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os distúrbios alimentares nos jovens - Universidade Estadual do ...

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Comer ou não comer?<br />

<strong>os</strong> distúrbi<strong>os</strong> <strong>alimentares</strong> n<strong>os</strong> <strong>jovens</strong><br />

Ágora<br />

Guarapuava - 2011 - Ed. 07 - Ano 01.


Guarapuava<br />

2011<br />

Edição 07<br />

Ano 01<br />

Expediente<br />

Ágora<br />

Comer ou não comer?<br />

<strong>os</strong> distúrbi<strong>os</strong> <strong>alimentares</strong> n<strong>os</strong> <strong>jovens</strong><br />

Ágora<br />

Guarapuava - 2011-Ed. 07 - Ano 01.<br />

O Jornal Ágora 2011 trás<br />

assunt<strong>os</strong> <strong>do</strong> cotidiano <strong>do</strong> cidadão<br />

de Guarapuava pensad<strong>os</strong> a<br />

partir de frases. Nesta edição,<br />

as matérias têm por inspiração<br />

alguns slogans fam<strong>os</strong><strong>os</strong><br />

Ágora2011<br />

Reitor<br />

Prof. Vitor Hugo Zanette<br />

Vice-Reitor<br />

Prof. Al<strong>do</strong> Nelson Bona<br />

Diretor <strong>do</strong> Campus Santa Cruz<br />

Prof. Osmar Ambrósio de Souza<br />

Vice-direção de Campus<br />

Prof. Darlan Faccin Weide<br />

Diretor <strong>do</strong> Sehla<br />

(Setor de Ciências Humanas,<br />

Letras e Artes)<br />

Prof. Carl<strong>os</strong> Eduar<strong>do</strong> Schipanski<br />

Vice-diretor <strong>do</strong> Sehla<br />

Prof(a). Maria Ap. Crissi Knüppel<br />

Dpto. de Comunicação Social<br />

Coord. Prof. Edgard Melech<br />

Professor Responsável<br />

Prof. Anderson C<strong>os</strong>ta<br />

editorial Por Camila Souza<br />

Publicidade de gaveta<br />

Tô num lugar comum/Onde qualquer<br />

um se esconde/Pra fazer a frase feita/E<br />

sentir <strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> colaterais.<br />

Os vers<strong>os</strong> de Humberto Gessinger,<br />

da banda Engenheir<strong>os</strong> <strong>do</strong> Hawaii,<br />

levam a pensar em uma das principais<br />

características da humanidade. A busca<br />

por frases de efeito: palavras que sintetizem<br />

qualquer coisa e vão além, causem<br />

frisson. O twitter é um exemplo. O<br />

fenômeno da internet m<strong>os</strong>tra que quase<br />

tu<strong>do</strong> pode ser reduzi<strong>do</strong> a 140 caracteres:<br />

notícias, piadas e até conversas.<br />

As redes sociais são inundadas<br />

diariamente com frases, ditad<strong>os</strong> e<br />

citações. Eu mesma, ao iniciar minha<br />

fala, recorri às palavras de outrem<br />

com fins de ilustração. Talvez seja<br />

da natureza <strong>do</strong> próprio homem ser<br />

metafórico, figurativo.<br />

O slogan, dentro <strong>do</strong> universo comercial,<br />

é o elemento que mexe com n<strong>os</strong>so<br />

‘instinto ilustrativo’ através <strong>do</strong> vocabulário.<br />

Associam<strong>os</strong> determina<strong>do</strong> produto<br />

ou marca a um conjunto de palavras<br />

que, unidas e bem sucedidas, atingem<br />

seu principal efeito: o consumo.<br />

Editora-Chefe da Edição<br />

Camila Souza<br />

Assistente de Redação e Revisor<br />

Anita Hoffman<br />

Direção de Arte e Finalização<br />

Anderson C<strong>os</strong>ta<br />

Diagramação<br />

Anita Hoffmann e Camila Souza<br />

Redação:<br />

Aline Bortoluzzi, Andréa Alves,<br />

Anita Hoffmann, Camila Souza,<br />

Camila Syperreck, Carolina Teles,<br />

Catiana Calixto, Eliane Pazuch,<br />

Evane Cecilio, Jeferson Luis d<strong>os</strong><br />

Sant<strong>os</strong>, Júlio Stanczyk, Keissy<br />

Carvelli, Leandro Povinelli,<br />

Luiz Carl<strong>os</strong> Knüppel Jr., Marc<strong>os</strong><br />

Przygocki, Mariana Rudek,<br />

Monique Palu<strong>do</strong>, Morgana Nunes,<br />

Patricia Tagliaferro.<br />

Alguns slogans foram imortalizad<strong>os</strong><br />

ao longo d<strong>os</strong> an<strong>os</strong> tanto pela criatividade<br />

como pela insistência com que<br />

foram veiculad<strong>os</strong>. Que pessoa com mais<br />

de vinte e pouc<strong>os</strong> an<strong>os</strong> que não sabe<br />

completar a frase “Quem disse que não<br />

dá?”. A melodia n<strong>os</strong>tálgica emerge e<br />

a resp<strong>os</strong>ta vem inevitável: “Na Fininvest<br />

dá!”. De quebra, ainda é p<strong>os</strong>sível<br />

lembrar-se da época em que o Faustão<br />

era outro e <strong>os</strong> figurin<strong>os</strong> das bailarinas<br />

pareciam roupas de academia.<br />

Nesta sétima edição <strong>do</strong> Ágora<br />

visitam<strong>os</strong> esse universo d<strong>os</strong> slogans.<br />

Desconstruím<strong>os</strong> alguns significad<strong>os</strong> e<br />

desenvolvem<strong>os</strong> pautas criativas para<br />

trazer até você, leitor, uma leitura agradável<br />

e informativa.<br />

Mesmo que seja inevitável sentir<br />

<strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> colaterais, afinal toda<br />

escrita é uma releitura <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

Buscam<strong>os</strong> partir de frases feitas para<br />

escrever reportagens que não se<br />

escondem no lugar comum.<br />

É com grande prazer que n<strong>os</strong>sa<br />

redação, comp<strong>os</strong>ta pel<strong>os</strong> formand<strong>os</strong> em<br />

Jornalismo da turma de 2011, apresenta<br />

o Ágora Edição Slogans.<br />

Tiragem: 500 exemplares<br />

Impressão: Gráfica Unicentro<br />

Contato:<br />

(42) 3621-1325 e (42) 3621-1088<br />

Foto da capa: Anita Hoffman<br />

Download das edições<br />

www.redesuldenoticias.com.br<br />

e www.unicentro.br/agora<br />

- Tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> text<strong>os</strong> são de<br />

responsabilidade d<strong>os</strong> autores e não<br />

refletem a opinião da Unicentro.<br />

- O Jornal Laboratório Ágora é<br />

desenvolvi<strong>do</strong> pel<strong>os</strong> acadêmic<strong>os</strong> <strong>do</strong> 4º<br />

ano de Jornalismo.<br />

- Projeto de Extensão 096/2011 -<br />

Conset/Sehla/G/Unicentro, 28/06/2011.<br />

saúde<br />

O LIMITADO<br />

<strong>do</strong>ce<br />

SABOR<br />

DA VIDA<br />

Para <strong>os</strong> diabétic<strong>os</strong>,<br />

ingerir <strong>do</strong>ces de<br />

forma limitada é um<br />

desafio para terem<br />

uma vida saudável.<br />

MATÉRIA: ANITA HOFFMANN<br />

página 02<br />

página 03


Doces são praticamente uma<br />

unanimidade: to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> g<strong>os</strong>ta.<br />

Depois <strong>do</strong> almoço de <strong>do</strong>mingo,<br />

uma sobremesa sempre cai<br />

bem. O chocolate, então, esse<br />

é um grande companheiro... as<br />

mulheres que o digam. Quan<strong>do</strong><br />

<strong>os</strong> hormôni<strong>os</strong> alteram-se, principalmente<br />

na época da TPM, o<br />

chocolate é uma boa saída para<br />

acabar com a depressão e a ansiedade,<br />

já que libera uma alta<br />

d<strong>os</strong>e de serotonina, substância<br />

<strong>do</strong> cérebro ligada ao prazer.<br />

Mas, por mais g<strong>os</strong>t<strong>os</strong>o que seja<br />

comer <strong>do</strong>ces, algumas pessoas<br />

devem evitá-l<strong>os</strong> ao máximo, pois<br />

têm sua saúde afetada por eles.<br />

É o caso d<strong>os</strong> diabétic<strong>os</strong>.<br />

O diabetes é uma <strong>do</strong>ença que<br />

se desenvolve quan<strong>do</strong> o pâncreas<br />

passa a produzir a insulina de<br />

forma deficiente ou quan<strong>do</strong> para<br />

totalmente de funcionar. A insulina<br />

é a substância responsável<br />

pela redução da taxa de glic<strong>os</strong>e<br />

no sangue. Como <strong>os</strong> diabétic<strong>os</strong><br />

não a têm de forma adequada no<br />

organismo, precisam injetá-la no<br />

corpo. O diabetes se classifica de<br />

duas formas: diabetes tipo 1 e<br />

diabetes tipo 2.<br />

Segun<strong>do</strong> o en<strong>do</strong>crinologista<br />

Lineu Doming<strong>os</strong> Carleto Junior,<br />

o diabetes tipo 1 ocorre com<br />

maior frequência em crianças<br />

e <strong>jovens</strong>. “Os porta<strong>do</strong>res desse<br />

“Quanto<br />

mais <strong>do</strong>ce eu comia,<br />

mais tinha vontade<br />

de comer”- Rute<br />

tipo de diabetes geralmente<br />

precisam utilizar a insulina desde<br />

a descoberta <strong>do</strong> diagnóstico.<br />

O controle é um pouco mais difícil,<br />

pois as pessoas precisam<br />

aplicar a insulina várias vezes<br />

ao dia”. Muito se comenta sobre<br />

<strong>os</strong> fatores hereditári<strong>os</strong> <strong>do</strong><br />

diabetes, mas, nesse caso, não<br />

existe nenhuma ligação genética.<br />

A cura <strong>do</strong> diabetes ainda<br />

não foi encontrada, mas é p<strong>os</strong>sível<br />

viver muito bem fazen<strong>do</strong><br />

as dietas adequadas e toman<strong>do</strong><br />

insulina ou remédi<strong>os</strong>.<br />

O diabetes tipo 2 é o mais<br />

frequente. Ele c<strong>os</strong>tuma aparecer<br />

em uma fase mais tardia<br />

da vida, principalmente depois<br />

d<strong>os</strong> quarenta an<strong>os</strong>, em pessoas<br />

Foto:Anita Hoffmann<br />

com históric<strong>os</strong> de sedentarismo<br />

e obesidade. “Esse tipo de<br />

diabetes, sim, tem relação com<br />

fatores genétic<strong>os</strong>”, comenta Dr.<br />

Lineu. Nem tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> porta<strong>do</strong>res<br />

desse tipo de diabetes precisam<br />

tomar insulina; é p<strong>os</strong>sível controlá-lo<br />

com dietas, exercíci<strong>os</strong><br />

físic<strong>os</strong> e remédi<strong>os</strong>.<br />

“Quanto mais <strong>do</strong>ce eu comia,<br />

mais tinha vontade de comer.<br />

Sempre fui compulsiva por<br />

esse tipo de comida”. Com essa<br />

frase, Rute Jesus de Oliveira, 67<br />

an<strong>os</strong>, resume exatamente o que<br />

acontece com a maioria d<strong>os</strong> diabétic<strong>os</strong>.<br />

A proibição de ingerir<br />

glic<strong>os</strong>e <strong>os</strong> atrai ainda mais para<br />

a gula. Rute descobriu que era<br />

diabética a<strong>os</strong> 38 an<strong>os</strong>, quan<strong>do</strong><br />

alguns exames que fez antes de<br />

uma operação constaram que o<br />

seu nível de glic<strong>os</strong>e estava alto<br />

demais. “Por muit<strong>os</strong> an<strong>os</strong>, mesmo<br />

saben<strong>do</strong> que tinha esse problema,<br />

eu continuei exageran<strong>do</strong><br />

n<strong>os</strong> <strong>do</strong>ces. Já cheguei até a enfartar<br />

por causa da junção <strong>do</strong><br />

diabetes e da pressão alta, mas<br />

só fui descobrir mais tarde. Na<br />

hora não senti nada”.<br />

A decisão de levar a sério o<br />

tratamento só aconteceu há seis<br />

an<strong>os</strong>, quan<strong>do</strong> Rute perdeu uma<br />

“Se o diabetes<br />

estiver alto por<br />

muito tempo,<br />

complicações<br />

crônicas graves<br />

[surgem”<br />

irmã por consequência <strong>do</strong> diabetes:<br />

ela precisou amputar as<br />

pernas e não resistiu à cirurgia.<br />

Quan<strong>do</strong> um diabético está com<br />

a glic<strong>os</strong>e alta, a cicatrização é<br />

muito demorada. Uma feridinha<br />

no pé, por exemplo, pode trazer<br />

uma complicação imensa.<br />

Edinê Tomen d<strong>os</strong> Anj<strong>os</strong>, 72<br />

an<strong>os</strong>, assim como Rute, é porta<strong>do</strong>ra<br />

<strong>do</strong> diabetes tipo 2. Ela<br />

poderia controlar sua <strong>do</strong>ença<br />

apenas com dietas e remédi<strong>os</strong>,<br />

mas, para poder ter uma liberdade<br />

maior para comer, toma<br />

uma pequena d<strong>os</strong>e de insulina<br />

todas as manhãs. “Eu mesma me<br />

aplico . Às vezes na barriga, às<br />

vezes na perna. Não sinto mais<br />

nada de <strong>do</strong>r”. Quem fiscaliza a<br />

glic<strong>os</strong>e de Edinê são seus filh<strong>os</strong><br />

e net<strong>os</strong>. Basta ela exagerar um<br />

pouco n<strong>os</strong> <strong>do</strong>ces para logo levar<br />

um sermão. “Quan<strong>do</strong> o diabetes<br />

está baixo, eu <strong>do</strong>u uma abusada<br />

mesmo. Quan<strong>do</strong> vejo que a coisa<br />

está fican<strong>do</strong> feia, corto <strong>os</strong> carboidrat<strong>os</strong><br />

e faço algumas caminhadas.<br />

Na idade em que estou,<br />

acho que tenho o direito de comer<br />

de tu<strong>do</strong>”.<br />

Quan<strong>do</strong> o nível de glic<strong>os</strong>e no<br />

corpo abaixa demais, <strong>os</strong> diabétic<strong>os</strong><br />

sentem alguns efeit<strong>os</strong> colaterais<br />

imediat<strong>os</strong>. É o que se chama<br />

de hipoglicemia. Segun<strong>do</strong> Dr. Lineu,<br />

a hipoglicemia é uma complicação<br />

aguda que é revertida<br />

rapidamente com a ingestão de<br />

açúcar. Quan<strong>do</strong> está com hipoglicemia,<br />

o diabético, de uma hora<br />

para a outra, começa a suar frio,<br />

sente tremores, tem o coração<br />

acelera<strong>do</strong>, fica fraco e com muita<br />

fome. Rute e Edinê já passaram<br />

por alguns apur<strong>os</strong><br />

por causa disso.<br />

Uma vez, quan<strong>do</strong><br />

foi pagar algumas<br />

contas no centro da<br />

cidade, Edinê passou<br />

muito mal. Sua sorte<br />

é que estava perto<br />

<strong>do</strong> p<strong>os</strong>to de saúde e<br />

lá entrou para pedir<br />

ajuda. Era a hipoglicemia.<br />

“As moças <strong>do</strong><br />

p<strong>os</strong>to me deram uma<br />

bala e logo melhorei.<br />

Já tinha senti<strong>do</strong> hipoglicemia<br />

outras vezes,<br />

mas desta vez foi mais<br />

forte que o normal.<br />

Depois disso, nunca mais saí de<br />

casa sem carregar algum <strong>do</strong>ce<br />

na bolsa. Assim, quan<strong>do</strong> começo<br />

a tremer, basta comer para melhorar”.<br />

Rute c<strong>os</strong>tuma sentir hipoglicemia<br />

quan<strong>do</strong> <strong>do</strong>rme, o que<br />

pode ser muito perig<strong>os</strong>o, pois, se<br />

o açúcar não for ingeri<strong>do</strong> rapidamente,<br />

pode-se entrar em coma.<br />

“Quan<strong>do</strong> esqueço de fazer um<br />

lanchinho antes de deitar, com<br />

certeza terei hipoglicemia de<br />

madrugada. Quan<strong>do</strong> estou <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong><br />

e começo a sentir um mal<br />

estar, basta colocar algum <strong>do</strong>cinho<br />

na boca para ficar melhor”.<br />

Dr. Lineu explica que, por<br />

mais que a hipoglicemia cause<br />

algumas sensações ruins n<strong>os</strong><br />

porta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> diabetes, perig<strong>os</strong>o<br />

mesmo é quan<strong>do</strong> a glic<strong>os</strong>e está<br />

alta demais, que é a hiperglicemia.<br />

“Se o diabetes estiver alto<br />

por muito tempo, complicações<br />

crônicas graves surgem”. Quem<br />

está com hiperglicemia sente<br />

muita sede, urina mais <strong>do</strong> que o<br />

normal e, geralmente, emagrece.<br />

Para melhorar disso, o tratamento<br />

não é imediato, como<br />

o da hipoglicemia. O diabético<br />

precisa tomar insulina ou fazer<br />

uma dieta rigor<strong>os</strong>a.<br />

“Nunca<br />

mais saí<br />

de casa sem<br />

carregar algum<br />

<strong>do</strong>ce na bolsa.<br />

Assim, quan<strong>do</strong><br />

começo a tremer,<br />

basta comer para<br />

melhorar”<br />

- Edinê<br />

Foto: Anita Hoffmann<br />

página 04<br />

página 05


Cotidiano<br />

página 06<br />

“Quan<strong>do</strong> o<br />

Marcio Vinicius<br />

ganhava algum<br />

<strong>do</strong>ce de alguém,<br />

ele guardava para<br />

comer quan<strong>do</strong><br />

estivesse com o<br />

diabetes mais baixo”<br />

- Marcio Luiz<br />

$<br />

Foto: Anita Hoffmann<br />

Se para um<br />

adulto é difícil<br />

controlar-se<br />

para não comer<br />

<strong>do</strong>ces, imaginem<br />

para uma<br />

[criança.<br />

Se para um adulto é difícil<br />

controlar-se para não comer <strong>do</strong>ces,<br />

imaginem para uma criança.<br />

Marcio Vinicius Cicielski Pereira<br />

foi diagn<strong>os</strong>tica<strong>do</strong> com diabetes<br />

tipo 1 a<strong>os</strong> <strong>do</strong>is an<strong>os</strong> e meio. No<br />

