentuada dos<br />

carboidratos no exercício <strong>de</strong> endurance, como fadiga<br />

central ou “muro”.<br />

Conclui-se que a ingestão <strong>de</strong> carboidratos é fundamental<br />

antes, durante e após o exercício aeróbico ou endurance.<br />

69


Proteínas<br />

O organismo necessita <strong>de</strong> 20 diferentes aminoácidos,<br />

sendo que 8 não são sintetizados no corpo. São os<br />

chamados aminoácidos essenciais e precisam ser<br />

ingeridos na alimentação. As proteínas que contém todos<br />

os aminoácidos são <strong>de</strong>nominadas <strong>de</strong> completas, ou <strong>de</strong><br />

alta qualida<strong>de</strong> como os ovos, leite, queijo, carne, peixe.<br />

No Quadro 2 está um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> dieta ingerida por um<br />

adolescente normal brasileiro. Nota-se que a ingestão<br />

proteica supera a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1g/kg/dia. O Conselho<br />

Nacional <strong>de</strong> Pesquisas (National Research Council) da<br />

Aca<strong>de</strong>mia Nacional <strong>de</strong> Ciências dos Estados Unidos<br />

preconiza a ingestão diária <strong>de</strong> 0.8 g/kg/dia <strong>de</strong> proteínas,<br />

tanto para meninos como para meninas (5). Quando as<br />

recomendações são feitas para aqueles que praticam<br />

ativida<strong>de</strong>s físicas mais intensas, essas quantida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m<br />

variar <strong>de</strong> acordo com o tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>. Ortega <strong>em</strong><br />

1992 (6) preconiza a ingestão <strong>de</strong> até 2g/kg/dia para os<br />

adolescentes que praticam esportes <strong>de</strong> alta intensida<strong>de</strong> e<br />

por período superior a uma hora.<br />

Atletas que praticam exercícios <strong>de</strong> força por mais <strong>de</strong> 4<br />

horas diárias, po<strong>de</strong>rão necessitar <strong>de</strong> supl<strong>em</strong>entos<br />

protéicos para aumentar a sua eficiência e recuperação<br />

(7), além <strong>de</strong> melhorar o balanço <strong>de</strong> aminoácidos.<br />

S<strong>em</strong>pre é bom l<strong>em</strong>brar que o uso crônico <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> proteína não é isento <strong>de</strong> efeitos<br />

colaterais, principalmente pela hepato e nefrotoxicida<strong>de</strong>.<br />

Micronutrientes e alguns Minerais<br />

Em relação aos micronutrientes, não existe uma<br />

recomendação específica para jovens esportistas. As RDI<br />

são utilizadas como padrão para verificar a a<strong>de</strong>quação. A<br />

atenção maior é voltada para a ingestão <strong>de</strong> Calcio, que<br />

<strong>de</strong>ve ser superior a 500mg/dia, e <strong>de</strong> Ferro uma vez que a<br />

sua <strong>de</strong>ficiência po<strong>de</strong> prejudicar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

transporte <strong>de</strong> oxigênio, diminuindo o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho físico.<br />

Hidratação<br />

A hidratação é essencial para garantir a manutenção dos<br />

fluidos corporais e melhorar o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho físico,<br />

retardando o processo <strong>de</strong> fadiga. É indicado que os<br />

esportistas ingiram fluidos antes, durante e após os<br />

períodos <strong>de</strong> treinamento e competição. Nas práticas<br />

esportivas <strong>de</strong> longa duração (maior que 90 minutos),<br />

bebidas hidroeletrolíticas com concentração <strong>de</strong><br />

carboidratos (6-8%) e osmolarida<strong>de</strong> a<strong>de</strong>quadas po<strong>de</strong>m ser<br />

utilizadas. Alguns cuidados são importantes:<br />

• a t<strong>em</strong>peratura da solução <strong>de</strong>ve variar <strong>de</strong> 6º C a 20º C<br />

para facilitar a ingestão;<br />

• uma solução contendo entre 6% e 10% <strong>de</strong> carboidrato<br />

t<strong>em</strong> osmolalida<strong>de</strong> que facilita o esvaziamento gástrico e<br />

a absorção intestinal.<br />

• a relação carboidrato / sódio <strong>de</strong>ve ser s<strong>em</strong>elhante àquela<br />

dos fluidos corpóreos - 12:1. A relação <strong>de</strong> 5:1 que<br />

facilita o esvaziamento gástrico é intolerável.<br />

• <strong>em</strong> ambientes quentes e úmidos a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ingestão <strong>de</strong> líquidos é maior do que <strong>em</strong> ambientes<br />

quentes e secos, on<strong>de</strong> a termorregulação é mais eficiente.<br />

4- NECESSIDADES NUTRICIONAIS DO<br />

ADOLESCENTE NORMAL E DO ATLETA<br />

Quando se faz recomendações <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> energia<br />

e <strong>de</strong> nutrientes, <strong>de</strong>ve-se reportar aos informes técnicos da<br />

FAO, OMS e UNU (8). Esses valores foram propostos para<br />

as diferentes ida<strong>de</strong>s e sexo. Na Tabela 1 estão os valores<br />

<strong>de</strong> energia e <strong>de</strong> alguns nutrientes recomendados para<br />

homens e mulheres, com ida<strong>de</strong>s entre 15 e 18 anos. A<br />

distribuição do teor <strong>de</strong> energia dos macronutrientes <strong>de</strong>ve<br />

obe<strong>de</strong>cer às seguintes proporções: 55%, 30% e 15%<br />

respectivamente para carboidratos, gorduras e proteínas.<br />

S<strong>em</strong>pre é bom l<strong>em</strong>brar que a taxa metabólica basal (TMB)<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da ida<strong>de</strong> e do peso corpóreo. Na faixa etária <strong>de</strong><br />

10 a 18 anos as equações que <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> a TMB para<br />

meninos e meninas são respectivamente:<br />

Meninos: (17,5 P + 651) Meninas: (12,2 P + 746)<br />

On<strong>de</strong> P é o peso <strong>em</strong> kilogramas.<br />

70


Tabela 1 – Recomendações <strong>de</strong> Ingestão energética <strong>de</strong> alguns nutrientes*<br />

Homens<br />

Mulheres<br />

Ida<strong>de</strong><br />

Peso (kg)<br />

Calorias (kcal)<br />

Proteínas (g)<br />

Vitamina A (ug)<br />

Vitamina B12(ug)<br />

Calcio(mg)<br />

Fósforo(mg)<br />

Ferro (mg)<br />

Zinco(mg)<br />

15 - 18 anos<br />

66<br />

2100-3900<br />

59<br />

1000<br />

2<br />

1200<br />

1200<br />

12<br />

15<br />

15 - 18 anos<br />

55<br />

1200-3000<br />

44<br />

1000<br />

2<br />

1200<br />

1200<br />

15<br />

12<br />

* FAO / OMS/UNU, 1985<br />

No Quadro 2 está o resultado <strong>de</strong> um inquérito alimentar diário, médio, obtido a partir das informações <strong>de</strong><br />

um adolescente <strong>de</strong> 15 anos, com 165 cm <strong>de</strong> altura e 56 kg <strong>de</strong> peso, pertencente à classe média <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Quadro 2 – Inquérito alimentar – masc. 15 anos – peso e altura <strong>em</strong> percentil 50<br />

Café manhã<br />

Almoço<br />

Lanche<br />

Jantar<br />

Ceia<br />

Total<br />

Proteína<br />

Gordura<br />

Carboidr.<br />

Energia<br />

Leite 112 g<br />

Café 48 g<br />

Arroz coz<br />

c/sal 192 g<br />

Leite 112 g<br />

Café 48 g<br />

Arroz branco<br />

c/sal 192 g<br />

Chocolate<br />

quente 160 g<br />

%<br />

15<br />

21<br />

63<br />

Açúcar 20 g<br />

Estrogonofe<br />

154 g<br />

Açucar 10 g<br />

Bife 93 g<br />

Bolacha cream<br />

crack 19.5 g<br />

Kcal<br />

80<br />

49<br />

329<br />

2060<br />

Pão 50 g<br />

Margarina 15 g<br />

Purê batata c/<br />

leite e margarina<br />

130 g<br />

Bolacha<br />

maizena 20 g<br />

Chuchu cozido<br />

s<strong>em</strong> sal 89 g<br />

Kcal<br />

37<br />

Pêra 70 g<br />

Limonada 20 g<br />

Açúcar 20 g<br />

Pipoca c/óleo<br />

e sal 9 g<br />

Limonada 20 g<br />

Açúcar 20 g<br />

G/kg<br />

1.4<br />

Maçã 75 g<br />

Pêra 70 g<br />

Com os dados apresentados é fácil perceber que as necessida<strong>de</strong>s nutricionais diárias <strong>de</strong> um adolescente<br />

normal po<strong>de</strong>m ser preenchidas facilmente com a dieta normal que ele recebe. Fica evi<strong>de</strong>nte também que se<br />

houver a prática esportiva mais intensa, muito provavelmente uma maior ingestão <strong>de</strong> carboidratos <strong>de</strong>verá<br />

ser oferecida para preencher essas necessida<strong>de</strong>s.<br />

71


5- ATIVIDADES FÍSICAS<br />

Depen<strong>de</strong>ndo da ativida<strong>de</strong> esportiva que a criança ou o<br />

adolescente pratique o gasto <strong>de</strong> energia po<strong>de</strong> ser muito<br />

diferente (9,10). Na Tabela 2 estão apontados os gastos<br />

energéticos correspon<strong>de</strong>ntes a algumas das ativida<strong>de</strong>s<br />

esportivas mais freqüent<strong>em</strong>ente praticadas pelos<br />

adolescentes brasileiros, <strong>de</strong> acordo com o seu peso.<br />

Tabela 2 – Gasto <strong>de</strong> Energia nas diferentes modalida<strong>de</strong>s esportivas*<br />

Esporte<br />

Kc/kg/min<br />

40 kg<br />

kcal/min<br />

50 kg<br />

kcal/min<br />

60 kg<br />

kcal/min<br />

70 kg<br />

kcal/min<br />

Basquete<br />

0.14<br />

5.5<br />

6.9<br />

8.3<br />

9.7<br />

Corrida (mo<strong>de</strong>rada)<br />

0.13<br />

5.4<br />

6.7<br />

8.1<br />

9.4<br />

Ciclismo:<br />

Competição<br />

0.17<br />

5.8<br />

8.4<br />

10.1<br />

11.8<br />

Passeio<br />

0.10<br />

4.0<br />

5.0<br />

6.0<br />

7.0<br />

Dança<br />

0.17<br />

6.7<br />

8.4<br />

10.1<br />

11.8<br />

Ginástica<br />

0.07<br />

2.6<br />

3.3<br />

3.9<br />

4.6<br />

Judô<br />

0.19<br />

7.8<br />

9.7<br />

11.7<br />

13.6<br />

Natação:<br />

Nado Peito<br />

0.16<br />

6.5<br />

8.1<br />

9.7<br />

11.3<br />

Nado Crawl<br />

0.17<br />

6.8<br />

8.4<br />

10.1<br />

11.8<br />

Tênis<br />

0.11<br />

4.4<br />

5.4<br />

6.5<br />

7.6<br />

Voleibol<br />

0.05<br />

2.0<br />

2.5<br />

3.0<br />

3.5<br />

*dados compilados do “Stu<strong>de</strong>nt Study Gui<strong>de</strong> and Workbook - do Fitness<br />

Technologies,Inc <strong>de</strong> Katch FI e McArdle WD - 1994<br />

De acordo com os informes técnicos da FAO/OMS/UNU(8)<br />

<strong>de</strong> 1985 as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> energia diária e a dose<br />

inócua <strong>de</strong> proteínas que po<strong>de</strong> ser ingerida pelos seres<br />

humanos sofre modificações <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da taxa<br />

metabólica do indivíduo. Esta taxa po<strong>de</strong> ser graduada <strong>em</strong><br />

3 patamares, sendo que a taxa 1 é a menor – ficar<br />

sentado, lavar-se e ter ativida<strong>de</strong> social. A taxa 3 é a maior<br />

– carregar gran<strong>de</strong>s pesos, trabalho agrícola. Depen<strong>de</strong>ndo<br />

do tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> que o indivíduo t<strong>em</strong> <strong>em</strong> suas<br />

ativida<strong>de</strong>s, é possível se aplicar valores que variam entre<br />

1 e 3 para <strong>de</strong>finir o fator que <strong>de</strong>ve ser multiplicado à sua<br />

taxa metabólica basal, <strong>de</strong>finindo assim o valor calórico<br />

que será atribuído a essa ativida<strong>de</strong>. No quadro 3 estão as<br />

necessida<strong>de</strong>s energéticas diárias e a dose inócua <strong>de</strong><br />

proteínas que os adolescentes tanto do sexo masculino<br />

como do f<strong>em</strong>inino necessitam, quando a taxa metabólica<br />

está <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 1.5, o que eqüivale a uma vida s<strong>em</strong><br />

uma gran<strong>de</strong> carga <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s esportivas.<br />

