renato russo em dose dupla na telona: somos tão ... - Roteiro BrasÃlia
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RENATO RUSSO EM DOSE DUPLA NA TELONA: SOMOS TÃO JOVENS E FAROESTE CABOCLO<br />
Ano XII • nº 216<br />
Maio de 2013<br />
R$ 5,90
Guia<br />
D O T O R C E D O R<br />
Copa a pé<br />
Deixe o carro <strong>em</strong> casa. Utilize o transporte público e aproveite para fazer um passeio A pé com a<br />
família e os amigos, É mais saudável, e você ainda ajuda a melhorar o trânsito. Todos os<br />
principais pontos estão localizados num raio máximo de 3km, incluindo o Estádio Nacio<strong>na</strong>l de<br />
Brasília, a rodoviária, os principais pontos turísticos, hotéis, shoppings e bares da cidade.<br />
Serviços:<br />
tudo que você precisa saber<br />
para fazer bonito nos dias de jogo<br />
Boa parte do comércio estará aberta nos dias de jogo.<br />
• Antes de sair de casa, planeje a melhor forma de ir e voltar do estádio.<br />
• Para garantir a segurança de todos, serão realizadas 3 barreiras de revista.<br />
• Chegue com antecedência ao estádio. os portões estarão abertos 2h antes do início das partidas.<br />
Metrô<br />
RODOVIária<br />
interestadual<br />
Rodoferroviária<br />
Transporte<br />
Em dias de jogo, o trânsito de carros estará bloqueado<br />
<strong>na</strong>s proximidades do estádio. Por isso, prefira usar o<br />
transporte público. Os ônibus terão itinerários especiais,<br />
e o metrô funcio<strong>na</strong>rá <strong>em</strong> horários diferenciados.<br />
Consulte os horários com antecedência.<br />
AEROPORTO<br />
ASA SUL<br />
Parque<br />
da cidade<br />
ENCONTRE SEU ASSENTO<br />
procure o orientador mais próximo para<br />
auxiliá-lo a encontrar seu assento. Não é<br />
permitido mudar de lugar durante o jogo.<br />
para não atrapalhar a visão de qu<strong>em</strong> está<br />
atrás de você, Assista ao jogo sentado.<br />
ITINERÁRIOS ESPECIAIS DE ÔNIBUS<br />
ESTACIONAMENTO<br />
13<br />
108.5/108.6 Rodoviária do Plano Piloto<br />
Estádio Nacio<strong>na</strong>l Rodoferroviária<br />
0.104/104.2 Setor de Hotéis e Turismo Norte<br />
Rodoviária do Plano Piloto<br />
SETOR Hoteleiro SUL<br />
SETOR de rádio e tv SUL<br />
SETOR comercial SUL<br />
SETOR Hoteleiro Norte<br />
SETOR de rádio e tv norte<br />
SETOR comercial norte<br />
ACESSO<br />
RESTRITO<br />
a veículos<br />
credenciados<br />
ASA NORTE<br />
0.113/113.1 Aeroporto<br />
Setor Hoteleiro Norte Setor Hoteleiro Sul<br />
Circular Parque da Cidade<br />
Segurança<br />
Mais de 2 mil câmeras no estádio. evite<br />
brigas e confusões. jamais invada o campo.<br />
rodoviária do plano piloto<br />
ÁREAS DE ESTACIONAMENTO<br />
SETOR de hotéis<br />
e turismo norte<br />
O estacio<strong>na</strong>mento do estádio estará fechado. Serão reservadas<br />
vagas seguras para os torcedores <strong>em</strong> 7 áreas <strong>na</strong>s proximidades.<br />
Parque da cidade • Plataforma superior da rodoviária do plano piloto • Rodoferroviária •<br />
Setor comercial norte • Setor de rádio e TV sul • Setor de rádio e TV norte • Setor comercial sul<br />
As três primeirAs ÁREAS terão linhas diretas de ônibus para o Estádio.<br />
SETOR de hotéis<br />
e turismo norte<br />
Chegando junto<br />
i<br />
MAIS INFORMAÇÕES<br />
Acesse o guia completo: www.gdfdiaadia.df.gov.br
<strong>em</strong> poucas palavras<br />
Imagi<strong>na</strong>r até que imaginei, mas nunca acreditei que<br />
um dia pudesse ir a uma festa a céu aberto <strong>na</strong> nossa bela e<br />
única Praça dos Três Poderes. Até então, só havia assistido a<br />
algumas cerimônias mensais de troca da bandeira e passeado<br />
pelo chão de pedras portuguesas <strong>em</strong> companhia de amigos<br />
de outros Estados para qu<strong>em</strong> servira de guia turística.<br />
Pois <strong>na</strong> noite do último dia 30 pude me encantar com<br />
a inusitada festa de abertura do Brasil Sabor 2013 realizada<br />
<strong>em</strong> ple<strong>na</strong> praça-cartão-postal de Brasília. Chefs representando<br />
todas as regiões de nosso vasto país lá estiveram para oferecer<br />
aos convidados um pouco da rica gastronomia <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l,<br />
presente no festival promovido simultaneamente <strong>em</strong> todo<br />
o país pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes.<br />
Como defende o presidente da Abrasel/DF, Jaime<br />
Rece<strong>na</strong>, o sucesso da festa é argumento de força e eloquência<br />
capaz de convencer o mais céticos dos céticos de que a nossa<br />
praça pode e deve abrigar eventos s<strong>em</strong> nenhum dano ao<br />
patrimônio público. O Festival Brasil Sabor é o t<strong>em</strong>a da<br />
reportag<strong>em</strong> de capa desta edição de maio, um mês rico<br />
também <strong>em</strong> novidades cin<strong>em</strong>atográficas.<br />
Em Luz Câmera Ação (pági<strong>na</strong> 36) o leitor terá todos os<br />
detalhes a respeito de dois lançamentos inspirados <strong>na</strong> vida<br />
e no legado musical de Re<strong>na</strong>to Russo. O primeiro, Somos tão<br />
jovens, já está <strong>em</strong> cartaz nos cin<strong>em</strong>as de todo país e conta a<br />
vida do cantor e compositor desde sua chegada a Brasília até o<br />
momento <strong>em</strong> que forma a Legião Urba<strong>na</strong>. O segundo, Faroeste<br />
caboclo, estreia no próximo dia 30 e t<strong>em</strong> como desafio contar a<br />
história contida nos mais de 150 versos da música homônima<br />
gravada pela Legião <strong>em</strong> 1987 (no LP Que país é este).<br />
Não bastass<strong>em</strong> essas novidades da sétima arte, ainda há<br />
para se ver a Mostra do Filme Livre, <strong>em</strong> cartaz no CCBB, com<br />
233 produções de todos os gêneros cujo ponto <strong>em</strong> comum<br />
é o foco no inusitado (pági<strong>na</strong> 42), e a mostra Argenti<strong>na</strong> Shock-<br />
Vermelho, com clássicos do cin<strong>em</strong>a noir dos hermanos, parte<br />
da programação da série Cultura azul e branca (pági<strong>na</strong> 35).<br />
E <strong>na</strong> seção Dia e Noite (pági<strong>na</strong> 24) mais duas mostras<br />
interessantes: uma de cin<strong>em</strong>a húngaro e outra de cin<strong>em</strong>a<br />
iraniano. Difícil vai ser escolher entre tantas boas opções.<br />
Boa leitura e até junho.<br />
Maria Teresa Fer<strong>na</strong>ndes<br />
Editora<br />
36<br />
luzcâmeraação<br />
Ísis Valverde e Fabrício Boliveira são os progatonistas<br />
de Faroeste caboclo, que entra <strong>em</strong> cartaz no dia 30.<br />
4<br />
16<br />
18<br />
19<br />
20<br />
24<br />
27<br />
28<br />
30<br />
32<br />
35<br />
água<strong>na</strong>boca<br />
picadinho<br />
garfadas&goles<br />
pão&vinho<br />
doisespressoseaconta<br />
dia&noite<br />
verso&prosa<br />
graves&agudos<br />
brasiliensedecoração<br />
diáriodeviag<strong>em</strong><br />
avenidadas<strong>na</strong>ções<br />
Hugo Santarém<br />
ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora <strong>Roteiro</strong> Ltda. | Setor Hoteleiro Sul, Quadra 6, Bloco C, Sala 1612, Brasília-DF - CEP 70.316-109<br />
Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3961.6261 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fer<strong>na</strong>ndes<br />
Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa Carlos Roberto Ferreira, sobre foto dos chefs André Ornelas e Ângela Sicília, de autoria de Rômulo<br />
Juracy | Colaboradores Adria<strong>na</strong> Nasser, Ak<strong>em</strong>i Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos Santos Franco, A<strong>na</strong> Cristi<strong>na</strong> Vilela, Beth Almeida, Cláudio<br />
Ferreira, Eduardo Oliveira, Elai<strong>na</strong> Daher, Heitor Menezes, Lúcia Leão, Luiz Rece<strong>na</strong>, Mariza de Macedo-Soares, Melissa Luz, Pedro Brandt, Sérgio<br />
Moriconi, Súsan Faria, Vicente Sá | Fotografia Gadelha Neto, Rodrigo Oliveira, Sérgio Amaral | Para anunciar 3961.6261| Impressão Editora Gráfica<br />
Ipiranga | Tirag<strong>em</strong>: 20.000 ex<strong>em</strong>plares.<br />
3<br />
www.roteirobrasilia.com.br facebook.com/roteirobrasilia @roteirobrasilia
água <strong>na</strong> boca<br />
Um festival<br />
de boas novidades<br />
Filetto alla rústica, do<br />
Villa Borghese (R$ 46)<br />
Por Beth Almeida<br />
4<br />
Jr. Ribs, do Outback (R$ 36)<br />
Costelinha São Jorge, do Bar do<br />
Ferreira de Águas Claras (R$ 36)<br />
Um estímulo aos chefs, para que<br />
cri<strong>em</strong> novos pratos, e um incentivo<br />
aos admiradores da gastronomia,<br />
para que conheçam novas casas e<br />
degust<strong>em</strong> diferentes sabores. Assim é o<br />
Festival Brasil Sabor, cuja oitava edição já<br />
tomou conta de Brasília e segue até 19<br />
de maio <strong>em</strong> 96 bares e restaurantes do<br />
Plano Piloto, Lagos Sul e Norte, Jardim<br />
Botânico, Sudoeste, Octogo<strong>na</strong>l, Águas<br />
Claras, Guará e Taguatinga. A expectativa<br />
é de que sejam consumidas este ano<br />
25 mil refeições.<br />
O festival acontece simultaneamente<br />
<strong>em</strong> 24 Estados, além do Distrito Federal.<br />
“É uma ótima oportunidade para que as<br />
pessoas saiam um pouco da roti<strong>na</strong> e descubram<br />
coisas novas <strong>na</strong> gastronomia brasiliense,<br />
porque t<strong>em</strong>os a tendência de<br />
frequentar s<strong>em</strong>pre os mesmo lugares”,<br />
afirma o presidente da Associação Brasileira<br />
de Bares e Restaurantes no Distrito<br />
Federal (Abrasel-DF), Jaime Rece<strong>na</strong>.<br />
Tendo como t<strong>em</strong>a “Comida do lugar<br />
<strong>em</strong> todos os lugares”, o festival quer valorizar<br />
a cultura, modos e costumes de cada<br />
região brasileira. Em Brasília, capital<br />
que é ponto de convergência de brasileiros<br />
de todas as partes, a festa de abertura<br />
espelhou essa pluralidade, com a participação<br />
de chefs convidados de todas as regiões,<br />
que dividiram caçarolas com brasilienses<br />
como A<strong>na</strong> Toscano, Rodrigo Cabral<br />
e Gil Guimarães, entre outros (leia<br />
<strong>na</strong> pági<strong>na</strong> 6).<br />
A tendência se repete no elenco de<br />
pratos selecio<strong>na</strong>dos pelos chefs brasilienses,<br />
com ingredientes de todas as regiões<br />
do país, inclusive do Pla<strong>na</strong>lto Central, e<br />
também com influências de cozinhas de<br />
outros países, como o camarão <strong>na</strong> moranga<br />
do Ares do Brasil, servido com arroz<br />
de castanhas brasileiras e precedido<br />
de salada ao molho de cajá, ou o risoto<br />
de jambu com pato no tucupi, do Oliver,
tendo como entrada uma bruscheta de<br />
camarão da Amazônia com tomates italianos,<br />
só para citar alguns ex<strong>em</strong>plos.<br />
O prato principal e a entrada têm<br />
preços fixos – R$ 26, R$ 36 e R$ 46, variando<br />
de casa a casa – e neste ano a<br />
clientela do festival volta a contar com o<br />
Circuito Gourmet, que a cada seis pratos<br />
consumidos dá ao cliente o direito de repetir<br />
gratuitamente aquele de que mais<br />
gostou. A Abrasel-DF também promete<br />
diversas promoções para qu<strong>em</strong> acompanhar<br />
as redes sociais da entidade, como<br />
sorteios de cortesias e brindes.<br />
Os clientes do Banco de Brasília<br />
(BRB) contam com algumas vantagens a<br />
mais, a começar pelo Circuito Gourmet,<br />
que será completado com ape<strong>na</strong>s quatro<br />
visitas às casas participantes, ao invés das<br />
seis regulamentares. Os que pagar<strong>em</strong> a<br />
conta com Cartão BRB, <strong>na</strong> modalidade<br />
crédito, vão ganhar também um par de<br />
talheres – garfo e faca – com a marca do<br />
festival, como aconteceu no ano passado.<br />
Esta edição contará ainda com as Cozinhas<br />
Shows, que acontec<strong>em</strong> até o dia<br />
18 no Terraço Shopping, com a presença<br />
confirmada dos chefs David Letchig, do<br />
El Paso Texas, Marilde Cavaletti, do Couvert,<br />
e Neide Daia, do Substância Gastronomia<br />
Light, entre outros. Participam<br />
ainda chefs do projeto Cozinha Brasil,<br />
desenvolvido pelo Serviço Social da Indústria<br />
(Sesi), e da escola de culinária Kaza<br />
Chique, ambos parceiros do festival.<br />
A parceria com o Sesi envolve não só<br />
o Cozinha Brasil – que desenvolve receitas<br />
com ingredientes antes descartados,<br />
como cascas de frutas – mas também o<br />
projeto Vira Vida, que oferece cursos de<br />
formação profissio<strong>na</strong>l e encaminhamento<br />
a <strong>em</strong>pregos para jovens e adolescentes<br />
vítimas de abuso sexual.<br />
Frango do Mestre, do Gordeixos (R$ 26)<br />
Risoto de jambu com pato<br />
no tucupi, do Oliver (R$ 46)<br />
Fraldinha Angus com aioli de<br />
mostarda, do Parrilla Madrid (R$ 36)<br />
Fotos: Divulgação<br />
Brasil Sabor 2013<br />
Até 19/5 <strong>em</strong> 96 bares e restaurantes<br />
da cidade. Mais informações:<br />
www.brasilsabor.com.br<br />
5<br />
Moelinha no caldo de panela, do<br />
Primeiro Cozinha de Bar (R$ 26)
água <strong>na</strong> boca<br />
Ricardo Guedes<br />
Cartão postal<br />
dos sabores<br />
6<br />
Jaime Rece<strong>na</strong> *<br />
A<br />
Praça dos Três Poderes é um dos<br />
mais bonitos e famosos cartões<br />
postais de Brasília. Nela, a capital<br />
de todos os brasileiros mostra três sólidos<br />
alicerces da d<strong>em</strong>ocracia do país: as<br />
sedes dos poderes Executivo, Legislativo<br />
e Judiciário. Muitas vezes as leis ali aprovadas<br />
são objeto de duras críticas e comentários<br />
irônicos e jocosos. E nosso belo<br />
cartão postal é massacrado por charges<br />
e desenhos que o deformam, mas não<br />
lhe roubam a importância monumental.<br />
Mas é inesgotável a capacidade que t<strong>em</strong><br />
esse espaço de se renovar <strong>em</strong> beleza e<br />
funcio<strong>na</strong>lidade.<br />
Foi o que pensamos, <strong>na</strong> Abrasel,<br />
quando decidimos propor a realização<br />
da festa de abertura de mais um Festival<br />
Brasil Sabor <strong>na</strong> nossa praça, local de turismo,<br />
aberto, amplo, igual à cidade, que<br />
<strong>em</strong> seu seio fecundo e farto recebeu todos<br />
e todas, brasileiros e brasileiras do<br />
Oiapoque ao Chuí, <strong>na</strong> materialização do<br />
sonho de Dom Bosco, <strong>na</strong> realização do<br />
ideal de Juscelino Kubitschek, <strong>na</strong> construção<br />
da Odisseia de Lúcio e Oscar.<br />
Costa e Ni<strong>em</strong>eyer, visionários, geniais,<br />
acalentavam <strong>em</strong> seus generosos regaços a<br />
vontade férrea, pétrea, de <strong>em</strong>balar e tor<strong>na</strong>r<br />
realidade a força <strong>em</strong>preendedora de<br />
um novo país que <strong>na</strong>scia. Foi o <strong>em</strong>preendedorismo<br />
de JK, e da geração que nele<br />
acreditou, o responsável maior pelo momento<br />
durável de desenvolvimento até<br />
hoje experimentado pelo Centro-Oeste,<br />
Nordeste, Norte e por todo o país.<br />
O sucesso da festa é argumento de<br />
força e eloquência capaz de convencer o<br />
mais céticos dos céticos, o mais crítico entre<br />
os críticos da capital e dos espaços brasilienses.<br />
Conseguimos d<strong>em</strong>onstrar que<br />
nossa Praça dos Três Poderes pode e deve<br />
abrigar eventos desse e de outros tipos. A<br />
área é ampla e <strong>em</strong>oldurada por um dos<br />
mais belos conjuntos de obras de Oscar<br />
Ni<strong>em</strong>eyer. É funcio<strong>na</strong>l, oferece grandes<br />
possibilidades de conforto, t<strong>em</strong> fácil acesso<br />
e farto estacio<strong>na</strong>mento. Ao fi<strong>na</strong>l, <strong>em</strong><br />
menos de duas horas tudo estava limpo e<br />
desmontado e o novo dia amanheceu<br />
s<strong>em</strong> vestígios do ocorrido. Ficaram só a<br />
alegria e a saudade de qu<strong>em</strong> participou.
