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COMUNICAR, VERBO INTRANSITIVO Ensaio para uma ... - UFRJ

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dos respectivos mundos cotidianos nos quais ela ocorre, então poderíamos deduzir que a<br />

experiência estética será localizada “fora” dos mundos cotidianos. Mas não custa deixar<br />

claro que mesmo sendo <strong>uma</strong> ruptura, a experiência estética emerge do próprio cotidiano e é<br />

ainda do mundo comum que se constituem os seus elementos.<br />

Gumbrecht então aponta três tipos de relação entre a experiência estética e a vida<br />

comum. Num primeiro momento, a experiência estética surgiria como interrupção do<br />

cotidiano, muito próxima de um sentimento de arrebatamento. Daí a sua aproximação à<br />

“estética da aparição”, de Martin Seel (2003), que também se volta ao contato físico com as<br />

coisas do mundo: “experimentar as coisas e acontecimentos, como elas se apresentam<br />

momentânea e simultaneamente aos nossos sentidos, representa um tipo genuíno de<br />

encontro h<strong>uma</strong>no com o mundo” (SEEL, 2003, p.9). A sua estética da aparição busca trazer<br />

de volta a nossa consciência e aos nossos corpos a materialidade das coisas que nos<br />

rodeiam. A experiência estética nos conduz a um jogo de constituição do nosso presente a<br />

partir da aparição das coisas. As obras de arte, portanto, “criam um presente especial que<br />

vem de <strong>uma</strong> representação de um presente próximo ou distante” (idem). Para Gumbrecht,<br />

“aparição também é tensão, inevitavelmente, com a dominante abordagem interpretativa<br />

que permeia nossa relação cotidiana com o mundo no ponto de nos fazer esquecer que isto<br />

眐 ϙ<br />

necessariamente implica <strong>uma</strong> camada diferente de sentido” (GUMBRECHT, 2006, p. 63).<br />

Num segundo momento, Gumbrecht trata da experiência estética como resultante de<br />

<strong>uma</strong> mudança do quadro situacional, a partir de frames (molduras) que chamam nossa<br />

atenção a determinados objetos ou ambiências. Como exemplo dado pelo próprio autor,<br />

teríamos aqui os estádios esportivos ou molduras que estabelecem distanciamento – mas a<br />

meu ver, não o isolamento – com o mundo cotidiano. Esta segunda categoria novamente<br />

nos remete ao texto já citado de Michel Foucault (1994) e seu conceito de heterotopia. Em<br />

seu estudo, ele se detém nos tipos de espaços externos – os que se desenham fora de nós<br />

mesmos, onde vivemos –, identificando duas categorias que se relacionam com todos os<br />

outros espaços, mas que ao mesmo tempo os contradizem. O primeiro grupo são as utopias,<br />

lugares irreais que mantém <strong>uma</strong> analogia direta ou invertida com o espaço real da<br />

sociedade. Do outro lado estão as heterotopias,<br />

lugares reais – lugares que existem e que são formados na própria<br />

instituição da sociedade – que são <strong>uma</strong> espécie de contra-locais, de<br />

utopiais efetivamente realizadas nas quais os lugares reais, todos os outros<br />

locais reais que podem ser encontrados no interior da cultura, são

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