início, o choque foi grande para<br />

seus pais, Marcio Luiz Pereira e<br />

Adriane Cicielski Pereira. Eles<br />

não tinham nem ideia de como<br />

agir com as novas limitações de<br />

seu filho. As desconfianças de que<br />

algo não estava certo com o menino<br />

surgiram quan<strong>do</strong> Marcio Vinicius<br />

começou a sentir muita sede,<br />

<strong>do</strong>r de barriga e fazia xixi demasiadamente.<br />

Quan<strong>do</strong> fez o exame,<br />

sua glic<strong>os</strong>e estava em 512, muito<br />

acima <strong>do</strong> limite, que é 110.<br />

Marcio Vinicius, como toda<br />

criança, a<strong>do</strong>ra comer chocolate,<br />

mas, como cresceu aprenden<strong>do</strong><br />

a controlar sua glic<strong>os</strong>e, nunca<br />

exagera em nada. “Quan<strong>do</strong> o<br />

Marcio Vinicius ganhava algum<br />

<strong>do</strong>ce de alguém, ele guardava<br />

para comer quan<strong>do</strong> estivesse<br />

com o diabetes mais baixo.<br />

Ele sempre teve consciência da<br />

<strong>do</strong>ença”, conta seu pai. Hoje,<br />

Marcio Vinicius aplica insulina<br />

seis vezes ao dia e faz o exame<br />

de glic<strong>os</strong>e cerca de dez vezes.<br />

Questiona<strong>do</strong> sobre como lida<br />

“Fazen<strong>do</strong> a sua vida mais <strong>do</strong>ce”<br />

O slogan da marca brasileira Açúcar União<br />

inspirou a matéria sobre as implicações <strong>do</strong> açucar<br />

na saúde de quem tem diabetes, a <strong>do</strong>ença que<br />

torna a vida um pouquinho men<strong>os</strong> <strong>do</strong>ce.<br />

com as intensas aplicações da<br />

insulina, o menino, com um sorriso<br />

aberto, conta que não sente<br />

mais <strong>do</strong>r. “O que é chato mesmo<br />

é fazer o exame. A picadinha<br />

que sinto no de<strong>do</strong> às vezes<br />

dói”. Para Marcio Vinicius não<br />

ter nenhuma hipoglicemia noturna,<br />

Adriane c<strong>os</strong>tuma fazer o<br />

exame da glic<strong>os</strong>e nele três vezes<br />

durante a madrugada. É um<br />

esforço necessário para evitar<br />

transtorn<strong>os</strong> maiores.<br />

Adriane nunca escondeu de<br />

seu filho sobre a <strong>do</strong>ença para<br />

evitar surpresas e decepções.<br />

“O diabetes é uma <strong>do</strong>ença traiçoeira,<br />

mas o médico sempre<br />

n<strong>os</strong> aconselhou a contarm<strong>os</strong><br />

tu<strong>do</strong> para ele desde pequeno. É<br />

bom que ele cresça saben<strong>do</strong> de<br />

tu<strong>do</strong> o que deve fazer para ter<br />

uma vida saudável”.<br />

Onde vai, Marcio Vinicius<br />

carrega consigo a caneta aplica<strong>do</strong>ra<br />

da insulina e o equipamento<br />

medi<strong>do</strong>r da glic<strong>os</strong>e. Para<br />

algumas pessoas, pode<br />

parecer totalmente desanima<strong>do</strong>r<br />

levar uma<br />

vida com tantas limitações<br />

assim, mas Marcio<br />

Vinicius m<strong>os</strong>tra o contrário.<br />

O menino, hoje<br />

com <strong>do</strong>ze an<strong>os</strong>, é muito<br />

esperto, pratica vári<strong>os</strong><br />

esportes, toca guitarra<br />

e vai bem na escola. O<br />

diabetes não é e nunca<br />

foi nenhum limite para a<br />

sua felicidade.<br />

Marcio Vinicius sabe<br />

que sua <strong>do</strong>ença o acompanhará<br />

por toda sua<br />

vida e tem consciência de que,<br />

com o tempo, a tendência é a<br />

d<strong>os</strong>e de insulina aumentar mais<br />

ainda. Seu pâncreas não produz<br />

nada de insulina, mas sua família<br />

espera que, um dia, talvez,seja<br />

encontrada a cura para esse mal.<br />

pelas pessoas<br />

Matéria: Patrícia Tagliaferro<br />

Quem nunca viveu uma<br />

coincidência? Ainda não se<br />

sabe como e por que, mas as<br />

pessoas continuam conectadas<br />

e se encontran<strong>do</strong> onde quer<br />

que estejam.<br />

Há quem diga que a explicação<br />

de tamanha coincidência<br />

é a teoria quântica. Até hoje,<br />

ninguém chegou a um consenso,<br />

mas, por mais difícil que pareça<br />

ser, a maioria das pessoas, um<br />

dia, em algum lugar qualquer, já<br />

encontrou um conheci<strong>do</strong>, um amigo,<br />

um professor ou até mesmo<br />

um irmão. Parece uma bola de<br />

neve quan<strong>do</strong> a gente tenta explicar.<br />

Fulano que conhece ciclano,<br />

O mun<strong>do</strong> conecta<strong>do</strong><br />

que estu<strong>do</strong>u com beltrano, que é<br />

primo de fulano e que também<br />

viajou com o ciclano. Mas, no<br />

fim chega a um ponto só em que<br />

to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> conhece to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<br />

onde tod<strong>os</strong> estão conectad<strong>os</strong>.<br />

Comigo e com outras milhares de<br />

pessoas já aconteceram algumas<br />

situações engraçadas e esta que<br />

eu vou contar não foi a única e<br />

nem a será a última nesse mun<strong>do</strong>,<br />

que é <strong>do</strong> tamanho de um ovo.<br />

Era ag<strong>os</strong>to, eu já morava em<br />

Chicago há cinco meses, o dia estava<br />

ensolara<strong>do</strong> e eu e uma amiga<br />

decidim<strong>os</strong> andar pelo centro da<br />

cidade. Sem muit<strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> e<br />

plan<strong>os</strong>, fom<strong>os</strong> para a loja da Nike,<br />

que, por sinal, não era a única<br />

da cidade. Entram<strong>os</strong>, andam<strong>os</strong><br />

e, então, fom<strong>os</strong> parar no terceiro<br />

andar. Encontrar brasileir<strong>os</strong> lá<br />

fora é uma das coisas mais fáceis<br />

que existe; é incrível como eles<br />

se multiplicam e surgem <strong>do</strong> nada,<br />

mas encontrar um conheci<strong>do</strong> é um<br />

pouco mais complexo. Enquanto<br />

Foto: Flavio Takemoto<br />

página 07


eu estava<br />

esperan<strong>do</strong> minha amiga escolher<br />

um tênis, escutei algumas meninas falan<strong>do</strong><br />

português. Quan<strong>do</strong> olhei, não acreditei no que vi: eu acabara<br />

de encontrar a namorada de um amigo meu. Apesar de conhecê-lo<br />

há nove an<strong>os</strong>, só havia visto sua namorada uma vez no Brasil. Era sába<strong>do</strong>, o<br />

centro estava lota<strong>do</strong> e eu no terceiro andar, na mesma cidade, na mesma loja e no<br />

mesmo horário. Como eu já não morava na minha cidade natal há cinco an<strong>os</strong>, o contato<br />

com esse amigo diminuíra e, por isso, eu somente sabia que sua namorada estava n<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong><br />

Unid<strong>os</strong>, mas não imaginava que ela estava moran<strong>do</strong> tão perto de mim. A situação foi engraçada e,<br />

até hoje, não acredito na coincidência. Não parecia fácil encontrar uma pessoa que fazia parte da minha<br />

vida em C<strong>os</strong>mópolis, cidadezinha <strong>do</strong> interior de São Paulo, em um lugar tão distante <strong>do</strong> n<strong>os</strong>so Brasil.<br />

Como eu disse anteriormente, encontrar brasileir<strong>os</strong> no exterior nunca foi difícil. Isso aconteceu<br />

também com a guarapuavana Keity Althaus, que estava participan<strong>do</strong> de um intercâmbio de estud<strong>os</strong> em<br />

Pensacola, uma pequena cidade no esta<strong>do</strong> da Flórida, n<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>. Ela e o namora<strong>do</strong> moravam em<br />

uma casa com mais nove pessoas. Um dia, uma das brasileiras que morava com Keity conheceu um rapaz que<br />

também era brasileiro. Conversa vai, conversa vem, <strong>os</strong> <strong>do</strong>is acabaram falan<strong>do</strong> sobre suas cidades natais. Quan<strong>do</strong><br />

ele contou a ela em qual cidade tinha nasci<strong>do</strong>, ninguém acreditou na coincidência. “Ele disse que ia falar bem<br />

devagar pra ela entender, daí disse ‘Guara’ e ela complementou ‘puava’”. Então ele perguntou se ela conhecia e<br />

ela explicou que morava com <strong>do</strong>is guarapuavan<strong>os</strong>: Keity e seu namora<strong>do</strong>. Pouco tempo mais tarde, a própria Keity<br />

também acabara encontran<strong>do</strong> o tal <strong>do</strong> guarapuavano em um restaurante.<br />

Para muit<strong>os</strong>, essas histórias acontecem, a vida continua e fica na lembrança a coincidência <strong>do</strong> momento. No entanto,<br />

para Luiz Carl<strong>os</strong> de Souza Júnior e Luiz Fernan<strong>do</strong> de Souza, a coincidência foi bem mais inusitada. Seus amig<strong>os</strong> brincam<br />

que a história d<strong>os</strong> <strong>do</strong>is guarapuavan<strong>os</strong> poderia ser tema da ‘Malhação’. Luiz Carl<strong>os</strong> sempre soube que tinha um irmão em<br />

Guarapuava, mas não fazia ideia de quem f<strong>os</strong>se. “Minha mãe se separou <strong>do</strong> meu pai quan<strong>do</strong> eu tinha um mês porque<br />

descobriu que ele tinha outra família e que a outra mulher estava esperan<strong>do</strong> um filho. A diferença é somente de <strong>do</strong>is<br />

meses entre mim e ele, por isso, tanto a minha mãe como a mãe dele se separaram <strong>do</strong> n<strong>os</strong>so pai”.<br />

Luiz Carl<strong>os</strong> e Luiz Fernan<strong>do</strong> já eram amig<strong>os</strong> há aproximadamente um ano quan<strong>do</strong> descobriram que eram<br />

irmã<strong>os</strong>. A maneira que descobriram também foi um pouco engraçada. “Um dia a mãe <strong>do</strong> Luiz Carl<strong>os</strong> passou<br />

na frente de casa e falou que o irmão dele morava ali, na hora um amigo n<strong>os</strong>so estava sain<strong>do</strong> e foi aí que<br />

a gente descobriu”. Fernan<strong>do</strong>, como é chama<strong>do</strong> pel<strong>os</strong> amig<strong>os</strong> e pelo irmão, perguntou ao amigo quem<br />

morava naquela casa, marcaram um dia e foram conferir o <strong>do</strong>cumento de identidade. “Bateu o nome<br />

<strong>do</strong> pai e, depois de 18 an<strong>os</strong>, n<strong>os</strong> encontram<strong>os</strong>. Hoje em dia, ele está em Ponta Gr<strong>os</strong>sa, mas quase<br />

to<strong>do</strong> final de semana n<strong>os</strong> vem<strong>os</strong>. Criam<strong>os</strong> um relacionamento muito bom. Por sentir falta de<br />

uma família, agora n<strong>os</strong> dam<strong>os</strong> muito bem; minha mãe a<strong>do</strong>ra ele e a mãe dele também<br />

se dá muito bem comigo”. Luiz Carl<strong>os</strong> se sente muito feliz por ter encontra<strong>do</strong><br />

um irmão depois de tanto tempo e acha a história engraçada. “Parece<br />

que sempre tivem<strong>os</strong> essa relação de irmã<strong>os</strong>, foi umas das coisas<br />

mais loucas que aconteceram na minha vida. Descobri<br />

que um amigo era, na verdade, o meu<br />

irmão”.<br />

O Ágora é produzi<strong>do</strong> em um laboratório muito especial, um laboratório<br />

de jornalismo, onde experiências de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> tip<strong>os</strong> são realizadas.<br />

Ali, <strong>os</strong> alun<strong>os</strong> adicionam às suas inquietações, o fazer jornalístico e a<br />

vontade de mexer um pouco com esse mun<strong>do</strong>. Acrescentam ainda suas<br />

próprias personalidades para gerar, na combustão de element<strong>os</strong>, um<br />

veículo de comunicação com identidade, onde forma e conteú<strong>do</strong> são<br />

uma coisa só: jornalismo.<br />

Essa é a fórmula <strong>do</strong> Ágora. Não é uma regra, é uma maneira de pensar<br />

em que as estruturas se movem, são dinâmicas. Vam<strong>os</strong> <strong>do</strong> laboratório<br />

para as ruas e para as suas mã<strong>os</strong>, deixan<strong>do</strong> a juventude acadêmica<br />

para entrar no amadurecimento profissional. Som<strong>os</strong> <strong>jovens</strong> falan<strong>do</strong><br />

de coisa séria para outr<strong>os</strong> <strong>jovens</strong>. É informação para entender o<br />

mun<strong>do</strong>. É jornalismo para mover uma geração.<br />

ágora, ideias jornalísticas.<br />

Ágora<br />

revista<br />

Guarapuava - 2011 - Ed 5 . Ano 07<br />

diári<strong>os</strong> de<br />

bicicleta<br />

p. 26<br />

p. 24<br />

revista<br />

Guarapuava - jul-ago/11 - Ed 4 . Ano 07<br />

Ágora<br />

eu sei<br />

quan<strong>do</strong><br />

parar<br />

Ágora<br />

p. 22<br />

Ágora<br />

revista<br />

Guarapuava - mai/2011 - Ed 2 . Ano 07<br />

$<br />

“Connecting People”<br />

O slogan é da marca finlandesa Nokia desde 1992. “Connecting<br />

People” vem <strong>do</strong> inglês e significa “conectan<strong>do</strong> pessoas”. Nessa matéria,<br />

buscam<strong>os</strong> m<strong>os</strong>trar como as pessoas são conectadas por laç<strong>os</strong> invisíveis<br />

a olho nu. Coincidência ou destino, independente da nomenclatura, a<br />

conclusão à qual podem<strong>os</strong> chegar é a de que o mun<strong>do</strong> é mesmo um ovo.<br />