Um público numeroso e qualificado<br />
participou do evento: autoridades, jor<strong>na</strong>listas<br />
especializados e profissio<strong>na</strong>is da<br />
área de bares e restaurantes, inclusive<br />
chefs de cozinha de todas as regiões do<br />
país, que intercambiaram receitas e produtos,<br />
ofertando um admirável e novo<br />
mundo gastronômico, <strong>em</strong> forma de variado<br />
leque de comidinhas com todos os<br />
sabores e tons da inesgotável fonte verdeamarela<br />
brasileira. Brasília é muito mais<br />
do que se imagi<strong>na</strong>. Obrigado a todos os<br />
que nos apoiaram e patroci<strong>na</strong>ram. Agora<br />
é hora de curtir o festival. Vamos lá!<br />
Fotos: Rômulo Juracy<br />
* Jaime Rece<strong>na</strong> é presidente da Associação<br />
Brasileira de Bares e Restaurantes <strong>em</strong> Brasília<br />
(Abrasel-DF), que promove o Festival Brasil Sabor<br />
7
Novo boteco <strong>na</strong> Vila<br />
Por Beth Almeida<br />
O<br />
polo gastronômico da Vila Pla<strong>na</strong>lto<br />
passou a contar <strong>em</strong> março<br />
com o reforço do Bar Vila 21,<br />
uma alter<strong>na</strong>tiva não só para o almoço,<br />
mas também para uma agradável happy<br />
hour, com grande variedade de petiscos<br />
para acompanhar o tradicio<strong>na</strong>l chope de<br />
fim de expediente. Entre os drinques do<br />
cardápio há cinco opções de coquetéis e<br />
seis de cachaças.<br />
A casa, do grupo <strong>em</strong>presarial Brasil<br />
21, busca atender não ape<strong>na</strong>s aqueles<br />
que gostam de frequentar o único bairro<br />
da capital federal a ter clima de cidade<br />
do interior, mas também a uma vizinhança<br />
cada vez maior que se estabeleceu<br />
<strong>em</strong> um dos muitos condomínios deste<br />
trecho do Setor de Clubes Norte, como<br />
o Life, o Ilhas do Lago e o Lakeside.<br />
A localização é privilegiada, com um<br />
pouco da vista do Lago Paranoá, imprimindo<br />
um certo ar praiano ao ambiente,<br />
que à noite é compl<strong>em</strong>entado pela música<br />
ao vivo – MPB às quartas e sextas, samba<br />
aos sábados.<br />
Para o almoço, um cardápio enxuto,<br />
com dez pratos, todos servidos <strong>em</strong> porções<br />
individuais ou para duas pessoas, inclusive<br />
a tradicio<strong>na</strong>l feijoada das sextas e sábados<br />
(R$ 29 ou R$ 49), a parmegia<strong>na</strong> de tilápia,<br />
acompanhada de arroz branco, pirão<br />
e farofa de dendê (R$ 27 ou R$ 46), e<br />
a picanha de sol com arroz, feijão tropeiro,<br />
batata frita e vi<strong>na</strong>grete (R$ 32 ou R$ 52).<br />
Para petiscar, o carro-chefe já eleito<br />
pela clientela é o cupim à moda do chef<br />
com mandioca cozida (R$ 28). São mais<br />
de 20 opções de petiscos, além de quatro<br />
tipos de linguiças, seis de brochetes, dois<br />
de caldos e quatro de tapas, entre elas<br />
um tartar de salmão com pesto de manjericão<br />
(R$ 20,90).<br />
Bar Vila 21<br />
Vila Pla<strong>na</strong>lto – Acampamento DFL<br />
Estrada Hotéis de Turismo (3264.8163)<br />
De 3ª a domingo, a partir das 11h.<br />
Fotos: Divulgação<br />
8
água <strong>na</strong> boca<br />
Perfumadas<br />
infusões<br />
Por Lúcia Leão<br />
Fotos Rodrigo Oliveira<br />
A<br />
ideia era criar uma casa de chá peque<strong>na</strong> e aconchegante,<br />
primorosa nos detalhes e nos sabores sutis e delicados<br />
dos chás e das comidinhas que tradicio<strong>na</strong>lmente o acompanham.<br />
E que não brindasse só o paladar, mas abraçasse outros<br />
sentidos: o olhar, com as cores de Van Gogh; o tato, com porcela<strong>na</strong>s<br />
delicadas; o olfato, com o aroma das ervas <strong>em</strong> infusão e das<br />
lavandas plantadas <strong>em</strong> jardineiras. E não é que tudo isso aconteceu?<br />
E por tudo isso a Vincent, uma casa de chá – qu<strong>em</strong> diria!<br />
– é uma das novas coqueluches da Asa Norte.<br />
Nas seis mesas da peque<strong>na</strong> loja de fundos da 409 Norte –<br />
rua agitada por muitos bares e de forte tradição boêmia – o ambiente<br />
é de uma serenidade<br />
provençal. Em<br />
contraste com o burburinho<br />
das casas vizinhas,<br />
fala-se baixo o suficiente<br />
para ouvir a voz<br />
de Ella Fitzgerald e outras<br />
joias do jazz e podese<br />
optar entre beber chá<br />
ou alguma coisa mais<br />
forte – chocolate ou café!<br />
Nada, absolutamente<br />
<strong>na</strong>da, alcoólico.<br />
São chás ingleses, indianos,<br />
chineses e japoneses,<br />
importados e misturados pela Talchá, produtora paulista<br />
de chás gourmet e que prepara blends exclusivos e aromatizados,<br />
mais afeitos ao paladar <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. “O brasileiro prefere os chás<br />
perfumados e saborosos”, atesta Sonia Zaghetto, proprietária do<br />
Vincent e amante confessa das folhas <strong>em</strong> infusão, especialmente<br />
as cultivadas <strong>na</strong> Índia por influência dos colonizadores ingleses.<br />
“É uma paixão antiga. Visito plantações, compro louças e acessórios<br />
por todo lugar que passo... foi assim que montei grande<br />
parte da loja”.<br />
Para acompanhar a carta de mais de 30 variedades de infusões,<br />
a Vincent serve bolos, cupcakes, cheesecackes individuais,<br />
pães de mel e macarons preparados pela Gourmet <strong>em</strong> Casa e outras<br />
reconhecidas quituteiras da cidade. Para salgar a boca, caldos,<br />
saladinhas e croissants. Todas as comidinhas são terceirizadas.<br />
Vincent Casa de Chá<br />
409 Norte – Bloco A (3201.1214). De 2ª a sábado, das 16h30 às 22h.<br />
9
água <strong>na</strong> boca<br />
Cucci<strong>na</strong> ítalo-caipira<br />
Assim foi batizada a mais recente invenção do<br />
chef Jefferson Rueda, do Attimo, uma das boas<br />
novidades do mercado gastronômico paulistano.<br />
10<br />
Por Mariza de Macedo-Soares<br />
I<strong>na</strong>ugurado <strong>em</strong> meados do ano passado,<br />
o paulistano Attimo é a prova de<br />
que, para dar certo desde o primeiro<br />
dia de funcio<strong>na</strong>mento, um restaurante<br />
precisa ter no comando da cozinha alguém<br />
que tenha talento e intimidade<br />
com algumas das mais ricas culinárias<br />
existentes por aí, como a francesa e a italia<strong>na</strong>.<br />
Se, além dessas, tal ‘comandante’<br />
domi<strong>na</strong>r a fasci<strong>na</strong>nte e rica cozinha caipira,<br />
aquela do velho e bom fogão à lenha,<br />
então, n<strong>em</strong> se fala – é sucesso garantido.<br />
Muito b<strong>em</strong>. Jefferson Rueda (ex-Pomodori)<br />
é o chef que inventou a “cucci<strong>na</strong><br />
ítalo-caipira” do Attimo, restaurante que<br />
abriu <strong>em</strong> sociedade com os irmãos Fer<strong>na</strong>ndes,<br />
Marcelo e Ernesto Carlos, <strong>na</strong><br />
Vila Nova Conceição, <strong>em</strong> São Paulo, numa<br />
casa da década de 50, um belo projeto<br />
assi<strong>na</strong>do por David Libeskind, <strong>na</strong> Rua<br />
Diogo Giacomi, 341.<br />
Para fazer funcio<strong>na</strong>r numa casa um<br />
restaurante, adaptações <strong>na</strong> sua arquitetura<br />
se faz<strong>em</strong> necessárias. Com a casa da<br />
Diogo Giacomi não foi diferente, mas o<br />
fantástico é que, <strong>na</strong> adaptação, as características<br />
foram mantidas, como a lareira<br />
com espelho de época do salão principal<br />
e o cobogó de cerâmica branca que assegura<br />
ao bar um aconchegante e envidraçado<br />
espaço só seu que deixa ver, <strong>na</strong> lateral<br />
do prédio, uma ‘calçada’ com um jardim<br />
s<strong>em</strong> grama ou flores, mas repleta de<br />
pés de tomilho, manjericão, pimenteiras,<br />
tomateiros , erva-doce, berinjela, beterraba,<br />
carqueja e boldo<br />
É a “horta” de que Jefferson cuida<br />
com carinho, usa para compor os pratos<br />
do cardápio e, generoso, permite que a vizinhança<br />
nela se esbalde <strong>em</strong> colheitas diárias.<br />
Coisas de um rapaz que t<strong>em</strong> profundo<br />
respeito pela culinária que chama<br />
de caipira, da qual tomou conhecimento<br />
aos sete anos de idade, no interior de São<br />
Paulo, <strong>em</strong> São José do Rio Pardo, ajudando<br />
o pai, que cozinhava por hobby, vez
Fotos: Mauro Holanda<br />
por outra, num fogão à lenha, certamente.<br />
Perto dos 18 anos, o jov<strong>em</strong> saiu de<br />
Rio Pardo e, já seguro de sua vocação,<br />
foi estudar gastronomia no Se<strong>na</strong>c de<br />
Águas de São Pedro. Aos 20, foi-se <strong>em</strong>bora<br />
para São Paulo e, por seis anos, fez<br />
parte da equipe de Laurent Suaudeau,<br />
chef a qu<strong>em</strong> se refere como “o grande<br />
mestre”. Irrequieto, o aluno de Suaudeau,<br />
depois dessa experiência toda, ganhou<br />
concurso da Fispal, i<strong>na</strong>ugurou o<br />
Madeleine, <strong>em</strong> São Paulo, foi estagiar <strong>na</strong><br />
França, no Apicius, e frequentou por<br />
três meses o Cordon Bleu.<br />
Os irmãos Fer<strong>na</strong>ndo e Ernesto Carlos<br />
Fer<strong>na</strong>ndes com o chef Jefferson Rueda.<br />
Voltou para o Brasil com grande bagag<strong>em</strong><br />
culinária e parou por algum t<strong>em</strong>po<br />
<strong>na</strong> cozinha do Madeleine. Enquanto<br />
prestava consultoria para a criação de<br />
mais um restaurante (o bistrô italiano<br />
Pomodori), treinou para competir <strong>na</strong> copa<br />
do mundo da gastronomia, a Bocuse<br />
D’Or, <strong>em</strong> Lyon, <strong>na</strong> França. Após competir,<br />
<strong>na</strong> volta a São Paulo, i<strong>na</strong>ugurou o Pomodori<br />
e, bien sûr, assumiu sua cozinha<br />
de italia<strong>na</strong>s iguarias.<br />
Quase uma década depois, descobrir<br />
a “cozinha ítalo-caipira. “Deixei correr<br />
solto meu lado também ítalo-caipira”,<br />
conta, “e enquanto aguardava que ficasse<br />
pronto o Attimo fui para a cozinha do<br />
Do<strong>na</strong> Onça me inspirar e dividir um<br />
pouco o fogão com minha mulher, a<br />
chef Ja<strong>na</strong>i<strong>na</strong> Rueda”. No dia 31 de julho<br />
do ano passado, o Attimo ficou pronto,<br />
ganhou o título de “<strong>em</strong>baixador da Dom<br />
Perignon” e abriu suas portas com cardápios<br />
de cachaça, de bar e de comida, que<br />
t<strong>em</strong> <strong>em</strong> anexo uma pági<strong>na</strong> chamada “Sugestão<br />
do Jeff” e uma caprichada e extensa<br />
carta de vinhos.<br />
O cardápio passa por mudanças s<strong>em</strong>pre,<br />
mas mantém firmes e seguros seus<br />
carros-chefe: pamonha com codeguim e<br />
fonduta de Taleggio D.O.P; ravióli surpresa<br />
de galinha caipira e quiabo ao molho do<br />
assado (incrível ravióli duplo, de um lado<br />
a galinha e do outro o quiabo); arroz<br />
agulhinha com galinha d’Angola, milho<br />
verde e queijo meia-cura; carne de porco<br />
à moda caipira <strong>em</strong> quatro versões (medalhão<br />
com bacon, linguiça da casa, pancetta<br />
e codeguim); galinha cozida lentamente<br />
ao molho de Rio Pardo (com<br />
morcila) e polenta italia<strong>na</strong> cr<strong>em</strong>osa; cabrito<br />
à caçadora “ferventa e frita” com<br />
nhoque de batata doce assada e paleta<br />
de cordeiro com tagliatelle fresco ao molho<br />
do assado e legumes da terra.<br />
A fusão da culinária italia<strong>na</strong> com a<br />
caipira está presente, ainda, nos pães<br />
(italiano, de torresmo, de batata-doce e<br />
de batata-baroa) e <strong>na</strong>s sobr<strong>em</strong>esas (cannoli<br />
e canudinho – recheio de ricota,<br />
doce de leite aerado e mousse de coco e<br />
o pudim de leite – que concorre ao prêmio<br />
de melhor pudim de São Paulo e<br />
v<strong>em</strong> servido com algodão doce e chantilly<br />
de caramelo).<br />
Os queijos servidos no Attimo são<br />
brasileiros e regio<strong>na</strong>is. O molho de pimenta<br />
e o vi<strong>na</strong>grete que acompanham os<br />
excepcio<strong>na</strong>is petiscos do bar (pasteizinhos,<br />
coxinhas, canudinhos de massa de<br />
pastel com recheio de cr<strong>em</strong>e de camarão,<br />
bolinhos de espi<strong>na</strong>fre, ca<strong>na</strong>pés de bife a<br />
cavalo, biscoitinhos de cebola, mini<br />
hambúrgueres de carne cozida <strong>em</strong> baixa<br />
t<strong>em</strong>peratura, ovos de codor<strong>na</strong> fritos,<br />
pães de queijo recheados com linguiça<br />
defumada), são feitos pelo chef Jeff, com<br />
perdão pelo trocadilho, que, porém, é<br />
do ‘gosto’ de Jefferson Rueda.<br />
Attimo<br />
Rua Diogo Jácome, 341m, Vila Nova<br />
Conceição, São Paulo – (61) 5054.9999.<br />
11
água <strong>na</strong> boca<br />
Divulgação<br />
A fotografia <strong>na</strong> gastronomia:<br />
das caver<strong>na</strong>s à era digital<br />
12<br />
Por Henrique Ferrera *<br />
Dia desses, eu estava folheando<br />
uma revista especializada <strong>em</strong> gastronomia<br />
quando me deparei<br />
com uma pintura rupestre num anúncio<br />
de turismo. Ao observar aquela imag<strong>em</strong>,<br />
me surpreendi pensando: caramba, minha<br />
profissão é muito antiga! Desde a préhistória<br />
o hom<strong>em</strong> v<strong>em</strong> registrando e contando<br />
sua história por meio das imagens.<br />
E a primeira manifestação artística da humanidade<br />
no campo das imagens foi a<br />
pintura rupestre que reproduzia, entre<br />
outras, ce<strong>na</strong>s de caçadas, de animais abatidos<br />
ou do próprio ato de se alimentar.<br />
Ao longo da história, imagens de comida<br />
s<strong>em</strong>pre foram registradas com paixão<br />
pela humanidade. De uma forma ou<br />
de outra, todas as civilizações tiveram re-<br />
gistros pictóricos que representass<strong>em</strong><br />
seus costumes alimentares. Em cada época<br />
os artistas interpretaram de forma diferente<br />
esses costumes, independent<strong>em</strong>ente<br />
da técnica utilizada. Ce<strong>na</strong>s de<br />
plantações, de arranjos com frutas ou de<br />
reuniões familiares nos davam uma noção<br />
de como era a relação entre o hom<strong>em</strong>,<br />
a arte e seu meio de vida <strong>na</strong> época<br />
daquele registro.<br />
Na era moder<strong>na</strong> não foi diferente.<br />
Todos os grandes mestres da pintura tiveram,<br />
entre suas obras, “fotografias” de<br />
comida. Muitas obras com esse t<strong>em</strong>a foram<br />
criadas no período da Re<strong>na</strong>scença,<br />
movimento <strong>na</strong>scido <strong>na</strong> Itália do Século<br />
XIV sob forte influência de mudanças<br />
sociais, culturais e religiosas, quando foram<br />
desenvolvidas técnicas e regras de<br />
proporção e composição que ainda hoje<br />
serv<strong>em</strong> de referência para fotógrafos,<br />
pintores e artistas visuais.<br />
Mas foi o Impressionismo um dos<br />
movimentos artísticos que mais recorreram<br />
à alimentação como t<strong>em</strong>ática. Nascido<br />
<strong>na</strong> Europa do Século XIX, o Impressionismo<br />
representou uma importante<br />
quebra de paradigmas no campo das artes,<br />
batendo de frente com outro movimento<br />
que ia <strong>em</strong> direção oposta, o Realismo,<br />
<strong>em</strong> que os artistas buscavam a representação<br />
fiel da realidade.<br />
Ainda nos dias atuais há artistas que<br />
recorr<strong>em</strong> a técnicas de pintura <strong>em</strong> que<br />
ce<strong>na</strong>s de alimentos são reproduzidas com<br />
tamanho realismo que as obras chegam a<br />
ser confundidas com fotografia. É o Hiperrealismo,<br />
rico <strong>em</strong> detalhes e texturas, como<br />
<strong>na</strong>s obras do al<strong>em</strong>ão Tjalf Spar<strong>na</strong>ay ou nos<br />
reflexos do italiano Luigi Benedicenti.