72


Quadro 3 – Necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Energia/dia e dose inócua <strong>de</strong> ingestão proteica – (adolescentes 14/18 anos*)<br />

Ida<strong>de</strong><br />

Mediana<br />

peso (kg)<br />

TMB*<br />

/kg<br />

Fator<br />

TMB**<br />

Nec.E/dia<br />

(calorias)<br />

D.inóc.prot<br />

(g/kg)<br />

Homens<br />

14-16<br />

55.5<br />

29.5<br />

1.64<br />

2650<br />

0.95<br />

16-18<br />

64<br />

27.5<br />

1.6<br />

2850<br />

0.90<br />

Mulheres<br />

14-16<br />

52<br />

26.5<br />

1.55<br />

2150<br />

0.90<br />

16-18<br />

54<br />

25.5<br />

1.53<br />

2150<br />

0.80<br />

* <strong>de</strong>finida pela FAO/OMS/UNU (8)<br />

** fator que será multiplicado à TMB<br />

Os valores inteiros são consi<strong>de</strong>rados: (1) sentado, lavar-se, ativida<strong>de</strong> social. (2) caminhar, trabalhos domésticos, jogar, trabalho agrícola.<br />

(3) carregar lenha, água, trabalho agrícola.<br />

Se um adolescente do sexo masculino, com 16 anos,<br />

estiver treinando 3 horas diárias para uma prova <strong>de</strong><br />

Biatlon (competição que inclui ciclismo e corrida), as<br />

necessida<strong>de</strong>s calculadas serão diferentes uma vez que a<br />

taxa metabólica é muito maior (quadro 4).<br />

Quadro 4 – Necessida<strong>de</strong>s Energia / dia – adolescente masculino – 16 anos<br />

(Peso 62.7 kg; Estatura 175 cm)* – Treinamento para Biathlon<br />

Horas<br />

Fator<br />

Kcal<br />

Sono<br />

9 hs<br />

1.0<br />

656<br />

Escola<br />

3 hs<br />

1.6<br />

349<br />

Ativ. Pequenas (1)<br />

6 hs<br />

1.6<br />

700<br />

Ativ. Mo<strong>de</strong>radas (2)<br />

3 hs<br />

2.5<br />

547<br />

Ativ. Intensas (3)<br />

3 hs<br />

3.0<br />

656<br />

TOTAL<br />

2909 (2 x TMB)<br />

*TMB – 1750 ou 72.9 kcal/hora (obtida <strong>de</strong>: 17,5P + 651)<br />

73


Consi<strong>de</strong>rando que 72.9 cal/hora é a taxa metabólica<br />

basal, para cumprir as 3 horas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> intensa<br />

(fator 3), o gasto <strong>de</strong> energia será:<br />

72.9 x 3 (fator) x 3 (horas), ou 656 kcal.<br />

Como já se viu na tabela 1 as necessida<strong>de</strong>s médias <strong>de</strong><br />

energia <strong>de</strong> um adolescente variam <strong>de</strong> 2100 a 3900 kcal<br />

por dia (11). Esse adolescente que treina mais<br />

intensamente necessita <strong>de</strong> muito mais energia que aquele<br />

que pratica apenas 1 hora <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> intensa. Com estes<br />

dados é possível fazer o cálculo das quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

nutrientes que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser ingeridos (12,13). No ex<strong>em</strong>plo<br />

do quadro 4 essa distribuição é assim representada:<br />

Se, no entanto, a ingestão protéica for muito maior que<br />

1.2 a 1.3 g/kg/dia, as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> água praticamente<br />

dobrarão para que a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> urinária se mantenha <strong>em</strong><br />

valores normais. Se essa maior ingestão protéica for<br />

mantida por muito t<strong>em</strong>po, o sist<strong>em</strong>a medular <strong>de</strong><br />

concentração urinária vai entrar <strong>em</strong> falência (14).<br />

A reposição <strong>de</strong> líquidos durante o exercício <strong>de</strong>ve ser da<br />

or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> até 80% das perdas. Essa quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser<br />

fornecidas <strong>em</strong> volumes <strong>de</strong> 600 a 1200 ml/hora, com uma<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carboidratos (polímeros <strong>de</strong> glicose) que<br />

permita <strong>de</strong>ixar a solução com concentração <strong>de</strong> 4 a 8% no<br />

máximo.<br />

Cálculo das necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> macronutrientes/dia:<br />

CHO - 55% - 1900 /4 - 475 g ou 7.5 / kg<br />

Proteínas - 15% - 594 /4 - 143 g ou 2.2 / kg<br />

Gordura - 30% - 1070 /9 - 121 g ou 1.9/ kg<br />

6- ÁGUA E VITAMINAS PARA O<br />

ADOLESCENTE ATLETA<br />

6.1 Água<br />

As necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> água que um adulto e um adolescente<br />

normais precisam para eliminar a carga osmolar <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

também da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proteína ingerida (Quadro 5).<br />

Para que a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> urinária esteja <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 1020/<br />

1030, isto é para que não haja gran<strong>de</strong>s esforços <strong>de</strong><br />

concentração medular renal, quando se ingeriu 0.8 g/kg/<br />

dia <strong>de</strong> proteínas/dia, o adolescente precisa ingerir <strong>de</strong> 2200<br />

a 2700 ml por dia <strong>de</strong> água.<br />

6.2 Vitaminas e minerais<br />

Diversas vitaminas participam da liberação <strong>de</strong> energia ao<br />

nível mitocondrial. Esse é caso da tiamina, ácido<br />

pantotênico, riboflavina, biotina e niacina. Em si elas não<br />

são carregadoras <strong>de</strong> energia. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente do<br />

indivíduo ser se<strong>de</strong>ntário ou não, as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

vitaminas são s<strong>em</strong>elhantes. Dessa forma a motivação do<br />

seu uso <strong>de</strong>ve se restringir ao fornecimento das<br />

necessida<strong>de</strong>s diárias. Muitos estudos discut<strong>em</strong> a<br />

participação das vitaminas e minerais na performance<br />

atlética e as conclusões são muito s<strong>em</strong>elhantes: <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser<br />

ingeridos apenas <strong>em</strong> situações aon<strong>de</strong> exista <strong>de</strong>pleção<br />

(15,16,17,18,19).<br />

Quadro 5 – Ingestão <strong>de</strong> proteína e necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> água / dia<br />

Ida<strong>de</strong><br />

(anos)<br />

Peso<br />

(kg)<br />

Ingestão<br />

(g/d)<br />

Volume<br />

Água/dia<br />

Vol/kg<br />

Densida<strong>de</strong><br />

Urina<br />

Adulto<br />

28<br />

70<br />

56<br />

2200-2700 ml<br />

40/50 ml<br />

1020/1030<br />

Adolescente<br />

14<br />

45<br />

45<br />

2200-2700 ml<br />

50/60 ml<br />

1020/1030<br />

74


7- OUTRAS SUBSTÂNCIAS UTILIZADAS PARA<br />

MELHORAR O RENDIMENTO ATLÉTICO<br />

7.1 Hidratantes “estimulantes”<br />

Nos últimos anos o uso <strong>de</strong> hidratantes <strong>de</strong>nominados<br />

recuperadores (Quadro 6) ou estimulantes da<br />

recuperação do exercício t<strong>em</strong> sido matéria <strong>de</strong> muitas<br />

publicações na imprensa leiga. De um modo geral todos<br />

esses produtos são soluções que contém carboidratos e<br />

eletrólitos (basicamente sódio e potássio). Seu uso é<br />

sugerido para manter uma oferta <strong>de</strong>sses nutrientes antes,<br />

durante e após os exercícios <strong>de</strong> endurance. T<strong>em</strong> a função<br />

primordial <strong>de</strong> proteger a <strong>de</strong>pleção <strong>de</strong> carboidratos.<br />

Aparent<strong>em</strong>ente é a presença <strong>de</strong> cafeína que está<br />

compondo uma série <strong>de</strong>sses produtos que causa a ação<br />

estimulante tão apregoada. No entanto, as quantida<strong>de</strong>s<br />

médias existentes <strong>de</strong> cafeína não são maiores que<br />

aquelas existentes numa xícara <strong>de</strong> café, que é<br />

aproximadamente <strong>de</strong> 85 mg (uma xícara pequena).<br />

Sabe-se que <strong>em</strong> média 250 mg são suficientes para<br />

estimular o sist<strong>em</strong>a nervoso central e quando houver<br />

mistura com qualquer bebida alcoólica esse efeito é<br />

mais intenso.<br />

Quadro 6 – Supl<strong>em</strong>entos nutricionais – estimulantes e hidratantes (<strong>em</strong> 100 ml)<br />

*1 mEq= 38 mg;<br />

**1 mEq= 23 mg<br />

Flying<br />

Horse<br />

Atomic<br />

Energy<br />

Blue<br />

Energy<br />

Flash<br />

Power<br />

Red Bull<br />

Squeezy<br />

Gatora<strong>de</strong><br />

Hydroplus<br />

Energia<br />

46<br />

35<br />

56<br />

45<br />

45<br />

260<br />

22<br />

26<br />

Proteína<br />

0.3<br />

Carboidrato<br />

11<br />

12<br />

11<br />

11<br />

65<br />

4.8<br />

6,6<br />

B2 mg<br />

0.6<br />

0.6<br />

0.6<br />

B6 mg<br />

0.8<br />

1.0<br />

0.8<br />

0.8<br />

0,13<br />

B12 mg<br />

0.4<br />

0.5<br />

0.4<br />

0.4<br />

Niacina<br />

7.0<br />

8.0<br />

7.2<br />

7.2<br />

Ca mg<br />

213<br />

20<br />

P mg<br />

13<br />

K mg*<br />

147<br />

14,2<br />

Na mg**<br />

4.6<br />

4.0<br />

25<br />

46<br />

Taurina mg<br />

100<br />

400<br />

Cafeína mg<br />

32<br />

32<br />

32<br />

32<br />

Cloreto mg<br />

49<br />

Mg mg<br />

3,2<br />

Vit C mg<br />

3,6<br />

Vitamina PP mg<br />

3<br />

Ác pantotênico mg<br />

0,6<br />

Vit E mg αTE<br />

1,8<br />

L-Glutamina<br />

17,5<br />

BACC mg<br />

19,6<br />

75


7.2 ERGOGÊNICOS<br />

São substâncias ou procedimentos tidos como capazes <strong>de</strong><br />

melhorar a eficácia do exercício físico, a função fisiológica<br />

ou a performance atlética através do fornecimento <strong>de</strong><br />

mais energia.<br />

Dentre os supl<strong>em</strong>entos nutricionais consi<strong>de</strong>rados como<br />

ergogênicos, alguns <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser <strong>de</strong>stacados:<br />

7.2.1 Proteínas<br />

As proteínas mais utilizadas como supl<strong>em</strong>entos são:<br />

• proteínas do soro <strong>de</strong> leite (whey protein) – <strong>de</strong> alto<br />

valor biológico, isto é, que possu<strong>em</strong> altos teores <strong>de</strong><br />

aminoácidos essenciais e <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia ramificada.<br />

• super albumina (egg albumin) – obtida a partir da<br />

pasteurização da clara do ovo, é rica <strong>em</strong> aminoácidos<br />

essenciais e não t<strong>em</strong> colesterol.<br />

Exist<strong>em</strong> muitas controvérsias a respeito do uso <strong>de</strong><br />

supl<strong>em</strong>entos contendo proteínas. Embora a ação da<br />

proteína seja a <strong>de</strong> fornecer substrato para aumentar a<br />

massa muscular, e consequent<strong>em</strong>ente a força e a<br />

resistência, na prática esses benefícios n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre são<br />

observados.<br />

As indicações para o uso <strong>de</strong> supl<strong>em</strong>entos protéicos são:<br />

• atletas profissionais ou também <strong>de</strong>nominados <strong>de</strong> elite.<br />

• atletas que praticam exercícios <strong>em</strong> altas altitu<strong>de</strong>s;<br />

• quando há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compl<strong>em</strong>entar dietas<br />