{ jornal } { revista } { online }<br />

www.unicentro.br/agora<br />

página 08<br />

página 21


Cotidiano<br />

O tempo<br />

to<strong>do</strong><br />

com voce<br />

O celular como<br />

ferramenta<br />

indispensável<br />

?<br />

?<br />

Enquete<br />

O Ágora perguntou qual é o objeto<br />

que fica “o tempo to<strong>do</strong> com você?”<br />

Confira algumas resp<strong>os</strong>tas:<br />

cartao de credito<br />

Gayego Cunha<br />

Estudante de Engenharia de Produção<br />

Relogio de pulso<br />

Madeline Corrêa<br />

Estudante de Engenharia de Aliment<strong>os</strong><br />

celular e perfume<br />

Priscila Bernardino<br />

Estudante de Psicologia<br />

celular<br />

Diego Caetano, Radialista<br />

celular<br />

Raquel Klemman, Professora de inglês<br />

controle <strong>do</strong> portao<br />

Michele Mat<strong>os</strong>, Publicitária<br />

Matéria e fot<strong>os</strong>:<br />

Carolina Teles<br />

Você p<strong>os</strong>sui algum objeto<br />

que carrega ‘o tempo to<strong>do</strong> com<br />

você’? Essa foi a pergunta respondida<br />

por <strong>jovens</strong> da cidade de<br />

Guarapuava em uma enquete<br />

realizada pelo Ágora. Perfumes,<br />

chaves de casa e carteira ficam<br />

em segun<strong>do</strong> plano quan<strong>do</strong> o assunto<br />

é a necessidade d<strong>os</strong> objet<strong>os</strong>.<br />

Aproximadamente 95% d<strong>os</strong><br />

<strong>jovens</strong>, prontamente, n<strong>os</strong> deram<br />

a mesma resp<strong>os</strong>ta: celular. Mas<br />

o que faz <strong>do</strong> celular, um objeto<br />

relativamente novo no Brasil, tão<br />

necessário à população?<br />

Númer<strong>os</strong> divulgad<strong>os</strong> pela<br />

Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações)<br />

no ano de 2010<br />

m<strong>os</strong>tram que são 189,4 milhões<br />

de celulares em uso em to<strong>do</strong> o<br />

país. O que significa quase um<br />

celular para cada cidadão brasileiro,<br />

já que, de acor<strong>do</strong> com dad<strong>os</strong><br />

recentes <strong>do</strong> IBGE, a população<br />

brasileira é de cerca de 190<br />

milhões de pessoas. Desde que<br />

chegou ao Brasil, há 21 an<strong>os</strong>, o<br />

celular passou por inúmeras mudanças.<br />

Seu tamanho diminuiu e<br />

suas funções se multiplicaram. A<br />

popularização foi rápida e, hoje<br />

em dia, é difícil encontrar alguém<br />

que viva sem ele.<br />

Diego Gadens d<strong>os</strong> Sant<strong>os</strong>, 22<br />

an<strong>os</strong>, é analista de sistemas e aficiona<strong>do</strong><br />

pelo seu iPhone. “Não<br />

consigo nem <strong>do</strong>rmir sem ele por<br />

perto”. Ele já teve cinco celulares<br />

e, de lá pra cá, muita coisa<br />

mu<strong>do</strong>u. “A coisa mais diferente<br />

que meu primeiro celular tinha<br />

na época era a luz de fun<strong>do</strong> azul;<br />

acho que nem toque polifônico<br />

existia ainda”. Atualmente, as<br />

funções <strong>do</strong> seu celular vão muito<br />

além da comunicação através de<br />

SMS e ligações. O acesso à internet,<br />

onde pode checar seu e-mail<br />

e as principais redes sociais, e a<br />

diversão com músicas e jog<strong>os</strong> são<br />

algumas das ferramentas mais<br />

utilizadas por Diego. “Outras fun-<br />

ções como GPS, toca<strong>do</strong>r de MP3,<br />

leitor de PDF e arquiv<strong>os</strong> <strong>do</strong> Office<br />

também são muito bem-vindas<br />

em diversas ocasiões, então, é<br />

bom sempre ter ele no bolso pra<br />

quan<strong>do</strong> precisar.”<br />

Os smartphones são celulares<br />

com sistemas operacionais<br />

avançad<strong>os</strong> que fazem com que<br />

seja p<strong>os</strong>sível a interação online.<br />

Para Diego, o iPhone (smartphone<br />

desenvolvi<strong>do</strong> pela Apple)<br />

é como um computa<strong>do</strong>r portátil,<br />

com a vantagem de também fazer<br />

ligações. E essa união vem<br />

sen<strong>do</strong> muito útil para um mun<strong>do</strong><br />

cada vez mais conecta<strong>do</strong>, onde<br />

pessoas como Diego são cada<br />

vez mais comuns. “Sou daqueles<br />

que, para estar online, basta estar<br />

acorda<strong>do</strong>”. A popularização<br />

d<strong>os</strong> smartphones impulsionou inclusive<br />

as vendas de celulares no<br />

primeiro trimestre<br />

de 2011 no<br />

“Não consigo<br />

nem <strong>do</strong>rmir sem<br />

ele por perto”<br />

Brasil, segun<strong>do</strong><br />

pesquisa da Internacional<br />

Data<br />

Corporation.<br />

Luciano Meirelles,<br />

22 an<strong>os</strong>,<br />

é fotógrafo profissional e, assim<br />

como Diego, não vive sem seu celular.<br />

Ele também recorda de seus<br />

primeir<strong>os</strong> celulares com carinho:<br />

“tinha luz verde, SMS era raridade,<br />

mas tinha joguinho da minhoca<br />

que me mantinha entreti<strong>do</strong> por<br />

muito tempo”. Como o seu instrumento<br />

de trabalho, a máquina fotográfica,<br />

é grande e ele não pode<br />

carregar para<br />

tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> lugares,<br />

ele utiliza o seu<br />

celular como uma<br />

máquina portátil.<br />

Dessa forma, ele<br />

tira fot<strong>os</strong> e p<strong>os</strong>ta<br />

na internet simultaneamente,<br />

tu<strong>do</strong> com o celular.<br />

Mesmo funções d<strong>os</strong> celulares<br />

mais ‘baratinh<strong>os</strong>’ se tornam indispensáveis<br />

a<strong>os</strong> usuári<strong>os</strong>. Luciano<br />

adaptou às suas necessidades o<br />

simples lembrete <strong>do</strong> celular. “Tenho<br />

uma memória ruim e não me<br />

lembro de nada, dai mantenho a<br />

agenda e <strong>os</strong> lembretes ativ<strong>os</strong> 24<br />

horas no celular”. Mari Cláudia,<br />

20 an<strong>os</strong>, também anda com o celular<br />

pra cima e pra baixo. O motivo?<br />

Ela é fascinada por música<br />

e, aonde quer que vá, seu celular<br />

e fone de ouvi<strong>do</strong> estão junt<strong>os</strong>.<br />

“Sempre amei ouvir música na<br />

rua; antes andava com radinh<strong>os</strong>,<br />

hoje é com o celular ”.<br />

Até mesmo a função de marcar<br />

a hora pode fazer com que<br />

o celular esteja sempre ao seu<br />

la<strong>do</strong>. Ewerton Mores, 22 an<strong>os</strong>,<br />

não desgruda de seu celular pelo<br />

página 10<br />

página 11


improviso<br />

“<br />

Sempre amei ouvir<br />

música na rua. Antes<br />

andava com radinho,<br />

hoje é com o celular.<br />

Foto: Patrícia Tagliaferro<br />

simples motivo de saber o horário.<br />

“Até porque faz tempo que<br />

não coloco crédito”, conta com<br />

bom humor. Ele também mantém<br />

um hábito bastante diferente:<br />

guarda tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seus celulares<br />

antig<strong>os</strong> em uma caixa. A resp<strong>os</strong>ta<br />

para tal c<strong>os</strong>tume é vaga: “pode<br />

ser que eu ou alguém precise um<br />

dia”. Os carrega<strong>do</strong>res e cab<strong>os</strong><br />

USB também ficam guardad<strong>os</strong><br />

na caixa. Dessa maneira, ele conta<br />

que presentou muit<strong>os</strong> amig<strong>os</strong> e<br />

parentes com celular, cab<strong>os</strong> USB,<br />

fones de ouvi<strong>do</strong> e carrega<strong>do</strong>res.<br />

“Só que não pode exigir muito,<br />

pois esses celulares só fazem ligações”.<br />

Quan<strong>do</strong> indaga<strong>do</strong> se<br />

g<strong>os</strong>taria de p<strong>os</strong>suir um celular<br />

com mais funções, ele afirma que<br />

não, pois assim ficaria ainda mais<br />

“vicia<strong>do</strong>” no objeto. “Se tivesse<br />

acesso à internet, ficaria difícil<br />

me desligar dele; trocaria o celular<br />

até pelo notebook”.<br />

Ligações, SMS, música, jog<strong>os</strong>,<br />

desperta<strong>do</strong>r, lembrete, internet.<br />

Seja qual for sua necessidade, o celular<br />

se m<strong>os</strong>tra pronto a atendê-la<br />

com criações de nov<strong>os</strong> aplicativ<strong>os</strong><br />

a cada dia. Hoje, ele virou um ótimo<br />

substituto para divers<strong>os</strong> outr<strong>os</strong><br />

objet<strong>os</strong>, como relógio, desperta<strong>do</strong>r,<br />

máquina fotográfica, rádio, telefone,<br />

computa<strong>do</strong>r. Unin<strong>do</strong> todas as<br />

funções em um único objeto é fácil<br />

entender porque ele é tão queri<strong>do</strong><br />

pel<strong>os</strong> usuári<strong>os</strong>.<br />

Mil<br />

e uma<br />

Matéria: Luiz Carl<strong>os</strong> Knüppel Júnior<br />

Você conhece<br />

todas as utilidades<br />

d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> que<br />

tÊm em casa?<br />

utilidades<br />

$<br />

“O tempo to<strong>do</strong> com você“<br />

O slogan <strong>do</strong> Banco <strong>do</strong> Brasil foi um pontapé para a questão: “O que<br />

as pessoas levam o tempo to<strong>do</strong> consigo?”. Em pleno século XXI, o<br />

celular parece ser uma parte biônica <strong>do</strong> corpo humano, uma extensão<br />

anatômica e conveniente para braço da juventude conectada.<br />

página 12<br />

página 13


Esteriliza<strong>do</strong>r, “tira-manchas”,<br />

amaciante, “tira-mofo”,<br />

desinfetante, tônico facial, deso<strong>do</strong>rante,<br />

“tira-limo” e anticaspa,<br />

tu<strong>do</strong> em um só produto.<br />

Não, você não esta em uma<br />

pagina de anúnci<strong>os</strong> daquelas<br />

empresas que trazem produt<strong>os</strong><br />

revolucionári<strong>os</strong> que facilitam a<br />

sua vida. Tampouco estam<strong>os</strong> falan<strong>do</strong><br />

de uma novíssima descoberta<br />

da ciência que em alguns<br />

an<strong>os</strong> chegará até nós.<br />

A ‘maravilha’ <strong>do</strong>méstica tão<br />

eficiente pode ser um produt<strong>os</strong>simples<br />

que, com certeza, você<br />

tem em casa, porém, muitas vezes,<br />

desconhece suas utilidades.<br />

Um exemplo é o vinagre, que,<br />

além de dar aquele g<strong>os</strong>tinho<br />

na salada, é excelente também<br />

como material de limpeza.<br />

Lêni Do Rocio Gapareto Bertoncelon<br />

trabalha como <strong>do</strong>méstica<br />

há mais de 20 an<strong>os</strong> e conhece<br />

bem as utilidades <strong>do</strong> vinagre.<br />

“Eu sempre usei vinagre pra<br />

limpar vidro, limpar tapete, tirar<br />

mofo, e, é claro, na cozinha”.<br />

Ivone Cavallim, <strong>do</strong>na de casa<br />

há 60 an<strong>os</strong>, também é adepta <strong>do</strong><br />

uso <strong>do</strong> vinagre para a limpeza<br />

da casa. “Eu uso o vinagre pra<br />

tirar o cheiro ruim d<strong>os</strong> calçad<strong>os</strong>;<br />

é só colocar um pouquinho de vinagre<br />

e depois deixar mais um<br />

pouquinho no sol e pronto, tá novinho<br />

em folha”. Além <strong>do</strong> vinagre,<br />

existem muit<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> produt<strong>os</strong><br />

que facilitam o dia-a-dia e<br />

dão uma ajudinha no orçamento<br />

<strong>do</strong>méstico. Por exemplo, sabe<br />

aquela Coca-Cola gelada? Sabia<br />

que ela também pode ser usada<br />

como desentupi<strong>do</strong>ra de pia?<br />

E aquele óleo de Girassol, que<br />

você usa na cozinha? Sabia que<br />

ele tem um grande valor medicinal?<br />

Para você saber como<br />

melhor usar <strong>os</strong> produt<strong>os</strong> que<br />

tem em casa, a equipe da Ágora<br />

testou as funções de alguns produt<strong>os</strong><br />

e lhe conta mais sobre as<br />

utilidades deles.<br />

Coca-Cola<br />

“Não sabia das utilidades da<br />

Coca-Cola, foi quan<strong>do</strong> me falaram<br />

que ela era boa pra desentupir<br />

coisas. Resolvi testar na<br />

pia lá de casa e realmente deu<br />

resulta<strong>do</strong>”. O relato de Gianlucas<br />

Gomes m<strong>os</strong>tra uma das utilidades<br />

que um d<strong>os</strong> refrigerantes<br />

mais consumid<strong>os</strong> em to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

tem. Assim como o vinagre, a<br />

Coca-Cola também tem grande<br />

serventia para a limpeza <strong>do</strong>méstica,<br />

poden<strong>do</strong> ser usada como:<br />

- Tira manchas;<br />

- Limpa vidr<strong>os</strong>;<br />

- Antioxidante;<br />

Segun<strong>do</strong> a professora Neide<br />

Takata, a Coca- Cola, assim<br />

como o vinagre, tem, em sua<br />

comp<strong>os</strong>ição, ácid<strong>os</strong> que atuam<br />

como antioxidantes e sais que<br />

auxiliam na limpeza. “O principal<br />

ingrediente d<strong>os</strong> refrigerantes<br />

“colas” é o áci<strong>do</strong> f<strong>os</strong>fórico<br />

H3PO4 de pH 2,8. Esse<br />

áci<strong>do</strong> é utiliza<strong>do</strong> como agente<br />

remove<strong>do</strong>r de ferrugem e <strong>os</strong><br />

seus sais, denominad<strong>os</strong> f<strong>os</strong>fat<strong>os</strong>,<br />

são usad<strong>os</strong> em detergentes.<br />

O áci<strong>do</strong> dissolve a ferrugem<br />

que é formada devi<strong>do</strong> à<br />

ação decapante”.<br />

Foto: Luiz Carl<strong>os</strong> Knuppel<br />

Vinagre<br />

Não é somente usa<strong>do</strong> para<br />

limpar vidr<strong>os</strong>, tapetes e tirar o<br />

o<strong>do</strong>r d<strong>os</strong> sapat<strong>os</strong>. Pode ser utiliza<strong>do</strong><br />

em vári<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> como:<br />

- Desinfetante de vaso sanitário;<br />

- Na limpeza de peças de metal;<br />

- Neutraliza<strong>do</strong>r de o<strong>do</strong>res em ambientes<br />

com fumaça de cigarro;<br />

- Conservante para flores (Mistura-se<br />

vinagre na água usada no<br />

vaso de flores e as plantas duram<br />

mais);<br />

- Esteriliza<strong>do</strong>r;<br />

- Antisséptico;<br />

O segre<strong>do</strong> <strong>do</strong> poderio <strong>do</strong>méstico<br />

<strong>do</strong> vinagre está em sua<br />

comp<strong>os</strong>ição. Segun<strong>do</strong> a química<br />

e professora da Unicentro Neide<br />

Hiroko Takata, o ingrediente<br />

principal <strong>do</strong> vinagre é o áci<strong>do</strong><br />

acético, também conheci<strong>do</strong><br />

como áci<strong>do</strong> etanoico. Ele tem<br />

uma parcela relevante dentro da<br />

comp<strong>os</strong>ição <strong>do</strong> vinagre, chegan<strong>do</strong><br />

a compor cerca de 3 a 7 % de<br />

toda a sua constituição.<br />

Foto: Patrícia Tagliaferro<br />

$<br />

Bicarbonato<br />

de sódio<br />

O pozinho branco, que é<br />

encontra<strong>do</strong> à venda nas farmácias<br />

e mercad<strong>os</strong>, também tem<br />

várias utilidades, principalmente<br />

voltadas à limpeza e à<br />

higiene. Dentre as quais, podem<strong>os</strong><br />

destacar seu uso para:<br />

- Limpeza de panelas;<br />

- Limpeza de produt<strong>os</strong> em inox;<br />

- Higiene bucal;<br />

- Limpeza e deso<strong>do</strong>rização de<br />

geladeiras e freezers;<br />

- Tira manchas.<br />

Neide n<strong>os</strong> explica que o bicarbonato<br />

de sódio tem carac-<br />

terísticas próprias que o fazem<br />

ser eficiente na limpeza e no<br />

combate a o<strong>do</strong>res. “O bicarbonato<br />

de sódio é um comp<strong>os</strong>to<br />

anfótero, pois reage tanto com<br />

ácid<strong>os</strong> quanto com bases. Mas<br />

é mais eficiente em sua reação<br />

com ácid<strong>os</strong> <strong>do</strong> que com bases.<br />

E é nisso que se baseia a teoria<br />

da absorção de o<strong>do</strong>res. Se<br />

colocar uma molécula de um<br />

áci<strong>do</strong> malcheir<strong>os</strong>o [como <strong>os</strong> encontrad<strong>os</strong><br />

em geladeiras] sobre<br />

a superfície <strong>do</strong> bicarbonato de<br />

sódio, ela será neutralizada,<br />

transforman<strong>do</strong>-se em um sal”.<br />

“Mil e uma utilidades”<br />

Óleo de<br />

girassol<br />

Prático na cozinha e útil em<br />

várias outras situações, esse é o<br />

óleo de girassol. Utiliza<strong>do</strong> para<br />

untar, temperar, fritar e cozinhar<br />

aliment<strong>os</strong>, o óleo de girassol é<br />

muito útil dentro da cozinha, entretanto,<br />

as suas utilidades vão<br />

muito além da gastronomia. “Me<br />

surpreendi quan<strong>do</strong> o médico me<br />

disse para fazer <strong>os</strong> meu curativ<strong>os</strong><br />

com óleo de girassol. Perguntei<br />

para ele: Aquele mesmo que se<br />

usa na cozinha? E ele me respondeu:<br />

Sim, o óleo de girassol é um<br />

grande cicatrizante”, diz o advoga<strong>do</strong><br />

Darcy Sell Junior.<br />

O slogan da marca brasileira Bombril foi utiliza<strong>do</strong> a fim de m<strong>os</strong>trar que<br />

divers<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> têm outras utilidades além daquela pela qual eles são<br />

colocad<strong>os</strong> na sacola. Desde tirar manchas de roupas até para limpar <strong>os</strong><br />

dentes, <strong>os</strong> produt<strong>os</strong> podem ser redirecionad<strong>os</strong> para divers<strong>os</strong> us<strong>os</strong>. Ao invés<br />

de comprar um produto específico para limpar a maçaneta de prata da<br />

porta da sala de estar, que tal pegar um pouquinho de vinagre na cozinha?<br />

página 14<br />

página 15


apur<strong>os</strong><br />

quan<strong>do</strong> não é<br />

combustível<br />

é o<br />

dinheiro...<br />

Um p<strong>os</strong>to de<br />

combustível,<br />

uma oficina<br />

ou um banco:<br />

histórias de<br />

quem passou<br />

apur<strong>os</strong> na<br />

estrada<br />

É<br />

Matéria: Evane Cecilio<br />

Foto: Evane Cecílio<br />

tu<strong>do</strong><br />

o que você<br />

precisa<br />

Vanessa Triaca também passou<br />

por uma história bem complicada.<br />

Ela, a irmã e o tio se<br />

prepararam para uma viagem<br />

a Campinas. Dinheiro conta<strong>do</strong>,<br />

bagagens no porta-malas, “tripulantes”<br />

a bor<strong>do</strong> e uma boa viagem...<br />

de ida, porque a volta não<br />

foi nada fácil. “O combina<strong>do</strong> era<br />

entrarm<strong>os</strong> com o carro e meu tio<br />

pagar as despesas da viagem.<br />

Mas, como na época ainda estavam<br />

implantan<strong>do</strong> <strong>os</strong> pedági<strong>os</strong>,<br />