Fotografia de gastronomia, desenho rupestre,<br />
Impressionismo? Você deve estar se perguntando:<br />
qual a relação entre tudo isso? Total.<br />
Um foi base para o outro, que foi a base do<br />
outro e que foi referência para outros tantos.<br />
Desde a textura, o contraste e a luz do Impressionismo,<br />
a composição meticulosa da Re<strong>na</strong>scença<br />
e o olhar apurado de seus grandes mestres,<br />
até a observação sobre como é tratado o<br />
alimento <strong>na</strong> cultura oriental, onde não somente<br />
o sabor, mas também a estética <strong>na</strong> apresentação<br />
dos alimentos é levada muito a sério.<br />
Gastronomia é mais do que comida, é cultura,<br />
e todo esse conhecimento, quando b<strong>em</strong><br />
assimilado, cria parâmetros de produção, composição<br />
e ilumi<strong>na</strong>ção que são a base criativa, as<br />
referências para que profissio<strong>na</strong>is da fotografia<br />
gastronômica possam realizar um trabalho consistente.<br />
De um modo ou de outro, a gastronomia<br />
s<strong>em</strong>pre esteve ligada à história do hom<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />
sua busca incessante pelos prazeres dos sabores.<br />
Recent<strong>em</strong>ente a cultura da gastronomia experimentou<br />
um boom, e muito disso se deve à popularização<br />
das câmeras digitais e à enxurrada de<br />
fotos publicadas diariamente <strong>na</strong> rede mundial.<br />
Para se ter uma ideia, cerca de dez milhões de<br />
fotografias são postadas s<strong>em</strong>a<strong>na</strong>lmente <strong>na</strong> web<br />
com a hashtag food, e mais outras milhares são<br />
postadas pelos recentíssimos instagramers, ou<br />
foodstagramers, como preferir<strong>em</strong>, que não resist<strong>em</strong><br />
ao impulso de, mesmo estando com muita<br />
fome, fotografar seu prato antes de devorá-lo.<br />
B<strong>em</strong> ou mal, com maior ou menor qualidade,<br />
a popularização de fotos de comida aproxima<br />
as pessoas da gastronomia e esse conhecimento<br />
as tor<strong>na</strong> mais exigentes e, por consequência,<br />
aumenta muito a responsabilidade e o<br />
nível de qualidade exigidos do fotógrafo (profissio<strong>na</strong>l),<br />
cuja função é transmitir ao leitor a<br />
sensação de identificação com aquele produto<br />
ou marca, contextualizando-o cultural e socialmente<br />
por meio de imagens atraentes e b<strong>em</strong><br />
elaboradas, de modo que ele possa “sentir” o<br />
sabor, a textura e o cheiro daquele alimento.<br />
B<strong>em</strong>, lá se vão 50 mil anos desde os primeiros<br />
registros e cá estamos, humildes pintores da<br />
escola de Niépce, <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos pós Henry Tarbot,<br />
armados com nossas velhas, ou novas, daguerreótipas<br />
guerreiras digitalíssimas, inspirados <strong>na</strong>s<br />
coloridas composições de Paul Gauguin, <strong>na</strong> luz<br />
de Édouard Manet e <strong>na</strong>s cores fortes de Paul<br />
Cézanne, colorindo retângulos <strong>em</strong> branco com<br />
a mesma paixão dos artistas pré-históricos, fazendo<br />
da fotografia de gastronomia a mais pura<br />
arte de provocar os sentidos e encantar.<br />
Cook with food, do belga Frans Snyders (1630)<br />
Salmon, do pintor modernista francês Édouard Manet (1868)<br />
Fotos: Divulgação<br />
* Fotógrafo e artista plástico.<br />
Camarão à moranga, do restaurante Ares do Brasil (2013)<br />
13
água <strong>na</strong> boca<br />
Fotos: Divulgação<br />
Recanto italiano<br />
14<br />
Por Lúcia Leão<br />
Pergunte ao Google e ele responde:<br />
Barolo é uma comunidade da Província<br />
de Cuneo, região do Pi<strong>em</strong>onte,<br />
no noroeste da Itália, onde se<br />
produz “o rei dos vinhos e o vinho dos<br />
reis”: intenso, vermelho profundo, com<br />
perfume complexo, grande corpo e taninos<br />
bastante persistentes... elegante e de<br />
grande perso<strong>na</strong>lidade.<br />
Isso lá no Velho Mundo. Aqui, <strong>na</strong><br />
novíssima Brasília, Barolo é um pequeno<br />
recanto no Lago Sul, também elegante e<br />
de grande perso<strong>na</strong>lidade, onde não se<br />
produz, mas consome-se aquele, especialíssimo,<br />
e outros tantos vinhos das melhores<br />
cepas das principais regiões vinícolas<br />
ao redor do mundo. Come-se a boa<br />
e tradicio<strong>na</strong>l comida italia<strong>na</strong>, suavizada<br />
<strong>em</strong> gorduras e carboidratos – como exig<strong>em</strong><br />
os t<strong>em</strong>pos modernos – e brinda-se<br />
ao que a vida pode ter de melhor.<br />
O restaurante se chama Barolo Cuci<strong>na</strong><br />
e Vino e funcio<strong>na</strong> desde o fim do<br />
ano passado onde, por muito t<strong>em</strong>po, foi<br />
o Ciello. Os novos proprietários assumiram<br />
o local com a proposta de oferecer o<br />
melhor custo-benefício da cidade, apostando<br />
cada um <strong>em</strong> sua expertise: Rogério<br />
Aguiar, a de gastrônomo, com dez anos<br />
de estudos <strong>na</strong> Espanha e experiências de<br />
trabalho <strong>em</strong> algumas das melhores cozinhas<br />
dos Estados Unidos, como as do<br />
Olive Garden e do Ruby Tuesday, de<br />
Boston; Evandro Alves, a de enólogo, formado<br />
ao longo de 20 anos de trabalho <strong>na</strong><br />
Portofino, primeira importadora e distribuidora<br />
de bebidas de Brasília, reconhecida<br />
como uma das grandes propulsoras<br />
do consumo do bom vinho <strong>na</strong> cidade.<br />
“A gente diz que ainda não sabe se<br />
<strong>somos</strong> um bom restaurante com uma<br />
grande adega ou o contrário, uma boa<br />
adega que também serve comida”, brinca<br />
Rogério. O fato é que a carta de vinhos<br />
oferece mais de 100 rótulos das<br />
melhores procedências, capaz de harmonizar<br />
qualquer cardápio e atender a todos<br />
os gostos, com preços que variam de<br />
modestos R$ 9 pela taça (moscatel Falernia,<br />
do Chile, indicado para acompanhar<br />
sobr<strong>em</strong>esas) a faustosos R$ 4.900<br />
pela garrafa do francês Château Mouton<br />
Rotschild, um Bordeaux de Pauillac,<br />
safra 1988. Mas a média dos clientes –<br />
entre eles muitos políticos e juristas hoje<br />
içados à condição de perso<strong>na</strong>lidades públicas<br />
– opta pelos intermediários e, talvez<br />
inspirados pelo nome da casa, dão<br />
preferência aos italianos. Entre eles o<br />
Citto, da Tosca<strong>na</strong>, produto orgânico e<br />
com indicação geográfica, oferecido a<br />
b<strong>em</strong> razoáveis R$ 77.<br />
Ah, sim, a cozinha! De lá v<strong>em</strong> o cardápio<br />
herdado basicamente do Ciello e<br />
ainda sob responsabilidade da mesma<br />
chef Enilde Fagundes. Só que hoje ela divide<br />
a função com Joelson Pereira, que<br />
trabalhou oito anos no restaurante Universal<br />
com a chef Mara Alckmin e agora<br />
ajuda Enilde a “atualizar” as receitas tradicio<strong>na</strong>is<br />
de massas, risotos, grelhados e<br />
pescados, especialmente reduzindo a<br />
quantidade de calorias dos pratos. “Essa<br />
é uma preocupação geral e uma exigência<br />
dos consumidores, mesmo dos que<br />
não quer<strong>em</strong> se privar do prazer da boa<br />
mesa”, explica Rogério Aguiar.<br />
Para unir cozinha e adega, o Barolo<br />
elaborou um menu-degustação com entrada,<br />
dois pratos quentes e sobr<strong>em</strong>esa,<br />
harmonizados com quatro tipos de vinhos,<br />
oferecido ao preço de R$ 100. E<br />
criou dois menus especiais para o Dia das<br />
Mães: filé mignon com risoto de funghi<br />
porcini e filé de linguado com musseline<br />
de batata baroa, ambos ao preço de R$ 55<br />
e com direito a uma taça de champanhe.<br />
Mas atenção, porque a casa é peque<strong>na</strong><br />
(70 lugares). Por isso, é recomendável<br />
fazer reservas!<br />
Barolo Cuci<strong>na</strong> e Vino<br />
QI 9/11 do Lago Sul – Bloco B – Loja 18<br />
(3364.5655). De 3ª a sábado, das 12 às 16h<br />
e das 19 às 24h; domingo, das 12 às 16h.
PICADINHO<br />
Divulgação<br />
ovelha; foie gras com sorbet de manga e<br />
redução de cabernet e mix de alcaparras<br />
e milho salgado; ojo de bife com batatas<br />
confitadas e redução de morcilla e<br />
chimichurri; pre post sorbet de erva mate<br />
e limão; arroz com leite tostato e sorvete<br />
de doce de leite. Como não poderia<br />
deixar de ser, Buquero sugere a harmonização<br />
dos pratos com vinhos argentinos.<br />
Divulgação<br />
No clima da Copa<br />
A pizzaria Vila Milagro, da 116 Norte,<br />
acaba de lançar um cardápio de pizzas<br />
(acima) feitas com ingredientes típicos<br />
dos países que vão disputar a Copa das<br />
Confederações a partir de 15 de junho. A<br />
brasileira t<strong>em</strong> como principal ingrediente<br />
a carne seca. A do nosso adversário no<br />
jogo de abertura da Copa – o Japão –<br />
leva shimeji, salmão e molho teriaki.<br />
A italia<strong>na</strong>, escarola, gorgonzola e<br />
parmesão. E por aí afora. Os preços<br />
variam de R$ 29 a R$ 61.<br />
Nova cozinha argenti<strong>na</strong><br />
O BierFass do Pontão do Lago Sul realiza,<br />
de 22 a 25 de maio, o Festival Gastronômico<br />
Sabores da Nova Cozinha Argenti<strong>na</strong>.<br />
Qu<strong>em</strong> v<strong>em</strong> pilotar as caçarolas é um<br />
dos mais renomados chefs portenhos,<br />
Martin Baquero (foto), que criou um<br />
menu de sete etapas: salmão d<strong>em</strong>i cuit<br />
com notas cítricas; trilhas do atlântico<br />
(uma espécie de peixe) mari<strong>na</strong>das <strong>em</strong><br />
azeite de oliva com pimentões Calahorra;<br />
mollejas de cordeiro caramelizado,<br />
melaço, quinoa cr<strong>em</strong>osa e queijo de<br />
Divulgação<br />
Sandubas portugueses...<br />
Bifa<strong>na</strong>, Prego, Francesinha e Sanduíche<br />
da Vovó. Assim foram batizadas as quatro<br />
versões de sanduíches à moda portuguesa<br />
que passaram a figurar no cardápio do<br />
Antiquarius Grill (Espaço Gourmet do<br />
ParkShopping). “Trabalhamos <strong>em</strong> cima<br />
de receitas origi<strong>na</strong>is de Portugal, com<br />
pequenos toques autorais para deixar<br />
os sanduíches mais próximos ao paladar<br />
brasileiro”, explica o restaurateur Manuel<br />
Pires, o Manuelzinho. Ao preço de R$ 27<br />
cada, os sanduíches pod<strong>em</strong> ser degustados<br />
com espumantes, vinhos, chope ou<br />
sucos.<br />
... e sandubas <strong>na</strong>turais<br />
Além do tradicio<strong>na</strong>l bufê de comida<br />
<strong>na</strong>tural, o Green’s (302 Norte e 202 Sul)<br />
oferece <strong>em</strong> seu cardápio sanduíches<br />
saudáveis como o Indiano (fatias de tofu<br />
grelhado com shoyu, cebolas caramelizadas,<br />
pasta de grão de bico e mix de folhas<br />
<strong>na</strong> baguete) e o Campesino (fatias de<br />
abobrinha grelhadas no azeite, azeito<strong>na</strong>s<br />
pretas, lâmi<strong>na</strong>s de queijo e pasta especial<br />
também <strong>na</strong> baguete). Para acompanhar,<br />
uma grande variedade de sucos <strong>na</strong>turais<br />
e smoothies.<br />
Divulgação<br />
da italia<strong>na</strong> Talenti, que produz o famoso<br />
Brunello di Montalcino. A partir das 19<br />
horas <strong>na</strong> loja da Grand Cru no Lago Sul<br />
(QI 9/11, Conjunto L). Preço: R$ 220.<br />
Sob nova direção<br />
Não foi só de donos que mudou o<br />
Chiquita Baca<strong>na</strong>. Agora sob o comando<br />
dos <strong>em</strong>presários Braulio Diniz, Henrique<br />
Andrade, Gustavo Albuquerque e Paulo<br />
Benite, o badalado boteco da 209 Sul<br />
ganhou nova decoração, assi<strong>na</strong>da pelos<br />
arquitetos Tony Malheiros e Álvaro Abreu<br />
e pelo paisagista Daniel Mendes, e dois<br />
novos drinques <strong>em</strong> seu cardápio,<br />
adaptados aos rigores da Lei Seca, ambos<br />
a R$ 13,90. Um leva suco de manga,<br />
laranja, maracujá, leite condensado e<br />
cr<strong>em</strong>e de leite; outro, sucos de pêssego<br />
e maracujá, sorvete de cr<strong>em</strong>e, leite<br />
condensado e cr<strong>em</strong>e de leite. Para qu<strong>em</strong><br />
persistir nos alcoólicos está disponível<br />
uma van que busca e deixa o cliente<br />
<strong>em</strong> casa. Outro atrativo são os drinques<br />
para mulheres: o Cura TPM da foto<br />
abaixo (vodka, licor de chocolate e<br />
chantily) custa R$ 14,90 e o Beijo <strong>na</strong><br />
Boca (champagne, suco de morango<br />
e vodka) sai por R$ 16,90.<br />
Rômulo Juracy<br />
16<br />
Tasting Grand Cru<br />
Será neste 16 de maio a segunda edição<br />
da Tasting Grand Cru Brasília, com a<br />
participação das vinícolas chile<strong>na</strong>s Altair<br />
e Matetic (pioneira <strong>na</strong> produção de vinho<br />
orgânico no Chile), da argenti<strong>na</strong> Cobos e
GARFADAS & GOLES<br />
Luiz Rece<strong>na</strong><br />
lrece<strong>na</strong>@hotmail.com<br />
Sobre carnes<br />
e paixões<br />
A carne talvez seja a mais fasci<strong>na</strong>nte das paixões. Dentre todas elas, as paixões, a carne sobressai por matreira, ardilosa, de<br />
muitas faces e múltiplos sabores. É atraente e sedutora. Nas pradarias do mundo, <strong>na</strong>s coxilhas do Rio Grande, nos novos<br />
mercados do Centro-Oeste brasileiro, num restaurante de Brasília ou numa churrasqueira do Lago Norte. Ela seduz pelo<br />
pedaço ou pelo inteiro. Sai do simples para o sofisticado, do mundo animal para o mesmo mundo animal, pois o bicho,<br />
zoom, se transforma <strong>em</strong> gente, o zoom politikom, o animal bípede que pensa ou acha que isso faz. E assim vamos vivendo<br />
de amor, nós e todas as carnes, nós e todas as nossas paixões. Os amigos, por ex<strong>em</strong>plo. Sabores do Brasil e da saudade<br />
levaram o colunista até a capital de todos os Brasis. Nela, e ao sabor primeiro dos reencontros, velhos abraços l<strong>em</strong>braram<br />
car<strong>na</strong>vais id<strong>em</strong>. Na ressaca do feriado, o retorno a uma <strong>dupla</strong> alegria: amigos e carnes.<br />
Lago diferente<br />
Dos muitos lugares que conheci e vivi <strong>em</strong> Brasília, o Lago<br />
Norte s<strong>em</strong>pre me pareceu um “primus inter paris”. O colunista<br />
não é advogado, mas adora uma citação <strong>em</strong> latim. Quero<br />
dizer que o Lago Norte é o primeiro, o diferente, único <strong>em</strong><br />
seu estilo, plural e d<strong>em</strong>ocrático. E onde mora uma plêiade de<br />
amigos velhos e novos. Então nos encontramos <strong>na</strong> QI-10, as<br />
carnes, as paixões e eu. O colunista armou a própria cafua, ou<br />
armadilha, para os mais novos: por onde começar, por quais<br />
carnes ou paixões?<br />
Sábia voz<br />
Da experiência e do t<strong>em</strong>po veio o conselho de iniciar pelo alimento.<br />
Beef Passion é o nome da <strong>em</strong>presa de Ricardo Sacris,<br />
que produz o Kobe Passion, um boi fruto do cruzamento entre<br />
o Vaguil japonês e o Red Angus do reino inglês. Carnes<br />
e paixão por elas. Desfilaram, pela ord<strong>em</strong>: asado de tira e ojo<br />
de bife, cortes de nome argentino encontrados no restaurante<br />
Madrid. Supimpas! “De cortar com colher”, no dizer que<br />
aprend<strong>em</strong>os muito cedo <strong>na</strong> fronteira gaúcha. Um vacío/<br />
fraldinha, de Black Angus e também do Madrid, fechou<br />
o festim. Acompanhado pela maionese do Ar<strong>na</strong>ldo, da<br />
Galeteria Gaúcha. Dois craques, ele e a maionese.<br />
As paixões<br />
A paixão pelos amigos começa com Débora e Márcio, anfitriões,<br />
faz home<strong>na</strong>g<strong>em</strong> ao doutor Nenê, nosso convidado<br />
especial; passa por Nástia e Carlos, um casal <strong>russo</strong>-brasileiro,<br />
e Maria e Kátia, duas filhas princesas deles. E também por<br />
Rozane, Priscila, Bruno, Flávio e o primogênito articulador<br />
de tudo o que executamos. Sim: o doutor Nenê t<strong>em</strong> a ver<br />
com c<strong>em</strong> por cento disso e mais um pouco, pois é o maior<br />
especialista <strong>em</strong> carne/carnes que conheço, além de atender<br />
pelo sobrenome Paixão. Os trocadilhos e os bons e maus<br />
pensamentos daí derivados têm raízes profundas no t<strong>em</strong>a<br />
carne, carnes e as paixões por elas...<br />
Goles e amigos<br />
Os goles do nosso festim foram de Stella e Skol, precedidas<br />
por cáipis de lima com Smirnoff. Tequilas, 43 e conhaque<br />
passaram igualmente no pedaço. Antes, porém, mais um<br />
registro de saudade, alegria e sólida amizade: os primeiros<br />
goles do dia foram com a Turma do Futebol, que, ociosa e<br />
quase toda aposentada, home<strong>na</strong>geava o Dia do Trabalhador<br />
com um bom churrasco. Do<strong>na</strong> Lu e Paulo comandando o<br />
espetáculo. Como é bom voltar um pouquinho e rever a todos,<br />
dos dois filhos aos muitos amigos. Gracias a la vida! Salud!<br />
18
PÃO & VINHO<br />
ALEXANDRE FRANCO<br />
pao&vinho@agenciaalo.com.br<br />
Olé!<br />
A expressão é certamente uma marca registrada das<br />
paragens espanholas. Lá estive, pela primeira vez, nestas<br />
últimas duas s<strong>em</strong>a<strong>na</strong>s e, é claro, entre outros passeios,<br />
visitando a principal região vinícola do país e duas bodegas<br />
extraordinárias no coração de Ribera del Duero. E posso<br />
garantir que, se não pude aplicar o famoso “olé” às<br />
tradicio<strong>na</strong>is touradas, pois nestas não tive a oportunidade<br />
de estar, muito o fiz ao degustar os seus maravilhosos<br />
caldos, não só da fantástica Ribera del Duero, mas também<br />
de Rioja, Bierzo, Rias Baixas e tantas outras.<br />
Iniciei os trabalhos, logo no dia de minha chegada, com<br />
um almoço no melhor e mais antigo restaurante de Segóvia,<br />
uma cidade com construções roma<strong>na</strong>s, <strong>em</strong> especial um<br />
belíssimo aqueduto, ao pé do qual ficava o Meson Casa<br />
Cândido. Foi onde comi um tradicio<strong>na</strong>l Cocinillo, um leitão<br />
de leite assado de modo s<strong>em</strong>elhante ao da Bairrada, <strong>em</strong><br />
Portugal, muito saboroso e ótimo para acompanhar a<br />
garrafa de Viña Ardanza Reserva, um dos melhores Rioja Alta<br />
que conheço. Estava tudo excelente, e aí foi o primeiro olé!<br />
Os dias seguintes foram <strong>em</strong> Valladolid, a capital de<br />
Castella y Leon, aliás a primeira capital de Espanha, onde<br />
os reis católicos realizaram sua unificação. O coração de<br />
Ribera Del Duero, já pelo que representa, <strong>em</strong>polga qualquer<br />
enófilo que por lá passe. Rodar por suas estradas é observar<br />
por toda sua extensão vinhedos e bodegas a prometer<br />
muitos e ótimos vinhos. Foram três as bodegas visitadas:<br />
Arzuaga, Aalto e Cepa 21. Todas de alta qualidade, com<br />
instalações novas ou renovadas, com toda a tecnologia<br />
necessária para a perfeita vinificação das suas melhores<br />
uvas, <strong>na</strong> sua grande maioria T<strong>em</strong>pranillo.<br />
A Aalto t<strong>em</strong> sua bodega recém-construída nos melhores<br />
padrões definidos pelo seu enólogo, que por muito anos<br />
vinificou <strong>na</strong> Vega Sicília, certamente o maior nome do<br />
mundo do vinho espanhol. Produz ape<strong>na</strong>s dois vinhos,<br />
