COMUNICAR, VERBO INTRANSITIVO Ensaio para uma ... - UFRJ

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20 Se ainda for necessário justificar tal empreitada teórica (afinal, o curso de Comunicação é listado entre as Ciências Sociais Aplicadas), espero que a possibilidade de aproximar fenômenos não-discursivos aos estudos do campo e o ensejo para se pensar o negativo da comunicação a partir de caracteres estéticos tenham força para seu preenchimento. A intenção é buscar outra forma de se pensar esse encontro provocativo criado a partir da nomenclatura “estética da comunicação”. São intuições fermentadas por autores que nem sempre foram bem acolhidos nos estudos da comunicação, marcados muitas vezes pelo imperativo do racionalismo tecnológico. Re-invocar o talvez já desgastado nome da estética com o objetivo de retomar sua postura crítica que desde a sua origem como disciplina já havia exercido frente à febre tecnocrática. Caminho errante, sem fim. Andar na praia ao cair da tarde. Ser tomado pela presença dos rastros. E pelo esvaecimento das pegadas arrastadas pelo mar... )
21 CAPÍTULO I “Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar...” 9 O ponto agora é mostrar as minhas identificações e divergências aos estudos de autores que em algum momento reivindicaram o termo “estética da comunicação”: no que difere a proposta aqui esboçada dos estudos que se enquadram na linha de estudos chamada de estética da comunicação? Ao se traçar uma breve genealogia desse campo, pode-se identificar três momentos ou esferas teóricas nas quais a nomenclatura foi reivindicada: com o esteta italiano Mário Costa e o artista francês Fred Forest (em 1983), com o filósofo pragmatista belga Herman Parret (em 1993) e com o comunicólogo francês Jean Caune (em 1997). Suas propostas ora vinculam os meios de comunicação e os processos comunicativos à criação artística (Costa e Forest), ora se preocupam com o elemento afetivo de uma comunidade comunicacional (Parret), ora recaem sobre o caráter comunicativo da experiência estética e, por sua vez, sobre o caráter estético do processo comunicativo (Caune). Grosso modo, é basicamente a partir dessas esferas teóricas que se dividem as atuais discussões em torno da relação entre comunicação e estética, como nos aponta 漐 César ϙ Guimarães (2002), um dos pesquisadores que se debruçam sobre o tema no Brasil: de um lado estão aqueles que se ocupam da dimensão produtiva das mídias, que acentuam um discurso mais analítico-descritivo e que têm como ponto de referência o objeto, ou seja, a abordagem de obras que utilizam e/ou problematizam as tecnologias da comunicação; do outro lado estão aqueles que se ocupam da dimensão receptiva do processo comunicativo, que acentuam uma abordagem pragmático-compreensiva, com o foco no processo, na situação, na relação sujeito-obra, ou seja, na experiência estética, ou ainda recaem sobre a constituição de uma comunidade fundada nos afetos, na empatia, no gosto, na identificação. Este trabalho poderia ser inserido numa terceira corrente voltada para uma problemática epistemológica, que poderia ser chamada de dimensão sintética ou mesmo comunicativa. A preocupação agora recairia tanto no objeto, na experiência estética e na formação de uma comunidade, entretanto conduzidas sob uma noção de comunicação que não privilegiaria a análise ou a compreensão do processo ou do objeto, mas sim a figuração de um evento que “escapa” e questiona o próprio conceito de comunicação. Com o objetivo 9 Trecho da canção “Timoneiro”, de Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho.
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