esse foi n<strong>os</strong>so problema”.<br />

O tio que pagaria a viagem<br />

calculou o valor ten<strong>do</strong> como base<br />

a ida, aproximadamente 800<br />

KM. A viagem de ida foi à noite<br />

e <strong>os</strong> pedági<strong>os</strong> na época não eram<br />

cobrad<strong>os</strong> nesse perío<strong>do</strong>. Já dá<br />

para imaginar o que aconteceu...<br />

Vanessa aproveitou bem o<br />

passeio, mas acabou gastan<strong>do</strong><br />

mais <strong>do</strong> que devia. “Ficam<strong>os</strong><br />

ou a<br />

uma semana lá, sem se preocupar<br />

com a viagem de volta já que<br />

o tio daria a grana para voltarm<strong>os</strong>”.<br />

Chega o dia <strong>do</strong> retorno.<br />

Novamente, dinheiro conta<strong>do</strong>,<br />

bagagens no porta-malas e “tripulantes”<br />

a bor<strong>do</strong>, porém, uma<br />

surpresa no meio <strong>do</strong> caminho.<br />

Chegan<strong>do</strong> a Londrina, a moça<br />

não tinha dinheiro para o pedágio.<br />

“Encontram<strong>os</strong> um guarda e<br />

perguntam<strong>os</strong> se havia mais algum<br />

pedágio. Ele respondeu que<br />

não. Ufa! Foi n<strong>os</strong>so alívio”.<br />

O alívio durou pouco tempo.<br />

Ao olhar o indica<strong>do</strong>r <strong>do</strong> nível de<br />

combustível, a gasolina já estava<br />

acaban<strong>do</strong>. “Fom<strong>os</strong> no embalo.<br />

Passam<strong>os</strong> por Ivaiporã e o combustível<br />

entrou na reserva. Rezam<strong>os</strong><br />

para conseguir chegar até<br />

Pitanga e emprestar dinheiro de<br />

parentes para chegar a Guarapuava.<br />

Isso já era quase seis horas<br />

bateria<br />

da tarde. Saím<strong>os</strong> às oito horas<br />

da manhã de Campinas”.<br />

Para sorte de Vanessa, o trecho<br />

tinha várias descidas e, assim,<br />

foram no embalo. Ao chegar<br />

na casa d<strong>os</strong> parentes, puderam<br />

comer, pois, se não tinham dinheiro<br />

para o pedágio e para o<br />

combustível, imagine então para<br />

a comida. Vanessa e a irmã estavam<br />

famintas e tremen<strong>do</strong> de<br />

nerv<strong>os</strong>as, porque ainda tinham<br />

que emprestar dinheiro para<br />

abastecer e seguir viagem até<br />

Guarapuava. No final deu tu<strong>do</strong><br />

certo; por volta das oito da noite<br />

estavam em seu destino. “Mas<br />

minha irmã, de tão estressada e<br />

nerv<strong>os</strong>a com a viagem, quan<strong>do</strong><br />

chegou em casa, teve um ‘piripaque’.<br />

Ela sentiu náuseas e passou<br />

mal e nunca mais esquecem<strong>os</strong><br />

dessa aventura”.<br />

Foto: Marcelo Terraza<br />

É o combustível que acaba,<br />

um banheiro que ‘nunca chega’<br />

ou a grana que termina no meio<br />

<strong>do</strong> caminho. São inúmeras as situações<br />

indesejáveis que podem<br />

acontecer em uma viagem. Afinal,<br />

quem ainda não passou por<br />

um apuro desses?<br />

Quan<strong>do</strong> o combustível acaba<br />

no meio <strong>do</strong> caminho, vem a preocupação.<br />

Jeferson e seu amigo<br />

Douglas, que levava a filha, passaram<br />

por isso em uma viagem<br />

de Cascavel até Assis Chateaubriand.<br />

Ao olhar para o ponteiro<br />

<strong>do</strong> combustível, Jeferson percebeu<br />

que o combustível estava<br />

baixo, mas o amigo acreditava<br />

que poderiam chegar até o destino<br />

sem precisar abastecer. Já<br />

era noite e eles seguiram viagem.<br />

Chegan<strong>do</strong> a Espigão Azul,<br />

o p<strong>os</strong>to estava fecha<strong>do</strong>.<br />

A viagem foi até a metade<br />

<strong>do</strong> caminho, quan<strong>do</strong> acabou o<br />

combustível e tiveram que esperar.<br />

“Já era bem noite, por volta<br />

de umas 22 horas. Ligam<strong>os</strong><br />

para um amigo e pedim<strong>os</strong> para<br />

ele n<strong>os</strong> levar combustível”. Enquanto<br />

isso, a filha de Douglas<br />

chorava porque queria ir embora<br />

e estava com fome, mas<br />

o carro estava para<strong>do</strong> longe de<br />

tu<strong>do</strong>. Depois de muita espera,<br />

choro e indignação, o amigo<br />

chegou com o combustível e<br />

conseguiram seguir em frente.<br />

Jeferson não conseguiu guardar<br />

a revolta. “É bom para aprender<br />

e na próxima vez não deixar<br />

chegar a essa situação”.<br />

Outro caso de sufoco foi o<br />

que Jônatas Freitas e mais três<br />

amig<strong>os</strong> passaram in<strong>do</strong> para um<br />

festival de inverno em Pedro II,<br />

no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Piauí. Os quatro <strong>jovens</strong><br />

saíram por volta das cinco<br />

horas da tarde, porque estavam<br />

à procura de bebidas em Teresina.<br />

Mas como era feria<strong>do</strong>, o<br />

comércio estava to<strong>do</strong> fecha<strong>do</strong>.<br />

O jeito foi levar as bebidas que<br />

já tinham. Ao som de Velhas Virgens<br />

seguiram rumo ao festival.<br />

“Estávam<strong>os</strong> já na estrada, levan<strong>do</strong><br />

as poucas bebidas que tínham<strong>os</strong><br />

guardadas em casa, meu<br />

violão, as bolachas, <strong>os</strong> nissins e<br />

uma grande vontade de pirar<br />

muito por lá. Havíam<strong>os</strong> passa<strong>do</strong><br />

por algumas cidades e o carro já<br />

dava sinais de desgaste na bateria.<br />

As luzes começavam a ficar<br />

fracas. Foi então que o som desligou,<br />

o farol apagou e o carro<br />

morreu”. Era noite e eles estavam<br />

no meio <strong>do</strong> caminho ainda.<br />

Não havia outra saída, senão<br />

empurrar o carro. Após várias<br />

tentativas frustradas, perceberam<br />

que nem no “tranco” o carro<br />

funcionaria.<br />

Ficaram ali, perdid<strong>os</strong> e com<br />

me<strong>do</strong> de que algum carro pudesse<br />

<strong>os</strong> atingir. O consolo era, pelo<br />

men<strong>os</strong>, um bom ac<strong>os</strong>tamento.<br />

“Eu já tinha toma<strong>do</strong> algumas e<br />

custava acreditar naquela situação.<br />

Parecia surreal. Mas parad<strong>os</strong><br />

não dava para ficar. Então<br />

começam<strong>os</strong> a empurrar o carro.<br />

Com um detalhe, era uma leve<br />

subida. Nós empurram<strong>os</strong>, em-<br />

página 16<br />

página 17


O banco<br />

da sua<br />

vida<br />

Crônica e foto:<br />

Aline Bortoluzzi<br />

purram<strong>os</strong>, empurram<strong>os</strong> muito e<br />

eu já estava ‘morto’”.<br />

A saga d<strong>os</strong> <strong>jovens</strong> teve uma<br />

luz no fim <strong>do</strong> túnel, quan<strong>do</strong> um<br />

homem de bicicleta contou a<br />

eles que a próxima cidade estava<br />

perto. Empurraram o carro<br />

por toda a subida com a esperança<br />

de encontrarem uma descida<br />

depois. Foi então que avistaram<br />

um caminhão voltan<strong>do</strong> de<br />

ré. Eram duas almas carid<strong>os</strong>as<br />

que pararam para oferecer auxílio.<br />

O carro foi puxa<strong>do</strong> até a<br />

cidade, onde puderam levá-lo<br />

a uma oficina. O problema era<br />

no alterna<strong>do</strong>r. A bateria foi carregada<br />

e o alterna<strong>do</strong>r troca<strong>do</strong><br />

por um usa<strong>do</strong>. “Depois de tanto<br />

esperar, já eram nove horas da<br />

noite. Finalmente pudem<strong>os</strong> sair<br />

de novo. Tu<strong>do</strong> ajeita<strong>do</strong>, carro<br />

funcionan<strong>do</strong>. Fom<strong>os</strong> a Pedro II”.<br />

Durante o restante <strong>do</strong> trecho,<br />

nem o som foi liga<strong>do</strong>, pois<br />

<strong>os</strong> rapazes ficaram com me<strong>do</strong><br />

que algo acontecesse novamente.<br />

“Finalmente chegam<strong>os</strong> na<br />

cidade. Cansad<strong>os</strong> e suad<strong>os</strong>, mas<br />

chegam<strong>os</strong>. Era tarde e <strong>os</strong> shows<br />

Foto: Evane Cecílio<br />

na praça já haviam começa<strong>do</strong>.<br />

Nós ainda precisávam<strong>os</strong> da chave<br />

da casa onde ficaríam<strong>os</strong> lá para<br />

tomar um banho e voltar para a<br />

praça”. Durante a procura pelas<br />

pessoas que ficariam com eles<br />

na casa, o carro morreu de novo.<br />

Desta vez pelo men<strong>os</strong> deu para<br />

“pegar no empurrão” e puderam<br />

chegar na casa. Voltaram para a<br />

praça sem o carro, com me<strong>do</strong> de<br />

que acontecesse algo novamente.<br />

Depois de curtir o festival e<br />

passar por outr<strong>os</strong> episódi<strong>os</strong> parecid<strong>os</strong>,<br />

pneu fura<strong>do</strong> e novamente<br />

problemas na bateria, já era<br />

<strong>do</strong>mingo, hora de voltar. Acordaram<br />

ce<strong>do</strong>, arrumaram as malas<br />

e seguiram viagem de volta para<br />

casa. O retorno não foi diferente.<br />

“Vale lembrar que na n<strong>os</strong>sa<br />

viagem de volta ainda tivem<strong>os</strong><br />

que empurrar o carro mais um<br />

bocadinho. Depois param<strong>os</strong> apenas<br />

para beber água num p<strong>os</strong>to.<br />

Chegam<strong>os</strong> em Terezina mort<strong>os</strong> e<br />

n<strong>os</strong> despedim<strong>os</strong> uns d<strong>os</strong> outr<strong>os</strong><br />

com palavras gentis: ‘Não quero<br />

te ver mais tão ce<strong>do</strong>’”.<br />

O banco de praça solitário,<br />

empoeira<strong>do</strong> e cheio de folhas<br />

secas só almeja que algum indivíduo<br />

se junte a ele. Em semanas<br />

chuv<strong>os</strong>as, ele parece ainda mais<br />

aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>; a água que escorre<br />

por entre <strong>os</strong> trinc<strong>os</strong> <strong>do</strong> cimento<br />

são como lágrimas de solidão.<br />

Quan<strong>do</strong> a luz <strong>do</strong> sol limpa o cinzento<br />

<strong>do</strong> céu, <strong>os</strong> fiéis amantes das<br />

praças reaparecem com histórias<br />

palpitantes a serem contadas. A<br />

criança no corre-corre com a bicicleta,<br />

a mocinha com as amigas<br />

gargalham sem censura, o picolezeiro<br />

apita, a mãe empurra o<br />

menino no balanço <strong>do</strong> parquinho.<br />

E há <strong>os</strong> que tu<strong>do</strong> observam: <strong>os</strong><br />

de cabeça grisalha, camisa por<br />

dentro, chapéu, bigode apara<strong>do</strong> e<br />

sapato lustr<strong>os</strong>o, observan<strong>do</strong> e comentan<strong>do</strong><br />

<strong>os</strong> fat<strong>os</strong>, ven<strong>do</strong> a vida<br />

passar. Por que somente <strong>os</strong> mais<br />

anciã<strong>os</strong> é quem têm a perspicácia<br />

de refletir sobre a vida? Por que<br />

somente eles a observam, somente<br />

eles se dão ao luxo de parar no<br />

tempo, num banco de praça, para<br />

vê-la acontecer?<br />

O canto d<strong>os</strong> pássar<strong>os</strong> e o ar<br />

puro desses espaç<strong>os</strong> que cultuam<br />

a natureza em pleno meio urbano<br />

inspiram a reflexão acerca<br />

das coisas sobre o mun<strong>do</strong>. Muit<strong>os</strong><br />

procuram a praça n<strong>os</strong> fins de<br />

semana pra ler um livro ou passear<br />

ao ar livre, mas o ritmo de<br />

vida acelera<strong>do</strong> não n<strong>os</strong> permite<br />

guardar lembranças e refletir<br />

sobre a vida. Quan<strong>do</strong> raramente<br />

n<strong>os</strong> permitim<strong>os</strong> parar pra pensar<br />

sobre ela, vem à tona aquele sentimento<br />

de culpa, peso na consciência<br />

por não estarm<strong>os</strong> ocupad<strong>os</strong><br />

com nada, apenas estarm<strong>os</strong><br />

ali pensan<strong>do</strong>. Estam<strong>os</strong> falan<strong>do</strong><br />

de pessoas que, por acharem<br />

que já cumpriram seu papel na<br />

sociedade ao longo d<strong>os</strong> an<strong>os</strong>,<br />

deram-se a si essa nova função<br />

social: observar a vida. Se quiser<br />

ouvir boas histórias é só sentar<br />

ao la<strong>do</strong> de um indivíduo simpático<br />

de mais idade, desses que<br />

encontram<strong>os</strong> n<strong>os</strong> banc<strong>os</strong> de praça.<br />

Seus relat<strong>os</strong> só não ganham<br />

das histórias de taxistas, que por<br />

sinal, também passam boa parte<br />

da vida em banc<strong>os</strong>, estes estofad<strong>os</strong><br />

e reclináveis.<br />

No cair da noite, <strong>os</strong> personagens<br />

que ali sentam são outr<strong>os</strong>.<br />

Alguns cop<strong>os</strong> de plástic<strong>os</strong> no<br />

chão, às vezes, som de violão,<br />

algum jornal velho deixa<strong>do</strong> por<br />

alguém que ali pernoitou. Amanhece<br />

o dia e <strong>os</strong> frequenta<strong>do</strong>res<br />

diurn<strong>os</strong> d<strong>os</strong> banc<strong>os</strong> já estão lá<br />

novamente, comentan<strong>do</strong> sobre<br />

as bitucas e cop<strong>os</strong> no chão, algum<br />

vestígio ali e aqui, observan<strong>do</strong><br />

a vida... Dai-me licença<br />

poética e direi que <strong>os</strong> banc<strong>os</strong> de<br />

praça são como as janelas Drummondianas:<br />

“devagar... <strong>os</strong> banc<strong>os</strong><br />

olham”. Drummond conclui em<br />

seu poema: “Êta vida besta!”,<br />

mas seria a vida tão besta quan<strong>do</strong><br />

observada? Ou besta é aquele<br />

que não a observa passar?<br />

$<br />

“É tu<strong>do</strong> que você precisa”<br />

A partir de um antigo slogan <strong>do</strong> Banco Itaú, surgiu a ideia de<br />

uma pauta que falasse de imprevist<strong>os</strong> na estrada. Quan<strong>do</strong> se<br />

está longe de tu<strong>do</strong>, alguns element<strong>os</strong> como gasolina ou dinheiro<br />

podem ser realmente tu<strong>do</strong> que você precisa.<br />

$<br />

“Banco Real: O Banco da sua vida”<br />

O slogan <strong>do</strong> Banco Real inspirou uma crônica. O banco da sua vida pode<br />

ser um banco de carro, uma banqueta em casa, no jardim, ou mesmo,<br />

um banco de praça, desses onde <strong>os</strong> anciã<strong>os</strong> param a fim de contemplar a<br />

realidade que chamam<strong>os</strong> vida.<br />

página 18 página 19


Dedicação total é pouco!<br />

Planalto<br />

Marquei a entrevista com<br />

Maurício Kulka, ex-médico da<br />

Presidência da República, na<br />

manhã de um dia chuv<strong>os</strong>o, típico<br />

na cidade n<strong>os</strong> meses de ag<strong>os</strong>to.<br />

Recém-chega<strong>do</strong> em Guarapuava,<br />

o médico prontamente atendeu<br />

meu pedi<strong>do</strong> e me convi<strong>do</strong>u<br />

para encontrá-lo ao final da tarde<br />

daquele mesmo dia em seu<br />

consultório. Mas a história toda<br />

começou no dia anterior, quan<strong>do</strong><br />

conhecera um pouco sobre a<br />

história <strong>do</strong> <strong>do</strong>utor, durante uma<br />

visita à casa da sua mãe.<br />

Orgulh<strong>os</strong>a, <strong>do</strong>na Anita – apeli<strong>do</strong><br />