ambos excelentes: o Aalto e seu top, o Aalto PS. Ambos<br />
100% T<strong>em</strong>pranillo de vinhedos de mais de 80 anos<br />
localizados a uns 100 km dali, enquanto aguardam a<br />
produção de seus novos vinhedos plantados no local. O<br />
Aalto já mais pronto e o PS pedindo mais t<strong>em</strong>po de garrafa,<br />
ambos da safra 2010, pois a vinícola comercializa 100% das<br />
suas safras e não dispõe, portanto, de garrafas de safras<br />
anteriores. Ambos de cor ruby intenso com reflexos violetas,<br />
<strong>na</strong>riz de frutas negras maduras com toques de baunilha,<br />
chocolate e café e boca b<strong>em</strong> estruturada de bons taninos<br />
e acidez gastronômica. No PS acrescenta-se notas de coco,<br />
um elegante tostado, húmus e uma certa mineralidade.<br />
Na Cepa 21, moderníssima bodega à qual se integra um<br />
restaurante de primeiríssimo nível, preferimos degustar seu<br />
vinho top, o Malabrigo 2009, junto ao menu degustación.<br />
100% T<strong>em</strong>pranillo, de cor ruby intenso e notas de frutas<br />
negras confitadas com notas de torrefação e uma boca<br />
b<strong>em</strong> estruturada e já bastante redonda.<br />
Fi<strong>na</strong>lmente, <strong>na</strong> Arzuaga fiz<strong>em</strong>os a festa. Olé <strong>em</strong> dobro<br />
por ali. Visitamos seus vinhedos <strong>em</strong> altitude superior aos<br />
900 metros, seus campos de caça com criação de javalis e<br />
cervos, sua casa-sede, habitada pelos proprietários, <strong>na</strong> qual<br />
se preserva uma árvore de mais de 1.000 anos no jardim,<br />
além da bodega <strong>em</strong> sí, do hotel e do restaurante.<br />
Degustamos por lá mais de dez vinhos, todos muito bons,<br />
dos quais realço um magnífico Chardon<strong>na</strong>y e seu Gran<br />
Reserva 2001. Este último exuberante, digno de seu título<br />
de Gran Reserva. S<strong>em</strong> ostentar o título de top da casa,<br />
é, <strong>na</strong> minha opinião, seu melhor caldo. Neste, além da<br />
T<strong>em</strong>pranillo cab<strong>em</strong> 10% de Cabernet Sauvignon. De cor<br />
ruby profundo, mas já com leves toques acastanhados,<br />
<strong>na</strong>riz complexo com certa mineralidade, frutas negras<br />
maduras, toque amadeirado e nuances de tabaco,<br />
chocolate e baunilha. Na boca explode os sentidos<br />
com maciez e elegância. Vinho extraordinário.<br />
De fato, para fechar sou obrigado a repetir: olé!<br />
19
DOIS ESPRESSOS E A CONTA<br />
cláudio ferreira<br />
claudioferreira_64@hotmail.com<br />
Ceilândia ferve dia e noite!<br />
Descobrir lugares novos para comer é s<strong>em</strong>pre<br />
agradável. A partir de dicas de amigos que trabalham <strong>em</strong><br />
Ceilândia, desvendei, <strong>na</strong>s últimas s<strong>em</strong>a<strong>na</strong>s, uma área da<br />
Avenida Hélio Prates, no centro da cidade, que poderia ser<br />
chamada “quadrilátero da fast food”. Além dos já<br />
conhecidos Subway e Giraffas, encontrei dois achados: o<br />
Rhelk’s e o QG. Os concorrentes são separados por ape<strong>na</strong>s<br />
dois blocos de loja e oferec<strong>em</strong> combi<strong>na</strong>ções para qu<strong>em</strong><br />
está apressado, mas não quer necessariamente trocar o<br />
almoço por um sanduíche.<br />
A avenida t<strong>em</strong> movimento intenso e barulho –<br />
inclusive dos carros de som que anunciam as iguarias dos<br />
fast food. Habitantes de outras cidades pod<strong>em</strong> usar o<br />
metrô para chegar ao local: o quadrilátero fica b<strong>em</strong> perto<br />
da estação Ceilândia Centro. Para qu<strong>em</strong> for de carro, t<strong>em</strong><br />
estacio<strong>na</strong>mento <strong>na</strong> porta.<br />
O logotipo com um simpático avião me atraiu para o<br />
Rhelk’s. É um fast food t<strong>em</strong>ático. O avião está presente,<br />
por ex<strong>em</strong>plo, no uniforme dos atendentes, que se vest<strong>em</strong><br />
de pilotos de aero<strong>na</strong>ves. O cardápio está recheado de<br />
alusões ao mundo “aéreo”. Os sanduíches se chamam<br />
Turbi<strong>na</strong>, Hércules, 14 Bis, Galeão e por aí vai. A<br />
criatividade atrai um público diversificado: dos alunos e<br />
professores do campus da UnB <strong>na</strong> Ceilândia aos<br />
comerciantes e comerciários das redondezas, todos com<br />
os uniformes das lojas <strong>em</strong> que trabalham.<br />
O texto de apresentação do Rhelk’s no cardápio se<br />
gaba do binômio qualidade + quantidade. E a comida é<br />
farta mesmo. Conheço mulheres adultas que prefer<strong>em</strong> o<br />
menu kids do local com medo de desperdiçar comida. O<br />
restaurante inova ao investir também <strong>na</strong> comunidade<br />
nordesti<strong>na</strong> da Ceilândia. T<strong>em</strong> uma pági<strong>na</strong> dedicada à<br />
carne seca, que pode virar recheio de crepe ou de pizza.<br />
Boa estratégia de marketing!<br />
O QG (que t<strong>em</strong> o subtítulo Jeitinho Caseiro colado à<br />
sigla) <strong>na</strong>sceu há mais de 30 anos <strong>em</strong> Goiás, primeiro<br />
como Quitanda Goia<strong>na</strong> (daí as duas letras), depois<br />
especializado <strong>em</strong> pastéis, até apostar no fast food variado.<br />
Ambiente com ar condicio<strong>na</strong>do e várias TVs de tela grande<br />
ligadas (graças a Deus com a legenda oculta no lugar do<br />
volume alto de outros estabelecimentos) compet<strong>em</strong> de<br />
igual para igual com o Rhelk’s.<br />
O diferencial? A comida. A quantidade não é<br />
gigantesca como a do concorrente, mas a qualidade é<br />
muito boa e a diversidade também. Os pastéis da orig<strong>em</strong><br />
do QG continuam no cardápio – uma porção de três mini<br />
pastéis doces é uma sobr<strong>em</strong>esa irresistível. O bom<br />
atendimento fideliza os clientes e o público não para de<br />
entrar <strong>na</strong> hora do almoço.<br />
Não são somente os estabelecimentos de grande porte<br />
que faz<strong>em</strong> sucesso <strong>na</strong>s redondezas. Um morador vizinho<br />
da área comercial dá a dica: a pedida da noite é chegar<br />
<strong>em</strong> frente ao Relk’s e procurar uma barraquinha de<br />
cachorro-quente. A pièce de résistance é um cachorroquente<br />
de estrogonofe que, diz<strong>em</strong> as boas línguas, é uma<br />
bomba alimentar. Qu<strong>em</strong> tiver disposição e estômago que<br />
se habilite!<br />
Ceilândia é um mundo, 400 mil habitantes que<br />
d<strong>em</strong>andam muitos bares e restaurantes. Meus amigos<br />
moradores do pedaço são cheios de sugestões: do Beer<br />
House, bar que fica a poucos metros do QG, até a Feira da<br />
Ceilândia, para qu<strong>em</strong> curte as comidas nordesti<strong>na</strong>s. Ainda<br />
tenho muito chão para desvendar e, com certeza, vale<br />
outras incursões por lá!<br />
20
dia & noite<br />
alegrecortejo<br />
O Cirque de Soleil volta a Brasília <strong>em</strong> 2 de agosto para apresentar<br />
Corteo, espetáculo já visto por mais de 6,5 milhões de pessoas <strong>em</strong><br />
40 cidades de oito países. A megaprodução se desenrola durante<br />
o funeral de um palhaço e t<strong>em</strong> direção do italiano Daniele Pasca,<br />
que já morou no México e se impressionou com os funerais de lá –<br />
grandes encontros de família que acabam virando festa. Duzentos<br />
profissioo<strong>na</strong>is de 25 <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lidades compõ<strong>em</strong> a trupe do circo<br />
ca<strong>na</strong>dense, sendo cinco brasileiros – quatro técnicos e a gi<strong>na</strong>sta<br />
paulista Camila Comin, no papel do anjo que está ao lado do palhaço<br />
no funeral. A tenda do circo será montada <strong>na</strong> área exter<strong>na</strong> do Ginásio<br />
Nilson Nelson e os ingressos custam entre R$ 95 e R$ 440 (já à venda<br />
<strong>em</strong> www.corteobrasil.com.br e no ParkShopping (piso superior).<br />
Divulgação<br />
24<br />
acordeoneclarineta<br />
Daniel Mille é um acordeonista<br />
apontado pela crítica como “um<br />
monstro sagrado que precisa ser<br />
visto no palco”. Há alguns anos,<br />
Mille se apresenta também ao<br />
lado de Stéphane Chausse,<br />
clarinetista mais jov<strong>em</strong>. Os dois<br />
farão turnê no Brasil – e começam<br />
por aqui, neste 16 de maio, às 20<br />
horas, <strong>na</strong> Sala Martins Pe<strong>na</strong> do<br />
Teatro Nacio<strong>na</strong>l. O show faz parte<br />
da programação da S<strong>em</strong>a<strong>na</strong> da<br />
Europa, organizada pela rede<br />
das Alianças Francesas. Mille é<br />
considerado também “um amante<br />
das melodias,” por seu poder de<br />
<strong>em</strong>ocio<strong>na</strong>r a plateia, de fazê-la<br />
viajar no pensamento através<br />
da música. Depois de Brasília, o<br />
show segue para Belo Horizonte,<br />
Porto Alegre, Florianópolis, Rio<br />
de Janeiro, Curitiba, Recife, João<br />
Pessoa e Fortaleza, entre outras<br />
capitais brasileiras. Entrada<br />
franca, sujeita à lotação da sala<br />
(os ingressos dev<strong>em</strong> ser retirados<br />
uma hora antes do início do show).<br />
Divulgação<br />
Caroline Bittencourt<br />
ottonoccbb<br />
O cantor, compositor e percussionista per<strong>na</strong>mbucano i<strong>na</strong>ugura o projeto Todos os sons,<br />
dia 26, no gramado do CCBB, a partir das 17 horas. Autor<br />
de sucessos como Crua e Filha, Otto lançará seu quinto<br />
álbum, The moon 1111. O repertório é inspirado no cin<strong>em</strong>a<br />
francês, especificamente <strong>em</strong> Guy Montag, perso<strong>na</strong>g<strong>em</strong><br />
de Farenheit 451 (1966), filme de François Truffaut, e faz<br />
referências ao clássico The dark side of the moon, do Pink<br />
Floyd, e ao nigeriano Fela Kuti, criador do afrobeat. Mesmo<br />
assim, o trabalho transborda brasilidade. Otto fala sobre<br />
o futuro e sobre o amor <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos virtuais. Antes dele,<br />
sob<strong>em</strong> ao palco Ulia<strong>na</strong> Dias e Fábio Miranda. Ela se<br />
apresenta com Lucas de Campos e canta repertório de<br />
seu mais recente CD, Pra querer ser feliz. Em seguida,<br />
o violeiro Fábio Miranda mostra músicas do CD Carava<strong>na</strong> Solidão, <strong>em</strong> show que<br />
contará com a participação especial do mestre violeiro Roberto Corrêa, perso<strong>na</strong>g<strong>em</strong><br />
de nossa seção Brasiliense de coração (pági<strong>na</strong> 30).<br />
ce<strong>na</strong>brasileira<br />
Uma exposição de trabalhos de grupos que desenvolv<strong>em</strong> uma pesquisa continuada <strong>em</strong><br />
teatro, circo e dança, com a realização de espetáculos, ofici<strong>na</strong>s e bate-papos, ampliando<br />
ainda mais o diálogo entre Brasília e produções artísticas de outras regiões do Brasil.<br />
De maio a nov<strong>em</strong>bro, a Rosa dos Ventos Artes do Imaginário apresenta o projeto Artes<br />
Cênicas – Pesquisa e Diversidade, que vai trazer um recorte do que se t<strong>em</strong> produzido<br />
<strong>na</strong>s artes cênicas no Brasil. “Nossa responsabilidade não é com o espetaculoso, mas sim<br />
com a linguag<strong>em</strong>, o estudo, a pesquisa e o desenvolvimento da linguag<strong>em</strong>, possibilitando<br />
que artistas e público se encontr<strong>em</strong> para<br />
além dos ditames do mercado”, explica<br />
Cláudio Chi<strong>na</strong>ski, produtor cultural e<br />
curador da Ocupação Fu<strong>na</strong>rte 2013. Sete<br />
grupos representarão a ce<strong>na</strong> brasiliense<br />
<strong>em</strong> apresentações cujo palco será a Sala<br />
Plínio Marcos. Na programação estão a<br />
Trupe de Argo<strong>na</strong>utas (foto), com dois<br />
espetáculos que mesclam dança, teatro<br />
e linguagens circenses, o grupo Virtù -<br />
Confraria Teatral, com dois espetáculos<br />
e o grupo Mirabolantes. Programação<br />
<strong>em</strong> http://www.fu<strong>na</strong>rte.gov.br.<br />
Hermínio Oliveira
Divulgação<br />
athos<strong>em</strong>portugal<br />
Uma exposição que integra o Ano do Brasil<br />
<strong>em</strong> Lisboa apresentará a obra do artista plástico<br />
Athos Bulcão no Museu Nacio<strong>na</strong>l do Azulejo.<br />
Com curadoria de Marília Panitz e projeto<br />
expográfico de Caetano Albuquerque, estará <strong>em</strong><br />
cartaz de 29 de maio a 28 de julho. O principal<br />
representante da azulejaria brasileira conviveu, Painel de azulejos da residência de Regi<strong>na</strong> Célia Borges (Acervo da Fundação Athos Bulcão)<br />
aprendeu e foi influenciado por mestres do modernismo, da arquitetura e do urbanismo. Suas peças reverberam e compl<strong>em</strong>entam a<br />
genética de criações de Oscar Ni<strong>em</strong>eyer, Cândido Porti<strong>na</strong>ri, Burle Marx, Lúcio Costa e Hélio Uchôa, entre outros. A mostra lisboense<br />
traça um paralelo entre obras brasileiras e portuguesas <strong>em</strong> características diversas: as s<strong>em</strong>elhanças compositivas, as paletas de cores, as<br />
evocações aproximativas entre imagens, a lógica do processo de montag<strong>em</strong>. O trabalho de Athos Bulcão conferiu alma a Brasília, com sua<br />
exímia capacidade de intervenção da arte <strong>na</strong> arquitetura. Nascido no Rio, <strong>em</strong> 1918, Athos morreu <strong>em</strong> Brasília, <strong>em</strong> 2008, aos 90 anos.<br />
rappa<strong>em</strong>taguatinga<br />
O grupo carioca está de volta com a turnê<br />
do disco Rappa – Ao vivo e se apresenta<br />
no dia 25 <strong>em</strong> Taguatinga. O álbum marca<br />
uma etapa importante da história do<br />
Rappa. Após discos de sucesso, hits como<br />
A feira, Minha alma e covers explosivos<br />
como Hey Joe, a banda se instalou <strong>em</strong><br />
uma garag<strong>em</strong> desativada para capturar<br />
a força que poucas bandas consegu<strong>em</strong><br />
colocar sobre um palco. O show será<br />
realizado <strong>em</strong> espaço revitalizado da Feira da Indústria e Comércio de Taguatinga. De<br />
acordo com o organizador, Cristiano Porfírio, marcará a volta da Facita como referência<br />
para a realização de eventos e pontos de encontro para moradores e famílias da região.<br />
“A cultura t<strong>em</strong> o poder transformador, e <strong>na</strong>da melhor que estimulá-la com um show<br />
d’O Rappa, uma banda que t<strong>em</strong> uma filosofia pelo fim do preconceito e da mudança<br />
justamente pela cultura, o que irá atrair um público diferente e pacífico, pronto ape<strong>na</strong>s<br />
para curtir uma grande apresentação e fazer história <strong>em</strong> Taguatinga”, explica. Dia 25,<br />
sábado, <strong>na</strong> QI 25, Área Especial de Taguatinga Norte, a partir das 20h. Ingressos a<br />
partir de R$ 40, <strong>em</strong> www.bilheteriadigital.com.<br />
Divulgação<br />
ahistóriadovoto<br />
Em 1532, quando se votou pela primeira vez no Brasil, votar não era um<br />
direito, muito menos um dever. Era si<strong>na</strong>l de status. De lá pra cá, muita coisa<br />
mudou e essa evolução está registrada <strong>na</strong> mostra Voto no Brasil: Uma história<br />
de exclusões e inclusões. Entre as raridades presentes no acervo de 175 objetos,<br />
documentos e reproduções de obras de arte estão alguns modelos de título<br />
de eleitor a partir de 1881; um ex<strong>em</strong>plar de uma ur<strong>na</strong> eleitoral do Brasil<br />
Império, confeccio<strong>na</strong>da <strong>em</strong> madeira; e uma carta de um candidato pedindo<br />
voto (século 19). Realizada pelo Museu de Arte Brasileira da Fundação<br />
Armando Álvares Penteado (MAB-FAAP) e pelo Tribu<strong>na</strong>l Superior Eleitoral<br />
(TSE), t<strong>em</strong> curadoria de Ane Cajado que explica: “O foco da exposição, que<br />
reúne arte, cultura e história, é contar a história das eleições a partir das<br />
estratégias de inclusões e exclusões de pessoas, evidenciando os grupos que<br />
ficavam à marg<strong>em</strong> desse processo, como as mulheres, os negros, os índios,<br />
os comerciantes e os judeus”. Até 19 de dez<strong>em</strong>bro, de segunda a sexta, das 12<br />
às 19h; às segundas e quartas, das 17 às 19h, com visita guiada. Entrada franca.<br />
teatroacéuaberto<br />
De maio a set<strong>em</strong>bro o Eixão será palco<br />
de vários espetáculos a céu aberto. Serão<br />
oito as apresentações do projeto Farra<br />
da Comunidade, formado por grupos de<br />
moradores de quatro cidades do DF que<br />
participarão das ofici<strong>na</strong>s gratuitas ministradas<br />
pelo diretor Thiago<br />
Jorge. A primeira será<br />
<strong>em</strong> Pla<strong>na</strong>lti<strong>na</strong>, com<br />
apresentação no Eixão<br />
Cultural <strong>em</strong> 26 de maio.<br />
O espetáculo de três<br />
horas de duração vai<br />
abordar t<strong>em</strong>as fortes<br />
extraídos das experiências<br />
pessoais dos participantes,<br />
atores e não-atores.<br />
Também participarão do<br />
Farra da Comunidade<br />
moradores de São<br />
Sebastião, Taguatinga,<br />
Varjão e Plano Piloto, com apresentações<br />
s<strong>em</strong>pre aos domingos, no Eixão do Lazer.<br />
Essa edição do projeto é inspirada no teatrodança<br />
da diretora al<strong>em</strong>ã Pi<strong>na</strong> Bauch, falecida<br />
<strong>em</strong> 2009. A Farra da Comunidade teve início<br />
<strong>em</strong> 2012, por iniciativa do articulador de<br />
artes cênicas do Coletivo Palavra, diretor e<br />
preparador de elenco Thiago Jorge, a partir de<br />
outro projeto s<strong>em</strong>elhante, a Farra do Teatro,<br />
montada pelo grupo Depósito de Teatro, no<br />
Fórum Social Mundial, <strong>em</strong> Porto Alegre, <strong>em</strong><br />
2005, com forte influência do Teatro Físico,<br />
cuja característica é criar o espetáculo<br />
a partir da exaustão dos participantes <strong>na</strong><br />
criação de movimentos e ce<strong>na</strong>s. A primeira<br />
apresentação será no domingo, 26, a partir<br />
das 9h, <strong>na</strong> altura da 113 Norte.<br />
Acervo Coletivo Palavra/A<strong>na</strong> Rabelo<br />
25
dia & noite<br />
morteartística<br />
Em dez<strong>em</strong>bro de 2010, os cineastas iranianos Mohammad<br />
Rasoulof e Jafar Pa<strong>na</strong>hi foram julgados e conde<strong>na</strong>dos a seis<br />
anos de prisão – pe<strong>na</strong> acrescida, no caso de Pa<strong>na</strong>hi, da<br />
proibição de escrever ou realizar filmes, dar entrevistas<br />
à imprensa, deixar o território ou se comunicar com<br />
organizações culturais estrangeiras por 20 anos. O crime:<br />
ter<strong>em</strong> feito, segundo as autoridades irania<strong>na</strong>s, “propaganda<br />
contra o Estado”. Desde então, artistas e instituições<br />
culturais de todo o mundo têm se manifestado contra essa<br />
conde<strong>na</strong>ção a uma “morte artística”. A Caixa Cultural faz sua<br />
home<strong>na</strong>g<strong>em</strong> à <strong>dupla</strong> apresentando a mostra Mohammad<br />
Rasoulof e Jafar Pa<strong>na</strong>hi: Cineastas iranianos, de 18 a 26 de maio. Com produção de A<strong>na</strong> Alice de Morais e curadoria de Tatia<strong>na</strong><br />