<strong>de</strong>ficientes <strong>em</strong> proteínas.<br />

As doses recomendadas são aplicáveis para adultos e<br />

nunca foram <strong>de</strong>vidamente testadas para crianças ou<br />

adolescentes (20). A ingestão <strong>de</strong> 0.8 g/kg/dia aten<strong>de</strong><br />

perfeitamente as necessida<strong>de</strong>s diárias do adolescente que<br />

pratica esporte convencional. Em situações <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

esforços essas quantida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ser maiores: 1.3 a 1.8<br />

g/kg/dia.<br />

7.2.2 Aminoácidos <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia ramificada (AACR)<br />

Diversos estudos apregoam ações importantes <strong>de</strong>sses<br />

aminoácidos: leucina, valina e isoleucina.<br />

• recuperação da fadiga central – o exercício intenso e<br />

prolongado po<strong>de</strong> levar a uma queda das concentrações<br />

plasmáticas <strong>de</strong> aminoácidos. Isso facilita a entrada <strong>de</strong><br />

triptofano livre para o SNC. Vai haver geração <strong>de</strong><br />

5 hidroxi-triptamina, que é precursor da serotonina, e<br />

esta pôr sua vez é a responsável pela <strong>de</strong>pressão motora,<br />

perda <strong>de</strong> apetite, sono, cansaço, menor potência<br />

muscular, tudo isso conhecida pelos atletas como<br />

fadiga central.<br />

• evitam a imunosupressão induzida pelo exercício – a<br />

economia <strong>de</strong> glutamina, que é o aminoácido não<br />

essencial mais abundante do organismo, parece que<br />

acontece quando se usam os AACR. A glutamina é<br />

fundamental na síntese <strong>de</strong> nitrogênio que vai atuar na<br />

síntese <strong>de</strong> purinas, pirimidinas, nucleotí<strong>de</strong>os e na<br />

nutrição das células do sist<strong>em</strong>a imune. Apregoa-se que<br />

manter altas concentrações plasmáticas <strong>de</strong> glutamina<br />

evita infecções e a fadiga do treino intenso (21). Daí se<br />

usar doses altas <strong>de</strong> AACR – 6 g/dia para atingir esses<br />

objetivos. A dose <strong>de</strong> Glutamina sugerida é <strong>de</strong> 4 a 12g/<br />

dia, na forma <strong>de</strong> dipeptí<strong>de</strong>os.<br />

• ações anabólicas e anticatabólicas – nos exercícios<br />

intensos economizam glicogênio muscular, uma vez que<br />

a <strong>de</strong>aminação no fígado e músculo favorec<strong>em</strong> a<br />

transaminação dos aminoácidos gerando compostos que<br />

ou vão gerar energia através do ciclo <strong>de</strong> Krebs, ou farão<br />

o caminho da neoglicogênese. A hipoglic<strong>em</strong>ia e a fadiga<br />

po<strong>de</strong>m ser evitadas <strong>de</strong>ssa forma. As doses sugeridas<br />

variam <strong>de</strong> 60 a 300mg/kg/dia. Deve-se estar atento a<br />

transtornos digestivos e eventualmente aumento <strong>de</strong><br />

amônia sérica.<br />

Todos os aspectos positivos a respeito dos AACR são até o<br />

momento <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong> observação, não<br />

controlados. Isso justifica o cuidado que se <strong>de</strong>ve ter no<br />

aconselhamento do seu uso.<br />

7.2.3 Carnitina<br />

É composta por dois aminoácidos: lisina e metionina. É<br />

sintetizada no fígado e po<strong>de</strong> ser ingerida nos alimentos:<br />

carne, peixe e laticínios.<br />

76


Age no processo <strong>de</strong> oxidação <strong>de</strong> gorduras. Daí ser<br />

conhecida como “fat burner” (queimadora <strong>de</strong> gordura).<br />

Isso <strong>de</strong>corre do fato <strong>de</strong> ser um dos componentes do<br />

sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> enzimas que controlam a entrada <strong>de</strong> ácidos<br />

graxos <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia longa na mitocôndria, on<strong>de</strong> serão<br />

oxidados.<br />

Outra ação importante é reforçar o efeito antioxidante das<br />

vitaminas C e E .<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista clínico previne fraqueza muscular, fadiga<br />

e confusão. A dose sugerida é <strong>de</strong> 2 g/dia <strong>de</strong> L-carnitina<br />

durante 1 s<strong>em</strong>ana. Isso é o suficiente para estimular a<br />

produção <strong>de</strong> energia pela via oxidativa.<br />

É importante l<strong>em</strong>brar que a carnitina po<strong>de</strong> existir <strong>em</strong> 2<br />

formas: L-carnitina e D-carnitina. Esta é uma forma inativa<br />

do ponto <strong>de</strong> vista biológico e possui efeitos<br />

potencialmente negativos<br />

7.2.4 Hipercalóricos e Carboenergéticos<br />

os hipercalóricos são muito utilizados por atletas que<br />

preten<strong>de</strong>m conseguir aumento <strong>de</strong> massa muscular através<br />

do aumento da resposta hormonal.<br />

A ingestão <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> calorias leva ao<br />

estímulo da secreção <strong>de</strong> insulina que numa segunda etapa<br />

po<strong>de</strong> levar à hipoglic<strong>em</strong>ia. Esta é uma situação que<br />

favorece à secreção <strong>de</strong> hormônio <strong>de</strong> crescimento. Esse<br />

perfil anabólico hormonal não só po<strong>de</strong> permitir o<br />

aumento <strong>de</strong> massa muscular como também manter uma<br />

taxa <strong>de</strong> ressíntese <strong>de</strong> glicogênio que será útil para a<br />

melhor recuperação do gasto energético conseqüente ao<br />

exercício.<br />

Esses supl<strong>em</strong>entos são uma mistura <strong>de</strong> proteínas <strong>de</strong> alto<br />

valor biológico, pré-digeridas, com carboidratos, vitaminas<br />

e minerais. Possu<strong>em</strong> no seu rótulo números gran<strong>de</strong>s como<br />

1500, 2000, 3200, 4000, que representam as quantida<strong>de</strong>s<br />

calóricas alcançadas se for utilizado conforme a sugestão<br />

<strong>de</strong> bula.<br />

Os carboenergéticos são supl<strong>em</strong>entos utilizados para<br />

repor glicogênio muscular e hepático. Na sua composição<br />

entram vitaminas e minerais. São muito utilizados<br />

pelos praticantes <strong>de</strong> provas longas <strong>de</strong> atletismo como<br />

a maratona. No mercado exist<strong>em</strong> diversos produtos<br />

na forma <strong>de</strong> gel que contém carboidratos simples e<br />

complexos, associados com vitamina C e E, além <strong>de</strong><br />

sódio e potássio.<br />

7.2.5 Creatina<br />

é um produto natural existente no músculo esquelético,<br />

constituído pela metionina, arginina e glicina.<br />

É encontrada nas carnes e nos frutos do mar.<br />

T<strong>em</strong> papel importante na ressíntese <strong>de</strong> ATP quando<br />

ocorr<strong>em</strong> exercícios rápidos, contínuos e intermitentes.<br />

Se a ressíntese <strong>de</strong> ATP não ocorrer rapidamente, um<br />

supl<strong>em</strong>ento contendo creatina associada com carboidratos<br />

ou proteínas, facilita a recuperação muscular, uma vez que<br />

oferece maiores quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> creatinofosfato que vai<br />

promover a ressíntese <strong>de</strong> ATP.<br />

Os efeitos ergogênicos n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre são observados na<br />

prática (22,23).<br />

Em crianças e adolescentes, o seu uso ainda não po<strong>de</strong> ser<br />

consi<strong>de</strong>rado seguro, <strong>em</strong>bora a melhora da performance<br />

muscular tenha sido observada por alguns (24,25).<br />

O aumento <strong>de</strong> performance e a melhora do visual do<br />

corpo foram os argumentos que os adolescentes atletas,<br />

principalmente <strong>de</strong> esportes como hóquei e futebol<br />

americano, utilizaram para usar a creatina como<br />

supl<strong>em</strong>ento (26,27,28).<br />

A dose sugerida é <strong>de</strong> 2 g/dia e ressalte-se que a creatina<br />

não t<strong>em</strong> indicação para exercícios <strong>de</strong> endurance.<br />

8- SUPLEMENTOS ENCONTRADOS NO<br />

MERCADO NACIONAL E SUGESTÕES DE USO<br />

No Quadro 7 estão alguns ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> supl<strong>em</strong>entos<br />

encontrados no mercado brasileiro. Diversas <strong>em</strong>presas<br />

fabricam ou apenas armazenam o produto importado.<br />

Os produtos estão classificados <strong>de</strong> acordo com o nutriente<br />

principal que eles possu<strong>em</strong>.<br />

77


Quadro 7 – Produtos utilizados como supl<strong>em</strong>entos nutricionais<br />

Sport nutrition<br />

Nutrisport<br />

Probiotica<br />

Optimum<br />

PowerBar<br />

Aminoácidos<br />

Super amino 3500<br />

Sportamino 4800<br />

Aminopower plus<br />

Amino 2222 liq/tablet<br />

Super amino 4500<br />

Aaramificados<br />

Amino power 2200<br />

Amino 1700<br />

Super BCAA 2500<br />

Sportamino 3000<br />

4400, 5655, 3580<br />

Egg protein 1200<br />

Super L-glutamina<br />

Glutamine<br />

Pro BCAA bound<br />

BCAA 1000<br />

Hipercalóricos<br />

Super mass 2600<br />

Critical mass<br />

Massa 600, 900,<br />

Serious Mass<br />

(carboid+prot)<br />

Super mass 3000<br />

2000, 3000 anticat.<br />

Mighty one 3000<br />

Proteínas<br />

Superwheyprotein<br />

Prot. wheyprotein<br />

RX-Pro<br />

Soy pro 90<br />

Protein Plus<br />

Super albumina<br />

Proteinato <strong>de</strong> Ca<br />

Whey protein<br />

100% whey protein<br />

Carbo/Energéticos<br />

Super hidro carbo<br />

Sport energy;<br />

Carb up gel<br />

Glycoload<br />

PowerGel,<br />

Superisotonicdrink<br />

exce Ed; Carboplex<br />

Carb up<br />

Harvest Performance<br />

RedutorPeso<br />

Super L-carnitina<br />

L-carnitine1000<br />

L-carnitine<br />

Maximum e mega fat<br />

burners; L -carnitine<br />

Creatina<br />

Super creatina<br />

Creatine power<br />

Creatine power<br />

CGT-10; Creatine plus<br />

monohidratada<br />

(pure e drink)<br />

Creatina pura<br />

Ribose/Preload creatine<br />

Vitaminas e Minerais<br />

Sport Drink<br />

Vitamina: C, E, D<br />

FishOil; Stress B –<br />

complex; Ácido fólico<br />

9- CONCLUSÕES<br />

Os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar atentos na nutrição<br />

e ativida<strong>de</strong> física dos atletas, esclarecendo os possíveis<br />

perigos do excesso <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> física e a importância <strong>de</strong><br />

uma alimentação equilibrada.<br />

Gerais<br />

Para as crianças e adolescentes atletas a dieta a<strong>de</strong>quada é<br />

crítica uma vez que as necessida<strong>de</strong>s nutricionais são<br />

aumentadas tanto pelos treinamentos como pelo processo<br />

<strong>de</strong> crescimento. É importante garantir uma dieta balanceada<br />

com estoques energéticos, <strong>de</strong> ferro e <strong>de</strong> cálcio a<strong>de</strong>quados .<br />

Em situação <strong>de</strong> competição sugere-se:<br />

• nos 3 a 4 dias antes da competição dar especial<br />

atenção à ingestão <strong>de</strong> alimentos ricos <strong>em</strong><br />

carboidratos. Respeitar as preferências da criança<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o alimento escolhido apresente as<br />

características a<strong>de</strong>quadas.<br />

• no dia da competição, a dieta <strong>de</strong>ve ser rica <strong>em</strong><br />

carboidratos e ter baixo conteúdo <strong>de</strong> gordura. Dev<strong>em</strong> ser<br />

escolhidos alimentos <strong>de</strong> fácil digestão, com poucas fibras.<br />

• a última refeição, antece<strong>de</strong>ndo a competição <strong>de</strong>ve ser<br />

feita 3 a 4 horas antes e <strong>de</strong>ve constar <strong>de</strong> alimentos ricos<br />

<strong>em</strong> carboidratos, com fácil esvaziamento gástrico.<br />

78


•água <strong>de</strong>ve ser ingerida antes, durante e após a ativida<strong>de</strong>.<br />

• líquidos e alimentos, principalmente os ricos <strong>em</strong><br />

carboidratos, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser oferecidos com o objetivo <strong>de</strong><br />

repor as perdas hídricas e as reservas <strong>de</strong> glicogênio<br />

muscular, principalmente durante as primeiras<br />

horas após a ativida<strong>de</strong>, aproveitando a ativação da<br />

enzima glicogênio sintetase. Alimentos <strong>de</strong> alto índice<br />

glicêmico resultam <strong>em</strong> uma reposição do glicogênio<br />

muscular mais eficiente.<br />

Os supl<strong>em</strong>entos são necessários?<br />

• quando a ingestão <strong>de</strong> nutrientes é menor que as<br />

necessida<strong>de</strong>s do atleta, ou quando o indivíduo t<strong>em</strong><br />

necessida<strong>de</strong>s aumentadas <strong>de</strong> um ou mais nutrientes.<br />

• Nos exercícios <strong>de</strong> endurance quando a necessida<strong>de</strong> é<br />

aumentar a oferta <strong>de</strong> energia, o melhor é buscar auxílio<br />

nos carboidratos e não nas proteínas. L<strong>em</strong>brar que a<br />

contribuição <strong>de</strong>stas é muito pequena <strong>em</strong> termos <strong>de</strong><br />

geração <strong>de</strong> energia e que <strong>de</strong> modo geral a dieta <strong>de</strong> um<br />

adolescente normal, <strong>em</strong> nosso meio, já fornece<br />

quantida<strong>de</strong>s suficientes <strong>de</strong> proteínas (<strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 1.2 a<br />