que carrega desde criança,<br />

a despeito <strong>do</strong> verdadeiro nome,<br />

Ana Cecília, registrada assim<br />

apenas porque o padre aconselhara<br />

seus pais a não colocarem<br />

na criança um nome que<br />

não correspondesse a alguma<br />

santa - contou um pouco sobre<br />

as ainda recentes experiências<br />

profissionais <strong>do</strong> filho. Deitada na<br />

cama devi<strong>do</strong> a algum distúrbio<br />

de saúde provoca<strong>do</strong> pelo inverno,<br />

na antiga casa no centro da<br />

cidade que um dia abrigara uma<br />

padaria, Dona Anita relatou de<br />

forma emocionante experiências<br />

de vida e m<strong>os</strong>trou algumas fot<strong>os</strong><br />

da família. Foi o suficiente para<br />

eu perceber que aquela família<br />

realmente tinha muitas histórias<br />

que mereciam ser contadas.<br />

Quan<strong>do</strong> cheguei ao local da<br />

entrevista naquela tarde, fui<br />

recebi<strong>do</strong> pelo próprio Maurício,<br />

que me convi<strong>do</strong>u a entrar. Subim<strong>os</strong><br />

alguns andares de eleva<strong>do</strong>r<br />

no prédio recém-construí<strong>do</strong> e<br />

chegam<strong>os</strong> à sala dele. Um amplo<br />

consultório com pouc<strong>os</strong> móveis,<br />

ainda com a aparência de novo.<br />

Maurício me convi<strong>do</strong>u para sentar<br />

e, enfim, começam<strong>os</strong> a entrevista.<br />

Logo de início, Maurício<br />

contou que saiu da casa d<strong>os</strong> pais,<br />

em Guarapuava, com pouco mais<br />

de 16 an<strong>os</strong>, quan<strong>do</strong> ainda desejava<br />

entrar para a Academia Militar<br />

das Agulhas Negras (Aman),<br />

e só agora voltara para Guarapuava<br />

com a intenção de se estabelecer<br />

aqui. Como para ingressar<br />

na academia é preciso antes<br />

cursar a Escola Preparatória de<br />

Cadetes <strong>do</strong> Exército (EsPCEx)<br />

em Campinas, o jovem se mu<strong>do</strong>u<br />

para lá e acabou a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong><br />

a cidade como sua nova casa. Foi<br />

lá também que mu<strong>do</strong>u <strong>os</strong> rum<strong>os</strong><br />

de sua carreira e decidiu cursar<br />

Medicina na Unicamp, entran<strong>do</strong><br />

“‘Você vai para<br />

o Cazaquistão<br />

agora’. Como se<br />

f<strong>os</strong>se simplesmente<br />

atravessar a rua”<br />

para o exército somente depois<br />

de concluir o curso universitário.<br />

Em 2007, Maurício trabalhava<br />

no H<strong>os</strong>pital Militar de Campinas<br />

quan<strong>do</strong>, de repente, recebeu<br />

um telefonema convidan<strong>do</strong>-o<br />

para se juntar à equipe médica<br />

<strong>do</strong> Palácio <strong>do</strong> Planalto e trabalhar<br />

diretamente com o Presidente<br />

Luiz Inácio Lula da Silva e<br />

sua família. Maurício riu. Pensou<br />

em quais amig<strong>os</strong> poderiam estar<br />

lhe pregan<strong>do</strong> tal peça e desligou<br />

o telefone, julgan<strong>do</strong> ser um trote<br />

completamente absur<strong>do</strong>. Algum<br />

tempo depois, recebeu outra ligação.<br />

Era o Chefe <strong>do</strong> Gabinete<br />

de Segurança Institucional<br />

(GSI), o órgão que contrata toda<br />

a equipe para trabalhar com o<br />

Presidente. Maurício, que não<br />

havia inscrito seu nome para nenhum<br />

concurso, seleção ou algo<br />

<strong>do</strong> tipo, foi pego totalmente de<br />

surpresa. Convenham<strong>os</strong> que não<br />

é de se estranhar que o funcionário<br />

encarrega<strong>do</strong> <strong>do</strong> primeiro<br />

contato telefônico esteja ac<strong>os</strong>tuma<strong>do</strong><br />

com a incredulidade das<br />

pessoas e com eventuais batidas<br />

an<strong>os</strong> ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> presidente da república<br />

A história <strong>do</strong> homem que passou quatro<br />

Arquivo Pessoal<br />

Matéria: Júlio Stanczyk<br />

página 20 página 21


“Eu não pensava<br />

nem que iria ser<br />

médico, quanto mais<br />

conhecer o mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong><br />

dessa maneira”<br />

de telefone. O GSI seleciona<br />

o pessoal previamente, sem o<br />

conhecimento <strong>do</strong> indica<strong>do</strong> para<br />

o cargo, e, após investigarem<br />

ficha criminal, histórico acadêmico<br />

e outr<strong>os</strong> <strong>do</strong>cument<strong>os</strong> desse<br />

gênero, oferecem o cargo ao<br />

indica<strong>do</strong>. Assim como Maurício,<br />

tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> funcionári<strong>os</strong>, sejam da<br />

segurança, saúde ou quaisquer<br />

outr<strong>os</strong> setores que trabalham<br />

com o Poder Executivo Federal,<br />

são selecionad<strong>os</strong> desta maneira.<br />

“Sou apolítico!”, confessou<br />

Maurício. “Mas é verdade que<br />

nunca fui eleitor <strong>do</strong> PT”. O médico<br />

defendeu que suas preferências<br />

políticas, como muit<strong>os</strong><br />

erradamente supõem, nunca<br />

foram um pré-requisito para a<br />

seleção profissional. Para ele,<br />

a comitiva presidencial também<br />

espelha a democracia e,<br />

de alguma maneira, representa<br />

a relação entre a nação e o líder<br />

escolhi<strong>do</strong> para governar. Ele contou<br />

ainda que conheceu colegas<br />

que haviam trabalha<strong>do</strong> com FHC<br />

an<strong>os</strong> antes e puderam trocar experiências.<br />

Neste ponto, Maurício<br />

se queixou. “Lula viajava<br />

bem mais”. Não era uma queixa<br />

ideológica, mas estritamente<br />

profissional. Como um d<strong>os</strong> seis<br />

médic<strong>os</strong> integrantes da comitiva<br />

<strong>do</strong> Presidente - chegaram a ser<br />

até sete durante algum tempo -<br />

ele era um d<strong>os</strong> responsáveis por<br />

acompanhar a comitiva, seja<br />

lá para qual lugar ela estivesse<br />

in<strong>do</strong>. Dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> turno para<br />

o qual estivesse designa<strong>do</strong>, o médico<br />

tinha que viajar junto com<br />

o presidente no avião oficial da<br />

comitiva ou, ainda, viajar alguns<br />

dias antes n<strong>os</strong> aviões da Força<br />

Foto: Sanja Gjenero<br />

Aérea Brasileira (FAB) para cuidar<br />

da logística de segurança <strong>do</strong><br />

presidente no local de destino. Foi<br />

assim que ele conheceu mais de<br />

trinta países ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e<br />

quase tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> continentes (Lula<br />

nunca visitou a Oceania). “Você<br />

vai para o Cazaquistão agora”,<br />

brincou Maurício, relembran<strong>do</strong><br />

um episódio ocorri<strong>do</strong> em um dia<br />

de folga que, sem o menor aviso<br />

prévio, recebeu uma ligação informan<strong>do</strong><br />

a viagem enquanto almoçava<br />

com amig<strong>os</strong>. “Como se f<strong>os</strong>se<br />

simplesmente atravessar a rua”.<br />

É difícil dimensionar o trabalho<br />

da equipe envolvida na<br />

segurança de um Chefe de Esta<strong>do</strong>.<br />

Não há rotina quan<strong>do</strong> se está<br />

nesse emprego. A comitiva deve<br />

estar sempre disponível para o<br />

Presidente. Férias, folgas, finais<br />

de semana podem ser interrompid<strong>os</strong><br />

a qualquer momento por<br />

alguma necessidade urgente da<br />

$<br />

presidência, para alguma reunião<br />

de planejamento, ou algo <strong>do</strong> tipo.<br />

Uma vez, quan<strong>do</strong> estava a caminho<br />

de passar um feria<strong>do</strong> em<br />

Guarapuava, foi chama<strong>do</strong> para<br />

voltar a Brasília. Ficou mais de<br />

seis meses sem poder visitar a<br />

família. Maurício destacou, por<br />

exemplo, que antes da chegada <strong>do</strong><br />

Presidente a um país estrangeiro,<br />

<strong>os</strong> médic<strong>os</strong> que viajavam n<strong>os</strong> aviões<br />

da FAB, às vezes uma semana<br />

antes da comitiva diplomática,<br />

tinham que visitar h<strong>os</strong>pitais, avaliar<br />

condições técnicas, reservar<br />

leit<strong>os</strong>, traçar plan<strong>os</strong> de evacuação<br />

para um eventual atendimento<br />

de emergência e planejar tod<strong>os</strong><br />

<strong>os</strong> detalhes para evitar qualquer<br />

tragédia. “Tentaram matar até o<br />

Papa, é preciso estar prepara<strong>do</strong><br />

para qualquer coisa”.<br />

“Dedicação Total a você”<br />

“Lula é brincalhão, <strong>do</strong> jeito<br />

que tod<strong>os</strong> conhecem”, afirmou<br />

quan<strong>do</strong> perguntei se o Presidente<br />

fazia jus à imagem passada<br />

pel<strong>os</strong> jornais. No entanto, ele<br />

deixou claro que dentro <strong>do</strong> Palácio<br />

<strong>do</strong> Planalto o convívio entre<br />

o Presidente e a equipe de assessores,<br />

médic<strong>os</strong>, seguranças, etc.<br />

é extremamente profissional.<br />

Quanto men<strong>os</strong> contato pessoal,<br />

melhor. Existem assessores para<br />

muitas coisas que o Presidente<br />

faz, mas sempre é exigi<strong>do</strong> profissionalismo.<br />

No último dia <strong>do</strong><br />

mandato de Lula, a comitiva o<br />

acompanhou até o apartamento<br />

dele em São J<strong>os</strong>é d<strong>os</strong> Camp<strong>os</strong>.<br />

A partir daquele momento, tod<strong>os</strong><br />

<strong>os</strong> direit<strong>os</strong> como Presidente acabaram<br />

instantaneamente. Lula<br />

pisou dentro <strong>do</strong> seu apartamento<br />

e tod<strong>os</strong> foram embora. Maurício<br />

nunca mais viu o ex-presidente.<br />

O médico trabalhou ainda quatro<br />

meses com a Presidente Dilma<br />

Rousseff. Poderia ter fica<strong>do</strong> mais<br />

um ano se quisesse, segun<strong>do</strong> as regras<br />

<strong>do</strong> GSI, mas preferiu voltar.<br />

“É bom ter horário para levantar,<br />

trabalhar, saber que vai voltar<br />

para casa às seis da tarde. As pessoas<br />

reclamam da rotina, mas é<br />

muito difícil viver sem nenhuma”.<br />

Longe de Guarapuava há duas<br />

décadas, ele decidiu dar baixa<br />

no exército, onde tinha a patente<br />

de Capitão, e ficar mais próximo<br />

da família. “Eu não pensava nem<br />

que iria ser médico, quanto mais<br />

conhecer o mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong> dessa maneira.<br />

Chega uma hora que você<br />

quer parar, dá alguma n<strong>os</strong>talgia,<br />

mas a minha casa é aqui”.<br />

O slogan das Casas Bahia é conheci<strong>do</strong> em to<strong>do</strong> o país. Nessa matéria,<br />

buscam<strong>os</strong> retratar a dedicação um tanto diferente da qual prega a fam<strong>os</strong>a<br />

“casa baiana”: a dedicação integral de um médico que viajou o mun<strong>do</strong><br />

para cuidar da saúde e bem-estar <strong>do</strong> dirigente nacional.<br />

página 22 página 23


Pirataria<br />

Você recusa?<br />

Matéria: Monique Palu<strong>do</strong><br />

Luxo. É o que<br />

vendem marcas<br />

como Louis<br />

Vuitton, Prada,<br />

Hermès ou Chanel.<br />

“Hoje você é o<br />

que você usa.<br />

Quem não quer se<br />

sentir poder<strong>os</strong>a?<br />

Eu me sinto<br />

poder<strong>os</strong>a usan<strong>do</strong><br />

uma bolsa da<br />

Chanel, da Louis<br />

Vuitton, g<strong>os</strong>to<br />

de perfumes da<br />

D&G. É um luxo!”<br />

Marília C<strong>os</strong>ta.<br />

Para comprar to<strong>do</strong> esse luxo<br />

é preciso abrir a carteira, pois <strong>os</strong><br />

preç<strong>os</strong> são alt<strong>os</strong>. Um exemplo é a<br />

bolsa da Louis Vuitton, custa 4,2<br />

mil dólares. “O luxo não é op<strong>os</strong>to<br />

da pobreza, mas da vulgaridade”.<br />

A frase atribuída a Coco Chanel –<br />

cria<strong>do</strong>ra da marca Chanel –, não<br />

condiz com a realidade de algumas<br />

consumi<strong>do</strong>ras. É aí que encontram<strong>os</strong><br />

o problema de Marília:<br />

“Se não f<strong>os</strong>se tão caro, compraria<br />

o original”. Para ela, basta as inicias<br />

“LV” estampadas no produto<br />

para satisfazer e garantir o luxo<br />

da Marília? “Sim, eu não quero<br />

saber se é original, se o zíper tem<br />

a logo da Louis Vuitton. Acho bonito<br />

e quero usar, mas nunca conseguiria<br />

pagar esses valores por<br />

uma bolsa. O que me importa é a<br />

beleza, a elegância. Esse é o luxo<br />

que eu quero”.<br />

Alessandra Chic<strong>os</strong>ki garante<br />

que é seletiva na hora de escolher<br />

<strong>os</strong> produt<strong>os</strong>, mas também compra<br />

falsificações: “Eu a<strong>do</strong>ro as<br />

maquiagens e cremes da Victoria<br />

Secret. Compro original porque<br />

tenho me<strong>do</strong> de fazer mal para a<br />

minha pele. Mas a bolsa? A bolsa<br />

não vai fazer mal nenhum! Tenho<br />

uma coleção enorme, acho que se<br />

somasse tu<strong>do</strong> que gastei com elas<br />

não conseguiria comprar uma<br />

única original”.<br />

Mesmo que não cause malefíci<strong>os</strong><br />

à saúde, nessa relação de consumo<br />

não é apenas a fabricante <strong>do</strong><br />

original que é lesada, mas também<br />

o consumi<strong>do</strong>r. A qualidade d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong><br />

falsificad<strong>os</strong> é baixa. As bolsas,<br />

por exemplo, têm c<strong>os</strong>turas tortas<br />

e desmancham com facilidade<br />

e o zíper não corre perfeitamente.<br />

“Se eu quero luxo, como p<strong>os</strong>so<br />

aceitar um produto mal feito? Se<br />

eu não p<strong>os</strong>so comprar um legítimo,<br />

fico sem. Não vou sair com uma<br />

bolsa que corre o risco de desmanchar<br />

a c<strong>os</strong>tura a qualquer momento.<br />

Isso não é luxo”, contrapõe<br />

Eduarda Nascimento Souza.<br />

página 24<br />

página 25


“Eu não quero<br />

saber se é original,<br />

se o zíper tem<br />

a logo da Louis<br />

Vuitton. Acho<br />

bonito e quero<br />

usar” Alessandra<br />

Chic<strong>os</strong>ki<br />

Fot<strong>os</strong>: Monique Palu<strong>do</strong><br />

“Quem procura qualidade,<br />

nunca vai comprar um produto<br />

falso e quem compra produto falso,<br />

normalmente, nem procura <strong>os</strong><br />

produt<strong>os</strong> originais para saber o<br />

preço. Procuram aquilo que sabem<br />

que é mais barato, não se<br />

importam com nada além <strong>do</strong> preço”,<br />

explica Guilherme, gerente<br />

de uma loja de produt<strong>os</strong> originais.<br />

Já Patrícia*, proprietária de um<br />

camelô que, por questões legais,<br />

não quis se identificar, afirma que<br />

a quantidade de pessoas disp<strong>os</strong>tas<br />

a comprar produt<strong>os</strong> falsificad<strong>os</strong><br />

por causa de seu baixo valor<br />

é grande: “Ninguém quer saber<br />

se vai durar um ano, quer saber é<br />

quanto vai pagar”.<br />

As falsificações não atingem<br />

apenas o merca<strong>do</strong> feminino. Rafael<br />

Brotti, por exemplo, não<br />

procura o luxo e, sim, itens de<br />

torce<strong>do</strong>r. “Sou fanático pelo Corinthians,<br />

é meu time de coração.<br />

Se o Timão joga, eu coloco a camisa<br />

para torcer. Tenho tu<strong>do</strong>: camisa,<br />

agasalho, bola, caneco e até<br />

um chaveiro <strong>do</strong> meu time. É muito<br />

caro comprar o original. Eu<br />

até g<strong>os</strong>taria, mas é muito caro”.<br />

Para outr<strong>os</strong> torce<strong>do</strong>res, essa<br />

não é a melhor atitude. Tiago<br />

Abrantes, também torce<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

Corinthians, considera que esse<br />

não seja um consumo consciente<br />

e tem o “Recuse imitações”<br />

como lema. “Isso não é ser torce<strong>do</strong>r.<br />

Se eu torço pelo Corinthians,<br />

eu tenho que comprar<br />

o produto original e ajudar o<br />

time. Isso é com o Corinthians,<br />

o Flamengo ou qualquer outro<br />

time. Não tem nada a ver comprar<br />

produto falso, até porque é<br />

um produto ruim”.<br />

No caso d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> de times<br />

de futebol, o preço varia<br />

bastante entre o original e o falsifica<strong>do</strong>:<br />

na loja oficial <strong>do</strong> Sport<br />

Clube Corinthians Paulista a camisa<br />

<strong>do</strong> time custa R$ 189,90,<br />

já no camelô a camisa <strong>do</strong> mesmo<br />

modelo sai por R$ 20. Tiago<br />

ressalta que as diferenças não se<br />

restringem ao preço, “o teci<strong>do</strong> é<br />

ruim, as c<strong>os</strong>turas são gr<strong>os</strong>seiras.<br />

Um amigo meu comprou uma<br />

camisa falsa e na primeira lavagem<br />

até <strong>os</strong> anúnci<strong>os</strong> d<strong>os</strong> patrocina<strong>do</strong>res<br />