Mo<strong>na</strong>ssa, terá como destaques Adeus, último filme de Mohammad Rasoulof, que aponta o exílio do Irã como a saída para encontrar a<br />
liberdade individual, e O círculo, de Jafar Pa<strong>na</strong>hi, que trata da prostituição f<strong>em</strong>ini<strong>na</strong>, abordando não ape<strong>na</strong>s um tabu como tratando<br />
frontalmente da situação da mulher <strong>na</strong> sociedade irania<strong>na</strong>. Ingressos a R$ 2 e R$ 1. Programação <strong>em</strong> www.caixacultural.com.br.<br />
Divulgação<br />
26<br />
cin<strong>em</strong>ahúngaro<br />
O termo Geração Praça Moscou foi utilizado<br />
pela crítica para definir o trabalho de um<br />
grupo de jovens cineastas que participaram<br />
do Festival de Cannes <strong>em</strong> 2010, ano <strong>em</strong> que<br />
houve forte representatividade do cin<strong>em</strong>a<br />
do húngaro. Suas obras têm circulado<br />
nos principais festivais inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is,<br />
apresentando um olhar característico da<br />
geração pós-comunista do Leste Europeu.<br />
Um dos filmes precursores desse movimento<br />
é Praça Moscou, sobre um grupo de<br />
adolescentes que vive <strong>em</strong> Budapeste <strong>em</strong> 1989,<br />
ano <strong>em</strong> que termi<strong>na</strong> a Guerra Fria e o país<br />
é libertado. Mais interessados <strong>em</strong> se divertir<br />
do que <strong>em</strong> política, eles pouco prestam<br />
atenção à nova fase da história do país que<br />
começa a ser escrita <strong>em</strong> volta deles. A chance<br />
de conhecer mais produções do cin<strong>em</strong>a<br />
cont<strong>em</strong>porâneo húngaro estará <strong>na</strong> mostra<br />
Geração Praça Moscou, que acontecerá no<br />
CCBB de 28 de maio a 9 de junho. Entrada<br />
franca, com senhas distribuídas a partir de<br />
uma hora antes de cada sessão. Programação<br />
<strong>em</strong> www.bb.com.br/cultura e também <strong>em</strong><br />
facebook.com/ccbb.brasília<br />
Divulgação<br />
patonolagodegelo<br />
Um hilariante, curioso e rico debate sobre<br />
as escolhas que faz<strong>em</strong>os, as frustrações<br />
adolescentes que carregamos por toda a vida<br />
e as boas posturas que pod<strong>em</strong> representar a<br />
centelha de luz a nos guiar <strong>na</strong>quilo que deve<br />
prevalecer: o amor. Assim se define a peça Pato<br />
no lago de gelo – o que você vai ser quando<br />
crescer?, uma livre adaptação dos livros<br />
O apanhador no campo de centeio e Vivendo<br />
no mundo dos espíritos, do prêmio Nobel de<br />
Literatura J.D. Salinger. Ence<strong>na</strong>do pelo grupo<br />
Teatro do Sim e dirigido por Carlos Fernírahk,<br />
a peça t<strong>em</strong> censura livre e entrada franca.<br />
Dias 30 e 31 de maio e 1º de junho no<br />
SESC Paulo Autran, <strong>em</strong> Taguatinga Norte.<br />
festivaldebrasília<br />
Até 21 de junho estão abertas as inscrições para o 46º Festival de<br />
Brasília do Cin<strong>em</strong>a Brasileiro. Os prêmios para as produções<br />
vencedoras totalizam R$ 700 mil, R$ 65 mil a mais do que no<br />
ano passado. O melhor filme receberá R$ 250 mil, o melhor<br />
diretor R$ 20 mil, o melhor ator R$ 10 mil, valor desti<strong>na</strong>do<br />
também à melhor atriz. Serão selecio<strong>na</strong>dos seis filmes de<br />
longa-metrag<strong>em</strong> de ficção, seis de documentário, seis curtasmetragens<br />
de ficção, seis de documentário e seis de animação,<br />
num total de 30 produções. Entre as ofici<strong>na</strong>s já confirmadas<br />
para o festival que se realiza <strong>em</strong> set<strong>em</strong>bro está a de roteiro,<br />
com o escritor, cineasta e roteirista José Roberto Torero; de<br />
direção, com o cineasta Jorge Bodanzky; de trilha sonora para<br />
cin<strong>em</strong>a, com o compositor, arranjador e professor David<br />
Tygel; e de fi<strong>na</strong>lização digital, com o montador e diretor<br />
Rubens Hirsch. As inscrições para as mostras competitivas<br />
poderão ser feitas <strong>em</strong> www.festbrasilia.com.br.<br />
Bruno Lehx
verso & prosa<br />
Livros<br />
entre cachoeiras<br />
Tradicio<strong>na</strong>l cidade de Pirenópolis<br />
realiza sua quinta festa literária<br />
Por Alexandre Marino<br />
Pirenópolis é conhecida pelas cachoeiras,<br />
pelo charme de suas ruas, pela<br />
simpatia de seu povo. Mas a cidade<br />
goia<strong>na</strong>, localizada a 150 quilômetros<br />
de Brasília e a 120 de Goiânia, quer mais.<br />
Para isso, de 27 de maio a 1º de junho<br />
abrirá suas portas para a literatura, realizando<br />
a quinta edição de um evento que<br />
enriquece ainda mais o calendário turístico<br />
local: a Festa Literária de Pirenópolis,<br />
ou simplesmente Flipiri. Promovida pelo<br />
Instituto Cultural Casa de Autores e pela<br />
prefeitura do município, sob coorde<strong>na</strong>ção<br />
de Íris Borges, a Flipiri deste ano terá<br />
como t<strong>em</strong>a Literatura e Imag<strong>em</strong>.<br />
A festa home<strong>na</strong>geará o ilustrador, capista<br />
e escritor Roger Mello e o artista<br />
plástico Pérsio Forzani, de Pirenópolis, e<br />
simultaneamente será realizado o I Encontro<br />
Flipiri de Ilustradores. Roger<br />
Mello, <strong>na</strong>scido <strong>em</strong> Brasília <strong>em</strong> 1965, vive<br />
no Rio de Janeiro e já ilustrou mais de<br />
100 livros. Recebeu importantes pr<strong>em</strong>iações<br />
<strong>em</strong> literatura e artes plásticas. Pérsio<br />
Forzani, 82 anos, pinta desde os oito<br />
anos e já produziu mais de três mil telas<br />
com a técnica arte <strong>na</strong>ïf, s<strong>em</strong>pre retratando<br />
a cidade.<br />
Na quinta-feira, dia 30, a festa literária<br />
se mistura à festa religiosa de Corpus<br />
Christi, quando as centenárias ruas da cidade<br />
são cobertas de tapetes feitos com<br />
serrag<strong>em</strong> e flores. Uma perfeita união<br />
entre literatura e imag<strong>em</strong>.<br />
Apesar de ser chamado de festa, o<br />
evento é coisa séria. Para começar, levará<br />
a arte literária a aproximadamente 5.500<br />
José Miguel Wisnik: boa conversa, poesia e música.<br />
Alessandra Fratus<br />
estudantes de todas as escolas do município,<br />
do jardim de infância ao ensino médio.<br />
Participarão as 11 escolas públicas e<br />
particulares da cidade e outras dez situadas<br />
nos povoados vizinhos e <strong>na</strong> zo<strong>na</strong> rural.<br />
A festa envolverá 260 professores e<br />
cerca de 5 mil visitantes, esperados principalmente<br />
entre os dias 30 de maio,<br />
quinta, e 1º de junho, sábado.<br />
O encerramento da festa contará<br />
com a presença do escritor, compositor e<br />
professor de literatura José Miguel Wisnik,<br />
que fará uma aula-show no Teatro<br />
de Pirenópolis, a partir das 20h30 do sábado.<br />
Wisnik, especialista <strong>na</strong> obra de<br />
Chico Buarque e autor de estudos importantes<br />
sobre escritores como Guimarães<br />
Rosa, Machado de Assis e Mário de<br />
Andrade, deve encantar a plateia com<br />
boa conversa, poesia e música.<br />
Antes disso, nos dias 28 e 29 de<br />
maio, a festa se realiza <strong>na</strong>s escolas, com a<br />
Itinerância, que promoverá 37 encontros<br />
entre escritores e leitores. Vinte escritores<br />
de Brasília, entre eles Lourenço Cazarré,<br />
Margarida Patriota, Alexandre Lobão,<br />
Clara Arreguy e Lucília Garcez, conversarão<br />
com os estudantes sobre suas<br />
obras. Seus livros já foram distribuídos<br />
<strong>na</strong>s escolas e quando eles chegar<strong>em</strong> os<br />
alunos já os terão lido, sob a orientação<br />
dos professores.<br />
“Desde o início, s<strong>em</strong>pre tiv<strong>em</strong>os a intenção<br />
de contribuir para que Pirenópolis<br />
se torne uma cidade de leitores”, diz a<br />
escritora e educadora Iris Borges. “Para<br />
isso, achamos importante levar a literatura<br />
às escolas, com o projeto Itinerância.<br />
Hoje, depois das várias edições, o resultado<br />
é visível. Até as perguntas que as<br />
crianças faz<strong>em</strong> durante os encontros<br />
com os autores são mais profundas e inteligentes”,<br />
observa.<br />
Assim, além de atrair visitantes a<br />
uma cidade que já t<strong>em</strong> no turismo seu<br />
ponto forte, a Flipiri oferece ao próprio<br />
povo da região, especialmente os estudantes<br />
de ensino médio, a oportunidade<br />
do contato com a literatura e os artistas<br />
que a faz<strong>em</strong>. Dessa forma, abre novos<br />
horizontes a uma comunidade já privilegiada<br />
pela <strong>na</strong>tureza.<br />
5ª Flipiri – Festa Literária de Pirenópolis<br />
De 27/5 1/6 <strong>em</strong> Pirenópolis, Goiás.<br />
27
Graves & Agudos<br />
Divulgação<br />
Cópia fiel<br />
28<br />
Por Heitor Menezes<br />
Nossa carência de Beatles é tão<br />
plausível que estamos s<strong>em</strong>pre à<br />
procura de algo que nos console<br />
e nos preencha. Basta que qualquer canção<br />
dos cabeludos de Liverpool toque<br />
aqui, ali e <strong>em</strong> qualquer lugar e será dada<br />
a senha de que tudo o que precisamos é<br />
amor etc.<br />
S<strong>em</strong>pre t<strong>em</strong> aqueles descrentes, para<br />
qu<strong>em</strong> os Beatles <strong>na</strong>da significam. Deix<strong>em</strong>os<br />
de lado essa gente s<strong>em</strong> alma. Vamos<br />
nos ater ao legado de John, Paul, George<br />
e Ringo, a mensag<strong>em</strong> superior de b<strong>em</strong>estar,<br />
de comunhão, paz e amor no sentido<br />
mais amplo, tudo o que precisamos.<br />
E se não t<strong>em</strong>os mais Beatles, e se Sir<br />
Paul McCartney é um cara que comeu<br />
pastel de gueroba <strong>em</strong> Goiânia, mas não<br />
provou o da Viçosa da Rodoviária, fiqu<strong>em</strong>os<br />
com as home<strong>na</strong>gens autênticas, como<br />
a dos argentinos The Beats, que se<br />
apresentam pela primeira vez <strong>em</strong> Brasília<br />
no sábado, 25, no Ópera Hall, ali pros<br />
lados da Vila Pla<strong>na</strong>lto.<br />
The Beats, ao que consta, é uma das<br />
melhores bandas cover dos Beatles do<br />
mundo. O detalhe do grupo formado<br />
por Patrício Perez (George Harrison),<br />
Diego Perez (John Lennon), Eloy<br />
Fernández (Paul McCartney), Martín<br />
Alvarez Pizzo (Ringo Starr) e o tecladista<br />
Esteban Za<strong>na</strong>rdi é o preciosismo da home<strong>na</strong>g<strong>em</strong><br />
que levam adiante desde 1987.<br />
Da música, fielmente arranjada e executada,<br />
passando pelos cabelos e figurinos,<br />
tudo t<strong>em</strong> aquele toque Beatle inconfundível,<br />
com o diferencial de estar sendo<br />
executado ao vivo e <strong>em</strong> cores.<br />
Na história do The Beats constam<br />
títulos como The best Beatle band in the<br />
world (precisa traduzir?), conferida <strong>em</strong><br />
1996 <strong>na</strong> convenção anual dos Beatles,<br />
de Londres e Liverpool. Elogios de gente<br />
que foi ligada ao quarteto origi<strong>na</strong>l,<br />
como Allan Williams, o primeiro ma<strong>na</strong>ger,<br />
e até George Martin, o mítico produtor<br />
e “quinto Beatle”. Gravações <strong>em</strong><br />
Abbey Road e turnês por onde passaram<br />
os origi<strong>na</strong>is completam a obsessão dos<br />
muchachos.<br />
The Beats, diz<strong>em</strong>, não são ape<strong>na</strong>s<br />
quatro (<strong>na</strong> verdade cinco) caras imitando<br />
os origi<strong>na</strong>is. Nas apresentações, os argentinos<br />
ence<strong>na</strong>m as diferentes fases do<br />
quarteto, trocando de instrumentos e<br />
roupas, tais quais os usados ao longo do<br />
período de existência Beatle, entre os<br />
anos de 1962 e 1970.<br />
Na Argenti<strong>na</strong>, The Beats já tocaram<br />
até <strong>em</strong> telhado, como os meninos origi<strong>na</strong>is<br />
fizeram <strong>na</strong> última apresentação<br />
documentada no filme Let it be (1970).<br />
Estranho, porém verdadeiro. Se o amigo<br />
leitor não se incomodar com a questão<br />
de clones e similitudes, é diversão garantida.<br />
Ou, como dizia Belchior, “agora ficou<br />
fácil, todo mundo compreende aquele<br />
toque Beatle I wan<strong>na</strong> hold your hand”.<br />
The Beats<br />
25/5, às 22h, no Ópera Hall (antigo Mari<strong>na</strong><br />
Hall, ao lado do Bay Park). Ingressos:<br />
mesa para até 6 pessoas, com open bar<br />
de água, refrigerante e cerveja, R$ 1.200;<br />
pista (meia), R$ 80 (à venda <strong>na</strong> Central<br />
de Ingressos do Brasília Shopping).<br />
Classificação indicativa: 16 anos.<br />
Mais informações: 8267.0949
O Yes de s<strong>em</strong>pre<br />
Por Heitor Menezes<br />
No t<strong>em</strong>po de Barrabás, qu<strong>em</strong> curtia<br />
Yes eram uns bichos cabeludos,<br />
invariavelmente envolvidos<br />
<strong>em</strong> algum tipo de delírio ca<strong>na</strong>biano. Pois<br />
foram-se os cabelos, cresceram as barrigas,<br />
mas permanec<strong>em</strong> o delírio e a certeza<br />
de que o rock progressivo – do qual o<br />
Yes é bastião – é gênero mais amado do<br />
que odiado, gol contra do punk rock que<br />
um dia pretendeu que o Pink Floyd e<br />
afins foss<strong>em</strong> para s<strong>em</strong>pre odiados, quiçá<br />
riscados da face da Terra.<br />
Dúvidas sobre o parágrafo acima? Então<br />
compareçam <strong>na</strong> noite de domingo,<br />
19 de maio, ao Ginásio Nilson Nelson,<br />
para test<strong>em</strong>unhar essa rara aparição dos<br />
lendários ingleses do Yes <strong>em</strong> nossas paragens.<br />
O grupo passa por aqui <strong>na</strong> fase sulamerica<strong>na</strong><br />
de sua turnê 2013, mostrando<br />
que segue firme e forte, apesar das lamentáveis<br />
ausências do vocalista Jon Anderson<br />
e do não menos notável tecladista<br />
Rick Wak<strong>em</strong>an, m<strong>em</strong>bros da formação<br />
clássica, a qual muitos acham que é o<br />
“verdadeiro” Yes.<br />
Liderados pelo baixista Chris Squire,<br />
o único presente <strong>em</strong> todas as formações<br />
ao longo de uma história de mais de 45<br />
anos de estrada, a <strong>na</strong>ve Yes chega trazendo<br />
a bordo o i<strong>na</strong>creditável guitarrista Steve<br />
Howe (um senhor nome à altura de um<br />
David Gilmour ou de um Jimmy Page)<br />
e o baterista Alan White (que tocou com<br />
John Lennon no disco Imagine). Completam<br />
a trupe o tecladista Geoff Downes,<br />
que retor<strong>na</strong> depois de 30 anos fazendo<br />
outras coisas, e o vocalista substituto, o<br />
novato Jon Davidson, este a grande novidade<br />
da atual encar<strong>na</strong>ção do Yes.<br />
E se não bastasse o Yes vir a Brasília<br />
pela primeira vez, o grupo avisa que <strong>na</strong> recente<br />
turnê vai tocar <strong>na</strong> íntegra três<br />
discos clássicos, a saber: os monumentais<br />
The Yes album (1971), Close to the edge<br />
(1972) e Going for the one (1977), todos<br />
da fase de ouro. É a chance de ficar <strong>em</strong>basbacado<br />
com as performances tridimencio<strong>na</strong>is<br />
de Starship trooper, Your move/<br />
I’ve seen all good people, And you and I, Siberian<br />
Khatru, Turn of the century, Parallels<br />
e Awaken.<br />
Para qu<strong>em</strong> se l<strong>em</strong>bra da banda ape<strong>na</strong>s<br />
da fase Rock In Rio I – de fato a de<br />
maior sucesso, mas n<strong>em</strong> por isso a de<br />
maior prestígio – é preciso avisar que faz<br />
um t<strong>em</strong>po que o Yes voltou a ser o Yes<br />
de todos os t<strong>em</strong>pos, ou seja, aquele do<br />
som clássico e não o dos sucessos radiofônicos,<br />
calcados no som eletrônico.<br />
Nesse sentido, o baixista Chris Squire<br />
merece aplausos, não só por ter permanecido<br />
firme ao longo de todos esses<br />
anos, mas por estar convicto de que a<br />
música do Yes precisa resistir ao t<strong>em</strong>po.<br />
Diferente de grupos que s<strong>em</strong>pre se apoiaram<br />
<strong>em</strong> m<strong>em</strong>bros fixos (caso do Pink<br />
Floyd), o Yes, ao longo de sua trajetória,<br />
s<strong>em</strong>pre mudou de formação, com músicos<br />
que entraram, saíram e voltaram.<br />
Squire previu que daqui a 200 anos a<br />
música do Yes permanecerá, óbvio, com<br />
novos m<strong>em</strong>bros e novas plateias.<br />
Enquanto isso, aproveit<strong>em</strong>os o que<br />
os velhinhos ainda têm a oferecer. São<br />
praticamente três horas de rock progressivo,<br />
momentos ideais e afirmativos para<br />
espantar as modorrentas e provincia<strong>na</strong>s<br />
noites de domingo desta capital.<br />
Spring Tour 2013 do Yes<br />
19/5, às 20h, no Ginásio Nilson Nelson.<br />
Ingressos (meia, primeiro lote): camarote e<br />
cadeira <strong>em</strong> frente ao palco, R$ 200; cadeira<br />
pr<strong>em</strong>ium, R$ 160; cadeira lateral, R$ 140:<br />
setor 1, R$ 100; setor superior, R$ 60<br />
(à venda <strong>na</strong> Central de Ingressos e Free<br />
Corner do Brasília Shopping e <strong>na</strong> FNAC<br />
do Parkshopping). Classificação indicativa:<br />
16 anos. Mais informações: 3364.0000.<br />
Fotos: Divulgação<br />
29
BRASILIENSE dE CORAÇÃO<br />
O rei da<br />
viola caipira<br />
30<br />
Por Vicente Sá<br />
FOTOS GADELHA NETO<br />
Ele é casado, mas é considerado o<br />
maior “violeiro solteiro” do Brasil.<br />
Pós-graduado <strong>em</strong> Física, é professor<br />
de viola caipira <strong>na</strong> Escola de Música.<br />
T<strong>em</strong> um jeitão meio tímido, mas vive <strong>em</strong><br />
cima de um palco a encantar plateias do<br />
mundo inteiro. Um poço de contradições?<br />
Não. Talvez uma estrada cheia de<br />
surpresas. Este é o brasiliense de coração<br />
da vez: Roberto Corrêa, um mineiro apaixo<strong>na</strong>do<br />
por Brasília e por viola caipira.<br />
Nascido <strong>em</strong> 1957, <strong>em</strong> Campi<strong>na</strong> Verde,<br />
Mi<strong>na</strong>s Gerais, primeiro de quatro filhos,<br />
Roberto herdou do pai fazendeiro<br />
o respeito pela terra e pela língua tupi<br />
que seu Avai falava <strong>em</strong> ocasiões especiais.<br />
Da mãe, Eleusa, funcionária da coletoria,<br />
a persistência que s<strong>em</strong>pre o ajudou<br />
<strong>na</strong>s muitas horas de estudo que teve<br />
<strong>na</strong> vida. Ainda menino, apaixonou-se pela<br />
música da bandinha da cidade e, <strong>na</strong><br />
ausência de um instrumento, subia no<br />
telhado de casa para tocar a mangueira<br />
de regar plantas como se fosse um trompete.<br />
Tirava um som tão bonito que um<br />
tio chamou o maestro para vê-lo tocar,<br />
mas a audição foi complicada pela timidez<br />
do garoto de oito anos, que exigiu<br />
que a plateia – àquela altura já acrescida<br />
de alguns curiosos – não pudesse vê-lo.<br />
Assim, sua primeira apresentação foi escondido<br />
<strong>em</strong> cima do telhado.<br />
Os tios eram muito presentes <strong>na</strong> vida<br />
das pessoas <strong>na</strong>quela época, pelo menos<br />
<strong>na</strong> de Roberto. Sua tia Nali, ao visitar a<br />
família, o encontrou tocando o violão da<br />
irmã e insistiu para que a mãe o colocasse<br />