1.6 g/kg/d).<br />

O uso <strong>de</strong> soluções hidratantes contendo carboidratos <strong>em</strong><br />

concentrações <strong>de</strong> até 6% <strong>de</strong>ve ser incentivado antes,<br />

durante e após exercícios <strong>de</strong> endurance. No caso <strong>de</strong><br />

exercícios <strong>de</strong> força, a essas soluções po<strong>de</strong>m ser<br />

adicionadas pequenas quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> proteínas.<br />

• A necessida<strong>de</strong> do uso <strong>de</strong> aminoácidos <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia<br />

ramificada para evitar a fadiga central ou até mesmo<br />

para aumentar a performance e prevenir a<br />

imunossupressão causada pelos exercícios intensos, ainda<br />

não foi <strong>de</strong>vidamente comprovada. Além disso o seu uso<br />

abusivo propicia o aparecimento <strong>de</strong> hiperamon<strong>em</strong>ia e<br />

toxicida<strong>de</strong> hepática e renal.<br />

• Os supl<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> vitaminas e minerais não são<br />

necessários rotineiramente, a menos que haja <strong>de</strong>pleção<br />

comprovada.<br />

Os supl<strong>em</strong>entos são seguros? são eficazes?<br />

• Infelizmente a gran<strong>de</strong> maioria dos supl<strong>em</strong>entos que<br />

são vendidos <strong>em</strong> nosso meio não foram testados <strong>de</strong><br />

maneira a<strong>de</strong>quada para que a sua eficácia possa ser<br />

confirmada.<br />

O mesmo po<strong>de</strong> se dizer <strong>em</strong> relação à sua segurança.<br />

• A ausência <strong>de</strong> uma legislação que regulamente o uso<br />

<strong>de</strong>sses produtos e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoas leigas<br />

adquirir<strong>em</strong> livr<strong>em</strong>ente esses supl<strong>em</strong>entos são dois<br />

aspectos que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser ressaltados s<strong>em</strong>pre que se fala<br />

<strong>em</strong> sua segurança e eficácia.<br />

• O aumento da massa muscular, diminuição <strong>de</strong><br />

gordura e aumento <strong>de</strong> performance são os gran<strong>de</strong>s<br />

objetivos do adolescente que recorre ao uso <strong>de</strong><br />

supl<strong>em</strong>entos. Embora existam estudos que mostr<strong>em</strong><br />

aumento <strong>de</strong> estoques intramusculares <strong>de</strong> alguns<br />

aminoácidos, ainda não se po<strong>de</strong> afirmar com<br />

segurança o quanto são eficazes para a performance<br />

do exercício (29).<br />

• O uso abusivo <strong>de</strong> supl<strong>em</strong>entos protêicos po<strong>de</strong> levar à<br />

toxicida<strong>de</strong> renal e hepática, além <strong>de</strong> causar<br />

transtornos digestivos e até do SNC.<br />

• Exist<strong>em</strong> algumas correlações altamente positivas entre<br />

o uso <strong>de</strong> supl<strong>em</strong>entos nutricionais com distúrbios <strong>de</strong><br />

comportamento que po<strong>de</strong>m afetar a saú<strong>de</strong>, como<br />

maior risco <strong>de</strong> se tornar alcoólatra, ou usuário <strong>de</strong><br />

drogas, ou ainda <strong>de</strong> participar <strong>de</strong> brigas e arruaças<br />

(30).<br />

Aos médicos fica a obrigação <strong>de</strong> buscar conhecer com<br />

<strong>de</strong>talhes todos os aspectos que envolv<strong>em</strong> o uso dos<br />

supl<strong>em</strong>entos nutricionais, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua composição, seus<br />

efeitos benéficos e colaterais, tentando manter a mente<br />

aberta mas s<strong>em</strong>pre se resguardando com as bases<br />

fisiológicas do exercício.<br />

Rotineiramente o clínico <strong>de</strong>ve indagar ao adolescente<br />

que tipo <strong>de</strong> supl<strong>em</strong>ento ele está usando, porque<br />

ele consome isso e <strong>em</strong> que doses isso está sendo<br />

praticado. Dev<strong>em</strong> estar alertas para exercer o<br />

aconselhamento preventivo a todos aqueles que estão<br />

consumindo esses produtos.<br />

79


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80


Volume 6 - Ano 2004<br />

t<strong>em</strong>as<br />

<strong>de</strong> nutrição <strong>em</strong> <strong>pediatria</strong><br />

Publicação elaborada pelo Departamento <strong>de</strong><br />

Nutrição da Socieda<strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>


Erros Inatos do Metabolismo<br />

Roteiro para orientação sobre recursos<br />

para atendimento<br />

Relator: Hélio Fernan<strong>de</strong>s da Rocha<br />

INTRODUÇÃO<br />

As condições clínicas genéricamente conhecidas como Erros Inatos do<br />

Metabolismo, não são um grupo nosológico homogêneo, pois têm entre si<br />

uma gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> clínica, química e terapêutica. Representam cerca<br />

<strong>de</strong> quinhentas doenças conhecidas e isoladamente cada doença é muito<br />

rara, dando a falsa impressão <strong>de</strong> que dificilmente será encontrada na<br />

carreira <strong>de</strong> um médico. A dificulda<strong>de</strong> diagnóstica é universal, <strong>de</strong>vido a<br />

rarida<strong>de</strong> e as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> obtenção e <strong>de</strong> coerência dos exames<br />

laboratoriais. A pouca familiarida<strong>de</strong> clínica dos Pediatras com estas doenças<br />

também aumentam a sensação <strong>de</strong> rarida<strong>de</strong>, porém o “Teste do Pezinho”<br />

v<strong>em</strong> fazendo com que estes profissionais pass<strong>em</strong> a pensar mais e mais nas<br />

doenças metabólicas. Estas doenças, <strong>em</strong> grupo, ocorr<strong>em</strong> pelo menos uma<br />

vez <strong>em</strong> cada 500 nascimentos, o que inverte a expectativa <strong>de</strong> nunca ser<br />

encontrada na carreira. Um Pediatra, <strong>de</strong> vida clínica mo<strong>de</strong>rada, irá se<br />

<strong>de</strong>frontar com um paciente portador <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>stas doenças a cada dois<br />

anos <strong>de</strong> sua vida profissional.<br />

Na situação atual, os pacientes e suas famílias necessitam <strong>de</strong> atenção<br />

diferenciada por parte do seu médico e este <strong>de</strong> uma equipe<br />

multiprofissional. O atendimento <strong>de</strong>ve cont<strong>em</strong>plar a possibilida<strong>de</strong> do<br />

diagnóstico correto e do tratamento específico. Para isto necessita-se <strong>de</strong><br />

uma rotina precisa para coleta <strong>de</strong> material para exames e uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

laboratórios com complexida<strong>de</strong> crescente. Hospitais com recursos <strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>ergência e terapia intensiva, e disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> medicamentos e<br />

produtos dietéticos <strong>de</strong> difícil obtenção. Além disto, a família e o paciente<br />

<strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar amparados por um suporte <strong>em</strong>ocional, pois a condição <strong>de</strong><br />

“rarida<strong>de</strong>” é mais um ônus difícil <strong>de</strong> ser resgatado.<br />

Todos estes meios são muito caros e difícieis <strong>de</strong> obter, e a maioria das<br />

famílias não dispõe <strong>de</strong> recursos suficientes para isto. Des<strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong><br />

2001, a portaria 822 do Ministério da Saú<strong>de</strong> criou o Programa nacional <strong>de</strong><br />

Triag<strong>em</strong> Neonatal, mas os recursos que serão disponibilizados, <strong>de</strong> acordo<br />

com uma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> estágios <strong>de</strong> implantação, só cont<strong>em</strong>plam a<br />

Fenilcetonúria, o Hipotireoidismo Congênito, a Fibrose Cística e as<br />

H<strong>em</strong>oglobinopatias (doença falciforme).<br />

82


A Socieda<strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> atua para este grupo<br />

<strong>de</strong> doentes através dos <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong> Genética,<br />

Gastroenterologia, Neurologia, Suporte Nutricional,<br />

Nutrição e Endocrinologia. Há a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />

interação <strong>de</strong> ações <strong>de</strong>stes Departamentos <strong>de</strong> forma que a<br />

SBP possa efetivamente contribuir para a organização da<br />

Socieda<strong>de</strong> Civil <strong>Brasileira</strong> na obtenção do melhor cuidado<br />

a estes pacientes.<br />

SITUAÇÃO ATUAL PARA OBTENÇÃO<br />

DE RECURSOS<br />

O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA –<br />

(Lei 8069 <strong>de</strong> 13/07/2003) garante no seu capítulo<br />

1, Art. 10; tópico III – “proce<strong>de</strong>r a exames visando ao<br />

diagnóstico e terapêutica <strong>de</strong> anormalida<strong>de</strong>s no<br />

metabolismo do recém-nascido, b<strong>em</strong> como prestar<br />

orientação aos pais” e Art. 11 – “É assegurado<br />

atendimento médico à criança e ao adolescente, através<br />

do Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, garantido o acesso universal<br />

e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção<br />

e recuperação da saú<strong>de</strong>. – A criança e o adolescente<br />

portadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência receberão atendimento<br />

especializado. – Incumbe ao Po<strong>de</strong>r Público fornecer<br />

gratuitamente àqueles que necessitar<strong>em</strong> os<br />

medicamentos, próteses e outros<br />

recursos relativos ao tratamento, habilitação ou<br />

reabilitação, e o direito a todas as crianças e adolescentes<br />

ao acesso a exames e medicamentos, sendo obrigação do<br />

estado os prover”.<br />

Aten<strong>de</strong>ndo ao ECA, o encaminhamento das famílias para<br />

conseguir os recursos para exames laboratoriais,<br />

medicamentos e dietas especiais po<strong>de</strong>rão ser feitas da<br />

seguinte maneira:<br />

O paciente com forte suspeita, ou com o diagnóstico<br />

firmado <strong>de</strong>verá estar munido <strong>de</strong> certidão <strong>de</strong> nascimento<br />

(original e cópia); comprovante <strong>de</strong> residência e RG e CPF<br />

do responsável; do laudo médico(o mais <strong>de</strong>talhado<br />

possível <strong>em</strong> relação à suspeição clínica). Junto a este<br />

laudo <strong>de</strong>verão ser fornecidas a solicitação do exame<br />

(<strong>de</strong>talhado e com os possíveis laboratórios a ser<strong>em</strong><br />

utilizados) e a prescrição do medicamento, ou da dieta<br />

especial. Estas prescrições também <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar<br />

acompanhadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>talhada <strong>de</strong> como e on<strong>de</strong> a<br />

autorida<strong>de</strong> irá obtê-las. Deve-se especificar o nome do<br />

produto, dose e forma farmacêutica. O nome do(s)<br />

laboratório (s) que o(s) produz(<strong>em</strong>) e o mercado <strong>em</strong><br />

que o produto é possível <strong>de</strong> ser encontrado (no pais ou<br />

fora <strong>de</strong>le).<br />

De posse <strong>de</strong>stes documentos o responsável <strong>de</strong>verá<br />

procurar a Defensoria Pública do Estado, ou a Justiça<br />

Fe<strong>de</strong>ral, ou a Fundação da Infância e da Adolescência, ou<br />

o Juizado <strong>de</strong> Menores da Cida<strong>de</strong>. É importante que o<br />

médico, juntamente com os laudos, r<strong>em</strong>eta uma carta ao<br />

<strong>de</strong>fensor público relatando a gravida<strong>de</strong> do caso e a<br />

importância do atendimento. Esta carta se faz necessária,<br />

pois <strong>em</strong> muitos municípios as autorida<strong>de</strong>s, assim como os<br />

próprios médicos, não estão familiarizados com o<br />

probl<strong>em</strong>a. É importante se colocar disponível para outras<br />

orientações que se façam necessárias até que uma rotina<br />

seja estabelecida.<br />

Quase s<strong>em</strong>pre um mandato é expedido <strong>de</strong> forma<br />

sumária, obrigando o SUS (Estado) a provi<strong>de</strong>nciar a<br />

compra dos medicamentos, dietas ou a realização dos<br />

exames especiais.<br />

É do nosso conhecimento que as Instituições abaixo<br />

realizam atendimentos, e alguns exames específicos <strong>em</strong><br />

cida<strong>de</strong>s da nossa Fe<strong>de</strong>ração:<br />

O Hospital <strong>de</strong> Clínicas <strong>de</strong> Porto Alegre, que conta com<br />

Laboratório Especializado do Serviço <strong>de</strong> Genética Clínica.<br />

Po<strong>de</strong>-se solicitar por telefone, carta ou e-mail o material<br />

impresso com a relação <strong>de</strong> exames e a rotina <strong>de</strong><br />

solicitação dos exames. Este Serviço é, no momento,<br />

o mais completo que se dispõe no país. Disponibilizam<br />

atendimento gratuito por telefone (08005102858),<br />

e orientam quanto a diagnósticos prováveis e<br />

procedimentos. Funciona diariamente aten<strong>de</strong>ndo a todo<br />

o Brasil. En<strong>de</strong>reço: Rua Ramiro Barcelos 2350.<br />

CEP-90035-003. Porto Alegre, RS. Tels: (51) 33168309 ou<br />

33168423. Fax: (51) 33168010.<br />

(genética@hcpa.ufrgs.br)<br />

83


Outras referências locais dos seguintes Serviços <strong>em</strong> outros<br />