caíram”.<br />

“O que mais encontro falsifica<strong>do</strong><br />

é tênis. Vejo sempre. Aqui<br />

na loja já vi muit<strong>os</strong> entrarem<br />

com um tênis falso. Quem compra<br />

falso, sabe que é falso, sabe<br />

que a tecnologia empregada no<br />

original é muito melhor. Mas<br />

tem aqueles que só consideram a<br />

logo estampada, não pensam que<br />

é uma imitação barata”, explica<br />

Daniel Barr<strong>os</strong>, gerente de uma<br />

loja de produt<strong>os</strong> esportiv<strong>os</strong>.<br />

VOCÊ ACHA LEGAL?<br />

MAS NEM SEMPRE É...<br />

Não é crime copiar um monograma,<br />

uma estampa e até mesmo<br />

um modelo de roupa, bolsa ou<br />

calça<strong>do</strong>. No Brasil, <strong>os</strong> estilistas<br />

podem registrar suas criações,<br />

no entanto, qualquer mudança<br />

(como variar a proporção das medidas)<br />

descaracteriza uma cópia<br />

ilegal. N<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>, nem<br />

registro de criações no mun<strong>do</strong><br />

fashion existe. Na Europa – que<br />

também oferece a p<strong>os</strong>sibilidade<br />

para <strong>os</strong> estilistas de registrarem<br />

a sua criação – é um pouco mais<br />

complica<strong>do</strong> que no Brasil. Lá é<br />

preciso comprovar que a criação<br />

é absolutamente inova<strong>do</strong>ra e original,<br />

o que dificulta a efetivação<br />

de um registro. Ten<strong>do</strong> em vista<br />

que no mun<strong>do</strong> fashion as “inspirações”<br />

são comuns, é raro conseguir<br />

a comprovação absoluta<br />

de originalidade.<br />

De qualquer mo<strong>do</strong>, vale lembrar<br />

que as logomarcas das empresas<br />

estão protegidas pela lei<br />

e copiá-las é ilegal. No caso da<br />

Louis Vuitton, o monograma é<br />

fam<strong>os</strong>o pela repetição <strong>do</strong> “LV”<br />

que tem registro de propriedade,<br />

logo, a cópia é crime. No caso d<strong>os</strong><br />

produt<strong>os</strong> esportiv<strong>os</strong>, a regra é a<br />

mesma. O problema não está em<br />

copiar o modelo, mas estampar a<br />

logomarca de outra empresa.<br />

$<br />

Os produt<strong>os</strong> falsificad<strong>os</strong> estão<br />

cada vez mais parecid<strong>os</strong> com<br />

<strong>os</strong> originais. Antigamente, só as<br />

bolsas originais tinham o nome<br />

da marca escrito no zíper. Hoje, é<br />

comum em qualquer falsificação.<br />

Então, no zíper, deve ser analisa<strong>do</strong><br />

a qualidade <strong>do</strong> material e se<br />

ao abrir e fechar a bolsa, o zíper<br />

corre facilmente.<br />

Uma variação mais significativa<br />

está na qualidade d<strong>os</strong><br />

materiais. Em bolsas originais<br />

de marcas como Louis Vuitton,<br />

Hermès e Chanel o material<br />

geralmente é de alta qualidade e<br />

não tem acabamento em plástico<br />

(como acontece na bolsa da<br />

fotografia ao la<strong>do</strong>).<br />

Nas bolsas, as c<strong>os</strong>turas desses<br />

produt<strong>os</strong> originais são, normalmente,<br />

feitas manualmente e o<br />

controle de qualidade das fábricomo<br />

identificar um<br />

produto<br />

“É muito caro comprar<br />

o original. Eu até<br />

g<strong>os</strong>taria, mas é muito<br />

caro” Rafael Brotti<br />

falsifica<strong>do</strong><br />

“Recuse imitações”<br />

cas é altíssimo. Nas camisetas,<br />

mesmo não sen<strong>do</strong> manuais, as<br />

c<strong>os</strong>turas são delicadas. Por isso,<br />

se as c<strong>os</strong>turas são tortas, gr<strong>os</strong>seiras<br />

ou fazem volume, o produto<br />

não deve ser original.<br />

O número de identificação<br />

é outro mo<strong>do</strong> de se perceber se<br />

o produto é verdadeiro ou não.<br />

Cada exemplar sai da fábrica<br />

com o seu número e o consumi<strong>do</strong>r<br />

pode vê-lo tanto no produto<br />

(geralmente, em ócul<strong>os</strong> estão na<br />

haste, e n<strong>os</strong> tênis e bolsas estão<br />

em uma etiqueta interna) como<br />

em sua embalagem. Os númer<strong>os</strong><br />

devem ser idêntic<strong>os</strong> n<strong>os</strong> <strong>do</strong>is.<br />

Quanto às camisetas e<br />

produt<strong>os</strong> de times também é<br />

importante analisar a qualidade<br />

<strong>do</strong> material (como o teci<strong>do</strong> das<br />

camisetas) e detalhes como a<br />

c<strong>os</strong>tura, sel<strong>os</strong> e aplicações.<br />

O slogan “recuse imitações” é da marca de sandálias Havaianas, da<br />

empresa Alpargatas. A frase serviu como pontapé para a matéria sobre<br />

imitações de produt<strong>os</strong> originais. No final das contas, há mais imitações<br />

de outr<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> que da própria havaianas.<br />

página 26<br />

página 27


Apenas faça<br />

Just <strong>do</strong><br />

it!<br />

Matéria: Camila Souza<br />

Segunda-feira de manhã, reunião de pauta <strong>do</strong> Ágora.<br />

Buscávam<strong>os</strong> slogans que rendessem uma pauta. Quase<br />

no fim da reunião, alguém me pergunta: “E a sua<br />

pauta, Camila?” A única frase que me veio à cabeça<br />

foi o slogan da marca Nike: Just <strong>do</strong> it. Simplesmente<br />

faça. “Quero escrever sobre pessoas que deixam seus<br />

afazeres para a última hora”.<br />

Dar uma profunda risada interna foi inevitável.<br />

Nenhuma pauta poderia combinar mais comigo <strong>do</strong> que<br />

esta. A título de ilustração e, acreditem, não foi de<br />

propósito, estou escreven<strong>do</strong> essa matéria, adivinhem,<br />

no último minuto <strong>do</strong> prazo.<br />

Pauta e Deadline. Tarefa e<br />

data limite. É assim que, não só<br />

o jornalismo, mas a maioria d<strong>os</strong><br />

trabalh<strong>os</strong> funciona: com metas e<br />

praz<strong>os</strong>. Algumas pessoas, entretanto,<br />

acabam adian<strong>do</strong> seus afazeres<br />

para a última hora, para<br />

aquele momento em que não há<br />

mais escolhas a não ser fazer o<br />

que lhe foi confia<strong>do</strong>.<br />

A mania de deixar <strong>os</strong> compromiss<strong>os</strong><br />

para o último minuto já recebeu<br />

até um nome: procrastinação.<br />

Engana-se aquele que pensa<br />

que o procrastina<strong>do</strong>r é o sujeito<br />

preguiç<strong>os</strong>o que nunca cumpre com<br />

seus deveres. Pelo contrário: procrastina<br />

a pessoa que assume diversas<br />

obrigações, muitas vezes,<br />

Don't forget!<br />

mais até <strong>do</strong> que a quantidade que<br />

poderia dar conta. A sobrecarga é<br />

um d<strong>os</strong> maiores motiv<strong>os</strong> da procrastinação.<br />

A pessoa descobre<br />

que, por mais que tenha vári<strong>os</strong><br />

afazeres, ela consegue terminá-l<strong>os</strong><br />

a contento no fim <strong>do</strong> prazo.<br />

Outro fator é um misto de autoconfiança<br />

e insegurança. De um<br />

la<strong>do</strong>, <strong>os</strong> procrastina<strong>do</strong>res sentem-<br />

-se segur<strong>os</strong> em relação a<strong>os</strong> seus<br />

afazeres. “Dei conta uma vez, por<br />

que é que agora não iria dar?”,<br />

aponta o psicólogo Clayton<br />

Reis. “Como isso deu certo da<br />

primeira vez, tendem<strong>os</strong> a usar<br />

<strong>os</strong> mesm<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> em outras<br />

oportunidades”. Por outro la<strong>do</strong>,<br />

surge a insegurança manifestada<br />

pelo perfeccionismo. As pessoas<br />

querem que o trabalho saia tão<br />

perfeito e têm tanto me<strong>do</strong> de errar<br />

que a reação mais instintiva<br />

acaba sen<strong>do</strong> a fuga: não fazer o<br />

trabalho como se não houvesse<br />

amanhã. Só que, feliz ou infelizmente,<br />

o amanhã existe e ele<br />

sempre chega trazen<strong>do</strong> o prazo.<br />

Apesar <strong>do</strong> nome estranho, a<br />

procrastinação é muito mais comum<br />

<strong>do</strong> que se imagina. Quem<br />

nunca deixou algo importante<br />

para depois e foi assistir TV? Se<br />

tod<strong>os</strong> nós, reles mortais, já fizem<strong>os</strong><br />

isso um dia, certamente<br />

divers<strong>os</strong> fam<strong>os</strong><strong>os</strong> também o fizeram.<br />

O maior exemplo de procrastina<strong>do</strong>r<br />

da história é o célebre<br />

cientista, matemático, engenheiro,<br />

inventor, anatomista, pintor,<br />

escultor, arquiteto, botânico, poeta<br />

e músico Leonar<strong>do</strong> Da Vinci.<br />

N<strong>os</strong>so gênio procrastina<strong>do</strong>r iniciou<br />

tant<strong>os</strong> projet<strong>os</strong>, que, muitas<br />

7:30 a.m.<br />

Right<br />

NOW!<br />

vezes, levou an<strong>os</strong> para terminá-<br />

-l<strong>os</strong>. O mais fam<strong>os</strong>o é o quadro La<br />

Gioconda, a Mona Lisa. Da Vinci<br />

começou a obra em 1503 sob a<br />

encomenda de Francesco Del Giocon<strong>do</strong>,<br />

mari<strong>do</strong> da modelo, porém,<br />

levou tanto tempo que Francesco<br />

desistiu <strong>do</strong> quadro. Três an<strong>os</strong> mais<br />

tarde, em 1506, Leonar<strong>do</strong> finalmente<br />

terminou sua obra-prima e<br />

a vendeu à corte Francesa.<br />

Outro procrastina<strong>do</strong>r célebre<br />

é o escritor, cartunista, tradutor e<br />

roteirista Luis Fernan<strong>do</strong> Veríssimo.<br />

Uma vez questiona<strong>do</strong> se tinha<br />

uma musa, o sarcástico escritor<br />

respondeu: “Minha musa inspira<strong>do</strong>ra<br />

é o prazo de entrega”.<br />

Nov 9<br />

página 28<br />

página 29


Saúde<br />

A psicóloga Carine Suder elege<br />

o imediatismo contemporâneo<br />

como principal motivo da procrastinação.<br />

As pessoas buscam<br />

um prazer imediato de forma, às<br />

vezes, inconseqüente. “Além de<br />

poder aproveitar ao máximo <strong>os</strong><br />

moment<strong>os</strong> de prazer p<strong>os</strong>síveis antes<br />

<strong>do</strong> prazo final, ainda existe a<br />

tensão e o consequente alívio após<br />

a finalização da tarefa. Para alguns,<br />

isso não tem preço”.<br />

A emoção e o alívio de cumprir<br />

as tarefas no último minuto é exatamente<br />

o que sente Hamilton de<br />

Lima Júnior, guarapuavano e mestran<strong>do</strong><br />

na UFPR. Hamilton conta<br />

que, geralmente, deixa seus compromiss<strong>os</strong><br />

para o último momento<br />

e sempre consegue terminá-l<strong>os</strong>.<br />

“Esse é meu ritmo de trabalho.<br />

Cheguei até o mestra<strong>do</strong> assim,<br />

apesar <strong>do</strong> stress que isso acarreta.<br />

Não sei se consigo fazer diferente”.<br />

Entre várias histórias de procrastinação,<br />

Hamilton conta que<br />

uma vez até se deu bem. “Tinha<br />

que fazer um artigo científico para<br />

o meu grupo de estud<strong>os</strong>. Foi perto<br />

das férias, então fiquei adian<strong>do</strong><br />

$<br />

para poder aproveitar melhor <strong>os</strong><br />

dias que meus amig<strong>os</strong> estivessem<br />

de folga. As férias acabaram e faltava<br />

uma semana para entregar<br />

o artigo, mas eu ainda não havia<br />

escrito nada. Em uma manhã, abri<br />

meu e-mail e lá estava uma mensagem<br />

<strong>do</strong> meu orienta<strong>do</strong>r dizen<strong>do</strong><br />

que algumas mudanças haviam<br />

si<strong>do</strong> feitas e que eu teria que mudar<br />

o tema <strong>do</strong> artigo. Como eu ainda<br />

não tinha feito nada, não precisei<br />

jogar to<strong>do</strong> um trabalho fora e<br />

começar <strong>do</strong> zero. Foi pura sorte”.<br />

Apesar da maioria da população<br />

adiar <strong>os</strong> compromiss<strong>os</strong> para<br />

aproveitar moment<strong>os</strong> de prazer,<br />

algumas pessoas seguem o caminho<br />

inverso. Valter Anzolin, empresário<br />

de 43 an<strong>os</strong>, é um exemplo.<br />

Valter trabalha sob a pressão<br />

constante de ser seu próprio chefe.<br />

“Se algo que eu faço dá erra<strong>do</strong>,<br />

sou eu mesmo que pago o pato”.<br />

Por viver sob esse peso, Valter já<br />

adiou muitas férias para trabalhar.<br />

“Nem me lembro a última vez que<br />

tive férias, eu paro para o Natal,<br />

mas, no outro dia , tenho que trabalhar<br />

de novo”.<br />

Em função de seu trabalho contínuo,<br />

Valter teve, neste ano, uma<br />

crise de nerv<strong>os</strong>. “Depois de um dia<br />

pesa<strong>do</strong>, cheguei em casa, tomei banho<br />

e fui jantar, comecei a tremer<br />

e meu braço esquer<strong>do</strong> ficou formigan<strong>do</strong>”.<br />

Foi o suficiente para a família<br />

ficar para lá de preocupada.<br />

Valter fez, a pedi<strong>do</strong> d<strong>os</strong> filh<strong>os</strong>, divers<strong>os</strong><br />

exames cardio e neurológic<strong>os</strong><br />

e nenhuma patologia, além <strong>do</strong><br />

stress acentua<strong>do</strong> foi diagn<strong>os</strong>ticada.<br />

Seu médico lhe informou que, se<br />

continuar trabalhan<strong>do</strong> dessa forma,<br />

o risco de infarto será cada vez<br />

mais alto. “Depois dessa, vou diminuir<br />

meu ritmo e aproveitar mais<br />

a vida. Trabalhei tant<strong>os</strong> an<strong>os</strong>, agora<br />

está na hora de desacelerar”.<br />

“Just <strong>do</strong> it”<br />

O slogan da marca norte-americana Nike vem <strong>do</strong><br />

inglês e significa “Simplesmente faça”. O imperativo<br />

da frase tem tu<strong>do</strong> a ver com a pressão vivida pel<strong>os</strong><br />

chamad<strong>os</strong> procrastina<strong>do</strong>res.<br />

Foto: Camila Souza<br />

Quan<strong>do</strong> a magreza<br />

A n<strong>os</strong>sa mente trabalha<br />

contra a n<strong>os</strong>sa saúde e<br />

nós tem<strong>os</strong> que encontrar<br />

um meio de virar a mesa,<br />

ganhar esse jogo.<br />

Michelle<br />

destrói<br />

Matéria: Anita Hoffman<br />

Tu<strong>do</strong> começou a<strong>os</strong> onze an<strong>os</strong> de idade.<br />

Marina* era uma menina ‘fofinha’ durante a<br />

infância, mas nunca chegou perto da obesidade.<br />

Logo que seus pais se separaram,<br />

<strong>os</strong> vômit<strong>os</strong> se tornaram frequentes. Era<br />

difícil demais conter o nerv<strong>os</strong>ismo e a<br />

tristeza que aquela situação lhe causava.<br />

Foi assim que ela começou a desenvolver<br />

sua bulimia nerv<strong>os</strong>a, que<br />

se prolongou por mais de oito an<strong>os</strong>.<br />

No começo, <strong>os</strong> vômit<strong>os</strong> refletiam<br />

o descontentamento com sua situação<br />

familiar, mas o tempo<br />

foi passan<strong>do</strong>, a a<strong>do</strong>lescência<br />

chegou, e, então, Marina encontrou<br />

naquela atitude um<br />

mo<strong>do</strong> de manter-se magra.<br />

Foi muito difícil perceber a<br />

<strong>do</strong>ença, mas mais difícil ainda<br />

foi procurar ajuda. Para ela,<br />

durante muito tempo, <strong>os</strong> vômit<strong>os</strong><br />

eram cômod<strong>os</strong> e geravam uma<br />

sensação de autocontrole e limpeza.<br />

“Vomitar servia como uma limpeza<br />

psicológica. Eu sentia como se<br />

estivesse tiran<strong>do</strong> um grande peso de<br />

dentro de mim”.<br />

A história de Marina é triste, mas<br />

não é única. Na sociedade atual, onde<br />

model<strong>os</strong> magérrimas são consideradas<br />

exempl<strong>os</strong> de beleza e sucesso, é cada vez<br />

mais perceptível o aparecimento de distúrbi<strong>os</strong><br />

<strong>alimentares</strong>, principalmente em meninas<br />

entre <strong>os</strong> 15 e 25 an<strong>os</strong>. Além da bulimia, outro<br />

Em uma sociedade onde<br />

a magreza está ligada<br />

ao sucesso e à beleza,<br />

distúrbi<strong>os</strong> <strong>alimentares</strong><br />

tornam-se cada vez mais<br />

frequentes entre <strong>jovens</strong>.<br />

distúrbio bastante frequente entre <strong>os</strong> <strong>jovens</strong><br />