para estudar o instrumento. E o pequeno<br />
Roberto teve a sorte de uma ótima iniciação<br />
musical com o seresteiro José da Conceição,<br />
que tinha acabado de voltar de<br />
São Paulo, depois de tentar a carreira artística<br />
e gravar dois LPs. Com as aulas,<br />
Roberto ganhou técnica, confiança e, da<br />
avó, um violão que o acompanhou por<br />
muitos anos. Por essa época, chega a<br />
Campi<strong>na</strong> Verde, de férias, um garoto<br />
bom de violão. Mais novo que Roberto,<br />
mas dono de uma técnica especial. “Ele<br />
tocava diferente de todo mundo que eu<br />
conhecia. Era outra forma, bonita de-
mais. Depois eu descobri que o que<br />
ele tocava era violão clássico. Esse<br />
menino era Ulisses Rocha, que viria<br />
a se tor<strong>na</strong>r um respeitadíssimo músico<br />
e professor de música da Unicamp”,<br />
conta Roberto.<br />
Somente aos 16 anos ele saiu de<br />
Campi<strong>na</strong> Verde para estudar <strong>em</strong> Belo<br />
Horizonte. Depois, de lá para Brasília.<br />
Aqui, passou no vestibular para Física,<br />
<strong>em</strong> 1976, morou numa pensão <strong>na</strong><br />
W3 Sul e travou relação com<br />
alunos de outros Estados, vivendo<br />
uma outra Brasília,<br />
feita só de estudantes e quase<br />
toda passada dentro da<br />
UnB. Por uma espécie de timidez<br />
conjunta, eles não<br />
participavam de quase<br />
<strong>na</strong>da que acontecia fora<br />
do campus. O grupo<br />
musical Olho D’Água,<br />
que Roberto e seus amigos<br />
criaram, por ex<strong>em</strong>plo,<br />
só se apresentava <strong>na</strong><br />
UnB. “Eu não conheci o movimento<br />
Cabeças e outras coisas,<br />
só vivia para estudos e campus”, confessa<br />
Roberto, que tocava violão e viola.<br />
Embora ainda não as mostrasse <strong>em</strong> público,<br />
já começava a compor suas músicas.<br />
A paixão pelo violão clássico continuava<br />
e ele passou a ter aulas com professores<br />
da UnB e outros músicos conhecidos<br />
<strong>na</strong> capital, como Eustáquio Grillo.<br />
Paralelo a isso, continuava estudando Física,<br />
mas ape<strong>na</strong>s o suficiente para entender<br />
as matérias e passar de ano.<br />
Dois momentos marcaram a entrada<br />
definitiva de Roberto Corrêa no mundo<br />
da música. “A primeira foi um trailer<br />
que eu assisti, antes de um filme, que<br />
mostrava o Milton Nascimento cantando<br />
e tocando ao violão Milagre dos peixes.<br />
A outra foi o Caetano Veloso cantando,<br />
no Fantástico, também ao violão, a música<br />
Lua, lua, lua. Aquilo me encantou de<br />
tudo. A partir daí eu me entreguei à música<br />
popular brasileira, e a viola já vinha<br />
<strong>em</strong>butida nisso”, l<strong>em</strong>bra.<br />
Nessa época, d<strong>em</strong>onstrando ousadia,<br />
Roberto pede a alguns músicos mais veteranos,<br />
entre eles o maestro Jorge Antunes,<br />
que componham peças para viola. Mas, se<br />
a ousadia era grande, o cuidado com a<br />
qualidade também, e essas peças, que<br />
eram de dificílima execução, só foram gravadas<br />
por ele agora, 30 anos depois.<br />
Ao se formar <strong>em</strong> Física, Roberto fez<br />
licenciatura, depois música, <strong>na</strong><br />
UnB, e continuou estudando violão<br />
e viola, compondo e tocando.<br />
Mas, não satisfeito com a quantidade<br />
de trabalho, solicitou e ganhou do<br />
CNPq uma bolsa para pesquisar viola<br />
caipira. “Naquela época não havia <strong>na</strong>da<br />
escrito sobre viola caipira. Somente<br />
um livro de partituras, mais <strong>na</strong>da.<br />
Aí eu me <strong>em</strong>penhei mais ainda”, conta.<br />
O estudo foi publicado pela Musimed<br />
e Roberto começou a trilhar<br />
seu próprio caminho,<br />
agora também como estudioso<br />
da música brasileira.<br />
Fez seu primeiro show fora<br />
da UnB <strong>em</strong> 1983 no Teatro<br />
Galpão – que considera o<br />
início da sua profissio<strong>na</strong>lização<br />
como músico – e aí<br />
sua carreira realmente começou.<br />
Na mesma época<br />
conheceu Zé Mulato e<br />
Cassiano e fez uma troca<br />
importante, segundo Wolmi<br />
Batista, presidente do Clube<br />
do Violeiro Caipira e produtor<br />
da <strong>dupla</strong>. “Roberto Corrêa passou seu<br />
conhecimento teórico para os dois e eles<br />
passaram a caipirice para ele”, l<strong>em</strong>bra<br />
Wolmi, salientando a importância de<br />
Roberto para a difusão da viola: “Ele foi<br />
essencial para a história desse instrumento<br />
e até criou a primeira escola de viola<br />
caipira no Brasil, levando a viola para<br />
dentro das salas de aula. E eu tive a honra<br />
de ser um de seus alunos”.<br />
Sua carreira decolou e ele passou a fazer<br />
shows <strong>em</strong> todo o Brasil, com músicos<br />
de todas as tendências, sozinho e até mesmo<br />
como solista de orquestras, elevando<br />
a viola a uma posição de destaque no cenário<br />
musical brasileiro. Antes que se desse<br />
conta, Roberto Corrêa se tornou o melhor<br />
“violeiro solteiro” do Brasil, aquele<br />
que não toca <strong>em</strong> <strong>dupla</strong>, mas sozinho.<br />
Graças aos estudos e ao talento como<br />
instrumentista de viola, começaram a surgir<br />
grupos de estudos, gente nova querendo<br />
aprender a tocar o instrumento. E o<br />
número de orquestras de violas cresceu<br />
<strong>em</strong> todo o país. A carreira de Roberto<br />
Corrêa ficou, então, dividida entre os<br />
dois polos: o erudito e o popular, que ele<br />
une, sendo ele mesmo o elo. Faz shows,<br />
grava discos, é t<strong>em</strong>a de filmes, produz e dirige<br />
filmes, tudo s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> torno da viola.<br />
Hoje é o principal nome do instrumento<br />
no Brasil e no exterior, já tendo feito<br />
mais de 30 shows <strong>em</strong> diversos países, s<strong>em</strong>pre<br />
com suas violas caipira e de cocho.<br />
Pai de dois filhos, Nara e Ramiro, casado<br />
com Julia<strong>na</strong>, que trabalha como sua<br />
assessora de imprensa, Roberto é um hom<strong>em</strong><br />
apaixo<strong>na</strong>do por Brasília, que t<strong>em</strong><br />
<strong>na</strong> Água Mineral seu recanto de meditação<br />
e encontro. Pouco afeito à noite,<br />
quase não sai de casa, vive estudando e<br />
prepara, para o segundo s<strong>em</strong>estre, o lançamento<br />
do CD com as gravações que<br />
ele encomendou há 30 anos e agora pode<br />
executar com maestria.<br />
Resta-nos esperar com os ouvidos<br />
atentos e a paciência de qu<strong>em</strong> afi<strong>na</strong> uma<br />
viola pelo show de lançamento, ainda<br />
s<strong>em</strong> data e local.<br />
31
diário de viag<strong>em</strong><br />
Paraíso nevado<br />
Gamla Stan, o<br />
centro antigo<br />
de Estocolmo.<br />
32<br />
Texto e fotos Cláudio Ferreira<br />
A<br />
Escandinávia não é um roteiro<br />
turístico muito comum entre os<br />
brasileiros. No inverno, as t<strong>em</strong>peraturas<br />
abaixo de zero assustam. No<br />
verão, a preferência é pelas metrópoles<br />
europeias ou norte-america<strong>na</strong>s – ou então<br />
os destinos mais exóticos, principalmente<br />
<strong>na</strong> Ásia. Mas vale a pe<strong>na</strong> prestar<br />
atenção nessa península que é a última<br />
escala antes do Polo Norte. A beleza das<br />
paisagens, a calma das cidades e a sensação<br />
de que tudo funcio<strong>na</strong> perfeitamente<br />
pod<strong>em</strong> proporcio<strong>na</strong>r surpresas a qu<strong>em</strong><br />
não se arrisca a sair do circuito padrão.<br />
Minha aventura foi no inverno, com<br />
as cidades cobertas de neve. O frio não<br />
impede os passeios ao ar livre – é só, de<br />
vez <strong>em</strong> quando, entrar <strong>em</strong> um café para<br />
tomar algo quente. Vale prestar atenção<br />
<strong>na</strong>s calçadas para não escorregar no gelo<br />
acumulado. Vale também l<strong>em</strong>brar que,<br />
nessa época, os dias são mais curtos: <strong>em</strong><br />
janeiro, 17h é noite fechada; <strong>em</strong> março,<br />
o escuro só começa às 18h30. Muitas<br />
atrações turísticas, como passeios de barco<br />
e até museus, funcio<strong>na</strong>m preferencialmente<br />
de maio a outubro. Mas o inverno<br />
t<strong>em</strong> uma cor especial, rios e mares congelados,<br />
dias ensolarados que escond<strong>em</strong><br />
ventos frios e paisagens que nunca ver<strong>em</strong>os<br />
por aqui.<br />
Suécia<br />
A Suécia é a melhor porta de entrada,<br />
já que Estocolmo, a capital, se considera<br />
a capital também da região. Não há<br />
Drottningholm Palace and Theater, <strong>em</strong> Estocolmo.<br />
voos diretos da Escandinávia para o Brasil,<br />
mas é possível escolher uma companhia<br />
aérea que faça só uma escala antes<br />
de chegar a Estocolmo. A cidade n<strong>em</strong> parece<br />
ter o milhão de habitantes que está<br />
registrado nos números oficiais – é uma<br />
metrópole tranquila, com trânsito civilizado<br />
e transporte público eficiente. Mesmo<br />
a área central não t<strong>em</strong> paredões de
arranha-céus e calçadões tumultuados.<br />
Nos bairros mais residenciais, a tranquilidade<br />
é ainda maior. Dá para conhecer<br />
quase todos os pontos turísticos a pé.<br />
Quando não dá, o metrô é o meio de<br />
transporte mais eficiente.<br />
Gamla Stan, o centro velho de Estocolmo,<br />
é a parte mais charmosa da cidade.<br />
Vale uma tarde de fotos da arquitetura<br />
peculiar e o percurso às lojas de souvenirs.<br />
O Museu Nobel fica numa praça<br />
movimentada, mas é uma decepção: só<br />
paineis com explicações sobre todos os<br />
ganhadores do prêmio. Se você não for<br />
preconceituoso, entre numa chocolateria<br />
gay que t<strong>em</strong> <strong>na</strong> praça e que, segundo os<br />
guias turísticos, serve o melhor chocolate<br />
quente da cidade. O melhor não sei, mas<br />
um dos maiores, com certeza.<br />
Entrar e sair de igrejas é um esporte<br />
muito saudável <strong>em</strong> Estocolmo. Na Escandinávia,<br />
a religião predomi<strong>na</strong>nte é a lutera<strong>na</strong>.<br />
As igrejas são maravilhosas e cada<br />
uma t<strong>em</strong> pelo menos um órgão de tubo<br />
– muitas têm dois, um menor, <strong>na</strong> frente<br />
e um gigantesco, no fundo. São joias da<br />
arquitetura no meio da cidade moder<strong>na</strong>.<br />
Alguns passeios merec<strong>em</strong> preferência.<br />
O Museu Skansen é a céu aberto e retrata<br />
a vida <strong>na</strong> Suécia <strong>em</strong> várias épocas. O<br />
Vasamuseet é impressio<strong>na</strong>nte: um museu<br />
que abriga um barco do Século XVII. O<br />
transporte público pode levar ao Drottningholm<br />
Palace and Theater, um palácio<br />
de arquitetura inigualável e um jardim<br />
gigante – que, fora do inverno, deve<br />
ter seus encantos mais b<strong>em</strong> revelados.<br />
Procure não ficar só <strong>na</strong>s capitais: o interior<br />
da Suécia, da Noruega e da Finlândia<br />
guarda tesouros atraentes. Uppsala,<br />
por ex<strong>em</strong>plo, é uma cidade universitária<br />
a 40 minutos de tr<strong>em</strong> de Estocolmo. A<br />
viag<strong>em</strong> é linda e a cidade muito interessante,<br />
porque, além da universidade, t<strong>em</strong><br />
uma casa-museu dedicada ao Linneu.<br />
Não, não se trata do patriarca do seriado<br />
A grande família, mas do zoólogo e botânico<br />
que se destacou por criar um sist<strong>em</strong>a<br />
de classificação científica dos seres vivos.<br />
Noruega<br />
O povo sueco é amistoso, mas reservado.<br />
Já os noruegueses são mais barulhentos,<br />
falam alto, dão gargalhadas. Aqui há<br />
também várias cidades bonitas para se conhecer,<br />
além da capital, Oslo. Bergen, a<br />
capital dos fiordes, é um destino tentador,<br />
mesmo que os passeios aos maiores fiordes<br />
sejam interditados no inverno.<br />
Mercado de peixe <strong>em</strong> Bergen.<br />
Vigeland's Park, <strong>em</strong> Oslo.<br />
A combi<strong>na</strong>ção mar recortado + frio<br />
parece incomum a um brasileiro. Mar e<br />
sol nos l<strong>em</strong>bram muito mais o verão.<br />
Aos europeus também, e eles lotam Bergen<br />
nos meses mais quentes. Os turistas<br />
se admiram com as casas g<strong>em</strong>i<strong>na</strong>das <strong>em</strong><br />
cores vibrantes, com os calçadões à beiramar<br />
e com o Fløibanen, o teleférico de<br />
onde se pode ver todo o relevo montanhoso<br />
do local.<br />
Em Bergen, os amantes da música erudita<br />
têm a chance de conhecer a terra de<br />
Edward Grieg, o mais importante compositor<br />
norueguês (1843-1907), e o enorme<br />
espaço cultural dedicado a ele. Os amantes<br />
da comida do mar têm um mercado à<br />
disposição, com peixes e crustáceos de<br />
aparência atraente e tamanhos variados.<br />
Foi nesse mercado que derrapei no politicamente<br />
correto, ao aceitar um triângulo<br />
pequeno de uma carne escura, que era<br />
baleia defumada. Não valeu a pe<strong>na</strong>.<br />
Passeios de barco são uma boa pedida<br />
para aproveitar as belas paisagens. Se<br />
você quiser esquecer o mundo globalizado,<br />
vá a uma cidadezinha peque<strong>na</strong> como<br />
Rosendal, onde não há pressa para <strong>na</strong>da<br />
e todo mundo é gentil, como acontece<br />
frequent<strong>em</strong>ente <strong>na</strong>s nossas cidades do<br />
interior. De quebra, pão feito <strong>na</strong> hora e<br />
camarões frescos.<br />
A capital norueguesa do país é menor<br />
do que Estocolmo, mas igualmente charmosa.<br />
Da área central, vale a pe<strong>na</strong> descer<br />
a Avenida Karl Johans, que é um calçadão<br />
de pedestres até certo ponto e uma<br />
rua larga depois. De dia e à noite, é o<br />
ponto de encontro da cidade. A pé, dá<br />
para chegar até o porto, passear, parar<br />
nos cafés e ver o prédio onde é entregue<br />
33
diário de viag<strong>em</strong><br />
34<br />
o Prêmio Nobel da Paz (o único que não<br />
é <strong>em</strong> Estocolmo). Também à beira-mar<br />
fica o prédio da Ópera, uma construção<br />
intrigante que vale ser vista n<strong>em</strong> que seja<br />
só por fora.<br />
Gosta de museus? O dedicado ao<br />
pintor expressionista Edward Munch<br />
(1863-1944), autor do famoso O grito, é<br />
visita obrigatória. Mas obras importantes<br />
do artista também ocupam uma sala do<br />
Museu Nacio<strong>na</strong>l. Gosta de arte ao ar livre?<br />
O Vigeland’s Park é impressio<strong>na</strong>nte.<br />
As esculturas de Gustav Vigeland (1869-<br />
1943)estão espalhadas por esse parque,<br />
nus masculinos e f<strong>em</strong>ininos, de crianças,<br />
jovens e velhos.<br />
No inverno, uma dica é conhecer<br />
Holmenkollen, uma pista de esqui gigante.<br />
A viag<strong>em</strong> de metrô (nessa área é <strong>na</strong><br />
superfície) já vale o passeio. O lugar impressio<strong>na</strong><br />
pelas dimensões da rampa, a<br />
altura da pista e a visão das arquibancadas,<br />
que ench<strong>em</strong> <strong>em</strong> dias de competição.<br />
E a qualquer momento qu<strong>em</strong> gosta de<br />
teatro deve passar pelo museu do dramaturgo<br />
Henrik Ibsen (1828-1906), autor<br />
de Casa de bonecas: além de um acervo<br />
muito b<strong>em</strong> cuidado, t<strong>em</strong> o apartamento<br />
do teatrólogo, cuja decoração reproduz<br />
fielmente a origi<strong>na</strong>l.<br />
O segredo é não se deixar limitar somente<br />
pelos pontos turísticos. Cada esqui<strong>na</strong><br />
t<strong>em</strong> um prédio diferente, um restaurante<br />
atraente – eu, por ex<strong>em</strong>plo, provei<br />
comida india<strong>na</strong> <strong>em</strong> Oslo. Escolha entre<br />
ônibus, metrô e bonde para percorrer<br />
a cidade: é possível esquecer, por alguns<br />
dias, nossa dependência do carro.<br />
Finlândia<br />
À primeira vista, parece o mais exótico<br />
dos três países, mas o exotismo para<br />
no idioma cheio de vogais repetidas e que<br />
não se parece com o sueco ou o norueguês.<br />
A capital, Helsinque, repete o binômio<br />
frio-mar com muito charme. O porto<br />
é também um ponto turístico a se conhecer,<br />
com feirinhas de artesa<strong>na</strong>to e<br />
prédios antigos.<br />
Atenção especial deve ser dada às igrejas.<br />
Em épocas como a S<strong>em</strong>a<strong>na</strong> Santa, a<br />
programação musical – corais, orquestras<br />
de câmara etc. – é de dar inveja. A catedral<br />
lutera<strong>na</strong> é majestosa. A catedral ortodoxa,<br />
plantada <strong>em</strong> cima de uma grande<br />
pedra, impressio<strong>na</strong>. Outra igreja lutera<strong>na</strong><br />
fica dentro de uma pedra, com um teto<br />
que aproveita a luz solar e folhetos de boas<br />
vindas <strong>em</strong> mais de 40 línguas.<br />
Área central de Helsinque.<br />
Pista de pati<strong>na</strong>ção no centro de Helsinque.<br />
Comércio movimentado e o trinômio<br />
metrô-ônibus-bonde tor<strong>na</strong>m tudo<br />
mais agradável. Re<strong>na</strong>s e o Papai Noel estão<br />
s<strong>em</strong>pre presentes <strong>na</strong>s lojas de l<strong>em</strong>brancinhas.<br />
Quer provar um pouco da<br />
cultura viking, mesmo que seja fake? O<br />
restaurante Harald, no centro da cidade,<br />
t<strong>em</strong> garçons e garçonetes vestidos a caráter<br />
e a comida é servida <strong>em</strong> pratos de ferro<br />
(com a bebida <strong>em</strong> canecas).<br />
A comida, aliás, é outro fator que<br />
une os três países. Destaque para o que<br />
v<strong>em</strong> do mar: salmão e camarão <strong>em</strong> deze<strong>na</strong>s<br />
de modalidades. As cervejas locais<br />
também merec<strong>em</strong> ser degustadas. Há<br />
itens para paladares exóticos: além da baleia,<br />
também a re<strong>na</strong> está nos cardápios,<br />
mas a imag<strong>em</strong> do trenó de Papai Noel<br />
me é mais forte do que qualquer apetite<br />
para exotismos.<br />
Para sair da cidade grande, uma das<br />
alter<strong>na</strong>tivas é Turku, uma antiga capital<br />
do país que já foi território da Suécia e<br />
da Rússia. Rua comercial com vitrines<br />
tentadoras e cafés com bebida quente<br />
são atrações garantidas. É <strong>em</strong> Turku que<br />
o visitante vai encontrar um museu<br />
curioso, dedicado ao compositor clássico<br />
Jean Sibelius (1865-1957), um patrimônio<br />
da Finlândia. Além da ala dedicada à<br />
vida do músico, há uma exposição permanente<br />
de instrumentos do mundo todo,<br />
que guarda, inclusive, uma cuíca.<br />
Enfim, esqueça os estereótipos que<br />
nos distanciam dos nórdicos. Frio, <strong>na</strong> Escandinávia,<br />
é só o clima. Os finlandeses,<br />
por ex<strong>em</strong>plo, são muito prestativos: não<br />
abri um mapa <strong>na</strong> viag<strong>em</strong> s<strong>em</strong> que alguém<br />
viesse, espontaneamente, oferecer ajuda.<br />
E a palavra mágica, nos três países, é brasileiro:<br />
basta revelar nossa orig<strong>em</strong> e ganhamos<br />
um sorriso, perguntas pertinentes<br />
(s<strong>em</strong> os estereótipos) e um convite para<br />
explorar melhor esse paraíso nevado.