Estados/ Cida<strong>de</strong>s:<br />

• Curitiba – Fundação Ecumênica/Hospital Pequeno Príncipe.<br />

• Florianópolis – Hospital Infantil Joana <strong>de</strong> Gusmão<br />

• São Paulo (capital) – Escola Paulista <strong>de</strong> Medicina e HC<br />

da USP (Instituto da Criança)<br />

• Campinas SP – Hospital <strong>de</strong> Clínicas da Unicamp.<br />

• Ribeirão Preto SP – Hospital das Clínicas da USP <strong>de</strong><br />

Ribeirão Preto<br />

• Belo Horizonte, MG – Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas<br />

Gerais/ Hospital <strong>de</strong> Clínicas - NUPAD.<br />

• Brasília – Hospital Sarah Kubistchek<br />

• Salvador – APAE <strong>de</strong> Salvador.<br />

• Rio <strong>de</strong> Janeiro – Instituto <strong>de</strong> Puericultura e <strong>Pediatria</strong><br />

Martagão Gesteira; Instituto Fernan<strong>de</strong>s Figueiras;<br />

Hospital Servidores do Estado.<br />

Abaixo segue uma breve revisão sobre as doenças mais<br />

comuns com os principais exames laboratoriais (não foram<br />

incluídos os exames por imag<strong>em</strong>). Os tratamentos também<br />

são apenas mencionados, tal revisão t<strong>em</strong> como intenção<br />

familiarizar o Pediatra com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diagnóstico.<br />

BREVE RESUMO DOS PRINCIPAIS ERROS<br />

INATOS DO METABOLISMO<br />

O erro inato do metabolismo clássico resulta <strong>de</strong> uma<br />

<strong>de</strong>ficiência enzimática <strong>em</strong> um ponto específico <strong>de</strong> uma via<br />

metabólica. Isto leva ao acúmulo dos metabólitos<br />

anteriores ao bloqueio enzimático e a diminuição dos<br />

produtos posteriores à reação.<br />

A base molecular da <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m bioquímica é, <strong>em</strong> geral,<br />

uma mutação genética no sítio ativo <strong>de</strong> uma enzima ou<br />

<strong>em</strong> outros sítios e que po<strong>de</strong> afetar a molécula enzimática<br />

ou a ação <strong>de</strong> um cofator (<strong>em</strong> geral vitaminas).<br />

Outras <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns bioquímicas po<strong>de</strong>m ser causadas por<br />

<strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> moléculas, <strong>de</strong>feitos nas<br />

m<strong>em</strong>branas das células ou das organelas. Estes <strong>de</strong>feitos<br />

também resultam <strong>de</strong> mutações e levam a <strong>de</strong>sorganização<br />

<strong>de</strong> funções, ou criam <strong>de</strong>pósitos anômalos <strong>de</strong> moléculas<br />

que irão <strong>de</strong>formar a arquitetura celular com conseqüências<br />

variadas para o organismo.<br />

As manifestações clínicas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rão das alterações<br />

bioquímicas individuais <strong>de</strong>correntes do(s) <strong>de</strong>feito(s)<br />

ocorrido(s), da magnitu<strong>de</strong> ou da toxida<strong>de</strong> dos<br />

metabólitos que se acumulam, da via metabólica<br />

interrompida ou da substância <strong>de</strong>positada e do <strong>de</strong>feito<br />

arquitetônico celular conseqüente.<br />

Uma forma didática <strong>de</strong> se observar as doenças metabólicas<br />

é pela perspectiva fisiopatológica. Po<strong>de</strong>mos agrupar por<br />

esta visão as doenças <strong>em</strong> três gran<strong>de</strong>s grupos:<br />

1 Doenças com distúrbios <strong>de</strong> síntese, catabolismo ou <strong>de</strong><br />

ação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s moléculas. Os sintomas são geralmente<br />

<strong>de</strong> aparecimento lento, progressivos, permanentes e não<br />

relacionados às dietas. Neste grupo as doenças<br />

lisossomais (doenças <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósito) e as peroximais são as<br />

mais comuns.<br />

2 O segundo grupo é o <strong>de</strong> pequenas moléculas.<br />

Os probl<strong>em</strong>as são relacionados ao metabolismo<br />

intermediário e irão ocorrer <strong>de</strong> forma aguda ou<br />

s<strong>em</strong>i-aguda, <strong>de</strong> aparecimento precoce na maioria dos<br />

casos. Caracterizam-se como várias formas <strong>de</strong><br />

intoxicação, seja por acúmulo <strong>de</strong> substrato não utilizado,<br />

ou pela função bloqueada. É comum nas<br />

aminoacidopatias, nas acidúrias orgânicas e nas<br />

doenças do ciclo da uréia.<br />

3 O terceiro grupo, também <strong>de</strong> pequenas moléculas, o<br />

<strong>de</strong>feito é na obtenção <strong>de</strong> energia. Os sintomas<br />

dominantes serão sobre o fígado, coração, músculos e<br />

cérebro. Ocorre nas acidoses orgânicas com<br />

hiperlact<strong>em</strong>ia e hipoglic<strong>em</strong>ia. Também ocorrerão nas<br />

glicogenoses, glicolises e nas doenças <strong>de</strong> beta-oxidação<br />

dos ácidos graxos.<br />

A tabela 1 lista os principais grupos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns e<br />

os testes iniciais. Os sintomas clínicos e os resultados<br />

iniciais vão sugerir um <strong>de</strong>terminado grupo <strong>de</strong> erros inatos,<br />

mas o diagnóstico exato po<strong>de</strong>rá necessitar <strong>de</strong> testes<br />

mais específicos.<br />

84


Tipos <strong>de</strong> Doenças <strong>de</strong> A a I<br />

TIPO DE DOENÇA: + + usualmente presente<br />

+ po<strong>de</strong> estar presente<br />

– usualmente ausente<br />

Manifestações clínicas e<br />

achados laboratoriais<br />

A<br />

B<br />

C<br />

D<br />

E<br />

F<br />

G<br />

H<br />

I<br />

Natureza episódica<br />

++<br />

++<br />

++<br />

++<br />

+<br />

+<br />

–<br />

–<br />

–<br />

Odor anormal<br />

++<br />

+<br />

++<br />

+<br />

+<br />

+<br />

+<br />

–<br />

–<br />

Letargia coma<br />

+<br />

+<br />

–<br />

+<br />

–<br />

–<br />

–<br />

–<br />

–<br />

Convulsões<br />

+<br />

+<br />

+<br />

–<br />

+<br />

+<br />

+<br />

–<br />

+<br />

Regressão <strong>de</strong>senvolvida<br />

+<br />

+<br />

+<br />

–<br />

+<br />

+<br />

+<br />

++<br />

+<br />

Hepatomegalia<br />

+<br />

+<br />

+<br />

+<br />

+<br />

+<br />

+<br />

+<br />

+<br />

Hepatoespenomegalia<br />

–<br />

–<br />

–<br />

–<br />

–<br />

–<br />

–<br />

+<br />

+<br />

Esplenomegalia<br />

–<br />

–<br />

–<br />

–<br />

–<br />

–<br />

–<br />

–<br />

+<br />

Hipotonia<br />

+<br />

+<br />

+<br />

+<br />

+<br />

+<br />

+<br />

–<br />

+<br />

Cardiomiopatia<br />

–<br />

+<br />

–<br />

+<br />

+<br />

+<br />

–<br />

+<br />

–<br />

Fácies<br />

–<br />

–<br />

–<br />

–<br />

–<br />

–<br />

–<br />

++<br />

–<br />

Defeitos ao nascimento<br />

–<br />

+<br />

–<br />

–<br />

+<br />

–<br />

+<br />

–<br />

–<br />

Hipoglic<strong>em</strong>ia<br />

+<br />

+<br />

–<br />

+<br />

+<br />

+<br />

–<br />

–<br />

–<br />

Acidose<br />

+<br />

++<br />

–<br />

+<br />

+<br />

+<br />

–<br />

–<br />

–<br />

Hiperamon<strong>em</strong>ia<br />

+<br />

+<br />

++<br />

+<br />

+<br />

–<br />

–<br />

–<br />

–<br />

Cetose<br />

+<br />

+<br />

+<br />

–<br />

–<br />

+<br />

–<br />

–<br />

–<br />

Hipocetose<br />

–<br />

–<br />

–<br />

+<br />

–<br />

–<br />

–<br />

–<br />

–<br />

(Quando se esperava pela cetose)<br />

A: aminoacidopatias, B: aci<strong>de</strong>mias orgânicas, C: <strong>de</strong>feitos do ciclo da uréia, D: <strong>de</strong>feito <strong>de</strong> oxidação dos ácidos graxos (Beta-oxidação),<br />

E: doenças mitocôndrias, F: <strong>de</strong>feitos do metabolismo <strong>de</strong> carboidratos, G: doenças dos peroxissomos, H: mucopolissacaridoses, I: esfingolipidoses.<br />

A CRIANÇA AGUDAMENTE DOENTE<br />

Quando há suspeita <strong>de</strong> Erro Inato do Metabolismo <strong>em</strong> um<br />

paciente grave, com alterações neurológicas ou com<br />

distúrbios ácido-básico, hipo ou hiperglic<strong>em</strong>ia todas as<br />

fontes <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong>verão ser retiradas, e ser iniciada uma<br />

hidratação venosa com glicose e eletrólitos imediatamente,<br />

além das correções ácido-básicas necessárias.<br />

O momento da punção venosa, para iniciar a hidratação, é<br />

importantíssimo pois é o mais a<strong>de</strong>quado para a coleta <strong>de</strong><br />

sangue <strong>em</strong> quantida<strong>de</strong> suficiente para os exames que se<br />

farão necessários. Estão indicados: as dosagens <strong>de</strong> glicose,<br />

eletrólitos (não esquecer do cloro para o cálculo dos<br />

anions indosáveis), CO2, bicarbonato, da função hepática<br />

(AST, ALT, PTT, TAP e gama GT), uréia, creatinina, ácido<br />

úrico, amônia plasmática, ácido láctico e pH sangüíneo.<br />

Da mesma forma a primeira urina <strong>em</strong>itida pelo paciente<br />

<strong>de</strong>verá ser coletada. Nela, inicialmente, se pesquisará a<br />

presença <strong>de</strong> corpos cetônicos e substâncias redutoras.<br />

85


Esta é a oportunida<strong>de</strong> para corrigir os distúrbios hidroeletrolítico,<br />

ácido básico e a quase certa alteração na<br />

glic<strong>em</strong>ia. Também é indicado se ofertar o máximo <strong>de</strong><br />

energia possível, sendo a infusão <strong>de</strong> glicose a melhor<br />

forma, e eventualmente a infusão <strong>de</strong> <strong>em</strong>ulsão lipídica, nas<br />

concentrações máximas toleradas na tentativa <strong>de</strong> inibir o<br />

catabolismo e assim proteger as proteínas somáticas.<br />

Uma amostra <strong>de</strong> sangue <strong>de</strong> 4ml <strong>de</strong>ve ser coletada <strong>em</strong> um<br />

tubo heparinizado para testes quantitativos <strong>de</strong><br />

aminoácidos. Imediatamente 2ml <strong>de</strong> plasma <strong>de</strong>ve ser<br />

obtido <strong>de</strong>la e guardado congelado para esta finalida<strong>de</strong>.<br />

Igualmente a maior parte da urina obtida na primeira<br />

micção do paciente <strong>de</strong>verá ser congelada o mais rápido<br />

possível e enviada para a pesquisa <strong>de</strong> ácidos orgânicos e<br />

aminoácidos. O i<strong>de</strong>al é que esta amostra urinária seja <strong>de</strong><br />

aproximadamente 30ml. Outra quantida<strong>de</strong> igual <strong>de</strong><br />

urina, se possível, <strong>de</strong>verá ser guardada congelada para<br />

testes futuros. Quatro amostras <strong>de</strong> sangue <strong>em</strong> papel <strong>de</strong><br />

filtro específico <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser obtidas no formato <strong>de</strong> um<br />

círculo (como no teste do pezinho) e guardadas <strong>em</strong><br />

ambiente seco e fresco (não é necessário congelar) para<br />

ser utilizada a tecnologia TANDEM, caso a dosag<strong>em</strong> das<br />

acilcarnitinas sejam necessárias (hipoglic<strong>em</strong>ias graves e<br />

<strong>de</strong> difícil controle).<br />

ERROS INATOS – ACHADOS CLÍNICOS<br />

LABORATORIAIS<br />

É <strong>de</strong>sejável haver condições que possibilit<strong>em</strong> a obtenção<br />

<strong>de</strong> amostras <strong>de</strong> biópsia <strong>de</strong> pele para cultura <strong>de</strong><br />

fibroblastos, assim como biópsias a céu aberto <strong>de</strong> fígado e<br />