é a anorexia. A principal diferença<br />

entre as duas <strong>do</strong>enças é que na bulimia<br />

as pessoas c<strong>os</strong>tumam alimentar-se<br />

exageradamente e depois provocar<br />

vômit<strong>os</strong> para compensar o ganho<br />

de peso; já na anorexia, as <strong>jovens</strong><br />

privam-se da ingestão de aliment<strong>os</strong><br />

por long<strong>os</strong> períod<strong>os</strong>. Segun<strong>do</strong><br />

o psicólogo Dhyone Schinemann,<br />

“existem fortes evidências de<br />

que esses transtorn<strong>os</strong> estão associad<strong>os</strong><br />

a um tipo de funcionamento<br />

familiar de grandes<br />

exigências, perfeccionismo,<br />

cobranças e dependência”.<br />

Geralmente, as pessoas<br />

bulímicas não têm tanta alteração<br />

de peso como as anoréxicas,<br />

pois, apesar de não quererem<br />

engordar, g<strong>os</strong>tam muito de<br />

comer e o fazem exageradamente.<br />

Depois <strong>do</strong> excesso, para aliviarem<br />

a culpa, forçam o vômito e ingerem<br />

diurétic<strong>os</strong> e laxantes. “Quan<strong>do</strong> eu<br />

comia demais, ficava alguns dias sem<br />

comer para tentar compensar toda a<br />

caloria que tinha adquiri<strong>do</strong>. Já cheguei<br />

a ficar quatro dias apenas toman<strong>do</strong><br />

água”, confessa Marina. Como o áci<strong>do</strong><br />

página 30<br />

página 31


clorídrico presente no<br />

estômago tem um poder<br />

altamente corr<strong>os</strong>ivo,<br />

muitas vezes as pessoas<br />

que têm bulimia<br />

c<strong>os</strong>tumam desenvolver<br />

úlceras no estômago,<br />

úlceras de contato,<br />

gastrite, refluxo e até<br />

mesmo er<strong>os</strong>ão dentária.<br />

Marina teve que<br />

reconstruir seus dentes<br />

da frente três vezes.<br />

Hoje, Marina tem<br />

21 an<strong>os</strong>, está no segun<strong>do</strong><br />

ano da faculdade e<br />

tem um peso normal<br />

para uma moça <strong>do</strong> seu<br />

tamanho, 1,76m, porém,<br />

em 2009, auge<br />

de sua <strong>do</strong>ença, chegou<br />

a pesar apenas 51 quil<strong>os</strong>. “Eu<br />

estava depressiva demais, não<br />

queria ajuda de psicólog<strong>os</strong> e<br />

psiquiatras e também estava viciada<br />

em cocaína, o que me fez<br />

emagrecer mais ainda. Nessa<br />

época acabei tentan<strong>do</strong> me matar”.<br />

Quan<strong>do</strong> a situação estava<br />

realmente muito extrema, com<br />

o incentivo de seu pai, Marina<br />

procurou ajuda psicológica disp<strong>os</strong>ta<br />

a levar a sério o tratamento.<br />

Ela se diz curada da bulimia,<br />

porém, quan<strong>do</strong> fica nerv<strong>os</strong>a demais,<br />

ainda tem algumas recaídas<br />

e acaba vomitan<strong>do</strong>. “Agora<br />

eu aprendi a aceitar e ver a minha<br />

beleza interior. Tento não<br />

pensar muito na minha aparência,<br />

estou feliz assim”.<br />

A anorexia da advogada Michelle<br />

de Mentzigen Gomes, 23,<br />

deu seus primeir<strong>os</strong> sinais a<strong>os</strong> 15<br />

an<strong>os</strong>, quan<strong>do</strong> a moça fazia regimes<br />

rigor<strong>os</strong><strong>os</strong> e se privava de<br />

comer cert<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> de aliment<strong>os</strong>,<br />

porém, foi a<strong>os</strong> 17 an<strong>os</strong> que a situação<br />

realmente ficou drástica.<br />

Ela chegou a pesar 37 quil<strong>os</strong> e<br />

ficou à beira de uma internação.<br />

“Eu não comia. Nunca fui<br />

de fazer exercíci<strong>os</strong> físic<strong>os</strong>, nem<br />

nessa época, mas eu comia pouquíssimo,<br />

somente nas horas das<br />

Foto: Anita Hoffman<br />

refeições principais e<br />

tomava litr<strong>os</strong> e mais litr<strong>os</strong><br />

de água, mesmo no<br />

inverno. Eu comecei a<br />

não g<strong>os</strong>tar mais de fazer<br />

refeições em família,<br />

a não comer mais<br />

cert<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> de comida,<br />

parecia que tinha vergonha<br />

de me expor”.<br />

Para ela, uma das coisas<br />

mais complicadas<br />

foi admitir e aceitar<br />

que estava <strong>do</strong>ente.<br />

Apesar de <strong>os</strong> familiares<br />

e amig<strong>os</strong> falarem<br />

que algo estava muito<br />

erra<strong>do</strong>, a obsessão pelo<br />

emagrecimento era a<br />

única coisa que Michelle<br />

via. “Não é uma coisa<br />

fácil de ser admitida porque nós<br />

não n<strong>os</strong> enxergam<strong>os</strong> fisicamente<br />

como realmente som<strong>os</strong>/estam<strong>os</strong>;<br />

nós só enxergam<strong>os</strong> que precisam<strong>os</strong><br />

emagrecer. Se você me perguntar<br />

se até hoje eu me olho e<br />

penso isso, te respon<strong>do</strong> que sim.<br />

Então a gente, uma vez que admite<br />

que é anoréxica, aprende a<br />

conviver com isso”.<br />

O grande problema é que,<br />

da anorexia, Michelle partiu à<br />

compulsão. Quan<strong>do</strong> começou a<br />

recuperar peso, passou d<strong>os</strong> 37<br />

a<strong>os</strong> 76 quil<strong>os</strong>, o que não era<br />

adequa<strong>do</strong> para uma pessoa de<br />

1,54m. “Na época, por mais que<br />

Foto: Anita Hoffman<br />

N<strong>os</strong>so corpo não foi<br />

feito para funcionar<br />

tão precariamente<br />

quanto o corpo de um<br />

anoréxico<br />

Michelle<br />

eu tenha saí<strong>do</strong> da anorexia para a compulsão,<br />

saí sozinha. Mas acho fundamental o<br />

acompanhamento por psicólogo, psiquiatra<br />

e tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> médic<strong>os</strong> que forem necessári<strong>os</strong><br />

para ajudar a não fazer o que eu fiz, que<br />

foi ir <strong>do</strong> oito para o 80. Isso também não<br />

é saudável”. O psicólogo Schinemann<br />

explica que o tratamento psicológico<br />

varia muito de acor<strong>do</strong> com o ritmo de<br />

recuperação de cada paciente. “O objetivo<br />

é articular no projeto de vida<br />

<strong>do</strong> sujeito e na sua história particular<br />

algo que dê conta, ao mesmo<br />

tempo, de suprir suas demandas<br />

inconscientes e de evitar que haja<br />

prejuízo para sua vida e para a<br />

vida d<strong>os</strong> demais. Isso será feito<br />

por meio de um processo de<br />

conscientização e de criação<br />

contínua e conjunta entre psicoterapeuta<br />

e paciente”.<br />

Com a ajuda de um en<strong>do</strong>crinologista,<br />

Michelle conseguiu<br />

emagrecer e hoje mantém<br />

seu peso entre <strong>os</strong> 55 e <strong>os</strong><br />

60 quil<strong>os</strong>. “Desde o momento<br />

que uma pessoa anoréxica percebe<br />

que está se acaban<strong>do</strong> com<br />

isso e decide melhorar, o processo<br />

não termina nunca. Pelo men<strong>os</strong><br />

para mim é na base <strong>do</strong> ‘um dia<br />

de cada vez’. Então, p<strong>os</strong>so dizer<br />

que isso é algo que vou levar comigo<br />

para o resto da vida e que não<br />

desejo para ninguém”.<br />

Apesar de terem distúrbi<strong>os</strong> <strong>alimentares</strong><br />

diferentes, Michelle e Marina*<br />

tiveram alguns sintomas em<br />

comum. A amenorréia foi um deles.<br />

Quan<strong>do</strong> estavam <strong>do</strong>entes, as duas moças<br />

ficaram long<strong>os</strong> períod<strong>os</strong> sem menstruar.<br />

Marina, por exemplo, menstruou apenas<br />

quatro vezes em um ano. Algumas mulheres<br />

que têm esses distúrbi<strong>os</strong> <strong>alimentares</strong><br />

por muit<strong>os</strong> an<strong>os</strong> acabam até mesmo fican<strong>do</strong><br />

estéreis. Ambas as <strong>do</strong>enças estão fortemente<br />

ligadas a questões sexuais. Geralmen-<br />

te, as moças que p<strong>os</strong>suem esses problemas<br />

têm traumas com o corpo e vergonha de se<br />

exporem sexualmente ou têm me<strong>do</strong> de perder<br />

o corpo de criança. Marina conta que a<br />

ideia de estar crescen<strong>do</strong> e se transforman<strong>do</strong><br />

em uma mulher a incomodava muito e<br />

ficar magra era uma forma de ter certo<br />

controle sobre a situação.<br />

Michelle ainda não se sente feliz<br />

com o corpo e com a aparência que tem,<br />

mas sabe muito bem que não deve se<br />

entregar novamente para a anorexia.<br />

“N<strong>os</strong>so corpo não foi feito para funcionar<br />

tão precariamente quanto o<br />

corpo de um anoréxico. Sei que é<br />

muito sofri<strong>do</strong>, pen<strong>os</strong>o e desgastante<br />

não só para quem tem a <strong>do</strong>ença<br />

mas também para quem convive<br />

com o <strong>do</strong>ente. A n<strong>os</strong>sa mente trabalha<br />

contra a n<strong>os</strong>sa saúde e nós<br />

tem<strong>os</strong> que encontrar um meio de<br />

virar a mesa, ganhar esse jogo”.<br />

A quem quiser conhecer<br />

mais sobre <strong>os</strong> dramas que as<br />

pessoas que têm esses distúrbi<strong>os</strong><br />

<strong>alimentares</strong> apresentam,<br />

indico o <strong>do</strong>cumentário “Thin”<br />

(Magras), da HBO, que foi lança<strong>do</strong><br />

em 2006. O filme conta a<br />

história e <strong>os</strong> esforç<strong>os</strong> para recuperação<br />

de <strong>jovens</strong> internadas em uma<br />

clínica de reabilitação para anoréxic<strong>os</strong><br />

e bulímic<strong>os</strong> n<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>.<br />

Apesar de <strong>os</strong> países serem diferentes,<br />

<strong>os</strong> dramas são <strong>os</strong> mesm<strong>os</strong>. O <strong>do</strong>cumentário<br />

m<strong>os</strong>tra a questão da aceitação da<br />

<strong>do</strong>ença. Enquanto algumas pacientes<br />

têm total conhecimento da situação<br />

pela qual passam, outras não aceitam o<br />

tratamento e preferem continuar com a<br />

vida <strong>do</strong>entia que levam.<br />

*A entrevistada preferiu não revelar seu<br />

nome verdadeiro<br />

$<br />

“Caloria de men<strong>os</strong>. G<strong>os</strong>t<strong>os</strong>a demais”<br />

A contagem de calorias, como estimula o slogan da cerveja Brahma<br />

Light, pode ter um final dramático. Distúrbi<strong>os</strong> <strong>alimentares</strong>, como<br />

a bulimia e anorexia, são quadr<strong>os</strong> extrem<strong>os</strong> de cas<strong>os</strong> em que a<br />

obsessão por calorias se torna inimiga da saúde.<br />

página 32 página 33


saúde<br />

Foto: Andrea A. Alves<br />

Aliment<strong>os</strong><br />

em cápsulas<br />

ou em pó<br />

Matéria: Andréa A. Alves<br />

Diagramação: Mariana Rudek<br />

A modernidade não trouxe apenas<br />

benefíci<strong>os</strong>; com ela também chegaram o sedentarismo,<br />

<strong>os</strong> err<strong>os</strong> <strong>alimentares</strong> e a correria <strong>do</strong> dia-a-dia. E neste embalo<br />

quem sofre é o n<strong>os</strong>so organismo.<br />

Quem não tem tempo para investir na tão sonhada qualidade de<br />

vida, substitui uma alimentação balanceada por cápsulas. Ferro, cálcio,<br />

potássio, zinco, B12 e muito mais, tu<strong>do</strong> concentra<strong>do</strong> em um só comprimi<strong>do</strong>.<br />

Para evitar prejuíz<strong>os</strong> no bolso e na saúde, o caminho é descobrir o que as<br />

drágeas oferecem, porque nem tu<strong>do</strong> “vale por um bifinho”.<br />

Os multivitamínic<strong>os</strong> contêm componentes que disputam espaço no organismo.<br />

É um mun<strong>do</strong> bastante competitivo. Uma das disputas mais clássicas é entre o ferro<br />

e o cálcio. Aí, o ferro, fundamental para o sangue, é quem sai mais prejudica<strong>do</strong><br />

na maior parte das vezes. O ferro também tem um relacionamento conturba<strong>do</strong><br />

com o zinco que, em excesso, pode inibir o cobre. Outra concorrência é entre a<br />

vitamina E e a vitamina K. Em d<strong>os</strong>es elevadas, a E pode atrapalhar a ação da<br />

K, que é essencial para a coagulação sanguínea.<br />

Além <strong>do</strong> jogo de rivais, o corpo tem que estar em condições para<br />

tirar proveito de tu<strong>do</strong> o que as cápsulas oferecem. A esta capacidade<br />

orgânica de absorver ou eliminar chamam<strong>os</strong> de biodisponibilidade.<br />

“Apenas 30% é aproveita<strong>do</strong>, o restante é perdi<strong>do</strong>”, afirma a<br />

nutricionista J<strong>os</strong>cinéia Bernardi, que também é proprietária<br />

de uma cozinha industrial em Guarapuava. De acor<strong>do</strong><br />

com ela, parte d<strong>os</strong> componentes tem uma maior<br />

absorção pelo organismo se ingerid<strong>os</strong> junto<br />

com as refeições, mas o restante<br />

não.<br />

Com a correria <strong>do</strong> dia<br />

a dia, algumas pessoas<br />

estão aderin<strong>do</strong> a<strong>os</strong><br />

multivitamínic<strong>os</strong> e a<br />

ração humana para suprir<br />

a deficiência alimentar<br />

“<br />

Nutricionista J<strong>os</strong>cinéia Bernardi:<br />

“Apenas 30% é aproveita<strong>do</strong>, o<br />

restante é perdi<strong>do</strong>”<br />

Alguns produt<strong>os</strong><br />

mais barat<strong>os</strong><br />

podem oferecer uma<br />

formulação de maneira<br />

cancerígena<br />

Maria de<br />

Lourdes<br />

Sant<strong>os</strong><br />

consome uma<br />

média de 800<br />

gramas de<br />

ração humana<br />

por mês<br />

Os polivitamínic<strong>os</strong> e poliminerais<br />

mais consumid<strong>os</strong> pela<br />

população somam em média 25<br />

itens. “Os fam<strong>os</strong><strong>os</strong> de A a Z são<br />

<strong>os</strong> men<strong>os</strong> indicad<strong>os</strong>. O organismo<br />

não precisa de tu<strong>do</strong> que tem lá.<br />

Pode até ser tóxico, já que vai<br />

absorver mais <strong>do</strong> que o necessário.<br />

Alguns produt<strong>os</strong> mais barat<strong>os</strong><br />

podem oferecer uma formulação<br />

de maneira cancerígena, a<br />

exemplo <strong>do</strong> pantotenato de cálcio”,<br />

alerta a nutricionista.<br />

A mora<strong>do</strong>ra da Vila Bela,<br />

Lurdes de Oliveira, 81 an<strong>os</strong>, é<br />

uma consumi<strong>do</strong>ra assídua <strong>do</strong> A<br />

a Z. “Sempre compro <strong>do</strong> mais<br />

em conta”. Ela aderiu à formulação<br />

por não mais conseguir se<br />

alimentar dentro das quantidades<br />

necessárias.<br />

A nutricionista J<strong>os</strong>cinéia<br />

Bernardi lembra também de outr<strong>os</strong><br />

problemas nas preparações<br />

prontas encontradas nas farmácias.<br />

Um exemplo é o sulfato<br />

ferr<strong>os</strong>o. Como não vem indica<strong>do</strong><br />

que para o organismo absorver o<br />

ferro é necessário ingerir também<br />

vitamina C, apenas 30% <strong>do</strong><br />

componente é aproveita<strong>do</strong>.<br />

Outro problema está na<br />

quantidade. Caso o indivíduo<br />

precise de uma certa vitamina<br />

ou mineral lista<strong>do</strong> na formulação,<br />

não irá encontrá-lo na condição<br />

ideal para suprir a deficiência.<br />

A nutricionista avisa que,<br />

como o zinco é um componente<br />

caro para manipular, ele é ofereci<strong>do</strong><br />

em quantidade inferior.<br />

“D<strong>os</strong> sete miligramas oferecid<strong>os</strong>,<br />

o organismo irá absorver<br />

apenas <strong>do</strong>is miligramas. O que<br />

seria muito abaixo <strong>do</strong> necessário<br />

para um a<strong>do</strong>lescente, por exemplo,<br />

já que ele necessita de 15<br />

miligramas ao dia”.<br />

O erro na automedicação<br />

pode ser corrigi<strong>do</strong> com uma<br />

análise <strong>do</strong> que o corpo realmente<br />

necessita. A especialista<br />

conta que as deficiências são<br />

identificadas através de sinais e<br />

sintomas ou, também, com um<br />

hemograma completo ou mineralograma,<br />

exame que, com apenas<br />

<strong>do</strong>is gramas de cabelo, traça<br />

o perfil mineral de uma pessoa.<br />

Queda de cabelo e unhas<br />

fracas são indicações da falta de<br />

proteína. Zumbi<strong>do</strong> no ouvi<strong>do</strong> e<br />

microconvulsão de pálpebra são<br />

sinais que o magnésio está baixo.<br />

“Através de um questionário, analisam<strong>os</strong><br />

<strong>os</strong> sintomas para saber o<br />

que tratar em cada paciente”.<br />

Nem só as faltas são diagn<strong>os</strong>ticadas,<br />

<strong>os</strong> excess<strong>os</strong> também.<br />

“Trabalham<strong>os</strong> com <strong>os</strong> extrem<strong>os</strong>:<br />