avenida das <strong>na</strong>ções<br />
Celebração <strong>em</strong> azul e branco<br />
Eventos culturais apresentam ao brasiliense um pouco da cultura<br />
da Argenti<strong>na</strong> no mês <strong>em</strong> que o país celebra sua data <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l<br />
A<br />
proximidade entre Brasil e Argenti<strong>na</strong><br />
é inversamente proporcio<strong>na</strong>l<br />
à intensidade do intercâmbio<br />
cultural entre as duas <strong>na</strong>ções.<br />
Mas o interessado <strong>em</strong> conhecer mais sobre<br />
o país vizinho terá a oportunidade,<br />
até o começo de junho, de conferir uma<br />
vasta programação gratuita que mostrará<br />
ao brasiliense parte da produção argenti<strong>na</strong><br />
de artes plásticas, cin<strong>em</strong>a, fotografia e<br />
literatura.<br />
Realizada pela Embaixada da Argenti<strong>na</strong><br />
como parte da com<strong>em</strong>oração da data<br />
<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l do país (25 de maio), a série de<br />
eventos Cultura azul e branca estreou <strong>em</strong><br />
10 de abril com as exposições Tondos (gravuras<br />
de Carlos Pampara<strong>na</strong>), no foyer da<br />
Sala Villa-Lobos, e Brasil/Argenti<strong>na</strong>/Gráfica<br />
(140 gravuras de artistas brasileiros e<br />
argentinos), <strong>na</strong> Sala Rubens Valentin do<br />
Espaço Cultural Re<strong>na</strong>to Russo (508 Sul).<br />
Conceituada artista plástica argenti<strong>na</strong>,<br />
reconhecida por combi<strong>na</strong>r arte e m<strong>em</strong>ória,<br />
Vivia<strong>na</strong> Poneiman esteve <strong>em</strong> Brasília<br />
especialmente para montar a instalação<br />
Brasília: Ponte da m<strong>em</strong>ória – Escrito <strong>na</strong>s<br />
águas, que ocupa a fachada da Embaixada<br />
da Argenti<strong>na</strong> desde 30 de abril. Essa<br />
intervenção artística é uma releitura dos<br />
siluetazos, protesto artístico e político<br />
ocorrido <strong>em</strong> 1983, no fi<strong>na</strong>l da ditadura<br />
militar, <strong>na</strong> qual milhares de silhuetas, representando<br />
os desaparecidos políticos,<br />
Daniel Garcia<br />
Suando frio, de Adriano Garcia Bogliano, está <strong>na</strong> mostra cin<strong>em</strong>atográfica Argenti<strong>na</strong> Shock-Vermelho.<br />
de Carlos Hugo Christensen, e longas<br />
cont<strong>em</strong>porâneos, caso de Perdido por perdido<br />
(1993), de Alberto Lecchi, e Suando<br />
frio (2011), de Adrián García Bogliano, a<br />
mostra será exibida <strong>na</strong> Sala Multimídia<br />
da Caixa Cultural (Setor Bancário Sul)<br />
entre 28 de maio e 9 de junho. Os filmes<br />
têm classificação indicativa 18 anos.<br />
A programação completa da série Cultura<br />
azul e branca pode ser conferida <strong>em</strong><br />
www.facebook.com/<strong>em</strong>baixadaargenti<strong>na</strong>.<br />
foram espalhadas por Buenos Aires.<br />
Também <strong>na</strong> <strong>em</strong>baixada o visitante<br />
poderá conferir uma exposição fotográfica<br />
que com<strong>em</strong>ora os 35 anos das Avós da<br />
Praça de Maio, grupo de mulheres argenti<strong>na</strong>s<br />
que lutam para encontrar seus netos,<br />
sequestrados <strong>na</strong> última ditadura militar<br />
do país. Os eventos <strong>na</strong> <strong>em</strong>baixada<br />
segu<strong>em</strong> até 19 de maio.<br />
As primeiras décadas do século 20 foram<br />
profícuas no avanço das linguagens e<br />
do fazer artístico <strong>em</strong> diversas áreas. A Argenti<strong>na</strong><br />
não ficou longe dessa influência.<br />
O reflexo disso <strong>na</strong> produção literária do<br />
país é o t<strong>em</strong>a da exposição Vanguardas literárias<br />
argenti<strong>na</strong>s: 1920-1940, que apresenta<br />
fotos de época, documentos, primeiras<br />
edições de livros, gravuras e outros itens<br />
que ajudam a apresentar esse rico período<br />
criativo. A exposição ocupa o Museu<br />
Nacio<strong>na</strong>l da República até 29 de maio.<br />
Pouco conhecida no Brasil, a produção<br />
argenti<strong>na</strong> de filmes policiais é o t<strong>em</strong>a<br />
da mostra Argenti<strong>na</strong> Shock-Vermelho.<br />
Com clássicos do cin<strong>em</strong>a noir rio-platense,<br />
como Captura recomendada (1950), de<br />
Clara Jurado, uma das avós da Praça de Maio. Don Napy, Nunca abras essa porta (1952), A famosa Calle Florida, de Buenos Aires, <strong>em</strong> 1925.<br />
Divulgação<br />
Divulgação<br />
35
luz câmera ação<br />
O faroeste<br />
de René<br />
Segundo longa-metrag<strong>em</strong> a estrear este mês inspirado no<br />
legado musical de Re<strong>na</strong>to Russo t<strong>em</strong> como desafio criar <strong>em</strong><br />
imagens uma das mais conhecidas músicas do rock brasileiro<br />
36<br />
Por Pedro Brandt<br />
O<br />
punk rock mudou a vida de Re<strong>na</strong>to<br />
Russo, mas a discoteca do<br />
vocalista da Legião Urba<strong>na</strong><br />
s<strong>em</strong>pre foi eclética. Alguns de seus ídolos<br />
<strong>na</strong> música passavam longe das guitarras<br />
distorcidas do punk – eram músicos<br />
de uma geração anterior, que fez a própria<br />
revolução com violões dedilhados e<br />
melodias harmoniosas. O folk rock representou<br />
para a juventude do fi<strong>na</strong>l dos<br />
anos 60 o mesmo que o punk para a garotada<br />
de uma década depois. E Re<strong>na</strong>to<br />
curtiu os dois estilos s<strong>em</strong> distinção, tanto<br />
que interpretou – com a Legião ou solo<br />
– músicas de Neil Young, Joni Mitchell<br />
e Bob Dylan.<br />
Foi sob a influência deste último que<br />
Re<strong>na</strong>to compôs, <strong>em</strong> 1979, uma de suas<br />
canções mais <strong>em</strong>bl<strong>em</strong>áticas: Faroeste caboclo.<br />
A ex<strong>em</strong>plo de Hurricane, <strong>na</strong> qual<br />
Dylan conta ao longo de oito minutos a<br />
história de um boxeador acusado injustamente<br />
de assassi<strong>na</strong>to, Re<strong>na</strong>to <strong>na</strong>rra a vi-<br />
da e a morte de João de Santo Cristo, os<br />
altos e baixos do perso<strong>na</strong>g<strong>em</strong>, seus amores<br />
e inimigos.<br />
A música, gravada pela Legião <strong>em</strong><br />
1987 (para o LP Que país é este), foi um<br />
estrondoso e inusitado sucesso, com seus<br />
mais de 150 versos distribuídos <strong>em</strong> nove<br />
minutos de duração. Qu<strong>em</strong> ouviu a canção<br />
sabe: está ali um roteiro de cin<strong>em</strong>a<br />
pronto para ser filmado. O então adolescente<br />
René Sampaio foi um dos que se<br />
apaixo<strong>na</strong>ram pelo enredo criado por<br />
Re<strong>na</strong>to Russo. Quase 20 anos depois,<br />
Faroeste caboclo tornou-se o projeto do<br />
primeiro longa-metrag<strong>em</strong> desse cineasta<br />
brasiliense de 38 anos conhecido pelo<br />
trabalho com publicidade e com curtasmetragens<br />
(entre eles, Sinistro, ganhador<br />
de sete prêmios no Festival de Brasília<br />
<strong>em</strong> 2000). O diretor também passou por<br />
uma saga particular para conseguir dar<br />
vida a Jer<strong>em</strong>ias, Maria Lúcia e João de<br />
Santo Cristo. Mas, resolvidas as questões<br />
de direitos autorais, o longa-metrag<strong>em</strong><br />
começou a ser rodado <strong>em</strong> 2011.<br />
Faroeste caboclo chega ao circuito comercial<br />
no próximo dia 30. Orçado <strong>em</strong><br />
R$ 6 milhões, o filme t<strong>em</strong> Ísis Valverde<br />
como Maria Lúcia, Fabrício Boliveira como<br />
João de Santo Cristo e Felipe Abib<br />
como Jer<strong>em</strong>ias. Antônio Calloni e Marcos<br />
Paulo (falecido <strong>em</strong> nov<strong>em</strong>bro do<br />
ano passado) também estão no elenco.<br />
Faroeste caboclo estreia no mesmo mês<br />
que Somos tão jovens, cinebiografia que<br />
conta a adolescência de Re<strong>na</strong>to Russo<br />
(leia comentário de Sérgio Moriconi a<br />
partir da pági<strong>na</strong> 39).<br />
Levando <strong>em</strong> consideração que a Legião<br />
continua uma das mais populares<br />
bandas brasileiras, é possível imagi<strong>na</strong>r<br />
um grande público interessado <strong>na</strong> estreia<br />
de René <strong>na</strong> direção de longas-metragens.<br />
A curiosidade, paradoxalmente, parte<br />
principalmente do fato de a trama ser conhecida,<br />
do início ao fim, de milhares de<br />
brasileiros. Como lidar com o desafio de<br />
transformar a letra de Re<strong>na</strong>to Russo <strong>em</strong><br />
imagens é um dos assuntos que o diretor<br />
comenta nesta entrevista à <strong>Roteiro</strong>.
Como era sua relação com a música da<br />
Legião <strong>na</strong> adolescência? Chegou a ir <strong>em</strong><br />
algum show da banda? Por acaso você<br />
foi ao fatídico show de 1988 no Mané<br />
Garrincha?<br />
Conheci a Legião com o disco Dois, <strong>em</strong><br />
1986, quando tinha 12 anos. Quando<br />
ouvi Faroeste, tinha uns 13 anos e foi minha<br />
música predileta do LP Que país é este.<br />
Sonhei imediatamente <strong>em</strong> fazer esse<br />
filme e, anos depois, estamos aqui falando<br />
sobre o assunto. Não fui ao show de<br />
1988. Era uma noite fria e eu estava trabalhando<br />
numa barraca de festa juni<strong>na</strong><br />
do colégio, tomando um chocolate quente<br />
e pensando “putz, deve estar massa<br />
lá”. De repente, alguns amigos que foram<br />
voltaram super assustados e contaram<br />
o que tinha acontecido. A Legião<br />
nunca mais voltou a tocar <strong>em</strong> Brasília.<br />
Eu tive que ir a Santos, anos depois, pra<br />
conseguir ver um show da banda. Aliás,<br />
foi o último show deles.<br />
Como foi equilibrar inovação e fidelidade<br />
no caso de uma canção tão conhecida?<br />
A trilha (feita por Philippe Seabra, da<br />
Plebe Rude) e o filme são origi<strong>na</strong>is como<br />
dev<strong>em</strong> ser obras artísticas. Principalmente<br />
nesse caso, <strong>em</strong> que se trata de um filme<br />
inspirado numa obra de um dos mais<br />
autênticos e inventivos autores da música<br />
brasileira. Faroeste caboclo dura nove<br />
minutos e respeita a métrica. O filme<br />
t<strong>em</strong> quase duas horas e respeita o drama.<br />
Acho que qu<strong>em</strong> for ver o filme vai perceber<br />
que t<strong>em</strong>os nele os principais eventos,<br />
a essência e os sentimentos que a música<br />
desperta. Faroeste caboclo – o filme – é uma<br />
obra de ficção, e não um clipe da música.<br />
Você acha que Brasília t<strong>em</strong> sido b<strong>em</strong><br />
apresentada no cin<strong>em</strong>a nos últimos<br />
anos? Acredita que a Brasília do seu filme<br />
é uma Brasília que ainda não apareceu<br />
<strong>na</strong> tela de cin<strong>em</strong>a?<br />
Acho que o Belmonte, o Mauro Giuntini,<br />
o Vladimir Carvalho, entre tantos<br />
outros diretores da cidade, já fizeram excelentes<br />
obras que nos orgulham muito<br />
como brasilienses. Cada um a seu modo<br />
representa b<strong>em</strong> a capital. Vejo também o<br />
florescimento de novos talentos como<br />
Denilson Félix e Iberê Carvalho. Este último<br />
vai rodar um longa interessantíssimo<br />
sobre o Cine Drive-In que também<br />
é mais um olhar particular sobre a cidade.<br />
T<strong>em</strong>os um cin<strong>em</strong>a local forte, com<br />
um jeito de olhar a realidade que vai<br />
O diretor Renê<br />
Sampaio <strong>em</strong> ação:<br />
acima, ao lado da<br />
atriz Ísis Valverde,<br />
que faz o papel da<br />
principal perso<strong>na</strong>g<strong>em</strong><br />
f<strong>em</strong>ini<strong>na</strong> do filme,<br />
Maria Lúcia; abaixo,<br />
com Fabrício Boliveira,<br />
intérprete de João<br />
de Santo Cristo.<br />
Fotos: Hugo Santarém<br />
37
luz câmera ação<br />
Fotos: Hugo Santarém<br />
além dos cartões postais e – <strong>em</strong> particular<br />
no nosso caso – além do noticiário político<br />
que <strong>em</strong> geral nos envergonha. Então,<br />
Faroeste caboclo é singular, pois é o meu<br />
recorte, mas certamente não sou o único<br />
que busca um outro olhar sobre Brasília.<br />
É muito importante que as pessoas vejam<br />
o filme logo <strong>na</strong> primeira s<strong>em</strong>a<strong>na</strong>, a partir<br />
de 30 de maio, para que tenhamos possibilidade<br />
de ficar mais t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> cartaz.<br />
Qual o sotaque de Faroeste caboclo? Você<br />
acredita num sotaque brasiliense?<br />
Acredito muito num sotaque brasiliense.<br />
Diz<strong>em</strong> que t<strong>em</strong>os um sotaque limpo,<br />
mas sinto <strong>na</strong>s ruas um jeito de falar e<br />
uma melodia que mescla os sons de diversas<br />
partes do Brasil. Talvez seja mais<br />
fácil identificar as raízes goia<strong>na</strong>s, cariocas<br />
e nordesti<strong>na</strong>s – cada uma <strong>em</strong> diferentes<br />
intensidades e nuances. Porém, no fi<strong>na</strong>l<br />
dos anos 70 e início dos 80 não era assim.<br />
Fora as crianças, quase todos eram<br />
de outros Estados. Mesmo hoje se escu-<br />
tam diversos termos e sons tipicamente<br />
regio<strong>na</strong>is numa mesa de bar <strong>em</strong> Brasília,<br />
pois as pessoas chegam de todas as partes<br />
pra morar aqui. Faroeste, então, faz uma<br />
boa mescla de sotaques, com as particularidades<br />
de cada perso<strong>na</strong>g<strong>em</strong>, s<strong>em</strong>pre<br />
com uma pitada dessa melodia e termos<br />
candangos <strong>na</strong>s vozes do filme.<br />
Você já pensa num próximo projeto<br />
cin<strong>em</strong>atográfico?<br />
No cin<strong>em</strong>a, estou desenvolvendo um<br />
drama, uma comédia, além de uma história<br />
que t<strong>em</strong> como pano de fundo a<br />
Guerrilha do Araguaia. Em breve vamos<br />
ter novidades para anunciar. As minhas<br />
produtoras, Fulano Filmes e Fogo Cerrado<br />
Filmes, estão também desenvolvendo<br />
séries pra TV. Quero, além de dirigir o<br />
próximo longa, produzir outros diretores<br />
e conteúdos. Estamos abrindo frentes<br />
tanto no cin<strong>em</strong>a quanto <strong>na</strong> televisão,<br />
além de algumas importantes parcerias<br />
inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is. Sou também diretor de<br />
comerciais e estou focado <strong>em</strong> filmes que<br />
cont<strong>em</strong> histórias, que sejam visuais e que<br />
tenham <strong>em</strong>oções e humor com perso<strong>na</strong>lidade.<br />
Não costumo falar sobre mim.<br />
Acho que é mais interessante falar sobre<br />
os outros. Por isso faço filmes. Gosto da<br />
história que o outro t<strong>em</strong> pra contar, dos<br />
segredos, dos casos que ouço <strong>na</strong> rua. É isso<br />
que me move. Gosto do bom cin<strong>em</strong>a,<br />
daquele que mexe com as <strong>em</strong>oções ou<br />
com a razão, mas de maneira profunda e<br />
impactante. Por outro lado, também sei<br />
me divertir com filmes menos elaborados<br />
que ape<strong>na</strong>s se propõ<strong>em</strong> a divertir.<br />
Vou numa boa do comercial ao autoral.<br />
Faroeste caboclo<br />
Brasil/2013, 100min. Direção: René<br />
Sampaio. <strong>Roteiro</strong>: Marcos Bernstein e<br />
Victor Atherino. Com Fabrício Boliveira,<br />
Ísis Valverde, Felipe Abib, Antonio Calloni,<br />
César Trancoso, Marcos Paulo, Flávio<br />
Bauraqui, Lica Oliveira , Ci<strong>na</strong>ra Leal, Julia<strong>na</strong><br />
Lohmann , Rodrigo Pandolfo, Leo<strong>na</strong>rdo<br />
Rosa, Tulio Starling, Romulo Augusto,<br />
Andrade Junior, Caco Monteiro<br />
38<br />
Divulgação MTV<br />
Uma trilha origi<strong>na</strong>l<br />
“A trilha sonora do filme não é tão inspirada <strong>na</strong> música origi<strong>na</strong>l. Eu mantive uma<br />
distância dela”, comenta Philippe Seabra, vocalista e guitarrista da banda brasiliense<br />
Plebe Rude, responsável pela música incidental de Faroeste caboclo. “Não quero que as<br />
pessoas vejam o filme achando que encontrarão a música quadro a quadro”, pontua.<br />
Philippe conta que a trilha t<strong>em</strong> momentos de barulho e delicadeza, com muito uso<br />
de guitarras, violões e violas. “As pessoas sab<strong>em</strong> que o filme é uma tragédia anunciada.<br />
E eu quis passar isso”. O músico l<strong>em</strong>bra que foi uma das primeiras pessoas a ouvir a<br />
versão origi<strong>na</strong>l de Faroeste, gravada por Re<strong>na</strong>to Russo <strong>em</strong> fita cassete no período <strong>em</strong><br />
que o cantor atuou <strong>em</strong> bares de Brasília como Trovador Solitário, entre o fim do Aborto<br />
Elétrico e o <strong>na</strong>scimento da Legião.<br />
Além das composições instrumentais do plebeu, alguns clássicos do punk rock<br />
aparec<strong>em</strong> <strong>em</strong> ce<strong>na</strong>s de Faroeste caboclo: Staring at the rude boys, do The Ruts,<br />
Ever falling in love, dos Buzzcocks, e Dancing with myself, da banda Generation X.