<strong>de</strong> músculo. Esta disponibilida<strong>de</strong> não só serve para<br />

diagnósticos enzimáticos, mas sobretudo para<br />

aconselhamento nos casos on<strong>de</strong> o paciente evolua para<br />

óbito. Estas amostras <strong>de</strong>verão ser imediatamente<br />

congeladas e mantidas a -70ºC. Todos os erros inatos do<br />

metabolismo são doenças genéticas, sendo a maioria<br />

autossômica recessiva, enquanto poucas são ligadas ao X,<br />

como ocorre nas doenças mitocondriais e na<br />

hiperamon<strong>em</strong>ia <strong>de</strong>vido a <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> Ornitina<br />

Transcarbamilase.<br />

Avaliação laboratorial inicial<br />

Eletrólitos, glicose, dióxido <strong>de</strong> carbono, função hepática<br />

(incluir provas <strong>de</strong> coagulação), aferição do pH e gases<br />

sangüíneos, pH urinário, substâncias redutoras e cetonas.<br />

A Triag<strong>em</strong> inclui os testes pelo cloreto férrico, pela<br />

dinitrofenilhidrazina, aminoácidos que contém enxofre,<br />

sulfeto, substâncias redutoras e mucopolissacarí<strong>de</strong>os.<br />

As dosagens <strong>de</strong> amônia, lactato e piruvato são necessárias<br />

<strong>em</strong> todas as investigações. Elas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser obtidas <strong>em</strong> fluxo<br />

venoso ou arterial livre, s<strong>em</strong> garroteamentos ou estresse,<br />

também não são válidas as amostras obtidas por métodos<br />

capilares. Não esquecer que as amostras <strong>de</strong>verão ser<br />

mergulhadas <strong>em</strong> gelo imediatamente.<br />

PAINÉIS PARA SCREENING METABÓLICO<br />

A cromatografia <strong>de</strong> camada fina ou eletroforese po<strong>de</strong> ser<br />

aplicada para aminoácidos, oligossacarí<strong>de</strong>os, carboidratos<br />

e mucopolissacarí<strong>de</strong>os. Po<strong>de</strong> ser necessária a avaliação<br />

quantitativa <strong>de</strong> aminoácidos e ácidos orgânicos, o que<br />

obriga a técnicas e laboratórios <strong>de</strong> maior sofisticação.<br />

As formas leves e (ou) transitórias po<strong>de</strong>m não ser<br />

reveladas nos exames, daí se a coleta <strong>de</strong> amostras coincidir<br />

com os sintomas mais intensos os resultados po<strong>de</strong>rão ser<br />

mais precisos.<br />

É <strong>de</strong> suma importância informar ao laboratório, <strong>de</strong> forma<br />

<strong>de</strong>talhada e o mais completo possível, as medicações,<br />

doses e freqüência que o paciente v<strong>em</strong> usando.<br />

Por ex<strong>em</strong>plo: o uso <strong>de</strong> ácido Valpróico que provoca a<br />

presença <strong>de</strong> corpos cetônicos na urina e aumento sérico <strong>de</strong><br />

glicina, po<strong>de</strong>ndo levar a diagnósticos falsos. Quase tão<br />

importante é o relato das dietas (se houver alguma<br />

especial) a freqüência das refeições, quando iniciou o<br />

jejum e quanto t<strong>em</strong>po foi mantido, pois irá influenciar nas<br />

manifestações tanto clínicas quanto laboratoriais.<br />

O estado clínico e as variações <strong>de</strong>ste estado frente às<br />

intervenções, tais como hidratação, infusão <strong>de</strong> glicose,<br />

jejum ou ingestão <strong>de</strong> algum alimento ou medicação <strong>de</strong>ve<br />

ser observado e anotado, pois po<strong>de</strong> ser esclarecedor para<br />

diagnósticos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s. De um modo geral,<br />

pela pouca freqüência <strong>de</strong>stas doenças, e pelo alto grau <strong>de</strong><br />

86


especialização <strong>de</strong> laboratórios específicos para estes<br />

exames, é comum o patologista clínico (do laboratório) ter<br />

gran<strong>de</strong> familiarida<strong>de</strong> com os sintomas e ao ser esclarecido<br />

sobre tais contribuir para o diagnóstico com interpretação<br />

a<strong>de</strong>quada dos exames <strong>em</strong> consonância com a clínica.<br />

DOSAGEM QUANTITATIVA DE AMINOÁCIDOS<br />

A concentração <strong>de</strong> aminoácidos no plasma, soro ou na<br />

urina po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>terminada por cromatografia <strong>de</strong> troca<br />

iôntica. Os valores obtidos nas doenças po<strong>de</strong>m ser<br />

comparados a valores normais e estes são <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da<br />

ida<strong>de</strong>. As amostras <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser obtidas quando os pacientes<br />

estiver<strong>em</strong> mais sintomáticos, ou após 2 a 4 horas <strong>de</strong> jejum<br />

quando este for assintomático.<br />

Para erros inatos o plasma é preferível ao soro e a<br />

amostra <strong>de</strong> sangue <strong>de</strong>ve ser colocada sob gelo e<br />

congelada imediatamente até que a separação seja<br />

processada. Este teste é útil no diagnóstico <strong>de</strong><br />

aminoacidopatias, <strong>de</strong>feitos do ciclo da uréia, <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns<br />

mitocondriais e acidopatias orgânicas.<br />

ÁCIDOS ORGÂNICOS<br />

Os ácidos orgânicos são mais b<strong>em</strong> analisados na urina,<br />

mas po<strong>de</strong>m também ser obtidos no plasma ou soro.<br />

Todas as amostras <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser congeladas assim que obtidas<br />

e <strong>de</strong>v<strong>em</strong> permanecer congeladas até que sejam analisadas.<br />

Estas análises são quantitativas ou s<strong>em</strong>iquantitativas e é<br />

utilizada a cromatografia gasosa acoplada a espectrometria<br />

<strong>de</strong> massa. O teste é útil para aminoacidopatias, acidopatias<br />

orgânicas, doenças mitocondriais e <strong>de</strong>feitos da oxidação<br />

dos ácidos graxos.<br />

TESTE DE MUCOPOLISSACARÍDEO NA URINA<br />

A análise da urina para mucopolissacarí<strong>de</strong>os pelo teste <strong>de</strong><br />

Berry e o teste <strong>de</strong> azul toluidina po<strong>de</strong> ser parte <strong>de</strong> um<br />

painel para “screening” metabólico. Casos leves <strong>de</strong><br />

mucopolissacarídoses não serão <strong>de</strong>tectados e<br />

freqüent<strong>em</strong>ente são encontrados falsos positivos <strong>em</strong><br />

lactentes jovens. As <strong>de</strong>terminações <strong>de</strong> mucopolissacarí<strong>de</strong>os<br />

usando azul <strong>de</strong> metilmetileno são mais eficazes, mais<br />

também po<strong>de</strong>m falhar <strong>em</strong> <strong>de</strong>tectar casos leves.<br />

A cromatografia <strong>em</strong> camada fina ou a eletroforese <strong>de</strong><br />

mucopolissacarí<strong>de</strong>os po<strong>de</strong> ser útil na <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong><br />

que tipo <strong>de</strong> investigação enzimática <strong>de</strong>verá ser feita. O<br />

isolamento e a quantificação dos mucopolissacarí<strong>de</strong>os na<br />

urina são muito caros e consom<strong>em</strong> muito t<strong>em</strong>po, os testes<br />

enzimáticos são melhores para propósitos <strong>de</strong> diagnóstico.<br />

TESTE DE OLIGOSSACARÍDEOS NA URINA<br />

Assim como para as mucopolissacaridoses a cromatografia<br />

<strong>em</strong> camada fina <strong>de</strong> oligossacarí<strong>de</strong>o po<strong>de</strong>rá indicar que<br />

tipo <strong>de</strong> teste enzimático <strong>de</strong>verá ser realizado para o<br />

diagnóstico preciso. Algumas doenças nestes grupos não<br />

terão alterações nos padrões necessários e as formas mais<br />

leves po<strong>de</strong>rão passar <strong>de</strong>spercebidas. A testag<strong>em</strong><br />

enzimática é a preferida para o diagnóstico.<br />

ENSAIOS ENZIMÁTICOS<br />

(TESTES ENZIMÁTICOS)<br />

Para a maioria dos erros inatos, os diagnósticos<br />

enzimáticos po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>monstrados <strong>em</strong> laboratórios<br />

especializados usando plasma, soro, leucócitos ou células<br />

vermelhas.<br />

Antes <strong>de</strong> se obter as amostras o laboratório <strong>de</strong>ve ser<br />

contatado para garantir que a amostra apropriada seja<br />

obtida e qual o processamento e os manuseios a<strong>de</strong>quados<br />

<strong>de</strong>verão ocorrer.<br />

Testes enzimáticos também po<strong>de</strong>m ser feitos com culturas<br />

<strong>de</strong> fibroblastos que po<strong>de</strong>m crescer <strong>de</strong> biópsias <strong>de</strong> pele.<br />

A biópsia <strong>de</strong> músculos ou fígado é necessária para<br />

algumas <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns e as amostras <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser rapidamente<br />

congeladas quando obtidas e estocadas a -70Cº até que<br />

sejam processadas.<br />

Os testes enzimáticos são testes precisos para o<br />

diagnóstico <strong>de</strong> erro inato. Após o diagnóstico, testes<br />

enzimáticos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser feitos <strong>em</strong> pessoas índices na família<br />

e no pré-natal caso a mãe fique grávida novamente.<br />

87


TESTES DIAGNÓSTICOS DNA<br />

Os testes diagnósticos exist<strong>em</strong> para muitas <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns<br />

bioquímicas pela análise direta do DNA ou pelo<br />

polimorfismo <strong>de</strong> fragmentos restritos. Po<strong>de</strong> também ser<br />

utilizado para diagnósticos <strong>de</strong> portadores na família e<br />

durante o pré-natal <strong>em</strong> grávidas e fetos. T<strong>em</strong> sido indicada<br />

a análise <strong>de</strong> DNA <strong>em</strong> substituição aos testes enzimáticos<br />

<strong>em</strong> algumas <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns que po<strong>de</strong>riam requerer pele ou<br />

biópsias <strong>de</strong> fígado, tais como <strong>de</strong>ficiências ornitina<br />

transcarbamilase ou <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> acil COA <strong>de</strong>sidrogenase<br />

<strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia média (MCAD).<br />

Em todos os pacientes com Fenilcetonúria ou <strong>em</strong> outras<br />

formas <strong>de</strong> hiperalanin<strong>em</strong>ia <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser pesquisadas as<br />

variante da doença baseada na <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> biopterina<br />

(cofator para a Fenilalanina hidroxilase)<br />

O tratamento com dieta pobre <strong>em</strong> fenilalanina vai prevenir<br />

o retardo psicomotor observado nos casos não tratados.<br />

Em alguns casos o diagnóstico não é feito e qualquer<br />

criança com atraso <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, <strong>de</strong>spigmentação<br />

cutânea, odor <strong>de</strong> rato, convulsões, hipertonia, <strong>de</strong>ve ser<br />

avaliada para fenilcetonúria, apesar do “screening”<br />

neonatal ter sido normal.<br />

TIPOS MAIS COMUNS DE ERROS INATOS<br />

DO METABOLISMO<br />

São discutidos aqui os tipos mais comuns e características.<br />

Deve ser levado <strong>em</strong> conta o fato <strong>de</strong> que exist<strong>em</strong> formas<br />

leves e intermediárias com manifestações clínicas, às vezes,<br />

só na vida adulta, ou <strong>em</strong> condições específicas <strong>de</strong> estresse<br />

metabólico.<br />

AMINOACIDOPATIAS<br />

São quadros caracterizados pela elevação dos aminoácidos<br />

e <strong>de</strong> seus metabólitos. O aumento dos aminoácidos po<strong>de</strong>rá<br />

ser <strong>de</strong>tectado tanto no sangue como na urina, e os seus<br />

metabólitos são <strong>em</strong> geral outros aminoácidos ou ácidos<br />

orgânicos.<br />

A <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m mais freqüente <strong>de</strong>ste tipo é a fenilcetonúria<br />

que ocorre <strong>em</strong> 1: 12.000 nascimentos e está relacionada à<br />

reduzida ativida<strong>de</strong> da enzima fenilalanina hidroxilase. A<br />

fenilalanina está aumentada no sangue (substrato) e a<br />

tirosina diminuída ou normal (produto). Os acidos<br />

orgânicos (fenilacético e fenilpirúvico) anormais estão<br />

aumentados na urina assim como compostos anormais <strong>de</strong><br />

fenilcetonas.<br />

A triag<strong>em</strong> neonatal para fenilcetonúria baseia-se na<br />

dosag<strong>em</strong> da fenilalanina sérica <strong>em</strong> sangue colhido e<br />

conservado a seco <strong>em</strong> papel <strong>de</strong> filtro. Todas as triagens<br />

positivas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser confirmadas com a dosag<strong>em</strong> sérica <strong>de</strong><br />

fenilalanina e tirosina.<br />

HOMOCISTINÚRIA<br />

A Homocistinúria ocorre <strong>em</strong> cerca <strong>de</strong> 1: 33.5000<br />

nascimentos. Na forma clássica ocorre a <strong>de</strong>ficiência da<br />

cistationina sintetase e tanto a homocistina quanto a<br />

metionina estão elevadas enquanto a cistina é baixa. Os<br />

níveis <strong>de</strong> metionina elevados são consi<strong>de</strong>rados benignos,<br />

enquanto os níveis <strong>de</strong> homocistina elevados levam a<br />

convulsões, oclusões vasculares com retardado mental,<br />

ataques cardíacos e hipertensão arterial. Os níveis elevados<br />

<strong>de</strong> homocistina interfer<strong>em</strong> com a formação do colágeno<br />

dando orig<strong>em</strong> a formas “marfanói<strong>de</strong>s” tais como alta<br />

estatura, <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> cristalino e doença valvular<br />

mitral. Cerca da meta<strong>de</strong> dos pacientes respon<strong>de</strong>m a<br />

terapia com doses elevadas <strong>de</strong> piridoxina (vitamina B6),<br />

cofator da enzima envolvida (cistationina sintetase).<br />

O “screening” neonatal já é disponível e é baseado nos<br />

níveis elevados <strong>de</strong> metionina. Tal qual a Fenilcetonúria o<br />

diagnóstico <strong>de</strong>verá ser confirmado com a dosag<strong>em</strong> sérica.<br />