pouco e muito”. A pele amarela<br />

indica excesso de vitamina<br />

A. Quem ingere muito feijão e<br />

banana, também ingere muito<br />

potássio, o que pode incorrer<br />

em problemas de rim. “Tirar a<br />

casca ou cortar as verduras em<br />

tamanh<strong>os</strong> menores, também<br />

modifica a quantidade de vitaminas<br />

e minerais, pois o contato<br />

com a luz diminui seu potencial”,<br />

explica a nutricionista.<br />

Não podem<strong>os</strong> esquecer também<br />

da <strong>do</strong>ença de Wilson, que<br />

ocorre por acúmulo de cobre,<br />

levan<strong>do</strong> a problemas no fíga<strong>do</strong><br />

e no cérebro. E, no caso, quem<br />

entra em campo para derrotar o<br />

rival é o zinco, administra<strong>do</strong> em<br />

altas d<strong>os</strong>es.<br />

“Tu<strong>do</strong> em excesso pode oferecer<br />

certa toxidade. É preciso<br />

manter o equilíbrio”. O vegetariano<br />

que não ingerir carne vermelha<br />

precisa <strong>do</strong> complexo B. O<br />

id<strong>os</strong>o para fugir da <strong>os</strong>teopor<strong>os</strong>e<br />

precisa de cálcio. “A partir d<strong>os</strong> 30<br />

an<strong>os</strong> o corpo absorve men<strong>os</strong> cálcio,<br />

então, é indica<strong>do</strong> a partir d<strong>os</strong><br />

50 aderir ao suplemento. Mas é<br />

preciso lembrar que ele tem que<br />

estar associa<strong>do</strong> à vitamina D”.<br />

A <strong>do</strong>utora J<strong>os</strong>cinéia Bernardi dá<br />

uma dica preci<strong>os</strong>a para quem não<br />

é adepto das pílulas: “é só tomar<br />

meia hora de sol por dia e obter<br />

naturalmente a vitamina D”.<br />

Devi<strong>do</strong> ao clima, neste ponto,<br />

<strong>os</strong> guarapuavan<strong>os</strong> ficam no<br />

prejuízo na maior parte <strong>do</strong> ano.<br />

A nutricionista lembra <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong><br />

de uma pesquisa realizada<br />

com alun<strong>os</strong> em Curitiba, que tem<br />

o clima pareci<strong>do</strong> com o de Guarapuava,<br />

onde 80% d<strong>os</strong> estudantes<br />

indicaram falta da vitamina<br />

D no organismo.<br />

Ração humana:<br />

nova tendência<br />

Também é preciso avaliar<br />

outro item que surgiu, recentemente,<br />

junto à correria da vida<br />

página 34<br />

Foto: Andrea A. Alves<br />

página 35


língua<br />

É assim que se escreve.<br />

É assim que se escreve?<br />

moderna: a ração humana. Mas<br />

será que esta nova tendência de<br />

merca<strong>do</strong> “vale por um bifinho”?<br />

O nutricionista Maickel Panassolo<br />

brinca ao dizer que, “depois<br />

da ração para o gato e para<br />

o cachorro, agora inventaram a<br />

humana”. Segun<strong>do</strong> ele, é uma<br />

moda que veio para ficar, porque<br />

a tendência é que as pessoas não<br />

consigam mais se alimentar tão<br />

bem como antigamente. Um dia<br />

comem arroz, feijão, uma carne,<br />

uma salada, e, no outro, devi<strong>do</strong> à<br />

correria <strong>do</strong> trabalho, terão que<br />

fazer um lanche. “Mas se agregarem<br />

a ração humana ao lanche<br />

conseguirão somar ao final <strong>do</strong><br />

dia mais ou men<strong>os</strong> a quantidade<br />

exata de carboidrat<strong>os</strong>, vitaminas<br />

e minerais”, explica Maickel.<br />

A ração humana é uma mistura<br />

de cereais integrais (trigo,<br />

aveia em floc<strong>os</strong>) e sementes (linhaça,<br />

gergelim). Por causa <strong>do</strong><br />

teor de fibras e gorduras que a<br />

ração contém, o intestino funciona<br />

mais rapidamente. Entretanto,<br />

algumas pessoas podem<br />

sofrer com a irritação na parede<br />

<strong>do</strong> intestino, prejudican<strong>do</strong> a absorção<br />

de nutrientes.<br />

Maria de Lourdes de Proença<br />

Oliveira Sant<strong>os</strong>, 51 an<strong>os</strong>, aderiu<br />

à ração humana para resolver<br />

o mau funcionamento <strong>do</strong> seu<br />

intestino. Ela conta que chegou<br />

a ficar até dez dias sem conseguir<br />

evacuar. “Fiz um tratamento<br />

de três an<strong>os</strong> com um especialista<br />

e não resolveu. Depois que<br />

comecei a usar a ração humana<br />

meu intestino funcionou normalmente”.<br />

A mora<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Jardim<br />

Pinheirinho consome uma média<br />

de 800 gramas por mês <strong>do</strong> produto.<br />

“Todas as noites, misturo<br />

uma colher de chá com leite,<br />

café e três ameixas”.<br />

As fibras também ajudam<br />

a dar uma maior sensação de<br />

saciedade, fazen<strong>do</strong> com que<br />

a fome demore mais tempo a<br />

aparecer. E, talvez, seja este o<br />

motivo por ela estar presente<br />

em algumas dietas de emagrecimento.<br />

Devi<strong>do</strong> à necessidade<br />

maior <strong>do</strong> organismo, conforme<br />

o tipo de treinamento, quem<br />

também adere à ração humana<br />

são <strong>os</strong> praticantes de academia.<br />

Maickel Panassolo faz questão<br />

de frisar que ela não pode<br />

substituir a alimentação diária.<br />

“Não deve substituir a fruta, a<br />

salada, deve apenas agregar. Indico,<br />

sem exagero, para a<strong>do</strong>lescentes<br />

e adult<strong>os</strong>, um shake no<br />

final da tarde”.<br />

Ele explica que a ração humana<br />

marca pont<strong>os</strong> na questão<br />

nutricional mas, ainda, não contém<br />

tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> element<strong>os</strong> necessári<strong>os</strong><br />

(vitaminas e minerais). “Em<br />

um determina<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> poderá<br />

haver uma maior concentração<br />

de proteína e em um outro não,<br />

dependen<strong>do</strong> da influência <strong>do</strong> clima<br />

ou outr<strong>os</strong> fatores. É feita uma<br />

análise geral de que produt<strong>os</strong> utilizar,<br />

mas tu<strong>do</strong> depende de quem<br />

irá manipular”.<br />

Por conter vári<strong>os</strong> produt<strong>os</strong><br />

agregad<strong>os</strong>, o nutricionista avisa<br />

que o consumi<strong>do</strong>r deve tomar cuida<strong>do</strong><br />

devi<strong>do</strong> à contaminação de<br />

fung<strong>os</strong> ou de bactérias. “Analisar<br />

onde e como comprar, o tipo da<br />

embalagem, são alguns cuidad<strong>os</strong>”.<br />

T<br />

matéria: Camila Souza<br />

o<strong>do</strong> país tem um idioma<br />

e to<strong>do</strong> idioma tem regras.<br />

Essas regras servem<br />

para padronizar a<br />

língua d<strong>os</strong> falantes a título<br />

de identidade nacional<br />

e também para uniformizar<br />

a comunicação<br />

formal em to<strong>do</strong> o território<br />

de um país. Se não<br />

houvesse padrão, as leis<br />

não teriam abrangência<br />

nacional e nem <strong>os</strong> telejornais<br />

poderiam ser<br />

transmitid<strong>os</strong> em cadeia<br />

para toda a nação. Dessa<br />

forma, é p<strong>os</strong>sível dizer<br />

que a língua padronizada<br />

é a cola que mantém<br />

todas as regiões de um<br />

país unidas por um sentimento<br />

de nacionalidade,<br />

algo <strong>do</strong> tipo: “falo português,<br />

sou brasileiro”.<br />

$<br />

“Vale um bifinho”<br />

O slogan <strong>do</strong> produto Danoninho, da marca francesa Danone, inspirou<br />

a matéria que discute a substituição de aliment<strong>os</strong> in natura por<br />

rações e complex<strong>os</strong>. Será que toda substituição vale por um bifinho?<br />

página 36<br />

página 37


Acontece que a história não<br />

é tão simples assim. Um país<br />

territorialmente grande como o<br />

Brasil p<strong>os</strong>sui diversas regiões,<br />

com variad<strong>os</strong> pov<strong>os</strong> de diversas<br />

etnias, idades e classes sociais.<br />

Essas diferenças se refletem na<br />

forma como as pessoas falam. É<br />

o que <strong>os</strong> especialistas chamam<br />

de “variações linguísticas”. A<br />

chefe <strong>do</strong> Departamento de Letras<br />

da Unicentro, professora<br />

Maria Cleci Venturini, explica<br />

que as variações linguísticas<br />

acontecem porque a língua,<br />

como elemento de cultura, é um<br />

tipo de comportamento social e<br />

não um elemento rígi<strong>do</strong> e invariável.<br />

“A língua muda em relação<br />

às regiões, a<strong>os</strong> estrat<strong>os</strong> sociais e<br />

também em relação às situações<br />

de fala, que podem ser mais ou<br />

men<strong>os</strong> formais e, também, àquelas<br />

relacionadas à escolaridade”.<br />

As variações linguísticas<br />

ocorrem, em sua maioria, na<br />

língua falada. Na hora de escrever<br />

text<strong>os</strong> e ler <strong>do</strong>cument<strong>os</strong>,<br />

por exemplo, a norma padrão <strong>do</strong><br />

n<strong>os</strong>so idioma deve ser seguida. A<br />

não ser que o escritor seja o próprio<br />

Patativa <strong>do</strong> Assaré com toda<br />

sua licença poética, text<strong>os</strong> gramaticamente<br />

incorret<strong>os</strong> não são<br />

tolerad<strong>os</strong> pela sociedade formal.<br />

a-b-c-d<br />

Exempl<strong>os</strong> disso são as redações<br />

de vestibular, que representam o<br />

ingresso de uma pessoa na vida<br />

acadêmica e uma ‘consequente’<br />

ascensão social. Nesses exames,<br />

text<strong>os</strong> que não seguem a norma<br />

culta da língua são excluíd<strong>os</strong> <strong>do</strong><br />

processo de seleção. É na escola<br />

que deve ser trabalha<strong>do</strong> o discernimento<br />

entre a língua falada e a<br />

língua escrita.<br />

A professora Venturini aponta<br />

que a norma padrão serve<br />

como uma “prescrição linguística”,<br />

estabelecen<strong>do</strong> o que é ou<br />

não adequa<strong>do</strong> para determinadas<br />

situações de fala. E é aí que<br />

“ Você vê?<br />

Eu não<br />

falo certo,<br />

as pessoas<br />

percebem ”<br />

Chico Alves<br />

entra o papel da escola. Se por<br />

um la<strong>do</strong>, ela é lugar para reflexão<br />

acerca das diferenças, por<br />

outro, é onde o conhecimento da<br />

norma padrão deve ser efetiva<strong>do</strong>.<br />

A escola representa a oportunidade<br />

de aprender a norma<br />

culta, ou seja, a língua valorizada<br />

na sociedade letrada. De acor<strong>do</strong><br />

com a professora, o papel da<br />

escola é abrir caminh<strong>os</strong> para a<br />

mobilidade social e minimizar o<br />

preconceito linguístico.<br />

Francisco Alves nasceu e<br />

cresceu no interior <strong>do</strong> Paraná.<br />

De origem humilde, o mestre de<br />

obras nunca teve a oportunidade<br />

de frequentar regularmente a escola.<br />

“Tive que trabalhar desde<br />

ce<strong>do</strong> para ajudar em casa, ir pra<br />

escola era um luxo”. Francisco<br />

diz que já passou por algumas situações<br />

de preconceito e até perdeu<br />

oportunidades de emprego<br />

por causa de seu mo<strong>do</strong> de falar.<br />

“Você vê? Eu não falo certo, as<br />

pessoas percebem”. Chico conta<br />

que até sua filha já o corrigiu algumas<br />

vezes, mas diz que hoje já<br />

não acha isso mais importante.<br />

“Eu vou lá, trabalho e trago comida<br />

para casa”.<br />

O preconceito linguístico<br />

também pode ser desencadea<strong>do</strong><br />

por variações linguísticas de<br />

origem étnica. O índio Florêncio<br />

Rekayg Fernandes, pedagogo <strong>do</strong><br />

Colégio <strong>Estadual</strong> Indígena Kókoj<br />

Ty Han, já sentiu na pele a necessidade<br />

de aprimorar seu português<br />

para poder ingressar no<br />

Ensino Superior. Sua língua-mãe<br />

é o kaingaing e, como em to<strong>do</strong><br />

aprendiza<strong>do</strong> de segun<strong>do</strong> idioma,<br />

as dificuldades são frequentes.<br />

Florêncio aponta que, apesar<br />

da importância de preservar o<br />

idioma indígena, o aprendiza<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> português nas escolas indígenas<br />

é a principal forma que esse<br />

povo tem de conquistar direit<strong>os</strong><br />

como cidadã<strong>os</strong>: ”Talvez, se não<br />

Eu venho dêrde menino,<br />

Dêrde munto pequenino<br />

Cumprin<strong>do</strong> o belo destino<br />

Que me deu N<strong>os</strong>so Senhô<br />

Eu nasci pra sê vaquêro<br />

Sou o mais feliz brasileiro<br />

Eu não invejo dinhêro<br />

Nem diproma de <strong>do</strong>tô<br />

falássem<strong>os</strong> português, não seria<br />

p<strong>os</strong>sível várias conquistas para o<br />

n<strong>os</strong>so povo kaingang”.<br />

A historia<strong>do</strong>ra e professora<br />

de alemão Monique Gartner<br />

também não teve o português<br />

como primeira língua. Nascida<br />

na colônia alemã de Guarapuava,<br />

Monique cresceu falan<strong>do</strong><br />

com a família o dialeto chama<strong>do</strong><br />

Schwäbische e, depois que entrou<br />

no Ensino Infantil, aprendeu<br />

o alemão oficial. O português foi<br />

aprendi<strong>do</strong> simultaneamente, pois<br />

é fala<strong>do</strong> nas ruas, nas lojas e na<br />

TV, porém, foi nas séries <strong>do</strong> Ensino<br />

Fundamental, no qual são<br />

ensinadas as matérias em português<br />

como história e matemática,<br />

que Monique aprendeu o português<br />

formal. “Mas, é evidente<br />

que a pre<strong>do</strong>minância <strong>do</strong> contato<br />

$<br />

a-b-c-d<br />

Talvez, se não falássem<strong>os</strong><br />

português não seria p<strong>os</strong>sível<br />

várias conquistas para o<br />

n<strong>os</strong>so povo kaingang<br />

Florêncio<br />

com o dialeto dificulta um pouco<br />

a pronúncia mais correta <strong>do</strong> português”.<br />

Para ela, é normal que,<br />

no início, haja certa dificuldade<br />

para distinguir <strong>os</strong> <strong>do</strong>is idiomas.<br />

“Vejo as crianças usarem a estrutura<br />

<strong>do</strong> alemão na hora de<br />

falar português, além <strong>do</strong> ritmo<br />

linguístico, que também é diferente.<br />

Para quem é de fora, isso<br />

se torna engraça<strong>do</strong>”. A professora<br />

diz que esse ritmo peculiar<br />

persiste até a vida adulta. “Até<br />

hoje me pego falan<strong>do</strong> mais cantadinho<br />

quan<strong>do</strong> vou pedir alguma<br />

coisa em português”. Apesar<br />

<strong>do</strong> sotaque acentua<strong>do</strong>, Monique<br />

diz que nunca se sentiu alvo de<br />

preconceito direto. “Mais <strong>do</strong><br />

que ser chama<strong>do</strong> de alemã pela<br />

turma da faculdade, nunca vi<br />

acontecer”, ri Monique.<br />

“É assim que se escreve”<br />

Por maiores que sejam as<br />

diversidades linguísticas <strong>do</strong> português,<br />

o preconceito acontece<br />

principalmente no âmbito social,<br />

com indivídu<strong>os</strong> de baixa renda<br />

que não tiveram acesso a um ensino<br />

de qualidade. A professora<br />

Venturini comenta que é a escola<br />

que deve atuar nesse senti<strong>do</strong><br />

a favor da adequação linguística<br />

“Cabe a ela ensinar a norma padrão<br />

e, também, que há um jeito<br />

de falar em casa, outro jeito de<br />

falar com o grupo de amig<strong>os</strong> e outro,<br />

ainda, para transitar nas instituições,<br />

m<strong>os</strong>tran<strong>do</strong> que a forma<br />

inadequada de expressar-se pode<br />

resultar em exclusão e perda de<br />

oportunidades de melhores empreg<strong>os</strong><br />

ou de ascensão social”.<br />

O slogan d<strong>os</strong> an<strong>os</strong> 1980 da marca francesa Bic inspirou a<br />

pauta sobre variações e preconceit<strong>os</strong> linguístic<strong>os</strong>. A frase “é<br />

assim que se escreve”, revela a maneira como a norma culta é<br />

preponderante n<strong>os</strong> cenári<strong>os</strong> sociais.<br />

página 38 página 39


na<br />

contra<br />

capa<br />

Ágora

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