Divulgação<br />
Éramos<br />
tão jovens<br />
Cinebiografia de Re<strong>na</strong>to Russo relata o período anterior<br />
à fama com a Legião Urba<strong>na</strong>, quando o líder da banda<br />
ainda dava os primeiros passos à frente do Aborto Elétrico<br />
Por Sérgio Moriconi<br />
Diretor de filmes importantes como<br />
Copacaba<strong>na</strong> me enga<strong>na</strong><br />
(1968) e A rainha diaba (1974),<br />
Antônio Carlos Fontoura resolveu encarar<br />
o desafio de fazer o filme sobre Re<strong>na</strong>to<br />
Russo meio que por acaso. Embora <strong>na</strong><br />
pré-estreia <strong>em</strong> Brasília ele tenha dito ter<br />
sido um grande fã da Legião Urba<strong>na</strong>, foi<br />
um encontro fortuito com o produtor<br />
Luiz Fer<strong>na</strong>ndo Borges (um amigo muito<br />
próximo de Re<strong>na</strong>to) que o levou a assumir,<br />
como diretor, o projeto. Borges havia<br />
recebido da família Manfredini a responsabilidade<br />
de tentar levar adiante a<br />
possibilidade de fazer chegar às telas de<br />
cin<strong>em</strong>a uma biografia do cantor e compositor,<br />
ídolo de toda uma geração que<br />
cresceu <strong>em</strong>balada <strong>na</strong> onda do rock <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l<br />
dos anos 80. Borges e Fontoura se<br />
encontraram numa calçada do bairro do<br />
Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Eles<br />
não se viam há mais de duas décadas,<br />
desde a época <strong>em</strong> que participaram de<br />
um mesmo grupo de terapia.<br />
E então, quer dirigir? Os desafios para<br />
Fontoura eram enormes. Encontrar<br />
atores críveis para os papéis de perso<strong>na</strong>gens<br />
conhecidíssimos e carismáticos, por<br />
ex<strong>em</strong>plo. Atores que, ainda por cima,<br />
soubess<strong>em</strong> tocar instrumentos. Esta segunda<br />
questão foi resolvida com o convite<br />
feito a Carlos Trilha para fazer a trilha<br />
sonora do filme e adestrar os atores <strong>na</strong><br />
lida com os instrumentos. No que se refere<br />
ao elenco, de um modo geral, as escolhas<br />
foram ótimas, especialmente a de<br />
Thiago Mendonça (Re<strong>na</strong>to Russo). Seus<br />
companheiros de geração (vivendo os<br />
componentes de outras bandas, como<br />
Capital Inicial e Plebe Rude) também estão<br />
b<strong>em</strong>. Bruno Torres (Fê L<strong>em</strong>os), Daniel<br />
Passi (Flávio L<strong>em</strong>os), Conrado Go-<br />
doy (Marcelo Bonfá), Nicolau Villa-Lobos<br />
(Dado Villa-Lobos) e mesmo Ibs<strong>em</strong><br />
Perucci (Dinho Ouro Preto) contribu<strong>em</strong><br />
para a credibilidade das perso<strong>na</strong>gens que<br />
interpretam, da mesma maneira que<br />
Sandra Corvelone (Carminha, a mãe de<br />
Re<strong>na</strong>to), Marcos Breda (o pai), Bianca<br />
Comparato (a irmã) e, principalmente, a<br />
charmosa e eficaz Laila Zaid, no papel de<br />
A<strong>na</strong>, a melhor amiga de Re<strong>na</strong>to.<br />
Somos tão jovens abarca a etapa da vida<br />
de Re<strong>na</strong>to imediatamente posterior à<br />
chegada de sua família a Brasília, até a<br />
formação da Legião, incluindo a viag<strong>em</strong><br />
ao Rio de Janeiro para se apresentar no<br />
Circo Voador, palco mítico, início da ascensão<br />
meteórica da banda ao estrelato<br />
<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Para amarrar a <strong>na</strong>rrativa, Fontoura<br />
chamou Marcos Bernstein, conhecido<br />
roteirista (Terra estrangeira/Central<br />
do Brasil) e também diretor (O outro lado<br />
da rua/Meu pé de laranja lima), sob a su-<br />
39
Laila Zaid, Thiago Mendonça e o brasiliense Bruno Torres (abaixo) interpretam os principais perso<strong>na</strong>gens.<br />
pervisão do jor<strong>na</strong>lista Carlos Marcelo,<br />
autor do livro Re<strong>na</strong>to Russo – O filho da<br />
revolução. A julgar pelo que v<strong>em</strong>os, o papel<br />
de Bernstein se sobrepôs ao de Marcelo<br />
no que diz respeito à contextualização<br />
de época. Se no livro ela está b<strong>em</strong> colocada,<br />
no filme deixa a desejar. Não se<br />
trata de um pecado mortal, afi<strong>na</strong>l de contas<br />
– ainda que timidamente – há referências<br />
à ditadura militar, à repressão policial<br />
e ao vazio cultural da capital.<br />
Timidamente porque o provincianismo,<br />
o isolamento da cidade – chegavam<br />
a dizer que a única saída para qu<strong>em</strong> quisesse<br />
fazer alguma coisa de relevante era<br />
o aeroporto – atingia o pico da mais profunda<br />
melancolia nos anos 70/80, justamente<br />
quando a família Manfredini des<strong>em</strong>barca<br />
no Pla<strong>na</strong>lto Central do país.<br />
Não vamos nos esquecer do Golpe de<br />
1964 e da posterior promulgação do Ato<br />
Institucio<strong>na</strong>l nº 5, <strong>em</strong> 1968, infortúnios<br />
que transformaram a princesa (a cidade<br />
utópica) <strong>em</strong> Gata Borralheira (a sede de<br />
uma ditadura militar). A geração de Re<strong>na</strong>to<br />
vive o vazio cultural dos “filhos da<br />
revolução”. O refluxo de uma época<br />
dourada, quando o país imagi<strong>na</strong>va ter<br />
encontrado o caminho das pedras para<br />
vencer o atraso herdado do pesado passado<br />
colonial. O filme mostra a dificuldade<br />
de Re<strong>na</strong>to e seus companheiros para<br />
conseguir<strong>em</strong> ex<strong>em</strong>plares da Melody Maker,<br />
revista que trazia as novidades do rock<br />
inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Qu<strong>em</strong> cresceu <strong>na</strong> Brasília<br />
pioneira, nos primeiros anos dos 60, sabe<br />
que a Melody Maker (se é que existia<br />
nessa época) e todos os tipos de publicações<br />
inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is (acredite se quiser)<br />
podiam ser facilmente encontrados <strong>na</strong><br />
banca de jor<strong>na</strong>is do aeroporto, quando<br />
ele ainda não passava de um modesto<br />
barracão de madeira.<br />
Os Manfredini se instalam por aqui<br />
<strong>em</strong> 1973. No episódio inicial do filme,<br />
v<strong>em</strong>os o sofrimento de Re<strong>na</strong>to Russo,<br />
diagnosticado com epifisiólise, uma raríssima<br />
doença óssea. Sua convalescência<br />
é amenizada com leitura e música. Muita<br />
literatura, poesia. Idolatria de astros do<br />
rock: John Lennon, Jim Morrison e...<br />
punk rock! Os punks seriam o antídoto<br />
para a pasmaceira geral, o contraveneno<br />
para a ignomínia política rei<strong>na</strong>nte. O l<strong>em</strong>a<br />
dos punks, “faça você mesmo”, também<br />
era mais do que conveniente para<br />
qu<strong>em</strong> queria começar uma banda de rock<br />
s<strong>em</strong> saber tocar direito. Qu<strong>em</strong> cresceu <strong>em</strong><br />
Brasília igualmente conhece a “cultura do<br />
pilotis”. Filhos de professores universitários,<br />
economistas (caso do pai de Re<strong>na</strong>to)<br />
e diplomatas, os futuros protagonistas da<br />
ce<strong>na</strong> roqueira de Brasília introjetavam debaixo<br />
dos blocos das superquadras e <strong>na</strong>s<br />
reuniões <strong>em</strong> seus apartamentos a roti<strong>na</strong><br />
de prisões, perseguições, fazendo inconscient<strong>em</strong>ente<br />
a triste crônica da ditadura,<br />
sobretudo no que se referia à ausência de<br />
liberdade de expressão.<br />
Somos tão jovens dramatiza ocasiões<br />
importantes da vida de Re<strong>na</strong>to (a descoberta<br />
da homossexualidade, principalmente)<br />
e do Aborto Elétrico, grupo de<br />
influência punk, antecessor da Legião.<br />
Entre essas ocasiões está o encontro com<br />
Ian Bruce, professor da Cultura Inglesa<br />
que apresenta os Sex Pistols a Re<strong>na</strong>to.<br />
Descoberta mais do que conveniente: os<br />
ingleses eram banidos dos lugares respeitáveis<br />
por falar<strong>em</strong> mal da rainha, o Aborto<br />
então só tinha que substituir a mo<strong>na</strong>rca<br />
e mirar no calcanhar de Aquiles de algum<br />
general. O filme dramatiza os encontros<br />
no barzinho da comercial da 103<br />
Sul, onde Re<strong>na</strong>to encontraria pela primeira<br />
o sul-africano André Pretorius (no<br />
filme, Petrus), dois metros de altura,<br />
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olhos verdes, punk até os ossos. Vendo-<br />
-o solitário com seu copo de rum, Re<strong>na</strong>to<br />
aborda-o, s<strong>em</strong> jamais tê-lo visto antes:<br />
“Hi, man. Do you like Sex Pistols?” – como<br />
se já esperasse a pergunta: “Sex Pistols,<br />
joia!” Só se separariam quando Pretorius<br />
(já falecido), filho do Embaixador<br />
da África do Sul, parte para seu país,<br />
convocado pelo exército e pela guerra.<br />
O filme dramatiza apresentações do<br />
Aborto Elétrico no estacio<strong>na</strong>mento da<br />
lanchonete Food’s (<strong>na</strong> galeria do extinto<br />
Cine Karin), o episódio da “Rockonha”,<br />
<strong>em</strong> Sobradinho, festa regada a ... (vocês<br />
sab<strong>em</strong>, não é mesmo?), entre outros lances<br />
da trajetória inicial de Re<strong>na</strong>to Russo.<br />
Aparent<strong>em</strong>ente, todos eles dev<strong>em</strong> ter diferentes<br />
impactos sobre plateias da cidade<br />
de Brasília e de fora. Brasilienses que<br />
viveram as efervescentes tardes de sábado<br />
<strong>em</strong> frente ao Food’s, ou que test<strong>em</strong>unharam<br />
os aluci<strong>na</strong>dos happenings do<br />
Aborto Elétrico <strong>na</strong> ala norte do Minhocão,<br />
<strong>na</strong> UnB, certamente ficarão desapontados<br />
com as desenxabidas e insossas<br />
ce<strong>na</strong>s do filme. Plateias de outros Estados<br />
n<strong>em</strong> sequer vão ter noção do verdadeiro<br />
impacto desses acontecimentos e<br />
locais específicos. Pessoas que conheceram<br />
Re<strong>na</strong>to Russo de perto talvez tenham<br />
muitas outras curiosas passagens<br />
da vida desse angustiado, contraditório<br />
e rico perso<strong>na</strong>g<strong>em</strong> para contar. Sua experiência<br />
como repórter do Jor<strong>na</strong>l da Feira,<br />
programa radiofônico do Ministério da<br />
Agricultura, é uma delas. Certa vez (eram<br />
os t<strong>em</strong>pos de inflação descontrolada), interpelando<br />
o ministro Delfim Neto, titular<br />
da pasta, desferiu: “Ministro, o senhor<br />
sabe o preço do quilo de feijão”?<br />
Somos tão jovens<br />
Brasil/2013, 104 min. Direção: Antonio<br />
Carlos da Fontoura. <strong>Roteiro</strong>: Marcos<br />
Bernstein. Com Thiago Mendonça, Laila<br />
Zaid, Bruno Torres, Daniel Passi, Conrado<br />
Godoy, Nicolau Villa-Lobos, Ibs<strong>em</strong> Perucci<br />
Sandra Corvelone, Marcos Breda, Bianca<br />
Comparato, Olívia Torres, Sérgio Dalcin e<br />
Henrique Pires.<br />
Fotos: Divulgação<br />
41
luz câmera ação<br />
Cin<strong>em</strong>a inusitado<br />
Mostra do Filme Livre movimenta o CCBB até 26 de maio<br />
Fotos: Divulgação<br />
A cidade é uma só Ofici<strong>na</strong> de Efeitos Especiais <strong>em</strong> Maquiag<strong>em</strong> Noites do sertão<br />
42<br />
s<strong>em</strong>pre <strong>somos</strong> um espaço<br />
para filmes que buscam<br />
revirar a cada vez mais “Desde<br />
popular linguag<strong>em</strong> audiovisual. São produções<br />
que, muitas vezes, não passam<br />
<strong>em</strong> outros lugares justamente por ser<strong>em</strong><br />
diferentes d<strong>em</strong>ais, além de não precisar<strong>em</strong><br />
ter atores famosos, n<strong>em</strong> de muita<br />
gra<strong>na</strong> para ser<strong>em</strong> feitos. A maioria foi feita<br />
por amor, caseiramente”. A explicação<br />
é de Guilherme Whitaker, criador da<br />
Mostra do Filme Livre, cuja 12ª edição<br />
apresenta 233 títulos de todos os gêneros,<br />
formato e durações, s<strong>em</strong>pre com foco<br />
no inusitado.<br />
Com patrocínio do Banco do Brasil e<br />
do Ministério da Cultura, a MFL é realizada<br />
desde 2002, mas está <strong>em</strong> Brasília pela<br />
segunda vez. Para este ano recebeu<br />
742 inscrições de filmes, sendo que 165<br />
foram selecio<strong>na</strong>dos pelos curadores Marcelo<br />
Ikeda, Chico Serra, Christian Caselli,<br />
Gabriel San<strong>na</strong>, Manu Sobral, Cristia<strong>na</strong><br />
Miranda e pelo próprio Guilherme<br />
Whitaker. Além dos filmes selecio<strong>na</strong>dos,<br />
a programação inclui 60 obras convidadas,<br />
compondo um panorama do que há<br />
de mais ousado <strong>na</strong> produção audiovisual<br />
independente <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.<br />
Um dos destaques da Mostra do Filme<br />
Livre <strong>em</strong> Brasília é a exibição do longa<br />
A Cidade é uma só, de Adirley Queiróz.<br />
O documentário, que mostra o drama<br />
de pessoas que viv<strong>em</strong> no entorno do Distrito<br />
Federal, ganhou o Prêmio Aurora<br />
de melhor filme pelo júri da crítica <strong>na</strong><br />
15ª Mostra de Cin<strong>em</strong>a de Tiradentes, no<br />
ano passado.<br />
A MFL talvez seja a única mostra brasileira<br />
<strong>na</strong> qual a própria curadoria, que<br />
assiste a todos os filmes inscritos, decide<br />
quais destaques dev<strong>em</strong> receber o troféu<br />
Filme Livre. Os realizadores pr<strong>em</strong>iados<br />
são convidados a ir à mostra durante sua<br />
passag<strong>em</strong> pelo Rio de Janeiro para receber<br />
o troféu e conversar com o público<br />
após a exibição de seus filmes. Em 2012<br />
foram pr<strong>em</strong>iados o longa-metrag<strong>em</strong> Esse<br />
amor que nos consome, de Allan Ribeiro<br />
(que estará <strong>em</strong> Brasília para comentar seu<br />
filme), e os curtas Fim de férias, de Camille<br />
Entratice, Filme para poeta cego, de<br />
Gustavo Vi<strong>na</strong>gre, Djinn, de Eliane Lima,<br />
O universo segundo Edgar A. Poe, de Alexandre<br />
Rudáh, A onda traz, o vento leva, de<br />
Gabriel Mascaro, Buracos negros, de Na<strong>na</strong><br />
Maiolini, e Crisálida, de Thiago César.<br />
Uma das novidades da edição brasiliense<br />
da MFL é a Cabine Livre. Sucesso<br />
no ano passado no Rio de Janeiro, será<br />
montada <strong>na</strong> Galeria 3 do CCBB para<br />
exibir durante todo o dia filmes de linguag<strong>em</strong><br />
mais experimental, trabalhos<br />
cont<strong>em</strong>plativos ou radicais. A ideia é<br />
criar um ambiente <strong>em</strong> que o público possa<br />
apreciar obras que fog<strong>em</strong> dos esqu<strong>em</strong>as<br />
tradicio<strong>na</strong>is da sala de cin<strong>em</strong>a comum.<br />
Serão exibidas das 13 às 21h <strong>em</strong><br />
loop, ou seja, o mesmo filme ou a mesma<br />
sequência, s<strong>em</strong> intervalos.<br />
A cada edição a MFL celebra um<br />
grande nome do cin<strong>em</strong>a alter<strong>na</strong>tivo. Este<br />
ano a home<strong>na</strong>g<strong>em</strong> será ao cineasta mineiro<br />
Carlos Alberto Prates, com a exibição<br />
de seus seis longas. Prates é diretor<br />
de filmes pr<strong>em</strong>iados como Cabaré mineiro<br />
(1979) e Noites do sertão (1983). Haverá<br />
também uma sessão especial <strong>em</strong> home<strong>na</strong>g<strong>em</strong><br />
a Carlos Reichenbach (morto <strong>em</strong><br />
2012), com a exibição de seu curta Murilo<br />
lendo, <strong>em</strong> home<strong>na</strong>g<strong>em</strong> ao poeta Murilo<br />
Sales, e do longa Augustas, de Francisco<br />
Cesar Filho.<br />
A edição deste ano promove a Ofici<strong>na</strong><br />
de Efeitos Especiais <strong>em</strong> Maquiag<strong>em</strong>,<br />
de 14 a 16 de maio, sob orientação de<br />
Rodrigo Aragão, que já criou efeitos especiais<br />
para 25 peças e 15 curtas-metragens.<br />
Também cineasta, ele terá exibidos<br />
<strong>na</strong> mostra seus longas-metragens, inclusive<br />
o mais recente, Mar negro, no dia 17.<br />
A seguir participará do debate sobre o<br />
t<strong>em</strong>a “Ser ou não ser trash?”<br />
12ª Mostra do Filme Livre<br />
Até 26/5 no CCBB, com entrada franca<br />
(senhas distribuídas a partir de uma hora<br />
antes do início de cada sessão).<br />
Programação <strong>em</strong> www.bb.com.br/cultura e<br />
http://mostradofilmelivre.com/13/