Nos casos <strong>de</strong> triag<strong>em</strong> negativa e suspeita clínica fazer a<br />

dosag<strong>em</strong> sérica. Exist<strong>em</strong> formas variantes <strong>de</strong><br />

homocistinúria que são condicionadas a anormalida<strong>de</strong>s<br />

dos cofatores vitamínicos como vitamina B12 e ácido<br />

fólico. Em geral os níveis séricos <strong>de</strong> homocistina estão<br />

elevados, mas os <strong>de</strong> metionina estão baixos. Tais pacientes<br />

são acometidos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns do sist<strong>em</strong>a nervoso central e,<br />

nos casos <strong>de</strong> <strong>de</strong>feitos na atuação <strong>de</strong> cofatores como<br />

vitamina B12 po<strong>de</strong>rá ocorrer à concomitância <strong>de</strong> acidose<br />

metilmalônica.<br />

88


DOENÇA DO XAROPE DE BORDO<br />

Receb<strong>em</strong> este nome <strong>em</strong> função do odor anormal <strong>de</strong> 2-<br />

oxoácidos (alfa cetoácidos), encontrados na urina <strong>de</strong><br />

indivíduos afetados. Os aminoácidos ramificados valina,<br />

isoleucina e leucina, são marcadamente elevados na urina <strong>de</strong><br />

pacientes afetados além do aumento anormal, também na<br />

urina, <strong>de</strong> ácidos orgânicos. O “screening” para a doença do<br />

xarope <strong>de</strong> bordo na urina é tecnicamente disponível no<br />

período neonatal. Deve ser suspeitado <strong>em</strong> recém nascidos que<br />

apresentam no período neonatal precoce (primeira s<strong>em</strong>ana <strong>de</strong><br />

vida) sintomas tais como vômitos, letargia, coma, acidose<br />

metabólica grave e hiperamon<strong>em</strong>ia.O acúmulo <strong>de</strong> ácidos<br />

orgânicos anormais po<strong>de</strong> interferir com ciclo da uréia inibindo<br />

a formação do N-acetilglutamato que é o cofator da carbamil<br />

fosfato sintetase participante precoce do ciclo da uréia e<br />

ocorrerá hiperamon<strong>em</strong>ia tão grave quanto à dos doentes<br />

primários do ciclo da uréia. Os testes urinários para cetoácidos<br />

são positivos e as dosagens dos aminoácidos plasmáticos e<br />

ácidos orgânicos urinários confirmam o diagnóstico.<br />

A <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m po<strong>de</strong> ser difícil <strong>de</strong> controlar, e os pacientes<br />

necessitar<strong>em</strong> <strong>de</strong> tratamento inicial agressivo, muitas vezes<br />

incluindo diálise e nutrição parenteral com soluções<br />

especiais <strong>de</strong> aminoácidos restritas <strong>em</strong> aminoácidos<br />

ramificados. A alimentação <strong>de</strong>finitiva <strong>de</strong>ve ser preparada <strong>de</strong><br />

forma especializada e alguns pacientes t<strong>em</strong> boa resposta a<br />

doses elevadas <strong>de</strong> tiamina.<br />

ACIDOPATIAS ORGÂNICAS<br />

Este grupo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns foi <strong>de</strong>finido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se<br />

<strong>de</strong>senvolveram métodos <strong>de</strong> aferir os ácidos orgânicos no<br />

sangue, o que ocorreu <strong>em</strong> meados dos anos <strong>de</strong> 1970.<br />

Muitas <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns tais como: aci<strong>de</strong>mia propiônica e<br />

aci<strong>de</strong>mia metilmalônica, estão associadas a bloqueios no<br />

metabolismo <strong>de</strong> aminoácidos <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia ramificada.<br />

A <strong>de</strong>terminação quantitativa não costuma ser diagnóstica<br />

porque o bloqueio metabólico ocorre <strong>em</strong> vias baixas do<br />

metabolismo, custando a afetar os níveis <strong>de</strong> aminoácidos.<br />

Os pacientes, neonatais ou lactentes jovens, apresentam<br />

acidose metabólica grave e coma. Há elevação da amônia<br />

sérica <strong>de</strong> forma intensa (como já <strong>de</strong>scrito), por interferência<br />

dos metabólitos no ciclo da uréia.<br />

É importante obter as amostras quando o paciente estiver<br />

mais sintomático, pois as <strong>de</strong>sconpensações po<strong>de</strong>m ser<br />

episódicas. O tratamento inicial agressivo no controle<br />

metabólico com restrição protéica e doses elevadas <strong>de</strong><br />

cofatores seguidas <strong>de</strong> tratamento nutricional especializado<br />

permite o controle das aminoacidopatias.<br />

DESORDENS DO CICLO DA URÉIA<br />

A não converção do excesso <strong>de</strong> nitrogênio protéico <strong>em</strong><br />

uréia irá produzir hiperamon<strong>em</strong>ia. A hiperamon<strong>em</strong>ia é<br />

muito tóxica e cursa com coma letargia, e<strong>de</strong>ma cerebral e<br />

morte se não for reconhecida a t<strong>em</strong>po. As doenças do<br />

ciclo da uréia po<strong>de</strong>m ser diagnosticadas pelo seu padrão<br />

<strong>de</strong> aminoácidos ligados ao ciclo, que estarão alterados <strong>de</strong><br />

acordo com o nível do bloqueio, e pelos níveis <strong>de</strong> ácido<br />

orótico na urina. A <strong>de</strong>ficiência mais freqüente é a da<br />

Ornitina Transcarbamilase, que é uma doença ligada ao<br />

cromossomo X, portanto, ligada ao sexo.<br />

Com freqüência, um bebê do sexo masculino que<br />

aparent<strong>em</strong>ente era normal no primeiro dia <strong>de</strong> vida tornase<br />

irritado, para <strong>de</strong> se alimentar, torna-se letárgico e<br />

progressivamente comatoso. Os níveis <strong>de</strong> amônia do<br />

plasma são com freqüência maiores que 1000 uM.<br />

Meninos parcialmente afetados e meninas heterozigóticas<br />

se apresentam com episódicos sintomas leves. O<br />

tratamento pronto com diálise, drogas e meios alternativos<br />

para a excreção <strong>de</strong> nitrogênio, além da limitação <strong>de</strong><br />

proteína da dieta po<strong>de</strong> melhorar os sintomas e recuperar<br />

os pacientes <strong>de</strong> manifestações neonatais. Entretanto, a<br />

mortalida<strong>de</strong> é ainda bastante elevada e aqueles que<br />

sobreviv<strong>em</strong> têm <strong>de</strong>feitos psicomotores significativos. O<br />

tratamento dos casos leves t<strong>em</strong> mais sucesso.<br />

DEFEITOS DA BETA-OXIDAÇÃO<br />

DE ÁCIDOS GRAXOS<br />

A <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m mais comum é a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m <strong>de</strong> ácidos graxos<br />

<strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia média (MCAD) e ocorre <strong>em</strong> 1 <strong>em</strong> cada 10000<br />

crianças, portanto mais freqüente do que a Fenilcetonúria.<br />

A apresentação da doença ocorre mais comumente entre<br />

15 e 24 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, <strong>em</strong>bora os relatos <strong>de</strong> casos mais<br />

precoces venham aumentando na literatura com início até<br />

89


no período neonatal. A tolerância ao jejum está diminuída<br />

uma vez que os ácidos graxos não são a<strong>de</strong>quadamente<br />

ofertados a “fornalha” mitocondrial para a beta-oxidação.<br />

Com o jejum, produtos anormais se acumulam e alguns<br />

pacientes se apresentam com letargia e coma. A<br />

hipoglic<strong>em</strong>ia é profunda, grave, reversível, mas <strong>de</strong> difícil<br />

estabilização. Ocorre hepatomegalia com disfunção<br />

hepática e hipotonia uma vez que os músculos não<br />

consegu<strong>em</strong> utilizar a<strong>de</strong>quadamente a energia oriunda <strong>de</strong><br />

ácidos graxos, com repercussões sobre o tônus. Existe<br />

pouca produção <strong>de</strong> corpos cetônicos, muitas vezes t<strong>em</strong>-se<br />

hipoglic<strong>em</strong>ia acetótica, comumente hipocetótica.<br />

Se reconhecidas precoc<strong>em</strong>ente a utilização <strong>de</strong> glicose e<br />

hidratação produz<strong>em</strong> boa resposta clínica. Por outro lado,<br />

a hiperamon<strong>em</strong>ia secundária e e<strong>de</strong>ma cerebral po<strong>de</strong>rão<br />

ocorrer. Calcula-se que cerca <strong>de</strong> 25% dos casos evoluam<br />

para o óbito s<strong>em</strong> diagnóstico no primeiro episódio. A<br />

amostra <strong>de</strong> urina, se obtida durante o episódio <strong>de</strong> doença,<br />

irá mostrar um padrão característico <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong>rivados<br />

dos ácidos graxos na faixa <strong>de</strong> C6 a C12 (na MCAD)<br />

chamados <strong>de</strong> ácidos dicarboxílicos, ou ácidos orgânicos<br />

urinários. Entre os episódios, entretanto, as amostras<br />

urinárias po<strong>de</strong>m ser normais, dificultando o diagnóstico.<br />

A pesquisa urinária ou plasmática dos perfis <strong>de</strong><br />

acil-carnitina é realizada pelo método TANDEM <strong>em</strong><br />

amostras <strong>de</strong> sangue no papel <strong>de</strong> filtro. Ainda que<br />

assintomáticos, os pacientes po<strong>de</strong>rão apresentar níveis<br />

plasmáticos <strong>de</strong> carnitina anormais, com diminuição da<br />

carnitina total e elevação das frações esterificadas.<br />

O principal tratamento é evitar o jejum. O tratamento<br />

medicamentoso é feito com o uso <strong>de</strong> L-carnitina<br />

(inicialmente venosa nos casos graves). A alimentação mais<br />

freqüente (b<strong>em</strong> fracionada), a ingestão <strong>de</strong> amido cru<br />

(como nas glicogenoses) e a diminuição da gordura total<br />

da dieta. O prognóstico é bom <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a doença seja<br />

reconhecida e conduzida por especialistas.<br />

Outros distúrbios <strong>de</strong> oxidação <strong>de</strong> ácidos graxos são mais<br />

raros, porém os sintomas são s<strong>em</strong>elhantes aos da<br />

MCAD. Po<strong>de</strong> haver apresentações diferentes com<br />

predominância <strong>de</strong> miopatias manifestas por hipotonias,<br />

ou <strong>de</strong> músculo cardíaco com característica <strong>de</strong><br />

miocardiopatia infiltrativa. Muitas vezes a internação é<br />

necessária para a provocação com jejum, a fim <strong>de</strong> se<br />

po<strong>de</strong>r esclarecer um diagnóstico às vezes muito difícil,<br />

principalmente se não for pensado pelo médico.<br />

DOENÇAS MITOCONDRIAIS<br />

São doenças com gran<strong>de</strong> impacto na produção <strong>de</strong> energia<br />

<strong>de</strong> orig<strong>em</strong> mitocondrial, ou seja <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> impacto<br />

energético. Na impossibilida<strong>de</strong> da “máquina” mitocondrial<br />

girar o metabolismo dos ácidos tricíclicos o gran<strong>de</strong><br />

acúmulo se fará na produção <strong>de</strong> ácido láctico, portanto<br />

levando a aci<strong>de</strong>lact<strong>em</strong>ias e a falência <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da oxidação total da glicose, como no<br />

Sist<strong>em</strong>a Nervoso Central. A ocorrência freqüente será a<br />

acidose láctica e as encefalomiopatias. Estas <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns se<br />

<strong>de</strong>v<strong>em</strong> a mutações genéticas no núcleo ou genes<br />

mitocondriais.<br />

Os pacientes se apresentam com hipotonia, hipoglic<strong>em</strong>ia,<br />

déficit <strong>de</strong> crescimento, <strong>de</strong>generação dos núcleos da base<br />

do cérebro, convulsões e oftalmoplegia. Na biópsia<br />

muscular encontra-se as fibras “ragged-red”. Os <strong>de</strong>feitos<br />

são manifestos com ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ficientes do complexo<br />

piruvato <strong>de</strong>sidrogenase, piruvato carboxilase e<br />

fosfoenolpiruvato carboxiquinase e <strong>de</strong>feitos da fosforilação<br />

oxidativa. A síndrome MELAS (mitocondrial myopathy,<br />

encephalopathy, lactic acidosis, and stroke-like episo<strong>de</strong>s),<br />

MERRF (myoclonic epilepsy, ragged-red fibers), Kearn-<br />

Sayre, Alpers e sindrome <strong>de</strong> Leigh, ou atrofia ótica <strong>de</strong><br />

Leber. Deverão estar elevados os níveis <strong>de</strong> lactato e<br />

piruvato do plasma, e a alanina, como carreador <strong>de</strong><br />

esqueleto carbônico para a gliconeogenese, também<br />

po<strong>de</strong>rá estar elevada.<br />

O diagnóstico é confirmado pela <strong>de</strong>monstração das<br />

<strong>de</strong>ficiências enzimáticas nos leucócitos , culturas <strong>de</strong><br />

fibroblastos ou <strong>em</strong> biópsias musculares e hepáticas.<br />

DESORDENS DOS CARBOIDRATOS<br />

A galactos<strong>em</strong>ia clássica ocorre <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> da ativida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ficiente <strong>de</strong> galactose-1-fosfato-uridil-transferase e ocorre<br />

<strong>em</strong> aproximadamente 1:62.000 nascimentos. As crianças<br />

afetadas po<strong>de</strong>m apresentar nos primeiros meses <strong>de</strong> vida<br />

90


catarata, aumento e disfunção hepática, acidose tubular<br />

renal, déficit <strong>de</strong> crescimento, vômitos diarréia e letargia.<br />

Muitos pacientes abr<strong>em</strong> o quadro com septic<strong>em</strong>ia,<br />

especialmente por E.Coli, uma vez que os macrófagos<br />

ficarão vulneráveis pelo <strong>de</strong>feito. Testes urinários para<br />

substâncias redutoras po<strong>de</strong>m ser positivos se a criança<br />

receber alimentos contendo galactose. Testes negativos<br />

ocorrerão no paciente portador do <strong>de</strong>feito se este estiver<br />

<strong>em</strong> jejum, <strong>em</strong> hidratação ou nutrição venosa com glicose<br />

ou recebendo fórmulas s<strong>em</strong> galactose.<br />

A ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiente da galactose-1-fosfato<br />

uridiltransferase e o aumento da galactose 1 fosfato<br />

(metabólito anormal e tóxico) é <strong>de</strong>monstrável nas células<br />

vermelhas do sangue. Esta avaliação também será negativa<br />

se for realizada após uma transfusão sanguínea. Hoje é<br />

possível a avaliação neonatal <strong>em</strong> testes rápidos <strong>de</strong> sangue<br />

coletado <strong>em</strong> papel filtro (teste do pezinho)<br />

O tratamento com dieta livre <strong>de</strong> galactose resulta <strong>em</strong> boa<br />

evolução clínica. Exist<strong>em</strong> formas heterozigóticas e variáveis<br />

<strong>de</strong> acordo com o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência. Em virtu<strong>de</strong> da<br />

gravida<strong>de</strong> da doença, quando não tratada, e da facilida<strong>de</strong><br />

e segurança do tratamento, toda criança com teste positivo<br />

<strong>de</strong>verá mudar para uma dieta livre <strong>de</strong> galactose até que<br />

seja confirmado, ou não, o diagnóstico.<br />

Doenças <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> glicogênio ocorr<strong>em</strong> <strong>em</strong> 1: 60.000<br />

nascimento e po<strong>de</strong>m se apresentar com hipoglic<strong>em</strong>ia <strong>de</strong><br />

jejum, aumento do fígado por <strong>de</strong>pósito por miopatias,<br />

inclusive cardíaca. Exist<strong>em</strong> diversos tipos <strong>de</strong> glicogenoses.<br />

A tipo I, também conhecida como doença <strong>de</strong> Von Gierke,<br />

ocorre por <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> glicose-6-fosfatase, e se apresenta<br />

com hepatomegalia, hipoglic<strong>em</strong>ia e acidose Láctea na<br />

infância precoce. A glicogenose tipo IX, que é a mais<br />

freqüente forma <strong>de</strong> glicogenose, ocorre por <strong>de</strong>ficiência da<br />

enzima fosforilase-quinase, e se apresenta assintomática<br />

mas com o aumento do volume hepático. Outros tipos <strong>de</strong><br />

glicogenose com início na infância e na adultícia ocorr<strong>em</strong><br />

apenas com envolvimento muscular. As biópsias <strong>de</strong><br />

músculo e fígado mostrarão, na glicogenose, um aumento<br />

no conteúdo <strong>de</strong> glicogênio. As <strong>de</strong>ficiências enzimáticas <strong>de</strong><br />

muitas <strong>de</strong>stas doenças po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>monstradas nos<br />

eritrócitos, leucócitos ou cultura <strong>de</strong> fibroblastos.<br />

DOENÇAS DE PEROXISSOMOS<br />

Peroxissomos são organelas subcelulares responsáveis pela<br />

beta oxidação <strong>de</strong> ácidos <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia muito longa <strong>de</strong> mais <strong>de</strong><br />

22 carbonos, pela biossíntese <strong>de</strong> plasmalogênios e sais<br />

biliares e pela oxidação dos ácidos fitânico, pipecólico e<br />

metabolismo glicoxilato. As <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns por <strong>de</strong>feito <strong>de</strong><br />

peroxissomos são classificadas <strong>em</strong> 3 grupos <strong>de</strong> disfunção<br />

peroxisomal generalizada: diminuição ou ausência <strong>de</strong><br />

peroxissomos; com peroxissomos, mas com anormalida<strong>de</strong>s<br />

<strong>em</strong> uma função; ou <strong>em</strong> várias funções dos mesmos. A<br />

alteração mais comum, com disfunção generalizada da<br />

função <strong>de</strong> peroxissomos, é a disfunção <strong>de</strong> Zellweger<br />

(cérebro hepatorenal). A maioria dos pacientes são<br />

neonatos com hipotonia e fácieis típica com fronte<br />

alargada, prega <strong>de</strong> epicanto, fontanela ampla, retinite<br />

pigmentosa, hipotonia e hepatomegalia. A formação <strong>de</strong><br />

cistos nos rins, disfunção <strong>de</strong> supra renal, anormalida<strong>de</strong>s no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento cerebral fetal e convulsões. A <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m<br />

po<strong>de</strong> ser confirmada pela <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> ácidos graxos<br />

<strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia muito longa no plasma e por plasmalogenios<br />

<strong>de</strong>feituosos na síntese das células vermelhas. Na maioria<br />

das crianças a doença t<strong>em</strong> curso progressivo e não<br />

costumam viver mais <strong>de</strong> que os 6 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />

A adrenoleucodistrofia da infância, doença peroxisomal<br />

ligada ao X, é do tipo com peroxissomos intactos e betaoxidação<br />

anormal <strong>de</strong> ácidos graxos <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia muito longa.<br />

Muitos meninos a apresentam entre 4 e 8 anos com<br />

progressiva <strong>de</strong>smielinização do sist<strong>em</strong>a nervoso, e a<br />

maioria evolui com insuficiência supra renal. O diagnóstico<br />

é confirmado por níveis elevados <strong>de</strong> ácidos graxos <strong>de</strong><br />

ca<strong>de</strong>ia muito longa no plasma. Alguns carreadores do gen,<br />

masculinos ou f<strong>em</strong>ininos, apresentam formas mais leves da<br />

disfunção. O tratamento com tri-eruxicato e trioleato <strong>de</strong><br />

glicerol po<strong>de</strong> ter efeito benéfico se iniciados antes das<br />

maiores manifestações do sist<strong>em</strong>a nervoso central. É<br />

também conhecida com doença do “óleo <strong>de</strong> Lorenzo”.<br />

DOENÇAS DE LISOSSOMAS<br />

Este grupo <strong>de</strong> doenças, com armazenamento anormal intralisossomial<br />

<strong>de</strong> moléculas <strong>de</strong> espectro tão variado como as<br />

pequenas moléculas, como a cistina, até macromoléculas<br />

como os mucopolissacarí<strong>de</strong>os e esfingolipídios.<br />

91


A maioria <strong>de</strong>stas doenças é <strong>de</strong>vida a falência da <strong>de</strong>gradação<br />

intra-lisossomial <strong>de</strong> algumas substâncias, e que se <strong>de</strong>ve a<br />

<strong>de</strong>ficiência específica <strong>de</strong> um hidrolase ácida lisossomal.<br />

Isto se <strong>de</strong>ve a falta <strong>de</strong> uma proteína ativadora da hidrolase.<br />

Em outras, o probl<strong>em</strong>a se <strong>de</strong>ve ao não reconhecimento <strong>de</strong><br />

marcadores das hidrolases para macromoléculas, como é o<br />

caso das mucolipidoses. Ainda outros mais se <strong>de</strong>v<strong>em</strong> a<br />

<strong>de</strong>feitos <strong>de</strong> transporte das m<strong>em</strong>branas lisossomais tais<br />

como na cistinose ou doença <strong>de</strong> Salla.<br />

Este grupo <strong>de</strong> doenças está dividido <strong>de</strong> acordo com o<br />

material estocado e não digerido e, ou, a fisiopatologia<br />

<strong>de</strong>senvolvida pela alteração.<br />

MUCOPOLISSACARIDOSES<br />

As mucopolissacaridoses (MPS) são <strong>de</strong>vidas ao<br />

armazenamento nos lisossomos <strong>de</strong> mucopolissacarí<strong>de</strong>os,<br />

também chamados glicosaminoglicans. O protótipo <strong>de</strong>sta é<br />

a síndrome <strong>de</strong> Hurler. Os pacientes são normais ao<br />

nascimento e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> hepatoesplenomegalia,<br />

perda da transparência da córnea, baixa estatura, atraso<br />

psicomotor, e fácieis grosseira ficando o quadro mais<br />

evi<strong>de</strong>nte <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. A alteração óssea<br />

caracterizada como disostose multipla é típica <strong>de</strong>ste grupo<br />

<strong>de</strong> doenças, fazendo alto grau <strong>de</strong> suspeição pela avaliação<br />

radiológica. A pesquisa <strong>de</strong> mucopolissacári<strong>de</strong>os na urina<br />

O diagnóstico é feito por testes enzimáticos nos leucócitos<br />

ou no soro e são <strong>de</strong>finitivos tanto para as<br />

mucoplossacaridoses quanto para as doenças <strong>de</strong><br />

armazenamento lisossomais.<br />

ESFINGOLIPIDOSES<br />

A mais comum é a doença <strong>de</strong> Gaucher, ou esfingolipidoses<br />

do tipo 1, que po<strong>de</strong> se apresentar <strong>em</strong> qualquer ida<strong>de</strong>, e se<br />

apresenta com esplenomegalia assintomática pelo estoque<br />

lisossomal <strong>de</strong> cerebrosí<strong>de</strong>os. Nos pacientes mais<br />

grav<strong>em</strong>ente afetados po<strong>de</strong>m ter acometimento hepático e<br />

ósseo. A <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m é mais presente <strong>em</strong> pacientes<br />

<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> ju<strong>de</strong>us do oeste da Europa, mas po<strong>de</strong> ser<br />

encontrada <strong>em</strong> qualquer orig<strong>em</strong> étnica. O diagnóstico é<br />

feito pela <strong>de</strong>monstração da <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> Betaglicosidase<br />

nos leucócitos, e hoje já existe reposição enzimática para<br />

esta <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m com bom <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho.<br />

A doença <strong>de</strong> Tay-Sachs é também encontrada com mais<br />

freqüência <strong>em</strong> pacientes ju<strong>de</strong>us <strong>de</strong> ancestrais oriundos do<br />

oeste da Europa, mas também po<strong>de</strong> ser vista <strong>em</strong> todos os<br />

grupos étnicos. Há métodos para <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> portadores<br />

do gen, e <strong>de</strong>ve ser estimulado o casal <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> judaico,<br />

<strong>em</strong> especial com ancestrais da região oeste europeu a ser<br />

testados como medida pré-prenatal.<br />

po<strong>de</strong> ser útil, mas é limitada como meio diagnóstico.<br />

Bibliografia consultada<br />

Wappner, R.S. - Bioch<strong>em</strong>ical Diagnosis of Genetic Diseases. Pediatric<br />

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92


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